MIRA 2ª Edição

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MIRA

Revista de Arte Urbana

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Arte Cíclica Ouvir, Olhar, Aprender.

Confira como os alunos da Unifesp materializaram em arte, a fonte Ouvidor 63 que transbordou de inspiração, durante a Bienal de 2021.



EDIÇÃO 02

MIRA


MIRA


ARTE CÍCLICA Ouvir, Olhar e Aprender. A terceira Bienal de arte que ocorreu na Ocupação Ouvidor 63, nos agraciou com as mais variadas obras e artistas talentosos. Cada andar continha uma proposta diferente, carregam mensagens profundas e estão de alguma forma ligadas às experiências de quem as fez. Foi proposto aos estudantes do curso de História da Arte da Unifesp visitar o espaço e relatar individualmente o que viram e como interpretam os objetos, exposições e performances presentes no local, permitindo também um novo olhar sobre as diversas formas de se encontrar arte, sendo suficiente por si mesma e não necessitando de um espaço exclusivamente para isso. Sendo assim, os alunos se permitiram viver e encontrar em cada obra e artista um significado para si. A importância que o evento teve na vida de cada um foi única e acreditamos ser significativo mostrá-las a todos que se interessem em conhecer um pouco mais das diversas histórias que percorrem o prédio em forma de arte. Os relatos aqui presentes demonstram não apenas a singular experiência de seus autores, mas anseiam conquistar o leitor a abrir espaço para novos diálogos com a área artística do país, para que seja fortemente valorizada e reconhecida sua magnitude.



P O R M A R C E L L A M A R I N


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Enzo Nicolas Pereira Lorenzeti As visitas na III Bienal Ouvidor 63 foram realizadas nos dias 20 de novembro, abertura da Bienal, e 28 de novembro, nono dia das exposições. Quero destacar nesse relatório as colagens que fizeram parte da exposição coletiva dos artistas, localizados no térreo do edifício. No dia 20 de novembro, além de percorrer todos os andares do prédio, fiquei interessado nas colagens individuais que estavam na parede do andar térreo, que tinham temas relacionados com o mês da Consciência Negra. No segundo dia que visitei a Bienal, no nono dia, 28 de novembro, a parede que uma semana atrás estava coberta por colagens, estava vazia, apenas com alguns cartazes e a escala de horários pendurada. A cada visita que se realiza na Ouvidor, seja durante a Bienal ou em outras circunstâncias, haverá sempre algo diferente. A rotatividade do prédio não se profere meramente com a mudança de obras, mas também com os ocupantes do prédio, a cada visita se conhece novas pessoas, novos trabalhos e se tem uma nova experiência. Porém, na outra parede, uma colagem coletiva que preenchia toda a sua extensão, onde haviam diversos recortes de artistas e celebridades negras juntamente com frases e desenhos continuava ali exposta. A colagem, suporte artístico que demanda certas particulares em seu fazer, busca na apropriação uma nova maneira de entender e ressignificar as imagens e seus contextos, de modo geral modificando e extraindo novas maneiras de relacionar as imagens e criar novos significados. Por fim, como parte da minha experiencia participando como espectador da Bienal, realizei uma colagem, explorando camadas, texturas e diferentes tipos de papel, e um desenho no verso. Assim como a colagem, o Ouvidor 63 é feito a partir de diversas experiências reunidas, com diferentes pessoas, etnias, nacionalidades, que se reúnem no prédio.

1. Colagem localizada na parte externa do prédio (28 de novembro de 2021)


Enzo Lorenzeti – Camadas Ouvidor 63 (colagem e desenho em papelão), 2021


O Sol me ofereceu a sombra Por: Isabella Mendes Para meu amigo e mentor, Sol Emanuel Calderón Domingo da primavera O sol brilhava quente e forte Em meio a um céu azul, sem nuvens A estrela de fogo tomou seu lugar Aquecendo corações Acalentando emoções E veio assim, devagar Esquentando com o tempo Caminhando com o vento Até me encontrar E então ouvi ele falar Contar sua história, cantar sua arte Que dentro daquele lugar Eu via por toda a parte

Conheci sua casa, espaço sideral E me tornei parte desse universo astral Um pouco de mim, com ele ficou Um tanto dele, comigo carrego Ele me mostrou sua luz E me contou, que alguns dias depois Ensinaria outras pessoas A construírem suas próprias luzes Generosamente, ensinou que podemos fazer nosso próprio brilho Pois não é necessário muito para ser um astro É preciso ter vontade E nada mais que isso


É importante saber a hora de resplandecer Mas também, aceitar a hora de se guardar Conter-se para outro astro ascender Tornar-se comedido e apenas admirar E então, já não sabia mais diferenciar o Solhomem do Sol astro Pois pra mim, sempre foi igual Ele me atingia com o calor de suas obras E abrilhantava tudo em volta Durante essa troca, seus raios atingiam minha pele Me queimando cuidadosamente Não sentia dor, apenas o amor E mesmo assim, o Sol me ofereceu a sombra


A EXPERIÊNCIA QUE A OUVIDOR ME PROPORCIONOU FOI ESCURA! UMA IMENSIDÃO ESCURA ME DESCIA GOELA ABAIXO! Esse escuro era, o escuro dos meus olhos fechados onde me dava a possibilidade de refletir uma uma vivência totalmente diferente da minha, mas que numa linha tênue é movida pela arte como a minha. Esse escuro era também o do ventre feminino, onde me dava o sabor de dar vida a uma nova experiência. Aquele breu que dava braços e pernas a uma imaginação só minha. Que talvez eu colocasse no mundo. Essa arte foi feita por mim e espero que a experiência dessa escuridão chegue até você goela abaixo� Bessém (Alexandre Santos Andrade) Instagram @bessem._



GATO DA OUVIDOR estavam todos nós escalando pra alcançar. sem destino, talvez até perdidos aqui e ali, soltos em algum lugar. não deixe o gato cair, ele sobe em cima do muro mas é pra saber aonde ir. deixa a revolução começar, e gritar, protestar, a gente não tem medo de errar. aqui na ouvidor gato, não tem dono, escala o mundo é essa sua estampa, seu carimbo, auto-retrato.


