ENTRE: Ensaios Urbanos para Reabilitação na Baixada do Glicério

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Ensaios urbanos para reabilitação na Baixada do Glicério

Thais Tanaka Inagaki São Paulo 2021

Thais Tanaka Inagaki

E N T R E Ensaios urbanos para reabilitação na Baixada do Glicério

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientação: Prof. Dr. Paula Raquel da Rocha Jorge Prof. Dr. Luciano Margotto Soares

São Paulo 2021

AGRADECIMENTOS

Os últimos cinco anos que passei estudando e vivendo todos os dias a Arquitetura e o Urbanismo me transformaram por completo. Agradeço imensamente todas as pessoas que fizeram parte dessa trajetória, que cruzaram meu caminho e de alguma forma me ensinaram muito do que trouxe para esse trabalho. Não poderia deixar de falar daqueles que marcaram esse período.

Agradeço, antes de qualquer outra pessoa, meus pais Paula e Marcelo, por todo apoio e amor incondicional. Obrigada por vibrarem comigo a cada conquista, por me confortarem a cada momento de desespero, por oferecerem ajuda mesmo sem ter ideia de como fazer uma maquete ou passar um desenho à limpo e, acima de tudo, obrigada por todo esforço, luta e tempo cedido para que eu chegasse onde estou hoje. Sempre serão meu exemplo.

Agradeço meu irmão Theo por toda parceria, carinho e por tornar todo esse processo mais leve. Obrigada por confiar em mim, me aturar nos momentos de estresse e ficar acordado comigo durante longas madrugadas de projeto (esse é o último... ou não).

Aos meus orientadores, Paulinha e Luciano, obrigada por toda ajuda, por acreditarem na qualidade desse trabalho, por me fazerem enxergar que esse ano podia ser intenso, cansativo e prazeroso na mesma proporção. Foram vocês que mais me tranquilizaram durante o ano.

Aos meus amigos da FAU Mackenzie, agradeço todo apoio, amor, cuidado e por todos os momentos que ficarão marcados pelo resto da minha vida. Isabela e Camilla, a força e dedicação de vocês orgulha e inspira, obrigada por todo incentivo, especialmente nessa reta final.

Amanda, Anna, Artur, Gabriela, Isadora, Luciana, Luiza, Mariana e Vitória, à vocês o meu Muito Obrigado! Há 5 anos encontrei uma família e levo comigo um pouco de cada um.

RESUMO

O trabalho aqui apresentado discorre sobre a degradação de áreas centrais, estratégias para sua reabilitação e novas tipologias de moradia compartilhada, de forma a explorar os interstícios da cidade, preservando ao máximo as preexistências. Tem como objetivo propor um projeto de reabilitação para a região da Baixada do Glicério que busque atender as demandas de habitação e equipamentos públicos voltados ao lazer, cultura e educação, a fim de melhorar a qualidade de

vida da população e recuperar a área degradada no centro de São Paulo. Apoiando-se em pesquisas bibliográficas, pesquisas documentais e visitas à campo, conclui-se que a compreensão do território e exploração de suas potencialidades é essencial na recuperação dos espaços, tornando possível conectar usos, funções e públicos diversos, oferecem suporte àquela população e reavivar parte do território com espaços públicos de qualidade.

Palavras-chave: Centro. Baixada do Glicério. Reabilitação. Coabitação.

Moradia compartilhada.

LISTA DE FIGURAS

Fig. 1: Construções deterioradas Rua Sinimbu.

24 Fig. 2: Treinamento com carcaça de geladeira - Boxe Garrido.

27 Fig. 3: Pixo em muro - cidade de Recife.

29 Fig. 4: Imagem aérea cidade de São Paulo. 30 Fig. 5: Município de São Paulo - distrito da Sé e República em destaque.

32 Fig. 6: Subprefeitura da Sé - Área de intervenção “Procentro 1993-2000”.

32 Fig. 7: Imagem aérea de São Paulo. 33 Fig. 8: Município de São Paulo - subprefeitura da Sé em destaque. 35 Fig. 9: Subprefeitura da Sé - Área de intervenção “Reconstruir o Centro”. 35 Fig. 10: Largo do Café. 37 Fig. 11: Implantação proposta Projeto Nova Luz. 38 Fig. 12: Esquina da Rua São Paulo com a Rua Sinimbu Glicério.

40 Fig. 13: Fachada do Edifício Copan. 42 Fig. 14: Vista lateral da quadra.

45 Fig. 15: Vista interna da quadra.

47 Fig. 16: Vista interna.

48 Fig. 17: Vista lateral pórticos.

48 Fig. 18: Foto noturna do mercado.

51 Fig. 19: Localização e entorno.

51 Fig. 20: Incorporação da Rio Zaan ao projeto.

52 Fig. 21: Isométrica esquemática de espacialização do programa. 53 Fig. 22: Acesso à Praça das Artes pela Avenida São João.

55 10

Fig. 23: Croqui do conjunto.

57 Fig. 24: Passagem para interior da quadra - acesso Avenida São João. 58 Fig. 25: Escadaria Praça das Artes.

58 Fig. 26: A Irmandade do Espírito, uma das maiores e mais duradouras comunas do nordeste dos Estados Unidos Warwick, Massachusetts. 65 Fig. 27: A Irmandade do Espírito - Warwick, Massachusetts.

66 Fig. 28: Processo de participação no espaço La Model. 69 Fig. 29: Reunião cooperativa habitacional La Borda, Barcelona. 69 Fig. 30: Vista para átrio do edificio. 71 Fig. 31: Vista interna do edifício. 73 Fig. 32: Planta térreo do edifício. 75 Fig. 33: Vista cobertura do edifício. 75 Fig. 34: Vista da fachada do edifício. 77 Fig. 35: Imagens das varandas que circundam o edifício.79 Fig. 36: Imagem da coberuta do edifício. 81 Fig. 37: Vista cobertura. 81 Fig. 38: Comparação gráfica do relatório residencial.

Avaliação dos sistemas residenciais dos habitantes com base nos tamanhos dos ambientes desejados e das referências espaciais.

83 Fig. 39: Vista das habitações a partir do pátio central. 85 Fig. 40: Isométrica do conjunto. 85 Fig. 41: Vista pátio central. 87 Fig. 42: Foto refeitório compartilhado. 88 Fig. 43: Localização Glicério - Área de estudo. 94 Fig. 44: Mapa cidade de São Paulo (1810). 97 Fig. 45: Mapa de Chácaras (1874) - Destaque Chácara de Dona Ana Machado. 98 Fig. 46: Vila Suíça (1980). 102 Fig. 48: Construção da ligação Leste-Oeste. 102 Fig. 49: Mapa de densidade demográfica - Distrito da Sé e área de estudo. 105 11

Fig. 50: Mapa de atrativos.

107 Fig. 51: Mapa de cheios e vazios.

109 Fig. 52: Mapa de cortiços.

109 Fig. 53: Peças improvisadas para treinamento – Boxe Garrido.

111 Fig. 54: Mapa de fluxos e conexões. 117 Fig. 55: Mapa com indicação das ruas compartilhadas (R. Anita de Ferraz e R. Oscar Cintra Gordinho). 118 Fig. 56: Mapa de espaços públicos.

118 Fig. 57: Mapa de propostas espacializadas - Masterplan.

119 Fig. 58: Terreno escolhido para implantação do projeto.120 Fig. 59: Estacionamento Rua Conde de Sarzedas. 121 Fig. 60: Estacionamento Rua Dr. Tomaz de Lima.

121 Fig. 61: Situação atual. 122 Fig. 63: Fluxos e conexões.

122 Fig. 62: Topografia.

122 Fig. 64: Implantação proposta. 122 Fig. 65: Isométrica do conjunto proposto.

123 Fig. 66: Isométrica do conjunto proposto destacando Centro Comunitário.

124 Fig. 67: Isométrica explodida Centro Comunitário. 125 Fig. 68: Isométrica do conjunto proposto destacando Habitação Coletiva.

126 Fig. 69: Isométrica explodida Habitação Coletiva. 127 Fig. 70: Implantação.

129 Fig. 71: Planta térreo (Acesso R. Conde de Sarzedas). 130 Fig. 72: Planta primeiro pavimento (Acesso R. Dr. Tomaz de Lima).

131 Fig. 73: Planta segundo pavimento e pavimento tipo. 132 Fig. 74: Planta subsolo (Auditório).

133 Fig. 75: Corte A. 135 Fig. 76: Imagem térreo comercial do edifício habitacional.

137 Fig. 77: Corte B. 139 Fig. 78: Corte C. 141 12

Fig. 79: Imagem passagens internas - edifício habitacional.

143 Fig. 80: Corte D. 145 Fig. 81: Corte E. 147 Fig. 82: Imagem praça. 149 Fig. 83: Corte F. 151 Fig. 84: Imagem salas de aula - Centro Comunitário. 153 Fig. 85: Ampliações - Detalhamento edifício habitacional.

155 Fig. 86: Componentes - fechamentos modulares.

156 Fig. 87: Esquema construtivo - Módulo habitacional. 157 Fig. 88: Planta tipo - habitacional.

158 Fig. 89: Tipologia 1 - Lavandeira comunitária. 159 Fig. 90: Tipologia 2 - Banheiro comunitário. 159 Fig. 91: Tipologia 1 unidade habitacional privada. 160 Fig. 92: Tipologia 2 unidade habitacional privada. 160 Fig. 93: Tipologia 3 unidade habitacional privada. 161 Fig. 95: Tipologia 1 unidade habitacional compartilhada.

161 Fig. 94: Tipologia 4 unidade habitacional privada. 161 Fig. 96: Tipologia 2 unidade habitacional compartilhada.

161 Fig. 97: Perspectiva do conjunto.

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01

INTRODUÇÃO

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R E A B I L I TA R

21 25 28

2.1 Precariedade 2.2 Reabilitação conceito 2.3 Estratégias de transformação e recuperação do território 2.3.1 O caso São Paulo 2.3.2 Estratégias de reabilitação 2.4 Referências projetuais 2.4.1 Cancha - Rozana Montiel 2.4.2 Projeto Urbano A8erna - NL Architects 2.4.3 Praça das Artes Brasil Arquitetura

28 38 42 42 48 52

03

C OA B I TA R

3.1 A moradia compartilhada 3.2 Referências projetuais 3.2.1 La Borda - Lacol 3.2.2 R50 Ifau, Jesko Fezer, Heide & von Beckerath 3.2.3 Lange Eng - Dorte Mandrup

58 61 68 68 74 82

04

O TERRITÓRIO

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4.1 Localização 4.2 Evolução Urbana 4.3 Contexto

91 94 102

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111

O PROJETO

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5.1 O tecido urbano Princípios norteadores da proposta 5.2 A fragmentação

118

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho desenvolve-se a partir da temática acerca de questões relacionadas à cidade, apresentando como foco principal a precariedade urbana, a degradação e a recuperação dessas áreas.

Muitas das inquietações estão relacionadas aos modos de morar, buscando explorar novas possibilidades que diferem da estrutura tradicional.

Diante de áreas centrais em processo de degradação, em especial a Baixada do Glicério, nota-se a alta vulnerabilidade, a falta e o isolamento como principais problemáticas.

