Nery
Prefácio
Pensei muito se deveria contar essa história. Não sabia, e ainda não tenho certeza, se devo ser eu a contá-la. Essa história é de outra pessoa, e de outras tantas, e o meu pedacinho dela é muito pequeno. Percebo isso agora, dando um passo para trás e vendo a figura que montei com os pedaços que não eram meus. Essa figura que ainda tem tantas peças faltando, peças que foram embora com as pessoas que as carregavam. Mas, afinal, é por isso mesmo que decidi que devo ser eu a escrever sobre Nery, porque estou aqui, agora, buscando as peças da vida dele antes que mais delas se percam. Apesar do meu Nery ser o tio Nery, que meu já era, na verdade, tio-avô. A imagem dele caminhando sem pressa, como quem tem todo o tempo do mundo, pelas calçadas quebradas do bairro do Rosário, com uma boina na cabeça e um livro debaixo do braço, é tão vívida agora quanto há 12 anos atrás. Quando eu era criança, ele era uma figura misteriosa na minha imaginação fértil, alguém que tinha jeitos peculiares e estava sempre imerso no próprio mundo. Hoje, depois de tantos anos ouvindo da vida e da arte de
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Nery da Silva Mendes, o mistério me parece ainda maior. E depois de ouvir os contos de quem conheceu o Nery arquiteto, o Nery professor, o Nery artista, estou certa de que essa imagem misteriosa e encantadora vive também na memória de muitos outros.
Por isso, esse livro é sobre o Nery e para o Nery mas também para todas as pessoas que me falam dele com os olhos brilhando, mesmo tanto tempo depois dele ter partido, que carregam suas peças com tanto carinho. E espero que esse registro seja motivo de orgulho para aqueles que foram inspirados pela sua vida, assim como eu.
Eu e Nery na comemoração de Natal da família
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2007
Sumário
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Capítulo 1
Infância
Capítulo 2
Juventude
Capítulo 3
Docência
Catálogo de obras
Convidada Vani Foletto
Convidada Odete Calderan
Convidado Cândido Noal
Capítulo 4 Anos finais Posfácio
Capítulo 1_ Infância
Nery foi artista desde criança, ouvi dizer. Ele viu pela primeira vez o mundo em 24 de agosto em 1937, no município de Santa Bárbara do Sul, cidade do interior do estado do Rio Grande do Sul que ainda hoje mantém seus pouco mais de 8 mil habitantes. Como terceiro de quatro filhos, Nery cresceu sob o cuidado de seus pais, José Pedro e Adolfina.
José Pedro era telegrafista da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, empresa estatal que ficou em atividade de 1920 até 1959. Na época, as estações de trem comunicavam-se com a ajuda do telégrafo, que era crucial para garantir a segurança nas linhas férreas. A fim de evitar colisões com trens viajando em direções opostas na mesma linha, era necessário ter autorização antes de prosseguir. Esse licenciamento era orquestrado através da comunicação telegráfica entre as estações. Além disso, em localidades que ainda não contavam com o serviço postal, os telégrafos ferroviários também atendiam a população.
Casamento de José Pedro e Adolfina
Virando a página > Estação Álvaro Nunes Pereira
Fonte: Prefeitura de Santa Bárbara do Sul
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Bar da família no centro de Santa Maria
Sua profissão exigia frequentes relocações, então a família estava constantemente mudando de cidade. Foi por volta de 1950 que se estabeleceram na cidade de Santa Maria. A cidade, localizada na região central do RS, era um importante entroncamento ferroviário onde passavam as principais linhas do estado.
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Na nova cidade, Adolfina inaugurou um bar no coração urbano, enquanto a família plantava raízes em uma casa no bairro do Rosário. Neste cenário, no qual uma paisagem urbana cercada de morros se desenvolvia, Nery começava a mostrar sua inclinação para as artes. Nos corredores da sua escola, enquanto seus colegas lidavam com fórmulas e datas, ele se encontrou na disciplina de educação artística.
Enquanto os irmãos tomavam outros rumos, ele aprendia pintura no ateliê das Irmãs Fernandes.
“O Atelier das Irmãs Fernandes constituía-se em um atelier-escola de pintura, não oficial, que as irmãs Fernandina e Palmyra Fernandes possuíam em sua residência à Rua Venâncio Aires, e que alcançou relativa importância no ensino e prática da pintura numa época em que não havia escolas oficiais para a arte.”
FOLETTO, Vani T.; BISOGNIN, Edir Lúcia. Artes Visuais em Santa Maria: contextos e artistas. Santa Maria: Palotti, 2001.
