História Social da Mídia: Usos e percepções no cenário campo-grandense |Joaquim Padilha

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

Joaquim Lucas Riquelme Padilha

História Social da Mídia: Usos e percepções no cenário campo-grandense

Campo Grande (MS) Junho/2018


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História Social da Mídia: Usos e percepções no cenário campograndense Joaquim Lucas Riquelme Padilha

Monografia apresentada como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientador(a): Profa. Dra. Márcia Gomes Marques


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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus amigos que me incentivaram a persistir na conclusão de meus estudos superiores; à minha família por ter oferecido todo o suporte e paz que eu precisava para meus estudos; à faculdade e aos professores por terem me ensinado tudo aquilo que pude colocar nestas páginas; e à minha orientadora, Dra. Márcia Gomes Marques, por ter acreditado na minha capacidade.


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RESUMO: Esta monografia apresenta uma pesquisa exploratória sobre o tema história social da mídia, que por meio de revisão bibliográfica, entrevistas semi-estruturadas e exploratórias, pretende fornecer um panorama de como diferentes usos e percepções das mídias, sobretudo da televisão e internet, foram se consolidando e se alterando ao longo do tempo devido às rotinas trabalhistas, oferta cultural e modos de vida dos personagens entrevistados.

Palavras-chave: Comunicação; Estudos de recepção; História da Mídia; Campo Grande


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SUMÁRIO

Introdução

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Capítulo 1. Campo Grande: história e oferta cultural

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1.1 Os jornais impressos e as rádios em Mato Grosso do Sul

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1.2 A concentração da mídia e os grupos de comunicação em MS

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Capítulo 2. Televisão e internet: mudanças e impactos sociais

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2.1. Cenário campo-grandense de consumo e produção televisiva

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2.2 Consumo midiático na internet e cibercultura

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2.3 Chegada da internet e infraestrutura em Mato Grosso do Sul

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Capítulo 3. Análise das entrevistas e conclusões

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Considerações finais

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Referências bibliográficas

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Apêndices

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INTRODUÇÃO

Quando estudamos a história da mídia, lemos a respeito da formação cronológica de empresas da área de comunicação, como jornais, rádios, televisões, revistas, entre outros formatos. Também ouvimos sobre como esses mesmos jornais ou empresas de comunicação acabam sendo fundamentais para o desenvolvimento econômico e cultural de certos lugares, certas comunidades, e para a difusão de ideais políticos - geralmente ideais defendidos por grupos poderosos. Porém nem sempre somos justos nessa análise com aqueles que, justamente, são os maiores consumidores daquilo que esses meios de comunicação oferecem: o público. Dificilmente uma abordagem sobre a história da mídia em uma determinada região leva em consideração os relatos dos públicos, suas percepções, opiniões e diferentes usos que fazem dos mídia estudados. Essa pesquisa pretende percorrer o caminho inverso, trabalhando uma história da mídia não por meio da datação de etapas de consolidação de diferentes empresas e grupos de comunicação, mas por meio dos relatos de seus consumidores. Quais são os temas que mais lhes interessam? Por quê? Quais são os meios que mais acessam? Quando começaram a se interessar pelos mesmos? Quando começaram a perder contato? Por quais motivos? Todas essas questões respondidas podem fornecer um panorama da história social da mídia. Uma história não sobre como as mídias foram formadas, mas como afetaram e alteraram rotinas no cotidiano das pessoas. O caminho inverso também é válido, pois as mudanças de rotina também alteram os usos dos mídia dos usuários, como pudemos observar nessa pesquisa. Para trabalhar essa história social da mídia, não poderíamos optar por fazer uma pesquisa baseada em questionários. Isso porque respostas dentre escolhas dadas pelos entrevistadores iriam enviesar os pontos de vista dos entrevistados, tirando o caráter espontâneo que buscamos nessas entrevistas. Para garantir uma melhor compreensão sobre como os diferentes usos e percepções dos entrevistados se manifestaram ao longo do tempo, preferimos então


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promover entrevistas semi-estruturadas, que nos deram liberdade para refazer e resgatar questionamentos, sem necessidade de seguir um roteiro. Devido ao tema complexo desse trabalho de pesquisa, não poderímaos buscar por um grande número de entrevistados – cada entrevista durou em média 1h, o que demanda um tempo muito maior para ser transcrito e analisado. Ao contrário, tínhamos como objeto entrevistar no máximo dez pessoas sobre os assuntos. Entretanto, atingir essa marca não foi possível devido a problemas com o planejamento da pesquisa, e tivemos de encerrar as entrevistas com seis entrevistados. A ausência de um número maior de entrevistados não pode ser vista como um fator que anule essa pesquisa, uma vez que não é nosso objetivo fazer generalizações acerca do cenário do consumo cultural e seu histórico em Campo Grande, longe disso. Nosso único objetivo é possibilitar ao graduando a possibilidade de aprender a executar uma pesquisa científica em comunicação, com o uso de metodologias para colhimento de dados (entrevistas semi-estruturadas), e com o aporte bibliográfica dos estudos de recepção e da história da mídia. Tal objetivo foi contemplado, uma vez que, apesar do número resumido de entrevistados, todas as entrevistas foram proveitosas por sua quantidade de conteúdo, proporcionando uma análise que enxergasse pontos em comum nos relatos dos entrevistados, quanto a mudanças de preferências e usos junto aos dispositivos midiáticos. O nível de profundidade das entrevistas permitia também explicar, na maioria das vezes, porque houveram essas mudanças – se por causa de uma opinião pessoal, uma mudança de rotina, ou mesmo por questões de acessibilidade. Para evitar que entrevistássemos personagens que não sentiram o primeiro impacto da televisão, uma vez que ainda não estavam nascidos quando a mesma chegou à casa de seus familiares, tomamos cuidados como entrevistar apenas pessoas de mais de 50 anos, que presenciaram os “primórdios da TV”, e evitamos escolher personagens entrevistados que atuam em um mesmo emprego, por entender que isso poderia ser determinante.


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Capítulo 1. Campo Grande: história e oferta cultural

Para rastrear a história dos usos sociais das mídias pelas audiências em Campo Grande, da forma como pretendemos nesta monografia, não poderíamos nos limitar a uma análise de quais foram os meios de comunicação que por aqui se estabeleceram como dominantes ou periféricos e como se deram suas relações com seus públicos. Seguindo a tendência de uma contribuição gramsciana e dos estudos culturais latino-americanos aos estudos da comunicação (ESCOSTEGUY, 2000, p. 4), esta pesquisa pretende investigar acima de tudo as transformações da experiência social promovidas pela inserção dos mídia no cotidiano local. Dessa forma, não podemos produzir uma análise que se feche somente no campo da comunicação. A interdisciplinaridade desta pesquisa demanda que sejam exploradas as transformações históricas do cotidiano de Campo Grande, o surgimento e as mudanças tecnológicas dos mídia e seus impactos sobre seus usos sociais, a penetração dessas mudanças na realidade campo-grandense, e por fim a própria realidade dos meios de comunicação locais, para que sejam percebidas as “intersercções

entre

as

estruturas

sociais

e

as

formas

e

práticas

culturais” (ESCOSTEGUY, 2000, p. 4), representadas pelos usos dos mídia, que permeiam o cotidiano dos entrevistados. Como o foco desta pesquisa são os usos sociais da televisão e da internet, ambas receberão maior destaque na exploração de suas mudanças tecnológicas, seus impactos sociais e seu estabelecimento em Campo Grande porém, rádio e impresso, como duas mídias que também compõem mediações com as audiências campo-grandenses, não deixarão de ser exploradas, uma vez que seus usos precedem ou deram origem ao uso de outros dispositivos. De início, iremos nos reter a oferecer um panorama da história de Campo Grande e dados interessantes à pesquisa sobre sua composição demográfica e cultural. A maioria dos dados e informações aqui explanados foram retirados do livro Capitais Brasileiras: Dados Históricos, Demográficos, Culturais e Midiáticos, editado em 2016


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pela editora Appris, sob coordenação de Nilda Jacks e organização de Celsi Silvestrin e Gisele Noll. Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, tem sua formação iniciada em 1872, quando o bandeirante mineiro José Antonio Pereira encontrou na confluência dos córregos Prosa e Segredo (onde atualmente se localiza o Horto Florestal) algumas famílias camapuanas que cultivavam roças no local. Convencido do potencial da região, Pereira voltou a Minas Gerais e trouxe familiares, amigos e voluntários - ao todo, 63 pessoas - para povoar o que seria conhecido em 1875 como o Arraial Santo Antônio de Campo Grande (SILVESTRIN, 2016, p. 231-232). O pequeno arraial só ganha o status de cidade em 1918, com uma lei do governo estadual. Naquele mesmo ano, Campo Grande se tornaria a segunda cidade de Mato Grosso a contar com uma chave de iluminação elétrica, instalada por técnicos vindos de São Paulo (RODRIGUES, 1976, p. 19). Porém, o protagonismo de Campo Grande na economia e desenvolvimento da região sul do Estado já era perceptível desde 1914, quando uma Diretoria Regional da Ferrovia Noroeste do Brasil é instalada no pré-município. A chegada da ferrovia, junto com as transformações urbanísticas e sanitárias que a acompanharam, deslocaram o eixo de centralidade econômica do sul do Estado, de Corumbá para a “cidade morena”, assim chamada devido à coloração avermelhada de suas terras (SILVESTRIN, 2016, p. 232). Nos anos seguintes à chegada da ferrovia, a influência de Campo Grande no sul do Estado foi se consolidando conforme movimentos migratórios de empresários e comerciantes se estabeleciam em direção à região. Na década de 1960, são inauguradas suas primeiras universidades, a UEMT (Universidade Estadual de Mato Grosso) e a FUCMT (Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso), que anos mais tarde dariam origem à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e à UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), respectivamente (SILVESTRIN, 2016, p. 233). É só em 1977, entretanto, que Campo Grande é elevada à condição de capital da região sul, com a separação dos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Outras tentativas separatistas já haviam sido experimentadas, porém apenas com uma lei federal é que a separação de fato ocorreu. A ascensão ao status de capital atraiu ainda mais atenção de comerciantes e empresários à cidade,


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já consolidada como principal eixo da rota comercial do sul do Estado (SILVESTRIN, 2016, p. 233). Reflexo desse intenso processo migratório é a diversidade cultural e étnica constatada em Campo Grande, que se ampliou com a chegada da ferrovia e com a transferência do comando da Circunscrição Militar do Estado para cá, em 1921, décadas antes da separação do Estado. De outros Estados, vieram principalmente mineiros, paulistas e gaúchos. De outros países, houve migrações principalmente do Paraguai, Bolívia, Japão, Líbano, Síria, Portugal, Itália, Turquia, Espanha, Alemanha, Palestina e Armênia. Além disso, a capital possui uma ampla população indígena, que permanece no território sul mato-grossense centenas de anos após a colonização do Brasil (SILVESTRIN, 2016, p. 234). Essa diversidade cultural pode ser constatada tanto pela existência de monumentos e espaços em homenagem a esses povos oriundos de diferentes regiões, como os Centros de Tradição Gaúcha, o Monumento do Índio no Parque das Nações Indígenas e a Colônia Paraguaia da capital, quanto na própria culinária local, com chipas paraguaias, o sobá originário das ilhas Okinawa, o churrasco gaúcho e diversos outros pratos oriundos de culturas alheias (SILVESTRIN, 2016, p. 234). Em

questões

demográficas,

a

população

campo-grandense

é

predominantemente adulta (49,08%). A segunda faixa etária de maior dominância é a infantil, que representa 22,59% da população, seguida pelos jovens, que somam 18,35%, e idosos, 9,98%. Em questão de religião, católicos predominam com 51,55% adeptos na capital, seguidos pelos evangélicos e suas variações, com adesão de 30,49% da população. Os espíritas representam 3,52% dos campograndenses, enquanto os umbandistas e candomblecistas somam 0,26%, e aqueles que dizem não praticar nenhuma religião são 10,16% do todo (IBGE, Censo Demográfico, 2010). Os níveis de escolaridade dos habitantes do município se restringem a 12,9% da população com mais de 10 anos apresentado ensino superior completo, enquanto 29,23% possuem ensino médio completo e superior incompleto, 18,37% possuem fundamental completo e ensino médio incompleto, e 39,17% da população não apresenta instrução ou possui fundamental incompleto (SILVESTRIN, 2016, p. 235).


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Quanto a questões econômicas, Campo Grande possui um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 23,9 bilhões, equivalente a R$ 28,3 mil de PIB per capita. O salário médio mensal de pessoas de mais de 10 anos de idade é de R$ 1.424,00, sendo que 64,67% da população da capital sul mato-grossense é economicamente ativa (SILVESTRIN, 2016, p. 236). O setor que mais movimenta a economia é o setor de serviços, com 325 mil de unidades que movimentaram, em 2014, mais de R$ 12,2 bilhões. Em sequência, se destaca o setor da indústria, com 1.254 unidades locais que movimentaram R$ 3,9 bilhões no mesmo ano, e o setor agropecuário, com 327 unidades locais que movimentaram R$ 222,4 milhões no ano (SILVESTRIN, 2016, p. 236). Quanto ao patrimônio histórico e cultural da capital, contam-se 174 bens tombados, incluindo prédios e locais históricos de Campo Grande, como a Esplanada Ferroviária, o Museu José Antonio Pereira e o Iphan-MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de Mato Grosso do Sul). Além disso, o município possui ainda uma série de pontos turísticos, espaços de lazer ou voltados para prática de atividades culturais. Ao todo, a cidade possui cerca de 33 espaços para exposições, 34 associações e clubes culturais, 65 auditórios, 24 salas de cinema, 11 cineclubes, 7 museus temáticos, 10 teatros, 7 anfiteatros, 8 teatros, um arquivo público, 12 bibliotecas, sendo uma biblioteca pública, um pavilhão de eventos, 4 centros de referência e convivência do idoso, um autódromo, um ginásio poliesportivo, um estádio e diversas instalações desportoculturais. (SILVESTRIN, 2016, p. 238) Em relação à produção midiática, o destaque na capital é o setor das televisões. Ao todo, são sete emissoras de TV, sendo cinco privadas e duas públicas, “com pouca produção local, voltadas predominantemente para o factual e programas de variedades” (SILVESTRIN, 2016, p. 239). Ainda existem oito canais que trabalham como retransmissoras de sinal de filiadas, e emissoras que produzem pouco ou nenhum material local, se restringindo a retransmitir o conteúdo de canais nacionais. Na internet, enquanto um campo aberto para a produção e recepção partindo de diferentes atores sociais, percebe-se um grande fluxo de acesso a sites de notícias locais, a citar Campo Grande News e Midiamax, ambos criados por


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empresários independentes voltados para a produção de conteúdo regionalizado, e O Estado Online, Diário Digital e G1MS, esses originários da iniciativa de já consolidados grupos de comunicação, como do jornal O Estado de MS, da Record MS e da TV Morena, respectivamente (SILVESTRIN, 2016, p. 239). Além do âmbito jornalístico, a produção cultural na internet campo-grandense é expandida pelas possibilidades das redes sociais e do Youtube, canais que abrem espaço para que novos produtores culturais se utilizem desse barateamento das tecnologias e distribuam conteúdo autoral que atinge audiências no Brasil inteiro. Campo Grande também possui 19 rádios AM e FM, sendo 16 privadas, uma pública e duas comunitárias. Na capital predominam as emissoras de rádio religiosas e universitárias. Quanto a jornais impressos, existem quatro que circulam diariamente no município (O Estado de MS, Correio do Estado, Folha do Povo e Midiamax) e dois que circulam aos fins de semana (A Crítica e O Jornal de Domingo), esses com distribuição gratuita. Existem também nove revistas no município, de baixa circulação (SILVESTRIN, 2016, p. 239). Explanado esse cenário campo-grandense preliminar, iremos apontar na direção da consolidação de alguns conglomerados de mídia em Campo Grande, detalhando como se deu esse processo de formação desses grupos de mídia. Antes disso, é necessário falar sobretudo dos jornais impressos e das rádios de Campo Grande e do Estado, pois foram os empresários desses dois ramos que deram início à expansão de novos meios de comunicação na região, como a televisão, e também que protagonizaram a formação de conglomerados.

1.1 Os jornais impressos e as rádios em Mato Grosso do Sul

Para além do Estado, é consenso entre historiadores que o Brasil foi um país atrasado no nascimento de sua imprensa em relação ao cenário internacional – foi o único país da América Latina a entrar no séc. XIX sem jornais e sem universidades para a formação do público, o que reflete diretamente em todo o posterior desenvolvimento do jornalismo e de seu mercado no país.

A imprensa brasileira teve um nascimento tardio, como tardios foram o ensino superior, as manufaturas, a própria independência política e a abolição da escravatura. Fatores como esses geraram um legado de analfabetismo e concentração da renda que, sentidos até hoje,


12 significaram condicionantes da evolução da imprensa brasileira ao impedir que o público leitor nacional atingisse o percentual registrado em países com economia de porte semelhante ou maior (ANJ, 2008, p. 1)

Parte da culpa por esse atraso era da ausência de tecnologias próprias para a produção impressa. O lançamento da Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, só foi possível com a chegada da coroa portuguesa no país, que trouxe a tipografia em seus navios. Além da falta de meios de produção dos impressos, poucos eram aqueles que tinham acesso à leitura de tais páginas. Até o fim do Império, mais de 90% da população brasileira vivia na área rural e 85% era analfabeta, o que impunha barreiras intransponíveis à circulação da imprensa escrita (ANJ, 2008, p. 25) Foi durante o governo de D. Pedro II (1840-1889) que foi fundado o primeiro periódico em terras sul-mato-grossenses, em 1877, na cidade de Corumbá, chamado O Iniciador. Não obstante, o Mato Grosso uno passava pelo período pósGuerra do Paraguai, em que Corumbá era a cidade mais rica e desenvolvida da região sul do Estado, devido ao seu porto por onde entravam quase todos os bens destinados à região (FERNANDES, 2016, p. 3) Enquanto em Corumbá nasciam outros jornais ligados à intensa atividade mercantil da região, como A Opinião e O Corumbaense, lançados em 1880 para acompanhar os interesses da lavoura e do comércio (FERNANDES, 2016, p. 3), a proliferação dos periódicos no Brasil era acelerada por uma evolução na infraestrutura e economia do país, que pôde usufruir, em 1854, da implantação de sua primeira ferrovia, ligando o Porto da Estrela e a Raiz da Serra. Até 1889, mais 9 mil km de ferrovias foram implantadas no país. O sistema, apesar de caótico, facilitou a distribuição dos jornais em localidades mais desenvolvidas (ANJ, 2008, p. 6). Ao mesmo tempo, o telégrafo elétrico, introduzido no Brasil em 1852, acelerou o fluxo de informações que chegavam às redações. Até 1889, eram 172 pontos de telégrafos em todo o país, com ramificações em cidades do interior, transmitindo pequenas mensagens numa velocidade extremamente rápida de um ponto do país ao outro. Havia também o cabo submarino que ligava Londres a Recife, inaugurado em 1874, que possibilitava o envio de mensagens entre continentes no mesmo dia em que os fatos ocorriam (ANJ, 2008, p. 6).


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Alguns anos mais tarde, em 1877, as primeiras linhas telefônicas eram instaladas no Brasil, após D. Pedro II experimentar diretamente a nova tecnologia desenvolvida por Graham Bell. A princípio, o aparelho foi instalado em casas de ministros de Estado, repartições militares, órgãos do governo e corpo de Bombeiros, todos na capital federal fluminense (UEDA, 1998, p. 19). O início da exploração das concessões dos serviços de telefonia aconteceu, em 1880, da mesma forma que com o telégrafo, pela concessão do Estado à rede privada, e começaram a ser instaladas em outras cidades do país as redes de telefonia, como em Maceió, Salvador e Porto Alegre (UEDA, 1998, p. 21-22). Somente após o início da República Velha (1889-1930), época em que a censura foi estabelecida por meio de um decreto que determinou punições para quem propagasse ideias monarquistas ou conspirasse contra a República, (ANJ, 2008, p. 7) é que Campo Grande terá seu primeiro periódico, O Estado de Matto Grosso, em 1913. Seu criador, o advogado pernambucano Arlindo Gomes de Andrade, o definia como “um órgão de ligação entre Campo Grande e as povoações vizinhas”, que tinha como principais preocupações “a agricultura, o comércio, a pecuária, os meios de comunicação e os recursos naturais da região” (FERNANDES, 2016, p. 4). O primeiro jornal de Campo Grande é lançado cinco anos antes do pequeno vilarejo ascender ao status de cidade e de receber sua primeira chave de iluminação elétrica (RODRIGUES, 1976, p. 19) e um ano antes do município receber a Diretoria Regional da Ferrovia Noroeste do Brasil (SILVESTRIN, 2016, p. 232), como já vimos anteriormente. Nesse cenário de início da consolidação da capital como polo atrativo econômico da região sul do Mato Grosso, surgem um punhado de jornais com características políticas distintas e defendendo interesses econômicos de grupos específicos, como A Ordem (1916), O Sul (1917) que se dedicava a defender os interesses do sul do Mato Grosso, Rui Barbosa (1919), que propagava sua candidatura à presidência da República, A Nota (1919), O Imparcial (1920) e O Guarani (1920), dedicado a difundir a língua guarani na região, além de O Correio do Sul (1920), O Martelo (1917), Miosótis (1921), Jornal do Comércio (1921), Delta (1928), Diário do Sul (1929) e A Cidade (1930) (FERNANDES, 2016, p. 4). É também nesse período que tem início a operação do rádio no Brasil, graças a iniciativa de Edgard Roquette-Pinto, em 1923. Por muito tempo, entretanto,


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as emissoras de rádio em todo o país não irão exercer grande contraponto à atividade informativa da imprensa, uma vez que a programação das primeiras emissoras e clubes de rádio é voltada principalmente para o entretenimento. Nesse meio tempo, a atividade impressa começa a se modernizar.

Enquanto isso, os principais jornais brasileiros deram um novo salto com a incorporação de máquinas de escrever à redação e à área administrativa, linotipos para acelerar a composição e rotativas que permitiram aumentar as tiragens e melhorar a qualidade da impressão (ANJ, 2008, p. 7)

No período que se estende até o fim da era Vargas, época marcada também pela censura do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), Fernandes (2016, p. 4) registra em Campo Grande o nascimento de veículos que tinham, em sua maioria, caráter partidário e oficial, como A República (1931), O Correio de Campo Grande (1931), Diário Oficial (1932), O Progressista (1933), O Imparcial (1933), O Campo Grandense (1935), Folha da Serra (1941) e O Mattogrossense (1944) (FERNANDES, 2016, p. 4). Entre o fim da Era Vargas e o início da ditadura militar (1945-1964), os jornais em todos o país podem experimentar um período de relaxamento da censura e de maior liberdade de expressão, passando por governos liberais e republicanos. É nessa época que a receita publicitária começa a suplantar as receitas com vendas e assinaturas, e que o tema político se torna central nos jornais brasileiros, com reviravoltas intensas na política nacional (ANJ, 2008, p. 10). Nessa época de maior liberdade, uma das emissoras de rádio mais antigas do país é criada em Campo Grande. A rádio Difusora Pantanal foi fundada em agosto de 1939, no auge da chamada “Era do rádio”, quando este meio de comunicação já tinha ganhado a confiança do grande público. Na época, a emissora foi batizada com o nome “Sociedade Rádio Difusora Campo Grande”, e transmitia em formato AM (CORRÊA, 2014, p. 189). A segunda emissora da capital, a Rádio Cultura, é lançada no mesmo período, em 1949 (CORRÊA, 2014, p. 217). Apesar da historiografia das rádios sul-mato-grossenses possuir poucos registros, Corrêa consegue remontar uma história do passado dessas emissoras por meio de entrevistas com atores que participaram do desenvolvimento desse meio de comunicação no Estado. Assim como em todo país, Mato Grosso do Sul vivia um


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quadro de analfabetismo geral, o que eleva a importância do rádio, principalmente nos municípios interioranos.

É peculiar a situação de Mato Grosso do Sul: situando-se numa região central do continente, fronteira entre vários países e estados da federação, estando sob influência de culturas diversas, desde as inúmeras etnias indígenas brasileiras, paraguaias e bolivianas, passando pelos intensos fluxos colonizadores e migratórios, apresenta comunidades sofisticadas e tecnológicas, como a capital e, concomitante, comunidades remanescentes de quilombos, isoladas fisicamente e com alto grau de analfabetismo. Nestas últimas, o rádio tem importante papel, sendo um dos únicos elos de ligação com o mundo (CORRÊA, 2014, p. 194)

No início, o rádio em Campo Grande sofre com problemas estruturais que impedem sua expansão, principalmente com as constantes quedas de energia no município, que foram frequentes até a década de 1970, com a inauguração das hidrelétricas de Jupiá e Mimoso (FREIRE & PINTO, 2000, p. 24). Mesmo com dificuldades, essas rádios se posicionam no topo das pesquisas de audiência, trazendo principalmente entretenimento à população através de suas radionovelas e lançando novos nomes da música regional como a dupla Délio e Delinha, Julião Medina, os Irmãos Gonçalves, entre outros (CÔRREA, 2014, p. 203). É também no período entre a era Vargas e o regime militar que é fundado, em Campo Grande, um jornal que será o único anterior à divisão do Estado a permanecer em circulação até os dias de hoje, o Correio do Estado (1954). O caráter político imperava na imprensa sul-mato-grossense. O partido da União Democrática Nacional (UDN) anunciou na primeira edição do Correio do Estado que tinha contribuído para o lançamento do periódico. Da mesma forma, O Matogrossense, se anunciava partidário do Partido Social Democrático (PSD), e O Progressista, do Partido Progressista (PP) (FERNANDES, 2016, p. 6). Apesar de manter o caráter conservador, o Correio do Estado passa a substituir os textos opinativos e partidários depois que a UDN deixa de administrá-lo, com a eleição do governador Fernando Corrêa da Costa, seu dirigente, em 1957. O jornal passa às mãos de José Barbosa Rodrigues três anos após seu lançamento, e adota os ideais norte-americanos de objetividade e imparcialidade. Os descendentes de Barbosa Rodrigues são os administradores do jornal até os dias de hoje (FERNANDES, 2016, p. 7-8).


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A modernização dos meios impressos é acompanhada em todo o Brasil após o fim da segunda guerra mundial. Os jornais brasileiros investem na compra de equipamentos e na profissionalização. O modelo norte-americano de produção jornalística é assumido como dominante, com a busca da objetividade, a adoção do lead, da pirâmide invertida, diagramação atraente e organização da redação por editorias (ANJ, 2008, p.11). Durante o período de ditadura militar, em todo o Brasil os jornais sofrem controle intenso de suas publicações. Existem aqueles que apoiam os governos militares e aqueles que adotam tons mais críticos. Já que a pauta política passa a ser quase sempre proibida, o foco das redações se torna a economia, num momento em que o país passa por “por três presidentes, 11 ministros da Fazenda, nove diferentes políticas econômicas e seis padrões monetários”. Já os jornais alternativos adotam tons mais satíricos e literários para criticar o governo, como o Pasquim (ANJ, 2008, p. 12). Em Mato Grosso do Sul, pouco se fala na ditadura. Herança da UDN, que apoiou o governo militar, o Correio do Estado mantém o apoio aos ideais conservadores e pouco fez em questão de denunciar os abusos dos militares (FERNANDES, 2016, p. 6). Enquanto isso, as rádios como a Difusora Pantanal e a Rádio Cultura se tornam alguns dos principais alvos dos militares, que fazem batidas frequentes nas sedes das emissoras, com ordens expressas sobre que músicas podem ou não ser tocadas, quais informações oficiais devem ser passadas e levando equipamentos embora nos dias de maior censura. Entretanto, por conta da escassez de informações além das oficiais e fontes diversas, a população de Campo Grande mal sabe do golpe de Estado (CORRÊA, 2014, p.217). Durante o regime militar, a TV se consolida como meio de massa para o brasileiro, ultrapassando o rádio. Paralelamente, a modernização da imprensa continua ocorrendo com a introdução da fotocomposição e da impressão offset na década de 1970 e com a informatização, já na fase de transição do regime militar para a redemocratização (ANJ, 2008, p.12). A censura só conheceu seu fim em 1988, com o fim dos governos militares e a promulgação da Constituição Federal, que garantiu a liberdade de imprensa. Foi usufruindo dessa liberdade que os jornais noticiaram exaustivamente a corrupção praticada pelo ex-presidente Fernando


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Collor de Mello, o que culminou na pressão da população pela sua queda e em seu impeachment em 1992 (ANJ, 2008, p. 14). Como já falamos anteriormente, atualmente Campo Grande possui 19 rádios AM e FM, sendo 16 privadas, uma pública e duas comunitárias. Na capital predominam as emissoras de rádio religiosas e universitárias. Quanto a jornais impressos, existem atualmente dezoito veículos circulando em Campo Grande, sendo alguns de circulação diária e outros de circulação semanal, principalmente aos domingos (PORTAL DE MÍDIA, 2016).

1.2 A concentração de mídia e os grupos de comunicação em MS

A evolução da imprensa e do rádio relatada até aqui possui condicionantes econômicas que não podem ser ignoradas, pois afetam a produção dos conteúdos, a distribuição de informações culturais e a diversidade de fontes disponíveis para consumo no mercado. No Brasil – assim como em vários países do mundo com legislações flexíveis –, existe uma tendência à concentração de mídia, que se inicia sobretudo a partir dos anos 70, quando as indústrias do setor percebem que a criação de conglomerados é uma forma viável de expandir seus mercados (MOREIRA, 2014, p. 5). As características desses conglomerados são determinadas pela sua origem histórica. Nos relatos que demos aqui sobre os primeiros jornais brasileiros, não haviam conglomerados de mídia. Os primeiros periódicos eram resultado de coligações políticas ou do alinhamento de grupos de intelectuais interessados em difundir os ideais da independência brasileira. Era comum que os jornais fossem associados a uma figura única central à sua frente, um intelectual ou um político, um nome (MOREIRA, 2014, p. 2-3). Esse cenário começa a mudar quando grupos familiares poderosos economicamente começam a fundar ou a comprar publicações regionais, a partir do século XX. Alguns exemplos são a família Mesquita com o jornal O Estado de S. Paulo, em São Paulo; a família Figueroa, com O Diário Pernambucano, em Pernambuco; ou a família Caldas com o Correio do Povo, no Rio Grande do Sul (MOREIRA, 2014, p. 4). Entretanto, o primeiro conglomerado de mídia em terras brasileiras, não teve características familiares. O legado de Assis Chateaubriand foi praticamente


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extinto após sua morte, uma vez que não deixou herdeiros e seus negócios não tinham participação de parentes.

Em 1924, depois de assumir a direção de O Jornal, no Rio de Janeiro, o advogado e jornalista Assis Chateaubriand começou a construir o primeiro grupo privado do setor criando ou comprando impressos em todas as regiões. Cerca de três décadas depois, os Diários Associados controlavam quase 100 veículos de comunicação, entre jornais, emissoras de rádio e de televisão, revistas de informação, revistas infantis, uma agência de notícias e uma editora (MOREIRA, 2014, p. 4-5)

A prática da concentração de mídia só ganha força mesmo no séc. XX. Em 1962, começa a se formar um conglomerado que exerce influência em todo território nacional e que persiste até hoje. A família Marinho inicia a concentração de emissoras de televisão em um acordo comercial entre as Organizações Globo com o grupo Time Inc. Em uma década, o grupo se torna a maior rede privada de TV de todo o país, controlando simultaneamente o jornal O Globo e a rede de emissoras do Sistema Globo de Rádio (MOREIRA, 2014, p. 5). É então que tem início um movimento de conglomerados de mídia em todo o Brasil, com alianças entre emissoras regionais e nacionais, confluências entre diferentes tipos de mídia, com casos de grupos poderosos dominando uma grande parcela da comunicação de todo um Estado. Até 2009, o projeto independente ‘Donos da Mídia’ havia identificado 183 grupos de comunicação atuando no país. Destes, 142 grupos tinham abrangência regional (com atuação em até dois estados) e controlavam diretamente 688 veículos, enquanto 41 grupos tinham alcance nacional, com conteúdo distribuído por 551 veículos. Na maioria dos estados, a liderança de mercado e de público limitava-se geralmente a dois grupos (MOREIRA, 2014, p. 6)

O resultado dessa concentração de meios de distribuição e produção de conteúdos é que os grupos donos dos meios de comunicação exercem uma “concentração econômica, controle das redes de distribuição, penetração regional, presença histórica e [domínio das] relações políticas” (GÖRGEN, 2009, p. 92). A grande maioria desses conglomerados de mídia são compostos por três tipos de grupos: famílias, políticos e igrejas – com alguns deles contendo mais de um desses tipos dominantes (LIMA, 2011 apud. CABRAL, 2015, p. 18). É comum que hajam


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também alianças entre grupos nacionais – como a Globo – e regionais – como os Zahran -, que possuem maior conhecimento da realidade local e do seu público alvo, atingindo de forma mais efetiva cidades e povoados isolados (CABRAL, 2015, p. 19). Cabral (2015, p.22) explica que existem três tipos de concentrações de mídia: a) a vertical, que se manifesta quando um grupo faz compras ou funda empresas nos diferentes setores da comunicação (rádio, televisão, impresso, internet, editoras, etc.); b) horizontal, que ocorre quando um grupo começa a adquirir empresas de um mesmo segmento de mídia; e c) lateral, que surge no momento em que a empresa diversifica sua área de atuação para garantir a rentabilidade do negócio, indo além do campo da comunicação. Um dos primeiros conglomerados a se formar em Mato Grosso do Sul tem abrangência regional e produziu os três tipos de concentração: os Zahran. Além da criação da TV Morena, em Campo Grande em 1965, o grupo também lançou no mesmo ano emissoras de televisão em Corumbá e Cuiabá, sendo a primeira televisão a funcionar nas três principais cidades do então Mato Grosso uno. Houveram outros grupos que tentaram obter a concessão dos novos canais, como um ligado à Rede Tupi, mas a decisão do governo acabou favorecendo os Zahran, como contou um dos proprietários da televisão, Ueze Zahran, em entrevista.

Entrei com pedido de concessão não de uma, mas de três emissoras, o Estado não era dividido. Eu pedi para Campo Grande, Cuiabá e Corumbá, que eram as três principais cidades do Estado... fui para o Rio de Janeiro (sede do Contel) onde fiquei 4 meses esperando a decisão do coronel que dirigia o setor, contra o poder e a força dos Diários Associados... Ganhei os três canais. Aí comecei a investir pesado (MARTINS, 1999, p. 192-193 apud SOARES, 2005, p. 5).

Os Zahran já começavam então seu conglomerado com três televisões. O grupo só foi favorecido pois possuía alto poder econômico, devido aos seus negócios na venda de gás de cozinha com a empresa Copagaz. Com o início das transmissões dos novos canais, os empresários ainda expandiram seus negócios com a venda de aparelhos de televisão. Eles revendiam aparelhos da marca Philco, e chegaram a montar uma pequena fábrica de aparelhos da marca Michigam, em Campo Grande. Dessa forma, “os empresários conquistaram simultaneamente dois


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negócios, a venda dos televisores e a possibilidade de comercialização de anúncios no novo veículo” (SOARES, 2005, p. 6). Num movimento de expansão de seus canais de televisão, os Zahran fundam a RMT (Rede Matogrossense de Televisão), que é composta pelos seus canais em Campo Grande, Corumbá e Cuiabá. A RMT se afilia à Rede Globo em 1976, alterando toda a programação das três emissoras, e, nessa mesma década, os Zahran expandem seu conglomerado para as rádios, comprando a Rádio Difusora Pantanal, na época ainda AM (CORRÊA, 2014, p. 201). Atualmente, os Zahran possuem canais afiliados da RMT também em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e em Rondonópolis, Sinop e Tangará da Serra, em Mato Grosso. O grupo também controla a rádio Centro América FM, em Corumbá, e exerce controle sobre os jornais online G1 MS e G1 MT (MORGADO, 2008). Também, outro grupo que concentra empresas de mídia em Campo Grande é originário do Correio do Estado, sobre o qual já falamos anteriormente aqui. O grupo Barbosa Rodrigues tem origens familiares, após a compra do Correio do Estado por José Barbosa Rodrigues. Além do jornal diário, a família detém a TV Campo Grande, o portal de notícias online Correio do Estado, e as emissoras de rádio Cultura AM e Mega 94 FM. Atualmente, o diretor administrativo do grupo é Marcos Fernando Alves Rodrigues, neto de José Barbosa Rodrigues (FERNANDES, 2016, p. 9). Um outro grupo de forte abrangência no Estado também teve origem a partir de uma publicação impressa. O Grupo Feitosa de Comunicação foi fundado junto com a criação do jornal A Crítica, em 1980. Em 1988, o Grupo entrou no ramo das emissoras de rádio, setor em que mais se fortaleceria, com o lançamento da rádio Pindorama AM, em Sidrolândia. Atualmente, os Feitosa possuem as Rádios Band FM, Jota FM e Nova Paiaguás AM, em Dourados; Marabá FM, em Maracaju; Rádio Corumbá FM, em Corumbá; Pindorama AM, em Sidrolândia; Rádio Cidade AM,e m Aparecida do Taboado; Rádio Nova Difusora, em Caarapó; Rádio Nova Piravevê AM, em Ivinhema; Rádio Deus é Amor FM, em Selvíria – filiada à Igreja Pentecostal Deus é Amor; e a rádio Rede Aleluia FM, em Campo Grande, filiada à Rede Aleluia, pertencente à Igreja Universal. Além disso, os Feitosa possuem um


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site de notícias do jornal A Crítica, e sites de todas as suas emissoras de rádio, além da Gráfica Central, em Campo Grande, que imprime os jornais do grupo1. Um quarto grupo existente na capital é o Grupo Capital MS de Comunicação, que começou sua expansão mais recentemente depois de anos operando em Campo Grande. O grupo começou sua atuação com a fundação da rádio Capital FM 95, em 1981. Em 1988, o grupo lançou sua segunda rádio, a Rádio Capittal, na frequência AM, também em Campo Grande (PORTAL DE MÍDIA, 2015), e seguiu expandindo sua atuação para os municípios de Guia Lopes da Laguna, Jardim, Miranda e Sidrolândia, onde todas as emissoras trocaram o sinal, em 2017, para FM. Em 2010, a rádio Capittal FM 95,3 se filia à Igreja Universal, e em 2017, se torna filiada da Rede Globo de Rádios. Além das rádios, o grupo Capital conta com o site de notícias Página Brazil e uma rede de outdoors com abrangência em todo o Centro-Oeste. Um quinto grupo que atua em Campo Grande é o SBA (Sistema Brasileiro de Agronegócio), que se inicia em 1995 com o lançamento do Canal do Boi, via assinatura. O canal afirma ter sido o primeiro do mundo voltado exclusivamente para leilões de pecuária, e conseguiu se expandir em parcerias com empresários do setor agropecuário. A evolução do SBA carece de fontes documentais, mas sua expansão no setor de canais via satélite ocorreu com a criação, além do Canal do Boi, do Novo Canal, do Conexão BR, do Agro Canal, e até do Cine+, voltado exclusivamente para transmissão de filmes2. Por fim, dois grupos de comunicação atuam diretamente no interior do Estado. O primeiro deles, o Grupo Pantanal de Comunicação, foi iniciado com a compra da rádio Difusora Matogrossense de Corumbá, por parte de empresários que antes atuaram na TV Cidade Branca. O grupo possui outras rádios do município de Corumbá, como a Rádio Fronteira AM e a Band FM, além do jornal Folha de Corumbá e do site de notícias da região, Grupo Pantanal MS (HELDER & OTA, 2016, p. 18-19). O outro grupo atuante no interior é o Grupo RCN de Comunicação, dirigido pelo ex-deputado Rosário Congro Neto, que inicia sua trajetória em 1949 com o Jornal do Povo (FERNANDES, 2013, p. 3). É um dos grupos mais

1 2

Informações disponíveis em <http://www.acritica.net/grupo-feitosa/>. Acesso em: 25 de fev. de 2018. Informações disponíveis em <http://sba1.com/historia/>. Acesso em: 25 de fev. de 2018


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abrangentes do Estado, contando com cinco rádios (Band FM de Três Lagoas, Concórdia AM em Campo Grande e Cultura FM em Três Lagoas, Paranaíba e Aparecida do Taboado), uma emissora de televisão (TVC, em Três Lagoas), um portal de notícias (JP News), uma revista (Revista Se7e), além de empresas no ramo de outdoors e divulgação indoors (RCN Mídia Outdoor, RNCLed Digital e GM7 Mídia Digital)3.

3

Informações disponíveis em <http://www.gruporcn.com.br/>. Acesso em: 25 de fev. de 2018


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Capítulo 2. Televisão e internet: mudanças e impactos sociais

Depois de termos explorado o cenário de consolidação de certos grupos de comunicação em Campo Grande, por meio da expansão principalmente de empresas de rádio e de jornalismo impresso, vamos nos voltar agora para as mídias de maior foco da nossa pesquisa: a televisão e a internet. Esses dois meios participam dos cotidianos de seus usuários com maior ubiquidade na atualidade. Entretanto, seus usos não são compartilhados das mesma forma por todos os usuários, uma vez que são meios que cada vez mais têm oferecido maior possibilidade de “escolhas”. Vamos primeiro analisar como isso ocorreu com a televisão. Lotz (2006, p. 2) defende que as novas formas e possibilidades de usos da televisão confundem mesmo seus espectadores mais fiéis quando estes tentam definir atualmente o que é “televisão” - trata-se de uma atividade, ou seja, de assistir vídeos independente da plataforma, ou se trata estritamente de um equipamento, uma “caixa” onde passam vídeos? Ao mesmo tempo, Lotz vê na televisão uma revolução cotidiana, ao invés de uma morte anunciada pelas novas mídias, sobretudo a internet. O interessante nos estudos da autora é perceber como a concepção do público do que é televisão nem sempre acompanha a sua evolução tecnológica, mesmo nos estudos da comunicação, sendo que cada vez mais a televisão deve ser tratada como uma mídia complexa, deliberada e individualizada.

