Valores Próprios 2014-005

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VALORES PRÓPRIOS SET/OUT 2014


TECNICO.ULISBOA.PT

FOTOGRAFIA © ALEXEI TACU / SHUTTERSTOCK

ENSINO, INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO ENGENHARIA, ARQUITETURA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA


Tomar o destino nas mãos Quando assistimos à liquidação de grandes empresas pela ação irresponsável de uns poucos, não podemos deixar de pensar se, individualmente, não contribuímos de alguma forma para a situação ou se poderemos reduzir a probabilidade de repetição de tais atos. O excesso de poder advém muitas vezes da própria vontade dos subordinados em deixarem o seu destino em mãos alheias. O receio do desconhecido faz-nos acreditar que outros decidirão melhor do que nós em questões importantes para o nosso futuro. É por isso relevante a seguinte questão: o Técnico dá aos seus alunos todos os instrumentos que necessitam para tomarem o seu destino nas suas próprias mãos? Todos os anos entram no Técnico uma grande parte dos melhores alunos de física e matemática do país. A formação oferecida pelo Técnico a estes alunos não pretende que apenas saibam pensar, analisar e encontrar soluções para problemas, mas que, como engenheiros, consigam também usar as suas competências para fazer e agir. É a qualidade dos alunos e do corpo docente do Técnico em conjunto com a capacidade de fazer e agir que está retratada nesta edição da “Valores Próprios”. Há cada vez mais alunos, antigos alunos, investigadores e professores do Técnico envolvidos na criação de novas iniciativas empresariais, fruto da redução das barreiras de entrada em novos negócios. Os investimentos iniciais em novas empresas, com potencial de atingir o mercado global, passaram dos milhões para as dezenas de milhares de euros. Conhecem-se agora novas formas de desenvolvimento de negócios, como o “Lean Startup”, que reduzem os riscos de insucesso pela validação permanente das opções. Sabemos também que é normal não acertar à primeira, mas que os insucessos são as bases de futuros sucessos: experimentar este modelo de iterações sucessivas é uma forma de vencer o medo do insucesso e da falência. É também conhecido que uma startup não é uma empresa em ponto pequeno, onde se repetem processos estabelecidos, mas um laboratório onde se procuram novos processos que possam ser escalados para o mercado global. Neste ambiente de incerteza constante, nem todos os ensinamentos tradicionais de gestão de empresas são úteis: é mais importante ser capaz de alterar o produto ou serviço em função das respostas do mercado. Apesar de tudo isto não continuaremos no Técnico amarrados fundamentalmente à alternativa entre a carreira profissional e a de investigação? Uma escola de engenharia de nível internacional como o IST precisa de que os seus alunos, professores e investigadores pratiquem os processos de desenvolvimento de novas ideias de negócio. Tal como na Física, também aqui é essencial o ensino experimental: é necessário sair do edifício para falar com potenciais clientes ou parceiros. Experimentando a montanha russa que é a vida do empreendedor é possível reduzir o medo do insucesso. Precisamos de mais unidades curriculares onde os alunos possam experienciar o processo de levar para o mercado um produto, incluindo a realização de protótipos. Os professores e investigadores devem participar em programas de aceleração de inovação para valorizar das suas tecnologias face às necessidades de potenciais utilizadores ou clientes. A mudança tecnológica é atualmente conduzida por novas empresas que exploram novas ideias e novas tecnologias. Portugal não pode fugir a esta realidade principalmente numa altura em que vemos desmoronar grandes empresas que foram há bem pouco tempo tidas como referências e motores para o crescimento da economia. O domínio das tecnologias juntamente com o domínio dos processos para as levar até ao mercado dará aos nossos alunos a confiança de terem o seu destino nas suas próprias mãos. Luis Caldas de Oliveira Vice-Presidente para o Empreendedorismo e Ligações Empresariais

YARYGIN / SHUTTERSTOCK

Editorial


Instantâneos 2014

Ciência

Investigadores do IST no Ártico

Acelerador compacto de partículas mais perto da realidade

João Canário, investigador do Centro de Química Estrutural (CQE), e Leandro Castanheira, aluno de mestrado de Engenharia Química, estão no Ártico Canadiano, numa campanha científica de amostragem desde o dia 25 de junho. Esta campanha, integrada no Projeto PERMACHEM, financiado pelo Programa Polar Português e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, pretende estudar a composição química da matéria orgânica natural dos lagos de termocarso e o seu papel na especiação, partição e transporte de metais pesados nestes ecossistemas boreais. A formação destes lagos no Ártico tem vindo a aumentar devido ao aumento da temperatura do planeta, particularmente sentido nas Regiões Polares, e à consequente degradação da permafrost (solo permanentemente gelado), que no norte é extremamente rico em carbono. Este aumento de temperatura tem sido notório nos últimos anos e os investigadores do CQE estão, neste momento, sobre um recorde de temperaturas do ar na ordem dos 26 ºC a 29 ºC. !

Uma equipa internacional de físicos, liderada por investigadores do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), do Técnico, confirmou dois importantes resultados que permitirão a realização de uma inovadora experiência de aceleração de partículas no CERN (Centro Europeu de Investigação Nuclear). Os dados, obtidos graças a simulações numéricas num dos maiores supercomputadores no mundo, abrem portas à conceção de uma nova geração de aceleradores de partículas compactos, baseados no conceito de aceleração a plasma. Ambos os trabalhos foram publicados na revista Physical Review Letters. A aceleração de partículas em plasmas é uma tecnologia emergente que promete revolucionar, nas próximas décadas, várias áreas tecnológicas e do conhecimento. As aplicações vão desde o desenvolvimento de métodos terapêuticos mais avançados e económicos até à conceção de dispositivos compactos que permitirão uma melhor compreensão da matéria que compõe o Universo. O maior acelerador a plasma já concebido irá ser construído no CERN, onde serão verdadeiramente testados os limites desta tecnologia. Até agora, no entanto, não se conseguiu chegar a um consenso na comunidade científica sobre o sucesso

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desta experiência, havendo sérias dúvidas que o acelerador a plasma no CERN pudesse funcionar corretamente: as estruturas de aceleração seriam muito instáveis e incapazes de acelerar partículas até às energias pretendidas. Pensava-se também que não seria possível construir um acelerador de partículas unicamente com base nesta tecnologia. Por fim, com base nas análises das experiências atuais, acreditava-se que apenas seria possível acelerar eletrões, mas não positrões (anti-partícula do eletrão), também necessários neste tipo de dispositivos. Os resultados agora apresentados foram recebidos com grande satisfação, ao demonstrar a possibilidade da estabilização do acelerador no CERN, e a viabilidade de conceber futuros aceleradores de partículas baseados em plasmas de dimensões muito reduzidas. De acordo com Jorge Vieira, investigador no Grupo de Lasers e Plasmas do IPFN/IST e principal autor dos trabalhos, “estes resultados elevam a aceleração a plasma a um grau de maturidade sem precedentes, e a participação do CERN nesta experiência mostra que este conceito está a ganhar cada vez mais ímpeto como mecanismo de aceleração de futuros aceleradores”. !