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A trajetória de Nery no universo das artes é intrinsecamente entrelaçada com a própria evolução da disciplina em Santa Maria. Simultaneamente aos seus estudos no segundo grau, ele passou a cursar Artes Plásticas no Instituto Municipal de Belas Artes, de 1956 a 1959. O Instituto, oficialmente inaugurado em 1945, era a única escola de arte na época, e foi essencial para o desenvolvimento das artes visuais da cidade
Sua diplomação em Artes Plásticas, no entanto, não foi o fim de sua jornada, mas sim o início de uma nova. Nery ansiava por mais. Estudar mais, descobrir mais e, quem sabe, viver mais. E foi isso que a década de 60 trouxe a ele.
< Ao lado
Mapa ferroviário do Rio Grande do Sul
Diploma em Artes Plásticas no Instituto Municipal de Belas Artes de Santa Maria
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Esta tendência creio que me veio da infância, pois sempre tive atração por coisas belas.
Nery em entrevista à alunos
Capítulo 2_ Juventude
Em 1963, Nery mudou-se para Porto Alegre, para estudar na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma das mais antigas e qualificadas instituições de ensino de Arquitetura e Urbanismo do país.
Nesse período, também encontrou inspiração e educação no Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Situado, na época, no histórico Mercado Público, esse centro cultural e histórico ofereceu a ele um espaço para explorar e se aprofundar em várias formas de expressão artística. Foi nesse ambiente que Nery teve seu primeiro contato com a cerâmica, arte que aperfeiçoou na própria Faculdade de Arquitetura depois.
Em 1965, atendia o curso de cerâmica do professor Pierre Prouvot, que trazia, dos estudos na França e das experiências de trabalho na indústria, técnicas novas à época. É deste ano que data a primeira peça cerâmica conhecida de Nery, de forma simples em comparação ao seu trabalho posterior, mas que já trazia muito das cores e texturas que ele continuaria a explorar.
Durante seus anos de graduação em Porto Alegre, seus caminhos iam além das salas de aula e ateliês universitários. Em suas viagens, começou a adquirir sua característica coleção de materiais e bibliografias, que depois serviriam como base para sua pesquisa e aulas.
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< Virando a página Nery e os irmãos, Doroti, Ari e Daltro
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Turma da Faculdade de Arquitetura da UFRGS em viagem à Montevideo
1968
Na época, e mesmo nas décadas seguintes, a escassez de literatura sobre cerâmica representava um desafio considerável. Livros, especialmente os que exploravam técnicas avançadas ou perspectivas internacionais sobre cerâmica, eram raros. Muitos desses recursos só podiam ser encontrados em livrarias especializadas em São Paulo. Mesmo alguns dos materiais que usava em seus trabalhos, como a folha de alumínio que era base de muitas das suas peças não cerâmicas, não eram facilmente encontrados, mesmo na capital do RS.
< Ao lado
Nery e sua irmã Doroti na sua formatura
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Nery recebendo seu diploma
Mesmo tendo a cerâmica se tornado o centro do seu fazer artístico, Nery sempre continuou explorando diversos e novos materiais. Desde o seu período no Atelier Municipal e em diante, ele produziu obras em madeira, metal, couro, entre outros, com temáticas que se relacionavam muito, também, com o lado espiritual que o artista sempre manteve em contato.
Em uma das muitas idas e vindas entre Porto Alegre e Santa Maria, Nery conheceu o professor José Mariano. Esse encontro por acaso mudaria o rumo da sua vida.
Obras de Nery em materiais diversos, da década de 70
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Virando a página > Turma de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Capítulo 3_ Docência
Na década de 60, Santa Maria viu grandes novidades. A implantação da Base Aérea e a criação da UFSM consolidaram a cidade como um polo militar e educacional, características que definem a cidade até hoje. A Universidade Federal de Santa Maria foi a primeira federal implantada fora de uma capital brasileira e foi importante no processo de interiorização do ensino universitário público no Brasil. O Rio Grande do Sul tornou-se o primeiro estado a contar com duas universidades federais.
Foi para essa cidade, muito diferente da qual ele havia partido, que Nery retornou em 1969. Pelo próprio idealizador da UFSM, José Mariano da Rocha Filho, ele foi convidado a ministrar as disciplinas de Desenho Geométrico e Geometria Descritiva para o curso de Desenho e Plástica. Logo após a diplomação como Arquiteto na UFRGS, Nery voltou à cidade em que sua família residia, e passou a lecionar no Centro de Tecnologia. Em 1973, foi oficialmente vinculado à UFSM como professor assistente, apesar de já estar nessa posição desde o ano de 1970, e também passou a ministrar Iniciação às Técnicas Industriais.
No ano de 1973, trabalhou brevemente na prefeitura de Santa Maria, na Secretaria Munucipal de Obras e Viação. Já em 1974, foi designado para a chefia do departamento de Expressão Gráfica do Centro de Tecnologia, onde ainda eram localizadas as disciplinas de geometria.