Charlie


Virado Artítico com Flambado de Resistência

DIFICULDADE: ⭐⭐⭐⭐⭐ Não recomendada para quem não consegue degustar novas experiências, ou tem medo de descobrir novos paladares.

PORÇÕES: Receita Exponencial

INGREDIENTES e MATERIAIS 1 Panela de Pressão Brazil Várias Panelas e Frigideiras Óleo colonial Azeite Denunciador Sal a gosto Alecrim dourado-que-nasceu-no-campo-sem-ser-semeado a gosto 3 Xícaras de Feijão Ameríndio 2 ¼ Xícaras de Arroz Segregado Farinha de Mandioca Dona Ocupação ½ Colher de chá de essência de coletividade 4 Ovos 6 Dentes de Alho ativista 1 Cebola Governo-Tirânico 3 Folhas de l'ouro Latino 4 Pitadas de Noz-Pichada 2 Dedos de pimenta grito-se-for-preciso ½ Colher de Cominho-Pelopalco 3 Ramos de Coentro na Consciência 400g de tomate do remate 2 Maços de Couve - Acorrentada 10 Andares de Manteiga 2 Banana - Mascarada 2 Pitadas de Canela em Pó 1 Xícara de Açúcar - União ¼ Xícara de Conhaque 1 Suporte expositório, forma ou vaso de material inoxidável (Aqui estarei usando da marca Ouvidor) 63 Unidades de ramos frescos de Cravo da Multiculturalidade.

Thaíssa Machado Gonçalves


MODO DE PREPARO Cozinhe sob pressão na panela Brazil, o feijão ameríndio, com um fio de Óleo Colonial e as Folhas de Louro Latino. Para uma Pimenta Grito-se-for-preciso mais branda, coloque nesse momento para ser abafada no fervor. O feijão cozinhará por 40 minutos. Corte 3 dentes de Alho - Ativista e doure-os em um nada leve fio de Azeite Denunciador em outra panela. Descasque e cuidado para não chorar ao cortar a Cebola Governo-tirânico. Acresce a cebola sem permitir que o alho queime, e cesse o fogo, como deveriam fazer com as florestas brasileiras. Após cozido, o feijão ameríndio deverá ser acrescido à panela com a Cebola Governo-tirânico. Em fogo médio, coloque ½ colher de Cominho-Pelopalco, Sal a gosto, 1 colher de água. Para chegar no ponto perfeito de tutu, encorpe com a Farinha de Mandioca Dona Ocupação. Frite os 4 ovos na manteiga, com uma pitada de sal e de Noz - Pichada em cada um desses. Arrebate em fogo baixo, o tomate do remate na manteiga, na mesma frigideira do ovo do passo anterior. O ideal é deixar o tomate ressecar, murchar, perder a esperança de rematar um prédio abandonado para ocupar. Quando terminar de refogar, coloque sal a gosto e 3 ramos de Coentro - Na - Consciência. Corte os outros 2 Alhos, doure-os em uma colher de óleo, coloque o arroz, o Alecrim-dourado a gosto, Sal a gosto e 4 xícaras de água. Deligue o fogo assim que o Arroz Segregado, ficar soltinho. Pegue os maços de Couve-Acorrentada, corte fora os talos e pique-os bem fininhos, até que perca suas estruturas. Em uma panela a parte, frite um alho - ativista com a couve anteriormente cortada, até diminuir em volume, como a cultura de esbranquiçamento tenta fazer com a população negra e indígena. Descasque as Bananas - Mascarada e corte-as verticalmente em 2 fatias. Ligue o fogo no baixo e coloque os 10 andares de manteiga. Assim que derreter, coloque as duas pitadas de canela em pó, ½ colher de Essência de Coletividade, 1 xícara de Açúcar - União, e posicione as bananas contra a mistura na frigideira. Deixe a frigideira em outra boca, e despeje um pouco de conhaque em uma colher de sopa. O resto da bebida, vire na frigideira, e logo em seguida, coloque a colher próxima da chama do fogão, e lentamente, permita que pingue um pouco da colher para que a bebida comece a pegar fogo. Quando incendiar, é só despejar o conteúdo, inclusive o fogo para a frigideira com o resto do conhaque. O fogo apagará sozinho assim que tudo que precisar ser consumido for consumido Tenha cuidado para não queimar o seu rosto. Para finalizar, recorra ao suporte expositório Ouvidor, para dispor o virado, os ovos, tomates sobre o arroz e a banana mascarada flambada. Decore com as 63 unidades de Cravo da Multiculturalidade, e teremos assim, o Virado artístico com Flambada de Resistência. E com a inspiração de criar e compor possibilidades, permita que uns acordes temperem a sua receita! Serão essenciais para ambientalizar os seus convidados enquanto esperam e são surpreendidos pelo seu preparo! Por fim, deixe repousar sobre a luz do sol, e o observar da rosa.