Prémio

TÉCNICO

JOÃO CANÁRIO / CQE

J. VIEIRA, R.A. FONSECA E L.O. SILVA / TÉCNICO

Investigação

Doutorada do Técnico vence Prémio António Xavier Inês Sousa, doutorada ao abrigo do Programa Doutoral em Engenharia Biomédica do Técnico, venceu o Prémio António Xavier 2014, referente à tese entregue em 2013. “Development of Quantitative Functional Magnetic Resonance Imaging Methodological Approaches” é o nome do trabalho, orientado pela professora Patrícia Figueiredo, que lhe valeu a vitória na competição, repartida com Gonçalo Graça, da Universidade de Aveiro. O Prémio António Xavier, instituído em 2006 e com o valor de 5000 euros, recompensa investigadores ou equipas portuguesas que se tenham distinguido nas áreas de Ressonância Magnética Nuclear, Imagem por Ressonância Magnética ou Ressonância Paramagnética Electrónica. !


Instantâneos 2014

Evento

JOSÉ SANTOS / TÉCNICO

JOSÉ SANTOS / TÉCNICO

Empreendedorismo SARAH SAINT-MAXENT / TÉCNICO

Alumni

Assembleia Geral da AAAIST traz alumni de volta ao Técnico

Passar o Verão no Técnico a fazer ciência divertida

LxMLS Demo Day promove convívio informal

Cerca de duas dezenas de antigos alunos do Técnico regressaram, em junho, à escola, para participar numa Assembleia Geral da Associação dos Antigos Alunos do IST (AAAIST). A Assembleia foi antecedida de uma visita guiada ao Laboratório de Hidráulica, do Centro de Estudos de Hidrossistemas, e ao Museu do Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos (Museu DECivil), muito bem recebida pelos alumni presentes. Um dos pontos da ordem de trabalhos da reunião foi a Eleição dos Órgãos Sociais para o período 20142016, onde o professor Diamantino Durão voltou a ser eleito presidente da Assembleia Geral, e o engenheiro Francisco Sánchez presidente da Direção da AAAIST. De ressalvar também a eleição de dois novos membros, os engenheiros António Pita de Abreu e Manuel Lopes da Costa, que passarão a integrar a lista de membros da Direção da Associação. A Associação dos Antigos Alunos do Instituto Superior Técnico pretende “fazer a ponte entre o Técnico e os seus Antigos Alunos”, “à semelhança das suas congéneres de outras Universidades e Escolas de referência nacionais e internacionais”. !

Mais de duas centenas de jovens escolheram o Técnico para passar as férias a fazer ciência, num programa integrado no Verão na ULisboa. Construir papagaios de papel e aviões em miniatura, perceber como funciona uma impressora 3D ou fazer uma placa eletrónica que desliga televisões são apenas alguns dos desafios que os alunos entre os 13 e os 16 anos tiveram que ultrapassar. Pedro Carlos, de 15 anos, é um deles. No ano passado, participou na semana da Faculdade de Arquitetura, este ano decidiu visitar o campus da Alameda no Técnico. No próximo ano, espera participar no programa do Taguspark. “Estou aqui para aprender, estar ocupado e tirar dúvidas em relação ao que quero seguir”, explica, na sala onde passou a tarde a construir a placa eletrónica “anti-televisões”, com o apoio do Núcleo de Estudantes de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. Já Francisco, de 13 anos, está entretido a construir um comboio, com palhinhas, rolhas e palitos, para participar na competição de engenharia. No futuro, quer ser piloto – a mãe quer que “vá trabalhar para a NASA” – mas, agora, diverte-se com Mariana, Pedro e André, que formam a primeira equipa da segunda semana a criar um modelo “que anda mesmo”. “Tivemos imensas ideias”, começa por

O Salão Nobre do foi o palco escolhido para o Demo Day do Lisbon Machine Learning School (LxMLS) 2014, um programa de verão em Machine Learning que anualmente acontece no Técnico, e que já conta com quatro edições realizadas. O Demo Day, um encontro informal entre alunos, investigadores e empresas, tem o propósito de fomentar a troca de ideias e contactos, e o objetivo foi claramente atingido, com várias dezenas de participantes do LxMLS, e não só, a rumarem ao Salão Nobre para fortalecerem a sua rede de contactos. Unbabel, uma startup ligada ao Técnico, Priberam ou EGG Electronics foram apenas algumas das empresas que se associaram ao evento, participando na sessão para prestar esclarecimentos e mostrarem o trabalho de última geração que ali se faz. Marvin, o robô da Unbabel, fez as delícias de muitos dos presentes no Demo Day. Também vários Laboratórios Associados do IST estiveram presentes, como o INESC, Instituto de Telecomunicações ou IPFN, por exemplo, sendo o último muito requisitado devido à participação na construção de um enorme acelerador de partículas no CERN (Centro Europeu de Investigação Nuclear). !

dizer André. “Mas ao mesmo tempo sabíamos que isto tinha que ser tudo muito bonito, queríamos ter o maior número possível de pontos”, interrompe Francisco, com a excitação própria de alguém que está a fazer o que gosta, e sair-se bem. Mais experiência, menos experiência, perceberam qual seria a melhor solução. “Faz o percurso direitinho nos carris, e ainda faz um 360º no final – é um exibicionista”, continua a dizer o futuro piloto. Antes de chegarem à competição de engenharia, passaram pelas atividades de engenharia civil, onde construíram uma ponte com pauzinhos e experimentaram fazer um edifício que resistisse a sismos, e da S3A, onde construíram um drone… “Mas nessa não ganhámos nada”, lamentam. Aqui, na competição baseada em várias atividades do BEST, outro dos núcleos de estudantes do Técnico, são heróis. “Confesso que fiquei surpreendido por ter corrido tão bem”, resume Francisco. A semana é pensada para todos os gostos e, no final, os rostos estão felizes – e cansados. Aprenderam a programar, a soldar e a modelar para uma impressora 3D, perceberam as leis por detrás do voo dos papagaios de papel e fizeram experiências químicas. “É uma forma de experimentarmos um bocadinho de tudo”, explica Pedro Carlos. !

