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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 28/12/2020
OPINIÃO
Os artigos assinados publicados nas páginas A2 e A3 não expressam necessariamente a opinião de A TARDE. Participe desta página: e-mail: opiniao@grupoatarde.com.br Cartas: Redação de A TARDE/Opinião - R. Professor Milton Cayres de Brito, 204, Caminho das Árvores, Salvador-BA, CEP 41822-900
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Nelson Cerqueira e a sua Jane dos impossíveis Eduardo Boaventura Filósofo, escritor, doutor em Heidegger, professor de Filosofia eduardoboaventura.filo@bol.com.br
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ode a razão abstrata dar conta da potência da natureza? Ezilda Melo situa o romance O Quinto Segredo de Jane, do imortal Nelson Cerqueira, presidente da Academia de Letras da Bahia, a partir “de referências sociológicas, históricas, antropológicas, artísticas, geográficas, psicanalistas, musicais, esportistas, culinárias, cinematográficas, mitológicas, poéticas, religiosas, feministas, sobre física quântica, biodança, ioga e tantos outros temas complexos, perscrutando códigos de moralidade a partir do olhar da estudante Jane, de personalidade complexa, não linear, que se muda de Salvador para cursar mestrado em sociologia na USP, doutorado na Sorbonne, mostrando como funciona o universo acadêmico e quais as expectativas empregatícias para quem envereda por essa área”. De fato, o livro de Nelson Cerqueira traz questões de grande densidade, destacando a frase de Nietzsche, Deus está morto. Logo, o poder encontra-se hoje distribuído pelos diversos setores da sociedade que buscam impor a hegemonia de valores e padrões de conduta social. A conclusão está à altura do grande poeta, romancista, com trabalhos publicados em quatro continentes sobre teoria literária, metodologia no direito, modernidade, teoria do discurso e hermenêutica, enfim, ensaísta, autor – entre outros – do badalado Por uma nova fronteira da desigualdade, prefácio à Magnum Opus de Taurino Araújo. Aqui, a revelação de que qualquer aprendizado às pressas é difícil – incluindo o aprender a ser livre – cutucada filosófica a partir do narrador Dave, irmão
de Jane, filósofo e psicanalista que, a fundo, nunca compreendeu as atitudes, palavras e vida de sua irmã, apesar de todo o esforço intelectual que ele dedica para interpretá-la. Em sua saborosa narrativa, Nelson Cerqueira nos brinda com outros dilemas importantes: Por que, então, estamos morrendo na alma e no corpo? Que significa existir, em sua plenitude, nas sociedades contemporâneas, homogeneizantes? Para responder a tudo isso, o novo livro de Nelson Cerqueira constrói uma personagem feminina complexa, indecifrável, agradável, sedutora, de extrema potência trágica. Logo, a por mim denominada Jane dos impossíveis transborda e exala a força da natureza, ela diz sim à vida, com tudo o que a vida tem de finitude e de contradição. Leitora de Nietzsche, desde jovem, Jane vive o exercício da sua vontade de poder: nas possibilidades do vir a ser, para realizar o “verdadeiro” sentido do ser, ou seja: experimentar todo o sentido do ser em sua força, buscar a potência da alma e a plenitude do corpo. Sua alma se encaminha para o conhecimento e seu corpo se projeta para o prazer. Finalizo por aqui. Comece, imediatamente, a prazerosa leitura do Quinto segredo de Jane.
