Kgi 10 maya banks

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O Grupo Internacional Kelly (KGI): Um negócio super elite e supersecreto, de administração familiar.

Qualificações: Alta inteligência, corpo duro e resistente, experiência militar.

Missão: Recuperação de vítimas de sequestro. Coleta de informações. Lidar com trabalhos que o governo dos EUA não consegue...

O enigmático Hancock foi tanto um oponente quanto um aliado das equipes da KGI pelo tempo que eles o conheciam. Sempre trabalhando num jogo profundo, a verdadeira lealdade de Hancock nunca foi aparente, mas uma coisa era certa — ele nunca deixou nada entrar no caminho do dever. Mas agora, sua absoluta crença na primazia de sua meta final é desafiada por uma prisioneira que ele foi ordenado guardar, não importa quanto ela sofra em sua prisão. Ela é a única mulher que algum dia conseguiu penetrar as rígidas paredes rodeando seu coração gelado, mas ele permitirá que seus sentimentos perplexos pela bela vítima destrua a missão que passou anos trabalhando para completar ou será forçado a sacrificá-la pelo “bem maior”?


CAPÍTULO 1 HONOR Cambridge aplicou um band-aid colorido com carinhas sorridentes e amarelas sobre a pequena picada que foi feita no braço do menino de quatro anos de idade, e lhe deu um sorriso tranquilizador. Em impecável árabe, disse-lhe o quão corajoso ele foi por não demonstrar medo ou angústia na frente de sua mãe e perturbá-la ainda mais. Ele lhe deu um sorriso cheio de dentes e já mostrava sinais de arrogância masculina, mesmo em uma idade tão jovem, como se quisesse dizer-lhe, claro, ele tinha sido valente. Apesar de Honor não ter nenhum diploma médico, sua formação era avançada e tinha aprendido muito através das provas de fogo. Tecnicamente seu trabalho era como uma assistente, oferecendo ajuda em suas diversas formas para os pobres e oprimidos nas pequenas aldeias presas entre facções rivais e na luta interminável pela supremacia. Sua família a apoiou totalmente, mas ela também sabia que eles questionaram sua necessidade ardente de dedicar sua vida a serviço dos outros. Eles estavam orgulhosos dela, mas eles também desejavam que ela escolhesse outros lugares, mais seguros, para oferecer ajuda. Não o Oriente Médio, uma região devastada pela guerra, onde a ameaça não vinha apenas das outras nações, mas dentro de seu país, de grupos divididos por diferenças religiosas, políticas e culturais e incapazes de tolerar as diferenças dos outros. Todos queriam forçar os outros a dobrar ao seu modo de vida, impor suas crenças sobre aqueles que não compartilhavam da mesma ideologia e ainda conseguiam assustar e confundir Honor apesar do fato de que ela deveria estar mais dura. Nada deveria chocá-la. E ainda... Todos os dias ela conseguia ser surpreendida, porque havia sempre mais. Quando ela pensava que tinha visto de tudo, algo sempre conseguia pegá-la desprevenida. Mas se tornar cansada e cínica era o beijo da morte. No dia em que ela já não pudesse sentir compaixão pelos inocentes e oprimidos e raiva contra a violência sem sentido e desespero que era tão difundida na região, seria o dia que ela precisaria encontrar um chato e estúpido emprego das nove as cinco, ter


uma vida segura, onde a coisa mais perigosa que ela encontraria era o tráfego da hora do rush. Honor colocou a mão no braço do menino para conduzi-lo à sua mãe, que já estava segurando um grande pacote de ajuda, cheio de coisas que a maioria das pessoas tinham como certo, mas que eram mercadorias preciosas em aldeias onde a água corrente era um luxo. O edifício inteiro de repente balançou e o chão cedeu sob os pés de Honor como se um terremoto estivesse acontecendo. Ninguém gritou. Mas os olhares de terror, muito comuns nos rostos das pessoas que havia se tornado queridas para Honor, foram compartilhados por todos. Um estranho silêncio se seguiu, e então... O mundo explodiu em torno deles, uma terrível tempestade, um redemoinho de calor, com o fogo e o cheiro acre de explosivos. E sangue. A morte tinha um cheiro muito próprio. E Honor tinha visto muito sangue e morte, tinha cheirado, tinha testemunhado a visão horrível da própria essência da vida lentamente escoar de um ser humano que uma vez tinha sido vibrante. Uma criança inocente. A mãe buscando apenas proteger seus filhos. Um pai morto na frente de toda a sua família. Reinava o caos enquanto pessoas corriam sem uma direção clara em mente, e Honor via os acontecimentos com calma, como se ela tivesse se separado do seu corpo e vendo desapaixonadamente o ataque ao centro de ajuda humanitária. Uma das suas colegas de trabalho, e amiga, gritou com ela para se abrigar, e em seguida ficou completamente imóvel, a morte em seus olhos quando o sangue floresceu acima do seu peito. Ela caiu como uma marionete, sua expressão não de dor, mas de grande tristeza. E arrependimento. Lágrimas queimaram nos cantos dos olhos de Honor quando ela finalmente se forçou a movimentar. Havia crianças para proteger. Mulheres para salvar. A célula extremista cruel não acabaria com todos. Foi um juramento, uma ladainha que repetiu várias vezes em sua mente enquanto ela empurrava crianças e mães para a saída dos fundos e para calor do deserto.


Uma das mulheres agarrou a mão de Honor, quando Honor se virou para voltar ela implorou em árabe para ir com eles. Correr. Salvar-se a si mesma. Os extremistas não teriam misericórdia. Especialmente com os ocidentais. Honor suavemente livrou a mão da desesperada da mulher. “Que Alá esteja com você”, ela sussurrou, orando em seu coração que Deus, um Deus, qualquer Deus, parasse o ódio e o derramamento de sangue. O assassinato sem sentido do bom e do inocente. Então ela se virou e correu de volta para o prédio, ou o que restava dele. Vagamente ela registrou que os leves, mas bonitos chinelos que ela normalmente usava, de alguma forma tinham saído de seus pés em meio ao caos em torno dela, mas a última coisa em sua mente era proteger seus pés, quando sua vida estava em jogo. Ela procurou freneticamente por seus companheiros socorristas humanitários. Os dois médicos que trabalharam incansavelmente dia e noite, às vezes passavam muitas noites sem dormir porque a necessidade de ajuda médica era muito grande. As enfermeiras faziam o trabalho que muitos médicos nos Estados Unidos faziam, com tecnologia muito menos avançada ou ferramentas de diagnóstico. Em todos os lugares que ela olhou tudo o que viu foi sangue, rios de sangue. E morte. O fedor fez o seu estômago se revirar e ela fechou a mão sobre a boca para se impedir de vomitar violentamente e para silenciar o grito que brotou das profundezas de sua alma. Não havia consolo para ser encontrado em qualquer lugar que ela olhou, mas ela poderia pelo menos ficar grata por não ver os corpos de muitas crianças, ou suas mães. A maioria tinha fugido bem treinados e acostumados a tais ataques. Os companheiros de Honor, seus amigos, as pessoas que tinham a mesma vocação como ela, não se saíram muito bem. A própria terra explodiu debaixo dela. Ao redor dela. Pedras e detritos foram lançados nela, golpeando-a em uma onda interminável de dor e terror. Ela deu um passo, fazendo uma careta quando algo afiado cortou seu pé macio. E então ela olhou para o telhado, que já tinha cedido e que nesse momento, desmoronou, enviando-a dolorosamente para o chão devastado. Detritos choviam sobre ela. Não, isso era o teto desabando sobre ela, prendendo-a sob


rochas, escombros, uma viga quebrada. A nuvem de poeira e fumaça era tão espessa que ela não podia sugar o ar para os seus pulmões torturados. Ela não tinha certeza se era a espessa fumaça de gesso que tornou impossível que ela respirasse ou se era a montanha de escombros, no qual ela estava soterrada, a pressionando impiedosamente até que ela tinha a certeza de que todos os ossos do seu corpo seriam esmagados, incapazes de suportar a tensão insuportável. A dor estava presente. Estava lá. Ela sabia disso. Mas era distante. Como se estivesse tentando penetrar na mais espessa neblina em torno dela. Uma dormência arrastou insidiosamente ao longo e através de seu corpo, e ela não tinha certeza se era uma bênção ser incapaz de sentir o que parecia ser uma dor insuportável ou se esta era a maldição da morte. A morte dela. Suas pálpebras se fecharam lentamente enquanto ela lutava para permanecer consciente, com muito medo de que se ela cedesse à escuridão invasora, a morte iria vencer a batalha final. Ela não era uma estranha para a morte, pois a via diariamente. Não negava o enorme risco que tomou ao trabalhar em um país que não estava só em guerra constante com os países vizinhos, todos com diferentes propósitos, crenças e níveis de fanatismo diferentes, mas também divididos dentro de suas próprias fronteiras, cada região determinada a ultrapassar todo o país e forçar sua vontade sobre as pessoas com pontos de vista opostos. E então havia aqueles que não precisavam de nenhuma razão para assassinar, aterrorizar e vitimar seus compatriotas. Aqueles eram os piores de todos. Imprevisíveis. Eles fediam a fanatismo, e seu único objetivo era espalhar o medo nos corações de todos os que os que cruzavam o seu caminho. Eles queriam glória. Eles queriam ser temidos por seus inimigos e reverenciados por outras facções que temiam envolvê-los na batalha. Eles queriam que o mundo soubesse deles. Quem eles eram. Queriam que as pessoas temessem pronunciar seus nomes com medo que eles aparecessem, por falar dos monstros alto demais. Eles rapidamente aprenderam que a maneira mais rápida para elevar seu status, ganhar a atenção da mídia em todo o mundo


e serem capazes de recrutar a elite, o melhor dos melhores, não só aqueles sem medo de dar a vida por sua “causa”, mas que abraçaram a glória de ser um mártir, era atingir os ocidentais. Os americanos em particular. A mídia dos EUA deu aos que buscam a glória justamente o que cobiçavam. Dando uma cobertura de vinte e quatro horas, cada vez que eles lançavam outro ataque. E com mais atenção veio mais ambição. Eles tinham crescido mais ousados, a rápida expansão da sua rede, o seu poder dando uma pausa para as nações que normalmente toleram tais ódios ao Ocidente. Tal poder deixou os líderes de países ricos em petróleo nervosos. Tanto é assim que uma reunião de cúpula sem precedentes foi convocada, reunindo inimigos jurados, que juntos discutiram o crescente problema de um grupo de fanáticos com o poder, a riqueza, o poder militar e aumentando em números sem precedentes a cada dia que se passava. Homens e mulheres de todos os cantos da terra. O que poderia inspirar tanto ódio? Essa sede de dor, violência e sofrimento? Honor estremeceu quando a dormência em torno dela mostrou sinais de dispersar, e por um momento a dor assaltou-a, tirando-lhe o fôlego. Sua visão escureceu a luz se apagando e cada vez mais distante. As lágrimas queimavam como ácido, mas ela se recusou a ceder a elas. Ela estava viva. Pelo menos por enquanto. Nenhum dos outros socorristas havia sido tão afortunado. Parecia como se um meteoro houvesse sido arremessado através da atmosfera da terra, no edifício, e dizimado toda a área. Metade do telhado tinha desmoronado e, a julgar pelo rangido e gemido que ecoava com o menor sussurro do vento, o resto não demoraria a desmoronar. Ela nunca sairia. E por falar nisso, talvez seus colegas socorristas houvessem recebido misericórdia de um ser superior. Uma morte rápida era certamente melhor do que sobreviver e ficar esperando ser encontrado pelos selvagens sanguinários que haviam criado tal devastação. Por que ela tinha sido deixada para sofrer? Por que estava sem graça e misericórdia? Que pecado tinha cometeu para sobreviver apenas para ser condenada ao inferno, ou a um destino pior que a morte? Um calafrio surgiu profundamente em seu corpo golpeado e agarrou-se tenazmente a seus ossos,


seu sangue. Ela estava congelando desde os recessos mais profundos de sua alma enquanto, ao seu redor, o mundo estava pegando fogo, as chamas do inferno, consumindo avidamente as suas vítimas. — Se controle Honor —, ela murmurou, falando enrolado, mostrando a evidência de que ela estava em choque. Aqui ela estava choramingando porque estava viva. Ela sobreviveu ao impossível e, pior, seus colegas de trabalho não tinham e ela se atreveu a invejálos? Ela havia sido poupada quando ninguém mais tinha. Tinha que significar alguma coisa. Sua vida tinha um propósito. Ainda havia muito para fazer. Deus não tinha terminado com ela ainda, e aqui estava ela, deitada no meio dos escombros da destruição agindo como uma criança ingrata por ter vivido. Nunca tinha se sentido tão envergonhada. O que pensaria a família dela? Eles certamente não ficariam chateados por ela ter sobrevivido. Sua morte poderia causar-lhes dor sem fim. Ela era o bebê. A mais jovem de seis irmãos e muito amada por todos. Eles poderiam não gostar por ela se colocar em tal risco, mas eles entenderam sua vocação e a apoiaram. Eles estavam orgulhosos dela. Se por mais ninguém, ela iria sobreviver para eles. O som de vozes, ordens berradas e os escombros que estavam sendo empurrados congelou Honor onde ela estava presa. O pânico brotou e seu coração acelerou loucamente. Sua respiração, já enfraquecida e dolorosa, só piorou. Ela fechou os olhos e se aquietou para não fazer nenhum som. Os soldados estavam vasculhando as ruínas procurando especificamente os ocidentais, as pessoas que dirigiam o centro de ajuda humanitária e que ofereciam abrigo aos refugiados. O triunfo sobre o sucesso do ataque enojou Honor. Houve gritos de alegria um após o outro, um socorrista foi encontrado morto. Lágrimas apertaram sua garganta quando percebeu que os corpos eram arrastados da clínica e alinhados para poderem tirar fotos e mostra-las ao mundo, um aviso para os outros que a sua presença era ofensiva. Oh Deus, o que aconteceria quando a encontrassem? Eles eram sistemáticos na sua busca, quase como se eles soubessem quem eram os trabalhadores humanitários e quantos eram. Se eles estavam felizes por tantos mortos, quanto mais animados ficariam por terem um refém vivo? Alguém para servir de exemplo.


O edifício rangeu e gemeu enquanto as paredes restantes protestavam contra a fraqueza da estrutura. Mais escombros choveram, jogando pedras por todo lado. Honor mal conseguiu segurar um som de dor quando algo atingiu os objetos que a cobriam, a esmagando ainda mais. Os invasores estavam subitamente cautelosos e cuidadosos, a conversa agora era se era seguro continuar a sua contagem minuciosa de corpos. Quando alguém sugeriu sair imediatamente, antes que o que restava da estrutura do edifício caísse em torno de suas orelhas, uma discussão explodiu com vozes altas e duras e muito perto para o conforto do Honor. Eles estavam perto dela e se aproximando o tempo todo. Ela podia sentilos, ouvir a respiração, sentia a exalação urgente em seu pescoço, embora soubesse que não era possível. Mas sentia-se perseguida. Assim como uma presa certamente devia sentir quando um predador estava próximo para matar. Ela fechou os olhos e orou para viver quando apenas momentos antes lamentou o fato de que não tivesse morrido. Uma fervorosa oração se tornou uma ladainha em sua mente, não só para viver, mas para sobreviver. Para escapar, ilesa, o terrível destino que ela iria suportar se fosse descoberta pelos soldados que não pensavam em mais nada, a não ser estuprar, torturar e matar mulheres. Ou crianças, se houvesse. Um tremor passou através de seu corpo antes que ela pudesse chamá-lo de volta, e, em seguida, prendeu a respiração, esperando que não tivesse traído a si mesma. Ela forçou a calma, que não sentia, para acalmar seu corpo, bloqueando a dor e o medo angustiante. Nunca tinha estado mais aterrorizada do que nesse momento. Nenhuma quantidade de preparação, nenhuma ligação estreita com militantes empenhados na destruição, poderia ter lhe dado um vislumbre da realidade que ela passou muitos meses se preparando mentalmente. Em seu coração, ela sentia que era inevitável enfrentar o medo final, a dor, mas nunca verdadeiramente se permitiu pensar que ela poderia ser morta fazendo o que ela sentiu que era sua vocação na vida. Seus pais tentaram convencê-la. Eles imploraram para ela no começo, indo ao ponto de dizer que não queriam perder o seu “bebê”.


Seus quatro irmãos mais velhos e uma irmã mais velha se reuniram para tentar persuadi-la a não ir, pegando pesado, dizendo-lhe que queria que ela fosse uma parte da vida de suas sobrinhas e sobrinhos. Sua irmã em lágrimas segurou a mão de Honor firmemente na dela e a sufocou dizendo que a queria em seu casamento, ao seu lado, mesmo que ela não tivesse planos de se casar tão cedo. Quase havia cedido a sua chantagem emocional. Interiormente ela estremeceu. Chantagem era uma palavra muito dura. Tudo o que tinha feito e dito, tinha sido por amor. Tinha sido sua mãe, no final, vendo a batalha de Honor entre querer agradar a sua família querendo sua felicidade e atendendo a necessidade de servir aos outros em nações em apuros, aterrorizadas, que reuniu a família e tranquilamente, mas com firmeza disse-lhes para recuarem. Havia tanto amor e compreensão e “orgulho” em seu olhar quando ela olhou para Honor, as lágrimas brilhando intensamente em seus olhos. Honor sentiu como se uma onda a consumisse. O amor, o amor de sua mãe apertou suas entranhas e aqueceu o seu coração como nada mais já tinha conseguido. Não, sua mãe não queria que Honor fosse, mas ela entendeu. E disse a seu marido e aos outros filhos que era hora de deixar ir e permitir que Honor voasse. Para ser quem ela tinha de ser. Era a sua vez de brilhar, quando ao longo de sua vida jovem tinha sido quieta, deleitando-se com as realizações e felicidade de seus irmãos enquanto cada um seguira o seu caminho escolhido. O discurso de sua mãe tinha envergonhado seus irmãos e seu pai, embora isso nunca fosse o que Honor queria. Cada um tinha oferecido o seu apoio incondicional e seu pai tinha a abraçado com força, com a voz rouca dizendo que ela seria sempre seu bebê e que tinha que prometer voltar para casa. Seu peito doía e inchava. Lágrimas queimaram suas pálpebras mais uma vez quando ela considerou a possibilidade de quebrar a promessa que fez a seu pai. Outro estrondo rolou através do edifício golpeado, e mais detritos e partes do teto ainda intacto vieram a baixo e em torno de Honor. Ela ouviu uma tosse, murmúrios e maldições e depois a esperança ganhou vida quando pensou que não havia nenhuma.


Os militantes chegaram a um acordo “a conclusão” que precisavam evacuar as ruínas em desintegração antes que eles ficassem presos. Ou mortos. A conversa tornou-se mais leve, o alívio se infiltrando em algumas das vozes que defendia a partida. Salientaram que cadáveres não deram em nada e ninguém poderia ter sobrevivido às explosões e aos franco-atiradores mortais que tinham abatido as vítimas quando eles tentaram fugir. Honor abafou um soluço de dor. Tantas mortes sem sentido e para quê? Porque eles foram prestar auxílio às pessoas desesperadamente necessitadas? As próximas palavras que ela ouviu enquanto os homens começaram a sua retirada, congelou Honor até os ossos. Eles retornariam assim que fosse seguro e localizariam cada vítima, garantindo que nenhuns dos trabalhadores humanitários fugiriam da morte. Deus. Eles conheciam todos. Haviam estudado seus alvos e Honor não poderia se libertar antes deles retornarem para fazer sua contabilidade macabra e então, saberiam que ela não tinha morrido. O que significava que eles impiedosamente iriam caçá-la, porque acima de tudo, este grupo não toleraria o fracasso. E se Honor escapasse viva, então, seus objetivos não seriam alcançados.


CAPÍTULO 2 HONOR despertou com a consciência fraca, sua mente nublada. Desorientação a envolvia e ela lutou para entender a sua situação atual. No mesmo instante, a dor percorreu seu corpo, como se simplesmente estivesse esperando por sua consciência, irritada porque ela ficou inconsciente e evitou sua cruel punição. Ela ofegava baixinho. Olhou através das pilhas de detritos em cima dela e experimentou mexer seu corpo, testando não só para uma dor mais forte que seria um sinal de lesão grave, mas também para ver se ela tinha alguma chance de sair dos escombros que a prendiam ao chão. Estava escuro como breu, sinalizando que a noite tinha caído. Ela deu um suspiro de alívio antes de rapidamente perceber que ela não estava fora de perigo, longe disso. A noite só a ajudaria se ela pudesse, de alguma forma, livrar-se de sua prisão e se mover o suficiente para fugir para a proteção da escuridão. Antes que o desespero a envolvesse completamente, ela empurrou firmemente a emoção negativa à distância. Ela já corria perigo o suficiente sem tentar se convencer que não tinha nenhuma chance. Neste ponto, a esperança era tudo o que tinha. E uma vontade muito forte de sobreviver, não ser derrotada por homens que prosperaram na dor, o medo e a subjugação completa de todos os que não possuíam a sua ideologia. Ela chegaria em casa. Encontraria uma maneira. E, por Deus, quando conseguisse, enviaria o maior “foda-se” à célula terrorista que assassinou seus colegas de trabalho e amigos, e os deixaria saber que uma simples mulher fez o seu melhor e sobreviveu. Imbuída por um novo senso de propósito e determinação, ela colocou sua mente para descobrir como poderia se mover e qual o melhor curso de ação era para sair da carnificina em que se encontrava presa. Os minutos passavam com uma lentidão agonizante. A dor era sua companheira constante. O suor banhava seu corpo, mas ela estava muito úmida


para ser apenas suor. Sabia que estava sangrando. Não horrivelmente e nem tão rápido ou não estaria consciente. Mas o calor pegajoso agarrou-se a sua pele e ela podia sentir o cheiro acre de mofo, gesso, pedra e madeira destruídas além do cheiro de produtos químicos de explosivos que haviam diminuído levados pela brisa da noite. Ela levou um tempo, testando cada parte do seu corpo, começando com os pés. Ela mexeu os dedos dos pés e, em seguida, dobrou seus pés e os girou o melhor que pôde, estremecendo quando seu joelho bateu em um pedaço irregular de pedra. As paredes da unidade eram completamente de pedra, o teto de madeira com vigas que suportavam a pesada estrutura. O piso era de concreto e nenhuma quantidade de varredura ou limpeza impedia a areia de soprar e acumular em cada superfície. A tentativa de manter um ambiente estéril era uma merda de trabalho, e a infecção era sempre uma preocupação entre os médicos e enfermeiros. Seu joelho estava apertado. Inchado. E muito dolorido. Ela o dobrou lentamente em pequenos movimentos, não querendo fazer mais danos se ele estivesse gravemente ferido, mas precisava desesperadamente mexer as pernas. Seus braços não eram tão importantes. Mas ela precisava das pernas e pés para levá-la bem longe deste lugar. Tão rapidamente quanto humanamente fosse possível. Ela não podia esperar a ajuda chegar. Não há resgate. O Departamento de Estado emitiu um decreto avisando a todos os cidadãos norte-americanos da região, e não haveria nenhuma ajuda para aqueles que ignoraram o aviso. Não havia tropas dos EUA na área. Nenhuma embaixada. Nenhuma presença americana aqui. E nenhum outro grupo militar do país ousava se opor aos selvagens militantes por medo de represálias. Eles estavam muito ocupados com uma cúpula onde todos discutiam a questão até a morte, em vez de tomar medidas, um fato que enfureceu Honor. Como qualquer governo poderia afastar a dor e o sofrimento de inúmeros homens, mulheres e crianças em uma área tão ampla? Por que não havia mais indignação pública? Só Deus sabia que era divulgado na mídia o tempo todo. Todo mundo estava tão cansado da cobertura constante que havia se tornado


tedioso e eles se distanciaram? Ou eles eram tão presunçosos e confortáveis em seu ambiente seguro que não ligavam para o sofrimento dos outros? Ela aproveitou a raiva da impotência e se agarrou a ela, e a manteve presa. Serviu para aumentar sua determinação e força para se libertar. Após seu exame cuidadoso de seus membros e as áreas de seu corpo que protegiam seus órgãos mais vitais, ela estava satisfeita “ou talvez apenas esperançosa”, de que poderia fazer isso. Ela começou com as mãos, arranhando e empurrando para longe todos os tipos de detritos, amaldiçoou quando seus dedos pegaram objetos afiados, cortando a pele e fazendo-a sangrar. Suas unhas quebraram, rasgando sua pele até a carne, mas a dor era menor em comparação com a dor pulsante no resto de seu corpo e isso só a deixou com mais força de vontade. Quanto mais contratempos ocorriam, mais irritada ela ficava, e a adrenalina tomou o lugar da dor e o processo de pensamento autodestrutivo em sua mente parecia ficar afastado. Era difícil trabalhar, na posição que estava em seu estômago ou desajeitadamente em um ângulo ligeiramente torto. Isso forçou a trabalhar principalmente com uma mão, a outra não se dobrava sob seu corpo e era inútil, exceto para limpar o que podia alcançar. Ela não tinha noção da passagem do tempo, apenas a urgência de escapar antes do amanhecer, quando os assassinos, sem dúvida, voltariam para retomar a sua contagem de corpos. Mordeu o lábio para conter as lágrimas de tristeza, determinando que eles não iriam vencê-la. Somente ela poderia contar as histórias dos heróis, agora mortos, e heroínas que tinham devotado suas vidas a ajudar os outros. Somente ela podia testemunhar a atrocidade cometida aqui, a sua bravura e abnegação não ficaria sem ser anunciada. Não se ela pudesse fazer alguma coisa a respeito. Depois do que pareciam ser horas, ela conseguiu descobrir toda a metade superior de seu corpo e, por um momento, se sentou, descansando seu rosto contra o chão enquanto se preparava para a próxima etapa. De alguma forma tinha que se virar e sentar o mais verticalmente possível para que pudesse trabalhar e liberar a metade inferior de seu corpo e suas pernas. Isso era sua única esperança para escapar deste lugar.


Reunindo sua força e coragem, começou a torcer o corpo, estremecendo enquanto cada músculo protestou com o movimento estranho. Sentia-se fraca como um gatinho. O suor agora encharcava sua roupa esfarrapada. Entre o suor e o sangue que revestia seu corpo, suas calças e camisa pareciam que tinham sido colados nela. Seu joelho ferido era o maior problema. Ela tinha que girar toda a sua metade inferior, independentemente do peso pressionando sobre ele. Rangendo os dentes, plantou uma palma no chão e girou a parte superior do corpo, de modo que a outra mão pairou centímetros acima do chão, no outro lado. Empurrou para cima, esticou, girou e, em seguida, ficou ofegante com a dor que estilhaçou através de suas pernas. As duas. Deus, e se ela não fosse capaz de andar depois de tudo? E se tivesse quebrado as duas, e estava em choque demais para sentir as rupturas? A única dor que ela podia identificar era em seu joelho. Novamente, ela mexeu os dedos dos pés, buscando a confirmação que não imaginava ser capaz de fazer momentos antes. Prestou mais atenção desta vez, inclinando-se, em uma pose estranha e desconfortável, enquanto se concentrava ferozmente para ver se sentia dor ou fraqueza. Então, ocorreu-lhe o pensamento, que a razão de não sentir dor ou fraqueza podia ser por não conseguir sentir as pernas. Assim que o pensamento apavorante explodiu em sua mente, empurrou-o de lado com impaciência. Pensamentos irracionais e histéricos não tinham lugar aqui. Se ela estivesse paralisada, não seria capaz de mover os pés ou saber que era capaz de movêlos, e não sentiria a dor latejante em seu joelho. Com seus medos em um nível mais gerenciável, Honor preparou-se e olhou com determinação para o monte que cobria sua parte inferior. Estava absurdamente contente, e a excitação percorreu suas veias quando sentiu o suave sussurro do ar da noite ao longo dos dedos de seu pé esquerdo. Ela mexeu novamente, prestando mais atenção, percebendo que eles estavam cutucando fora dos escombros. Um arrepio tomou conta dela. Graças a Deus os militantes não tinham chegado perto o suficiente para ver parte do seu pé. Eles a teriam descoberto


para ver se estava morta como os outros. E depois que a encontrassem viva? Calou sua mente, recusando-se a continuar por esse caminho de pensamento. Eles não a tinham encontrado. Eles não iriam encontrá-la. Portanto, não havia necessidade de se atormentar com o que poderia ter acontecido. Ela estava mais focada no que jamais estaria. Fechou seus lábios, pressionando juntos em um voto de não permitir que um único som passasse por eles, ela virou o corpo com mais determinação, desta vez em vez da torção experimental que ela tinha feito no início. Uma careta fez tremer a linha de seus lábios e ela apertou os dentes, sua mandíbula doendo de tanta pressão. A determinação estava viva dentro dela. Ela assumiu. Tornou-se ela. Naquele momento, a incapacidade de fugir não era uma possibilidade remota. Um silvo de dor explodiu de sua boca, sua respiração ficou difícil enquanto ela exercia mais pressão, esforçando-se rigidamente para girar seus quadris e pernas. Fogo varreu na parte de trás de suas pernas quando elas rasparam nas bordas irregulares de pedra, metal, madeira e vidro. Seu estômago se apertou e espremeu como se procurasse se livrar de qualquer conteúdo, quando seu joelho machucado bateu em um objeto imóvel. Ela viu estrelas e lágrimas queimaram em seus olhos. Isso só fez com que ficasse mais irritada. Sua fúria cresceu até que tomou conta dela. — Por que Você não me ajuda? — Falou enfurecidamente, lançando seu olhar para cima antes que a vergonha caísse sobre ela, tanto quanto o edifício. — Desculpe, — murmurou, fechando os olhos. — Mas eu realmente poderia usar sua ajuda agora. Um anjo seria bom se Você está ocupado demais para vir pessoalmente. Ela respirou fundo, achou o centro da calma que estava aninhada na raiva quente em suas veias. Gritar com Deus não a levaria a qualquer lugar. E como dizia o velho ditado, “Deus ajuda aqueles que se ajudam”, e agora ela não estava fazendo nada remotamente útil. Lamentando, desejando ter morrido e lutar constantemente contra as lágrimas não era a marca registrada de alguém digno do dom da vida. E, no entanto, aqui estava ela. Tão perto da liberdade, enquanto os outros também estavam por perto, mas suas almas já tinham ido deste mundo.


Ela tinha um propósito, pensou novamente. Isso reforçou seu espírito e aliviou um pouco o medo corroendo suas entranhas. Talvez tudo o que tinha acontecido até agora era apenas preparação para seu verdadeiro propósito, e ela não conseguiria descobrir se não tirasse sua bunda fora daqui antes do sol se pôr. Desligando toda a emoção raivosa que era como um vulcão prestes a entrar em erupção e se recusando a reconhecer a dor ou as limitações atuais em seu corpo, Honor tentou se mover novamente. Desta vez, não parou quando o arranhão terrível queimou suas pernas ou quando seu joelho, tão sensível e inchado, gritou em protesto aos seus movimentos. Recusou-se a parar até que finalmente os dois calcanhares estavam plantados no chão, com os dedos e o pé apontando para cima. Seu joelho machucado latejava, esticado pela nova posição da sua perna esticada. Apressadamente, ela se empurrou para cima até que se inclinou para frente, com as palmas plantadas em meio aos escombros em torno dela. Embora seus olhos tivessem se acostumado a não ter luz, era impossível ver qualquer coisa com detalhe com toda a área coberta na escuridão sufocante. Timidamente, ela estendeu a mão, sentindo o seu caminho ao longo de suas pernas, seus dedos percorrendo levemente os obstáculos que estavam entre ela e liberdade. Xingou quando bateu em uma viga pesada, que se lembrava que caíra sobre ela na explosão. Foi o que bateu em seu joelho antes que ela acabasse de bruços no chão, o peso de metade do prédio caindo sobre suas costas. Quando o mundo tinha desabado sobre ela, tinha caído de costas, mas instintivamente rolou, tentando se proteger de qualquer maneira que podia. Por um momento, ela parou e cravou os dedos acentuadamente em sua têmpora, pressionando e esfregando em círculos apertados, aplicando uma pressão firme na esperança de que poderia fazer, pelo menos, a batida maçante em sua cabeça ir embora e eliminando o resíduo da tenebrosa neblina que tinha teimosamente a agarrado desde que recuperou a consciência. Foi pura força de vontade que a impedia de simplesmente concordar e ceder à ameaça da escuridão em sua mente, o pensamento de que, se ela deixasse ir, a dor e o medo, tudo simplesmente iria... embora. Mas a lembrança de que


quando ou mesmo se ela acordasse, iria enfrentar um pesadelo pior que a morte, ela seria empurrada para as profundezas do inferno e mais uma vez lamentar o fato de ter sobrevivido, manteve-se focada em sua tarefa. Uma coisa era o arrependimento por ter sobrevivido, rastejando através de sua mente no momento em que abriu os olhos para a dor, a tristeza profunda e confusão e ter brevemente sucumbido ao pensamento vergonhoso em um momento de fraqueza antes de voltar a si e recuperasse a sua determinação de ferro, algo que ela sempre tinha possuído, e outra bem diferente era estar em uma situação onde desse a esses covardes responsáveis por este massacre a satisfação de ouvi-la implorar pela morte. Isso a irritou tanto quanto as mortes sem sentido de tantas pessoas boas e generosas. Pessoas que nunca haviam machucado uma alma viva. Cujo único objetivo era o desejo de ajudar aqueles em necessidade que não podiam ajudar a si mesmos. Jamais demonstraria medo ou seria tão covarde para mendigar àqueles bastardos por qualquer coisa. Ela denunciaria e cuspiria em suas “crenças”, dando-lhes o dedo médio, mesmo que não fosse o gesto real, mas pronunciado em cada olhar seu, a sua resposta, mesmo seu fôlego. Mesmo que esse fôlego estivesse se extinguindo. Melhor ainda que o dedo médio de foda-se fosse voltar para casa, depois de frustrar o plano para aniquilar cada um dos trabalhadores humanitários. Ser presunçosamente triunfante e dizer com mais do que palavras: “Vocês não me venceram. Vocês não podem me vencer. ” Era uma fantasia, uma meta que a mantinha desesperada para se libertar. Ela trabalhou com energia renovada. Mais rápido. Mais irritada. Arremessando pedras, pedaços de gesso, pedaços destruídos de cadeiras e mesas de exame. Tudo, menos a viga que estava sobre suas pernas. Ela sentia ao redor, notando que tinha limpado tudo de cima da viga. Em seguida, mergulhou as mãos para baixo e se inclinou para frente, tanto quanto ela era capaz, sua respiração exalando para fora em respirações torturadas, enquanto se esforçava para descobrir uma maneira de sair debaixo do pesado pedaço de madeira.


Uma carranca pensativa curvou seus lábios para baixo e a testa enrugou. Ela moveu as mãos mais para confirmar o fato de que a parte inferior das pernas de fato não ficou presa no chão, mas havia uma camada de entulho e detritos, e suas pernas ficaram presas entre essa camada e a viga. Ela moveu as mãos para fora, sentindo os lados para ver se a viga tinha qualquer apoio exceto suas pernas. Claro que era pesada, mas não parecia como se estivesse todo o peso sobre ela. Ela não teria sido capaz de virar se fosse assim. Com certeza, a viga estava desigual entre as pernas... mas havia muitos detritos de cada lado dela o que acabou escorando a viga. Tinha talvez um centímetro de espaço entre a perna com o joelho ferido e onde a viga inclinava em frente a ela, mas, por outro lado, a viga pressionava contra sua pele, mas o peso não era insuportável. Animada, começou a cavar os escombros debaixo de suas pernas, inclinando-se e desta maneira, em um esforço de escapar de cada obstáculo entre as costas de suas pernas e o chão. Quando as pontas dos dedos sangraram por causa do concreto áspero, a esperança deu forças, explodindo em uma chama inextinguível. Ela ia sair. Depois de empurrar as peças ásperas e irregulares mais longe de ambas as pernas, ela sentiu por trás dela, inclinando-se para trás, tanto quanto podia, plantando as palmas das mãos no chão para a alavancagem. Então começou a árdua tarefa de avanço lento para trás, orando para que houvesse espaço suficiente entre a viga e as pernas para permitir que ela deslizasse livre de sua barreira final para a liberdade. Isso minou cada grama de sua força. Ela estava inspirando e expirando ruidosamente, tentando arrastar o precioso oxigênio para os seus pulmões, enquanto todo o seu corpo se esforçava para puxar as pernas por debaixo da madeira pesada. Cada centímetro era uma agonia. Desta vez, não amaldiçoou as lágrimas que não só ameaçavam, mas deslizavam pelo seu rosto. Ela estava muito focada em seu delicado objetivo. Além disso, se conseguisse fazer sua fuga, essas lágrimas seriam de alívio.


