Revista MÊS 07

Page 1

Pesquisa revela mudanças no perfil dos jovens; em busca de sonhos individuais, eles também estão mais conectados ao social

Educação

À distância, 308 mil alunos são inseridos na educação superior; vagas saltaram 22.000%

Entrevista

Curitibano é autor de recente best-seller brasileiro; obra deve virar filme de Hollywood

Cidades

Moradores questionam a qualidade das calçadas em Curitiba.Veja quem são os responsáveis

circulação GRATUITA

IMPRESSO

Mais ENGAJADOS

PODE SER ABERTO PELA ECT

Editora Mês Ano 1 - nº 7 Agosto de 2011




entrevista Talal Husseini

Roberto Dziura Jr.

Paz Guerreira:“É essa guerra que devemos travar dentro de nós” O paranaense Talal Husseini é autor do livro “Paz Guerreira – o caminho das 16 pétalas”, que já se tornou best-seller no Brasil ao vender mais de 30 mil exemplares em apenas quatro meses. O sucesso, que está sendo comparado ao Senhor dos Anéis, será lançado este ano em Portugal, Espanha e Estados Unidos e, possivelmente, na Feira de Frankfurt (Alemanha). Também deve ir para as telonas. “São dois convites: um do Brasil e um de Hollywood”, diz o autor. A obra, que foi escrita em dois anos as terças das 19h30 às 2h da manhã, conta a história de Cadriel, que trava uma luta interna. O autor, especialista em Filosofia e faixa preta em artes marciais, lança mão de arquétipos da mitologia para cativar o público. Husseini recebeu a Revista MÊS em seu escritório, em um papo que foi desde sua saga individual até a evolução do ser humano e a busca da felicidade 4 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Arieta Arruda - arieta@revistames.com.br

Como começou sua carreira na filosofia? Talal Husseini (TH) - Com 10 anos eu estava assistindo televisão vendo noticiário e pensei: será que tudo que estão falando nesse noticiário não é exatamente ao contrário? Será que a verdade não é outra? Então, eu comecei a ficar em dúvida com relação ao que é certo e o que é errado, falso e verdadeiro. Muitos questionamentos. Fui numa livraria e pedi um livro que me falasse a verdade. O vendedor me trouxe um livro chamado “Dogma e ritual da Alta magia”, de Eliphas Levi, é um livro de esoterismo, ele trouxe pra tirar sarro da minha cara. Só que quando eu folheei aquele livro, observei que tinha fotos de demônios, de coisas estranhas, eu pensei: talvez seja um livro que fale a verdade?! Eu li o livro em dois dias. Foi o primeiro livro que eu li na minha vida. E quando eu terminei o livro, leques se abriram ante meus olhos. Eu pensei: será que tudo que está dentro desse livro não é exatamente tudo ao contrário? Será que a verdade não é outra? Aí começou minha saga filosófica. Então, dos


10 aos 14, já tinha lido mais de dois mil livros. E com 14 anos, eu tive uma luz. Entendi que a verdade não estava nos livros e que deveria ser vivenciada por pessoas sábias. Comecei a buscar um mestre. Quando eu tinha 17 anos de idade, tinha uma palestra “Como dominar o medo através das artes marciais”, quem deu essa palestra foi o professor Michael Echenique Isasa, aí eu encontrei o meu mestre. Você trabalha com a filosofia à maneira clássica. Qual a diferença das outras? TH - Ela busca a felicidade, a autorrealizarão de forma extremamente prática. O sistema filosófico que eu desenvolvo, que aprendo e ensino não é puramente intelectual, não é só o ato de pensar, é também ser capaz do agir. É como um pássaro com duas asas: a fé e a razão. Se uma asa é mais curta que a outra, o pássaro vai girar e não vai chegar onde tem de chegar. Se eles têm bem equilibradas as duas asas (a fé e a razão) você consegue ter um excelente equilíbrio pra chegar até a luz do sol ou onde quer que você tenha como objetivo. Por que a maioria das pessoas não se interessa pela Filosofia? TH - A filosofia é muito importante para você desenvolver o pensamento, desenvolver muito bem as ideias. Todos os sistemas políticos, religiosos, culturais, artísticos vieram de uma ideia filosófica. A própria economia sempre está envolvida com algum conceito filosófico. Só que a filosofia quando teve o seu grande desenvolvimento na humanidade, ela não era intelectual, ela tinha uma visão intelectual, mas aplicada ao mundo prático. E hoje, quando nós estudamos a filosofia, você vê a filosofia só no seu âmbito intelectual, o que torna as coisas um pouco chatas, às vezes, pelo menos para a maioria das pessoas, por que as pessoas não veem uma aplicação para aquilo ou acham complexo demais, abstrato demais. Vejo também que os jovens de hoje em dia estão caindo no comodismo muito grande e com grau de informação muito grande, que é diferente de saber pensar. Você confunde, muitas vezes, a informação com o conhecimento. E a filosofia é a busca da sabedoria. Ela não trabalha com informação, vai muito mais além e, hoje, existe uma forte tendência de as pessoas ficarem na superficialidade das coisas e com informações achando que sabem. Muita horizontalidade de opiniões e pouca profundidade de sabedoria, essa é que é a grande questão hoje.

“[Felicidade] tá dentro de mim e não fora de mim. Ela não é amanhã, é agora.” Como foi o processo de criação do livro Paz Guerreira? TH - A minha fonte de inspiração foi o meu mestre em primeiro lugar. Ele foi minha grande fonte de inspiração. Por todos os lugares por onde eu passei, eu estudava muito como era a cultura marcial daquele país. Essa cultura marcial foi o segundo elemento que me trouxe as condições para escrever esse livro. O terceiro elemento foi justamente o conhecimento da filosofia. Então, integrando o que eu aprendi com o meu mestre, a cultura marcial nos países e a filosofia, que traz aportes mitológicos, arquétipos mitológicos universais, muitos recursos de conhecimento. [A ideia do livro] Foi incrível, foi em um segundo. Foi uma inspiração, uma intuição. Em um segundo, eu vi a coluna vertebral inteira do livro. Depois, eu fui amarrando as histórias e criando outras histórias e criando o recheio. O projeto começou há 10 anos. Onde eu falei pro meu mestre que eu queria escrever um romance, e no meio de tudo isso eu ensinaria algo com uma boa profundidade filosófica. Ele disse que eu teria de treinar o meu estilo de escrita. Durante oito anos eu escrevi um livro que não tem nada a ver com esse. E quando eu terminei, o meu mestre falou que tinha que descartar o livro que era só um treinamento. Deletei tudo. Há dois anos, eu comecei a escrever esse livro. Ele [mestre] falou assim para mim: você tem de escrever algo que veio com você. Aí depois de uma semana em silêncio veio em um segundo o tema: Paz Guerreira, que era algo que eu conhecia. Então, demorei dois anos para escrever, mas o processo vem de 10 anos. O que é a Paz Guerreira? TH - Paz guerreira é aquela paz que advém de uma guerra interior. Nós falamos muito de paz, mas quanto mais de paz se fala mais guerras vemos. Todas essas guerras que vemos no mundo são falsas, porque advêm da ignorância humana. Mas existe uma guerra que é verdadeira, que é a interior. É essa guerra que nós devemos travar dentro de nós. Essa guerra dentro de nós é a luta contra as nossas sombras, os nossos defeitos, nossos medos, instintos, paixões etc. Como fazer para dominar isso? Quan-

do desenvolvemos nossas virtudes, que são qualidades humanas luminosas, elas dominam as nossas paixões, os nossos medos. É como se as virtudes fossem luminosas e os nossos defeitos uma escuridão, quanto maior o campo de luz dentro de nós, menor o espaço ou ponto de escuridão que existe dentro de nós. Tenho que aumentar as minhas virtudes para diminuir os defeitos. O livro deve virar filme. Como está o andamento disso? Não posso falar muito. De qualquer forma, o que eu posso adiantar é que são dois convites: um do Brasil e um de Hollywood. E eu estou analisando os dois e negociando. Vou para os Estados Unidos agora no segundo semestre, a gente vai analisar de perto, ver as propostas com roteiristas, produtores para ver as opções, observar claramente se vai estar dentro do que eu quero ou não. Mas está caminhando muito bem. Sobre a felicidade. Ela é a ausência de problemas? TH - Não. Você tem de sublimar tudo isso, tudo isso faz parte da sua vida. A alegria, o choro, a tristeza, o sorriso, tudo o que você possa imaginar faz parte do nosso plano de desenvolvimento. Mas a felicidade é um ponto em que você pode estar chorando e estar feliz, porque você tem uma compreensão superior. A felicidade não é ser alegre e ser feliz. Tudo tá dentro da felicidade, quando você compreende como chegar a esse ponto de harmonia. Ser feliz é uma coisa que é agora e não é amanhã. Sempre que você diz: “eu vou ser feliz amanhã”. Você não vai ser. E você tem de desenvolver potenciais dentro de você, para você vislumbrar essa felicidade dentro de você. Ela não está fora. A felicidade não está condicionada a questões materiais, que quando eu tenho algo. Agora porque eu tenho isso, vou ser feliz. A felicidade é atemporal, ela vai para além do que eu posso ter ou tocar. Por isso, tantas pessoas sofrem, porque elas estão buscando a felicidade fora e amanhã. Ela tá dentro de mim e não fora de mim. Ela não é amanhã, é agora. Como chegar a esse ponto? TH - Quando você desenvolve as 16 virtudes chega nesse centro que é a sabedoria. Uma vez que você esteja nesse centro, aprende a vencer sem lutar. Precisa vencer dentro, para agora fora, ter mais inteligência. Só que esse vencer é gradativo, REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 5




Roberto Dziura Jr.

entrevista Talal Husseini passa, em certos momentos, não sabemos identificar e depois vê que foi importante. Qual a importância de sonhar? TH - Somos a dimensão dos nossos sonhos. Nós temos essa dimensão, essa altura. Se você tem sonhos pequenos, é porque você é pequeno. Se você tem sonhos grandes, é porque você é grande. Agora quando sonhamos não podemos confundir com fantasia. Quando eu concebo mentalmente aquele sonho, não tenho que deixar só no aspecto mental, tem que sentir isso, em segundo lugar. Em terceiro lugar, colocar energia para que isso aconteça e, em quarto lugar, ter uma ação concreta, senão não tem chance para realizar aquilo. Se você sonha grande, você pode romper o que as pessoas chamam de impossível. Como trabalhar a ignorância da humanidade? O curitibano já vendeu mais de 30 mil exemplares

é uma evolução. Uma vez que você esteja nesse centro, que é um ponto harmônico dentro de nós, começa a fazer as coisas na vida sem reação. Começa a fazer as coisas passando por todos os problemas - porque vão ter - mas não são eles que te absorvem. Consegue atravessar todos eles, porque está com a energia certa, comportamento certo, ação correta, e isso vem de dentro. É uma paz ativa, não é uma paz passiva. Você vai ter que lutar muito dentro de você. Como acreditar na força da mente, mesmo diante da frustração? TH - O que acontece é que, muitas vezes, somos imediatistas e avaliamos tudo pelo o que está acontecendo naquele instante. E não sabemos os desdobramentos de todo o conjunto. Não acredito no acaso. Acredito que tudo tem uma razão de ser, quando as coisas se conformam numa realidade futura. Por exemplo, muito do meu sucesso e das coisas que eu vivo hoje, vieram de grandes reviravoltas e momentos que foram os mais difíceis da minha vida. Hoje, sou dono de 16 empresas, mas isso surgiu de uma época no passado em que eu tinha uma empresa que não deu certo, fracassou e foi duro de aguentar vendo tantas pessoas envolvidas tendo dificuldades em receber e muitas coisas. Dali surgiu a ideia de montar uma escola de negócios. E quando montei, foi um grande sucesso e se não fosse aquilo, não teria o que tenho hoje. Coisas que a gente 8 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

TH - O mundo está voltado mais para a tecnologia, somos capazes de mandar pessoas à lua, mas não somos capazes de caminhar 30 cm que vai do nosso cérebro ao nosso coração. Existe uma força enorme buscando soluções através da economia, através de sistemas. Uma vez me perguntaram: “qual o melhor sistema para ser aplicado no mundo para criar uma nova civilização ou uma nova oportunidade histórica?” Eu falei: “não há que se pensar nisso”. Porque se você tem o melhor sistema do mundo e for aplicado pela pessoa errada, vai dar errado. Tem-se um sistema mais ou menos, mas se for aplicado pela pessoa certa, vai dar certo. A grande chave não tá no sistema ou na tecnologia ou em coisas que vemos fora, a grande chave está no ser humano. O sistema tá criando nas pessoas um conforto achando que tudo está muito bem e, no entanto, as pessoas ficam cada vez mais infelizes, sentadas numa poltrona assistindo à televisão, vendo a desfiguração de seu próprio ser. Enquanto não tivermos uma educação adequada, não teremos condição de evolução. Se não temos condições em instituições onde possam ter uma educação adequada, devemos buscar pessoas que são mais sábias do que nós, que conhecem a vida, como ela deve ser vivida. Como a humanidade poderá caminhar sem guerras, sem que todas as pessoas estejam na mesma evolução? TH - Você tem de dar a cada um aquilo que lhe corresponde. Isso é justiça. Aqueles que têm mais nível deveriam cuidar da-

queles que têm menos, independentemente se ele quer aprender ou não. Nós devemos nos sacrificar e nos doar para ajudar quem tem menos condições em todos os aspectos, pode ser menos condição financeira, intelectual, menos condição de consciência. Aqueles que têm mais condições deveriam cuidar dessas pessoas e apoiá-las, não dando o peixe, mas criando condições. Dando uma vara para que elas aprendam a pescar pelo menos quando da necessidade delas. Ela não precisa ser rica, porque às vezes não é isso a condição dela. Não precisa ser um sábio, mas tem que aprender a pescar pelo menos para o que ela precisa. Hoje nós não vemos muito isso, porque também muito do sistema político está sendo governado – não digo todos –, mas a maioria, por um governo de medo, de corrupção. Como as pessoas não dirigem a si mesmas, então, o que impera no momento em que vai dirigir é a corrupção, o medo e muitas falhas de caráter. O ideal seria dirigir depois que tivesse dirigido a si mesmo. Seria um governo pautado nas virtudes, nas melhores qualidades humanas, porque já foi desenvolvido dentro dela. Confúcio dizia: “aquele que domine a si mesmo, pode dominar o mundo”. Depois do primeiro livro, quais os projetos futuros na literatura? TH - Já estou começando a desenvolver um esboço do que vai ser o futuro livro, que vai ser um romance também. Vai ser uma outra obra. Não sei ainda [qual], porque estou esperando aquele um segundo. Tenho a pretensão de escrever um romance e o tema é a arte da convivência. Ensinar as pessoas a se relacionar bem com tudo e com todos. Como conciliar tantas atividades? Casa, profissão, esporte, filosofia... TH - O tempo é uma ilusão. Eu não vejo o tempo como normalmente as pessoas veem. Existem tempos diferentes, não só tempos físicos, existem tempos psicológicos também. O tempo vibra de várias formas simultâneas e depende da concepção que a gente tem. Quando eu me concentro em alguma coisa, eu ganho tempo. E eu sou uma pessoa concentrada. Sincronizo a mente e o corpo pra ganhar tempo. Eu sou muito disciplinado e me concentro muito. Terceiro é que eu tenho pessoas fantásticas comigo. Eu posso delegar com segurança e crescer junto com elas. Eu apoio muito os seres humanos, tudo está voltado às pessoas.


bons motivos para se ir à padaria nunca faltaram. agora você tem mais um. Informação quentinha. Grátis nas melhores padarias da região.

PANETTIERE Av. Cândido Hartmann, 3515 Sto Inácio / Curitiba

REQUINTE Francisco Rocha, 1809 Rua Recife, 34 Champagnat / Curitiba Cabral / Curitiba

BABILÔNIA PRESTINARIA Al. Dom Pedro II, 541 Rua Euclides da Cunha, 699 | AGOSTO DE 2011 | 9 Batel / Curitiba Bigorrilho / Curitiba REVISTA MÊS


sumário Editora Mês Ano I – nº 7 Agosto de 2011 4

ENTREVISTA

12

MIRANTE

20

COLUNA

21

Mensagens dos leitores

47

5 perguntas para: Amisha Miller

56

LIVROS

57

ÁLBUNS

58

OPINIÃO

59

FOTOGRAMA

POLÍTICA

CIDADES

Divulgação

18 Em busca do partido “prefeito”

MATÉRIA DE CAPA 14

22 O difícil andar pelas calçadas curitibanas

O “eu” mais coletivo

EDUCAÇÃO

MEIO AMBIENTE

24 Aprender de qualquer lugar

38 Entrega movida a calorias

SAÚDE 26 Aos 40, sem o peso da idade

TURISMO 40 Litoral o ano inteiro

CULINÁRIA E GASTRONOMIA

ECONOMIA

42 O retorno do Pão artesanal

28 Cidadania empresarial

ESPORTE

30 Um Brasil de perspectivas

44 Yes, nós também temos Futebol Americano

TECNOLOGIA

CULTURA E LAZER

32 Quer pagar quanto?

48 “Tudo começa com o desconhecido”

AGRICULTURA 34 Em casa, um espaço para cultivar

50 O saber do povo paranaense

MODA E BELEZA 52 De olho no verão

INTERNACIONAL 36 Brasil: hegemonia sob os países da América Latina 10 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

AUTOMÓVEL 54 Sedan médio da Peugeot encara forte seus concorrentes


editorial

Nova realidade social S

abe aquela história de “tudo junto e misturado”? Ta aí a graça de viver em sociedade. É um vai e vem de objetivos, conceitos, valores e diferenças. Uma pluralidade que salta aos olhos e agrega no dia a dia. Um conviver rico e cheio de meandros que fazem do cotidiano um desafio interminável. Arriscar, ser arrojado, mas sem negligenciar o pensar no coletivo! Pensar no outro, trazer pra si a responsabilidade para aquele negócio chamado Brasil. Para que o País seja cheio de boas perspectivas e baseado no vencer juntos.

Essa sensação gostosa de que não estamos sozinhos, ao mesmo tempo em que nos fortalece, também nos incumbe de uma carga de deveres que precisam ser levados à diante para tudo acontecer. O momento positivo desse Brasil do futuro chegou. Os jovens, motor propulsor de qualquer sociedade, já estão mais mobilizados. É um novo ser social que se mostra. Aliás, esse é o tema da matéria de capa: “O ‘eu’ mais coletivo”. No mesmo viés de olhar para si, sem excluir os outros, estão as palavras do entrevistado da MÊS, Talal Husseini, o curitibano escritor do best-seller “Paz Guerreira”, que discute a busca dos lugares: Paz e Felicidade. A união do só com todos é também tema da reportagem de tecnologia sobre financiamento coletivo. É unir o dinheiro de um, do outro, mais um e mais outros; para formar um todo que realize sonhos. Uma nova relação comercial e de parcerias. Por falar em dinheiro, sabia que mais de 50 milhões de pessoas saíram da pobreza nos últimos oito anos no País? É. E com mais grana no bolso, os brasileiros estão buscando novas alternativas de emprego, mais qualidade de vida e maneiras de empreender. Criar, experimentar, tentar, entabular e abrir seu próprio negócio é a cara de um novo Brasil. Afinal toda essa criatividade popular, que antes servia para o famoso “jeitinho brasileiro” – da malandragem –, precisava servir para alguma coisa positiva. Serviu! Somos um povo empreendedor e criativo, as reportagens de Economia trazem dados e motivos para você se convencer disso. Também somos um povo mais educado. Sim, é pouco para dar nome de ideal, mas já é o caminho que começou a ser traçado. Basta olhar para um indicativo: o crescimento estrondoso que a reportagem de Educação traz nessa edição. São mais de 23.000% de vagas em oito anos na educação à distância. É a educação superior chegando onde os centros universitários não puderam alcançar. Dessa forma, com mais altos que baixos momentos, o brasileiro vai tomando uma dose de orgulho de si a cada dia e vencendo os gigantescos desafios que ainda temos de desbravar. O horizonte é de um sol radiante e com poucas nuvens. Tá a fim de se misturar? Seja bem-vindo. Boa Leitura!

expediente A Revista MÊS é uma publicação mensal de atualidades distribuída gratuitamente. É produzida e editada pela Editora MÊS EM REVISTA LTDA. Endereço da redação: Rua Comendador Araújo, 565, Centro – Curitiba (PR) Fone/Fax: 41. 3223-5648 – e-mail: leitor@revistames.com.br REDAÇÃO Editora-executiva e Jornalista responsável: Arieta Arruda (MTB 6815/PR); Repórteres: Mariane Maio, Roberto Dziura Jr. e Iris Alessi; Arte: Tércio Caldas; Fotografia: Roberto Dziura Jr.; Revisão: Larissa Marega; Direção comercial: Paula Camila Oliveira; Departamento comercial: Sandro Alves / comercial@revistames.com.br – Fone: 41. 3223-5648; Colaboraram nesta edição: Tiago Oliveira, Wallace Nunes, Eduardo Bentivoglio, Renato Sordi, Marcelo M. Bertoldi e Laércio Mello; Produção gráfica: Prol Editora Gráfica; Assinatura: assinatura@revistames.com.br. Auditoria: ASPR - Auditoria e Consultoria;

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 11


mirante

Beto pode não entregar promessa

Aliança em torno de Fruet

Desse mato saiu cachorro

O governador Beto Richa (PSDB) pode ter problemas na plenitude para entregar o apoio prometido ao prefeito Luciano Ducci (PSB). É que companheiros seus de partido – alguns históricos – já estão falando pela cidade que irão firmar fileiras com o ex-tucano Gustavo Fruet, que saiu do PSDB por não ter o apoio do governador, para concorrer à prefeitura de Curitiba. Em breve, Fruet deve anunciar o partido pelo qual irá para esta disputa. Cresce a possibilidade de o destino ser o Partido Verde (PV).