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Coquetel de inauguração da Exposição de Artes Plásticas na Sociedade União dos Caixeiros Viajantes
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1970
Lembro dele no ateliê do professor Cláudio Carriconde. Às vezes, nos reuníamos lá.
É uma trilha muito bonita na montanha.
E o Nery era jovem, alegre e quando havia
Alphonsus Benetti
música, ele dançava.
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Quando foi incluído no quadro permanente da universidade e ao Centro de Artes e Letras, em 1981, integrou o Ateliê de Cerâmica junto à professora Esther Brenner. Nos anos seguintes, compartilharam o espaço do ateliê, no subsolo do prédio do CAL, e também foram parceiros de pesquisa. Um aspecto particularmente interessante de sua colaboração era a sala anexa ao ateliê, onde ambos exibiam seus trabalhos. Essa sala não era apenas uma galeria de suas obras, mas também uma janela para o mundo da pesquisa em cerâmica. Cada peça exposta era uma representação tangível das horas de experimentação, uma exibição dos resultados das pesquisas que podia ser acessada pelos discentes orientados por eles.
Nos anos seguintes à sua adição ao ateliê, Nery se debruçou como nunca no ensino e pesquisa da cerâmica. Naquela época, a estrutura acadêmica permitia que os alunos escolhessem um ateliê para se especializarem durante o período de graduação, algo que proporcionava uma imersão mais profunda em áreas específicas de interesse. Os que eram atraídos pela cerâmica, tinham a oportunidade de participar do projeto de pesquisa ao qual Nery dedicou grande parte dos seus anos na universidade.
< Ao lado
Portarias da UFSM que atribuíram Nery ao cargo de professor assistente (1978) e, posterioremente, professor adjunto (1981)
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Com foco em materiais naturais no revestimento cerâmico, ele coletava e preparava argilas no campus da universidade, realizando diversos experimentos, que documentava extensiva e metodicamente. Sua pesquisa continuou em profundidade até sua aposentadoria, e ele compilou um extenso material que incluía vários cadernos e apostilas, todos escritos manualmente, e dezenas das plaquetas de teste, codificadas de acordo com as referentes anotações que explicavam cada processo.
“No campo da Cerâmica, meu trabalho pessoal aborda mais a técnica modular através de placas, gosto muito de trabalhar a argila na consistência de couro que é um ponto em que a argila se encontra em processo de secagem, sem contudo perder a trabalhabilidade, assim consigo montar as peças que idealizo. Além disso, desenvolvo outras técnicas básicas que transmito a meus alunos, e desenvolvemos muita pesquisa. Atualmente estou fazendo uma pesquisa na área de revestimentos cerâmicos com materiais tais como rochas coletadas na região.”
Nery em entrevista à alunos
São desses anos que muitos alunos e colegas tem as memórias mais enigmáticas de Nery: sempre absorto no trabalho, meticuloso ao extremo com as lâminas de argila nas quais testava os materiais, acabamentos e queimas, suas anotações impecáveis na escrita técnica de arquiteto que nunca abandonou. Ao discutir cerâmica, era como se um novo Nery emergisse, apaixonado e completamente cativado pelo assunto. Muitos colegas não chegaram
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a conhecer sua arte como ceramista, mas todos se lembram do seu trabalho enquanto professor-pesquisador, o qual era admirado por qualquer um que o visse trabalhando por horas a fio no ateliê.
Aos que o conheceram mais intimamente, sempre foi surpreendente a dualidade de Nery. Seu domínio metódico da técnica em oposição à sensibilidade das formas e texturas em sua obra. Este reflexo de natureza contraditória não era apenas visível em seu trabalho, mas também em sua própria personalidade. Ele tinha o olhar atento e curioso de um eterno estudioso, um carinho genuíno que só quem realmente o conhecia poderia testemunhar, e, ao mesmo tempo, um jeito reservado e cauteloso que o mantinha à distância de todos. Mesmo o seu amor pelo moldável e transitório da cerâmica, enquanto era tão engessado nos seus sistemas e rotinas, era como uma constante busca pelo equilíbrio.