Television as we knew it—understood as a mass medium capable of reaching a broad, heterogeneous audience and speaking to the culture as a whole—is no longer the norm [...]. But changes in what we can do with television, what we expect from it, and how we use it have not been hastening the demise of the medium. Instead, they are revolutionizing it4 (LOTZ, 2007, p. 2)

O modelo citado por Lotz, de uma televisão como meio de massa capaz de alcançar uma larga audiência heterogênea e multicultural, com um discurso unificado, é característico dos anos iniciais da televisão e da época em que essa

4

“Televisão como a gente a conhece - entendida como um meio de massas capaz de alcançar uma larga e heterogênea audiência, e falar com uma cultura como um todo - não é mais a norma [...]. Mas mudanças no que se pode fazer com a televisão, o que esperamos dela, e como nós a utilizamos não tem acelerado a morte desse meio. Ao contrário, elas a estão revolucionando” (tradução nossa) .


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mídia foi alvo dos estudos da Escola de Frankfurt sobre a indústria cultural. De fato, em muito se ampliaram as possibilidades de uso da televisão desde seu surgimento, o que leva Lotz (2006, p. 8) a enxergar três “eras” da televisão no contexto norteamericano: 1) a Network Era (1950-1980), caracterizada pelo domínio do mercado televisivo por parte das grandes emissoras abertas que dependiam exclusivamente do ganho com patrocinadores; 2) a Multi-channel Transition Era (1980-2000), caracterizada pela ampliação das funções e possibilidades de uso da televisão causadas

por

uma

série

de

novos

avanços

tecnológicos

e

mudanças

mercadológicas, sobretudo pela chegada da TV a cabo; 3) e a Post-Network Era (2000 - atualidade), configurada por meio de mudanças radicais nos modelos de financiamento e nas possibilidades de produção e distribuição de conteúdo televisivo. Apesar

dessa

classificação

cronológica

proposta

por

Lotz estar

profundamente relacionada ao contexto do mercado televisivo norte-americano e suas complexidades, ela contribui para a percepção de como a televisão historicamente mudou conforme mudaram suas regras de financiamento e possibilidades tecnológicas. No Brasil, a primeira transmissão televisiva oficial ocorre em julho de 1950, em São Paulo, quando a TV Tupi, fundada pelo magnata das comunicações Assis Chateaubriand, transmite uma apresentação musical do então galã de cinema José Mojica (BALAN, 2012, p. 1). Durante sua fundação, a televisão bebe bastante do cinema e do rádio, e as emissoras são fundadas principalmente a partir do investimento de empresários que antes trabalhavam nesses setores e no setor do jornalismo impresso, o que não se restringe ao caso da TV Tupi. As possibilidades do audiovisual eram comuns às do rádio, com os espectadores ficando reféns de um fluxo de programação com horários pré-determinados de quando cada programa deveria ser assistido.

A cultura de consumo desses conteúdos eram tímidas visto que pouco se tinha de produções audiovisuais e os espectadores eram reféns do fluxo tradicional dos poucos canais existentes, como a TV Tupi. No momento, as pessoas reuniam-se em lugares públicos para “verem a TV” sem qualquer controle sobre o que assistiriam, tudo era novo e empolgante. Era o “Rádio com imagens” (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 3-4)


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Esse período inicial do consumo televisivo é característico dos primeiros anos da Network Era de Lotz. Não havia muito o que se “zapear” 5, visto que haviam poucas opções de canais e nem o controle remoto havia sido inventado. Também, os consumidores da televisão não podiam gravar programas para ver depois, tinham de adequar seus horários à programação das emissoras se não quisessem perder o jornal ou um novo capítulo de uma novela (LOTZ, 2007, p. 11). Lotz também explica como esse modo de ver televisão, com toda a família e/ou vizinhança reunida em frente ao aparelho, interfere no tipo de produção da época. Era mais comum que os empresários da televisão buscassem por conteúdos mais “aceitáveis” por todos para exibirem em suas emissoras do que programas que fossem seus “favoritos”, que dialogassem com as individualidades dos públicos (LOTZ, 2007, p. 11). Essa produção televisiva homogeneizada reforça a característica de “meio de massa” do aparelho, consolidada com a introdução da televisão no cotidiano de todos, seguindo uma lógica da visão fordista de “produção em massa, marketing em massa e consumo de massa” (LOTZ, 2007, p. 6). O cenário de consumo e produção televisiva começa a ter suas primeiras variações com o surgimento de tecnologias que expandem as possibilidades de seu uso. Os primeiros avanços são as melhorias na qualidade gráfica das imagens dos aparelhos televisivos. Nos seus primeiros anos, a imagem da televisão demandava “muito envolvimento” intelectual dos telespectadores, por apresentar “baixo teor visual” com uma qualidade de imagem precária e figuras nem sempre facilmente identificáveis, que precisavam ser “completadas” (NATÁRIO, 2006, p. 7). Essa relação de “envolvimento” para “completar” as imagens é característica de uma concepção de Pierre Levy, que defende que, mesmo quando não possuia tecnologias que permitiam uma maior interação entre consumidor e televisão, a televisão nunca deixou de ser “interativa”, pois sempre demandou alguma ação do telespectador.

De fato, seria trivial mostrar que um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é totalmente passivo. Mesmo sentado diante de uma televisão sem controle remoto o destinatário decodifica interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de várias

5

V. tr. e intr.: Mudar consecutivamente de canal de televisão com o .controle remoto; Disponível em <https://www.priberam.pt/dlpo/zapear>. Acesso em 28 jan. 2018


26 maneiras e sempre de forma diferente de seu vizinho (LEVY, 2000, p. 79 apud. NATÁRIO, 2006, p. 7)

Nos anos iniciais, essa “interatividade” entre televisão e consumidor era sempre necessária, já que a baixa qualidade das imagens demandava uma maior atenção para que seu conteúdo fosse “completado” e entendido. As melhoras na qualidade da imagem começam em 1960 no Brasil, com o início da utilização do videoteipe em substituição ao telefilme, que permite a verificação de imagens logo após a gravação, além de permitir a edição eletrônica e não mais “ao vivo” como era antes (BALAN, 2012, p. 5), seguidas pelas evoluções na qualidade da imagem dos próprios aparelhos receptores. A televisão em cores só é lançada no Brasil em 1972, durante a transmissão da Festa da Uva, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Segundo Balan (2012, p. 11), o próprio interesse do governo brasileiro em financiar a produção da TV em cores só surge após a seleção brasileira jogar na Copa do México em 1970. O público em nível nacional lamentou junto com o narrador da época6 o fato de não poder assistir os jogos da seleção com uma transmissão colorida. O princípio da transmissão em cores gerou um ânimo da população pela compra de aparelhos que pudessem receber o sinal colorido. Entretanto, demoraram anos até que a maior parte da programação dos canais de televisão fosse produzida com essa nova tecnologia.

De um modo geral, em todo o país, esse entusiasmo pela chegada das cores vem acompanhado da mais absoluta falta de informações. Além do preço (...) poucos sabem que durante 1972 as horas coloridas serão escassas e que continuarão escassas por boa parte de 1973 e que só por meados de 1974 haverá condições técnicas de produzir com regularidade programas em cor no Brasil. Mesmo as previsões mais otimistas não correspondem às expectativas do público (VEJA, 1972. p.44 apud BALAN, 2012, p. 11)

A combinação de entusiasmo e falta de informação em torno de uma nova tecnologia ou de nova uma mídia é comum em diversos contextos, como veremos em outros casos nesta monografia. Anos antes da transmissão da televisão em cores, uma pequena revolução que chegava aos lares era o controle remoto. O 6

O narrador esportivo Geraldo José de Almeida, que narrou os jogos da Copa do México de 1970, tinha costume de narrar com vibração sobre as cores da seleção canarinho. Em um dos jogos, disse: “que pena que você no Brasil não possa ver estas cores maravilhosas da nossa seleção” (BALAN, 2012, p. 9)


27

primeiro controle remoto sem fio começa a ser comercializado em 1950, nos Estados Unidos (NATÁRIO, 2006, p. 8). A tecnologia ainda precária não permite muita mobilidade ao telespectador, necessitando que seja utilizado nessa primeira etapa com uma pontaria reta frente à TV. A mobilidade frente à televisão é expandida pela chegada dos controles remotos com luz infravermelha, em 1970, que permitem um maior ângulo de pontaria junto à televisão. Natário (2006, p. 8-9) explica como a partir do uso do controle remoto, telespectadores começam a enxergar a televisão como um aparelho mais interativo e menos estático, o que é refletido na programação. São criados programas como o Linha Direta, em que era possível ligar com pistas e informações de casos reais, e o Você Decide, em que o público podia ligar para decidir o desfecho final entre duas possíveis conclusões de uma história audiovisual. Além disso, consolida-se o hábito de “zapear” com o controle remoto. A passagem de um canal para o outro é facilitada, já que o telespectador não precisa mais levantar do sofá para mudar de canal, assim como a capacidade de escolher diretamente qual canal assistir dentre uma gama de opções (NATÁRIO, 2006, p.10). Conforme novos incrementos tecnológicos surgem - como controles bluetooth, que permitem o fim da necessidade de apontar o controle para a TV, ou convergentes, que controlam tanto a televisão quanto aparelhos anexos como DVD, receptores de TV a cabo, etc. -, o controle permite por fim que a televisão seja “controlada”, colocada à disposição do telespectador, para que ele possa escolher o que assistir e e em que local do cômodo assistir com maior facilidade (NATÁRIO, 2006, p. 13). Cronologicamente próximo à chegada dos primeiros controles com tecnologia de luz infravermelha, está também o início da comercialização dos VHS e fitas de video cassete. A tecnologia de gravação de imagem e som foi anexada à televisão doméstica primeiro pelo U-Matic, em 1971, lançado pela Sony. O aparelho, semelhante ao VHS em sua função, permitia a gravação da programação televisiva para posterior reprodução. O VHS, popularizado como a mais bem sucedida tecnologia de gravação de imagens televisivas da época, só será lançado em 1976, pela JVC (ABREU & SILVA, 2012, p. 5-6). A

mudança

chave

da

relação

entre

telespectador

e

televisão

proporcionada pelas fitas cassetes é a quebra da programação linear da TV, prédeterminada, uma vez que os telespectadores podem assistir seus programas num


28

outro horário além daquele estabelecido pelo canal transmissor (LOTZ, 2007, p. 14). Além disso, o VHS e a fita cassete também permitem que os consumidores televisivos criem suas “bibliotecas” pessoais de programas favoritos. Surgem a partir daí os primeiros “box” com temporadas de seriados televisivos no comércio, o que estimula o comportamento de binge-watching7. Também no início dos anos 70 surgem as primeiras tentativas de se instalar a TV a cabo, ou cabodifusão, nas residências brasileiras. A princípio, devemos fazer uma distinção do que é a TV por assinatura e do que é a TV a cabo, sendo a primeira mais ampla e englobando a segunda, podendo chegar às residências via satélite, via espectro radioelétrico ou via cabo, como explica Ramos.

Mais precisamente, TV por Assinatura, é o serviço de comunicações que oferece a espectadores, através de qualquer um daqueles meios, programas codificados, só passíveis de recepção mediante o pagamento de uma taxa de adesão e assinatura mensal. Um decodificador, acoplado ao aparelho de TV, é que vai permitir a recepção livre do sinal. Portanto, TV a Cabo é apenas uma modalidade de TV por Assinatura, na qual o transporte do sinal é feito, aí sim, por uma rede de cabos (RAMOS, 1995, p. 2)

No Brasil, o início da TV a cabo é marcado por intensos embates entre estudiosos da comunicação e órgãos do governo. Houveram duas tentativas do Ministério das Comunicações, na década de 1970, época do governo militar, de aprovar decretos que regulamentassem o serviço de cabodifusão. Essas tentativas eram barradas pelos protestos de comunicólogos, que argumentavam que a sociedade estava sendo excluída da implantação da TV a cabo, favorecendo-se os interesses de grandes empresários da comunicação (RAMOS, 1995, p. 11). Ao ser finalmente regulamentada, em 1988, a TV a cabo voltou a ser discutida pelos movimentos sociais, que criticaram a postura do governo de José Sarney de regulamentar a cabodifusão como um serviço “especial de televisão por assinatura”, longe da correspondência pública, que deveria ser prestado por empresas.

Isto porque a caracterização não levava em conta os enormes impactos econômicos, políticos e culturais que a televisão a cabo ora gerava em todo o mundo, competindo abertamente com a 7

Assistir séries ou filmes em sequência de seus episódios, por três horas ou mais.


29 radiodifusão convencional e, portanto, tendo características nítidas de recepção pública de um serviço de telecomunicações (RAMOS, 1995, p. 16)

O principal problema enxergado pelos comunicólogos era que a classificação da TV a cabo como um “serviço especial”, e não como concessão pública, gerou falta de controle sobre a programação e distribuição desse tipo de televisão, prejudicando um projeto de uma televisão brasileira mais democrática e educativa. Mesmo sob protestos, o projeto de Sarney avançou. Em julho de 1991, haviam 102 autorizações para distribuição de sinais de televisão a cabo no Brasil - a maioria para grupos estrangeiros ou já consolidados na comunicação brasileira (RAMOS, 1995, p. 17). Dessas, duas concessões eram para sinais de televisão em Mato Grosso do Sul (RAMOS, 1995, p. 27). A importância dada pelos comunicólogos à televisão a cabo no Brasil é análoga à modificação social e cultural do uso da televisão enxergada por Lotz no contexto norte-americano - trata-se do início da Multi-channel Transition Era. Perdese a noção de uma televisão como meio de massa homogêneo, com uma ampla audiência assistindo a uma mesma programação limitada, para uma crescente fragmentação

das

audiências,

com

canais

que,

por

não

dependerem

economicamente apenas de patrocinadores, mas também de assinaturas, têm mais liberdade para explorar a criação e produção de programas voltados para nichos de audiência, como fizeram a CNN, a ESPN e a MTV (LOTZ, 2007, p. 14). Complementando aos poucos a passagem de uma televisão homogênea e com poucas possibilidades de uso para uma televisão interativa, personalizada e heterogênea, podemos observar nos últimos anos o desenvolvimento da TV digital. Além da melhora na qualidade técnica da televisão8, a TV digital trouxe principalmente como contribuição para a performance social dessa mídia o advento da convergência com a internet.

Uma gama de serviços interativos passa a compor o espectro de funcionalidades da televisão associada à internet. Todos os benefícios da conexão como acesso a vídeos sob demanda, jogos multiplayers, serviços do governo, serviços bancários, contas de e8

A televisão digital proporcionou no Brasil um aumento da quantidade de linhas horizontais para 1080, com uma proporção de tela de 16:9 e áudio com seis canais Surround 5.1, qualidades que se assemelham ao cinema (MÉDOLA, 2009, p. 2)


30 mail, acesso a redes de compra, redes sociais, bancos de dados passam a estar disponíveis no aparelho de televisão (MÉDOLA, 2009, p. 2)

Além de uma mudança no consumo da TV em si, com a chegada da televisão digital, produtores de conteúdo televisivo passam a estimular mais o uso de plataformas convergentes relacionadas àquilo que é televisionado, o que ocorre por exemplo quando um telejornal convoca o telespectador a acessar o site do programa com mais informações (MÉDOLA, 2009, p. 4). A televisão passa a estar mais atenta às outras mídias e à complementaridade de informações e conteúdos por meio delas. No Brasil, a televisão digital foi regulamentada por meio de decreto do governo federal, em 2006, e até novembro de 2018 os domicílios campograndenses devem operar apenas com o sinal digital9. A convergência entre internet e televisão começa a ficar cada vez mais transparente conforme não só a internet passa a poder ser acessada por meio da televisão, mas também conforme a televisão passa a poder ser vista pela internet. Nos anos 2000, podemos ver por exemplo o nascimento do Youtube e de plataformas de streaming. Inovador no meio digital, o Youtube, lançado em 2005, criou um espaço na internet onde qualquer um poderia publicar e consumir produções amadoras (RENÓ, 2007). Autores avaliam que essa nova forma de distribuição de conteúdo de vídeo interferiu diretamente na democracia da comunicação, tornando possível que aqueles que nunca tiveram acesso aos meios de comunicação de massas publicassem conteúdos que teriam o potencial de ser visualizado por qualquer um ao redor do globo, igual fazem os meios de massas (RENÓ, 2007). Através do Youtube, grupos sociais passaram a poder difundir suas ideias, crenças e costumes para todo o mundo. E, através do âmbito ciberespacial, pode-se construir um hibridismo cultural capaz, inclusive, de combater a homogeneidade provocada pelos interesses neoliberais, presentes nos produtos da indústria cultural, criticada pela escola de Frankfurt exatamente por seus efeitos. Dados10 a respeito do consumo do

9

Informação disponível em: <https://www.midiamax.com.br/variedades/2017/tv-analogica-seradesligada-em-novembro-de-2018-confirma-ministro/> Acesso em 10 jun. 2018. 10 Dados retirados da pesquisa Video Viewers 2017, do Google e Instituto Provokers. Disponível em <https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/advertising-channels/vídeo/pesquisa-video-viewers-2017cinco-insights-sobre-consumo-de-videos-no-brasil/>. Acesso em 26 jan. 2018.


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Youtube serão mais explorados nesta monografia quando começarmos a falar exclusivamente da internet. Anos mais tarde, após o lançamento do Youtube, chegam os serviços de streaming, que incentivam a diminuição do uso de pirataria por meio da disponibilização de conteúdos que podem ser assistidos conectando-se à internet, sem necessidade de download. Segundo uma pesquisa do Nielsen Brasil, sete em cada dez brasileiros na atualidade utilizam serviços de video streaming (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 6). A alta adesão a essas plataformas se deve ao anseio do telespectador por uma programação variada, sem intervalos, com total controle de quando/onde/como assistir, e de baixo custo. Outro fator para adesão a esse serviço é o consumo de produtos e conteúdos produzidos e exibidos exclusivamente dentro dessas plataformas, como ocorreu com a série House of Cards, da Netflix, que foi premiada e chamou a atenção dos fãs de séries televisivas para a então iniciante no serviço de video streaming, em 2013 (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 9). A quebra do formato “contagotas” de exibição semanal dos episódios da série, como era comum na televisão, para uma distribuição em “pacote” das temporadas, também incentivou o consumo entre aqueles fãs desse formato televisivo. Um resultado de tantas liberdades para o consumo televisivo é a popularização daquele comportamento, já citado anteriormente aqui, de bingewatching, ou seja, da “maratonagem” de episódios de uma série ou produção seriada durante três horas ou mais. Isso já acontecia com a compra de box de DVDs e fitas cassetes, porém ao optar pela liberação de temporadas inteiras logo no seu lançamento, a Netflix propôs a imersão em suas séries como um modo dominante de se assistir programas seriados (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 10). Essa prática transforma o uso de outras telas, além da televisão - como notebooks e computadores -, para que sejam alvo de uma “observação passiva”, mais comum antigamente ao uso do televisor (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 11). Podemos perceber por fim, que todo o cenário do que é televisão em muito foi revolucionado ao longo de sua existência, como escrevera Lotz em Television will be Revolutionized. As novas tecnologias anexadas aos televisores e às suas formas de produção e distribuição de conteúdo mostram que a televisão da atualidade quase não possui mais as características de um meio de massas


32

homogêneo, fixo e linear, e sim cada vez mais mobilidade, conteúdos fragmentados e não-lineares, que podem ser visualizados a qualquer hora e em qualquer lugar.

New technologies have both liberated the place-based and domestic nature of television use and freed viewers to control when and where they view programs. Related shifts in distribution possibilities that allow us to watch television on computer screens and mobile phones have multiplied previously standard models for financing shows and profiting from them, thereby creating a vast expansion in economically viable content. Viewers face more content choices, more options in how and when to view programs, and more alternatives for paying for their programming. Increasingly, they have even come to enjoy the opportunity to create it themselves11 (LOTZ, 2007, p. 5).

Exploradas todas essas características que constituem e modificam a televisão na atualidade, iremos agora falar especificamente do contexto de consumo e produção televisiva em Campo Grande.

2.1. Cenário campo-grandense de consumo e produção televisiva

Quando ocorreu a divisão do Estado, em 1977, e Campo Grande se tornou a capital de Mato Grosso do Sul, a cidade possuía uma emissora de televisão, a TV Morena. Além dela, a única outra cidade do novo Estado a possuir uma emissora televisiva era Corumbá, com a TV Cidade Branca, propriedade do mesmo grupo de comunicação, dos Zahran. Em todo o Estado, a história das emissoras de televisão e do telejornalismo de Mato Grosso do Sul carece de documentos (SOARES, 2005, p. 3-4). Em 1965, o Grupo Zahran, já rico na capital com negócios no comércio de gás, solicitou a concessão de três canais de televisão para operar no Estado. A primeira a ser concedida, naquele mesmo ano pelo então presidente Castelo Branco, foi a da TV Morena, que passou a ser a primeira televisão em 11

Novas tecnologias tem ao mesmo tempo liberado a natureza baseada-em-um-lugar e doméstica do uso da televisão e libertado os telespectadores para controlarem onde e quando assistir seus programas. Mudanças relacionadas às possibilidades de distribuição que nos permitem assistir televisão em telas de computadores e telefones móveis têm multiplicado modos antes padrão de financiamento de programas e de lucrar com eles, assim criando uma vasta expansão em conteúdo economicamente viável. Telespectadores encontram mais opções de conteúdos, mais opções em como e onde ver programas, e mais alternativas para pagar por sua programação. Cada vez mais, eles têm podido aproveitar a oportunidade de criar [programas] eles mesmos (tradução nossa)


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funcionamento em todo o território unificado do Mato Grosso. O grupo tinha interesses econômicos na abertura dos canais

A TV significava um negócio novo, em expansão, e também facilitava um outro tipo de comércio: a venda de aparelhos de televisão. Antes mesmo da inauguração da emissora, o jornal Correio do Estado publicou diversos anúncios que estimulavam a compra de televisores. Antonieta Ries (2001) lembra que o grupo [Zahran] revendia aparelhos da marca Philco. Além disso, os empresários chegaram a montar uma pequena fábrica de aparelhos da marca Michigam. [...] Com a inauguração da emissora, a procura por aparelhos de televisão foi intensa. Os empresários conquistaram simultaneamente dois negócios: a venda dos televisores e a possibilidade de comercialização de anúncios no novo veículo. (SOARES, 2005, p. 6)

Na década de 1960, o número de aparelhos ainda era bastante diminuto em algumas regiões do Brasil, o que justifica o estímulo de uma “corrida” para as compras dos televisores após a inauguração da emissora. Enquanto no Sudeste 12,44% dos domicílios possuíam TV, no Centro-Oeste, somente 0,34% das residências dispunham da “caixa-mágica” (HAMBURGER, 1998, p. 453 apud SOTANA, 2013, p. 4). Entretanto, a dificuldade de vender os aparelhos novos levou o Grupo Zahran a uma intensa estratégia de publicidade, com auxílio do jornal Correio do Estado, para incentivar os campo-grandenses a comprar os novos televisores12, uma vez que somente com 1.500 aparelhos distribuídos na cidade é que o Conselho Nacional de Telecomunicações poderia autorizar o funcionamento da emissora (SOTANA, 2013, p. 6). O jornal exaltava a “arrojada iniciativa” do Grupo Zahran e a emissora antes mesmo dela ser fundada, para garantir o sucesso do empreendimento.

A arrojada iniciativa dos Irmãos Zahran em breve será uma realidade e demonstrará o pioneirismo autentico destes campo grandenses que não hesitaram em realizar um empreendimento desta envergadura, numa demonstração de progresso, labor para a terra matogrossense. A TV-Morena, canal 4, será, em breve, uma 12

Sotana (2013, p. 7) descreve um dos anúncios encontrados no jornal: “Campograndenses: a TV Morena pode entrar no ar ainda este ano, depende de você. Coopere adquirindo seu televisor na Copagaz. Televisores por CR$ 40.000 mensais só na Copagaz.” (CORREIO DO ESTADO, 1965, p. 3)


34 grandiosa realidade (CORREIO DO ESTADO, 1965, p. 1 apud SOTANA, 2013, p. 8)

Em outubro de 1965, enfim, é dada a autorização presidencial para instalação da TV Morena, canal 4. A programação da emissora, em sua primeira década de funcionamento, era de cerca de cinco horas de filmes comprados de outras emissoras de São Paulo, desenhos animados, programas religiosos, crônicas e noticiários (SOARES, 2005, p.7). A compra de programação de emissoras do eixo Rio-São Paulo por emissoras de menor porte é comum à época, devido à dificuldade de produção autoral pelas emissoras menores, frente a chegada do citado videotape, que permite a essas empresas maiores espalharem seus programas pelo Brasil (SOTANA, 2013, p. 4). Apesar de algumas mudanças, a emissora só passa de fato a ter uma reformulação de sua programação em 1976, quando se afilia à Rede Globo de Televisão. A partir de então, as novelas globais são inseridas na programação, assim como formatos jornalísticos. Só em 1983, com nova reformulação da estrutura da Globo, é que surgem programas como o MS TV 1ª e 2ª edição, que operam dentro do padrão Globo de jornalismo, com notícias locais (SOARES, 2005, p. 1011). A segunda emissora de Campo Grande começa a funcionar três anos após a criação de Mato Grosso do Sul, em agosto de 1980, com o nome TV Campo Grande. Novamente, o Correio do Estado é marcante na divulgação da nova emissora, tendo coberto toda a implantação (LEMOS, 2016, p. 65). O canal levou cerca de quatro anos para ser posto em funcionamento após ser concedido ao grupo do empresário Antonio João Hugo Rodrigues, já dono de uma emissora de rádio AM e do jornal Correio do Estado. Logo no início, a TV teve contrato assinado com o Grupo Sílvio Santos, e passou a transmitir o sinal do SBT, até então chamado de TVS (SOARES, 2005, 11-12) A TV Campo Grande já entra no ar com transmissão colorida, e foi a primeira a investir na exibição de uma programação local (LEMOS, 2016, p. 65-66). Nos jornais, o Correio do Estado dava destaque para a adequação do novo canal ao SBT (Sistema Brasileira de Televisão) e destacava as atrações de Silvio Santos para chamar a atenção do público.


35 Sucessos do cinema, longas-metragens especiais, séries de banguebangue, telejornalismo e outros 67 programas (inclusive agrícolas voltados ao Mato Grosso do Sul) integravam a programação, elaborada para ser atrativa e agradável, conforme nota da edição [do Correio do Estado]. As estreias nacionais previam os apresentadores Raul Gil e a dupla Airton e Lolita Rodrigues, o especial do Palhaço Bozo e os programas de Sílvio Santos (LEMOS, 2016, P. 66-67)

Também na década de 80, outras emissoras de TV passam a operar na Capital. A TV Educativa de Mato Grosso do Sul, de iniciativa do governo do Estado, é criada em 1984, e também a TV MS (1987) e a TV Guanandi (1989). Diferente das emissoras TV Manchete e Morena, a TVE MS iniciou apenas como retransmissora de conteúdo educativo do Sistema Nacional de Rádio e Televisão Educativa. Somente quatro anos depois de ter sido criada é que passa produzir entrevistas e programas musicais locais em Campo Grande, voltados para educação, saúde e esporte. O primeiro telejornal da emissora vai ao ar em 1994 (SOARES, 2005, 1415). Por meio de apoio de políticos locais, o grupo de Ivan Paes Barbosa obtém a concessão da TV Mato Grosso do Sul, quinta a operar na Capital, a partir de 1987. A primeira transmissão da TV, que nasceu filiada à Rede Manchete, foi de uma partida de futebol. Em 1995, o canal se filia à Rede Record. Apesar da inserção de programação religiosa das igrejas locais da Universal, a programação da TV não mudou substancialmente com a mudança na filiação, segundo seus editores (SOARES, 2005, 16-17). Filiada à Rede Bandeirantes, a TV Guanandi foi a sexta a se estabelecer na Capital, em 1989. A sua concessão foi dada primeiramente ao ex-deputado federal José Elias Moreira, apoiador do presidente José Sarney, que assinou a concessão (SOARES, 2005, p. 18). Como explica Altair Perondi, irmão do empresário Jovir Perondi, sócios de Moreira para a estruturação do canal teleivisivo, eles tiveram interesse em investir na emissora por questões políticas e econômicas

Nosso interesse é que nós tínhamos acesso às pessoas que comandam, que fazem as leis, os parlamentares. Nós tínhamos acesso aos políticos. Além disso, sem dúvida nenhuma, uma emissora de TV alavanca as vendas. Eu pegava o calhau da televisão, colocava propaganda da concessionária (o grupo também é dono de uma concessionária da Fiat) e vendia muitos carros. Fomos líder de mercado durante anos contando com esse apoio da televisão. (PERONDI, 2001, apud SOARES, 2005, p. 19)


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Sem conseguir administrar os negócios, o ex-deputado Moreira vende a TV Guanandi para o grupo Correio do Estado, de Antonio João, que passa a contar com duas emissoras de televisão na Capital filiadas a diferentes grupos de comunicação, a Record e a Bandeirantes, em meados dos anos 90. Hoje, o canal foi vendido para o grupo religioso do missionário R. R. Soares, da Igreja Universal da Graça de Deus. (SOARES, 2005, p. 20-22). Atualmente, existem sete emissoras em funcionamento na Capital, como vimos anteriormente, sendo cinco privadas e duas públicas. As televisões estão presentes em 90% dos domicílios campo-grandenses, o que equivale a 242,9 mil casas com televisores. Além da TV aberta, 46% recebem sinal de TV por assinatura, num total de 114,9 mil acessos, sendo que em Campo Grande as operadoras que fornecem TV por assinatura são a Sky e a NET (ANATEL, 2016 apud SILVESTRIN, 2016, p. 240). Em contrapartida, no resto do Estado, 30,7% dos domicílios sul matogrossenses têm acesso à televisão fechada por assinatura (IBGE, 2016, p. 27).

2.2 Consumo midiático na internet e cibercultura

Da mesma forma que fizemos com a televisão, iremos agora trabalhar com a internet. Antes de explicar como foi a instalação e desenvolvimento da internet em Mato Grosso do Sul e Campo Grande, iremos nos atentar a algumas especificidades sobre a prática do consumo cultural na internet, e às formas em que a dinamicidade desse meio, que é ao mesmo tempo meio de comunicação e dispositivo tecnológico, afeta as relações e práticas sociais. As transformações causadas no tecido social pela internet não são novas, quer dizer, não tiveram origem apenas a partir de sua instalação no cotidiano, mas derivam de todo um processo de midiatização acelerado pela sua presença. O termo “midiatização” é usado para se referir aos efeitos da comunicação de massas sobre as relações sociais. Hjarvard (2014, p. 22), numa tentativa de definir o que é midiatização de uma maneira abrangente, mas pontual, estabelece que ela ocorre em dois sentidos: a) de independência, quando os meios de comunicação se distinguem das instituições, formando uma instituição própria; e b) de integração, quando as instituições sofrem a influência dos mídia e são


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alterados por eles em sua lógica. Para o autor, “a sociedade contemporânea está permeada pela mídia de tal maneira que ela não pode mais ser considerada como algo separado das instituições culturais e sociais” (HJARVARD, 2012, p. 52) Atualmente, com o avanço da internet, vemos uma nova midiatização. “Podemos falar de midiatização digital: em um processo sócio-histórico como a midiatização, o “novo” é justamente o avanço sociotécnico recente da digitalização, uma “virada digital”. Isto é, o surgimento de “novas formas de relação social, que são fruto de uma série de mudanças históricas, mas que não poderiam desenvolver-se sem a internet” (CASTELLS, 2005, p. 287 apud HOLANDA, 2017, p. 2). Sbardelotto (2017, p. 3) diz haverem duas revoluções na internet que propiciariam a midiatização digital: a) a primeira é a “revolução das redes sociais”, resultado de um crescimento de busca por autonomia pessoal e nomadismo nas sociedades contemporâneas, o que somando às novas tecnologias digitais, alterou as relações humanas; e b) a “revolução do mobile”, que permitiu que uma parcela considerável das populações urbanas permaneça sempre online, conectada por dispositivos móveis. Para o autor, essas revoluções fazem dos meios digitais, principalmente a internet, “facilitadoras ou realçadoras de redes humanas” (DIJCK, 2013, p.11 apud SBARDELOTTO, 2017, p. 7). Utilizando a ideia de que os campos sociais não ficam restritos à sua própria lógica, mas sim são atravessados por “circuitos” que forçam suas fronteiras entre os outros campos, Sbardelotto (2017, p. 6) identifica um movimento de circulação em que os polos produtores - os indivíduos, as instituições sociais ou midiáticas - produzem a partir das respostas que pretendem, esperam ou temem, com base em suas construções de sentido. O que a internet e as mídias digitais permitem é uma maior publicização e visibilização de construções de sentido que poderiam permanecer ocultas pelos/para os interagentes - mas que, reveladas, produzem uma pluralidade sociocultural expressiva, intercalando circuitos digitais locais, regionais e globais com circuitos sociais locais e regionais (ibid, p. 7). Dessa forma, o autor propõe o entendimento das mídias digitais como “redes de relações”, que surgem a partir da “inter-relação entre plataformas sociodigitais, ações comunicacionais e práticas sociais em um dado contexto” (SBARDELOTTO, 2017, p. 8).


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Essas redes não possuem um “centro” ou “polos” fixos, como nas relações lineares produtor-interceptor, pois toda a mídia e os interagentes dentro dela interagem, ao mesmo tempo que ela interage com outras mídias - um exemplo é o Facebook, uma mídia própria constituída dentro de outra rede (a internet), que constitui um macroambiente para circulação entre interagentes diferentes (páginas, grupos, perfis, publicações, etc), e que ao mesmo tempo interage com as fronteiras de outras redes/mídias, como o Twitter e o Instagram. Nesse sentido, já não existe mais um polo produtor e receptor estáticos, mas sim espaços para a recepção e produção que se interconectam pela circulação.

Embora a circulação só possa ser entendida na complementaridade entre produção e recepção, o polo produtor e o polo receptor não podem ser definidos aprioristicamente. Os polos produtores e receptores, assim, só existem, se constituem, se mobilizam, se vinculam e se reconhecem reciprocamente como resultado de um “aparelho circulatório” (SBARDELOTTO, 2017, p. 15)

Não é novidade que a formação de um espaço de sociabilidade por meio dos meios digitais - ao que chamamos de ciberespaço -, permeado por uma cibercultura, inverteu a lógica da emissão unilateral dos meios institucionais para uma lógica de múltiplos atores sociais de diferentes polos, não só mais como receptores, mas também emissores. O que Holanda chama a atenção é para a forma que esta cibercultura, com a “revolução mobile”, foi colocando o sujeito do ciberespaço, antes doméstico, isolado em seu computador, de volta à rua, à praça, e ao espaço público, gerando uma articulação entre a presença online e a presença concreta, uma relação entre lugar real e lugar na internet.

Estamos acostumados a acessar a internet de qualquer lugar. Quando, na primeira fase do seu desenvolvimento, acessávamos a internet da escola, de casa ou do trabalho, o lugar de acesso era apenas um fundo ou resíduo no processo infocomunicacional. Ele era um intermediário. Na atual fase móvel e locativa dos processos infocomunicacionais, a informação, o acesso, a distribuição, o consumo, a produção, estão diretamente vinculados ao contexto local. O lugar passa a ser um mediador importante no processo. Do fundo ele passa à frente da cena (LEMOS, 2013, p.202)

Exemplos dessa frequente relação entre espaço real e virtual são as possibilidades de marcação de locais em fotografias nas redes sociais, como


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permitem - e incentivam - Facebook, Instagram e Twitter, a possibilidade de encontrar pessoas “próximas” em aplicativos de relacionamentos, como o Tinder e Happn, ou ainda os aplicativos que estimulam a interação e o compartilhamento de informações virtuais-locais, como o Waze e o Foursquare. “O que aparece na tela não é a Matrix, este “outro mundo” eletrônico, fictício e desconectado do mundo de pedras e carne como diria Sennett (2006), mas as pessoas e os lugares mais próximos” (LEMOS, 2013, p.175). Também graças à “revolução mobile” e a popularização das plataformas de interação online, as pessoas podem manter-se sempre em conversação, se conectando a diferentes espaços de interação simultaneamente (PRIMO, 2016, p. 5). Na internet, certos meios se tornam mais adequados para certos atos sociais percepções essas formadas socialmente, mas também pelas possibilidades de cada meio. Essas possibilidades podem ser tanto nos recursos expressivos (textuais e multimídia) ou nas formas de se comunicar (um a um, um para todos, público, privado) (PRIMO, 2016, p. 7). O resultado dessas possibilidades, apresentadas pelos diferentes locais no ciberespaço, são “conversações fluidas”, que não dependem de uma única plataforma e linearidade para serem compreendidas pelos seus dois polos.

Por conversações fluidas entendemos as interações dialogais que ocorrem em ambientes polimidiáticos, trocadas em mais de um serviço de comunicação digital, possivelmente usando variados aparatos técnicos (desktop, smartphone, Smart TV) e redes de conexão (cabo, 4G). Tais conversas síncronas e/ou assíncronas constituem uma intrincada estrutura hipertextual e multimodal, que interconecta agentes humanos e não humanos, tempos e lugares (PRIMO, 2016, p. 8)

Por fim, a penetração da mídia no meio real e a sociabilidade que ela propõe são expandidos a ponto que os indivíduos não utilizam mais os meios de comunicação e dispositivos móveis para conversar apenas um com os outros ou com máquinas, mas consigo mesmos. Deuze vê na mídia espaço de universo informacional não só sobre a vida cotidiana e seus processos, mas sobre nossa própria adaptação à essa vida em comunidade. “As escolhas relativas à midiatização da vida são escolhas de profundas consequências éticas a respeito de que seres nós desejamos ser” (DEUZE, 2012, p. 31-32 apud HOLANDA, 2017, p. 12).


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Não havendo uma externalidade da mídia, uma vez que ela compreende todos os rituais e rotinas e performances que compõem a vida cotidiana, as preocupações quanto à mídia passam pela preocupação de quem se quer ser. Para Gergen (2000 apud PRIMO, 2016, p. 3), as escolhas que os indivíduos fazem a respeito da mídia e de quem querem ser no ambiente midiático, investigadas por Deuze, remontam à figura da ‘persona’, ou seja, de uma imagem persuasiva que se quer mostrar pros outros. O uso da ‘persona’ é ampliado em tempos de pósmodernidade, em que as tecnologias digitais permitem a manutenção de amizades à distância - sem conexão física - e criação de vínculos online.

2.3 Chegada da Internet e infraestrutura em Mato Grosso do Sul

De maneira semelhante ao que ocorreu no Brasil, a conexão entre computadores é desenvolvida pela Arpa (Advanced Research Projects Agency) nos Estados Unidos como uma forma de interligar universidades norte-americanas de diferentes localidades. O processo tem início em 1969 por meio da Arpanet, nome da rede criada pela Arpa. Na época, ainda não se dá o nome de “internet” para essa conexão - o termo só ganha uso na década de 80. Dez anos anos depois, o Brasil dá início ao processo de conectar computadores por meio da criação do Larc (Laboratório Nacional de Rede de Computadores), com o objetivo de integrar “as diversas redes acadêmicas nacionais com a possibilidade de acesso a redes das instituições estrangeiras” (PRADO, 2011, p. 32-34). Considerando-se o isolamento geográfico de um dos estados mais centrais do Brasil, a instalação da internet em Mato Grosso do Sul ocorreu de forma bastante rápida em relação ao seu lançamento em todo Brasil. Mesmo antes de se conectar à RNP (Rede Nacional de Pesquisadores), originária do extinto Larc, a UFMS já possuía uma conexão por meio de um contrato de internet discada com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A rede era precária, atingindo uma velocidade de 9,6 kbps, porém era necessária uma vez que a Universidade vinha passando por um aumento do número de professores doutores, que precisavam atualizar suas pesquisas muitas vezes iniciadas em outros países e Estados (CÁCERES, 2018, informação verbal).


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Entre os anos de 1991 e 1992, a universidade toma a iniciativa de criar sua própria rede de computadores interligados, por meio de um backbone13 de fibras óticas que conectava máquinas dispostas em diferentes locais do campus. Para isso, foram necessários investimentos do governo Federal, além da articulação de professores interessados em promover a integração de suas faculdades, como explica o professor Edson Cáceres, que participo da instalação do backbone.

Havia um investimento muito grande né, de energia e de recursos para dotar a universidade de recursos operacionais. A universidade também começa a instalar sua própria rede, então nós tinhamos um conjunto de redes locais, e a universidade começa a instalar também um backbone, foi o primeiro backbone de fibra ótica que conectaria essas redes locais que existiam pra colocar. E paralelo a isso foi feito um investimento, foram compradas algumas workstations, que possibilitaram a gente de se conectar na internet com mais segurança (CÁCERES, 2018, informação verbal)

Mesmo sem os computadores pessoais operando conexões perfeitas com a internet, a UFMS atuou como um provedor para alunos, professores, instituições governamentais e empresas privadas, no início de sua conexão com o backbone 2 da RNP, entre os anos de 1994 e 1995, logo quando o governo Federal dá início à exploração comercial da internet. O serviço de provedor de internet por parte da Universidade só se tornou possível a partir do momento em que ela se conecta à RNP, dando um salto de velocidade de sua conexão para 64 kbps por segundo. Nesse momento, é instalado o PoP-MS (Ponto de Presença de Mato Grosso do Sul), que funciona como o “roteador” e provedor central de internet da Universidade para os seus clientes e outros pontos no campus. A gente vendia conexão com o provedor… Esse era o modelo da época. A Vip14 vinha conectada também, e a UFMS era um provedor também, para professores, alunos e funcionários. Você fazia um contrato, pagava uma taxa, não lembro de quanto que era, e você se conectava. [...] Essa era a ideia, se conectar da casa dele, porque não tinha uma DSL pra pessoa te vender naquela época. Só tinha 13

Backbone é um termo utilizado por profissionais da área da computação para designar redes de cabeamento de internet que funcionam como “espinhas dorsais”, compartilhando suas conexões e reduzindo custos. 14

Antiga empresa provedora de internet em Campo Grande extinta na atualidade.