Ouvidor 63: O espaço da Bienal na perspectiva de Luciano Vicente

Ao entrar no edifício já temos acesso ao hall que nos leva para as escadas e elevadores. Atualmente esses elevadores não possuem função propriamente dita, servem para contemplação. A intervenção artística urbana feita nessa porta que daria acesso ao elevador foi tomada pela arte urbana também. Parece-me uma continuação do que já é visto ao entrar no prédio, como se os artistas Na imagem, produzida na primeira varanda que foi dissessem que a arte começa desde a dado o acesso ao meu grupo, analisei a maneira que os entrada até a ida para outros andares. objetos pessoais e coletivos e a arte realizada neste

espaço conversam com a cidade de São Paulo. Primeiro, em Seque, percebo a arte feita na parede do prédio: uma mulher negra com uma cidade em seu entorno e podendo ser um reflexo de São Paulo, desta pessoa olhando pela varanda, como se estivesse ali. Segundamente, vejo as plantas desenhadas que de novo estão em congruência com o ambiente urbano. Já em Brinque, notei o fato dos brinquedos infantis estarem vazios, sem nenhuma criança usufruindo deste local. Me questiono se, porventura, as brincadeiras mudaram e aqueles objetos ficaram ao relento ou se ainda falta a presença de crianças para brincar ali.


A timidez do menino e o fato de que perturbei sua necessidade de estar sozinho. Rapidamente ele foge do meu campo de visão e retorna para as atividades da Bienal da Ouvidor.

Finalmente me deparo com uma pessoa. Tímido, parece esconder-se dos flashes, por não nos conhecermos ou para que não notasse sua presença ali. Acredito ter interrompido sua brincadeira e seu momento a sós. Como qualquer criança, este garoto morador da Ouvidor também é um artista, participou de performances e apresentações. Estar naquele local contribui para o entendimento artístico dele e sua visão de mundo.

Aproveitei a ida do menino e desci para o ponto de partida. Aqui, deixo o banner em formato de lambe para informar a necessidade de, um dia, visitar a Bienal de Artes do Ouvidor 63. Fico impressionado com tamanha expressão artística que os moradores possuem. Alto nível de conhecimento e técnica. Infelizmente a Bienal deste ano acabou, mas virão novas oportunidades.


Amanda Raiol

VIDRO EM CHAMAS

Instalação Não foi Gato por Bryan Meza

Não foi gato > A obra de Meza foi exposta na 3° Bienal de arte do Centro Cultural Ocupa Ouvidor 63, localizado no centro de São Paulo, que ocorreu no ano de 2021. Trata-se de uma instalação que consiste em uma pintura na parede do décimo andar do prédio da Ouvidor. Em lugares

aleatórios da pintura há sete lâmpadas posicionadas cujos respectivos interruptores estavam posicionados também aleatoriamente, de forma que não se sabia a quais lâmpadas pertenciam. “Não foi Gato” relembra o trágico acidente de desabamento do prédio que era uma ocupação, Wilton Paes de Almeida, próximo ao Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. O acidente aconteceu na madrugada do dia 1º de maio de 2018. Matérias veiculadas em portais na época do ocorrido, como o site de notícias da Globo afirmam que a principal causa do desabamento foi um incêndio desencadeado por um curto circuito em uma tomada que suportava cerca de três eletrodomésticos em um dos apartamentos localizado no quinto andar do edifício. O fogo se alastrou rapidamente e tomou o prédio em pouco tempo – cerca de 1 hora e 30 minutos após o curto circuito o prédio veio ao chão, segundo dados fornecidos pela polícia para o portal de notícias G1.


Releitura da obra:

Vidro em Chamas

foi utilizado pois o prédio no qual ocorreu o acidente também era popularmente conhecido na região como prédio de vidro porque era externamente revestido de vidro. Por meio de edição digital, adicionei o fogo que aparece no reflexo do vidro e acrescentei fumaça cinza à cena. Essa obra mexeu muito comigo pela forma que o artista explicou e falou sobre o assunto no dia da visitação e como uma tragédia desse porte permanece na memória das pessoas: são 7 vidas perdidas e 2 pessoas ainda desaparecidas. Ao procurar informações sobre o desabamento, localizei diversas matérias sobre a forma que as famílias viviam no prédio, como pagar mensalidades, que deveriam ser revertidas em melhorias para segurança - o que não ocorreu.

Vidro em Chamas por Amanda Raiol

A releitura que desenvolvi baseada na obra de Meza consiste em um espelho no qual desenhei a mão livre com tinta acrílica de forma que lembrasse a estrutura de um edifício. Esse material

O prédio era tombado desde 1992 por conta de seu histórico arquitetônico. Em 2003, enquanto estava abandonado, foi ocupado irregularmente. Em 2015 foi lançado um edital para venda do prédio, calculado em mais de 20 milhões.



