TAURINO ARAÚJO GUIADO POR QUATRO GIGANTES1

TAURINO ARAÚJO GIGANTES

GUIADO

POR

QUATRO

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Agradecimento ao Eminente Presidente e à Mesa Alta, constituída pelas autoridades e intelectuais que a compõem.

Senhoras e Senhores, minhas amigas,

meus

amigos,

Durante toda minha vida lutei por uma sociedade plural, uma sociedade onde o ter e o ser tivessem o mínimo de diferença. Uma sociedade onde todos os discursos pudessem ter voz e pudessem ter vez.

Faço aqui uma justa paráfrase, uma paráfrase sentida dizendo o que diria WALDIR PIRES (nesse momento) me transportando a outra época, quando ele, candidato a governador da Bahia em 86, 1

Notas taquigráficas do discurso proferido pelo professor Taurino Araújo em 12 de setembro de 2011 no Plenário Cosme de Farias a Câmara Municipal do Salvador durante a sessão de outorga do Título Comendador Medalha Thomé de Souza, considerada a mais alta honraria do Legislativo Municipal, representando um reconhecimento de serviços prestados à cidade em diversos âmbitos, concedida a personalidades que se destacaram por seus trabalhos em prol do desenvolvimento, social cultural e econômico da Cidade do Salvador.

naquela tarde do dia 17 de outubro, eu fazia o discurso o Brasil nasceu na Bahia e já à noite, WALDIR, praça cheia, dizia: “é muita emoção prá um peito só, é muita emoção prá um peito só”!

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O direito, Senhor Presidente, trabalha com dicotomias. Com falsas dicotomias. É o real e o pessoal; o réu, a vítima; o direito individual, o direito coletivo. As falsas dicotomias. As dicotomias que precisam ser aproximadas pelo movimento da vida, as dicotomias que precisam ser aproximadas com a presença e com a participação de todos.

Pode ter causado algum estranhamento um grupo japonês aqui presente, o GRUPO WADO (união e harmonia) 2

Em 17 de outubro de 1986 o professor Taurino Araújo contava apenas 17 anos. Não podia votar, mas disse que se 10 vezes votasse o seu voto era de Waldir. O Ex-governador se lembrou do ocorrido e concedeu entrevista em 12 de setembro de 2011, nos seguintes termos: "Foi muito justa a homenagem a ele porque é um rapaz que eu conheci aos 17 anos, em plena praça pública, com um calor e uma vitalidade e, sobretudo, com uma íntima disposição da alma de lutar pelo seu povo, pela sua geração, pela Humanidade. De modo que a Câmara de Vereadores presta uma homenagem simbólica no Taurino a uma juventude muito larga, gente muito boa que nós temos. Nós somos um país que tem gente muito boa... Eu fico contente com isso”.

tocando os seus tambores grandes (de taiko), os tambores grandes de taiko, antes, antecipados pelo fue, que mostra a sublimidade da flauta; o oriente junto com o ocidente; o distante junto com o próximo. Costumo dizer na brincadeira, mas isso tem um fundo de verdade: um comendador não pode caber em si mesmo, mas no multiverso de todas as vidas. No multiverso de todas as lutas, pela dignidade da pessoa humana.

De todas as lutas pela diminuição da desigualdade real; da desigualdade que se opera no plano temporal como desigualdade tecnológica; no plano real, como diferenciação de espaços. Espaços que separam ricos e pobres, e se transporta, também, para uma separação social, que propicia manifestações de status para os que estão por cima e de menosprezo, para os que estão por baixo.

Sou um homem do interior, unindo o sertão e o cais . Sou um homem do interior. De uma Bahia distante e ainda necessitada de maior assistência. De uma Bahia que, à época, clamava por ensino público e gratuito, e teve, na figura do Dr. WALDIR PIRES, um baluarte, quando, do lado de cá, eu dizia, insuflando a estudantada: no plano de 100 dias, prioridade para a FESPI e Dr. WALDIR nos atendeu. Prioridade para a FESPI. Prioridade para a FESPI que, tempos depois, se materializou na estadualização da FESPI tornando-se UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ (palmas).

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Eu venho de uma Bahia distante, uma Bahia distante na qual, de longe, eu já ouvia falar na figura do Dr. NELSON CERQUEIRA e sua Literatura Comparada. Uma Bahia que, à época, já contava com Dr. EVANDRO GUERRA no 3

A afirmação diz respeito ao fato de que as origens familiares do professor remontam ao sertão e ao litoral da Bahia, atribuindo-lhe pluralidade desde o nascimento.

Instituto dos Advogados da Bahia, e eu, de cá, conhecia outro confrade, ÉRITO MACHADO, meu professor de Direito que, à época, dizia: “cuidado com esse Português”. E, seguindo a lição do Mestre, tempos depois, passo a ser reconhecido, sei que por bondade dessa terra que me acolheu como um filho, dessa Bahia tão generosa, “um dos raros estudiosos do direito moderno, além de cultor da língua portuguesa e da filosofia”. Filosofia que, aqui, hoje, foi enaltecida nas palavras generosas que o professor WASHINGTON TRINDADE, Emérito da Universidade Federal da Bahia me dirigiu. A filosofia, imprescindível para a compreensão do mundo. A filosofia imprescindível para a compreensão do drama humano. Àquela época, proferir alguns versos, ser poeta ou filósofo, era demérito, porque o positivismo vigente fez com que se pensasse que a filosofia não fosse algo prático, que a filosofia não fosse algo

concreto, um modelo de salvação que surge, um modelo de salvação que contemplamos e que vivenciamos.