42 um ou dois provedores particulares [na cidade], e assim, era muito difícil (CÁCERES, 2018, informação verbal)

Algumas das instituições que se conectaram à rede provida pela instituição foram a UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), o Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, a antiga Empaer, entre outros. Parte dessas instituições tiveram de se desconectar do provedor mais tarde, por causa de mudanças na política de usos da rede. O professor Edson Cáceres, um dos participantes da instalação do Pop-MS, conta como, apesar da integração progressiva da Universidade à internet, mesmo no ambiente acadêmico o clima de novidade, dificuldade e cooperação em torno da rede era constante.

Era todo mundo, um monte de gente se ajudando, descobrindo as coisas [...]. Porque não era uma coisa fácil, não era que você plugava em um computador que estava tudo funcionando, então tinha que configurar todas essas coisas. [...] E de vez em quando você tinha uma dificuldade porque as pessoas estavam aprendendo. Quando dava um problema dava dor de cabeça pra muita gente. Foi assim, digamos, no início várias pessoas se ajudaram mutuamente (CÁCERES, 2018, informação verbal)

Apesar das dificuldades, o professor explica também como a escolha da UFMS de se integrar à RNP fomentou toda uma capacitação de uma geração na área de tecnologias da computação e da internet, repercutindo para além dos muros da Universidade ao colocar no mercado de trabalho profissionais habilitados para trabalharem na conexão de usuários em Campo Grande e no Estado.

Um monte de gente trabalhou duro pro PoP. Os alunos da computação eles faziam seus projetos de graduação aprendendo como funcionava os protocolos. Na época ninguém sabia o que era webdesign, e uma menina do jornalismo se interessou por isso [...], ela foi uma das primeiras aqui. Muitos saíram daqui e foram trabalhar com internet, aprenderam a mexer com roteador... O PoP não apenas possibilitou a conexão entre essas pessoas, ele teve um trabalho muito importante de capacitar recursos humanos para resolver essas demandas depois (CÁCERES, 2018, informação verbal)

O PoP-MS também provia internet para os campi do interior do Estado. Em 1997, foram feitas conexões com Três Lagoas e Aquidauana, enquanto no ano seguinte as cidades de Coumbá e Dourados passaram a serem atendidas. A partir


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dos anos 2000, os campi do interior se tornaram praticamente os únicos clientes atendidos pela RNP no Estado, devido às restrições de uso aplicadas pelo provedor, e também a expansão de novos provedores comerciais na região 15. Nesta época, a RNP já se tornou a base para a implantação da internet comercial no Brasil, por meio de esforços das equipes acadêmicas da Rede em dotar o território nacional de uma infraestrutura básica para o acesso à rede, e em capacitar recursos humanos para sua instalação (PRADO, 2011, p. 35). Apesar da expansão comercial da internet ficar à cargo das empresas particulares, o governo Federal inicia, a partir dos anos 2000, uma série de programas populares para a inclusão digital e a expansão do acesso à internet em todo o país, com objetivos culturais e educacionais. São lançados programas como o Projeto Bibliotecas e o Programa Comunidade Solidária, que tinham como objetivo informatizar e conectar à internet bibliotecas públicas, do terceiro setor e centros de difusão cultural (PRADO, 2011, p. 38). Em 2003, também é lançado o projeto PC Conectado, que oferecia condições especiais de financiamento para compra de computadores. O projeto beneficiou pessoas físicas, Prefeituras, escolas e micro empreendedores em empréstimos com bancos públicos. Até o fim de 2006, mais de 1 milhão de computadores foram adquiridos por meio do programa (PRADO, 2011, p. 39). Entre 2005 e 2007, o governo também instala 34 unidades do Projeto Casa Brasil, espaços comunitários de uso gratuito e acesso irrestrito à internet implantados em comunidades de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). (PRADO, 2011, p. 40). Além dos centro comunitários de acesso a internet, as lan houses tiveram um papel importante em todo o país como local de acesso à internet e de inclusão digital. Dados da pesquisa TIC Domicílios de 2007 apontam que, naquele ano, metade dos internautas residentes em áreas urbanas acessava a Internet em lan houses, sendo esse o principal local de acesso na época (CETIC, 2016, p. 5.) Esse cenário de programas populares tímidos do governo de acesso à internet, “impulsionado pela diminuição de preços de bens e serviços de informática, pela ampliação da concorrência e pelos incentivos fiscais concedidos ao setor” 15

Informações disponíveis em <http://www.pop-ms.rnp.br/pms/sobre/inicio/>. Acesso em 26 mai 2018.


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(PRADO, 2011, p. 41), ajudou para que o Brasil saltasse de 2,04 usuários de internet para cada 100 habitantes em 1999, para 39,2 usuários para cada 100 habitantes em 2009 (PRADO, 2011, p. 45). Apesar do crescimento exponencial em dez anos, o aceleramento ainda fica bastante aquém de países mais desenvolvidos tecnológica e educacionalmente, como a Holanda, que na época já tinha 89,63 usuários para cada 100 habitantes. Essa situação foi causada principalmente

pelo baixo investimento do governo, metas não cumpridas nos PPA’s [Planos Pluri-Anuais], pela desigualdade da distribuição da internet no Brasil e pela má distribuição de renda. O contínuo crescimento a partir de 2003 pode ser explicado pelas políticas do governo na área de inclusão digital, mas principalmente pela diminuição da desigualdade social apresentada durante o governo Lula (PRADO, 2011, p. 46) Atualmente, a internet é utilizada por 64,7% dos brasileiros com 10 anos ou mais. Os usos são mais difundidos entre os jovens de 18 a 24 anos (85%), e menos difundidos entre pessoas de 60 anos ou mais (25%). Cerca de 75% daqueles que declaram não utilizar a internet dizem não fazê-lo por não saberem usá-la ou por falta de interesse. Enquanto isso, aqueles que a utilizam acessam pelo celular (94,6%), pelo microcomputador (63,7%) e pelo tablet (16,4%) (PNAD Contínua 2016, p. 1). Em Mato Grosso do Sul, o celular móvel está presente em mais residências do que o microcomputador: 96,5% das casas possuem telefone móvel enquanto 45,9% possuem computador, e 39,1% possuem computador com acesso à internet, o que aponta para uma preferência do uso da internet móvel via compra de dados ou de outras formas, que se não a conexão banda-larga. Dos domicílios no Estado, 60,9% declaram ter conexão à internet. Entre aqueles que declaram ter acesso, 96,1% dos domicílios acessam a internet pelo celular, 64,4% acessam pelo microcomputador e 17,7% acessam pelo tablet (PNAD Contínua 2016, p. 25-29). Em questão de estrutura, não existem dados oficiais sobre o número de provedores de internet em Mato Grosso do Sul. A Apims (Associação de Provedores de Internet de Mato Grosso do Sul) conta com mais de 40 associados16, enquanto

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Informações disponíveis em <http://www.pontoisp.com.br/provedores-de-mato-grosso-do-sul-criamassociacao/> Acesso em: 17 de mar. de 2018


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dados da pesquisa TIC Provedores de 2014 aponta que das 320 empresas formais de provimento de internet no Centro-Oeste, 32% atuariam em Mato Grosso do Sul, o equivalente a 102 empresas (CETIC, 2016, p. 89). Ao mesmo tempo, a RNP, por meio da iniciativa da Redecomep (Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa), que implementa redes de alta velocidade nas regiões metropolitanas brasileiras, com o uso de fibra óticas, contabiliza que existam 76 km de cabos de fibra ótica espalhados por Campo Grande, entre 22 sítios de concentração, dos quais 18 pertencem à Redecomep17.

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Informações disponíveis em <http://www.popms.rnp.br/downloads/redecomep/Redecomep_Campo_Grande_2015.pdf> Acesso em: 17 de mar. de 2018


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Capítulo 3. Análise das entrevistas e conclusões

Como resultado de nossa pesquisa bibliográfica, além de entrevistas auxiliares, conseguimos obter um panorama de como, nas últimas décadas, foram instalados diferentes meios de comunicação em Campo Grande, como a televisão, o rádio, o telefone, a internet e jornais impressos. Pudemos obter também pistas de como certos avanços tecnológicos foram e são percebidos pela sociedade, ao promoverem a aceleração do ritmo social, darem a possibilidade de novas escolhas, proporcionarem mais conforto ou um maior acesso à informação. Com base na análise de nossas entrevistas, iremos agora tentar entender como esses dois processos (contexto de oferta cultural/midiática e impactos das tecnologias) são determinantes para certos usos e desusos da mídia entre nossos entrevistados, aliando-os com seus diferentes modos de vida, ritmos de trabalho e seus contextos de criação e formação. Apesar do caráter experimental da pesquisa, é latente a congruência de relatos quanto a temas como a) saturação das mídias e de conteúdos; b) preocupações com “bons” ou “maus” usos; c) integração do cotidiano às novas tecnologias e dispositivos móveis; d) artificialidade e manipulação da mídia, e por fim; e) mudanças de hábitos causadas por mudanças de rotina. Mesmo não havendo uniformidade entre os relatos, podemos entender que a existência desses cinco pontos nas entrevistas de personagens com ritmos de vida e criações tão diferentes demonstra que os mesmos transpassam os contextos sociais e rotinas de trabalho dos entrevistados, sendo estes aqueles processos capazes de contar uma ‘história social da mídia’, a partir do detalhamento de diferentes usos e percepções da mídia ao longo do tempo que são comuns à uma mesma comunidade, mesmo dentro de suas diferenças sociais, culturais e econômicas. Antes de tratarmos disso, vamos recapitular alguns pontos cruciais sobre a oferta cultural de Campo Grande ao longo das últimas décadas: a cidade recebeu seus primeiros televisores na década de 1960, com o início da atividade do grupo Zahran na capital e no interior; os primeiros grupos de televisão são formados principalmente por empresários que já trabalhavam com o rádio e o impresso, dando origem a conglomerados de mídia; a internet, por sua vez, começa a ser acessível comercialmente em meados da década de 1990; atualmente, são sete emissoras de


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televisão na Capital, presentes em 90% dos domicílios da cidade na forma aberta e 46% na forma fechada, enquanto a internet está presente em 60,9% das casas do Estado. Importante fazermos esse resgate para reinserirmos o contexto de nossos entrevistados. Quando falamos de saturação da mídia, por exemplo, se trata de algo recente, provocado por uma exposição ao longo dos anos às mídias, principalmente no caso da televisão. No caso deste dispositivo, existem dois tipos de saturação que pudemos perceber: uma que faz com que os entrevistados ou vejam a programação em si da TV como “repetitiva” ou “sem nada de novo”, ou sintam um mal-estar diante de assuntos super-explorados pela mídia, como greves, problemas de violência urbana e corrupção na política. É o que diz um dos entrevistados ao relatar que o jornalismo deveria se preocupar em trazer “mais coisas agradáveis”, e não em sobre-expor assuntos que podem deixar o indivíduo com “raiva”. Que nem agora, teve a greve dos caminhoneiros, porra a mídia fica em cima, batendo, batendo, batendo naquela porcaria. Não saía disso. E a gente vai ficando com raiva, gente. Será que eles não veem que isso aí não vai trazer nada que vai agregar pra gente? Nada. Só transtorno na vida da gente (HELTON, 2018, lin. 35933597)

Ao contrário dessa televisão que provoca raiva ou que cansa pela repetição, os primeiros relatos de todos os entrevistados, ao contrário, dão conta de uma televisão que é fascinante, que reúne família e amigos em torno de algo “novo”. Pra nós era uma novidade né, porque eu nunca tive [quando] criança, nunca tinha visto uma TV, aí com a TV ver uma imagem assim. Foi muito… Foi legal pra caramba. Depois a gente foi se aperfeiçoando aí foi se acostumando com aquilo ali. Isso foi um show assim, de chegada você precisava ver. Lá dentro do mato assim, a gente ouvia TV, novela, jogo, só conseguia ouvir pelo rádio, aí você ver a imagem do jogador jogando pra nós era o máximo. (SEVERINO, 2018, lin. 1871-1876)

Tal relato nos remete ao que vimos no primeiro capítulo, de que a televisão brasileira em seus primórdios era vista pelo público como algo “novo” e “empolgante”, um “rádio com imagens” (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 3-4), apesar da

incontestável

ausência

de

conteúdos

diversificados.

Nos

relatos

dos


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entrevistados, programas como Sítio do Pica Pau Amarelo, desenhos animados, e novelas quando acompanhados dos pais, são os mais citados como aqueles marcantes da infância, de forma muito semelhante. Essa congruência se dá por fatores que estavam presentes em todos os casos, como a idade, uma vez que todos eram crianças em seu primeiro contato com a televisão, mas principalmente pelo fator da oferta resumida, visto que, em sua chegada às casas brasileiras, a televisão contava com uma grade de programação bastante restrita.

Então você tinha dois, três canais. Eu não sei se você sabe disso, a programação ela tinha um início pro canal entrar no ar, e ela saía do ar 23h, 00h, e pronto, acabou. Acabou. Tava lá, corujinha da Angélica, da Globo, “boa noite pra vocês”, e tchau. (JOSÉ LUIZ, 2018, lin. 2779-2782)

Em que momento então, os entrevistados começam a substituir o fascínio pela sensação de saturação? Interessante notarmos que há uma relação direta entre o maior conforto proporcionado pelos avanços tecnológicos da televisão (controle remoto, TV por assinatura, gravação de conteúdos, guias de programação), e uma sensação de que cada vez mais a TV é uma mídia complexa, deliberada e individualizada (LOTZ, 2007, p. 2). Trata-se então de uma demanda emergente do público: personalização, que nem sempre é oferecida de forma satisfatória pelos produtores de conteúdo. Nos relatos dos entrevistados, dois movimentos são possíveis de perceber. Há aqueles que até hoje assistem à televisão todos os dias priorizando os conteúdos de seu interesse, mesmo sentindo que há super-exploração de certos temas que evitam, mas há também aqueles que percebem que cansaram da televisão por sentirem que a repetição de conteúdos da mesma não lhes possibilita tantas escolhas de temas específicos de seu interesse, o que outras mídias poderim executar de maneira mais satisfatória. Um dos entrevistados, por exemplo, passou pelos dois processos. Quando começou a trabalhar, ele deixou de utilizar tanto a televisão pois a sua programação se tornava muito “repetitiva” nos dias de semana, então começou a utilizá-la só aos fins de semana. Ao mesmo tempo, desde o fim da faculdade, o entrevistado relatava que vinha “trocando a TV pelo CD e pelo computador”, uma


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vez que não aguentava mais ficar nessa “busca quase insana” de procurar algo de seu interesse na programação. “A TV não me dá tantas escolhas, o computador é mais personalizado” (JOSÉ LUIZ, 2018, lin. 3349-3350). Essa opinião de saturação da televisão é compartilhada por um outro entrevistado, que diz que prefere ler ciberjornais pois “os jornais dos celulares” trazem “coisas bacanas”, além daquilo que aparece na televisão, fator esse causado pelo uso personalizado da mídia online. “No jornal do celular é que passa muita coisa que às vezes a gente nem presta atenção na televisão” (HELTON, 2018, lin. 3615-3116). Portanto, podemos perceber que quanto à televisão, apesar da diversificação de canais da TV por assinatura, a falta de conteúdos personalizados para os interesses dos usuários e a existência de temas super-explorados foram determinantes para uma saturação da mesma. A internet não está livre de saturar seus usuários. A saturação em relação à internet ocorre também nos relatos de alguns dos entrevistados, porém, nesses casos, o problema está em ter de lidar com a “falsidade” e “exposição” nas redes sociais e na “emergência” e imediaticidade provocada pelo uso dos dispositivos móveis.

Não tenho nada contra. Tem gente que fala assim, tudo que vai fazer, expõe ali. No Face. Ou é verdade, ou é mentira. Ou então tem gente que põe uma realidade que não existe ali. Eu sei, eu não tenho, mas quem tem me conta. “Oh fulano postou isso aqui”, mas não tem nada a ver. “Fui em tal lugar, fui jogar vôlei”, não foi. Põe uma roupa lá, e tal, não existe. É isso, no Face eu não tenho nada contra, mas não existe uma curiosidade minha disso. (SÔNIA, 2018, lin. 4310-4316)

Não apenas o Facebook, que é a rede social mais alvo de reclamações nesse

sentido

entre os entrevistados,

satura

os usuários por meio

do

compartilhamento de publicações vistas como “mentirosas” ou “desnecessárias”. O Whatsapp, principal meio de comunicação com familiares e amigos da maioria dos entrevistados, também satura a partir do momento em que seus usuários se veem em meio a um uso ininterrupto.

Eu vou te contar que chatice depois que criaram esse Whatsapp viu. Nem as pessoas conversam dentro de casa, ficam só olhando no telefone e vendo o que que tá caindo. Você tá no trânsito, você olha


50 pro lado tá uma pessoa no Whatsapp dando risada sozinho, dirigindo ainda? Não dá. (HELTON, 2018, lin. 3921-3924)

Essa atualização constante das mensagens que ficam “caindo” - em referência às notificações que caem sobre a tela do celular - faz parte daquilo que outro entrevistado critica, da sensação de “emergência” provocada pelo uso dos dispositivos móveis. Mesmo entre aqueles que não praticam o uso do celular constante, diz o entrevistado, há uma percepção de que hoje em dia as pessoas insistem em compartilhar informações sobre como estão umas com as outras o tempo todo, mesmo quando não há uma urgência ou necessidade daquilo, como quando pessoas trocam mensagens para informar que “estão chegando” em algum lugar ou “estão bem” depois de um voo. Antes você viajava. Veja bem, eu saía daqui, de Campo Grande, a família no Rio de Janeiro, você vai pra um aeroporto, você pega um avião, você chega no outro aeroporto e você vai pra casa de um parente. Não falava com ninguém nesse trajeto todo. Alguém morreu? Desde que você saiu da casa, vamos dizer que meu filho ficou em casa com a Rose, você fez todo esse trajeto, você chegou e ligou de um fixo, “tá tudo bem, cheguei bem”. Aí eu te pergunto, qual é a necessidade de você chegar no aeroporto e ligar, “cheguei aqui no aeroporto, vou fazer a conexão”? “tô comendo não sei aqui, aqui o tempo tá horrível”...? (JOSÉ LUIZ, 2018, lin. 3053-3061)

Essa saturação das mídias online é provocada sobretudo por essa sensação de aceleração do ritmo de vida, e por um alto grau de compartilhamento de informações pessoais. De certa forma, tanto a atualização constante de Facebook e Whatsapp quanto a exposição demasiada nas mídias reclamadas pelos entrevistados são reflexos de uma maior busca por autonomia pessoal, ligada à exposição da “persona” (GERGEN, 2000), e da hiperconexão causada pela “revolução mobile”, que nos permite acessar o ciberespaço em qualquer lugar e a qualquer momento - desde que haja conexão -, como vimos em Sbardelotto (2017, p. 3), no último capítulo. Apesar dessa saturação percebida tanto na televisão como na internet, não podemos esquecer que há personagens que glorificam ambos os meios de comunicação entre os entrevistados. Nesses casos, os entrevistados buscam valorizar os pontos positivos da televisão, como sua infiltração no cotidiano das pessoas e sua capacidade, daí advinda, de difundir informações que são de


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interesse comum, ou então valorizar a internet por sua habilidade de aproximar pessoas distantes e de habilitar a busca rápida de informações.

São tantas críticas que hoje os adolescentes não escrevem mais, o vocabulário deles é outro né, é um vocabulário diferente, porque eles são da era digital. As pessoas tem meio que bitolado que muita coisa veio, estragou e foi ruim. Eu não acho assim. Eu acho que é tão bom você querer saber de alguma coisa e tá ali, pronto, você ter meios de pesquisa, você ter fontes pra pesquisar né. Links pra compartilhar, e a saudade ela quase que não existe. Porque um fala aqui, converso com meu filho lá, e bato aquele papo e a saudade diminui. (DORIANE, 2018, lin. 990-996)

Tal ponto de vista não poderia ser mais adequado ao de uma educadora, que relata ter sido necessário se integrar à internet para não perder a atenção de seus alunos, e tornar as aulas que ministrava mais dinâmicas. Isso nos leva ao segundo ponto percebido em todas as entrevistas, que é da diferenciação entre “maus” e “bons” usos da televisão e da internet. Apesar de todos os entrevistados falarem que esperam ver “coisas boas” na televisão, ou na internet, nem sempre esses entrevistados conseguem deixar claro o que esperam de bom desses meios. Em contrapartida, as “coisas ruins” são justamente aqueles assuntos “mórbidos”, que causam desconforto.

A gente vê muita notícia, muita coisa ruim, nem dá pra acreditar. Eu nem gosto de ver muito, esses Datena, essas coisas que… Muito não. Porque, a gente fica prestando muita atenção na maldade do outro, sabe? Eu sofro muito de saber que tá acontecendo aquilo, eu fico assustada, é uma coisa assim que eu falo “ah não”. (SÔNIA, 2018, lin. 4370-4374)

De certa forma, podemos dizer que todos os entrevistados possuem uma noção de que há maus usos e bons usos que podem ser feitos sobre a televisão e a internet, embora a noção do que é um mal ou bom uso seja relativa para cada caso. Uma noção geral que fica dos relatos é que os personagens entendem que há opções de escolha para o público: você pode sempre escolher entre assistir algo “bom” ou “ruim”, fica a seu critério. Muitas pessoas falam, “ah, internet é ruim, a TV é ruim”. Mas vai do ponto de vista que você quer ver. Se você quer ver o lado bom, tem


52 muita coisa boa, então filtra só as coisas boas. Você quer ver o lado ruim, você filtra as coisas ruins (SEVERINO, 2018, lin. 1915-1918)

A opinião mais complexa sobre o assunto, novamente, parte da entrevistada que atua como bibliotecária e já trabalhou dando aula. Para ela, a noção de que existem “coisas ruins” a serem informadas pela mídia, seja pela internet ou pela televisão, não significa algo ruim, mas sim algo necessário para que “se entenda a situação” do que está acontecendo no seu mundo. Infelizmente isso faz parte do dia a dia e eu preciso estar sabendo o que que tá acontecendo no mundo, por mais que seja sangrento, horrível - eu não absorvo o dia inteiro isso né -, mas eu gosto de tá ouvindo uma informação, o que que tá acontecendo lá em São Paulo, no Rio, chacinas né, a política brasileira né, que isso é muito importante pra mim né, o que que tá acontecendo no meu país, aonde que tá surgindo todas essas situações (DORIANE, 2018, lin. 1162-1167)

A “necessidade” de saber aquilo que “está acontecendo” ao redor do mundo nos leva ao terceiro ponto que pudemos perceber entre todas as entrevistas, que é a integração da vida cotidiana às mídias digitais. Essa integração já ocorreu com a televisão durante o decorrer da vida dos entrevistados, e foi sendo, conforme o meio “saturou” ou se tornou um local para busca de programas específicos, substituída pela integração ao uso de celulares e computadores no dia a dia. Muitos relatam que querem ou são incentivados a “estar por dentro” daquilo que está acontecendo no mundo, por isso buscam informações em jornais pela televisão, pela internet ou ainda na via impressa. Ao mesmo tempo, também por isso acessam suas redes sociais (quando as têm), para saberem “o que está acontecendo” na vida de seus amigos e familiares. Essas integrações acontecem em diferentes níveis. Em alguns casos, os entrevistados se diziam à vontade para querer saber aquilo que acontece com pessoas próximas via redes sociais, mas não para compartilharem informações sobre suas vidas pessoais. É o caso da senhora de idade, aposentada, que diz gostar de acessar o Facebook recém criado mais para “ficar vendo fofoca do que pra falar fofoca” (AMÁLIA, 2018, 494-495). A integração digital dessa forma não está completa, uma vez que não há uma intenção de protagonizar o compartilhamento de


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informações - apenas de querer saber quais são as informações que estão sendo partilhadas pelos outros. A “curiosidade” nesse caso é o termo mais correto a ser utilizado. É assim que uma outra senhora, que trabalha como assistente num Ceinf, define o motivo que a leva a ver os status compartilhados pelos seus contatos no Whatsapp, “de curiosidade dos outros”. Entretanto, ela não compartilha status seus porque “não liga” para esse tipo de coisa (SÔNIA, 2018, 4325-4335). Nesses casos, a integração já teve início, pois há uma necessidade/curiosidade de saber “o que está acontecendo” nas mídias digitais, mas não ainda de informar aos outros também o que está acontecendo em sua própria vida. A ausência da vontade de se integrar totalmente ao uso das novas mídias pode ser motivada pela idade dos entrevistados, como pontuou um deles. Ele rememora que “não nasceu” com o uso do celular e que por isso não sente, talvez, a falta e a necessidade que os jovens sentem do dispositivo, uma vez que nunca foi necessário em sua vida até então. “Não é que eu não consigo, não tenho interesse. Porque como eu não nasci com isso, a gente não sente falta talvez como vocês sentem necessidade né. Vocês sentem isso né, meu filho sente” (JOSÉ LUIZ, 2018, lin. 2832-2834). Assim como a saturação das redes sociais é provocada em partes pela “falsidade” dos usuários, o entrevistado, um psicólogo forense, defende que sua criação para longe desses mídia, baseada na conversação pessoal e na promoção de atividades em família, foi motivadora de seu desinteresse de criar um Facebook, por exemplo.

É que assim, como é que pra um cara como eu, que as pessoas construíam suas relações, como é que eu vou entrar num ambiente desses? É totalmente falso. É totalmente artificial. Eu sou do tempo disso aqui. Do tempo que chegava fim de semana, pai chegava, mãe chegava, vamo tomar banho, se arrumar que a gente vai pra sua tia. Vai pro seu vô. Vamo no vizinho tal. [...] Tudo, você sabe, as necessidades são criadas, e infelizmente tudo com muito apelo comercial. As pessoas compram a ideia, vestem aquilo e seguem em frente. Mas você consegue perfeitamente viver sem um celular. (JOSÉ LUIZ, 2018, lin. 2924-2937)

A artificialidade das redes sociais, tema que também abordamos ao falarmos da saturação, não se restringe também a um problema enxergado nas


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mídias digitais. No caso da artificialidade das mídias sociais, os entrevistados relatam que os usuários das redes muitas vezes compartilham informações falsas. Mas em “meios de massas” como a televisão, onde a esfera produtora se resume a poucos grupos empresariais, a desconfiança dos programas, sejam jornalísticos ou de entretenimento, também existe. Reality shows, programas de auditório e programas jornalísticos são os que mais são criticados no sentido de oferecerem informações “manipuladas”. Quando dizem isso, os entrevistados creem que atrações da televisão já estão com os finais decididos, que é tudo “comprado”. Ai, reality show, pelo amor de deus… Não dá certo não. Já assisti muito reality show só que hoje em dia eu não assisto mais porque eu acho que aquilo não agrega nada à vida da gente, sabe? [...] porque é um joguinho a toa que os caras põe na televisão, que parece que sei lá. Às vezes eu fico pensando que parece que tem carta marcada naquilo lá, porque fulano vai ganhar e pronto acabou. Prefiro não me estressar com essas coisas de reality show (HELTON, 2018, lin. 3684-3693)

“Tipo o negócio lá que o Sílvio Santos roda pião. Aquilo lá é falcatrua. Tem uma pessoa lá atrás que controla tudo, ele se ele para é quem eles querem que ganhe” (AMÁLIA, 2018, lin. 952-954), diz uma das outras entrevistadas. Ela questiona se o entrevistador “viu” ainda essa informação, dando a entender que “viu” também esse dado sobre a manipulação dos programas do Sílvio Santos em algum lugar - onde? Na internet? Infelizmente o entrevistador não se atentou ao dado e não questionou a informação no momento da entrevista. Porém é possível perceber como se trata de uma relação próxima: a popularização das notícias pela internet e o uso do online para obtenção de informações ocorre em um momento em que as pessoas ficam mais “críticas” ao conteúdo da televisão. Até mesmo quando não são exatamente críticas às informações oferecidas pela televisão, os entrevistados explicam que procuram notícias pela internet pois, no meio online, as informações são mais “detalhadas”.

Aí quando eu quero algo mais eu busco via internet né, ou vejo no celular mesmo, ou pelo computador, acesso porque você tem mais detalhado, e assim, gosto de estar por dentro. [...] alguma notícia que eu quero aprofundar mais eu vou até a internet, que às vezes você tem mais detalhado. Você consegue mais detalhes, mais informação (SEVERINO, 2018, lin. 1810-1819)


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Se a perda da credibilidade da televisão está diretamente ligada à maior utilização da internet na vida dos entrevistados, entretanto, não é algo que podemos afirmar com total certeza, pois no âmbito das entrevistas tal relação não foi questionada. Ainda assim, a perda da credibilidade da TV demonstra que os usuários estão mais críticos à mesma, ainda que não seja possível apurar, nesta fase da monografia, os motivos que levaram à essa mudança de percepção da televisão. A própria perda do “fascínio” pelo novo que já comentamos ao falar da saturação pode ter sido um outro fator. Para testar a credibilidade às informações oriundas da televisão, uma das entrevistadas explica que prefere checar aquilo que está sendo dito por diferentes fontes, concluindo que “você tem que assistir tudo pra você formar sua opinião”. Tal pensamento, que não está presente no relato dos demais, vai além de uma crítica à incompletude de informações da televisão. A entrevistada diz que se preocupa, sobretudo, com uma “tendência política” por trás das emissoras (DORIANE, 2018, lin. 1170-1182), o que evidencia que o problema da perda de credibilidade nem sempre é apenas causado pela ausência de informações mais detalhadas ou a sensação de programas “comprados”, mas também pelo próprio enviesamento percebido nas emissoras e em seus posicionamentos políticos. Tal pensamento, entretanto, só foi elencado por uma entrevistada, mulher, negra, com formação no Ensino Superior e ativista de movimentos sociais. Por fim, as mudanças de hábitos de consumo midiático que se relacionam às mudanças de rotina são um dos pontos que também puderam ser percebidos em todos os relatos dos entrevistados. De todas as mudanças, o que mais foi ouvido foi que, com o início das atividades laborais, as personagens deixaram de acompanhar tanto a televisão, justamente devido à carga horária que lhes impedia de acompanhar programas de seu interesse, ou ainda por conta do cansaço pósexpediente, que tornava pesaroso ter de dedicar tempo e atenção a um programa televisivo. Até mesmo com o rádio isso aconteceu.

Quando eu não tinha 8h ainda usava, agora com carga de 8h não dá tempo. Nossa, como eu gostava de ouvir aquelas reportagens de manhã, Lucas de Lima, meus menino até falavam “Ah mãe, essas história não existe” [...] Assim, quando tem um programa que você


56 sabe que você gosta, todo dia você tem que assistir aquilo né. E todo dia tinha que ser (SÔNIA, 2018, lin. 4227-4252)

Alguns dos entrevistados, como a assistente de educação, demonstram pesar por terem de sacrificar o tempo que poderiam dedicar a assistir seus programas favoritos tendo de trabalhar. Porém, a aposentadoria na maior idade possibilitou que alguns deles reaproximassem suas rotinas do televisor. É o que diz a bibliotecária, por exemplo, que dizia sentir falta do tempo para a TV, o que foi corrigido depois que se aposentou de um dos seus períodos de trabalho na escola. “Depois que eu me aposentei de um período aí eu tive mais uma folga pra poder ver meus programinhas, meus documentários, me informar. Eu sentia falta disso, de ter esse tempo pra buscar informação” (DORIANE, 2018, lin. 1597-1599). Os mais assíduos ainda marcam os horários para poderem ver seus programas, agora que voltaram a ter uma “agenda” com o dispositivo. É o caso de um ex-motorista de ônibus, que se aposentou há três anos e desde então relata que marca horários para poder sair de casa e voltar e não perder seus jogos de futebol que gosta, ou os noticiários que gosta de acompanhar diariamente. Se eu tiver saindo e tiver um compromisso igual um… Um futebol que é legal, um programa na fechada com programação de pescaria legal, eu saio antes ou depois, eu já vou me atentar na hora que tem aquele programa. Já marco algum compromisso antes ou depois pra mim ver. Eu gosto de organizar as coisas bem organizadas. Se você marcar comigo, cinco horas, eu gosto de ter foco nos compromissos. Aí eu paro mesmo, futebol, notícias que tiver legal, aí eu falo “Depois do jornal a gente vai”. (SEVERINO, 2018, lin. 2048-2054)

Não apenas mudanças quanto às rotinas laborais provocaram mudanças de hábitos de consumo da televisão entre os entrevistados. Outro deles, o psicólogo, explicou que parou de se interessar pela televisão não por causa do trabalho, mas da faculdade. Sua rotina de estudos e de cuidar de uma casa sozinho o impediam de focar a atenção nas imagens da televisão - o que o levou a preferir o uso do rádio, que permitia lavar, passar e cozinhar enquanto ouvia uma música ou um programa jornalístico.

Já estava se perdendo pra mim, na década de 80, o gosto pela televisão. Até pela rotina de faculdade, eu morava sozinho, tinha aquela necessidade de lavar, passar roupa, fazer a comida então ligava o rádio, mas a TV não, a TV não era a mesma coisa, tinha que


57 parar né? Então eu fui perdendo a conexão com a TV já né, por causa dessa rotina (JOSÉ LUIZ, 2018, lin. 3283-3287)

Outra mudança de rotina que provocou uma diminuição do uso da televisão entre um dos participantes da pesquisa foi a efervescência de uma vida social. Quando criança e adolescente, o entrevistado relatou que tinha costume de ver televisão, porém depois de ter entrado para o Exército e ter feito 18 anos, o comerciante explica que foi perdendo o interesse na programação televisiva - até chegar na atualidade, que já não acompanha nenhum programa porque “dá sono”. Quando eu perdi o interesse… Cara, a partir do momento que você começa a viver uma outra vida né, depois que você sai do quartel você fica… Né? Depois do quartel, depois que eu fiz 18 anos eu fui parando de ver TV. Parando aos poucos, hoje em dia muito pouco. [...] era porque a gente acaba se ocupando com outras coisas, começa a ter uma vida social né. Até um momento que você tem 17 anos você tá vivendo uma vida de… Uma vida de criança né cara. Aí depois que você vai pro quartel, você saiu do quartel você começa a ter uma vida social, você vai ter que trabalhar, né? Então você começa assim, a perder a vontade de ver televisão, a canseira vem, tem que dormir (HELTON, 2018, lin. 3870-3882)

A única entrevistada que não relatou ter “diminuído” o uso da televisão por conta das rotinas de trabalho, estudos ou da vida adulta em si foi uma exempregada doméstica e atual aposentada. Seu caso em específico é mais particular, uma vez que seu primeiro uso da TV em casa se iniciou só na adolescência, enquanto já tinha a oportunidade de assistir televisão na casa dos empregadores. Sem ter muitas amizades na atualidade, ela diz que sem a televisão “vegeta na vida”. “Porque daí eu não vou ter nada pra eu saber, nada pra escutar. Porque não tem ninguém pra conversar” (AMÁLIA, 2018, informação verbal). Não foram informados pelos entrevistados mudanças de hábitos relativos ao uso do celular devido às mudanças de rotina. Alguns revelaram ter incorporado o celular à vida trabalhista, porém, isso pode ser considerado mais uma “criação” de hábito de consumo do que mudança, uma vez que tal incorporação foi possibilitada mais pelos avanços tecnológicos dos dispositivos móveis - a chegada dos smartphones com aplicativos poderosos e úteis para o trabalho - do que por uma “mudanças de rotinas”. Alguns dos entrevistados, entretanto, relataram que não


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podiam/podem usar o telefone em serviço, apenas para emergências - caso da assistente de educação e do ex-motorista. Há outros pontos que poderíamos elencar nesse capítulo de análise como “convergentes” entre os entrevistados. Porém, tais mudanças podem ser percebidas para além das entrevistas feitas, como resultado de mudanças que não dependiam apenas das percepções, contextos ou costumes dos entrevistados. Assistir a televisão, por exemplo, sempre foi sinônimo de reunir a família nos primórdios da mesma (ANDRADE & PORTO, 2017, p. 3), o que é possível confirmar em cada uma das entrevistas. Todavia, conforme a sociedade se moderniza e as relações de trabalho ficam cada vez mais fragmentadas, com todos os indivíduos da casa trabalhando muitas vezes em diferentes expedientes, é de se deduzir que tal hábito seria perdido no tempo, como ocorreu na maioria dos casos. Também é fácil entender porque a grande maioria entre os entrevistados disseram fazer um uso do celular maior do que a televisão nos dias de hoje, uma vez que o crescimento da adesão das casas ao uso do celular como fonte de internet e de principal acesso à informação é gritante - enquanto a televisão está presente em 90,1% dos domicílios de Campo Grande, o celular aparece em 95,6% das casas de Mato Grosso do Sul (ANATEL, 2016 apud SILVESTRIN, 2016, p. 240; (PNAD, 2015, p. 25-29) Dados como esses foram satisfatoriamente comprovados nas entrevistas, porém algumas análises ficaram prejudicadas devido à divergência de opiniões e contextos sócio-culturais dos entrevistados. Algumas opiniões, por exemplo, sobre que tipos de conteúdo seriam considerados “inteligentes” ou “apelativos” pelos entrevistados foram totalmente opostos, o que não poderia ser diferente, visto que priorizamos não repetir personagens com ocupações e graus de instrução muito semelhantes durante a escolha dos entrevistados, o que resultou em entrevistas com pessoas de gostos e hábitos de consumo completamente diferentes. Por fim, como conclusão dessa análise, podemos dizer que os dados obtidos foram suficientes para construir uma narrativa congruente de como certos hábitos de consumo e percepções da mídia foram alterados ao longo do tempo por mudanças na rotina de trabalho, vida social e oferta cultural/midiática dos/para os entrevistados. O caráter experimental dessa pesquisa nos força a não fazer generalizações sobre como essas entrevistas podem representar o contexto dos


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usos e preferências de consumo midiático do campo-grandense como um todo, e como os mesmos mudaram ao longo do tempo. Porém, o objetivo desta monografia pode ser considerado atingido ao iniciar o graduando na atividade de pesquisa científica em comunicação, no colhimento de dados, nas técnicas de entrevista semi-estruturada, e na pesquisa bibliográfica referente aos estudos de recepção e à história da mídia de Campo Grande e do Brasil como um todo.