Mariana Castro Estar presente durante a Bienal da Ouvidor em 2021 foi uma experiência que me reconectou comigo mesma em diversos aspectos. Apesar da premissa social que a ocupação desenvolve a partir do viés artístico, creio que a emoção individual ressoa ainda mais profundamente pelas obras dos artistas que expuseram este ano. Inclusive, apesar de não ser uma obra específica para a bienal em si, o trabalho que mais me cativou foi a montagem de fotos pessoais de cada morador da ocupação, preenchendo as paredes até o teto, que me remeteu a uma sensação que me fora tirada durante a pandemia, o pertencimento. Manter-se isolado a longo prazo desdobra-se em uma série de consequências negativas à psique, entre elas a dissociação entre indivíduo e espaço, no meu caso, me senti desconectada a tudo que posteriormente me definia por caráter, como a paixão por arte, bom relacionamento familiar entre outros. Ter a possibilidade de visitar a ocupação me colocou em contato com pessoas verdadeiramente autênticas, que abraçam suas raízes e as cultivam para o futuro amadurecimento. Conhecer esses artistas me tornou capaz de entender-me introspectivamente mais uma vez.


p or Ale xan dre Leão M ari ano A lves

ar ti go ba s ea d o em en trev i sta co n cedida pelo art ista Bry an Meza em 11 de dez embro de 202 1 Na n oite do dia 5 de dez em br o, dat a do enc erra mento d a 3 ª B i e na l d o Ou vi dor, oc orreu a per for ma nc e Cí rcu l o de F o g o . R e a l iz a da por Br yan Mez a e I sis T a l is mã , o even t o d e p i r o f ag ia reu niu a lgu m a s dez ena s de pes soas na ru a e m f re nt e à oc u pa ç ão e im pres sion ou ta nto pel o risc o qu e a t éc nic a e nv olv e c omo pelo es pet ác u lo proporc iona do p e la be l ez a des se el e ment o na tu ral a ss oc iada a de st re z a e m o v im entos dos arti sta s. N o e nta nt o, qu em as s is t e à p e rf or ma nc e não faz idei a de t u do q ue en vo lv e a pe sq uis a d e B ry a n M ez a, o a rt is ta peru a no q u e es tá na Ou v idor d e sd e 2 0 1 9 e que desde 2 016 des env ol ve es s a p erform a nc e.

D e um a f or ma g eral , a per fo r man ce es tá est rut urad a em t orno d e cinco el ement os . São el es: o fog o, a geo lo gia do Cír c u lo de Fo go do P acífi co, a col et i vi d ad e, a prát ica t eat ra l em e spaç os a b ert os e o uso de figu r as geo m étr ic as. E x- mo ra do r de Lima , capit al do P er u , Bry an Mez a es t ava encerrand o sua form ação te atr al em 2 0 1 6 e a p ar tir de suas at ivida des ar t íst icas ini ciou na t écnica d e pirofa gia. Mais d o que uma t é c nica, o f og o passo u a ser um element o d e conexão com sua ances t ralid ad e. Segund o o a r ti sta , o c on tat o c o m o s an c est r ais é al go ind ecifrável e mais d o que t ent ar e nt en dê -l o, é p reci s o ex e rcit ar o d iálogo . O el emen to des se d iálog o é jus t am ent e o fogo. “Es s e é o mes mo f o go que a rdi a há mi lh ar es de an o s e iss o forma um d iálog o at emporal . El a t em um contexto v i sual e de tempo q u e v a i al ém do espet áculo e d o s how e é por is s o que a defino como uma p e rf o rma nc e- ri t ua l. Tra ta-s e de u m a mi st ura entre circo, dança e Fr eak Show” .

Ou tr o a sp ec to está no fat o d e qu e n o P eru há vulcões e da d e sc ob ert a p elo ar t ist a do C írc ulo de F ogo d o Pacífico, uma z o n a de elevada in st abilidade geo ló gic a no Oceano Pacífico. A o p esqui s ar so b re o ass un to e ao trabal har em 2 012 na c i dade de L i ma c o m u m a co m panh ia de t eatro d a Indonésia, B ryan M ez a enc eno u u ma peç a q u e tinha como pano de fund o a er up ç ão d o vu lcão K r akato a. E ss a experiência most rou que a at i vi dade de u m v ul cã o n ão está as sociad a ape nas a tr agédi as, c o mo no s c he ga n o n otic iári o. Para muit os povos o vu lc ão t amb ém leva fer til idad e à terra. Ou s eja, d epois do cao s vem a fer tilid ade.


A co leti v ida de, po r s ua v ez, su rge quand o o art is t a é convid ad o a perfor m ar com suas t é cn ic as de p iro fagia n o s pr ot est o s Ni una menos, ocorrid os em Lima em 20 1 6 e que tinham c o mo a lvo a v io lênc ia de gêner o. Apó s os pro tes t os s urg e uma oficina que cont a com a par t ic ip aç ão de se te mulher es. Do en sino d as t écnicas à const rução d e mat eriais, a oficina s e d e s env olve e o s par tic ipan tes passam a s er convidad os para apres entações em fes ta s rave s. N o ano seg u i nt e, essa ativ idade se des envol ve com a criação da Escol a de Circo Soci al e c u lm i na na p ar tic ipaç ão do gru po e m n ovos prot est os cont ra a viol ência de gênero, dessa vez d e no mi nad o s No sot ra s Est amo s en l a Calle. Agora , no entant o, foram as p róprias mul her es qu e ger enc i am as o fic in as. Alg u ns meses depo is, c om a pr es ença d e B ryan Meza, é criad o o Espaço d e Socia lização do F o g o , q u e ao mesm o t em po em que se desenvolv e com o uma oficina inicia cont at o c om a rt i s t as p i r o f ági co s est ra ng eir os qu e c hegam ao Pe ru. N o fim d o ano de 2 01 7, a necessi dade d e p es qu i s ar qu es t ões téc nic as se so ma à ini ci at iv a d e incluir o Círculo d o Fogo na Esc uela Li b r e d e Ar t e, um a es c ola indepen den te e al ternati va formad a por art ist as que s e reúnem em um p réd i o na r egi ão c entr al de Lim a.

