Atrás das grades brandao publicado

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101 que como eu vou na palavra certa, na medida certa e correta, respeitando sempre, acima de tudo. [sic] Desrespeito Ê quando tem coisas que não Ê da responsabilidade dos agentes, e sim da direção, aí. Os presos esculhamba, xinga, mas tem coisa que vem da parte da direção [sic]. Se eles tão ali, ele estão fazendo o trabalho deles, de abrir e fechar as celas normalmente, não Ê pra pessoa ficar xingando quando eles forem chegar e fechar, chamando palavrão com eles, xingando mulher e mãe deles [sic].

Nas relaçþes entre presos e funcionårios chega a ocorrer aquilo que Goffman GHQRPLQRX GH ³OLEHUDo}HV GR SDSHO´ RX VHMD PRPHQWRV H SUiWLFDV RQGH Ki XPD proximidade maior e onde ambos podem ter uma imagem mais favoråvel um do outro. Isso pode ocorrer tambÊm graças às concessþes com a permissão da visita íntima, instituição carceråria tipicamente brasileira. Assim como a permissão para a execução, entre os presos, de partidas de futebol. AlÊm de momentos de lazer, são importantes para afirmar laços de solidariedade e redes sociais. Outro exemplo Ê a permissão, quase que diåria para a execução de cultos evangÊlicos ou similares dentro do presídio. Uma troca de favores, onde a ordem e o respeito à disciplina feito pelos evangÊlicos, funciona quase como um sistema de dådiva, de reciprocidade e recompensas. Assim, segundo Kleber, 34 anos, Pavilhão do Trabalho, ³o pastor vem sempre aí. Toda semana eles vêem, o pessoal dos evangÊlicos. [sic] Tem culto todo dia, mas com o pessoal daqui. Com os crentes da rua só uma vez na semana. O pastor Ê Severino. O daqui de dentro Ê Expedito. De fora o pastor Ê da Assembleia de Deus´. A instituição prisional tambÊm possui o que pode ser chamado de ³H[LELomR institucionaO´ outra forma pela qual essa relação citada anteriormente ocorre, onde ela H[LEH DRV GH IRUD YLVLWDQWHV RX RXWURV XPD LPDJHP ³DGHTXDGD´ PRVWUDQGR DV melhores partes e os internos mais obedientes e comportados. As partes exibidas são as mais novas, mais bem cuidadas e com melhores equipamentos. Em nossos depoimentos recolhidos, os presos sempre apontam que essas visitas são esporådicas e, de certa forma, esperadas. As autoridades entram, olham e saem. O mesmo com a mídia, que sempre aparece quando ocorre alguma rebelião, fuga ou assassinato dentro do presídio. Para os depoentes, seu cotidiano e dia-a-dia Ê esquecido por todos.


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