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Considerações Finais

Ao longo desta pesquisa, realizamos um levantamento bibliográfico detalhado sobre a instalação de meios de comunicação em Mato Grosso do Sul e Campo Grande, sejam eles as emissoras de rádio, de televisão, ou os jornais impressos. Para fazer esse levantamento, buscamos tanto informações disponíveis em pesquisas anteriores de outros autores, quanto as informações disponibilizadas à população pelas próprias empresas de comunicação sobre seu passado. Durante toda essa investigação bibliográfica, tivemos um cuidado em traçar uma relação histórica entre todos esses desenvolvimentos desses diferentes meios, para mostrar como eles não “surgiram” de forma expontânea, mas como fazem parte de toda uma história da mídia e de seus usos repaginados. De fato, apenas com a chegada do telefone e do telégrafo, tecnologias de comunicação interpessoal, é que foi possível a expansão de um sem fim de jornais impressos, um “meio de comunicação de massas”, principalmente no interior. Da mesma forma, com a chegada do rádio nas casas, foi dado início a um movimento de “ouvir em família” aos programas, e só depois esse movimento foi consolidado e transformado em “assistir em família”, e até junto de vizinhos, aos programas de televisão. Vimos também como foram formados conglomerados e grupos de mídia no Estado a partir do acúmulo desses meios na mão de poucos empresários. Esses movimentos, como aqui estudamos, foram iniciados com o rádio e com os jornais, e se expandindo à televisão e à internet, em movimentos “laterais, horizontais e diagonais” de concentração de mídia. Como pudemos perceber, novamente, a simbiose de diferentes meios também teve culpa nesse processo. Proprietários de jornais anunciavam em suas páginas a venda de televisões, para que o público assiste a canais que eles mesmo fundavam. Isso mostra, para além de como aconteciam esses conglomerados, qual era seu poder em questão de acesso aos consumidores. Vimos também que, quando se trata da internet, há pouco documentado sobre como essa mídia se instalou em Campo Grande. Conseguimos contornar a ausência de informações nesse sentido indo direto à fonte, e entrevistando personagens que participaram ativamente do processo de instalação da internet na capital e em Mato Grosso do Sul. Além do Dr. Edson Cáceres, que é citado nesta


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pesquisa, outros professores da UFMS também foram consultados. Por meio dessas pessoas, documentamos em uma produção científica alguns detalhes da chegada da internet em nosso Estado, feito este inédito no campo da comunicação até então, o que merece ser destacado. E mais: pudemos perceber uma relação clara entre capacitação de pessoas para entender esse meio e a ampliação de sua oferta na sociedade, como foi dito pelo próprio Edson Cáceres. Apesar de termos dito, na introdução deste trabalho, que não era nosso objetivo estudar especificamente a história da mídia, em sua forma positivista, foi necessário fazer todo esse levantamento para situar em que contexto estão os nossos entrevistados. Essa contextualização permite a nós saber quais são as possibilidades de uso dessas pessoas, dentro de sua oferta cultural, e também saber até que ponto os entrevistados estão mudando suas próprias regras de consumo, ou o quanto estão se adequando a movimentos e mudanças de consumo maiores e socialmente difundidas. Um exemplo de como há diferenças nestes dois processos é que, durante as entrevistas, obtivemos informações a respeito de quais são os gostos pessoais de cada entrevistado quanto a seus programas de televisão favoritos, seus horários que mais preferem assistir televisão, suas noções do que é um conteúdo “de qualidade” e do que é um conteúdo “que não agrega”, como muitos disseram. Entretanto, não pudemos especificar qual era a origem dessas diferentes concepções: trata-se de uma questão de classe? De costumes? Criação? Uma investigação desse nível demandaria mais leituras, pois as que utilizamos até aqui nos permitiram apenas traçar apenas relações entre mudanças de hábitos e ofertas culturais. E

quando

falamos

de

ofertas

culturais

estamos

falando

das

possibilidades, das tecnologias, da infraestrutura que permitiu a propagação de certos usos e a extinção de outros. Essa oferta por muitas vezes depende de fatores alheios às decisões de seus consumidores, como explicado por Lotz (2006) em Television is Being Revolutionized, onde a autora aponta que novas possibilidades de financiamento dos programas televisivos possibilitaram uma produção de uma quantidade sem fim de programas com conteúdos totalmente diferenciados – bem diferentes dos programas da Network Era, em que haviam limitações de tempo e


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produção, que tornavam a programação televisiva homogênea e “agradável para toda família”. E foi possível perceber nitidamente como esse processo, de aumentar o leque de escolhas dos consumidores, é visto com bons olhos pelos mesmos. Pudemos perceber isso nos relatos de personagens que contam, nas entrevistas, que passaram a preferir a internet ao invés da televisão, pois a mesma trazia conteúdos “diferenciados” daqueles que estavam acostumados a assistir no televisor. Ou ainda nos relatos de entrevistados que contam que passaram a não querer assistir televisão, pois podiam escolher melhor aquilo que queriam escutar ouvindo um CD, onde as opções já estão pré-determinadas e já foram “escolhidas” pelo consumidor no momento da compra, enquanto que na TV as escolhas dependiam daquilo que a grade de programação oferece no momento. Falando de escolhas, muitos dos entrevistados relataram hábitos em comum, como o desgosto pelas redes sociais, e uma saturação de usos de conversas por Whatsapp e Facebook. Não podemos, entretanto, admitir que essa seja uma tendência que fuja muito do escopo de personagens entrevistadas. Devemos levar em consideração que a idade e a classe social daqueles que prestaram depoimentos à essa pesquisa são dois fatores bastante homogêneos. A princípio, delimitar nosso foco dessa maneira foi uma decisão tomada justamente para evitar relatos muito conflitantes de pessoas com idades e classes sociais muito diferentes, impedindo uma análise “conjunta”. Entretanto, o prejuízo à pesquisa foi que os relatos que ouvimos passaram a sofrer limitações de conteúdo causadas por essa homogeneidade de classe e idade dos entrevistados. Portanto, podemos concluir que mesmo com um número resumido de entrevistados, ainda obtivemos um resultado satisfatório das análises, uma vez que pudemos identificar usos e percepções da mídia em comum, que transpassam os diferentes ritmos de vida, graus de instrução e rotinas trabalhistas dos entrevistados. O caráter experimental da pesquisa permitiu que muito fosse aprendido pelo seu autor, tanto em questão de condução das entrevistas, quanto em conhecimento bibliográfico e estratégias para colhimento de dados. Portanto,

mesmo

que

não

haja

uma

relevância

científica

para

generalizações acerca do consumo de mídia-campo-grandense, essa monografia é extremamente relevante para seu autor, pois o forçou a aprender coisas novas com


63

as quais não tinha contato na graduação, como as próprias entrevistas semiestruturadas. Assim, nos resta agradecer pela oportunidade e esperar que esta experiência seja útil nas próximas etapas da vida acadêmica do autor.


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Apêndices

Apêndice 1: Roteiro das Entrevistas

Recordar brevemente os motivos e o objetivo da entrevista

Antes de começar a falar dos meios de comunicação, a/o senhor/a poderia contar um pouco de si mesmo/a? 

Com quem vive?

Há quantos anos mora em Campo Grande?

Como é composta sua família?

Onde e em que trabalha?

Quantas horas por dia trabalha?

Já trabalhou em outras atividades?

Objetivo: reconstruir o perfil da/o entrevistada/o e a percepção que tem de seu cotidiano e seu passado. Obter informações sobre como está vivendo esta fase da vida. Tentar verificar existe uma relação entre o uso dos mídia e a forma do entrevistado viver, entender o mundo em que vive e como são compostas suas relações materiais e interpessoais.

1. Objetos, contextos e práticas de consumo cultural:

1.1 Antes de falar especificamente de mídias, poderia contar-nos quais meios de comunicação você tem o hábito de usar (ver-ouvir-ler-assistiracompanhar)? - Pensando em como foi sua semana, poderia dizer-nos o papel que ocupam os meios de comunicação no seu dia-a-dia? - Quais meios de comunicação você usa em casa? (jornal impresso, revista, livros, rádio, celular, televisão, microcomputador; acessa a internet?) E no serviço? - Você utiliza esses meios nos seus momentos de lazer? (listar de novo os meios se necessário?)


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- Você sente necessidade de alguns desses meios na sua vida? - Quais meios você utilizou desde ontem? E desde a última semana? - Ao longo do tempo, esse seu consumo mudou? (quais meios usava mais, hoje usa menos, vice-versa) - Qual desses meios de comunicação toma mais sua atenção? Há um deles que você prefira mais que os outros?

Objetivos da seção: reconstruir brevemente os consumos culturais do entrevistado, as suas práticas de consumo e usos, os contextos: o que aprecia, com quem, onde, quando, como e porquê; Indagar pelos significados que esses mídia tem em sua vida cotidiana, verificar se existem preferências particulares, se os consumos mudam em relação aos vários momentos de seu cotidiano e vida (lazer, em casa ou no trabalho); Averiguar como são as rotinas domésticas implicadas no consumo dos meios, se programa sua vida em torno dos mídia (ex.: acorda com rádio, trabalha com computador, dorme com celular, etc.).

1.2 Passemos então à televisão. Que papel ocupa a televisão na sua vida? 

O que você viu ontem na televisão? E na última semana?

Quais são os programas que você vê? (jornais, programas de auditório,

reality shows, filmes, etc) 

Você tem preferência por algum canal de televisão? Por quê?

Você tem preferência por algum programa (ou tipo de programa)? Por

Você tem TV a cabo?

Você assiste programas da TV online? (questionar sobre consumo de

quê?

streaming)

1.3 E internet? O que você acessa na internet? 

O que você acessou no celular ontem? E nessa última semana? (ver

quais sites mais acessa, ou quais funções mais desempenha) 

Tem algo que você acesse pelo celular que não acessa pelo

computador? (e vice-versa)


69 

Você tem e-mail?

Tem perfis nas redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram)?

Quantas vezes por dia você acessa essas redes? (e publica)

O que você mais gosta de fazer na internet? (ver filmes, ouvir músicas,

ler notícias, ver receitas, conversar com amigos/parentes, “zapear” pelas redes)

Objetivos da seção: reconstruir a percepção e a experiência ligada à televisão e a internet, as práticas, o contexto e o significado atribuído aos seus usos: o que o entrevistado gosta ou não gosta, em quais momentos do dia-semana-ano, com quem, porque; verificar a presença de ligações entre diferentes usos e meios, se prefere usar mais um meio para ver/ouvir/ler um conteúdo do que outro.

2. História da relação com as mídias

2.1 Você lembra de quando começou a ver televisão? 

Quando você teve a sua primeira televisão em casa?

Foi quando começou a ver, ou antes disso já assistia na casa de

Você já tinha outros aparelhos eletrônicos em casa? (principalmente

alguém?

rádio/telefone) 

Você assistia à televisão mais acompanhado ou sozinho?

Em que momentos do dia?

2.2 E os seus programas favoritos? Quais eram? 

Eles se parecem com seus programas favoritos hoje?

Tem algum que você tenha gostado especialmente?

2.3 E usar a internet, quando você começou? - Quando você teve internet em casa pela primeira vez? (como foi esse acesso, via discada, via computador) - Você já tinha utilizado a internet na casa de outras pessoas ou em cybers? - Você precisou de algum treinamento/ajuda para usar computadores?


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-

Quais

eram

os

websites

que

você

acessava?

(blogs,

sites

governamentais, sites de notícias, entretenimento, jogos; comparar com os acessos e usos de agora)

Objetivos: reconstruir a percepção e a experiência ligada às mídias, as práticas, o contexto e o significado atribuído aos usos: quando via, com quem, porquê. Verificar a presença de mudanças nos hábitos de consumo destes meios e os momentos em que ocorreram; reconstruir a forma como se deu esse encontro, o tipo de relação que estabeleceram com esses meios. Se houveram usos convergentes entre o público.

3. Práticas e contexto de visualização dos mídia

3.1 Quanto à televisão... 

Com quem e onde você vê televisão? (em que lugar da casa, sozinho

ou acompanhado) 

Você tem costume de trocar de canal enquanto passa algum programa

que você quer assistir? 

Você tem costume de fazer alguma outra coisa enquanto assiste à

televisão? (olhar no celular, cozinhar, arruma a casa, etc)

3.2 Quanto à internet... 

Onde você mais acessa a internet? (em casa, no serviço, na rua)

Você acessa mais à internet pelo celular ou pelo computador?

(depende do contexto?) 

Quando você navega na internet, você tem costume de acessar mais

de um site ao mesmo tempo?

3.3 Você costuma conversar sobre o que vê na internet? Ou na televisão? 

amigos)

Onde você conversa sobre isso? (trabalho, faculdade, em casa, com


71 

Você acessa sites sobre os programas que vê na televisão? (ou lê

revistas sobre)

Objetivos: reconstruir práticas, modalidades e contexto dos usos; verificar a presença de rituais que precedem ou acompanham suas visualizações, as dinâmicas com outros aparelhos e interações com amigos ou familiares. Formar um cenário da recepção. Captar a importância que esses meios assumem na organização das rotinas diárias; visualizar se assistem a programas na televisão ou buscam por conteúdos na internet por expectativa geradas pelas e para as interações sociais, e se interagem a partir desses programas e conteúdos.


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Apêndice 2: Entrevistas 1. ENTREVISTA COM AMÁLIA SIQUEIRA, APOSENTADA, 65 ANOS Joaquim: Primeiramente eu preciso que você me fale seu nome completo, sua ocupação e sua idade Amália: Amália Siqueira, sou pensionista, 65 anos Joaquim: Há quanto tempo você mora em Campo Grande A: 60 anos. J: Você chegou aqui aos 5 anos de idade? A: Por aí. J: Com quem você mora atualmente? A: Minha neta. J: E só com a sua neta? A: Só. J: E quantas netas você tem? A: Tenho quatro netos, dois meninos e duas meninas. J: Como que é composta sua família atualmente? A: Como assim? J: Quantos filhos, se é casada... A: Filhos tinha três, mas morreu um, aí fiquei com dois. J: E você não é casada? A: Não, não. J: Nunca foi? A: Não. J: Seus filhos foram todos fora do casamento? A: Não, o pai é o mesmo, a gente não casou a gente só vivia junto. J: E o que aconteceu com ele?


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A: Ele foi assassinado. J: Isso aconteceu quando? A: Foi em 83. J: Faz um bom tempo. As crianças tavam com que idade? A: A menina tava com 3, outro guri tava com 5 e o mais velho tava com 8. J: Bem novinhos. E você disse que é pensionista né, então atualmente você não tá trabalhando? A: Não. J: E no que você já trabalhou? A: Eu trabalhei já em firma de limpeza. J: Mas só com isso? A: Só isso. Aí quando ficou doente o filho do meio aí eu saí. Não trabalhei mais. J: Entendi. Isso aconteceu quando? A: Em 2000 e... Não lembro mais quando o Vladmir faleceu... Foi 2000 e... Tá com 27 anos que ele faleceu. J: Não foi em 1991? A: Ah não, foi em 1994. J: Então desde lá você tá sem trabalhar? A: Tô. J: Mas em casa assim você não faz atividades domésticas? A: Faço serviço de casa né. BLOCO USOS DE DIFERENTES MÍDIAS J: Amália, agora a gente vai entrar nessas questões sobre consumo de mídia em si, queria saber de você, quais meios de comunicação você tem hábito de usar no seu dia a dia? E quando eu falo de meio de comunicação eu falo de jornal, de rádio, de televisão, de tudo aquilo que você usa pra se informar, pra ver notícias...


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A: Eu uso mais o celular né. E eu vejo muita televisão também... J: Mas é só o que você usa? Você não lê revista, jornal... A: Jornal eu compro mas só quando a menina tem competição, eu leio pra ler as competições dela mesmo. J: Mas daí são jornais daqui? A: É Correio do Estado... Estadão, essas notícias assim né. J: Você compra só quando você sabe que vai ter notícia da sua neta? A: Aham, só aí. J: E tem costume de ir ao cinema? A: Não gosto de assistir filme, não assisto nem na televisão. J: Rádio você não usa? A: Ih direto, todo dia de manhã eu ligo o rádio. J: E qual rádio, do celular ou... A: Não, é um sonzinho que eu tenho lá em casa, eu ouço mais a 102... A Blink... J: Toca bastante sertanejo né? A: Aham, eu gosto. J: E esses são os meios que você usa basicamente? A: Aham. J: Você considera que você utiliza eles pra um lazer? Ou é mais pra receber informação. A: Hmm, é... Pra informação também porque dá muita notícia lá né... Que por exemplo o Tatá de manhã ele fala tudo sobre política, essas coisas. No rádio, na TV também. J: Eu achava que ele era só da TV. A: Também, de manhã ele tá no rádio, sete horas. J: E ele fala tudo notícias e entretenimento né.


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A: Ele fala tudo. J: Mas aí você consegue dizer o que que é mais pra lazer e mais pra entretenimento? Ou depende mais do programa? A: Depende mais do programa. J: Você sente que algum desses meios de comunicação é necessário na sua vida? A: É, é necessário sim, porque se não eu vegeto na vida. Pra poder né (risos)... J: Mas por quê você acha que iria vegetar? A: É porque daí eu não vou ter nada pra eu saber, nada pra escutar, daí fica... Porque não tem ninguém pra conversar. J: Se você não tivesse o rádio por exemplo, o que você faria de manhã? A: De manhã? De manhã eu iria limpar casa, eu ia lavar a louça, eu escuto tudo primeiro daí que eu faço isso. J: Mas a televisão e todas as coisas você sente que precisa delas pra saber o que tá acontecendo? A: É, notícia, novela... Novela é o principal (risos). J: Assiste muita novela? A: Aham. J: E você lembra que meios de comunicação você usou ontem? A: Ontem? O celular. Assisti TV também, mas eu assisto o Sílvio Santos aquelas bobeira lá. J: É, o Sílvio Santos o programa de auditório né. A: É. J: Você gosta de programas de auditório? A: Sim. J: Que tipo de programas você gosta? A: Tipo Sílvio Santos. Ali ele apresenta de tudo né? J: O que você gosta mais nele.


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A: Aqueles negócios de rodar pião, de entrevistar aquelas duas pessoas, que uma fala a outra fala. O artista. J: Esses programas de competição né? A: Isso. J: De Vídeo Show você não gosta por exemplo. A: Vídeo Show eu assisto de vez em quando, não é todo dia assim. J: Tirando essa programação do Sílvio Santos, que é de domingo, no dia a dia que programas você assiste? A: De dia eu... Eu assisto aquele da família, como que é da Cristina Rocha. J: Casos de Família? A: Isso, Casos de Família. J: Você assiste todo dia? A: Aham. J: Ele passa todo dia esse programa? A: Todo dia. J: E por quê você gosta desse programa? A: Eu gosto de... Das fofocas, dos barracos (risos). É engraçado, eu dou risada. Eu acho engraçado. J: Ao longo do tempo o que você vê assim na televisão, você acha que mudou? A: Ao longo do tempo, não mudou não, pra mim eu acho que não. J: Mas você acha que isso é porque você não quis ou porque a televisão tá a mesma coisa. A: É tá muito... Assim não tem mais novidade, só é aquilo né? Não tem mais coisa nova, sabe? Daí eu me acomodei. J: Entendi. Qual desses meios de comunicação você usa mais no seu dia a dia? A: Celular. É o que eu tenho mais contato eh o celular.


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J: Quanto tempo você passa no celular? A: Ah eh muito tempo. Minha filha Neia já até ficou brava comigo falou “Mãe, a senhora precisa sair um pouco do celular, já virou vício”. (risos). Ish tem vez que eu vou até de madrugada com ele. J: Mas porque você gosta tanto do celular? A: Ah é porque eu quero… Eu converso com outra amiga, parente, e assim vai né. Quando você vê já passou a hora. Aí já vai até de madrugada né. J: Disso eu sei também. Você chega a criar alguma coisa na sua rotina, de usar o celular dentro da sua rotina? Tipo acordar e já pegar o celular… A: Ih, aí não, tem que deixar o celular… Fazer café, essas coisas, daí eu vou pro celular. J: Sua rotina é mais com o rádio né, televisão… A: É, eu acordo, daí já ligo o rádio, faço café, daí eu olho o celular e vejo como é que tá. J: É porque com rádio e televisão você tem programas que tem horários pra passar né… A: É, celular não, qualquer hora eu pego. J: Você pode me dizer assim, falando mais da televisão, qual é o papel que a televisão ocupa no seu dia a dia? A: Acho que não, não ocupada nada assim… J: Mas nem pra se divertir? A: Ah sim, pra passar o tempo sim… A gente assiste pra passar tempo né? Aprende também alguma coisa. J: Você não gosta de ver jornal? A: Jornal hmmm… Sabe que tem dia que eu até esqueço do jornal? Aí quando eu vejo já acabou. Já tá acabando. J: Mas nesse horário do jornal você tá fazendo alguma outra coisa? A: Tô. Tô na cozinha, ou eu saio, vou pro mercado, assim sabe? Não fico direto aqui não. J: Aí acaba perdendo o horário né. Pelo que eu entendi você gosta mais de programa de auditório, de novela… Reality show você gosta?


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A: Gosto… Eu assisto assim. J: Quais você assiste? A: É… J: Não tem que ter vergonha de falar que gosta de BBB porque eu gosto. A: (Risos). BBB sim, BBB… J: Você não vê esses programas tipo Masterchef? A: Não… Só quando acaba a novela lá que vem o BBB que eu já fico ali assistindo. Aí quando acaba o BBB aí eu já vou dormir. J: Você tem preferência de algum canal de televisão. A: A Globo. J: Por quê? A: Porque desde que eu… Desde que eu conheci a televisão eu assisto a Globo. Eu assisto os outros, mas mais é a Globo que eu assisto. O que eu mais assisto é a Globo e o SBT. J: Os outros você sabe o que passa? A: Não não… J: Mas por quê que a Globo te atrai mais assim, porque você não gosta da programação da Band, por exemplo? A: Da Band? J: Por exemplo. A: Não… Não assisto a Band… Eu assistia quando, era lá que o MArcelo trabalhava? O que faleceu. J: Marcelo? A: O Rezende. J: Marcelo Rezende era do Povo na TV? Era um ruivo? A: Ele era meio gordo assim… J: Ah então não era quem eu to pensando não.


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A: De vez em quando eu olhava por causa dele. Era programa de sequestro, dessas coisas que ele falava. J: Ah sim, entendi. E dentre esses tipos de programas, qual deles você gosta mais? A: Novela. J: Tá acompanhando agora quais novelas? A: To...Sabe que some da minha memória quando eu vou falar?... Some que… J: Pode pensar. A: É Direito de Amar… Sei lá, eu esqueci, é a primeira novela… Força do Querer… O Outro Lado do Paraíso… Tem uma outra lá de época lá mas eu não sei o nome. J: Mas você assiste elas todo dia? A: Todo dia. Nessa de época tem uma menina com o meu nome, Amália. Por isso que eu assisto. J: Ela faz o que lá? A: Sei lá, ela é namorada de um rapaz lá que eu não sei o que é… Você lembra… J: A Força e o Rei…. Não, Salve o Rei? A: É, Salve o Rei… É um negócio de rei (risos). J: E você tem TV a cabo? A: Tenho. J: E você não tem costume de assistir nada? A: Não, eu assisto mais é jogo quando vai passar assim do Brasil, é mais o que eu assisto, se não… Aquele… Como que é aquele das lutas lá? UFC. J: Você assiste também o UFC? A: Assisto. J: Sozinha? A: Sozinha. Tem vezes que vem meu filho Valdeck. Eu gosto. Tem vezes que ele vai lá pra assistir comigo.


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J: Então você gosta bastante de programas de esporte… A: Esporte sim… Ish eu gosto de judô, basquete, vôlei… J: E você já assistiu algum desses programas pelo celular? Pela internet? A: Não, que eles falam assim que vai acabar a bateria, que não sei o que, daí né, prefiro assistir na televisão (risos). J: Nem pelo computador? A: Não, eu não sei nem ligar o computador. A Vitória tem mas eu nunca tentei. J: Agora a gente vai falar especificamente da internet. Você não tem muito contato, mas vamos ver ali na medida daquilo que você já usou. Você lembra o que você acessou na internet ontem? A: Ontem?... Ontem acho que não acessei nada lá não. J: Nem pra conversar com alguém…? A: Ah pra conversar eu conversei, conversei com a Vitória, com a Neia… J: Você usa mais pra conversar com a família. A: É, mais pra conversar com a família. J: Pra que você acha que no geral a internet serve na sua vida? Isso falando da internet no celular, no computador, na TV… A: Na internet? Mais pra ficar falando com os meus familiares só… Não uso pra mais nada não. J: Você não usa pra ler notícias, pra usar sites? A: Hm hm, agora que eu to aprendendo a mexer né. J: E quem que está te ensinando. A: Ah cada hora eu pergunto pra um. Pra Vitória, pra Néia, pro Vladmir, pra Maria Júlia. Cada hora eu pergunto pra um… Tem vezes que eu esqueço, acabou de ensinar e eu esqueço, por causa da idade né? A memória tá curta. J: Entendo. Então você não sente falta de fazer outras coisas na internet. A: Não, acho que não… Vai passando né. J: Você tem e-mail?


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A: Tenho. J: E você acessa ele? A: Não. Só quando aparece alguma coisa do celular que eu tenho que colocar, aí sim. J: Ah, você diz de preencher algo com seu e-mail? A: Isso. J: E você não recebe emails, não manda email pra ninguém? A: Não. J: Pra que você criou então? A: Pra caso de precisar. Pra caso precise acessar alguma coisa que precise de e-mail aí sim, eu tenho. J: Você tem perfil nas redes sociais? A: Eu criei agora o Facebook. J: E o Instagram A: Eu não sei, ele criou sozinho. O meu neto fez o Facebook pra mim aí apareceu o Instagram, ninguém criou pra mim. A minha filha até falou pra mim? “Mãe, não pode”, mas apareceu, aí eu to usando uai, apareceu. J: E você usa pra quê o Facebook e o Instagram? A: É mais pra conversar mesmo com os amigos que eu tenho né, do Judô. Que por muito tempo eu fiquei indo no Judô com ela [a neta], fiz muita amizade, eles conversam comigo. J: Você usa mais pra conversar? A: Mais pra conversar. J: Não fica tanto vendo o que o povo fica publicando não. A: Eu vejo sim, eu vejo lá, eles sempre mandam mensagem pra mim, sabe? Aí eu fico lendo sabe, eu to lá mais pra ficar vendo fofoca do que pra falar fofoca (risos). J: Você quase não publica então. A: Quase não, eu só mais olho e respondo pra elas.


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J: Entendi. E no fim das contas é isso que você mais gosta de fazer na internet? A: Isso, conversar. J: Você acha que sem a internet você conversaria com essas pessoas da mesma forma? A: Não. Não tem nem como eu encontrar elas né. Só na academia, agora nas competições eu vou ver. Que a Maria Júlia vai, porque a Vitória não tá mais competindo aqui. BLOCO PRIMEIROS CONTATOS J: Você lembra Amália, quando foi a primeira vez que você viu televisão? A: Não sei, o ano foi… J: Não preciso saber de um ano específico, mas se você conseguir lembrar sua idade, mais ou menos que época, onde foi… A: Ah, minha idade foi com 15 anos. Com 15 anos eu fui ver televisão. Lá no bairro que eu te contei que o pessoal fechava a porta na nossa cara. Eu tinha 15 anos. J: E vocês não tinham televisão na época. A: Não meu pai nunca pode comprar, era pobre né, muitos filhos. Era sete né (risos). J: Ou compra TV ou compra comida né. A: Ah, eu preferia comida (risos). J: E isso foi onde? Em que bairro? A: Aqui no bairro Amambaí, perto da União dos Sargentos. Cê sabe né? J: Acho que eu conheço sim. Mas naquela época você sabia o que era televisão né? A: Sabia, a gente fugia pra grade do vizinho pra assistir, assistir novela. Eu nem lembro o nome da novela, só sei que a gente assistia lá. Aí o vizinho fechava a porta na nossa cara, nós óh, ia embora. J: Isso foi há uns 50 anos atrás né. A: Foi.


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J: Foi em 68.,, A: Por aí. J: E daí vocês só tinham essa forma de ver TV. A: É, daí eu comecei a trabalhar, daí pronto, não assisti mais. J: Trabalhava do quê? A: Doméstica mesmo. J: Na casa dos outros? E as pessoas que você trabalhava não tinham televisão? A: Tinha mas não ficava até de noite, né. E de dia a gente tá trabalhando também não dá. J: E não tinha programação o dia inteiro né? A: Não, tinha certos espaços de tempo, sei lá, aí o dono da casa que ligava. Dava pra ver desenho só. J: E quando vocês tiveram a primeira televisão na casa de vocês? A: Nossa… Foi aqui no Lar do Trabalhador já. Minha irmã até que comprou. J: Vocês mudaram pra lá e… A: De lá do Amambaí, aí mudamo pra lá aí ficamo por lá. Meu pai tá lá até hoje. J: Vocês mudaram e já compraram a TV? A: Não, demorou um pouquinho. J: Você não lembra quando que isso aconteceu? A: Não, eu acho que foi em… Não consigo lembrar. J: Você não consegue lembrar do que passava na época? A: A gente assistia muita Pantera Cor de Rosa. Mas a minha irmã gostava de mais, ela ria daquele desenho hein. Aí o meu marido era vivo ele ria da risada da Leide. J: E você já era mais velha naquela época né? Você já morava junto do seu marido.


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A: Morava. Morava sim. Eu tinha 18 anos. J: Com dezoito? E no bairro lá muita gente tinha TV? A: Tinha, muita gente tinha já. Acho que só os mais pobres não tinham. J: E no Amambaí também? A: Tinha também, só a gente não tinha. J: É que o Amambaí é mais bairro de rico né, hoje em dia. A: Nossa, e como. Hoje em dia aquele terreno que a gente morou você tinha que ver, a mansão que construíram lá. Quando a gente morava lá era metade material metade terra. Agora é uma mansão. J: E vocês tinham mais costume de ver TV juntos ou sozinhos nessa época. A: Era mais eu, minha irmã e meu primo. Meu primo estudava com a gente aqui em Campo Grande, ele era de Cuiabá. Ele sempre ficava, a onde a gente ia ele ia atrás. J: E vocês sentavam todos juntos pra ver TV. A: Aham. J: E em que momentos do dia você mais assistia TV? A: A noite só. J: De manhã não tinha costume? A: Ah não, você diz assistia no vizinho? J: Não, assistindo em casa mesmo já. A: Ah depois que comprou já. Ah era quase o dia inteiro, porque era tudo bobo né, a gente ficava o dia inteiro ali olhando. Mas meu pai não gostava porque gastava muita luz. J: E a programação tinha o dia inteiro. A: Acho que o dia inteiro não tinha não, tinha uns horários. Acho que de manhã não tinha na época. Agora que é 24h a televisão passando coisa né. J: É, hoje em ida que tem bastante televisão. Só pra saber assim, você ia muito ao cinema nessa época.


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A: Ia. Ia até assim. Não era sempre, mas depois que eu fiquei velha eu não quis mais. Nem na televisão eu assisto filme. J: Entendi. Amália, você me explicou que trabalhou como doméstica, e ficou um bom tempo trabalhando nisso, você sentiu que as casas que você ia começaram a ter mais contato com a televisão quando? Em que década? A: Quando… Sabe que onde eu trabalhava, os patrão não ficava em casa, eu acho que só a noite que… A noite eu ia embora, eu acho que só a noite que eles assistiam. J: Você trabalhou sempre na mesma casa? A: Trabalhei numa fábrica de malas. J: Depois que terminou de ser doméstica? Isso foi quando? A: Acho que 89, por aí assim, não lembro muito bem. J: E trabalhava o dia inteiro? Como que era? A: Ficava de manhã, largava pro almoço, aí vinha embora a tarde. J: Não mudou muita coisa a forma como você assistia TV? A: Não, não. Não mudou muito não. J: Você só assistia em casa, não assistia na casa dos seus patrões? A: Não, depois que compramos em casa não assisti mais nos patrão (risos). J: E você acha que mudou o tipo de programa que você gosta? De lá pra cá. A: Mudou muito né? Mudou muito. Tem programas bem diferentes, bem melhor parece (risos). J: Mas você não sabe dizer o tipo de programa que você gostava antes? A: Como sempre era as novelas. J: E as de hoje em dia você acha melhores? A: Melhores. Sabe que na época era tudo preto e branco né, hoje em dia é mais bonito. J: Você sentia falta disso, de enxergar em cores?


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A: É. Foi uma alegria quando chegou a cor lá em casa. A gente comprava tela de acrílico pra ter cor sabe. Você não chegou nesse tempo né. Era uma tela de acetato, parecia acrílico. Ficava cobrindo tudo. Aí quando chegou a cor ficou muito melhor. J: Isso foi quando, você lembra? A: Logo quando a gente comprou a televisão. J: Não tinha controle remoto nessa época? A: Nada, era botão. J: Você lembra quando você começou a ter controle remoto, TV colorida… A: Há pouco, há pouco… J: Que ano você acha? A: Foi… Acho que já era nos anos 90… Que eu fui ter um controle remoto. J: E você já tinha visto antes. A: Não, nunca. Na nossa não funcionava não. J: Vocês tinham que comprar uma TV nova né. E gravador de DVD, video cassete, você lembra quando começou a usar isso na sua TV? A: Esse DVD foi agora pouco. Os filhos da Valdeck já tava grande sabe. J: Você já tinha suas netas? A: Já. J: Antes disso você não tinha gravador? A: Não, só depois. J: E o gravador de fita cassete? A: Ah não, isso aí já tinha. J: Você já foi em locadora. A: Eu fui com a Vitória. A Vitória que escolhia o que a gente ia assistir, eu não gostava.Lá em casa tem um aparelho até hoje de video cassete.


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J: Isso foi anos 90 que vocês começaram a usar a fita cassete. A: Não, faz tempo já, a Vitória era grandinha. Foi em 2000 e… Ah não, não era a Vitória não, era a Neia… Era mais antigo né, era anos 90 por aí. Que a Neia tem o que… 38 anos. Eu confundo a Neia com a Vitória sabia? Que a Vitória pra mim é como uma filha, eu quem criei. Então pra mim é… J: Mas a sua filha e você iam comprar os filmes, você lembra quando vocês começaram a fazer isso? A: Isso daí tá difícil, isso eu não lembro mesmo. J: Nem a década? A: Não… A Neia nasceu em 1989 né, então deve ter sido em 84, 85, por aí. J: Ela gostava de ir na locadora? A: Gostava. J: Não era caro? A: Pra nós era (risos). Pra nós tudo naquela época era caro. J: Mas você chegou a alugar ou comprar DVD também. A: DVD tem até hoje lá em casa. Era da Vitória. DVD já era em 2011, 2012, por aí que compramos DVD pra ela. J: Ah, foi bem recente. A: Muito tempo atrás tinha só eu (risos). J: Agora pensando em questão de internet, eu sei que você não começou a usar faz muito tempo. A: Não, era próximo mesmo, não faz nem dois anos, um ano que eu comecei a usar. J: Mas você tinha celular antes, né? A: Tinha mas era desses que só ligava e recebia. J: Não tinha smartphone? A: Não. J:Mas a internet na sua casa você começou a ter quando?


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A: Foi agora, agora pouco. J: Não, uma pergunta mais interessante na verdade, quando você começou a ouvir falar de internet? Você lembra? A: Começou tudo quando a Vitória cresceu que ia precisar de internet. Aí a mãe dela mandou colocar aí que eu fui saber que que era esse negócio de internet. J: Mas pra que ela precisava? A: Pra escola, fazer trabalho essas coisas. J: Daí vocês colocaram em casa? A: Colocou, ela colocou. J: Nisso daí ela tinha quantos anos? Vocês tinham que idade quer, dizer? A: Ah eu tinha uns 59 anos. Por aí que eu tinha. J: Então faz pouco tempo. A: Pouco tempo. Precisou a Vitória nascer e crescer pra gente ter internet em casa, J: Você já tinha visto gente usando em outros lugares. A: Já. J: Quem mais usava na sua casa. A: A Néia. Ela que precisava pra fazer os trabalhos, de Letras né. Pesquisas né. Tinha vez que era online a prova dela. J: Entendi. Sempre você precisaram da internet por causa dos estudos dos seus filhos. A: Por isso mesmo, eu não usava muito. J: Antes de você começar a internet no celular você já tinha usado? A: Não, nem pra mexer no computador, nem nada. Eu fui aprender com eles, eles que me ensinaram. J: Faz quanto tempo que você criou Facebook, Instagram né? A: Não faz nem dois meses. Por isso que eu não sei quase nada ainda. J: Até hoje você precisa de treino pra isso.


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A: Aham. Tem vezes que eu vou procurar uma coisa aí bato, aí outras coisas sai, a Neia fica braba comigo, fala “Mãe”, aí eu falo “Tem que fazer isso se não eu não aprendo”. Você lê lá, clica, sai errado (risos). J: Você acha que aprendeu bastante. A: Ah, já tô querendo… Que eu vou perguntando o que eu não sei, pra sobrinho… BLOCO USOS COTIDIANOS J: Amália, agora pensando mais em questão de usos do seu cotidiano, onde na sua casa que você mais vê televisão. A: Aqui em casa? Local? Na sala. J: Tem TV no quarto? A: Tem. Mas só que eu não uso pra nada. Eu não sei assistir televisão deitada, só sei sentada. J: Mas porque você prefere a televisão na sala? A: Sabe porque parece que respira melhor, no quarto é mais fechado. J: Entendi. Você assiste TV mais acompanhada ou sozinha? A: Sozinha. Agora que to sozinha de vez, que a Vitória foi embora. Antes ela assistia comigo. J: Entendi. Você tem costume de quando tá assistindo ficar trocando de canal toda hora. A: Não. J: Nem quando você não sabe que tá passando? A:No máximo quando eu sei o dia que vai passar lá, dia de quarta, o dia de Pião, aí eu passo quando acaba a novela. Aí acaba eu passo pra lá. Porque na Globo termina a novela e vem o jogo. Eu não gosto de futebol muito não. J: E você tem costume de ficar fazendo outras coisas enquanto assiste televisão? A: Tenho, comendo né (risos). Vou na cozinha, pego uma coisa e pego outra e volto de novo. Não tem mais o que fazer também (risos). J: Mexendo celular você não fica?


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A: Fico. às vezes o celular toca, aí eu vou ver se é mensagem que algúem manda, aí já me perco um pouquinho. J: E quando à internet, em que locais da casa você usa. A: No meu celular? Lá no meu pai, seu Beato. J:

E

na

sua

casa

você

não

fica

usando

tanto.

A: É, só um pouco. Eu fico ouvindo rádio, ou limpando o quintal que tá cheio de mato. J: E quando você tá mexendo na internet, você tem costume de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo? A: Eu não sei fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Ou é essa, ou aquele, ou aquele outro. J: Você não fica conversando com as pessoas o tempo todo né? A: Não, tem que ser cada um de uma vez. Nem sei como é que faz isso, meu deus. J: E as coisas que as pessoas te mandam no Whats, que publicam, você tem costume de conversar com os outros sobre isso? A: Não, eu tenho vez que eu só olho e nem respondo. É verdade. J: Mesmo se você vê uma coisa da TV você não vai conversar? Algo que você viu ontem, por exemplo. A: Não, porque eu acho que ainda mais novela, que todo mundo assiste, tudo já sabe o que vai acontecer, né? J: Faz sentido. Você tem costume de procurar em sites sobre coisas que você viu na TV. A: Como você fala, no Facebook? J: Não, do tipo se você assistiu um programa. Aí você quer ver mais informações do programa, ou assistir na internet, você tem esse costume de procurar? A: Tenho voz; Quando eu gosto sim. J: Você já fez isso? A: Já.


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J: Em relação ao que? A: Tipo, o negócio lá que o Sívlio Santos roda pião. Aquilo lá é falcatrua. Tem uma pessoa lá atrás que controla tudo. E se ele para é quem eles querem que ganhe. Você viu isso? J: Não. Nunca tinha visto. A: Eu vi, eu falei “ah não acredito mais nesse negócio de carnezeiro”, coitados, imagina quem vai lá iludido. J: Você ouviu falar disso e foi pesquisar a respeito? A: Não, eu vi assim, no Facebook, aí que eu descobri.Não tenho esse costume de pesquisar não. 2. ENTREVISTA DORIANE FERREIRA, 53 ANOS, BIBLIOTECÁRIA Doriane começa a entrevista falando sobre sua vinda do Rio de Janeiro para Campo Grande, em 1975. Ela se antecipa às perguntas e começa a falar sobre seu passado com a televisão e outras tecnologias da comunicação antes que a entrevista seja introduzida, então o áudio começa a ser gravado no meio de sua fala. D: Pra gente tudo aquilo era mágico. E as novelas, os capítulos passavam lá [no Rio] primeiro. Então só depois de meses que chegava aqui aquele capítulo, o rádio a mesma coisa. Músicas que ouvíamos no Rio de Janeiro, por exemplo lançamento do Ney Mato Grosso, eu depois de muito tempo vim ouvir aqui, quando não tinha a mídia imediata que a gente tinha comunicação em tempo real. Então isso pra nós era uma coisa fora do comum. A carta também era uma coisa fantástica, era maravilhosa. Eu tinha um irmão que morava na Espanha, ele morava em Portugal na época. E aí eu escrevia cartas, aí quando as cartas dele chegavam era aquela ansiedade, ai que delícia, que prazeroso a gente abrir a carta e receber aquela notícia de uma pessoa que a gente ama que tá pra lá há tanto tempo. Mas muitas vezes quando a carta chegava aqui aquilo tudo era velho já, muitas outras coisas já tinham acontecido. Às vezes a carta demorava muito tempo pra chegar. Quando a carta chegava muitas as vezes a pessoa tinha até morrido, e aí a carta chegava e era um momento de muita emoção. Então nós que, quando chegou a internet, esse meio de comunicação veloz, esse saudosismo ficou de lado, e veio o imediato, o tempo real. Como foi bom isso. Como essa mudança foi boa pra nós, apesar de nós termos pessoas ainda resistentes a isso, que tem aquela saudade da escrita, das cartas né… São tantas críticas que hoje os adolescentes não escrevem mais, o vocabulário deles é outro né, é um vocabulário diferente, porque eles são da era digital. As pessoas tem meio que bitolado que muita coisa veio, estragou e foi ruim. Eu não acho assim. Eu acho que é tão bom você querer saber de alguma coisa e tá ali, pronto, você ter meios de pesquisa, você ter fontes pra pesquisar né. Links pra compartilhar, e a saudade ela quase que não existe. Porque um fala aqui, converso com meu filho lá, e bato aquele papo e a saudade diminui.


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J: A gente hoje em dia fica em conversa constante, né, nunca para de conversar com os outros. D: Sim, os amigos virtuais eles são importantes pra gente. A mídia é importante, a internet é muito importante, é um meio de comunicação. Apesar que nós sabemos que as informações muitas vezes ela é manipulada, né. Vamo deixar a população saber disso, mas ela fica sem saber daquilo. Então tudo depende também do seu comportamento com a mídia. J: Eu to contando aqui como se a entrevista já começou, só de você falar pra mim de como era sua vida no Rio de Janeiro, como é aqui, como foi essa mudança… A gente quer saber justamente isso, o que mudou na sua vida por meio da sua relação com as mídias. É importante a gente ter essa visão dessas mudanças na sua vida pra ver por exemplo como a televisão mudou sua vida no passado, como o celular, a internet mudou agora… D: Eu acho que muitas vezes ao invés de afastar, aproxima. Porque a mamãe, a vovó, chama o sobrinho, o netinho, que é tecnológico, pra ensinar… J: Você passou por isso? D: Passei.. Tive que me reeducar na verdade. Sempre pedi, “olha me ajuda nisso aqui que eu não sei”... Aí hoje eles falam “cuidado com a mãe. Ela quando você vê ela já tá lá em outro lugar do seu celular, você quer mostrar uma coisa ela já foi” (risos). Eu precisei disso, eu precisei me reeducar, porque eu sou pedagoga. Então dentro da sala de aula, quando chegou a tecnologia existia uma resistência muito grande para o professor. O professor tinha resistência de abrir uma sala de tecnologia pra adequar o seu aluno. Porque antes, uma máquina de computador ela era compartilhada entre três, quatro, cinco alunos, quando os computadores chegaram nas escolas. Hoje cada aluno tem seu computador na sala de tecnologia, hoje celular ao invés dele ser barrado em sala de aula ele serve como uma ferramenta de pesquisa pro aluno. Isso é muito legal, e se o professor não acompanha ele fica pra trás. Às vezes o aluno tá mais preparado que o professor. J: Tem lei estadual que não permite o celular em sala de aula, né? D: Tem lei estadual… Mas não é que o celular não pode mais. Eu vou dizer que logo quando chegou o Whatsapp, a escola teve um problema. Foi muito, porque todo mundo tava “nossa que agora os alunos tão com um tal de Whatsapp, um negócio assim”. A mesma professora que falou, no ano seguinte tava o tempo todo no Whatsapp, inclusive em sala de aula. Não é, então você tem que ser inteligente, meu aluno tem o celular, meu aluno acessa, meu aluno tem wi-fi. J: Não tem porque lutar contra a tecnologia né, ela tá aí pra servir a gente. D: Eu posso até dividir meu crédito com você. Eu posso distribuir até senha do wi-fi ali. Um professor inteligente que domina seu conteúdo pode muito bem integrar o celular para acesso à pesquisa. E é muito legal. Porque escrita, escrita, escrita cansa. É chato, não tem mais atrativo a aula em preto e branco.