“Sempre me chamou a atenção o equilíbrio entre técnica e expressão, técnica e sensibilidade. Porque o domínio técnico dele, ao menos para a época e com a tecnologia que se tinha, era admirável. Porém, ele nunca deixou essa técnica se sobrepor aos momentos de expressão e sensibilidade“
José Francisco Flores Goulart
< Ao lado
Diários de classe
Virando a página > Diversas lâminas de teste da pesquisa de Nery
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Ao lado > Documento do colegiado do curso de Educação Artística da UFSM e diários de classe de Nery
Seus orientandos também lembram vividamente como o professor empenhava-se em disponibilizar materiais de difícil acesso. Nas suas viagens a grandes centros culturais, como São Paulo e Buenos Aires, adquiria livros em inglês, espanhol e francês com o próprio salário, que então traduzia e copiava para os alunos. Para Nery, o conhecimento era algo muito valioso, e ele fazia questão de auxiliar aqueles que se interessavam por ele da maneira que pudesse. Os sobrinhos contam como cada um teve a experiência de ser incentivado e presenteado com livros quando demonstravam vontade de estudar, independente da área. Era sua maneira de cultivar uma paixão pela aprendizagem nas pessoas ao seu redor.
“Ele sempre teve essa preocupação do desenvolvimento das pessoas pela educação. Porque para ele, eu acho, foi uma forma de mudança de vida, uma oportunidade de viver a vida da forma que ele queria. [...] O estudo foi uma forma de salvação para ele.”
Cândido Noal
Apesar do carinho imenso pelos alunos e familiares, Nery era uma pessoa muito quieta e reservada. No Centro de Artes, poderia passar despercebido por aqueles que não estavam atentos e, com o agravamento de um problema de audição que tinha desde a juventude, seu iso-
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Eu acho que ele era um observador do mundo. Tinha uma percepção apurada de tudo ao seu redor.
Odete Calderan
lamento foi aumentando com o passar do tempo. Ao mesmo tempo, e talvez por essa mesma razão, sua curiosidade e dedicação à pesquisa aumentou na mesma proporção. Cada vez menos os alunos o viam fora do ateliê e mesmo a comunicação se tornava mais complicada. Nery se fechava para o mundo e mergulhava na exploração da cerâmica, como se as verdadeiras conversas acontecessem através das mãos moldando o barro, numa linguagem que poucos, além dele, poderiam entender completamente.
“Talvez ele buscasse com os olhos aquilo que ele não conseguia ouvir. Então ele te olhava com muita profundidade. “
José Francisco Flores Goulart
Mesmo antes da piora da sua audição, Nery nunca fez questão de expor seus trabalhos para a comunidade. Alguns poucos foram presentes para amigos e familiares, mas muitos nunca foram vistos para além das paredes do ateliê. Ele via seu trabalho, e a si mesmo, como pesquisador antes de qualquer coisa. Ele criava porque tinha necessidade de criar, e ter reconhecimento por isso nunca esteve nos seus planos. Tinha prazer em ensinar e dividir sua paixão com os alunos que buscavam aprender a arte da cerâmica, mas mesmo o seu extenso material de pesquisa nunca foi publicado.
Virando a página > Cadernos de pesquisa
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Capítulo 4_ Anos finais
Nos últimos anos antes da sua aposentadoria, Nery comprou um sítio próximo à cidade de Santa Maria, onde pretendia montar um ateliê próprio e continuar a pesquisa e trabalho com cerâmica. Esse plano, porém, nunca pôde ser concretizado. No início da década de 90, começou a sofrer com episódios de desmaio e sentia-se fraco frequentemente. Com apoio da irmã, Doroti, se submeteu a uma série de exames e tratamentos, porém, com a saúde debilitada, ele viu-se ainda mais isolado do mundo.
Em maio de 1998, aposentou-se oficialmente da UFSM, porém seguiu realizando pesquisas e experimentações com cerâmica, mesmo que não no ateliê como planejava. Seu metodismo era claro até na rotina que levava nesse período, frequentava diariamente a casa do irmão Daltro, tomava café no Gato Preto e comprava doces no mercado Índia. Sempre com um livro debaixo do braço e os pedaços de papel com anotações nos bolsos, ele continuou seus rituais diários até sua saúde deteriorar-se.
< Virando a página Recorte encontrado em meio aos cadernos de pesquisa
Ao lado> Alguns dos muitos livros do acervo de Nery
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de Porto Alegre
Centro de Artes e Letras da UFSM
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Gare de Santa Maria
Faculdade de Arquitetura da UFRGS
Centro de Tecnologia da UFSM
Bar da família
Em 2014, foi morar com familiares, que o auxiliaram quando já não podia fazer os caminhos de todos os dias pelas ruas de Santa Maria sozinho. Com o sistema imunológico fragilizado, Nery contraiu uma pneumonia que acabou por tirar a sua vida, poucos meses depois de ter que abandonar sua independência e seu apartamento na Rua Floriano Peixoto.
Até o fim da vida, ele manteve a essência de quem era. Um pesquisador nato, um artista curioso, uma pessoa de muitos interesses, com vontade de aprender e ensinar. Um irmão amado, um tio e professor de coração enorme, que tocou a todos que pararam para percebê-lo, mesmo que sua figura, sempre quieta e imersa em livros, parecesse não chamar atenção.