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Instantâneos 2014

Prémio

DR

SARAH SAINT-MAXENT / TÉCNICO

Alunos

JOSÉ SANTOS / TÉCNICO

Alumni

Alumnus alcança 3.º lugar no prémio Primus Inter Pares

Alunas do Técnico arrecadam 2.º lugar no Prémio FAZ

“A AEIST é uma escola para a vida”

Miguel Teixeira, recém-diplomado do mestrado em Engenharia de Materiais no Instituto Superior Técnico, foi o terceiro classificado no prémio de gestão Primus Inter Pares, que premeia alunos de Economia, Gestão e Engenharia. O antigo aluno, que nos últimos anos coordenou o curso de Engenharia de Materiais com o trabalho no Laboratório de Termodinâmica do Centro de Química Estrutural, foi o único representante da área de Engenharia entre os finalistas, e ficou apenas atrás de dois estudantes da Universidade Nova de Lisboa. Com o terceiro lugar alcançado, Miguel Teixeira ganhou a oportunidade de frequentar, nos próximos cinco anos, um MBA ou uma pós-graduação numa escola de negócios “de nível internacional”, algo que pensa fazer depois de passar uns anos “a trabalhar” na sua área, a Engenharia de Materiais. O prémio Primus Inter Pares é uma iniciativa do Expresso e do Banco Santander Totta, que visa premiar os melhores alunos das áreas de Economia, Gestão e Engenharia e descobrir “futuros líderes” nas universidades portuguesas. !

Mafalda Pacheco, Egle Bazaraite e Sara Lucas, todas alunas do Técnico, ficaram em 2.º lugar na terceira edição do Prémio FAZ - Ideias de Origem Portuguesa, um concurso de empreendedorismo social dirigido à diáspora portuguesa, que conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e da COTEC. Juntamente com Filipe Raposo, as alunas apresentaram o projeto Salva a Lã Portuguesa, cujo objetivo é valorizar o património natural português, através da preservação e aproveitamento da lã nacional. “Com o aparecimento das fibras sintéticas industriais, este ativo natural tem vindo a perder o seu valor comercial e a lã é, hoje em dia, deitada fora pelos produtores portugueses após a tosquia das ovelhas, devido à falta de canais de distribuição. O projeto pretende envolver os pastores e donos de rebanhos sensibilizando-os para o valor da lã, fazendo renascer os equipamentos e técnicas de fiação, e comercializando uma marca de lã portuguesa destinada à confeção de vestuário de qualidade”, explica a professora Teresa Heitor, docente no Técnico. Lançado em 2010 pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), o Prémio FAZ - Ideias de Origem Portuguesa é

Os novos órgãos sociais da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) para o mandato 2014/15 tomaram posse no início do mês de junho, numa cerimónia oficial que decorreu no salão nobre do Pavilhão Central. João Pedro Costa, presidente da Mesa da Assembleia Geral cessante, foi o primeiro a tomar a palavra, para agradecer a todos os membros da AEIST que trabalharam no último ano “representando todos os alunos” da escola. “Desta Associação espera-se a responsabilidade de defender os estudantes do IST (...). O Técnico vive tempos difíceis mas sempre conseguiu sair melhor das crises cíclicas que viveu”, afirmou o também ex-presidente da AEIST. O presidente do Técnico, Arlindo Oliveira, também esteve presente no evento, lembrando que “a AEIST é uma escola para a vida”, mas que é importante que os seus membros “não se fechem exclusivamente sobre a Associação dos Estudantes”. “Os desafios agora são diferentes, mas não necessariamente mais fáceis”, afirmou o presidente do Técnico. “Peço que se envolvam na luta por uma escola de qualidade”. Pedro Sereno, que voltará a ocupar o cargo de presidente da associação, encerrou a sessão com um grito animado: “Viva a AEIST!” !

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um concurso destinado a apoiar projetos nas áreas do Ambiente e Sustentabilidade, Diálogo Intercultural, Envelhecimento e Inclusão Social. O prémio, no valor de 50 mil euros, é inteiramente destinado ao financiamento dos projetos, dos quais 25 mil euros serão atribuídos ao vencedor, 15 mil euros ao segundo lugar e 10 mil euros ao terceiro. Para além do prémio pecuniário atribuído aos três primeiros lugares do concurso, todos os dez finalistas terão apoio no acompanhamento dos seus projetos. A terceira edição do FAZ recolheu 64 novas ideias de empreendedorismo social, envolvendo 248 participantes de 22 países. Deste universo foram selecionadas 10 equipas finalistas, que estiveram entre os dias 3 e 5 de Junho na FCG a receber formação intensiva do Instituto de Empreendedorismo Social. Entre os participantes neste workshop estiveram portugueses residentes nos mais variados pontos do globo, como o Brasil, a Arábia Saudita, o Qatar, os Estados Unidos da América, a Venezuela ou Moçambique, e variadas cidades europeias. !


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Empreendedorismo Incubadora

Startup Lisboa, o local onde se junta espaço, mentores e rede de contactos às grandes ideias de negócio A incubadora, situada na capital portuguesa, foi criada em 2011 depois de ter sido uma das ideias mais votadas no Orçamento Participativo de Lisboa Texto Sarah Saint-Maxent

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Há uns anos o sonho era trabalhar para grandes consultoras e banca de investimento. Neste momento os exemplos são o Zuckerberg e o Steve Jobs…” As palavras de João Vasconcelos, diretor executivo da Startup Lisboa, resumem o panorama universitário dos dias de hoje. O objetivo, muitas vezes, não é ingressar no mercado de trabalho tradicional e sim fundar uma empresa, criar um novo negócio ou desenvolver um produto diferente. É nesse contexto que entram incubadoras de empresas como a Startup Lisboa, dedicada a “apoiar o desenvolvimento e o crescimento de startups de base tecnológica e das áreas do comércio e turismo, através da cedência de espaços de trabalho, mentoring e da ligação a parceiros estratégicos”. Criada em 2011 e com cerca de 180 startups apoiadas nos últimos três anos, o projeto nasceu “da vontade dos cidadãos”, explica João Vasconcelos. Foi “uma das ideias mais votadas no Orçamento Participativo de Lisboa” e integra uma estratégia da Câmara Municipal de Lisboa para a “promoção e reabilitação urbana e económica do centro da cidade”, contando já com um edifício na zona histórica da cidade e a caminho do segundo.


