Revista Escritores Brasileiros Contemporâneos, n.13, Julho/2020 - edição digital

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Escritores brasileiros contemporâneos REVISTA LITERÁRIA-ARTÍSTICA

EDIÇÃO 13

Vovó do Pito: uma senhora centenária popular na capital paulista nas décadas de 1920 e 30 Poesia

Entrevista Matérias

Livros Artes

Nº. 13

Julho/2020


EXPEDIENTE Revista pertencente à Editora Matarazzo. Email: livros@editoramatarazzo.com / thmatarazzo@gmail.com Telefone: (11) 3991-9506. CNPJ: 22.081.489/0001-06. Distribuição: São Paulo - SP. Diretora responsável: Thais Matarazzo - MTB 65.363/SP. Depto. Jurídico: Tatiane Matarazzo Cantero. Periodicidade: mensal. Formato: digital. Capa: Vovó do Pito por Van Emelen.

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Edição 13 - Nº 13 - Ano II - Julho/2020.

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A opinião e conceitos emitidos em matérias e colunas assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista Escritores brasileiros contemporâneos. Contatos livros@editoramatarazzo.com www.editoramatarazzo.com.br www.facebook.com/editoramatarazzosp www.instagram.com/editoramatarazzosp

EDITORIAL Chegamos ao 2º semestre de 2020, um ano bastante difícil para todo mundo. Por outro lado, muitos escritores e poetas estão produzindo bastante nesses tempos de isolamento social devido ao Covid-19. A Editora Matarazzo segue com suas atividades, agora com foco em edições digitais (e impressos também). Alguns dos próximos lançamentos desfilam em matérias nas páginas a seguir. Colaboraram nesta edição: Alessandra Bononi, Ana Nilza C. Fuentes, Edgar Louzi, Geraldo Nunes, Luiz Alexandre Kikuchi Negrão, Luiz Carlos Borges, Maria do Carmo Giordano, Ricardo Hidemi Baba, Ricardo Mondenezzi, Ricardo Cardoso, Regina Brito, Rosa Acassia Luizari, e Thais Matarazzo. Boa leitura!

Lembrança de um sarau realizado pelo Coletivo São Paulo de Literatura na Biblioteca Adelpha Figueiredo em janeiro/2020. Foto: Gilberto Cantero


Thais Matarazzo No último dia 7 de julho completou um ano do passamento do poeta Paulo Bomfim, um querido amigo. Foi ele quem me apresentou a Vovó do Pito em uma das conversas que tivemos, tão agradáveis, no seu antigo gabinete no Palácio da Justiça, à Praça Clóvis Bevilacqua. Bomfim narrou que quando menino costumava passear com seus pais pelo centro da capital paulista e se encontravam com uma senhora negra que usava chapéu de abas largas, saia e blusa cumpridas, tinha sotaque caipira, usava bengala e um cachimbo de cabo longo, todos a chamavam de “Vovó do Pito”, sendo um dos tipos populares mais queridos da cidade. “— Foi uma relíquia de São Paulo antiga!” — nos contou. Aquela informação ficou na

memória. Recentemente realizei uma pesquisa nas edições de A Gazeta, na Hemeroteca Digital da BN, e eis que salta de uma das páginas uma matéria sobre a Vovó do Pito. A partir dali, outras matérias, entrevistas e novos detalhes foram literalmente “brotando”. Não pensei duas vezes, era possível registrar em um livro aquele material com um toque de ficção. Conversei sobre o tema com a artista plástica Camila Giudice, ela também ficou encantada com a história da Vovó. Ficou responsável, então, pela produção das ilustrações para a obra. O prefácio será de Arthur Xavier. Vovó do Pito chamava-se Adelaide Antônia das Dores, nasceu em Sorocaba, em 1823. Viúva, transferiu-se para a capital paulista por volta de 1870 e trabalhou como cozinheira na casa de diversas famílias abastadas. Carismática, fez amizade com políticos, advogados, empresários, carnavalescos e artistas. Faleceu em São Paulo aos 111 anos, em 1934. Nos últimos 30 anos de sua vida morou num quartinho dos fundos da Padaria Central que ficava na Av. São João, próximo ao Largo do Paissandu, igreja que frequentava. Seu falecimento foi noticiado em vários periódicos. Foi amiga dos estudantes de Direito do Largo São Francisco, dos choferes e dos jornalistas. O pintor belga H. van Emelen retratou a Vovó em três quadros, hoje pertencentes ao Museu Paulista da USP (Ipiranga). Ela também aparece no filme Sinfonia da Metrópole (1929) quando foi flagrada andando pela Av. São João. Vovó do Pito é uma personalidade importante da nossa história!

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Thais Matarazzo lança romance histórico sobre a primeira necrópole de São Paulo, de 1775, destinada ao enterro de escravos, indigentes, suicidas e crianças órfãs

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“João Coveiro era bom prosista, era sabedor de muitas trajetórias de vidas dos ‘seus mortos’. Perdeu as contas dos milhares de enterramentos que realizou. Todos que ali jaziam eram pessoas que, muitas vezes, foram sem dizer adeus a ninguém. Por vezes, era o único a dar uma palavra de conforto àqueles que acompanhavam seus fenecidos à cova. Considerava-se o ‘guardião do cemitério’, Nossa Senhora dos Aflitos e São Pedro foram escolhidos como os seus padrinhos no seu batismo na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, tinha convicção que seus protetores não foram escolhidos à toa”.