Ela sentiu uma explosão de júbilo quando as coisas ficaram mais fáceis quando a parte mais grossa das pernas ficou solta. Quando as coisas ficaram mais fáceis com sua perna, ela foi capaz de se mover muito mais rápido. Finalmente, os topos de seus pés esbarraram em uma barreira e ela foi forçada a parar, fazer uma pequena pausa para recuperar o fôlego e, em seguida, respirar e afastar a dor e a tensão. Flexionou os pés para frente, tanto quanto poderia achatá-los. Ela se virou para o lado, rangendo os dentes com a dor do movimento de torção causou no joelho machucado. Mas funcionou. Seus pés deslizaram sob a viga, esfregando contra a madeira grossa. Podia sentir as farpas entrando na pele macia de seus pés, mas ela estava muito perto da vitória até mesmo para fazer uma pausa. Congratulou-se com a sensação dos minúsculos fragmentos de madeira que perfuram os topos de seus pés, porque isso significava que estava quase lá. No final, ela nem sequer sentia as farpas a cortando, embora sentisse o calor do sangue em sua pele onde a viga tinha esfolado sua carne macia. Suas mãos escorregaram e ela quase caiu para trás quando seus pés finalmente escaparam da barreira. Arrastou-se na posição vertical, porque se ela relaxasse por um instante, nunca mais poderia reunir vontade para se levantar, sair e fugir. O triunfo subiu quente e selvagem em suas veias. Mas, quando ela deu um impulso para ficar em pé, ou melhor, tentou fazê-lo, o triunfo murchou como um balão furado. A dor percorreu sua espinha, todo o caminho até os pés e, em seguida, retornou novamente, correndo em direção à base do crânio, onde parecia ricochetear. Por vários segundos sua cabeça gritou com espasmos de dor jogando para cima de seu pescoço, quase como se estivesse tendo uma convulsão. Ela respirava através da dor até que finalmente diminuiu para um nível gerenciável e a rigidez finalmente deixou seu pescoço para que ela fosse capaz de se mover mais uma vez. Ela tremia como uma folha. O esforço para ficar em pé, algo tão fácil e tido como certo antes, tinha minado suas forças e a deixou amontoada no chão jogada como um trapo. Não, não agora. Droga. Ela não tinha passado a noite inteira libertandose dos destroços da clínica só para ficar ali e aguardar seu destino nas mãos de


homens que eram tão maus que ela não podia compreender tal capacidade para o ódio e a violência. Não. Eles não iriam colocar suas mãos sobre ela. Tiraria sua própria vida antes mesmo de permitir que o seu destino fosse decidido por monstros. E ela não estava pronta para morrer ainda. Tinha muita vida para viver. Isto era apenas uma pequena, “ok, uma grande” pedra no caminho. Todos tinham. Talvez nem todos enfrentassem armas em punho, lançadores de foguetes, maníacos enlouquecidos que usavam explosivos tão naturalmente como as outras pessoas respiravam e cujo meio de transporte eram tanques, mas ela sobreviveu relativamente ilesa. Fisicamente levaria as cicatrizes mentais a partir deste dia para o resto de sua vida. Não tinha nenhuma dúvida. Desta vez, testou sua força com muito cuidado, empurrando-se para cima com as mãos, dobrando o joelho não lesionado para o chão para dar-lhe apoio, mas teve o cuidado de angular o joelho ferido de um jeito que ele não tivesse qualquer peso e não pressionasse no chão. Levantar-se com as duas mãos e uma perna só não era o modo mais rápido de sair, mas faria o trabalho. Ela se preparou dessa vez e não agiu como uma idiota precipitada e quase se matou por tentar sair rapidamente da estrutura destruída que foi sua casa no último ano. Não se permitiu sentir tristeza enquanto examinava a área, colocando apenas pressão sobre o pé esquerdo, por causa do seu joelho inchado, era necessário mancar em frente e fazer um progresso lento através da devastação. Ela tinha que ter as ferramentas necessárias para sobreviver por conta própria. Em uma terra estrangeira sem presença militar americana, sem embaixada americana, nenhum refúgio ou santuário e nenhuma maneira de voltar para casa, a menos que ela pudesse de alguma forma se comunicar com sua família. Ela não conseguia olhar para os corpos ensanguentados, quebrados que sabia que estavam lá, mas felizmente eram difíceis de distinguir no escuro. Tinha que ser inteligente, uma observadora passiva, e olhar para as coisas que iriam ajudá-la a escapar. Não apenas deste edifício e dos homens que tinham atacado sem provocação. Mas do país. De alguma forma ela tinha que encontrar o longo, sinuoso, e árduo caminho de casa.


CAPÍTULO 3 — VOCÊ quer que eu e os meus homens façamos o quê? —Perguntou Hancock suavemente, sem trair seu sentimento de “Mais que porra? ” Guy Hancock, ou Hancock como ele era conhecido, embora muitos não soubessem seu nome, não enfrentou Russell Bristow. Sua incredulidade com a estupidez do homem não era mostrada, mas, estava lá. A identidade de Hancock mudou como os ventos, e às vezes era difícil para ele acompanhar quem ele era atualmente. Era uma existência cansativa, e com o passar do tempo só piorava. Mas pelo menos ele tinha um propósito. Ou pelo menos ele teve em outro tempo. Agora ele não estava tão certo como tinha sido anteriormente. O tempo havia roubado seu rigoroso código de honra, até que se perguntou o quão perto da linha estava e quão perto de se tornar a mesma coisa que trabalhou incansavelmente para extinguir e proteger dos inocentes. Ele não conhecia outra vida a não ser matar, manipular e dominar os mestres do mal exigindo justiça com sua própria maneira fria e isto não tinha nada a ver com qualquer código legal estabelecido. Há muito tempo renunciou a qualquer aparência de uma consciência. Ele tinha um inabalável e profundamente enraizado senso de honra, mas nem todo mundo concordava que com honra, vinha uma consciência. E o seu código pessoal era apenas isso. Pessoal para ele. Não via em preto e branco. Seu mundo estava mergulhado em cinza. Grandes sombras iminentes que ameaçavam consumi-lo. Às vezes se sentia perseguido e, ele era, mas era como se soubesse que seu tempo era limitado. A urgência de derrubar seu alvo, um que esperou muito tempo para chegar perto, era como uma bomba-relógio. O sucesso escapou, e agora o tempo se esgotou. Hancock nunca iria chegar tão perto novamente. Ele sabia disso. Seus homens sabiam disso. Sentiam, também, que todos provavelmente morreriam para realizar sua missão. E, no entanto, ninguém viraria as costas para o seu dever. Eles abraçavam a morte como resultada da vitória. Nada mais. Os lábios de Russell Bristow enrugaram em desagrado e a raiva queimando em seus olhos. O bastardo estúpido não era inteligente o suficiente


para mascarar suas emoções ou controlar seu temperamento. Poderia matá-lo, Hancock deu de ombros mentalmente. Isso significaria um idiota a menos no mundo e uma pessoa a menos que ele tinha que eliminar no final. Mas até que seu objetivo final fosse alcançado, ele precisava manter o estúpido filho da puta vivo, embora adoraria nada mais do que quebrar seu pescoço e livrar o mundo de sua presença abominável. Bristow era um meio para um fim, e assim Hancock teve que frear sua aversão absoluta do homem até que ele servisse ao seu propósito. Em seguida, ele morreria, porque Hancock nunca deixaria o depravado vivo. — Você não quer dizer os meus homens? — Bristow se descontrolou. Hancock levantou uma sobrancelha e simplesmente olhou o outro homem para baixo, prendendo-o com um olhar que sabia que outros temiam e eram intimidados, até que enfim Bristow corou, até o pescoço e se mexia como um inseto sob um microscópio. Ele desviou o olhar e, em seguida, de volta, mas não encontrou os olhos de Hancock desta vez. Seu medo era um mau cheiro no ar que ofendeu Hancock e enojou seus homens. A coragem vinha em muitas formas, formas e cores. A coragem nem sempre era necessário para ter sucesso. Determinação era. Mas o medo produzia estupidez. O medo causava erros. O medo poderia levar os homens a trair a si mesmos, a sua causa e impedir seu objetivo e o dos outros. Bristow não era leal a ninguém, exceto a si mesmo, e Hancock nunca cometeu o erro de pensar de outra forma ou de menosprezá-lo, ou qualquer outra pessoa, nesse assunto. Bristow sacrificaria Hancock e todos os seus homens se sentisse a qualquer momento que a sua vida estava em perigo. E estava. Era de Hancock e seus homens o trabalho de garantir que Bristow se sentisse seguro e invencível. Para alimentar sua arrogância natural e desejo de poder. Se ele soubesse o que estava enfrentando, teria rastejado para um buraco escuro e profundo, apavorado, e o elo de Hancock para seu objetivo seria perdido. Não, ele precisava de Bristow com toda a sua estupidez e vaidade. Maksimov sabia com quem ele estava lidando. Um boneco. Um homem que pensava que estava no controle e ainda era facilmente controlado por outros. Era um jogo de xadrez, o jogo mais importante da vida de Hancock, ele tinha que fazer parecer que Bristow era facilmente manipulado por Maksimov e ainda movê-lo de tal forma


e posicionar Maksimov como Hancock queria. Assim, na verdade, Hancock manipulava os dois homens sem que nenhum deles soubesse. — Como todos vocês estão na minha folha de pagamento e recebem ordens minhas, isso faz com que todos sejam meus homens, — disse Bristow, sua voz não comandava como tinha sido um momento antes. Mas então ele era um covarde, sempre empregando outras pessoas para fazer o trabalho sujo para ele. Se as suas opções fossem ficar e lutar com os seus homens ou abandonálos e correr, ele iria correr. Sua espécie sempre fazia. Foi precisamente por isso que Hancock tinha sua própria equipe aqui, sob o pretexto de ter que analisálos e contratá-los para Bristow. Bristow não sabia do fato de que a equipe de Hancock tinha trabalhado junto durante anos e que a sua lealdade para com o outro era profunda. Que eles respondiam a Hancock e nenhum outro. Sempre. Em um mundo onde Hancock não confiava em qualquer um, mas em poucos, sua confiança foi dada a Titan, embora já não existisse Titan. Não era... qualquer coisa. O próprio governo os tinha criado, fingindo a sua morte e, em seguida, os criando a partir das cinzas como a Phoenix, deram-lhes novas identidades e eles não tinham nenhum laço com o mundo exterior. A missão era tudo o que importava. Não as pessoas. Não a política ou a dança delicada da diplomacia. O governo havia criado... monstros. Máquinas de matar sem piedade ou consciência, treinado para cumprir ordens a todo custo. O bem da maioria sempre superou o bem de poucos. E quando Titan cresceu muito poderoso, quando eles começaram a questionar as suas ordens, seu objetivo e como ajudavam o bem maior, quando as missões pareciam ficar muito pessoais, muito inconsequentes para um grupo de treinamento e habilidades como Titan, eles foram dissolvidos, marcados como traidores, canhões à solta, assassinos. Até mesmo terroristas. Eles haviam sido rotulados igualmente aos que eles caçavam e isso era como um buraco queimando no estômago de Hancock. Depois de viver tantos anos sem sentimentos, sem emoções, que eram desligadas à vontade e fazer o seu trabalho com eficiência letal, ele aprendeu o que era a verdadeira raiva. Não, desde que sua mãe adotiva, uma mulher que tinha feito Hancock sentir que ele era um ser humano que valia a pena e lhe tinha dado o primeiro e


único sentido de família, tinha sido assassinada em represália por causa da missão de seu marido e isso fez com que Hancock sentisse uma raiva e fúria avassaladora. Essa missão tinha sido pessoal. A única. Big Eddie, o homem que o chamou de filho, tinha vindo pedir ajuda. Vingança. E mesmo se Big Eddie não tivesse perguntado, Hancock teria caçado o assassino de Caroline Sinclair. Mas as coisas mudaram desde então. Isso foi anos atrás, quando Titan operava sob a autoridade do governo norte-americano, embora somente um seleto grupo soubesse da existência de Titan. Eles tinham muita liberdade e caçavam aqueles que eram uma ameaça para a segurança nacional, podiam tirar qualquer ameaça à vontade. E então, seu próprio governo se voltou contra eles, pensando que eram descartáveis e facilmente eliminados. Mesmo agora, os caçadores tinham se tornado a caça, e quaisquer grupos militares secretos tinham ordens para matá-los à primeira vista. Depois de ter acesso aos arquivos de computador de um sombrio agente da CIA, Hancock tinha aprendido um inferno de muita coisa sobre o país ao qual ele tinha jurado sua lealdade. Não, nem todos acusados de defesa da América e seu povo eram maus e egoístas, traindo os cidadãos que prestaram o juramento para proteger e defender. Havia homens e mulheres que incansavelmente assumiram o comando. Mas qualquer um deles mataria Hancock na hora, porque pensavam que ele era um traidor dos princípios que seguiam, viviam e morriam. Titan se recusou a morrer. Eles tinham evoluído muito além do que seus treinadores no início haviam ensinado. E agora, eles não só lutavam para proteger aqueles que os tinham traído e inúmeras vidas americanas inocentes, mas tinham expandido seu alcance em um mundo cheio com o mesmo bem e mal refletido no governo dos EUA e militares. A inocência não tinha fronteiras. Nem nacionalidade. Não era bom ou ruim, simplesmente porque era de uma determinada nacionalidade ou vinha de um sistema de crença diferente. Inocentes morriam todos os dias, simplesmente porque não havia ninguém para lutar por eles. Nem mesmo seus próprios governos. Titan poderia não salvar o mundo inteiro, mas salvava partes dele. Uma peça de cada vez.


Eliminar Maksimov – finalmente – salvaria muitas vidas. O enorme tempo que seria necessário para alguém pegar os restos de seu império, pegar as rédeas e assumir as operações, permitiria que outros países, outros grupos de operações especiais se infiltrassem e fechá-lo antes que se reerguesse do chão. Porque depois de Maksimov... Hancock desligou sua mente, voltando ao assunto em questão, antes que Bristow verdadeiramente entendesse a profundidade da falta de respeito de Hancock e o fato de que ele em nada temia este homem, que ele estava tão confiante de sua superioridade que ele sabia: poderia chegar em Bristow, e a qualquer momento terminar sua existência miserável. Apesar de sua tentativa de silenciar as muitas vozes em sua cabeça, repetindo todos os eventos passados e garantir seu foco absoluto nesta missão, mas acima de tudo, um sussurro deslizou insidiosamente através de sua mente, traçando um percurso que não deixava escolha, senão ouvir. Ele se enraizou dentro dele, criando raízes como tinha feito tantas vezes antes, e desta vez Hancock nem sequer se preocupou em arrancá-lo, afastá-lo, movê-lo para que pudesse esquecer que nunca esteve lá. Depois de Maksimov você estará livre dessa vida. Terá um tempo para você descansar. Ele quase rangeu os dentes. O sussurro incomodava um pouquinho mais ainda assim incomodava, quando pouca coisa tinha o poder de afetá-lo. Descanso podia significar muitas coisas diferentes para um homem como ele. Mas o pensamento predominante, a suspeita que tomou conta quando nada mais faria, era que, neste caso, o descanso significava descanso eterno. E pior do que o pensamento do fim, foi o fato que ele não temia, não sentia tristeza ou arrependimento. Tudo o que ele sentia era... antecipação. Ele não teria a aceitação da sua equipe ou das quatro pessoas que considerava família, as únicas pessoas no mundo que importava para ele. As únicas pessoas pelas quais sentia emoção real. Amor. Lealdade. Respeito. E o conhecimento de que ele morreria por qualquer um deles. Não, se eles soubessem, tornariam muito mais difícil para tomar essa atitude. Eles nunca iriam entender. Eles o queriam longe desta vida. Eles queriam que ele vivesse para eles, com eles. Nunca iriam entender que ele não poderia se adaptar à uma vida civil normal. Ele nem sabia o que era normal.


Não se encaixava em um mundo onde tudo era preto e branco, e onde o cinza não era aceito. Ele não poderia viver ou existir em uma vida em que se algo acontecesse com alguém que amava não poderia ir atrás das pessoas responsáveis, não poderia fazê-los pagar. Ele teria que esperar e contar com a aplicação da lei e confiar que em seguida, o sistema de justiça faria justiça para a pessoa que ele amava. Mas que porra era isso? Ele era a lei para si mesmo, e nunca iria mudar. Deus o ajudasse, ele não queria que mudasse. Nunca ia se sentar e permitir que outra pessoa fizesse o que ele devia fazer sozinho. Bristow fervia com impaciência, tomando o silêncio prolongado de Hancock como desdém e insubordinação. Tanto quanto Hancock queria dizer a ele para se foder, havia um propósito maior na mão, e Bristow importava apenas como um peão utilizado para atingir esse objetivo mais elevado. Hancock não ia se livrar dele ainda. Mas permitiria que o homem soubesse quem realmente estava no controle. Bristow saberia que não deveria cruzar com Hancock, mesmo não sabendo ao certo por quê. Não seria nada que Hancock diria diretamente. Mas Bristow saberia totalmente. — Você me paga, — disse Hancock levemente. — Eu contratei e pago meus homens. Eles seguem as minhas ordens. Nunca pense de outra forma. Embora a declaração parecesse branda, uma verdade simples, havia um aviso suave que Bristow não entendeu mal. Por um breve momento o medo brilhou nos olhos do criminoso antes que visivelmente concordasse com um aceno de cabeça, uma carranca substituindo qualquer sinal de intimidação. Ele odiava a sensação de inferioridade. Só Hancock, que era tão áspero nas extremidades, rígido e inflexível, não era bonito ou atraente para os padrões de ninguém, poderia fazer um homem como Bristow se sentir assim... subserviente. E ainda assim ele estava muito consciente do poder de Hancock para desafiar o homem que trabalhava para ele. Ele estava... com medo... dele. E isso o irritou mais do que tudo. Hancock quase sorriu, mas era muito disciplinado para fazê-lo. Ele queria que o pequeno bastardo ficasse com medo dele e de seus homens. E ele com a maldita certeza, queria que o senhor da guerra sedento de poder soubesse


exatamente onde as lealdades de seus homens estava. Não estava com Bristow, e ele seria um tolo se acreditasse que sim. — Agora, sobre essa mulher, — disse Hancock, deliberadamente trazendo-os de volta para o assunto original. — O que poderia ser tão importante sobre uma mulher solitária para que você corresse o risco de irritar um dos homens mais poderosos do mundo? Mais uma vez, a raiva brilhou nos olhos de Bristow. A impaciência causou uma contração em sua pálpebra direita, e ele estava apenas tentando controlar seu temperamento. Com qualquer outra pessoa, já teria agido. Ele teria ordenado que a pessoa que se atreveu a interrogá-lo e sugerir que ele não era o homem mais poderoso do mundo fosse morta. E não seria uma morte misericordiosa e rápida. Hancock tinha testemunhado as depravações de Bristow em primeira mão. Ele tinha sido forçado a participar, a fim de provar a si mesmo para poder entrar no círculo íntimo de Bristow, ganhar sua confiança e se tornar o segundo de Bristow no comando. O homem era sujo, e só o conhecimento de que quando Hancock derrubasse seu alvo principal, iria em seguida atrás de Bristow e desmantelaria toda a sua organização, o impediu de matar Bristow ali mesmo. Mas ele precisava desse homem, ou melhor, peão, e estava relutante em admitir. Qualquer idiota com as conexões de Bristow serviria. Não era pessoal para Bristow ou qualquer magnitude que tinha seu nome. Maksimov, o alvo primário, o objetivo final, era um bastardo cauteloso, e Hancock tinha chegado perto vezes demais para contar, apenas com o russo para iludi-lo. Estava determinado que esta era a sua perseguição final. Tudo terminaria aqui. Ele traria para baixo cada pino mestre nessa cadeia macabra do mal. Eles atacavam os inocentes, fornecendo as ferramentas necessárias para qualquer pessoa com dinheiro e os meios para fazer a guerra contra o inocente. Eles eram a causa de tanto derramamento de sangue. Rios do mesmo. Centenas de milhares de mortes poderiam ser atribuídas aos elos da cadeia, mas todas as peças levavam ao mesmo homem. Maksimov. Ele tinha os dedos em todo lugar que se poderia imaginar. Se houvesse uma maneira de lucrar com a dor, o sofrimento e o terrorismo, Maksimov o encontrava.


Ironicamente, Maksimov fornecida igualmente a facções rivais, sem dúvida achando divertido ver os grupos em guerra uns contra os outros com armas que tinha fornecido, bolsos engordando com o verdadeiro monopólio, ele segurava nos braços, explosivos, cada arma militar que se possa imaginar e até mesmo os componentes necessários para construir armas nucleares. Ele estava na lista dos mais procurados de todos os países civilizados. Era o homem mais procurado do mundo, e ainda assim, ninguém tinha conseguido levá-lo para baixo. Ao longo dos anos, Hancock tinha falhado mais vezes do que desejava se lembrar mesmo assim, ele implacavelmente perseguiu Maksimov. Criou caminhos até ele. Cultivou parcerias com aqueles no alto da cadeia, que levava a Maksimov. Se não fosse por um ataque da mesma coisa que jurou que não possuía: “consciência”, teria pegado o bastardo duas vezes. Ele tinha mentalmente repreendido a si mesmo uma centena de vezes, e ainda assim não poderia encontrar dentro de si o verdadeiro pesar sobre as escolhas que tinha feito. A única coisa que ele tinha sido capaz de convocar era a vontade de ferro de nunca mais colocar o bem de um sobre o bem de muitos. O preço era muito alto. Ele sacrificou seu objetivo por um único inocente. Não uma, mas duas vezes. E quando imaginou quantos milhares de pessoas inocentes morreram — e continuavam a morrer — porque ele salvou dois inocentes, duas pessoas que não eram nada senão boas — tudo o que ele não era — apenas endureceu sua determinação de nunca mais perder sua honra, seu sistema de crença. Ele compreendia que a perda das duas mulheres que ele escolheu em detrimento a missão, a fim de salvá-las teria sido um absurdo. O mundo precisava de pessoas como Grace e Maren. Mas ele não tinha escolha e iria abraçar mais uma vez a existência sem emoção com que viveu por tantos anos e se envolver profundamente nas camadas onde não sentia nada, além do desejo ardente de completar sua missão a qualquer custo. Ele não sentiria culpa por sacrificar poucos a favor de muitos. Era uma escolha que ninguém deveria ter que fazer, mas era o que ele tinha feito. Suas habilidades afiadas pelo fogo, ensinado pelo melhor. O conhecimento de completar a missão a todo o custo era necessário e que o fracasso não era uma opção, tinha sido tão solidamente enraizado nele, que havia se tornado uma


parte dele. Não, não uma parte. Tornou-se tudo, consumindo toda a sua existência. Tão profundamente enraizado em sua alma que fez quem ele era e o que ele era. Até que não houvesse mais nada da pessoa que ele tinha sido, e em seu lugar, um guerreiro implacável tinha nascido. Forjado pelo fogo. Determinação de aço. Sem hesitação para fazer o seu dever e defender o único código de honra que ele tinha: o seu próprio. — Você me acha um tolo —, Bristow sibilou, com o fogo ardente que tinha visto mais cedo piscando em seus olhos, seu temperamento explosivo e grosseiro. — Eu não o pago para me julgar. Eu pago por obediência absoluta. Se você não consegue lidar com isso, então mostre a seus homens —, acrescentou maliciosamente, — à porta. Hancock sorriu então, mas estava zombando, quis demonstrar desprezo por Bristow e sua total falta de respeito ou medo de um homem acostumado aos dois. — Não, você me paga para fazer seu trabalho sujo. Paga para salvar sua bunda e me paga porque você tem medo que os muitos inimigos que fez ao longo dos anos vão chegar até você, por isso você procurou e contratou o melhor. Por todos os meios, se você está tão confiante em suas habilidades nesta questão, então os meus homens e eu vamos para outro lugar. Há sempre alguém à procura de alguém com minha capacidade e que certamente seria mais apreciado. Tenho certeza que você vai dormir bem à noite, confiante em sua segurança. O medo meramente brilhou nos olhos de Bristow, como uma sombra que afugentou assim que apareceu. Seu rosto inteiro perdeu a cor e ele engoliu visivelmente. Hancock sentiu-se confiante com o blefe do covarde, porque acima de todas as coisas, Bristow temia a morte. Isto é, a sua própria. Ele não tinha nenhum respeito pela morte de outras pessoas e gostava de ser o instrumento de morte. Isso o fazia se sentir divino e poderoso, o poder de decidir se outros viveriam ou morreriam. E ele amava que os outros tivessem esse conhecimento de quem e o que ele era assim teriam medo dele, o reconheceriam e o acalmariam, até mesmo o adorariam. E aí estava a razão pela qual que ele tanto desprezava Hancock. Porque Hancock não só provou ser invencível e impermeável à morte, mas não tinha


nenhuma consideração por Bristow. Ele estava confiante em suas próprias habilidades e nunca teria que contratar outras pessoas para executar as suas ordens. Ele era um homem que outros instintivamente temiam e fugiam. Bristow viu tudo o que ele desejava – e lhe faltava – no homem que tinha contratado, e ele odiava Hancock por isso. Sem esperar, Hancock fez um movimento para seus homens como se fosse para ir, e simplesmente virou as costas para Bristow, certificando-se que pelo menos dois dos seus homens tinham Bristow em sua linha de visão para que ele não fizesse algo estúpido como puxar uma arma para Hancock e atirasse pelas costas. O que seria completamente de acordo com seu caráter, porque Bristow era um covarde e não um que pudesse controlar seu temperamento. — Maksimov a quer — Bristow deixou escapar. — Você não tem ideia do quanto. Você somente sabe que ele a quer. Seu tom de voz era suplicante. Ele esperava conseguir que Hancock e seus homens aceitassem, sem implorar abertamente. Ele sabia que era melhor do que os ordenar a aceitar. E rasgou o seu orgulho já esfarrapado por implorar, por permitir que Hancock soubesse o quanto Bristow precisava dele e temia seu mundo sem Hancock lá para ser uma barreira entre ele e seus inimigos. Não foi o desespero de Bristow que parou Hancock e seus homens. Foi uma palavra mágica. Maksimov. Hancock virou-se lentamente para que ele não apertasse sua mão. Ele dirigiu um olhar fixo para Bristow. —Maksimov quer um monte de coisas —, disse com naturalidade. — O que faz essa mulher ser tão especial? — Não é ela —, disse Bristow, impaciente. — Quero dizer que não é pessoal. Você não entende. Ela escapou de um ataque a um centro de ajuda humanitária onde ela e muitos ocidentais trabalhavam. Ela foi a única sobrevivente, e o grupo militante não deu chances. Eles recuperaram todos os corpos e compararam com a lista de pessoas que sabiam que trabalhavam lá. Eles eram o alvo. Uma vez que descobriram que a mulher não estava entre os mortos e estava longe de ser encontrada, lançaram uma busca por ela. Até agora, ela escapou e não foi encontrada.


Hancock fez um movimento para seus homens parar e tomarem seus lugares na sala, mais uma vez. A formação protetora para que Bristow fosse vigiado por todos os ângulos, embora Bristow fosse inteligente o suficiente para saber que toda a sua ação estava sendo monitorada e que ele ia ser retirado imediatamente se fizesse um movimento errado. Hancock cruzou os braços sobre seu estômago em um modo enganosamente descontraído e curioso. — E por que essa mulher é do interesse de Maksimov? Tanto é assim que você quer que eu a localize e seja o único a capturá-la antes que este grupo a encontre? Eu duvido que você tenha algum interesse em protegê-la ou salvar sua vida, assim como seus perseguidores quando a encontrar — e eles irão — ela será morta. Ou desejaria que ela estivesse morta. Bristow sentou-se atrás da mesa ornamentada que usava para seus negócios. Cheirava a riqueza e opulência, mas, Hancock não esperaria nada menos de um homem que certamente se certificava que todos que entrasse em contato com ele, soubessem de sua riqueza e poder. Seus olhos brilhavam com... excitação. Havia, obviamente, algo sobre a mulher que dava uma vantagem a Bristow, imaginada ou não. Seu corpo inteiro se eriçou com a impaciência e antecipação. — Porque a Nova Era, a célula terrorista que virou o país de cabeça para baixo caçando a mulher, é bem conhecida e implacável. Eles são temidos por muitos. Nações inteiras os temem, e na verdade até mesmo nações inimigas se uniram em uma reunião de cúpula para concentrar seus esforços combinados para detê-los. Eles crescem mais forte a cada dia. Eles têm recursos ilimitados e operam usando o medo e intimidação para alcançar seu objetivo. —E qual é seu objetivo exatamente? — Perguntou Hancock. — Essa é a questão, não é? O que qualquer célula terrorista fanática realmente quer? Eles querem poder, reverência. Querem que as pessoas não só os temam, mas respeitem as suas capacidades. Querem governar toda a região, e não apenas um único país ou território. Querem que as nações os temam e reconheçam que eles são superiores a qualquer força militar. Seus números crescem de forma constante. Eles recrutam em toda parte. Homens e mulheres


de qualquer etnia ou nacionalidade. Eles são muito persuasivos e prometem muita riqueza, poder e dominação. E, até agora, ninguém, nenhum exército, nenhum país, nenhum esforço organizado foi capaz de chegar perto deles. Eles têm poucas baixas e não são afetados por elas. Todo aquele que se junta sente que é uma grande honra morrer por sua causa, o que os torna ainda mais perigosos porque eles não têm medo da morte. Eles são... incontroláveis. — Qual é a conexão de Maksimov e este grupo e por que a mulher é de interesse para ele? — Perguntou Hancock, impaciente, cansado de informações que considerava inúteis. Não havia escassez de células independentes. Todos buscavam dominar uma região já devastada pela guerra. Então, o que fazia este grupo diferente de qualquer outro? Mas ele tinha detectado uma pitada de medo — e respeito — quando Bristow falava deste grupo e Maksimov não temia, nem respeitava ninguém, embora isso fazia dele um tolo, porque ele era fraco, e sem pessoas fortes, e impiedosas, para fazer sua vontade, ele não era nada. — Eles devem dinheiro a Maksimov. Ele é o seu principal fornecedor de armas e explosivos. Acreditam ser intocáveis e não têm medo de Maksimov, os tolos. Se Maksimov tem algo que eles querem muito, então, isso lhe dá uma vantagem. E eles querem esta mulher. A notícia se espalhou pela região que uma mulher solitária, uma mulher americana indefesa conseguiu escapar, e isso os faz parecerem fracos. Como tolos que não conseguem encontrar uma mulher. Eles estão furiosos, sem dúvida, e se a encontrarem e eu não tenho nenhuma dúvida de que eles acabarão por encontrá-la — seu alcance é muito longo, o seu poder muito grande — ela não vai morrer rapidamente. Eles vão fazer dela, um exemplo. Vão usá-la para demonstrar o quanto cruéis eles são, e vão usá-la para enviar uma mensagem a todos os que se opõem a eles. Não tenho dúvidas que Maksimov não só pagaria muito para tê-la em sua posse, mas ele estaria em dívida. Comigo. Ele disse a última frase com suprema satisfação, arrogância e ganância iluminando seus olhos. Portanto, este era o seu objetivo. Balançar algo que Maksimov queria desesperadamente na frente de seu nariz e ser o único a oferecer à mulher para Maksimov. Elevaria o status de Bristow com Maksimov, o que traria mais poder e riqueza. Ele se armaria pelos próximos anos, e


enquanto estivesse sob a proteção de Maksimov como um conhecido em seu círculo íntimo, os inimigos de Bristow hesitariam em atacá-lo, sabendo que tudo o que for feito para Bristow seria tomado por Maksimov como um insulto — um ataque — direto a Maksimov. E poucos se atreveram a enfrentar Maksimov, o que fez Maksimov crescer no poder, ampliando o seu enorme alcance e seu império em algo verdadeiramente assustador. Se Hancock não fosse bem-sucedido em derrubá-lo desta vez, sabia que seu tempo tinha acabado. Ele tinha experiência em primeira mão como Maksimov poderia ser cruel. Ainda tinha as cicatrizes de seu último encontro com o homem, mas, felizmente, Hancock estava infiltrado e sua aparência tinha sido alterada de tal forma que era duvidoso que Maksimov o reconhecesse como o homem que acreditava ser o servo do homem que se virou contra Maksimov. Foi seu único contato próximo e pessoal com o homem que ele tinha caçado por anos, e quando Maksimov tinha chegado perto de Hancock, suas feições já disfarçadas estavam sangrando, machucadas e inchadas, então Hancock sentiuse confiante que o homem não iria reconhecê-lo. Ele planejava ficar muito perto dele, desta vez, e talvez essa mulher que Bristow falou proporcionaria apenas essa chance. Ele olhou para Bristow com interesse, não mais vendo a tarefa que Bristow tinha ordenado fazer como um atraso que não podia ser, um esforço inútil que só diminuiria suas chances de golpear a Maksimov na primeira oportunidade. — Então você quer que eu vá até esta mulher, a intercepte antes que os homens que a estão caçando a encontrem e a traga para Maksimov? Bristow franziu a testa e balançou a cabeça. — Não. Não imediatamente. Traga-a para mim. Eu não vou simplesmente entregá-la para Maksimov antes que eu ganhe o que eu quero em troca. E isso vai levar tempo. Maksimov é recluso e cauteloso. Não há muito que o traga para a superfície. Se ele realmente a quiser, e eu tenho certeza que ele vai, eu pretendo fazê-lo esperar e ficar inquieto até o ponto que ele vai me dar o que quiser. Será uma negociação. Se eu não conseguir o que eu quero de Maksimov, então eu vou negociar com os militantes que a querem tão desesperadamente. Ou dariam muito para ter a


mulher. Talvez os militantes me dessem ainda mais para que pudessem salvar as aparências —, acrescentou com um encolher de ombros. Era um jogo estúpido e perigoso brincar de tentar manipular Maksimov, mas Hancock não avisou Bristow desse fato. Se através da mulher conseguisse ter um encontro pessoal com Maksimov, onde ele a pegaria, então, isso se encaixava perfeitamente nos planos de Hancock, e ele particularmente não ligava com as consequências para Bristow. E era igualmente estúpido negociar com um grupo de fanáticos porque depois de dar a Bristow o que ele queria em troca da mulher, eles simplesmente executariam Bristow de um modo bem sangrento e levariam de volta não só o que tinha dado como pagamento pela mulher, mas tudo que Bristow possuía, o que só gostariam de acrescentar à sua considerável riqueza e poder. A antecipação passou pelas veias de Hancock e seu pulso acelerou, o sabor da vitória em sua boca. Se tudo o que precisava era capturar uma única mulher que estava correndo e se escondendo de um grupo terrorista para lhe permitir alcançar seu objetivo, então o faria sem hesitação. Ele teria que garantir que Maksimov mordesse a isca porque ele não podia deixar Bristow se conectar com a célula terrorista para conseguir o que queria. Tinha que ser Maksimov. Ele olhou para seus homens e viu a resposta na determinação em seus olhos. Eles queriam derrubar Maksimov tanto quanto ele. E como ele, eles estavam cansados de sua existência ou inexistência. Para o mundo, eles estavam mortos. Para seu governo eram traidores e foi dada uma sentença de morte. Para sua presa, eles eram anjos da morte, sem piedade ou compaixão. Eram temidos por todos e eles não importavam para ninguém. Até mesmo para o mais forte, uma alma insensível, uma vida assim, eventualmente, desgastava. Eles estavam todos prontos para esquecer sua causa e permitir que outros fizessem o trabalho que tinham feito sem agradecimento ou consideração por mais de uma década. Sabiam que não tinham qualquer tipo de vida e mesmo que tivessem, quando saíssem, sempre seriam caçados. — Dê-me o que você tem de informação —, disse Hancock para Bristow, com determinação e firmeza que não poderia faltar em seu tom. E Bristow o tinha visto em ação por tempo suficiente para saber que ele não oferecia suas garantias levemente. — Eu vou encontrar a mulher e trazê-la para você.


CAPÍTULO 4 HONOR agarrou a roupa improvisada e pesada que cobria todo o corpo com uma das mãos para manter a bainha solta do vento forte. Não que isso importasse, viajando à noite como ela estava, ninguém iria ver se partes dela estavam expostos. Mas o hábito já estava profundamente enraizado nos dias em que ela estava fugindo. Tentando evitar ser descoberta. O pano com o qual ela tinha formado um pacote era mais leve do que tinha sido no início já que seus suprimentos iam diminuído mais e mais, por isso usava as duas mãos para conter o material incontrolável, em vez do que estava acostumada a ter que usar para arrancar o controle das pregas de tecido rodando ao vento. Embora sua carga pudesse ser mais leve, os ventos invisíveis foram lentamente a corroendo, pressionando-a com força opressiva. Um profundo cansaço a abalava até os ossos. E Honor tinha quilômetros a percorrer esta noite. A ironia poética repentina que tinha preenchido seus pensamentos, divertindo-a, causou um alarme repentino. Não havia nada remotamente bemhumorado sobre suas circunstâncias, e ela ficou chocada achando até mesmo que poderia escapar facilmente. Talvez ela estivesse sucumbindo ao horror e estresse dos últimos dias. Pensou nos dias, e propositadamente não citou o número de dias, porque ela tinha perdido a noção do tempo no rescaldo do massacre e seus esforços frenéticos para libertar-se. Honor não tinha ideia de quantos dias se passaram, porque não teve oportunidade de parar, desacelerar, processar e, em seguida, dividir em pequenos compartimentos sua tristeza para não a incapacitar. Ela poderia bloquear, incapaz de superar os horrores que ela testemunhou em primeira mão. Não podia se dar ao luxo de permitir pensar. Tinha que agir para se manter em movimento. Porque se parasse, ela perderia. Recusou-se a dizer morrer quando se referia a uma possível falha. Nem nunca dizia, viver ou sobreviver enquanto ela fantasiava sobre como fazer isso com segurança. Em sua mente, criou ou um jogo de esconde-esconde, estilo Rambo. O jogo mais épico de esconde-esconde que poderia existir. Ela estava se escondendo e eles estavam procurando. Fez isso porque se cedesse à verdade aterradora e reconhecesse que a cruel realidade criou a mesma coisa que ela


lutou com tudo o que tinha e pensava em termos de vida e da morte como sendo a recompensa final. Que foi exatamente o que houve. Então ela se voltou para a negação e formou uma realidade alternativa onde isso era simplesmente um jogo. Ou uma versão distorcida da realidade daqueles programas de televisão quando as pessoas eram obrigadas a cuidar de si mesmas contra todas as probabilidades difíceis e a superar obstáculos aparentemente intransponíveis e aquele que durasse mais que os outros era declarado o vencedor. Ela esteve em uma situação impossível e teve que cuidar de si mesma. Era a sua única opção. E quando ela vencesse seus perseguidores e chegasse à fronteira, onde havia presença dos EUA, ela ganharia. Ela iria derrotar o mal e tinha que acreditar. Era tão simples como isso. Ela era inteligente e adorava desafios, embora este não fosse um simples desafio que tivesse escolhido propositadamente. Honor não tinha medo da adversidade, embora sua percepção da adversidade tivesse sido mudada irrevogavelmente no dia do ataque. Houve adversidade e então houve isso. Não havia nada que pudesse descrever o que estava enfrentando. E se ela tinha alguma coisa a dizer sobre o assunto, nunca iria enfrentar esse tipo de adversidade novamente. Nada em sua jovem vida a preparara para uma provação tão horrível, e isso a fez repensar uma centena de vezes como ela fugiu pela sua vida, tendo que permanecer um passo à frente de seus perseguidores ou... morrer. Ela balançou a cabeça, recusando-se a deixar a realidade rastejar de volta. Não tinha chegado a esta área sem estar preparada. Não tinha acordado uma manhã e decidiu vir até aqui por um capricho. Era fluente em várias línguas no país, mesmo as mais obscuras, e tinha estudado extensivamente a cultura, os muitos dialetos diferentes e as diferenças sutis que significavam em cada região diferente. Ela sabia como se misturar e quais leis eram para as mulheres. Nunca tinha sido tão feliz por toda essa informação como era agora. Sua boca estava seca, os lábios ressecados e rachados. Tinha viajando durante os últimos três dias e estava indo na direção de uma aldeia. Estava perto, mas ela tinha que encontrar um lugar para descansar, um lugar onde ela pudesse examinar a aldeia e seus habitantes de uma distância e estudá-la cuidadosamente antes de se aventurar a ir até ela.