Ganha força entre membros do PT a ideia de formar uma aliança com Gustavo Fruet para a disputa municipal na Capital. A justificativa vai desde consolidar uma oposição ao governador até uma forma de o partido se fortalecer na Capital. Contudo, boa parte dos que defendem esta aliança acreditam que o vice, a ser indicado pelo PT, deve ter estatura política para atuar dentro do futuro Governo Municipal. Angelo Vanhoni aparece como um dos cotados.

Mais uma da Assembleia Legislativa. Dessa vez, um relatório divulgado no fim do mês de julho mostra que servidores da Casa podem ter se beneficiado com o pagamento de aposentadorias indevidas. De um total de 302 aposentadorias revisadas pela Casa, cerca de 90% dos benefícios tinham distorções. Ao todo, são gastos R$ 44,2 milhões/ano para o pagamento de aposentadorias dos servidores efetivos. Que uma Comissão Especial seja instaurada para apurar mais essa.

Começo quente

CUT / Davi Macedo

O primeiro dia da volta dos trabalhos, em agosto, na Câmara de Vereadores de Curitiba começou tumultuado. A sessão foi marcada pela presença de muitos manifestantes que foram impedidos pela segurança da Casa de entrar no plenário, com a alegação de que não havia mais lugares vagos. No entanto, vereadores da oposição disseram que o local estava lotado de funcionários da Prefeitura. Os manifestantes apareceram em sessão para cobrar explicações do presidente, João Cláudio Derosso (PSDB), acusado de irregularidades em sua gestão. O parlamentar não compareceu.

Entusiasmo total

Logo, logo deve começar a produção de tablets em território nacional. Pelo menos é isso que acredita o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Segundo Bernardo, nove empresas foram cadastradas para produzir esses equipamentos no Brasil. Com a maior oferta do produto e a produção nacional, os novos brinquedinhos tecnológicos devem ficar mais acessíveis para os brasileiros. Os preços devem ser até 36% abaixo dos valores atuais. E por falar em preços mais baixos, outra boa notícia, é que, em breve, teremos conexão de Banda Larga por R$ 35, valor bem abaixo do cobrado atualmente.

Elza Fiura / ABR

Em encontro de velhos amigos realizado no final de julho, em Morretes, o entusiasmo do ex-deputado Wilson Pickler (PDT) com a possível candidatura à prefeitura de Gustavo Fruet pelo seu partido chamou a atenção dos presentes. Pickler, que não se reelegeu federal nas últimas eleições, dava como certa a filiação do ex-tucano em seu partido. Os presentes no almoço regado à costela no chão e barreado, na maioria profissionais da comunicação e alguns simpáticos ao PSDB, também se manifestaram a favor da candidatura de Fruet. Seja por qual partido for.

Internet e tablets mais baratos

Limpa geral

Roberto Stuckert Filho

Linha dura A faxina foi grande no Ministério dos Transportes. Já foram mais de duas dezenas de demissões envolvendo servidores do ministério. Mas, por meio de interlocutores, a presidenta Dilma Rousseff manda avisar que sempre que houver graves denúncias em seu governo vai aplicar duras medidas, mas que não será refém de especulações da imprensa ou da oposição.


Bate Pronto “Como qualquer cidadão, o Fruet tem o direito de ser filiado ao partido que achar mais conveniente, mas isso não significa um alinhamento automático conosco” Argumenta Tadeu Veneri (PT), deputado estadual

Roberto Dziura Jr.

Nani Gois

“A gente vem há algum tempo discutindo internamente. Vejo como positivo. A gente tá dialogando com os outros partidos” Disse Roseli Isidoro, presidente do PT Curitiba

Portabilidade de planos de saúde

Companhias aéreas no bico do corvo

Entraram em vigor no final de julho as novas regras para os clientes de plano de saúde por adesão (individuais, famílias e coletivos) que assinaram seus contratos a partir de janeiro de 1999. As novas normas ampliam as regras da portabilidade de carências. Isso significa que o usuário poderá trocar de plano de saúde sem precisar cumprir os novos prazos de carência. Isso também vale para a troca de um plano municipal para um estadual ou deste para um nacional. Essa mudança beneficia mais de 13 milhões de pessoas.

A paciência do Governo Federal com as companhias aéreas parece que já extrapolou os limites. A ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, cobra diariamente da ANAC e da Infraero posicionamento sobre a situação dos aeroportos. A venda excessiva de passagens para o período das férias de julho, sem aumentar a quantidade de atendentes e a pane no sistema de check in de Congonhas, colocam a Gol no topo das insatisfações do Governo. A companhia também é campeã de atrasos com picos em alguns dias de mais de 20% de voos atrasados.

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 13


matéria de capa

O “eu” mais coletivo Geração jovem atual tem demonstrado uma nova maneira de se comportar; o bem-estar individual e em grupo se unem para garantir a harmonia social

C

que é o “Brasil do Presente”. Vive-se no País uma nova ordem imposta pelos jovens: a transição do individualismo para a coletividade. Entender os anseios dos jovens brasileiros da primeira sociedade global foi justamente o objetivo da pesquisa “O Sonho Brasileiro”, realizada pela empresa BOX.

Para um país que era tido como do Futuro, uma nova ordem se coloca à frente desse

O resultado trouxe uma combinação, segundo eles, inédita. “País num momento único de sua história: crescente reconhecimento internacional e otimismo interno. Jovens de 18 a 24 anos naturalmente digitais, impactados por uma nova configuração do mundo, que já nasceram numa nova fase do Brasil, onde tudo parece possível”.

Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

ada pessoa é única, como diria Charles Chaplin. Mas o ser humano é também um ser social e, por isso, o momento histórico influencia gerações, marca conceitos e atitudes coletivos. “Há um elemento de invenção e criação, que cada geração estabelece para si em determinados momentos, estratégias que se colocam e recolocam permanentemente”, afirma a socióloga Ana Salas.

14 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

É nesse ambiente que ocorrem grandes ressignificações de valores, como família, emprego, religião, política e economia.

Estes novos conceitos foram percebidos pelo biólogo e dono de uma escola de terapias holísticas, Rafael Souza, recém-completados 25 anos. “Tá acontecendo alguma coisa. Tem algo diferente no ar.” No mês de julho, ele e mais 100 jovens passaram um final de semana em Antonina, no Litoral do Paraná, para realizar o sonho dos desabrigados em decorrência das chuvas de março: terem no local um playground para as crianças, um forno a lenha para trabalharem com panificação e uma horta. Com a ideia inicial de promover um evento para arrecadar donativos para as vítimas da tragédia, o projeto mudou de foco quando perceberam que esta não era a real necessidade daquela comunidade.


Um novo formato foi pensado e eles chegaram ao “Bioasis”. “É um projeto multidisciplinar e interdisciplinar, ou seja, a gente trabalha esses conceitos de preservação do meio ambiente, de como a arte e a cultura são vitais para o desenvolvimento de uma sociedade. A grande missão é dar ‘empoderamento’ às pessoas”, explica. Segundo o biólogo, os moradores dos abrigos estavam se sentindo incapazes e deprimidos. Portanto, apenas mandar mantimentos não iria mudar essa realidade. “Depois que a gente criou esse afeto, através de uma ação de Páscoa, a gente fez uma reunião com eles, para ir pra próxima etapa do projeto: que é o sonho e o cuidado. Então, a gente se reuniu e pegou o sonho individual de cada um e formou em um sonho coletivo”, lembra Souza.

Essa necessidade de fazer algo pelos outros atinge Rafael Souza e boa parte da juventude brasileira. De acordo com a pesquisa, 74% dos jovens brasileiros afirmam “se sentir na obrigação de fazer algo pelo coletivo no seu dia a dia” e 79% disseram que concordariam em “utilizar parte do seu tempo livre para ajudar a sociedade”. “É um chamado. Você sente a necessidade de fazer isso. Vi tudo àquilo [tragédia do litoral paranaense] e pensei: está na hora de fazer alguma coisa”, conta o biólogo. Os jovens querem mais respeito e cidadania, menos violência e menos corrupção.

plodiu. Tudo foi feito pelas redes sociais, divulgando através da internet”, conta. Para a socióloga Ana, a tecnologia é um artefato cultural. “O uso que você faz disso, vai depender de como as pessoas se apropriam. As pessoas se conectam, se mobilizam e vão para as ruas. Por exemplo, o que está acontecendo na Espanha, na Grécia, em Portugal, na Irlanda? Quando você tem um momento de crise econômica, como tem no caso desses países, aí não adianta fazer mobilização pela internet. Acho que essas coisas não se excluem, depende o que está em pauta”, explica Ana, acrescentando que essas maneiras de diálogo (real e virtual) podem ser complementares.

Êxito extra-profissional De acordo com os pesquisadores, a nova juventude brasileira se distingue da anterior, da década de 1990 em que os sonhos eram baseados no êxito profissional, aliado ao poder financeiro.

Empregado na Shell aos 22 anos, um ano e meio depois Edgar Muniz de Barros Moreira (42), diretor-executivo da empresa Miti, pediu demissão para ir morar com os pais nos Estados Unidos. Apesar de formado em economia, lá trabalhava com empresa de jardinagem e pregava cortinas. O emprego anterior, com certo status, não foi motivo para impedir Moreira, que escolheu ter uma vivência no exterior. “Eu ia fazer uma carreira profissional na Shell, mas não era algo que me atraia como ir aos Estados Unidos. Como queria ter um negócio próprio, não sentia que ia ficar para sempre na Shell. Como sabia disso, preferi ter uma nova experiência de vida e foi muito bom”, conta dizendo que o padrão americano empreendedor o ajudou posteriormente. Dois anos depois, ele retornou ao Brasil e trabalhou em diversas empresas até montar o seu próprio negócio. Depois de mudar o foco do seu negócio algumas vezes, hoje tem uma empresa líder de Clipping no País, que monitora 3.700 veículos e 100 mil notícias por dia, além de monitorar mídias sociais e outro setor que faz o acompanhamento dos programas de rádio e televisão do Paraná. Recentemente, o empresário percebeu outra brecha no

A maioria (74%) dos jovens também afirma ter vontade de participar de projetos comunitários e as áreas de maior interesse estão relacionadas com o meio ambiente, cultura e arte, educação e esportes. “Existe a percepção da necessidade. Acredito que a gente está nos 48 minutos do segundo tempo para fazer qualquer mudança. A situação que a gente está do planeta, de uma forma geral, é caótica. Se a gente não começar a fazer algo, vai começar a sobrar pra gente”, comenta o jovem. E para que toda essa mobilização fosse possível, o grupo se utilizou da conectividade. A rede de relacionamento Facebook foi escolhida para dar voz ao projeto e mobilizar ainda mais voluntários. “Rapidamente dezenas, centenas de pessoas foram sabendo do projeto, se interessando e aderindo. Do último mês para cá o projeto ex“Ia fazer carreira profissional na Shell, mas não era algo que me atraia como ir aos Estados Unidos”, diz Edgar Moreira (42)

Roberto Dziura Jr.

Arquivo pessoal

20 e poucos anos

Vive-se no País uma nova ordem: a transição do individualismo para a coletividade

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 15


matéria de capa

“Estou realizando meu sonho. Conseguir fazer coisas que gosto e utilizar isso para fazer bem para os outros”, garante Rafael Souza (25)

mercado e uniu suas habilidades para transformar seu negócio em uma empresa de inteligência de mercado. Atualmente, os jovens querem mais que o emprego dos sonhos, com estabilidade financeira. “Eles não negam questões funcionais, como dinheiro e estabilidade, mas a diferença é que não param por aí. Encontramos muitos jovens conectando sua realização pessoal à profissão dos seus sonhos. Em ser alguém. Essas buscas não são dissociadas, elas vêm juntas. O trabalho é cada vez menos visto como necessidade, e cada vez mais como elemento de realização e expressão”, conclui a pesquisa.

Questionado sobre qual é o seu sonho, o coletivo apareceu ligado às suas vontades individuais. “Fazer esse grupo crescer e ter harmonia para trabalhar com isso [...] Hoje estou realizando meu sonho. Conseguir fazer coisas que eu gosto e utilizar isso para fazer bem para os outros”, diz o jovem, contando que já teve sonhos mais consumistas, mas mudou seus valores.

Luta menos violenta Já em relação à geração jovem dos anos de 1970, a juventude atual tem em comum um lado mais coletivo. “Após as representações acentuadamente individualistas dos anos 80 e 90, a partir dos anos 2000, os jovens voltam a valorizar e se conectar com discursos mais coletivos. Mas a noção de coletivo que trazem é diferente daquela predominante nos anos 70, quando o modelo era muito baseado na figura do mártir. Hoje, ganha força a ideia que pensar no outro não exclui pensar em si mesmo”, confronta a pesquisa. “Havia uma busca por causas. Essa é uma diferença fundamental. Havia uma busca, não uma corrida para as profissões e as suas remunerações, patrimônio, mas uma causa que desse sentido a vida de cada um”, lembra o jornalista curitibano Luiz Manfredini (61). Neto de um dirigente do partido comunista, Manfredini participou 16 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Fotos: Roberto Dziura Jr.

O biólogo Rafael Souza é identificado na pesquisa como “jovem-ponte”, uma conexão entre o novo e o velho, entre a natureza e o homem, entre um povo e outro. É alguém que conecta realidades diferentes, transmite ideias e conhecimento de forma transversal, abre diálogo entre preconceitos e diferenças, busca relevância social por meio do trabalho, constrói um novo tipo de participação coletiva e política.

desde cedo de grupos que lutavam contra a ditadura e repressão militar da época. Para se opor ao regime, se integrou ao movimento estudantil e a Organização Ação Popular. Por conta disso, viveu clandestinamente junto aos camponeses, no interior do Paraná, e foi preso quatro vezes. A realidade daquela época fez com que muitos jovens fossem pelo mesmo caminho. “Nos anos 70 a forma de engajamento era outra, tinha uma ditadura militar. Então, a possibilidade, as estratégias para se procurar a ação política, era muito diferente, porque tinha censura, e hoje não tem nada disso”, pondera a socióloga Ana Salas. Hoje, a maioria dos jovens, que vive um período de estabilidade econômica e política, percebeu que o seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade onde vive. “Todos somos um. Todos estamos conectados de uma forma ou de outra”, interpreta Rafael Souza. “Claro que você faz isso “A gente recebia muita informação, então chegava num ponto que você devolvia artisticamente”, afirma André Faria (67)


“Havia uma busca por causa, que desse sentido a vida de cada um”, lembra Luiz Manfredini (61)

segundo a época. O jogo é outro. Você tem de se ajustar. Ficar falando a mesma coisa que falava há 30 anos, vai dar com os burros n’água”, completa Manfredini.

Movimento arte

Depois de ter reprovado no vestibular, pois preenchia a prova correndo para poder chegar a tempo da prova do Conservatório, abandonou os estudos preparatórios e se dedicou ao Cinema. Foi trabalhando com a sétima arte que Faria se opôs à sua época. Profissional do Cinema Novo, ele participou dos movimentos de contracultura na década de 1960. Um de seus filmes, o “Prata Palomares” foi censurado em 1971 pelo governo brasileiro. “Não apresentei o filme para a censura e contrabandeei o filme para Paris para ir para a Quinzena dos Realizadores [parte do Festival de Cannes]. Isso foi muito bom, pois protegeu de certo sentido e o pessoal aqui ficou sem saber como agir. Fiquei espe-

Fotos: Roberto Dziura Jr.

Anterior à geração de Manfredini, André Faria (67) fingiu para o pai médico que queria passar no vestibular de Medicina, para poder ir estudar no Rio de Janeiro e em paralelo ao cursinho fazer um curso de Cinema no Museu de Arte Moderna e no Conservatório Nacional de Teatro.

rando a interdição e não chegou. Resolvi voltar e aí resolveram interditar o filme. Ficou interditado até 80. O filme foi lançado 10 anos depois”, narra Faria. “Bastante influenciados por movimentos de contracultura, os jovens buscam ampliar sua liberdade de escolha e expressão. Para isso, precisam confrontar os padrões sociais mais tradicionais da sociedade, revolucionar os costumes”, relata a pesquisa sobre esta geração. “A gente recebia muita informação, então chegava num ponto que você devolvia artisticamente. Naquela época, a gente achava que ia mudar o mundo”, observa o cineasta. Apesar das diferentes formas de manifestações, cada geração a seu modo torna os ideais reais e transformam a cara da sociedade. A cara da vez, apontada pela pesquisa, é de uma geração de jovens que tem na política uma prática cotidiana, sem caras partidárias; uma educação compartilhada; uma nova configuração da família (com mais laços afetivos) e o trabalho como extensão da identidade, por isso, com forte apelo social e satisfação pessoal. São os sonhos dos jovens brasileiros do século XXI.

“O Sonho Brasileiro” Pesquisa feita com mais de 25 mil jovens de 18 a 24 anos. Confira alguns dos resultados: 59% concordam que têm que pensar em si antes de pensar nos outros. 77% concordam que o seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade onde vive. 67% discordam da afirmação de que “só pensa em fazer algo pela sociedade se tiver algum benefício para si próprio” 74% afirmam “se sentir na obrigação de fazer algo pelo coletivo no seu dia a dia” 79% afirmam que concordariam em “utilizar parte do seu tempo livre para ajudar a sociedade”. 74% afirmam que têm vontade de participar de projetos comunitários. Fonte: www.osonhobrasileiro.com.br

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 17


política

Em busca do partido “prefeito” Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

P

ara quem acompanha o cenário político paranaense, a saída de Gustavo Fruet do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) não foi exatamente uma novidade. Conversas sobre a definição de qual candidato o partido apoiaria nas eleições para prefeito de Curitiba (PR) – escolha entre ele ou o atual prefeito Luciano Ducci (PSB) − ocorriam há meses. E o problema foi justamente esse. Ficaram apenas nas conversas. A falta de uma declaração antecipada de apoio das lideranças do partido (Beto Richa e Valdir Rossoni) fez com que Fruet tomasse uma atitude, antes mesmo que o partido esperasse.

