Sermão de Santo António aos Peixes Este texto foi escrito pelo padre António Vieira, tendo sido discursado na cidade brasileira de S. Luís do Maranhão, a 13 de junho de 1654, dia de Santo António. Este texto pretendia mostrar o desagrado de António Vieira relativamente à forma como os indígenas eram tratados e expulsos das suas terras pelos europeus. Padre António Vieira, com este sermão em particular, afirma-se então como um defensor dos direitos dos indígenas. Padre António Vieira nasceu em Lisboa em 1608, tendo ido viver para o Brasil com apenas 6 anos. Estudou no Colégio de Jesuítas, na Baía, e desde cedo que revelou a sua grande inteligência. Entrou na Companhia de Jesus aos quinze anos, e foi nesta altura que começou a mostrar um gosto pelos povos ameríndios e pelos escravos negros, tendo estudado as línguas destes povos. Os seus sermões tornaram-no, desde cedo, num pregador de prestígio. Com estes denunciava os problemas da sociedade, querendo sempre dar a conhecer as injustiças praticadas contra os indígenas. O “Sermão” constitui uma enorme comparação entre os Homens e os peixes, que, com exemplos extremamente acertados e objetivos, os aproxima, tanto nas qualidades como nos defeitos. Em todas as comparações existentes, Santo António é sempre utilisado como uma referência e um exemplo a seguir. O “Sermão” é então, contituído por 6 partes: a primeira parte constitui o exórdio, onde é explicado, de uma forma geral, como será dirigido o discurso e dos tópicos que António Vieira se compromete a abordar. Poderá ser considerado como a introdução do discurso. A segunda parte constitui os louvores em geral, sendo depois aborados os louvores em particular (terceira parte). De seguida, são abordados os defeitos, sendo que estes também se agrupam nos defeitos em geral e nos defeitos em particular, respetivamente as partes quatro e cinco. Por fim, a sexta parte constitui a peroração, que funciona como uma conclusão forte. Nesta última parte é sintetisada a crítica, dá-se um apelo ao auditório, acabando por fim com um louvor a Deus. De entre todos os exemplos, podemos destacar no exórdio o exemplo e a explicação das falhas na pregação da palavra de Deus. De acordo com Vieira, Cristo anuncia que os pregadores são o sal da terra uma vez que Este quer que os pregadores façam na terra aquilo que faz o sal: impedir a corrupção. Assim, António Vieira explica que a causa de toda a corrupção na terra ocorre ou porque o sal não salga (os pregadores não pregam a verdadeira doutrina) ou porque a terra não se deixa salgar (os ouvintes seguem o exemplo dos pregadores, não cumprindo a verdadeira doutrina). Este discurso, entre muitos outros de António Vieira, tiveram um papel importante em anunciar e mostrar as desigualdades e as injustiças que se virificavam no mundo do século XVII, sendo desta forma um escritor muito importante e enriquecedor da literatura portuguesa.
Rúben Mealha
Nº: 22
12.º1