Dessa Bahia distante, entre tantas figuras ilustres aqui presentes, é como disse a aluna DAISY FRANCE: “teria que ser somente Mesa Alta” . Para dar um exemplo, ali se encontra um dos grandes, talvez o maior tribuno judiciário vivo da Bahia, TILSON SANTANA (palmas), o meu ídolo, pela figura humana e profissional que é, e é dessa Bahia plural, e por essa Bahia plural, que sempre lutei.

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A Bahia da capoeira, a Bahia da periferia e da metrópole, Cidade Alta e Baixa, quase que encravada no mar.

A emoção me fez dizer essas palavras iniciais para dizer, Senhoras e Senhores, meus amigos e minhas amigas, que procurei testificação íntima de um argumento para merecer a MEDALHA 4

Estiveram presentes à mesa o ex-ministro e ex-governador da Bahia, Waldir Pires; o reitor da Faculdade Tomaz de Aquino, Nelson Cerqueira; o juiz de direito, Ivanilton Silva; o vice-presidente do Instituto dos Advogados da Bahia, Evandro Guerra; e o fundador da Facceba, José Augusto Guimarães. O vereador Pedrinho Pepê (PMDB) presidiu a sessão durante o pronunciamento de Batista Neves.

THOMÉ DE SOUZA, alto reconhecimento de toda Cidade do Salvador, mais alta honraria da metrópole, e o encontrei nos quatro gigantes da alma, de MIRA Y LOPEZ. Medo e ira; amor e dever. Nada direciona tanto as ações de uma pessoa.

Devemos transformar o medo, a ira, o amor e o dever de tiranos em escravos.

Essa é a diferença. A opção por traçar um roteiro ou estar à mercê das circunstâncias.

Na METÁFRASE AO COMENDADOR TAURINO ARAÚJO, o professor WASHINGTON TRINDADE, Emérito da Universidade Federal da Bahia, ao comparar-me a NAPOLEÃO, reporta-se a Poesia e Ciência, devir e recônditos da alma. É o fim das certezas no campo das ciências exatas e sociais.

Revisitando essas questões, recordo-me bem pequeno, fazendo versos e ouvindo o vaticínio de JUVENAL nas Sátiras, tomo I, p. 79. Se também não fosse próprio da minha natureza, é a

indignação que me obriga a fazer versos: SE NATURA NEGAT, FACIT INDIGNATIO VERSUM. A ira domada, então, teria engrandecido o meu discurso em prol do direito e da justiça social, às vezes, numa passegiatta com il diavolo compreendi com C. P. BONA, que o primeiro grau do heroísmo é vencer o medo. Il primo grado dell’eroismo è vincere la paura e, desse modo, fabricar (com a poesia) a objetivação do que se encontra em jogo, a escuta de mim e dos outros, para realizar a afirmação argumentada do ponto de vista a que se refere PHILIPPE BRETON. Domando os gigantes do medo e da ira, teria aprendido a argumentar em situações difíceis, no uso correto da linguagem.

A solenidade, combinando dicotomias aparentes, reúne logos e mito, filosofia e ciência; ocidente e oriente; racional e intuitivo; de modo a celebrar o contentamento, em contraponto às

mazelas da vida. Para mim, é o day after, dez anos depois do 11 de setembro e é também a retomada de seis meses depois do tsunami que quase destruiu o Japão. O taiko (tambor grande) celebrando a alegria, sabor de nova oportunidade, fazendo ecoar esse sentimento a todos os cantos do mundo, através do WADO TAIKO. É a homenagem ao povo japonês que tão bem me acolheu na peregrinação de 2005, quando buscava literalmente orientar-me num yoroshiku onegai itashimassu e digo a Wado: arigato gozaimassu .

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Através do amor, acumulei uma dívida de gratidão com mais de 3 milhões e duzentas mil pessoas e, se partisse para a citação nominal, acabaria injustiçando velhas e sólidas amizades. Tenho, no entanto, o dever de ressaltar o nome do 5

Numa tradução livre, a primeira expressão japonesa significa conto com sua colaboração e a segunda, muito obrigado. O professor Taurino Araújo peregrinou em terras japonesas durante a primavera (outono) de outubro/novembro de 2005. Por isso, a solenidade Comendador Medalha Thomé de Souza lhe causou grande emoção em face das apresentações culturais dos tambores do Grupo Cultural Wadō, vinculado à Associação Nipo-Brasileira de Salvador (Anisa) espécie de homenagem ao povo japonês que tão bem acolheu Taurino Araújo quando esteve em terras nipônicas, em 2005.

Amplamente defendida por Taurino, a pluralidade cultural teve espaço na sessão, que ainda contou com apresentação do Grupo Núcleo Cultural da Capoeira Angola de Rua do Mestre Lua Rasta.

vereador BATISTA NEVES que, na Câmara Municipal, lembrou o meu nome entre outros tantos merecedores da Medalha Thomé de Souza, deflagrando o consenso de seus pares.

A relevância da honraria me conduz à responsabilidade de continuar ajudando a cidade e o Brasil.

Parafraseando o Ministro HAMILTON CARVALHIDO, acrescento: cada um de nós é uma obra escrita por todos que estiveram conosco e com quem estivemos ao longo da vida, com papeis conhecidos ou não. A vida de cada um está na minha vida como contributo decisivo para aquilo que sou. A todos, o comovido agradecimento.

No mais, encontrei no cumprimento do dever o meu grande crédito. Há o devir.

Tinha no bolso apenas uma ficha telefônica e muita vontade de falar . Falei.

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Fiel à concepção quando começou a cursar a universidade, em 1986, a metáfora descreve a defasagem entre ter muitas coisas para dizer e dispor de pouco espaço ou recursos para tanto. Antes do cartão telefônico, as chamadas se realizavam através de fichas metálicas, semelhantes a moedas. Daí a oportunidade da comparação.

Toda honra seja para Deus. Ele assim o permitiu. Muito obrigado.