18 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

“Porque eu vou esperar até o final do mês de setembro? Chega uma hora em que é necessário assumir riscos. É virar uma página”, afirma o ex-deputado, dizendo que o interesse local prevaleceu ao projeto nacional do PSDB de médio e longo prazo. “Não fiquei mandando recado. Não disse para ninguém que ia sair. Eu não ameaço. Acho que isso é diminuir a política. O limite para a chantagem é muito pequeno.” Em coletiva de imprensa, em que comunicou sua saída, Fruet disse ter feito essa escolha com base no entendimento de que havia um bloqueio do PSDB em relação a ele. “Afinal, por que eu não pude em oito meses assumir a presidência do partido na Capital, na cidade onde nasci,

Disposto a concorrer e vencer as eleições municipais de Curitiba, Gustavo Fruet sai do PSDB e negocia com partidos que sustentem seu objetivo

cresci, onde construí todo o projeto? [...] Já dei demonstrações de apoio ao PSDB em nível nacional, estadual e local. Deixei de disputar a eleição para prefeito em 2008, entendendo que havia uma composição. Deixei de disputar a reeleição para deputado para ser candidato a senador”, questiona o ex-parlamentar em tom de desabafo.

Chances reais Após uma votação surpreendente na eleição para o Senado em 2010, em que recebeu 2,5 milhões de votos no Paraná, sendo aproximadamente 646 mil em Curitiba, seu desejo de um dia assumir a Prefeitura da Capital ficou ainda mais palpável. “O


Gustavo Fruet pretende definir seu futuro partido até o final desse mês

“Porque eu vou esperar até setembro? Chega uma hora em que é necessário assumir riscos”, afirma Fruet

Gustavo não é um político originário do PSDB. Ele foi [para lá] em 2004, 2005, por ter se afastado do Requião. À época ele era deputado pelo PMDB. Queria ser candidato a prefeito já, houve certo afastamento, e ele saiu do PMDB. Foi uma coisa meio ruidosa. Quando ele entrou no PSDB, eles já sabiam de um projeto pessoal dele de ser candidato”, lembra o cientista político Emerson Cervi.

O futuro Independentemente dos motivos que levaram Fruet a deixar o PSDB, a notícia agradou muitos partidos, que já estavam de olho no possível candidato. O próprio ex-deputado já confirmou que está conversando com diversas lideranças partidárias para anunciar até o final deste mês sua decisão. “[Quero] liberdade para construir esse diálogo e começar a estabelecer algumas pontes visando à eleição e alianças, em 2012”, declara Fruet. “Historicamente, o Paraná tem uma política regional com dois grupos”, explica o cientista político

As legendas mais cotadas são o PDT e o PMDB, mas Fruet também já citou o PV e o PSC. Para Emerson Cervi, o que fica claro é que ele vai para algum partido da base aliada do Governo Federal. “Historicamente, o Paraná tem uma política regional com dois grupos. Raramente aparece um terceiro com força. Nós tínhamos até um Roberto Dziura Jr.

Apesar das lideranças do PSDB terem lamentado a saída de Gustavo Fruet, também não fizeram nada anteriormente para que isso não ocorresse. “Um partido não perde um candidato desses. Quem perde são grupos políticos. Nesse caso, é muito claro como o grupo político – hoje liderado pelo Beto Richa – preferiu manter os interesses do grupo acima dos interesses do partido. Se fosse para manter os interesses do partido, com uma votação como essa, ninguém deixaria o sujeito sair do partido”, analisa o cientista político. Para Cervi, Fruet era “um estranho no ninho e tem uma origem e uma trajetória própria”.

Divulgação

Roberto Dziura Jr.

Ao tomar essa decisão, Gustavo Fruet, que em outros momentos abriu mão de suas candidaturas em prol de um projeto partidário, mostrou que está focado em seu projeto político-pessoal. “Há tempo que defendo a possibilidade de construção de uma candidatura a prefeito. Acho que há legitimidade para isso em função das votações para deputado, do Senado. O que não posso é ficar esperando indefinidamente. A inércia na política é fatal. A política se faz todo dia, por coração ou omissão”, explica Fruet.

tempo atrás, dois que eram protagonizados por um lado, Roberto Requião, e por outro lado, Jaime Lerner. O que acontece é que esses dois grupos estão saindo de cena. O Jaime Lerner saiu antes e em substituição a ele, apareceu uma nova figura política chamada Beto Richa. Do outro lado, você tem o grupo do Requião, sendo substituído gradativamente por uma espécie de um PT mais ao centro. Esse PT já mostrou que tem um problema, que é de manutenção às suas lideranças”. Para o cientista político, Gustavo Fruet tem a possibilidade de ocupar esse espaço, mas para isso terá de “rever algumas coisas que ele fez até aqui”. As articulações do próximo pleito servirão de pano de fundo para as eleições de governador, em 2014, e “é obvio que o PT tem um projeto de concorrer, com chances de vitórias ao Governo do Estado. Qualquer candidato ao Governo do Paraná com condições normais, com exceção do Álvaro Dias nos últimos 30 anos, tem de sair muito bem votado em Curitiba. Portanto, ter a Prefeitura é um pré-requisito para ter boas condições”, avalia Cervi, dizendo que dificilmente Fruet vá para o PT, mas que é provável que aja algum tipo de aliança do PT com o outro partido ao qual ele irá se filiar. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 19


sobre a política

Eleições municipais e o poder dos apoios Por Tiago Oliveira tiago@revistames.com.br

É necessário o trabalho cooperativo em vez da manutenção permanente da disputa Observando os movimentos realizados por ministros do Governo Federal, em especial pelos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, e pelo governador Beto Richa, em direção à Capital, é de se supor que os movimentos eleitorais dos dois campos políticos que disputam a hegemonia nacional, com o PT capitaneando de um lado, e o PSDB do outro, já começaram. Beto Richa dá um passo a mais em sua estratégia ao criar dificuldades para a candidatura de Gustavo Fruet, a ponto de este sair do PSDB em busca de outro ninho, que lhe proteja em seu voo na disputa eleitoral do ano que vem. Prefeito e pré-candidatos se revezam na pajelança a seus aliados. Uns aplaudem visitas, outros a liberação de recursos para obras e serviços. Mas todos são pródigos em buscar agendas com seus parceiros, seja para obter vantagens orçamentárias, seja para mostrar prestígio junto ao eleitorado local. Até que ponto esses apoios contribuirão para o sucesso nas eleições do próximo ano? Resposta difícil de encontrar, mas que vale algumas especulações. Em minha opinião, os apoios serão absolutamente relativos, como foram nas eleições de 2008. Arriscaria dizer que assim como lá, terão papel absolutamente residual. Por isso, penso que o candidato, que apostar na capacidade de transferência de voto e apoio do governador, de deputados, senadores, ministros ou mesmo da própria presidenta, pode estar no caminho certo para dar com os “burros n’água”. O eleitor é bastante inteligente para entender e relativizar esse apoio. Portanto, para ele, esses apoios não são determinantes. E, no caso brasileiro, isso fica cada vez mais evidente com o movimento que a política nacional faz para uma polarização entre dois grupos. No caso do Paraná, o eleitor sabe que o vitorioso em sua cidade poderá ter mais trânsito para a liberação de recursos junto ao Governo do Estado e, se for de outra posição, será melhor junto ao Governo Federal. Essa 20 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

realidade na aritmética eleitoral dos brasileiros e, em Curitiba ainda mais forte, zera a questão dos apoios. Nesse quadro, pesarão mais os valores individuais, as propostas e o histórico dos candidatos para a definição do voto. O eleitor sabe muito bem separar o que efetivamente está em debate nas eleições municipais, assim como, é ele quem constrói a agenda eleitoral, é ele quem delimita o espectro do debate. E para isso, ao contrário do que alguns pensam, não lhes falta inteligência. Nas eleições municipais, o eleitor quer saber das propostas para melhorar seu dia a dia na cidade onde mora. Os atributos pessoais são valorados na hora da escolha, mas pesará mais as propostas e, em especial, a capacidade demonstrada pelo candidato para realizá-las. Por isso, aí vai a dica, candidato. Ao avaliarem as suas estratégias não sobrevalorizem os seus apoiadores. Pense primeiro em você mesmo e em seu programa de governo. E, principalmente, se você será capaz de, durante a campanha, convencer corações e mentes de que sua capacidade para fazer é maior do que a de seus adversários. E, aqui, a vantagem de quem disputa a reeleição é grande.


mensagens dos leitores

Mensagens do(a) Leitor(a) As cartas da Revista MÊS são de mensagens enviadas à redação por correspondência ou de recados deixados em nosso perfil no Twitter: @mes_pr ou no Facebook: MÊS Paraná. Participe! Bolsa Financeira (da repórter Mariane Maio) Ficou excelente! Está de parabéns, muito profissional. Rui Felipe

Li a revista ON LINE!! Ficou muito legal a reportagem. Parabéns pela sua competência! Kelly Tannylly Schmidt Balbinot Resposta: Para quem também não recebe ainda a Revista MÊS na versão impressa, você pode acessar o link: http://issuu.com/revistames . Todas as edições estão disponíveis por lá para ler e encaminhar aos amigos.

Leitura recomendada A melhor publicação do gênero em nosso Estado. Francisco Dely, jornalista, Jornal Gazeta do Estado

Parabenizando

Prezados da Revista Mês, Venho por meio deste agradecer o envio da revista a Florianópolis e parabenizá-los pela qualidade dos textos, fotos e reportagens. Gostei sobretudo da contra capa que traz reportagem sobre a questão do impresso e digital com o ilustre escritor Laurentino Gomes, tema também da minha dissertação de mestrado. Um super abraço e sucesso! Andressa da Costa Farias

Assinatura Renata Froening Adorei a nova edição! E parabéns pela agilidade na entrega! A revista sempre chega muito rápido na minha casa! João Paulo Mehl Muito boa reportagem [Capa: Filhos da Insegurança], a neura da insegurança acaba gerando pessoas inseguras, pouco dispostas ao risco, a ousadia e criatividade. Parabéns ao pessoal da Mês Paraná

Gostaria de receber a revista em meu endereço. Raphael Travenssoli Muito boa a revista. Tô morando em SC e o Paraná sempre dá saudades. Como faço pra assinar?

RESPOSTA: Envie seu endereço de correspondência para o contato – assinatura@revistames.com.br e comece a receber a sua MÊS em casa.

Juliana Hasse - @mes_pr está melhor a cada edição. #recomendo 3W Mobile - @mes_pr Parabéns pela reportagem sobre internet móvel da edição deste mês. Cada vez mais o brasileiro usa o smartphone no seu dia a dia. Dione Junges - @mes_pr Gostei Bastante do trabalho de vocês. Distribuição gratuita que geralmente configura algo com menos qualidade, não é a realidade de vocês. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 21


cidades

O difícil andar pelas calçadas curitibanas A polêmica é antiga, mas a população continua a se queixar da qualidade dos passeios da cidade; regulamentação recente só dá conta de novas calçadas

N

Iris Alessi - iris@revistames.com.br

ão é preciso caminhar muito por Curitiba (PR) para encontrar obstáculos, buracos, entre outros empecilhos nas calçadas. Muitas delas têm pedras soltas, irregularidades na superfície, lugares sem

22 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

acesso para pessoas com dificuldades de locomoção, degraus ou estão deterioradas. Esses itens são alguns dos problemas citados pelos curitibanos. A reportagem da Revista MÊS foi às ruas e conversou com moradores da cidade. Todos os entrevistados queixaram-se de problemas nos

passeios e alguns deles relataram já ter sofrido algum acidente por conta da má conservação das calçadas. “Tem bastante pedra solta. Esses dias, eu até escorreguei, bati o joelho no chão”, conta a auxiliar de laboratório, Rosa Teixeira. O consultor de indústria de confecção, Osiris Ribeiro da Silva, ressalta as belezas da cidade, mas pondera que “em compensação, as calçadas acabam com todos esses pontos positivos que Curitiba tem”. Ele brinca que tem uma teoria de que as


Todos os entrevistados queixaram-se de problemas nos passeios

Moradores José Andrade

Para ele, um dos maiores problemas das calçadas é o mobiliário urbano

calçadas foram construídas à base de lobby de ortopedistas e sapateiros.

Dificuldades

Rosa Teixeira

Para as mulheres, há outro agravante quando existe a má conservação das calçadas. O uso de salto alto. “Para nós que usamos salto, é terrível. Nós temos que estar toda a semana trocando ‘taquinho’. É complicado”, diz a administradora Marion Saboya. Um dos problemas apontados por ela são as tampas de ferro mal colocadas nas quais, muitas vezes, acaba engatando o salto.

“Esses dias eu até escorreguei e bati o joelho no chão”, relata

Marion Saboya

“Nós temos que estar toda semana trocando ‘taquinho’”, conta

Com a necessidade da ajuda de uma bengala para andar, o afinador de pianos, José Olavo Silva, é enfático quando perguntado o que ele acha das calçadas de Curitiba: “péssimas”, responde. Ele diz que precisa tomar todo o cuidado enquanto anda, para não cair e não se machucar.

Osiris Ribeiro

“As calçadas acabam com [...] os pontos positivos que a cidade têm”, avalia

A polêmica é antiga, mas os problemas continuam se agravando. As reclamações dos pedestres são recebidas pela Prefeitura por meio da central 156. De acordo com o Departamento de Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), apenas na Regional da Matriz, são recebidas entre 12 e 15 reclamações sobre calçadas por semana. Conforme o diretor de Fiscalização da SMU, Nelson Roberto Gapski, “a grande maioria [das notificações em calçadas] é por reclamação, porque o melhor fiscal que tem é o público”. Segundo o diretor de Fiscalização da SMU, o principal problema encontrado nos passeios da Capital é a deterioração das calçadas. Para tentar melhorar a qualidade, desde 2006, há um decreto que regulamenta padrões para a construção de novos passeios. Segundo Gapski, há três padrões na cidade que são o paver, o CBQU (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), que é o asfalto, e placas de concreto. “E define que a calçada pode ter uma inclinação máxima de 2%

José Olavo Silva

Fotos: Roberto Dziura Jr.

Roberto Dziura Jr.

Fiscalização

“Péssimas” é a opinião dele sobre as calçadas em Curitiba

para garantir a acessibilidade, não pode ter obstáculos”, completa o diretor. O decreto ainda define que nas esquinas devem ter rampas de acesso para as pessoas portadoras de necessidades especiais.

Novos padrões No entanto, os padrões estabelecidos recentemente que visam regulamentar as novas construções, não incluem as calçadas que já estão construídas. Para Gapski, não é possível fazer uma notificação geral de todas as calçadas na cidade. “À medida que os novos alvarás são apro-

vados, já é exigido o passeio de acordo com o novo decreto. Eles vão ter que se adequar ao novo decreto, aos novos padrões”, explica o diretor. A responsabilidade pela manutenção das calçadas é dos proprietários dos imóveis que ficam em frente e, no caso de lugares públicos, como praças, calçadão, em frente a prédios públicos, é dever da administração pública local. Os imóveis que tenham calçadas no padrão antigo e que apresentem problemas de acessibilidade ou obstáculos são notificados para que as reparem. “Quanto a sequência após a notificação, na hipótese do proprietário não atender ao solicitado, ele será multado em R$ 550. Caso persista a infração, o 2º Auto será o dobro (R$ 1.100)”, informa Gapski. Para o engenheiro de trânsito e diretor da Perkons, José Mario de Andrade, o problema inicial das calçadas é justamente porque quem faz a obra é o proprietário e cada um acaba construindo sem padrão. “É cada um cuidando de sua própria calçada”, completa Andrade.

Cada um por si A falta de padronização começa, de acordo com Andrade, quando algumas pedras de um passeio, como no caso das calçadas feitas de petit pavet, se soltam e muitas vezes no conserto elas acabam perdendo a uniformidade. “É o grande problema do aspecto físico das calçadas. Agora, as calçadas têm outros problemas que é o uso do mobiliário urbano sem um determinado padrão”, analisa Andrade. O mobiliário urbano é considerado por Andrade um dos maiores problemas em Curitiba e não só na Capital. Por não ter uma padronização, é difícil tratar da acessibilidade das pessoas com dificuldade de locomoção. “Hoje eu diria que, especialmente para as calçadas, uma grande prioridade que a gente precisa fazer é dar atenção a esse pessoal”, aponta o engenheiro. Ele ainda ressalta uma das qualidades das calçadas curitibanas comparadas com outros lugares que conhece: são amplas para se caminhar. No entanto, muitas vezes, os proprietários não percebem a diferença na vida das pessoas que o seu pedaço tem no contexto do passeio. Para Andrade, é preciso haver uma maior consciência para que se construa uma calçada de qualidade e que possa servir como um benefício a todos. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 23


educação

Aprender de qualquer lugar Facilidades do ensino à distância estão fazendo a modalidade atingir altos índices de crescimento; vagas oferecidas aumentaram 22.000% em oito anos Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

C

rescimento talvez não seja a melhor palavra para definir os últimos anos do desempenho da educação à distância (EAD) no Brasil. Crescer seria eufemismo diante dos altos índices atingidos. Em apenas oito anos, o número de vagas oferecidas saltou quase 22.000%, passando de 6.856 para mais de 1,5 milhão de vagas, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Governo Federal. Dados do Censo da Educação Superior, feito anualmente pelo Inep, mostram também que em 2001 havia 6.618 inscritos

24 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

em cursos de graduação à distância. No último balanço divulgado e realizado em 2009, esse número já havia saltado para 308.340 pessoas inscritas. “A proporção de alunos de educação à distância tá aumentando muito em relação à presencial. Antigamente, EAD representava 1% do total e agora está ficando cada vez mais expressiva”, afirma o diretor-executivo das Faculdades FAEL, Mauricio Nunes. A versatilidade geográfica, flexibilidade de horários e o custo mais baixo são alguns dos motivos que fazem os alunos optarem pelo ensino não presencial. “O horário quem faz sou eu. Se eu não posso ir a um curso presencial, das 19h até as 22h30, eu posso muito bem fazer a disciplina no final de semana ou de manhã”, afirma Sandro Niemicz, programador visual gráfico e estudante de especialização à distância em Novas Tecnologias. Com conhecimento de causa, Niemicz – que já tentou fazer uma especialização presencial – garante que esse fator faz toda a diferença. “Eram duas vezes por semana.

No começo fui bastante para aula, mas depois começou a gerar muito serviço, pois eu trabalho em uma editora, e não ia pra aula. Por isso, escolhi uma a distância”, conta.

Vantagens Para Nunes, a abrangência que o ensino não presencial atinge também é um dos motivos pelo grande aumento nos últimos anos. “O ensino à distancia permite que se chegue com ensino superior em pontos mais distantes, que não seriam atendidos de outra forma. Locais distantes, longínquos de grandes centros, onde não tem uma faculdade presencial, nós conseguimos chegar. Conseguimos dessa forma, levar a educação de nível superior de uma forma mais pulverizada pra maior parte da população sem que aja necessidade de deslocamento”. De acordo com Jurema Ortiz, gerente de produção editorial da Aymará Educação, empresa que produz materiais de ensino à distância, o EAD é a possibilidade de multiplicar conhecimento para muitas pessoas. Um grande facilitador para essa


No último balanço divulgado (2009), 308.340 pessoas estavam inscritas em EAD

nova realidade, na opinião da gerente, foi a popularização da tecnologia. “Aqui no Brasil, o Instituto Brasileiro é um dos pioneiros que oferecia e oferece cursos à distância, tudo por correspondência. Isso é educação à distância. O que acontece é que por conta das tecnologias ouve um boom da modalidade”.

Outros públicos Outro campo atingido pela EAD é o corporativo. Muitas empresas decidiram se aliar a essa tecnologia para treinamentos e capacitação. “Não só formar, como aprimorar aquele funcionário que está na sua prática. A qualificação é uma preocupação bem grande das empresas que viram na EAD a possibilidade de, com baixo custo, atender várias pessoas”, afirma Jurema Ortiz, da Aymará Educação.