JOSÉ SANTOS / TÉCNICO

Para o diretor executivo, estar envolvido no projeto da Startup Lisboa é “poder contribuir para a construção de um ecossistema que promova a inovação e o crescimento de novas empresas”, que poderão acabar por mudar “a vida das pessoas, a sua forma de consumirem ou viajarem”. Para as empresas incubadas, as vantagens são variadas: espaço para trabalhar, parcerias, mentores, acesso a investidores e eventos são algumas das mais notórias mas, como refere João Vasconcelos, o mais importante é “estar com outros empreendedores, partilhando problemas comuns e soluções, aprendizagens, know how”. “Criar uma empresa é duro. Será mais fácil se estiver com outras pessoas que estão a fazer o mesmo.” Muitas dessas pessoas acabam por ser antigos alunos do Técnico, de áreas tão variadas como a Engenharia e Gestão Industrial ou a Engenharia Informática. Para João Vasconcelos, é “difícil estar a referir alguns em detrimento de outros”, mas questionado sobre alguns dos mais bem-sucedidos lembra Jaime Jorge, da Codacy, Pedro Oliveira, da Jobbox, Gonçalo Fortes e Samuel Martins da Prodsmart – “todos fundadores de startups em fases diferentes de crescimento, mas que ilustram o que de melhor sai

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Número de startups incubadas em três anos de funcionamento das universidades portuguesas e, em particular, do Técnico”. São várias as startups que saíram das mãos de alunos do Técnico, passaram pela incubadora da capital portuguesa e hoje já são – ou começam a afirmar-se – como um sucesso nacional e além-fronteiras. Uma das mais recentes, criada por Vasco Moreira, Gonçalo Mendes e João Andrade (ex-alunos do Técnico), e ainda João Leitão (alumnus da Universidade de Coimbra), apelidada Followprice, vive em torno da ferramenta de ma-

rketing online criada pela equipa, que permite “seguir as variações de preço de produtos específicos”. Chegaram à Startup Lisboa em janeiro desde ano, depois de garantirem a sua presença através do programa PT Bluestart, um dos vários a que concorreram – tendo vencido alguns deles. Segundo Vasco Moreira, a estadia na incubadora tem-se revelado fundamental para o sucesso do projeto: “A disponibilização de um espaço é essencial, mas mais importante é todo o network envolvido e a existência de mentores, especialistas das diferentes áreas de negócio”. A decisão de formar uma empresa, para este grupo de jovens, partiu da “vontade de fazer coisas e concretizar visões, do gosto pelo risco” e também da possibilidade de serem “autónomos” e poderem “controlar o negócio”. Apesar disso, consideram que “ser empreendedor não implica criar uma empresa”, como explica Vasco Moreira: “Podemos ser empreendedores em qualquer contexto, inclusivamente numa empresa de outros”. Então porquê não fazer isso mesmo? “O gosto por este grande desafio dá-nos a força e a vontade de criarmos a nossa própria empresa.” Esta começa a ser a decisão de alguns estudantes universitários, mas

o panorama em Portugal ainda está longe do de outros países. “Na Startup Lisboa, cerca de 90% dos fundadores já tiveram experiências de trabalho prévias; noutros países, em espaços semelhantes, o número é totalmente oposto, sendo que a maioria dos empreendedores são jovens licenciados”, explica João Vasconcelos, adiantando ainda que há um número crescente de empreendedores estrangeiros que procura Lisboa para desenvolver e testar os seus negócios. “Este é o momento para colocar Portugal no centro do ecossistema empreendedor mundial” No entanto, refere “ainda há muito a fazer pelo empreendedorismo no ambiente académico”, nomeadamente a nível de investimento no Ensino Superior e por parte das diferentes escolas. “As universidades têm e podem ter um papel ainda mais ativo na promoção do empreendedorismo, pois é delas que saem os bons empreendedores, os mais qualificados”, atira. “Na Startup Lisboa, estamos apostados em promover uma relação cada vez mais próxima com as universidades: no apoio a eventos, na divulgação de estágios e ofertas de emprego das nossas startups, na realização de sessões com empreendedores que partilham conhecimento e experiência com os alunos.” !

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Empreendedorismo IST SPIN-OFF

Uma comunidade que junta as empresas ligadas ao Técnico Ser uma IST SPIN-OFF é uma garantia de qualidade e credibilidade que não está acessível a todos Texto Sarah Saint-Maxent

O que une a Priberam Informática, da qual faz parte um dos mais conhecidos dicionários online de língua portuguesa, a Talkdesk, uma startup que permite a qualquer pessoa criar um call center em 10 minutos ou a HeartGenetics, que une a genética à tecnologia para melhorar a prática da medicina? A resposta está na sua formação: todas elas, criadas na década de 80 ou no ano passado, estão ligadas ao Técnico e, hoje, fazem parte da comunidade IST SPIN-OFF. “Aqui reunimos empresas que foram saindo do Técnico e que estão, neste momento, em estádios diferentes de desenvolvimento”, explicou o professor Luís Caldas de Oliveira, vice-presidente para o Empreendedorismo e Ligações Empresariais, no último encontro da comunidade IST SPIN-OFF, que decorre todos os anos. Para o docente, este evento, que junta as várias empresas, serve o propósito de “reconhecer o espírito empreendedor de pessoas ligadas à escola e que tiveram a coragem de abraçar um novo desafio e formar a sua própria empresa”. “Gostamos de usar estas pessoas como exemplo para os alunos atuais, porque o empreendedorismo é um caminho que podem seguir, agora ou mais à frente na sua vida.” Além disso, os encontros permitem uma “partilha de experiências” entre os vários membros, além de garantirem um sentimento de pertença que pode ser importante em momentos mais complicados da vida destas companhias.