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PERFIL DO ENTREVISTADO J: Dori, eu vou puxar a gente mais pro meu roteirinho da entrevista, porque antes de tudo eu preciso de algumas informações pessoais suas, pra gente dar um andar mais dentro da proposta. Você pode me dizer seu nome completo, sua idade… D: Meu nome é Doriane Jovelina Barros Pereira, eu tenho 53 anos de idade. Eu sou professora de formação, fui concursada no Estado né, dois períodos, eu tive dois concursos. J: Quando você se habilitou? D: Eu me habilitei em 1992. Fiz Pedagogia. Sou fundadora de três bibliotecas… J: Aqui em Campo Grande? D: Todas aqui em Campo Grande. Fiz parte do grupo Ipês, fiz parte do Cedine que é um movimento de combate ao racismo… Sou professora também de filosofia e sociologia por conta da habilitação em pedagogia né. Dei aula também alguns anos de filosofia e sociologia, na rede estadual mesmo. Eu sou concursada né, aposentada em um período e esperando a aposentadoria esse ano de outro período. J: E quando você se aposentou? D: Eu me aposentei no ano passado. J: Mas você continua trabalhando né? D: Não, é porque eu tenho dois concursos. Então eu me aposentei do primeiro concurso, de 90, e agora eu estou aguardando a publicação do concurso de 93. Vai demorar alguns meses, até junho eu já estou aguardando em casa. J: Então você tá trabalhando só um período? D: Sim, período vespertino. J: Com quem você mora na sua casa? D: Eu moro com meu esposo, meus três filhos né, e alguns animais (risos). Alguns gatos, cachorros... J: Eu fiquei sabendo que são bastante. A sua família tem alguém da família próxima que não more aqui com você? D: Não não. Filhos todos aqui.


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J: Bom você já me falou que veio do Rio né… Há quanto tempo você mora em Campo Grande? D: Quarenta e três anos. Sou palista, campineira. Nós moramos no Riio de Janeiro, em São Paulo, aí do Rio minha mãe falou “eu vou voltar pra minha cidade, pra minha terra”. E aí nós voltamos, eu voltei pro Rio e aí retornei pra Campo Grande, aqui é minha terra. J: Você tinha 15 anos quando veio pra cá. D: Não não, dez anos. Mais ou menos dez anos, é. CONSUMO CULTURAL J: Essas são basicamente as perguntas que eu tinha a seu respeito pra gente traçar seu perfil. Agora eu vou fazer algumas perguntas que são mais a respeito do seu consumo de mídia no dia a dia. Você sabe me dizer assim que meios de comunicação você tem costume de usar no seu dia a dia? Entre rádio, televisão, celular… D: Rádio eu quase que não estou ouvindo. Porque eu acho que quando você já sabe mais ou menos o que você gosta da mídia, você já baixa as músicas que você vai ouvir e curte aquelas músicas. E como eu tenho filhos jovens, tudo que eles acham interessante vêm e me apresentam e eu incluo também no meu dia a dia. Televisão eu assisto… Jornais, vários jornais. J: Quais jornais você assiste? D: Ah eu assisto Jornal Nacional, eu assisto Jornal do SBT, os nacionais assim. Gosto muito de outras emissoras também de televisão… Tudo que passa sobre universo, extraterrestres, eu gosto de tá acompanhando sabe, eu tenho essa curiosidade. J: Vocês têm TV a cabo aqui? D: Temos, temos. J: E você assiste bastante esses programas de documentários? D: Ah eu gosto, se não for questão de animais, do círculo de vida deles assim eu não gosto. J: Você gosta mais de extraterrestres. D: Ah eu gosto desses que eu te falei né, alguns policiais também gosto, gosto de ver o Brasil Visto de Cima, o Mundo Visto de Cima, gosto de ouvir reportagens sobre o café né, que sempre tem. Já tem um programa agora que fala só sobre o café… Sobre vinhos também eu gosto. Então a hora que eu tenho tempo que eu não estou nos meus afazeres, eu sempre tenho alguma coisa assim pra tá


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tendo uma TV a cabo… E tenho as minhas redes sociais, que é Insta… Whatsapp, Facebook… Que aí sempre que a gente tem um tempinho, acessa (risos). J: Ainda pensando mais sobre a televisão, você diz que você assiste bastante noticias, bastante documentário, são programas bastante informativos né. Porque você tem tanto interesse na informação? D: Ah porque eu gosto de estar me reciclando, muitas vezes você ouve uma notícia, e essa notícia que você ouviu hoje ela já é antiga. Ela já tem uma outra notícia. Principalmente quando se fala do universo são muitas coisas que vão acontecendo aí fora do nosso planeta que vão se modificando, e você tem que tá acompanhando isso. Então é muito interessante, vinhos novos que surgem né? Aí a gente fica sabendo que os vinhos brasileiros são vinhos maravilhosos e a gente fica atrás dos vinhos chilenos, do vinho argentino. Então essas coisas, eu gosto de tá sempre assim, vendo o que tem de novo, o que as coisas… Às vezes eu assisto um Cidade Alerta, né, e aí que são reportagens policiais, e aí eu sou criticada. “Porque que a senhora vai assistir uma coisa dessas?”. Infelizmente isso faz parte do dia a dia e eu preciso estar sabendo o que que tá acontecendo no mundo, por mais que seja sangrento, horrível - eu não absorvo o dia inteiro isso né -, mas eu gosto de tá ouvindo uma informação, o que que tá acontecendo lá em São Paulo, no Rio, chacinas né, a política brasileira né, que isso é muito importante pra mim né, o que que tá acontecendo no meu país, aonde que tá surgindo todas essas situações né, porque às vezes a gente vê que a mídia não consegue fazer o trabalho dela como tem que ser feito, com lisura e transparência, então sempre tem uma tendência política por trás da mídia né, por trás dos meios de comunicação. Então você tem que assistir tudo pra você formar sua opinião. Foi falado isso, foi falado aquilo, e tão matando no Rio de Janeiro, a UPP não deu certo, e na verdade o país não sabe o que aconteceu. Não sabe que alguém historicamente empurrou aquele povo pra lá. J: E pra saber disso você tem que ter informação né, tem que ler né, tem que ouvir… D: Tem, tem haver com ir, com se informar, com ir na credibilidade daquela emissora que tá falando a verdade. Porque você precisa tá a par das informações. Dos veículos. Às vezes tem programas na rádio, que elas são extremamente importantes. Porque existe uma pessoa que vai falar, que vai dar outra opinião, que você vai analisar, porque que tá acontecendo isso. Será que o que aconteceu na Síria realmente foi o fulano ou foi o outro que fez pra provocar um?… Será que quando teve a Segunda Guerra Mundial, os japoneses realmente mandaram a bomba atômica pra estourar o navio dos brasileiros? Será que realmente foram os brasileiros? Então tem todo um interesse por trás, então por mais que você não queira estudar a história, você tem que entender que nesse momento você está vivendo a história do seu país, então você tem que tar por dentro, tem que se informar, ter essa consciência. Eu tenho que ter consciência que teve um golpe, que tão fazendo um caos com o nosso país, tão roubando tudo… E a televisão tem um papel muito importante nisso. A gente fala muito das mídias de celular, internet, mas a televisão é o veículo mais rápido que você tem. Todo mundo tem uma televisão, nem que ele não tenha a cabo, mas uma televisão ele tem. Né, livros, você tem biblioteca né, então depende muito de você, de você ir atrás e buscar.


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J: Você busca mais informações por quais meios de comunicação? D: Pela televisão, celular. Eu assisto também muito A Rede Cerco, canais assim religiosos que eu gosto de acessar, ma os dois, porque eu tenho um período no meu dia que eu acesso o celular, e tem momentos no meu dia a dia que é televisão. J: Como isso funciona? D: Ah por exemplo se eu to em casa, na parte da tarde eu to assistindo uma televisão, na parte da manhã eu já acessei, já entrei nas minhas redes sociais, já fiz o que precisava, já vi quem são os aniversariantes, já li alguma coisa que eu precisava, já preparo também uma palestra que eu achei interessante que eu também quero ouvir… J: É um momento mais de trabalho também pra você também né. De manhã ao mesmo tempo que você tá vendo as redes sociais, tá trabalhando… D: É, e o meu trabalho exige toda essa mídia né, o meu trabalho. Porque eu trabalho dentro de uma biblioteca, e é uma biblioteca que funciona bem, o aluno pode participar bem, tem sarau. E sempre quando você entra numa escola e vê uma biblioteca você vê um depósito de lixo né. Tudo jogado, tudo que não presta, vai pra dentro da biblioteca. A grande maioria das bibliotecas brasileiras, elas são sucateadas, não tem nenhuma organização, nenhum tipo de tombo, ninguém se importa com aquilo. As pessoas se deprimem dentro da biblioteca porque é um lixo, é chato é feio. Sempre eu percebi que as pessoas que trabalham na biblioteca são tristes. J: Na biblioteca que você trabalha vocês têm um ambiente informatizado. D: Um computador. Mas dentro do projeto tem a parceria da biblioteca com livros que eles já vem digitalizados. Que seria uma biblioteca online. Mas é muito difícil porque você não tem bibliotecário. Você tem que por alguém ali. Esse alguém… não tem as vezes esse interesse. Se não o negócio não anda. Geralmente para nesse momento. Mas se tiver pessoas dispostas a fazer essa união do digital com o livro, porque você tendo o livro digital tudo você… O professor se ele quiser que o aluno leia um livro igual esse que você tem aqui, ele não vai ter um exemplar desse pra todo mundo. Então nada melhor do que um livro digital, essa é a hora que o negócio fica bom. J: Entendo… Só pra eu não perder o fio da entrevista, você tem costume de acessar o computador? D: Não, só o tablet e celular. J: Aqui na sua casa. D: E na escola também. Porque eu tenho o meu né, mas lá todo professor tem um tablet. Daí cada um usa seu tablet, prepara aula tudo no tablet.


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J: Que legal, interessante. D: Mas tem computadores disponíveis pra gente fazer planejamento. Porque tudo é online, planejamento é online, fica gravado e a Secretaria de Educação tem acesso a isso. J: Mas você não tem microcomputador em casa? D: Não. Tenho mas não uso. J: Por fim, você tem costume de ler jornal impresso. D: Então, às vezes eu leio. Porque tem uma campanha lá na escola, que o Correio do Estado faz uma distribuição de todos os exemplares, então a gente pegava esse jornal e levava pra escola. Então quando eu estou na escola eu até mexo em alguma coisa, às vezes você tem alguma informação interessante, mas já não tem mais… A gente tenta inserir isso pro aluno. “Dá uma olhada no jornal, vê o que que tem”, nem que você vá lá nos classificados. As vezes eu vejo Revista Escola, às vezes Veja, Revista Época… J: Legal, eu não sabia dessa iniciativa do Correio. Você falou que assiste bastante documentário, que busca muita informação, isso sempre aconteceu pra você? Ou é um costume mais recente? D: Eu acho que a curiosidade ela é própria do ser humano, eu acho que nós já nascemos com essa vontade de saber. Então eu sempre tive interesse nesses assuntos. Ervas medicinais, eu sempre gostei desses assuntos, sobrevivência, eu sempre gostei… Então eu acho que tudo que você gosta você já se direciona você ja lê. Eu era leitora, dos assuntos que eu achava que eram interessantes pra mim. Diferente da minha mãe e do meu pai, que eu sou de uma família de leitores. Minha mãe era uma leitora nata. Então eu cresci vendo meu pai e minha mãe lendo o dia inteiro, seleções, eram aqueles de Bang Bang, umas coisas assim. Eu sou da época da fotonovela que a gente ainda via alguma coisa. Minha mãe era uma mulher inteligentíssima. J: Quando você pegou o hábito da leitura. D: Desde pequena. Desde criança já folheava, já via o pai e a mãe, já até mentia que sabia ler, abria o livro… Mas era o dia inteiro, muito, minha mãe era uma pessoa extremamente informada, minha mãe falava “as pessoas não sabem as coisas porque elas não leem”. E é verdade. J: E ela não estava errada. D: Meus filhos também. Eles são filhos de uma contadora de história. Porque os filhos precisam ouvir. O professor ele manda muito o aluno dele ler, mas o aluno quer ouvir o professor ler, é isso que encanta, quando ele ouve a leitura ele se encanta. Quantos alunos meus falaram “professora, que coisa linda, eu quero ler que nem a senhora, como que faz?”. Ah, você vai ter que ler. Se você ler, você


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treina. Aí você coloca, emposta a voz, coloca a vírgula, ponto de exclamação, tudo no lugarzinho, levanta o timbre, desce o timbre, e aí a sua história vai ficar linda. É assim que a gente lê. J: Aí que o aluno presencia a história né. D: Muda. Nós temos um problema muito sério, de aluno que lê mas não interpreta. Na verdade esse aluno não interpreta porque ele não sabe ler. Na hora que ele ouve você lendo com toda a pontuação, com a sua argumentação, com a sua pausa, que é necessária pra você entender, ele entendeu seu texto… Então o grande problema do aluno, ele não interpreta porque ele não consegue ler. Tem tantas coisas que a gente poderia tá discutindo em sala de aula. Tanta coisa que pode gerar interesse do aluno. “Ah mas Doriane, não vá falar de homossexualidade em sala de aula que se não você nunca mais fala aqui”. Tudo bem, eu não preciso falar de homossexualidade, mas eu posso falar de respeito. Você tem seu direito de se vestir como quiser, de falar, de gostar disso, de aquilo. As pessoas quando elas se fecham pra isso elas mostram que elas são ignorante, que elas não dão espaço pros outros serem aquilo que eles podem ser. E a escola se fecha pra isso, estimula esse tipo de pensamento. J: Uma mídia que mostra bastante aquilo que as pessoas não querem ver hoje em dia são as novelas né, as da Globo… A gente ouve muito as pessoas falando que não precisa de beijo gay na televisão, que não precisa mostrar a pedofilia, mas quando mostra, pelo menos as pessoas discutem isso né. Você costuma assistir novelas? D: Eu não acompanho, mas algumas coisas, alguns capítulos, algumas cenas que eu acho que são interessantes. Eu acho que a novela fala de uma realidade que as pessoas fogem, entendeu? Quando você fala do abuso sexual, as pessoas fogem, quando você fala da sexualidade, as pessoas fogem, quando você fala de etnia, você não vê racista no Brasil. Não existe racista, não tem. Aí você fica assim, como assim não tem? “Não, isso é coisa de negro, isso é coisa da cabeça de negro”. Bom, se não existe o racismo, e se o negro são mais de 50% da população, e a maior população de negros fora da África está no Brasil, eu quero ver a mesma proporcionalidade dentro das universidades, na televisão, nas passarelas, nas lojas, eu quero ver. Em salário, e eu não encontro isso, então não me convenceram de que o Brasil não é racista. J: Entendo. Falando mais sobre você, que papel você acha que a televisão ocupa na sua vida? D: Bom televisão é informação né, então nunca ela foi tão importante pra mim. Ela ainda ocupa, ainda é um meio forte, importante, a notícia é importante, o jornal é importante. Seja ele no celular, na televisão… J: Que outros programas você tem costume de assistir além de noticiários? D: Às vezes eu vejo uma novela, às vezes eu vejo um noticiário.. Às vezes eu vejo um programa fútil mesmo assim que é normal..


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J: Reality shows? D: Não, reality shows não gosto muito… Mas sempre tem alguma… Cirurgias plásticas, umas coisas novas, modernas assim, eu gosto de… Eu não faria, mas acho legal quem gostaria de fazer. J: Programas de variedades assim. D: Variedades, de coisas da casa… Às vezes um programa rural, sobre plantas que eu gosto. Então eu sou bem eclética, eu vou passando por várias situações. J: Não tem muitas preferências... D: Tenho, eu sou variada, eu gosto de variar. Mesmo um Globo Rural eu gosto de assistir. J: Tem um canal preferido que você goste de assistir? D: Não, não… Às vezes um Tatá. Mas já faz tempo que eu não assisto, um Povo na TV. Eu acho ele muito inteligente. Eu acho que Campo Grande tá precisando de uma pessoa como ele, que fala umas verdades, que fala uma outra notícia, uma notícia diferente, ele te intriga. Eu acho que o povo precisa ouvir algumas coisinhas que ele fala. Ele é questionador, tipo até perigoso. “Olha meu deus ele falando sobre a maconha, falando pra liberar pra parar as mortes”. E ele tá falando “Não é que eu sou a favor, eu quero que vocês pensem que se isso fosse liberado, as mortes iriam diminuir no Brasil, essa briga no Rio de Janeiro iria acabar”. J: É um posicionamento difícil de se ouvir num programa tão populista né. D: Sim, eu acho que ele leva posicionamentos diferentes, que numa outra emissora ele não conseguiria isso. E se tem alguma coisa na internet ele leva também pra ver. Acho ele um cara maravilhoso, tinha que estar em rede nacional. J: Você gosta de programas assim, questionadores? D: Eu gosto de pessoas inteligentes, então se eu vejo que o cara é inteligente eu já quero acompanhar. Ver quanto ele vai escorrer, se o que ele tá falando é legal ou não. J: Você tem costume de ver os programas que você assiste na TV pela internet? D: Assim, alguns… Às vezes eu vi alguma coisa, uma notícia interessante que foi dada, eu não pude assistir naquele momento, e eu to interessada sobre o sol azul que tá aparecendo, um planeta que vai sugar tudo e todos que tiverem próximos dele… Se eu não assisti na televisão eu procuro na internet. J: Na internet o que você acessa mais?


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D: Ah eu vou passando e quando eu vejo uma notícia interessante, um link, eu vou lá e assisto. Mas geralmente eu gosto de programas espíritas, Aroldo Dutra Dias, eu gosto de Chico Xavier, às vezes eu acesso o Pinga-Fogo que é uma coisa passada e a mídia trouxe isso, remasterizou tanta coisa interessante, tanta coisa legal, que eu nunca assisti o Pinga-Fogo era um programa do Chico Xavier, era em preto e branco, eu era muito criança e minha mãe falava desse programa. E agora você acessa a internet você tem acesso a esses vídeos. Isso é muito legal. Eu gosto de ler notícias também sobre Segunda Guerra Mundial, porque meu pai é excombatente. Era né. Meu pai morreu em 2011. Então tudo que fala sobre a Guerra eu gosto de tá confrontando com as coisas que ele me dizia sobre a Guerra. J: Você acessa bastante assuntos ligados à espiritualidade pelo que eu to vendo né. Você vê programas sobre o assunto em outras mídias? D: Não, eu tenho uns livros né que eu leio. Eu tenho meus livros que me ensinaram muito, antes da internet. Mas hoje em dia eu vejo muito pela internet, assisto palestras, vejo vídeos curtos. É uma maravilha. J: Você falou também de ficar “rolando” e achar links, você diz no Facebook? D: Sim, no Facebook, Instagram… Whatsapp. Mas esses links eu acesso no Facebook. Sempre tem alguma coisa que, ou eu to seguindo, ou alguém curtiu, eu acho interessante, eu vou… Se eu não acho legal eu já nem leio, passo… J: Que momentos do dia você pratica esses acessos? D: A partir das 4h30 da manhã em diante, até as 7h. Eu vejo tudo que eu precisava ver que eu não vi, e aí eu vou fazer as outras coisas, eu ligo a televisão, assisto um jornal. Passado do consumo J: E quando você começou a ter computador em casa? D: Acho que foi há uns 15 anos. O primeiro contato que eu tive com o computador foi em 1985, 86… Bem na hora que o computador tava chegando aqui. Meu irmão dava aula de computação, isso era novo… Ainda não tinha wi-fi né. Mas ele se preparava uma série de coisas, era uma série de coisas. J: Na verdade a internet ainda nem existia aqui, ela foi chegar no Brasil em 1995. D: Era um computador. E ali você digitava, fazia coisas, mas era bem… J: E você acessava o computador?


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D: Não, porque era bem… Não tinha o que fazer, você tinha que ter um objetivo, você vai fazer uma pesquisa, você vai digitar, fazer alguma coisa, aí você salva, você guarda, mas era uma coisa bem primitiva né. J: Esse foi o seu primeiro contato né. Mas você lembra quando você foi ter computador em casa? D: Ah na minha casa eu tive computador eu acho que em 2002, 2003. Eu não morava aqui, eu morava em outro lugar. Mas acho que era aí mesmo, 2002, 2003, 2005, uma coisa nesse período. Que eu to me relacionando a onde eu morava na época. J: E quando você teve esse computador já era outro tipo de computador né. D: É, era um gordão atrás, não era fininho hoje bonitinho. J: Mas era melhor do que os do seu irmão né. D: Nossa… Aí já era pra trabalhar, já era obrigada a fazer curso pra já trabalhar, porque na escola já tinha computador, já tinha um, dois, três, aí você põe aquele monte de aluno, era dez alunos em volta daquele computador e você tentava fazer ali alguma coisinha… Hoje não, hoje é uma maravilha. J: Então você já comprou o computador pra usar pro trabalho? D: Já, era os filhos… o trabalho que eu tinha que aprender uma coisa que eu não sabia. Mas aí logo depois disso vieram os cursos de capacitação. Então o que você aprendia assim, todos aqueles recursos que você necessitava pra você dar a sua aula pro seu aluno. Então você ia lá onde você queria, copia, cola, salva, pega uma borda, tira uma borda daqui, põe aqui, essas coisinhas básicas. Mas não era aquilo pro seu dia a dia, era praticamente escolar. Na hora que saía daquilo a gente não sabia muita coisa não, era muito educacional. J: Você comprou o computador pra sua casa já com internet? D: Olha eu não lembro se na época que eu comprei tinha internet. Até porque era outra internet, era uma internet discada era uma coisa difícil. To tentando lembrar. J: Você não lembra de usar ela pra checar email… D: Olha essa parte do e-mail eu acho que não, porque eu fui bem resistente a fazer meu e-mail. Eu sou resistente a comprar pela internet. J: Porque você tem essa restrição? D: Eu prefiro ir lá e comprar do que comprar pela internet.Eu não acesso conta bancária, não faço pagamento, não faço transferência.... Tem coisa que eu prefiro fazer. Eu gosto de ir na loja, eu quero olhar, é isso que eu gosto. Se você


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vem com o folderzinho da Natura pra me comprar, eu não vou me interessar muito, mas se você me mostrar os produtos, eu enlouqueço e compro. J: Pra finalizar esse assunto do seu passado com a internet, você lembra quando começou a utilizar as redes sociais? D: Ah faz pouco tempo… Acho que foi em 2011… Eu ainda demorei ainda eu ainda fiquei assim, Instagram eu demorei um pouco… Eu pensava “Facebook? Ah meu deus, vo tá abrindo minha vida, vou tá me expondo, alguém pode pegar tirar alguma coisa, fazer alguma maldade”, eu não sei, eu sempre tive uma certa… “Doriane você não tem?”, não tenho… “Ah mas porque você não faz um Instagram mãe”, aí eu fiz, gostei. Preferi o Instagram do que o Facebook. J: Mas você começou há muito tempo no Facebook né. D: É, sabe o que eu gostei do Facebook, tem informações que às vezes o Facebook acaba te dando, que você não sabia, que você comenta. Então como tem várias pessoas e cada uma tem interesses diferentes do seu, isso é interessante porque eu compartilho uma coisa que nunca iria imaginar que eu iria compartilhar, porque nem sempre eu busco as mesmas coisas. J: Porque você acabou entrando no Facebook? D: Ah, porque as pessoas acabam te fazendo cobrança né. “Ah mas porque você não tá no Facebook, o pessoal tirou uma foto hoje”... J: Quem fazia essas cobranças? D: Os colegas. “Ah, abre o Facebook, sei lá sei lá”. Aí eu falei ó, vou abrir o Facebook. E aí eu gostei, achei muito interessante. Encontrei muitos professores que eu tinha esquecido que tinha. J: Entendo. Pensando agora mais no seu passado com a televisão, você lembra quando foi seu primeiro contato com a televisão? D: Com a televisão foi em 1970, acho que foi a primeira vez que eu assisti, o homem tava chegando a Lua. J: Sério? Você viu a transmissão? D: Eu era pequititinha mas eu vi. Aí tinha aquela novela Carne de Fogo, que eu não lembro do que se trata mas… J: E como era essa televisão de vocês? D: Era aquela televisão preto em branco. Tinha vizinho que ia em casa assistir a novela. Era muito bom. Não era muitos que tinham televisão. J: Isso lá em São Paulo?


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D: Isso não, isso era lá no Rio de Janeiro. Eu tinha os meus programas favoritos, os desenhos da época, Tom & Jerry…. Que hoje… Hoje eu vejo que são tão má-influências negativas nesses desenhos. O Chapolin, sempre maltratando, sempre humilhando, sempre batendo. E até hoje a gente vê e pensa “meu deus quanta maldade”, a pessoa quer se entreter. J: Mudou a programação do que você assistia quando você veio das metrópoles pra cá? D: Como eu era criança eu era direcionada mais a esses programas infantis né. Mas eu acho que a televisão mudou um pouco, os programas de calouro né, que a gente ia todo domingo, Sílvio Santos né, era aquela loucura… Tinha todo esse negócio de programa de televisão, de palco, de Chacrinha, de guerreiro, de abacaxi… Isso marcou muita a minha infância, esses programas de auditório e tal. Esses programas de auditório só deram uma repaginada e continuam tendo acessos. J: Quando vocês mudaram pra Campo Grande, a situação de só vocês terem no bairro a televisão, os vizinhos não, ela se repetiu? D: Se repetiu. A gente veio pro São Manoel, na esquina da orla. Não tinha asfalto, não tinha orla, era trilho. Era um bairro perigoso. As pessoas que não tinham televisão atravessavam a rua pra ver a novela e voltavam pra casa. J: Vocês tinham outros aparelhos eletrônicos na casa de vocês quando vocês compraram a televisão? D: Tinha rádio, sempre. Vitrola, toca-discos… Minha família gostava muito de música. J: Quando vocês assistiam televisão vocês assistiam mais juntos ou separados? D: Juntos. Quando não interessava pra gente que era o jornal a gente saía, deixava o pai e a mãe e ia brincar. Ele falava assim “assiste televisão, assiste televisão”... Porque eles achavam que o jornal era importante. Então eles achavam legal. Tinha o jornal do meio dia e depois outro jornal, pra fazer a interligação das notícias. J: Em que momentos vocês mais assistiam a televisão? D: De manhã, de tarde e a noite no horário das novelas. De manhã eram os desenhos, a tarde tinha sessão da tarde, aí a noite os jornais, as novelas, porque na época era o que a gente gostava. J: Depois que você começou a trabalhar, isso mudou sua rotina com a televisão? D: Muito, eu não tinha mais tempo pra assistir televisão, não tinha essa possibilidade de falar.


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J: Hoje em dia depois da aposentadoria você voltou a ver mais né. D: Isso, depois que eu me aposentei de um período aí eu tive mais uma folga pra poder ver meus programinhas, meus documentários, me informar. Eu sentia falta disso, de ter esse tempo pra buscar informação. J: Vocês tinham telefone antes de comprar a televisão? D: Sim, tinhamos. Chegamos aqui e meu pai já comprou. J: Tem algum programa ao longo da sua vida que te marcou muito? D: Globo Repórter. J: Porque? D: Ah eu não sei, eu era muito pequenininha, e aí quando eu ouvia aquela música da chamadinha do Globo Repórter, eu gosto muito dessas chamadas musicais né, então quando vai passar o Telecine aquela musiquinha marcou muito minha vida então adoro. E o Globo Repórter era muito bom, sempre tinha alguma coisa interessante. Contextos de uso dos mídia J: Quanto à televisão, que é uma coisa que você assiste mais de tarde nos seus momentos de descanso, você assiste mais aqui na sala ou no quarto? D: Não, só no quarto. Não assisto nada na sala, tudo no meu quarto. Porque eu acordo muito cedo né, conforme eu falei. Já acesso a internet, já respondo bom dia, já mando, todo mundo assustado “Doriane você mandou bom dia 4h30 da manhã” (risos). Aí eu já vou no Facebook, venho o que tenho que ver, se já tenho que dar parabéns pra fulano, se dou mais tarde… Eu vou pro meu quarto, assisto um programa aqui, mudo de canal, vejo o último jornaliznho do SBT. J: E quando você assiste televisão você assiste mais sozinha ou acompanhada. D: Eu assisto sozinha e acompanhada. Às vezes meu esposo tá comigo, e às vezes eu to sozinho. A gente curte um surf, curte um vôlei, esses esportes assim. J: Quando você tá assistindo televisão, você tem costume de ficar trocando de canal? D: Tenho. J: Porque você tem esse costume?


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D: Pra ver se acha alguma coisa mais interessante pra ver se eu vou preferir do que aquilo que eu to assistindo. Ou então no momento do intervalo. Aí eu assisto dois programas. Vou em um e vou no outro. J: Você tem costume de fazer outras coisas enquanto assiste televisão D: Às vezes eu olho o Whatsapp, vejo, converso. Se é preciso eu respondo, se for algo urgente, mas tem programas que quando tá muito bom assim eu não olho. J: Que tipo de programa? D: Falou em universo é assim comigo. De geologia, amo, amo, de ir lá no passado, nas civilizações antigas, eu gosto muito. J: E quanto à internet, onde você tem mais costume de acessar ela aqui? D: No quarto. Porque é mais prático, é onde eu passo a maior parte do tempo. J: Você tem costume de conversar com as pessoas sobre aquilo que você vê na internet? D: Às vezes, na escola, nos filhos, com os colegas do serviço. 3. ENTREVISTA SEVERINO PIO, 53 ANOS, APOSENTADO Conheci Severino por meio de um afilhado da minha mãe que já tinha entrevistado. Ele mora no bairro São Conrado há cerca de 20 anos, e para encontrálo marcamos uma entrevista às 16h em sua residência. Chego ao local depois de pegar um ônibus saindo da academia, e sou recebido apenas por ele. A esposa foi para a academia. Sentamos à mesa na sala, com três sofás e uma televisão de mais de 40 polegadas, e ele me oferece um copo da água. Não vejo o outros cômodos da casa, só um corredor. Antes da entrevista explico um pouco de como tudo irá funcionar. Sem o roteiro da entrevista em papel em mãos, utilizo do roteiro que tenho em formato digital no meu celular para fazer a gravação. Ele comenta que mora apenas com a esposa, e dou início à gravação. J: Suas filhas não moram com você? S: As duas casaram, aí já saíram de casa. Uma tem quatro anos que casou e a outra tem dois. Compraram casa e já foram. Agora só moro com minha esposa. J: Ela está trabalhando? S: Academia. J: E quanto tempo faz que você mora aqui? No São Conrado.


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S: Aqui mesmo que eu vim pro São Conrado eu comprei essa casa. Eu vim pra cá em 1995, dia 5 de janeiro de 95. J: E daí sempre morou aqui? S: Sempre aqui, nesse mesmo local. J: Então você passou a morar em Campo Grande em 95? S: Não, não, em Campo Grande eu cheguei em 1986. J: Você morava onde? S: Morava em Jardim. Morei em Jardim, vim pra cá em 86. J: Era muito pequeno lá? S: Jardim era ruim em termos de… Lá o local era legal, mas digo assim em termos de emprego né. Tinha recém saído do Exército, e o emprego lá até hoje é ruim de emprego pra lá. Quando tem o salário é meio pouco, e na época eu saí do Exército aí pra trabalhar o salário era meio pouco e na época já surgiu um emprego aqui com um ganho razoável aí já vim embora na época. J: Uma coisa mais estável né. S: Sim, capital né, tem mais oferta de emprego. J: E você conseguiu emprego logo quando chegou? S: Sim, já já eu praticamente vim empregado já. Que eu saí lá e eu tinha um amigo que ia pra lá e ele falou: “se eu arrumar um emprego em Campo Grande você vai?”. Eu falei “vou”. Aí com uns 15 dias ele voltou. “Pega suas malas que seu emprego tá arrumado”. Aí eu cheguei, ele me apresentou na empresa, já fiz um… J: Você tinha quantos anos? S: Eu tinha 21. Em 86, é, 21, eu sou de 65. J: Você tem agora 53 anos? S: Vou fazer 53 em dezembro, 5 de dezembro. J: Legal. Severino você pode dizer seu nome completo? S: Severino Pio de Oliveira Filho. J: E você tá trabalhando atualmente? S: Eu sou aposentado agora.


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J: Faz quanto tempo que você se aposentou? S: Faz três anos. Eu me aposentei em outubro de 2015, então outubro agora faz três anos né. J: E você trabalhava em quê? S: Quando eu me aposentei eu trabalhava no transporte coletivo. De motorista. J: Quanto tempo você trabalhou nisso? S: No transporte coletivo eu trabalhei onze anos. Mas anteriormente eu trabalhava com caminhão né, sempre de motorista. J: Foi seu primeiro emprego aqui? De motorista? S: É, quando eu saí do Exército eu já saí trabalhando de motorista. Aí entrei pra uma empresa, aí foi pra outro grupo, outra empresa, trabalhei oito anos, aí de lá eu saí e fui pro ônibus. Aí quando foi essa época eu tive que passar por uma cirurgia na coluna. J: Isso foi quando? S: Eu me afastei em primeiro de maio de 2013. Aí 2014 eu fiz a cirurgia. Aí no ano seguinte eu me aposentei por conta da cirurgia porque não podia retornar ao posto de trabalho. Porque devido a minha função, tem que passar muito tempo sentado né, e isso seria prejudicial pra mim. J: A gente já tem um bom perfil aqui de você. Se não tá trabalhando, fica muito em casa né? S: Fico. J: Não tem nenhum hobby, alguma atividade que você pratique? S: Eu gosto de pedalar, às vezes que eu posso pedalar né. Eu tenho que fazer uns exercícios por conta da orientação médica, aí eu pedalo, um pouco na parte da manhã. Minha bike dá pra pedalar legal, eu vou todo dia pro aeroporto, dá uns 20 km, dez pra ir e dez pra voltar. J: E você sempre morou em Jardim antes de vir pra cá? S: Morei um pouco na região né. Eu sou natural de Fátima do Sul, aí quando era bem criança, moleque, meu pai montou na região de Jardim uma fazenda né, que eu fui criado em fazenda. Aí aos 18 anos eu saí da fazenda, fui pra cidade quando eu fui pro Exército. E a gente morava pertinho da cidade, 25 quilômetros da cidade que ficava a fazenda. Aí depois já fomos pra cidade mesmo. Aí fui pro Exército, quando saí do Exército fiquei mais um ano e pouquinho, aí já vim pra Campo Grande.


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J: Entendo, então você teve esse trânsito entre Fátima do Sul, Jardim, Campo Grande. S: Isso. CONSUMO CULTURAL MIDIÁTICO J: Severino, falando dessa questão que falei pra você, de como é o seu consumo de mídia, você saberia me dizer que tipo de mídia você consome hoje em dia? Por onde você busca informação? S: Eu gosto muito de jornal né, primeiro horário da manhã, eu levanto, já vejo as notícias que tão ali, os acontecimentos. J: Você diz jornal impresso? S: Não, na TV mesmo, esses jornal que tem na TV. Aí quando eu quero algo mais eu busco via internet né, ou vejo no celular mesmo, ou pelo computador, acesso porque você tem mais detalhado, e assim, gosto de estar por dentro. Jornal mesmo eu vejo vários. J: Isso são hábitos diários né? S: Diários, eu sou assim, TV eu gosto de ver jornal, alguma notícia que eu quero aprofundar mais eu vou até a internet, que às vezes você tem mais detalhado. Você consegue mais detalhes, mais informação. J: Às vezes algo que você não pôde ver na hora né. S: É, às vezes tem um programa que você não prestou muita atenção na hora e daí você volta, vai lá no site, vê, já fica interado do que aconteceu. J: O jornal impresso você… S: Não tenho hábito. J: Já teve esse hábito? S: Muito pouco, teve época até que eu fui assinante, mas um período muito curto. Eu assim, até em ler, eu sou muito preguiçoso pra ler, eu gosto de ler mais assim ó [pega o celular], mas de ler mesmo… Eu gosto de informação mas gosto mais pra… Na internet às vezes você pega pra ver, acaba lendo alguma coisa ali. E você ouvindo pra mim eu me identifico mais. Que às vezes eu pego um jornal pra ler, tá até interessante daí a pouco já perco o interesse. J: Você tem essa dificuldade com o papel no caso. S: Sim, nunca fui muito fã do papel mesmo. Aí com o celular parece que é mais chamativo, que é mais fácil.


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J: Você não tem costume também de ouvir rádio, alguma outra coisa? S: Rádio eu uso muito pouco. Eu ouvi muito rádio anteriormente quando eu morava em fazenda. O que a gente tinha de informação era o rádio. Isso quando eu era criança. Naquela época TV não existia pra gente. J: E funcionava bem o rádio? S: Funcionava, o rádio era bom na época, igual a gente que tinha bastante informação. Porque geralmente a gente pegava sinal dessas rádios de São Paulo, Rio de Janeiro. J: E vocês ouviam as notícias de lá? S: Sim, na época eu tinha 17, 18 anos, ouvia muito rádio que a gente queria mais informação. Até os 16, aí depois, naquela época ainda a TV a bateria que tinha ainda. A gente acessava a bateria de um trator que tinha, comprou uma TV, aí a gente assistia ainda, mas era a bateria. Não tinha energia elétrica ainda na época, aí a bateria que fazia a TV funcionar. J: E pegava sinal também tranquilo? S: Sim. Assim, não era… Mas minha mãe conseguia assistir as novelas dela, o jogo da Copa de 78, tudo isso a gente viu na TV por aí assim. J: Quando você viu uma TV pela primeira vez? Vocês compraram? S: Pra nós era uma novidade né, porque eu nunca tive [quando] criança, nunca tinha visto uma TV, aí com a TV ver uma imagem assim. Foi muito… Foi legal pra caramba. Depois a gente foi se aperfeiçoando aí foi se acostumando com aquilo ali. Isso foi um show assim, de chegada você precisa ver. Lá dentro do mato assim, a gente ouvia TV, novela, jogo, só conseguia ouvir pelo rádio, aí você ver a imagem do jogador jogando pra nós era o máximo. Pra nós na época. J: Isso você tinha quantos anos, você lembra? S: Na época da TV eu tinha uns 15 ano, 16 anos. J: Isso porque você morava na fazenda né S: Morava na fazenda. J: E vocês tinham costume de ir pra cidade assim? S: Nós iams bastante, uma vez por semana. Quando dava pro meu pai ir a gente ia, mas ficávamos 15 a 20 dias, que a gente ia pra cidade fazer compra. Mas energia elétrica não tinha, era tudo meio assim, improvisado.


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J: Voltando aqui pro que a gente tava falando, tem algum meio de comunicação que se faltasse você sentiria falta? Algum que você ache essencial? S: Ah hoje a TV é importante né, a internet, o celular, é importante. Hoje praticamente o ser humano no dia a dia sem um celular fica perdido. Tanto é que antigamente se você falasse o número de telefone pra gente você já marcava. Hoje pra eu saber o número da minha filha eu tenho que procurar na agenda. Sem ele você fica meio perdido. J: Você não sabe o número da sua filha de cabeça. S: De cabeça eu já não sei. E antes de eu começar a usar o celular, você falava duas, três vezes, você gravava. Hoje você se acomoda, aí você vai, tudo você agenda. Hoje se for pegar o telefone, “liga pra sua filha”, eu tenho que ver na agenda que eu não lembro de cabeça. Não tá decorado. Então hoje o celular em si é essencial pra gente. J: A gente fica dependente né. S: Fica dependente dele, faz parte do dia a dia já. J: Da televisão você vê uma dependência também. S: A TV é legal, a TV é boa também. Muitas pessoas falam, “ah internet é ruim, ah TV é ruim”. Mas vai do ponto de vista que você quer ver. Se você quer ver o lado bom, tem muita coisa boa, então filtra só as coisas boas. Você quer ver o lado ruim, você filtra as coisas ruins. É igual internet, você tem acesso a internet, aí você vai “Ah eu só quero ver coisa ruim”, você só vai ver coisa ruim. Você fala “quero ver coisas boas”, você vai fazer seu acesso só coisas boas. É excelente porque hoje na internet é uma educação que desde as nossas crianças, você vê criança hoje em dia o bichinho já sabe teclar, já sabe mexer, então é essencial, mas desde que seja do lado bom. Agora pra TV o povo critica, “essa TV, só fala isso, só tem coisa ruim”, mas tem coisa boa, tem muita coisa boa, a partir do momento que você ta vendo coisa boa. Aí você deixa passar as coisas ruins. J: Você sente que mudou seus hábitos de consumo? Tinha algo que você usava muito, não usa tanto, ou vice versa? S: De consumos… de… J: De mídia? S: Celular, por que por exemplo depois que você pegou o celular você acaba usando bastante ele, usando a internet dele, informação, quer buscar nele… J: Você lembra quando foi que você teve seu primeiro celular. S: Rapaz… Eu comprei o primeiro celular… Faz um tempinho já, acho que… Não me recordo mas…


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J: Provavelmente era um celular diferente desse né. S: Sim, era um tijolinho aqueles que fica lá. Eu acho que era no mínimo uns 20 anos atrás. É por aí. J: 20 anos? Então deve ter sido um modelo bem diferente. S: É, bem diferente, um modelinho bem simples aqueles que… Era bem grandão mesmo, não tinha mais o que fazer, só ligava mesmo. J: Era mais barato na época? S: Era caro… Telefone eu lembro que esses aí que logo quem comprou celular na minha época, eu tenho conhecimento, o meu cunhado, em 93, 91, 92 por aí, ele comprou um daqueles que tinha antena ainda. Vish, era muito caro, pra você comprar aquilo você tinha que vender umas cinco cabeça de gado. É tipo você comprar um iPhone hoje. J: Mas era mais caro do que comprar um telefone fixo? S: Eu acho que era mais caro, mais caro, porque ele teve facilidade de ter um fixo, a gente morava no Guanandi, e ele tinha facilidade, e o celular ele queria ele demorou pra conseguir. E ainda era linha na época né, não era só você comprar o celular, você tinha que comprar uma linha pra ele. Que hoje você compra o celular, coloca um chip, e fala com quem quiser. Aquele não, você comprava uma linha pra poder falar pelo aparelho, era difícil. J: Pensando mais a respeito da televisão, você sabe me dizer qual é o papel da televisão na sua vida? S: A televisão pra mim serve bastante pra informações. Diversão, que eu gosto de ver futebol. Jornal pra informação que vê, então pra mim é muito importante. Não sou assim, de filmes, eu não sou muito… Mas futebol eu gosto. J: Você não gosta muito de filmes e séries? S: Filmes e séries não. Minha esposa gosta muito, agora eu não, eu gosto mais de jornal, notícias e esporte. Esporte eu gosto muito. J: Mas porque você não se interessa tanto por filme? S: Filme parece que quando eu vejo um filme, eu vejo ele começar praticamente eu já sei como vai ser o final, então pra mim não interessa muito. Geralmente você tem noção né. “Final vai ser meio assim”, então… Num dá muita vontade de acompanhar. Minha esposa vê na Netflix aí ela vê… Aquelas minisséries que tem lá né, de de… De dez episódios, vinte episódios? J: E você não acompanha junto?