O trecho acima abre o romance histórico “Cemitério dos Aflitos - Contos da Vida”, da jornalista e escritora Thais Matarazzo, de São Paulo. A obra é resultado de extensa pesquisa, realizada pela autora, nos arquivos da Cúria, no final de 2019, e foi lançado no dia 25 de junho, em formato e-book, com acesso gratuito via plataforma ISSUU da Editora Matarazzo, com apoio do Coletivo São Paulo de Literatura. Link:

www. issuu.com/thaismatarazzo6/ docs/e-ebook_cemit_rio_dos_aflitos O livro sai em reverência à centenária Capela dos Aflitos, uma construção em taipa de pilão, no bairro da Liberdade, que pertencia à Santa Casa, no antigo Cemitério da Sé – que, antigamente, era conhecido como Cemitério dos Pretos Novos ou Cemitério dos Aflitos. Foi a primeira necrópole da cidade, aberta em 1775, destinada ao enterro de escravizados, pobres, indigentes, supliciados, suicidas, doentes e crianças órfãs. “Considero este um dos melhores livros que produzi”, considera Thais, autora de dezenas de obras literárias, entre ficção e não-ficção. “Acontece


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Sinopse: As 21 narrativas do livro são contadas por três personagens protagonistas: o casal de escravizados João Coveiro e d. Lina, e o escrivão Jair. Eles trabalhavam no Hospital de Caridade de São Paulo. João também era responsável pelo enterramento de pessoas que viveram à margem da sociedade no cemitério da cidade, e se tornou o guardião de muitas memórias do local, assim como d. Lina, zeladora da capelinha do Nª. Srª. dos Aflitos. Ao ser contratado para trabalhar no hospital, João faz amizade com o casal, e por meio de inúmeras conversas, ele fica sabendo das histórias de vidas regadas a injustiça, rebeldia, tristeza, mistérios, amores e crimes, principalmente envolvendo os africanos sepultados naquela necrópole, entre 1821 e 1858, data em que se dá o encerramento das atividades do cemitério, que passaria a ficar conhecido como “Cemitério dos Aflitos”. No final do século 19, Jair resolve registrar essas memórias em livro, para que não se perdessem nas brumas do futuro.

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Alguns acabavam em excomunhão. Transportei esses casos para as narrativas que eu criei, mas fui muito fiel aos causos, personagens e situações que aconteceram em São Paulo, na primeira metade do século 19”, descreve.

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que, no dia 27 de junho, a Capela dos Aflitos, único patrimônio material que sobrou do extinto cemitério, vai completar 241 anos”, explica Thais, que deseja, ao disponibilizar a obra no ISUU, fornecer subsídios para outros pesquisadores e interessados no assunto, por meio de uma obra com linguagem mais acessível do que a acadêmica: “É um trabalho feito com muito respeito e humildade. Sou jornalista estudiosa da área não sou historiadora”. Durante a pesquisa, a autora leu diversas teses, dissertações, livros, não especificamente sobre o cemitério e a capela, mas sobre enterros no século 19 e a vida de africanos livres em São Paulo. “Mas o conteúdo mais relevante eu encontrei nos quatro meses em que pesquisei no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, no final do ano passado, além dos livros de óbitos. Os personagens surgiram dos registros que coletei nos livros da Antiga Sé, referente aos enterramentos do Cemitério da Sé, entre os anos de 1820 e 1858, quando o cemitério fecha e abre o da Consolação”, explica Thais. As tramas são criações da escritora, baseadas em situações retratadas nos processos eclesiásticos: “São processos dos séculos 18 e 19, de divórcio, de feitiçaria, entre outros, julgados dentro da igreja.

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DIGO NÃO

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Já ouvi amigos relatarem racismo, Senti nojo, senti vontade de gritar NÃO Assisti o machismo Vivi a inferiorzação O lugar de fala negado O coração despedaçado Pensamentos à margem renegados Presos no ódio, todos perdemos Produzimos lágrimas, todos sofremos Perdemos a riqueza do mundo, a diversidade Por isso, não aceito o preconceito da divisão Perdemos a humanidade Por isso, digo NÃO!

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Ricardo Hidemi Baba

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São Paulo de todos os tempos Geraldo Nunes

durou algumas semanas

Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

Em 1921 o então presidente da República, Epitácio Pessoa, anunciou uma visita à capital paulista e o prefeito paulistano da época, Firmiano Pinto, decidiu fazer uma homenagem ao chefe da nação, mandando construir para ele um monumento exclusivamente voltado à recepção.

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O Arco do Triunfo Paulistano só

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Surgiu assim o Arco do Triunfo Paulistano feito para durar apenas alguns dias. Montado em madeira e gesso, não recebeu um grão sequer de cimento. Sua construção foi inspirada em uma obra semelhante feita em Nova York para registrar um evento também curta duração. No Brasil, o trabalho ficou a cargo do Escritório Ramos de Azevedo e cerca de 200 operários ergueram tudo em três dias. ► ▼ Na foto feita de um avião se observa o ponto exato da construção que estaria hoje na pista lateral da Avenida Tiradentes sentido centro, em frente à Estação da Luz. O pontilhão à direita dessa fotografia ainda existe, está coberto pelo asfalto e segue na direção da Rua Brigadeiro Tobias. A pista central é que ainda não existia, agora um viaduto passa sobre os trilhos da ferrovia e permite vazão ao tráfego nos dois sentidos.


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Após desembarcar na Estação da Luz, o presidente Epitácio Pessoa seguiu trajeto pelas ruas da cidade. Percebe-se na direita dessa fotografia parte do prédio da atual Pinacoteca do Estado. ►

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► O Arco do Triunfo Paulistano tinha 28 metros de altura por 27 de largura. Sua passagem possuía uma abertura de 14 metros para cima e 10 de largura, possibilitando a passagem de veículos nos dias que antecederam o desfile. Temos ao fundo parte da igreja e colégio de São Cristóvão.