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Número de empresas da comunidade IST SPIN-OFF Criada no final de 2009 com o propósito de fomentar um relacionamento mais ativo entre empresas cujas origens estejam ligadas à Escola, bem como uma ligação mais próxima destas ao Técnico, a comunidade IST SPIN-OFF ambiciona tornar-se uma referência internacional na área do empreendedorismo de base tecnológica, atraindo alunos, investigadores e docentes motivados para a criação de empresas no contexto competitivo global. Neste momento são 44 as empresas de base tecnológica que fazem parte da comunidade e têm permissão para usar a marca IST SPIN-OFF, nos termos do protocolo estabelecido com a escola. As últimas a entrar neste lote restrito, em 2013, foram a

Orange Bird, detentora da PPL, uma plataforma de crowdfunding portuguesa, a HeartGenetics, que trabalha na área da genética e medicina personalizada e a Codacy, uma plataforma que ajuda a tornar o desenvolvimento de software mais eficiente. Antes dessas, companhias de renome internacional, como a SISCOG ou a Terraprima, fizeram questão de se juntar à comunidade. A primeira, uma empresa de software fundada em 1986, fornece sistemas de apoio à decisão para o planeamento e gestão dos recursos em empresas de transportes, e tem como um dos mais emblemáticos projetos a rede de metropolitano de Londres; a segunda dedica-se à conceção e implementação de sistemas integrados de compensação de impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, e foi recentemente vencedora de um prémio da Comissão Europeia para promover boas práticas ambientais. Pedro Domingos, antigo aluno do Técnico e fundador da Orange Bird, resume aquela que considera ser a vantagem principal das IST SPIN-OFF: “O Técnico ajuda a dar-nos a credibilidade de que precisamos para nos apresentarmos e, muitas vezes, sermos ouvidos”. A mesma ideia é realçada por outro ex-aluno, Jaime Jorge, da Codacy. “Sem o Técnico não teríamos recebido qualquer investimento. O Técnico é a alma e o coração da nossa empresa, de certa forma.” !


11 JOSÉ SANTOS / TÉCNICO


Empreendedorismo Unbabel

“Quando se faz uma startup não há atalhos” Cinco empreendedores portugueses juntaram-se para criar uma plataforma de tradução que faz sucesso no mundo inteiro Texto Sarah Saint-Maxent

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Do Técnico ao ISTART Lab são dois minutos, mas apenas porque os semáforos estão vermelhos para peões. Na verdade, basta atravessar a rua para chegar aos escritórios da Unbabel, uma das mais recentes e bem-sucedidas startups ligadas ao Técnico. João Graça (ex-aluno) e Vasco Pedro (investigador) juntaram-se a Sofia, Bruno e Hugo em 2013, e tiveram uma ideia para facilitar a comunicação online entre pessoas que não falam a mesma língua: aliar à tradução automática, uma promessa antiga, a uma comunidade de “experts”. Assim nasceu a Unbabel, uma plataforma que assegura a qualidade das traduções “mecanizadas” através da edição por pessoas reais, que acedem à aplicação através dos telemóveis e são pagas pelo serviço. “Imaginem um estudante universitário que, no metro a caminho do Bairro Alto, vai fazendo traduções para ter dinheiro para a saída”, explica Vasco Pedro. Os primeiros passos que, como sempre, são difíceis, foram acelerados com uma notícia inesperada: a 11 de novembro de 2013, depois de uma entrevista-relâmpago, souberam que a equipa tinha assegurado um lugar no programa de aceleração do YCombinator, um dos melhores e maiores aceleradores de startups do mundo.


JOSÉ SANTOS / TÉCNICO

“Na verdade, ponderámos nem sequer nos candidatar, a probabilidade de conseguirmos era muito baixa.” Depois de conseguirem o lugar, o trabalho árduo chegou. Em janeiro mudaram-se de armas e bagagens para Silicon Valley, onde Sofia ainda se mantém, para três meses intensos em que “só havia trabalho”. “A coisa boa do YCombinator é que nos obriga a trabalhar. A equipa estava junta 24 horas por dia, e a única coisa que podíamos fazer era a Unbabel”, conta o cofundador da startup. Durante a estadia, atingiram níveis de crescimento quase impossíveis: “Terminámos com um crescimento médio de 40% por semana, mas chegámos a ter semanas com crescimento de 100%”. O orgulho de Vasco quando fala no projeto é óbvio, apesar de reconhecer que não é fácil. “Se há uma coisa que aprendi é que quando se faz uma startup não há atalhos. Tudo aquilo que realmente vale a pena fazer dá trabalho, e uma startup não é exceção”. Desde que saíram do YCombinator, já garantiram um financiamento de um milhão e meio de dólares, através de uma série de investidores. “Não estávamos preparados para o nível de interesse que tivemos”, desabafa Vasco, acrescentando que

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Número de clientes comerciais assegurados pela Unbabel isso, felizmente, lhes permitiu escolher “com quem trabalhar”. Além disso, aumentaram a equipa, que conta agora com 14 colaboradores – e continuam à procura de novas caras “para reforçar o plantel”: “Estamos sempre à procura das melhores pessoas possíveis, mas neste momento precisamos especificamente de alguém para front-end development”. A proximidade geográfica com o Técnico é uma vantagem para a Unbabel a esse nível, já que permite captar a atenção de alunos ou recém-li-

cenciados. “Para um aluno que tenha 10 horas disponíveis por semana, é muito fácil fazer um part-time numa empresa que esteja próxima da escola, onde pode aproveitar os furos e as horas mortas para trabalhar. Estar perto do Técnico, para nós, é uma vantagem, até porque temos muito colaboradores que são alunos ou ex-alunos do Técnico”, explica Vasco. A localização seria uma vantagem para todas as empresas, acrescenta: “O Técnico tem excelentes alunos e tem potencial para criar muito mais empresas”. Além do crescimento da equipa e aumento de capital, também expandiram o número de clientes comerciais, que são agora 160, com nomes tão sonantes como o Couchsurfing ou o Pinterest, que têm muita interação entre clientes de todo o mundo. A comunidade de editores também tem estado a crescer a um ritmo de 3% por semana, com ações específicas para cada língua que se torna necessária. “Quando precisamos de aumentar o número de editores de holandês temos uma estratégia, mas se for para o mandarim já temos que apostar numa plataforma diferente.” O empreendedor, que já teve várias experiências anteriores na criação de startups – não muito bem-sucedidas – diz que este é o tempo

ideal para arriscar na formação de uma nova empresa. “Acho que está a acontecer uma revolução, com epicentro em Silicon Valley mas um pouco por todo o mundo, em que as pessoas sentem que têm capacidade e autonomia para criar”, explica. E a idade certa, diz, é “logo depois da licenciatura”: “É nessa altura que podemos arriscar, sem termos muito a perder. Às vezes as pessoas não trabalham numa startup por considerarem que pode ser visto como uma menos-valia para o futuro. Na verdade, normalmente é o contrário, já que uma pessoa numa startup aprende muito mais e muito mais rápido… porque está tudo por fazer”. Na Unbabel, é esse o caso: há sempre muito trabalho, e novo, para os membros da equipa. Em termos práticos, o objetivo a atingir, até ao final do ano, é “ficar sustentável”: “Gostávamos de assegurar um cash-flow positivo até ao fim do ano. Teríamos que assegurar uma faturação mensal de 80 mil dólares… o nosso objetivo é chegar aos 100 mil.” Para isso, há que equilibrar investimento, clientes, editores e colaboradores. “A verdade é que não temos, nem nunca tivemos, falta de interessados. Temos é que tentar fazer crescer tudo ao mesmo ritmo.” !