Problemas esses que surgem em diferentes escalas: desde falta de equipamentos, infraestrutura e espaços públicos de qualidade, até a impermeabilidade dentro das quadras e as precárias condições de habitabilidade (SOUZA, 2018).

Para enfrentar essas questões, compreende-se a existência de diversos tipos de abordagem e atuação possíveis no território, havendo como interesse principal explorar a potencialidade dos espaços públicos como conector urbano e instrumento social.

Tendo isso em vista, o trabalho tem como objetivos específicos discutir as questões pontuadas e conceitos abordados, além

de compreender, histórica e socialmente, como se deu a formação e ocupação da região central da cidade de São Paulo, com enfoque na Baixada do Glicério, para então propor um projeto de reabilitação para a região que busque atender às demandas de habitação e equipamentos públicos voltados ao lazer, cultura e educação, a fim de melhorar a qualidade de vida da população e recuperar a área degradada no centro de São Paulo.

O trabalho foi estruturado a partir de pesquisa bibliográfica em livros, artigos, dissertações, teses e revistas que abordam desde conceitos relacionados à precariedade urbana, reabilitação e suas estratégias, até coabitação e análises territoriais da área em estudo, apoiando-se principalmente em pesquisas dos autores, Adauto Cardoso (2016), Erminia Maricato (2013), Mariana Pavlick (2010), Paula Souza (2018) e Sharon Rostán (2016).

Ainda, foram realizadas pesquisas documentais e visitas a campo que, mesmo nas condições atuais (de pandemia do Covid-19), auxiliaram na compreensão das dinâmicas espaciais no Glicério.

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02

R E A B I L I TA R

2.1 PRECARIEDADE

Por definição o termo precariedade, ou precário, remete a uma condição insegura, frágil e não estável, enquanto ‘urbano’ é relativo à cidade (LELLO, 1999 apud OLIVEIRA, 2012). Sendo assim, quais são os elementos considerados para caracterizar dessa forma um território?

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), para analisar um território como precário deve-se olhar para alguns tópicos do método NBI (Necessidades Básicas Insatisfeitas) – associados às condições habitacionais – chamados “critérios de insatisfação”. Esses critérios avaliam a qualidade das habitações, acesso ao sistema de abastecimento de água e sistema de esgoto, disposição pública ou privada de eletricidade e superlotação – considerando três ou mais pessoas por dormitório (JORDÁN e MARTINEZ, 2009 apud OLIVEIRA, 2012). Ainda, a ONU estabelece mais um parâmetro para definir essas situações de precariedade: a condição de posse das unidades1 (ROSTÁN, 2016).

1

Em sua tese, Rostán (2016) expõe como a ideia de precariedade é frequentemente associada à pobreza e à vulnerabilidade. A definição do conceito de pobreza não se limita apenas aos padrões de renda e consumo, outros fatores também são incorporados ao estudo, como os indicadores sociais de saúde e educação, questões que estão relacionadas à qualidade de vida, limitação da capacidade de desenvolvimento e liberdade da população. A partir disso apresenta o conceito de vulnerabilidade: A vulnerabilidade social é entendida como o risco ou a probabilidade de que um indivíduo ou comunidade possa ser prejudicado em razão de mudanças nas condições do contexto em que se localiza ou por suas próprias limitações. [...]

Algumas condições que geram diversos graus de vulnerabilidade são a falta de capacidades, a existência de necessidades (não só básicas) não satisfatórias, a desigualdade social (ROSTÁN, 2016, p. 41).

Proteção efetiva do Estado contra desalojamentos ilegais arbitrários.

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Os assentamentos precários apresentam várias configurações, como favelas, loteamentos irregulares ou clandestinos, cortiços, conjuntos habitacionais degradados etc., correspondendo cada denominação a uma forma específica de processo de produção destes assentamentos (CARDOSO, 2016, p. 35).

Por fim, o autor (ROSTÁN, 2016) afirma que a expressão da pobreza urbana, somada às limitações da qualidade ambiental, se traduz na precariedade urbana e habitacional. Ainda assim, embora a pobreza e a desigualdade estejam associadas ao crescimento da demanda e crise habitacional, além da precarização dos assentamentos, a má distribuição de renda não é o único fator problemático da dinâmica habitacional.

A manifestação dos setores formais (setor público ou mercado) tem papel essencial no processo de oferta de novas moradias (CARDOSO, 2016).

Aqui, a precariedade se refere às péssimas condições de habitabilidade envolvendo a moradia e o meio no qual está inserida, sendo uma porção do território que foi ocupado fisicamente de forma não convencional e desobedecendo as regras impostas pela legislação edilícia – regras municipais que controlam e organizam o uso e ocupação do solo urbano na cidade (RUBIO, 2011).

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Fig. 1: Construções deterioradas Rua Sinimbu.

Fonte: Portal Aprendiz, 2017.

De forma resumida, cortiços são caracterizados como moradias de aluguel, normalmente abrigando uma família em um único cômodo, sendo sanitários, cozinha e outras instalações de uso coletivo. Os loteamentos irregulares correspondem ao parcelamento e venda do solo, no qual não houve cumprimento da normativa urbanística e apresenta um agente econômico responsável. Com relação aos conjuntos habitacionais degradados, são moradias de iniciativa pública destinadas à habitação de interesse social que, seja por problemas construtivos ou por falta de manutenção, possuem sinais de precariedade construtiva (CARDOSO, 2016). Já as favelas são definidas como núcleos habitacionais precários, com tipologias desordenadas desenvolvidas a partir da ocupação de lotes públicos ou privados (RUBIO, 2011). Este último demonstra padrões urbanísticos de pior qualidade através da carência de infraestruturas e inadequação dos

sítios ocupados além de apresentar altos riscos.

Para cada um desses tipos descritos, foram propostos diferentes modelos de intervenção. Adauto Cardoso (2016) analisa diversos aspectos desses assentamentos e propõe a definição de uma tipologia que auxilie a determinar quais deles serão objeto das políticas de urbanização e regularização.

Esse conjunto de critérios – baseados na proposta de Laura Bueno (2003 apud CARDOSO, 2016) – surge como mecanismo de priorização dos investimentos de acordo com as condições habitacionais em cada situação, diferentes graus de irregularidade, carência e precariedade.

A proposta de construção de uma tipologia de precariedade de assentamentos, aqui indicada, tem um sentido básico de contribuir para a maior eficácia das ações do poder público nesses assentamentos, visando superar as dicotomias entre os programas de melhorias físicas e de segurança jurídica e as ações voltadas à inserção social (CARDOSO, 2016, p. 48).

Ademais, faz-se necessário considerar a oferta de serviços e equipamentos básicos à cidadania como transporte, coleta de lixo,

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educação, saúde, etc.. “A existência ou a inexistência destes demonstram como o poder público se faz presente, tornando mais evidentes as condições urbanas às quais uma determinada população está sujeita” (OLIVEIRA, 2012, p. 20).

Sendo o espaço público o principal componente de suporte às atividades não privadas, provedor de encontros, interações sociais e atividades coletivas, é importante que ele disponha de infraestruturas que favoreçam esse caráter. No entanto, a polarização espacial mostra que áreas mais favorecidas apresentam espaços públicos de boa qualidade, enquanto zonas mais vulneráveis têm seus espaços públicos abandonados e mal conservados (ROSTÁN, 2016).

Fig. 2: Treinamento com carcaça de geladeira - Boxe Garrido. Fonte: Nacho Doce in: Reuters, 2013.

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2.2 REABILITAÇÃO CONCEITO

Com a intenção de elaborar estratégias e promover desenvolvimento com caráter integrador e inclusivo, reanimando parte da cidade, surge o conceito de reabilitação (ou requalificação).

Iniciando a discussão sobre essa temática das intervenções urbanas em áreas centrais decadentes, serão apresentadas diferentes estratégias de ação, uma vez que “A lógica de intervenção urbana nesses espaços muda no tempo mas também opõe ideologias face à cidade, nem sempre reconciliáveis, dada a diversidade e interesses” (FREITAS et alli, 2006).

O primeiro conceito aqui apresentado é o de renovação urbana, caracterizado pela frequente ocorrência de demolições de edificações envelhecidas e desvalorizadas para substituí-las por construções novas, em geral apresentando configurações e tipologias diferentes. Há um grande aumento da densidade assim como uma mudança no uso do solo (de zonas centrais) devido à instalação de novos serviços e novas atividades econômicas (MARICATO, 2013).

De acordo com Freitas e colegas

25

(2006), essa estratégia atua em larga escala desencadeando mudança estrutural em três dimensões: a morfológica, referente à estrutura da cidade e da paisagem; a funcional, ligada à base econômica; e a social, relacionada aos moradores e visitantes daquela porção do território.

Como reflexo desse processo de transformação urbana temse a expulsão de parte da função residencial com constante periferização da população mais pobre devido à intensa valorização imobiliária, e ainda, expulsão de pequenos comércios e serviços com fraca capacidade econômica para competir com os grandes empreendimentos (FREITAS et alli, 2006).

No que diz respeito à reabilitação urbana ou requalificação, tem-se a readaptação do tecido urbano, preservando ao máximo as construções existentes, seus usos e a população moradora (MARICATO, 2013).

Na Carta de Lisboa2 (1995 apud COSTA, 2015) o conceito é definido como uma estratégia de gestão urbana que, por meio de múltiplas ações para melhorar a qualidade de vida das populações, requalifica o território e valoriza seus potenciais

econômicos, sociais e funcionais.

Para isso, é preciso melhoramento das condições físicas da área através da instalação de equipamentos e recuperação dos espaços públicos.

A reforma necessária na infraestrutura existente para adaptá-la a novas necessidades procura não descaracterizar o ambiente construído herdado.

Nos edifícios busca-se fazer “intervenções mínimas” indispensáveis para garantir conforto ambiental, acessibilidade e segurança estrutural (MARICATO, 2013, p.

126).

Destaca-se, neste caso, o caráter residencial do território, no qual duas intervenções principais são apontadas: no edificado – focando na qualidade das habitações e construção de equipamentos; e na paisagem urbana – espaços de transição da residência ao espaço público (FREITAS et alli, 2006).

Cada uma das estratégias citadas apresenta interesses distintos. Na renovação há grande interesse no capital imobiliário, na sua valorização e consequentemente desenvolve forte dinâmica de mercado no qual predominam atividades culturais, shopping centers, museus e sede de grandes corporações. Já na reabilitação, a população residente

e os profissionais locais mostram-se como principais interessados. Aqui, os interesses de mercado perdem força e importância diante dos valores de solidariedade e participação social (MARICATO, 2013).

Fig. 3: Pixo em muro - cidade de Recife. Fonte: Observatório das Metrópoles.

O que se pretende enfatizar nesta introdução é que a decisão política de renovar ou reabilitar implica em estratégias diversas que irão marcar diferentemente todos os detalhes dos planos, do gerenciamento e da construção. O resultado arquitetônico e urbanístico também será diverso assim como a apropriação social (MARICATO, 2013, p. 127).

Maricato (2013) afirma que desenvolver um plano de reabilitação sem novas construções é impossível, visto que nem todos os edifícios existentes são recuperáveis para restauração, assim como nas renovações nem tudo que existe é destruído e apagado.