< Virando a página Nery, André e Isadora, 2000
< Ao lado
Alguns dos prédios que fizeram parte da vida de Nery
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Catálogo de obras
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114 #21 1983
117 #21 1983
118 #23 1983
121 #24 1983
122 #25 1983
125 #26 1983
128 #27 1983
130 #28 1983
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Obra pertencente ao acervo do Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria
133 #30 1984
134 #31 1984
135 #32 1984
136 #33
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#34 1987
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#35
145 #36 1988
149 #37 1989
150 #38 1990
154 #39 1991
156 #40 1995
Convidada_
Vani Foletto
As peças utilitárias e escultóricas em cerâmica de Nery Mendes
Depoimento
Conheci Nery Mendes como professor de desenho geométrico e geometria descritiva quando fui sua aluna no Curso de Desenho e Plástica na UFSM, nos anos setenta, e as disciplinas eram ministradas no Centro de Tecnologia. Porém, convivi mais de perto com ele quando assumi como professora do mesmo curso. Ele era, então, professor do Centro de Artes e Letras. A convivência durou alguns anos até ele se aposentar. Era uma pessoa discreta e não falava sobre sua vida particular. Nesse período ele pesquisava sobre as argilas que coletava em vários lugares do campus da UFSM e mostrava entusiasmado os resultados que obtinha. Ressaltava a cor, a textura das argilas e as diferenças entre elas. Quando se aposentou, presenteou-me com algumas peças, que, mais tarde, ao experimentar a cerâmica, eu as decorei com pinturas. Sobre a produção de suas peças artísticas pouco pude conhecer, pois elas não se encontravam em sua sala de aula (ateliê de cerâmica). Tive contato com apenas duas, que pertenciam ao acervo do Centro de Artes e Letras. Elas fazem parte do conjunto ora analisado. E, por aquelas obras, que eram muito bem planejadas formalmente, supunha que as outras, que ele citava, e que pertenciam a outros acervos deviam ser, também, peças de grande valor estético. O tempo passou e, agora em 2023, conheci as ima-
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Prato feito por Nery Mendes com pintura de Vani Foletto
gens dessas obras e percebi que a minha suposição estava correta. Foi uma grande satisfação conhecer as obras e perceber as características individuais e do conjunto.
As mais de trinta e cinco peças de cerâmica queimadas e policromadas descritas aqui possuem como dimensões em torno dos 50 centímetros (as maiores), e 15 cm de altura (as menores) e foram realizadas em torno de 1983. Constituem-se em um conjunto de cerâmica que pode ser considerado utilitário e artístico formado por potes, garrafas, bules, taças, copos e outros recipientes para líquidos, iguarias ou elementos sólidos modeladas em argila em que alguns possuem pedestal em madeira. Todas as peças mostram um acabamento colorido primoroso, algumas vezes são mais lisas, e, por outras mais ásperas e rústicas. Algumas possuem duas ou mais cores, mas poucas vezes a cor é vibrante e contrastante. Percebe-se, pela sofisticação da modelagem e do acabamento, que o autor possuía grande familiaridade com o trabalho em argila. É notável, também o caráter experimental com os pigmentos, e o resultado das técnicas para queima das peças, e que conseguia alcançar os efeitos desejados. Há um equilíbrio entre o planejado e o inesperado tanto na
Descrição do conjunto
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Construção por adição de partes
confecção das peças como no trato do acabamento das mesmas, tornando o conjunto peculiar, sendo que cada uma possui sua singularidade. Nota-se que o processo criativo inclui a confecção das peças por placas da mesma espessura em cada uma delas. Isso que denota que, primeiramente eram feitas as placas e, depois elas eram cortadas segundo um planejamento e, então as peças eram construídas e modeladas por adição de partes. Algumas possuem gargalos finos, outras mais largos. Muitas peças possuem vazados circulares que podem ter função de uso ou são meramente decorativos.
Decoração
As peças são decoradas com alças, formas geométricas acopladas ou pinturas e relevos. A decoração das superfícies externas são compostas por pequenos traços incisivos e relevos em formatos predominantemente geométricos e pequenas formas abstratas ou linhas assimétricas e texturas. Esses efeitos eram conseguidos, possivelmente através de queimas controladas ou experimentais para efeitos dos pigmentos sobre a superfície da argila. Não há unidade decorativa, os relevos, inscrições e desenhos decorativos são variados, predominan-
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temente geométricos, mas podem se aproximar à decoração de tradições regionais brasileiras, ou formas abstratas realçando efeitos de queima de pigmentos sobre a superfície do pote. E, em algumas peças, foram realizados desenhos em baixo relevo, mas sem pigmentos. A cor também é marcante, pois suaviza as formas mais rígidas. Poucas vezes ela aparece uniformemente aplicada, geralmente mais de um tom é aplicado e o resultado é um efeito de textura e degradê. Isso faz ressaltar algum detalhe ou a forma circular, que é predominante no conjunto, tanto na estrutura da forma, assim como nos detalhes aplicados e efeitos decorativos.