A por mim denominada Jane dos impossíveis transborda e exala a força da natureza, ela diz sim à vida, com tudo o que a vida tem de finitude e de contradição
Os algoritmos na vida cotidiana Cleonilton Souza Doutorando em educação – GEC/FACED/UFBA cleonilton@gmail.com
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e coisas simples como fazer notificações de aniversário a realizar monitoramento de pressão cardíaca, os algoritmos, esses códigos utilizados para construir aplicações computacionais, fazem parte do dia a dia. Embutidos nos smartphones, nos tablets, nos computadores de mesa e em equipamentos eletrônicos como relógios e GPS, nem sequer notamos a presença desses artefatos técnicos. Os algoritmos são quase desconhecidos pela população e poucos são os profissionais que têm domínio sobre o funcionamento desses códigos. Assim, o conhecimento de algoritmos fica restrito aos profissionais da computação, que são os criadores dessa tecnologia. Em algumas ocasiões, por exemplo, profissionais de comunicação se apropriam das especificidades desses códigos nas atividades de marketing digital e propaganda automatizada, mas o acesso às funcionalidades dos códigos é ainda parcial. A convivência corriqueira com esses entes não humanos desenvolveu um uso automático e acrítico, sem que as pessoas questionem, inclusive, as ações dos algoritmos. Enquanto isso, o mundo gira em torno de decisões econômicas, políticas e sociais mediadas por códigos computacionais não transparentes. É preciso frisar que os algoritmos estão sujeitos a falhas de construção e, como qualquer objeto criado pelo humano, podem trazer resultados inesperados para a vida das pessoas. Imagine as consequências da identificação equivocada de uma imagem em um “caso jurídico”? Ou a recomendação inadequada no direcionamento de um carro feita por um serviço
de GPS? Ou ainda os usos intencionais de robôs em processos eleitorais com o intuito de fomentar desinformação? Os algoritmos não são infalíveis nem neutros, e o conhecimento sobre esses artefatos não poderá ficar restrito aos profissionais que os criaram. É preciso pensar formas de a sociedade não ficar subjugada a códigos restritos quando estes influenciam e condicionam o modo de viver cotidiano. Surge assim o desafio de sociedade, Estado e criadores de algoritmos elaborarem formas para que esses artefatos se tornem menos opacos para a população. A educação para a cultura do algoritmo é também outro fator preponderante. Se as preocupações de educação elementar eram voltadas para a aprendizagem da cultura alfanumérica, do ler, escrever e calcular, precisamos repensar as práticas educacionais e voltarmos nossos olhares para aprendizagens que digam respeito ao mundo mediado por algoritmos. É este o grande desafio: os cidadãos precisam compreender a lógica de funcionamento dos algoritmos e ter proficiência em identificar as ações desses artefatos, quanto às consequências que os códigos computacionais possam trazer para a vida cotidiana.
É preciso pensar formas de a sociedade não ficar subjugada a códigos restritos quando estes influenciam e condicionam o modo de viver cotidiano
O Carrasco retorna no dia 11/01
90 anos do Bahêêêa! Anderson Rios Gestor público, doutorando em educação – Ufba, professor, analista cultural anderson_gandhy@hotmail.com>
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rimeiro de janeiro de 1931, data histórica para os milhões de torcedores do Esporte Clube Bahia. Nascia o time do povo, que conquistava o título baiano naquele mesmo ano. É bem verdade que, quando o Bahia, surgiu o Ypiranga era o clube mais popular do estado, mas os títulos conquistados pelo Bahia, e principalmente a vibração da torcida tricolor, foram fundamentais para o aumento dos números de adeptos. A torcida do Bahia sempre foi um capítulo especial e fundamental para a história do clube. Uma torcida que gosta de se ver no estádio, que torce com a mesma vibração, não importa a situação em que
o time se encontre. O filme Bahêa minha vida, que fez muito sucesso nos cinemas, retratou com maestria essa paixão. O fato é que o Bahia se tornou o mais popular time do estado e um dos mais populares do Brasil, mas, mais do que isso, o clube tem uma identidade com o seu povo de fazer inveja a qualquer clube do mundo. O Bahia mobiliza sua gente; sua torcida foi reconhecida no ano de 2016 como patrimônio cultural e imaterial do estado
1º de janeiro de 1931, data histórica para os milhões de torcedores do Esporte Clube Bahia
da Bahia, nos termos dos Art. 216 da Constituição Federal e Art. 271 da Constituição do Estado da Bahia. Além disso, a Confederação Brasileira de Futebol já premiou a torcida com o título de Torcida de Ouro. Portanto, imagine a expectativa que a fanática e festeira torcida tricolor está pela chegada dos 90 anos do Tricolor de Aço. Essa expectativa foi criada pelas recentes diretorias do clube. Pois é verdade que o Bahia cresceu administrativamente, conseguiu recuperar o prestígio que havia sido abalado pelas últimas gestões do período pré-democrático. Mas é verdade, também, que dentro de campo faltam os resultados que coloquem o Bahia de volta como um dos grandes times do futebol brasileiro. Esse é, sem dúvida, o grande desafio da atualidade. O Bahia tem tradição e um histórico de pioneirismo no futebol brasileiro. Foi o
primeiro time do Brasil a jogar a taça Libertadores da América. O título de campeão da I Taça Brasil em 1959 não é um título qualquer. Foi conquistado diante de um dos maiores times da história do futebol mundial, o famoso Santos de Pelé. Além de ter sido o primeiro campeão nacional, é do Bahia o primeiro artilheiro nacional, o atacante Léo Briglia, falecido em 2016. Outros títulos vieram ao longo dessas décadas, vale destacar: os títulos dos campeonatos regionais, o hepta baiano, o bicampeonato com o famoso gol do Raudinei, mas sem dúvida foi o título de 1988 que consolidou de vez o Bahia. Foi o título da afirmação. O título conquistado diante do forte time do internacional, em Porto Alegre, cravou o Bahia entre os grandes times brasileiros. O Bahia é grande e tem potencial para voltar a brilhar. Parabéns, Bahêêêa!