A ú lti ma eta pa dess a t rajetó r ia oc o rr e c om a d ecis ão d e bus car f e st iva is de danç a pa ra apresent aç õ es, ou s eja, por event os em que a a val iaçã o r eca i mais so br e a mo v iment ação e o uso d o es paço. As s im, e m 201 9, p e la pr im eir a v ez oc o rr e u ma ap res entação fora d o P eru. A pr i m eira del as fo i em u ma Co nv enç ão d e D ança no P araguai e a s e gu n d a no FICA (Fest iv al I nt ern aci on al de C irco e Art es d e Rua), or g a ni zad o pe la O cu paç ão Ou vido r 63. Ant es d e s ua res id ênci a a r t í sti ca na O u vido r , B ry an ai nd a se ap resen tou no F est iv al de P i r a cica ba, em ab r il de 2019 . “Aq ui desen volv i esse tr abalho de d u pl a. C o n hec i pir o fa gist as do Brasi l e e nt re eles e stá a Isis Ta li smã, c o m qu em m e apr esen te i na 3ª Bi ena l da O uvid or 6 3 ”. A s ati vi dades em t or n o do Cír cul o d e F ogo e as d ivers as e xper iênc ias e tr o cas r ealiza das pelo s arti st as d eu l ug ar a uma red e i n t e rnac ion al. No P eru , a inda há pessoa s que s e reúnem nas pra ias e m t or n o da a tividade, mo str an do to do um am bient e d e s oci aliz ação cr i ad o a o long o des ses últ imo s ano s. É da junção d e t od os es s es e l e me nto s que a perfo r man ce im pressiona e nos caus a impa ct o com a s s ens a çõ es qu e o fo go no s apr ese nta. Da propos t a d e d iál og o com a ance st rali dade ao s elemen t os geomét ri cos present es nos i n stru me nto s, tu do n essa per fo r man c e-ri tual tem um si gni ficad o e i ss o a torn a e xtr emam en te po ten te , g era ndo um esp etáculo vi sual q u e i mp r essi ona a t odo s q u e a assis tem .


Ao adentrar, mesmo que brevemente, no universo da Ouvidor 63, pude então ver, de forma nítida, a real resistência em viver em uma realidade de estar habitando um espaço ocupado, erroneamente marginalizado pelo corpo social, e estar inserido em um espaço de constante produção artística. No pouco contato que tive com a produção da bienal, pude observar de perto o entusiasmo dos moradores em finalmente poder “voltar a ativa” e expor sua produção artística. Ouvir seus relatos de resistência em fazer da ocupação seu lar, de se contrapor ao racismo enfrentado pela população preta e contestado em exposições da bienal, se posicionar fielmente a favor de seus ideais e me maravilhar com as múltiplas linguagens que permeiam os 13 andares de diversificada e plural arte. Com isso, a singela produção aqui anexada propõe, também, uma alusão às colagens dispostas pelo edifício que abordam o tema realidade negra no país e à obra “Sou uma árvore bonita”, de Daniela Corradi. Um grande conjunto de resistência e resiliência, como uma árvore que persiste invicta em meio às adversidades e confrontos, é assim que a Ouvidor se parece ao meu olhar. Seus galhos se expandem constantemente, como as múltiplas potencialidades e vertentes artísticas que habitam os corredores do edifício. Carrega grilhões sociais que representam as amarras nas quais a população preta ainda se encontra presa, tão evidenciadas e denunciadas no marco do dia da consciência negra, assim como abordado pela bienal. E a árvore é perene. Resiste ao tempo, ao marginalismo em que a colocam e se torna cada dia mais grandiosa, com seus brotos, seus sonhos e inimagináveis conquistas, prestes a florescer. Beatriz Monteiro Ferraz


A Ouvidor é uma Árvore


CONSCIÊNCIA NEGRA: A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTAÇÃO

O dia da Consciência Negra, comemorada anualmente no dia 20 de novembro, foi tema da exposição realizada na ocupação artística Ouvidor 63 em 2021 durante a terceira Bienal de arte. Diversas foram as formas artísticas utilizadas, como colagens, pinturas e fotografias, que cobriam as paredes da portaria do prédio. É de conhecimento geral que a quantidade de pessoas negras mortas por ano é bem maior em detrimento de pessoas brancas. A cor da pele se tornou atributo de valor pejorativo e contribui grandemente nas desigualdades sociais e econômicas, acarretando em pouco acesso à educação, difícil acesso ao mercado de trabalho e infelizmente atos de violência constantes. A urgência em falar sobre esses problemas fez surgir uma série de iniciativas por parte de artistas, instituições, mídias sociais, que deram voz a essas problemáticas e trouxeram consigo pautas de extrema importância e representatividade, nos fazendo questionar comportamentos e preconceitos que antes nos passavam despercebidos. Duas obras em especial me chamaram a atenção para um tópico que vem ganhando cada vez mais força: a aceitação do cabelo cacheado, que muitas vezes era dito como ruim e seria preciso a intervenção de algum tipo de procedimento para alisá-lo e com isso torná-lo "melhor".