Desafios

Para Nunes, já se comprovou que a qualidade do EAD é igual ou superior ao ensino presencial. No entanto, para obter os resultados é preciso uma dose extra de disciplina do aluno. “O aluno tem de realmente estudar. Não pode só frequentar uma aula que não vai ter o desempenho e o aprendizado. A metodologia é o que a gente chama de ‘estudo centrado no aluno’. Nós fornecemos todo o material, o subsídio. Mas ele tem de ter a iniciativa de estudar em casa”, explica o diretor da Fael. Antes de se matricular na especialização à distância, Sandro Niemicz admite que também ficou receoso. “Você entra com aquela dúvida se vai dar certo, se é um curso fácil demais, se não está pagando só para ter um diploma. É difícil, você tem de estudar e colocar a cara nos livros. Você se obriga a ir atrás, porque tem de

Para Mauricio Nunes, a tendência é que se tenha um misto de presencial e à distância

aprender. Entrei com dúvida e estou saindo satisfeito”, garante. Um dos pontos que diferenciam as modalidades de educação convencional e a distância é a perda do contato com os colegas e a saudável troca de experiências. No entanto, para Mauricio Nunes, “a tendência é que a gente chegue a um misto de presencial e à distância. Que haja uma mescla das duas tecnologias [...] A interação presencial ainda é importante em alguns momentos, até para a pessoa conhecer quem é o outro que fala tanto pela internet. Mas cada vez mais a EAD vai tomando o espaço do presencial. A tendência é que aja uma mescla, mas com uma participação maior do ensino à distância”, observa o diretor. Fotos: Roberto Dziura Jr.

Roberto Dziura Jr.

Apesar de todos os benefícios, a modalidade ainda passa por desafios. “É claro que tem todo um ranço que existe em relação à educação à distância, quanto à eficácia, credibilidade, mas essas coisas já estão diminuindo. Até por conta da fiscalização do MEC [Ministério da Educação], que é uma coisa muito séria”, destaca Jurema.

Também a EAD está atendendo com êxito os portadores de deficiência. Moradora da cidade de Lapa (PR), Patrícia do Rocio Scheffer Kovalski, teve uma deficiência auditiva detectada aos dois anos. Amante de crianças e com vontade de ensinar, ela decidiu fazer o curso de Pedagogia e optou por um curso à distância, pois era o que mais se adequava às suas necessidades. “Gostei da metodologia e também poderia contar com os intérpretes de libras”. Segundo Maurício Nunes, os cursos de EAD são acessíveis aos alunos portadores das mais diferentes deficiências. “Cem por cento das nossas aulas têm tradução em libras. Para os alunos com problemas visuais, nós temos materiais em braile ou material ampliado”, exemplifica.

À distância Como identificar uma instituição de EAD idônea? Deve estar formalmente autorizada pelo MEC no caso de cursos superiores

1

Consultar no sistema de busca do MEC dos pontos de atendimento aos estudantes (polos) que sejam regulares: www.siEAD.mec.gov.br

2

Verificar junto ao MEC e órgãos públicos se há denúncias graves ou irregularidades da instituição desejada

3

Consultar estudantes da instituição para averiguar se há algum problema na oferta dos cursos

4

O estudante de especialização em EAD, Sandro Niemicz, admite que entrou com receio do método, mas está saindo satisfeito

Fonte: MEC

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 25


saúde

Aos 40, sem o peso

da idade Após a quarta década de vida, as pessoas passam invariavelmente por mudanças físicas e psicológicas; veja como retardar os efeitos

P

Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

arafraseando o pensador chinês Confúcio, “qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”. Muito se discute sobre a idade do corpo e da alma. O estadista e escritor Benjamim Franklin acredita que “aos 20 anos, a vontade é soberana; aos 30, o espírito; aos 40, a razão”. Para o escritor irlandês, Oscar Wilde, “experiência é simplesmente o nome que damos aos nossos erros”. O certo é que, para a maioria das pessoas, o passar dos anos costuma trazer mais sabedoria e paciência. A experiência costuma ensinar. Mas essa dose de “novas qualidades” vem acompanhada de claros sinais do tempo, principalmente, para a saúde. Encarar o passar dos anos com bom humor e a mente sã contribui bastante, mas negar o peso da idade não é exatamente uma opção. As mudanças, tanto físicas quanto psicológicas, aparecem inevitavelmente. Nas mulheres, essas transformações são ainda mais evidentes. “Várias são as mudanças no organismo ao longo da vida, mas podemos perceber com mais propriedade após os 40 anos, as alterações provenientes da fase de involução gonadal (chamada de fase climatérica), dando os sintomas comuns como ‘calorões’, desânimo, diminuição da libido, irritabilidade, diminuição da densidade óssea, insônia, pele ressecada, entre outros”, explica o ginecologista e obstetra Dr. Cezar Presibella Júnior.

A sensação de estar à beira de um colapso é comum em algumas mulheres, conforme afirma o médico. As sensações variam de pessoa para pessoa, mas as mulheres que entram nessa fase da vida têm, comprovadamente, “aumento do risco de doenças cardíacas, diminuição da densidade óssea (risco de osteoporose) e aumento na incidência de doenças graves das mamas e ovários”, diz o médico. 26 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Banco de imagens

Os reflexos


Fotos: Roberto Dziura Jr.

Após os 40 anos, muitas mulheres têm a sensação de estar à beira de um colapso Ele explica que é natural as mulheres terem menos massa magra e mais tecido adiposo. “Até os 40 anos, o estrogênio estimula o acúmulo de gorduras nos quadris, enquanto nos homens a gordura é depositada na região abdominal, que é perigosa para a saúde. Depois dos 40 anos, o nível de estrogênio das mulheres começa a diminuir, enquanto a testosterona sobe. Por isso, muitas mulheres começam a acumular gordura no abdômen”, esclarece. Outra doença que acomete muitas mulheres após os 40 anos é o hipotireoidismo que é o distúrbio da falta de hormônio da tireóide. “A incidência aumenta com a idade e é muito mais prevalente em mulheres. As suas consequências são as mais diversas possíveis. Classicamente seriam sono em excesso, desânimo, ganho de peso, letargia e queda de cabelo”, explica o ginecologista.

Os olhos sentem Outro problema enfrentado após os 40 anos são os relacionados à visão. Segundo o oftalmologista Dr. Luiz Geraldo Simões de Assis, 100% das pessoas após essa idade, vão ter dificuldades para enxergar de perto (presbiopia). “O olho tem duas lentes naturais. A córnea e a cristalina. Essa segunda é a responsável pela acomodação. Os músculos começam a ficar menos eficientes, porque ficam mais rígidos”, explica. Mais cedo ou mais tarde, todos sofrerão da famosa vista cansada. É comum as pessoas dessa faixa etária comentarem de que é preciso ter os braços mais longos, em alusão ao problema para enxergar de perto. A correção desse problema pode ser com o uso de óculos ou com intervenções cirúrgicas. “A cirurgia é recomendada para aquelas pessoas que não querem usar os óculos para ler”, comenta Assis. O procedimento a laser é rápido e bastante preciso. “Tratamos um grau em aproximadamente dois segundos. A cirurgia refrativa evoluiu muito em segurança e resultado”, lembra o oftalmologista. A tecnologia disponível permite que sejam medidas as particularidades de cada olho do paciente. “Você vai primeiro en-

Segundo o médico, 100% das pessoas após os 40 anos vão ter dificuldades para enxergar de perto

tender quais são as necessidades, os exames e qual o melhor tratamento possível”, garante Assis. A advogada Geni Propst (51) se submeteu a uma cirurgia para melhorar a visão e, consequentemente, a qualidade de vida. Ativa profissionalmente, Geni observou seu problema piorar após os 40 anos, o que estava dificultando seu desempenho no trabalho. “Eu leio muito e fico em frente ao computador. Antes [da cirurgia], mesmo usando óculos tinha uma visão debilitada. Agora estou enxergando muito bem”, assegura. Os problemas de visão de Geni não afetavam apenas o lado profissional. Ela conta que uma época ficou praticamente dependente de seu marido para se locomover. “Para dirigir, eu tinha muita insegurança. Você enxergar e depois quase não enxergar, é muito difícil”, lembra.

Geni Propst escolheu se submeter a uma cirurgia para melhorar a visão e a qualidade de vida

Retardando o efeito A fórmula do não envelhecimento ainda não foi descoberta. Mas algumas atitudes podem sim retardar os sintomas da idade. Para os olhos, o oftalmologista recomenda sempre ler em locais iluminados. Além disso, quando as dificuldades começarem a aparecer é o momento de insistir um pouco mais. “A pessoa deve forçar o que puder para poder enxergar sem os óculos. No momento que a gente prescreve, tiramos esse restinho de acomodação que o organismo vinha fazendo. Os óculos só devem ser prescritos quando já não consegue mesmo ler”. Para o ginecologista Cezar Presibella Júnior, a fórmula para retardar o envelhecimento passa pelos conselhos milenares. “Levar a vida com menos estresse, ter alimentação saudável e variada, boa hidratação, praticar exercício físico de forma regular, mas sem excessos, não fumar, dormir bem, se preocupar menos, sorrir mais, brigar menos e ir frequentemente ao seu médico”, são atitudes necessárias para tentar sentir menos o “peso da idade”. Geni garante que se pudesse voltar no tempo teria atitudes diferentes. “Teria pensado mais na minha saúde. Pensei em trabalhar, fazer o que eu achava que era minha obrigação e esqueci que eu tinha um físico que um dia ia sentir as consequências”. Mas já que não se pode mudar o passado, o caminho é se aceitar. “Tem de fazer uma adaptação mental para saber que isso é da idade e aceitar”, complementa a advogada. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 27


economia

Cidadania empresarial Lei federal permite que autônomos sejam empreendedores individuais, pagando baixos impostos; no Paraná, já são mais de 65 mil formalizados Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

A

pós 13 anos de espera, Valdir Novaki conseguiu da Prefeitura de Curitiba a liberação de um ponto para, enfim, montar o seu próprio negócio: um carrinho de pipoca. “Só tenho a quarta-série primária e todo lugar hoje exige estudo. Quando percebi que as portas estavam se fechando para mim, resolvi abrir um carrinho de pipoca”, lembra Novaki, explicando que veio de uma família pobre

28 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

e, que por conta disso, não teve oportunidades de avançar nos estudos. Apesar de pouco estudo, desde o começo Novaki mostrou ter faro para os negócios. O pipoqueiro conta que usou o tempo de espera da liberação do alvará de funcionamento para estruturar o projeto e analisar os concorrentes dessa área. Quando iniciou seu negócio já tinha um serviço diferenciado para oferecer. Deu certo. Em cinco anos, aumentou em 15 vezes a venda de seu produto.

O diferencial está em pequenos detalhes. Começa por oferecer uma pipoca feita na hora e com uma higiene impecável. Toda manhã ele e a esposa, Lenice Ferreira de Souza, demoram duas horas na limpeza do carrinho. Eles também utilizam uniformes personalizados com o dia da semana estampados no bolso, para que o cliente tenha certeza de que trocaram o avental do dia anterior. Mas o “charme” fica por conta do kit higiene. Quando o cliente compra a pipoca vem junto um guardanapo de papel, uma bala de hortelã e um fio dental. E os destaques continuam. A Pipoca do Valdir oferece um cartão fidelidade, que a cada cinco pipocas, o cliente ganha uma, e


Rodolfo Buher / La Imagen

São 439 áreas de atuação que podem se cadastrar no MEI também tem a promoção “OBA!!!Dúzia de 10”, um cartão pré-pago em que o cliente compra antecipadamente 10 pipocas e depois de consumir todas, tem direito a duas gratuitamente. As ideias inovadoras de Novaki não afetaram o preço de seu produto – R$ 2,50 o pacote grande – mas com certeza mudaram sua vida. Constantemente, ele é convidado para dar palestras de motivação em grandes empresas e universidades. Com a renda do carrinho e das palestras, Novaki sustenta a família. “O meu maior sonho é ver meu filho formado, porque eu não tive a oportunidade de estudar”, afirma.

A lei federal (Lei Complementar nº 128/08) que garante que autônomos de 439 áreas possam se formalizar pagando impostos e taxas muito baixas, trouxe outra perspectiva para este cenário. Hoje, o valor fixo mensal pago para o microempreendedor é de R$ 28,25 (comércio ou indústria) ou R$ 33,25 (prestação de serviços). Este dinheiro é destinado à Previdência Social e ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) ou ao Imposto Sobre Serviços (ISS). Os demais tributos federais são isentos. O custo reduzido tem sido o chamariz para que cada vez mais os autônomos procurem legalizar sua atividade. Valdir Novaki aproveitou a oportunidade para garantir os benefícios previdenciários, conseguir o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e poder comprar dos fornecedores com um prazo maior de pagamento. Futuramente, pretende ainda disponibilizar máquina de cartão de crédito para os clientes.

Roberto Dziura Jr.

bolsou em máquinas de costura. Com a avó e mãe costureiras, a jovem disse ter “herdado” o dom. Em um mês, que ficou desempregada, ela já fez algumas peças de roupas e vendeu para familiares e vizinhos. “Deu para ganhar uns R$ 500”, afirma ela, que pretende aderir ao programa do MEI para abrir uma confecção e mais para frente uma pequena loja. “Sei que fazendo isso, eu tenho como crescer”.

Vantagens

Formalização Desde 2008, trabalhadores autônomos como Valdir tem a oportunidade de se formalizar por meio do sistema de Micro Empreendedor Individual (MEI) do Governo Federal. Segundo o Sebrae, existem cerca de 65 mil empreendedores individuais formalizados no Estado. Mas esse número poderá ser ainda maior. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou que em 2003 existiam no Paraná cerca de 550 mil pessoas na informalidade.

As amigas foram conhecer à Feira do Empreendedor Individual e, no dia seguinte, já voltaram para se formalizar

“Isso é uma coisa que a gente jamais imaginava que podia acontecer para nós vendedores ambulantes. Com todos os benefícios que qualquer outra pessoa tem, com auxílio doença, direito à aposentadoria. Foi uma novidade e tanto! Por isso, procurei o mais rápido possível me formalizar”, explica o pipoqueiro que trabalha há cinco anos com o carrinho. Outras pessoas também estão entrando nessa onda da cidadania empresarial. As amigas Andréia Vanine Meier e Vanessa Gomes estiveram na Feira do Empreendedor Individual, realizada pelo Sebrae-PR, no final de junho, em Curitiba, para saber das vantagens desse sistema. No dia seguinte, já voltaram ao local para entregar a documentação. Há quatro anos, Andréia vende bolsas e bijuterias com a parceria da amiga Vanessa. “Faço para ter um dinheiro para mim, sem ter de ficar pedindo para o meu marido. Tenho um filho de sete anos. Quando era solteira trabalhava, mas agora não tem como sair. Deixo ele à tarde na escola e marco com as clientes”. Apesar das vantagens de trabalhar de forma mais livre, como autônoma, a não formalização a incomodava e se convenceu de ingressar no MEI. “Gostei, porque posso ter meu CNPJ, não pagar muito imposto e ainda pegar a maquininha [de cartão de crédito]”, conta. Recém-saída de um emprego com registro em carteira, Jéssica Ramos Santos de Oliveira, investiu o dinheiro que em-

Para o diretor-superintendente do Sebrae-PR, Allan Marcelo de Campos Costa, a pessoa ao se formalizar passa a ter cidadania empresarial. “A pessoa sai da marginalidade e passa a fazer parte da economia de verdade. Dessa forma pode, por exemplo, emitir nota fiscal, contratar um funcionário e ter vantagens do ponto de vista social, pois passa a contar com a previdência social.”, explica. Rainer Zielasko, presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), concorda com a afirmação. “A informalidade é o pior dos cenários, porque a pessoa não existe, não tem a sua previdência e fica à margem dos processos legais”, diz. De acordo com ele, cada vez mais “o grupo de líderes de opiniões de uma cidade deve levar a informação aos seus habitantes para que eles venham para a formalidade e possam, com isso, sonhar em ter uma empresa que no futuro pode se tornar grande”. Segundo Costa, o principal desafio “é desmistificar pro empreendedor qual é a vantagem de se formalizar e fazer com que ele entenda que isso não é um processo que visa fiscalizar e saber quanto ele está faturando, se trata efetivamente de um instrumento de cidadania, que permite aos informais que se formalizem e passem a ter vantagens”. Tem direito ao benefício, o trabalhador autônomo que fatura até 36 mil por ano, tem até um empregado e se encaixa na lista das mais de 439 áreas. De acordo com o coordenador estadual de Políticas Públicas do Sebrae-PR, Cesar Rissete, quem precisar de mais informações pode procurar qualquer escritório do Sebrae ou ligar no 0800-570 0800 (de segunda a sexta das 8h às 20h). REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 29


economia

Um Brasil de perspectivas Pesquisa da FGV aponta que nos últimos 21 meses mais de 13 milhões de brasileiros subiram para as classes ABC; desde 2003, já são 50 milhões de pessoas

O

Iris Alessi - iris@revistames.com.br

s números são do estudo “Os Emergentes dos Emergentes – reflexões globais e ações locais para a nova classe média brasileira”, apresentado em junho pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além da positiva realidade atual, as perspectivas são também promissoras, como mostra o índice da estabilidade econômica. “A chance de um indivíduo permanecer na classe ABC no período mais recente (terminado em 2011) é 2,8 vezes maior que a apresentada no início da série”, apresenta o estudo. O primeiro impacto dessa mudança entre as classe sociais foi o crescimento do consumo, aponta o coordenador do Curso

30 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Superior de Tecnologia (CST) em Logística da UniCuritiba, Glavio Leal Paúra. “Você tem um número de pessoas muito maior comprando produtos que antes eram considerados sofisticados”, explica o coordenador. Assim, os consumidores que ascenderam têm mais anseios e criam novas necessidades. Na Capital paranaense, a renda média da população é de R$ 1.569,96, valor que configura o 13º lugar no ranking nacional e o primeiro na lista das cidades paranaenses, conforme a pesquisa.

Consumo A aquisição de bens duráveis e não duráveis passaram a fazer parte da vida do

brasileiro. Por isso, muitas empresas já visam esse novo mercado consumidor. O presidente da rede de lojas Marisa, Marcio Luiz Goldfarb, diz que a empresa já vem se preparando para atender este novo mercado consumidor. “Chegou a hora. Há três anos que a gente vem sentido realmente uma mulher madura, chefe de família, com poder aquisitivo, procurando qualidade, procurando custo-benefício nos preços”, avalia o presidente. Para atender esse novo público, a empresa investe em pesquisas. “Na medida em que as populações baixas tenham condições de consumo, vai aumentar significativamente o consumo de produtos industrializados e, consequentemente, vai inserir em novas opor-


tunidades de industrialização”, enfatiza o sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), Lindomar Wessler Boneti. São mais de 13 milhões de brasileiros que nos últimos meses (21) tiveram a conta bancária maior e imprimiram no País um novo padrão de vida. Nos últimos oito anos, foram mais de 50 milhões de pessoas que ascenderam de classe, mais que uma Espanha, em termos comparativos.

Roberto Dziura Jr.

Com isso, a noção de felicidade também melhorou. A pesquisa da FGV aponta que o Brasil é o país com o maior índice de felicidade futura dos Brica (grupo de países em desenvolvimento que contém: Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul), atingindo 8,7, numa escala de 0 a 10 pontos. Mas nem tudo é positivo. Uma das consequências desse aumento no consumo é o endividamento de algumas famílias. As pessoas acabam parcelando os produtos e dando o passo maior que a perna, como diria no jargão popular. “As pessoas não estavam preparadas para um dinheiro. A gente não tem uma educação financeira desde a base”, comenta o coordenador.

Emprego A geração de emprego no País também é uma dos resultados do desenvolvimento da economia. Há oportunidades de trabalho sendo criadas em diversos setores da economia. No entanto, a falta de preparo dos trabalhadores tem dificultado o maior crescimento da economia nacional. Conforme o diretor-presidente da empresa prestadora de serviços Higi Serv, Adonai Aires de Arruda, o setor em que atua hoje sofre com a falta de pessoal. Um dos motivos é a migração desses trabalhadores para outros setores, como a construção civil que, por estar num momento aquecido, pode pagar mais. A falta de trabalhadores acaba, por vezes, limitando o crescimento das empresas. “Aqui na minha empresa, se eu tivesse mão de obra disponível, a gente estaria crescendo entre 10% e 15%”, lamenta Arruda.