Viajava estritamente à noite, sabendo que arriscaria demais por passar longos períodos de tempo à luz do dia. Um movimento errado. Um passo em falso. Um lapso no seu disfarce rígido e ela anunciaria seu destino. Sabia que seus adversários estavam perto. Talvez até mesmo à sua frente e na aldeia já a procurando. Não queria ir para a aldeia, embora tivesse escolhido aquela por ser pequena e ainda não tinha atraído à ira dos selvagens sanguinários que haviam executado seus companheiros trabalhadores humanitários. Ela tinha ficado restrita a um regime rigoroso de dormir durante o dia e caminhar à noite, mantendo-se nas sombras, sempre na ponta dos pés e esperando o pior. Era uma maneira terrível de suportar e era rápido em drenar suas reservas. Mas seus suprimentos estavam perigosamente baixos e ela precisava de uma oportunidade de ir para a aldeia e reabastecer o essencial. Viajou durante o período que seus ferimentos e exaustão tinham permitido, querendo colocar a maior distância possível entre ela e o local do ataque e os homens que agora a caçavam. Ela iria ficar sem dormir hoje como sempre fazia, e depois iria a pé à noite seguinte, por isso era imperativo encontrar o refúgio mais seguro possível antes do amanhecer para que pudesse dormir tantas horas como possível antes do anoitecer. Ela parou a uma distância da aldeia e, em seguida, examinou a área por um lugar para descansar e esperar. Precisava de um que lhe proporcionasse não só a segurança e proteção, onde ela fosse indetectável, se tal lugar existisse, mas também um bom ponto de vista onde pudesse ver a atividade quando o povo acordasse e começasse a sua rotina diária. Se ela corresse, poderia atender às suas necessidades e ter uma hora de sono, ou duas, se tivesse sorte. O sol nascente iria acordá-la. A urgência da sua missão hoje iria acordá-la. E precisava desesperadamente de todo o resto que pudesse agarrar, enquanto fosse imperativo permanecer em movimento em todos os momentos. Estava com sede e com fome. Mas a água era o que mais desejava e precisava. Seus lábios estavam secos e rachados, sua língua tão desprovida de umidade que se agarrou ao céu da boca e esfregou abrasivamente sobre a pele sensível com a existência de nenhum líquido natural para aliviar o seu caminho.


Ela aumentou seu ritmo, sabendo que não havia muito sentido em manter a aparência de sua forma disfarçada à noite, quando ninguém estava fora... Não. Ela não iria lá. Ela manteve sua mente fechada para bloquear o medo de que estivesse sendo perseguida neste exato momento. Se eles a tivessem pego ou que os tivesse alertado para sua posição, eles iriam ganhar. Oh infernos não. Este jogo não tinha acabado. Por sua contagem, ela estava ganhando. Tudo o que tinha a fazer era manter a sua liderança. Se ficasse a apenas um passo à frente deles, a vitória seria dela. Quando ela finalmente chegou aos arredores da aldeia, olhou a encosta com vista para a pequena população rural e encontrou um lugar onde as formações rochosas eram mais superiores e eram bem grandes, sobressaia para cima e espalhava para fora. A configuração era como um anel de proteção em torno de uma abertura no meio. Ela estaria protegida da vista de todos. Alguém teria que ir além do perímetro das estruturas, para conseguir vê-la. Mas, ao mesmo tempo, lhe permitia tomar posição em um lugar onde poderia ter uma vista panorâmica sobre a vila abaixo enquanto permanecia sem ser detectada. Ela foi para trás da maior formação, que era em frente à aldeia, e estremeceu quando teve que reposicionar o joelho para que ele não ficasse dobrado embaixo dela. Esticou a perna para fora e apoiou as costas contra a pedra. Não foi o apoio mais confortável pois era áspero com bordas irregulares, mas a manteve na posição vertical, de modo que não estava reclamando. Ela precisava de comida e água. Especialmente água. Mas sua sede não era tão grande e precisava ter um momento para apenas sentar na calma e respirar. Apenas algumas respirações profundas por um momento para aliviar a dor, a tristeza e o medo angustiante de que poderia ser capturada a qualquer momento. Assim, por um momento, ela simplesmente sentou lá e absorveu a noite. Esta era uma área pouco povoada e havia poucas luzes que emanavam da vila, assim que a área foi coberta pelo escuro, tornando o céu muito mais visível. As estrelas estavam brilhantes, brilhando como algo vivo, e ela podia ver milhares por delas por milhas e milhas. Era realmente bonito. Ela nunca tinha estado em um lugar onde podia ver tantas estrelas cintilantes no céu de veludo negro. Parecia pó de fada. A beleza


da noite deu-lhe consolo. Aqueles poucos segundos antes da praticidade ter de assumir tinham sido necessários. Estava um pouco mais calma agora. Iria superar. Iria ganhar. Ela buscou dentro do saco que levava seus poucos suprimentos e tirou os comprimidos de antibiótico que vinha tomando desde que escapou das ruínas da clínica. Ela atravessou os escombros, apressadamente à procura de qualquer coisa que pudesse ajudá-la a se manter viva, principalmente, água. Carregou o maior número de garrafas de água que podia, dada a sua condição e ao fato de que tinha outros itens para levar também. Ela pegou barras de proteína e MRE’s1, grata por ter visto a caixa que a continha e que mal estava soterrada debaixo dos escombros. E medicação. Medicação para dor, antibióticos, protetor solar e bálsamo para queimaduras solares. Tinha um agente anestésico que esfregava em seu joelho para anestesiar a dor das lacerações e lesões na pele. Após juntar as coisas que ela poderia achar que iria ajudá-la, tinha arrancado sua roupa e formado um hijab2 que caiu bem abaixo dos seios. O material dava alívio às mulheres que podiam esconder suas roupas. Honor arranjou um pano e cortou um buraco irregular através do meio da faixa e puxou-o pela cabeça. Cobriu-a completamente. Nem mesmo os seus pés calçados com botas apareciam por debaixo da bainha. E o mais importante é que ele deu a ela a capacidade de completar o resto de seu disfarce. Ela usou rolos e rolos de fita adesiva médicas para anexar pequenas almofadas em partes de seu corpo para fazê-la parecer irregular e disforme. Indistinta. Ela colocou mais sobre sua barriga para se fazer parecer mais pesada, 1

MRE significa: refeição pronta para comer e é atualmente a principal ração operacional individual para os militares dos EUA. MREs são destinadas a ser refeições completamente auto-suficientes que fornecem todos os nutrientes um soldado- em batalha necessita para se sustentar. Pode ser consumida quente ou fria, vem em embalagens à vacuo. Hijabe ou hijab (do árabe: ‫حجاب‬, translit. ħijāb, 'cobertura'; "esconder os olhar"; pron.: [ħiˈdʒæːb]) é o conjunto de vestimentas preconizado pela doutrina islâmica. No Islã, o hijab é o vestuário que permite a privacidade, a modéstia e a moralidade, ou ainda "o véu que separa o homem de Deus". 2


mas enfaixou seus seios para parecer plana. Ou tão plana como poderia fazer com os seus seios generosos. Os muçulmanos não deveriam vestir roupas reveladoras de qualquer tipo, e por esse costume, Honor estava grata porque seus seios chamavam a atenção, um fato que ela tinha a muito tempo amaldiçoado. Dessa forma, sua aparência, não fazia diferença entre os seios e o resto de seu corpo. Ela parecia uma mulher arredondada mais velha cujas costas tinham se abaixado com a idade. Ao pensar em sua aparência, ela automaticamente, tirou um pedaço de casca para aplicar e esfregar a tintura de henna. Verificou seus braços, ombros e pescoço, embora eles estivessem protegidos em todos os momentos. Ela tinha aderido ao lema que deveria ser muito cuidadosa. Especialmente quando se tratava de autopreservação e o instinto esmagador de sobrevivência. Ela tirou o espelho que tinha tirado da clínica. Quando Honor estava juntando o que precisava para fugir, sabia que um espelho seria essencial para garantir que seu disfarce se mantivesse e que a única parte visível ficasse mais escura. Assim como a lanterna tinha sido uma fonte de luz, não importasse o quanto era pequena, porque sabia que se tivesse alguma chance, teria que viajar principalmente à noite e encontrar um lugar para descansar durante o dia, forçando a ignorar a onda de pânico em sua cabeça gritando para que continuasse correndo, para não parar nem por um minuto. A parte lógica dela sabia que estava exigindo do seu corpo coisas que talvez não conseguisse cumprir. Sabia que se empurrasse longe demais, iria incapacitar a si mesma e seria um alvo fácil. Ela puxou o tecido que lhe cobria a cabeça até reunir em seu pescoço, e respirou, permitindo que o vento soprasse através de seu cabelo. Era um vento quente, não um alivio de sopro mais fresco, ar mais doce, mas isso ajudou a remover o suor no pescoço e couro cabeludo de Honor e iria secar seu cabelo antes que puxasse o material de volta no lugar. Pegou o espelho com uma mão e a lanterna com a outra, ligou-a. Seus olhos eram sempre a primeira coisa que olhava. Deu-lhe um momento de segurança ao saber que estava olhando em seus próprios olhos. Olhos vivos. Eles a lembravam que ela era uma sobrevivente.


Tocou-se nos lugares que provavelmente não precisaria, mas fez isso para se dar a ilusão de que estava fazendo seria mais seguro e de difícil detecção. Em seguida, voltou sua atenção para seu cabelo. Sua maior preocupação. Seus olhos eram castanhos e enquanto sua pele era mais clara, mas seu tempo aqui tinha polido sua pele, tornando seus olhos um marrom mais escuro, embora ainda fosse visivelmente mais clara que as mulheres nativas. Mas seu cabelo era loiro. A denunciava. Em seu tempo de pânico quando percebeu o problema de seu cabelo enquanto ia às pressas coletando suprimentos do centro da ajuda de emergência, ela tinha considerado simplesmente raspar tudo fora. Mas uma mulher careca chamaria tanto a atenção como uma loira, talvez até mais. Felizmente, seu cérebro deu-lhe um pontapé e chutou sua bunda e, em seguida, assumiu, empurrando o pânico e todas as emoções caóticas de modo que seu único foco era a sua fuga. Uma vez que ela tinha ido longe o suficiente do local do ataque para sentir que poderia parar e tomar o tempo necessário para completar seu disfarce, ela vigorosamente esfregou henna em qualquer lugar na pele que poderia ser potencialmente exposta, mesmo com a montanha de material cobrindo seu corpo. Prestou especial atenção para as mãos, garantindo que elas parecessem gastas. Ela fez manchas de sujeira e até fez pequenos arranhões e cortes nos dedos e juntas, rezando para que os antibióticos evitassem a infecção, em um esforço para torná-los, ao olhar, como os de uma mulher mais velha que fingia ser. Ela tinha arrancado as unhas restantes. A maioria delas tinha sido arrancada enquanto esteve cavando para se livrar dos escombros. As contusões e danos que tinha sofrido durante sua escavação a ajudou, porque com o inchaço e escoriações, suas mãos pareciam nodosas e disformes. Uma vez que estava convencida de que tinha feito um trabalho tão bom quanto podia para disfarçar sua pele, ela virou o foco para seu maior perigo, o seu cabelo. Meticulosamente revestiu cada fio de seu cabelo na tintura escura e então, cuidadosamente aplicou a cor nas sobrancelhas. Quando terminou, esperou preciosos minutos que não podia e, em seguida, repetiu o processo. Fez novamente uma terceira vez. Não era o melhor trabalho, nem era convincente,


mas estava apostando no fato de que ninguém iria vê-la sem seu cabelo coberto, e todos, mas os olhos dela estavam escondidos pelo tecido. Se uma mecha de alguma forma ficasse livre, seria escuro, e teria poucos segundos para escondêlo mais uma vez, porém ninguém teria tempo para estudar verdadeiramente a cor ou julgar a sua autenticidade. Era difícil ver bem com a pequena fonte de luz que ela usava, mas não se incomodou em usar a lanterna. Era muito arriscado. Em vez disso, reaplicou o corante para os cabelos, tão completamente como tinha sido a primeira vez e garantindo que nenhum um único fio foi esquecido. Finalmente terminou com os reparos para sua proteção, cansada enfiou a mão no saco para retirar uma barra de proteína, o frasco que continha as últimas gotas de água, os antibióticos e analgésicos. Bebeu primeiro, engolindo avidamente o líquido, mas controlando o desejo de beber tudo de uma vez. Então ela comeu rapidamente a barra de proteína e tomou um pequeno gole. Ela aprendeu da maneira mais difícil a não tomar o antibiótico ou o analgésico com o estômago vazio. O primeiro dia tinha sido um inferno com uma dor de estômago, seu palpitante joelho e ter de parar mais vezes do que podia contar. Depois de tomar ambos os medicamentos, estendeu a mão para a faixa em torno de seu joelho, a última tarefa antes que pudesse fechar os olhos por um curto período de tempo. Honor tinha tomado um cuidado especial para enfaixar com força antes de fugir da clínica e usar alguns dos lugares preciosos em sua mochila para uma atadura extra e creme antibiótico para usar junto com os antibióticos orais que estava tomando. O inchaço tinha diminuído um pouco, e a contusão, que era de um preto vívido se transformou em uma mistura de aspecto medonho de verde e amarelo e isso era um alívio. Não parecia ser nada grave, como uma fratura ou luxação. Era doloroso, definitivamente, mas a bandagem apertada tinha permitido ter mobilidade, algo que não teria sido possível por um período prolongado de tempo, se estivessem quebrados ou deslocados. Sem falar que teria estado gritando de dor e incapaz de continuar após o primeiro dia árduo, quando não tinha parado durante vinte e quatro horas.


Medicou os cortes, pressionando em torno da rótula para testar o grau de inchaço e, em seguida, habilmente passou uma pomada que continha lidocaína. Embora ela precisava de suas mãos parecessem machucadas e murchas e manter sua aparência, ela ainda aplicou um creme antibiótico tópico para as lacerações profundas, porque ela não podia permitir que elas se infeccionassem, então ela ficaria doente e não poderia continuar viajando. Sabendo que ela iriaesperançosamente-reabastecer seu minguante abastecimento de água na parte da manhã, ela usou quase todo o líquido restante para limpar a sujeira e pedaços de detritos ainda incorporados na pele. Ela não tinha ousado prestar atenção a eles, e até agora, ela tinha sido capaz de bloquear o desconforto dos cacos embutidos. Agora, quando ela os puxou cuidadosamente e derramou o último dos antisséptico que carregava, sobre as feridas, soltou um silvo de dor e prendeu a respiração. Depois acariciando as áreas limpas, esfregou a pomada antibiótica em cada um dos cortes e, em seguida, envolveu-as em gaze, apenas neste pouco tempo de descanso. Antes de ir para a aldeia no início da manhã, se preparou novamente passando sujeira sobre as faixas das feridas e em suas mãos, que não eram facilmente visíveis por qualquer pessoa. Elas passaram a maior parte do tempo sob as dobras envolventes de seu vestido, mas quando reabastecesse seus suprimentos, precisaria de suas mãos e elas seriam expostas por um tempo curto. De perto, seria mais óbvio que suas mãos estavam feridas e não eram de uma mulher mais velha. Mas a distância, com o resto do seu traje dando a suposição de que ela dizia ser, ninguém ficaria muito atento as suas mãos. Ninguém examinava excessivamente as mulheres daqui. Era proibido. E enquanto a cultura ocidental entranhada dentro de si se irritou com a ideia de que as mulheres eram comandadas a só aparecer em público completamente escondidas, tudo menos os seus olhos e, em algumas regiões nem mesmo isso podia ser visível, ela estava agradecida pelas extremas leis vigente no momento, porque se não fosse por essas leis, ela nunca teria chegado tão longe como ela chegou. E uma vez que as mulheres mais jovens não eram autorizadas a sair fora da sua casa sem a escolta de um membro masculino da família ou uma mulher


mais velha, como uma sogra, disfarçada como alguém mais jovem também chamaria atenção indesejada. Ela não se deu tapinhas nas costas por conseguir um disfarce tão bom nos poucos minutos em que escapou dos destroços, pois tinha agido por um puro instinto cru, um instinto de sobrevivência. Honor juntou todo pedaço do seu extenso conhecimento e costumes das regiões onde trabalhou, em ajudá-la, não só a escapar de sua prisão imediata, mas ficar escondida à vista de todos e rezando para que fosse capaz de fazê-lo para chegar a um lugar além do alcance aparentemente abrangente do grupo militante que aterrorizou uma área tão grande. Depois de substituir cuidadosamente todos os itens em seu saco e garantir que não haveria nenhum sinal dela para trás, mais uma vez se apoiou contra a áspera da rocha e fechou os olhos, tentando empurrar de volta o medo paralisante de ter que ir para a aldeia e mostrar a si mesma, mesmo que apenas seus olhos seriam visíveis. Mas os olhos eram a janela para a alma, ou assim se dizia. Será que o seu terror estaria lá para todo mundo ver? Será que os aldeões sabiam de sua dor, tristeza e medo abjeto só de olhar em seus olhos? Será que ela tinha o olhar de alguém que estava sendo caçado, que tinha uma sentença de morte? Por uma segunda vez? Ela tinha sido condenada a morrer no ataque, mas de alguma forma sobreviveu. Poderia sobreviver sendo condenado à morte novamente? É um jogo, Honor. Um que você está ganhando. Você não pode deixar de pensar que qualquer outra coisa. Honor engoliu em seco e caiu mais uma vez em direção ao véu do sono. Ela poderia fingir tudo o que queria. Poderia usar a armadura da negação para sempre. Mas nada mudou o fato de que este não era nenhum jogo. Esta era uma luta e nada menos. A luta mais importante de sua vida: por sua vida. Não havia espaço para o segundo lugar. O segundo lugar era a sua dor inimaginável e degradação e, eventualmente, a morte. Sua única opção era lutar como ela nunca lutou antes. E vencer.


CAPÍTULO 5 HONOR acordou com os primeiros raios de sol que se arrastavam ao longo do horizonte, banhando a área em sua luz pálida. Ela emitiu um gemido mental, porque tudo o que queria fazer era dormir. Por dias. Mesmo tão desconfortável quanto estava entre as formações de rocha e areia que machucavam sua pele. O vento tinha soprado para cima, mostrando a promessa de ser tão forte como na noite anterior, quando ela lutou para controlar a bainha de seu manto. Ela poderia ter se infiltrado na aldeia na escuridão da noite e ido para o pequeno rio que era o sangue da vida desta aldeia. Era onde as pessoas tomavam banho, lavavam roupas, tinham água potável e faziam quaisquer outras tarefas diárias. Ela poderia ter lavado as feridas e reabastecido seu suprimento de água, mas precisava de um pequeno jarro de barro ou metal ou até mesmo uma lata para ferver a água, já que na clínica ela tinha conseguido água não contaminada e esta estava acabando. Mas ela não era tola o suficiente para pensar que não seria descoberta. Embora a aldeia fosse calma e tranquila, e que ainda não tivesse moradores de fora, eles não tinham tido de se defender de um ataque do lado de fora, ela sabia que seus homens eram treinados, jovens e idosos; até mesmo os meninos e algumas das mulheres também teriam se preparado para a eventualidade de uma ocupação. E eles, sem dúvida, tinham patrulhas durante a noite, apenas para garantir que não fossem vítimas de um ataque de surpresa, na calada da noite. Não havia uma aldeia que tivesse como certo que eles eram impermeáveis às situações de tantos outros. Quanto mais refugiados de outras aldeias dizimadas fugissem para aldeias como esta, o perigo para as comunidades aumentava. Células terroristas e fanáticos viu-os como alvos fáceis e, como nada mais do que a expansão de seu império. Eles não viram os seres humanos, pessoas boas e decentes que não feriam ninguém, que passasse sua vida diária apenas querendo ser deixado em paz. Pessoas como aquelas que tinham golpeado no centro de ajuda humanitária com tal selvageria não tinha qualquer humanidade. Eles se viam como superiores a estes simplórios, inúteis como


qualquer coisa exceto os agricultores e comerciantes. Suas mulheres criavam acessórios bonitos, roupas, decoração com miçangas, véus mais extravagantes e longos vestidos de luxo. Pessoas viajavam muito em seus dias de comércio para comprar dos aldeões. Era só outro modo que eles tinham para se apoiarem e serem capazes de ter seu sustento. Como Honor lentamente começou a se mover, testando os limites e restrições de seu corpo, a dor estremeceu através dela, mas ela fez uma careta e continuou como se não tivesse sentido os protestos de uma centena de músculos. Ela se concentrou principalmente no joelho, que era sua lesão mais grave. Ainda não tinha certeza exatamente o que havia de errado com isso, mas o fato de que pudesse andar sobre ele sem entrar em colapso disse a ela que era suportável, e que iria mantê-la se movendo em direção ao objetivo. Ela só tinha de se movimentar e soltar os músculos. Se ao menos ela tivesse sido capaz de encontrar outros medicamentos alojados na área médica do centro de ajuda humanitária. Relaxantes musculares seriam um milagre. Mas tudo o que ela tinha eram antibióticos e que eram considerados nos Estados Unidos produtos analgésicos que não precisavam de receita como ibuprofeno e o paracetamol. Mesmo se ela tivesse sido capaz de descobrir os analgésicos mais fortes, ela teria os deixado, porque não podia se dar ao luxo de tomar qualquer coisa que pudesse prejudicá-la. Ela tinha que estar afiada e na ponta dos pés em todos os momentos, e a dor, indesejável como era, certamente, ajudou a manter uma vantagem. Ela não conseguia relaxar quando cada movimento machucava, mas a fazia se lembrar em manter o disfarce em todos os momentos, como se ela fosse uma atriz em um filme, mas este não era nenhum filme. Este era o papel da sua vida. Ela lentamente engoliu os últimos goles de água, lambendo os ressecados lábios rachados para aliviar a secura, e permitiu que o frescor calmante deslizasse abaixo em sua garganta. Não tinha vontade de comer de novo, e tinha apenas alguns MRE’s e uma barra de proteína. Enquanto ela poderia repor a água na aldeia, não tinha tanta certeza sobre comida. Não tinha dinheiro para comprar mas tinha apenas um possível item que poderia negociar. Poderia ficar muito mais tempo sem comida do que água, porém a água era o foco principal. Se pudesse encontrar coisas que poderia usar em ataduras e possivelmente


roupas, então ela poderia mudar a única roupa que usava. Era perigoso para aparecer sempre com a mesma forma de vestir, especialmente num local diferente a cada dia pois finalmente, alguém notaria. As pessoas iriam falar. Os maníacos que a perseguiam iria somar dois e dois e eles saberiam que estavam perto de capturá-la. Pior, eles saberiam exatamente como ela estava vestida e iriam identificá-la à primeira vista. Seus dedos se fecharam em torno do punho da afiada adaga escondida nas dobras de sua roupa e garantiu que a faixa da cintura manteria o material acessível se necessário. Ela a trouxe principalmente como um meio de proteção, mas a verdadeira razão penetrou em sua mente cada vez mais diariamente. Com o resultado do ataque e com o pânico em níveis épicos, depois de ter visto o que esses monstros tinham feito com seus amigos e sabendo que o que eles fariam com ela seria dez vezes pior e sem misericórdia alguma, ela tomou a faca porque tinha prometido a si mesma que, não se deixaria capturar sem uma luta e que ela iria lutar para viver – sobreviver – a todo custo, mas se houvesse algum momento quando soubesse que tudo estava perdido e a captura fosse inevitável... Ela fechou os olhos, mudando o pensamento. Ou tentando. Mas estava lá. A promessa que tinha feito precipitadamente naquele dia horrível. Ela iria se matar antes de permitir que eles a capturassem e a levassem como prisioneira. Isso ia contra todos os seus princípios. Esta pessoa não era ela realmente. Nunca tinha sido. Apenas em um momento de fraqueza, de pânico, tinha lamentado o fato de que não tivesse morrido com os outros, e ela se sentiu envergonhada novamente mesmo agora. Ela era uma lutadora. Era forte. Tomando sua própria vida parecia o último ato de covardia. E ainda assim ela não era idiota. Sabia que ia morrer de qualquer jeito, mas apenas depois de dias, possivelmente semanas de dor sem fim, degradação e tortura. E ela nunca queria chegar ao ponto de pedir que alguém a matasse. Seu orgulho era muito grande. Ela se recusou a dar-lhes essa satisfação. Se acontecesse o pior, ela iria comandar o seu destino e privá-los de sua vitória vazia. Sabendo que estava perdendo tempo e, se fosse honesta, gastado tempo demais, evitando a pausa inevitável para reforçar a sua coragem, levantou-se lenta e dolorosamente e envolveu as extremidades do saco levando os


suprimentos, agora escassos, colocando-o dentro das dobras de sua roupa. Ela garantiu que a faixa em sua cintura estivesse segurando tudo, deixando as mãos livres para se defender se necessário. Ela tinha manipulado os suprimentos de forma que um puxão firme iria soltar imediatamente o manto para que seu corpo ficasse livre e pudesse fugir rapidamente. Mas, com as almofadas, que prendeu em seu corpo com vários metros de fita, estando livre do manto, não lhe daria muito mais velocidade. Mas o punhal viria a calhar. Se ela pudesse ter tempo suficiente, poderia cortar a fita enquanto corria, eventualmente, libertando-se de todos os objetos, e ser capaz de ganhar velocidade. Ela só tinha que orar para que seu joelho resistisse. Quando olhou ao redor da pedra mais alta e mais larga que ela tinha procurado refúgio, se surpreendeu ao ver que a estrada que conduzia à aldeia estava bastante movimentada para este no início da manhã. Havia pessoas andando em grupos. Alguns sozinhos. Alguns puxando pequenas carroças de madeira à mão, outros empurrando uma mula para frente que carregava um carrinho por trás dele. Ela correu um olhar sobre a aldeia abaixo e viu várias barracas, as pessoas já colocando os seus produtos em exposição e se preparando para os clientes. Era obviamente um dia de mercado na aldeia, que atraia muitas pessoas das áreas periféricas. Permitindo um pequeno suspiro de alívio, ela olhou para a oportunidade de deslizar por trás do abrigo e queda isolada para a mistura de pessoas fazendo o seu caminho até a vila abaixo, escondendo-se a vista de todos. Seus perseguidores não esperariam que ela se misturasse abertamente com os outros em plena luz do dia. Não quando ela tinha apenas viajado a noite, até agora, e tinha se escondido durante o dia para descansar, disse a si mesma. Se ela pensasse em qualquer outra possibilidade, ficaria em sua posição atual, com muito medo de se mover, e iria perder sua única oportunidade para reabastecer seus suprimentos e continuar a seguir em frente em sua busca pela liberdade. Quando houve uma pausa no desfile de pessoas, ela apressadamente caminhou em direção à estrada, tomando seu lugar como se fosse apenas um dos outros em seu caminho para o mercado, mas teve o cuidado de assumir seu


disfarce e inclinou-se como se fosse uma mulher mais velha. Sua mão automaticamente foi para o seu véu para assegurar que tivesse seus cabelos cobertos, e manteve seus olhos abaixados para que ninguém pudesse olhar diretamente a eles. Então ela olhou para suas mãos antes de enterrá-las nas camadas de material que fluíam de sua cintura. Ainda estavam inchadas e cobertas de sujeira com os cortes e lacerações, dando a impressão de uma mulher que tinha trabalhado a vida inteira com as mãos. Ela tinha tido o cuidado de lavar qualquer lugar seco, com crosta de sangue; suas unhas estavam quebradas e cobertas de sujeira, incorporada ao redor das cutículas, revestindo a área onde eles tinham sido arrancadas de sua pele. Ela estava perto dos arredores da aldeia e podia ouvir sons que estouravam da pequena população. Havia até mesmo música ao longe. O regatear já tinha começado e as barracas estavam vivas com as pessoas que procuravam fazer trocas por itens ou comprá-los. — Bom dia para você, irmã. Honor endureceu, mas se obrigou a não reagir de forma exagerada para o homem que apareceu ao lado dela sem ser detectado. Ela estava muito focada nos acontecimentos na aldeia e não tinha olhado seus companheiros de viagem com a atenção que ela deveria ter. O homem tinha falado em um dos dialetos menos comuns. E se tivesse sido um teste? Antes que ela pudesse dar uma resposta, ele continuou em voz baixa, como se não quisesse ser ouvido por ninguém. — Há párias aqui. Eles procuram por alguma coisa. Os aldeões estão cautelosos. Eles cercam a aldeia completamente e estão à procura. Uma mulher sozinha não pode ser muito cuidadosa. Se desejar, você pode viajar comigo. Seria uma honra ajudar uma anciã do nosso povo. Será que ele sabia quem era ela? Como poderia? E se ela não tivesse sido tão cuidadosa quanto pensava? Ele estava advertindo-a porque sabia que ela era a pessoa a quem a facção militante procurava? E ele estava apenas oferecendolhe a garantia de que não iria traí-la, jogando junto com seu disfarce e


chamando-a de uma anciã de seu povo? Ou havia algo mais sinistro em jogo? Ele foi um dos mesmos homens que teve que fugir a todo custo? Havia pouco que pudesse fazer. Se de repente ela fugisse, ela certamente chamaria a atenção para si mesma. E, novamente, duvidava que os idiotas caçadores pensassem que ela teria coragem de entrar naquela aldeia com eles ali, tão perto que podia sentir o cheiro deles. Se ela viajasse com este homem que parecia ser mais velho, iria aumentar a credibilidade de seu disfarce. Ele era mais jovem do que ela fingia ser, mas ele talvez estivesse na casa dos quarenta e tivesse uma esposa ou esposas e filhos. Mas era difícil dizer, porque o trabalho duro como dos povos desse lugar fazia as pessoas envelhecerem antes do tempo. — Eu agradeço a você, meu irmão, e bom dia para você também. — Em seguida, injetou uma nota de medo em sua voz, como seria de esperar, se virou, mas tomou cuidado para não encontrar seus olhos, e manteve a cabeça baixa em um gesto de subserviência. — Por que eles estão aqui? Não é esta uma aldeia tranquila? O que é que eles procuram neste dia? E estamos seguros? Ela tinha pensado em cada única palavra e propositadamente fez sua voz soar com a idade que aparentava. Ela queria não ter nenhum indício de sotaque e era muito boa em línguas do Oriente Médio, mesmo as mais obscuras que beirava a extinção. Ela deu um suspiro de alívio quando pode percebeu que não houve nenhum erro em seu esforço. Ela só esperava que um nativo percebesse algo que ela mesma não podia ouvir em sua voz. — Fala-se que o grupo que se chama de Nova Era procura uma mulher americana que escapou de um atentado no centro de ajuda humanitária enquanto todos os outros trabalhadores morreram. Eles não vão parar até capturá-la, então eles estão espalhando-se por toda parte e dividindo-se para que possam cobrir mais terreno. Os moradores estão inquietos. Eles temem que essa abominação vá destruir a aldeia e expandir a área onde eles têm o controle absoluto. Se esta mulher for encontrada, ela seria dada na esperança de que os fanáticos os poupassem em troca. Honor estava mais certa do que nunca de que este homem sabia que ela era a mulher que estava sendo caçada. Por que ele se ofereceu para ajudá-la, ela não sabia. Mas então talvez ele só quisesse atraí-la, dar-lhe uma falsa sensação


de segurança para que ele pudesse ser o único a entregá-la e colher a recompensa. Ela não teve tempo para refletir sobre a escolha ou meditar sobre isso em sua mente. Seria morta, e nenhuma mulher idosa recusaria proteção, quando informada da situação, de modo que ela fez a única coisa que podia fazer. A única opção disponível para ela. — Sou grata pela sua proteção e aceito de bom grado. Eu preciso de apenas algumas coisas. Não tenho nenhum desejo de ser pega no massacre de vidas inocentes. — Que Alá esteja com nós dois, minha irmã —, disse ele formalmente. —Venha, caminhe comigo e nós vamos adquirir as coisas que você precisa para que você possa estar no seu caminho. E que Alá ande com você onde quer que vá. Ele sabia. Ele tinha que saber. E ainda assim ele agiu como se quisesse ajudá-la. Ela estava ao mesmo tempo aliviada e grata, mas também aterrorizada, tudo ao mesmo tempo. Odiava sentir-se tão exposta. Odiava alguém sabendo que ela era o único motivo pelos quais os intrusos estavam aqui. A culpa se instalou. Ela não queria ser responsável pela morte de pessoas inocentes. Não queria ser responsável por uma aldeia inteira sendo dizimada. E não queria causar a morte de um homem que sabia quem ela era e estava ajudando-a independentemente. Ela andou em passo ao lado dele e ele diminuiu o ritmo para coincidir com os dela para que ele não a deixasse para trás. —Você está ferida? Ele perguntou em uma voz suave, preocupação que colocou Honor no limite ainda mais. Ela não podia dar ao luxo de confiar em ninguém. E se ele estivesse a levando diretamente aos homens que a estavam caçando? Ela deu uma risada suave, sua voz áspera com som endurecido pelo trabalho e idade. — Quando você chega à minha idade, seus ossos estão feridos e você não se move tão rapidamente como era em sua juventude. Mas eu estou bem. Eu ainda consigo andar muito bem.