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S: Eu acompanho também. Agora, pra mim é importante na parte da notícia e esporte, que é o que eu mais assisto. Igual aqui, eu tenho a TV que ela fica aqui e a no quarto que tem antena, eu vejo esses canais fechados mais. J: Mas você pratica algum esporte ou gosta mais de assistir? S: Eu praticava muito. Jogar bola, eu gostava de jogar bola, futebol de salão né. Só que por conta da minha cirurgia eu tive que zerar né, tive que parar. Mas desde criança eu gostei muito de futebol. J: Esses programas de auditório, reality show, esses shows mais do povão, você não assiste? S: Muito pouco, não sou muito ligado a eles não, não faz meu tipo. O que eu mais gosto mesmo é de esporte e notícia, se for pra ficar 3h, 4h na frente da TV eu fico. Esses daí não fico, se eu ficar 15, 10 minutos na frente da TV eu já quero sair. Então… J: Tem algum canal que seja seu preferido? S: Você fala na aberta? J: Aberta ou fechada. S: Eu tenho TV a cabo né, eu gosto mais do FishTV, que é um canal de pesca. Eu adoro pescar também, gosto de pescar. Ai os porogramas de esporte, SporTV, ESPN, eu fico bastante neles. São os de esporte. J: Pra ver um jornal já é outros canais né. S: Já é uma outra coisa, informação que eu vejo mais no aberto né…. Tem mais… J: Rede Globo. S: A Globo, eu vejo muito, gosto muito de ver o jornal da Globo. De manhã eàs vezes eu gosto de acordar um pouco cedo, que já começa desde aquele das 5h, Hora 1, e vou indo. J: Eita você acorda cedo. E já liga a TV? S: Já ligo a TV, eu acordo cedo. Aí termina aquele, começa o Bom Dia Brasil, aí vou indo. Aí termina o Bom Dia Brasil. E aí vai. J: Mas isso tudo você não assiste na frente da TV né? Você não tem costume de fazer outras coisas enquanto assiste TV? S: Não, fico ali. Quando tiver as notícias ali eu fico focado.


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J: E tem algum programa que te chama mais atenção? Que você para pra assistir. S: Não… Assim, aqueles programas que tem sábado?... J: Não, eu digo qualquer tipo de programa, se for por exemplo o Brasileirão… S: Sim, sim, claro. Se eu tiver saindo e tiver um compromisso igual um… Um futebol que é legal, um programa na fechada com programação de pescaria legal, eu saio antes ou depois, eu já vou me atentar na hora que tem aquele programa. Já marco algum compromisso antes ou depois pra mim ver. Eu gosto de organizar as coisas bem organizadas. Se você marcar comigo, cinco horas, eu gosto de ter foco nos compromissos. Aí eu paro mesmo, futebol, notícias que tiver legal, aí eu falo “Depois do jornal a gente vai”. Minha esposa quer sair, ir ao centro, fala vamos, aí eu falo “Depois que terminar o jornal nós vai sem pressa”. Aí tá lá, tá próximo da hora de começar o outro jornal, já falo “Vamo apressar que tá na hora do jornal”. Se tiver um esporte também. J: Aquilo que você perde você não tem costume de procurar depois… S: Depois eu vejo. Alguma coisa que eu vejo, uma chamada, que talvez não tenha visto, aí eu vou busco na internet, encontro lá pra mim ver. Não gosto de ficar na dúvida, tipo o que ocorreu, se eu vi certo, não vi. Alguém chega, a maioria do pessoal quando passa alguma coisa pra você, já passa atravessado. Aí você não tem certeza do que você viu. J: Tem que ter uma certeza né. S: Tem que ter. Eu sou meio radical assim nas coisas, se eu falar eu vou “eu vi assim, eu vi assim”. Agora o Joaquim vir e falar “Eu ouvi do Sebastião que falou”, são coisas assim… J: É melhor você saber por você mesmo né. S: É, que eu vi ali né. Aí se alguém for questionar eu falo, “eu vi, foi dessa forma assim que eu vi”, ou ouvi né. J: Você assiste programas da televisão pela internet? Jogo, notícia... S: Não, assim se eu perder mas não é muito frequente. Se eu perder eu vou buscar lá. Se não, se é um jogo eu prefiro ver na TV. Na internet, às vezes eu tenho um compromisso aí eu acompanho ali só pra ver né. A TV é mais confortável, se senta no sofá, se acomoda mais, se tiver preguiçoso às vezes você dá uma esticada no sofá também. Celular você tem que ficar segurando, tem que tá ali… Não é fácil. J: Agora mais em relação ao celular, qual a função dele na sua vida? Celular e computador, computador você tem costume de acessar?


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S: Sim. J: Você tem computador aqui? S: Tem um PC. J: E você tem costume de acessar os dois no dia a dia? S: Os dois. Aqui se eu vejo uma coisa no celular aí quero ver mais detalhado eu vou lá e ligo o computador. A tela é maior, tem mais conforto, então né. Aí quando é pouca coisa eu vejo no celular e me contento. Aí se eu quero ver mais já vou lá no celular, que a tela é maior… Direto acesso ele. J: Tem algo que você faz mais pelo computador do que pelo celular? S: As compras que eu faço mais é pelo computador mesmo. Eu gosto de comprar muito pela internet. Tudo que eu gosto de comprar eu faço as pesquisas de preço, que hoje é legal pela internet dá pra comprar em muito site confiável, aí as minhas compras eu faço mais pela internet. J: Você não tem receio de fazer compras pela internet? S: Não que até hoje eu não tive problema nenhum, faz muito tempo que eu compro. Eu já vou direto naquelas lojas que a gente já tem mais conhecida, que tem uma segurança a mais… Eu faço bastante compra e nunca tive assim, nenhum problema. Graças a deus, espero que não tenha também, porque se tiver eu já tesoro. J: No celular, tem algum aplicativo que você usa mais? S: Tem o meu do banco que eu acesso muito do banco né. Facebook também né, que a gente gosta de tá vendo o acesso dos amigos, as fofocas dos amigos. J: Facebook é mais pra isso né. S: Mais pra isso, mais pra ficar sabendo da vida dos outros. Mas eu acesso mais é internet às vezes o aplicativo do banco… J: Whatsapp…? S: Whatsapp também uso, a gente tem os grupos da gente de amizade, de amigos, de pescador, que eu tenho um grupo de pescador, aí tem os amigos que é pescador, “vai pescar?”, a gente coloca alguma coisa ali. J: Você falou do Whatsapp, Facebook, tem alguma outra rede social que você usa? Instagram, Twitter… S: Não, eu tenho mas acabo usando bem pouquinho. Bem pouco. É mais o Whatsapp, o Facebook e o aplicativo do banco que eu acesso mais.


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J: E e-mail você tem? S: Tenho. J: Você usa ele pra alguma coisa hoje em dia? S: Uso mais email pra compra, pra quando eu vou fazer alguma compra, aí preciso confirmar alguma informação aí que eu passo meu e-mail. J: Mas não é uma coisa que você use muito no seu dia a dia. S: Não, dia a dia… Vamos supor que eu vá usar uma vez por semana. Você que trabalha vai usar uma, duas três vezes por dia. Eu entro no e-mail pra, fiz uma compra, eu vou ver o e-mail pra ver se tá tudo certinho, aí acesso ele várias vezes. Se não tem nada que eu comprei eu fico cinco dias, oito dias sem olhar. J: Você sabe dizer quantas vezes por dia você acessa as redes sociais. S: Olha, no mínimo umas oito ou dez eu acesso sim, pelo menos por dia dá pra dar uma fuçadinha assim. Pra ver se tem uma coisa nova… Eu não sou muito viciado, tem gente que é mais viciado. Eu sou assim porque eu gosto de controlar, eu tenho um amigo mesmo que ele, ele acorda, a gente viaja as vezes, ele acorda 2h da manhã e vai abrir celular e ficar olhando as coisas, pesquisando as coisas. Então eu já tento não chegar a esse ponto, viciar muito, porque se não você acaba ficando viciado. Porque vicia. Ele é assim, ele é muito maluco, você tá no restaurante, ele tá fazendo uma refeição, ele tá ali no celular. Eu procuro usar aquilo que eu quero, essencial, e deixar ali no cantinho. J: Acaba ficando meio incômodo né. S: Fica, porque você num restaurante, você tá ali se alimentando e a pessoa tá [sinal de rolar o dedo no celular], né. Eu acho chato, acho bem chato. É igual você tá conversando com uma pessoa aqui e o cara tá no Whatsapp, Facebook, não tá nem prestando atenção na sua conversa. Aí de vez em quando, “hã, o que você falou?”, não é legal. J: Eu também não gosto de lidar com isso. Tem algo que você gosta de fazer pela internet? Seja pelo celular ou computador. S: Sim, eu gosto de ver carros, pescaria… É isso que eu goosto mesmo, pesquiso carros. Por mais que eu não vá comprar eu gosto pesquisar carros, ver preços de carros. Pescaria, tudo que é novo de pesca essas coisas sempre tô… J: Você tem interesse por carros? S: Tenho, olho muito, acesso.. E coisas de pesca.. J: Tem grupos no Facebook que você acessa sobre isso? De carros, pescaria.


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S: Tenho grupos de amigos assim, mas não específico de pesca. Tem no Whatsapp eu tenho de pesca, tem uns três grupos de amigos de pesca. Tem uns amigos diferente mas não tem, é mais no Whatsapp. PASSADO DO CONSUMO J: Agora falando mais do seu consumo de midia no passar da vida. Você me contou que você começou a ver televisão com seus 15 anos, sua primeira televisão… Você lembra quando vocês tiveram sua primeira televisão que não era de motor, que era conectada na rede elétrica? S: Sim, logo após que nós mudamos pra cidade, em 83, aí nós já compramos uma energia no caso, que nós saímos da fazenda, fomos pra cidade e já compramos o acesso a energia, era um daqueles tubão mas era energia. J: Nessa época você tava no Exército? S: Nessa época ainda não, em 84 eu entrei pro Exército. J: E foi muito caro pra vocês fazer essa compra? S: Foi, era caríssimo, a gente, eu sei que minha mãe, meu pai, eu trabalhava também na época, sei que nós ajudamos tudo ali pra comprar a TV, e ainda assim não foi fácil, ainda teve que parcelar, no preto e branco era ainda. Então foi bem difícil, questão bem difícil. J: Em Jardim tinha muita gente com televisão? S: Já na cidade tinha, quando a gente foi pra cidade, a maioria tinha. Só na onde a gente morava, a vila que a gente morava, o bairro ali, a maioria já tinha TV. Os conhecidos tudo… J: Como era a programação dessa TV? O que vocês assistia? S: Minha mãe assistia muita novela, que ela gostava de novela, e nós assistíamos mais jornal, mas também, e futebol. Meu pai gostava de futebol… J: Mas tinha muito jogo passando na TV? S: Quando tinha era mais quando tinha mais frequência de futebol era na Copa, aí que passava com mais frequência. Quando não tinha assim era difícil, mais jornal. Agora minha mãe via as novela dela, todas que tinham ela seguia na época. Gostava muito. J: Você lembra que horas você assistia esses jornais? S: Dessa época eu não lembro. Lembro que via de manhã, mas o horário mesmo eu não lembro. Não tem específico né. Só sei que era de manhã, acordava


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de manhã e já ia ligar. E a noite tinha o jornal da noite. E era muito cedo, ovcê levantava e ia pro trabalho. J: No trabalho não tinha acesso. S: Não, no Exército não tinha acesso a isso daí. J: Quando vocês compraram sua primeira TV vocês já tinham o rádio, você já tinha telefone? S: Não, não tinha não. J: Nem quando mudaram pra cidade? S: Não. J: Quando vocês foram ter? S: Telefone, telefone mesmo, eu fui ter quando eu tava com um certo tempo já de casado que eu tava morando aqui. Depois eu fui ver ter telefone fixo… Mudei pra cá por 90… Foi em 95 que eu fui adquirir uma linha. Minha mãe também já foi ter acesso lá da onde ela morava. Bastante tempo assim. Eu já não morava com ela. J: E vocês conversavam pelo telefone? S: Isso, na época a gente usava bastante pra conversar. Eu morava na fazenda, enquanto morava lá não tinha, tinha os parente de São Paulo, Rio de Janeiro a maioria, aí era só nas cabinezinha, que você ia lá, pedia uma ligação, aí uma hora, duas horas depois que a pessoa avisava que tinha uma ligação, era mais ou menos por aí. Era difícil. Você tinha que ir lá, não sei porque demorava tanto. Era difícil, meu acesso ao telefone mesmo foi em 95, 96… J: Falando mais da televisão em si, você lembra quando vocês tiveram televisão na casa de vocês, vocês assistiam mais junto ou separado? S: Era todo mundo junto. Quando podia reunir todo mundo, tava todo mundo na sala. De manhã quando a gente acordava, ja ligava pra ver o jornal, quem tava acordado ali já tava tomando o café e vendo. E a noite também na hora que ia reunir. J: Isso aproximou mais a família de vocês? S: A gente tava sempre junto ali né. Que sempre também, ficava… J: É que vocês era meio isolados né. S: É, vamos supor que a gente morava na fazenda, o vizinho mais próximo ficava a cinco quilômetros Então… Era difícil, estrada ruim, acesso ruim,


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então ali a gente já era unido e a TV unia mais porque trazia pra próximo. Quando não tinha, cada um ia ouvir um rádio, minhas irmãs gostavam de ler… J: Tem algum programa assim que te marcou na televisão? Não precisa ser muito do passado, pode ser mais recente… S: Rapaz o que mais me marcou foi a morte do Ayrton Senna. Marcou bastante, toda vez que eu vejo eu… Até não gosto de ver Fórmula 1 por conta disso. J: É uma lembrança muito forte né. S: Muito forte, eu tava trabalhando com caminhão na época, a noite, era um negócio que tava rolando no Japão, de madrugada… Só sei que eu levantei bem cedo, fui ver de madrugada, era cedinho. Tinha chegado bem tarde de viagem, aí quando eu comecei a ver foi o acidente. Até hoje quando eu vejo Fórmula 1 vem o acidente dele ali. Aquilo que me marcou muito, do mais. J: Foi em 98 né. S: Foi em 94… 92, que foi a época que nasceu minha filha. Foi 92. J: É mais antes de mim… Entendi. Depois que você começou a trabalhar, seu uso da televisão diminuiu? S: Sim, bastante, porque não tinha tempo né. Eu saía pra trabalhar 3h30 da manhã, chegava 14h. Então usava mesmo a televisão pra ver bem pouco, um futebol ali, não podia ficar muito tarde porque tinha que levantar muito cedo pra ir trabalhar. J: E quando você começou o trabalho de motorista isso continuou. S: Sim, era bem pouco tempo. Às vezes até o próprio esporte que eu gostava eu deixava de ver porque tinha que levantar de madrugada. J: Você levantava de madrugada mesmo quando você trabalhou na Assetur? S: Sim, no tempo que eu trabalhei no ônibus, os 11 anos eu trabalhei de manhã, primeiro horário. Saía 4h30 da garagem então eu tinha que sair daqui 3h da manhã. J: Não dava pra ver o jornal. S: Não dava, de manhã não dava, o do meio-dia não dava porque chegava era duas horas da tarde, então o da noite a gente via. Terminava o jornal a gente já se recolhia também, porque tem a correria do outro dia também. J: Aham, em relação ao celular, à internet… Você lembra quando você teve seu primeiro acesso à internet?


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S: Primeiro acesso...Eu vim ter acesso à internet depois que minhas filhas começaram a estudar, aí compramos um computador pra elas fazerem a pesquisa delas. J: Isso era quando? S: Isso era… Deixa eu ver… 95 eu já tava aqui, acho que era lá pra 92, 93.... J: Mas já dava pra… S: Não, era mais, eu mudei pra cá em 95, então era 98, 99 que eu fui comprar um computador. As meninas já tavam estudando, e tinha umas pesquisa que precisava fazer, aí acabei comprando o computador. J: E esse computador já tinha internet? S: Tinha quea gente tinha uma linha do telefone, em 95 adquiri a linha de telefone, aí quando a gente comprou o computador a gente já tinha acesso. J: Mas era aquela internet discada…. S: Ish, bem lento. Era 250 kbps… Era o que tinha aqui né. Era demorado, depois foi melhorando, foi a 500 kbps, daí 1 mega, daí já melhorou. Passou do mega aí já ficou… Não precisou ficar dando muita corda. J: Não ficou aquela coisa impossível. S: Não, igual aqui a gente tem a de 6 mega aí baixa rápido. Não tem nem comparação, e essa que tem aqui da Oi, via cabo aí, eu saí dela há 15 anos que eu tinha. Que 2 mega eles não conseguiam aumentar o espaço aqui, nunca tem. Aí troquei, coloquei aquela uma “fibra ótica” né, que tipo rádio não vira. J: Como funciona essa fibra ótica? Que até agora não entendi. S: O rapaz me ensinou o dia que ele veio aí Que eu falei “ah é via rádio?”, “não, é fibra ótica, essa é melhor”. Aí assim, pra mim ela é boa porque resolve, mas a explicação toda eu não tenho. Eu sei que ela tem uma antena, ele coloca uma antena aqui. Aí tem uma central da antena, ali pro lado do Santo Emília. Ele coloca o modem aqui, aí a antena pra receber o sinal… J: Mas a fibra ótica fica onde? Porque não é um cabozinho? S: Então, segundo eles eles falam isso aí só que aqui eu acho que eles mandam a ráido, porque só tão ali. Eu acho que de lá da central deles chega a internet aqui via rádio. Acho que lá chega a internet via fibra ótica e depois eles distribuem pra gente via rádio. Mas funciona bem, porque as outras funciona via rádio e distribui via rádio, então fica muito… Muito baixa qualidade.


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J: Você falou que teve a nternet pela primeira vez em 98 né. Você já tinha utilizado disso antes? S: Não, nunca tinha visto.Quando as meninas começaram a usar aí que eu peguei o jeito de mexer no computador. Tanto é que eu nunca fiz um curso na área, fui aprendendo meio aleatório, ali no… Direto no computador, dava uma mexida ali.... J: Você não precisou muito daquela clássica ajuda dos filhos? S: Sim, precisei bastante, porque elas eram criança, adolescente. Pega mais fácil, tanto é que elas fizeram curso, eu paguei pra elas fazerem, aí quando eu tinha dificuldade elas iam me ensinando, as ferramentas que tinha, o que tinha que fazer… Então peguei o basicão assim com elas, o ponto de partida foi elas. J: E você lembra que tipo de site você acessava quando começou a usar a internet? S: Eu acessava mais pra ver… De parte de carro assim pra ver né, ver essas coisas, ou ver uma reportagem assim…. J: E tinha uma disponibilidade na internet de informações sobre essas coisas? Sobre carros.. S: Tinha, tinha, você conseguia abrir ali, quando você botava ali você conseguia informação. J: Mas deviam ser mais blogs… S: Sim, não era direto igual esses que tem hoje, OLX, esses que é específico só pra aquilo ali, mas você tinha… Não lembro bem o que eu acessava mas eu lembro que eu via. Tanto é que na época eu comprei um carro, aí eu vi, fui procurar, aí minha filha falou “procura no computador pai”, aí fui procurar e consegui. Um senhor tava vendendo, aí eu peguei, liguei pra ele e fechou. J: Isso era lá em 98? S: É, 98 ou 99. J: Nossa, você fez algo aí que todos os entrevistados que eu tive nunca me contaram, que é uma compra pela internet nessa época. S: Então, eu acessei, o cara tinha colocado lá um anúncio, o telefone dele, que vendia o carro. Aí eu não lembro assim bem específico. O telefone dele eu liguei, e foi. J: Não foi uma conversa direto pela internet. S: Não, foi pelo telefone. Também não tinha essa habilidade na época, aí eu peguei o telefone, liguei pra ele, foi até um Monza que eu comprei.


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J: Interessante. Porque pra mim que na internet do passado era uma coisa que não dava nem pra encontrar pessoas de Campo Grande, entende? Mas do jeito que você ta falando parece que era mais disponível essas informações. S: Tinha, eu não lembro assim como eu encontrei, exato, que foi tanto tempo, 20 anos quase. Então você não tinha, um OLX, um shopcar, que é específico pra isso aí, mas já tinha... J: Como você passou a usar a internet depois que você começou a trabalhar? Você já tava trabalhando como começou a acessar, perdão, você usava no seu trabalho? S: Não, que eu chegava, preparava o ônibus e ia pra rua trabalhar. Aí voltava, só aí. J: Quando você começou a ter smartphones no serviço você não utilizava? S: Não, tanto é que era proibido também, não podia. Telefone se a empresa visse você atendendo um telefone, vinha o fiscal, chamava… J: Isso na Assetur ou nas outras empresas? S: Na empresa em si. Porque a Assetur na época nem Assetur não era. Antes era as empresas que tinham, que era a Viação Morena quando eu entrei e a Campo Grande que era lá na Ana Maria do Couto. Aí tinha a Agetran que tomava conta, que era só a gência da Prefeitura. Aí depois que eles criaram, lá por 2000, que era a Assetur, que era a parte das empresas. Tipo um setor de controle das empresas. Que antes só quem controlava era a Prefeitura, a Agetran. Aí depois virou tudo Guaicurus né, tudo as empresa num grupo só. Mas na época não dava, você tinha que ir trabalhar de tênis. J: Tinha uma norma. S: Tinha uma norma que você tinha que respeitar. Então você tava com o telefoninho aqui, que mais pro final, por 2012, tinha já o smartphone. 2006 não que não tinha nem smartphone na época, era só os pequenininho. Então, quando era pra atender, se chegasse no terminal, aquele tempo que você tem, de cinco minutos, aí você dava uma olhadinha, mas no trabalho mesmo, se pegasse era punição. Então a gente não tinha muito esse hábito de tá nem ligando pra ninguém. Se era pra ligar pra empresa porque aconteceu alguma coisa a gente usava muito orelhão, que a empresa dava cartão. Aí depois eles criaram um 0800, aí foi modernizando mais, aí você podia ligar pra empresa pelo 0800 pra evitar custo né. J: É aqui acho que já fechamos as perguntas relacionadas ah… Ah não, tem um assunto que não entrei que é importante, você tem costume de ir ao cinema? S: Não.


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J: Nunca teve? S: Fui, algumas vezes bem assim, não tenho muita paciência. J: Porque você falou que já não gosta muito de filme. S: Isso, filme já não é… A gente ia no cinema quando eu era criança que meu pai levava a gente no cinema quando era aquela Paixão de Cristo lá. Aí a gente ia, saía especificamente da fazenda só pra ver aquilo ali. J: E onde vocês assistiam? Tinha cinema em Jardim? S: Tinha cinema. Aí a gente saía era tipo, de ano em ano que a gente ia, era o mesmo filme. Mas era legal, pra nós era super divertido. Mas depois, passado o tempo eu fui crescendo aí não me chamou mais atenção pra ir. J: Hoje em dia você nem… S: Não, cinema nunca fui, minhas filhas vão, minhas esposa vai, mas eu não curto, já por causa do filme, que eu não sou muito chegado… Se fosse um esporte lá passar lá no cinema, um esporte de pesca grande, eu até iria, mas o filme já não chama muita atenção. HÁBITOS DE CONSUMO J: A gente tá na reta final da entrevista, pra gente falar mais dos seus hábitos de consumo na atualidade de novo. Você só vê televisão aqui na sala? S: Não, eu vejo muito no quarto também. Que até minha TV a cabo é no quarto. Que eu gosto de ver mais esporte aí minha esposa não gosta, reportagem, aí eu acesso mais no quarto. A maioria no quarto. J: E ela fica aqui. S: Ela fica aqui que ela fica vendo os filme dela na sala. J: E vocês não assistem muita televisão juntos né? S: É difícil, assim, às vezes vê, que é mais sozinho. Eu vejo as partes que eu gosto ela vê as que ela gosta. Separado. J: Você tem costume de ficar trocando de canal enquanto vê televisão? S: Troco muito. Às vezes to ali, se não for aleatório, se for fixado aquele que tá ali tudo bem, se não eu mudo procuro até um outro… Se eu não tiver assistindo aquele específico eu mudo. Aí eu entro num canal de esporte, entro num de pesca, vou procurando, até achar um que… Então muda bastante. J: Porque você acaba fazendo isso?


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S: Por opção, porque de repente eu quero ver um esporte lá, aí não sabia o uqe eu ia ver. To lá vendo um jogo, aí é tipo jogo do Corinthians. Num gosto do jogo do Corinthians, aí vou procurar. Se tiver outro, aí eu paro, se não tiver daí eu vejo o do Corinthians. Até futebol argentino… Então procuro pra ver se tá passando algo mais interessante. Se é aquilo que me chama atenção., chego ali e vou até o final. J: Onde você acaba acessando mais a internet na sua casa? S: Mais no celular mesmo. J: Não, não, digo em que cômodo? S: Ah, comôdo… Aqui na sala, mais é na sala. Que às vezes eu venho pra cá, fico aqui e acesso. O computador fica no quarto de uma das minhas filhas. Aí quando eu vou acessar pelo computador acaba sendo no quarto. J: Quando você tá na internet, você tem costume de fazer várias coisas ao mesmo tempo? S: Não, eu vou na internet eu vou ali só fazer ela. Eu vi, desacesso ela e vou fazer o que tenho que fazer, outra coisa… J: Só pra finalizar, você tem costume de conversar sobre o que você vê na internet? Na televisão... S: Muito, converso muito. Se eu encontrar a pessoa que vai no foco daquele, que tá sabendo daquele assunto, eu debato bastante. Debato e dentro daquele conhecimento que eu vi, às vezes eu estico muito a conversa com a pessoa. É do jeito que eu te falei, eu vi daquele jeito, eu consegui ver daquele jeito eu vou falar, “eu vi, foi assim, assim, assim”. Debato muito. J: Você tem mais costume de discutir isso em casa? S: Não, eu discuto onde eu estiver, que aqui a minha esposa não é muito de debater essas coisas. Às vezes quando tem um amigo pra vir, ou quando saio que eu encontro um amigo, entro naquele assunto, aí a gente vai…. Tem muita coisa pra discutir, a gente vê muita coisa. “Não vou falar de política”, você acaba falando. Entra num tema ali que você tá indignado, aí você entra e vai falando, e vai... 4. ENTREVISTA JOSÉ LUIZ, 54 ANOS, PSICÓLOGO FORENSE Entrei em contato com José por meio de meu irmão. Os dois trabalham juntos no Fórum Criminal de Campo Grande. Demorou cerca de duas semanas para conseguirmos acertar as entrevistas, pois José evitava conversas pelo Whatsapp e demorava a retornar ligações, e cancelou por duas vezes a entrevista. Mas nos encontramos num sábado de manhã, em sua casa no bairro Coophafé. Ele me recebeu e perguntou se queria fazer a entrevista na sala ou na varanda. Achei


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melhor na varanda, pois sua casa era muito bem arrumada e não queria estragar nada. Nos sentamos em cadeiras de fio que ele disse que fez ele mesmo, e depois de eu beber água e explicar um pouco sobre meu TCC, damos início à entrevista. Joaquim: Bom, primeiramente José, queria saber de você algumas informações pessoais, qual sua idade, seu nome, há quanto tempo mora aqui… Zé: Bom, origem Rio de Janeiro, nasci no Rio e vim pra Campo Grande em 1988. Trabalho como psicólogo perito no poder Judiciário, desde 1988. Passei em concurso e por essa razão vim pra Campo Grande. Eu passei, morava lá, passei no concurso, meu irmão me chamou “Zé, vem que você vai ser o primeiro”. J: E você sempre morou no Rio? Z: Não, por ser filho de militar a gente transitou, eu nasci no Rio de Janeiro, depois fomos morar em Quaraí no Rio Grande do Sul, meu pai depois foi transferido pra Santana do Livramento, também no Sul, depois de Brasília e de Brasília pra Campo Grande. Aí eu continuei estudando aqui. Na fase de fazer faculdade eu voltei pro Rio, a gente tinha apartamento lá, eu fiquei no nosso próprio apartamento estudando lá. Foi aí que depois de formado fazendo o concurso aqui eu fui chamado e vim atuar aqui. J: Você morou aqui antes? Isso foi quando? Z: Foi, quando criança, a primeira vez foi… Meu pai chegou em… No meio de 75, em 75 nós chegamos aqui, meu pai foi transferido de Brasília pra cá, baixou o posto de coronel e ele veio assumir no Comando. Aí entre 82 a 83 eu voltei pro Rio de Janeiro pra estudar, porque antes de fazer psicologia eu fiz, detalhe, fui fazer engenharia e não conclui. Então eu fiz engenharia na federal do Rio de Janeiro. Depois é que eu fui me decepcionando com a faculdade, algumas áreas, eu resolvi ir pra Psicologia. Aí eu fiquei lá, fiz PUC, terminei e vim pra cá depois com o concurso. J: Você passou por bastante capitais, mas faz pelo menos uns 30 anos que você mora em Campo Grande.. Z: 30 anos. Desde 1988 tô aqui definitivo. J: Não se mudou de novo? Z: Não, depois de 88 fiquei em Campo Grande. Fiquei por conta do emprego. J: E antes de trabalhar com psicologia, você já tinha trabalhado em alguma outra área. Z: Não, eu só fiz estágio de faculdade na área de engenharia, os estágios e dava aula particular, porque eu era bom de matemática, que é um desastre pra psicólogos, é um drama, aquelas matérias de estatística, coisas assim, e eu fiquei dando mais aulinha particular pra tirar uma renda disso.


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J: Você lembra quando você começou a ter essas ocupações? Além da faculdade? Z: Emprego.. Direitinho, carteirinha assinada, tudo bonitinho foi só o de 88, só com o concurso. Não tinha antes, eram trabalhos mais informais, não tinha compromisso com horário, carteira assinada. Até me arrependi, hoje eu poderia ter averbado algum tempo de trabalho em relação a isso. J: Mas você não lembra quando você começou a ter esses trabalhos? Z: Foi concomitante ao tempo da faculdade, já na faculdade o pessoal já apresentava essa dificuldade, vendo que eu era bom na matemática, eu já me aproveitei. J: Você lembra quantos anos você tinha nessa época? Z: No caso como eu te contei eu perdi um pouco de tempo porque eu fiz engenharia, depois é que eu mudei o curso. Até que eu me lembre eu entrei com 24 anos na faculdade, uns 25 anos. J: E quando você se mudou pra cá, você tinha família? Filhos, esposa… Z: Não, eu não tinha constituído família, era livre. Solteiro, tudo de bom. Foi aqui também que eu conheci a Rose que é mãe dos meus filhos. Nos separamos, depois de nove anos que tivemos o Matheus, hoje ele tem 30 anos, tudo acontecem em 88, e ele mora comigo ainda, deve tá daqui a pouco chegando aí. J: Faz uns 21 anos que você tá separado então. Z: Foi, foi… J: E foi seu único filho? Z: Foi, meu único filho. J: Tem outros parentes em Campo Grande? Z: Tenho só pai e mãe, as minhas duas irmãs e o meu irmão. O meu outro irmão mora em Vitória, ele é geólogo da Petrobras. O resto da família, a origem é toda do Rio de Janeiro. Não se desfez disso. J: Quantas horas por dia você trabalha? Z: Quantas? A gente trabalha de segunda a sexta, 6h por dia. Eu entro às 7h e saio 13h. J: E você não leva trabalho pra casa?


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Z: Não, não, a pessoa pergunta, “porque você não trabalha em outra área, não atua”... Eu acho Joaquim o nosso trabalho lá muito cansativo, muito desgastante. Fazer perícia com pessoa em litígio, em briga de Vara de Infância, em briga de Vara de Família, é cansativo. É pesado, eu costumo dizer, dinheiro é bom? É, não vamos ser cínicos. Mas não é tudo, além de que eu fiquei com a questão de cuidar do Matheus, então eu tive que contornar essa situação, dedicação ao filho e ao trabalho. Como é que eu contornei, eu ia pro trabalho, deixava ele na escola, na saída da escola eu passava e pegava ele, e isso deu muito certo. Tanto é que eu nunca tive empregada. E ainda economiza. CONSUMO CULTURAL E MIDIÁTICO J: Agora Zé, falando das mídias em si agora, você sabe me dizer quais mídias você usa no seu dia a dia? A respeito não só de celular, televisão, computador, mas também rádio, revistas, jornais. Z: Olha… Computador eu uso no trabalho, eu sou bem… Fora um pouco da casa da mídia. Televisão. Posso começar pela televisão? A minha televisão ela já tá até desconectada. Só a do meu filho no quarto dele que funciona. Porque? Não suportava mais repetição de programas e programas, a meu ver, nada a ver. Então nesse ano agora, em janeiro, eu falei “Meu filho, eu vou cancelar o meu ponto, porque não tá me servindo pra nada”. Cancelei e agora só tem no dele. J: Você não tem nem sinal aberto aqui? Z: Aqui não, no quarto do meu filho, da NET, aquela NET, Netflix lá pra ele. Eu desisti de ver TV. Esse ano eu desisti, esse ano agora, em janeiro. J: O que fez você desistir? Z: A repetição da programação, e a péssima qualidade, na minha concepção. J: O que mais pareceu ruim pra você na televisão? Programas jornalísticos… Z: O quê? J: Perdão, eu não posso citar se não vou estar… Z: Induzindo… Assim, além da repetição da programação, que você quer assistir algo diferente, você já assistiu tudo. E dentro da minha concepção a programação peca por qualidade. Por exemplo, aí vem das gerações, vou comparar então só pra você ter uma noção. Jamais assisti esses programas estilo Big Brother. Nunca, eu me recuso a isso. J: Reality shows… Z: Nunca, eu acho isso uma baixaria, uma vulgaridade, que não entra no nível que eu… Entendeu? Porque eu fui educado a valorizar esse tipo de exposição


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pessoal? Não tem nada a ver. Esses programas de “fulana é rica, fulana é poderosa, fulana é não sei o que”, tem muitos programas desses que eu não vou nem saber te dizer… J: Programas de celebridades, famosos né? Z: É, eu acho que você vai entender até melhor o que eu to dizendo… Eu nem decoro esses programas o nome. Mas é não sei o que Masterchef, não sei o que quem cozinha bem, quem cozinha mal, quem queima panela e leva bronca… Quem se veste bem, quem é brega…? J: Isso tudo você não assistiria nem pelo entretenimento? Z: Não assistia. J: O que você prefere assistir pra se entreter? Z: Eu prefiro aquilo que, pra mim, televisão existe, que são documentários e filmes. Aí filme eu não tenho nenhum preconceito, sou bem versátil, as pessoas estranham, “ah mas você assiste filme de terror?”. Sim, assisto filme de comédia, um filme de romance, de aventura ou um filme policial. Mas também detalhe, eu assisto não são todos os filmes, não são todos os gêneros. Eu acho assim, que os filmes às vezes eles são apelativos. Por exemplo, eu gosto de uma comédia, que mesmo que vez ou outra ela lance mão de um palavrão, ela não precisa ser apelativa. Homem pelado, mulher pelada, eu não acho graça nisso, eu não vejo graça nisso. Isso pra mim é mais pro tempo que a gente chamava da “pornôchanchada”, que acho que você já ouviu falar, que é mais dos tempos do meu avô, uma mistura de pornô, com gozação, com aventura. Uma coisa apelativa. Então eu sou bem assim Joaquim, se você tá me dando um filme de comédia, deixa eu rir. Se é um filme de aventura, vamos fazer um filme realmente de suspense, inteligente. Coisas apelativas, a coisa fácil não me atrai. Entendeu? É uma questão mesmo de gerações. J: Engraçado, porque é uma coisa que eu já ouvi de outros entrevistados. “Ah a programação é muito repetitiva”. Só que o que eu queria saber, é que tipo de programa você acha repetitivo? Z: Todos. Pra quem tem esses canais pagos, todos. Você chega uma hora, eles ficam repetindo todos os filmes de todos os gêneros, e os documentários, até a gente saturar, sabe. Porque não existe uma produção anual suficiente pra suprir - tanto - tempo. Quando eu era criança, eram dois três canais. Eu peguei o advento da televisão colorida chegando no Brasil na década de 70. Foi em 74. Meu pai fez até reunião de família, “gente, vamo comprar uma TV colorida ou vamo trocar o carro”, de tão caro que era uma TV. Aquelas grandes 26 polegadas. Foi uma festa. Então você tinha dois, três canais. Eu não sei se você sabe disso, a programação ela tinha um início pro canal entrar no ar, e ela saía do ar 23h, 00h, e pronto, acabou. Acabou. Tava lá, corujinha da Angélica, da Globo, ”Boa noite pra vocês”, e tchau.


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J: Quando eu era menor eu peguei ainda uma época assim, que eu lembro que tinha vez que eu acordava tão cedo que ainda não tinha programação passando. E hoje em dia tem programação pra tantos canais, e toda preenchida. Z: E tem que produzir pra agradar todos os públicos, né. O que que eu percebo. Se eu pago, um canal pra me dar programação 24h por dia, é automático que eu cobre isso, apesar que o meu tempo que era normal, entrar a programação as 8h e sair as 8h da noite. Você se habituava aquilo, era assim que funcionava a coisa. Agora, se você me promete 24h de programação, e eu to pagando, então me dê isso. E me dê também na minha faixa de idade, no meu interesse. E aí é um desastre total, como você vai atender, gerar tudo isso? J: O grande problema desses canais pagos é isso né, uma gama incrível de canais mas não é direcionado. Z: Eu acho isso uma máfia, você não pode compor os canais, você compra um monte, paga por isso, isso foi um problema que me fez desistir. Porque vamos jogar pro computador, que também vem, não é do meu tempo. Eu fui começar a ter contato com computador na faculdade de engenharia - se você quiser voltar pra televisão você me cutuca -, então, o que aconteceu? Com a vinda do computador, eu só tinha acesso no laboratório, porque o computador caseiro era algo caríssimo, era proibitivo. Era uma telinha preta, letrinhas verdes que iam aparecendo. Então eu só fui ter computador também, que eu saiba, entre 96 e 97. J: O seu. Z: O meu, pessoal, caseiro, no meu quarto. Até porque eu morava com os meus pais quando eu me mudei pra cá. Eles até hoje inclusive não usam o computador. Eu acho que foi entre 96 e 97 que eu adquiri, porque eu senti uma necessidade por conta de quê? De você começar a fazer, precisar fazer uma pesquisa, alguma coisa, e também depois que eu entrei pro trabalho, relatório em casa. Foi por aí. Então o computador ele teve pra mim, uma utilidade de trabalho, e lógico que você com a internet, que também era um horror, que era aquela discada por telefone. J: Pera, você já tinha internet? Z: Já, que era aquela discada por telefone, que horror, ocupava a linha telefônica, tinha que desligar pro fulano usar o telefone. J: Você lembra se vocês contrataram provedor? Z: Pera, tinha, tinha, era você contratava um provedor, tinha aquela… O do cachorrinho que era o iG… Tinha o UOL… Eu lembro mais do iG e do UOL. Enfim, você fazia isso, você configurava lá o computador, coisa que não fui eu que fiz, foi um colega de trabalho, e aí no meu trabalho tem também a parte do pessoal de informática, então até hoje quando dá um problema no notebook são eles que me socorrem. Porque eu não sou bom nisso, eu não sou rato de computador, eu sou bem básico, não adianta você me pedir, eu fico bobo de ver, vocês, os guris, isso aí [aponta pro celular], esquece… Não é que eu não consigo, não tenho interesse.