De acordo com o estudo da FGV, entre janeiro e abril deste ano, foram criados 798 mil novos postos de trabalho com carteira assinada. O número é o terceiro maior para o período desde 2000, perdendo apenas para os anos de 2010 e 2008 em que foram gerados 962 mil e 849 mil novas vagas, respectivamente. Também de acordo com o estudo, não há sinal de desaceleração na abertura de novos postos de trabalho.

Educação Além das oportunidades de emprego, a educação tem colaborado para o desenvolvimento da economia e das classes sociais, de forma fundamental. A aquisição de novas habilidades e de novos saberes, de acordo com Boneti, é um dos fatores que ajuda as pessoas a se inserirem no social. Da mesma forma analisa Paúra, quando afirma que as pessoas passam a buscar mais qualificação com o intuito de buscar novas oportunidades de emprego. “Creio que a consequência do desenvolvimento da classe social foi você ter dado mais educação à população”, avalia o coordenador. Para Boneti, também dois outros fatores contribuíram para que a renda da população menos abastada seja maior hoje: as novas alternativas de empregos e as políticas sociais do Governo Federal nas últimas décadas. “O Brasil tem uma tradição de ser governado pela elite e para a elite. Nos últimos tempos tem se quebrado, um pouco, essa lógica. Então, começa a se perceber que na medida em que as classes populares tenham melhores condições de compra, eles se transformam em potenciais consumidores e, com isso, o movimento [da economia] se amplia e todo mundo sai ganhando”, completa.

Desigualdade A curva de decréscimo das classes DE e a de crescimento da classe C se cruzaram e já se distanciam no gráfico das castas sociais. Enquanto a linha da pobreza extrema cai, a linha da classe média tem crescido a olhos vistos. As classes DE caiu de 96,2 milhões de pessoas, em 2003, para 63,6 milhões de brasileiros. A classe C, por sua vez, tem 105,4 milhões de pessoas, segundo o estudo da FGV.

Roberto Dziura Jr.

O primeiro impacto dessa mudança entre as classe sociais foi o crescimento do consumo

A redução da desigualdade deve-se, principalmente, ao desenvolvimento da economia, comenta Paúra

Com mais pessoas ascendendo às classes ABC, a base (mais pobre) da pirâmide social do Brasil está ficando menor. Para Bonetti, a redução dessa base torna o país menos “vergonhoso”. “Porque outrora tínhamos uma base extremamente volumosa, larga. [...] fazendo com que o Brasil fosse assim, 10% da população contava com 80% da renda nacional”, avalia. Para Paúra, não é possível dizer ainda que o Brasil vá zerar a desigualdade, mas que ela já está sendo reduzida, sim. “Claro que incentivos como o Bolsa Família contribuíram, mas o principal fato é o desenvolvimento econômico do Brasil. No que diz respeito à economia, nós somos o sétimo país do mundo. Isso não é pouca coisa”, completa. No entanto, o resultado da pesquisa dá um alerta para esse Brasil cheio de perspectivas. “É preciso ir além e ‘dar o mercado aos pobres’, completando o movimento dos últimos anos, quando pelas vias de queda da desigualdade ‘demos os pobres aos mercados (consumidores)’”. Nesse panorama, é essencial crescer na educação formal, na educação profissional, no microcrédito, na formalização, no microseguro, interação público-privada, serviços produtivos e olhar para a demanda, informa a pesquisa. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 31


tecnologia

Quer pagar quanto? Novo sistema de financiamento democratiza acesso à captação de recursos para projetos criativos; tudo isso graças à tecnologia Arieta Arruda - arieta@revistames.com.br

U

m grupo de amigos cria uma banda em Curitiba. Uyara Torrente, Diego Plaça, Luís Bourscheidt, Rodrigo Lemos e Vinícius Nisi tinham poucos recursos, pouca notoriedade, assim como muitas bandas que surgem na cena estadual. Por paixão à música, desde 2009 trabalhavam em composições próprias e divulgavam o trabalho pela internet. Até aí tudo normal. Colocaram o vídeo da música “Oração” – que tem um interessante plano sequencial e um lúdico encontro de amigos – no dia 18 de maio, no Youtube. Buumm. Foi o suficiente para A Banda Mais Bonita da Cidade explodir nas paradas de sucesso, conquistando mais de seis milhões de visualizações em pouco tempo. A canção ficou na boca das pessoas por mais algumas semanas. A presença na internet, com contas nas redes sociais, transformaram a teia de contatos da banda, inicialmente

32 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

construída no fundo de quintal, em uma dimensão global. Coisas do mundo web.

Sucesso Um dos fatores interessantes desse fenômeno musical paranaense foi que eles levaram à reboque uma nova forma de financiar projetos, utilizando como plataformas a coletividade, a democratização de oportunidades de negócios criativos e a tecnologia como meio de promover esse encontro. Crowdfunding é o nome do sistema de financiamento coletivo que está começando a “bombar” no País. Criado nos Estados Unidos em 2009 chegou ao Brasil no ano passado, com o site Catarse. Tudo começou com a união de dois amigos – colegas de faculdade de Administração – Luis Otávio Ribeiro o Diego Reeberg, de São Paulo, e outro profissional que se agregou ao projeto, o gaúcho e programador Daniel Weinmann. Depois do sistema no ar, dentre os cinco primeiros projetos, quatro deles foram financiados, arrebatando em média R$ 20 mil reais cada um. Mas a maior visibilidade para essa novidade foi a presença de A Banda Mais Bonita da Cidade, que no final de maio financiou a gravação de suas músicas no

o

nc

Ba

ns

ge

ma

i de

Catarse. “O dado mais significativo, além do número de visitação no site que bateu o recorde, a gente tinha seis mil usuários cadastrados. Um mês depois que o projeto [deles] acabou a gente está com 14,5 mil usuários”, comenta Reeberg. “Virou uma febre [...] Hoje, a gente não pode ir contra essa tendência de ter um envolvimento das pessoas pela internet”, confirma o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (Ibef-PR), Nelson Luiz Paula de Oliveira. Segundo ele, esse tipo de sistema traz maior democratização de ideias e “quase uma solidarização dos recursos”, diz Oliveira. Assim, o crowdfunding se configura como nova tendência de mercado.

Perspectivas Para Oliveira, já é possível imaginar que esse tipo de arrecadação possa se estender para além de projetos criativos e migrar também para a reforma de um prédio, a compra de um terreno para uso comum de uma comunidade, por exemplo. “São infinitas as possibilidades”, afirma o vice-presidente. Fato é que esse formato de arrecadar fundos para tirar do papel o projeto funcionou


Roberto Dziura Jr.

O sistema de financiamento coletivo está se consolidando no Brasil bem com o setor cultural, em que o apelo emocional dos investidores é maior e o engajamento também. Agora, os artistas e produtores culturais podem trabalhar com o crowdfunding na perspectiva de uma nova alternativa vinda da massificação do uso da tecnologia. “É um desafio para o artista. Normalmente, ele está muito numa relação viciada com leis de incentivo, com contratos e todos os tipos de patrocínios”, afirma Walquiria Raizer, da produção e agenciamento de A Banda Mais Bonita da Cidade.

Funcionamento O negócio funciona mais ou menos assim: você tem uma ideia interessante, mas não tem grana para bancar, tem perfil empreendedor e não quer correr riscos ou ter intermediários para obter os recursos. Pronto. Você já pode se inscrever em algum site de confiança que ofereça esse modelo de negócio (já surgiram várias alternativas na web). Atenção! É importante divulgar para sua rede de contatos para que eles possam investir e colaborar no engajamento de outras pessoas. “É uma pré-venda, sem risco”, analisa João Caserta, produtor de A Banda Mais Bonita da Cidade. Em troca, as pessoas recebem um produto estipulado. São várias as formas de pagamento. Caso não consiga atingir o objetivo de captação proposto, em um período determinado, o dinheiro dos que já colaboraram é devolvido. Para quem quer investir, o processo é ainda menos complicado. Se tiver interesse em “apostar” em alguma ideia, você paga uma quantia pré-determinada e em troca vai receber o produto investido.

Parte da equipe da A Banda Mais Bonita da Cidade, que financiou em crowfunding o seu 1º CD pessoas de Portugal, Estados Unidos e Itália. Cada música/projeto tinha o valor total de R$ 4 mil. Isso não é o caso de todos os projetos, claro. Mas esse tipo de sistema abre espaço para novas formas de parcerias. O financiamento coletivo está funcionando bem, segundo o criador do Catarse, pois “é o público que define que ideia vai para frente ou não. Se a pessoa quer que essa ideia vá pra frente, ela ‘micropatrocina’ [...] Todo mundo tem a oportunidade”. Dessa forma, pessoas conectadas nas mesmas ideias podem se unir e fazer um projeto acontecer.

Segurança No entanto, para quem quer inscrever o seu projeto ou mesmo financiar alguma ideia que julgue bacana, é preciso tomar alguns cuidados para não cair em armadilhas cibernéticas. Nelson Luiz Paula de Oliveira orienta que se pesquise o histórico do site e verifique se existe algum tipo de reclamação publicada em sites

Catarse O pioneiro no BR

Áreas

Cultural, jornalística e empreendedora

Inscrição

O que é o projeto?, Quanto custa?, Quais as recompensas?, Mais informações

Tempo exposto

Até 90 dias

Pagamento

Cartão de crédito, transferência bancária, boleto e paypal

Taxas

5% do Catarse e 5% a 7% de operações financeiras

O caso da banda curitibana é emblemático. As 903 pessoas que colaboraram financeiramente por 11 músicas inscritas pela A Banda Mais Bonita da Cidade – só uma ficou de fora chamada “Lobotomia” - vão receber as recompensas, conforme sua contribuição que partiram de R$ 10. Segundo a banda, a maior parte das contribuições foi de R$25,00, que tinha como benefício correspondente o CD da banda. A arrecadação do dinheiro teve o período de 34 dias. Ao todo foi captado mais de R$ 52 mil, em 155 cidades de 25 estados do Brasil,

ou redes sociais. Perguntar aos amigos ou pessoas que já usaram aquele site, ver se é idôneo, também é importante. Se for lesado, busque os órgãos de defesa do consumidor. “Precisa se cercar da maior quantidade possível de elementos de segurança”, ressalta Oliveira.

Devolução do dinheiro se o projeto não for bem sucedido ou migrar para outro projeto Cem projetos já foram ao ar, 44 bem sucedidos Seis meses de atividade: R$ 352 mil captados

Novidades Inspiração veio do sucesso norte-americano Kickstarter

Equipe quer ampliar a participação de empresas e firmar parcerias com outros produtores culturais REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 33


agricultura

Em casa, um espaço para

cultivar C

Iris Alessi - iris@revistames.com.br

olher alimentos e temperos fresquinhos parece ser uma exclusividade de quem mora no campo, próximo às plantações, com terra abundante, mas não é. Apesar de, muitas vezes, o espaço em casa ou no apartamento ser reduzido, é possível cultivar algumas hortaliças para consumo próprio. No quintal, em um espaço de 10m², a dona de casa Dulce Inês Cristoff planta diversas hortaliças e temperos. O espaço aos poucos foi se transformando em uma plantação vistosa. A horta produz uma

34 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Alimentos e temperos para consumo próprio podem ser gerados em pequenos espaços em casa; é a “agricultura urbana”

quantidade adequada para o consumo da família e ainda sobra. Mas nada de jogar fora. Dulce sempre oferece aos amigos e vizinhos parte da produção caseira. Para ter a horta sempre em ordem, a dona de casa dedica cerca de meio dia por semana. O resultado desse cuidado todo, ela percebe na hora em que colhe os alimentos frescos e ao saboreá-los. “Até o sabor é diferente. Tudo da horta caseira é diferente”, avalia Dulce.

Dentro de casa Mas não é preciso ter necessariamente um quintal espaçoso para se produzir algu-

mas ervas e temperos. O gastrônomo João Carlos Scalzo, que mora em apartamento, tem um cantinho onde planta diversos tipos de temperos. Temperos esses que ajudam muito em sua profissão. O profissional de Gastronomia considera importante ter uma horta em casa. Segundo ele, as ervas colhidas na hora dão mais sabor ao prato do dia. Além de toda a comodidade de ter alguns temperos em casa, Scalzo ressalta a economia que pode ser realizada com essa atividade, já que não é preciso gastar quase nada para mantê-la. Outro ponto positivo apontado por ele é saber a procedência do alimento. “Você sabe que o


Roberto Dziura Jr.

A diversidade de ervas e hortaliças mantidas em casa pode ser grande que você planta não tem agrotóxico, sabe de onde vem”, salienta o gastrônomo, que considera a atividade uma espécie de terapia. “Você tem que ter um certo cuidado, mas é gostoso.”

A paisagista ressalta que em casa não é necessário muito espaço, mas ele deve ser arejado e com boa luminosidade

Espaço

Segundo o técnico agrícola Ralph Lago, outro ponto importante é que seja um local arejado e, no caso das plantas cultivadas em apartamento, é bom colocá-las às vezes para pegar um pouco de chuva. “Nos dias de frio, recolhe o vasinho pro pessoal que tem em apartamento para não pegar geada”, completa Lago.

Variedades A diversidade de ervas e hortaliças mantidas em casa pode ser grande. O técnico agrícola sugere o plantio de manjericão, manjerona, salsinha, cebolinha, pimenta de cheiro e folhosas, em geral. As folhosas podem ser plantadas em vasos, pois as raízes não precisam de tanta profundidade para o seu desenvolvimento. Já para quem tem o espaço no quintal de casa um pouco maior, dá para ter outros tipos de alimentos, como alface, rúcula,

rabanete, couve e beterraba. “Se tiver um espaço maior dá para ter bastante coisa”, finaliza Lago. Atualmente, é possível encontrar à venda muitos suprimentos, como terra e adubos, para montar sua horta em casa. Também há diversos lugares que vendem mudas dos mais diferenciados alimentos. Além da vantagem da alimentação mais saudável dentro de casa, as plantas também podem dar um charme especial à decoração e deixar um cantinho da varanda ou do quintal com ares de campo.

Passo a passo

Aprenda a montar um vaso com temperos em casa DRENAGEM. Num vaso, coloque no fundo argila expandida ou outro tipo de pedregulho, como pedaços de tijolo. Essas pedras serão responsáveis pela drenagem do vaso fazendo que a água não se acumule. É preciso que todo o fundo seja coberto para a drenagem funcionar corretamente.

TERRA. Coloque terra até a altura do vaso, preenchendo-o completamente.

PLANTANDO. Escolha as mudas de sua preferência. Faça um buraco na terra do tamanho de sua muda. Retire o plástico que envolve a muda e coloque-a na terra. A muda deve ficar firme, por isso é preciso fazer uma pequena pressão sobre a parte aterrada.

DECORAÇÃO. Como o vasinho pode servir também para a decoração da casa, é possível dispor de pedras e outros elementos para o vaso também servir como decoração.

Fotos: Roberto Dziura Jr.

Roberto Dziura Jr.

Para que as plantas se desenvolvam, elas requerem espaços com algumas características básicas, como boa iluminação e um lugar arejado. “Ambiente com muita sombra, a planta não se desenvolve. [...] Ela precisa de pelo menos três horas de incidência solar [por dia]”, afirma Emmanuelle Carneiro, paisagista da Esalflores.

HORA DE REGAR. Após terminar o plantio é preciso regar as plantas. Essa rega deve ser realizada nos horários mais frescos: começo da manhã ou final da tarde. Para as demais, seguindo a mesma orientação de horário, é preciso ver se a terra está precisando de água. A terra tem de estar sempre úmida, mas não com excesso de água. Cuidado ao regar para não formal sulcos na terra. Fonte: Esalflores

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 35


internacional

Brasil: hegemonia sob os países da Am Crescimento econômico faz o nosso País ser temido por nações vizinhas e cresce o sentimento de discordância do poderio brasileiro Wallace Nunes - wallace@revistames.com.br

‘‘

O Brasil se empenha ativamente para estabilizar os países vizinhos e apaziguar conflitos, sem esperar esta iniciativa de terceiros. Agora, com o crescimento do poder econômico cada vez mais vigoroso, muitas nações da região se assustam”, constata o especia-

36 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

lista em América Latina e vice-diretor da Fundação Ciência e Política (SWP), Gunther Maihold.

Membro do Brica, a nova nomenclatura para os emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o maior país da América Latina é sério candidato para representar a região Sul no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Com quase 200 milhões de habitantes, um território similar em tamanho ao dos Estados Unidos e da China, o Brasil tem uma economia cujo Produto Interno Bruto (PIB) gira em torno de US$ 2 trilhões.

O País se perfila como nova potência mundial por abrigar os jogos da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos de 2016, e com o crescimento da sua influência política e de seus


Yuri Kadobnov / AFP

O País perfila-se como nova potência mundial – por abrigar jogos da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016

Brasil e Bolívia compartilham interesse estratégico um plano para expansão de gás na A. L

pal o fato de que os investimentos beneficiariam mais ao Brasil do que aos locais onde seriam instalados. A expansão cada vez maior de empresas brasileiras (privadas ou estatais), muitas vezes, financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para outros territórios começa a despertar em alguns países do continente uma espécie de sentimento anti-imperialismo brasileiro.

Mauricio Lima / AFP

“Ouvi de muitos parlamentares sul-americanos, de esquerda e direita, que o Brasil adota essa postura, mas isso não procede”, explica o integrante da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR).

mérica Latina investimentos em países vizinhos. Empreendimentos bilionários de empresas brasileiras, que incluem a construção de uma hidrelétrica no Peru e a exploração de potássio na Argentina, configuram alguns dos recursos que o Brasil vai aplicar no exterior. Entretanto, esses investimentos foram suspensos ou enviados à consulta popular, porque os desentendimentos envolvendo a Vale e a Eletrobrás, entre outras empresas, teriam como motivação princi-

A atuação de algumas dessas companhias em outros países da região é apontada como uma das principais causas de atritos. “Se comportar visando somente o lucro, gera problemas sociais”, afirma Dr. Rosinha. Mas os esforços do governo brasileiro para a integração do continente, como as ações no Mercosul e na União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – organização formada pelos 12 países da América do Sul visando melhores políticas sociais, educação e avanços na infraestrutura – são elogiados, segundo o deputado.

Hegemonia Com a sétima economia do mundo e o maior território da América do Sul, o Brasil desponta como o líder da região e, apesar das desconfianças de alguns vizinhos, é tido por estes países como uma possível voz em defesa dos interesses locais.

“Os argentinos não estão muito entusiasmados com isso, além de terem grandes problemas com o Brasil no Mercosul. Os mexicanos também não consideram o Brasil o líder natural na América Latina. Há uma grande tensão em tudo isso”, diz o especialista em América Latina da Universidade de Tübingen, Andreas Boeckh. A Argentina, hoje economicamente ilhada sob o abraço sufocante do Mercosul, não representa uma ameaça, já que está muito debilitada no plano econômico e também militar. O Paraguai e o Uruguai, dois países pequenos, também estão inseridos na órbita brasileira. Associada ao Brasil para explorar suas reservas de gás, a Bolívia compartilha com seu novo sócio estratégico um interesse na saída para o Pacífico. Para Gunther Maihold, o papel de porta-voz e de liderança também depende da pré-disposição de Brasília em assumir custos da integração regional, seja recrutando tropas de paz para o Haiti ou bancando uma infraestrutura de cooperação regional, ou ainda, seja fazendo concessões à Argentina dentro do Mercosul. O analista alemão considera importantes esses novos elementos, sobretudo diante da resistência de alguns países, como o Chile e a Colômbia, ao papel de destaque do Brasil. “A questão decisiva é até que ponto o Brasil estará em condições de coordenar a diversidade de todos esses campos de atuação e também até quando Lula manterá seu prestígio político interno, a fim de poder bancar uma política externa de impacto”. “A região, que precisa de investimentos, ainda não possui uma agência de fomento exclusiva,”, finaliza Rosinha. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 37


meio ambiente

Entrega movida a

calorias Transporte de mercadorias por ciclistas visam o carbono zero no setor de serviços de grandes cidades, como Curitiba

O

Iris Alessi - iris@revistames.com.br

Um dos setores que comumente se utiliza das bicicletas para as entregas são as lojas que comercializam água mineral. É assim que a Boutique de Água Timbu encaminha sua mercadoria para os moradores da região do Batel, em Curitiba (PR). Segundo a diretora de Água Mineral Timbu, Maria Alice Silveira Carneiro, um dos motivos para o uso da bicicleta é atender a região próxima da área onde estão instalados, com maior rapidez. O uso do ciclista para fazer as entregas também é uma proposta sustentável. “É a nossa primeira experiência de loja, digamos assim, mas na fábrica, a gente tem várias atitudes sustentáveis e fazemos várias coisas. E a bicicleta, eu acho que é uma consequência disso tudo”, pondera Maria Alice. Para Maria Alice muitas entregas pequenas, como documentos e outros objetos, são possíveis de ser realizadas por bicicletas e não podem ficar restritas apenas à entrega da água mineral.

