A barraca do beijo #Beth reekles

Page 402

girava devagar, uma linha prateada e delgada sobre o fundo preto. Peguei o relógio com bastante cuidado. As pedras azuis pareciam autênticas, e tive certeza de que devia ser incrivelmente caro. — As pedras são preciosas de verdade — disse meu pai, como se estivesse lendo meus pensamentos. — É lindo — comentou June, com um sorriso maternal. Achei que iria chorar. Isso era o que todos estavam esperando. Praticamente já conseguia ver todos eles esperando eu me desfazer em lágrimas, chorando e dizendo que sentia saudades da minha mãe. E eu realmente sentia falta dela. De verdade. Queria que ela ainda estivesse entre nós; que estivesse na nossa casa, preparando alguma coisa na cozinha, ou sentada na sala para assistir a alguma novela ruim na TV, ou se preparando para sair para trabalhar. Mas não havia nada que eu pudesse fazer em relação ao fato de que ela havia morrido; já fazia alguns anos que havia aceitado aquilo. Eu podia sentir saudades dela e querê-la de volta com tanta força que chegava a doer, mas não era realmente capaz de fazer nada a respeito. E eu entendia. Não havia razão para chorar por ela, já que isso não iria trazê-la de volta. Mas tenho certeza de que eles ficaram chocados quando sorri ao prender o relógio ao redor do pulso esquerdo. Era frio e pesado, e estava até mesmo um pouco frouxo, mas eu o adorei. — Obrigada, pai. Ele sorriu, e seu rosto exibia uma mistura de emoções: a tristeza nos olhos, a alegria no sorriso, o alívio fazendo com que as sobrancelhas parassem de se franzir. Mas, em seguida, ele tirou outra coisa do bolso — outra caixa de veludo preto. Era diferente daquela onde o relógio estava; não havia um fecho de ouro, e também não se viam as dobradiças.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.