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Porque como eu não nasci com isso, a gente não sente falta talvez como vocês sentem necessidade né. Vocês sentem isso né, meu filho sente. Então como eu te falei, TV o que que era, era noticiário em família, ver o jornal. Ver os programas e os documentários, ponto. J: Mas era assim que você utilizava a TV no começo? Z: A TV era só isso, não tinha canal pago. Não existia, eu nem vou saber te dizer quando que foi surgir o canal pago. Porque? Porque depois do Matheus tudo, foi com aqueles canais básicos mesmo, pra criança eu sempre gostei da TVE. Queria preservar ele de programas desses do SBT, Globo, que a gente sabe que a qualidade também é outra muito mais comercial. Então eu preferia esses programas bem educativos, que ensinavam, educação, higiene… Eu sempre fui muito a favor disso. Eu só fui ter a TV a cabo, eu acho que foi quando o Matheus tinha de 11 pra 12 anos. E aí ele começou a comparar com os colegas da escola, aquela coisa de influência social, “pai, mas TV tem programação legal, papapa”, foi aí que eu contratei a NET, e ficou até hoje e eu cancelei o meu ponto. Então, eu preservei mesmo, eu segurei, porque como pai a gente tem a obrigação de escolher aquilo que a gente transmite de valores pro filho. Já basta o que a sociedade te incute dentro de uma escola, de um ambiente social. Então o que eu pude preservar de lixo, porque eu considero lixo, me descuple, eu preservei. J: Entendi. Z: O computador, também é um absurdo, tem gente que deixa a criança fazer qualquer coisa aí. Perigosíssimo, tem pornografia, tem essas coisas, chats que chamam né? Essas coisas. J: Hoje em dia as crianças driblam totalmente os pais nisso. Z: Driblam total, então eu era contra. Até o Matheus ter 11, 12 anos, eu controlei tanto a questão da televisão quanto do computador. Aí eu comecei a liberar mais o acesso a internet, o acesso mais livre. Eu comprava DVDs, tenho pilhas de DVDs até hoje de desenhos e filmes antigos que a gente assistia, porque eu queria reservar. Você vê aquilo que eu to dizendo, uma comédia do meu tempo que hoje em dia pode parecer pastelão pra geração de vocês, parecer até ingênua ou idiota, sem nenhum palavrão, sem grandes apelações. Então quando você é criado com essa referência do que é uma comédia, uma aventura, você começa a não aceitar esse tipo de filme, apelativo. Parece que não tem o que te mostrar sabe? Que não tem o que criar, “preenche lá com uma cena de sexo”, não faz sentido pra mim. J:Agora voltando um pouco pro presente Zé, além do serviço, pra que mais você usa o computador no seu dia a dia? Gosto de carro. Então por exemplo, eu gosto de carro antigo, se você perguntar pro seu irmão ele vai ver, que eu indiquei pra ele vários sites de carros antigos. Eu falei pra ele, “cara, mas você não conhece isso, vê esse modelo”. Então essas coisas me empolgam, de ensinar os mais jovens. J: Você gosta dessa pesquisa.


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Z: Quando você encontra algo na televisão e você fala “olha Joaquim, assiste, tal”, “Joaquim é um filme muito preto e branco, mas você vai ver um conteúdo histórico nele”, eu acho isso muito inteligente e interessante. Agora, essa coisa que eu enquadro, seja do computador ou da TV, que eu considero totalmente distorcido com questão de informação ou entretenimento, pra mim eu já classifico como lixo. Pra mim isso não serve. J: E celular, pra quê você usa? Z: Eu tenho celular, mas é aquela coisa, só me liga. Celular pra mim, não é pra ficar me incomodando, mandando fotinho, mensagem, piada sem graça, isso já não preenche pelo Whatsapp. Use o Whatsapp pra que, pra uma informação, pra algo mais consistente, igual você fez. “Zé, posso ir, to saindo”. Agora, mandar piadinha, mandar “Bom dia”, pombinha, espírito santo, “que seu dia seja ótimo”, tava ótimo até você me acordar com algo que eu achei que era importante, meu pai passando mal, minha mãe foi internada. Não me manda coisa idiota cara. O povo manda umas coisa idiota, umas piadinha sem graça, tem até um nome, como que o povo… como que chama, meme né? Tem até um … Você clica, aparece gente pelada… Não lembro. J: Eu não sei também, eu não uso muito grupo de Whatsapp. Z: É… E vou te dizer, isso não me importa. Desde os tempos das redes sociais, é, Orkut né, tinha Face… Nunca tive. J: Nunca teve nenhuma rede social? Z: Nada, nada, nada. J: Mas as pessoas nunca te incentivaram a ter? Z: Incentivam e tudo mas, é de novo. Não me atrai. Meu filho tem só o Face, mas ele pouco utiliza, é até um jovem que foge porque é o que ele fala: “pai, é tudo como você fala, tudo perfil falso, tudo gente falsa”, só posta coisa bonita quando a gente sabe que a pessoa tá lá na faculdade em depressão, fazendo até tratamento psiquiátrico, e a pessoa tá mandando o tal do “Bom dia”. E manda foto na praia? E por dentro tá toda destruída? J: Você acha tudo muito falso? Z: É que assim, como é que pra um cara como eu, que as pessoas construíam suas relações, como é que eu vou entrar num ambiente desses? É totalmente falso. É totalmente artificial. Eu sou do tempo isso aqui. Do tempo que chegava fim de semana, pai chegava, mãe chegava, vamo tomar banho, se arrumar que a gente vai pra sua tia. Vai pro seu vô. Vamo no vizinho tal. Quer dizer, o convívio social se perdeu. O pessoal fala “ah você não tem?”. Eu falei, “não tenho e não quero, eu gosto de vocês e quero que depois que vocês terminarem o estágio eu quero ver vocês, eu quero que vocês me chamem pra gente se encontrar num lugar legal, eu quero ir na casa de vocês, eu quero tocar vocês, eu quero abraçar vocês, eu quero brincar com vocês”. Isso de ficar, bom dia, e aí, isso não me serve.


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Tô fora. Porque isso tudo é questão de tempos, não era assim. Tudo, você sabe, as necessidades são criadas, e infelizmente tudo com muito apelo comercial. As pessoas compram a ideia, vestem aquilo e seguem em frente. Mas você consegue perfeitamente viver sem um celular. J: Quando você foi ter um celular? Z: Nossa… Vou te dizer, nem sei. Esse foi o que eu mais atrasei. Televisão já era uma coisa do meu tempo, como eu te falei, computador veio como eu disse, eu tinha acesso até na faculdade no laboratório, então meu contato com ele talvez já tenha sido antes de muita gente. Quando o computador foi lançado aqui o laboratório foi já se adaptando pra receber o computador, então creio que meu primeiro contato foi antes de um bando de gente. J: É, seu uso foi bem antes mesmo, muita gente que conversou comigo foi ter computador bem depois. Mas voltando pros usos da mídia, tem algum desses meios que você considere essencial? Z: Se for pensar independente do uso, seria o computador. Porque o computador ele me dá esse suporte pro trabalho, e também pra algumas pesquisas essenciais, inclusive na minha área. Que eu te falei dos bichinhos, porque eu gosto, eu socorro, eu ajudo como voluntário. Mas no trabalho, evidente que eu ia até os estagiários, a gente busca pesquisar algumas questões, de síndrome de pânico, do que existe de novo, alienação parental. Então, sim, seria pra mim uma coisa que eu… Eu não vou dizer que pra mim eu não viveria sem, eu acho isso muito forte. Viveria bem sim, até porque eu acho que a gente se afastou do que é mais natural, sincero, o encontro pessoal, o abraço, a conversa, e ficou tudo muito tecnológico, isso não me preenche, isso não me agrada. Então dizer que eu não morreria sem um celular, sem um computador, não. J: Mas ficaria prejudicado seu dia a dia. Z: Dentro desse mundo real, como ele é hoje formatado sim, me prejudicaria. Se a gente pudesse voltar no tempo, eliminar isso e voltar, aí sim. J: Ou se aposentar né. Z: Ou (risos). O Joaquim eu já vinha há anos, há anos eu ligava a televisão só no final de semana. Isso já tinha sido uma conduta. Eu já tinha desistido da televisão durante a semana. J: A programação diária não.... Z: Já não tava batendo. Há anos. Aí eu vou te dizer a verdade. Pra não estragar a TV, que eu já tinha ela, sabe aquela coisa de você botar carro velho pra funcionar? Então você liga pra não molhar o motor? Então eu ligava a TV nos fins de semana pra não terminar. E o desespero de procurar alguma coisa? Nossa. Então acredite. Teve dias que eu não assisti nada por inteiro, eu vi flashs, buscando. Sabe? E não via nada. Meu filho falava, “pai mas você já desligou?”, “já, só fiz a brincadeira”. Às vezes passava uma historinha, e acredite, eu sou mais chegado em


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filme infantil que acho mais engraçados, e mais ingênuos, mais puros. Aquelas coisas como um Rei Leão, um Era do Gelo, Madagascar, porque eu acho eles mais apropriados do que aqueles filmes ditos pra minha idade. J: E não dá pra dizer que eles são filmes feitos só pra crianças né, da Disney… Z: Não, eles são muito bem pensados, tem lição, tem crítica social, são inteligentes sim. Eu acho bastante legal. Então foi o que quase me restou de programação: alguns filmes, principalmente esses de histórias e comédias, algumas coisas aquele Cult, como é que era… Telecine Cult? Era isso que passava essas programações mais antigas. Então assim, a televisão já vinha me cansando, tanto que a prova é que eu vivo sem ela e desde o início do ano. Não sinto falta nenhuma. J: Entendo. Z: Celular eu não vou saber te dizer quando, e isso por forçação do filho. Não vou saber te dizer. Mas foi a ex, a Rose, e o Matheus, que foram na loja comigo de surpresa e falaram, “não, você vai comprar isso daqui, nem que seja um tijolão que só faz chamada”, e me fizeram comprar ali. J: E porque você era tão resistente a ter um celular? Z: Não vejo, não vejo finalidade também, não sentia. J: Você não acha que por causa do ritmo de trabalho, ou da vida social, não teria uma necessidade nem pra aquele pronto-atendimento? Z: Não. Não sentia necessidade. Às vezes eu até esqueço ele pra trás. Aliás, esse é meu celular mais tecnológico, os anteriores só faziam ligação e recebiam. Não tinha nada, eu nem sabia dizer essas coisas que tem no celular, Youtube, Whatsapp. É que parece que eles são fabricados pra dar pau né, daí deu pau, e como não tem mais opção tão simples, eu comprei esse que ainda é bem simples, você pode ver. Mas ele me serve, porque? Telefone pra mim, de novo, qual é a finalidade do telefone?... J: Fazer ligação. Z: Pronto. É entrar em contato com alguém. Eu tiro ele do fixo, que era o que existia no meu tempo. Você tinha um telefone fixo, e não era todos, era algo caro, era até considerado um investimento, você comprava linhas e vendia, não existia esse fácil acesso. Então você usava um telefone fixo. E você não rastreava portanto ninguém, certo? Você saiu de casa, você perde essa possibilidade. J: Ninguém tem como saber onde você está. Z: E ninguém morria por isso. Você andava, você saía, e quando você tinha uma necessidade, e foi como eu falei, a necessidade você cria, a aceleração você impõe, será que eu estando na rua, eu tenho necessidade de ligar pra casa e dizer, “meu filho, tô indo”? Bom, se eu to indo, eu to indo. Meu filho me ligou ainda


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esses dias, falou “pai, tá tudo bem aí? daqui a pouco to indo”... Tá… Ok… Tá bom filho, mas pra que me ligar pra falar isso? Não tem finalidade. O uso é besta. Então antes você contornava, numa emergência. E cá pra nós, emergência? É emergência. Até o sentido de emergência deve ter mudado. Porque hoje vocês jovens morrem se não tiver celular, morrem se o celular der defeito. J: É porque você não conhece alguns pais. Z: É, também desmaiam, também morrem. Já acham que alguém tá matando, tá roubando, pensa o pior. Olha a maldade com os velhinhos, quer dizer, criaram isso na gente, nós não éramos assim. Nossos pais não eram assim em relação a gente, e nem tinham como ser. Então o que que valia antigamente, o uso da palavra, “eu estou indo na casa do colega fazer trabalho”. Eu estou indo pra escola. Você tinha que confiar nisso As relações eram muito mais de confiança nesse sentido. E voltando pra história da emergência, o que que é uma emergência? Hoje as pessoas ligam pra histórias que, “ai você me manda o documento tal”, mas gente você poderia muito bem esperar eu chegar em casa e te mandar pelo Whatsapp uma foto do documento, ou pessoalmente no dia seguinte. Não tinha essa necessidade, essa emergência é mentira. Essa coisa de tudo pra agora é mentira. Tá? Então isso também se criou. Porque antes… Antes você viajava. Veja bem, eu saía daqui, de Campo Grande, a família no Rio de Janeiro, você vai pra um aeroporto, você pega um avião, você chega no outro aeroporto e você vai pra casa de um parente. Não falava com ninguém nesse trajeto todo. Alguém morreu? Desde que você saiu da casa, vamos dizer que meu filho ficou em casa com a Rose, você fez todo esse trajeto, você chegou e ligou de um fixo, “tá tudo bem, cheguei bem”. Aí eu te pergunto, qual é a necessidade de você chegar no aeroporto e ligar, “cheguei aqui no aeroporto, vou fazer a conexão”? “tô comendo não sei aqui, aqui o tempo tá horrível”...? J: “É filho, que coisa não?” Z: Você entendeu, a importância que dão? É aquilo que a gente falou também das redes sociais, as pessoas têm uma necessidade, dessa coisa do público, do privado, que eu preciso expor minha vida. Quer dizer, a pessoa vai narrando tudo que ela tá fazendo numa viagem pelo celular. Mandando foto, mandando mensagem. “O avião subiu”, que bom que subiu, espero que ele desça, né? Então essa coisa da necessidade, do “me diga aonde você está, com quem você está”, essa preocupação, é como meus pais falavam antigamente: tragédia, todo mundo descobre rapidinho. A desgraça você não precisa nem grande mídia, todo mundo dá o serviço. Coisa boa ninguém sabe. A desgraça você descobre logo logo, ser humano tem um gosto por tragédia… Então ninguém morria se você fizesse uma viagem de dias, andasse horas pela rua, ficasse no seu trabalho e voltasse pra casa no final da tarde, e ninguém saber onde você estava. Até porque, vamos ser sinceros, uma coisa que eu sempre pensei do celular: eu posso mentir onde eu estou, não posso? Não é óbvio isso pras pessoas? Deveria ser. J: Existem pessoas que pedem foto, eu já passei por isso. “E aí, onde você tá?”, “Ah, to em tal lugar”, “Manda foto”. Manda foto? Dá vontade de mandar a pessoa pra aquele lugar.


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Z: É isso que eu falei, o que é que vale? Se eu te conheço, se eu gosto de você, se a minha relação com você é real, e não fictícia, tem que haver respeito e confiança, se não você não é meu amigo. Não sei se eu to conseguindo fazer essa ponte de história de vida, com relação com a mídia. J: Não, não, eu entendo, o que você diz é que você acha isso tudo necessidade criada, do estar sempre acompanhando o outro, porque sua vida não era assim. Eu entendo o que você tá falando. Z: Sim, eu não vejo porque dar toda essa atenção pro celular. Eu acho de extrema falta de educação, já até falei isso pro meu filho, quando você tá conversando com alguém e a pessoa tá no celular. Ah, tenha dó. Você vai na casa de… Eu falo, “meu filho você tá na casa do seu vô. Para, né”. Vocês não param. Às vezes a gente tá conversando mesmo sobre coisas que supostamente interessariam os estagiários, carros, essas coisas, e de repente tá todo mundo assim. Eu falo “gente, vocês ouviram o que eu falei?”. Aí é sempre assim, engasga né, “ah, só um pouquinho, é que eu to mandando mensagem pra minha namorada não sei o que, o coordenador da faculdade”... Quer dizer, não vive, parece que o momento presente, aquele contato pessoal. J: Entendo. Z: Pera lá né. Eu resolvo coisas do meu trabalho no meu trabalho. Você já deve ter ouvido, “não se traz trabalho pra casa”, né? Trabalho você entra nele você começa a trabalhar, você sai dele e você não leva ele pra casa. J: É muito exigir essa divisão na minha profissão. Na área da comunicação em si, é sempre uma demanda constante de coisas que chegam pelo e-mail, pelo Whatsapp, que te cobram nas redes sociais… E é decorrente disso, desse avanço da tecnologia. Z: E é o que eu te falo, não sou anti-tecnologia. Só que eu acho que tudo tem um bom e um mal uso, e eu acho que a gente se perde nisso. Qual seria o bom uso da TV? Seria programas inteligentes, seria a gente poder sentar com a família sem ter a preocupação de ver uma mulher pelada na frente de uma criança de cinco anos. E aí você disfarça, “hehe, foi mal né filho”. Putz… E a mesma coisa com computador e celular. Pra você, o que seria uma boa ferramenta pro trabalho, fora… Vira, parece que você tem um GPS grudado em você, te acham quando quiser, te cobram, parece que você tem uma obrigação de responder aquilo. J: O Facebook aliás expõe onde você tá. Tem uma função que se tiver ativada, ele avisa, “fulano está a 2 quilômetros de distância de você”. Z: Existe isso?! J: É uma coisa que nem todo mundo sabe, as redes sociais são uns demônios que roubam sua alma por meio dos termos que você aceita. Mas ele avisa. “Tal pessoa está no seu bairro”.


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Z: Obrigado por essa informação, eu não sabia pra você ver como eu sou burrinho tencológico. J: Muita gente não sabe Zé. Z: Mas é isso que eu falo, são umas coisas, quer dizer, qual é a finalidade, qual é o propósito, sabe? Por isso eu te falo, eu fico perdido nisso, pra mim não tem consonância. Não tem, não tem… J: Zé, eu vou voltar um pouco mais pro roteiro, você tava falando que você sempre gostou muito de ver jornal, de ver documentários, filmes na televisão. Porque você tinha mais afinidade com esse tipo de programação. Z: Acredito que pela própria história de criação. Foi isso que existia no meu tempo de criança, era isso que meus pais assistiam nos poucos canais abertos que existiam. Eu acho que se desenvolveu um hábito de se esperar isso da própria TV. J: Sua família não tinha costume de ver novela? Z: Assistia, assistia com a minha mãe, nós assistíamos. Era outra coisa que eu tenho lembrança, que eu não vejo vocês mais jovens falarem tanto. Televisão reunia família. Você assistia a televisão em família, não era uma em cada quarto. Até porque o custo de uma televisão era alto. Então a TV ficava onde? Na sala, era quase um móvel principal. E você reunia a família, então o programa era escolhido em família. Nós vamos assistir o canal tal, ou tal? Até isso era discutido em família. Então eu criei essa hábito de programação de TV. TV era pra se assistir filmes, aí não importa o gênero, se era terror, aventura, um romance, um suspense ingênuo até por conta dos efeitos especiais, que hoje são muito mais interessantes mas também muito mal utilizados, quer dizer, o povo tem que mostrar quase que um esquartejamento, fazer aquilo. Precisa disso pra mostrar que o sujeito é um assassino? É de novo aquilo, aonde tá a necessidade da gente assistir isso? J: Você assiste séries? Z: Não, não… Nunca, não. J: Tem uma série que eu gostei muito, “The Handmaid’s Tale”, que mostra uma sociedade distópica em que as mulheres, a maioria delas fica infértil, e daí as férteis acabam sendo colocadas pelo Estado como… Como vacas reprodutoras mesmo, elas não têm direitos, só servem pra ter filhos. E eu fui ver agora a segunda temporada, porque a série tinha um tom feminista, e eu não aguentei. Porque tudo aquilo se perdeu, eu sentia que tava vendo um pornô de tortura, elas pareciam que tavam sendo torturadas o tempo todo, e não parecia necessário. Me deixava mal. É tipo isso né, o que você não gosta, dessa sensação? Z: É uma coisa que me preocupa, essa coisa muito explícita, que eu iniciei só na bobagem do sexo, mas foi bom você ter falado disso né, da questão do estupro, da violência, da tortura, isso abrange tudo. Eu falei do sexo porque foi a primeira apelação que a gente começou a ver nos filmes e achou desnecessária.


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Digo a gente minha família. Mas a gente vê como que é desnecessário, você tá me contando agora coisas que eu não assisti e nem assistiria. E é engraçado, porque vocês às vezes se permitem a assistir. Lembra que eu falei que eu me recuso a ver um BBB? Que nem tem essas coisas, mas eu já me recuso a ver só pelo nível de exposição, baixaria, de coisa comercial, de uma competição.... Pra mim é um lixo, mas tem gente que assiste. J: É que existe uma demanda né. Z: É que vocês jovens se permitem a isso. Você vê que, da minha geração, a gente bloqueou até certo nível. Não, TV é pra filme, eu não vou assistir pornô em TV. Internet? Beleza. Tecnologia? Fantástico, você poder fazer as coisas que eu faço, ver um carro. Esses dias eu acessei o site do Museu do Louvre, e é ótimo, quer dizer nunca vou conhecer o museu do Louvre mas eu vi lá, acessei. Quer dizer, tá te dando informação? Saudável, agora essa coisa que desvirtua o bom uso, que é mórbido, parece que a geração de vocês não tem esse bom uso, quer consumir Big Brother, esquartejamento, sexta-feira 13, Jason, não sei o que. Vocês vão aceitando, o cara te mostra, você aceita isso, e vai assim, você viu o Jason 1, na sequência o Jason 2 vai ser mais forte. J: Isso é verdade. Z: Esses dias eu tava na casa da minha cunhada, e o sobrinho dela, tava vendo, eu não queria nem ver, ela não queria nem ver… Tava vendo fotos de acidente p ela internet. Gente morta, despedaçada… Eu jamais pensaria, olha a cabeça, vê como são as gerações… Jamais eu iria pensar em digitar lá, “pessoas despedaçadas”. Meu irmão, que mora em Vitória, falou também que tinha uma pessoa que adorava ver pessoas mortas em acidente com carro. Que que faz uma pessoa gostar disso? Ver pedaço de gente, qual é o preenchimento que isso te dá? Então veja, TV, celular, eu não sou contra, mas poxa, o mal uso, tem coisas que as pessoas deveriam ter o mínimo de discernimento pra entender isso ai, você ver vídeos de pessoas esquartejadas, tem necessidade? J: Eu entendo… É, Zé, eu tô só checando aqui o que falta eu te perguntar… É que na verdade essa entrevista ela dividida em tópicos mas eu não preciso perguntar tudo se você já tiver respondido. Tem muita coisa aqui que eu vejo que você me respondeu sem eu ter perguntado. E… Z: Que perguntas? J: Não, é coisa como “Você tem TV a cabo?”, “Qual tipo de programa você gosta”, tudo isso você já me respondeu. Mas voltando lá pro início, você me falou que você teve sua primeira TV em cores em 74? Z: Sim, foi um dos primeiros aparelhos de TV a cores. J: E vocês tinham a preto e branco antes? Z: Tínhamos.


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J: Quando você foi ter sua primeira televisão? Z: Não, desde que eu nasci já tinhamos TV. Eu sou de 64. Não vou saber te dizer quando compraram, mas desde que eu me entendo por gente já via os desenhinhos, já tinha, eu já nasci com a TV e com rádio. Em casa sempre existiu rádio e TV. E historicamente a gente também usava o rádio. J: Hoje em dia você não usa né. Z: Não. Quer dizer, rádio é uma coisa que minha geração descartou. J: Quando você parou com o uso do rádio? E porque, aliás? Z: Vamos lá, porque já faz algum tempo… Eu nasci, com o radião, passou pro radinho, radinho de pilha, toca discos, ouvia-se muita música em disco com família, que perdeu esse hábito também. Disquinhos infantis, também, que você colocava na vitrola pra ouvir historinha. Tá, vem vindo.. Radinho pra acompanhar jogo, aquela cena típica. Rádio até tinha bastante em casa cara, agora parando pra lembrar lembro que cada um tinha seu radinho de pilha, pra não dar briga, e o radião maior da mamãe e do papai, e o vitrolão na sala, que vinha com o toca discos e o rádio. Peguei isso. Vamo embora. Aí tá, década de 70 a gente ainda curtia essas coisas em família… Década de 80, como eu te falei, eu fui embora, inclusive levei um aparelho de som, ouvia… No meu tempo de engenharia, ouvia. Discos, porque ainda não tinha o tal do… Me ajuda no tempo, era o… Era o CD né, porque já existia fita né. Então era um aparelho três em um, que era rádio, toca CD e toca fitas. Então depois veio os aparelhinhos que eram caríssimos, aquele que… Que você colocava… J: Walkman, que você colocava o CD e andava. Z: Não, esse aí já existia pra fita, aquele também, nunca tive um mas também nunca senti necessidade de sair na rua com aquele troço pendurado. Era modismo no meu tempo, mas eu nunca entrei nele. J: Eu peguei isso na minha infância. Z: Você pegou? Mas era assim, depois criou-se o CD mesmo e era ele. Isso já no final, meados da década de 80. Então onde a coisa foi se perdendo pra mim… J: Quando você entrou na faculdade você ainda tinha costume de ouvir rádio? Z: Sim, ouvia, que nem eu tava te falando, eu estudava no Rio de Janeiro e adorava o meu radião, aquele grande, três por um. Adorava colocar ele pra tocar, nossa. J: E quando você veio pra cá?


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Z: Pois é, aí que eu to tentando lembrar. Porque lá eu tinha isso, eu tinha um radião. Era hábito ligar. Nunca fui tanto de televisão, já estava se perdendo pra mim, na década de 80, o gosto pela televisão. Até pela rotina de faculdade, eu morava sozinho, tinha aquela necessidade de lavar, passar roupa, fazer a comida então ligava o rádio, mas a TV não, a TV não era a mesma coisa, tinha que parar né? Então eu fui perdendo a conexão com a TV já né, por causa dessa rotina, e a programação já tava me desagradando, algumas novelas, algumas coisas já tavam pra mim… J: Década de 80 tem início uma época “de ninguém” da televisão brasileira né? Z: Já tava apelando algumas coisas, entendeu? Eu me recusava a ver… “Piscina do Gugu”, eu me recusava a ver. Domingo pra mim a televisão era morta. Eu apelava pro? Meus passatempos eram o estudo, os afazeres domésticos e o rádio. E eu gosto muito de desenho, de arte, eu desenhava, passava meu tempo de outra maneira. Ia na praia, porque tava no Rio lógico. Mas eu tava perdendo já um pouco da TV, até por conta da rotina específica. O rádio, quando de fato eu vim pra cá eu deixei o apartamento lá pra trás mobiliado. Até porque nada daquilo era meu, era dos meus pais. Vindo morar aqui nos meus pais, era aquilo que eu te falei. Quando eu vim por causa do concurso em 88, eu já tinha computador na casa dos meus pais, minha mãe já tinha uma TV na sala e uma no quarto deles, do casal. Eu fiquei sem a TV, né? Mentira, eu trouxe ela, uma portatilzinha que eu comprei lá. Eu tinha uns video-games, eu jogava uns joguinhos bem básicos, bem elementares, era o meu maior passatempo e era o que eu sabia jogar também na época. Acho que já nessa época eu já tava me afastando bastante da TV, de assistir, e do rádio também. J: Muita gente fala que não gosta das rádios daqui também. Z: É, e pra quem tava acostumado com as rádios do Rio, que o cara botava horas de música, vem pra cé é o cara falando, e não sei o que, e papapa, aquilo me irritava. Era uma coisa que eu não entendia, porque pra mim FM era uma coisa voltada pra música, pro comercial. Tanto é que eu tinha CDs que eram em função das FMs. J: CDs que você gravava né. Z: Não, que eles lançavam mesmo depois. Eles lançavam, as produtoras lançavam os CDs em relação às FMs, FM não sei o que, FM não sei o que lá. As programações musicais das FMs. Mas existia isso também nos CDs. Então eu fui perdendo mesmo essa questão do rádio. Já existia os CDs e eu comprava muitos, daí você seleciona, fica mais prático. Você compra o CD que te agradava, você dentro do CD, aquilo que não te agrada você pula, então nisso eu via o bom uso da tecnologia, ela fica muito mais inteligente e muito prática nesse sentido. E você vai se acomodando a isso, eu me acomodei mais ao toca CD do que ao rádio. J: Você disse que vocês tinham costume de assistir televisão em família, você tinha essa relação com o rádio também?


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Z: Não, o rádio ele já era, o toca discos na verdade, digamos assim, nós somos em cinco, três meninas e dois meninos, então cada um tinha o seu radinho no quarto, radinho de pilha, já ficava uma coisa mais egoísta, mais individual. Tinha, como eu te falei, o vitrolão na sala. Tinhamos sim o hábito de, “olha, a mãe comprou um disco, o pai comprou um disco”, aí na hora de tocar todo mundo junto. Tinha os disquinhos infantis, que me arrependo muito de ter dado. Mas depois fomos perdendo esses momentos depois da década de 80. Até porque Joaquim, isso era uma coisa da nossa idade. Já estavamos virando adolescentes, e todo adolescente, independente da época, já fica mais individual, afastada, família é brega e já viu né. J: Você falou que já há muitos anos você ligava a TV só nos fins de semana, isso era por causa da sua carga horária? Z: Não, não. Era porque eu criei o hábito, como eu falei, eu fui trocando a TV pelo CD e pelo computador. E essa busca quase insana de ficar procurando algo que presta na televisão desestimula, sabe? Isso me reforçou mais ainda o acesso ao computador. Então é como eu digo, a TV perde o seu valor, porque é como do rádio pro toca discos. A TV não me dá tantas escolhas, o computador é mais personalizado. J: Há quanto tempo isso acontece, de você ter perdido o interesse pela TV? Z: Há já tem anos, anos. Eu tava ligando de teimoso. J: Antes de você ter TV a cabo você fazia isso? Z: Não, a TV era legal, ainda era um recurso legal pra você passar o tempo como eu falei, se eu tivesse o tempo pra sentar na frente dela sim, era um recurso. Porque é como eu te falei, a dinâmica de limpar, sentar, estudar já me afastou um pouco dela. Mas se eu tivesse um tempo e tudo, ainda você achava programações na década de 80 interessantes ainda, inocentes, ainda um filme de comédia, a programação era mais ingênua, você achava aquelas séries antigas, de Gínio e Eugênio, aquelas coisas que hoje em dia só passam em canais de antiguidade, sabe? Você conseguia achar uma ou outra coisinha. Então dava pra usar a televisão para diversão, como um entretenimento sim. Eu usava numa boa, eu alternava como eu te falei, o rádio e a TV eu ainda utilizava. J: Quando você veio pra cá, vocês já compraram a TV a cabo? Z: Não, se quer saber meus pais compraram agora mesmo, bem recente. Eu diria pra você e que por um problema desse aí, tecnológico mesmo, que foi acabando o sinal por antena, porque é prédio. “Não tem mais antena coletiva”, foi uma coisa assim, não sei. J: Com a internet sua relação foi um pouco mais recente né? Quando você acessava os computadores na faculdade no Rio eles não tinham internet né? Z: No Rio você fala? Não, o computador do laboratório de engenharia não tinha acesso pessoal, era só trabalho e cálculo. Era pra fins de estudo mesmo, até


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porque também os computadores antigos, se você for pesquisar nossa… Hoje você ri daquilo. Era extremamente primitivo, não faziam quase nada. Era o que eu falei uma telinha preta, letrinhas verdes que você ficava vesgo. Então nesse tempo era só esse uso bem restrito mesmo. O computador pessoal foi como eu te contei, eu só fui ter em 97 em diante. J: E esse computador já tinha internet? Z: Já, já conseguia, depois de um tempo um colega do trabalho fez as conexões que tinha que fazer, eu não lembro muito como era… J: Você usava a internet pra trabalho? Z: As duas coisas. Pesquisa pra trabalho e entretenimento. J: Você tinha falado de videogames, você não jogava? Z: No computador não. Uma vez deu pau, meu filho pegou, configurou, mas não teve mais joguinho. E foi bom tirar. Eu gostava muito de jogo de paciência, porque eu não sei jogar coisas complexas. Não adianta você me colocar nesses jogos de pula, atira, mata, eu mato todo mundo, eu não tenho essa coordenação. Então não me chama pra jogar. 5. ENTREVISTA HELTON PICCININ, 52 ANOS, COMERCIANTE A entrevista com Helton aconteceu por volta das 20h de uma quinta-feira. Tinha acabado de sair da casa de uma outra entrevistada e fui à sua casa de Uber, no bairro Sílvia Regina. Eu o conheço como pai de um amigo muito próximo. É um senhor de 52 anos que trabalha numa lanchonete e restaurante próximo à Antiga Rodoviária. Seu filho, Rafael, me recebe no quarto e depois de conversarmos, ele chama o pai e nos sentamos numa mesa na cozinha pra dar início à entrevista. Joaquim: Bom, primeiramente Helton eu gostaria de ouvir você falar de você, qual sua idade, seu nome, há quanto tempo você mora aqui.... Helton: Meu nome é Helton Luiz Piccinin, eu tenho 52 anos, moro aqui em Campo Grande desde 1974. Joaquim: Onde você morava antes? H: Nasci no Rio Grande do Sul e morei no Rio Grande do Sul até os 9 anos. J: Em que cidade lá? H: Em Ijuí. J: Só morou em Ijuí? H: Só.


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J: É perto da capital ou é interiorzão? H: É no meio do Rio Grande do Sul, perto de Santa Maria. J: Vocês vieram pra cá quem? H: Eu, meu pai, minha mãe, meus tios, minhas primas, duas famílias em cima de uma carreta. J: Vocês vieram pra cá pra que? H: Nós viemos pra cá pra tentar melhorar a vida. Porque lá a gente tinha uma vida… A gente tinha uma vida tranquila, mas a gente queria melhorar mais, queria trabalhar com terra né, ficamos sabendo que aqui tinha terra pra trabalhar e tal. Vieram pra cá e arrendaram uma fazenda por aí, e tocaram a fazenda por uns sete anos. J: Você ficou trabalhando nessa fazenda também? H: Não, eu fiquei no colégio interno. Mas trabalhava também nas férias, no final de semana, pra ajudar. J: Esse colégio interno era aqui mesmo? H: Era aqui na Lagoa da Cruz. J: Vocês não tinham feito a compra da terra antes né? Foi na cara e na coragem. H: Na cara e na coragem. J: E atualmente como é composta sua família? H: Sou eu, minha esposa, minha filha mais velha, meus dois filhos Gabriel e Rafael, minha nora, e minha netinha, a Lorena. J: Vocês vieram pra cá, se mudaram pra esse bairro faz quanto tempo? H: Uns dez anos… Na verdade a gente se mudou pra cá quando eles tinham três meses. Trinta dias eles tinham, os gêmeos, quando a gente veio pra cá a primeira vez. Agora eles têm 26 anos. J: Então vocês se mudaram pra cá, se mudaram pra outro lugar e voltaram aqui? H: Isso, voltamos pra aqui. Eu morei na Copharadio também, por muito tempo, uns sete anos. J: Lá era uma Cohab né? Vocês ganharam a casa?


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H: Não, lá era do meu pai. Essa aqui que é minha casa mesmo, onde eu moro aqui agora. J: Você trabalha na Rodoviária né? H: Trabalhava. Trabalhava num restaurante na Antiga Rodoviária. Agora nós saímos de lá por causa dos problemas que tava tendo. Então a gente resolveu se aventurar e ir pra outro lugar pra ver se melhora. Graças a deus tem melhorado bastante. J: E você sempre esteve nesse emprego. H: Não… Trabalhei de vendedor, trabalhei em cartório, trabalhei na Santa Casa… J: Que tipo de serviço você fez no cartório, na Santa Casa… H: Não, na Santa Casa eu trabalhei no raio-x. No cartório eu trabalhei no cartório mesmo, primeiro ofício de protesto. J: Mas que função você desempenhava? H: Trabalhava de atendente… Trabalhei de vendedor também… J: Assim, tirando o trabalho na fazenda com a sua família, quando você começou a trabalhar para fora? H: Quando? Menino eu comecei a trabalhar eu tinha seis anos, eu entregava pastel numa cestinha. Entregava nos bairros pra minha tia, tinha seis anos. Hoje em dia não tem mais isso, é exploração da criança e do adolescente, né? Mas eu creio que não está certo, não é exploração, isso aí é ensinar a criança a ter responsabilidade. J: Entendi, mas isso era um trabalho informal? Você não ficou nisso muito tempo. H: Não não. Daí quando a gente veio pra cá eu fui estudar no colégio interno. Primeiro serviço que eu peguei pra trabalhar foi de office-boy, numa empresa de… Chamava “auto-retrato comunicação visual”, alguma coisa assim. J: Era uma loja de banner, essas coisas né? H: Não, era uma empresa de… De fazer comerciais, essas coisas. J: E você ficou muito tempo lá? H: Não, só pouco tempo porque daí eu quebrei o braço e parei. Depois fui trabalhar numa farmácia, depois da farmácia fui pra uma livraria, depois da livraria… Fui trabalhar…. No quartel, depois que saí do quartel fui trabalhar numa loja que


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vendia… Era uma autorizada da Brastemp, assistência técnica… Depois que saí de lá fui trabalhar na Brasciclo. Era uma empresa que vendia bicicleta, tinha aqui em Campo Grande, tinha em Rondônia, em Cuiabá. J: Todos esses empregos foram de áreas administrativas? H: Sim. Não, quando eu fui trabalhar no raio-x, quando eu saí do quartel… Quando eu fui trabalhar na Brasciclo eu trabalhava de carregar e descarregar caminhão. Aí depois fui trabalhar como vendedor… J: Mas sempre foram trabalhos assim… muito braçais. H: Não, só mesmo quando eu trabalhava na fazenda, colhia arroz, colhia feijão, colhia soja. J: E você concluiu até que ano os seus ensinos? H: Eu fiz um semestre de faculdade. Aí parei, fiz um semestre só. J: Que faculdade você tentou? H: Rapaz, na época falava que era… É que nem se fosse engenharia né? Fiz um semestre só e parei. J: Mas porque você parou? H: Não tinha vontade de fazer nada, estudar não. Hoje em dia faz falta né, hoje em dia faz falta… É que informação é aquela história né. O que você aprende ninguém tira de você. Podem roubar tudo de você, mas o que você aprende, você aprendeu né. Você tem a obrigação de passar pra frente o que você aprende. J: E quantas horas por dia você trabalha? H: A gente sai daqui 6h da manhã, 6h da tarde a gente tá de volta. Umas 12h por dia. J: E você desenvolve algum trabalho além de estar lá no serviço? H: Não, às vezes a gente traz né. Final de semana minha netinha vai lá, ela fica com a gente, no sábado, aí tem que adiantar tudo o serviço do sábado na sexta pra eu dar atenção pra ela de manhã. CONSUMO CULTURAL J: Tá certo. Helton, agora a gente vai começar a falar dos diferentes tipos de mídia que você usa. Se você for pensar nas mídias que a gente tem, jornal, rádio, computador, televisão, celular, revista, livro… Quais você usa no seu dia a dia? H: O celular, a televisão, jornal muito pouco…


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J: Jornal você lê pouco, mas tem um costume assim? H: Não, eu… Jornal assim cara, a gente tem assim, por exemplo, de manhã quando eu vou no mercado, tem uma banca lá na frente que tem o jornal do dia. E aí assim, a gente tem a curiosidade de saber quais são as manchetes, eu olho as manchetes, mas praticamente sempre as mesmas coisas, e nada de agradável né? Eu acho assim, o jornal, o jornalismo em si, ele deveria trazer mais coisas agradáveis, não coisas desagradáveis. J: Coisa desagradável dá leitura, coisa agradável ninguém lê. H: É, infelizmente, mas eu penso dessa forma. Que nem agora, teve a greve dos caminhoneiros, porra a mídia fica em cima, batendo, batendo, batendo naquela porcaria. Não saía disso. E a gente vai ficando com raiva, gente. Será que eles não vem que isso aí não vai trazer nada que vai agregar pra gente? Nada. Só transtorno na vida da gente. J: Mas você acha que por conta disso você acaba não lendo jornal? H: Por conta disso mesmo. É, eu pego assim, às vezes a tarde eu to aqui, eu pego o celular, acesso a internet, vou nos jornais que tem no celular, e vou olhar as notícias, porque às vezes tem coisas interessantes né. Por exemplo, os jornais dos celulares eles trazem coisas bacanas, eles não trazem só coisas ruins. Impresso só coisa ruim, televisão também, só coisa ruim. J: Além do jornal que você não lê, você disse que usa televisão e celular né. H: Que nem eu falei pra você, eu pego o celular e vou olhar o que tem nos jornais do celular, de mídia né. Os jornais que tem… J: É por onde você mais se informa, ou é a televisão? H: É por onde eu mais me informo, o jornal do celular. Porque no jornal do celular é que passa muita coisa que às vezes a gente nem presta atenção na televisão. Porque vou falar a verdade, você quer me ver dormindo, me põe na frente da televisão. J: Você não gosta da televisão? H: Não é que eu não goste, é que me dá um sono da moléstia. Alá, a mulher dormindo também. J: Você acha que a televisão ocupa que papel no seu dia a dia? Além de te fazer dormir. H: Ah cara… A televisão, quando tem uns filme bacana ela ocupa assim, aquela parte que é de diversão né, de… Como se diz… Ah sei lá cara, eu gosto de assistir filmes, quando tem filme bacana a gente assiste, mas na maioria das vezes não presto atenção.


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J: Que tipo de filme você gosta? H: Ah, filme de ação, filme de aventura, assim eu gosto. Não gosto de romance, meloso pra mim não serve. J: Você sente necessidade de alguma dessas mídias? H: Necessidade? Necessidade a gente sente do telefone né, do celular, porque é o que a gente mais se preocupa durante o dia pra se comunicar, entre eu, minha esposa, meus filhos. Aonde que a gente compra as coisas, que a gente liga, é o celular, é a ferramenta que a gente tem pro trabalho no dia a dia. J: Você usa o celular pro trabalho? H: Sim né, pra comprar as coisas. Que a gente precisa a gente liga pra casa de carne, sempre que precisar de alguma coisa tem que ligar. J: Na televisão você não vê tanta necessidade… H: Pra falar a verdade rapaz, às vezes eu tenho a televisão no restaurante, às vezes eu deixo a televisão ligada pra fazer uma companhia, mas não porque eu to assistindo, tá entendendo? Pra fazer um barulho, porque pra eu estar assistindo tem que chamar atenção, tem que ter uma coisa que muito me chama atenção, se não não. J: Nem esportes você costume ver? H: Não, vish, minha família inteira nunca gostou de esporte. Só Francisa que gosta e a Raíssa… E a Lorena. J: Agora falando especificamente da televisão, tem algum tipo de programa que te chama atenção? Que tá passando na televisão e você para pra assistir… H: Ah cara… J: Não tem nenhum programa? H: Cara, eu gosto dos programas de auditório né. Eu acho bacana, interessante. J: E você para pra assistir assim? Nos domingos. H: Paro, paro. Sílvio Santos eu já não assisto faz tempo por causa que ninguém assiste, assisto mais o Faustão, aquelas video cassetadas, aquele negócio de Dança dos Famosos, não sei o que, um monte de coisa… Quando teve aquele Iluminados, negócio de música, acho bacana. Programa de auditório que a gente gosta mais.