Isso obviamente mexia com a autoestima de diversas crianças e adolescentes e mesmo se tratando de uma questão relativamente simples colabora com o preconceito e comentários maldosos por aqueles ao seu redor. As obras intituladas "Sou uma árvore bonita", de Daniela Corradi, a meu ver, apresentam certo contraste, onde a primeira se mostra um pouco mais amarga: a personagem se encontra em um lugar pequeno rodeado de espinhos, atrás dela e em seus cabelos. Entendo as coisas ao seu redor como influência em seu crescimento, tendo reproduzido aquilo que ouviu, mas havendo também um sorriso em seu rosto, me apresenta um lado otimista, de que mesmo as piores situações não nos limitam a rótulos impostos por outros.

Além disso, me fez relacionar a segunda obra como uma continuação da primeira, que a personagem aparenta amadurecimento, seus cabelos repletos de folhas e flores ocupam grande parte do quadro, exalando beleza, perfume e cura. As cores prendem nosso olhar, chamando a atenção para a graciosidade da mulher negra, colocando-a como digna de admiração e protagonismo. Os trabalhos desta exposição carregam uma mensagem importante e que nunca pode deixar de ser dita. Não ignorar o que pessoas negras sofreram e ainda sofrem por causa da cor da pele, estarmos sempre dispostos a dialogar e rever comportamentos é o que tornará esse movimento cada vez mais visível. por Katarina Tavares Ribeiro

*todas as fotos foram retiradas do Instagram @ouvidor63


Minha obra escolhida da bienal foi uma performance feita pela Thamyres e

um rapaz que não encontrei o

nome. Essa performance ocorreu no primeiro dia da Bienal,20/11/2021, as 15:30 da tarde com a musica da Clara Nunes, conto de areia, com o tema dia da consciência

negra

.

Eles

lavaram,

durante

alguns

minutos, uma panela e uma forma de bolo com seus cabelos, em resposta a uma das ofensas racistas que mais são ditas a população negra, “cabelo Bombril”. Decidi fazer uma pintura em aquarela a partir de uma

foto

tirada

da

performance,

a

musica

é

representada pelos dois artistas estarem ajoelhados e sentados em um banco de areia com o mar ao fundo, enquanto lavam suas panelas com seus cabelos, fazem uma expressão de tristeza.

Ataques racistas ocorrem

diariamente mesmo com os esforços atuais de diminuir a injustiça, desigualdade e racismo para com pessoas negras.

Gabrielle Albuquerque Arruda



OUVI OUVIARTE? ARTE?

Figura 1: "Homenagem ao Jah no controle" Látex sobre parede. Lauton, LTN. 2020.

Figura 2: Detalhe da obra "Le Fabuleux Destin d'Amari Juana" Látex e Acrilica Neon sobre parede. Lauton, LTN. 2021.

Figura 3: Indicação descritiva da obra exposta na 3ª Bineal de arte do Centro Cultural Ouvidor 63. 2021.

Figura 4 e 5: Detalhes da obra "Le Fabuleux Destin d'Amari Juana" Látex e Acrilica Neon sobre parede. Lauton, LTN. 2021.

L L T T N N


OU OU VI VI ARTE? ARTE? Chave, portão, bicicleta, pedalada, rua e ciclofaixa, após quarenta minutos chego pela calçada. Após a porta, portaria, cafeteria, cumprimento a galera nesta exorbitante galeria. Labirinto imagético atravessa os degraus, alimenta a imaginação que foge do normal, habitual do caos. Bloqueio insano que se desmancha a cada obra que vou observando, me inspirando. Primeiro andar, parede do chão ao teto, técnica, tinta e carinho na Caramelo. Decidido e munido, homenagem a um indivíduo, sempre bem representado, que o Jah seja abençoado. Apagado, reiniciado, outra forma de ser interpretado, me desfaço, minha mochila foi parar no espaço. Ovo, leite, óleo, açúcar, farinha de trigo e de fubá, fermento químico e colocar para assar, talvez uma goiabada para adocicar. Centenas de degraus para chegar, se aproximar e pintar. Desenho na parede errada, faço tudo de novo, no meio do povo. Vários dias de produção, câmera, tinta, diamba e fogão. Cada dia pintando um pouco, conversando com pessoas de vários lugares do mundo, conhecendo um ao outro. Além de tudo tem a obra, que com algumas simbologias discretas se desdobra. Uma personagem “pop” super romantizada no cinema, com um detalhe que para a população periférica pode ser sua sentença, da favela para a França tem uma enorme diferença. Das mansões de luxo ao banheiro do bar, estão em todo o lugar, guerra às drogas é uma desculpa para nos matar. Sagrada para muitos povos, é proibida pelo preconceito e ódio. Inspiradora, reflexiva, assim já sabem como foi escolhida. Látex e acrílica neon, várias músicas na caixinha de som, horas e dias para concluir, mas tudo bem, eu me sinto bem produzindo aqui. Após pronta fiquei observando por bastante tempo, eu demorei para ter esse talento e sempre me surpreendo. Entre as conversas que falamos sobre a Bienal, tive ideias de produção que soavam surreal, mas para fazê-las eu não tinha nem um real, mas para quem eu contava achavam sensacional. Um dos meus pecados é querer fazer muitas coisas de uma vez só, e em alguns projetos acabo dando um nó. Para sobreviver fui trabalhar acordando às cinco horas, tudo bem, é dando aulas em uma escola, nos dias de chuva, pés com sacola. Pouco tempo, muita arte, da bienal só pude ver algumas partes, acompanhava muita coisa pela internet, mas não se iguala a vivência dentro da arte. Ao visitar a bienal comecei pelo subsolo, um labirinto para os olhos, skate, cadeiras, obras, bicicletas e destroços, uma corrente de água que encheria muitos poços. Em espiral avançamos as escadas, embaralhadas e inacabadas, constantemente é renovada, lugar mais concorrido em disparada. No quinto andar uma proposta de mudança de vida, obras que vertigens lhe daria, adentrando uma instalação, obras pelo teto e pelo chão, exalam sentimentos que chamam atenção. Após girar pelas escadas, no hall de elevador várias monstras representadas, criatura caricata, em suportes de diferentes tipos, tela, madeira, e é claro reciclagem do lixo. O uso e reuso das coisas sempre me surpreendem, desde um quarto virar ateliê, a reciclagem para comer, sempre dão um jeito de se fazer. Mais adiante estou no décimo andar, a exposição está prestes a mudar. Adentro o local, sempre fechando o portão, pois o Alecrim é fujão e inclusive ele estava na obra audiovisual que retrata a vida dos cachorros da ocupação, outra obra tinha como suporte o chão, uma película fina de plástico filme isolava entre os pilares um transparente vão. Partindo da parede e viajando com ramos do teto ao chão, há uma obra que debate a descolonização. Lá no canto esquerdo da sala, estava minha obra, que já habitava o décimo andar fazia uma cota, mas desta vez havia algo diferente, uma placa presa na parede, me aproximo com curiosidade e apreensão e percebo que é uma placa de descrição, na curadoria incluíram minha obra na exposição. Uma plaquinha simples de papel escrita a mão, mas que me encheu de emoção, era ali a primeira vez que senti uma obra minha, fazer parte de uma exposição.