▲ Jornais da época registraram o acontecimento em primeira página.

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Observe a foto estampada na edição do Correio Paulistano, dia 20 de agosto de 1921, em tamanho ampliado. ►

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▲ Após a visita solene, o monumento em homenagem a Epitácio Pessoa foi demolido semanas depois e nunca mais se falou nele.

Em Nova York aconteceu o contrário, a obra de curto prazo foi refeita a pedido da população. Reconstruído dessa vez em concreto está localizado na entrada do Washington Square Park ao final da 5ª Avenida. ►


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Para distribuir os livros realiza feiras literárias onde as pessoas para ganhar seu livros recebem uma moeda: a moeda poética que é um papel onde a pessoa escreve uma poesia e troca por um livro. Nestes anos todos de atuação a favelivro distribuiu mais de 300 mil livros. Comunidades como: Barreira do Vasco, Mangueira, Complexo da Maré, Alemão, Morro da Mineira, Turano, Manguinhos, Catiri, Igrejinha, Caminho do Céu, ITD, Vila Kennedy entre outras, foram agraciadas com os livros da FAVELIVRO. No momento em que o mundo parou por conta da panCONHEÇA A demia do coronavírus, Demézio Batista percebeu que os livros poFAVELIVRO deriam levar um alento às crianças Demézio Batista é carioca e das favelas que se viram de uma em 2009 criou a FAVELIVRO dan- hora para outra isoladas do mundo vida a um sonho: o de transfor- do e criou o movimento MAIS LImar vidas através dos livros. Seguiu assim até hoje democratizando o acesso ao livro de milhares de moradores das favelas e periferias do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho da FAVELIVRO é distribuir gratuitamente livros para as crianças, adolescentes e adultos. Estes livros Demézio Batista consegue através de doações de pessoas.

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VROS MENOS CORONAVIRUS e foi um sucesso. Recebeu ajuda de diversos voluntários que totalmente munidos de luvas, álcool gel e óculos de proteção continuaram o trabalho de distribuição de livros em diversas comunidades. A FAVELIVRO é um verdadeiro guarda-chuva de ideias e para o ano de 2021 já está preparando diversas ações de incentivo à leitura e buscando diversas parcerias para tudo acontecer.

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Demézio Batista em ação! Vários cliques mostram o seu trabalho literário

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N arrativa

excludente

linguagem solidária escuta a polifonia na mesma sintonia da fala estagiária: sem preconceito, em necessários desacertos da língua-defeito, da língua padronizada, ensimesmada, em si fechada, linguagem solitária.

terra pulsa

Vejo as veias pulsantes da Terra imaculada nos laços consanguíneos do Tempo a escorrer n’alma do ego. Eu não escorrego: eu respiro, transpiro e me entrego ao amor, ao tempo, à paixão, ao sustento do corpo grosseiro, passageiro, diáfano, inteiro.

Vertigem Teus olhos escandinavos suscitam lembranças reais de momentos vivenciados em sentidos liberais decretam minha sentença de espontânea servidão e agora sou tua inteira em meio a tanta multidão a declarar amor eterno na contida exatidão do papel clichê em branco e na morte da solidão.

Rosa Acassia Luizari: nasceu em São Paulo. É membro da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil (ACILBRAS) ocupando a cadeira 525 e tem como patrono o maestro Armando Caraaüra. É colaboradora das revistas Caderno Literário Pragmatha, Ruído Manifesto e Ecos da Palavra. Publica textos literários no Brasil, Portugal e Argentina. Membro atuante de clubes de leitura. Faz parte do movimento “Mulherio das Letras” e “Mulheres que inspiram”. Participa de cursos em literatura organizados pela Casa das Rosas, Tapera Taperá e Escrevedeira.

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Corpos avassaladores mergulhados em desejo esgarçados tons de pele esgotados no teu beijo pois que buscam aplacar tosco tom de ironia envolvido no discurso da linguagem que dizia “amarei a todas elas em tom de hipocrisia” e a pele esgarçada, por demais apaixonada, morre um pouco por dia.

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em corpos toscos

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Amores

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O R eflexo

do

Teu Olhar

Edgar Louzi

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O Reflexo do teu olhar Com meu olhar angulou No retorno se perdeu Que ela tão bem dispersou Fiquei a mirar sozinho A distância do caminho Que o tal reflexo traçou.

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Permaneci um bom tempo Meditando o ocorrido Senti alguém aproximar Sussurrando em meu ouvido Me falando com carinho Beba da agua um pouquinho Desperte do mal entendido.

Edgar Pereira Louzi: é administrador de empresas e professor aposentado. Sua carreira artística como ator e declamador compõe uma atividade teatral baseada em monólogos. A peça As mãos de Eurídice, de Pedro Block, é uma das performances de destaque na carreira do ator. Pelouzi, nome artístico adotado, também é declamador de poemas e é possível observar em seu repertório os grandes poetas da tradição literária brasileira e portuguesa. O ator é notado pelo meio artístico por sua capacidade de memorização e disciplina que, aliás, são ingredientes básicos para a formação de um artista.


autora

Alessandra Bononi é estudante do curso de Bacharelado e Licenciatura em História do Centro Universitário Fundação Santo André e possui experiência em Iniciação Científica, com pesquisa voltada para o rastreamento da participação política da Imperatriz D. Leopoldina no processo de Independência do Brasil.