Sustentabilidade Visando a sustentabilidade e uma mudança de atitude que possa contribuir com o 38 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Roberto Dziura Jr.

corrido cotidiano de cidades como Curitiba exige rapidez para entregas de documentos e produtos entre outros pequenos e médios objetos. A agilidade impressa por motoqueiros no trânsito facilitou as entregas de muitos desses produtos. Mas os motoboys nunca foram os únicos responsáveis pelas entregas e, com a maior preocupação com o meio ambiente, as bicicletas voltam à cena com força total nesse mercado.

meio ambiente é que surgiu no mês passado, em Curitiba, a EcoBike Courier. A empresa se inspirou em modelos bem sucedidos na Europa e em outras cidades brasileiras, que utilizam bicicletas para o transporte de pequenas mercadorias. De acordo com o sócio da EcoBike Courier, Cristian Trentin, a intenção da empresa não é concorrer com as empresas de motoboys e sim atender clientes que estejam preocupados com as questões

ambientais. “Queria montar uma empresa que não fosse só dar lucro, eu queria que ela tivesse um algo a mais. E a gente começou a pesquisar sobre os couriers e acabou montando aqui”, revela Trentin.

Carbono Zero Os bikers, como são chamados os ciclistas que fazem o transporte, não queimam nada além de calorias para fazer as entregas. “Um dos grandes focos da empresa


Os bikers não queimam nada além de calorias para fazer as entregas é carbono zero. A gente não polui nada”, afirma o sócio. Segundo Trentin, outra vantagem da bicicleta é o tempo que ela leva para fazer um determinado trajeto. A vantagem competitiva foi comprovada em 2010, na comparação intermodal realizado pelo projeto Ciclovida da Universidade Federal do Paraná (UFPR), entre bicicletas, motos, carros, pessoas a pé e no transporte coletivo em Curitiba. Nesse episódio, os ciclistas chegaram antes de todos os outros competidores. Entretanto, também existem desvantagens nesse tipo de entrega. “Grandes distâncias” é uma delas apontadas por Trentin. Outra desvantagem está relacionada com o peso. “A moto consegue transportar grandes volumes, nós transportamos até 3kg, 5kg”, completa o empresário, ressaltando que no centro da cidade, a bicicleta não perde para nenhum outro meio de transporte. Para o sócio de uma empresa de cartão-presente, Diego Sampaio, três motivos levaram a escolha da empresa de bikers para entregar seus produtos em Curitiba. “O primeiro foi pela questão da sustentabilidade e a locomoção no trânsito”, aponta Sampaio. Os outros dois motivos foram a diferença no atendimento e os valores praticados pela empresa. “O lado ecológico claro que pesa, mas o lado econômico e o lado da qualidade do atendimento” também foram importantes para

a decisão de Sampaio. Ele acredita que, apesar de ser pouco, está colaborando para a questão da sustentabilidade.

Bikers Respeito ao meio ambiente e paixão pela bicicleta foram alguns dos pontos que levaram Natan da Costa Moscofian (22) a encarar o emprego como biker. “Tenho paixão pela bicicleta e estava precisando de um emprego. Daí, uni o útil ao agradável e resolvi tentar uma entrevista”, relata o biker que junto com a preocupação de não poluir o ar, utilizando a bicicleta, também é vegetariano. Outro biker, Marco Antonio Zavorize (43), também uniu o útil ao agradável. “Eu adoro andar de bike. Sempre andei desde meus oito anos de idade”, afirma Zavorize que também faz entregas de bicicleta para uma pizzaria da cidade. Nestes ofícios, ele fica o dia todo pedalando. “É um serviço que eu gosto. Você está respirando, você não fica parado, além do número de carros. É menos um carro que vai ser usado”, avalia o biker. Para ele, é preciso pensar nas gerações futuras e como ficarão as coisas nos próximos anos. “A gente tomando atitudes ecológicas assim, quem sabe a gente pode preservar o meio ambiente para eles?!”, sugere Zavorize. A “magrela” pode ser um meio de transporte utilizado para diversas atividades e o mais interessante é que, além de reduzir a emissão de carbono na atmosfera, é uma excelente forma de manter os exercícios físicos em dia.

Ideia

Consumo consciente

Com uma simples ideia, o morador de Curitiba José Luiz Zardo pretende descongestionar o sistema elétrico brasileiro nos horários de pico. Das 18 às 21h é o período em que mais se consome energia elétrica e em que ocorrem os famosos apagões. Um dos grandes vilões dessa história são os chuveiros elétricos, que gastam, em média, 25% do gasto total de energia dentro de casa. A iniciativa de Zardo é aquecer a água em outros horários, que não os de pico, e armazenar na caixa d’água para usar à noite. Assim, essa água poderá ser utilizada no horário de maior uso sem o gasto do chuveiro, descongestionando o consumo naquele período. O chuveiro fica na posição “verão”, mas com água previamente aquecida. Segundo a Copel, essa posição do chuveiro consome até 40% menos energia. Para obter esse resultado, o empresário gastou R$ 70 com a compra de uma resistência e um termostato. Os dois itens são instalados na caixa d’água para aquecê-la em horários intermediários aos de pico (ver foto).

Roberto Dziura Jr.

Os bikers Moscofian e Zavorize unem o útil ao agradável na profissão de entregadores

“O Brasil não sabe tomar banho”, desafia Zardo. Segundo ele, o que há no País é um sistema mal distribuído de energia elétrica e precisaria haver mudanças para melhorar a sua eficiência, como por exemplo, com a implantação de tarifas especiais para incentivar as pessoas a consumir a energia em horários intermediários e gastando menos energia. (Arieta Arruda)

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 39


turismo

Litoral o ano inteiro Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

L

itoral lembra praia, que lembra calor. É comum no verão ver famílias, casais e grupos de amigos se reunirem para passar uma temporada curtindo sol, areia e mar. Segundo dados da Secretaria de Turismo do Paraná, na alta temporada entre 1 e 1,5 milhão de pessoas visitam o litoral do Estado, que é composto pelas cidades de Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná. Já nos outros meses do ano – de março a novembro – a procura cai, consideravelmente. “Se comparada com o verão a queda chega a 80%, com alguns picos de 90%”, afirma Carlos Cesar de Paula Gna-

40 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

ta, presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur). Para ele, essa visão de que o litoral só oferece encantos no verão é equivocada. “O litoral [paranaense] tem uma quantidade de atividades que não é só ir à praia. Nós temos a serra e o mar”, diz Gnata. Segundo a Adetur, existem opções para quem gosta do turismo de aventura, cultural, gastronômico, religioso, náutico, de pesca, de negócios e eventos, de lazer “sol e praia” e o ecoturismo. “O turista que gosta das cidades históricas tem agora a segunda cidade tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, que é Antonina. Morretes tem o trem que chega até

O passaporte oferece descontos em 58 estabelecimentos das cidades do litoral

Roberto Dziura Jr.

Empresários garantem que os municípios litorâneos têm atrações em todas as estações do ano; para incentivar o turismo é oferecido um passaporte de descontos


Fotos: Roberto Dziura Jr.

Fora de temporada, o movimento do litoral diminui em mais de 80% “O litoral [paranaense] tem uma quantidade de atividades que não é só ir à praia”, afirma Carlos Gnata

Gustavo Trevizan Socachewsky, responsável pela comunicação da Adetur. As ofertas são válidas fora da alta temporada (entre março e novembro, exceto feriados). Assim que utilizado, o dono do estabelecimento carimba o passaporte do turista que poderá continuar usando para aproveitar as demais ofertas. Para adquirir um exemplar, basta se encaminhar a um dos pontos de Serviço de Atendimento ao Usuário (SAUs), da Ecovia, na BR 277, que dá acesso ao litoral do Paraná. “Se você fosse considerar que os 10% de desconto de cada estabelecimento fosse equivalente a R$ 10, você estaria carregando um desconto de R$ 580 em uma visita ao litoral”, compara o presidente da Adetur. Mas mesmo com esse benefício, os turistas ainda estão fazendo pouco uso do passaporte. “Ele retira, dá uma olhada, coloca na porta do carro e esquece. Até mesmo indo para o litoral. Não faz uso”, comenta. lá e está com um barco novo, todo equipado, que sai do rio Nhundiaquara e vai até a Ilha do Mel. Além disso, temos atividades em ecoturismo, escaladas e rafting. Dentro da Baía de Paranaguá, tem a Reserva do Sebuí, que é uma reserva ecológica. Temos a gastronomia do litoral famosa, com o barreado. Caiobá é hoje um dos grandes centros de atividades de competições náuticas, de corrida de aventura”, cita Gnata destacando algumas atrações.

Incentivo Para mudar essa realidade, um grupo de empresários se juntou à concessionária Ecovia e ao Sebrae-PR e lançaram, em outubro de 2010, um passaporte que oferece descontos em 58 estabelecimentos. O kit de benefícios vem com um livreto de informações turísticas, um mapa, os cupons de descontos e brindes das empresas participantes. “O objetivo principal era de movimentar a região de março a novembro, além de aumentar o nível de conhecimento sobre os atrativos e serviços turísticos existentes, que podem ser usufruídos durante o ano todo”, explica

A Adetur ainda não tem um diagnóstico de quanto o passaporte incrementou no turismo do litoral paranaense, mas a impressão é de que foi abaixo do previsto. “A gente sabe que o resultado não foi o que a gente esperava. Esperávamos que desses 70 mil, fossem utilizados pelo menos 15% a 20%. Nós acreditamos que não vai chegar a 10%”, se queixa Gnata.

Apesar dos baixos resultados, a Adetur acredita no poder do passaporte para incentivar os turistas a visitarem o litoral paranaense. Tanto que uma segunda edição já está sendo preparada e contará com a participação de mais estabelecimentos. Além disso, a Agência estuda a possibilidade de estender o uso do passaporte na alta temporada (2011/12), como forma de atrair muitos turistas que desapareceram após as tragédias das chuvas de março. “[A baixa temporada] tá sendo terrível. Sempre temos um movimento até meados de maio. Depois da chuva, o inverno chegou para nós antes. Março foi um mês que não teve movimento para ninguém. Em abril, só teve a Páscoa, depois disso acabou”, conta Carlos Gnata que também é proprietário de uma pousada na Ilha do Mel. Ele garante que todo o serviço já está normalizado.

Festival Mais atrações no Litoral Entre os dias 18 e 21 deste mês, a cidade de Morretes irá receber o 1º Festival de Turismo do Litoral do Paraná. A ideia do evento é mostrar, tanto para os turistas, quanto para os empresários do setor, que as sete cidades que compõem o litoral estão preparadas para receber visitantes o ano inteiro. Durante o Festival haverá uma feira comercial com a exposição dos estabelecimentos locais, demonstração de artesanato e produção da agricultura familiar local, estandes das sete cidades, seminário com oficinas e palestras, visitas técnicas, além de uma área de gastronomia, em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) e o Centro Europeu, em que chefs de cozinha irão elaborar pratos junto aos responsáveis pelos restaurantes locais, oferecendo-os para degustação. A entrada para todo o evento é gratuita. Para conferir mais informações, acesse: www.festivaldolitoral.com.br REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 41


culinária&gastronomia

O retorno do Pão artesanal Feito à mão, sem conservantes e com experimentações inusitadas, o pão caseiro volta às prateleiras de padarias gourmet de Curitiba Arieta Arruda - arieta@revistames.com.br

O

pão da Maria, o pão da Silvia, o pão do José, o pão do João, e qual o seu pão? Cada um que quiser pode ter um pão para chamar de seu. Isso porque as

padarias empório ou gourmet apostam na customização para ganhar a freguesia ao oferecer os pães artesanais. Uma volta aos costumes do pão feito em casa. “O pão tem uma característica que os clientes gostam de um tipo de pão e se identificam com ele. É o hábito”, conta Geraldine

Miraglia, especialista em pães artesanais, chef da Oli Gastronomia, que colocou em seus pães o nome de alguns clientes. A fumacinha que sai quando está quentinho, a massa macia e o sabor que satisfaz. São sensações que o pão nosso de cada dia traz na hora da degustação. Pode ser no café da manhã, à tarde ou no lanchinho leve à noite, o pão é o grande companheiro para essas refeições. Mas se todo dia (ou quase), ele está à mesa, algumas pessoas gostam de variar no sabor. Pode ser de centeio, linhaça dourada, quinoa, girassol, gergelim, doce, salgado, integral ou de legumes (batata ou cenoura). Ao que tudo indica, os pães artesanais estão voltando ao gosto popular com um ar de requinte. “Qualquer pessoa prefere optar por uma alimentação mais saudá-

Veja onde encontrar padarias que comercializam pães artesanais Panettiere

Preço médio: R$ 6,00 unidade Local: Av. Cândido Hartmann, 3515 Mais infos: 41.3014-5334 e 3336-5460 42 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Família Farinha

Preço médio: R$ 17,90 o quilo Local: Av. Nossa Senhora da Luz, 2345 Mais infos: 41.3362-3052

Prestinaria

Preço médio: R$ 6,90 unidade Local: Rua Euclides da Cunha, 699 Mais infos: 41.3014-4576 e 3342-4576


Roberto Dziura Jr.

As combinações são variadas para acompanhar a massa caseira

Roberto Dziura Jr.

vel, pois normalmente o mais saudável é mais saboroso”, afirma Adelino Farinha, proprietário da tradicional padaria Família Farinha, em Curitiba. “Hoje tem uma busca por alimento cada vez mais natural. Teve uma época de abuso da alimentação industrial e o aumento da quantidade de celíacos [não podem comer glúten], por causa do abuso da farinha branca”, analisa Geraldine. Por isso, ela opta por trabalhar com farinhas integrais e com ingredientes de maior qualidade para a produção de pães artesanais. É possível observar a maior demanda pelo natural, estilo caseiro, em Curitiba. Só na padaria da Família Farinha são 500 kg por dia de farinha de trigo e 65 pessoas trabalhando para produzir os pães, no setor de confeitaria e salgados – tudo de forma artesanal. Outro indicador desse movimento é a maior procura pela profissionalização do setor. Geraldine comenta que “mesmo as grandes panificadoras tem um pouco desses pães. Vejo que tem muita gente querendo estudar isso. Estudar profissionalmente”. Mas ainda o passo da profissionalização está devagar para tamanha demanda. Segundo Adelino Farinha, uma das maiores dificuldades de aumentar a produção é encontrar a mão de obra técnica. Sinal de escassez no mercado.

Diferenças Uma diferença essencial entre os pães industriais – aqueles de saquinho de forma ou mesmo os pães franceses, que são vendidos em grandes quantidades nos supermercados ou em panificadoras – e o pão caseiro, está na ausência ou não da pré-mistura e o tipo de fermento. Segundo Adelino Farinha, existe três tipos de fermento na culinária: fermento químico, fermento biológico e o fermento natural. O último é o utilizado para confeccionar pães artesanais, que ficam

Saint Germain

Preço médio: R$ 9 a 15 unidade Local: Alameda Princesa Izabel, 1347 Mais infos: 41.3233-9048

Adelino Farinha aposta no trabalho artesanal e nas novidades trazidas do exterior livres de conservantes e aditivos químicos, além de garantir um sabor especial, garantem os especialistas. O cuidado na produção desse tipo de pão já começa no preparo do fermento. Para Geraldine, o fermento natural é como “um filho”, pois é preciso alimentar com água e farinha diariamente. A mistura que ela utiliza é à base de maçã. “Fermenta a maçã, deixa descansar no escuro e depois alimenta com água e farinha. É a levain, técnica francesa de fermentação natural, mas dá para fazer de vários tipos”. O custo do produto pode ter um adicional, por conta do processo inteiramente artesanal e os ingredientes selecionados. No entanto, para o gosto curitibano não parece ser tão salgado, de acordo com Adelino que está no mercado há algumas décadas. “O curitibano gosta do preço justo. Não se importa de pagar mais se [o produto] for de qualidade.”

Joaquim José Padaria

Preço médio: R$ 15 a 25 o quilo Local: Av. Comendador Franco, 2777 Mais infos: 41.3266-1113

Novidades As experimentações são variadas e quase sem limites. Geraldine que sempre está buscando novidades, aposta em combinações com passas e canela, além de outro pão com pimenta do reino e queijo Gruyèr. Outra novidade que será produzida é o pão que leva sálvia e cebola. Já Adelino Farinha, um grande curioso e pesquisador das novidades fora do País, deve lançar em breve, os pães tipicamente alemães e os pães com semente de abóbora, com fermentação natural. “São pães mais funcionais”, analisa Farinha. Mas a proposta não é complicar. “Não é inventar a roda. A ideia é essa, fazer tudo o mais artesanal possível”. E a criançada aprova. Pelo menos, a clientela de Geraldine. Ela conta que os pais chegam a perguntar: “o que eu coloco que vicia? E a resposta é o que eu não coloco que vicia. São pães sem conservantes. Sustenta mais”.

Oli Gastronomia

Preço médio: R$ 6,00 unidade Local: Rua Senador Saraiva, 209 Mais infos: 41.3016-8696 REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 43


esporte

Yes, nós também temos Futebol Cresce o número de praticantes do esporte no Brasil e campeonatos interestaduais têm a participação de seis clubes paranaenses

44 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Roberto Dziura Jr. - roberto@revistames.com.br

O

s curitibanos do Brown Spiders, Hurricanes, Predadores, Coritiba Crocodiles, mais os ponta-grossenses dos Phantoms e o Black Sharks, de Foz do Iguaçu (PR), são as seis equipes que disputaram, este ano, o Campeonato Paranaense de Futebol Americano e até o final do ano seguem

na corrida pelo título de dois campeonatos brasileiros que ocorrem simultaneamente. A descoberta dos brasileiros por denominações como touchdown, extra-point, field goal e drop kick começou nos anos de 1990, com as transmissões pela televisão da Liga Norte Americana de Futebol Americano (NFL). Foi nesta época que surgiram os primeiros praticantes do es-


“O futebol americano é um esporte que demanda muita estratégia e trabalho em equipe”, diz Molinari, presidente do Brown Spiders De acordo com Orlando Ferreira Junior, presidente da Liga Brasileira de Futebol Americano (LBFA), o campeonato é mantido pelo pagamento de anuidade das equipes e são os atletas – todos amadores – que pagam os custos, o que inclui a aquisição dos equipamentos, despesas com viagens, alimentação e estadia. Embora ainda amador, o esporte é organizado pela AFAB (Associação de Futebol Americano do Brasil). Sua comissão técnica seleciona e convoca os jogadores que fazem parte da Seleção Brasileira. Eles têm um amistoso marcado contra o Chile, no dia 21 de janeiro de 2012. Jogo programado para ser realizado em Foz do Iguaçu.

Torneios Interestaduais

Roberto Dziura Jr.