Ele balançou a cabeça, parecendo aceitar a sua explicação. Eles continuaram em silêncio, até que chegaram as pequenas habitações da aldeia. Com os cílios abaixados, ela examinou a área com um olho afiado. À beira do rio, seu principal objetivo, várias mulheres estavam lavando roupa. O clima parecia leve, mas talvez elas não soubessem do perigo que havia se infiltrado em sua aldeia. Ela iria fazer o seu caminho até o rio em primeiro lugar porque lhe daria a oportunidade de ver as barracas e ver se alguma tinha itens que precisava. Ela ficaria bem com alimento por mais alguns dias, mas só parecia lógico reabastecer se possível, porque ela não tinha nenhuma maneira de saber quando teria outra oportunidade. A única coisa que tinha de valor e que não gostaria de chamar a suspeita imediata foi uma pulseira intrincada, decorativa que tinha sido um presente de uma família grata, cujo filho que, quando ela atendia, tinha sido calorosa e reconfortante quando a criança estava com medo. Ela sabia que era de valor e que era algo que a família não podia dar ao luxo de simplesmente dar de presente, mas que teria sido um insulto recusar a oferta, e agora ela estava feliz por não ter recusado. Deveria ser suficiente para comprar comida e outra roupa para que pudesse mudar sua aparência e alternar seu modo de vestir. — Onde você gostaria de ir, irmã? — Perguntou o homem. — Ao rio —, disse ela simplesmente. — Eu preciso obter água suficiente para viajar de volta de onde eu vim. Ele estudou-a durante um breve momento, pesando claramente a verdade de suas palavras. — Eu vou pegar água para você. Tenho recipientes que posso oferecer. — Ele disse isso como se soubesse que seus recipientes não foram utilizados, que eram garrafas de plástico que pareciam decididamente fora do lugar. — Você vai encontrar o que procura na aldeia e voltarei para você quando eu pegar a água. Ela assentiu com a cabeça e inclinou em um gesto de respeito e de gratidão. Então ela se virou e andou lentamente pela rua repleta de barracas e todo tipo de coisas para venda. Ela precisava encontrar alguém que não só


oferecesse alimentos, mas também roupas ou, pelo menos, material que poderia formar em uma peça de vestuário como tinha feito com a peça grande de material que ela tinha descoberto no centro de ajuda humanitária, porque ela só tinha uma coisa para usar como pagamento, o que significava que ela não poderia encontrar um fornecedor que oferecesse tanto, teria que fazer uma escolha. Ela parou em vários, fingindo interesse e até mesmo troca de gentilezas em sua língua fluentemente, sempre atenta para não permitir que a juventude natural de sua voz se sobrepusesse a voz rouca de uma mulher muito mais velha. Todo o tempo ela esquadrinhou a área, estudando meticulosamente a multidão para qualquer um que parecesse fora do lugar. Os moradores da vila não pareciam inquietos, o que disse a Honor que seus perseguidores estavam sendo muito discretos, aguardando sua presa para ser visto. Finalmente, ela encontrou um fornecedor que ofereceu não só uma variedade de saborosos, alimentos em conserva que duraria muitas semanas se ela consumisse apenas o que era necessário para mantê-la em sua jornada, mas também peças de tecido. Hijabs e longos robes em uma variedade de estilos e cores estavam em exposição. Era tudo o que precisava além da água que seu protetor anônimo estava coletando para ela. Ela precisava acabar com isto e sair daqui antes que trouxesse o desastre sobre as pessoas inocentes que fizeram a sua casa ali. Ela não trocaria sua vida pela delas. Como poderia viver consigo mesma depois, sabendo que sacrificou toda uma comunidade de pessoas boas só para que sobrevivesse? Não, ela iria sair imediatamente e encontrar um lugar para se esconder até o anoitecer para que pudesse começar a sua jornada novamente. Cada dia a levava mais perto da segurança, tanto que ela poderia saborear a doçura da vitória. Mas ela não era arrogante o suficiente para relaxar a guarda, não importa o quão perto estava da segurança, porque um erro tão grave poderia matá-la. Uma mulher mais velha atendia a barraca, e ela era reservada, mas tinha um ar de boas-vindas e a simpatia que colocou Honor à vontade. Cuidando para não cometer um erro na linguagem, ela se concentrou duro nas palavras que davam forma em sua mente e foi extremamente consciente não só para garantir


que tinha o som de uma mulher mais velha com uma voz mais dura, mas também para manter o sotaque e torná-lo perfeitamente capaz. Para sua vantagem, todo o país tinha muitos idiomas, apesar de seu pequeno tamanho, e muitos de seus habitantes falavam vários dialetos, por isso, enquanto ela ficou perto do sotaque correto e não traiu suas raízes americanas, se a mulher detectasse quaisquer diferenças sutis, ela iria apenas atribuí-la, provavelmente, de uma região separada. Com deferência e respeito, ela disse à mulher o que necessitava e, em seguida, puxou a peça decorativa intricada de joias e perguntou se seria suficiente como forma de pagamento para a comida e roupa que ela pediu. A mulher o pegou e inspecionou de perto, transformando-o mais e mais para pegar todos os ângulos da luz. Então ela olhou para Honor, a honestidade refletida em seu olhar. — É demais para o que você pediu. Por favor, escolha algo mais ao seu gosto. Esta é uma peça mais valiosa. O olhar de Honor se virou para as outras ofertas que a mulher tinha, pesando o que ela poderia levar logicamente com ela. A carga de um equipamento adicional seria forte o suficiente. A comida seria inconsequente. Mas depois se lembrou de que precisava de uma tigela para ferver a água do rio e uma fonte de chama para iniciar um fogo no caso do gás do isqueiro que ela pegou da clínica acabar. Graças a Deus pela dependência de um dos trabalhadores com os cigarros e o fato de que ele rotineiramente se esgueirava para fumar durante períodos calmos. —Uma tigela, — Honor acrescentou. —E uma pedra para fazer fogo. Você tem essas coisas? O olhar perspicaz da mulher varreu Honor, os olhos sondando profundamente como se descobrisse cada segredo escondido dentro dela. Sua análise fez Honor se sentir desconfortável e vulnerável, não era uma emoção agradável para aguentar. — Você parece como se tivesse com dor—, disse a mulher mudando de assunto com naturalidade. — Com a idade veem dores e dores que não temos controle. Venha comigo para minha casa e eu vou recolher os itens que você


pediu, e também lhe darei uma pasta medicinal para aplicar ao longo dos músculos ou articulações onde costuma doer. Ela lhe dará alívio e não irá prejudicar você de alguma maneira. Meu marido vai cuidar da minha barraca enquanto vamos. A paranoia percorreu Honor. Era como se essas pessoas soubessem exatamente quem ela era e por qualquer motivo procurassem ajudá-la. Certo, então duas pessoas não constituíam todos, mas não foi uma coincidência que as duas únicas pessoas que entrou em contato direto pareciam saber sua situação e tinham oferecido uma passagem segura. Embora ela apreciasse o gesto, isso trouxe lágrimas aos seus olhos por saber que, não era muito bom em um mundo que parecia ser governado pelo mal, a última coisa que ela queria era que essas pessoas sofressem porque não só não tinham a entregado, como tinham oferecido ajuda e estavam com vigor a escondendo. Mas, como rejeitar a bondade da mulher seria um insulto da mais alta ordem, de modo que Honor assentiu e agradeceu-lhe em voz baixa. A outra mulher sorriu e depois acenou para um homem que estava a vários metros de distância falando com outro morador. Eles falaram em voz baixa e em algum momento o marido olhou para Honor, as sobrancelhas subindo em surpresa, e estranhamente, através de seus olhos piscaram admiração e respeito, antes de desaparecer rapidamente. Será que todo mundo sabia quem era ela? Seu nível de pânico estava começando a dominá-la. Ela mal podia respirar. Só o conhecimento de que eles estavam lá fora, fechando o cerco, observando e esperando, caçando… E com isso, inocentes poderiam muito bem ser mortos se Honor fosse descoberta, porque nada importava para estas pessoas, exceto o seu objetivo. Apenas sabendo que ela poderia ser responsável pelo derramamento de sangue sem sentido lhe causou histeria logo empurrada para trás, e ela andou calmamente com a mulher para uma das pequenas habitações a uma curta distância de onde ficava sua barraca. Uma vez dentro, Honor se permitiu relaxar um pouco. Ela não se sentia tão exposta aqui, embora soubesse que não era seguro e que as paredes da


pequena residência só davam a ilusão de proteção. Se eles a queriam dentro desse lugar, nada iria impedi-los de arrombar a porta da frente. A mulher com rapidez e eficiência reuniu os itens que Honor tinha solicitado e, em seguida, pegou uma quantidade considerável de uma pasta grossa de uma bacia que ela mantinha em uma prateleira e cuidadosamente enrolou em camadas de tecido respirável, formando um pequeno pacote, compacto que Honor poderia facilmente esconder em seu corpo ou simplesmente carregar em sua bolsa. Ela tinha levado os itens da barraca que Honor tinha solicitado e a ajudou a embalar tudo no saco improvisado. Depois de ver que era apenas um cobertor com as extremidades que se uniam em um nó aleatório para impedir os itens de caírem, ela fez um som de “tsk” e deixou Honor sozinha por um momento, voltando poucos segundos depois com um saco que era de material resistente e não tinha apenas um cordão para fechar a abertura, mas uma cinta que poderia ser usado por cima do ombro, como uma mochila, para as mãos estarem livres o tempo todo. Honor olhou diretamente nos olhos da mulher, seu olhar aberto e inflexível, como sua nova protetora garantiu com o saco por cima da roupa de Honor. Ela deixou cair qualquer pretensão porque era óbvio que a mulher sabia exatamente quem era Honor. E ela tinha que saber o porquê. — Por que você está me ajudando? —, Perguntou Honor suavemente na língua nativa da mulher. — Você corre um risco muito grande em ir contra um exército como o que está me caçando. A raiva brilhou nos olhos da outra mulher e por um momento ela ficou em silêncio antes de uma vez mais se recompor e a raiva diminuiu depois de alguns instantes. — Eles são uma abominação —, ela sussurrou, traindo seu calmo olhar. — Eles não fazem o trabalho de Deus. Não são filhos de Alá. Eles traem todo verdadeiro crente, aqueles que conhecem a verdade. Eles matam sua própria espécie. Matam aqueles que se opõem a eles. Matam os estrangeiros que só buscam ajuda para dar ao nosso povo. Eles não fazem o trabalho de Deus. Fazem o do diabo. Eles querem o poder e glória, e querem ser tanto reverenciados como temidos. E se eles não forem parados, nenhuma uma única


pessoa, muçulmana ou aqueles que seguem qualquer outra religião ou crença, que não abraçar suas práticas pecaminosas, serão poupados. Eles não vão parar nos países e regiões que ocupam atualmente e aterrorizam. Mesmo agora, eles se expandem, como uma praga, trazendo morte e destruição a todos os que tocam. Eles vão enviar servos leais ao mundo e vamos ter um momento, como ninguém nunca viu antes. Onde nenhum lugar é seguro. Nenhum país está a salvo. O mundo inteiro vai saber o que é gostar de estar aqui, para ser um de nós, e viver todos os dias com medo de morrer ou de perder um ente querido para a violência sem sentido, sem Deus. E então o que vamos fazer? Aonde vamos? E quem vai impedi-los? Por fim, a mulher respirou. Sua declaração apaixonada tão honesta e sincera que as palavras tinham jorrado. Ela mal teve tempo para respirar enquanto dizia seus temores com a verdade nua e crua, a Honor. — Eles têm enganado a muitos, — a mulher admitiu. — Eles acham que são deuses. Eles são bem versados no Alcorão e são mestres em torcer as palavras sagradas, fazendo-as parecer que eles estão fazendo o que é certo. Muitos que os seguem, realmente acreditam que eles estão fazendo como Deus quer que estejam servindo a Ele e serão muito bem recompensados por seus serviços. — E este grupo opera no medo e ódio —, disse ela em desgosto. — Uma vez iniciado nas fileiras do grupo, desobediência ou qualquer coisa que possa ser interpretado como deslealdade é considerado um crime contra Deus e é punível com a morte. E não é rápido ou misericordioso. Ela estremeceu, tristeza tocou seus olhos como se ela tivesse conhecimento em primeira mão das coisas que estivessem relacionadas a Honor. — Eles são utilizados como exemplos, a fim de manter os outros na linha. Eles são elogiados e acariciam seus egos para não sair da linha e para provar sua dedicação absoluta à sua “causa”. Aqueles que não são torturados horrivelmente, e outros, os fiéis seguidores, são obrigados a infligir a tortura como forma de endurecimento. É retratado como uma honra ser capaz de ajudar a tirar a vida e a alma de quem os traiu. No final, quando a vítima chegou ao fim de sua resistência e a morte é iminente, ele é decapitado em uma reunião de


grupo e é amaldiçoado para o inferno, cada alegado pecado relacionado antes de todos. Então, e só então é a cabeça cortada e, em seguida, eles celebram... Ela parou de novo e olhou mais uma vez em Honor, desta vez mais de tristeza refletida em seus olhos. Eles estavam inundados de lágrimas e tristeza. Honor entendia tal sofrimento. O tipo com que se engasgava, ameaçava fechar sua garganta. O tipo que faz ficar entorpecido e quase insensível, exceto para o grande senso de perda. E você abraça, porque não quer sentir mais. Você não quer se lembrar. Incapaz de segurar, Honor cortou toda a curta distância e colocou a mão sobre a velha e apertou em um gesto de conforto, mas também de solidariedade. Para deixá-la saber que acreditava que essa mulher sofreu. Honor soube que as coisas ditas estavam relacionadas a esta mulher. — Você perdeu alguém para essa facção, — Honor disse calmamente. Mais lágrimas brilharam intensamente nos olhos da mulher, e por um momento ela baixou o olhar como se contendo. Ela colocou a mão em cima da outra, de modo que a mão de Honor agora estava imprensada entre as suas. — Sim. Um filho. Ele não era mau, mas estava equivocado. Ele pensou que o grupo representava, o que eles fingem ser, estava certo, e ele tinha um forte senso de honra e queria proteger sua terra natal, sua família. Ele quis ser um provedor para nós, de modo que seu pai e eu não teríamos que trabalhar tão duro por mais tempo. Por Deus, ele fez isso por nós —, disse ela em voz aflita, cheia de culpa que não era dela para suportar, mas sentiu, no entanto. E, novamente, Honor entendia esse sentimento. Ela ainda lutava com a culpa de viver, de ser a única a ter sobrevivido ao ataque assassino. A mulher mais velha fez uma pausa, tranquila, e o silêncio se estendeu entre as duas mulheres. A mãe estava perdida em pensamentos como se estivesse em um lugar distante, lamentando as decisões de há muito tempo e, provavelmente, se culpando por não ser capaz de parar o seu filho. Seu coração se compadeceu com esta mulher. A mãe de luto por seu filho, uma mulher que, apesar de suas fortes crenças religiosas e seu espírito devoto sentiu ódio e isso a fazia se sentir envergonhada, Honor tinha certeza disso. — O que aconteceu com ele? — Honor perguntou suavemente.


A mulher respirou de forma difícil e, em seguida, estendeu a mão para um pequeno copo contendo água e tomou um gole para aliviar a secura da boca e continuou a falar. — No começo, ele era devoto. O soldado perfeito. Ele subiu as fileiras rapidamente, impressionando seus superiores com seu intelecto e o fato de que era um excelente estrategista. Mas quanto mais tempo ele estava lá, mais via, mais começou a entender. Ele começou a questionar. Em primeiro lugar a si mesmo, porque ainda estava raciocinando em sua mente o que estava errado quando se sentira tão bem no início. — Mas, então, eles ficaram mais ousados, mais agressivos, maltratavam os inocentes por nenhuma outra razão somente porque podiam. Eles começaram a expandir seu controle sobre seu território, sempre gananciosos e querendo mais. Dominação completa. Sentiam-se invencíveis, que nenhuma nação poderia detê-los. Nem mesmo as melhores forças militares do mundo. Seus planos mudaram e eles começaram a pensar em uma escala muito maior, amparada por seus muitos sucessos. Eles foram monstros implacáveis, sem Deus, que matavam mulheres e crianças e homens desarmados sem pensar. Destruir aldeias pacíficas que nunca tinham pegado em armas contra o outro só para que nem sequer pensassem em ter armas para se defender. Eles foram conquistando sem esforço e cada homem, mulher e criança foi executado, as crianças sendo mortas em primeiro lugar, na frente de seus pais para que eles sentissem a agonia de sua perda. Eles foram para baixo da linha, matando todas as crianças em primeiro lugar, enquanto seus pais esperavam uma eternidade, de luto, sem esperança, se culpando por não protegerem os seus filhos. Somente quando a última criança tinha sido abatida, eles começaram com os adultos, e como com os filhos, eles atiraram primeiro nas mulheres para que seus maridos tivessem de vê-las morrer. Pior ainda, muitas foram violadas, bem na frente de seus maridos, e não havia nada que seus maridos pudessem fazer. Eles o deixaram loucos e quando finalmente a verdade chegou a seus olhos, meu filho congratulou-se com a morte, orou por ela e a abraçou, porque ele já não podia viver com o horror de ter toda a sua família violada e assassinada bem na frente de seus olhos. — Você não tem que continuar—, sussurrou Honor, a tristeza da mulher tão pesada no quarto que o peito de Honor estava apertado e as lágrimas


queimavam, ameaçando cair. — Isso te machuca demais. Eu não quero fazer você reviver tudo de novo. A mulher tentou sorrir, mas tudo o que veio dela foi a sombra de uma careta. — Isso me acompanha todas as noites quando eu vou para a cama. E revivo quando acordo e a cada hora de cada dia. Não há como banir da minha mente. Honor fechou os olhos, lágrimas guardadas a tanto tempo começaram a escorrer por seu rosto. Ela teria que esfregar mais henna em seu rosto antes de sair da casa da mulher. — Meu filho ficou doente. A verdade foi revelada a ele em uma visão de si mesmo e Deus. Deus revelou-lhe a verdade sobre o grupo: que eles eram instrumentos do mal e não eram bons. Nunca foram boa coisa. E que meu filho deveria sair imediatamente. Ela fungou em uma respiração instável, a voz embargada, e teve que engolir um sopro de tristeza comovente. — Ele deveria ter esperado pela oportunidade certa, mas ele não fez isso. Então, ele ficou convencido, depois de receber a palavra de Deus, que o que o grupo representava estava errado e não de acordo com os ensinamentos do Alcorão. Ele confrontou os líderes, disse-lhes de seu sonho e que eles deviam parar ou enfrentar a condenação eterna. Eles não o mataram no local ou tão pouco o detiveram, mas brincaram com ele. Disseram-lhe, com absoluta seriedade, que estavam gratos por compartilhar a palavra de Deus e que ele devia ser um homem devoto na verdade, para Alá ter falado com ele e que eles iriam levar tudo o que ele havia dito em conta, reunir os membros e discutir mudanças. E eles o deixariam ir. A mulher olhou para Honor como se julgasse se a mulher mais jovem acreditava em uma história tão fantástica. Mas Honor olhou para ela com seriedade, absorvendo cada palavra. Ainda assim, a mulher deve ter sentido que Honor precisava de provas para acreditar em tanta selvageria. — Talvez você queira saber como eu poderia saber de tais coisas em um grupo que é tão secreto, meu filho manteve um diário com todos os detalhes de


sua experiência como membro da Nova Era. Ele me enviou logo depois que confrontou os líderes. Talvez ele soubesse o que iria acontecer. Talvez ele sentisse que estavam mentindo e queria que alguém soubesse o que eles realmente eram. E, como eu sei o que aconteceu com meu filho depois da última conversa com os líderes? Um de seus amigos, que não gostava das ações do grupo, veio até mim e contou o que fizeram a meu filho. Desta vez, o som triste se derramou da boca da mulher, que saiu das profundezas de sua alma. Lágrimas correram livremente por seu rosto e suas feições ficaram tão abaladas com a dor, que Honor não podia sequer olhar para ela sem lembrar o horror daquele dia em que cada um de seus amigos e colegas haviam sido mortos. Ela sabia exatamente o quanto essa mulher sentia. Elas estavam ligadas por um vínculo que duas pessoas não deveriam ter que compartilhar. — Eles vieram no meio da noite. Meu filho tinha embalado seus pertences e planejava sair de madrugada para voltar para casa, para mim e seu pai. Puxaram-no de sua cama e arrastaram-no para fora, onde todos os outros já estavam reunidos. Eles o amordaçaram para que ele não pudesse falar, não pudesse se defender ou denunciar a organização e seus propósitos e possivelmente atingir os outros seguidores. — Eles disseram aos outros que ele era um traidor de seus irmãos. Que ele tinha cometido um pecado imperdoável, dando sua localização para uma facção militar adversária. Ele tinha sido comprado e tinha traído a cada um de seus irmãos para o dinheiro. Ele era uma abominação não somente a Deus, mas a causa de Alá. Quando eles terminaram de denunciá-lo, os outros estavam muito felizes em participar de sua tortura. Eles ficaram bravos e furiosos em pensar que ele pudesse fazer uma coisa dessas. O chamaram de demônio, de estar possuído por espíritos malignos. — Eles o torturaram sem parar por uma semana inteira, — a mulher sussurrou, as lágrimas fazendo trilhas sem em seu rosto. — E neste caso, eles não o decapitaram no final, pouco antes que ele morresse em seu próprio sangue como é o seu costume. Eles disseram que um traidor como ele não merecia a misericórdia de uma morte rápida e indolor. Ele foi deixado lá para sucumbir


lentamente pela a tortura que tinha sido infligido. Ele não tinha comida ou água em todo esse tempo e levou mais três dias para finalmente morrer! A mulher colocou um punho à boca e mordeu com força, sua dor, uma coisa tangível e terrível na pequena habitação. Honor não poderia ajudá-la. Era de sua natureza consolar outros, para ajudá-los, não importando o custo para ela. Foi por isso que, mesmo agora que estava fugindo por sua vida, era o porquê tinha escolhido um lugar perigoso para prestar ajuda. Mas também era a área que tinha mais necessitados e porque tantos outros não se atreviam a vir aqui para ajudar. Honor colocou os braços ao redor da outra mulher e simplesmente a abraçou. Ambas derramaram lágrimas por tantas coisas horríveis e mortes sem sentido. — Eu sinto muito pela sua perda, — Honor sussurrou próximo ao ouvido da mulher. — Ele parecia um bom homem e não como esses e não era como os bonecos estúpidos comandados por esses monstros que abraçam a promessa de riquezas e poder. Ele tentou corrigir os erros e está agora seguro. Você deve saber disso. A mulher se afastou com um sorriso pálido. Ela enxugou as lágrimas com as costas da mão, e tremeu quando as baixou a seu colo mais uma vez. — Obrigada por dizer isso. Admito que às vezes eu temia por sua alma. Rezei para que ele encontrasse a paz nos braços de Deus. Mas sim, ele era um bom homem. —Seu queixo levantado para cima, seu olhar mais determinado. — Quando soube dos verdadeiros objetivos da Nova Era, ele lutou para mudarem e voltar atrás e eu o admirei por isso. Mas no meu coração eu gostaria que ele tivesse simplesmente ido embora. Honor acenou com compreensão. Sabendo seu tempo era limitado e que o homem que coletava água para ela provavelmente estava procurando-a, se inclinou para frente para pegar a mão da mulher novamente. — Obrigada por sua ajuda. Eu nunca poderei pagar tanta bondade. Mas eu devo ir agora. Um homem que me acompanhou até a aldeia e que está pegando água do rio, disse que o grupo está aqui, na aldeia. Pelo menos alguns deles. Eles cercam e até mesmo se misturam no mercado procurando por mim.


Eu preciso encontrar uma maneira de sair sem ser detectada e sem atrair suspeitas, depois preciso encontrar um lugar para descansar. Eu durmo de dia e viajo de noite assim diminuo as chances de ser capturada, mas esta manhã tive que vir para a aldeia para obter mais suprimentos, estava praticamente sem água. Os olhos da mulher brilharam por um momento e o primeiro verdadeiro arremedo de um sorriso iluminou seu rosto. — Você vai ficar aqui —, disse ela, triunfante, como se tivesse acabado de resolver um enorme dilema. O alarme tomou conta de Honor e ela balançou a cabeça automaticamente. —Não. Absolutamente não. Eu não prejudicarei você e seu marido, ou o resto dos aldeões assim. É melhor eu deixar este lugar o mais rapidamente possível para chamar a atenção longe de você e do resto. Você tem sido tão amável e eu não vou pagar essa bondade para você ser morta por abrigar alguém que caçam. O sorriso da mulher não vacilou. — Eles não vão encontrá-la aqui, mesmo que entrem para te procurar. Sua expressão era presunçosa e mais importante, confiante. Não houve nenhuma hesitação, nenhuma confiança falsa, para tranquilizar Honor. Honor olhou para ela com perplexidade. — Como? — Anos atrás, quando a luta foi ruim nesta área, nós temíamos que seria bombardeada diariamente. Os ataques só vinham à noite e eles eram covardes demais para enfrentar as suas vítimas durante o dia. Então, meu marido cavou um abrigo debaixo do piso da nossa casa. É profundo e amplo o suficiente para caber duas pessoas. É onde dormimos todas as noites quando tivemos a ameaça de atentado pairando sobre nós por meses. Você pode ir buscar a sua água e trazê-la aqui. Vou ferver para purificá-la enquanto você dorme. Quando a noite cair, eu vou despertá-la e você poderá ir a seu caminho mais uma vez com a bênção de Alá. — E o que o seu marido acha? — Honor perguntou em voz baixa. — Qualquer vitória sobre essa abominação que chama a si mesmo de mensageiros de Deus e instrumentos de Sua vontade, unicamente agrada meu


marido. E ele nunca iria virar as costas para uma jovem mulher com tanta necessidade. Eles não vão encontrá-la, pois meu marido fez a abertura no chão indetectável. Esses animais poderiam estar bem em cima de você e eles nunca saberiam. Você precisa de descanso e também que seus ferimentos sejam cuidados. Permita-me dar essa pequena ajuda. Eu não pude ajudar ao meu filho, mas posso te ajudar. — Eu não sei como lhe agradecer —, disse, entre lágrimas Honor, com o alívio caindo sobre ela como uma chuva de limpeza. Desta vez, a mulher pegou a mão de Honor e agarrou-a firmemente em um gesto claro de solidariedade. Determinação passou da mulher a Honor. Ela podia sentir isso. Podia sentir a vontade da mulher não só em ajudar, mas para que Honor pudesse escapar e viver. — Você pode me agradecer por viver —, a mulher disse simplesmente. — Saiba Honor Cambridge que muitos estão orando por sua passagem segura e muitos iriam ajudá-la de qualquer maneira, mas você não pode se dar ao luxo de confiar em ninguém, porque assim como existem muitos orando para que você alcance a segurança, há também muitos que não hesitariam em traí-la para as riquezas que foram prometidas a quem encontrar você. Honor olhou para ela em choque total. A mulher sabia o nome dela. Seu nome já tinha sido amplamente divulgado. A mulher sorriu. — Você se tornou uma lenda no espaço de poucos dias. A história de sua fuga dos militantes passou de aldeia em aldeia, todos com admiração não só porque uma solitária mulher americana foi capaz de escapar do ataque brutal em seu centro de ajuda humanitária, mas também que você conseguiu escapar da captura por mais de uma semana. Você se tornou um farol de esperança para o nosso povo. A prova de que a Nova Era não é tão invencível como eles proclamam como sua reputação sugere. É por isso que você deve prestar atenção ao que digo e não confiar em ninguém. Você é uma fonte de grande embaraço para os militantes, porque enquanto eles exercem muito poder e são temidos amplamente, não foram capazes de encontrá-la. Sua raiva é grande e eles crescem com mais raiva e mais impaciente a cada dia.


— Eu não sou ninguém especial, — Honor conseguiu coaxar seu espanto. — Eu sou apenas uma mulher comum, normal, que quer muito voltar volta para casa. — Você vai —, disse a mulher ferozmente. — Se alguém pode conseguir esta proeza, é você. Você chegou até aqui, e não falhará agora.


CAPÍTULO 6 UMA VOZ urgente se intrometeu no vasto vazio da mente de Honor, perturbando o sono profundo, sem sonhos e restaurador. Apesar de querer desesperadamente permanecer no casulo seguro em que ela descansou pela última hora, o medo e a prontidão eram muito arraigados em si para não responder. Seus olhos se abriram, buscando a origem da chamada, e ela viu sua protetora de pé ansiosamente no último degrau que descia para o abrigo que seu marido tinha construído. — Lamento acordá-la tão cedo, mas há necessidade de você ficar pronta e partir enquanto o sol ainda está alto no céu. A preocupação em sua voz despertou Honor, e ela subiu, recolhendo sua bolsa e endireitando a roupa nova que tinha comprado anteriormente. Ela ia cobrir a cabeça uma vez que estivesse acima do nível do solo para que pudesse retocar quaisquer áreas que necessitam de mais corante. — O que aconteceu? — Honor perguntou enquanto seguia a mulher até as escadas. Esperando no topo estava o marido da mulher com uma expressão sombria. — Sente-se —, a mulher pediu. — Eu vou pintar o seu rosto e seu cabelo. Você pode ouvir enquanto eu trabalho. Tenho uma ideia que você pode não gostar, mas eu acho que dadas às circunstâncias, seria a forma perfeita de disfarce para fugir com segurança dos assassinos. Honor imediatamente obedeceu, o medo atingiu o fundo de seu estômago, causando um nó, mas também intrigada com a ideia que a mulher falou. Assim, ela se sentou em uma das cadeiras esculpidas à mão, cruzando as no colo para não trair o quanto estava tremendo. O marido quem falou primeiro.


— Os rebeldes estão aqui, e ouviram dizer que eles pretendem permanecer na área após o pôr do sol, já que é conhecido que você viaja exclusivamente à noite. Há um grupo de pessoas que vieram para o mercado e que são do Norte, que vão à direção em que você viaja. Você precisa sair com eles, enquanto ainda há luz. Você vai se misturar e os militantes não estarão à procura de uma mulher viajando com outras pessoas quando sabem que você tem viajado estritamente sozinha até agora. É a sua melhor e única chance. Se você sair à noite, eles vão capturá-la com certeza. E se você não aparecer esta noite, eles vão procurar na aldeia e aqueles que abrigam você, serão mortos instantaneamente. Honor olhou para o casal com horror sobre o perigo em que ela os colocou. Reconheceu que eles arriscaram muito em ajudá-la, e realisticamente ela sabia desde o início, o quanto eles arriscaram, mas ouvi-lo dizer algo tão importante com naturalidade, sacudiu-a até o núcleo. Ela não queria que essas pessoas morressem por causa de sua bondade para com uma completa estranha. — E é aí que a tive uma ideia, — a mulher interrompeu como se sentindo o pânico crescente de Honor. — Eles não vão esperar ver você viaje durante o dia, acompanhada por outros, mas eles poderiam, eventualmente, ser avisados do seu disfarce como uma senhora idosa curvada, vacilante e a pé. Os nervos atacados de Honor aumentaram de imediato, o medo já presente na boca do estômago. O gosto de desesperança e fracasso iminente era amargo na boca. Por ter chegado tão longe, ter chegado tão perto, a poucos dias da fronteira em uma zona mais segura com a presença dos Estados Unidos, um lugar que a Nova Era ainda não se atreveu a invadir e ser capturada com liberdade à vista. Era mais do que podia suportar. Ela ergueu um punho atado à boca, não determinada a mostrar a profundidade de seu desespero para essas pessoas corajosas. Sentia que os desonrou quando eles tinham mostrado muito do que agora ela não tinha. — Apenas me escute —, disse a mulher suavemente. — Eu acho que você vai concordar que esta é uma boa ideia. Vamos escurecer seu rosto e cabelo, mas suavizar as linhas em seu rosto, fazendo você parecer mais jovem. Vamos remover o preenchimento que faz você parecer maior, e embora possa ser doloroso dado o prejuízo para o seu joelho, você deve andar normalmente,


como se você estivesse ilesa. Eu vou aplicar o remédio para o seu joelho e outras áreas para dor, assim irá receber um alívio temporário. — E há homens no grupo, alguém que vai agir como seu marido e andar à frente de você como é habitual. Todos esses fatores, essas mudanças combinadas, vão enganar aqueles que esperam por uma velha senhora viajando sob o véu da noite e fora do curso. Eu acredito que você não vai mesmo chamar a atenção deles, porque eles não vão estar a olhar para o que você é. Uma mulher jovem, em forma de uma mulher mais vibrante, mais jovem de vestido, viajando com um grupo familiar, no horário de verão. — Eu acredito que é a sua única chance —, disse o marido com uma voz firme. A certeza absoluta no tom do marido anulou qualquer medo que Honor tinha em se aventurar em plena luz do dia. Ela ponderou a sabedoria da mulher, e sua ideia tinha mérito. Ela seria, na verdade, o inverso de tudo que a Nova Era sabia sobre ela. Eles não poderiam cair nisso novamente, mas se ela não passasse por eles, desta vez, não haveria uma próxima vez que se preocupar sobre qualquer forma. Ela tinha que dar um passo de cada vez. Evitar uma armadilha de cada vez. E como o marido havia dito, era sua única chance. Sua única escolha. Tinha que fazer isso, porque se fosse descoberta deixando a aldeia sob a noite, os militantes saberiam que alguém na aldeia tinha dado abrigo, e que iria retaliar, assassinando cada homem, mulher e criança. A ideia a deixou doente. Essas pessoas tinham sido gentis com ela, arriscando suas vidas para ajudá-la, e ela estaria condenada se eles fossem reembolsados com violência. Ela simplesmente assentiu concordando. Primeiro a mulher limpou cuidadosamente o rosto de Honor, removendo a sujeira e detritos incorporados ao disfarce pelo corante para parecer mais velha. Então, com muito cuidado, ela esfregou o corante na pele de Honor e, em seguida, começou a reaplicando-o em seu cabelo naturalmente loiro o tornando quase preto. Escureceu as sobrancelhas de Honor, que já eram castanhas, mas com um marrom claro, em contraste com o loiro mel de seu cabelo. Honor, não queria arriscar, tinha tingindo pela primeira vez em que usou henna em seu disfarce.


Em seguida, ela gentilmente aplicou uma camada espessa da pasta inodora ao joelho inchado de Honor, sussurrando uma oração enquanto trabalhava. Lágrimas queimaram as bordas dos olhos de Honor, porque a mulher rezava na língua da religião árabe. E ela estava pedindo a bênção de Deus e por sua mão para guiar seu caminho para a liberdade. Enquanto ela meticulosamente aplicava a mistura medicinal nos muitos outros arranhões e contusões, instruiu Honor para segurar as mãos e, em seguida, cuidadosamente passou por cima de cada dedo e esfregou o corante nas linhas e rachaduras em sua pele. Então ela fez o mesmo com os pés de Honor, em seguida, ela lhe deu um par de sapatos, do tipo que os nativos usavam, macios e confortáveis, mas a mulher lhe assegurou que eram resistentes e iria suportar os quilômetros que Honor teria que andar. — Os sapatos que você usou a denunciam —, a mulher explicou pacientemente. — Não são sapatos que uma mulher daqui usaria. Felizmente ninguém os viu ou eles teriam sido notados. Mas com você agora vestindo uma peça de roupa e sapatos de uma nativa, e o fato de que você está partindo bem antes de o sol se pôr, você não deve ter dificuldade em ir muito além da aldeia. Não há relatos de pessoas com partida no mercado em qualquer direção que estão sendo parados e revistados ou questionados. Por todas as contas, as cobras estão apenas deitadas na grama e esperando por você aparecer magicamente na frente deles. Alguém poderia pensar que teriam aprendido a não subestimar você, mas sua arrogância é demais para isso. Eles pensam que têm a vantagem agora porque sabem de seus hábitos e seus padrões, e então eles montaram uma armadilha e estão esperando você cair ordenadamente nela. — Eu devo muito aos dois, acrescentou ao incluir o marido, — agradeço por não cair na armadilha, porque isso é exatamente o que eu teria feito se não me tivessem aviso e auxiliado. —Vem, vem agora —, disse a mulher, dando as peças de vestuário para Honor vestir e sair da aldeia. — Eles esperam em uma das barracas, fingindo interesse até você chegar. Você deve se apressar, no entanto. Nós não queremos fazer nada que vá levantar suspeitas. Honor se trocou rapidamente e em poucos minutos ela estava vestida de forma adequada, com a sua bolsa, um novo hijab e roupão dobrado


cuidadosamente sobre seu braço. Ela caminhou a passos largos para a porta, testando a força de seu joelho, agora que estava andando normalmente. Ele protestou com os movimentos mais rápidos e mais peso a ser suportado na perna, mas era muito mais suportável do que antes, provavelmente devido à massagem da mulher. Mas o mais importante, ela poderia manter um ritmo normal, sem dar mostras de sua lesão. Doía-lhe, sim. Mas havia diminuído para uma dor surda e pura determinação tornaria impossível para ela vacilar. Na porta, ela fez uma pausa e virou, a necessidade de, pelo menos, tentar colocar em palavras sua imensa gratidão. — Obrigada —, disse ela. —Você arriscou muito por uma estranha. Eu nunca vou ser capaz de pagar minha dívida com você. — Que Alá esteja com você em sua jornada —, disse o marido em uma voz solene. — Vamos orar diariamente por você. — E eu por vocês —, Honor prometeu em troca. — Deus está com sua família sempre. Nunca te esquecerei. Você permanecerá para sempre em minhas orações. — Boa viagem —, disse a mulher quando Honor abriu a porta e saiu para a luz do sol. A mulher a havia dirigido até o grupo para se misturar e caminhou em direção a eles, carregando suas compras de mercado, mas antes que ela chegasse até eles, seu caminho foi subitamente bloqueado por um grande e ameaçador homem. Seu pulso saltou e seus reflexos de luta ou fuga gritaram com ela para ficar em liberdade. Levou toda grama de disciplina que possuía para abaixar a cabeça em submissão e murmurar um pedido de desculpas no dialeto local. — Muito impressionante Honor. Fazendo o inesperado. Agora eu entendo porque você foi capaz de evitar a captura por tanto tempo. E o seu sotaque é impecável. Eu me pergunto quantas línguas, dessa região, você fala? O sotaque americano, uma sugestão do Sul, um sotaque tão sutil que quase não era audível. Mas ela tinha uma afinidade com línguas e sotaques, e suas orelhas eram sensíveis a nuances sutis que outros provavelmente desconheciam. Mas ele também, obviamente, tinha um talento para línguas ou


pelo menos o que ela tinha falado com ele desde que tinha tido conhecimento de que ele poderia detectar nenhum acento, e ele estava procurando por um. Seu pulso pulou novamente, desta vez trovejando como um tornado por suas veias, mas por uma razão completamente diferente. Ele era americano. Sabia o nome dela. Ele estava aqui para resgatá-la? Teve notícia de sua sobrevivência e do grupo militante transformando a terra em busca de atenção pública? Se ele tivesse sido enviado para resgatá-la? E se assim fosse, por que ele simplesmente não se identificou e afirmou seu objetivo? Ele estava preocupado em lhe dar alívio? Que ela se tornaria uma histérica, idiota histérica e atrairia o foco de todo mundo em toda a aldeia? Alguma coisa sobre isso, simplesmente não estava bem. Confie em ninguém. As palavras da mulher se infiltraram através de sua mente, esfriando sua excitação, e ela se forçou a agir indiferente, intrigada mesmo, como se não entendesse a língua que ele falava. Ousadamente, ela virou a cabeça para cima, encontrando seu olhar, forçando a dela em uma de confusão. Ela inclinou a cabeça e balançou-a ligeiramente, franzindo a testa, mesmo quando disse no dialeto local, — Eu sinto muito. Não estou entendendo. Eu não falo a sua língua. Um brilho de diversão brevemente brilhou em seus olhos antes de seu olhar endurecer e sua expressão se tornar igualmente difícil e gravemente sério. Ele usava a roupa de um nativo e ainda não havia qualquer tentativa da sua parte em esconder o que ele era. Caucasiano. Talvez a razão pela qual ele não mostrou medo era que ele estava protegido por sua participação em uma organização terrorista. — Não tenho tempo para jogar jogos. Você não tem tempo a perder. Você provavelmente foi informada de que os homens que caçam você, estão esperando até o anoitecer, quando você está normalmente em movimento e que eles vão estar à procura de uma mulher mais velha com um andar lento, arrastado e que não estão verificando aqueles que saem da aldeia. Mas isso é falso. Eles criaram um perímetro bem além dos limites da vila para que não pareça que ninguém está sendo investigado, mas na verdade, eles pararam cada


pessoa que partiu desde que o mercado se abriu e não estão simplesmente esperando pela noite para que você caia em suas mãos. E apesar da mudança inteligente em seu disfarce e fazendo o inesperado, não fará nenhum bem. Eles vão parar todo o seu grupo e procurar cada um de vocês completamente e quando for descoberto que você está com este grupo se prepare para partir, eles vão matar cada um deles, vão levá-la viva e será seu pior pesadelo. A vontade de ferro que tinha mantido Honor viva e em movimento desde o dia do ataque, havia desintegrado e estava em ruínas ao redor dela. Ela sabia que o medo brilhava em seus olhos, entregando-se completamente a um homem cujos propósitos ela desconhecia. Ela não sabia se ele era amigo ou inimigo. E era óbvio que ele sabia muito sobre ela, o que a colocou em clara desvantagem, porque ela não tinha a mínima pista de quem ele era. Só que ele era americano, que deveria a ajudar, mas havia algo naquele rosto duro como pedra, a crueldade que ela podia ver à espreita nas sombras de seus olhos. Neste momento ela não sabia quem ela temia mais, o americano ou os militantes à espreita dela. — Por que você está me contando isso? — Ela perguntou sem rodeios em inglês enquanto olhava diretamente em seu olhar, tentando pegar qualquer indicação de suas intenções. Mas ele permaneceu desprovido de emoção, sua expressão totalmente inescrutável. Ele deu de si mesmo nada de distância, o que frustrou Honor. Todo mundo deu alguma coisa. Ela estava sempre lá com um olho treinado para ver. Mas este homem era impossível de ler, como se tivesse tido anos para aperfeiçoar uma fachada que ninguém podia penetrar. Ele poderia ser militar. Ela esperava com tudo o que tinha que ele era militar americano e que sua casca dura foi o resultado de sua formação e experiência em uma região do mundo onde o derramamento de sangue era mais comum do que a água corrente. — Porque eu vou levá-lo comigo para que você não seja capturada pelos homens que não vão parar até que eles capturem sua presa. Ela o estudou por um longo momento. — Então você veio me salvar? Quem é você? Quem te mandou?