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ilustradora

Vitoria Oliva Perricci, nascida em 1966, é artista plástica, acadêmica de Artes da AFPESP, arte-educadora e professora. Com ateliê próprio desde 1990, conhecido como Atelier Vicky. Formada em Licenciatura Plena em educação artísticas, habilitação em Artes Plásticas pela Faculdade Integrada Teresa D’Ávila e pós graduada em Arte Educação pela FAINC. Atualmente ministra oficinas de artes, é professora de Educação Artística no Colégio Eduardo Gomes em São Caetano do Sul e teve a grande honra de ser agraciada com a Comenda da ACADEMIA DE LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES DA AFPESP – Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo, cadeira nº 8, que tem por Patrono a saudosa intérprete ELIS REGINA. Como expositora e palestrante participa de diversas feiras de artes, oficinas e eventos artísticos, além de trabalhos publicados em revistas de artes e artesanatos. Lançou em 2015 um livro de colorir chamado Volta ao Mundo, pela editora Minuano. Teve participação em programas de TV na divulgação e publicações de Técnicas de Artes nas

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É um livro composto por 39 poesias organizadas em cinco divisões. Cada texto traz consigo uma ilustração correspondente elaborada pela artista Vitória Olivia Perricci e as temáticas abordadas são bastante diversificadas, passando pela História do Primeiro Reinado brasileiro, por temas relacionados a política atual, por referências femininas e musicais caras a autora e assuntos como a pandemia de COVID-19.

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Miscelanios

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emissoras: Globo, CNT, Gazeta e Rede Mulher. Seus trabalhos possuem visibilidade nacional e internacional, como integrou na Mostra Coletiva de Artistas I, III e IV Vitrine de Arte – Fundação Pró Memória e Pinacoteca Municipal de São Caetano do Sul. Em maio de 2020 participou da Exposição Virtual Exhibition of Art Noruega. - Internacional Cultural Extchange of Arts – ART Quarantine – Part One Art, Life and Survive. Vitória, conhecida como Vicky usa seu talento para educar, criar, inovar e ensinar aos alunos sua experiência, vivência e técnica no ramo artístico.

Despertar Alice1

de

(Menina do século 19) Thais Matarazzo

Eu já sou mocinha Afirmou a mamãezinha Completei 12 primaveras Teve bolo e linda festa! Sinto a mudança Acontecer no meu corpo Vou deixando a infância Os brinquedos e bonecas, Sempre fui garota sapeca! Agora me admiro ao espelho Gosto de arranjar os cabelos. Minha face enrubrece Quando recebo um elogio Fica inflado o meu brio! As conversas com as amigas Tomam rumos apetitosos Conversamos sobre namoros, Galanteios e novidades! (Coisas da nossa idade). Gosto de usar pulseiras Já ponho brincos nas orelhas Desejo ter um belo chapéu Que combine com um anel. A vaidade está crescendo E outras coisas também… Agora sonho com príncipes Romances gosto de ler A lua gosto de fitar E poesias fico a recitar… Que transformação maluca Que estou a passar! 1 Poema inspirado na pintura Contemplação do pintor francês Johann Georg Meyer.


Ricardo Mondenezzi A descoberta de que um filho, filha ou parente tem dislexia ou outro Transtorno Específico de Aprendizagem (TEAp) é um desafio. Essa descoberta vem cheia de expectativas e ansiedade, e não é para menos! Ter dislexia ou outro TEAp não significa apenas apresentar dificuldades escolares, mas também na vida cotidiana como um todo. Sabemos que o esclarecimento destes quadros é fundamental para o entendimento de como se pode ajudar e no melhor direcionamento para que as crianças e jovens tenham a possibilidade de experienciarem situações de aprendizagem e de vida mais prazerosas e saudáveis. A dislexia torna o indivíduo um mau leitor, pelo fato deste problema ser um transtorno que afeta a leitura. A criança é capaz de ler, mas não consegue entender de forma eficiente o que está lendo. O que chama a atenção dos profissionais, é que uma criança com dislexia é habilidosa, inteligente em tarefas habituais, mas permanece com dificuldade de leitura do ensino infantil até a educação superior. A dislexia é assinalada pela dificuldade da decodificação de símbolos escritos e

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para disléxicos ?

do reconhecimento imediato das palavras, trazendo como consequência a problemas na compreensão de textos. Para que uma criança possa ter boas notas na escola, a facilidade de se lidar com a linguagem se faz presente, visto que todos os professores utilizam da locução para transmitir as informações e seus conhecimentos. Para isso é de grande importância que o diagnóstico seja precoce. É importante que os educadores e os pais avaliem os indícios de dislexia nas crianças visivelmente normais, logo nos primeiros anos do ensino infantil, na fase de 4 a 5 anos. Lembrando que a criança disléxica deve frequentar a escola regular, sendo importante que a equipe escolar tenha conhecimentos das características da dislexia assim, como o comportamento do leitor disléxico, sendo assim a escola estará pronta para atender as necessidades especiais da criança. O primeiro passo para ajudar as crianças com dislexia é saber muito bem que a dislexia é, simplesmente, uma dificuldade de aprendizagem e não deve ser considerada um déficit cognitivo. Não se trata de um problema intelectual de modo algum. Todas essas dificuldades podem ser superadas com paciência e esforço. Não devemos nos preocupar se nosso filho tiver sido diagnosticado com dislexia, depois de análise psiquiátrica. Isso não afeta seu potencial intelectual,

