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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 3/9/2018
OPINIÃO
Os artigos assinados publicados nas páginas A2 e A3 não expressam necessariamente a opinião de A TARDE. Participe desta página: e-mail: opiniao@grupoatarde.com.br Cartas: Redação de A TARDE/Opinião - R. Professor Milton Cayres de Brito, 204, Caminho das Árvores, Salvador-BA, CEP 41822-900
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Enigmas do autismo Augusto Sampaio Pediatra asampaio56@gmail.com
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expansão do autismo, distúrbio neuropsicológico e da interação social, é hoje uma preocupação mundial. De substrato genético, requer fatores desencadeantes. É triste os pais verem seu bebê de 3 meses não interagir com os olhos; aos 6 meses, mesmo estimulado, não sorrir; aos 8 meses, ignorar quase tudo à sua volta; aos 9 meses, não balbuciar nem estender os braços com a chegada da mãe e, perto de 1 ano, não atender pelo nome nem mandar beijos e adeusinhos com as mãos. Aos 18 meses, essas crianças verbalizam de modo ininteligível e, aos 2 anos, se exprimem com frases de pouco sentido. Entretêm-se com brinquedos, manuseados em movimentos quase iguais e repetidos, indiferentes a chamados pelo nome, e sujeitos a crises de mau humor. O estereótipo pode variar, mas não muito. Em 2014, nos Estados Unidos, os Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) ou ASD (Autism Spectrum Disorder) tinham prevalência de 1:59. Entre os 3 e 17 anos já está em 1:45. Na Inglaterra, presumem-se 700 mil casos. No México, a primeira informação, em 2016, revelou prevalência de 1:115. Globalizando as cifras, 1% dos habitantes da Terra é autista, com tendência de alta. Difícil aceitar que uma patologia não infectocontagiosa cresça tanto e tenha tantas causas, sem um fator comum que explique o número de casos novos. Enquanto os pacientes recebem a atenção de pediatras, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e comportamentais, psicólogos, nutricionistas, etc., buscam-se marcadores biológicos, exames de laboratório e alterações mitocon-
Conceição Evaristo imortal driais em estudos genéticos mirando os enigmas do autismo. Comprovado que pouca exposição ao sol reduz os níveis do hormônio 1,25 dihidroxi vitamina D, que os distúrbios do autismo resultam da inflamação cerebral do feto por auto-imunização materna e que a vitamina D3 (calcitriol) é fonte daquele hormônio, surge agora outra tentativa de prevenir e atenuar os sintomas dos TEA. Seu custo é baixo, tem alta tolerabilidade, é de fácil ministração e possui amplo espectro em doenças autoimunes, dentre elas a esclerose múltipla, psoríase e vitiligo. E inexiste a mal chamada intoxicação por doses altas da vitamina D3 já publicadas. Pediatrics, a revista da Academia Americana de Pediatria, traz um artigo denso sobre o êxito da vitamina D3 em um menino autista. Enquanto a genética é o arcabouço, o calcitriol baixo dispara os gatilhos do autismo. A vitamina D já existia desde o primeiro homem e os raios UVB do sol a geravam ao irradiar sua pele nua. Nos polos, todos se aqueciam com pelos de animais e os peixes eram riquíssimos em vitamina D. Continua assim.
Difícil aceitar que uma patologia não infectocontagiosa cresça tanto e tenha tantas causas, sem um fator comum que explique o número de casos novos
Julieta Palmeira Secretária de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia
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a sessão de inauguração da Academia Brasileira de Letras, em 1897, Machado de Assis disse no seu discurso: “não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova”. Criada pelo escritor negro, a ABL continua sendo uma instituição de moços, brancos. Entre os atuais 40 integrantes efetivos, apenas um negro e cinco mulheres. Todas brancas. A ABL perdeu a oportunidade de fazer história quando não elegeu Conceição Evaristo para a cadeira de número 7, que tem como patrono o libertário poeta baiano Castro Alves. A ABL nasceu com “alma nova”, mas parece que embolorou nos anos de tradição machista, ignorando a literatura produzida por mulheres, principalmente negras. Assumi a defesa de Conceição Evaristo na ABL, reverberando iniciativas pioneiras nas redes sociais de mulheres que organizam os Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras. Na Bahia, a defesa do nome de Conceição teve dois momentos marcantes: um ato cultural, idealizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Núcleo Pro-Equidade de Gênero da Bahiagas, e a Fligê. A candidatura de Conceição sempre se justificará, antes de tudo, pela qualidade de sua obra. A escritora publicou sete livros, três deles traduzidos em outros países. Vencedora do prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, ela foi premiada também pelo Governo de Minas Gerais pelo conjunto da obra. Conceição é considerada pela crítica es-
pecializada como uma das mais importantes autoras da atualidade. Seus livros trazem memórias e histórias que visibilizam o povo negro e a luta contra o racismo e o machismo. A sua obra tem sido objeto de artigos, dissertações e teses. Não seriam esses motivos suficientes para credenciá-la à ABL? Sua candidatura contestou critérios que defendem uma suposta literatura universal, mas que não tem nada de universal, porque não contempla a riqueza da diversidade. Ao contrário, é excludente. Conceição Evaristo traria para a ABL o mundo da gente brasileira, as histórias dos quilombos, da resistência, da população negra pós-abolicionismo sob a ótica de quem tem relações intimas com essa realidade. Passados mais de 30 anos da eleição de Raquel de Queiroz, a primeira mulher “imortal”, a ABL pouco se abriu para a produção das mulheres. Conceição não venceu, mas abriu portas para que outras tantas negras ousem se candidatar, ambicionem estar nos lugares, ocupados prioritariamente por homens e brancos. Chegará o dia em que a ABL deixará de ser uma instituição de moços brancos. Salve Conceição Evaristo!