As formas
As formas do conjunto são predominantemente verticais, porém os elementos constitutivos e decorativos atenuam a sua verticalidade, outras vezes pendem para o horizontal, porém são minoritárias, ou são mais arredondadas chegando próximas ao formato de uma esfera, ou de uma oval. Algumas podem ser relacionadas com as figuras humanas, pois possuem certa semelhança com torso humano.
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Apreciação estética
As peças, além de sua possibilidade utilitária são destacáveis pelas suas características artísticas, pois refletem as possibilidades da modelagem da argila tornando-se lúdicas e sensíveis. Elas possuem uma dualidade entre a leveza e sensibilidade das texturas e dos efeitos de cor que exibem em sua superfície e as formas geométricas, principalmente o círculo, a esfera, a simetria de sua construção. Essa dualidade entre o sensível e o concreto é a característica mais marcante e é percebida em todas as obras do conjunto, pois em formas mais rígidas em que o geométrico aparece, a cor e os efeitos dos relevos vão torná-la delicada e lúdica.
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Percebe-se pela qualidade formal e pela construção esmerada da forma como um todo, que o artista as realizou com conhecimento técnico apurado sobre a cerâmica, assim como o transformar a arte utilitária em obra de arte pela sua originalidade e qualidade estética. Ela é ressaltada e torna cada uma das obras um objeto artístico. Permite que o observador questione os limites entre técnica e sensibilidade, entre a mera utilidade e a confecção de objeto estético, pleno de significados, pois o uso de um material e técnica tradicional na cultura como a cerâmica mostra-se, ainda muito importante. Num mundo de tecnologia, o fazer manual e sensível, aliado a uma atividade que é desenvolvida pelo homem há milênios (a cerâmica) são pontos que ajudam a compreender a existência atual: ela pende para o lado tecnológico e científico, porém pode abranger a sensibilidade dos processos tradicionais, e mostrar que o gestual, o sensível e o lúdico podem coexistir e convergir para uma vida mais humanizada.
Vani Foletto Professora do curso de Artes Visuais da UFSM entre 1990 e 2017. Pesquisadora e coautora de livro sobre as artes visuais em Santa Maria. Artista visual.
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Convidada_ Odete Calderan
Experiências sublimes táteis com o professor Nery
BERGER, Rejane de Fátima Devicari. Cerâmica no Rio Grande do Sul: A trajetória de Tânia Resmini. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Centro de Artes e Letras, Universidade Federal de Santa Maria, 2011.
Ao falar sobre as experiências sublimes táteis de ter conhecido e convivido com o professor Nery, me parece que é preciso resgatar acontecimentos de existências de quem realmente teve o privilégio da convivência e aprendizado com um ser humano notável e profundamente apaixonado pela cerâmica. Desde a graduação em Desenho e Plástica (UFSM-1989) trago comigo o encantamento e ensinamentos do professor (fui monitora das disciplinas de Cerâmica I, II e III), sempre tão gentil e amável com seus alunos do ateliê de cerâmica. Confesso, foi um período bonito de encantamento e experiências que perduram sensivelmente no meu percurso como artista, professora e pesquisadora, desencadeado principalmente pelas conexões com a natureza, interligada intrinsecamente à ancestralidade, às temporalidades, aos procedimentos técnicos que permeiam o labor tátil da linguagem cerâmica, e que se repetem ao longo dos processos, individual ou coletivo.
Rejane Devicari Berger, minha amiga do mestrado em Artes Visuais (PPGART/ UFSM), em sua dissertação, traz em seu texto informações valiosas sobre o contexto da cerâmica no CAL (Centro de Arte e Letras) e sobre o professor Nery:
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Na década de 1960, o ensino da cerâmica passa a fazer parte das instituições de Ensino Superior. Em Santa Maria, no centro do estado, foi criado, em 1964, o curso de Artes Plásticas, no Centro de Artes e Letras (CAL) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Dois anos depois, ocorre a contratação de novos professores e Aglaé Machado de Oliveira passa a ministrar aulas no ateliê de cerâmica. Posteriormente, o CAL passou a contar com o professor Nery Mendes, arquiteto de formação e grande pesquisador na área de cerâmica durante os anos 80 e 90 (BERGER, 2011, p. 11).