A história dos campeonatos nacionais de futebol americano começou em 2009, com o Torneio Touchdown, vencido pelo Rio de Janeiro Imperadores, hoje Fluminense. Em 2010, ocorreu uma separação das entidades ligadas ao esporte e a criação da LBFA, composta por oito equipes nacionais. A edição da Liga do ano passado teve como campeão o Cuiabá Arsenal e vice-campeão nacional e campeão da sua região, os paranaenses do então Barigui Crocodiles.

l Americano porte no País. Hoje, são cerca de 50 clubes brasileiros. “É um esporte que demanda muita estratégia e trabalho em equipe, o que faz do jogo muito emocionante e competitivo, com o resultado podendo ser decidido em detalhes e em poucos segundos”, justifica sua paixão pela bola oval, Leandro José Molinari, presidente do Brown Spiders.

Na edição deste ano, a competição conta com a presença de 12 equipes divididas pelas Conferências Norte e Sul. Nessa última, participam os paranaenses do Coritiba Crocodiles, Curitiba Brown Spiders e o Foz do Iguaçu Black Sharks. Na temporada regular, cada equipe disputará seis partidas e as melhores classificadas pleiteiam a vaga para o Brasil Bowl, “a grande final com os vencedores das Conferências que acontece no dia 10 de dezembro”, destaca o presidente da Liga. Já o Torneio Touchdown tem, este ano, a participação de 16 times divididos em duas Conferências, a Walter Camp (homenagem ao pai do futebol americano) e George Halas (incentivador da NFL). Junto com o Phantoms, de Ponta Grossa, e os curitibanos do Hurricanes e Predadores, o Torneio conta com cinco equipes associadas a clubes do futebol tradicional: Vasco da Gama

Patriotas, Corinthians Steamrollers, Santos Tsunami, Botafogo Mamutes e Palmeiras Locomotives. A final do Torneio também está marcada para o dia 10 de dezembro. Gerard Kaghtazian Junior, presidente do Coritiba Crocodiles, acrescenta a existência de um terceiro campeonato interestadual, este com a participação somente dos clubes do Nordeste brasileiro. Ele acredita que para a temporada de 2012 poderá existir a unificação dos campeonatos nacionais da categoria.

Equipes Paranaenses Um dos mais antigos clubes de Futebol Americano do País é o Curitiba Brown Spiders, que surgiu em 2001. Somente seis anos após a reunião de amigos apaixonados pelo esporte foi que a equipe conseguiu adquirir equipamentos completos e oficiais de proteção. “Atualmente, o grupo conta com pessoas de diversas

Futebol Americano Entenda mais o esporte O Futebol Americano surgiu nos Estados Unidos no século XIX, em uma série de jogos entre as Universidades de Harvard e Yale, época em que as equipes jogavam com alternância de regras baseadas no rugby. O jogo consiste em uma série de jogadas de curta duração, sendo permitidas substituições de jogadores entre elas. A partida tem 60 minutos, divididas em quatro tempos de 15 minutos. As equipes, com 11 jogadores cada time, mudam de lado no fim do primeiro e do terceiro quartos. Cada time tem cinco chances para avançar 10 jardas, e assim sucessivamente, até conseguir pontos ou perder a bola. O campo é um retângulo com 120 jardas (109,73 m) de comprimento e 53 1/3 jardas (48,76 m) de largura. Existe uma linha de gol a 10 jardas de cada uma das linhas finais e paralelas a ambas. Ao centro de cada linha final, situa-se um conjunto de traves, que tem dois postes longos que se estendem por cima de uma barra horizontal em forma de Y. O jogo começa com um kickoff (chute inicial), também utilizado para reiniciar o jogo, depois de cada field goal ou touchdown. Diversas jogadas de nomes estrangeiros completam o jogo. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 45


Roberto Dziura Jr.

esporte

Das seis equipes paranaenses, três disputam a Liga Brasileira e, as outras três, o Torneio Touchdown. Os paranaenses são destaque no esporte no País

formações, com faixa etária variando entre 16 e 40 anos”, conta Molinari.

Bruna Bittencourt

Campeão paranaense das três edições e atual vice da LBFA, o Coritiba Crocodiles também começou com a união de amigos.

Kaghtazian, presidente da equipe, observa que o sucesso das conquistas deve-se ao pioneirismo na prática do esporte no Brasil, assim como fez o Brown Spiders, e também ao compromisso da diretoria que leva o esporte a sério.

A equipe Brown Spiders é uma das mais antigas do esporte no País e tem pessoas entre 16 e 40 anos 46 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Outro pioneiro é o Hurricanes, nascido em 2006 e efetivado somente em 2009. Com menos de um ano de treino, eles conquistaram o 4º lugar no Campeonato Paranaense e a terceira colocação estadual em 2010 e 2011. No ano passado, foram semifinalistas do Torneio Touchown, sendo destaque pela melhor defesa do campeonato. O Foz do Iguaçu Black Sharks surgiu em 2008 e tem como títulos a conquista do 3º lugar no Paranaense 2009, o vice-campeonato em 2010, e a 5ª colocação na LBFA 2010. De acordo com o presidente, Helder Bacelar Ludwig, a equipe tem jogadores de Cascavel (PR), Santa Terezinha de Itaipu (PR) e até mesmo do Paraguai. “Mesmo com alguns apoiadores, a maioria das vezes, os jogadores têm que tirar dinheiro do bolso para viajar.” Uma das mais novas equipes do esporte no Brasil é o Curitiba Predadores, que surgiu na Região Metropolitana e migrou para a capital paranaense. A lista de equipes de futebol americano do Paraná completa-se com o Ponta Grossa Phantoms, uma fusão dos Black Knights Football e Tigers Football.


5 perguntas para: Amisha Miller

Empreendedor brasileiro chama a atenção no exterior Recentemente, a inglesa Amisha Miller, mestre em População e Desenvolvimento, esteve no Paraná para analisar e fechar possíveis acordos no Estado. O objetivo da gerente de pesquisa da Endeavor Brasil, organização que estimula o empreendedorismo de alto impacto, é fazer um diagnóstico do País por meio de uma pesquisa qualitativa e também traçar o perfil específico dos empreendedores de alguns estados, o que inclui o Paraná, como terceiro estado mais importante nessa área. Amisha falou à MÊS com exclusividade Mariane Maio - mariane@revistames.com.br

O que é ter uma cultura empreendedora? Como será feito o estudo? Amisha Miller (AM) - A gente já fez um grupo de discussão com alguns empreendedores bem sucedidos, para entender o que é importante para criar esse tipo de empreendedor. Eles querem ter riscos, mas querem gerenciar isso. Têm muita paixão sobre o que estão fazendo. Têm a ideia de mudar o mundo. Essa é uma coisa que a gente acha que é muito de alto impac-

to. Talvez, nem todos os empreendedores tenham isso, mas os bem sucedidos têm. Queremos entender suas atitudes e capacidades: o potencial dos empreendedores do Brasil. Vamos fazer uma pesquisa qualitativa, grupos de pesquisa com empreendedores e não empreendedores, para ver o que eles acham sobre o empreendedorismo. Existe alguma diferença entre o empreendedor brasileiro e de outros países? AM - Uma pesquisa do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] sobre os

Amisha trabalha na construção de indicadores e mapas para analisar as mudanças do empreendedorismo no País

empreendedores no Brasil, na Índia e na China, mostra que os brasileiros não têm tanto interesse em dinheiro quanto os outros. Na pesquisa, a pergunta foi: “se você tiver todo dinheiro do mundo, vai fechar sua empresa?”. E a maioria dos brasileiros falou: Não. O brasileiro tem interesse na empresa, ele não quer parar. Tem uma coisa de paixão. Mas, normalmente, as pesquisas internacionais concluem que os empreendedores têm muito em comum. Como definiria o perfil do brasileiro para os negócios? AM - Não existem muitas pesquisas internacionais sobre os empreendedores, sobre as pessoas. A gente sabe que aqui os investidores gostam de ter menos riscos do que em outros países. Mas isso é muito normal em países em desenvolvimento. A Endeavor fará uma pesquisa nacional e depois pretende regionalizar os dados para conhecer as particularidades de alguns estados. Como o Paraná será envolvido nisso? AM - A ideia é de fazer em estados importantes. Temos um dado do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] que fala que, depois de São Paulo e Rio de Janeiro, o estado com maior número de empreendedores de alto rendimento de empresas com menos de cinco anos é o Paraná. Então, a gente quer estudar um pouco mais e entender o porquê. Fizemos duas reuniões [em Curitiba]. Mas precisamos falar um pouco mais. O que é legal é que todo mundo tem interesse nesse projeto. Qual a previsão de término da pesquisa? Após isso, como esses dados serão apresentados? AM - A gente quer fechar essa pesquisa antes do final do ano. Queremos fazer um relatório e desenvolver uma pesquisa pequena. Queremos saber as oportunidades e barreiras de todos esses grupos, as atitudes, as capacidades. Trabalhar mais focado em cada grupo. Fazer projeto de apoio, tipos de cursos diferentes para diferentes tipos de empreendedores. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 47


cultura&lazer

“Tudo começa com o

desconhecido”

A afirmação é de Rodrigo Lombardi, o novo protagonista de “O Astro”, minissérie da Rede Globo que teve suas primeiras cenas gravadas no Paraná

E

Arieta Arruda - arieta@revistames.com.br

m meio a mistérios, amores rasgados e antagonismos entre o bem e o mal, o desconhecido vem se revelando aos olhos dos telespectadores. Apesar de “O Astro” ser uma releitura da obra de Janete Clair, os novos autores – Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro – trouxeram novidades na trama e a adição de magia e conflitos atuais. Novidades, a começar pelo cenário. As cenas dos primeiros capítulos foram gravadas no Paraná. Durante 12 dias, a equipe da produção de “O Astro” esteve no Estado construindo as primeiras cenas da minissérie da Rede Globo, que terá ao todo 60 capítulos. Tudo começou na estação do Marumbi, que ambientou uma fictícia estação ferroviária. Rodrigo Lombardi, o protagonista Herculano Quintanilha, e toda a equipe, passaram pela experiência de viajar pela linha Litorina. “[O resto do Brasil] deveria conhecer, porque é uma viagem prazerosa, gostosa de se fazer, de se sentir, o ar que bate no seu rosto, junto com aquela paisagem incrível”, afirma Lombardi. Já em Antonina e Morretes, as cidades históricas paranaenses serviram de palco para atuar a cidade fictícia de Bom Jesus do Rio Claro, onde a história começou. “Sabia que poderíamos utilizar parte da antiga realidade local para dar mais realidade às cenas”, disse o diretor-geral, Mauro Mendonça Filho. Além das ruas bucólicas, antigas e conservadas, a população também contribuiu para essa realidade emprestada a ficção. Foram mais de 280 pessoas que participaram da figuração. Faziam parte desse elenco de apoio, os atores paranaenses Chico Nogueira, Danilo Correia, Rafael

48 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

“É um ambiente extremamente intimidador, você fica acuado quando entra”, afirma Rodrigo Lombardi sobre o Presídio do Ahú Magaldi e Zeca Cenovicz, que “suaram a camisa” para fazer o papel. O resultado veio a ‘olhos vistos’. “A gente ficou abismado com tamanho profissionalismo,

dedicação e tamanha desenvoltura desde a figuração até de profissionais mais experientes. Isso fez com que a gente saísse daqui com o dever cumprido”, enfatiza o ator global.

Talento paranaense Foi durante uma perseguição entre Herculano e populares que os paranaenses puderam atuar. “Participar de uma produção da Globo é bacana. Demos sorte de estarmos trabalhando com gente que se conhece. Valoriza o trabalho. É uma parte


Diego Pisante

do processo que ajuda a compor o personagem”, afirma Rafael Magaldi. Danilo Correia completa ao comentar as cenas: “a gente pensava junto e cansava junto. Essa troca foi muito boa”. Para as cidades do litoral do Paraná, a experiência teve ainda outros resultados. “Antonia e Morretes tinham acabado de passar por uma tragédia horrível. Isso levou uma autoestima pra população de Antonina e de Morretes. Fizeram figuração, os hotéis foram todos ocupados, as pousadas, os restaurantes. Isso trouxe um ânimo, um fôlego”, explica o ator paranaense, Zeca Cenovicz. Ainda na região, Rodrigo Lombardi e a equipe de mais de 50 pessoas entre elenco, direção, produção, assistentes, puderam experimentar a gastronomia tipicamente paranaense: o barreado. “O cara colocou o prato na cabeça e disse: ‘se cair, tu não paga’. Como não caiu, tive de pagar. [risos] Mas é incrível, adorei”.

Prisão Depois do trabalho externo, foi a vez do Presídio do Ahú, em Curitiba (PR), servir de cenário para a minissérie. O personagem Herculano enquanto estava preso por oito anos, conheceu seu mestre, Ferragus, papel vivido por Francisco Cuoco, o primeiro protagonista de “O Astro”. “Ele será o mestre Ferragus que, de algum modo, é o Herculano 30 anos depois”, diz Lombardi.

da há quatro anos – um ambiente propício para as primeiras cenas da minissérie. “A direção pediu realidade em todas as montagens. Pesquisamos para que o real e a ficção estivessem misturados a tal ponto de não sabermos diferenciar quando começa um e termina o outro”, comenta Isabela Urman, parte da equipe de cenografia. “É um ambiente extremamente intimidador, você fica acuado quando entra. Isso, na verdade, é um carinho pra gente, por poder trabalhar num ambiente como esse, ao invés de fazer no estúdio ou numa cidade cenográfica. A gente vive dessa sensação, então chegar aqui, já com essa sensação, é muito mais fácil de trabalhar”, observa Lombardi.

Divulgação

Durante as cenas gravadas no presídio, participaram 180 paranaenses como figurantes. O ambiente frio, marcado pelas angústias e negatividade da ocupação real de detentos, fizeram da locação – desativa-

Junto com atores paranaenses, o ator global esteve em Curitiba para o lançamento de “O Astro”

“O Astro” é um trabalho da Rede Globo em comemoração aos 60 anos da teledramartugia brasileira e revisita o trabalho de Janete Clair, do estrondoso sucesso na década de 1970, quando todos queriam saber: quem matou Salomão Hayalla? Mas o sucesso desse trabalho atual não está garantido. Sem mágicas na audiência, o tempo dirá e a audiência também, pois o “sucesso não tem receita. A única coisa que tem, em 90% dos casos, é que o sucesso tem de haver uma maravilhosa inter-relação de trabalho. Todo mundo tem de estar de mão dada. E isso a gente tá”, finaliza Rodrigo Lombardi, que revisitou Curitiba um dia antes do lançamento da minissérie em rede nacional e conversou com a reportagem da MÊS.

Curiosidade

Roberto Dziura Jr.

Presídio do Ahú

Desativado desde 2006, o Presídio do Ahú foi cenário das primeiras cenas da minissérie

Localizado em Curitiba, foi a primeira Penitenciária do Paraná, inaugurada no dia 05 de janeiro de 1909. Inicialmente, tinha a capacidade de 52 celas individuais. O local possuía seis galerias e uma solitária, utilizada principalmente na época da Ditadura Militar, chamada pelos presos de “Surda”. O Presídio do Ahú está desativado desde julho de 2006, quando foram transferidos 900 detentos que viviam no local. Segundo Clayton Awerter, agente penitenciário, que serviu de guia do local, já existe o projeto de essa área transformar-se no Museu Penitenciário do Paraná. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 49


cultura&lazer

O saber do povo paranaense Lendas, brincadeiras de rua, danças e costumes do Paraná são lembrados no Dia do Folclore (22 de agosto) Roberto Dziura Jr. - roberto@revistames.com.br

E

ra uma vez um arqueólogo de nome William John Thoms que, no dia 22 de agosto de 1846, publicou pela primeira vez, no jornal londrino “O Ateneu”, a palavra folclore (folk – povo e lore – saber) para denominar as manifestações artísticas populares. Essa história tem continuidade no Brasil quando, por meio da Lei 5.6747/1965, o então presidente Humberto de Alencar Castelo Branco decreta a obrigatoriedade do ensino do “saber do povo” nas escolas brasileiras.

50 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

No Paraná, o capítulo dessa história prossegue com centenas de lendas, brincadeiras, músicas e danças que fazem parte da cultura do Estado. Causos como a Lenda da Gralha Azul e das Sete Quedas. Brincadeiras populares como ciranda de roda, peão, mané gostoso, bolinha de gude, pipa, cinco Marias, peteca e amarelinha são mantidas vivas nas mãos de crianças e pessoas que não deixam essa história morrer, como o artista educador dos Colégios Novo Ateneu e Opet, Guga Cidral. Para ele, o folclore pertence ao dia adia das pessoas. “Dentro de casa existe um

folclore. Cada um tem um jeitinho diferente de viver, um dito, costume, uma receita familiar”. Mas sua missão é deixar vivos os contos populares e as brincadeiras de rua. “O Brasil é rico em histórias e a importância das crianças conhecerem isso [é que] desperta a imaginação, pois muitas crianças de hoje recebem tudo muito pronto”. Segundo o professor e estudioso da cultura popular, Inami Custódio Pinto, autor do livro “Folclore no Paraná”, a importância de manter presente o folclore é a transformação humana que isso proporciona. “Nós somos os únicos que temos em nossa formação cultural três almas: portuguesa, negra e a dos indígenas brasileiros”.


Roberto Dziura Jr.

“A importância das crianças conhecerem isso [é que] desperta a imaginação, pois muitas crianças de hoje recebem tudo muito pronto”, diz Cidral

Fandango Em sua opinião, a mais legítima manifestação do folclore paranaense é o Fandango, palavra de origem espanhola que significa um baile de ruídos acompanhado de viola. Com 81 anos de idade, Custódio passou a vida se dedicando a cultura popular e mantém a promessa de perpetuar a dança que fez aos amigos Manequinho da Viola (falecido) e Romão Costa.

Roberto Dziura Jr.

“A arte é muito viva e presente nas características e tradições de um povo. Acredito que a conceitualização [folclore] é uma invenção dos românticos para um olhar de fora das manifestações culturais. A arte do povo é dinâmica e está em constante transformação”, afirma o multiartista Itaercio Rocha, do Maranhão, que há 20 anos reside em Curitiba (PR).

Lendas paranaenses Para o professor Custódio, “a lenda tem uma correspondência histórica, é feita sobre algo que existiu ou existe”. E o Paraná possui centenas dessas lendas, muitas delas adaptadas. Entre as mais conhecidas está a lenda das Sete Quedas e a história da Gralha Azul, esta última contada por Custódio. “Todas as gralhas eram pardas e somente prejudicavam as plantações. Uma delas andava pela floresta lamentando: ‘Senhor eu nada sou, pra nada sirvo. Vivo a tagarelar e estragar as plantações. Mas, se o seu poder me favorecer, eu serei capaz de coisa muito útil!’. E Deus, com o seu poder de transformar um mero animalzinho em uma coisa incomensurável, entregou a gralha uma semente para que ela plantasse. Nasceu então o pinheiro. Para premiar a boa intenção da ave é que Deus cobriu-a com o seu manto azul”. Sobre esta lenda, o estudioso acrescenta: “ao contrário do que dizem, ela não enterra o pinhão. Ela planta a árvore símbolo do Paraná, pois descasca o pinhão, corta o fruto na horizontal e deposita o restante em uma cova rasa”.

O professor espera há 60 anos a produção de sua ópera inspirada na lenda das Sete Quedas

Inspirado na lenda das Sete Quedas, o professor escreveu uma ópera, a qual espera há 60 anos a sua produção. Ele considera ser a primeira do gênero em língua tupi no Brasil. “Esta história é uma das muitas que desejo preservar e começa assim: o rio Paraná era sereno como um lago. Nas suas profundezas morava uma cobra gigantesca (M’boi) que só deixava os indígenas tirarem o alimento dali se, a cada ano lunar, sacrificassem a mais bela virgem. A prometida era Naipi, que costumava apanhar mel, flores e frutas fora da tapa. Mas um dia ela ficou na floresta até a noite, e ninguém sobreviveria uma noite na selva. Ao se ver perdida, surge em sua frente Tarobá, jovem guerreiro da tribo rival de Naipi.