Ele arqueou uma sobrancelha, claramente surpreendido por sua resistência. Talvez ele esperasse que ela caísse em seus braços, chorando histericamente, achando-o seu salvador. Mas ela não tinha ficado viva, porque acreditava em qualquer coisa cegamente. Ou tomar qualquer coisa pelo valor do que via. Ela não podia se dar ao luxo de começar agora. Não quando estava tão perto de seu objetivo final de encontrar seu caminho de casa. — Isso importa? — Ele perguntou suavemente. — Tudo o que você precisa saber é que os meus homens e eu vamos te tirar do país e fora do alcance da Nova Era. Ou você prefere ter a sua chance com o seu grupo de protetores e levá-los cegamente a morte certa? Honor mordeu o lábio, em profundo conflito. Por que não estava feliz em vê-lo? Por que ela não estava caindo em seus braços, aliviada e grata? Estava tão desesperada para atravessar a fronteira para um país onde havia uma presença norte-americana? Porque a presença desse homem tinha sido plantada em seu caminho, oferecendo-lhe uma passagem segura. Talvez fosse porque tinha sido muito fácil, muito conveniente, com o tempo impecável ou coincidência. E ela não acreditava em coincidências. Especialmente quando se tratava de sua vida. — Se eles estão procurando por todos que deixam a aldeia e se têm, como você diz, um perímetro configurado abrangendo todas as rotas que levam para fora da aldeia, então como você e seus homens, possivelmente, acham que serão capazes passar por seus bloqueios impenetráveis, a mesma coisa que você jura que vai acontecer se eu deixar a aldeia com um grupo de pessoas? Vocês não são um grupo de pessoas do mesmo jeito? Dentes brancos brilharam e ela se lembrou dos dentes de um predador definidos em um grunhido quando fechavam em suas presas. Um tremor de apreensão correu por sua espinha e ela distraidamente esfregou um braço através do material pesado de seu vestuário. — Eu pretendo passá-los. Honor ficou rígida com medo. As pessoas que a tinham esperado estavam claramente desconfortáveis e foram avançando para longe, claramente querendo estar fora deste lugar. E para se livrar dela. Eles sabiam muito bem o que eles arriscavam, permitindo que ela viajasse com eles, e agora, com a


chegada daquele estranho parecendo sinistro, eles ficaram ainda mais nervosos. Ela não podia culpá-los. E nem poderia destiná-los a uma morte certa. Ela não podia correr o risco de que este homem não estava dizendo a verdade absoluta. Ela não seria responsável pelas mortes dessas pessoas. Ela acenou para eles, tomando a súbita decisão quando se tornou claro que eles sabiam que ela era uma armadilha mortal. O norte-americano estava certo. Ela não iria simplesmente levar seus supostos salvadores docilmente para o matadouro quando não tinha absolutamente nenhuma chance de escapar. Ele, por outro lado, estava oferecendo uma, e sua arrogância sugeriu que ele realmente pensava, ou melhor sabia que, ele seria bem-sucedido. Ela caminhou para o menor de dois males. Um conhecido e um desconhecido. Ela sabia o qual seria seu destino nas mãos dos selvagens que a caçavam. Não sabia quais eram as intenções do americano, mas dado que sua única outra opção era certamente tortura, agonia sem fim e morte, ela tomou a decisão de ir com o desconhecido, a única escolha lógica. — Você tomou a sua decisão. Agora se mova. — Disse ele, sem delicadeza em sua voz. De alguma forma ela tinha imaginado seu resgate um pouco diferente. Talvez nas mãos de soldados americanos que iriam pelo menos reconhecê-la como uma irmã, interrogar sobre a sua saúde. Não a insultar a tomar uma decisão. Para isso, ele não deveria ter se identificado como um membro das forças armadas dos Estados Unidos? Não deveria ter se identificado, pelo menos? Ela franziu a testa. Os militares não apenas ordenavam as pessoas ao redor para seu próprio bem, não é? Mas então supôs que era exatamente o que eles faziam em uma base diária ao resgatar prisioneiros ou reféns. O tempo era crítico, e seguir ordens era essencial para a sua sobrevivência. — Qual o ramo das forças armadas você serve e onde estão as suas placas de identificação? — Ela deixou escapar, mesmo quando tropeçou ao lado dele, na tentativa de igualar o seu passo mais comprido. Ela mordeu o lábio para abafar o som da dor quando seu joelho protestou pelo movimento vigoroso que não estava habituado. Era bobagem, mas ela não


queria mostrar fraqueza na frente deste guerreiro. E ele claramente era um guerreiro. Ela queria mostrar só a força, não lhe dar nenhuma razão para culpála, e ela estaria condenada se tivesse que atrasá-lo. Mais uma vez seus dentes brilharam, mas de modo algum foi em um sorriso. Francamente, ele a assustou toda vez que fez isso. Ele a lembrava muito do lobo mau prestes a devorar Chapeuzinho Vermelho, apenas no caso de Honor, que tinha vagado pelo deserto, e não pela floresta, e não havia lobos aqui. Mas havia muitos demônios. Crias do próprio Satã. O Mal tinha corrido forte por aquele lugar, manchando tudo com o sangue dos inocentes. — É um pouco tarde para me pedir uma ID3 agora—, disse ele suavemente. Ele se aproximou a um veículo de aparência militar e pela primeira vez seu sangue pulsou descontroladamente com entusiasmo. Parecia americano, e enquanto isso podia soar como um pensamento estúpido de um civil sem noção, ela trabalhou em toda esta região por um bom tempo e entrou em contato com todos os tipos de equipamento militar e veículos. Rapidamente aprendeu a reconhecer amigo ou inimigo por coisas sutis que talvez outros não notariam. Mas quando sua vida dependia de saber, e supondo que iria te matar mais rápido do que uma bala perdida em uma zona de combate, você tende a rapidamente se tornar um especialista em aprender as diferenças entre aqueles que iriam matá-lo e aqueles que iriam salvá-lo. Mas ele, de todos, empurrou-a para a parte de trás e deslizou ao lado dela, batendo a porta enquanto ela lutava para corrigir a si mesma de onde a cabeça dela tinha mergulhado em direção à tábua do chão e o material pesado que a cobria, torceu ao redor dela, impedindo-a de se desembaraçar. Em seguida, o veículo deu uma guinada em movimento, achatando-a mais uma vez. Frustrada e irritada com a falta de cuidado seu — salvador — tinha oferecido até agora, ela colocou as mãos sobre a tábua do chão e tentou se empurrar para cima e para fora do emaranhado do material que efetivamente prendia suas pernas e obscurecia sua visão.

3

Identificação


Para sua surpresa, ele plantou uma mão firme no meio das costas e a empurrou ainda mais para baixo. Outro homem já sentado na parte de trás do veículo utilitário empurrou a cabeça debaixo de suas pernas, mas ele usou o cuidado que o primeiro homem não tinha usado. Quando ela ia protestar, uma mão rodeou sua nuca e dedos apertaram ao redor da coluna magra de seu pescoço em advertência. E embora ela estivesse se familiarizando com o homem que a interceptou, na aldeia há apenas alguns minutos, ela sabia que era a sua mão em seu pescoço, não a do segundo, que tinha ajudado a empurrar para o piso. Ele apertou mais uma vez e, em seguida, em contradição direta com a força bruta de seu alcance e aparente desrespeito para saber se machucou ou assustou, ele esfregou seu polegar para cima e para baixo da linha logo abaixo da orelha de uma maneira suave, até mesmo enquanto seu aperto se manteve firme. — Não se mova — o homem ordenou. O material semelhante aos cobertores estocados no centro de ajuda humanitária caiu sobre ela, bloqueando a luz e a encerrando em trevas. Mas era muito pesado para ser um dos cobertores simples entregues nos pacotes de socorro. Este era mais de um cobertor de utilidade, ou lona talvez. Era difícil distinguir a sensação e textura, quando já estava envolta em uma poça de seu próprio vestuário. O calor era sufocante. O suor umedeceu as raízes de seu cabelo e banhou a testa. Era como se estivesse lentamente assando em um forno. Até o ar inalado era escaldante, era abafado pelos pesados cobertores que a cobriam, dando-lhe pouco espaço para respirar. Sua mente estava em chamas com confusão. Se ela tivesse simplesmente trocado um contrato do inferno por outro? Feito um bom negócio para a vida dela quando ambos os resultados resultariam em sua morte? O veículo se movimentou muito rápido sobre o terreno acidentado, e Honor sentia cada uma dessas colisões. A mão ainda envolvida em torno de sua nuca se manteve firme embora o polegar do americano continuasse o seu movimento, reconfortante, para cima e para baixo. Então, ela se concentrou no


simples conforto quando tinha sido negado conforto durante tanto tempo e bloqueou o espancamento no seu corpo já machucado e dolorido. Sentiu a diminuição da velocidade no momento em que o veículo abrandou e ela ficou rígida, prendendo a respiração, sabendo que não tinha ido muito longe. Eles estavam sendo parados? Ele tinha declarado muito arrogantemente que planejava dirigir e passar pelos bloqueios da estrada, e algo em sua voz tinha dado fé de que ele seria capaz de fazer exatamente isso. Um medo muito real a pegou, paralisando-a. Não percebeu que tinha começado a tremer e ainda não tinha conseguido uma respiração até que o aperto em torno de seu pescoço afrouxou e seus dedos acariciaram através de seu cabelo sob as camadas do material que a cobriam. — Se segure, Honor — disse ele. Pela primeira vez ela ouviu gentileza em sua voz e sentiu em seu toque. Ele a fez querer quebrar e soluçar. Então, talvez ela precisasse dele apesar dele ser um idiota implacável. Enquanto ela ficou chateada, manteve-se focada a não correr o risco de cair aos pedaços. — Eu preciso que você se acalme. — Desta vez, sua voz era mais autoritária, todas as notas de gentileza se foram. — Você está tremendo como uma folha e os cobertores estão pulando como se cobrissem uma ninhada de cachorros se contorcendo. Seu peito ardia e ela se agarrou ao seu comando, forçando-se a obedecer. — Respire —, disse ele asperamente. — Porra, respire ou desmaie. Mas acalme-se. Você não está fora de perigo ainda, e agora não é o momento para se deixar levar. Honor ouviu outras maldições murmuradas, e ela podia jurar que ouviu alguém dizer, — Mau Mojo4. — Talvez ela finalmente tenha perdido seu controle, enfraquecendo sua sanidade.

4

Mau Mojo neste caso significa Má sorte ou Bom Mojo para Boa sorte. Não traduzimos por que Mojo se tornou um personagem significativo neste livro.


O norte-americano aumentou seu aperto em torno de sua nuca como tinha feito antes e balançou, embora não com força suficiente para machucar. Apenas o suficiente para chamar sua atenção. E ele fez seu trabalho. — Eu estou bem — ela sussurrou. Ar doce, curando fluiu para os pulmões sedentos de oxigênio. Seu corpo relaxou e diminuiu a queimação e com isso ficou inerte no chão do veículo, que tinha parado. — Porra, obrigado — o americano murmurou, afrouxando o aperto e, em seguida, retirou a mão de debaixo dos cobertores inteiramente. Por mais absurdo que a sensação fosse, ela se sentiu desolada e fria no minuto que o calor de sua pele deixou a dela. Ela apertou sua mandíbula já fechada e manteve-a tão apertada que a dor viajou com ela, mas fez isso para evitar que seus dentes batessem. Ela se sentiu humilhada por ter se apavorado e agido como uma imbecil completa na frente desses homens. Não importava se eram aliados ou inimigos. Assim como ela se recusava a estar em condições de pedir aos assassinos que a caçavam para matá-la e acabar com seu sofrimento sem fim, o orgulho também endureceu sua espinha quando veio para estes homens. Ela estava agindo como uma heroína indefesa em um romance dramático onde o único objetivo da fêmea era destacar a capacidade heroica do macho alfa e viril em salvar sua bunda inútil uma e outra vez. Ela tinha chegado tão longe, por tantos dias e por conta própria, confiando em ninguém além de si mesma e sua determinação em sobreviver. Repreendeuse mentalmente e firmou sua determinação, cada vez mais, em não mostrar tal fraqueza na frente desses homens, independentemente de quem fossem. Mil perguntas queimaram seus lábios. Ela queria exigir respostas. Levou toda a sua disciplina para não interrogar “seu salvador” e perguntar o que diabos era seu plano e o que ele planejava fazer com ela. Porque ela não estava totalmente certa de que ele era um dos mocinhos, apesar de saber que os bastardos que a estavam caçando não eram os mocinhos. Tranquila escorregou sobre o interior do veículo, e ouviu o som de uma janela deslizando para baixo. Ela fechou os olhos e ficou mole, empurrando


seus pensamentos em um vazio branco de nada. Calma era a única coisa que poderia salvá-la, e então ela simplesmente fez o que devia, chamou a calmaria ao seu redor como uma das colchas macias sua mãe criou para seus entes queridos. Ela se permitiu viajar por essas memórias mais felizes, puxado imagens de seus pais, seus irmãos e sua irmã em sua mente e se cercou com seu amor. Permitiu que ela flutuasse livre de suas circunstâncias atuais, o perigo do disfarce dela como uma névoa densa, e serena, bloqueando tudo, menos os rostos sorridentes de seus entes queridos. Então, sentiu que estava tão abrigada em sua realidade alternativa que não sentiu o veículo em movimento balançando novamente. Ficou assim até que a mão do americano mergulhou sob a manta, levantando-a, em seguida, seus dedos deslizaram sobre seu queixo, levantando seu rosto enquanto ele estava inclinado para enfrentá-la parcialmente, quando ela percebeu que tinham retomado a viagem. — Honor? A pergunta em forma de seu nome transmitia tudo. Ele estava perguntando se ela estava bem. Se ela ainda estava com eles no reino mental ou se ela tinha perdido a batalha para sua sanidade e se retirou profundamente em si mesma. — Quem é você? — Ela perguntou com voz rouca.


CAPÍTULO 7 O OLHAR de Hancock cintilou desapaixonadamente, na mulher corajosa e teimosa com admiração relutante que não permitiu mostrar. Ele não queria sentir nada no que dizia respeito a uma mulher que não era nada mais do que um peão. Um meio para um fim. A ferramenta que ele iria usar como qualquer outro item ou arma, a fim de derrubar um homem que tinha causado mais mortes do que a maioria das guerras, e não teria nenhum remorso. Não estava em sua natureza subestimar qualquer pessoa ou situação, e mesmo assim ele podia admitir que tivesse subestimado Honor Cambridge e sua desenvoltura. Na primeira vez, mas não mais. Quando ele deixou Bristow, o bastardo covarde estava chateado porque Hancock não tinha deixado nenhum de seus homens para trás, para sua proteção, deixando-o confiar exclusivamente nos outros lacaios que ele chamava de sua segurança. Mas Hancock esperava agarrar sua presa e estar de volta em um curto espaço de tempo. Em vez disso, ele passou dias vasculhando aldeias, questionando os moradores e mantendo o ouvido no chão, quando rumores começaram a sussurrar nos ventos sobre uma mulher solitária que tinha escapado de uma organização terrorista há mais de uma semana. Com o tempo, a fofoca tinha se tornado menos secreta e uma lenda tinha surgido, um farol de esperança e um símbolo de coragem. Ela tinha se tornado um ícone para as pessoas vulneráveis e oprimidas que viviam sem esperança, com medo da Nova Era e sua selvageria imprevisível. Não havia nenhum motivo ou razão para a sua vingança. Ninguém pensava tolamente estar seguro ou fora do alcance do grupo militante que havia crescido em um monstruoso, sanguessuga faminta, que queria beber mais sangue e desejando mais poder. Era um inferno de uma maneira de viver, sabendo que cada dia poderia ser o dia em que ia aparecer na mira do grupo e eram friamente assassinados sem ter qualquer coisa em conta. Foi através das histórias de sua sobrevivência e fuga recontada, com reverência e respeito já entranhado dentro de seus corações, o seu orgulho era de uma feroz guerreira americana, uma vez que tinha sido marcada como sua


que Hancock sentiu como se tivesse realmente chegado a conhecer a real Honor Cambridge. Não era mais guiado pelo dossiê estéril, periférico que lhe tinha sido fornecido que lhe dava um resumo de sua vida, seu treinamento e quanto tempo ela incansavelmente e abnegadamente tinha se dedicando às necessidades dos outros em uma área que poucos se atreviam a entrar. O verdadeiro coração dela e de sua motivação tinha sido revelado a ele por aqueles que a conheciam, ou sabiam dela. Muitos acreditavam que ela era como um anjo enviado por Deus. Um anjo corajoso de vingança que destemidamente se aventurou em lugares evitados pela maioria das pessoas sãs, que simplesmente não se importavam com o sofrimento horrível de quem viveu toda a sua vida aqui e certamente não iria arriscar suas vidas para oferecer compaixão e tentar fazer o seu viver um pouco mais fácil. Para lhes dar um único momento de paz, quando tal coisa era estranha e desconhecida para eles. Inferno, até mesmo os militares dos EUA ficavam fora das áreas onde a Nova Era tinha uma posição, não querendo começar uma guerra sangrenta e sacrificar incontáveis soldados americanos em uma batalha que nunca poderia ser vencida. Se eles não foram capazes de livrar o mundo do exército cada vez maior, isso seria um fracasso. Se eles aniquilassem um monte deles, os terroristas seriam apontados como mártires, inspirando outros a vingança, o que lhes daria a vitória mesmo da sepultura. Claro que era inevitável. Quando o grupo de fanáticos achasse que era poderoso o suficiente para transformar seu foco em explorações americanas e era só uma questão de tempo, então os Estados Unidos não teriam escolha senão retaliar. E não seria uma guerra fácil ou rápida. Ela seria travada ao longo dos anos sem ser declarado algum vencedor, mas não importaria, pois, a mensagem seria distribuída. Ele esperava que Honor fosse uma moça aterrorizada pelo perigo, atirando-se histericamente pela sua proteção uma vez que ela descobrisse que ele era americano e que ele iria tirá-la do país. Ela tinha medo. Nenhuma pessoa em sã consciência não estaria na situação dela. Mas ela se manteve inteira e recusou a ceder ao pânico esmagador e o desespero que devia estar sentindo. Ela estava ferida e exausta. Ele tinha visto os restos do centro de ajuda humanitária e ficou espantado que ela sobrevivesse, e muito menos, que foi


capaz de fugir e permanecer um passo à frente dos assassinos cruéis que a caçavam por dias em um grupo que tinha recursos intermináveis e cujo alcance se estendia para além das fronteiras deste país. Esta era uma mulher dura. Uma lutadora. Ele podia até se lamentar que alguém como ela tivesse que ser sacrificada para o bem maior, mas não o bastante para impedi-lo do seu objetivo final que era trazer Maksimov para baixo. E agora, vendo a trilha terrível de morte e terror que se seguiu a cada movimento da Nova Era, Hancock sabia que não podia parar apenas em Maksimov, como tinha decidido há algum tempo. Este grupo devia ser desmontado. Destruído antes que seu poder se aumentasse de tal forma que seria impossível pará-los. Ele fez uma careta interiormente porque não era um mentiroso, e não mentiu para ela com todas as palavras. Só porque não tinha oferecido muito em sua conversa. Ele não podia vê-la como humana. Uma inocente. Alguém que merecia ser poupada porque sua vida significou algo e o mundo perderia um dos bons. Porque se ele se permitisse essas emoções perigosas, isso interferiria na vingança por centenas de milhares de pessoas que não tinham outra pessoa para realizar a justiça para eles. Para não mencionar os que viriam a seguir. Que ainda não tinham sido vítimas da marca da violência de Maksimov que vendia e inspirava diariamente. Essas eram as pessoas sem rosto que permitiam se infiltrar em sua consciência e se enraizar permanente. Nem uma única mulher, uma mártir para a sua causa. Ele não iria virar as costas para as massas quando tantos outros tinham e continuariam a fazê-lo. Ele não prometeu a esta mulher a salvação final ou mesmo que ele iria levá-la para casa em segurança. Tudo o que ele disse a ela era uma simples verdade. Que ele não iria permitir que ela fosse capturada pela Nova Era. Ele não disse mais nada, deixando-a para decifrar o que ela faria com a promessa que fizera. Uma promessa que ele absolutamente manteria. Ou morreria tentando. E quando chegasse a hora… A trairia, ele não mentiria para ela. Ele tinha que evitar a carranca do formando em seu rosto com a ideia de que ele estava traindo alguém. Não era traição salvar a maioria à custa de uma única pessoa, mulher ou homem. Esse tipo de pensamento era o que tinha fodido as duas


últimas oportunidades que ele teve de tomar Maksimov para o bem, e ele seria condenado se deixasse acontecer novamente. Ele não era um maldito herói. Ele era o cara e portador da justiça. Nada mais. Ela sabia que seu destino queria dizer alguma coisa, no entanto. Que a vida dela significava algo ou tudo. Se lhe dava consolo ou não, não podia controlar, mas não permitiria que ela achasse que sua morte fosse mais uma estatística sem sentido. E, como tributo a sua bravura e sacrifício, avisaria a sua família, deixando-os saber que sua filha, sua irmã, não tinha morrido por nada. Ela teria, se o plano de Hancock fosse executado e realizado com sucesso, salvado muitas vidas inocentes. Quando Honor olhou com expectativa para ele, seus olhos se estreitando em seu prolongado silêncio, lembrou-se que ela tinha pedido, ou melhor, exigiu saber quem ele era. Ele supôs que ela merecia, pelo menos. E isso daria credibilidade à ideia de que ele e seus homens haviam sido enviados para resgatá-la, embora ele não fosse alimentar essa mentira. Que conclusões ela chegasse seria com ela. — Sou Hancock, — disse simplesmente. — E os homens que te cercam são minha equipe. Eles são altamente qualificados. Os melhores. Eles não irão deixar nada de mal acontecer a você enquanto viajamos para um lugar mais seguro. Seus olhos se estreitaram em suspeita enquanto o estudava atentamente. Ela não gostava de sua imprecisão, e, além disso, sabia que ele estava escondendo alguma coisa. Além de ser tenaz e extremamente corajosa, ela tinha uma mente afiada, inteligente e era adepta em ler as pessoas. Ele suspirou por dentro. Nunca era fácil. Ele queria não ter nenhum respeito ou admiração por essa mulher. Ele não queria sentir nada. Teria sido muito melhor se ela tivesse sido uma histérica, estúpida, idiota incompetente. Ele poderia convocar desdém e aborrecimento para tal pessoa. Mas ele respeitava um espírito de luta. Bravura em face do esmagador terror. E a recusa a recuar, mesmo quando confrontados com obstáculos intransponíveis. Estes eram traços que ele não só admirava, mas tinha ativamente cultivada em todos os homens que serviam a ele. Isso tinha sido enraizado nele, primeiro por seus pais adotivos, e mais tarde pelo homem que tinha sido o primeiro líder de Titan,


Rio. O homem que havia treinado Hancock e ensinou-lhe as habilidades necessárias para ser uma máquina de lutar e pensar. Porque batalhas não eram ganhas pela força bruta sozinha, mas pela estratégia e a capacidade de avaliar corretamente o inimigo. Empurrar a emoção prejudicial para o lado e sem sentir absolutamente nada. Ao se tornar mais máquina do que homem. — Só me diga onde é esse “lugar seguro”? desconfiada.

— Ela perguntou,

— Eu vou deixar você saber quando chegarmos lá. Mais uma vez, uma verdade. Porque eles estavam correndo e com Honor mais uma vez deslizando além do alcance da Nova Era, os terroristas estariam mais furiosos do que nunca. Eles pensavam que a vitória era finalmente deles depois de persegui-la para a aldeia e em torno dela, à espreita para capturá-la. Tão imprevisível como eles eram, com a verdadeira extensão do seu alcance e muitos de seus aliados secretos e ainda desconhecidos, Hancock não foi tolo o suficiente para pensar que, porque ele tinha tirado Honor com segurança da vila, seria uma simples questão de deixar a área. Seus perseguidores saberiam que ela teve ajuda, e eles iriam somar dois e dois e perceber que Hancock e seus homens eram a única fonte lógica dessa ajuda. Levaria uma investigação mínima para perceber que Hancock e seus homens não eram o que eles pareciam ser, membros da Nova Era, contribuindo na busca da mulher americana. Estavam agora exatamente como Honor, como um alvo. — Em qual momento dessa viagem, a este lugar, você vai me deixar saber que chegarmos? Ela estava parecendo mais irritada a cada minuto, e sarcasmo nervoso atando cada palavra dela. Ele estendeu a mão e puxou-a com cuidado sobre o assento entre ele e Mojo. Ela provavelmente não tinha conseguido dar uma boa olhada para o homem de sua equipe do outro lado dela ou teria ficado com medo em sua mente. Mojo era… Ele era o resumo do que a Titan tinha procurado e queria criar no início. A batalha o endureceu e sofreu o que todos os psiquiatras chamavam de transtorno de estresse pós-traumático, mas quando lutava, ele era uma


máquina insensível. Ele raramente falava. Seu apelido foi dado porque o seu comentário costumeiro para tudo era ou “Bom Mojo” ou “Mau Mojo”. Dada a sua linha de trabalho, era raro eles ouvirem “Bom Mojo”. Ele era grande e, principalmente, assustador, careca com uma leve camada de cabelo eriçado cortado curto. Alguém somente perceberia o cabelo se conseguisse chegar perto o suficiente. Cicatrizes marcavam seu rosto e seu nariz tinha sido quebrado várias vezes. Seus olhos eram planos e frios, o tipo que faz as pessoas religiosas se benzerem e proferir uma oração rápida. Mas não ela. Honor já tinha dado uma olhada para ele sem um pingo de medo ou repulsa em seus olhos, porque Mojo a tinha ajudado ao puxá-la para cima entre ele e Hancock. — Agora você quer me ajudar — ela murmurou. Para o espanto de Hancock, Mojo quase sorriu. Quase. Foi o mais próximo que o homem já tinha chegado a qualquer coisa remotamente parecida a um sorriso. Seus dentes brilharam. — Bom mojo. — Que seja. — Honor disse debaixo de sua respiração. — Ei! — Continuou, batendo na mão de Hancock quando ele mergulhou debaixo de seu manto. Ele deslizou a palma para cima de sua perna, empurrando o material com ele. — O que você está fazendo? — Eu preciso dar uma olhada em sua lesão — disse Hancock, ignorando sua indignação. — Você só está evitando minha pergunta. — Ela acusou. — Que pergunta? — Ele perguntou no mesmo tom desinteressado que sugeriu que ela era uma inconveniência. — Todas elas? — Ela retrucou. — Mas vamos começar com quanto tempo vai demorar em chegar a este lugar misterioso que está me levando? Seu tom era frio, mas seus olhos brilharam e ele percebeu que as poucas fotos dela, que tinham sido fornecidas, não tinham retratado com precisão o seu verdadeiro caráter mais do que o resumo de seus dados pessoais.


Ela parecia doce, inocente, boa e mansa nas fotos. Como uma benfeitora ingênua com a ideia de que ela estava pronta para salvar o mundo, mas que não tinha ideia da realidade das situações em que se colocou. Mas, na realidade, ela era tudo, menos doce ou mansa. Havia um caldeirão de fogo fervendo logo abaixo das características ingênuas. E sua vontade era forte, como comprovado pelo fato de que depois de sobreviver ao ataque, ela correu, e não de forma imprudente com nenhum plano ou inteligência. Ela era calma sob pressão, e pensou rápido em fugir. Não seria bom para Hancock relaxar sua guarda em torno dela. Se ela percebesse que tinha razão para desconfiar dele e suas intenções, e tinha todos os motivos para isso, ela não hesitaria em fugir novamente, e ele não tinha mais tempo para passar mais uma semana passando o chão a limpo. Se isso acontecesse, ele não conseguiria chegar até ela antes da Nova Era. — Alguns dias. Talvez mais. Talvez menos. Ele deu de ombros como se isso não importasse e estaria confiante de que iria levá-la lá, independentemente do tempo que levasse. Ele precisava que ela acreditasse nele. Nele. Mas nunca iria incentivá-la a confiar nele. Os olhos de Honor arregalaram em confusão. Ela ainda olhou para Mojo como se buscasse confirmação e, em seguida, fez um som de desgosto, como se percebendo quão ridículo era tentar ler qualquer coisa a partir de expressão do outro homem. — Você não tem um helicóptero? Como um helicóptero blindado? Que tipo de unidade militar é enviado para resgatar… — Ela passou a mão pelo cabelo tingido em agitação. — O que sou mesmo? Não exatamente uma refém. Uma pessoa desaparecida? Mas será que alguém sabe que eu ainda estou viva? Que eu sobrevivi ao bombardeio? Dor brilhou em seus olhos. Não o tipo físico, mas a dor emocional, pensando em sua família e o longo sofrimento sem saber se ela estaria viva ou morta, se ela estava sofrendo, com medo, prisioneira em algum lugar onde ninguém jamais iria encontrá-la. Ela se balançou com a mesma rapidez, empurrando a dor de seus olhos, e olhando severamente em Hancock. Ela foi inesperadamente… Forte. Ele não


tinha muitas vezes se surpreendido por nada. Mas Honor era exatamente isso. Algo completamente inesperado e ainda refrescante. — Que tipo de unidade militar nem sequer tem um helicóptero? Como você deveria sair, muito menos me resgatar? — Ela perguntou com incredulidade evidente na questão. — Você acha que nós apenas estamos indo embora daqui? E, em seguida, ficou com a sobrancelha franzida como se tivesse percebido algo mais. A mulher fez muitas malditas perguntas, em vez de mostrar um pouco de gratidão por ter impedido que os idiotas, que a estavam rastreando a capturassem. Ele estava começando a ficar irritado. Se não fosse por ele a ter encontrado no momento certo, agora mesmo ela estaria sofrendo horrivelmente e enfrentaria dias, até mesmo semanas de infinita dor e agonia. A consciência, que ele tinha afastado de sua mente, sussurrou dizendo que ele a estava levando para o mesmo destino. Estava apenas adiando o inevitável, e pior, incutindo falsa esperança de que seu calvário tinha acabado. E isso só o fez mais irritado. Ele não se preocupou em esconder dela também. Antes que ele pudesse expressar sua raiva, ela mergulhou em frente como se não compreender o perigo de acariciar sua ira. — E dias? Eu teria perto da fronteira em um dia, dois no máximo, e eu estava andando. Estamos dirigindo. Isso só deve demorar horas! Ele se segurou no limite de seu mau temperamento, mas ainda parecia chateado quando falou. — O que eu acho é que você está gastando tempo demais fazendo perguntas inúteis e olhando os dentes de um cavalo que acabou de ganhar. Ele vinha desenrolando as faixas em seu joelho durante todo o tempo que ela tinha andado sobre brasas quentes, e em seu aborrecimento ele puxou também à força a última faixa que cobria uma camada de algum tipo de gosma barrenta que tinha colado a bandagem a sua pele nua em torno de seu joelho. O pano finalmente saiu, levando uma fina camada de pele com ele. O sangue jorrou imediatamente e Hancock xingou. Ele não tinha a intenção de machucála, porra. Ele teve que ganhar a confiança dela sem divulgar nada mais do que o necessário, e não agir como os terroristas que a perseguiam.


Ela se encolheu, mas, em seguida, mordeu o lábio, as pontas brancas de seus dentes pouco visíveis. Seu rosto perdeu a cor, fazendo com que o corante esfregado em sua pele parecer ainda mais escuro e não natural contra essa palidez. Hancock amaldiçoou novamente e simplesmente estendeu a mão para a faixa de pano que Mojo já estava estendendo. Ele limpou o sangue fresco e, em seguida, pegou a garrafa de água oxigenada que Mojo estendeu ao mesmo tempo em que levantava o olhar para Honor. — Isso vai doer —, disse, trazendo na voz um pedido de desculpas, inadvertidamente, machucando-a. — Eu vou superar isso — disse, seu olhar firme. Ainda assim, ela fechou os olhos e balançou precariamente quando Hancock derramou o líquido ao longo de todo o joelho, usando o pano para absorver a lavagem. Parecia que ela estava escorregando para o lado e Mojo deve ter pensado assim também porque agarrou seu braço, a mão enorme superando sua estrutura óssea delicada, e firmando-a, segurando-a no lugar. — Obrigada — murmurou Honor, sem abrir os olhos. — Mau Mojo — Mojo disse, balançando a cabeça enquanto olhava para o joelho inchado. Hancock estava sendo muito mais cuidado agora. — A Nova Era controla o espaço aéreo aqui — Hancock encontrou-se explicando. Como se ela merecesse respostas. Porra. Ele estava tão perto de um real pedido de desculpas quanto era possível, sem realmente dizendo-lhe que estava arrependido. Ele continuou, embora sua voz ainda estivesse apertada com raiva. Não mais para ela, no entanto. De si mesmo por sentir a necessidade de se explicar a alguém. E para tirar sua raiva e frustração sobre ela. Machucando-a sem querer. — Eles têm armas capazes de derrubar um avião de caça. Um helicóptero seria brincadeira de criança para eles. Nós temos que contornar sua área de controle, e é ampla e cresce mais todos os dias, antes de podermos arriscar viajar por via aérea. Assim, até ao momento, e o que é mais seguro, nós estaremos viajando por terra.


— Mas por que estamos nos afastando da fronteira? — Perguntou ela, nenhuma acusação em sua voz desta vez. Apenas perplexidade genuína. Talvez ele devesse simplesmente lavar as mãos sobre dela e fazer Conrad assumir o trabalho como sua babá. Ela claramente não estava intimidada por Hancock, o que o irritou e bateu em seu ego masculino mais do que gostaria de admitir. Conrad, porém, odiava a todos e não se incomodava em fingir o contrário. Ele deu sua lealdade e respeito à sua equipe. Ninguém mais. E Hancock era a única outra pessoa no mundo que Conrad recebia ordens e seguia. Ele não estava mais feliz do que Hancock sobre ser enviado como a merda de um garoto de recados para resgatar uma mulher que acabou levando muito mais tempo e esforço da sua parte. — Vamos fingir por um momento que você tivesse sorte, coisa que não teria, e fosse capaz de passar pelos homens que cercam a aldeia esperando por você. Mas suponha que você teve e conseguiu chegar até a fronteira, onde assumiria que estaria em casa livre. Você teria sido pega dentro de uma milha ao cruzar para o próximo país. Uma criança poderia ter previsto o seu destino. A menor distância entre dois pontos, o seu ataque e o que você percebe como liberdade, é uma linha reta. A presença americana mais próxima. E uma vez passada a fronteira, pensaria que estava em casa livre, quando, na verdade, além do fato de que os servos da Nova Era estão em toda parte, uma enorme recompensa foi colocada sobre sua cabeça, junto com o fato de que todos saberem que estaria indo para a fronteira. Provavelmente, uma grande quantidade de pessoas estaria alinhada ao longo da fronteira, de tocaia, muito ansiosas para te entregar ao inimigo. A raiva fervia em seus olhos e seus recursos apertados. Seus dedos se apertaram em punhos em cima de suas coxas, e ele tinha a ligeira impressão que ela estava tentada a socá-lo. Ele quase riu. — Você acha que eu tenho sobrevivido todo esse tempo por ser estúpida? — Ela sussurrou. — Que eu sou uma idiota infantil que poderia pensar que atravessar uma mera fronteira, de alguma forma me faz impossível de ser capturada ou machucada? Eu sou uma mulher sozinha, viajando sozinha. Mesmo se eu não fosse caçada por um grupo de idiotas, eu ainda estaria em


risco de qualquer forma. Eu nunca teria deixado de ficar em guarda, e eu ainda estou e ficarei assim até estar em um avião de volta para casa. Ela elevou o queixo, um desafio, um gesto de desafio, mostrando que ela não confiava nele ou seus motivos. Não, ela não era estúpida. Nenhuma uma vez ele pensou que fosse. Estúpida seria se tivesse se jogando em seus braços e em sua misericórdia e nunca questionar, apenas assumindo que ele tinha vindo para salvá-la. Estúpida se tivesse sido capturada horas depois de ter conseguido cavar para fora dos escombros. Estúpida não sobreviveria mais de uma semana em uma árida terra desconhecida quente, sem ninguém para ajudá-la, além dela mesma. — Este é um argumento inútil e infantil— disse ele, propositalmente usando suas próprias palavras contra ela. — A fronteira está sendo vigiada e fortemente patrulhada. A área entre a fronteira e qualquer pessoa remotamente simpática à sua causa serão bloqueadas e seladas. E nós teremos nossas bundas abatidas se tentarmos voar com um helicóptero para fora daqui. Agora, eu satisfiz a sua curiosidade ridícula para que possamos parar de perder tempo? — Claro. Que direito eu tenho de saber qualquer coisa que afete a minha segurança ou que poderia me matar? Sim, isso é infantil além de tudo. Por todos os meios, oh senhor e mestre. Leve-me adiante. Eu só espero, por todo o inferno, que você saiba o que está fazendo, porque até agora, deixou muito a desejar. Eu ouvi um monte de palavras, mas nenhuma prova de que qualquer coisa que disse é verdade.