2

26

A Carta de Lisboa é resultado do Encontro Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana de 1995 que teve o objetivo de “aprofundar questões relativas à identidade dos núcleos históricos, à prática e gestão da reabilitação urbana, e aos meios disponíveis e parceiros possíveis para sua viabilização” (PADOVANI, 2005 p. 13).

27

2.3 ESTRATÉGIAS DE TRANSFORMAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO TERRITÓRIO

2.3.1 O CASO DE SÃO PAULO

O processo de esvaziamento do centro da cidade de São Paulo foi iniciado na década de 1960. Com isso, na década posterior começaram a surgir as primeiras respostas do poder público municipal a partir do desenvolvimento de diversos planos, projetos e leis. Até o momento, alguns deles chegaram a ser implementados parcialmente enquanto outros nem ao menos saíram do papel (DIOGO, 2004 apud NOBRE, 2009).

Entre os anos de 1975 e 1979, as propostas da

Prefeitura para o centro estavam voltadas principalmente às questões do patrimônio histórico e do tráfego de veículos, com a ideia de reabilitação do ambiente urbano, além da criação de um sistema para o trânsito de

de recuperação de cortiços e a transferência da sede da prefeitura para o Palácio das Indústrias no Parque Dom Pedro II. Ainda neste período, apareceu a primeira Operação Urbana (Operação Urbana

pedestres na área central, com a construção de aproximadamente 7km de calçadões em diferentes ruas e 4km de vias para tráfego seletivo, redesenhando aproximadamente 1/3 de sua rede viária (EMURB, op. cit. apud NOBRE, 2009).

Nos anos seguintes, até 1988,

Anhangabaú) para a cidade e para a área em questão, “instrumento que, apesar de já ser previsto no Plano Diretor de 1988 (Lei n. 10.676/88) e na Lei Orgânica do Município, nunca havia sido colocado em prática” (São Paulo, 1996 apud NOBRE, 2009).

Nos próximos anos, o Município, junto à Associação Viva Centro (AVC)3, desenvolveu uma proposta denominada “Requalificação Urbana e Funcional do Centro de São Paulo” o Procentro, com a finalidade de arrecadar financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a recuperação da área central da cidade (PAVLICK, 2010). O documento de criação do programa apresentava diagnósticos sobre a área central que apontavam sua degradação funcional, paisagística e ambiental, as dificuldades de acesso e circulação, a insuficiência do estoque imobiliário, e a fragilidade da segurança patrimonial e pública

apesar dos vários documentos e propostas contidas nos estudos para planos diretores da cidade, [...] as únicas ações implementadas foram: o restauro do Teatro Municipal e a construção dos túneis no vale do Anhangabaú, baseada em projeto ganhador de concurso público, o qual propunha o rebaixamento da avenida Prestes Maia, principal artéria norte-sul, retomando o conceito de um parque no vale (NOBRE, 2009, p. 223).

Já na gestão de Erundina (1889-

Fig. 4: I m a g e m aérea cidade de São Paulo. Fonte: Reddit, 2019.

1992), foi proposto o “Volta ao Centro”, promovendo diversos concursos públicos em bairros limítrofes ao centro histórico, implementação do programa

3

Associação Viva o Centro – entidade criada em 1991, a qual representava empresários, comerciantes e moradores da área central do Município de São Paulo. “[...] defendia a reversão da degradação do centro e do processo de êxodo de atividades econômicas para as chamadas “novas centralidades” a sudoeste da cidade, pleiteando iniciativas do poder público no sentido de revitalizar a área central” (MOTISUKE, 2008).

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29

(NOBRE, 2009).

Este programa, desde então, passa por diferentes administrações, tem seu nome alterado, sofre

para enquadrar-se aos requerimentos do BID, instituição que financiava suas ações. A área de intervenção envolvia os distritos da Sé e República e seu

modificações referentes ao perímetro de ação ou até à concepção de suas políticas (PAVLICK, 2010).

A primeira fase do Procentro ocorreu durante as gestões de Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000). Segundo Pavlick (2010), durante esse período a proposta passou por diversas revisões

entorno nas porções norte e leste (compreendendo as áreas da Estação da Luz e Júlio Prestes, do Pátio do Pari, o Parque Dom Pedro II e a zona cerealista) (MOTISUKE, 2008).

Tinha como foco principal a reversão do processo de degradação, desvalorização e esvaziamento do centro de São Paulo. Na tentativa de

BOM RETIRO SANTA CECILIA

REPÚBLICA CONSOLAÇÃO

SÉ

BELA VISTA CAMBUCI LIBERDADE

Fig. 5: Município de São Paulo - distrito da Sé e República em destaque. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 6: Subprefeitura da Sé - Área de intervenção “Procentro 1993-2000”.

Fonte: Autora, 2021.

subverter essa realidade, o “Procentro 1993-2000” apoiava-se em quatro eixos de ação: Investimento em informação e gestão urbana; o desenvolvimento social, econômico e ambiental da área, a partir de intervenções em praças e largos e restauro de imóveis históricos e culturais; investimentos em infra-estrutura, com intervenções viárias e criação de estacionamentos subterrâneos; e de revitalização urbana com intervenções no espaço público e infra-estrutura (PAVLICK, 2010, p. 125).

Apesar de ainda não possuir aprovação do empréstimo do BID naquele período, algumas ações foram realizadas no centro, como a reforma do calçamento no Largo São Bento e nos Viadutos do Chá e Santa Efigênia. Apenas no ano 2000, após diversas negociações, o empréstimo foi concedido e o projeto foi préaprovado pelo Banco (CYMBALISTA et al.,2008 apud PAVLICK, 2010).

A partir da gestão de Marta Suplicy (2001-2004), as propostas existentes na prefeitura mudaram de abordagem. Sob nova administração foi criado o “Reconstruir o Centro” – que a princípio não era vinculado ao financiamento do BID. Apresentando um caráter mais social, a nova proposta incorporou

Fig. 7: Imagem aérea de São Paulo.

Fonte: Sérgio Souza, 2021.

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outros elementos articuladores, com uma forte política habitacional e de inclusão, envolvendo novos atores no debate. Aqui, os limites de ação foram ampliados para toda a área compreendida pela Subprefeitura da Sé, envolvendo seus oito distritos, incluindo o Glicério (PAVLICK, 2010).

O plano visava a diversidade social e funcional na tentativa de enfatizar as atividades de moradia, emprego, cultura, lazer, educação e representação na área a partir de oito programas básicos: Andar no centro; Morar no Centro; Trabalhar no Centro; Descobrir o Centro; Preservar o Centro; Investir no Centro; Cuidar do Centro e Governar o Centro (NOBRE, 2009). Mariana Pavlick (2010) discorre em sua pesquisa que, diferente das propostas anteriores, o Reconstruir o Centro reconhecia a necessidade de preservar e reforçar os usos e atividades preexistentes, e de investir em habitação ao invés de implementar grandes intervenções urbanísticas e substituir usos.

32

A fim de adaptar-se ao financiamento do BID (com processo de negociações iniciado em 1993), o “Reconstruir o Centro” passou por uma revisão em 2002 dando origem ao “Ação Centro”. Este, compreendia um amplo número de ações para a reabilitação do Centro através da melhoria das condições ambientais e de qualidade de vida, valorizando a função coletiva do espaço público, ampliando o uso residencial e estimulando a diversidade funcional da região. Reformulado, o programa continuava refletindo uma preocupação daquela administração com a provisão de oferta de habitação popular e inclusão social (PAVLICK, 2010, p. 127).

Eduardo Nobre (2009) explica que o novo programa possuía cinco eixos de ação: 1) Reversão da desvalorização imobiliária e recuperação da função residencial – com a revisão da legislação da Operação Urbana, implementação de ZEIs-3 ao Plano

BOM RETIRO SANTA CECILIA

REPÚBLICA SÉ

CONSOLAÇÃO

BELA VISTA CAMBUCI LIBERDADE BAIXADA DO GLICÉRIO

Fig. 8: Município de São Paulo subprefeitura da Sé em destaque. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 9: Subprefeitura da Sé - Área de intervenção “Reconstruir o Centro”.

Fonte: Autora, 2021.

Regional da Sé (Plano Diretor de 2002), e intervenções urbanísticas com diversos programas como o “Programa de Locação Social” e o “Programa Morar no Centro”; 2) Transformação do perfil econômico e social – propondo articulação com o empresariado, regularização do comércio informal e atendimento a grupos vulneráveis; 3) Recuperação do ambiente urbano – a partir de obras para a reabilitação de equipamentos e infra-estrutura urbana, reabilitação dos edifícios e espaços públicos, além de estratégias para controle das inundações;

33

4) Transporte e circulação – com a execução de obras e compra de equipamentos para melhoramento do sistema de transporte público; 5) Fortalecimento institucional do município – através da criação de subprefeituras e transferência de órgãos municipais para edifícios no centro.

O Programa Morar no Centro tinha como objetivo a recuperação de edificações para o uso habitacional e construção de novas unidades voltadas à habitação social. Desenvolvia projetos habitacionais em terrenos vazios ou edifícios desocupados, com a construção ou reforma desses imóveis. Ainda, implementou os Perímetros de Reabilitação Integrada do Habitat (PRIH), visando melhorar a qualidade de vida de moradores e trabalhadores – foram iniciados os processos de implantação do PRIH Luz e do PRIH Glicério, o primeiro chegou a ser elaborado, já no caso do Glicério foram desenvolvidos apenas levantamentos e diagnósticos da área (PAVLICK, 2010).

Mais uma vez o programa para a recuperação do centro se modifica com o início da próxima

administração municipal de SerraKassab (2005-2008). O nome “Procentro” foi recuperado e trouxe grandes mudanças. Dessa vez a dinâmica estava voltada a impulsionar investimentos de iniciativa privada, apostando na concentração de recursos. Quanto ao perímetro de ação, foi novamente reduzido, se limitando aos distritos Sé e República (CASTRO, 2003 apud PAVLICK, 2010).

O “Procentro 2005-2008” manteve os mesmos cinco eixos de ação da fase anterior (reversão da desvalorização imobiliária e recuperação da função residencial; transformação do perfil econômico, etc.). Ainda, deu continuidade aos PRIHs, focando suas ações no PRIHLuz. O Projeto “Nova Luz”, principal proposta lançada pelo Procentro em 2005 através de Parceria Público-Privada, teve como objetivo atrair o investimento de grandes empreendimentos e incorporar diversos ramos de atividades como comércio, serviços, saúde, tecnologia e informação, educação e atividades culturais (AMORIM, 2016).

Fig. 10: Largo do Café. Fonte: Catraca Livre, 2020.

34

35

Apesar de ser apresentado pela administração municipal como um projeto de governabilidade democrática, o “Nova Luz” carrega consigo o estigma de interesses econômicos ligados ao mercado imobiliário influenciando as decisões políticas (AMORIM, 2016, p.

81).