Ambos apaixonaram-se, mas este amor foi proibido pelas tribos. No dia do sacrifício, Tarobá conseguiu resgatar a sua amada e fugiram em uma piroca. Os índios, ao perceberam que não conseguiriam alcançá-los, avisaram M’boi, este com raiva, começou a perseguí-los e dar rabanas no rio, onde surgiram as quedas. Ao perceber que esforço custaria à própria vida, M’boi pela sétima e derradeira vez abriu uma fenda maior – a sétima queda (hoje Usina de Itaipu). Naipi se perde na fenda e Tarobá fica preso no precipício, onde, petrificado, observa o abismo. Diz a lenda que nas noites de lua cheia, ela emerge, olha para o seu amado e se escuta, por todo o vale, uma linda canção de amor”. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 51


moda&beleza

De olho no O

verão Para quem abandonou as atividades físicas e está abusando neste inverno, chegou a hora de recuperar a forma e a alimentação para chegar bem no verão

52 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Iris Alessi - iris@revistames.com.br

clima do inverno, muitas vezes, acaba afastando as pessoas das atividades físicas, sem contar que nesse período a alimentação saudável nem sempre é levada à risca e muitos excessos são cometidos. Com poucos cuidados, ao final do inverno, o resultado é a saúde e a beleza deixadas de lado. Por isso, não dá para deixar para a última hora para eliminar os quilinhos a mais adquiridos neste período e entrar bem no verão. Nessa onda, o jornalista Zeca Camargo e o preparador físico Márcio Atalla, estiveram em Curitiba, para lembrar a importância da prática de exercícios físicos,


Roberto Dziura Jr.

Segundo Mondardo, o processo para deixar o corpo em forma é lento

Deixar para fazer atividades às vésperas do verão pode causar lesões dando sequência ao quadro do Fantástico: Medida Certa (Rede Globo, em parceria com Sesi). “Nessa vida que eu estou hoje, eu vi que dá para encaixar todos os hábitos alimentares e aí eu vou em frente”, afirma Zeca Camargo. E foi isso que resolveu fazer, a economista Hévilla Juliane Altoé. Ela iniciou a prática de exercícios mais cedo, este ano, para chegar ao verão sem “peso” na consciência. O objetivo da volta para a academia é “emagrecer o que eu adquiri nos últimos tempos”, afirma Hévilla. A economista espera que em quatro meses já esteja em forma para aproveitar bem o verão. Para isso, ela pretende levar a sério os exercícios. Hévilla também já buscou orientação médica para ver se a saúde está em ordem. A motivação dela é dessa vez não deixar de lado a malhação. “Toda vez eu deixo para a última hora e nunca dá tempo. Esse ano, resolvi começar antes”.

Divulgação / GRPCOM

Exercícios A economista está seguindo o caminho indicado pelos profissionais da área. O primeiro mês é o mais difícil, pois “o corpo começa a liberar endorfina e outros neurotransmissores. É chato, é duro, você tem preguiça, não é raro a pessoa ficar gripada”, observa Atalla. Mas não pode desistir. Segundo o personal trainer e instrutor da Academia Gustavo Borges, Glauco Mondardo, são várias as etapas para adquirir a forma física ideal. “A partir do segundo mês, vai começar a ocasionar modificações estruturais”, afirma o personal. Para ele, deixar para fazer atividades às vésperas do verão pode causar lesões, como tendinite e estiramento muscular, devido ao excesso de esforço. “Tem que ser um processo gradativo e lento”, completa.

Alimentação Os cuidados para entrar em forma para o verão não devem ficar atrelados apenas às atividades físicas. A alimentação tem um papel importante nessa caminhada. Para a nutricionista da Amil, Alessandra Ferrarini, antes da chegada do verão é preci-

Alimentação so investir em “um cardápio balanceado, aumentando o consumo de verduras, legumes e frutas, alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras, sem deixar de ingerir proteínas e carboidratos integrais, pois sem eles não há energia para queimar ‘os pneuzinhos indesejáveis’.” A nutricionista dá dicas para quem quer associar uma dieta balanceada aos exercícios físicos. As refeições devem ser feitas duas horas antes da realização da atividade física, “pois praticar exercícios de estômago cheio pode lhe causar uma congestão ou mal-estar, ou diminuir o seu rendimento na atividade física”, afirma a nutricionista que também aconselha a não praticar exercícios sem comer nada. Isso pode ser prejudicial à saúde. Segundo ela, o carboidrato é o alimento “mais recomendado antes da prática da atividade física, além de ser o responsável pela reposição de glicogênio no fígado e no músculo”, diz. E água sempre. É importante ingerir água antes, durante e após as atividades físicas.

Saudável o ano todo Apesar de a preguiça e a vontade exagerada de comer baterem à porta no inver-

O que consumir 20 minutos antes das atividades físicas? Um copo de suco de frutas Frutas frescas, em geral, ou frutas desidratadas: banana seca, damasco seco, maçã ou pêra secas Bolachas simples integrais, bolo sem recheios de preferência feitos com farinha integral, pão integral ou barra de cereais Fonte: Nutricionista Alessandra Ferrarini

no, é importante a prática de exercícios e seguir uma dieta balanceada o ano todo. A prática de atividade física não deve ser apenas no verão ou nas proximidades dessa estação. Para Zeca Camargo, ter tempo ou não para fazer exercícios físicos é desculpa. “Quando a sua saúde for prioridade, você vai arrumar esse tempo”, completa Márcio Atalla. Junto com as atividades “uma dieta balanceada, com calorias adequadas para gerar um emagrecimento saudável [...], geram um resultado imediato e gradativo tanto no peso, quanto na melhora da saúde e da qualidade de vida”, completa Alessandra. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 53


Calebe Simões

automóvel

Sedan médio da Peugeot encara forte seus concorrentes Substituto do 307 Sedan e sucessor do 407, o Peugeot 408 quer brigar com Toyota Corolla e Honda Civic, concorrentes tradicionais da categoria Wallace Nunes - wallace@revistames.com.br

U

m sedan médio para ninguém botar defeito. Assim é o Peugeot 408. Como seu nome revela, o 408 é a oitava geração de Peugeot (daí o número 8), com 4 metros de comprimento – mais precisamente 4,69 metros (daí o número 4). Já o zero

54 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

acrescido no meio, é um padrão da marca que não tem significado. O 408 é o sucessor do 407 Sedan, mas substituirá também o 307 Sedan, uma variação do 307 Hatch. O veículo começou a ser fabricado ainda em janeiro, na Argentina, mas suas vendas no Brasil estrearam em abril por causa de problemas alfandegários entre os dois países. Desenvolvido sob uma nova plataforma voltada para os mercados considerados emergentes, o automóvel vem com maior robustez e menos sofisticação para suportar condições de rodagem em estradas, ruas e avenidas acidentadas. O 408 chega ao mercado moderno e bem servido de recursos.

Freios ABS, ESP, seis airbags, ar-condicionado dual zone, faróis de xenônio e sistema de navegação por satélite são os assessórios de série do veículo. E mais: motor 2.0 de 140 CV, também disponível na versão flex e a transmissão manual de cinco marchas ou automática sequencial de quatro, não deixa nada a desejar aos seus competidores. Ao dirigir o veículo, após testes nas rodovias Anchieta e Imigrantes em São Paulo, a impressão que o modelo francês passa é de absorção das irregularidades do piso, com muita astúcia, que ajuda o automóvel rodar com maciez e conforto, sem ruídos. Os pneus 225/45 R17 dão estabilidade ao


Fotos: Calebe Simões

FICHA TÉCNICA Diâmetro x curso 85 x 88 mm Taxa de compressão 10,8:1 Potência 140 cv Torque 20,2 mkgf Câmbio manual, 5 marchas, tração dianteira Carroceria sedan, 4 portas, 5 lugares Dimensões largura, 181 cm; comprimento, 469 cm; altura, 150 cm; entre-eixos, 271 cm Porta-malas/caçamba 526 litros Tanque 60 litros Suspensão dianteira McPherson Suspensão traseira eixo de torção Freios dianteira: discos ventilados; Traseira: discos sólidos Direção hidráulica, pinhão e cremalheira Pneus 225/45 R17 Equipamentos ESP, airbags, ar-condicionado, cruise control, faróis de xenônio

veículo e à aerodinâmica para velocidades acima dos 100 km/h. A direção do 408 é hidráulica, o que compete a essa nova versão do conjunto o sentimento de leveza ao carro. Segundo a fábrica, o 408 automático acelera de 0 a 100 km/h em 11,2 segundos e chega a 198 km/h de velocidade. O manual faz de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos e atinge 210 km/h.

Design Faróis delgados, quase verticais, é uma solução nova. Onde antes existiam superfícies lisas e frisos de pouca expressividade, agora há vincos marcantes assimétricos,

que dão a noção de movimento. É uma tendência dos lançamentos recentes no segmento dos sedans médios, como o VW Jetta e Renault Fluence. O painel tem linhas suaves e os bancos são confortáveis. No conjunto, o 408 é bem projetado para agradar ao público de seu segmento. Seu preço vai do Allure (manual) de R$ 59.500, passando pelas variações: Allure (automático) de R$ 64.500, Feline (automático) ao valor de R$ 74.900 e Griffe (automático) de R$ 79.900. O modelo está pronto para encarar o competitivo mercado que vai entrar em fase de renovação. Uma fila que começa a ser puxada pelo Fluence e incluem as estrelas do segmento, Civic e Corolla.

REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 55


livros do mês

Eduardo Bentivoglio - eduardo@revistames.com.br Colaborou: Arieta Arruda - arieta@revistames.com.br

História e Arte

Mitos e Lendas Origens e Significados Philip Wilkinson Editora WMF Martins Fontes

Desde os tempos imemoriais, o ser humano procura desvendar os mistérios sobre o mundo e as divindades que o regem. O autor Philip Wilkinson, que escreveu mais de 50 livros sobre mitologia, entrega essa obra, muito bem acabada, que traça as histórias transmitidas de geração a geração, ilustrada por fotos e gravuras que retratam desde personagens do panteão grego até as diversas divindades hindus, cultuadas ainda hoje. O livro pode ser lido pontualmente sem ordem definida, o que facilita seu acompanhamento.

Infanto-juvenil

Harry e seus fãs Melissa Anelli Editora Rocco

Melissa Anelli é uma velha conhecida dos fãs da série Harry Potter por ter criado e comandado um dos maiores fansites do planeta sobre o bruxinho. Agora, chega às livrarias de todo o mundo, o primeiro livro escrito por ela, em que conta sua história, similar a de milhões de (hoje não tão) crianças, em meio ao maior fenômeno literário de todos os tempos. Com prefácio da J.K. Rowing, a autora da série, o livro destaca as loucuras a que todo aficionado se dispõe e algumas proezas, como ter entrevistado a criadora do mundo mágico que definiu uma geração de novos leitores.

Romance Brasileiro

O Moleque Ricardo José Lins do Rêgo Editora José Olympio

O Moleque Ricardo não foi a estreia de José Lins do Rêgo em romances, mas foi o primeiro fora do ambiente rural ao qual o autor havia se habituado em seus três primeiros livros. Além disso, trata-se do primeiro a ser escrito em terceira pessoa e descreve as tentativas de um jovem negro na capital pernambucana. As vivências do protagonista refletem as agruras de muitos migrantes do sertão tentando se estabelecer nas áreas urbanas. A reedição desse clássico nacional traz de volta a visão nordestina sobre o operariado em meados da década de 30. 56 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011

Literatura Mundial

A Gata ou Como Perdi a Eternidade Jutta Richter Editora 34

Com o simples, mas espetacular enredo de formação, em que uma gata dá conselhos sobre diversos aspectos da existência para uma garotinha de 8 anos, a obra pode ser lida por crianças de todas as idades e é capaz de surpreender até aqueles que acham que sabem tudo sobre a vida. Jutta Richter, a autora, é alemã e ganhou diversos prêmios literários em seu país de origem. As ilustrações, essenciais, ficam a cargo de Rotraut Susanne Berner, que também é escritora e já ganhou o Prêmio Alemão de Literatura Infanto-juvenil.

Educação

Pais e Educadores de Alta Performance Içami Tiba Editora Integrare Com 40 milhões de analfabetos funcionais, o País vive um momento de mudanças. Para ajudar pais e mães, além de educadores, o psiquiatra e educador Içami Tiba lança sua mais recente obra. Nela, o autor defende uma educação de alta performance ao unir o empenho dos pais e educadores para melhor lidarem com as crianças e adolescentes do mundo atual, cada vez mais informatizados e independentes. Para Içami Tiba, a mudança começa em casa. Com exemplos práticos, o livro mostra alguns caminhos para melhorar a formação dos nossos pequenos.


álbuns do mês

Eduardo Bentivoglio - eduardo@revistames.com.br Colaborou: Arieta Arruda e Renato Sordi

Samba

MPB

ôÔÔôôÔôÔ SLAP Longe de mimetismos, a curitibana Thaís Gulin solta sua música em um sonoro CD chamado ôÔÔôôÔôÔ. Com uso de ricas influências do samba de raiz e tango, em sua maioria de composição própria, a cantora apresenta seu segundo trabalho. De voz doce, mas firme, Thaís imprime nessas canções a sua face carioca, ambientadas na Lapa, Baixo Leblon e Gávea. Ela traz parcerias importantes como de Chico Buarque, grande incentivador de seu trabalho, e também estão nesse CD participações de Tom Zé, Adriana Calcanhoto e Ana Carolina.

Toque Dela Zé Pereira/Universal Music O segundo disco solo de um dos mais importantes compositores brasileiros da atualidade chega ao público contando com parcerias de bandas e artistas consagradas no cenário underground, como a paulistana Hurtmold e Marcelo Jeneci, que estreou recentemente com o disco “Feito para Acabar”. Melodias, letras mais alegres que as do disco anterior e a vontade de se firmar como intérprete levantam o astral dos mais sensíveis e mostra uma face diferente do trabalho do carioca.

Thaís Gulin

Pop Rock

R.E.M.

Collapse Into Now Warner Music Há pouco tempo, eram poucos os que se lembravam do R.E.M. “das antigas”. Poucas menções honrosas e participações em shows de terceiros camuflavam a formulação desse novo trabalho. O trio retorna agora ao patamar dos grandes, com o décimo quinto álbum da carreira, recheado de participações especiais como Patti Smith, Eddie Vedder (Pearl Jam) e a canadense Peaches. Destaques como Discoverer e Mine Smell like Honey fazem com que o R.E.M. deixe pegando fogo a cena atual da música até a beira do colapso.

Rock

Foo Fighters Wasting Light Sony Music Já faz muito tempo que Dave Grohl não é mais lembrado como o ex-baterista do Nirvana. Não fosse suficiente toda a bagagem adquirida ao lado de Kurt Cobain, na breve carreira da maior banda dos anos 90, ele conseguiu consolidar-se como o líder de um dos mais importantes grupos da década seguinte. Contrariando as expectativas, já muito diminuídas pela liberação das pesadíssimas faixas Rope e White Limo, o Foo Fighters entrega o disco mais pesado de sua carreira e deixa de sorriso aberto os novos e/ou reconquistados fãs.

Marcelo Camelo

Rock

Pearl Jam ‘Vs.’ e ‘Vitalogy’ Sony Music Depois de 20 anos de estrada na cena grunge e com mais de 60 milhões de CDs vendidos, a banda Pearl Jam vem consagrar seu sucesso em terras tupiniquins. O grupo norte-americano fará sua turnê em quatro cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e também Curitiba, no dia 09 de novembro, na Vila Capanema. Em comemoração a data, eles vão apresentar uma compilação ao vivo das canções marcantes da banda. No próximo mês, vem por aí também o documentário e livro, chamados: “Pearl Jam Twenty”, de Cameron Crowe.

POP

Shakira Sale El Sol Sony Music

Faltava à música pop alguém que dissesse “i’m crazy, but you like it”. Colombiana metade libanesa, catalã, italiana que fala espanhol, inglês e português, Shakira se diferencia das demais protagonistas do pop atual, tão caricatas e disformes. “Sale El Sol” é um disco cheio de altos e baixos, em que a cantora faz uma salada de alto apelo pop, misturando reggaeton, merengue, hip-hop, rock e ritmos variados. Como deve ser qualquer bom disco pop, Sale El Sol vale a título de entretenimento. E os momentos mais divertidos estão nas faixas “Loca” (feat. Dizzee Rascall), “Islands”, cover da banda The XX, e “Rabiosa”. REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011 | 57


Divulgação

opinião

Marcelo M. Bertoldi

Doutor em Direito Societário e coordenador-geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa no Paraná

Minha Família, Minha Empresa, Meus Bens

D

É natural que a divisão da riqueza gerada pela empresa os diversos temas relacionados com goverpasse a ser um tema enfrentado pelas gerações que sucenança na empresa familiar, aquele que diz dem o fundador do negócio, sendo expectativa de todos respeito ao tratamento que a família dá aos que tal divisão seja feita da forma mais justa possível. Se é bens da empresa merece especial atenção. assim, não será mais admissível que se permita que os sóMuitas vezes, se negligenciado, ele pode causar sérios cios (irmãos e/ou primos) passem a utilizarem-se indistintranstornos e colocar em risco a saúde da sociedade emtamente dos bens da sociedade. Ao contrário, o ideal é que presarial. É comum, e até mesmo natural, que o empreseja incluído no acordo societário – que deve regular as reendedor – aquele que criou o negócio e o fez prosperar lações entre os sócios familiares – que os bens da socieda– considere os bens da empresa como seus próprios bens, de devem ser utilizados, exclusivamente, para o proveito utilizando-os em proveito da empresa e também em seu do negócio, cabendo aos sócios usufruírem exclusivamenproveito próprio. Clássico é o exemplo do jardineiro da te dos dividendos gerados pela sociedade e não obterem empresa que, uma vez ao mês, trata do jardim da casa do vantagens indiretas, na maioria das vezes difíceis de serem seu patrão; do avião da empresa que leva os amigos para fiscalizadas e/ou valoradas e, que, possivelmente, causaaquela pescaria ou a família para as férias de final de ano; rão a tão repudiada desproporou mesmo do apartamento ção e injustiça na divisão dos na praia ou casa no campo Essa confusão fatalmente trará benefícios societários. que, sem nenhum motivo consequências negativas para o lógico, acabou sendo comEste tema pode parecer de peprada em nome da empresa, negócio e para as relações familiares quena importância diante de mas que serve exclusivauma grande empresa. Afinal de mente como instrumento de contas, qual a relevância do custo de algumas horas do tralazer da família. balho de um funcionário ou da utilização de algumas horas por ano de um avião ou de alguns dias de utilização de um Para uma pequena empresa, liderada por uma única pesapartamento ou casa diante da enorme riqueza de uma gransoa que ainda não está diante da necessidade de pensar de empresa? Possivelmente, a empresa não será mais rica sua sucessão, certamente essa confusão entre interesse ou mais pobre, diante da utilização comedida de seus bens familiar e empresarial não lhe trará maiores transtornos. em proveito dos interesses particulares de seus sócios. Em No entanto, se a família empresária já estiver diante do contrapartida, como esses benefícios dificilmente poderão início do seu processo de sucessão, com os herdeiros em ser distribuídos de forma equilibrada e justa entre todos os fase de se integrar nos negócios, seja como colaboradosócios familiares, certamente existirão aqueles que ficarão res (funcionários ou executivos), seja diante do necessácom a sensação de que seus interesses estão sendo preteririo treinamento pelo qual devem passar para se tornarem dos em proveito de outro familiar, gerando, com isso, desbons sócios (donos do negócio), essa confusão fatalmengaste na relação entre sócios, enormes prejuízos à sociedade te trará consequências negativas para o negócio e para as e, principalmente, às relações familiares. relações familiares.

58 | REVISTA MÊS | AGOSTO DE 2011


Laercio Mello

Caso queira ver também sua foto publicada na coluna Fotograma. Participe enviando sua imagem em alta qualidade para o e-mail: leitor@revistames.com.br

No Jardim Botânico de Curitiba, logo após uma forte chuva. Poucos estavam lá para ver este belo espetáculo.

FOTOGRAMA


dor M

mbarga

Rua Dese

uritiba /

81 / C otta, 29

-1303

41 3323


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.