CAPÍTULO 8 O CORPO inteiro de Honor estava ferido. Sua cabeça e joelho doíam, e eles estavam andando sobre a terra sem uma estrada estabelecida, levantando uma nuvem de poeira que podia ser visto por quilômetros. Eles não pareciam excessivamente preocupados com a sua visibilidade, e ela se perguntou por que eles não tinham optado por viajar sob a cobertura da escuridão como ela, pois isso era o que, certamente, a tinha mantido viva por tanto tempo. Ela não se lembrava da dor sendo tão grave, mas até então tinha se tornado muito hábil em empurrá-la para longe e negar a sua existência. Não havia nenhuma outra escolha, porque parar ou até mesmo hesitar significaria sua capturada. Agora que ela estava um pouco afastada da ameaça imediata da descoberta em todos os momentos, era como se sua mente já não pudesse bloquear os gritos de seu corpo. Várias vezes, Honor teria jurado que Hancock e o feroz homem taciturno do outro lado dela a protegia do pior dos solavancos equilibrando o corpo dela com o seu próprio. Mas provavelmente era sua imaginação. Eles estavam sendo jogados em torno dela. Não havia suavidade neles. E eles certamente não tinham dado nenhuma razão para acreditar que ela era nada mais do que um incômodo, uma missão que provavelmente teriam se oposto e só tinha realizado sob ordens estritas. Mas de quem? Tinha se espalhado a notícia de sua sobrevivência? Será que o governo dos EUA tinha interesse suficiente em uma trabalhadora humilde para arriscar alguns de seus melhores homens, ou pior, começarem uma guerra não oficial com a Nova Era? Ou tinha a sua história chegado aos meios de comunicação social e varrido o mundo em grande estilo sensacionalista, forçando os Estados Unidos a agir? E por Deus, sua família saberia? Ela queria perguntar a Hancock se havia uma maneira de se comunicar com sua família. Apenas para deixá-los saber que ela estava viva. Mas não, isso seria cruel. Ela não estava fora de perigo ainda, e não poderia dar falsas esperanças apenas para acabar sendo morta, pois isso seria terrível para eles.


Ela queria respostas, mas esses homens eram muito reservados. Hancock nem sequer respondeu às perguntas mais inócuas sem tornar uma questão federal. Como se seu destino não fosse algo que ela tinha o direito de saber. A raiva brilhou em suas veias mais uma vez em seu salvador de comportamento idiota. Mas estava fazendo exatamente como ele tinha insinuado? Não, ele não tinha insinuado nada. Ele disse sem rodeios que ela estava olhando os dentes de um cavalo dado de presente. Um toque de gentileza era puramente opcional. Se eles chegassem a sair do país e conseguissem pegar o caminho de volta para casa, poderiam ser todos flamejantes idiotas que não importaria nada. — O quanto você está machucada? A suave pergunta de Hancock assustou, quebrando o silêncio que havia descido no interior do veículo. Ela não podia deixar de balançar a cabeça para ele em surpresa, perguntando se ela tinha imaginado a questão. Ou o real… interesse… em sua voz. Certamente ela tinha imaginado uma parte, pelo menos. Virando tão rápido fez prontamente se arrepender fazê-lo. A dor atravessou sua cabeça e de repente pontos pretos nadaram em sua visão, seus arredores ficando turvos, desaparecendo e ficando quase preto. Hancock praguejou e, de repente, ela se viu empurrada suavemente para baixo, com a cabeça descansando no colo de Hancock. O outro homem levantou as pernas e posicionou-as em seu colo para que ela ficasse entre os dois homens. — Você não me disse que tinha um ferimento na cabeça. Apenas a lesão no joelho, — Hancock disse severamente. Seus dedos já estavam investigando o cabelo dela e ela ficou tensa, esperando que ele fosse áspero. Mas ele foi extremamente gentil tocando ao longo de seu couro cabeludo. — Eu não sei — conseguiu falar. — Como poderia saber? Eu estava em choque após o ataque e, em seguida, desesperada para formar um plano para escapar e sobreviver. A única lesão que ficou registrada foi meu joelho. Andar era… difícil. — Eu posso imaginar — Hancock disse secamente. — Ainda está muito inchado, e piorou, sem dúvida, por tudo o que caminhou.


Seus dedos passaram de relance por cima de uma mancha e ela imediatamente gritou, negritude e náuseas engolindo-a. — Aqui está — disse em seu tom calmo, não afetado. — Você tem um grande galo. Provavelmente, uma concussão. — Eu não morri ainda — disse ela em um tom azedo. — Se fosse assim tão grave, eu já teria tombado. Ela ouviu um barulho que parecia uma risada, mas Hancock nem sorriu nem riu, então era obviamente o delírio tornando sua presença conhecida. — Não, você não vai morrer, mas precisa descansar adequadamente para se recuperar. Ela começou a bufar, mas percebeu que só iria doer muito. — É um pouco difícil descansar e relaxar quando você está correndo para salvar sua vida. O homem que segurava seus pés em seu colo entregou a Hancock algo que parecia suspeitosamente como uma seringa. Havia agora três homens. Quando o terceiro havia chegado e por onde? Ela não tinha detectado movimento, mas então já não estava coerente no momento. O medo tomou conta dela e ela chegou até a olhar a mão do homem, assim como a mão de Hancock fechada em torno das seringas. — O que são essas seringas e o que você está planejando fazer? — Perguntou com medo. — Você precisa se acalmar, Honor. Você tem bastante estresse, sem acrescentar preocupação desnecessária. Estou apenas dando-lhe uma injeção de antibióticos e remédios contra a dor para aliviar e permitir descansar adequadamente. — Eu me dei uma injeção de antibióticos antes de escapar da clínica. — Disse ela. — Levei comprimidos comigo e tomei três vezes por dia desde então. — Garota esperta. Você pensou bem em seus pés. Isso foi um elogio? Vindo de Hancock o insensível e arrogante idiota? Talvez ela tivesse pensado mais asneira do que pensava inicialmente, porque agora estava imaginando coisas que simplesmente não estavam lá.


— No entanto, você tem cortes e arranhões em dezenas de lugares que são todos suscetíveis à infecção e uma complicação incapacitante certamente nós não precisamos agora. E esse joelho ainda está bastante desagradável para o futuro e ainda está inchado com o dobro do tamanho normal. Assim, além dos antibióticos e remédios contra a dor, eu também estou dando um pouco de esteroides para ajudar com a inflamação. Eu tenho uma de dose Medrol que você vai começar a tomar hoje à noite e continuar para os próximos cinco dias. Você deve começar a sentir alívio logo pela manhã. — Nós não teremos chegado onde deveríamos por cinco dias? — Ela perguntou em alarme. Pânico fez o seu caminho até sua espinha. Cinco dias parecia uma eternidade. Os dias passados fugindo dos assassinos perseguindo a ela em cada movimento tinham sido infinitos. Ela esperava… ela assumiu que, agora que teve ajuda estaria em segurança em um curto espaço de tempo. A ideia de ficar exposta por muito tempo assustou. Eles eram um grupo de sete, incluindo ela mesma, e seria de nenhuma ajuda para Hancock e seus homens em um tiroteio. E eles estavam contra um número incontável de militantes enlouquecidos que nunca iriam ficar para trás até que tivessem alcançado o seu objetivo. Capturála. Ela praticamente podia vê-lo dar de ombros, embora seus olhos estivessem fechados. Como se não fosse uma fonte de preocupação para ele. Ele era realmente tão confiante em suas habilidades? Nas habilidades de seus homens? Ela deveria se sentir confortada com esse tipo de arrogância e autoconfiança. Mas ela não conseguia sufocar o medo desesperado que assumiu tudo. — Eu não saberei até chegarmos lá. — Disse ele vagamente. — Agora, seja uma boa menina para que eu possa administrar as injeções. Pode queimar, mas vai será por pouco tempo. — Não pode me machucar mais do que já estou machucada. — Disse ela com os lábios apertados. Ele, obviamente, injetou a medicação para a dor em primeiro lugar, um fato que ela estava grata, porque agora reconhecida, a dor estava gritando através de seu corpo em ondas implacáveis. Ela podia sentir o brilho de alívio


quando ele puxou as camadas de sua roupa para que seu quadril estivesse exposto. Ela não protestou com falsa modéstia. Neste ponto, qualquer coisa que lhe desse alívio era mais importante do que o fato de que ele estava expondo muito mais dela do que teria gostado. Com o outro homem segurando seus pés, havia espaço suficiente apenas para Hancock poder acessar a volta de seu quadril e, em seguida, limpar cuidadosamente a área, com álcool, antes de administrar eficientemente ambas as injeções. Em alguns segundos ele tinha acabado e ela caiu quando Hancock reajustou sua roupa. Percebeu que os arredores começaram a ter um brilho nebuloso, quente e um sentimento maravilhoso de chumbo tinha roubado o corpo dela, afugentando a dor sempre presente. Ainda assim, ela lutou contra as pesadas camadas de inconsciência e despertou o suficiente para abrir os olhos e dirigir um olhar preocupado a Hancock antes de perguntar. — E se a gente estiver em apuros? Eu não poderia lutar nem contra um saco de papel agora — ela admitiu. Houve uma pitada de diversão no tom de Hancock. — Deixe a luta para nós. Eu não antecipo problemas, ainda. Então, aproveite esta oportunidade para descansar e se curar. Talvez ele fosse humano, afinal. Ou talvez ela calculasse mal sobre ele. Ele estava, apesar de tudo, realizando uma missão. Assim como qualquer outro soldado ou força de operações especiais ou o que diabos ele fosse. Operações Especiais, talvez? Ele era certamente secreto o suficiente, e não tinha identificado o ramo das forças armadas que servia. Talvez ele fosse um daqueles que não existiam oficialmente e que não davam nenhuma informação que pudesse vazar inadvertidamente em uma data futura. Ela não se importava. Ela poderia dizer que servia as fadas contanto que ela voltasse para casa. Segura. Viva. — Obrigada — sussurrou, ainda segurando a última gota de consciência que possuía. Desta vez não foi genuína a perplexidade na voz de Hancock.


— Por quê? — Por me salvar — disse ela, suas palavras quase ininteligíveis. — Por me ajudar. E por prometer que irei voltar para casa. Ele endureceu debaixo dela. Ela podia sentir os músculos das pernas ficar rígido, e a mão que estava distraidamente acariciando sua mão parou e, em seguida, retirou-se. — Eu não fiz tal promessa, Honor — disse ele com a voz tensa. Talvez ele não estivesse confortável com as pessoas agradecendo-lhe. Se ele estava fora dos arquivos e não existia, então não estava acostumado a ser agradecido por nada. Ele e seus homens eram fantasmas. O que é uma péssima maneira de viver. Arriscando suas vidas pelos outros e nunca receber um obrigado. — Você está tentando e é o suficiente — ela murmurou. — Você é a minha única e última esperança. Então, obrigada. — Vá dormir Honor — disse em um tom que sugeria não ter gostado de suas palavras. — Você precisa descansar enquanto pode. Era uma ordem que não teve nenhuma dificuldade em obedecer. Ela era mais de meio caminho andado. Bastou deixar as pálpebras caírem pesadamente, para que seus cílios descansassem em suas bochechas e sucumbir ao apelo doce do esquecimento.


CAPÍTULO 9 MUITAS horas mais tarde, o grupo reduziu a velocidade e parou em um complexo subterrâneo onde eles buscariam refúgio para a noite. Há muito tempo tinha escurecido, fazendo o caminho mais lento enquanto eles dirigiram por um caminho através do deserto, onde não existia nenhuma estrada. Levou mais tempo do que Hancock gostaria, mas ele não estava disposto a arriscar seus homens, parando em campo aberto em uma área que não era defensável. Pelo menos aqui, eles teriam um bunker5 subterrâneo à prova de explosões, e eles se revezariam em turnos de vigilância para que soubessem se alguém se aventurasse por perto. Seus homens estavam bem acostumados a operar com pouco ou nenhum sono. Eles poderiam ficar acordados por dias e ainda estarem alertas e conscientes em uma luta, então algumas horas passadas em vigilância dificilmente os prejudicaria daqui para frente. Ele saiu do veículo e, em seguida, estendeu a mão e levantou o pequeno corpo de Honor em seus braços, ancorando-a contra seu peito enquanto ele caminhava em direção à entrada que Conrad tinha se apressado em abrir. — Cubram o veículo — Hancock ordenou, parando na entrada para emitir ordens aos seus homens. — Mojo, você e Conrad tomam o primeiro turno. Duas horas. Henderson e Viper, vocês estão no próximo turno. — Ele olhou para Copeland ou “Cope” como era chamado por seu jeito de se manter calmo sob pressão e de ser capaz de lidar com qualquer coisa. — Cope, você e eu vamos tomar o último turno. Vou avisá-los quando for a hora de começar a novamente a nos mover. — Por que estamos parando agora, chefe? — Perguntou Conrad, seu olhar inquisitivo.

5

Estrutura ou reduto fortificado, parcial ou totalmente subterrâneo, construído para resistir aos projéteis de guerra; Casamata


Hancock entendia muito bem por que seus homens se perguntavam sobre a parada atípica. Eles geralmente se esforçavam, passando dias sem dormir, a fim de atingir o seu objetivo o mais rapidamente possível. — A mulher será inútil para nós, a menos que ela tenha tempo para descansar e se recuperar. — Mau Mojo —, murmurou Mojo. — Eu não me importo em dizer que pode comprometer a missão —, Cope falou. Hancock olhou para o homem com surpresa. Ele não conseguia se lembrar qualquer um de seus homens em desacordo com as muitas missões que foram naquela área nebulosa entre o bem e o mal. Alguns deles teve a alma sugada, levando um pedaço deles de cada vez até que pouca ou nenhuma humanidade restou. Hancock incluído. Esta missão não era uma das piores. Eles tinham feito muito pior, em nome de “bem” e à proteção dos outros. O que os inocentes não podiam suportar por si mesmos. Esse era o trabalho de Titan. Defendê-los. Para protegê-los enquanto eles dormiam o sono dos ignorantes, sem nunca saber o quão perto eles chegaram da morte. — Ela não merece o seu destino —, Cope disse à título de explicação, sua expressão sombria, raiva real em seu olhar geralmente frio, sem emoção. — E eu não gosto do fato de que estamos a enganando. Ela é... corajosa —, disse ele, como se lutando para conseguir uma palavra certa para descrevê-la. — Ela merece ser poupada. Ela conseguiu escapar daqueles filhos da puta por mais de uma semana e evitou ser capturada. Eu não conheço ninguém, muito menos uma mulher, que pode afirmar o mesmo. Ela já é uma heroína nacional porra, não só para as pessoas aqui, mas os EUA também. — Mau mojo —, disse Mojo novamente, fazendo Hancock perceber que os sentimentos de Mojo refletiam o próprio Copeland, e foi por isso que ele tinha falado o primeiro — Mau mojo. Bem, foda-se. Isto era uma complicação que ele jamais encontrou em sua equipe. Nenhuma vez. Nem mesmo quando eles tinham tirado à força de Grace da KGI, disparando em um dos homens da KGI no processo e chegaram malditamente perto de matar Rio mais tarde. E Grace também. Nem quando


eles tinham permitido Caldwell raptar Maren quando ela estava grávida e vulnerável e mantê-la sob sete chaves até que Hancock foi forçado — por sua maldita recém desenvolvida consciência — a interceder e explodir sua missão e mandar tudo para o inferno para tirá-la de lá. — Uma heroína? Ou as centenas de milhares de pessoas inocentes que serão vítimas de Maksimov se ele não for retirado para sempre? — Perguntou Hancock em um tom desafiador, lembrando seus homens do seu papel no mundo. Lembrando-os de seu único propósito. O único objetivo. Sua missão não era julgar, decidir quem era digno ou indigno. Sua única tarefa era livrar o mundo dos predadores que atacavam os inocentes, o que significava que, por vezes, eles eram os predadores dos inocentes, a fim de alcançar o seu objetivo maior. A divergência existente entre seus homens, espelhava seus próprios pensamentos que firmemente ele tinha empurrado para longe, não se permitindo sentir culpa. Ou se arrepender. Porra, ele não gostou nem um pouco, e ele tinha que cortar este mal pela raiz antes que ficasse fora de controle e ele vesse um motim em suas mãos, algo que ele nunca tinha considerado em um milhão de anos. Seus homens eram muito firmes. Muito sólidos. Muito focados. Assim como ele. Eles seguiram o seu exemplo, nunca o questionando. Até agora. — Eu entendo —, Cope murmurou. — Mas eu não tenho que gostar disso. — Não temos que gostar disso —, disse Hancock firmemente. — Mas nós temos que fazer o nosso trabalho. Mesmo com o custo de um inocente. Para o bem de muitos... — Sim, sim, nós sabemos — disse Cope, impaciente interrompendo seu líder, novamente algo que os homens de Hancock nunca se atreveram a fazer. — O bem de muitos tem prioridade sobre o bem do um. Lema da equipe. Tanto faz. Mas essa merda está ficando velha e é por isso que, depois de Maksimov, eu estou fora. — Você sabe que nós temos que ir atrás da Nova Era, — Hancock disse calmamente, ainda segurando Honor firmemente contra seu peito.


Olhares foram trocadas entre os membros da sua equipe. Alguns de reconhecimento. Alguns de resignação e aceitação. Alguns indecisos. — Mau mojo —, Mojo disse em voz descontente que refletia claramente a sua posição. E não era com a missão ou o “bem maior”. — E então? — Perguntou Conrad, falando pela primeira vez. — Eu estou dentro. Eu estou com você. Você sabe disso. Mas quando será a hora de parar de lutar o bom combate e permitir que outros a lutem em nosso lugar? Há sempre um outro idiota que precisam tirar. Depois de Maksimov, depois da Nova Era, haverá outra. Há sempre outros. Quando isso vai acabar? Frustração passou pela espinha de Hancock. E a fonte do conflito que tinha surgido em meio a seus homens estava enrolada protetoramente em seus braços. Uma pequena mulher. Uma pequena parte dele desejava que ela tivesse morrido com os outros. Porque então ele não estaria aqui, depois de ter perseguido mais de metade do país atrás dela. Ele não estaria tendo essa conversa ridícula com os seus homens, cujas prioridades nunca tinham vacilado em todo o tempo que tinham trabalhado com ele. E uma pequena mulher tinha feito danos consideráveis em sua unidade, e isso o irritou. Se ela não tivesse sobrevivido, as coisas seriam um inferno de muito menos complicadas. — Isso tem que ser a sua escolha —, disse Hancock honestamente. — Você pode ir embora a qualquer momento. Ninguém está fazendo você ficar. Será que precisamos de você? Inferno, sim. Não há ninguém melhor do que vocês cinco para ter as minhas costas. Mas, todo mundo aqui entenderia se você for embora a qualquer momento. Depois de Maksimov, se você —qualquer um de vocês— estiver pronto para sair, ninguém vai falar nada, a não ser, uma boa viagem. E você sempre terá minha gratidão por seu serviço. Se você em qualquer momento precisar de mim, tudo que precisa é uma ligação. Nós sempre cuidarmos das suas costas. Uma vez um de nós, sempre um de nós. Se aposentar não muda merda nenhuma. Quando seus homens permaneceram em silêncio, Hancock lhes deu um olhar impaciente que eles não poderiam interpretar mal. Conseguir o veículo coberto e cama para a noite. Eles já tinham perdido muito tempo. Tempo que eles não tinham de sobra.


Então ele simplesmente desceu os degraus improvisados para o abrigo e caminhou por todo o pequeno recinto para o canto mais distante, onde ele colocou Honor em uma das camas, para que ele e seus homens estivessem entre ela e a entrada. Era o lugar mais seguro do pequeno complexo. Eles estavam bem protegidos aqui, cercado por paredes e tetos blindados que impediam que fossem detectados através do calor corporal por alguém do lado de fora usando instrumentos de procura de calor. E a menos que alguém deixasse cair uma bomba nuclear sobre eles, estavam salvos de explosões. A menos que eles sofressem um ataque contínuo e pesado. Era uma instalação que restou dos dias em que Titan trabalhava sob ordens do governo dos EUA com total permissão para realizar suas missões utilizando todos os meios necessários. Eles foram equipados com o melhor que o dinheiro podia comprar. Era arriscado voltar aqui, mas Titan tinha sido dissolvido há muito tempo atrás e apenas a KGI e um solitário agente da CIA e sua equipe Black Ops, que relatava apenas para Resnick, o agente da CIA, que sabia com certeza absoluta que Hancock e seus homens ainda estavam vivos e eram uma ameaça definitiva para qualquer um que cruzasse seu caminho. Havia uma suspeita, especialmente entre os altos escalões, aqueles que tinham um papel na criação de Titan, que eles ainda estavam operando. Ou melhor, tinha mudado de lado. Mas só muito poucos sabiam que eles estavam muito vivos e mais perigosos do que nunca. Eles não tinham preocupações sobre a KGI, mesmo que eles não fossem exatamente aliados. Eram inimigos? Apenas a KGI poderia responder a isso, mas eles deviam a Hancock. Ele tinha feito muito para salvaguardar Grace e Elizabeth, uma criança inocente cujo único pecado foi ter nascido de um pai que era completamente mau. Mesmo se a KGI não soubesse disso no momento. Eles ainda não podiam saber. E ele tinha sacrificado a sua missão por Maren Scofield —agora Maren Steele— quando ele estava bem perto de derrubar Maksimov. Até agora. Assim, ele duvidava que a KGI alguma vez os vendessem ou revelasse sua existência, mesmo se eles fossem responsabilizados por acidentes com dois de seus homens. Eles eram muito malditamente... honrados. Verdadeiros Capitães Américas. Tudo o que Hancock não era e não tinha vontade de ser.


O agente da CIA era outro assunto, mas seu governo se voltou contra ele, assim como eles tinham feito com Titan. E apesar de Titan quase matar Adam Resnick e acessar seus arquivos confidenciais, Resnick não tinha mais os aliados dentro do seu grupo para retaliar. Ele seria um tolo ir atrás de Hancock por conta própria, e o homem não era tolo. Ele era cauteloso e inteligente e sabia a sujeira de todos, desde os militares mais graduados para a Casa Branca e em todo o resto. Ele era temido por alguns e odiado por muitos. Seus dias estavam muito provavelmente contados. Ele tinha o suficiente em suas mãos precisando permanecer vivo e longe de quem comemoraria a sua morte, sem a adição de Hancock no grupo que queria vê-lo morto. Aqueles que agora caçavam Titan eram nada mais do que mercenários. Grupos não organizados de Black Ops. Poucos no governo sabiam da existência de Titan para começar. Por isso, era altamente improvável que alguém os procurasse aqui. E certamente não quando a Nova Era controlava toda a área. Conseguir uma recompensa generosa para derrubar Titan não valia a pena o risco de ficar e se matar no processo, e mercenários não tinham a noção do sacrifício altruísta. Sua missão não era pela honra ou para o bem maior. Seu único objetivo era encher os bolsos e elevar sua reputação. —Tudo está fechado e seguro — Viper disse quando ele entrou no pequeno quarto. — Conrad e Mojo implementaram uma vigilância que saberão se uma formiga peidar dentro de uma milha de nossa localização. — Então, você e os outros vão para a cama e durmam um pouco até a hora do seu turno, — Hancock falou. — Pode ser a última noite até conseguirmos dormir, antes de entregarmos a mulher a Bristow. Ele propositadamente não falou o nome de Honor. Seus homens já estavam olhando para ela não como um meio para um fim, simplesmente um peão, mas como um ser humano heroico. Uma fêmea inocente que não merecia falsas esperanças, como eles estavam de fato dando a ela, mesmo que não mentiam para ela em tantas palavras. Deles era o pecado de omissão, mas não era nada em comparação com os seus muitos outros pecados. Não havia salvação para homens como eles. Eles estavam resignados à danação eterna, suas almas tão negras que nunca veriam a luz novamente. Como diz um velho


ditado, mas muito apropriado, o caminho para o inferno está cheio de boas intenções. Viper apagou as luzes, envolvendo o interior na escuridão enquanto os homens tomavam as poucas camas e sacos de dormir que carregavam com eles. Eles eram treinados para adormecer em missões, seus corpos bem acostumados a tomar sono quando tinham chance e prontamente acordarem e estarem alertas, prontos para a ação. E ainda Hancock se viu incapaz de fazer exatamente isso. Muito tempo depois que seus homens já estavam dormindo, Hancock estava lá, em seu saco de dormir apenas alguns centímetros da cama de Honor, seus pensamentos consumidos pelo sacrifício que ele estava se preparando para lançar em Bristow —e, finalmente, em Maksimov. Ele não tinha ideia de quanto tempo passou, quando ele escutou um som que poderia passar despercebido pela maioria. Mas seus ouvidos estavam sintonizados com a menor mudança. Voltando-se para o som, ele percebeu que veio de onde Honor dormia. Ou ele pensava que ela estava dormindo. O som era tão fraco que a princípio ele pensou que estava imaginando ou que tinha sido simplesmente um ruído que ela fez durante o sono, mas não, lá estava ele novamente. Soou como... Choro. Suave, chorando quase sem som. Porra. Seu coração se apertou apesar de ter já estar endurecido em direção a essa mulher. Ela não soluçava ruidosamente ou lamentava sua angústia. Na verdade, ele não estava totalmente certo de que ela estava ciente do fato de que ela estava chorando. Antes que ele pudesse pensar melhor, ele empurrou-se para cima de modo que ele estava no nível dos olhos com ela e olhou ainda mais perto, tentando discernir o seu nível de consciência no escuro. Suavemente, ele estendeu a mão para tocar seu rosto para ver se sua suposição estava correta, e seu peito se apertou ainda mais quando seus dedos saíram molhados com suas lágrimas.


Ela estava chorando durante o sono. Só Deus sabia que pesadelos torturavam seu sono. Ela viu e passou pelo inferno durante a última semana. Relutante admiração por sua resiliência6 subiu dentro dele. Ela era talvez a mulher mais forte que ele já tinha encontrado. Não, ela não era uma mulher guerreira como aquelas que trabalharam para KGI que poderiam facilmente chutar a bunda de um homem com o dobro de seu tamanho. Ela era forte, apesar de sua falta de habilidades de luta, sua falta de conhecimento em se defender. Ela era engenhosa e determinada em face as probabilidades impossíveis e ela não sabia o significado de parar. Quando muitos já teriam desistido e se resignado à sua sorte ou mesmo tirado sua própria vida para poupar-se da tortura e degradação, ela teimosamente se agarrou a e lutou por sua vida. Com cuidado, para não a acordar, ele deslizou seus braços debaixo de seu corpo leve, esperando que ela ainda que medicação para a dor que ele lhe dera a deixasse apagada. Ele tinha propositadamente dado a ela uma dose grande de modo que ela ia dormir como os mortos e descansar e ganhar força muito necessária. Ele a colocou no saco de dormir ao lado dele, dizendo a si mesmo que ele simplesmente não queria que ela despertasse seus homens. Quando ele teve certeza de que ela ainda estava dormindo, ele se acomodou ao lado dela e puxou-a para o calor de seu corpo, envolvendo os braços em volta dela para oferecer-lhe o simples presente de ser segurada e confortada. Era o mínimo que ele podia fazer quando ele planejava traí-la da pior maneira possível. Com ternura que ele não achava que ele possuía, ele afastou as mechas de cabelo que obscurecia a face dela e suavizando as linhas torcidas no rosto pelo sonho que estava tendo. O medo irradiava dela em ondas tangíveis, e algo dentro dele torceu e o deixou desconfortável quando ele viu que todo o seu corpo tremia com aqueles soluços silenciosos.

6

Substantivo Feminino

1 - [Física] Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação. 2 - [Figurado] Capacidade de superar, de recuperar de adversidades.


Em um sussurro, para que seus homens não pudessem ouvir, ele roçou os lábios sobre a concha da sua orelha. — Você está segura, Honor. Eu tenho você. Nada vai machucar você hoje à noite. Esta noite era tudo o que ele podia lhe dar. Ele não tinha ideia do que o amanhã traria, embora ele fosse bem-sucedido em sua missão, ele sabia o que o futuro imediato traria. Ele fechou os olhos para afastar as imagens de Honor machucada. Danificada. Morta. Duvidava que ela escapasse incólume de Maksimov, mas mesmo que esse evento improvável ocorresse, ela seria entregue para o mesmo grupo que Hancock estava lutando tão duramente para protegê-la agora. A ironia o queimava. E ela certamente não escaparia ilesa — não de tudo. Seja o que fosse que Maksimov a submetesse, seria uma mera fração do que a Nova Era faria com ela. Ele arriscou sua vida, a vida de seus homens. Tudo para arrancar Honor das garras da Nova Era e entregá-la simplesmente a Maksimov, então ele poderia usá-la como um instrumento de barganha. E entregá-la para... A Nova Era. Seu destino era inevitável. Porque a coisa certa a fazer era entregá-la a Maksimov, dando a Hancock acesso irrestrito ao homem que ele fizera como sua única missão para derrubar. Mas fazer a coisa certa nem sempre o fazia se sentir bem. Às vezes, fazer a coisa certa era de dez tipos diferentes de merda.


CAPÍTULO 10 HONOR despertou e se espreguiçou. Seu corpo imediatamente protestando por forçar seus músculos em ação. Ela piscou, fazendo o ambiente entrar em foco, e então dando uma olhada pelo aposento para ver alguns dos homens de Hancock ainda dormindo. Existiam quatro presentes, menos Hancock e outro, mas ela imaginou que eles se revezaram durante a noite. De fato, ela não tinha nenhuma ideia de onde eles estavam ou onde buscaram refúgio. Parecia uma caverna. Sufocante e claustrofóbica. Nenhuma janela ou luz, o ar rançoso sem a renovação de uma brisa. Ela levou alguns momentos roubados de quietude e solidão para averiguar sua condição sem o escrutínio próximo de Hancock através de olhos que viam demais. Flexionou o joelho, aliviada por ver que não estava tão duro ou inchado, porém ainda estava dolorido e resistente ao movimento. Sua cabeça não doía tão cruelmente quanto no dia anterior, mas isso podia ser devido a algum resíduo de medicamento para dor que a fazia se esquecer de tudo o mais. Ela levou vários segundos para fazer uma auto avaliação, tempo que não se deu ao luxo antes, em sua necessidade desesperada de continuar se movendo. Não havia nenhuma dúvida que estava contundida e sofria cortes e lacerações em dúzias de lugares em seu corpo devastado, mas os únicos dois ferimentos que a estorvavam de alguma forma era na cabeça e no joelho. Tudo o mais era manejável, e de fato, não estava prestes a permitir a si mesmo ser um obstáculo para a coisa que ela mais queria. Sua derradeira fuga. Liberdade. Para isso podia suportar qualquer coisa. Ela aguentou tudo ao longo dos últimos dias, empurrando seu corpo além do seu limite no esforço desesperado para sobreviver. Mas agora tinha ajuda, e apesar do insulto de Hancock sobre o fato que a cavalo dado não se olha os dentes, ela não ia tornar as coisas mais duras completamente. Ela podia não gostar do homem, e ele podia fazer seus dentes rangerem de irritação, mas se ele conseguisse tirá-la desta confusão, morderia


sua língua e não faria nada para fazê-lo lamentar o fato de salvá-la. Gostar dele era puramente opcional, entretanto se conseguisse tirá-la inteira, isso a fazia nada além de uma criança mesquinha e emburrada por guardar rancor por sua personalidade menos que agradável. Decidiu então parar de agir como uma crítica petulante e manter sua boca fechada daqui por diante. Ele não ouviria um único argumento ou reclamação dela, mesmo se isso a matasse. Ela ficou de pé quando ouviu um barulho e olhou de relance rapidamente na direção do som para ver Hancock e um dos outros homens descendo os degraus para dentro do quarto minúsculo que alojava o resto dos homens adormecidos. Por um momento seus olhares congelaram um no outro, e mesmo na penumbra havia algo que... ela sacudiu a cabeça enquanto uma memória passageira brilhou em sua mente, seguindo em frente antes que ela pudesse agarrá-la. Franziu o cenho por que existia algo que ela estava perdendo. Algo a incomodava. — Hora de sair. Ele não falou alto, mas não teve que falar. Evidentemente seus homens eram treinados para despertar ao comando, e estarem alertas prontos para cair fora da cama. O quarto se tornou uma agitação de atividade. Ela se empurrou sentada na cama, encolhendo-se ante a náusea que formou em sua barriga. Recuperou-se depressa — ou foi o que pensou — não querendo dar a eles pausa para preocupação. Somente por cima do seu cadáver ela os atrasaria quando queria cair fora daqui muito mais do que eles. Hancock, maldito seja ele por nunca perder um único detalhe, imediatamente cruzou o quarto e se abaixou ao lado da sua cama. Você está doente? — Perguntou numa voz baixa suficiente para que não alcançasse seus homens. Ela estava absurdamente agradecida que ele não a embaraçou ou a fez parecer fraca na frente dos outros. Seu orgulho era importante para ela. Era tudo que restou. Isso e esperança. Essas duas coisas seriam tudo que ela veria pelos próximos dias.


— Não. Só me movi muito depressa. Estou bem. Sério. — Quando foi a última vez que você comeu alguma coisa? — Ele perguntou, naquele olhar penetrante rastejando sobre seus ossos como se pudesse ver todas as coisas. — Anteontem — ela disse com uma careta, lembrando-se da insípida refeição pronta que comeu em piloto automático, engolindo com sua última reserva de água. Hancock virou e gritou para um de seus homens, que imediatamente pegaram um pacote e o lançaram em direção a Hancock. Outro veio com um pacote selado a vácuo e um cantil. Ele rasgou ambos os pacotes e os esvaziou em cima da cama ao lado dela. Uma variedade de itens secos, algumas frutas e algo parecido com carne, deitado ao lado dela, e teve que se segurar para não cair em cima deles como um lobo faminto. Ele inclinou o recipiente na coxa dela e então se levantou em sua altura completa mais uma vez. — Devore o que puder enquanto botamos o veículo lá fora e empacotamos. Um pacote é vitamina balanceada e o outro é proteína. Coma o máximo que puder de ambos sem vomitar. Ela acenou, já agarrando a comida. Para sua surpresa, era gostoso. Não era nem remotamente de aparência apetitosa e não tinha nenhum cheiro, mas o sabor estourava em sua língua no minuto que fazia contato. Ela saboreou a primeira mordida, apreciando e querendo que durasse, mas então a ficha caiu no que ele disse que comesse o que pudesse porque eles estavam se aprontando para ir. O que significava que se ela não fosse rápida, não conseguiria comer muito mesmo. Enquanto enchia a barriga e bebia do cantil como um autômato, curiosamente inspecionou a preparação acontecendo ao redor dela, maravilhada em como rápida e graciosa era esta equipe. Eles trabalhavam em silêncio, não precisando se comunicar. Simplesmente sabiam o que fazer e o modo mais perito de fazer. Era como assistir uma máquina bem lubrificada.


Alguns minutos mais tarde, Hancock se aproximou carregando o que parecia ser um fardo inteiro de pano preto no braço. Ela fez uma careta, sabendo imediatamente que era para ela. — Somos afortunados por estamos entrando em regiões onde as burcas7 são a maneira mais comum de se vestir das mulheres. Se usasse uma antes, teria atraído atenção não desejada para si mesma. Você fez bem em não tentar se esconder completamente. Havia um toque de admiração que trouxe calor rastejando por seu pescoço e suas bochechas. — Isto te manterá completamente coberta, e ninguém questionará uma mulher vestindo tal traje para onde nós estaremos viajando nos próximos dois dias. Apesar de a burca ser abafada e a altura ser desconfortável, Honor estava extremamente agradecida que a cobriria da cabeça aos pés. Inclusive seus olhos não seriam visíveis e ela se misturaria sem problemas com outras mulheres se eles fossem forçados a entrar em algum lugar público. Agora o resto do grupo de Hancock era outro assunto. Não era comum que uma mulher solitária fosse escoltada por aí por seis fortes guerreiros ocidentais. Os acompanhantes masculinos de família para solteiras — e casadas — eram bastante comuns, mas este grupo não tinha chance nenhuma de se misturar ou ser considerado nativo. Querendo remover o máximo de roupa possível debaixo da burca, Honor se despiu depressa até o mínimo de nudez, cuidadosa em manter o traje protegendo seu corpo, embora nenhum dos homens olhasse em sua direção. Ela enfiou a roupa descartada em seu pacote e então meteu os últimos pedaços da ração na boca, empurrando isso tudo para baixo com vários longos goles de água. 7

(inglês burqa ou burka, do híndi) substantivo feminino Peça larga de vestuário que cobre o corpo desde a cabeça até aos pés, com uma abertura rendilhada na zona dos olhos, usa da por algumas mulheres muçulmanas. .