Mariana Pavlick (2010), atribui a dificuldade de alcance de seu objetivo final e a baixa execução do Programa Procentro à instância dos programas e instrumentos, refletido nas diversas alterações e revisões da proposta desde a sua criação. Além disso, a autora julga o Procentro: [...] como suporte para a criação de outros programas mais setoriais – como o “Projeto Nova Luz” e o “Projeto Corredor Cultural” – desenvolvidos no seu interior, fazendo uso ou não dos seus benefícios fiscais. Embora o Procentro defina muitas ações gerais organizadas em eixos de trabalho, estas não se refletem em intervenções mais concretas, distribuídas no seu perímetro de ação – falta a materialização de muitas das suas intenções (PAVLICK, 2010, p. 135).

Fig. 11: Implantação proposta Projeto Nova Luz. Fonte: Prefeitura de São Paulo Desenvolvimento urbano, 2011.

36

37

2.3.2 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO

As intervenções em centros urbanos devem se qualificar por critérios funcionais, políticos, sociais e ambientais, de forma a conferir um novo dinamismo não só econômico, como também social a essas áreas (VAZ, 1995 apud COSTA, 2015). [...] está relacionado com a necessidade de desenvolver um processo de planejamento integrado, multidimensional, de modo a criar espaços para viver e trabalhar, assim como para o lazer (“live+work+play”) utilizando e provocando ligações entre territórios, atividades e pessoas (FREITAS et alli, 2006, p. 26).

Segundo José Vaz (2006 apud COSTA, 2015), as intervenções em centros urbanos são norteadas por seis características, são elas: a humanização dos espaços

38

Fig. 12: E s q u i n a da Rua São Paulo com a Rua Sinimbu - Glicério. Fonte: Autora com base em imagem do Google Street, 2020.

coletivos produzidos, a valorização dos patrimônios histórico e simbólico existentes, o incremento dos usos de lazer, a priorização da moradia social, a preocupação com aspectos ecológicos, e a participação da sociedade civil na produção e implantação dos projetos.

Sobre a recuperação de áreas degradadas, depara-se com um discurso que sugere a atração de capital privado como única estratégia possível para o processo de revitalização ou requalificação, com a inserção de empresas e investimentos em empreendimentos imobiliários.

Contudo, intervenções públicas anteriores, relacionadas à melhoria ambiental, são necessárias a esse tipo de estratégia, essas vão desde pequenas ações no melhoramento da segurança e manutenção dos espaços públicos, até a reestruturação e modernização da infraestrutura existente (ARANTES, 2000; VAINER, 2000; FIX, 2000; FERREIRA, 2007 apud MOTISUKE, 2008).

A recuperação da qualidade do espaço da cidade e da sua multifuncionalidade é fundamental para devolver sua característica de ambiente capaz de conectar usos, funções e públicos diversos (ROLNIK, 2000).

O espaço público é ao mesmo tempo um ambiente físico, simbólico

e político, o qual proporciona relações sociais e aparece como palco à sociedade. A qualidade da cidade, assim como a qualidade de vida da população, se revela através de seus espaços públicos (BORJA; MUXI, 2001 apud COSTA, 2015): “Nos espaços públicos deteriorados, a maioria das atividades sociais e recreativas desaparecem completamente, deixando apenas vestígios das atividades de pedestres mais necessárias e utilitárias (GEHL, 2002, p. 16 apud COSTA, 2015, p.

39)” na ideia de que aqueles locais se reduzem a espaços de transição e não efetivamente de permanência e interação. Assim, como também afirma Schapochnik (2016), em contextos urbanos desfavoráveis, as intervenções feitas para reabilitação de espaços públicos proporcionam uma expressiva melhoria na qualidade de vida de seus habitantes.

Ainda, com relação à produção de moradia social como estratégia de reabilitação de áreas centrais, Erminia Maricato (2013) afirma em seu discurso que a ampliação do mercado residencial é fundamental para a diminuição da desigualdade no território urbano. Para tanto, os programas habitacionais exigem linhas específicas de financiamento e legislação. Apesar de possuir pouca influência na regulação do

39

financiamento imobiliário, o governo municipal tem papel importante no que diz respeito à regulação fundiária e imobiliária urbana, assim como na implementação dessa política, uma vez que a ele é atribuída a competência pelo uso e ocupação do solo urbano.

Essa legislação especifica de uso e ocupação do solo deve certificar a possibilidade de preservação e manutenção do pequeno negócio, do chamado patrimônio “banal”4 ou comum, da reabilitação de edifícios, e da priorização da moradia social.

A instalação de equipamentos e projetos culturais são estratégias importantes para atrair pessoas ao centro nos períodos de lazer, contudo, como mencionado, a reabilitação de velhos centros urbanos deve proteger o pequeno negócio para preservação de empregos e das características históricas do patrimônio edificado, seja de bens tombados ou daqueles comuns. Ademais, estimular o uso residencial nos centros a partir de programas de moradia possibilita

[...] deslanchar uma reação em cadeia que incorpora financiamento e mercado.

Além do mais, um eficiente programa de moradia no centro pode redirecionar o fluxo do assentamento residencial que, nas metrópoles brasileiras, se dirige às áreas ambientalmente frágeis e à periferia (MARICATO, 2013, p. 141).

Todas essas ações buscam adaptar as edificações às necessidades contemporâneas com melhoria das condições de conforto, segurança e habitabilidade, mas sempre respeitando o tecido urbano e social preexistente, além de suas especificidades, com o objetivo de preservar os moradores originais e os usos tradicionais daquele território (MOTISUKE, 2008).

Fig. 13: Fachada do Edifício Fonte: Estadão, 2015.

Copan.

4

O conceito de patrimônio “banal” é identificado por Ermínia Maricato como uma tradução literal do conceito constante da legislação francesa associada à reabilitação de áreas centrais degradadas.

40

41

2.4 REFERÊNCIAS PROJETUAIS

2.4.1 CANCHA - ROZANA MONTIEL

O projeto da Cancha, elaborado pelo escritório Rozana Montiel Estudio de Arquitectura em 2016, foi desenvolvido visando a reabilitação de espaços residuais dentro de um complexo habitacional em região periférica próxima ao porto de Veracruz, no golfo do México (ARCHDAILY, 2016).

A área na qual foi implantada possuía uma quadra de esportes que, além de encontrar-se em péssimas

condições em razão da falta de manutenção, apresentava-se em desuso principalmente devido à falta de proteção solar. Com isso, a ideia inicial do projeto, que se baseava apenas no desenvolvimento de uma cobertura, resultou na introdução de outras ações para reativar a quadra e seu entorno através de um centro comunitário (ROZANA MONTIEL ESTUDIO DE ARQUITECTURA, 2016).

Fig. 14: Vista lateral da quadra.

Fonte: Sandra Pereznieto in: Rozana Montiel Estudio de Arquitectura, 2016.

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Por estar localizado em uma região carente de equipamentos urbanos, foi necessário pensar em uma cobertura habitável, com programas diversos. A partir disso, os vãos entre pilares foram aproveitados para abrigar um amplo programa que conta com salas multiuso, varandas, áreas de lazer e recreativas para crianças, banheiros e biblioteca, além de aproveitar a estrutura como parte do mobiliário urbano. Ainda, no restante da praça, outros espaços de intercambio social foram incorporados, assim como espécies de árvores locais e vegetação com a intenção de sombrear o espaço público.

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Fig. 15: Vista interna da quadra.

Fonte: Sandra Pereznieto in: Rozana Montiel Estudio de Arquitectura, 2016.

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Como resultado tem-se um modelo replicável que responde às necessidades de uso desportivo, recreativo, educativo, religioso e contemplativo, promovendo encontros e interações em um espaço que se encontrava esquecido. O projeto, mesmo que simples, expressa sua complexidade e potência. A atuação no espaço público com a implementação de atividades sociais e interativas provoca uma ressignificação para infraestruturas obsoletas.

Fig. 16: Vista interna.

Fonte: Sandra Pereznieto in: Rozana Montiel Estudio de Arquitectura, 2016.

Fig. 17: Vista lateral pórticos.

Fonte: Sandra Pereznieto in: Rozana Montiel Estudio de Arquitectura, 2016.

46

47

2.4.2 PROJETO URBANO A8ERNA – NL ARCHITECTS

Localizado em Koogaan de Zaan, na Holanda, o A8erna surgiu como uma proposta de revitalização urbana ocupando o baixio da rodovia elevada A8.

Em meados dos anos 1970 se iniciava a construção da rodovia sobre pilotis, como forma de transposição do rio Zaan, um dos milhares cursos

d’água que compõem a geografia dos Países Baixos. No entanto, o elevado Highway A8 tornou-se um elemento de segregação em um ponto de convergência e de vida pública para toda a comunidade – de um lado da via está a igreja da cidade e do outro a antiga prefeitura de Koogaan (BARATTO, 2013).

Fig. 18: Foto noturna do mercado. Fonte: Luuk Kramer in: NL Architects, 2006.

Fig. 19: Localização e entorno.

Fonte: Autora com base em imagem de satélite, 2020.

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49

de projeto, transforma-se de uma área periférica residual a um centro, de um estacionamento informal a um espaço dinâmico que abriga diversos usos, de um “terrain vague” a um ponto focal. Isso tudo a partir de simples intervenções e programas que apropriam-se de uma grande cobertura existente para reabilitar o espaço público (BARATTO, 2013).

Fig. 21: Isométrica esquemática de espacialização do programa.

Fonte: Autora com imagem base de NL Architects, 2020.

Fig. 20: Incorporação da Rio Zaan ao projeto.

Fonte: Luuk Kramer in: NL Architects, 2006.

Após ser tratado como um ponto cego da cidade por mais de 30 anos, o escritório de arquitetura NL formulou um “documento cidadão A8erna” que conta com inúmeras propostas e ideias para a área residual que foi criada com a construção da rodovia, como oportunidade para a recuperação urbana e implantação de novos equipamentos públicos (BARATTO, 2013).

Assim, visando subverter essa realidade o projeto A8erna – o qual teve a construção finalizada no ano de 2006 – desenvolveu-se em colaboração com o governo local e a população residente da pequena cidade. Visando recuperar esse espaço

50

residual, com reflexo em seu entorno como um todo, a obra contempla diferentes usos públicos com um programa que abriga desde pistas de skate, galeria de graffiti, quadra poliesportiva, à supermercado, floricultura e peixaria. Ainda, o rio Zaan foi incorporado ao projeto a partir do redesenho completo de sua orla, desenvolvimento de um “mini porto” para práticas esportivas e um longo deck para pescaria (NL ARCHITECTS, 2006).

Dessa forma, o projeto transforma o que antes era uma cicatriz segregadora em meio a cidade, em um elemento integrador do espaço urbano. De acordo com o memorial

51

2.4.3 PRAÇA DAS ARTES - BRASIL ARQUITETURA

Projetado como um anexo do Teatro Municipal, a Praça das Artes surge para abrigar a sede dos corpos artísticos da cidade (Orquestra Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, Corais Lírico e Paulistano, o Balé da Cidade e o Quarteto de Cordas), além das Escolas Municipais de Música e Dança, o Museu do Teatro e o Centro de Documentação Artística. A obra da Secretaria Municipal de Cultura, desenvolvida pelo escritório Brasil Arquitetura em 2006, está implantada em um miolo de quadra no centro histórico de São

Paulo, entre o Vale do Anhangabaú, Rua Conselheiro Crispiniano e a Avenida São João, fazendo conexões urbanas e costurando a quadra em uma área fortemente consolidada (HELM, 2013).