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incentivar a leitura

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C omo

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quer dizer apenas que ele vai precisar de um pouco de ajuda em alguns aspectos. As crianças com dislexia têm dificuldade de ler com clareza, o que, muitas vezes, faz com que elas tenham dificuldade de compreensão escrita, e, por fim, na aprendizagem da escrita (especialmente no âmbito ortográfico). A dislexia não tem cura, mas sim é possível reduzir as dificuldades que ela traz graças a um apoio constante e adequado, de acordo com as orientações que nos dê o especialista. Existem diversos programas de apoio e cada um deles foi projetado conforme as necessidades de cada indivíduo. Por esse motivo, não é possível explicar com certeza qual vai ser especificamente a adequada ao seu filho. Isso vai depender de suas

capacidades e da análise feita pelo especialista. O que podemos garantir a você é que no colégio, quando você se reunir com a equipe de docência e de atenção psicológica, eles vão proporcionar ajuda de forma personalizada ao seu filho, e, também vão ser capazes de orientar na hora de encontrar grupos de apoio extraescolar, tarefas dirigidas, ou, simplesmente, atividades complementares que possam ajudar a criança. Em primeiro lugar, se você tiver suspeitas de que seu filho sofre de dislexia de algum tipo, você deve entrar em contato com um profissional imediatamente. O simples fato de confirmar esse problema quando a criança for bem pequena garante a possibilidade de tratamento. Estar consciente, informado e disposto a


1. A forca Consiste em adivinhar uma palavra. Aquele que fez os traços indicando as letras da palavra vai assinalando as sílabas que ela contém e a outra pessoa vai dizer letra por letra as que ela acha que estão presentes na palavra. Se a palavra não tiver uma das letras que o jogador disser, o que marcou os espaços da palavra vai desenhar um membro de um boneco na forca. Ganha o jogador que conseguir descobrir a palavra inteira sem que aquele que marcou os traços que indicam cada letra desenhe o boneco inteiro e ele tenha sido enforcado. Esse jogo ajuda a criança a associar as letras com os sons. 2. Indique a palavra que não existe Vamos fazer uma lista de palavras parecidas e uma delas não vai existir.

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Jogos de tabuleiro Essa atividade vai se tornar o tratamento e o estudo uma brincadeira. Foi comprovado que as crianças aprendem mais brincando do que realizando outras atividades. Logo, vai ser ótimo. Podemos recriar ou inventar uma infinidade de jogos multissensoriais; vamos ver algumas ideias:

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Telefone celular Hoje em dia, todo mundo tem um telefone celular. Pois bem, existe uma enorme quantidade de aplicativos para esses telefones que nos oferecem ferramentas e estratégias muito úteis. Na verdade, podemos baixar diferentes jogos que combinem a leitura com outros aspectos importantes para entreter e ajudar nossos filhos. Tudo é questão de procurar tirar proveito deles para obter os benefícios que desejamos. Recomenda-se, especialmente, aqueles apps semi-educativos; os mais populares são : Piruletras e Alphabetics. Além disso, recomenda-se para as crianças com dislexia todos aqueles apps que proponham resolver uma sopa de letrinhas, construção de frases, organização de frases, e afins. Também podemos utilizar programas de repetição para ajudar as crianças que têm dificuldade de falar corretamente. Uma recomendação é verificar se os apps se encontram disponíveis em

seu idioma para que seja uma ajuda realmente eficaz.

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seguir em frente é a melhor forma de ajudar nossos filhos. Existem muitas atividades que podemos realizar em casa com nosso filho que vão ajudá-lo a melhorar. Aqui oferecemos a você algumas ferramentas que podem ser de grande utilidade:

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A criança tem que dizer qual delas é a palavra inventada. Para tornar esse jogo mais divertido, podemos fazer com que a criança invente um significado para a palavra.

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3. Sopa de letrinhas Em um quadro vamos colocar letras de tal forma que algumas formem palavras e outras fiquem distribuídas aleatoriamente. A criança vai ter que procurar pela palavra que dissermos que está no meio da sopa. Esse jogo pode ser mais complicado para ela, portanto, é bom ajudá-la, como se ambos fizessem parte de uma equipe.

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4. Jogo do advinha Um jogador diz ao outro a primeira letra de algum objeto que ele esteja vendo naquele momento. O outro jogador vai ter que adivinhar do que se trata. 5. Jogo cadeia de palavras Consiste em dizer uma palavra depois da outra com a única condição de que a primeira sílaba da palavra tenha que ser a última da palavra que foi dita. 6. Era uma vez… Esse jogo é muito divertido e as crianças vão morrer de rir. Devemos ir contando uma história, mas palavra por palavra, quer dizer,

cada pessoa vai dizer uma palavra e quem estiver sentado ao seu lado vai continuar a história com outra palavra e assim sucessivamente. Segue alguns links de instituições que poderão orientar familiares para obter direcionamento de diagnósticos precisos. Associação Brasileira de Dislexia Endereço: Rua Catalão, 72 - Bairro Sumaré São Paulo-SP. Entre em contato conosco: Tels.: (11) 3258-7568 / (11) 31299721 (11) 3231-3296 / (11) 3236-0809 Celular / WhatsApp: (11) 940531108 www.dislexia.org.br ABC Aprendizagem Av. Dom Pedro II, 620 Salas 21, 61 e 71 Bairro: Jardim CEP: 09080-000 Cidade/UF: Santo André-SP Telefone: (11) 4432-0997 www.abcaprendizagem.org.br

Ricardo Mondenezzi: professor de Língua Portuguesa e Literatura, ator, produtor cultural, dramaturgo e autor da peça teatral “ Um Divertido Passeio pelo Mundo da Dislexia”. Instagram: @Ricardomondenezi


Regina Brito Ela resguardou sua beleza Amar era o queria Quanto tempo teria? O tempo passava Que proeza! Muita nobreza A lua brilhava Seu corpo esperava O que viria? Não desejava ficar pra titia.