A ABL nasceu com “alma nova”, mas parece que embolorou nos anos de tradição machista, ignorando a literatura produzida por mulheres, principalmente negras
Edivaldo Boaventura: a mão benfazeja da Bahia Agenor Sampaio Neto Catedrático de Teoria do Direito e Hermenêutica Jurídica da Universidade Estadual de Feira de Santana professoragenorsampaio@gmail.com
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audade do professor Edivaldo Boaventura, que se eterniza pela independência de sentimento, pensamento e ação. Vozes uníssonas acerca de sua humildade e generosidade para com todos, somadas à proeminência de sua intelectualidade e uma quadra de serviços prestados à Bahia e contributo de alto impacto à performance de variadas e significativas gerações de personalidades baianas são as impressões digitais dele,
mão benfazeja a contribuir com o que há de melhor e mais relevante em nossa história recente. Para o inexcedível Edivaldo Boaventura, é o comovente e comovido depoimento do colega Jorge Aliomar Barreiros Dantas, Pleno da Universidade Estadual de Feira de Santana: “Edivaldo era formidável em
Edivaldo Boaventura se eterniza pela independência de sentimento, pensamento e ação
todos os aspectos, escrevia com simplicidade, mas era culto e dominador da palavra escrita. Gostava de seus amigos e de seus alunos, era uma pessoa doce, delicada e cativante. Sua produção científica se destacava para todos nós, tenho quase todos os seus livros e gostava de ler seus livros de viagens. Livros que me tocavam imensamente. Sua carreira foi brilhante no exercício das altas funções exercidas, das produções e dos cursos realizados e, por isso, sentimo-nos orgulhosos por ele representar tão bem Feira de Santana, a Bahia e o Brasil”. No meu testemunho bem próximo, Edivaldo Boaventura tanto é um dos aprovados para a cátedra de Economia Política da Ufba no ano de 1964. Ele con-
tando 31 e o saudoso mestre Washington Trindade, 41, quanto o fundador da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o diretor de A TARDE ou, ainda, o metodólogo e admirador de Taurino Araújo que, ao defender a possibilidade de exclusiva pesquisa bibliográfica em todas as fases do projeto foi referência para que Taurino invocasse a presunção de similitude entre os diversos ordenamentos (Van Erp) e assim inventasse aqui, na Bahia, inédita e universal hermenêutica da desigualdade, uma introdução às Ciências Jurídicas e também Sociais, método au-delà de Sócrates, Platão e Aristóteles, postula Nelson Cerqueira, confrade de Edivaldo na Ufba e Academia de Letras da Bahia.