O projeto apresenta papel importante com relação à requalificação da área central, visto que todo seu programa de uso, focado nas atividades educacionais e culturais, está marcado por funções de caráter público e voltado à interação e à vida urbana (ARCHDAILY, 2013).

Fig. 22: Acesso à Praça das Artes pela Avenida São João.

Fonte: Nelson Kon e Leonardo Finotti in: Brasil Arquitetura, 2006.

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53

Sem apresentar um perímetro definido, a edificação foi desenvolvida a partir dos espaços no meio da quadra, grudando-se em empenas cegas a fim de construir vazios no nível da rua para permanência e circulação de pessoas, transformando a situação física e espacial preexistente. Desse modo, suspenso sobre as passagens, o conjunto se apoia nas bordas dos terrenos e possui edifícios com alturas distintas interligados por passarelas e rampas-túnel (HELM, 2013). “[...] uma arquitetura que se faz a partir de adversidades e restrições e que não precisa da terra arrasada como pedestal” (BRASIL ARQUITETURA, 2013).

Fig. 23: Croqui do conjunto Fonte: Brasil Arquitetura, 2006.

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Destaca-se no projeto da Praça das Artes, a estratégia de produzir um espaço que responde à demanda de um equipamento público com um programa diverso ligado à cultura e educação, ainda que produzindo uma dinâmica que requalifica espaços degradados a partir de sua geografia urbana e história local.

Fig. 24: Passagem para interior da quadra - acesso Avenida São João. Fonte: Nelson Kon e Leonardo Finotti in: Brasil Arquitetura, 2006.

Fig. 25: Escadaria Praça das Artes.

Fonte: Nelson Kon e Leonardo Finotti in: Brasil Arquitetura, 2006.

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57

03 C OA B I TA R

3.1 A MORADIA COMPARTILHADA

O auge da chamada economia colaborativa5, juntamente com o esgotamento precipitado dos recursos globais e uma população em

constante

crescimento,

obriga-nos a repensar o conceito de propriedade e a participação na vida quotidiana, inclusive na habitação [...]. Este cenário nos leva a pensar em quais oportunidades pode nos oferecer a coabitação e em que consiste a vida compartilhada que poderia nos levar à renúncia da nossa privacidade e a redefinição do que entendemos por lar (TEO, 2017 apud MEDINA, 2019, p.

1).

Discute-se aqui a coabitação como uma forma alternativa aos modelos de moradia contemporâneos, propondo reconfigurações subjetivas dos modos de vida diante das opções cada vez menores de acesso à moradia.

Je Ahn (2018) demonstra que esse modelo de morar coletivamente não é algo novo, existe há séculos uma grande variedade de formações: como as comunas, ashrams, monastérios, kibutz, e entre os séculos XV e XVII, diversos grupos etno-religiosos viram-se obrigados a criar pequenas unidades residenciais compartilhadas.

No entanto, reconhece-se que a dita “moradia compartilhada”, como conceito formal, surgiu na Dinamarca nos anos 1960.

5

A expressão “economia colaborativa” é utilizada de modo a definir uma forma de distribuição de bens e serviços diferente do modelo tradicional. Defende a ideia de compartilhamento de recursos, estimulando experiências em detrimento da posse de bens individuais.

61

Fig. 26: A Irmandade do Espírito, uma das maiores e mais duradouras comunas do nordeste dos Estados Unidos - Warwick, Massachusetts.

Fonte: Foundation for Intentional Community, 2019.

62

63

A jornalista Bodil Graae, publicou em 1967 um artigo no qual questionava a estrutura da unidade familiar tradicional e afirmava que as famílias deveriam compartilhar suas atividades, principalmente aquelas relacionadas ao cuidado das crianças. O artigo foi amplamente reconhecido por ter inspirado cinquenta famílias a desenvolverem o projeto de coabitação Sættedammen no ano de 1972, tornando-se a comunidade de habitação coletiva mais antiga que se conhece, localizada em Hilerod, a trinta quilômetros da capital Dinamarquesa, Copenhague (LEITART, 2010 apud AHN, 2018).

Este modelo de vida comunitária semiurbana – à margem de um contexto urbano que se expandia rapidamente com uma oferta habitacional limitada – era novo por responder de maneira consciente às crescentes demandas de igualdade de gênero e focava principalmente na oferta de cuidado infantil, tornando comum os (múltiplos) recursos do lar (AHN, 2018, p.

21).

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Fig. 27: A Irmandade do Espírito - Warwick, Massachusetts.

Fonte: Foundation for Intentional Community, 2019.

O pioneiro projeto dinamarquês serviu como inspiração e abriu caminho para a materialização de formações semelhantes em outros centros urbanos da Europa, nos quais a população se via afetada pela falta de moradias economicamente viáveis e pela dificuldade de acesso à terra (AHN, 2018).

A partir do ressurgimento da moradia coletiva, Irene Pereyra (2016 apud MEDINA, 2019) aponta em sua pesquisa a existência de diferentes ofertas de co-housing atualmente, destacando duas delas: um corporativo e outro que apresenta um caráter social contrário às lógicas do mercado capitalista, comumente administrado e projetado pelos futuros residentes desses conjuntos.

O primeiro caso é destinado a um público especifico, no qual, embora o custo de vida seja alto, esses conjuntos oferecem a oportunidade de viver com conforto nas grandes cidades e promovem interações sociais entre os moradores. Ademais, oferece usos comuns como espaços de estar, academias, restaurantes, saunas e lavanderia. Aqui, o tempo de permanência dos residentes nos apartamentos é mais reduzido, refletindo o estilo de vida nômade e cosmopolita do público jovem (PEREYRA, 2016 apud MEDINA, 2019).

contrapartida, o coautogerido de interesse social apresenta um compromisso prolongado e uma projeção de vida distinta da anterior, envolvendo diferentes graus de colaboração Em

housing

desde o início do projeto, da gestão e da propriedade legal. Esses projetos apresentam tarefas compartilhadas e divididas em espaços comuns para sociabilização, além de incentivarem o apoio entre residentes – como no cuidado às crianças e idosos (MEDINA, 2019).

No livro Habitar em comunidade.

La vivenda cooperativa em cesión de uso, co-escrita por La Ciutat Invisible e Lacol (2018 apud PLOT, 2019), apresentam-se as cooperativas habitacionais, que aparecem como um marco na produção coletiva, superando limitações presentes em projetos tradicionais, tanto em residências promovidas pelo poder público como por iniciativa do mercado imobiliário.

O desenvolvimento desses projetos vai além de sua construção, a autopromoção, a propriedade coletiva e a vida comunitária aparecem como principais condicionantes a orientar as estratégias projetuais desses conjuntos (LA CIUTAT INVISBLE e LACOL, 2018 apud PLOT, 2019).

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Fig. 29: Reunião cooperativa habitacional La Borda, Barcelona Fonte: Lacol Cooperativa in: Lacol Cooperativa, 2021.

Se faz necessário redefinir os limites do espaço doméstico para além da própria moradia, articulando o público e o privado. Dessa forma as circulações se destacam e, juntos aos espaços comunitários, o projeto proporciona mo mentos de sociabilização entre moradores da cooperativa e destes com o bairro, uma vez que o edifício incorpora o conceito de espaço público (LA CIUTAT INVISBLE e LACOL, 2018 apud PLOT, 2019).

Nesses imóveis,

Fig. 28: Processo de participação no espaço La Model.

Fonte: Lacol Cooperativa in: Lacol Cooperativa, 2018.

66

o grau de intervenção de seus habitantes será elevado graças à estabilidade da qual dispõe. Para potencializar sua apropriação, os projetos geralmente adquirem um caráter mais flexível, adotando materiais que permitem modificações no interior das unidades com o passar do tempo [...] (LA CIUTAT INVISBLE e LACOL, 2018 apud PLOT, 2019, p. 43).

Dessa forma, é possível que as famílias cujas necessidades se transformaram permaneçam no mesmo edifício, mudando-se a outra unidade com uma configuração mais próxima ao novo perfil e evitando que esses moradores sejam obrigados a deixá-lo.

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3.2 REFERÊNCIAS PROJETUAIS

3.2.1 La Borda - Lacol

As primeiras ideias da cooperativa habitacional La Borda, desenvolvida pela Lacol Arquitectura Cooperativa, surgiram em 2012 no contexto da reabilitação urbana da antiga área industrial Can Batlló, no sudoeste de Barcelona, quando se discutia com mais urgência a crise habitacional da cidade. Desenvolvida em terreno público, no ano de 2018, todo o processo desde o projeto até sua construção e posterior gestão, contou com a participação ativa dos futuros residentes do edifício para compreender as prioridades de La Borda como propriedade coletiva (KAFKA, 2020).

Um dos princípios norteadores foi redefinir o programa da habitação coletiva propondo 38 moradias (com diferentes tipologias) e espaços comunitários que ampliem o morar do espaço privado ao espaço público, priorizando a vida em comunidade.

As principais áreas comuns estão localizadas nos pisos inferiores, próximos ao espaço público, de forma a promover a permeabilidade do edifício. Assim, as unidades habitacionais foram implantadas nos pavimentos superiores e são conectadas por passarelas, evitando passagens estreitas por corredores fechados (LACOL, 2020).

Fig. 30: Vista para átrio do edificio.

Fonte: Lacol e Lluc Miralles in: Lacol, 2020.

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69

Fig. 31: Vista interna do edifício.

Fonte: Lacol e Lluc Miralles in: Lacol, 2020.

70

71

Fig. 32: Planta térreo do Fonte: Lacol in: Lacol, 2020.

edifício.

Fig. 33: Vista cobertura do Fonte: Lacol in: Lacol, 2020.

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edifício.

Com o objetivo de diminuir os impactos ambientais (principalmente

alternativas de sustentabilidade e qualidade ambiental. Destaca-se

o energético), tanto na obra como em sua vida útil, o edifício se desenvolve ao redor de um átrio, que além de permitir relações visuais entre todos os pavimentos, funciona como uma espécie de estufa através de estratégias bioclimáticas com captação da radiação solar no inverno e intensa ventilação no verão (LACOL, 2020).

O projeto de referência apresenta relações do edifício com a cidade em que está inserida além de

na Cooperativa La Borda as áreas comunitárias que aparecem como espaços intermediários, de transição entre a esfera pública e a esfera privada, além de sua volumetria com a criação de um átrio central que estimula a sociabilização entre os moradores do conjunto. Ademais, houve uma preocupação com as reais necessidades dos moradores em todas as etapas do desenvolvimento do projeto.

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3.2.2 R 50 - IFAU, JESKO FEZER, HEIDE & VON BECKERATH

Localizado no distrito de Kreuzberg, em Berlim, o R50 foi desenvolvido como parte de um processo de concessão de terrenos a fim de fornecer novas formas de viver em comunidade com uma organização participativa, de baixo custo, sustentável e que estimule contato entre os moradores (SCHAPOCHNIK, 2019).

O edifício composto por seis andares, um subsolo e cobertura, abriga dezenove apartamentos individuais, um escritório e diversas áreas comuns tanto de uso público

como de uso restrito. No térreo, uma área flexível cria conexões que articulam os espaços privados com o espaço público da rua. Ademais, o projeto se desenvolveu a partir de um intenso processo participativo que incluiu discussões, consultas e estudos com os futuros residentes do coliving.

