COLUNISMO SOCIAL BAIANO PERDE A ELEGÂNCIA DE JULY JORNAL A TARDE 4 DE NOVEMBRO DE 2022

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SALVADOR SEXTA-FEIRA 4/11/2022

ESPECIAL

MÚSICA Banda de rock gospel Oficina G3 se apresenta em Salvador www.atarde.com.br

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DESPEDIDA O sepultamento acontece no final da manhã de hoje, no cemitério Jardim da Saudade

COLUNISMO SOCIAL BAIANO PERDE ELEGÂNCIA DE JULY Arquivo A TARDE

DA REDAÇÃO

A jornalista July Isensée, colunista de A TARDE por quase 60 anos, faleceu ontem, em Salvador, vítima de acidente vascular cerebral. Julieta Miranda Isensée ingressou no jornal em março de 1963 e foi ao longo desta trajetória uma das principais colunistas sociais da Bahia. O sepultamento está previsto para o final da manhã de hoje (11h30), no cemitério Jardim da Saudade (Brotas). A coluna de July em A TARDE se tornou referência durante décadas e a morte dela deixa o jornalismo baiano em luto. Sobrinha de July e colaboradora da coluna nos últimos anos, Alexandra Isensée afirma que a tia deixa um modelo de jornalismo e ética profissional. "Ela me levou e incentivou a escolher a mesma profissão, que desempenho com amor e dedicação, como ela sempre o fez, até o mês passado, ao longo de toda a vida", afirmou Alexandra, que compartilha ainda memórias com a tia. "Me lembro perfeitamente, quando criança, me levava para a sala dela no antigo prédio de A TARDE, na Praça Castro Alves, que ela amava, e me apresentava a toda a Redação, como ao querido mestre e amigo, Jorge Calmon (ex-Diretor de Redação de A TARDE), e à família Simões". Alexandra ressalta, ainda, que, em 2023 seriam comemorados os 60 anos de colunismo social e jornalismo, no mesmo jornal e na mesma função. "Ela permanecerá nas nossas lembranças, mentes e corações, e de milhares de pessoas, sobre quem ela escreveu, divulgou e apoiou", emociona-se.

Depoimentos

A jornalista e escritora Suzana Varjão, que foi editora do Caderno 2 de A TARDE por uma década, destacou a importância da colunista. "A sensação que tenho, com o passar dos anos, é de estar caminhando sobre um vasto areal. Enquanto firmo pegadas à frente, vejo outras apagando-se, atrás. E uma das marcas que compõem minha trajetória profissio-

CEDOC A TARDE

“O trabalho que ela fez é de grande relevância para a Bahia”

July Isensée foi colunista de A TARDE por quase 60 anos

MARIA ADAIR, artista plástica

JULY CONFERIU ESTILO PRÓPRIO À COLUNA SOCIEDADE, QUE ASSUMIU EM 1963 Arquivo A TARDE

CLEIDIANA RAMOS

Estreia de July na coluna Sociedade foi em 1º de março de 1963

nal acaba de desaparecer. Vá em paz, querida July. Aprendi com você, entre outras tantas coisas, a respeitar o diferente, a valorizar o que não é espelho. Obrigada!". A artista plástica Maria Adair externou o sentimento de perda. "Hoje, o jornal A TARDE está de luto, July foi morar em outras paragens, estou muito sentida. O trabalho que ela fez é de grande relevância para a Bahia. Tenho guardada uma boa coleção do cabeçalho da página dela. Meus sentimentos para o jornal". O jurista Taurino Araújo diz que a chamava de "grande July", uma forma de tratar "essa personalidade superlativa, absoluta e sintética de Julieta Isensée que por quase 60 anos registrou com muita seriedade e competência a vida social da Bahia de Todos-os-Santos e do jet set que, ao longo de todo esse tempo, passou a ser denominado grand monde, alta-roda, colunáveis, socialites etc. Saiu na Coluna de July é verdade!". Ele conta que cresceu na cidade de Ubatã "ouvindo falar da Dona July, imortalizada pela Ótica Ernesto, no jingle de Walter Queiroz, e nesse Jornal A TARDE". Mauricio Cruz Lopes, presidente da Odebrecht Engenharia & Construção (OEC), encaminhou mensagem solidária: "É com pesar que recebemos a notícia do falecimento de July, grande referência do jornalismo social, que viverá para sempre em nossas memórias pela trajetória única, marcada pelo carisma, competência e credibilidade. Recebam nossas sinceras condolências pela perda. Que Deus conforte o coração de todos neste momento de dor e saudade".

A estreia de July Isensée na coluna Sociedade publicada em A TARDE foi em 1º de março de 1963. Na primeira edição já estava o que seriam as características da publicação sob o seu comando: notícias sobre eventos, como casamentos, aniversários, e o cotidiano de famosos da Bahia, de outros estados e países, mas também informações sobre arte e ciências. Na coluna de estreia, July deu informações sobre a recuperação do ator Paulo Autran. O famoso professor Híggins (Paulo Autran), da peça “Minha Querida Lady”, sofreu um sério acidente de carro na Avenida Presidente Dutra, que o deixará fora do palco por um período de três meses. Assumiu o seu lugar o jovem ator Edson França”. (A TARDE Sociedade 01/03/

July imprimiu sua marca 1963, p.6). Mesmo trazendo notícias dos mais variados lugares, July conseguia imprimir um tom de ligação com a Bahia e seus personagens na coluna. Na edição de 2 de janeiro de 1964, por exemplo, ela escolheu Irmã Dulce co-

mo uma de suas protagonistas, ao destacar como única imagem a fotografia da religiosa: “Na minha primeira coluna do ano 1964, não poderia deixar de prestar uma homenagem a uma das criaturas mais humanas e abnegadas que conheço – a querida IRMÃ DULCE”. (A TARDE 02/01/1964, p.6). Desde a sua fundação em 1912, A TARDE manteve espaço para o que geralmente é denominado colunismo social. A princípio a seção chamava-se Mudanças e Sociais. Com o tempo houve uma separação de conteúdo: a coluna Sociais ficou reservada para os anônimos e Sociedade para as celebridades. Antes de July, a Sociedade tinha um autor que assinava apenas como Roberto, sem sobrenome.

Mudanças

A partir de 1963, Sociedade

passou a se confundir com a própria autora, a ponto de a seção ser mais conhecida como “Coluna de July”. O espaço foi se adaptando às transformações editoriais e gráficas do jornal. Iniciada no primeiro caderno, a coluna migrou para o Caderno 2, espaço do conteúdo sobre as linguagens artísticas e reportagens de comportamento. A partir do avanço tecnológico para compor o jornal, a coluna ganhou espaço para a publicação de mais imagens e registros mais curtos. O que não mudou ao longo dos anos foi a marca de July, que dava aos seus leitores a sensação de proximidade com os personagens que ela conhecia tão de perto. CLEIDIANA RAMOS É JORNALISTA, DOUTORA EM ANTROPOLOGIA E PRODUTORA DA COLUNA A TARDEMEMÓRIA E PROJETO REC A TARDE

Coluna se adaptou às transformações editoriais do jornal


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