Marcelo Lauton (LTN) 17 dez 2021


A envolvente Ouvidor Adentrar no Universo ouvidor é uma experiência cinestésica, marcante e transformadora. Estar envolta por tantos processos artísticos diferentes acontecendo ao mesmo tempo, faz surgir uma vontade de não apenas observar, mas participar efetivamente do que se está vendo. Após estar vários dias na 3ª Bienal Ouvidor, sinto-me uma pessoa diferente. Uma renovação após quase dois anos de vista cansada. Dentro da ocupação criei laços, registrei afetos e enxerguei de perto a luta por meio da arte. Conheci Seridó através de Joyce; vi as potências e os processos nas múltiplas linguagens de Vandal; refleti sobre o Ego com Poeta; fanzinei com Roger e escutei de Miguel que o lilás é um eclípse. Assim, compartilho aqui um pouco das experiências vividas nesse espaço, criando juntamente aos meus colegas, uma memória desse evento a partir de fragmentos poéticos e singulares.

Akoma na Varanda

POESIA gato preto

mulher na luta

fazer e desfazer Camadas sobre posição

Amanda de Sousa Ferreira



Fanzine-se ou será fanzinado: um chamado para o protagonismo

A obra escolhida é um fanzine do artista Roger BeatJesus cujo o nome é “Fanzine-se ou será fanzinado”. Logo abaixo está o texto presente nessa obra: Fanzine-se ou será fanzinado, por Roger BeatJesus: Foi em 7 de setembro de 1822 que ocorreu a tal independência do Brasil, isso quer dizer que em 2022 completa 200 anos que por ironia também será os 100 anos da Arte Moderna no Brasil. Os modernistas codificaram a nossa cultura e nós descendentes quilombo, afro, indígena, filhos do nordeste e da mãe preta, qual a nossa história na arte do brasil? Deixaremos que novamente eles influenciem a nossa geração? Está na hora do povo dessa terra, o povo da pele cinzenta do chão batido mostrarem a sua cara, mostrar a sua arte. Fanzine-se para a transmodernidade.

Capa do Fanzine “Fanzine-se ou será fanzinado”, imagem retirada do instagram do artista @rogerbeatjesus

O ano de 2022 será de muitas celebrações para o Brasil, entre elas o centenário da Semana de Arte Moderna e os duzentos anos da independência. Esses eventos foram caracterizados pela atitude de uma minoria, no caso a elite brasileira, que


transformou o país, apresentando novos parâmetros a serem adotados. Enquanto isso as grandes massas assistiam, como espectadores de sua própria história. As vozes de muitos foram silenciada no passado, mas hoje contamos com tantas possibilidades e tantos meios de comunicação que ficar em silêncio chega a ser um ultraje. “Fanzine-se ou será fanzinado” é muito claro naquilo que quer despertar em seus leitores, não estamos no mundo de passagem, possuímos uma missão. Não podemos deixar que os outros falem por nós, temos que expor o que sentimos e o que pensamos. Se você não tomar uma atitude surgirá alguém que fará, tal como ocorreu na história de nosso país. Até quando seremos figurantes de uma narrativa da qual deveríamos ser protagonistas? Qual é o seu legado para a próxima geração? Enfim, não podemos deixar que a história se repita, devemos usar a nossa voz para lutar por um mundo melhor. Jéssica Nayara de Oliveira


COMPONDO FRENTE A OBRA, REFERÊNCIA E PRODUÇÃO Paloma Freitas Bienal de Artes do Ouvidor 63, em 20 de novembro de 2021, parece acontecer de forma orgânica com o espaço e a produção dos artistas. Uns comentam o trabalho dos companheiros, outros almoçam calmamente enquanto alguns interessados sobem tranquilamente os andares, passando por andares com obras, outros com festa, outros ainda sendo finalizados… No teatro se faz o ensaio, esse é o encaminhamento do dia. A Bienal pouco parece alterar a dinâmica desse centro cultural, parece mais uma desculpa e convite para que a cidade conheça o Ouvidor e a arte desenvolvida em cada um dos seus andares, que por si só já fazem uma experiência incomum.