Esse processo além de promover uma orientação autodirigida e uma autoconstrução do projeto, também resultou em acordo mútuo sobre o tipo, localização, tamanho e desenho dos espaços comuns do conjunto (SCHAPOCHNIK, 2019).

Fig. 34: Vista da fachada do edifício.

Fonte: Andrew Alberts in: Heide & von Beckerath, 2020.

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Fig. 35: Imagens das varandas que circundam o edifício.

Fonte: Andrew Alberts in: Heide & von Beckerath, 2020.

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O desejo de viver e trabalhar coletivamente e de maneira economicamente acessível reflete diretamente no conceito arquitetônico baseado em uma estrutura simples, compacta e eficiente com conexões detalhadas em diferentes escalas (BECKERATH, 2020).

A partir da estrutura do edifício, um esqueleto de concreto armado com dois núcleos de circulação e varandas panorâmicas ao redor do bloco, se definiu cada unidade habitacional com seus arranjos internos e eventuais anexos. Essa estrutura e circulações comuns do edifício contrastam com os espaços internos das habitações, elaboradas em sistema de desenho aberto oferecendo grande adaptabilidade e flexibilidade

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seguindo as necessidades particulares de cada família (SCHAPOCHNIK, 2019).

Destaca-se nesse projeto o processo de desenvolvimento do R50, no qual houve a consideração de aspectos sociais, culturais e econômicos na definição dessa nova tipologia para moradias coletivas.

A singularidade de cada uma das unidades e dos espaços de uso comum, revela o protagonismo dos moradores na construção do edifício.

Pensar as relações internas e externas, incorporando a esfera pública, ampliam o morar e rompem com o modelo de habitação que estimula o confinamento dos moradores em seus apartamentos.

Fig. 36: Imagem da coberuta do edifício.

Fonte: Andrew Alberts in: Heide & von Beckerath, 2020.

Fig. 37: Vista cobertura.

Fonte: Andrew Alberts in: Heide & von Beckerath, 2020.

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Fig. 38: Comparação gráfica do relatório residencial. Avaliação dos sistemas residenciais dos habitantes com base nos tamanhos dos ambientes desejados e das referências espaciais.Fonte: PLOT 50, 2019.

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3.2.3 LANGE ENG - DORTE MANDRUP

Em busca de novas formas de interação social e modo de vida coletivo, os países nórdicos produziram os primeiros conjuntos coliving ao final das décadas de 1960 e 1970. Apesar das propostas iniciais terem se transformado com os anos, na última década voltaram a produzir projetos como o Lange Eng, localizado em Albertslund, na Dinamarca, o qual teve sua construção concluída em 2009. Pertence a um conjunto de novas propostas de moradias compartilhadas construídas no país

Fig. 39: Vista das habitações a partir do pátio central. Fonte: Stamers Kontor in: Revista Plot, 2019.

82

desde 2008 (SCHAPOCHNIK, 2019).

Fernando Schapochnik (2019) observa que o projeto se desenvolve invertendo a disposição tradicional do quarteirão dinamarquês. As áreas sociais das unidades habitacionais agora se voltam para o interior da quadra dando prioridade aos espaços comuns e contato entre as famílias, tornando esse pátio central uma espécie de parque com usos públicos e privados delimitados pelas habitações.

Fig. 40: Isométrica do conjunto.

Fonte: Dorte Mandrup in: Dorte Mandrup, 2020.

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Fig. 41: Vista pátio central.

Fonte: Stamers Kontor in: Dorte Mandrup, 2020.

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Cada unidade habitacional possui seus espaços individuais, contudo, existe no projeto uma cozinha, refeitório e salas de estar comuns e seis vezes por semana os moradores do Lange Eng se reúnem para compartilhar suas refeições (SCHAPOCHNIK, 2019).

“Para os moradores da comunidade, a experiência de compartilhar espaços e serviços não se resume a uma necessidade habitacional, mas agrega um valor à vida cotidiana tanto dos indivíduos quanto da família” (SCHAPOCHNIK, 2019, p. 58).

Apesar do Lange Eng se configurar em um conjunto horizontal, que o difere dos outros projetos aqui estudados, sua implantação cria uma relação forte com o exterior, mas dessa vez não se trata da rua e sim do pátio central. Essa grande área livre aparece como quintal comum aos moradores, extensão da vida doméstica ao espaço público e área de descanso para moradores ou de permanência para os visitantes.

Fig. 42: Foto refeitório compartilhado.

Fonte: Stamers Kontor in: Dorte Mandrup, 2020.

86

87

04

O TERRITÓRIO

4.1 LOCALIZAÇÃO

O Glicério não é oficialmente um bairro ou distrito, mas está localizado na parte baixa do bairro da Liberdade entre os distritos da Sé, Liberdade, Cambuci, Brás e Mooca. Seu nome faz alusão à rua de mesmo nome na cota mais baixa da área, que corta o território da Rua do Lavapé até a Rua Tabatinguera, à margem do Rio Tamanduateí. Uma questão um pouco desafiadora é compreender seus limites geográficos, visto que se trata de uma área e não de um distrito do Glicério, como já foi mencionado.

Paula Souza (2018), em um primeiro momento tenta delimita-lo por suas barreiras: viaduto, rio e encosta, mas conclui que seus limites ultrapassam esses pontos e os define através das pessoas que ocupam a rua, seu modo de vida, suas moradias e relações

com o território. No presente trabalho a área de estudo é delimitada a partir do conjunto de atuações no território.

Próximos à área estão pontos referenciais da capital paulistana, como o turístico bairro oriental Liberdade e a Praça da Sé (“marco zero” da cidade de São Paulo), bem como pontos de conexão importantes como a linha azul do metrô que conecta as zonas norte e sul, vias estruturais e outros meios de transporte coletivo. Contudo, o Glicério se destoa da realidade de seu entorno uma vez que o descaso e negligência do poder público se fazem presentes e refletidos na vulnerabilidade, precariedade e insegurança do local (GETLINGER e VIEIRA, 2019).

91

BOM RETIRO SANTA CECILIA

REPÚBLICA CONSOLAÇÃO

SÉ

BELA VISTA CAMBUCI LIBERDADE

Fig. 43: Localização Glicério - Área de estudo. Fonte: Autora, 2021.

92

93

4.2 EVOLUÇÃO URBANA

Analisar o processo de expansão do Centro de São Paulo, assim como a ocupação e as transformações ocorridas na Baixada do Glicério, se faz necessária para melhor compreender seu cenário atual com relação às áreas adjacentes, além de suas condições urbanísticas e habitacionais.

O centro da cidade de São Paulo, ao final do século XVI, limitava-se à uma pequena vila no alto da colina. À medida que o número de habitantes crescia, novas habitações eram construídas e novas ruas eram traçadas, exigindo dos oficiais da Câmara da vila constante modificação dos limites do Rocio (utilizando seus rios como eixos de referência) que aos poucos teve sua área reduzida: “De porção em porção, os moradores reduziam os rocios a nada. Tanto assim foi que, como área municipal,

94

propriamente, restava em geral, a praça fronteira a câmara que era conhecida como Largo do Rocio”, já no século XVIII (AMARAL, 1980, v.19, p. 401 apud SOUZA, 2018, p. 69).

De acordo com Canton (2007), dois caminhos conectavam esse lado do centro à outras vilas, como Santo Amaro e Santo André, com as quais possuía relações comerciais. O autor ainda relata a importância dessas vias para a ocupação da região que hoje compreende o bairro da Liberdade, onde até então localizavam-se a Forca e a Casa de Pólvora apresentando característica periférica à região que só teve sua ocupação efetiva no final do século XIX. O primeiro cemitério público da cidade de São Paulo, em funcionamento a partir de 1779, era destinado ao sepultamento dos pobres, negros escravizados e

executados. Foi instalado ao sul da colina onde atualmente se situa a Baixada do Glicério (onde hoje está situada a Rua da Glória e Rua Galvão Bueno) (vide Fig. 44) até 1858, quando o Cemitério da Consolação foi inaugurado (CANTON, 2007). A capela central do antigo cemitério, Capela Nossa Senhora dos Aflitos localizada próxima à Praça da Liberdade, é o fragmento que mantém viva parte dessa história.

No início do século XIX, houve considerável crescimento populacional e desenvolvimento econômico no denominado “Bairro da Pólvora” (atual bairro da Liberdade), motivando a compra e venda de terras e partição de sítios existentes. Dentro do perímetro do Rocio surgiram diversas chácaras nos arredores da “Estrada do Carro”, que interliga o núcleo de São Paulo e Santo Amaro (CANTON, 2007). Entre essas chácaras, destaca-

Fig. 44: M a p a cidade de São Paulo (1810).

Fonte: Histórico Demográfico do Município de São Paulo, 2021.

95

se a chácara de Dona Ana Machado, conhecida também como Chácara da Tabatinguera, compreendida pelas Ruas Tabatinguera e Santa Luzia (vide Fig. 45), a qual se deve a construção da Fonte Santa Luzia às margens do Córrego Moringuinho. É a partir da chácara de Dona Anna Machado que grande parte do Glicério foi formado e, somado ao parcelamento das chácaras, se inicia a expansão da cidade em direção ao sul e período de vilas destinadas aos trabalhadores imigrantes no contexto da industrialização (CANTON, 2007).

Com a Lei das Terras, a partir de 1850, a terra era cedida àqueles que fizessem uso e se responsabilizassem em manter uma produção constante, caso contrário, a lei determinava que aquele que não explorasse o devido uso à terra deveria, a partir de um pagamento, solicitar sua titularidade. Dessa forma, houve diversos parcelamentos e regularizações assim como abertura de vias, alamedas e largos, expandindo de forma acelerada o perímetro urbano (SOUZA, 2018).

Paula Souza (2018), apresenta os acontecimentos mencionados até o momento como agentes transformadores que trouxeram ao Glicério, no século XX, uma nova maneira de ocupação através do parcelamento e rentabilidade do solo, presença de mão de obra imigrante e começo da retificação e canalização do Rio Tamanduateí no governo de João Theodoro (1872-1875).

96

Fig. 45: Mapa de Chácaras (1874) Destaque Chácara de Dona Ana Machado. Fonte: Canton, 2007.

97

Para João Teodoro, sanear a Várzea do Carmo significava ampliar as possibilidades de desenvolvimento e modernização da cidade. E para a realização de seus planos de urbanização se fez necessário pôr fim à liberdade do rio. A retificação do Tamanduateí iniciada durante seu governo (1872 – 1875) viabilizaria soluções imediatas para o progresso como: aberturas de vias paralelas a colina, vias de ligações entre a região do Brás e o centro, saneamento, construção do Parque da Várzea do Carmo, ampliação da linha de trens e de bondes e instalações de novas indústrias (SOUZA, 2018, p. 75).

Ainda, a autora (SOUZA, 2018) atribui a urbanização da Baixada do Glicério às ações de uma empresa canadense chamada São Paulo Tramway Light and Power Company Limited, que instalou em 1867 parte do eixo ferroviário Santos-Jundiaí na Várzea do Carmo e galpões

98

Fig. 46: Vila Suíça (1980).