guerrear, nós temos que lutar. Nós temos que ir pra rua, ir pro pau. (...) Montar guerrilha, começar a estourar cabeça de coxinha, de juiz (…). Se nós precisar derrubar o prédio, tem que derrubar. Se precisar lutar, tem que lutar”. A Polícia Federal (PF) instaurou inquérito. Em depoimento, Urias Rocha confirmou a autoria e o teor da gravação, mas disse ser contra “qualquer tipo de violência”. Por causa disso, Urias foi suspenso pelo PCdoB mas, surpreendentemente, não foi nem indiciado pela PF. Os delegados disseram tratar-se de “crime de menor potencial ofensivo”. Cinco meses depois, a procuradora-geral Raquel Dodge acusa no Supremo o deputado, candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro, de incitar violência, crime de ódio e racismo, por ter declarado em palestra que os quilombolas e indígenas, sob a proteção especial do governo federal, têm pouca disposição ao trabalho. Afinal, quem cometeu “crime de menor potencial ofensivo”: o militante que incentiva estourar a cabeça de juízes e adversários políticos, montar guerrilha, ou o deputado-candidato expressando sua avaliação da concessão de terras a quilombolas e indígenas? JOSÉ RENATO ALMEIDA, JRMAL-
foi do ministro Edson Fachin, que votou pela recomendação do Comitê de Direitos Humanos, da ONU, que permitia a candidatura de Lula, embora condenado e preso. O substituto será o vice da chapa, Fernando Haddad, desconhecido nacionalmente. Resta saber para quem serão transferidos os 39% das intenções de votos atribuídos a Lula. O sonho do PT virou pesadelo. TIAGO MELLO, TIAGO-
ESPAÇO DO LEITOR
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Poste do Lula
O candidato Haddad, poste lulático, foi um péssimo prefeito de São Paulo, mas os cidadãos do resto do Brasil não sabem disso. A mídia não o critica, diferentemente do que fazem os jornais, jornalistas e comentaristas das TVs com o Bolsonaro, que não está em nenhuma investigação por improbidade nem condenação. Os cidadãos parecem gostar de ser roubados por políticos. MÁRIO A. DENTE, ETICOTOTAL@GMAIL.COM
Bom sucesso
É sempre gratificante ver colegas de profissão que, embora tenham conquistado merecido sucesso na área de sua formação acadêmica (no caso, a Medicina), enveredam com o mesmo destaque em outras áreas, como a literatura. Refiro-me ao colega Marcos Luna, que nos brinda com inteligentes artigos nas páginas do nosso A TARDE. Parabéns, Marcos! Continue assim. Sou seu admirador! JOSÉ FERNANDO M. FIGUEIREDO, JOTANANDO@GMAIL.COM
Lágrimas, suor e sangue
Para vencer Hitler, Churchill fez o V da vitória, mas prometeu sangue, suor e lágrimas. Lula ou Haddad pode fazer o mesmo para vencer os armeiros, bicheiros, grileiros, banqueiros, escravistas, entreguistas, falso-moralistas, contrabandistas, dizimistas, sonegadores, opressores, exploradores, pastores, manipuladores, destruidores do meio ambiente, milícias, traficantes, PCC, inver-
tendo a ordem: sangue bom nas veias para estancar o derramamento de sangue que assola e debilita o país; suor da ação no trabalho, nas festas, nos esportes; lágrimas de esperança antes que ela morra. E que o PT e as forças progressistas fiquem longe do Centrão e apresentem ou apoiem candidatos com esse perfil e esse ideal em todos os lugares do Brasil. O V da vitória está aí. BOANERGES DE CASTRO, BOANERGESAGUIARCASTRO@GMAIL.COM
Tipos de violência
Em janeiro deste ano, Urias Fonseca Rocha, ex-candidato a vereador pelo PCdoB em Campo Grande (MS), orientou os militantes pelo Whatsapp: “Se Lula for condenado, temos que brigar até as últimas consequências. Se precisar guerrear, nós temos que
Resta saber para quem serão transferidos os 39% das intenções de votos atribuídos a Lula. O sonho do PT virou pesadelo
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Decisão do TSE
Não causou surpresa a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que impugnou a candidatura do ex-presidente Lula, com base na Lei da Ficha Limpa. O único voto divergente
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Muros Caídos
Não é possível que alguém, em pleno despertar das luzes no século 21 queira pautar suas atitudes e programas partidários com base no código de Hamurabi (dente por dente, olho por olho). Não entendo como um cidadão postulante ao cargo de presidente pode ter, como plataforma política, ideias que chegam ao ridículo de gesticular com o dedo em forma de gatilho, como se a arma de fogo fosse a solução postulante dos problemas sociais que nos afligem, e que por certo a sua genética ainda carrega o cheiro da chibata e dos sangues derramados nos pelourinhos do Brasil. Querem tapar o buraco das desigualdades, com cimento fraco e as falas dos candidatos nos mostram as mesmas “lengas, lengas”. O povo judeu reconstruiu o muro de Jerusalém, abrindo mão até das famílias, com a pá de cimento na mão e a espada na outra, é isso que o povo brasileiro precisa fazer hoje. AUGUSTO JOSÉ FREITAS, AUGUSTOGENTEBOA@HOTMAIL.COM