Quando todos os homens estavam mais uma vez reunidos ali dentro preparados para partir, Hancock fez as apresentações rápidas de seus homens e ela guardou cada nome na memória. Mentalmente revirou os olhos quando ele chegou a Mojo. Apropriado desde que as únicas palavras que passaram pelos lábios do homem dentro de sua audição foram — Bom mojo — ou — Mau mojo. Meros minutos mais tarde, ela foi apressada a entrar no veículo aguardando, Hancock pairando em seu cotovelo, mas não interferindo enquanto ela se arrastava no banco de trás. Talvez ele estivesse testando sua amplitude de movimentos, mas já tinha jurado a si mesma que não importasse quanto seu corpo gritasse, nenhum destes homens pensaria que ela era incapaz de levar seu próprio peso. Literalmente. A única coisa que entregava era sua mandíbula firmemente apertada enquanto se estabelecia em posição ao lado de Conrad, facilmente o homem mais assustador no grupo depois de Hancock. Ela preferiria Mojo, tão ridículo quanto soava, porque Mojo tinha a aparência de um filho da puta, mas ele não foi nada além de gentil e paciente com ela. As feições de Conrad eram... Frias. Seus olhos eram vazios e sem alma, como se durante a vida há muito tempo tivesse sido sugada dele e era mais máquina que homem, agindo às ordens como um robô. Ela estremeceu involuntariamente, uma vez mais se perguntando se sua salvação era mais assustadora que a alternativa. Ela estava como um sanduíche entre dois homens que pareciam como se estivessem bem familiarizados com a morte e destruição, isso devia confortar seus nervos em frangalhos e aliviar um pouco do terror paralisante que parecia permanentemente injetado em suas veias. Eles certamente pareciam capazes de tomar — e derrotar — qualquer um ou qualquer coisa. Eram precisamente o tipo de homens que ela precisava se esperasse escapar das garras desesperadas da Nova Era. E ainda assim estava nervosa. Medo, seu companheiro constante ao longo da semana passada, agarrado tenazmente a ela, profundamente entrincheirado e se recusando a se render, a sufocava. Talvez nunca se sentisse segura novamente. Talvez mesmo depois que ela chegasse em casa — recusou-se a dizer se chegasse em casa — porque a


menos que acreditasse nisso, verdadeiramente acreditasse nisso, e na habilidade de Hancock de fazer com que chegasse até ali, estaria condenada antes mesmo deles conseguirem. Ela podia ver bem o pesadelo do ataque, e seus amigos e colegas de trabalho assassinados tão barbaramente, e desmembrados, pairando em seu consciente e subconsciente o tempo todo. Uma pessoa simplesmente não “se recuperava” de uma coisa assim. Ela tinha uma compreensão muito melhor agora dos horrores que os militares do Exército suportavam. Repetidamente. E por que tantos sofriam tão horrivelmente em sua volta para casa. Por que tantos eram diagnosticados com síndrome de Estresse Pós-Traumático. Como uma pessoa pode levar uma vida normal completamente livre de seus demônios quando o inferno estava sempre presente nos fundos de suas mentes? Em suas memórias? Ela inconscientemente se mexeu mais perto de Hancock, buscando o calor de seu corpo, um pouco da tensão rapidamente enrolando em seu estômago aliviando enquanto seu calor entrava na pele dela. Então ela enrijeceu, piscando enquanto uma memória vaga a perseguia, lambendo nas margens de sua mente. Franziu o cenho, esforçando-se para chamar isto a frente. Ela esteve nos braços de Hancock com suas bochechas molhadas, o peito apertado com pesar e medo. Ele a segurou. Quando? Na noite passada. Ela deve ter chorado enquanto dormia. Hancock a ergueu da cama onde ela dormia e a abaixou para seu saco de dormir ao lado dele e embrulhou seus braços ao redor dela, ancorando-a, balançando e acalmando-a, murmurando palavras gentis o tempo inteiro. Levou toda sua disciplina para não levar seu olhar para o lado e encarálo fixamente como se pudesse de alguma forma decifrar o quebra-cabeça olhando dentro dos olhos dele. Ela não estava imaginando isto. Não sonhou com isto. Esteve deitada nos braços dele até algum ponto quando vagou para dentro do sono, profundo o suficiente para que ele a transferisse de volta para cama sem que ela se lembrasse. Até agora.


Lutando para impedir que seu traidor cenho franzido se aprofundasse, ela mordeu o lábio inferior e ponderou por que estava até mesmo fazendo uma grande coisa disto. Ele era humano afinal, apesar de suas dúvidas ao contrário. Ontem à noite só provou que ele não era um completo idiota e que tinha compaixão. Ele obviamente manteve isto encoberto por razões desconhecidas, entretanto supôs que se ele fazia isto o tempo todo, altruisticamente colocando sua vida na frente pelos outros, isso não pagava estar emocionalmente envolvido em qualquer capacidade. Ela podia entender por que ele a via e a inúmeros outros que ajudava como... Coisas, não seres humanos com sentimentos ou emoções. Porque então se as coisas dessem erradas ele sentiria muito mais. Talvez este fosse o modo que ele ficava são. Qualquer que fosse sua metodologia, ela estava agradecida, porque estava funcionando. E o que quer que a tirasse deste buraco do inferno e a levasse de volta para solo americano, ela estaria cem por cento atrás. Ainda assim não podia evitar olhar de relance para Hancock quando ele não estava olhando, estudando a linha firme de sua mandíbula e suas feições cinzeladas que pareciam estabelecidas em pedra. Perguntou-se qual seria sua história. O que ele e seus homens oficialmente fizeram ou se, até mesmo, existiam oficialmente. Que terrível meia vida devia ser, viver e ainda assim não ser nada para o mundo, alguém para qualquer um. Para continuamente pôr suas vidas em risco por estranhos que eles não conheciam e nunca mais veriam. Alguém algum dia já tinha agradecido a eles? Verdadeiramente agradecido? Fez um voto mental que quando chegassem aonde quer que estivessem indo, agradeceria cada um deles pelo nome. Eles saberiam que ela não esqueceria que lhe deram uma chance na vida. Que eles a salvaram da morte certa e da tortura. E ao mesmo tempo, tão incongruente quanto possa parecer, isso apenas reafirmava seu compromisso para a ajuda humanitária. Ninguém a culparia se ela nunca aceitasse outra tarefa. Se ficasse segura dentro dos confins dos Estados Unidos e apreciasse a proteção e liberdade de viver dentro de suas fronteiras. Vivendo na ignorante felicidade que tantos americanos apreciavam — abraçavam. A maior parte das pessoas pensaria que ela estava louca por querer voltar para a batalha depois de tal proximidade com o inconcebível.


Mas existiam pessoas com necessidade. Pessoas sem outros para lutar por elas. Para ajudá-los a fazerem algo que seus compatriotas davam por garantido. Sobreviver. Ser livre. Hancock e seus homens eram pessoas que assumiram essa luta. Dedicou sua vida à causa de ajudar os outros. Só porque ela enfrentou adversidade — e superou — não dava a ela justificativa para simplesmente ficar de lado e deixar para lá. Permitir que outros assumissem o risco em seu lugar. Se nada mais, isso só a deixou muito mais determinada a não permitir que estes babacas silenciassem seus esforços. Sua família não gostaria disso. Eles não desistiriam sem um inferno de uma briga, como fizeram da primeira vez que ela veio para esta região devastada pela guerra. Eles precisariam de tempo com ela — tempo que alegremente concederia a eles — assim poderiam assegurar que ela estava bem e verdadeiramente segura. Viva. Ilesa. Entretanto ela levantaria a bandeira novamente e nada a impediria de atender seu chamado. Não era algo que ela podia ignorar, optando por um trabalho seguro de nove às cinco. Isso era o que e quem ela era, e ir embora não era somente uma traição às pessoas tão desesperadamente necessitadas, mas uma traição a ela mesma, seus ideais e suas crenças. — Seja o que for que fez você ficar mergulhada em pensamentos, é melhor não ser um plano que eu não tenha conhecimento. A voz arrastada de Hancock atravessou seu processo de pensamento, assustando-a e fazendo com que erguesse seu olhar para vê-lo estudando-a atentamente. O quê? Ele pensou que ela estava planejando fugir dele e escapar sozinha? Não era provável. Ele era sua melhor e única esperança de chegar em casa viva, e ele sabia disso. Estava tão profundamente entrincheirada em seus pensamentos ferozes que falou antes de medir suas palavras. — Eu só estava fazendo um juramento de não deixar estes babacas me fazer desistir — ela soltou. Embaraçada por sua explosão apaixonada, ela abaixou sua cabeça, sua voz mais um murmúrio agora. — A maioria das pessoas correria para casa e nunca mais sairia — ela disse baixinho. — Não sou a maioria das pessoas e sou necessária aqui. E em


outros lugares. Lugares que a maior parte das pessoas não vai. Mas esses são os lugares onde a necessidade é maior. E exatamente como vocês todos arriscaram suas vidas para me salvar — uma única pessoa — então também vou arriscar minha vida para ajudar inúmeras outras pessoas. Seu risco não será em vão. Minha vida significa algo. Tem um propósito. Eu não irei quieta, nem vou deixar esses canalhas me assustarem a ponto de enfiar minha cabeça na areia e ficar em casa com mamãe e papai como uma covarde. Seu tom ficou mais feroz a cada palavra até que elas arderam com calor para combinar com a intensidade de suas emoções. Os outros caíram em silêncio, a quietude esticando e cobrindo o interior do veículo. Alguns olharam para baixo. Outros desviaram o olhar cegamente para fora da janela ou simplesmente olharam para nada. Havia desconforto tangível e ela franziu o cenho, não entendendo por quê. Eles estavam chateados que estavam arriscando suas vidas por alguém que de boa vontade se poria em risco de novo? Ela supôs que parecia como se fosse ingrata e não se importasse com os sacrifícios que eles fizeram. Provavelmente eles estavam se perguntando por que diabos estavam aqui fora no meio do deserto arriscando seus traseiros por uma mulher que não apreciava seus esforços ou por que simplesmente a largavam e deixavam se arranjar sozinha. — Não espero que vocês entendam — ela disse numa voz baixa. — Mas não posso virar minhas costas para estas pessoas. Eles não têm ninguém para lutar por eles. Ninguém para ajudá-los. E se eu deixar os terroristas me tirar do meu objetivo então eles ganham, não importando se eu escapo ou não, se eu vivo ou morro. Ela mergulhou adiante antes de qualquer um deles pudesse responder, não que uma resposta parecesse iminente. Eles não eram exatamente falantes. Faziam Hancock parecer como um conversador regular, e ele era o tipo de sujeito de quanto menos, melhor. Mas seus homens? Tinham ainda menos a dizer. Mas talvez como seu líder, eles deixassem Hancock conversar enquanto eles agiam. — Não quero parecer ingrata pelo que vocês fizeram, o que ainda estão fazendo. Nem estou sendo realista sobre o fato que vocês arriscaram suas vidas


para me resgatar e me tirar daqui. Pode aparecer desse modo, mas não posso explicar o quanto importa para mim que eu não seja manipulada e coagida por medo ou ameaças. Conrad murmurou uma imprecação indecifrável ao lado dela, virando para encarar a janela e ela não pudesse ver seus olhos ou expressão. Ela podia jurar que sua declaração deixou todos eles... desconfortáveis... e não pelas razões que ela citou. Copeland ou Cope, como sua equipe o chamava, parecia culpado. Ela correu seu olhar fixo perplexa na direção de Hancock, e por uma vez encontrou conforto no fato de que seu rosto era uma máscara impenetrável, nenhuma emoção, opinião ou julgamento. Nenhuma concordância ou condenação ecoava em seus olhos. Ele só a considerou com aquele olhar estável, sua expressão inescrutável como sempre. Obviamente sua imaginação estava indo longe demais e estava vendo coisas que não estavam ali. E agora que ela pôs isso para fora como um pedido de desculpas... quem ela estava enganando? Foi um pedido de desculpas, um apelo por compreensão e talvez até aprovação. Agora isso só a deixava puta porque precisava da permissão deles para fazer o que sentia a chamada em fazer. Eles certamente não necessitavam ou requeriam a aprovação dela, ou estavam nem aí para o que ela pensava deles, então por que devia se sentir em dívida com eles como se porque salvaram sua vida, ela desistiria de seu poder sobre sua vida por eles? Suas escolhas. Suas decisões. Eles não a possuíam ou a sua mente. Definitivamente não as escolhas dela. Ela devia a eles gratidão, certamente. Devia respeito e sua total cooperação pelo tempo que estivesse sob sua proteção. Mas não devia a eles nada mais, e estava mais do que certa que não precisava da permissão deles para fazer com sua vida o que ela quisesse — precisasse. Assim como eles não precisavam — ou queriam — a sua. Hancock simplesmente deu de ombros. — Se você chegar em casa, o que vai fazer posteriormente é somente com você. Você é uma mulher crescida e não deve a ninguém explicação para as escolhas que faz.


Por alguma razão a incomodou que ele disse se ela chegasse em casa. Não quando. Incomodou-a muito. Porque Hancock não era nada senão completamente calmo e confiante. Ele transpirava absoluta fé e autoconfiança em sua habilidade e na de sua equipe. Essa era a primeira vez que ele até mesmo insinuou que ela não sairia desta confusão. Como se houvesse até uma possibilidade distante de que não iria. Isso fez seu pulso acelerar e latejar em sua têmpora, ressuscitando a dor em sua cabeça que tinha diminuído e não retornado... até agora. Ela quis rastejar de volta nos braços dele e se aconchegar lá como fez na noite anterior, embora sem saber no momento. Mas mesmo agora memórias de se sentir totalmente segura e confortada flutuaram de volta para ela, trazendo os eventos da noite passada ainda mais perto de vir à sua mente. Ela queria aquela sensação de volta. Ainda que só por alguns minutos. Só tempo suficiente para dissipar o súbito mal-estar e inquietante tumulto de suas veias. Ela só podia imaginar a reação dele caso fizesse tal coisa. Era óbvio que ele não tinha nenhum desejo que ela soubesse que a segurou e confortou ontem à noite. As ações dele certamente não o traíram de nenhuma forma, nem se referiu ao evento. Agia como se nunca tivesse acontecido, e suspeitou fortemente que se trouxesse isto à tona ele negaria e diria que foi só um sonho. Embora soubesse muito bem que foi — tinha sido — real. Nunca esqueceria a sensação de estar em seus braços, e o conforto e força que tirou daquelas poucas horas, ainda que levasse um pouco de tempo para conseguir isso tudo de volta. Ele mostrou bondade quando ela presumiu o pior a respeito dele. Entretanto, rapidamente aprendeu que ele tinha multifacetas com tantas camadas que provavelmente podia cavar e puxar de volta para sempre, e nunca aprenderia tudo que havia para saber sobre ele. O mínimo que podia fazer era respeitar seu óbvio desejo de nunca reconhecer suas ações. Talvez ele considerasse isto uma fraqueza, mas para Honor isso foi algo que ela desesperadamente precisou. Ele a ancorou em seu momento mais fraco, quando estava à mercê de seus pesadelos e desespero tinha derramado dos mais profundos recessos de sua alma. O que para ele era fraqueza, para ela era uma extremamente necessária infusão de força. Força dele.


Ela não respondeu à sua declaração duvidosa, recusando-se a mostrar como seu único lapso em confiança a sacudiu até o núcleo. Isso podia ter sido meramente um deslize da língua, uma figura inadvertida da fala, entretanto ele não a atingiu como alguém que algum dia permitiu que qualquer coisa descuidada saísse de seus lábios. Silêncio mais uma vez reinou e Honor focou na paisagem estéril pela qual passavam velozmente. Estava bem a caminho de um estado hipnótico auto induzido quando Hancock a chacoalhou de seu transe. — Nós temos que reabastecer a várias milhas de nossa posição atual. É uma vila rural, mas um cruzamento e o epicentro de distribuição de combustível nesta área, então haverá ir e vir de tráfico em todas as direções. Mas não temos escolha. Não faremos isto no próximo fornecedor de combustível disponível. Quando chegarmos, sairei e abastecerei o veículo. Existirá um lugar para você se aliviar. Conrad vai te escoltar, mas mantenha sua cabeça abaixada o tempo todo, um passo atrás dele, e faça isto rápido. — Estou bem ciente da cultura e costumes daqui — ela disse. — Sim, suponho que esteja — Hancock meditou depois de estudá-la um momento. — Mas nunca assumo quando se trata de vida ou morte, então espere ouvir mais informações que você já conhece. Ele tinha um ponto sólido. — Quantos idiomas regionais você fala? — Ele perguntou, surpreendendo-a com sua aparente curiosidade. — Sou fluente em árabe e dezessete outros idiomas menos falados em um quadrante de três países, e bastante passável em pelo menos mais uma dúzia. Sou particularmente boa em mímica. Ouço um sotaque e imediatamente posso imitar. Hancock ergueu uma sobrancelha. — Quanto tempo você estudou idiomas do Oriente Médio? — Fui autodidata no ensino médio — ela admitiu. — Bem, antes disso no ensino fundamental, mas peguei pesado mesmo no ensino médio. Não existem muitas escolas de Ensino Médio no país inteiro que sequer oferecem árabe como disciplina, muito menos os idiomas regionais menos falados.


— Você deve ser uma aluna muito boa para conseguir em menos de uma década. Ela deu de ombros, desconfortável com o elogio, embora não tenha sido declarado como tal. Foi mais uma declaração de fato. — Tenho afinidade por idiomas. Além dos idiomas do Oriente Médio que eu falo, também sou fluente em francês e espanhol, e posso levar uma conversa básica em alemão e italiano. Isso foi só uma coisa que sempre me interessou e eu aprendo depressa. Quando cheguei a universidade, passei uns três semestres extras além do tempo que teria levado para ganhar meu diploma, pegando cada curso de idioma do Oriente Médio que eles ofereciam, e pegando outra dúzia de cursos on-line simultaneamente. Eu sabia o que queria fazer depois da faculdade. Meu diploma era simplesmente uma ferramenta de treinamento que me capacitava para entender melhor a cultura em que eu estaria mergulhando. — Qual o pagamento para um anjo de misericórdia nesses dias? — Viper disse com voz arrastada. Ela sentiu uma onda rápida de raiva, e para sua surpresa Hancock disparou a seu homem um olhar de clara reprimenda que fez Viper pigarrear. — Não pretendia desrespeitar — ele disse antes de focar sua atenção no para-brisa mais uma vez. — Recebo o pagamento livre de imposto — ela disse através de lábios enrijecidos. De alguma forma, ele questionando a razão para o que ela fazia sendo reduzindo a uma coisa mercenária, atingia seus nervos. — Um imposto muito pequeno. Certamente não suficiente para fazer um salário digno na volta para casa. Minha moradia é fornecida aqui, mas eu compartilho, eu compartilhava — adicionou de forma calma — um quarto com três outras mulheres de ajuda humanitária. E a comida é mais frequentemente fornecida pelas aldeias, apesar deles terem pouco sobrando. A equipe médica certificada certamente ganha mais, eles tinham que ser bem pagos para aceitar este tipo de trabalho, mas as pessoas como eu, nós somos basicamente voluntários. Ela caiu em silêncio, recusando a dizer qualquer coisa mais — para se defender ainda mais quando não tinha nenhuma obrigação de justificar sua vida para estes homens. Mesmo que eles a estivessem salvando.


— Já que será óbvio que nós não somos desta área, se apenas, se você tiver que falar, faça no idioma comum, árabe — Hancock instruiu desnecessariamente. Mas desta vez ela não o lembrou de seu extenso conhecimento. Como ele disse, quando vida ou morte era a derradeira consequência, nunca era demais assumir.


CAPÍTULO 11 APESAR de Hancock tê-la advertido — a todos eles — que a aldeia era uma encruzilhada em uma área rural, não estava preparada para quanto tráfico fluía pela aldeia aparentemente saída do meio de lugar nenhum. Era como se o entreposto servisse como um centro para o país inteiro. Todo mundo viajava por este lugar quando atravessava a região. Antes de estacionarem nos arredores da instalação, Hancock calmamente os avisou que eles ficassem juntos, e para que Conrad levasse Honor ali dentro e saíssem em minutos. A vila não era apenas um epicentro para as pessoas viajando para longe e alcançassem outras terras, mas era um lugar onde podia se adquirir quase... qualquer coisa. A economia local não era apenas sustentada por suas reservas estáveis de combustível e um exército que protegia essas reservas dia e noite, mas também havia negociantes de armas em cada barraca, exibindo abertamente sua mercadoria. Não era legal, mas o governo olhava para o outro lado, fazendo vista grossa para as idas e vindas da pequena população. Era difícil imaginar um mercado movimentado onde por quilômetros não existia literalmente nada em qualquer direção. Misturadas entre as barracas vendendo armas, explosivos e aparatos defensivos havia mulheres preparando e vendendo comida, roupa, suprimentos, água fresca… podia ter tudo por um preço. Existia um ar de festividade enganosa. Uma sensação inocente que era rapidamente dispersada uma vez que alguém olhava além da superfície e estudava os rostos e posições das pessoas comprando e vendendo mercadorias. Honor estudou cada pessoa por quem eles passavam conforme iam fazendo seu caminho através da aldeia até o outro lado onde os tanques de combustível estavam. Existia severidade, um ar de expectativa, vigilância e cautela. Em constante guarda, armas — fuzis — a postos para que ninguém tentasse esconder, além de manter uma ampla vista o tempo inteiro.


Ela estremeceu, imaginando como era a realidade de viver tal vida para estas pessoas. Sim, ela viveu e trabalhou em uma área de inquietude, mas apesar da invasão de estranhos, a aldeia era pacífica. Cheia de pessoas que apenas queriam um santuário da violência sem sentido que era tão predominante aqui, e quem não tinha nenhum desejo de acordar a cada dia lutando por suas vidas. E até o ataque da Nova Era, a aldeia tinha passado longamente sem ser notada, mesmo com a presença Ocidental no centro de ajuda humanitária. Ela não tinha dúvida que a presença dela — e dos outros — não era bem recebida pela maioria, mas eles eram deixados em paz. E eles forneciam abrigo, comida e itens essenciais para a sobrevivência que mesmo aqueles que desprezavam tudo que Honor representava, não discutiam em aceitar. As pessoas neste buraco, nesta encruzilhada num lugar longínquo, lidavam com a morte e a guerra diariamente. Vivendo em paranoia. Reagindo imediatamente a qualquer ameaça, imaginária ou real. Um frio muito real percorreu seu caminho até seus ossos, apesar da burca pesada envolvendo-a da cabeça aos pés. — Prepare-se — Hancock advertiu seu tom baixo e totalmente sombrio. Seu olhar já estava em prontidão e varrendo a área, aqueles olhos frios absorvendo o mais mínimo detalhe. Havia apenas um tremor quase imperceptível em sua mandíbula que traía sua inquietação e como ele estava em guarda. — Tem certeza que ela devia sair aqui? — Conrad perguntou, girando seu olhar para seu líder de equipe. — Nós podemos achar um lugar no deserto e deixá-la se agachar onde ninguém está por perto. Hancock sacudiu a cabeça. — Preciso saber se suspeitam de nós. Eu e os outros estaremos por perto vigiando enquanto você e Honor entram para ver que atenção vocês recebem. Preciso saber se eles foram alertados e sabem quem você é. — E se eles foram? — Honor perguntou num tom estrangulado. — Isto não é basicamente me colocar como isca? Como levar uma vaca vendada para o sacrifício?


— Sim — Hancock disse abruptamente, nenhuma desculpa em sua voz. — Mas você não está sendo docilmente levada ao abatedouro. Minha equipe e eu te protegeremos. Eu preciso saber quem é o inimigo e quem é alheio a quem você é, e mais importante, onde você está. — Queria ter sua confiança — ela murmurou. — É fácil para você dizer quando você não é o cordeiro do sacrifício. — É aí onde você está errada — ele corrigiu. — Você, eles querem viva. Eu e meus homens? Nem tanto. Completamente dispensáveis. E nós somos tudo que fica no caminho deles para conseguir colocar as mãos em você. Então sim, nós estamos definitivamente tomando o maior risco aqui. Ela ficou imediatamente envergonhada pelo egoísmo de seus pensamentos. Fazia perfeito sentido agora que ele colocou desse modo. Nunca chegaria perto do que ele pensava, e isso a fazia se sentir como uma diva mimada cujas necessidades tinham prioridade acima de todos os outros, a qualquer custo. Mesmo quando os pensamentos sóbrios brilhavam dentro de sua consciência, ela enviou a Hancock um olhar de desculpa que ele não podia interpretar errado. Mas não houve nenhum reconhecimento — ou condenação, de fato — em seus olhos. Entretanto ele não tinha apontado o fato de que ele e seus homens estavam em risco maior que ela por assumi-la. Ele meramente declarou um fato daquela maneira imperturbável que ele aperfeiçoou. Eles pararam no petroleiro na periferia da aldeia, o que tinha a rota de fuga mais clara caso a merda batesse no ventilador. Conrad imediatamente arrebanhou Honor do veículo, e ela teve o cuidado de manter sua cabeça curvada em uma postura de submissão, e permanecer um passo atrás do lado de Conrad conforme ele a apressava dentro de uma cabana grosseira usada como banheiro. Primeiro ele entrou e checou para ter certeza que ninguém estava ali dentro. Uma vez satisfeito que estava vazio, ele deu ordens firmes a Honor para fazer suas coisas o mais rápido possível e o encontrar na entrada, onde ele estava de guarda para ter certeza que ninguém se intrometesse. Ela não perdeu tempo, lutando com a burca pesada e agachando cuidadosamente em cima do buraco asqueroso no chão que já estava cheio com excrementos humanos. Ela respirou pela boca para que o mau cheiro não


enchesse suas narinas, com medo de seu estômago se revoltar e ela desperdiçar segundos preciosos vomitando. Era desconfortável para caramba, curvada em um ângulo estranho, segurando as dobras de sua roupa para cima para que não ficasse suja no processo. Seu joelho protestou se segurando o mais estável possível enquanto ela fazia suas necessidades para se aliviar. Quando ela fez cerca de dois galões de xixi, ambas as pernas estavam tremendo e seu joelho machucado estava se curvando incessantemente, fazendo-a se equilibrar precariamente em sua perna boa. Lavou-se apressadamente o melhor que pôde com a água amarelada na pia encostada na parede, e nem sequer especulou quanto à sua limpeza. Iria apenas deixá-la mais doida do que ela já estava. Retornou para onde Conrad permaneceu de pé, sua posição impaciente mesmo enquanto seu olhar cauteloso esquadrinhava constantemente a área inteira. Quando ele completou a varredura, começou tudo de novo, nunca tirando seus olhos das idas e vindas ao redor deles. Ele deu uma olhada de relance em direção a ela quando a avistou, e fez um gesto com a cabeça na direção do veículo militar onde Hancock estava terminando de reabastecer. Ela caminhou atrás dele, e como Conrad continuamente fazia, ela manteve um olho bem alerta em todo mundo em sua linha de visão. Quando eles dobraram a esquina da barraca, Honor quase congelou. Apenas seu rígido controle a impediu de reagir à visão de um homem armado de uniforme erguendo seu fuzil e o apontando para... Conrad. Merda! Ela não podia simplesmente agir como se não tivesse visto, e tinha que agir rápido. Desconsiderando completamente as instruções rígidas do Hancock — e de Conrad — de não atrair atenção indevida para si mesma, lançou-se em direção a Conrad enquanto ela caía. Trombou com o homem desprevenido, e a onda de adrenalina que surgiu através de suas veias deu-lhe muito mais força do que pensou que possuía.


Conrad caiu esparramado justo quando uma saraivada de balas lambeu a área bem onde Conrad esteve de pé uma fração de segundo mais cedo. Ficando tensa, esperando dor de uma das balas que certamente a atingiu, curvou-se em si mesma inclusive enquanto caía como uma pedra. O que era estúpido porque ela e Conrad precisavam estar em pé para que pudessem escapar. Mas a autopreservação governava e agiu instintivamente para se impedir de ser morta. Embora ela não tenha sido o alvo pretendido. Palavrões cabeludos de mais de um local atravessaram o ar, e de repente Honor se achou rudemente arrastada para seus pés, jogada sobre um ombro e chacoalhando como um peixe fora d’água conforme Hancock corria em direção ao veículo aguardando. Conrad já tinha recuperado sua posição e estava dois passos à frente de Hancock e Honor. Hancock lançou Honor violentamente no banco de trás antes dele e Conrad mergulhar dentro. Suas portas não estavam nem fechadas ainda quando o veículo arrancou adiante, os pneus girando momentaneamente à medida que o motorista pisava fundo. — Droga. Droga! — Hancock berrou. Mas foi a expressão do Conrad que fez o coração de Honor parar na garganta. Ele estava friamente furioso. Raiva fervia através do seu corpo, seu rosto e olhos tão sombrios que ela tremeu. Sua mandíbula inchada apertando seus dentes juntos muito firmemente. Todo mundo estava puto. Com ela. E ela estava totalmente confusa. Genuinamente perplexa. Ela salvou a vida de Conrad. Isso não a livrava de ter atraído atenção indevida? — Que porra que você pensou que estava fazendo? — Conrad rugiu. — O que no “não chame atenção para si mesma” você não entendeu? As mulheres daqui nunca fariam tal coisa. Juro por Deus, você deve ter vontade de morrer. — Besteira — Honor estalou chateada que o homem não estava nem um pouco agradecido por ela ter impedido que alguém fizesse queijo suíço dele. — Você esquece que eu trabalho em aldeias como esta. Vejo mães protegendo seus filhos. Seus amados. Tão ferozmente quanto os homens.


Hancock bufou o que sugeria que ele estava se agarrando à sua paciência — e temperamento — por um fio. — Não nesta aldeia — ele disse entredentes. — As mulheres daqui raramente são vistas e nunca ouvidas. Elas não interferem. Pior, você trouxe desonra para o assassino, e por sua causa, uma simples mulher, seu objetivo foi frustrado e a aldeia inteira testemunhou isto. Esta é uma cidade fora da lei e as únicas regras são aquelas impostas pelas pessoas que têm o poder de apoiá-las. — Bom — Honor rosnou. — Espero que se mate pela humilhação disso tudo. Um babaca a menos no mundo, porém se eu não tivesse interferido, então haveria dois babacas a menos no mundo. Ela encarou intencionalmente Conrad, sua expressão frígida. — Mais provável que ele mate você — Hancock disse severamente. — Não importa se ele sabe que você é procurada ou se ele é amigo do seu inimigo. Ele buscaria sua morte por nenhuma outra razão que o insulto você deu a ele. — É costume agradecer alguém quando eles salvam sua vida — ela estalou. — Não dizer a eles que são idiotas para cacete que não podem seguir simples instruções. — Se a carapuça serve — Conrad murmurou. — Se quer tanto morrer, eu com prazer faço isso por você — ela ferveu. — Eu mesma atiro em você, mas pode ter certeza que serei criativa com os lugares onde vou atirar. — Mau mojo — Mojo murmurou olhando de relance por cima do ombro para Honor com algo que pareceu suspeitosamente como um vislumbre de respeito. — Está feito e acabado — Hancock disse de modo para parar o bate-boca. — Só nos tire daqui, Viper, e não tire o pé do acelerador. E com toda certeza fique de olho se ver alguém atrás ou um ataque de RPG8.

8

Rocket-propelled grenade, ou RPG (em português: granada lançada por foguete), é uma arma de apoio de fogo da infantaria destinada ao lançamento de granadas especiais com a capacidade de autopropulsão. Os RPG’s têm origem nas armas semelhantes (bazookas norte-americanas e Panzerfaust alemãs).


Honor afundou no assento, dor e intenso calor banhando sua lateral. Ela deve ter caído em alguma coisa quando atingiu o chão tão rápido. Mas por cima do seu cadáver ela deixaria estes babacas saberem que ela sustentava outro machucado enquanto salvava o traseiro ingrato de um companheiro de equipe. No que lhe dizia respeito, eles podiam todos se foderem. Justo quando tinha começado a dizer a si mesma que tinha entendido mal Hancock e seus homens, e que eles realmente não eram babacas inflamados, justamente tão depressa a dissuadiam dessa noção provando ainda novamente que eles eram imbecis. O demônio dentro dela, o próprio demônio ultrajado e puto, simplesmente não deixou para lá como Hancock mandou. Virou sua cabeça para que enfrentasse Conrad e o olhou fixamente e inflexivelmente, nem aí que ele pudesse quebrá-la como um galho com dois dedos. — Então você teria preferido que eu só ficasse ali como alguma imbecil infeliz e deixasse você ser morto? Sério? Sua vida significa tão pouco para você? Ela não podia manter o desdém ou o desprezo na sua voz. O cenho franzido do Conrad aprofundou e suas feições ficaram muito mais sombrias, se tal coisa era possível. Ele parecia com uma nuvem de tempestade furiosa na primavera na temporada de tornados. Sua testa estava tão enrugada que suas sobrancelhas se juntaram para formar uma linha contínua de pelo acima de ambos os olhos. E aqueles olhos reluziam com fúria. — Cara mal-agradecido — ela murmurou antes de se recusar a olhar para ele mais um segundo. Em vez disso se inclinou para trás, balançando a cabeça contra o assento embora o terreno áspero fizesse impossível para seu crânio aguentar por bater em todos os buracos e pancadas do caminho. Ela fechou os olhos, fechando-se para todos eles. Se tivesse sorte, podia adormecer e eles podiam simplesmente acordá-la quando chegassem aonde quer que eles estivessem parando, e ela podia ser uma boa donzelinha infeliz e se sentar nas mãos enquanto os grandes machos alfas maus conseguiam tomar um tiro nas bolas. Isso não podia acontecer para um grupo mais agradável de homens.


CAPÍTULO 12 HANCOCK — e o resto de sua equipe, de fato — caíram em silêncio depois do esporro mordaz da sua ingratidão. Ela não escondeu o fato de que pensava que eles eram todos completo canalhas insensíveis.

Ela não estava errada.

Seus homens não estavam nem aí para o que alguém pensava deles quando se tratava de fazer seu trabalho a qualquer custo. Como eles estavam, no fim das contas, devolvendo Honor aos próprios homens que eles estavam atualmente salvando-a. E isso era todos os tipos de merda. Sim, eles não davam a mínima se eles eram santos ou o próprio satanás. Mas isso estava dentro dos olhos de cada homem, expressões, comportamento, que Honor... importava.

Eles a respeitavam quando não respeitavam ninguém além de seu líder de equipe e um ao outro. E se isso não lançou um sério torcer em seus planos, não sabia o que fez. E se acabasse com uma rebelião em grande escala em suas mãos? E se seus homens criassem consciência, como Hancock em anos recentes — e jurou que nunca deixaria que essa consciência interferisse em outra missão — e se recusassem a entregar Honor a Bristow, então Maksimov e por fim, a Nova Era? Havia tantos modos para isto dar errado. E se Maksimov decidisse dizer foda-se para a Nova Era? Ele estava fora do alcance deles, e provavelmente a única organização não oficial que estaria inclusive no mesmo patamar da Nova Era. Talvez até mesmo superior porque Maksimov não tinha nenhuma causa, nenhuma emoção. Os membros da Nova Era eram governados pela emoção, raiva, um sentimento de retidão e justiça. Eles não tinham problema em se sacrificarem para o bem maior. O bem maior deles.


Nenhuma das escolhas de Honor era remotamente agradável. Bristow era um canalha ruim que gozava em machucar mulheres. Maksimov era brutal com suas mulheres, algumas vezes as matava com seus fetiches depravados. Em seu mundo, mulheres eram um centavo a dúzia e completamente dispensáveis.

E, bem, se Bristow e Maksimov realmente devolvessem Honor a Nova Era, ela aguentaria tortura e degradação indizíveis. Rezaria pela morte, não importa quão forte e feroz ela era. Nenhum homem ou mulher podia suportar o que a Nova Era entregaria dia após dia, semana após semana, até finalmente eles a matarem, e novamente, não seria lento ou misericordioso.

Muitas outras células militantes terroristas, apesar de brutais e desumanas, matavam seus reféns de alguma forma humana. Normalmente um tiro atrás da cabeça, estilo execução. Ou simplesmente cortavam a cabeça numa rua pública para que outros os temessem e os levassem a sério.

Ele deu uma olhada de lado para Honor, para seus olhos fechados, seus cílios descansando delicadamente em suas bochechas. Tão inocente. Uma inocente quem serviria como a virgem do sacrifício, justo para que centenas de milhares de pessoas vivessem. Não era justo. Nada disso era. Mas Hancock veio a termos há muito tempo com o fato que era impossível ter isso tudo. Sacrifícios tinham que ser feitos, não importa o custo. Ele não tinha sempre que gostar, mas sabia pela verdade que era, e este era o único modo de acabar com pessoas como Bristow, Maksimov, e eventualmente a NE, a Nova Era.

Não podia dizer se ela estava dormindo ou somente fechando os olhos para calar todos eles. Ele não podia culpá-la. Ela ficou puta — e com razão. E estava certa. Ninguém expressou sua gratidão. Só raiva dela por não seguir ordens e o sentimento não dito que ela conseguiu chegar perto demais de se matar por um homem que nem sequer conhecia — ou gostava.

Por que ela fez isto?


Era um quebra-cabeça que atormentou seu cérebro desde que isso aconteceu. Não podia vir com uma boa razão quando ela lutou de forma tão valente e inteligente para se esquivar da NE de modo que ela simplesmente entrou no caminho de uma bala e empurrou seu companheiro de equipe para a segurança.

Não estava acostumado a mulheres do calibre de Honor. As únicas mulheres que ele conheceu que tinham espinhas de aço e resolviam melhor que qualquer homem e ainda eram infinitamente frágeis, eram as mulheres Kelly e as esposas dos membros da KGI. Elas eram como Honor. Exatamente como ela. Talvez esse fosse o porquê ele se permitir ter respeito por Honor, porque as mulheres KGI eram ferozes pra cacete e ela era tão guerreira quanto as mulheres KGI. — Quase lá — Henderson disse da frente. — Melhor ter a mulher acordada e lúcida, assim não perdemos tempo escondendo este veículo e transferindo para outro. A menos que você queira ir para um bunker de novo esta noite?

Hancock sacudiu a cabeça. — Não. Precisamos continuar nos movendo. Vamos revezar na direção para que os outros possam dormir. Vou precisar de pelo menos um acordado com o motorista para manter vigia e garantir que não estamos sendo seguidos ou indo para uma armadilha.

Tendo emitido os comandos, Hancock virou sua atenção para Honor, cujos olhos ainda estavam fechados. Enquanto a estudava de perto, viu as linhas de tensão em sua testa e sua mandíbula estava cerrada, mesmo no sono. Quase como se ela estivesse com dor.


Mas por tudo que ela passou, mais provavelmente estava tendo um pesadelo.

Ele tocou suavemente no ombro dela, dando um cutucão. — Honor. Honor, você precisa acordar. Temos pouco tempo e precisamos trocar nosso veículo.

Suas pálpebras tremularam vagarosamente como se estivesse nadando seu caminho da inconsciência. Ele franziu o cenho por que ela sempre estava pronta sem reclamar, mesmo quando estava com muita dor. Mas ela nunca reclamou e manteve o passo com seus homens. Novamente, como não podia admirar esta mulher?

Ela lambeu os lábios e franziu a testa, quase como se estivesse confusa pela dificuldade que estava tendo de ficar completamente acordada. Ele viu o momento que a resolução se estabeleceu sobre seus ombros, sacudindo para longe qualquer névoa que esteve presente. Seus olhos cintilaram com determinação e rapidamente esquadrinhou seu ambiente. — Quanto tempo? — Ela perguntou. — Três minutos — Copeland falou do banco da frente.

Honor assentiu seu entendimento, enquadrando os ombros.

