Wilhelm reich psicologia de massas do fascismo

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política estatal que não lhes interessavam. Entretanto, na democracia do trabalho, cada detalhe é desenvolvido organicamente a partir dos aspectos técnicos do trabalho. "Como organizaremos a nossa empresa, quando tivermos de administrá-la? Que dificuldades precisamos superar? Como racionalizar a empresa, para facilitar o trabalho? Que conhecimentos ainda temos de adquirir para podermos dirigir melhor a empresa? Como resolveremos os problemas de habitação, alimentação, cuidados para com crianças, etc.? Perguntas como essas proporcionam necessariamente a todos os que desempenham um trabalho responsável a sensação de: Essa empresa é nossa criança-problema. A alienação dos trabalhadores em relação ao trabalho só pode ser abolida se os trabalhadores aprenderem a lidar com os aspectos técnicos da empresa, a qual, com o seu trabalho, mantêm em funcionamento; deste modo se preenche a lacuna entre o trabalho especializado e a responsabilidade social, lacuna que destrói a vida em sociedade. Estes dois fatores convertem-se numa unidade, e isso vai, por sua vez, abolir antíteses como o trabalho que dá prazer e as condições mecânicas de trabalho. Na Alemanha, durante o fascismo, o operário não tinha o menor interesse pelo processo de trabalho. Era um indivíduo "comandado" e irresponsável, que tinha de acatar as ordens do chefe da empresa, que arcava com todas as responsabilidades. Ou tinha a ilusão nacionalista de que representava a empresa, na sua qualidade de "alemão"; não na qualidade de um produtor socialmente responsável de valores de uso mas como um "alemão". Essa atitude nacionalista e ilusória caracterizou toda a ação nacional-socialista na Alemanha, que recorreu a todos os meios com o fim de encobrir o real desinteresse dos trabalhadores pelo seu trabalho através de uma ilusória identificação com o "Estado". Ora, sociedade é sociedade e máquina é máquina, seja na Alemanha, nos Estados Unidos ou em Honolulu. A sociedade e a máquina são, tal como o "trabalho", realidades internacionais. Falar em termos de "trabalho alemão" é um disparatei A democracia natural do trabalho elimina a falta de interesse; não a disfarça através de uma identificação ilusória com o "Estado", a cor do cabelo ou a forma do nariz; elimina a falta de interesse permitindo que os trabalhadores sintam uma responsabilidade real por seu produto e tenham a sensação de que "essa empresa é nossa". O essencial não é ter uma "consciência de classe" formal, ou pertencer a uma determinada classe, mas sim ter um interesse técnico pela profissão, ter uma relação objetiva com o trabalho, uma relação que substitua o nacionalismo e a consciência de classe por uma consciência da própria habilidade. Só estando estreitamente ligado ao seu trabalho, o trabalhador pode compreender a que ponto são destruidoras as formas de trabalho das ditaduras e das democracias formais, não só para o trabalho em si mas também para o prazer de trabalhar. Consideramos "libidinosa" a relação de um homem com o seu trabalho, quando este lhe proporciona prazer; dado que o trabalho e a sexualidade (nos sentidos lato e estrito das palavras) estão estreitamente ligados entre si, a relação do homem com o trabalho é também uma questão pertencente ao domínio da economia sexual das massas humanas. A higiene do processo de trabalho depende de como as massas de pessoas usam e satisfazem sua energia biológica. Trabalho e sexualidade têm origem na mesma energia biológica. 225


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