R egina B rito ESCRITORA FORMAÇÃO: UFRJ (FACULDADE DE LETRAS. LITERATURAS E LÍNGUAS: PORTUGUÊS/ ESPANHOL) : Bacharelado e Licenciatura. UERJ (CURSO: Formação / PEJA e EJA. FAHUPE: Pós-graduação. UIMP - UNIVERSIDAD INTERNACIONAL MENÉNDEZ PELAYO: ESPAÑA/ SANTANDER. TRABALHOS (PROFESSORA) PREFEITURA DE MARICÁ PREFEITURA DO RJ. SENAC FAETEC

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Mulher

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Contemporâneo

UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA Recebeu vários prêmios literários em SP. Participou da Bienal do Livro (Taubaté, RJ, e AACLIP). PREMIAÇÃO: OS MELHORES ESCRITORES LUSÓFONOS - Lisboa. Conselheira Fiscal e Acadêmica da APALA (Academia Pan Americana de Letras e Artes do Rio de Janeiro). Artilheiro da Cultura no Museu do Exército no Forte Copacabana. Coordenadora do Coletivo Cultural Borboletas Voadoras (Saraus e Artes em geral). MANTÉM UM PROJETO SOCIAL (20 ANOS), como Contadora de histórias, teatro oficina de danças e palhaçaria. Escreve para a Revista Literária-Artística: ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS (Editora Matarazzo). Participou de diversas Antologias (Editoras brasileira e de Lisboa) Livros Autorais pela Ed. Litteris. Editora Matarazzo: Por que a Garça está triste? (Literatura brasileira).

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Vilacente

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Poemas

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Luiz Alexandre K ikuchi N egrão

PARANDO PARA PENSAR Dúvidas Duvidas Que vá dar certo? Deixo a emoção bem perto. JUROS PERPÉTUOS

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Empresto minha vida, Minhas lágrimas contidas, Meu eu todo como o Rei Midas, Não o ouro, mas a aventura vivida.

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BRANCO E PRETO O cego também enxerga cores Ou seja, preconceitos e horrores Não são feridas indolores, Mas algo de que chores.

PAZ E GUERRA Uma pessoa faz a guerra como faz a paz Mas esta é difícil... Jaz, Está sepultada nas pessoas A desesperança que repudio com estas loas. ROSTO FECHADO Amor sem vida Lágrima contida Abraço desfeito Vazio leito

Luiz Alexandre Kikuchi Negrão: participou da bela Coletânea Histórica “Para Sempre 32”, volume II, com o artigo “Os Ideais Democráticos de 1932”, pela Editora Matarazzo. Escreveu poemas como “Netos de Hiroshima” e “A Luiz Poças Leitão Junior, o Pocinhas”, e pende de publicação alguns no projeto “Folhas Vivas”, bem como elabora o projeto “Coração Brasileiro”, biografia autorizada pela família do saudoso Dr. Emeric Lévay. Publicou inúmeros artigos em sites jurídicos.


(Para minha amiga Bete G. Fasolino)

Foram outros tempos. Nem melhores, nem piores, apenas diferentes. Uma época sem internet, sem celular, imagine! A família fez a opção do que achavam o melhor para ela: uma escola religiosa, tradicional, “particular” como se dizia. Como em todas as escolas naqueles tempos, todas as estudantes eram igualadas uniformemente: blusas brancas abotoadas até o pescoço (não havia chegado a popularização das camisetas), saias pregueadas azul marinho até a altura dos joelhos, juntando-se com meias brancas “três quartos” e sapatos pretos absolutamente do mesmo modelo ( nem os tênis eram de uso comum). Cabelos presos com fitas da mesma cor. Impessoal. Mais uniforme impossível, bem próximo aos alunos norte-americanos retratados no clip “Jeremy” de Pearl Jam, ou dos ingleses em “The Wall” de Pink Floyd. Materiais escolares também eram básicos: cadernos tipo brochura encapados da mesma cor,

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Ana Nilza Cifuentes Folhe

canetas tinteiro e mata borrão, claro! Nem pensar numa esferográfica azul, ou colorida, ou brilhante ou, ainda, perfumada. Mas eis que então surgiu a dupla Faber-Castell como um divisor de águas: caixas com vinte e quatro ou trinta e seis lápis de cores diferentes, completas! Tinham até lápis cor de rosa! Vários tons de azul, de verde, de amarelo, de marrom... Uma loucura! A primeira segregação social nas escolas: os que possuíam e os que não possuíam as caixas com esses lápis! Ela sonhava com o lápis cor de rosa nas suas atividades de colorir; as meninas (ah! eu não expliquei que havia escolas só para meninas e escolas só para meninos!) que usavam ostensivamente seus estojos Faber-Castell não emprestavam seus lápis para ninguém, cobriam com as mãos os objetos de desejo das despossuídas e se desculpavam, entre o deboche e a culpa: — Minha mãe não deixa emprestar! Sobreviveu com sua caixa de apenas doze lápis coloridos, na verdade dez, porque nunca entendeu para que serviam o lápis de cor branca e o outro, de cor preta.