Nessa abertura estão diversas obras em mostra que incorporam um amplo espectro de técnicas e materiais como colagens, desenhos, zines, pinturas, fotografias, videoarte, escultura, porém tudo feito com material de baixo custo.

Hoje as fronteiras das linguagens já se tornam indistintas e como já eram na década de 1980 quando Leonilson materializa a palavra em imagem, usa da linguagem, das artes plásticas e da literatura para criar suas obras que parecem querer uma comunicação objetiva, quase instantânea, usando formas que remetem aos HQ’s e a cultura de massa para chegar nítido ao seu interlocutor, muitas também em tom confessional e de declaração aos relacionamentos românticos e as amizades.


Com esse sentido de produção constante, de mutabilidade e reformulação dos espaços, além da efemeridade que é a Bienal em si, com suas obras que logo darão espaço ao novo, num comum e constante no processo de produção da ocupação, gera em outros atuantes o estímulo a produzir outras obras que se referenciam, que marcam o processo, que poderiam compor esse espaço.

Essa comunicação objetiva, intensa e as vezes confissional se apresenta neste conjunto apresentado na III Bienal, no qual parece que todas as obras ressoam juntas, se autoreferenciam e/ou se reforçam em discursos de representatividade latino americana, pelo protagonismo negro e indígina e pelo mundo feito por corpos livres e apaixonados. Porém, há uma sensação que desmancha a percepção daqueles acostumados com o quadro branco, a criação de um espaço específico para a disposição das obras não existe. O novo e o antigo, o prédio e as novas obras feitas para a exposição, nada é tão nítido, tudo parece que sempre fez parte desse todo mutável e que amanhã já será reformulado, fagocitado, e voltará em faces um pouco diferentes.

Assim, aceita a efervescência da Ocupação como estimulador da produção artística, e como referência ao conjunto das obras e a apresentação de variedades no Teatro La Mimo do dia, deixo aqui outras imagens primas, feitas a partir de desdobramentos, pensamentos e sentimentos desse encontro.


o prédio ocupado e a cidade em movimento.


a colagem e os exercícios de repetição ao usar fotografias dos prédios servem como forma de estabelecer a realidade pela insistência, assim como a própria ocupação faz ao usar do espaço coletivamente para todxs, especialmente no centro de são paulo, lugar que evidencia a realidade destoante de uma metrópole aficionada por dinheiro. portanto, a presença na ausência daqueles que em algum momento foram esquecidos ignorados, e que juntos ou conseguiram estabelecer a ouvidor. a estrutura do prédio é na verdade o pensar coletivo e as possibilidades criadas pelos artistas e residentes que transmutam pela cidade afora. zahira r.


OUVIDOR 63 CAMILA MARTINS

A ocupação que é de longe o lugar mais inusitado e diferente que já fui em toda a minha vida. A concentração de cultura e de tamanho intelecto foi algo que me fe paquerar esse lugar. Para tentar representar o que as pessoas me fazem sentir quando vou: a colagem acima significa a mudança do prédio, que pode ser alterado pelos moradores e visitantes, eu fui afetada pelos mesmos no momento em que os vi e nos começos dos diálogos. Desde oficinas até conversas, minha perspectiva mudou e me transformou, mesmo que pouco até o momento.



FICHA TÉCNICA Essa documentação foi realizada pelos alunos da Universidade Federal de São Paulo, na busca pela reunião adequada das expressões artísticas desenvolvidas pelos discentes que visitaram a bienal. Todas as artes tiveram o uso previamente autorizado por seus portadores. A revista MIRA é uma publicação online que propõe dialogar entre as linguagens que se desenvolvem na Ouvidor 63. Atividades Domiciliares Especiais (ADE) UC - Laboratório de Pesquisa e Práticas em História da Arte III: curadoria e mediação Orientadores Vinicius Pontes Spricigo Pedro Fiori Arantes Monitores Isabel Barboza Thiago Tozawa Coordenadores Enzo Nicolas Pereira Lorenzeti - R.A 148529 Thaíssa Machado Gonçalves - R.A 150320 Editores Amanda Eugênia Raiol de Moraes - R.A 149157 Gabrielle Albuquerque Arruda - R.A 148822 Giulia Peroba Panzetti - R.A 149581 Jéssica Nayara de Oliveira - R.A 150958 Katarina Tavares Ribeiro - R.A 150289 Yngrid Ferreira - R.A 150517 Design Giulia Peroba Panzetti - R.A 149581 Katarina Tavares Ribeiro - R.A 150289 Thaíssa Machado Gonçalves - R.A 150320 Foto de Capa: Amanda de Sousa Ferreira - R.A 148092


DISCENTES ARTISTAS: Marcella Marin / Enzo Lorenzetti / Isabella Mendes / Bessém Alexandre

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Charlie

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Luciano Vicente / Amanda Raiol

Thaíssa Machado / / Giulia Panzetti

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Mariana Castro / Alexandre Leão / Beatriz Ferraz / Katarina Tavares / Gabrielle Albuquerque / Marcello Lauton / Amanda Ferreira / Jéssica Nayara / Paloma Freitas / Zahira / Camilla Martins



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