Fonte: Canton, 2007.

para manutenção de bondes.

A partir da retificação do rio, somada às obras de saneamento,

viram uma forma de extração de renda com a locação para operários e seus familiares, ou então grupos de

novas indústrias se estabeleceram nas áreas próximas à linha-férrea, uma vez que a proximidade dos sistemas de trem e bonde era um grande atrativo por toda a extensão do rio.

Como resultado houve a ocupação da Baixada do Glicério crescendo em direção ao Brás devido à permanência em grande quantidade de trabalhadores e imigrantes, começando pelos italianos na primeira década do século XX, e em seguida japoneses e sul-coreanos (CANTON, 2007).

A cidade cresceu em todas as direções e ficou cada vez mais adensada. Nas áreas mais baixas e desvalorizadas da várzea, ergueramse vilas operárias ao encargo de investidores privados em decorrência da demanda por moradia. Contudo, essa iniciativa não foi suficiente para conter a primeira crise habitacional.

Por meio do parcelamento de grandes e médios terrenos para construção de uma série de vilas, os proprietários

estudantes (visto a proximidade com a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo no Largo São Francisco).

Até a Lei do Inquilinato ser decretada em 1942, essa era uma prática muito comum e principal fonte de renda dos proprietários (CANTON, 2007).

A crescente demanda habitacional junto à situação da legislação vigente, auxiliou no desencadeamento do processo de encortiçamento das residências na área central de São Paulo, com a sublocação das unidades e consequentemente sua superlotação (SOUZA, 2018). Também não havia controle sobre a construção de habitações sem proteção das águas pluviais e estruturas de saneamento.

Em uma tentativa de combater esse problema das moradias insalubres, André Canton (2007) comenta que intervenções urbanísticas por parte do poder público, nos anos 1910, expulsavam moradores e demoliam cortiços com a intenção de expulsalos do centro.

99

A ação repressora da fiscalização sanitária não seria capaz de evitar, segundo BONDUKI (1998), a “proliferação de cortiços e habitações precárias na cidade, pelo menos até meados da década de 1920, somente dificultando a construção de moradias clandestinas. Chocando-se com as condições econômicas estruturais, baseadas nos baixos salários e em regras mercantis de produção de moradias de aluguel, o higienismo perde sua arrogância (CANTON, 2007, p. 24).

O ano de 1968 marca um novo período para a região com o início da construção do viaduto do Glicério. Para a materialização de seus 900m de extensão, constituindo um dos trechos da Ligação Leste-Oeste, diversas casas e trechos de vilas foram demolidas, além do antigo Teatro São Paulo6 (Figura 47).

A via representa uma barreira intraurbana entre o Glicério e o bairro do Cambuci (AGUIAR, 2017).

Fig. 47: Antigo Teatro São Paulo.

Fonte: Quando a cidade era mais gentil, 2012.

Fig. 48: Construção da ligação LesteOeste. Fonte: Ivo Justino (1971) in: Acervos da Cidade, Secretaria Municipal de Cultura, 2021.

6

O Teatro São Paulo era localizado na atual Praça Almeida Junior, entre a Rua da Glória e Rua conselheiro Furtado.

100

101

4.3 CONTEXTO

quantidade de lançamentos imobiliários que são vistos em um breve passeio pelas ruas da Baixada (SOUZA, 2018).

Diante desse expressivo contingente populacional, somado às péssimas condições de serviços, os moradores do Glicério têm sua qualidade de vida prejudicada pelo frágil acesso à infraestrutura básica, mesmo que situado na região central de São Paulo, muito bem equipada de infraestrutura de assistência à educação, saúde, espaços culturais e voltados ao lazer (GETLINGER e VIEIRA, 2019).

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Considerada uma das áreas problemáticas do centro de São Paulo, a Baixada do Glicério é marcada por algumas características, tais como as vilas operárias, imóveis em situação de cortiço, a condição precária dos poucos espaços públicos existentes e por um misto de pessoas, culturas e etnias, decorrente da frequente chegada de imigrantes que lá se instalam (GETLINGER e VIEIRA, 2019).

Seu contraste e distanciamento

poucos os pontos para transposição dos pedestres. Ademais, Souza (2018) ressalta as condições dessas transposições, locais que apresentam aglomeração de pessoas em situação de alta vulnerabilidade, acumulo de lixo e resíduos recicláveis, e onde muitos vivem do tráfico.

Ouve-se com frequência um discurso afirmando que o centro de São Paulo é pouco ocupado, mas muitas vezes refere-se ao chamado Triângulo histórico, perímetro do

com relação aos bairros do entorno se dá, em certo ponto, por duas barreiras identificadas: a natural e a construída. A primeira é decorrente da topografia acentuada que por si só já isola a região do restante do centro, mas com a construção da ligação Leste-Oeste (barreira edificada) esse fator é acentuado provocando maior enclausuramento do Glicério.

Esses aspectos dificultam o livre fluxo de pedestre, interrompendo vias, limitando os acessos e gerando áreas residuais na cidade. São

‘centro velho’. O entorno dessa região apresenta altas densidades, é ocupado por famílias que estão nas moradias compartilhadas, nas vilas, quitinetes, nas favelas, sobrados ou em situação de rua. A área de estudos também apresenta essa condição, com edifícios altos em torno da Praça Ministro Costa Manso, grande concentração de pessoas nos pequenos sobrados e vilas pelo território, e onde o número de habitantes aumenta cada vez mais, principalmente com a grande

Uma região que sofre pelo constante negligenciamento do poder público e da falta de comprometimento dos que prestam serviços básicos. Uma comunidade que ao longo da história foi (e é, ainda) vítima do crime organizado e de uma segurança pública conivente com essa realidade. Um lugar onde tudo é explícito: a miséria, a festa, o tráfico, a gentileza, o desejo de bem e a capacidade estagnante do mal (SOUZA, 2018, p.

85).

Fig. 49: M a p a de densidade demográfica Distrito da Sé e área de estudo.

Fonte: autora com base de mapa digital Geosampa, 2021.

Hab/ha

103

Fig. 50: Mapa de atrativos. Fonte: São Paulo Turismo, 2012.

104

105

Caracterizado pela carência de áreas de lazer e pelas condições de moradia precárias com seus espaços reduzidos, a população do Glicério

cada reentrância das edificações tornou-se cada vez mais visível, gerando problemas de saúde, zeladoria e agravando diversos tipos

vê a rua como uma extensão da própria casa, criando relações entre os espaços privados e os públicos, além de novas formas de apropriação dos espaços de domínio público (FERREIRA, 2007). Aqui, as vias tornam-se palco dos mais variados tipos de eventos, desde festas de aniversários, churrascos de domingo, recepções de casamento, e ainda, manifestações políticas (SOUZA, 2018). Cada fresta e abertura é apropriado e adaptado, criando novas possibilidades.

No que diz respeito aos modos de morar, a região concentra várias formas de moradia subnormais – cortiços, moradias em depósitos de materiais e moradores de rua (JOSÉ, 2010). Esse fator, somado ao abandono, uso predatório dos espaços e insalubridade, fez com que suas edificações caminhassem ao completo desgaste e degradação (CANTON, 2007).

de conflitos sociais (SOUZA, 2018, p.

92)”.

“Com o passar dos anos a precariedade das formas de habitar

Olhando para o edifício, Paula Souza (2018) identifica e classifica no Glicério a existência de três tipos de cortiços: o cortiço em sobrado – desenvolvido dentro de antigos sobrados, onde cada grupo familiar ocupa um cômodo e compartilham instalações como banheiro e lavanderia; o cortiço em fita – ocupando a lateral e fundo de lotes; e os que apresentam a pior condição, os cortiços galpões – edificados no interior de antigos galpões, no qual as unidades são separadas por chapas de madeira ou pedaços de papelão.

Estes últimos não apresentam nenhuma infraestrutura sanitária, fazendo com que banheiros, cozinha e lavanderia sejam adaptados de forma improvisada, pondo em risco todos os moradores.

Percebe-se que a população não divide apenas os espaços, na realidade do Glicério compartilhamse também a vida.

Fig. 51: Mapa de cheios e vazios.

Fonte: Autora com base em imagem de satélite, 2021.

Fig. 52: Mapa de cortiços.

Fonte: Autora, 2021.

106

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Fig. 53: Peças improvisadas para treinamento – Boxe Garrido. Fonte: Nacho Doce in: Reuters, 2013.

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05

O PROJETO

5.1 O TECIDO URBANO PRINCÍPRIOS NORTEADORES DA PROPOSTA

Pode-se considerar um tanto desafiador atuar em um território tão consolidado e tão cheio de histórias e memórias, mas, ao mesmo tempo, percebe-se tantas possibilidades... cada vão, cada fresta no território apresenta um enorme potencial para intervenção.

Buscando subverter as condições atuais, a proposta extrapola o limite

que dão apoio à população visando a reabilitação da área. Importante ressaltar que a experimentação urbana e arquitetônica aqui apresentada não visa a renovação do Glicério, há de se preservar e resgatar memórias mantendo suas preexistências.

A partir das primeiras aproximações com a área de estudo, iniciou-se a leitura urbana, o entendimento de suas

do terreno e lote para intervir na área como um todo, abordando escalas distintas e criando uma rede de conexões com diferentes proposições

dinâmicas e potencialidades para o desenvolvimento de uma cartografia7 e das principais estratégias para atuação no tecido urbano.

7

Esta cartografia foi um trabalho realizado para Fundamentação e Crítica, uma das atividades que compõem o TFG da FAU-Mackenzie.

113

Os inúmeros terrenos subutilizados, que dão espaço à estacionamentos e acumulo de lixo, surgem como deficiências que podem ser aproveitadas para o desenvolvimento de atividades que contribuem com a vida na cidade, possibilitando aproveitar esses meandros para uma das diversas

formas de atuação no território.

Levando essas questões em consideração, o ponto inicial foi criar um percurso, traçar os fluxos e conexões a criar e intensificar, ora aproveitando as vias existentes, ora fragmentando as quadras para abrir caminho aos pedestres.

Fig. 54: Mapa de fluxos e conexões.

Fonte: Autora, 2021.

114

115

Em dois desses trechos foi adotado o conceito de rua compartilhada.

Por fim, são apresentadas as propostas especializadas de equipamentos públicos e de habitação coletiva, explorando a diversidade de usos para trazer ainda mais vida ao território. Um

incorporar os espaços de lazer e permanência junto às propostas, evitando ao máximo fechar o edifício para dentro de si, confinando seus moradores e usuários. Reconhecese a importância do diálogo entre

fator importante foi tentar sempre

o edifício e a cidade.

7

2

Fig. 55: Mapa com indicação das ruas compartilhadas (R. Anita de Ferraz e R. Oscar Cintra Gordinho).

Fonte: Autora, 2021.

1 3

Com isso, criam-se novos espaços públicos abertos e pulverizados pela área de estudo, priorizando encontros e permanências.

4 5

6

Propostas espacializadas Fig. 56: Mapa de espaços públicos. Fonte: Autora, 2021.

116

1.

2.

3.

4.

Centro comunitário Centro esportivo Escola teatro Biblioteca

Fig. 57: M a p a de propostas espacializadas Masterplan. Fonte: Autora, 2021.