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de cor

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Lápis

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Contou isso em algum momento aos filhos, que viveram seus tempos escolares com tudo que tinham direito: fartura de canetinhas hidrográficas, aquarelas, cadernos com fotos de ídolos do futebol, da TV, de desenho animado ou do Rock, todo tipo de adesivos e sim, com caixas de quarenta e oito (isso mesmo: quarenta e oito!) lápis coloridos. Até que num aniversário dela, na presença de noras, filhos e netos quase chegando, recebeu como presente “brincadeira” de um deles: um magnífico estojo de seus sonhos com tudo, absolutamente tudo que se pudesse usar para colorir um caderno de desenhos. Radiante, passou a exibir o presente para quem se dispusesse a vê-lo, embora não soubesse ainda como iria usá-lo, até que, na semana seguinte, conversando com sua vizinha, já avó, porta a porta do seu apartamento, ouviu uma pequenininha voz vindo da porta de frente: — Que lindo! Me empresta? — Minha mãe não deixa... se surpreendeu respondendo automaticamente. Mas se recompôs mais rapidamente ainda:

— Minha mãe não deixa pintar sozinha! Só se você me deixar pintar os desenhos com você! E num instante, viu-se como aquela menina de escola compartilhando seus sonhos no chão da sala de sua casa, rindo à toa. Duas crianças colorindo alegrias!

Ana Nilza Cifuentes Folhe: professora da Rede Municipal de Ensino, 69 anos, mãe feliz da Andrea, Fernando e Ana Carolina e avó abençoada de Luis Felipe e Giulia.


LIVROS ESCOLARES ANTIGOS: PRECIOSIDADES QUE SOBREVIVEM AO TEMPO Luiz Carlos Borges

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“Os livros não se despedem: aguardam novos leitores”. (Dill, 2013)

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Empoeirados, entregues a própria sorte nas estantes dos sebos e lutando bravamente contra traças, torcendo para que alguém se interesse por eles, por estarem velhos e em aparente desuso... os livros escolares antigos são na verdade, preciosidades, mas nem todo mudo sabe disto, assim, a epígrafe, trata-se do título do livro de Aidê Campello Dill, que me remete as buscas que inicie há uma década atrás, aos primeiros livros escolares de História de São Paulo (1864 – 1919), e me inspira em meu modesto percurso iniciático investigativo como historiador, ao campo das pesquisas em História da Educação, tendo sua centralidade nestes livros escolares alcançados. Ainda que aparentemente em estado de desuso, esquecidos... ao deixarem de ser adotados nas escolas e portanto saírem do alcance de professores e alunos, quando substituídos por outras edições escolares, como apostilas, os livros escolares antigos ga-

nham nova vida, senão na mãos do grande público, nas mãos dos pesquisadores, tanto como objeto quanto como fonte, na medida em que são um caminho para nos aproximar, por exemplo: da política da educação, da trajetória dos autores - intelectuais, da história das editoras, do uso por professores e alunos. Nesse sentido, os livros escolares, considerados de uso momentâneo, na verdade, se mostram como valiosas pistas ao exercício detetivesco, na qual não devem e nem podem ser injustiçados, uma vez que são, verdadeiras lunetas mágicas, portais encantados para que possamos através deles, viajar entre os tempos históricos, e alcançar outras épocas escolares antes da nossa, eternizando-os enquanto vestígios da cultura material escolar que tem sempre, muito a dizer, para tanto, é preciso interrogá-los. Luiz Carlos Borges: professor de História da rede municipal de ensino de SP. Atua no CIEJA Profa. Marlucia Gonçalves de Abreu desde 2013. Especialista em História, Sociedade e Cultura, é mestre em Políticas Sociais e Doutorando em Educação pela UNIFESP.


Pôr

do

S ol

Mini conto de Docarmogiordano

Eu, MARIA DO CARMO GIORDANO, DOCARMO, desde bem criança, sonhava em ser uma inesquecível ESCRITORA; a cada idéia que surgia, anotava e guardava com zelo, para um futuro que imaginava ser breve. Só pude realizar o meu sonho depois que me aposentei. Gosto de frequentar Bibliotecas, Casas de Cultura, Oficinas Literárias, bisbilhotar Livrarias, e onde houver qualquer evento do gênero, lá estou eu. Feliz, alegre, contente e escrevendo como sempre. Participo pela primeira vez dessa delicada Revista, mas desde 2016 é que participo da Editora Matarazzo. Já participei de oito Coletâneas: na Ed. Matarazzo, USP, ICAL e ABRACE. Sou plenamente realizada.

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Nada pode ser mais lindo, aos meus olhos, do que um pôr do sol. As rubras tonalidades do céu dão magia ao ar, um rápido momento de sensações amenas e nostálgicas, mas pleno de romantismo saudosamente agradáveis. Num desses momentos de enlevo surge, de um passado bem guardado, a lembrança de um alegre e doce amor. Meus olhos marejam e a garganta seca, fico em êxtase e saboreio o frescor ardente de um beijo apaixonado. — Por que essa volúpia em recordá-lo se efêmero e pudico? — Porque foi sensível e intenso, avassalador e sensual, foi passional, forte e vibrante. Mas acabou... Acabou como começou, de repente, sem avisos ou motivos. Sem razão ou discussão. Mas simplesmente acabou. Acabou? E essas recordações e sensações? Consequências, apenas consequências de um belo pôr do sol.