Compactuo com a autora amiga, ao falar do grande pesquisador que foi o professor Nery, sempre interessado em experimentações, seja pelos processos como artista fazendo uso dos procedimentos táteis e ou das construções a partir das justaposições de moldes de gesso utilizados em inúmeros trabalhos; alguns deles esmaltados, outros, ficavam certo período nas prateleiras do ateliê, aguardando as novas descobertas, enquanto realizava pesquisas em busca de cores, efeitos e texturas. Lembro-me que o professor Nery tinha um especial interesse quanto ao aspecto laboratorial acerca das formulações dos esmaltes para serem explorados nas superfícies cerâmicas em diferentes temperaturas de queima. E era um tradutor incansável de bibliografias relevantes principalmente na área da cerâmica difíceis de encontrar no período.
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A partir dessas amostragens, nós, alunos, desenvolvíamos as nossas próprias paletas de cores de esmaltes para, posteriormente, aplicá-las nos trabalhos cerâmicos já desenvolvidos no ateliê. Estes já tinham sido previamente modelados em argila a partir de diferentes procedimentos como a técnica de rolinhos (cobrinha, acordelado), placas, maciço ocado, entre outras variações, utilizando argilas regionais, como de Pântano Grande (RS). A partir das pesquisas e olhar atento do professor Nery, ainda assim, as dificuldades e surpresas eram recorrentes nos processos de manufatura tátil ou esmaltação, onde as complexidades sempre são difíceis de controlar. As queimas geralmente trazem algo inesperado, por vezes detalhes que dificilmente poderemos repetir, surpresas que encantam, na maioria das vezes, ou dos acasos inerentes a cerâmica. Vibramos em muitos momentos, outros, foi preciso retroceder e recomeçar.
Foi realmente uma relação de aprendizado pela partilha de conhecimento e sensibilidade dos que conviveram com o professor Nery, experienciando percepções sensíveis do mundo cerâmico, da vida e da arte. Saudades querido professor Nery!
Criciúma, inverno de 08 de agosto de 2023.
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Odete Angelina Calderan. Artista visual, professora e pesquisadora.
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Professor Nery com alunas do ateliê de cerâmica
Convidado_ Cândido Noal
Um olhar particular
Falar do Nery, que vem a ser meu tio e padrinho antes mesmo de ser professor e artista plástico, envolve uma afetividade de muitas nuances, sempre cercada por uma aura de fantasia.
Nossa convivência era próxima, marcada por uma distância que talvez significasse a autopreservação de sua intimidade. Uma pessoa discreta em sua transparente timidez.
Ao meu olhar de criança, conviver com o tio artista era estar cercado de mistério e fascínio. Os aromas do seu apartamento-ateliê estão vivos até hoje na minha memória, tintas, argilas, couro, papel, entre outros. Entrar no seu espaço era encontrar um ambiente onde a criatividade se tornava concreta, podia-se respirá-la e tocá-la em meio a algumas obras inacabadas e outras finalizadas. A profusão de formas representava um universo mágico, cores e esboços inundavam minha imaginação. Esse universo novo e desconhecido, passou a fazer parte da minha vida, ficando tatuado em minha memória.
Seu modo de ser e viver despertou em mim o interesse pelo universo das artes, sempre com um bloquinho de papel e suas canetas pentel no bolso da camisa, fazendo esboços e anotando ideias nos momentos de observação, para usar em trabalhos futuros.
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Vários desses esboços hoje estão comigo, alguns ganharam tridimensionalidade, cores e texturas únicas.
Com o passar dos anos fui tomando consciência de toda a sua complexidade, uma pessoa curiosa, habilidosa e muito versátil em suas criações, técnicas e artesanias, muito atento ao mundo que o rodeava e fornecia elementos para seus trabalhos.
Ao acompanhá-lo em suas incursões me recordo, especialmente, de seu interesse pelas terras argilosas, suas características e composições; só com o tempo vim a saber que este elemento era o objeto de seu estudo e pesquisa.
Também tenho vivos na lembrança momentos em que o acompanhei em viagens a São Paulo, onde ele ia para comprar livros sobre Nery, os irmãos Ari e Daltro, o cunhado Cândido e os sobrinhos Bia e Cândido
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artes plásticas, livros técnicos de cerâmica, visitando muitas livrarias especializadas. Lembro de andarmos pelas ruas da cidade, entrando por pequenas portas, lugares misteriosos para mim, onde ele comprava produtos químicos em pó, que eram acondicionados em pequenos pacotinhos; depois, vim a saber que eram utilizados para colorir, dar efeitos e texturas às peças em cerâmica quando levadas para a queima a altas temperaturas.
Sempre admirei a capacidade do tio Nery para trabalhar com materiais diferentes, como couro, madeira, metal, vidro e, claro, com as argilas, que se dedicou a pesquisar ao longo da vida.