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J: Reality show não? H: Ai, reality show, pelo amor de deus… Não dá certo não. Já assisti muito reality show só que hoje em dia eu não assisto mais porque eu acho que aquilo não agrega nada à vida da gente, sabe? J: Porque você acha que não agrega? H: Porque eu acho que não agrega? Ai, porque é um joguinho a toa que os caras põe na televisão, que parece que sei lá. Às vezes eu fico pensando que parece que tem carta marcada naquilo lá, porque fulano vai ganhar e pronto acabou. Prefiro não me estressar com essas coisas de reality show. J: Novela você não tem costume de assistir? H: Novela não, vish. Difícil hein, muito difícil. Antigamente eu assistia, mas hoje em dia não. J: E porque você não assiste mais tanto? H: É porque eu falei pra você e torno a repetir, novela são coisas que não agregam nada na vida da gente. J: Mas mesmo as novelas representando coisas do cotidiano da gente, você acha que não? H: Do cotidiano? Acho que tem muita coisa de cotidiano que a novela apresenta que é só pra ensinar coisa pro mal. Né? Eu penso assim, não vejo grande valia numa telenovela, o Brasil é campeão de telenovela... Mas eu, vou falar a verdade, não vejo grande valia. J: Mas você já assistiu mais… H: Já, já assisti mais, é que nem eu falei pra você: vai chegando um ponto que vai começando a analisar que, a televisão, a telenovela, só traz coisa ruim pra sua casa. Mostra filho brigando com pai, com a mãe, mostra o filho matando o pai, a mãe, desejando o mal pro pai, pra mãe, pra aquele outro. Isso vai deixando a gente… Sabe? Embora seja igual você falou, coisas do cotidiano, é melhor não expor essas coisas né? Porque acaba influenciando pessoas pra certos lados… Que só vai trazer desgraça na realidade. Coisas ruins, não tem coisas boas, pra mim telenovela não traz coisas boas. J: E vocês tem TV a cabo aqui? H: Não, a TV nossa é TV normal. J: E você tem preferência por algum canal em relação aos outros?


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H: O canal que a gente mais assiste assim é a Globo né. Preferência, preferência não, mas tipo assim, a gente assiste muito o canal da Canção Nova, que é uma emissora da igreja da gente né, então é… J: Ela é católica né? H: Uhum. J: E que tipo de programa ela passa? Passa missa? H: Passa missa, passa… Reportagens, tem telejornal também. J: Tem? Eu não sabia que tinha telejornal na Canção Nova. H: Tem… J: Mas eles falam sobre questões religiosas? H: Não, tem também, tudo que acontece, tudo que eles falam nos outros canais tem também. J: Que legal, não sabia. Você saberia dizer, em relação ao celular, você já disse que usa ele pra trabalhar, pra se informar, você também usa ele pra entretenimento? H:Cara, que nem eu falei pra você, o que eu uso mais no celular aqui, entretenimento, eu gosto de ver… Os jornais que tem, de mídia né, e tem um programinha aqui chamado Pinterest, né? Que eu vivo caçando coisa aqui pra eu acumular meu… Nos meus arquivos, tem até seguidores aqui. Tenho 129 seguidores. J: E você compartilha fotos? Do que? H: Compartilho, compartilho fotos que eu pego da internet, óh aqui, tem a parte de flores, a parte de sacras, que é só imagens de santos, tem a parte de cactos, a parte de área de lazer, uma parte de piscinas naturais, outra de jardins, e receitas para cozinhar… e pergolados de madeira. J: São bastante coisas relacionadas a jardinagem né. H: É, eu gosto muito de jardinagem. Pra mim assim, eu me divirto aqui nesse Pinterest. J: E você aprende muita coisa ao mesmo tempo né. H: Sim, é entretenimento mas a gente tá se informando, tem muita coisa aqui nesse Pinterest que você olha, você puxa, que nem aqui tem muita coisa de cozinha, aí tem certas coisas que… Outro dia eu peguei frango na panela de pressão com milho verde, a gente fez e todo mundo adorou. Então assim é bacana porque além de você correr atrás de alguma coisa de montar uma pasta, de ficar um


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negócio bacana, você vai aprendendo coisas que você nem sabia fazer. Tem bastante… Informação sobre comida né, então já trabalho comigo então fica bacana procurar essas coisas. J: E você não chega a usar o computador? H: Computador? Não… Antigamente eu usava, agora não uso mais não. J: Porque você parou? H: Nós jogamos nosso computador fora. Computador tava podre. É porque hoje eu to com esse celular, hoje eu to com esse computador, hoje eu to com esse notebook. Amanhã já tem outro melhor que esse. Aí a gente vai ficando desatualizado. Aí foi indo, indo, a molecada partiu toda pro celular, aí a gente ficou sem computador, joguei na caçamba de lixo. J: Era tão ruim assim o computador? H: Vish, dava nem pra aproveitar as peça. Era da época que telefone botava internet no computador. J: Lá em casa a gente tinha um dinossauro assim. Você falou que usa mais o celular, tem outros aplicativos que você usa além do Pinterest? H: Whatsapp. J: Facebook não? Instagram, Twitter... H: Não, não, não, não… J: Mas o Whatsapp você usa pra quê? H: Conversar com famílias, amigos… Fornecedores… J: E-mail você usa? H: Tenho mas não uso. Só criei mesmo pra poder usar no celular. PASSADO COM AS MÍDIAS J: Você lembra quando vocês tiveram televisão pela primeira vez? H: Lembro… No Rio Grande do Sul. Era preto e branco. Era uma 14 polegadas. Servia pela bateria e também pela energia. J: Mas vocês tinham energia elétrica lá? H: Tinha… J: E quando vocês mudaram pra cá, vocês trouxeram a TV?


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H: Trouxemos, de noite a gente esperava todo mundo juntar pra ligar a TV, daí assistia. Os peão e os patrão. J: Mas vocês já tinham rádio? H: Tinha aqueles rádios de antigamente né. Aquele rádio que fazia um barulho, assistíamos programa de São Paulo, Zé do Brejo... É o pai do Brejinho, aquele que faz programa da televisão todo sábado. J: Não sei quem é… Você não nasceu com televisão em casa? H: Não. J: Você lembra que tipo de programa você assistia nessa tevêzinha? H: Ish, era as novelinha da época, Vila Sésamo… Tinha o programa do Sítio do Picapau Amarelo, eu lembro que eu era criança e gostava de assistir esses aí? J: E tem algum programa que marcou você nesse tempo todo? Não só quando você era criança, no tempo todo que você teve televisão. H: Que me marcou… Cara, que nem eu falei pra você, os programas de auditório, e o programa que mais marcou a vida da gente foi o Chacrinha né cara, o Chacrinha era um grande comunicador né… Ele era porreta. J: E o que ele fazia que você gostava do programa dele? H: Ah cara, ele era muito sabido, era muito esperto, muito animado. Não tinha tempo ruim com ele, tudo pra ele era alegria. Ele transmitia isso muito. J: Você disse que tinha essa TV já nesse tempo, que você já acompanhava, você lembra em que momentos do dia você assistia TV na sua infância? H: Só de manhã, porque a tarde eu ia pra escola. J: E quando você começou a perder mais o seu interesse pela televisão? H: Olha, quando eu era criança eu assistia bastante… Quando eu perdi o interesse… Cara, a partir do momento que você começa a viver uma outra vida né, depois que você sai do quartel você fica… Né? Depois do quartel, depois que eu fiz 18 anos eu fui parando de ver TV. Parando aos poucos, hoje em dia muito pouco. J: Você acha que foi a visão que o quartel te deu? H: Não, de forma alguma, não, era porque a gente acaba se ocupando com outras coisas, começa a ter uma vida social né. Até um momento que você tem 17 anos você tá vivendo uma vida de… Uma vida de criança né cara. Aí depois que


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você vai pro quartel, você saiu do quartel você começa a ter uma vida social, você vai ter que trabalhar, né? Então você começa assim, a perder a vontade de ver televisão, a canseira vem, tem que dormir. J: Foi uma perda de interesse mais por conta da rotina né. H: E depois que você casa perde mais ainda. J: Não gosta de assistir junto a TV? H: É difícil. J: E quanto à internet, você lembra quando começou a usar? H: Eu tinha o que, uns 35 anos. 34, 35 anos. Comprei um computador, comprei não, ganhei um computador do meu pai. Esse velhinho que falei pra você. J: E como era esse computador? Era rápido? H: Não, que rápido o que, você accha que um computador que era na linha telefônica vai ser rápido? Era na manivela meu filho, caía, vivia caindo, era uma coisa… J: E você usava essa internet? H: Usava… Pra ver porcaria, tinha muito joguinho… The Sims… J: Você jogava? H: Nâo, os meninos que jogavam The Sims. J: Mas você usava pra quê? H: Joguinho mesmo, tinha outros tipos de joguinho. J: Mas você nunca usou pra trabalho? H: Não, só o celular. J: Pelo Whatsapp né. Antes usava o telefone né? H: Pelo telefone mesmo. Eu vou te contar que chatice depois que criaram esse Whatsapp viu. Nem as pessoas conversam dentro de casa, ficam só olhando no telefone e vendo o que que tá caindo. Você tá no trânsito, você olha pro lado tá uma pessoa no Whatsapp dando risada sozinho, dirigindo ainda? Não dá. J: Você nunca tinha usado internet antes de ganhar esse computador? H: Não.


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J: Mas você conhecia né. H: Conhecia. Eu tinha ouvido falar né, mas não entrado num computador pra ver o que que tinha lá. Como que funcionava a internet. A primeira vez que eu fui entrar na internet foi assim. Eu trabalhava no comércio, trabalhava num escritório, mexia num computador mas não tinha contato com a internet. J: Foi só quando você teve o computador em casa mesmo. E você precisou de algum curso, treinamento? H: Não, só com a molecada aqui em casa. Hoje parece que eles já sabem mais que a gente, que adulto. J: Você lembra que tipo de site você acessava? H: Não… Na época não tinha Whatsapp mas tinha aquele MSN. J: E quando vocês começaram a ter internet por modem? H: Faz… Não sei não, deve ser uns 10 ou 11 anos. Mas eu nem usava daí, aí quem só usava era os meninos, nessa época eu nem queria saber. J: Você voltou a usar a internet com o celular né. H: Sim, tanto é que nem tem mais computador aqui em casa. Os meninos tem seu notebook cada um só. J: E como você fazia pra se informar antes? Se você não usava o celular. H: Antigamente? Pelos jornais só, pela televisão. Era o que tinha né. Hoje em dia eu fico sabendo de tudo as coisas só por aqui, pelo celular. USOS COTIDIANOS J: Bom a gente tá chegando no final da entrevista, não demorou muito. Quanto ao seu uso da televisão, você costuma assistir mais na sala? H: Correto. J: Sozinho? H: Eu vejo mais com a Francisca. Porque se não eu deito aqui e já durmo. Sozinho é muito difícil. Principalmente a noite, nossa não dá não. J: E você não tem costume de ficar trocando canal? H: Eu nem fico fi, eu já desligo e vou dormir. J: Se ta entediado né… Você tem costume de ficar fazendo outras coisas quando tá assistindo televisão?


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H: Não, só sentar e dormir. J: A internet, tem algum lugar que você acesse mais ela. H: Não, eu uso mais na sala e no quarto, que é onde eu fico mais. J: Você tem costume de ficar fazendo várias coisas na internet ao mesmo tempo? H: Não, nem consigo. Só olho o Pinterest mesmo. J: Entendo, hoje em dia a gente recebe muita informação pelo Whatsapp, pelo Facebook, essas coisas, você tem costume de discutir isso com as pessoas? H: Eu converso, tanto é que esses dias eu te cutuquei sobre aquele negócio da Carmen Lúcia. Eu converso, eu pergunto. “Ah onde tá esse negócio? Ah, na internet”, tá no celular, onde estão falando. Mas aparece aqui no Google, no Google tem notícias que aparece na hora, que você abre e já aparece. Ele vai mostrar aqui tudinho olha… Não carregou aqui. Oh. “Mulher encontrada em matagal pode ter sido morta e tal tal tal”. “Governo congela gastos e tal”. “Dia mundial sem tabaco”. “Temer diz ter sido iluminado, dá graças a deus e tal”. Isso aqui eu fico vendo aqui o que que tem, G1, tem Midiamax, Campo Grande News, UOL. J: E onde você mais conversa a respeito dessas notícias? H: Eu converso mais com a minha família mesmo né. J: Você não comenta, discute na internet não? Em grupos… H: Não, converso não. J: Por que? H: Ah cara, não gosto de conversar pela internet não, eu gosto de falar pessoalmente. Vou falar um negócio pra você, se for pra mim conversar com você, eu prefiro conversar frente a frente. Eu não gosto de conversar pelo telefone porque eu sei que eu vou entender tudo errado e vou explicar tudo errado. Então conversar, frente a frente, face a face. Porque eu me dou muito mal conversando pelo telefone. J: Você não entende direito? H: Não entendo direito, ou às vezes eu não sei me explicar direito pra pessoa, entende? Já aconteceu mais de uma vez, vou te falar. Então eu prefiro não conversar a respeito de nada pelo telefone. Nem com minha mãe, meu pai, eles me mandam mensagem aqui pelo telefone eu vou, falo assim, “Pera aí que eu to indo aí pra gente conversar”.


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6. ENTREVISTA SÔNIA VASCONCELOS, 54 ANOS, ASSISTENTE DE EDUCAÇÃO Conheci Sônia por indicação de minha irmã. Ela é assistente de educação infantil no mesmo Ceinf em que minha irmã trabalha, e tinha fama de “falar muito”. Quando chego à sua casa, por volta das 18h, sou recebido calorosamente em meio a um jantar em família, com primos, sobrinhos e filhos em casa. Estão todos sentados numa mesa de jantar na cozinha, enquanto Sônia me pergunta se quero água, café, sopa paraguaia, entre outras coisas. Combinamos que seria melhor fazer a entrevista na sala, o que não foi uma escolha muito sábia devido ao volume da conversa no cômodo ao lado. Sentamos no sofá, e enquanto explico para Sônia sobre a entrevista, ela começa a me dar informações que vão ser úteis e ligo o gravador. Sônia: Eu mudei pra cá eu tinha dez anos, então nem tinha televisão em casa. Joaquim: Onde você morava? S: Nem tem no mapa. É em Alto Coité. J: É um distrito? S: É Alto Coité, só que eu sou registrada em Pochoréu, perto de Rondonópolis. Rondonópolis você já ouviu falar. Que todo mundo conhece. Rondonópolis é perto de Poxoréu. Aí lá não tinha asfalto, lá não tinha energia. Hoje, de Poxoréu até Alto Coité é igual você ir em outro bairro, é rapidinho, é uns dez minutos. Então eu vim bem novinha de lá pra cá, nove anos, ia fazer dez, aí que eu conheci a televisão. J: Antes você não tinha nem visto? S: Não. Assim, pouco, pouco, porque? Meu padinho quando era vivo, porque quando ele faleceu eu era pequena, aí ele tinha condições lá em Poxoréu, ele tinha televisão. Daí eu conhecia porque eu ia lá de vez em quando. Não que eu conhecia assim, direto, sabia que, sabe? J: Mas você via de vez em quando. S: Bem de vez em quando, só quando eu ia de Alto Coité pra Poxoréu. Não tinha asfalto, não tinha nada, era bem difícil. J: Você nasceu quando? S: É.. Era 27 de abril de 65. J: São 53 anos, né? E antes de vir pra cá pra Campo Grande, você se mudou pra algum outro lugar? S: Não, de lá vim direto pra cá, aí fiquei no Lar do Trabalhador.


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J: Entendi. Rapidinho, tenho que baixar meu roteiro da entrevista porque não to com ele aqui se não eu vou me perder [...] S: Eu tava lendo uma entrevista da Fernanda Montenegro hoje que ela falava bem assim, “do celular eu só sei atender” (risos). Eu sou assim também. J: Hoje eu entrevistei um homem que disse também que só usava o celular pra fazer ligação, que não gostava de usar muito também. Tinha 54 anos. S: Será que é por causa da idade? Eu acho que é a idade que deixa a gente assim, avesso. As minhas filhas por exemplo, tem netinha que você dá o celular pra ela ela já fica com o dedinho. É de um aninho. J: É que ela vê a gente, né. Eu tava falando com você sobre a sua vida, você pode me dizer seu nome completo? S: Sônia Maria Alves Vasconcelos. J: Com quem você mora aqui Sônia? S: Mora eu, meu marido, meu filho e só nós três. J: Você tem outros parentes próximos, filhos, que não moram com você? S: Tenho, mas mora perto. Meu outro filho mesmo mora aqui no Serradinho. É só os dois que eu tenho J: E no que você trabalha hoje em dia Sônia? S: Ceinf. J: E qual que é a sua função no Ceinf? S: Sou assistente infantil. Faz treze anos que tô na profissão. J: É concursada? Como que funciona? S: Não, contratada. J: Você já trabalhou com outra função antes? S: Não. J: Sempre no Ceinf. S: Sempre em casa antes do Ceinf. J: Ah, então você era dona de casa. Mas você não fazia nada pra ter uma renda?


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S: Ah, vendia umas calcinhas, umas lingerie, vendia roupa. Lingerie, roupa, tuppeware já vendi, Avon também. Vendas né eu mexia com vendas. J: Quando você começou a trabalhar com vendas? S: Com vendas? Hã… Quantos anos eu tinha você quer saber mais ou menos? Uns 23 anos. J: Antes você não trabalhava? S: Não, não. J: E quais são seus estudos? S: Eu tenho ensino médio completo. J: E quantas horas você trabalha por dia S: Eu faço oito. J: E você não leva trabalho pra casa? S: Não. J: Nem final de semana? S: Não, só os trabalhos da casa mesmo. CONSUMO CULTURAL E MIDIÁTICO J: Agora a gente vai conversar mais sobre seus usos da mídia. Lembrando que não há uma resposta certa pra essa entrevista, você pode demorar o quanto quiser nas respostas, tomar seu tempo, não tem problema. Me diz Sônia, que mídias você usa no seu dia a dia? S: Celular, televisão… Revista, gosto muito de uma revista. J: Quais revistas. S: Que eu gosto de ler? Mais assim, de reportagens de doença, de sinopses de novela, de estreias na televisão. J: Você gosta de ler revistas de novela? S: Gosto. J: Das novelas, quais você assiste?


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S: Por enquanto nenhuma porque começou uma nova né? Que eu não gosto de começo de novela. Depois que ela começa (risos). Porque eu sou diferente, tem gente que gosta de seguir né? Eu não, eu fico sem ver aí depois que ela começa a ficar boa, mais ou menos, aí eu assisto. J: Começo de novela é muito chato? S: Ah eu acho. Geralmente assim, é a mesma coisa quase né? Novela só muda mesmo os autores e escritores não é verdade? J: Mas agora você não tá acompanhando nenhuma? S: Não. J: E você só assiste essas novelas de horário nobre? Das 21h. S: É, geralmente é, quando eu assisto é. J: Você não assiste essas novelas das 18h, Malhação… S: Não, não. Até porque quando eu chego já tá acabando. Daí eu chego já vou fazer uma coisa, já faço outra, nem dá tempo. J: Você chega que horas do serviço? S: às vezes 17h30, às vezes 18h. Nessa faixa. J: Você sai daqui bem cedo né. S: Entro as 7h30, tenho que acordar as 5h30 quase. J: E além de revista, celular, o que mais você usa? Computador, você usa? S: Não. J: Nem no serviço nem aqui? S: Não, porque, tipo assim, o professor que precisa mais né? Tudo. Então assim, a gente assistente infantil é mais pra auxiliar mesmo, é mais do lúdico, de brincar. Então a gente não tem muito assim acesso a internet, essas coisas né. J: Você não precisa pra fazer um planejamento. S: Não, a gente só auxilia mesmo. O professor tem que fazer, tem os PLs dele e a gente tem que cobrir o que eles tão fazendo. J: Rádio, você faz uso?


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S: Ah, eu assim, ultimamente não. Quando eu não tinha 8h ainda usava, agora com carga de 8h não dá tempo. Nossa, como eu gostava de ouvir aquelas reportagens de manhã, Lucas de Lima, meus menino até falavam “Ah mãe, essas história não existe”. “Dá sua opinião”... Já ouviu falar do Lucas de Lima? J: É de qual rádio? S: Ai, ele é da… Da FM, mas qual que é o nome da rádio você quer saber? Não sei se é 90… J: Mas o que ele fala no programa dele? S: O Lucas de Lima foi até candidato. Porque ele é tão conhecido, ele é muito assim, ele conta aquelas história assim né, que o povo falava que ele imagina, tipo assim, você dá sua opinião. Um exemplo, pra você entender como são as histórias dele. “Eu sou casada, me apaixonei pelo vizinho, o vizinho também é casado, tivemos um caso, eu não sei o que que eu faço, se eu conto pro meu marido”, é tipo assim, aí as pessoas dão suas opiniões. E tem gente que diz que isso não existe, que isso é imaginação dele pra pegar o Ibope das pessoas. E as mulheres ligam… Tem homens também… J: E você já ligou? S: Não, nunca liguei, sempre acompanhei assim mas nunca tive vontade. Assim, quando tem um programa que você sabe que você gosta, todo dia você tem que assistir aquilo né. E todo dia tinha que ser. J: Esse programa ainda passa? S: Não sei, eu acredito que sim. Eu tenho que checar, desde que eu entrei nas 8h eu não se. Até você pode ver por aqui, as pessoas gostam, procura depois por Lucas de Lima. J: Vou procurar depois porque nem conhecia mesmo. Alguma dessas mídias você usa no seu trabalho? S: Assim, as crianças, a gente usa muito jornal né. Revista… J: Mas não é pra leitura né? É pra umas atividades de colagem, recorte… S: Isso, vamos fazer uma bola de jornal, vamos recortar. Agora com eles não, nem tem como eles lerem, eles têm três aninhos. J: E quanto a essas mídias, qual delas você sente mais necessidade? S: Qual deles? Dificuldade ou necessidade? Eu necessito, eu, pegar mais a sério e aprender a mexer num computador, pra aprender a usar. Porque eu não ligo, eu nem sei usar. J: Mas você já usou o computador?


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S: Já mexi mas faz assim, muito tempo. Assim, eu fiz o curso básico que fala né. J: Você tem computador aqui? S: Tenho, é que meu filho joga jogo online. Fica no quarto dele, então o que acontece, eu até brinco, “você joga onlini” [sic], brincando né. Então assim, eu não mexo, mas porque eu não ligo, eu não tenho curiosidade de ir lá e mexer assim. J: Mas você acha que seria bom pra você saber? S: É, seria bom, porque você fica mais por dentro das coisas, que tudo é isso hoje em dia. Se eu fosse uma professora eu com certeza já tava mexendo nisso. Porque tudo isso é assim agora né, é pela internet. J: Você não acha que você se informa bastante das coisas pelo celular? S: É, quando eu quero eu vou lá, num Youtube, também eu vou quando eu quero saber alguma coisa. Pra você ver, eu nunca abri um face, não porque eu não sei mas porque eu não quis. J: Você não tem Facebook? S: Não, só o Whats. J: Porque você não tem Facebook? S: Porque eu não tenho curiosidade. J: Mas as pessoas insistem tanto pros outros publicarem no Facebook… S: Pior que tem… Mas assim, cada um é cada um. Tem gente que não é aquela realidade. Vou te falar como é que é, um exemplo. Não tenho nada contra. Tem gente que fala assim, tudo que vai fazer, expõe ali. No face. Ou é verdade, ou é mentira. Ou então tem gente que põe uma realidade que não existe ali. Eu sei, eu não tenho, mas quem tem me conta. “Oh fulano postou isso aqui”, mas não tem nada a ver. “Fui em tal lugar, fui jogar vôlei”, não foi. Põe uma roupa lá, e tal, não existe. É isso, no Face eu não tenho nada contra, mas não existe uma curiosidade minha disso. J: Você não sente necessidade de participar disso. S: É isso, não tem uma necessidade pra mim. Todo mundo fala, “cria”. Tudo né? Meus filho, minhas vizinha, minhas nora… Ai… J: E você não tem nenhuma outra rede social? S: Whatsapp só. Aí quando tem um “status”, eu olho. De curiosidade dos outros, aí eu olho, quem postou, quem tá na minha lista, aí sim.


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J: Mas você não publica coisas suas? Não compartilha? S: Não. J: E porque você não compartilha? S: Não ligo. É coisa que eu tinha que começar também né? Porque é só as pessoas que eu gosto ali. Eu não tenho curiosidade, eu não sei porquê. J: Você gosta daquilo que você vê dos outros? S: Nem sempre, porque eu sei que aquilo não é a realidade dela. Tem gente que faz cada coisa, posta coisas bonitas, e não é aquilo. Talvez seja isso que lá no fundo me diz, “tá fingindo”. Aí eu já não quero. J: Entendi. Falando agora mais da televisão, qual é o papel que você acha que ela ocupa na sua vida? S: Olha, existem notícias boas e notícias ruins. Ela tem um papel assim, muito importante, você fica sabendo de tudo que tá acontecendo, então é muito importante, na vida minha. J: Mas você acha que ela é importante pra quê? S: Ah, tá, qual que é a importância dela na minha vida.... Uai, quando é coisas boas, eu falo assim, então tá, eu procuro encontrar coisas boas, porque.. J: Mas o que que você entende por coisas boas? O que são coisas boas pra você? S: Uma boa ação, uma boa ação. Agora coisas más, eu tiro. Uma boa ação… Uma coisa que você vai ver como eu vou fazer pra ajudar as pessoas, como que vai ser. Ai que bom. Agora quando é ruim. J: Mas o que seria uma coisa ruim na televisão? S: Quando uma pessoa fica querendo assim, humilhar os outros, querer é… Passar perna, de maldade, de fazer maldade. J: Mas você vê isso na televisão? Em que? S: As vezes sim, em novelas né. Novelas, na política, nas novelas… Em tudo, nas reportagens, nas maldades, muita coisa ruim. A gente vê muita notícia, muita coisa ruim, nem dá pra acreditar. Eu nem gosto de ver muito, esses Datena, essas coisas que… Muito não. Porque, a gente fica prestando muita atenção na maldade do outro, sabe? Eu sofro muito de saber que tá acontecendo aquilo, eu fico assustada, é uma coisa assim que eu falo “ah não”. Tem gente que gosta, de ver, sabe? Eu já não gosto, fico muito comovida, muito envolvida, eu sofro com essas notícias muito pesadas.


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J: Eu entendo, eu trabalho com jornalismo então eu entendo seu sentimento. S: É, ruim não é? Não é ruim, você não sofre junto? J: Tem dias que eu vejo muita notícia ruim, mas eu acho que já to ficando até indiferente, parece que não faz mais diferença. S: Mas no começo você deve ter sofrido bastante né. J: Até hoje na verdade... Mas a gente tava falando da televisão, você acha que ela tem um papel importante de divulgar boas ações… S: Porque tem boas coisas também, não é só coisas más. Não é só ruim. J: Que tipo de programa você gosta de assistir além das novelas? S: Além das novelas? Eu gosto de assistir Raul Gil, sabe? Eu gosto de filme de romance… J: E você assiste esses filmes que passam na Sessão da Tarde, ou você baixa? S: É que eu não tenho tempo né. Quando passava aqueles filmes de romance que eu tava em casa? Ish, era demais, só romance. J: Hoje em dia já não dá mais… Desde que você começou esses treze anos de trabalho você não teve mais tanto tempo livre pra televisão? S: Não, às vezes tem sim, que a gente tá num feriado igual hoje assim, aí eu tenho sim. Eu gosto bastante do Serginho, do Altas Horas. J: Bastante programa de auditório né. BBB, você gosta? S: Não. J: Nem Masterchef, nenhum reality show assim? S: Não. J: Porque você não acompanha? S: Não, nunca liguei de assistir. Nunca me interessei. Tem coisa que você não sente vontade de acompanhar. J: Eu entendo. Você tem preferência por algum canal de televisão?


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S: O 6 né… O 6. Gosto do 8 também. Eu tenho que arrumar essa antena porque eu queria que pegasse de novo o Canção Nova. Canção Nova é católico, muito bom. J: Você é católica praticante? S: Sou. J: E o que você gosta de assistir nesses canais? S: No 6, eu gosto de ver uma novela, um filme, Serginho no 6. No 8 é Raul Gil. Ai, é na Band né? To fazendo confusão. No oito, eu gostava quando passava aquelas novelas mexicanas. No oito de vez em quando passa um filme bom também. J: Ok, você tem TV a cabo? S: Não. J: Só TV aberta. S: Sim J: E você já chegou a ter? S: Já, já, mas eu tirei. Quando ligou a internet né, aí a gente já contratou tudo junto. Aí tirou, porque não faz falta. A gente não assistia muito, aí logo tirou, eu falei “eita”... J: Você chega a assistir algum programa da TV pelo computador, coisa do tipo. S: Não, o que eu assisto de vez em quando é filme. J: Mas você não para pra ver um episódio de uma novela, algo que você perdeu que queria assistir? S: Não, nunca fiz isso. J: Tudo bem. Agora falando mais da internet, do celular, do computador.... Pra que que serve o celular na sua vida? S: O celular? Pra me comunicar com as pessoas que eu gosto, né, que são pessoas assim do meu dia a dia, saber como está. É, é isso aí. J: Você não usa pra serviço, mais nada? S: Pra serviço é igual eu te falei assim, no intervalo a gente escolhe alguma coisa pra assistir, vai no Youtube… Mas gosto também de usar pra pesquisar algum tipo de remédio, alguma doença. Pesquisar, é isso aí, pesquisar.


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J: E você já fez compra pela internet? S: Nunca. J: Porque? S: Olha, nunca me interessei em comprar pela internet. Aí esses dias eu vi uma reportagem que dizia que às vezes você pede, não vem… Demora… E extravia, e você fica esperando e não chega. É mais fácil ir e comprar. J: Entendi. E quantas vezes você acha que consulta o celular? S: Ai, não, eu não acesso muito, só quando eu to em casa. Porque no serviço a gente nem pode né. Se pegar… Só em caso de emergência assim, agora quem tem Face, Whatsapp, não pode mais ficar direto igual antes. J: Dá demissão? S: Não, falam que proibiram. Porque antes ficavam direto. Como que você vai ficar com um celular na mão e cuidando criança? Né, não tem como, agora é só se “Ah, preciso atender”, aí vai, sai da sala. Na hora do soninho, eu pego… Assim, você quer saber quantas vezes mais ou menos eu pego o celular? J: É, pode chutar um número. S: Ah, mais de dez. Contando com a noite, depois das 11h da manhã que é o horário de soninho das crianças, daí eu pego. E de noite que eu to em casa já também, depois das 18h. J: É de noite só que você fica vendo TV também né. S: Uhum. J: Fim de semana você assiste? S: Depende né, às vezes a gente assiste, às vezes vem visita, a gente sai, nem se importa com TV. J: Mas quando a visita chega, você não convida ela pra ver TV? S: Não, oh. Tá tudo ali na cozinha com a TV, nem ligam. Só querem saber de conversar. A TV aqui fica só na copa. J: Entendi. E o que você mais gosta de fazer pelo celular? S: Pelo celular? Mandar áudio (risos). Minha nora já até reclama, aqueles que começam a mandar áudio e não para mais. Às vezes eu vou mandar mensagem né, e demora pra digitar, e demora também pra ligar, então já mando o áudio. Ela fala “quer ver, ela vai mandar áudio ou ligar”.


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J: Eu gosto de mandar áudio também. PASSADO COM MÍDIAS J: Agora que a gente já falou bastante da televisão, do celular no seu cotidiano, eu queria saber assim Sônia, você disse que só foi ver televisão quando vocês vieram pra cá pra Campo Grande. Foi logo quando vocês se mudaram pra cá? S: Não, então, é que meus tios, meus irmãos, tudo vieram antes pra morar aqui. Meu pai, eu e minha mãe nós viemos depois, aí quando a gente chegou aqui já tinha televisão na casa. J: Ah então vocês vieram pra morar todos juntos. S: Não, meus irmãos, e meu pai e minha mãe. Aí quando chegamos eles já tinham TV, os mais velhos vieram na frente, trabalharam tudo, compraram, e eu fiquei lá com os meus pais. J: Você lembra como era essa televisão, se era uma televisão com cor, grande, pequena… S: Ah, eu não lembro exatamente. Posso perguntar pro meu irmão ali? J: Pode claro. S: Oh meu fi, quando a gente se mudou, que tinha aquela televisãosinha, como que era? Irmão: Era aquela que a gente levou depois lá pra chácara. Uma Sharp, 18 polegadas. Era preto e branco, depois a gente comprou uma tela. J: Aquela com cor, de acrílico né? Irmão: É, a comunicação era hiper-atrasada, hiper-atrasada, era pior que sinal de geladeira. Demorava demais pra chegar o sinal. S: Era a Sharp mesmo, eu lembro dessa telinha colorida mesmo, você conhece? J: Eu já ouvi falar. Você lembra que tipo de programa você assistia nessa época? S: Ah mas faz muito tempo. Mas eu lembro que teve uma época depois que a gente comprou que começou a passar Sítio do Picapau Amarelo, tinha o Gênio, nossa como era aquilo, eu imaginava que eu era o Gênio, “plim”, entrava na história. A feiticeira… J: Isso eram desenhos?


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S: A feiticeira ela entrava dentro do… Tinha o amo, e ela entrava dentro da garrafa, e ela cantava tanto, ela era uma jovem. Era tão lindo, eu imaginava… Tem canal que passa ainda, se você for ver. Que que mais que eu lembro… Agora novela eu não assistia, eu era criança eu não era muito chegada não. Aquela coisa fanática, tem gente que é bem fanática né, eu não sou. J: Quando você começou a gostar de novela? S: De novela? Foi na época do Cravo e a Rosa… Nossa, faz tempo. A primeira vez que passou o Cravo e a Rosa. Reprisou né? J: Você não lembra pelo menos a década em que passou? S: A primeira vez que passou… Porque ela repetiu. Tem mais ou menos… Ai como que eu vou lembrar agora… Pera aí, 86 já tinha nascido o Anderson, foi depois de 86… Mas o mais de gostar assim… É… 86 mais ou menos, que o meu menino mais velho tinha acabado de nascer. J: Deve ter sido porque você começou a ficar mais em casa né. S: É, verdade, não tinha pensado nisso. J: E como vocês assistiam quando eram pequenos? Era mais junto da família ou mais sozinha? S: Era mais sozinha né, porque todo mundo saía pra trabalhar. Aí ficava eu, minha mãe… J: Não assistia nem com a sua mãe? S: Assistia, mas era muito pouco. Ela já nem tinha, então não ligava, quando teve não ligou muito não. J: Verdade né. E vocês tinham outros aparelhos que vocês tinham antes de ter a TV. S: Sim, a gente tinha aquele rádio antigo, você deve conhecer, o caixa preta assim com quatro botão. Um grandão assim, acho que deve tá lá na minha irmã ainda, era do meu pai. O meu pai era garimpeiro né. Então ele comprou esse aí pra escutar jogo, meu irmão mais velho era botafoguense, desde pequeno. Então a gente assistia jog na casa de um homem aí, assistia não, ouvia. Aí bem na hora do jogo o homem desligava que era pra esfriar o rádio. Aí meu pai pegou um diamante, que era garimpeiro, pegou, e comprou e trouxe. Esse rádio tá lá na minha irmã, é tipo uma caixa desse tamanho. É um dos primeiros rádios… J: Como ele é? S: É tipo uma caixa, eu falo uma caixa porque ele é assim, sabe? Desse tamanho assim, uns botão tudo, aí tem pra você sintonizar, é diferente ele.


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J: Telefone vocês não tinham? S: Telefone? Depois que pôs lá na vila. Lá depois nós tivemos, um fixo. J: Quando vocês vieram pra cá vocês não se mudaram pra cá né? S: Não, foi pro Lar do Trabalhador, aí quando voltou pra cá nessa casa, um tinha 12 e o outro tinha 15. Esse aqui o caçula tinha 12, e o outro tinha 15. Eu era casada com o pai deles, e depois que eu vim pra cá. Eu morava lá no Lar do Trabalhador, depois morei no Santo Antônio, Aero Rancho. J: Bastante casa hein. S: Aí vim pra cá. J: E quando você começou a trabalhar, como você sentiu que isso mudou sua rotina com a televisão? S: Ah, diminuiu né. Porque você não tem mais aquele tempo disponível de quando você tá em casa, você assiste novela, quando você fica mais, mais ligado. J: E quanto à internet, você lembra quando foi a primeira vez que você teve acesso? S: Lembro. J: Quando? S: Isso foi… Faz 18 anos. Eu fui fazer um curso básico daqueles de computador e tudo. De digitação. J: E daí você aprendeu a já entrar na internet. S: Já; J: Fez aonde? S: No Senac… Mas tive muita dificuldade. Tive muita, muita, porque eu tava passando por um psicológico muito… Muito abalado, eu tinha me separado, aí não queria, não aceitava. Lá dentro me dava crise de choro, porque eu ficava muito nervosa pelo que eu tava passando, e aquilo lá pra mim era um outro mundo. Aí meu irmão, ainda pra melhorar minha cabeça, falou “não, vou pagar um curso pra você no Senac, vai”, e foi o que aconteceu. J: E você fez esse curso pra quê? Tinha algum objetivo específico?


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S: Ah, assim pra ver, se eu conseguia algum trabalho, e se eu melhorava meu psicológico na época também. Pra aprender alguma coisa, porque tudo é informática né? Vai lá, pra você aprender, a cabeça melhorar. J: Entendi. Antes desse curso você não tinha usado internet pra nada? S: Não. J: Quando você começou a ter internet aqui? Digo, na casa de vocês? S: Quando começou… Você quer saber mais ou menos? Acho que a primeira faz uns 15 anos. Uns 15 anos mesmo. Porque tirou aquela e já pôs outra. J: E como era essa internet? Se ela era discada, como que era. S: Ai eu não vou saber, quer que eu pergunte pro menino? J: Não, não precisa, quero saber, ela era lenta? S: Não, você sabe porque, porque esse meu filho Anderson ele trabalhava com uma internet aqui sabe? Então tanto antes quanto agora, tinha que ser né, mais rápido. Não travava não, era tranquila. J: E o que você fazia na internet? S: É o que eu falei pra você, eu olhava, dava uma fuçada, porque agora eu não mexo. Quando eu queria ver alguma coisa eu ia lá no computador, sentava, mexia pra ver se pegava alguma coisa. Eu tinha mais acesso, hoje já não tem muito não. Só no celular. J: E você não vai saber dizer que tipo de site você acessava nessa época…? S: Não… Porque o que eu entro assim, igual esses programas, de ah, uma reportagem alguma coisa, eu tenho que entrar no site. J: Mas assim, o que você gosta de fazer na internet? Não tem nada específico. S: O que eu gosto? Olha, procurar receitas, uma notícia assim de tipo assim, uma doença, que eu gosto de pesquisar remédios, tratamentos, essas coisas. Agora o que eu tenho que baixar, tenho que aprender, é filmes né? Que eu gosto de pesquisar as coisas. Daqui a pouco tem que aprender a mexer, tem que aprender a baixar. J: Tem que pedir pros seus filhos te ensinarem, tem sites que são bem fáceis, você entra lá tem vários filmes pra baixar. S: Meu filho mexe tanto nessas coisas nossa, ele entra em tantos sites.


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J: Você nunca sentiu mais vontade de aprender a mexer no computador? S: Eu acho que assim, não interessa assim, tem interesse, mas como eu posso te falar… Não ligo… Como faz pra explicar isso pra você.... J: É a mesma questão das redes sociais né, você não se importa. S: É. USOS COTIDIANOS DOS MÍDIA J: Agora falando sobre a forma que você usa televisão e internet, onde você assiste televisão em casa? S: Ali na copa J: Quando você tá assistindo TV, você tem costume de ficar fazendo outras coisas? S: Sempre, porque eu deixo a TV ligada e vou fazendo as coisas da casa. J: E você não tem outra TV aqui na casa? S: Não, só essa. J: E você assiste mais sozinha ou acompanhada? S: Geralmente é mais acompanhada. J: Acompanhada da família ou mais acompanhada do pessoal chamar “Ah vem aqui em casa, vamo ver um jogo”? S: É, é um pouco dos dois né, eu chamo eles e a gente senta tudo ali na mesa e ficamos conversando. J: Você tem costume de fcar trocando de canal na televisão? S: Não tenho muito não, o que eu quero assistir eu deixo. J: E tem algum lugar aqui na casa que você para pra usar a internet? S: Não… Não tenho isso não. J: Você tem costume de acessar vários sites ao mesmo tempo? S: Não… Não, não… J: E quando você acessa a internet, vê uma notícia, recebe uma informação pelo Whatsapp, você tem costume de conversar sobre isso?


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S: Sim, às vezes sim, se for uma coisa mais interessante eu aceito sim. J: E você tem costume de procurar na internet sobre novelas, coisas que você assiste? S: Não… Sabe que eu nunca tinha pensado nisso e você me despertou isso agora? Me deixou curiosa.


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