Wilhelm reich psicologia de massas do fascismo

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cerca de vinte jovens cristãos de idade compreendida entre os 18 e os 25 anos, Indicaremos a seguir os principais pontos de vista defendidos na sua conferência, afirmando desde já que a conclusão de maior importância para o nosso estudo é o modo como ele saltava de afirmações parcialmente corretas, para pontos de vista místicos. As causas da miséria eram, segundo explicou, a guerra e o plano de Young. A guerra mundial seria uma manifestação da depravação dos homens e da sua baixeza, uma injustiça e um pecado. Também a exploração praticada pelos capitalistas seria um pecado grave. Ficava difícil neutralizar a sua influência uma vez que ele próprio assumia uma posição anticapitalista e ia assim ao encontro dos sentimentos dos jovens cristãos. Capitalismo e socialismo seriam fundamentalmente a mesma coisa. O socialismo da União Soviética seria uma forma de capitalismo, e o crescimento do socialismo implicaria desvantagens para algumas classes, tal como o capitalismo para outras. Era necessário "quebrar os dentes" do capitalismo, qualquer que a sua forma fosse; a luta do bolchevismo contra a religião era um crime, a religião não era responsável pela miséria, pois o mal estava no fato de o capitalismo fazer mau uso da religião. (O pastor era decididamente progressista.) Quais as consequências de tudo isto? Como os homens são maus e pecadores, seria impossível eliminar a miséria, sendo pois necessário suportá-la, habituar-se a ela. O próprio capitalista não era feliz. A angústia interior, que está na raiz de toda angústia, não desapareceria, mesmo depois da aplicação do terceiro plano quinquenal da União Soviética. Alguns jovens revolucionários tentaram defender o seu ponto de vista: o que estava em questão não eram os capitalistas, tomados individualmente, mas "o sistema". O importante era saber se a maioria ou, pelo contrário, uma minoria insignificante, é que sofria a opressão. A perspectiva de suportar a miséria só significaria um prolongamento do sofrimento e, portanto, só beneficiaria a reação política. E assim por diante. No fim, chegou-se à conclusão de que era impossível conciliar as posições contrárias e de que ninguém sairia dali com uma convicção diferente daquela com que chegara. Os jovens acompanhantes do pastor bebiam-lhe as palavras; pareciam viver nas mesmas condições de opressão material que os jovens comunistas, mas concordavam com o ponto de vista de que não há remédio contra a miséria, de que é necessário conformar-se com ela e "ter fé em Deus". Prosseguindo o debate, perguntei a alguns jovens comunistas por que motivo não tinham abordado a questão principal, ou seja, a insistência da Igreja na abstinência sexual. Responderam-me que este assunto teria sido muito melindroso e difícil, que teria tido o efeito de uma bomba e que, enfim, não era costume abordá-lo em discussões de caráter político. Algum tempo antes, tinha-se realizado um comício, num bairro do oeste de Berlim, no qual representantes da Igreja e do Partido Comunista defenderam os respectivos pontos de vista. Cerca de metade dos 1.800 participantes era constituída por cristãos e pessoas da classe média baixa. Sendo o principal conferencista, resumi em algumas questões a posição da economia sexual:

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