5. Apoio para e scola Duque de C axias 6. E scola gastron ômica 7. E scola té cn ica U n idade s h abitacion ais

117

5.2 A FRAGMENTAÇÃO

Para explorar a escala do edifício, foram desenvolvidos de forma mais detalhada o centro comunitário Glicério e a habitação coletiva.

O terreno incorpora três lotes na quadra compreendida pelas ruas Conde de Sarzedas, Dr. Tomaz de Lima, rua dos Estudantes e a rua Anita de Ferraz.

Dois desses lotes são hoje estacionamentos e o último, um terreno vazio completamente cercado por muros e grades.

Fig. 58: Terreno escolhido para implantação do projeto.

Fonte: Autora com base em imagem de satélite, 2021.

Rua C

onde

de Sa

rzeda

s 1

118

2

3

Rua dos Estudantes

Rua Anita Ferraz

Rua Dr. Tomaz de Lima

1

2

Fig. 59: Estacionamento Rua Conde de Sarzedas. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 60: Estacionamento Rua Dr. Tomaz de Lima. Fonte: Autora, 2021.

Mesmo apresentando diversas áreas para atuação, como já foi apresentado no masterplan, logo de início pareceu mais coerente implantar e desenvolver de forma detalhada um projeto em um ponto central da área de estudo, um ponto central que conecta todas as demais propostas.

Todas as ruas que circundam a área escolhida fazem conexões importantes. A partir disso, fez-se

necessário aproveitar o meio da quadra para criar novos fluxos para pedestres, com um ponto de encontro em um nível intermediário, levando em consideração o grande desnível do terreno. O partido era, dessa forma, criar um entrelaçamento entre as ruas, a quadra e os edifícios propostos, de modo a criar caminhos alternativos e suavizar as transições do espaço privado ao espaço público.

119

Os edifícios foram desenvolvidos em conjunto com a praça central (a qual conecta os 2 blocos) e ruas adjacentes, aproveitando ao máximo o desnível do terreno para criar térreos em diferentes cotas e distribuir o programa. A diversidade de usos e tipos de apropriação dos espaços construídos possibilita dinâmicas diversas e fluxo de pessoas em todos os períodos do dia.

Fig. 61: Situação atual. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 62: Topografia. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 63: Fluxos e conexões. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 64: Implantação Autora, 2021.

proposta.

Fonte:

Essa ação de fragmentar a quadra abre novos fluxos aos pedestres, novas áreas para encontros, trocas e de permanência. Espaço articulador que une três fatores que compõem o projeto: a rua, a praça e o edifício. Essa abordagem surge como proposição do que poderia ser feito em diferentes locais da cidade, dando novas dinâmicas ao espaço urbano.

120

Fig. 65: Isométrica do conjunto proposto.

Fonte: Autora, 2021.

121

O centro comunitário está implantado entre muros dos prédios vizinhos, dessa forma, fez-se necessário desenvolver aberturas e recortes nas coberturas para trazer luz e ventilação aos ambientes internos. Essa cobertura aparece também como praça elevada e mirante para as porções mais baixas – praças e rua compartilhada.

Fig. 66: Isométrica do conjunto proposto destacando Centro Comunitário. Fonte: Autora, 2021.

122

Fig. 67: Isométrica explodida Centro Comunitário. Fonte: Autora, 2021.

123

No edifício habitacional, o principal objetivo foi criar momentos para sociabilização entre moradores, desenvolvendo diversos espaços de uso compartilhado, e uso público (nos pavimentos voltados à rua e à praça central) e enfatizando as circulações, que comumente são “esquecidas” ou pouco valorizadas.

Fig. 68: Isométrica do conjunto proposto destacando Habitação Coletiva. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 69: Isométrica explodida Habitação Coletiva. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 70: Implantação. Fonte: Autora, 2021.

127

LEGENDA: 1_ Balcão de informação 2_ Área expositiva 3_ Foyer 3.1_ Coffee break 4_ Sanitários 4.1_ DML

5_ Acesso R. Conde de Sarzedas 6_ Acesso praça | R. Anitta Ferraz 1A_ Loja 2A_ Quiosques

Fig. 71: Planta térreo (Acesso R. Conde de Sarzedas). Fonte: Autora, 2021.

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LEGENDA: 7_ Recepção 7.1_ Almoxarifado 7.2_ Depósito geral 7.3_ Administração | Gerência 7.4_ Sala de reunião 7.5_ Estar funcionários 8_ Hall de entrada

9_ Estudos open plan 10_ Área de descanço 11_ Ateliê 11.1_ Depósito ateliê 12_ Sanitários 12.1_ DML 13_ Sala de aula

14_ Sala de luta | yoga 15_ Salas multiuso 1A_ Loja 3A_ Acesso Habitacional 4A_ Cozinha compartilhada 5A_ Estar compartilhada

Fig. 72: Planta primeiro pavimento (Acesso R. Dr. Tomaz de Lima). Fonte: Autora, 2021.

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LEGENDA: 16_ Café 16.1_ Balcão 16.2_ Cozinha 16.3_ Despensa 16.4_ DML

17_ Sanitários 18_ Cobertura Mirante 7A_ Unidades habitacionais 8A_ Banheiro coletivo

Fig. 73: Planta segundo pavimento e pavimento tipo. Fonte: Autora, 2021.

130

LEGENDA: 19_ Depósito 20_ Cabine 21_ Palco 22_ Camarim 23_ Sanitários 23.1_ DML Fig. 74: Planta subsolo (Auditório). Fonte: Autora, 2021.

131

132

Fig. 75: Corte A. Fonte: Autora, 2021.

133

Fig. 76: Imagem térreo comercial do edifício habitacional. Fonte: Autora, 2021.

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135

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Fig. 77: Corte B. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 78: Corte C. Fonte: Autora, 2021.

139

Fig. 79: Imagem passagens internas - edifício habitacional. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 80: Corte D. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 81: Corte E. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 82: Imagem praça. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 83: Corte F. Fonte: Autora, 2021.

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149

Fig. 84: Imagem salas de aula - Centro Comunitário. Fonte: Autora, 2021.

150

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Fig. 85: Ampliações - Detalhamento edifício habitacional. Fonte: Autora, 2021.

153

Com a finalidade de redefinir os limites do espaço doméstico, a articulação do público com o privado, dentro do edifício de habitação compartilhada, deu-se a partir do desenvolvimento de espaços comunitários. O conjunto foi desenvolvido em módulos e componentes, tipo de solução que viabiliza grande versatilidade e adaptabilidade, permitindo transformar os espaços internos de acordo com as necessidades de cada família – a forma das unidades acompanha o crescimento das famílias.

5x5 5x5 PILARES

VIGAS + FLOREIRA

Legenda: _Paredes interiores 1. Moldura Steel Frame 2. Lã de vidro 3. Painel OSB 4. Placa de gesso acartonado 5. Placa cimentícia _Paredes exteriores A. Moldura Steel Frame B. Lã de vidro C. Painel OSB D. Membrana hidrófuga E. Placa cimentícia F. Placa de gesso acartonado

Fig. 86: Componentes fechamentos modulares. Fonte: Autora, 2021.

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LAJES

PA R E D E S EXTERNAS

PA R E D E S INTERNAS

ESQUADRIAS

C O N J U N TO

Fig. 87: Esquema construtivo - Módulo habitacional. Fonte: Autora, 2021.

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Foi criado um core central - possibilitando permeabilidade visual aos diferentes pavimentos do bloco desde o térreo - com uma cobertura leve e envidraçada que permite entrada de luz e ventilação natural a esse espaço. O acesso às unidades habitacionais se dá a partir de corredores secundários, de forma reservada, com o objetivo de liberar a passagem central de acesso ao conjunto de circulação vertical.

A partir da adoção de espaços compartilhados, destacando aqui a cozinha, lavanderia, banheiros, salas de sociabilização entre moradores, além de espaços para oficinas e eventos, diferentes tipologias de habitações privadas e habitações compartilhadas foram propostas.

A principal diferença dessas tipologias habitacionais é referente à presença de cozinha e banheiro nas unidades privadas, enquanto as unidades de habitaçãos compatilhada sergem como dormitórios e seus moradores utilizam as instalações comuns do edifício.

Fig. 89: Tipologia 1 - Lavandeira comunitária.

Fonte: Autora, 2021.

Fig. 90: Tipologia 2 - Banheiro comunitário. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 88: Planta tipo - habitacional. Fonte: Autora, 2021.

156

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Fig. 91: Tipologia 1 unidade habitacional privada. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 92: Tipologia 2 unidade habitacional privada. Fonte: Autora, 2021.

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Fig. 93: Tipologia 3 unidade habitacional privada. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 94: Tipologia 4 unidade habitacional privada. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 95: Tipologia 1 unidade habitacional compartilhada. Fonte: Autora, 2021.

Fig. 96: Tipologia 2 unidade habitacional compartilhada. Fonte: Autora, 2021.

159

Fig. 97: Perspectiva do conjunto. Fonte: Autora, 2021.

160

161

06

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificar a questão central que deu o pontapé inicial para a proposta desenvolvida no último ano parecia difícil no começo.

Foram muitas inquietações, em diferentes escalas, com diferentes configurações e tipos de abordagem possíveis. O fator determinante foi compreender o território, reconhecer as deficiências e explorar suas potencialidades.

A maneira com que a população se relaciona e se apropria dos espaços públicos e privados é consequência da forma como uma cidade ou porção de território se desenvolve. A falta de espaços públicos voltados ao lazer e convivência interfere diretamente na qualidade de vida e segurança,

além de aumentar a sensação de desigualdade e exclusão.

Recuperar a qualidade dos espaços da cidade, e suas multifuncionalidades, tendo em mente o tecido urbano ou o edifício, é essencial para a construção de ambientes capazes de conectar diferentes usos, funções e públicos.

Assim, o trabalho atingiu o objetivo de propor um projeto de reabilitação para a Baixada do Glicério que atende às demandas de habitação e equipamentos públicos voltados ao lazer, cultura e educação a fim de melhorar a qualidade de vida da população e recuperar a área degradada em São Paulo.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, Victor Martins de. Baixios de viadutos como desafio urbanístico: uma leitura das “terras de ninguém” nos viadutos alcântara machado e do glicério. 2017. 167 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

AHTN, Je. Viver Mais Perto no Passado. PLOT, Buenos Aires, n. 50, p.

152-159, 01.set.2019.

AMORIM, Fernando de Oliveira. Uma experiência de mobilização e resistência dos movimentos sociais no processo de planejamento urbano: o projeto nova luz em são paulo. 2016. 240 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

Andrew Alberts, 2020 in: <https://heidevonbeckerath.com/single/r50cohousing>.

ARCHDAILY. Praça das Artes / Brasil Arquitetura. ArchDaily Brasil.

Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-dasartes-brasil-arquitetura>. Acesso em: 20.abr.2021.

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Ensaios urbanos para reabilitação na Baixada do Glicério

Autora: Thais Tanaka Inagaki Orientação: Paula Raquel da Rocha Jorge e Luciano Margotto Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie Trabalho final de graduação junho de 2021 e-mail: thas.tanaka@gmail.com