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Momento

Projeto apresentado na DemoDay do Lisbon Machine Learning School, um encontro informal entre alunos, investigadores e empresas.

2014

Fotografia JosĂŠ Santos



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FOTOGRAFIA © LAFLOR / ISTOCKPHOTO

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TECNICO.PT


Entrevista Alumni

“Termos uma faculdade como o Técnico aqui tão perto permite-nos ter a garantia que temos recursos com qualidade” Carlos Silva é antigo aluno do Técnico e co-fundador da Seedrs, uma plataforma online que permite a qualquer pessoa financiar startups Texto Sarah Saint-Maxent


Entrevista Alumni

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O que é a Seedrs? Nós definimos a Seedrs como uma plataforma de equity crowdfunding, uma forma mais eficiente, mais democrática e mais distribuída de levantar capital para startups. É um marketplace para que as startups possam encontrar investidores, e qualquer pessoa possa investir. De repente, com 10 libras podemos investir numa startup.

importante começarmos lá. Tem um mercado de empreendedorismo muito mais maduro e é o centro europeu para startups e financiamento. Por outro lado, tinha um enquadramento regulatório que nos fazia acreditar que era possível fazer isto e sermos autorizados no Reino Unido. Por isso decidimos arrancar e sediar a parte de negócio lá.

Como surgiu essa ideia? Depois de algum tempo a trabalhar em vários projetos, e quando concluí a licenciatura no Técnico, percebi que queria fazer coisas um bocadinho diferentes. Acabei por decidir ir para Oxford fazer um MBA, e o meu objetivo já era lançar uma empresa. Tinha uma série de ideias, nem todas particularmente geniais… e comecei a perceber que um grande problema para os empreendedores era o mercado de levantamento de capitais.

E Lisboa? Portugal tem condições excecionais para suportar toda a parte de tecnologia, toda a parte de engenharia, infraestrutura e design. É um bom sítio para se trabalhar, temos excelentes recursos e é muito mais fácil contratar talento de topo em Lisboa do que em Londres. O facto de termos uma faculdade como o Técnico aqui tão perto permite-nos ter a garantia que temos recursos com qualidade. Fazia sentido partirmos a empresa em dois e termos a parte de produto sediada em Lisboa.

Número de colaboradores da Seedrs

Porquê? Era um mercado extraordinariamente ineficiente, muito concentrado em dois ou três sítios geográficos, que funcionava mal e onde não havia inovação há dezenas de anos. Comecei a pensar como é que poderíamos tornar a coisa melhor. Foi assim que surgiu a Seedrs. Neste momento, estão sediados em Lisboa e em Londres… Londres, ou o Reino Unido, tinha vários pontos que faziam com que fosse

Campanhas concluídas com sucesso durante dois anos

70

12

Percentagem de crescimento trimestral da plataforma

Milhões de libras investidas

DR

Estão a operar há pouco mais de dois anos. Quantas empresas já financiaram? Tivemos 114 campanhas bem-sucedidas na plataforma, com cerca de 12 milhões de libras investidos, e temos neste momento 46 mil utilizadores. Além disso, temos estado a crescer a uma média de 70% por trimestre.

e para o próximo ano é dominar o mercado europeu. Já temos uma presença muito forte no Reino Unido e achamos que o mercado europeu ainda tem muito por onde crescer. Daqui a um ano, se tudo correr bem, continuaremos líderes do mercado europeu e teremos cimentado ainda mais essa posição.

Quais são os planos para o futuro? O nosso grande objetivo para este

Tem apoiado fortemente o empreendedorismo, através de

ações de acompanhamento e da participação na Beta-i. O que tem a economia a ganhar em apoiar os futuros empreendedores? É o empreendedorismo que cria real riqueza na economia, e isso aplica-se em várias vertentes, como a criação de emprego. Por outro lado, as pequenas empresas e as startups de hoje serão, algumas delas, as grandes empresas de amanhã. Há outra vertente, a chamada inovação disruptiva: são as startups que constroem novos mercados, revolucionam os mercados e criam os mercados de amanhã. Qual é o papel das universidades? Acho que as universidades devem ter um papel central no fomento do empreendedorismo. Os alunos estão a começar a ver as startups como saídas interessantes, porque veem o seu potencial de crescimento e porque sentem que conseguem ter impacto com o seu trabalho. Isto só é possível se houver uma divulgação e uma promoção, do ponto de vista das universidades, a este tipo de carreira. Acho que, nesse aspeto, falta fazer muita coisa mas já estamos bem melhor. Um conselho para futuros empreendedores? Get things done: deitar mãos à obra e experimentar, fazer e, se correr mal, começar de novo. Fazer é a parte essencial. !

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Entrevista ISTART

Um fundo de três milhões de euros para apoiar empreendedores universitários Joaquim Sérvulo Rodrigues, CEO da Espírito Santo Ventures, fala sobre a sua carreira e sobre o fundo de investimento ISTART Texto Sarah Saint-Maxent


Entrevista ISTART

3

Milhões de euros é o valor disponível no fundo de investimento

70

Número de empresas financiadas desde a criação do ISTART

Porquê deixar essa carreira e seguir para um MBA em França? Na altura tive a oportunidade de participar na criação de uma empresa, e tentei conciliar isso com a tese de doutoramento. Só mesmo quem nunca esteve ligado à criação de empresas novas é que pensa que as duas coisas são compatíveis, porque uma pessoa trabalha sete dias por semana, não tem noites… é muito trabalho. Estive três anos a fazer mais gestão do que engenharia e a gostar, mas também a perceber as minhas limitações. Foi aí que tomei a decisão de fazer um MBA no ISEAD. Foi quando acabei o MBA que o Banco Espírito Santo me convidou para ficar responsável pela banca telefónica que ia lançar, em 1997.

Ano da criação do primeiro fundo da ES Ventures

Ano da finalização do mestrado em Eng. Eletrotécnica e de Computadores

DR

Fez a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores no Técnico, e logo depois o mestrado. Porquê? Na altura era muito bom aluno e tive várias propostas para sair, mas queria mesmo fazer investigação e a decisão de tirar um mestrado era natural, queria seguir a carreira académica… Chegou mesmo a ser professor no Técnico entre 1983 e 1992. Sim, foi um tempo formidável, em que trabalhei com o professor Borges de Almeida e com o professor Tribolet. Estive também a trabalhar no meu doutoramento, no INESC… Tenho a minha tese em redes neuronais artificiais meia escrita, por acabar.