Alguns desses trabalhos, feitos a partir de distintos materiais, esboços em pequenos papéis, cadernos com fórmulas químicas que reproduzem as cores aplicadas à cerâmica, guardo comigo, como mais uma forma de manter viva a sua lembrança.
O interesse que tenho hoje pela arte e alguns trabalhos que faço com materiais variados, como metal, pintura, bordado e outros, vem desta convivência que pude ter com ele. A forma com que me relaciono e olho o mundo a minha volta, uma curiosidade criativa em relação aos movimentos e as formas têm suas origens neste convívio.
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Andar pelas ruas de Santa Maria da Boca do Monte com meu tio e padrinho e em algum ponto tomar um cafézinho, e talvez trocar algumas palavras, era uma experiência agradável. Nestas trocas e relações vamos nos constituindo, vivendo, partindo e o que fica são as saudades dos momentos compartilhados. Nessas relações conhecemos o que era para ser conhecido e o que nos foi permitido conhecer. Esse é o grande mistério, o que poderia ter sido e/ou vivido nunca saberei, mas também não importa, tudo foi um grande aprendizado.
Rascunho de Nery, um entre tantos que inspirou o trabalho artístico de Cândido
Cândido Noal é artista visual, residente em Chapecó/SC.
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Posfácio
Escrever este livro me ensinou muitas coisas. Aprendi que escrever é, de muitas maneiras, um ato de ressurreição. Cada palavra escolhida é uma tentativa de trazer vida a um tempo que não existe mais. Aprendi que memórias se perdem com facilidade. Momentos, lugares, mesmo vidas inteiras podem sumir tão rápido quanto as fotografias delas se apagam, e mexer no passado revive feridas, mas também nos ensina gratidão. Aprendi a valorizar a trajetória da minha família e a guardar com cuidado minhas próprias lembranças. Aprendi que as histórias que contamos, e especialmente aquelas que escrevemos, não são apenas relatos, mas ligações — fios invisíveis que conectam aqueles que param para escutar.
Desde o início de 2022, quando embarquei na viagem de desvendar a vida e registrar a obra do meu tio-avô Nery, até agora, setembro de 2023, quando escrevo esse último capítulo, muita coisa mudou. Comecei esse projeto sem
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saber o que iria encontrar, pensando que uma tarde ouvindo os relatos de família diria tudo que precisava saber, mas percebo agora que nenhuma história tem um único ponto de vista. Cada pessoa que encontrei no caminho pintou um retrato diferente, criando uma narrativa muito maior do que pude captar nas páginas deste livro.
Cruzei o caminho de amigos, colegas e alunos, e percebi como o Nery foi uma pessoa grandiosa, mesmo em seu mundo privativo, e espero que um dia eu possa ser uma pessoa tão bondosa, criativa e curiosa quanto ele. Sinto muito orgulho ao reconhecer um pouco dessas características em cada um que orbitou o mundo de Nery. Isso, para mim, é a verdadeira imortalidade: deixar, em cada interação, um pedaço de si, que continua a ressoar mesmo após nossa partida. E nisso também, Nery foi um grande artista.
Gostaria de agradecer a todos aqueles que compartilharam suas memórias e dedicaram seu tempo para tornar essa homenagem ao Nery possível. Aos citados nas próximas páginas e aos muitos outros que me apoiaram a sua maneira -minha mãe, Marilu, meus amigos e professores, presentes nesse processo- muito obrigada por tanto.
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Alphonsus Benetti
Aruna Noal Correa
Vani Terezinha Foletto
André Luiz Mendes Noal
Nara Cristina Santos
José Francisco Flores Goulart
Odete Angelina Calderan
Cândido Norberto Mendes Noal
Carlos Corrêa de Camargo
Texto | Biografia
Isadora Matiello Noal
Textos | Convidados
Vani Terezinha Foletto
Odete Angelina Calderan
Cândido Norberto Mendes Noal
Fotos e documentos | Biografia
Acervo pessoal Cândido Norberto Mendes Noal
Acervo pessoal Aruna Noal Correa
Documentos da UFSM
Centro de Documentação e Memória
UFSM Silveira Martins
Documentos da UFRGS
Secretaria da Faculdade de Arquitetura
Documentos da Prefeitura de Santa Maria
Superintendência de Recursos Humanos
Fotos | Catálogo de obras
Isadora Matiello Noal
Edição de imagem | Catálogo de obras
Maria Vitória Vieira Rovani
Organização e design editorial
Isadora Matiello Noal
O design editorial dessa publicação foi originalmente desenvolvido para a disciplina de Projeto de Graduação em Design Gráfico da Universidade do Estado de Santa Catarina, iniciado no semestre 2022/1 e finalizado no semestre 2023/2.
A beleza vem do coração
e se derrama pelos dedos do oleiro.