nir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse dos seus membros e eleição das respectivas Mesas, para o mandato de 02 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. Assim é que do permissivo constitucional supratranscrito, depreende-se a impossibilidade dos presidentes Rodrigo Maia e David Alcolumbre, presidentes, respectivamente, da Câmara dos Deputados e Senado Federal, se apresentarem como candidatos a reeleição para o mandato de 02 (dois) anos nas respectivas Casas, dado ser vedado recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente, conforme se extrai do noticiado na edição de quinta-feira, dia 3 do corrente, no prestigioso jornal A TARDE, in verbis: “Entretanto, amanhã, o plenário do Supremo Tribunal Federal, STF, deverá julgar o questionamento enviado pelo presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM), acerca da constitucionalidade da candidatura dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para a terceira recondução seguida à presidência das Casas”. Apesar, portanto, de pertencerem a um partido cujo primado é a defesa do regime democrático, sucede,
no entanto, que a ambição desmedida pelo poder se mostra mais convincente, ao ponto de buscarem no STF uma mudança no texto constitucional em epígrafe, que lhes permita a candidatura à reeleição na presidência das respectivas Casas do Congresso, menosprezando, assim, sagrado princípio da alternância dos poderes, ao se considerar, ademais, que nos regimes ditatoriais inexiste tal possibilidade, visto que seus dirigentes costumam se eternizar no poder, a exemplo de alguns países da América do Sul, de tendência sociocomunista. Posto isso, inobstante a todo o momento sermos surpreendidos pela veleidade das decisões da nossa mais alta Corte de Justiça, como a que, recentemente, deixou de reconhecer a prisão em segunda instância, favorecendo, destarte, a soltura de uma leva de criminosos da mais alta periculosidade pela prática de crimes hediondos, em virtude de tais julgamentos se perpetuarem tempos afora, mercê da utilização de expedientes protelatórios propiciadores da prescrição da pena, a par, data máxima vênia, do julgamento de outros tantos em que pairam a mesmíssima dubiedade quanto a aplicação da verdadeira justiça.
ESPAÇO DO LEITOR
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Empoderadas poderosas
As mulheres demoraram séculos para ocupar cargos de destaque dentro de uma sociedade majoritariamente patriarcal. Nos últimos dias vivenciamos cenas dignas de filmes de terror. Alfred Hitchcock ficaria orgulhoso. Mulheres poderosas e empoderadas tiveram a vida devassada. Entre prisões e mandados de busca e apreensão, ficaram a decepção e a vergonha. Mulheres da alta cúpula do Judiciário e do Ministério Público baiano envolvidas em bizarrices inimagináveis. No reino dos psicopatas e dos bolsominions o silêncio chega a ser ensurdecedor. Imaginava-se que com toda sua sensibilidade e sexto sentido as mulheres colocariam “ordem na casa” e a República alçaria voos cada vez mais altos. Ledo engano. Revelaram a sua verdadeira face. Poderosas e empoderadas, provaram ser iguais ou piores. Jogaram fora as suas carreiras. Até os paladinos da moralidade foram flagrados em escutas telefônicas procurando saber que dia seriam realizadas as suas transferências. Na sequência, tivemos a “Operação Metástase” nos indicando que algo muito pior ainda estaria por vir. A turma do politicamente correto simplesmente desapareceu. São cegos, surdos e mudos. Algumas coisas começam, finalmente, a fazer todo o sentido. Está tudo dominado
e muito bem aparelhado. O célebre Mangabeira descansou, mas as suas ideias ainda estão vivíssimas. Pensem num absurdo? FÁBIO BRITO, FABIOBRITOADV@GMAIL.COM
Alternância no poder
Princípio democrático consagrado em nossa Constituição Federal, a alternância se faz presente nos três poderes da República, através do regramento contido no Título IV, Da Organização dos Poderes, principiando com o Poder Legislativo, em que na Seção I, Do Congresso Nacional, precisamente no §4º do art. 57, ao prescrever que: cada uma das casas reu-
Até os paladinos da moralidade foram flagrados em escutas telefônicas procurando saber que dia seriam realizadas as suas transferências
AGENOR GORDILHO SIMÕES, AGORDILHOSIMOES@HOTMAIL.COM