2005 1987

Como é que acaba por chegar à Espírito Santo Ventures (ES Ventures) e aos fundos de investimento? Em 1999 eu propus criar uma área para fazer investimento em áreas tecnológicas e empresas tecnológicas, uma área de Venture Capital. Começámos a investir em 2000 como uma holding que investia com o capital do banco, e em 2005 mudámos a natureza do negócio: havia várias entidades que queriam investir com o banco nestas áreas. Passámos a ser uma sociedade gestora de fundos de Venture Capital, e constituímos o primeiro fundo de investimento. Todos os fundos da ES Ventures investem em empresas de base tecnológica. Porquê essas?

Para uma empresa fazer algo de muito diferente, e melhor, do que aquilo que já existe, tipicamente usa tecnologia de uma forma inteligente. Raramente se consegue fazer isso sem ser através de tecnologia. Claro que há exceções, mas a esmagadora maioria das empresas que cria muito valor num tempo aceitável usa tecnologia para resolver um problema relevante. Um dos fundos que gerem é o ISTART, criado em parceria com o Técnico e outras entidades: a Brisa, a Caixa Capital, a Novabase Capital, o Grupo Espírito Santo, o Taguspark e o IAPMEI. O que é o ISTART? É um fundo de 3 milhões de euros que serviu para colmatar uma lacuna: os nossos fundos investiam em

empresas, não em startups, porque era muito difícil, para um fundo de 90 milhões de euros, investir 100 ou 200 mil euros. Assim, decidimos promover em conjunto com o Técnico um fundo que fosse claramente destinado a investir nessa fase muito inicial de startups. O Técnico e os seus responsáveis, com a lucidez suficiente, perceberam que um fundo, mesmo promovido pelo Técnico, não devia restringir-se a oportunidades da escola, mas abrir-se ao país todo. Além disso, consideraram, e bem, que devia ser gerido profissionalmente. Além de investirem financeiramente, também são mentores para as equipas. Sempre. Se não acreditarmos que conseguirmos acrescentar valor, não investimos. Se for só pelo dinheiro, não se faz. Por isso é que dá tanto trabalho: além do dinheiro implica tempo que é dedicado a apoiar aquela equipa de gestão e a tentar identificar lacunas, a abrir portas, a fazer contactos com empresas, o que seja. Quantas empresas já financiaram? Devemos ter investido em cerca de 60 ou 70 empresas desde que começámos. Para terminar: considera-se mais um gestor ou um engenheiro? Sou alguém com um conhecimento bastante transversal da tecnologia, mas acima de tudo, sou um privilegiado pelas pessoas com que sou confrontado. !

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Empreendedorismo Taguspark

Digisfera, a empresa promissora tornada gigante da fotografia tecnol贸gica mundial A companhia, fundada por pai e filho, esteve presente no Mundial de Futebol do Brasil, onde p么s a tecnologia ao servi莽o dos adeptos Texto Sarah Saint-Maxent


Empreendedorismo Taguspark

DIGISFERA

A Digisfera foi a responsável por uma fotografia gigapíxel da final do mundial de futebol, no Brasil, no jogo em que se defrontaram Alemanha e Argentina Há um ano, a fotografia oficial da tomada de posse de Barack Obama, publicada no Washington Post, e que integrou a tecnologia PanoTag, fez correr tinta nos jornais portugueses. Porquê? A aplicação, que “possibilita que as pessoas presentes se identifiquem, colocando o seu nome junto à sua imagem”, foi criada por uma empresa portuguesa, a Digisfera. Manuel Cabral, mestre em Engenharia de Redes e Telecomunicações (agora Engenharia de Telecomunicações e Informática) no Técnico, e o pai, António Cabral, reconhecido fotógrafo com cerca de três décadas de experiência, são as mentes por detrás desta pequena empresa, que continua a dar que falar. Além de ser responsável por visitas virtuais a Lisboa e Londres – e, a uma escala mais pequena, ao campus Taguspark do Instituto Superior Técnico –, a equipa da Digisfera foi também a criadora de uma mega-fotografia dos jogos de abertura e final do Mundial de Futebol, realizado no Brasil nos meses de junho e julho. Já antes, António Cabral esteve no campus Taguspark para fotografar, a 360º, as festividades do Dia do Nariz

2011 Ano de criação da empresa

Vermelho, comemorado a 4 de abril. Questionado numa entrevista à revista Marketeer sobre quais os projetos de destaque, o fotógrafo refere ainda o Roteiro do Fado, “uma visita em imagens 360º por Lisboa, que inclui várias casas de fado, o Museu do Fado, exposições temporárias e ateliers de construtores de guitarra. Esta visita tem a particularidade de ser constantemente atualizada com novas exposições, eventos e informações”.

Na Digisfera, pretendem aliar as duas áreas de conhecimento dos co-fundadores: a fotografia e a engenharia informática, para realizar “projetos nas áreas de realidade virtual, comunicação, publicidade e imagem”. Criada em 2011 e sediada na Incubadora do Taguspark, onde várias startups ligadas ao Técnico também funcionam, a empresa conta já com uma carteira de clientes nacionais e internacionais de grande valor, onde constam nomes como a Sotheby’s, a TAP ou o já referido Washington Post, e com a assinatura em projetos realizados para grandes marcas como a Peugeot (para quem fizeram o primeiro trabalho internacional), a Fiat, a Nike ou a Adidas. António Cabral explica que a Digisfera propõe “produtos extremamente inovadores, especializando-se em fotografia 360º esférica e apostando na inovação e internacionalização através da utilização de tecnologias informáticas associadas à imagem digital”. A aplicação PanoTag é uma dessas tecnologias e, embora não seja única, é a mais comercializada e utilizada por agências e fotógrafos no mundo inteiro. Ao

permitir que as pessoas coloquem identificação em fotografias de grupo e alta resolução, e que as partilhem das redes sociais, a tecnologia entra diretamente numa área do mercado que tem vindo a ter cada vez mais procura, à medida que se intensifica a interação digital entre as pessoas. Isso permitiu a este conjunto de pai e filho arrancar com o projeto em plena crise económica. Tratou-se de “um risco acrescido”, explica António Cabral, pelo que a aposta no mercado internacional foi fundamental para o sucesso: conseguiram uma faturação de várias dezenas de milhares de euros logo no primeiro ano, o que permitiu manter a atividade até hoje. Além da área da fotografia digital e 360º, a Digisfera atua também na área do design e webdesign, por exemplo, contando com a experiência de outros colaboradores da empresa, e em projetos para ambiente Android e iOs. A maioria dos projetos, no entanto, continua a ter uma forte componente de webdevelopment, diretamente ligada à experiência de Manuel Cabral. !