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Minhas Lutas

e I deais

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Ricardo Cardoso

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1971: Escola Municipal Octávio Mangabeira, bairro de Ermelino Matarazzo, Prefeito da Cidade São Paulo, Paulo Salin Maluf. A Professora adentrou na sala de aula dizendo que faríamos uma conversa sobre pobres e ricos, disse que existiam famílias muito ricas e outras muito pobres, e que era preciso ajudar estas famílias pobres. Eu então a indaguei dizendo: — Porque não pega o dinheiro de todo mundo e divide em partes iguais, aí todo mundo terá dinheiro! Essa fala levou a Professora a chamar minha mãe no dia seguinte. A Professora questionou a minha mãe se a na nossa família tinha alguém envolvido em algum movimento político, pois estávamos em uma Ditadura Militar. Não, não tinha, era o início da minha visão de justiça social. “O primeiro dos princípios da História é não ousar mentir, de leve que seja o segundo não recear dizer a verdade, em hipótese alguma, lembrando-se de que acima de tudo é preciso que não de

ensejo a que pareça verdade inspirado pela lisonja ou pela animosidade”. (Leão XIII)

Aos 16 anos de idade entrei para o Grupo de Jovens da Igreja São Francisco de Assis, lá podíamos nos reunir para conversar, cantar, praticar cultura, já que a única atividade cultural no bairro, era a Festa de 1° de Maio, realizada pelo poder Militar e a Sociedade Amigos do Bairro (SAEM). Discutíamos os problemas do bairro, como: Escolas, saneamento básicos, asfaltos, creches, moradias e equipamentos de cultura. Conquistamos diversas melhorias para os munícipes, mas apenas um equipamento de cultura, a “Biblioteca Rubens Borba de Moraes”. Houve ao longo de 27 anos, três frentes de movimento reivindicando uma Casa de Cultura, participei do primeiro na linha de frente; no segundo, organizado por alunos da Escola Condessa Filomena Matarazzo e Líderes Comunitários, só acompanhei o movimento. Já a terceira mobilização para cobrar do Poder Público a tão sonhada Casa de Cultura, fora organizada por mim, aproveitando o convite para participar do Projeto


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Final de Semana Cultural, quando realizei uma exposição das minhas obras, fiz uma explanação sobre os movimentos anteriores na reivindicação de Políticas Públicas de Cultura para o bairro. Mapeamos os artistas da região, fizemos encontros e atividades culturais em Praças Públicas, “Movimento Cultura na Praça”, realizou-se vários manifestos culturais, com todas as linguagens da cultura, ganhamos o apoio dos moradores e comerciantes do bairro, só não conseguimos o apoio da Subprefeitura e nem da Secretaria Municipal de Cultura. Os gastos eram cotizados pelos próprios protagonistas da ação cultural. Um fato interessante é que eu nunca havia exposto os meus trabalhos no bairro em que vivi, fiz várias exposições em Casas de Culturas, CEUs, Centros Culturais em outros lugares, após a criação deste movimento, começamos a conquistar espaços para atividades culturais, como ONGs, Escolas e a Biblioteca. O convite do GA Ermelino/Keralux, IBRADESC, Instituto Keralux e Plataforma dos Centros Urbanos/UNICEF para uma reunião na Secretaria do Estado da

Cultura, Secretario Andrea Matarazzo, fomos recebidos pelo Sr. Antônio Sartini e o Sr. Aldo Valentim, nesta oportunidade foi expostos a falta de equipamentos culturais e projetos que atendesse os anseios dos jovens e adolescentes. Saímos de lá com um Projeto Piloto, Poesis Oficinas Culturais (OC), a Secretaria contratava os Oficineiros, pagando hora aula aos indicados por mim, fornecendo os materiais a serem utilizados, contra partida, os espaços eram por nossa conta, firmamos parcerias com as Entidades Sociais, Escolas, Igreja e a Biblioteca, foram realizadas 18 Oficinas no primeiro semestre e 23 no segundo semestre, atendendo 700 crianças, adolescentes e jovens, no Distrito da Ponte Rasa e Ermelino Matarazzo, foi o primeiro de muitos projetos. Em 2012 fui indicado ao cargo de Coordenador de Cultura na Subprefeitura Ermelino Matarazzo/Ponte Rasa, em quatro anos no cargo, desenvolvi vários projetos e eventos com parcerias da iniciativa privada, já que a pasta não disponibilizava de orçamento próprio, Projeto Ultragaz Cultural “Levando o Cinema até Você”, passou pelo projeto, 890 crianças,


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adolescentes de Escolas Públicas e 70 crianças com câncer de uma das Entidades Sociais do bairro. Projetos como, concurso de fotos, poesias, apresentações culturais da Melhor Idade, Feira de Artesanato permanente, apoio aos Projetos Redes e Ruas, Vai e PROAC, o qual intermediei o financiamento junto a ArcelorMittal divisão EM, gincanas e festas juninas entre os funcionários da Subprefeitura, eventos Dia da Mulher, aniversário do bairro etc. Não atuei só na Cultura, mas também nos principais projetos realizados pela PMSP, criação do Centro Esportivo EM, duplicação da Av. Abel Tavares, (projeto de minha autoria), compra do antigo Hospital Menino Jesus, atualização das ZEIS, indicações de equipamentos públicos na Revisão do Plano Diretor, revitalização do Canteiro Central da Estrada Mogi das Cruzes, Av. Águia de Haia, ponte da Rua João Spínola Carneiro Filho (projeto de minha autoria), e muitos outros ao longo de quatro anos. Completo 40 anos participando e atuando em Ações Sociais e Culturais da Cidade de São Paulo e em outros Municípios do Estado.

Sou dirigente do Coletivo São Paulo de Literatura, Presidente do Centro de Educação da Zona Leste, Artista Plástico, Escritor, Poeta e Historiador do bairro Ermelino Matarazzo. Acredito que a a Cultura e o Esporte deveriam ser essenciais desde a Pré-Escola assim como é a Educação. Somos convencidos desde cedo que a Cultura e o Esporte são supérfluos diante uma dificuldade financeira, e, por isso, são os primeiros itens que cortamos, assim como o livro, o cinema, o teatro, e assim por diante. Ainda acredito que conseguiremos uma Escola com período integral, com Cultura, Esporte, com Educação de qualidade, e formaremos uma geração com igualdade social.



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