Six of crows

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vez. Nenhum soldado de verdade tinha a pele assim, disse-lhe – tão bem cuidada. Ele zombava da exuberância de seu corpo, envergonhado de como ele mesmo reagia a isso. Ele segurou a curva quente de sua bochecha, sentiu a maciez de seu cabelo. Tão adorável. Tão real. Não era justo. Então, ele percebeu as ataduras cheias de sangue em suas mãos. A dor o percorreu quando despertou totalmente – costelas quebradas, articulações machucadas. Ele havia lascado um dente. Não tinha certeza de quando, mas havia cortado a língua no dente em algum ponto. Sua boca ainda tinha o gosto de cobre do sangue. Os lobos. Eles o obrigaram a assassinar lobos. Ele estava acordado. “Nina?” Havia lágrimas nos belos olhos verdes de Nina. A raiva o percorreu. Ela não tinha direito a lágrimas, nenhum direito a piedade. “Shhhh, Matthias. Viemos tirá-lo daqui.” Que jogo era esse? Que novo tipo de crueldade? Ele mal tinha aprendido a sobreviver a esse lugar monstruoso e agora ela vinha adicionar algum tipo de tortura nova. Ele se lançou para a frente, girando-a no chão, com as mãos presas firmemente em torno de seu pescoço, envolvendo-o para que os joelhos firmassem seus braços no chão. Sabia muito bem que Nina com as mãos livres era um perigo mortal. “Nina”, ele rangeu os dentes. Ela agarrou as mãos dele. “Bruxa”, sussurrou, inclinando-se sobre ela. Viu seus olhos se arregalarem, o rosto ficar mais vermelho. “Implore”, disse ele. “Implore por sua vida.” Ele ouviu um clique, e uma voz rouca disse: “Tire as mãos dela, Helvar.” Alguém atrás dele havia pressionado uma arma contra seu pescoço. Matthias não olhou. “Vá em frente e atire em mim”, disse, e enfiou as pontas dos dedos ainda mais fundo no pescoço de Nina. Nada tiraria esse gostinho dele. Traidora, bruxa, abominação. Todas essas palavras vieram-lhe à boca, mas outras também o sobrecarregaram: bela, encantadora. Röed fetla, ele a chamava, passarinho vermelho, devido à cor de sua Ordem Grisha. A cor que ela amava. Ele apertou mais forte, silenciando aquela parte fraca dentro dele. “Se realmente perdeu a cabeça, isso será muito mais difícil do que eu havia imaginado”, disse a voz rouca. Ele ouviu o zumbido de algo se movendo pelo ar, então uma dor dilacerante irradiou-se por seu ombro esquerdo. Ele sentiu como se tivesse levado um soco de um punho fino, mas todo o seu braço ficou dormente. Caiu para a frente resmungando, uma mão ainda presa no pescoço de Nina. Teria caído diretamente sobre ela, mas foi puxado para trás pela gola da blusa. Um rapaz vestindo um uniforme de guarda estava de pé diante dele, olhos escuros brilhando, uma pistola e uma bengala nas mãos. Seu punho tinha sido esculpido para parecer a cabeça de um corvo, com um bico cruelmente afiado. “Recomponha-se, Helvar. Viemos aqui para libertá-lo. Posso fazer com sua perna o que fiz em seu braço, e podemos arrastá-lo para fora daqui, ou você pode sair como um homem, andando com as próprias pernas.” “Ninguém escapa do Hellgate”, disse Matthias. “Hoje à noite escaparemos.” Matthias ajeitou-se para se sentar, tentando orientar-se, segurando o braço dormente. “Você não


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