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International KIC InnoEnergy

Creating new ventures with KIC InnoEnergy The Business Creation Services work with innovative businesses in the field of sustainable energy and cleantech Texto JosĂŠ Santos-Victor, IST VP International Affairs Renato Braz, KIC Innoenergy Business Creation Manager for Portugal

To fulfill their core mission of building (and empowering) capacity and skills of their students, transmitting and creating knowledge, modern universities are embracing the knowledge triangle combining advanced training, research and innovation. They offer holistic experiences and learning ecosystems engaging multiple societal stakeholders. One such stakeholder is KIC InnoEnergy, a Knowledge and Innovation Community of the European Institute of Innovation and Technology. Created in 2010, KIC InnoEnergy fosters the integration of education, technology, business and entrepreneurship, therefore strengthening the culture of innovation in the field of sustainable energy and promoting new and innovative business growth. KIC InnoEnergy is a world class

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alliance of top European players and IST is proudly one of them. In addition to its education programs and innovation projects, KIC Innoenergy offers Business Creation Services, a one stop shop for entrepreneurs to find the services they need to transform an idea or early venture into a successful and global business. With a unique and extensive network of European partners (from Lisbon to Krakow or Stockholm) representing the whole energy value chain, KIC InnoEnergy actively works with the entrepreneurs in four dimensions that it deems essential for success: technology, market, team and finance, providing financial and managerial support to the development of the ventures. Rather than asking for a fee, KIC InnoEnergy invests through equity

participation in the start-ups they believe can really make a difference. Following on KIC´s initial investment, the supported ventures may draw upon a network of preferred Venture Capital firms to support their growth phase. How does this work? The first stage is the opportunity assessment, where your idea is analyzed based on three criteria: innovation novelty and technology, market potential and team competencies. If the assessment is positive your team will be assigned a coach that will help you design an individual roadmap where your business goals will be detailed and followed by actions to achieve them and resources needed to complete those actions. Then, for up to two years, KIC InnoEnergy will deliver a complete pack-

age of services and financial support until your venture signs its first commercial agreement and is ready to fly. Since 2010, KIC InnoEnergy has worked consistently to become the leading engine for innovation and entrepreneurship in the sustainable energy field, and has so far reached significant achievements. By the end of 2013 KIC Innoenergy had 59 new ventures nurtured, 18 of each were already in the market (i.e. had closed deals with at least one client) or had raised at least â‚Ź500k in external investments. Through its active participation in the KIC Innoenergy, the entire IST community of students, researchers and collaborators has access to a unique instrument to turn entrepreneurial ideas onto real ventures in the area of sustainable energy. !


KIC INNOENERGY

CorPower, Sweden Inspired by the pumping principles of the human heart, CorPower Ocean AB has created a compact high-efficiency Wave Energy Converter (WEC). Wave power plants with CorPower’s technology generate five-times as much energy per device ton at less than a third of the cost of competing solutions. The company aims to establish a new generation of wave power solutions for utility-scale energy generation at a cost that can compete with conventional non-renewable energy resources. Wave farm projects are provided in collaboration with leading infrastructure engineering partners. It represents a new, cost-effective and highly resilient way to generate electricity from ocean waves. Temporary energy storage is provided

by a two-step approach, smoothing the electrical power output compared to the power profile of typical ocean waves and minimizing the cost of electronic components.

natural light and controls the artificial lights in order to achieve perfect light conditions while keeping costs and environmental impact at an absolute minimum – at all times and

Tecnoturbines, Spain Tecnoturbines designs systems that harvest the excess energy present in many points of the hydraulic distribution networks.

IsGreen, Portugal IsGreen is a Portuguese start-up that develops low CAPEX and easy to install solutions to manage lighting in buildings. The technology automatically monitors space usage, available

with no human intervention. IsGreen joined KIC InnoEnergy in 2014 and has been, since then, managing current pilot installations while working on the development of the final product and fine tuning the go to market strategy.

Microturbines convert hydraulic energy into electricity (4 to 500kw) and feed the recovered energy into the grid or into off grid energy storage solutions, aiming to provide eletric power in remote locations.

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Loja Merchandising

FICHA TÉCNICA Direção Editorial: Arlindo Limede de Oliveira, Luís Caldas de Oliveira, Palmira Ferreira da Silva José Santos-Victor Editores: André Pires, Sarah Saint-Maxent Direção de Arte: Tiago Machado Designers: Patrícia Guerreiro, Telma Baptista, Tiago Machado Assinaturas e publicidade: Sofia Cabeleira scabeleira@tecnico.ulisboa.pt Website: valoresproprios. tecnico.ulisboa.pt

€5

€2

Bloco de notas

Canetas

€3

Garrafa de desporto

Editora: Instituto Superior Técnico Av. Rovisco Pais, 1 1049-001 Lisboa Tel: (+351) 218 417 000 Fax: (+351) 218 499 242 Impressão: Grafica Maiadouro, S.A. Rua Padre Luís Campos N.º 586 e 686 Vermoim 4471-909 Maia Tel. 229 439 710 Fax. 229 439 718 Edição Número 5 Setembro/outubro 2014 Periodicidade: Bimestral

€5

€8

Caneca de giz

T-shirt

Lista completa dos artigos de merchandising: gcrp.tecnico.ulisboa.pt/relacoes-publicas

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€15

Capa de arquivo

Tiragem: 10.000 exemplares


PLANEIA UM EVENTO EM LISBOA? DENTRO DO CAMPUS DA ALAMEDA, O CENTRO DE CONGRESSOS DO TÉCNICO OFERECE 1 AUDITÓRIO COM 300 LUGARES, DEVIDAMENTE EQUIPADO COM A MAIS MODERNA TECNOLOGIA DE SOM E IMAGEM, PARA ALÉM DE 4 SALAS COM CAPACIDADE VARIÁVEL, DE 20 ATÉ 80 PESSOAS.

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FOTOGRAFIA © YINYANG / ISTOCKPHOTO

CENTRO DE CONGRESSOS TÉCNICO LISBOA


AMNARJ TANONGRATTANA / SHUTTERSTOCK

VALORES PRÓPRIOS SET/OUT 2014


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