Minutos depois o veículo veio a uma parada abrupta, fazendo Honor balançar adiante, o cinto de segurança espremendo sua barriga. Para sua


surpresa, Conrad estava lá antes de Hancock pegá-la, e então cuidadosamente a colocou de volta encostada no assento.

Conrad saiu primeiro e então os outros foram saindo. Só Viper ficou atrás do volante. Hancock esticou a mão para soltar o cinto de Honor. Seu braço pressionou seu lado a fim de alcançar a tranca enterrado debaixo das dobras de sua burka.

Ela estremeceu e seu rosto ficou pálido. Mas que porra?

Ele soltou depressa a fivela e se preparou para ajudá-la a sair do veículo. Mas quando puxou seu braço para trás, o que tinha pressionado com força na lateral de Honor, ficou atônito ao ver sangue fresco manchando sua pele.

Medo agarrou sua espinha.

Ele ergueu uma mão para o rosto de Honor, encarando atentamente seus olhos. — Você está ferida? — Ele perguntou num tom suave.

Os olhos dela estavam arregalados e assustados. Ela viu o sangue no braço do Hancock. Estava pálida e trêmula para que seus lábios funcionassem para responder sua pergunta. — Eu não sei. Achei que não. Senti uma pontada de dor no meu lado, mas eu caí e só pensei que estava dolorido. Mas agora dói — ela disse, friccionando seus dentes.


Hancock xingou um palavrão e a culpa, não uma emoção com a qual estava bem familiarizado, agarrou seu peito como um torno. — Deixe-me te colocar no outro veículo. Não temos condição de parar. Mas vou dar uma olhada e verei o que está acontecendo. Se for sério, teremos que arriscar levar você para o hospital.

Medo imediatamente encheu seus olhos até quando ela balançava a cabeça. — Estou viva. Não estou morrendo. Só dói. E eu lidei com dor por mais de uma semana. Vou lidar com isto agora — ela disse calmamente.

Uma vez mais uma onda de orgulho o tomou. Ela simplesmente não sabia o significado da palavra desistir. Se apenas ele não fosse destinado a traí-la. Sacrificá-la para o bem maior. O mundo precisava de pessoas como ela, e ele estava de saco cheio que os bons eram normalmente os cordeiros dos sacrifícios. — Deixe-me te ajudar. Não sabemos o que está acontecendo e eu não quero que você piore isto — ele disse numa voz baixa.

Ela acenou a cabeça concordando.

Hancock se debruçou e deslizou um braço embaixo de seus joelhos e o outro entre suas costas e o assento, erguendo-a gentilmente, observando qualquer sinal de dor ou desconforto em seus olhos. Devia saber que não acharia nenhum, não importa quanta dor ela tivesse. Ela tinha orgulho e determinação demais para ceder e parecer fraca na frente dele e de seus homens.


Ele retrocedeu do interior e virou o rosto de Honor no seu pescoço para proteger os olhos dela da areia escaldante e que estava soprando. — Abra atrás — Hancock disse enquanto andava a passos largos em direção ao veículo à espera. — Honor e eu iremos lá atrás por algumas milhas. Preciso de uma superfície plana para que eu possa tratar seu ferimento. — Ferimento? — Conrad exigiu. — Que ferimento? — Eu não sei ainda — Hancock disse calmamente.

Conrad soltou uma série de obscenidades e continuou a murmurar e xingar baixinho enquanto abria o veículo e apressadamente arranjava um lugar confortável para Honor deitar. Então permaneceu atrás enquanto Hancock a posicionava cuidadosamente nos cobertores que Conrad estendeu. Mas Conrad não se moveu. De fato, chegou mais perto, encostando os cotovelos em Hancock, uma expressão sinistra no rosto.

Hancock não repreendeu seu homem. Debaixo da fúria, Hancock podia ver... preocupação. E culpa. Conrad assumiu que ela tomou uma bala designada a ele, e isso o comeria vivo. Hancock e seus homens, cada um deles, eram protetores. Sim, eles nem sempre protegiam os bons e inocentes. Às vezes se tornavam a própria coisa que eles caçavam tão implacavelmente a fim de tirar o mal no mundo. De forma que o inocente prevaleceria.

Só esta inocente ele não podia salvar. Seu destino já tinha sido decidido e escrito. Inalterável. Teria sido muito mais misericordioso para ela se tivesse morrido no bombardeio da clínica. Por que o curto futuro que ela enfrentava não passaria tão depressa. Não seria misericordioso. De fato, rasgaria sua alma, e no fim está enfraqueceria também, restando apenas uma concha vazia da mulher feroz que ela costumava ser. Ela daria boas-vindas à morte. Iria orar pela


morte. E isso somente faria seus capturadores ainda mais determinados a prolongar sua agonia hora por hora.

E ele era responsável. Ele teria feito aquilo para ela. Tornaria possível para ela ser tratada com menos consideração que um animal. E para que? Pelo bem maior? Esta era a filosofia que o Titan sempre mantinha como seu credo, até quando Rio liderou o Titan. O homem quem ensinou a Hancock tudo que ele sabia.

Hancock sempre acreditou nesse lema. Entendia isto. Vivia isto, respirava, arriscava sua vida para apoiar. Mas pela primeira vez, a ideia de ser responsável pelo sacrifício de Honor para que Maksimov, Bristow e NE9 venham abaixo e salvar centenas de milhares de pessoas inocentes no processo o deixava... doente. O repugnava.

Talvez estivesse na hora de pendurar isto. Desaparecer em algum lugar e começar uma nova vida onde não seria conhecido por ninguém e implacavelmente caçado. Em algum lugar onde podia estar sozinho, nunca tendo que lidar com pessoas inconscientes por quem ele perdeu sua alma para que eles continuassem suas existências ignorantes e felizes.

Mas não. Ele tinha família. De amor, não de sangue. Eles eram as únicas pessoas no mundo por quem ele sentia... qualquer coisa. Afeto. Amor. Lealdade inabalável. Não existia nada que ele não fizesse por qualquer um deles.

Ele não podia simplesmente sair de suas vidas e nunca retornar. Eles mereciam o melhor dele, afinal fizeram o mesmo por ele. Eles o salvaram. Deram-lhe propósito e um lugar no mundo, ainda que este fosse um lugar tão

9

NE – Nova Era


mergulhado em sombras e pecados que ele duvidava que algum dia visse a luz novamente.

Ele há muito tempo fez as pazes com o fato que não era um bom homem. Nunca seria um bom homem. Mas para sua família, ele podia e seria aquele homem ainda que fosse tudo uma mentira. Big Eddie, seu pai adotivo. E seus irmãos — Raid, um policial, e Ryker, um militar reformado que entrou na segurança pessoal depois da sua aposentadoria. Ouviu através de Eden que a KGI estava considerando chamar Ryker. Mas falou com ela meses atrás, e na época a avisou que estaria fora de contato por um período indefinido de tempo.

Eden. Sua irmãzinha que significava o mundo para ele. Ela era toda boa. Tudo que ele não era. Não era um homem que se assustava facilmente, aliás. Era tranquilo em face à adversidade, sua mente sempre calculando como um computador suas opções e possibilidades. E ele mantinha todas as suas missões impessoais. Nunca formando qualquer anexo ou vínculo com ninguém. Mas quase perder Eden — perdendo-a por várias horas quando ela suportou pavorosa tortura — o transtornou. Ele ficou apavorado. Fora de controle. Tremendo. Sentimental. Todas as coisas que considerava fraquezas em seu trabalho.

Mesmo enquanto considerava que se não tivesse nenhuma família nunca enfrentaria aquelas mesmas emoções desconfortáveis e reações, sabia que amava os Sinclairs quando não amava ninguém mais. Eles eram sua única âncora no mundo escuro em que ele estava sendo absorvido cada vez mais a cada dia que passava.

Sacudindo-se de volta para a tarefa à mão, ele olhou para Honor de relance para ver se ainda estava consciente. Ela estava, mas seus olhos estavam vítreos de dor, entretanto nem um único som passou por seus lábios firmemente


fechados. Não traindo tremor em seu corpo. A única evidência de sua tensão era os punhos firmemente enrolados de cada lado dela. — Eu serei cuidadoso — ele disse numa tentativa de reassegurá-la.

E aí não entendeu por que sentiu a necessidade de dizer qualquer coisa. Se ela não tivesse se colocado na linha de fogo, não estaria machucada e sangrando. Ele ainda devia estar puto, mas mentir para si mesmo não fazia nenhum bem. Não estava puto por que ela não seguiu ordens. Estava puto por que quando testemunhou o que ela fez, seu coração caiu no estômago e um medo... horrível... o tomou por ela ser morta. E não tinha nada a ver com o fato que se ela morresse sua missão iria para merda.

Desligue. Tudo. Seus pensamentos estúpidos e sentimentos. Ele começou a rolar o pesado material da burka por suas pernas acima. Quando chegou às coxas ele deu um silencioso agradecimento que ela vestia short atlético e um sutiã esportivo por baixo. A última coisa que ele precisava era começar a fantasiar sobre o que tinha que ser um magnífico corpo nu. Tinha problemas suficientes para lidar sem adicionar pensamentos libidinosos completamente impróprios. Já tinha fraquezas demais recentemente descobertas, e não tinha desejo nenhum de adicionar essa à lista. Inferno, não podia se lembrar da última vez que sentiu luxúria ou experimentou impulsos sexuais. Suas missões eram sua amante, a única coisa que lhe dava fidelidade inabalável. Transar era uma coisa que ele não tinha nem tempo nem desejo devido a quantas vidas dependiam dele.

Havia sangue espalhado por baixo de seu lado direito até passando por seu quadril, mas ainda não tinha conseguido chegar à fonte do sangue.

Finalmente, simplesmente arrastou a burka por cima da cabeça dela e lançou de lado. Quando olhou de volta, inalou fundo. Ao lado dele, Conrad xingou novamente.


Bem entre a parte inferior da costela e do quadril estava um sulco ainda sangrando com pelo menos quinze centímetros. — Pelo menos é só um arranhão — Conrad murmurou, mas a raiva ainda estava vibrando em sua voz.

Hancock cuidadosamente apalpou a área, forçando-se a não se afastar quando ela se encolheu. — Nenhum sinal de bala alojada no músculo ou tecido. Sangra muito, mas não é sério.

Ele levantou o olhar para Honor para medir a reação dela à sua avaliação, e viu alívio fervilhando em seus profundos olhos castanhos. — Ela necessita de pontos — Conrad disse com um cenho franzido.

Hancock abafou um sorriso por quão preocupado ele estava pelo bemestar da Honor apesar da imagem que ele projetava de ser um babaca malagradecido e cheio de raiva. — Sim, precisa. Eu posso fazer isto, mas não sou tão bom quanto você, e você tem muito mais treinamento médico. — Vou fazer — Conrad disse, empurrando e passando por Hancock, um kit médico em sua mão.


Alarme imediatamente registrou nos olhos de Honor, o primeiro sinal de medo nesta situação fodida inteira que ela permitiu que alguém visse. Então ela deu uma olhada em Conrad, que estava rastejando lá para trás com ela, e inquietação ondulou fora dela em ondas tangíveis. — Estarei bem aqui — Hancock disse num tom tranquilo.

Ela não pareceu nem um pouco aliviada. Seus olhos não deixaram Conrad nem uma vez, e cada vez que ele puxava algo do kit médico e colocava ao lado dela, seu pânico intensificava.

Porra. Ela estava se cagando de medo do seu homem, e estava ainda mais cautelosa depois que Conrad berrou com ela e deu-lhe um escaldante esporro. — Você ou Mojo não podem fazer isto? — Honor perguntou com lábios trêmulos.



CAPÍTULO 13 PARA o espanto de Honor, Conrad fez uma careta e arrependimento real brilhou em seus olhos. Ela ficou ainda mais chocada quando ele fechou a mão áspera em torno da dela muito menor e deu-lhe um aperto suave. — Você não está errada sobre mim — disse Conrad. — Eu sou um idiota insensível. Mas você merecia mais do que recebeu todos nós quando salvou a minha vida. Eu estava chateado, sim. Mas não pela razão que você provavelmente acredita. Eu estava chateado porque era o meu trabalho proteger você. Não o contrário. E se eu tivesse feito o meu trabalho direito, você nunca teria tomado uma bala por mim. Honor abriu a boca para argumentar, mas Conrad silenciou com um olhar escuro. — Eu também entendo por que você não quer que eu te suture. Você não confia em mim, tanto quanto em Hancock e Mojo. Mas não deveria. Eu não sou um bom homem. Mas eu posso te fazer pelo menos uma promessa. Eu vou fazer isso e isso será feito certo e vou fazer o meu melhor para manter um mínimo de dor. — Ce-certo — ela disse com voz trêmula. — Vamos acabar com isso para que possamos sair daqui. Hancock enviou-lhe um olhar de arrependimento. — Nós estamos saindo agora. Conrad vai te suturar na estrada. É a nossa única chance. Não podemos ficar em campo aberto por um tempo prolongado. — Eu vou anestesiar — disse Conrad com a voz mais suave que já saiu de sua boca. — E eu vou te dar uma injeção para dor antes de dar o primeiro ponto. Você não vai sentir nada. Eu prometo. — Obrigada — ela sussurrou, finalmente relaxando e aceitando a honestidade de Conrad e também o fato de que ele não iria machucá-la mais do que necessário.


As características de Conrad tornaram-se uma nuvem de tempestade mais uma vez e ela se encolheu contra os cobertores, rapidamente repensando sobre sua decisão de permitir que ele costurasse sua ferida. — Você não tem nada que me agradecer — disse Conrad ferozmente. — Eu é que tenho uma dívida de gratidão que possivelmente não posso esperar um dia para pagar. E Hancock e seus homens são igualmente gratos a você, não importa a postura ou o quanto eles possam agir como idiotas furiosos. Você nos assustou. Os olhos dela se arregalaram de surpresa. — Você é uma mulher corajosa, Honor. Eu trabalhei e lutei com aliados e contra inimigos. E ninguém jamais colocou seu corpo na frente do meu assim, para que eu não levasse um tiro e fosse morto. Então, sim, se você quer a verdade, estamos definitivamente chateados. Mas estamos chateados porque você poderia ter sido morta a tiros e nós teríamos falhado e não honrado a nossa promessa para manter você distante do alcance da NE. Calor tingiu suas bochechas e ela se forçou a desviar o olhar, não querendo que as lágrimas traidoras borrassem sua visão. — Não vou te machucar, Honor — Conrad disse em um tom suave que ela nunca teria imaginado vindo de sua boca. Era tudo o que podia fazer para voltar a uma avaliação anterior de que eles não eram bastardos insensíveis sem consciência. Ela ergueu o olhar para Conrad, pela primeira vez, procurando por tudo que esse homem tinha sofrido. Ele encontrou seu olhar, inflexível, mas os restos de arrependimento e a culpa ainda permaneciam. Ela levantou a mão fracamente e deslizou os dedos sobre Conrad. Ele reagiu como se tivesse levado um tiro e começou a puxar a mão dele, mas então parou seu movimento, permitindo que seus dedos enlaçassem através do seu. — Você acha que você é um homem mau. Por quê? As coisas que você faz são extraordinárias. Eu só vejo um grupo de homens que morreriam antes de deixar que a Nova Era me encontrasse e me sequestrasse. Eu só vejo o bem, Conrad, — ela disse em uma voz suave. — Quer que as pessoas vejam ou não. Mas eu vejo isso e vejo você, então pode mudar a atitude beligerante e deixar


de ser um idiota em torno de mim. Vocês salvam as pessoas com grande risco para suas vidas. Quem faz isso? — É o que fazemos — disse Hancock. — Este é o nosso chamado, se você optar por olhar para ele dessa forma. Mas tem sido sempre quem eu sou e quem somos, para livrar o mundo do mal, assim que inocentes não sofram como eles vivem sofrendo. E isso é em todo o mundo. Não devo ao governo norteamericano absolutamente nada. Seu tom de repente foi tão gelado, que ela estremeceu. — Eles viraram as costas para nós e, em seguida, tentaram nos caçar para nos derrubar e eliminar todos os membros da minha equipe. Meus esforços não são apenas restritos aos interesses dos EUA ou ameaças. O mal existe no mundo inteiro, e é isso que nós queremos parar. — E ainda assim vocês se consideram homens maus. Isso é um monte de besteira. Salvando vidas inocentes é a síntese do bom e corajoso. Não são muitos que dedicam suas vidas para livrar o mundo do mal. A sugestão de um sorriso flertou com os lábios, o que a deixou de boca aberta. Nenhum de seus homens nunca sorriu. Ela não tinha certeza se eles tinham todas as emoções, boas ou ruins. Suas vidas foram decididas por eles, e em seu trabalho, não podiam se dar ao luxo de ter emoções. — Hancock, pegue uma seringa com medicação para a dor. Eu quero que ela tenha isso primeiramente, assim estará relaxada e não com dor enquanto eu suturo sua ferida. A medicação para a dor aliviou um pouco, mas a dor ainda estava lá, embora tenha se preparado, determinada a não deixar ninguém vê-la como fraca. Ela se trancou em um vazio profundo, onde flutuou livre dos arredores. Mas ela foi incapaz de segurar o tremor, quando Conrad chegou onde a pele era mais macia. Conrad amaldiçoou e murmurou um pedido de desculpas. — Está tudo bem — disse ela. — Não pare. Basta fazê-lo. Eu posso aguentar.


Conrad balançou a cabeça, respeito piscando em seus olhos. Mas ele fez o que ela disse e meticulosamente deu os pontos, mas não antes de instruir Hancock para administrar outra injeção de medicação para dor. Após a segunda dose, ela já não tinha que se esconder em um buraco escuro e profundo. Ela flutuou ao seu redor e foi com o vento, não sentindo nenhuma dor ou ansiedade. Antes que ela percebesse, Conrad tinha terminado e eficientemente enfaixado a ferida depois de limpá-la cuidadosamente. — Temos uma longa viagem. Você deve dormir — disse Conrad rispidamente. —Os remédios para dor vão te ajudar e você não estará ciente do terreno acidentado, nem vai causar dor desnecessária. Ela balançou a cabeça lentamente, seus reflexos entorpecidos. E então o medo tomou conta e seus olhos se abriram quando ela tinha quase caído no esquecimento. — Eu sou indefesa assim — disse ela em uma voz em pânico. — E se tivermos problemas? Eu vou ser completamente inútil. Vou matar todos nós. Foi o mesmo argumento que tinha usado antes, quando ela foi fortemente medicada, só que desta vez sem a diversão que brilhava nos olhos de Hancock como na primeira vez que ela disse quase exatamente essas palavras. Na verdade, absoluta seriedade foi gravada em sua expressão. Seriedade e uma promessa brilharam intensamente em seus olhos e ela sentiu o conforto da troca entre eles, sem necessidade de palavras. Às vezes, um único olhar dizia mais que mil palavras. Hancock colocou a mão na testa dela tirando o cabelo da frente. — Não se preocupe com isso. Você não vai ser de nenhuma utilidade para nós, se não descansar e se recuperar. Nós iremos protegê-la. Agora vá dormir, Honor. Eu vou acordá-la quando chegar a hora. Ela franziu a testa, mas a força da medicação a estava deixando tonta e já não podia lutar contra seus efeitos. Convocando seus últimos momentos de coerência, ela agarrou a mão de Conrad, pensando que ele estaria mais disposto a ouvir seu pedido do que Hancock.


— Prometa-me — disse ela, chocada com o quão difícil era conseguir que as palavras saíssem de seus lábios. — Prometa-me que se eu o impedir de qualquer maneira, você vai me deixar e salvá-los. Eu já enganei a morte muitas vezes. É só uma questão de tempo antes que ela ganhe, e eu me recuso a permitir que você morra tentando evitar o inevitável. A resposta de Conrad foi explosiva. — Você perdeu o juízo? Mas ela já tinha escorregado, desaparecendo sob o feitiço da medicação. Conrad voltou seu olhar furioso para seu chefe de equipe, que não parecia mais feliz em relação ao pedido de Honor. — Jesus Cristo — Conrad murmurou. — Ela é de verdade? —Sim, ela é, — Hancock disse calmamente. — O que torna a nossa traição a ela ainda mais desprezível. Os lábios de Conrad se transformaram em uma linha branca apertada, raiva e impotência piscando em seus olhos. — Tem que haver outra maneira, Hancock. Uma que não envolva esta mulher inocente, caralho! — Você não acha que eu pesei todas as opções? — Hancock estalou, seu controle cuidadosamente construído, se desgastando precariamente. Ele estava mostrando uma emoção que jamais mostrou. Mas, em seguida, também estavam seus homens. — Você não acha que se eu tivesse alguma outra maneira de derrubar Maksimov, eu faria isso? Honor é nosso único meio de chegar perto o suficiente de Maksimov para eliminá-lo para sempre. Se houvesse uma maneira, qualquer uma, eu pularia tudo sobre ela e enviaria Honor para casa em um piscar de olhos, mas porra, ela é a única maneira. Não temos que gostar. Nós fodidamente não gostamos. Mas isso não muda o que têm que ser. Suas palavras foram atadas com amargura. Raiva, ódio. Arrependimento. Culpa. As coisas que ele nunca se permitiu sentir — coisas que ele era incapaz de sentir — porque sentindo tudo isso, estava pedindo pelo fracasso. E ele não falharia uma terceira vez. Muitas vidas dependiam disso, seu último tiro “e somente esse” restava para eliminar Maksimov para sempre. — Ela não merece isso vindo de qualquer um de nós — disse Conrad amargamente.


Hancock suspirou porque, droga, isso foi precisamente o que ele não queria que acontecesse. Seus homens respeitando Honor, admirando sua coragem e resistência, e onde antes nunca tinham sofrido um ataque de consciência sobre fazer o trabalho, agora eles se opunham inflexivelmente em entregar Honor para a tortura indizível e eventual morte. Inferno! Seria mais amável se eles apenas atirassem nela e acabassem logo com isso. Mas então Maksimov iria escapar novamente. Voltava sempre para isso. Maksimov e a sua busca incessante de um monstro do qual o mundo nunca tinha conhecido, a qualquer custo. Maldição. Qualquer custo. Honor. Ela era o custo de ter sucesso em sua missão e ele odiava a si mesmo por não ter qualquer outra forma. Nenhuma outra escolha. Ele teria que viver com sua maldita consciência para o resto de sua vida. — Não, ela não merece isso — admitiu Hancock. — Mas não temos escolha, Conrad. Você sabe e é por isso que está tão chateado. Maksimov é responsável por inúmeras mortes e sofrimento sem fim. Ele tem que ser derrubado, não importa o que aconteça. Eu não gosto disso mais do que você, mas a missão vem em primeiro lugar. Como faz o bem maior. — Se eu nunca ouvir “para o bem maior” de novo vai ser ótimo — Conrad cuspiu. Hancock estava tão cansado de carregar essa bandeira e aderir a esse lema, mas não disse para seus homens. Se ele mostrasse alguma fraqueza, qualquer relutância em levar a cabo a missão que eles eram responsáveis, seus homens se revoltariam. E ele não podia se dar a esse luxo. Eles estavam muito perto. Ele podia sentir o sabor da vitória. Sentir o cheiro. Poderia imaginar a morte de Maksimov e o fim de um reinado de terror diferente de qualquer outro no mundo. O rosto de Conrad estava contorcido em uma carranca, e ele arrumou os suprimentos de volta para o kit médico e então rastejou sobre o banco de trás, deixando Hancock com Honor inconsciente. Hancock não se moveu por um longo tempo. Ele simplesmente permaneceu de joelhos olhando para uma mulher corajosa. A mulher mais corajosa que ele já encontrou. A mulher mais altruísta que ele já conheceu. E ele odiava a si mesmo pelo que devia fazer.


Finalmente, ele se acomodou e deitou ao lado dela, então seu corpo foi de encontro ao dela. Prestando atenção ao seu lado ferido, ele colocou um braço sob sua cabeça, assim ela se aconchegava e não absorvia as colisões duras, enquanto eles corriam através do terreno. Em seguida, ele deslizou seu outro braço sobre seu abdômen, segurandoa suavemente contra ele e colocou a cabeça ao lado da dela, oferecendo conforto, mesmo enquanto ela dormia.


CAPÍTULO 14 — DÊ-LHE um tranquilizante, — Hancock disse severamente a Conrad. — Eu não quero que ela nos veja entrar no avião. Vai dar-lhe uma falsa esperança e eu não vou mentir para ela. É melhor se ela não esteja ciente do que está acontecendo até chegarmos a Bristow. — Mau mojo — murmurou Mojo, uma carranca profunda em suas feições maltratadas. Viper, Henderson e Copeland não pareciam menos chateados. — Nada como soltar um cordeiro entre uma matilha de lobos — disse Copeland com desgosto. — Escutem — disse Hancock, fervendo com impaciência. — Eu não gosto disso mais do que vocês. Eu não sou um completo canalha sem coração. Mesmo que até recentemente, ele teria argumentado até a morte que ele era exatamente isso. Um idiota insensível cuja alma era negra e seu coração há muito tempo tinha se perdido. Ele não se arrependeu salvar Elizabeth, uma menina de doze anos de idade, inocente. Ele não se arrependeu de salvar Grace, esposa de Rio. E ele tinha a maldita certeza de não se arrepender por deixar Maksimov escorregar por entre os dedos novamente para salvar Maren, uma mulher que era boa até os dedos dos pés e tinha um coração tão grande quanto à China. Mas desta vez, ele não poderia permitir que a culpa, consciência ou qualquer outra coisa o impedissem em sua missão. Continuou. — Mas Maksimov tem que ser eliminado. Eu deixei a emoção nublar meu julgamento, não uma, mas duas vezes quando eu estava tão perto de derrubá-lo. Nós não teremos outra oportunidade. Esta é a nossa última e única chance. Eu gosto do que temos de fazer? De jeito nenhum. Mas você pode viver com sua consciência se salvar uma mulher em detrimento de centenas de milhares? Porque Maksimov cresce mais ousado e mais poderoso a cada dia. Se ele não for parado, muitos vão sofrer. Se o pararmos, só uma pessoa sofre. Honor.


— E isso deveria nos fazer sentir melhor? — Henderson murmurou, chocando Hancock, mostrando que ele sentia alguma coisa. Para essa operação, todos os seus homens tinham se transformado em homens que Hancock não mais reconhecia. Eles eram todos canalhas insensíveis. Eram do que os assassinos eficientes eram feitos. — Tem que haver outra maneira — disse Conrad teimosamente. — Nós não podemos fingir? Enviar fotos de Honor e organizar um encontro para a troca e, em seguida, eliminá-lo, sem Honor nunca estar em risco? — Você sabe que não posso fazer isso — disse Hancock em voz baixa. — Você está esquecendo-se de Bristow. Estamos levando-a para Bristow porque Honor é a forma que Bristow encontrou de se dar bem com Maksimov, e para Maksimov, Honor é a moeda de troca final com a NE. Ele não vai levar nada a não ser pelo valor nominal. Ele é inteligente demais para cair em um truque. Vai saber se nós mesmos tentarmos foder com ele de novo. Uma rodada de maldições cruéis rasgou o ar. Hancock ecoou cada uma em sua mente, mas porra, eles não tinham escolha. Às vezes, o bem maior chutava as bolas. Ele estava cansado de decidir se o que era o bem maior era mesmo. Ele não era juiz e carrasco, mesmo que isso era exatamente o que tinha sido na última década. Mas anos de ser juiz e júri e ser um instrumento de justiça estava pesando fortemente sobre ele, e estava cansado. Cansado de decepção. Cansado de alinhar a sua lealdade com o inimigo para que ele pudesse se tornar a mesma coisa que ele desprezava acima de tudo. Ele só queria... Paz. Ser capaz de dormir à noite sem os pesadelos de seu passado se repetindo mais e mais em sua mente torturada. Ele era um grande tolo por ter pensado que era mesmo uma possibilidade. Sabia que agora, quando antes tinha sido capaz de mentir para si mesmo e achou que tudo ficaria bem depois que ele deixasse o comando. Porque Honor torturaria não só os seus sonhos, mas todos os momentos. Ele nunca teria paz. Não merecia isso.

Sem dizer uma palavra, Conrad içou-se sobre o banco de trás, para onde Hancock ainda estava com Honor aninhada em seus braços. Em qualquer outro momento, ele cortaria seu braço antes que permitisse que seus homens o vissem exibindo ternura. Qualquer coisa, mas apenas a personalidade robótica,


desumana que se tornou uma segunda natureza para ele. Mas agora? Ele não dava à mínima. Todos os seus homens tinham um fraquinho por Honor. Eles não estranhariam o fato dele oferecendo conforto. Especialmente desde que era o mínimo que poderia fazer enquanto planejava entregá-la a um monstro. Conrad pegou o kit médico e preparou um sedativo. Então ele olhou para Hancock. — Quanto tempo você quer que ela fique fora do ar? — Até que nós a levemos até Bristow. Eu prefiro que ela desperte em uma cama e não conheça imediatamente seu... Destino. Foi adiando o inevitável, mas ele queria dar a ela estes últimos momentos. Enquanto ele podia conceder-lhe. Era cruel, ele supôs, dar-lhe esperança. Mas se ela pudesse ter apenas algumas horas mais, desprovidas de medo e da sensação horrível de traição que sentiria no momento em que se deparasse com a verdade, então ele daria àquelas horas a ela. Conrad fechou a cara novamente, mas encheu a seringa com medicação. — Ela vai ficar fora por um tempo — disse ele enquanto gentilmente inseriu a agulha em seu quadril. Quando ele terminou, arrumou os suprimentos e, em seguida, arrastou-se sobre o banco traseiro sem outra palavra. A atmosfera era tensa no veículo. Ninguém falou, mas, isso não era incomum. Eles não eram um grupo tagarela procurando assunto. A maioria da comunicação era não verbal de qualquer maneira. Eles trabalharam juntos por muitos anos. Poderiam antecipar os movimentos uns dos outros sem a necessidade de ser falado. E eles tinham seu próprio conjunto de sinais de mão. Mas esse silêncio era diferente. Não era o silêncio abraçado pelos homens que viveram e respiraram a equipe. Era um silêncio irritado, mal-humorado, impotente, e nenhum deles estava feliz com isso. Eles estavam chateados por que se importavam. E eles estavam tão chateados que tinham considerado, mesmo por um momento, interromper sua missão para salvar uma mulher corajosa.


•••

Honor tinha dormido, como Hancock pretendeu pelo restante da sua jornada perigosa sobre o deserto até o aeroporto onde o avião os esperava e os levaria até Bristow. Ele nunca saiu de seu lado, e em seu sono, ela procurou o calor do corpo, aconchegando-se ao seu contorno duro, sua suavidade mesclando perfeitamente como eles se encaixavam. Era, um pensamento estúpido e absurdo, mas ele não poderia impedi-lo de surgir através de sua mente. Assim como não poderia negar o conforto que a sua proximidade lhe dava. Conforto que ele não merecia. Instintivamente, ele sabia que ela precisava disso. Toque humano. Conforto. Contato. Ela tinha passado por uma provação terrível e ele estava entregando-a a uma pior. Não havia nada que pudesse fazer sobre seu destino, mas ele poderia, pelo menos, oferecer a ela um pouco de paz, descanso da tempestade inevitável. E isso não era tão desagradável como teria pensado. A ideia de que ele poderia oferecer a alguém, especialmente uma mulher, qualquer medida de conforto era algo que teria pensado não apenas impossível, mas não no mínimo pouco... agradável ou que iria gostar. Havia algo sobre esta pequena e feroz mulher que o pegou. E isso o irritou. Nada chegava a ele. Não quando ele estava em uma missão, para o bem maior. Ele não podia se dar ao luxo de ser humano, sentir emoção. Emoção o poderia matar. Poderia matar seus homens. E ele lhes devia mais do que isso. Eles eram ferozmente leais a ele e uns aos outros. Colocavam suas vidas em risco por ele, assim como ele fazia para eles, muitas vezes. Permitir uma distração, como a mulher deitada aninhada em seus braços seria um... Desastre. Enquanto ele estava lá, definitivamente não descansando como ela fazia contra ele, percebeu que estava ainda mais chateado por ela confiar nele. Talvez ela não tivesse sequer reconhecido, mas suas ações desafiavam qualquer pensamento que tinha a respeito de sua confiabilidade. Ela relaxou com ele quando estava vulnerável. Ferida, com medo, sozinha. Ela procurou instintivamente o seu conforto e força, agarrando-se a ele quando ela não tinha mais nada no mundo para segurar. Ele se tornara sua âncora. Em sua mente, ele era o seu salvador, quando ele era o pior tipo de bastardo.


Ele era pior do que os animais que caçava. Pior do que Bristow e Maksimov. Porque nenhum daqueles homens sequer tentou mentir para ela. Ganhar a confiança dela. Fazê-la acreditar que eles eram algo que não eram. Só que ele fez “estava fazendo” isso. E queimava como ácido em suas veias. Ele devia a ela a verdade, que ele não era o seu salvador. Que era o instrumento do seu tormento indescritível e eventual morte. Então ela poderia odiá-lo. Nunca mais poderia abrigar ilusões sobre quem e o que ele era. E ele nunca teria que olhar nos olhos cheios de traição quando ela percebesse o quão errada estava sobre ele. Mas ela provou que era uma lutadora, e ele não podia se dar ao luxo por qualquer resistência. Qualquer chance que ela escapasse — e ela tentaria. Mais e mais. Os atrasaria e correria um risco desnecessário. Mesmo que seu retorno fosse inevitável. E assim ele mentiu. Não por palavras. Mas por ações. Por omissão. Ele não a corrigiu na suposição de que ele estava aqui para levá-la para casa. Ele deixou-a tirar suas próprias conclusões, racionalizando a si mesmo que não era culpa dele se ela tirou conclusões erradas. Era o pior tipo de engano. Pior do que mentir descaradamente. Sim, ele devia a ela a verdade, mas era a única coisa que ele não podia lhe dar. Quando o veículo chegou a uma parada abrupta, Hancock a ancorou automaticamente mais firmemente para que ele absorvesse o choque em vez dela. Somente quando as portas se abriram ele a soltou, e ergueu a cabeça para ver o rosto sombrio de Conrad olhando para ele com resignação. — O jato já está em funcionamento. Precisamos carregar e ir embora. Nós não estamos completamente fora da zona proibida e esses idiotas têm mísseis guiados por calor que poderiam nos derrubar. Hancock acenou com a confirmação e, em seguida, suavemente libertouse do calor de Honor, movendo-se lentamente para que ele não a acordasse de seu sono induzido por drogas. — Prepare outra seringa — Hancock se dirigiu a Conrad. — Apenas no caso de que ela desperte durante o voo. Eu a quero fora até que esteja em um quarto e não acordar pensando que está em perigo imediato.


Ele já havia dito isso. Era desnecessário para Hancock se explicar novamente. Era algo que ele nunca fez. Ou tinha feito. Até agora. Sentia como se ele estivesse justificando suas ações, suas decisões. Se defender. E isso realmente o irritou. Os olhos de Conrad piscaram, o único sinal externo de aversão do homem pela missão, mas ele não discutiu. Ele apenas acenou com a cabeça e arrastou o kit médico na parte de trás quando Hancock rastejou sobre Honor para sair. Ele não aceitou a oferta de Copeland para ajudar a tirar Honor do veículo. Honor era responsabilidade de Hancock. Só dele. Seus homens já estavam já inquietos, sua determinação geralmente inquestionável, estava vacilante. Ele não os colocaria na posição de sentir que contribuíam ainda mais para o destino de Honor. Este pecado era para ele, e só ele, suportar para sempre. Não haveria expiação. Nem benevolência para alguém como ele. Já não havia redenção, mesmo antes de Honor, mas mesmo se ele tivesse alguma chance de redenção, isto teria selado a sua condenação eterna. O inferno era bom demais para alguém que tinha vivido sua vida derramando o sangue dos outros e sacrificando inocentes para a porra de um bem maior. Como ele poderia enfrentar até mesmo sua família depois disso? Como ele poderia olhar nos olhos do homem que considerava um pai? Enfrentar seus irmãos. E Eden. Um anjo com mais compaixão e bondade em sua alma do que qualquer outra pessoa que ele já tinha conhecido. Com exceção de... Honor. De alguma forma, sua traição a Honor parecia ser tão imperdoável como se ele tivesse sacrificado Eden. Ele tinha deixado cair o disfarce de justiça e sua busca de Maksimov, não uma, mas duas vezes, para salvar outros inocentes. Então, por que não Honor? Se ele fosse realmente honesto, ele admitiria para si mesmo, para seus homens, que esta ser sua última chance era besteira. Havia sempre uma outra oportunidade se tivessem tempo e paciência. Mas a paciência era algo que ele estava ficando rapidamente sem. Sua determinação em acabar com ele agora tinha pouco a ver com ser seu único tiro e muito mais a ver com o fato de que Hancock estava cansado e ele queria sair. Seu egoísmo custaria a Honor... tudo. Porque ele foi consumido pela culpa, uma emoção que ele pensou que tinha se tornado imune há muito tempo


atrás, e não podia mais continuar com essa existência vazia e sem alma. Era uma escolha, e não para trazer Maksimov à justiça rápida ou não, mas entre ele e Honor. A própria vida para Hancock assim que pudesse completar sua missão final e ir embora seria viver uma meia-vida sem significado, cor ou propósito. Ele existiria. Nada mais. Nada menos. Ele poderia acabar com tudo e simplesmente se matar, mas seria muito fácil e ele não merecia a paz final. Ele merecia acordar todas as manhãs e olhar no espelho para o homem que tinha fodido uma mulher bonita, altruísta só assim ele poderia estar por baixo e não permitir que a escuridão que sempre o invadia se espalhasse como uma mancha do mal sobre sua alma para apagar a últimos vestígios de humanidade que ele possuía. Reverentemente, enquanto ele carregava um tesouro precioso, ele embalou Honor em seus braços e embarcou no pequeno jato. Continuou andando, passando as três filas de assentos na parte da frente do avião para a parte de trás, onde havia uma sala de estar que abrigava um pequeno sofá e duas poltronas de couro. Usando seu ombro, ele abriu a porta na parte traseira do avião e entrou no pequeno quarto que abrigava uma cama de casal com apenas espaço suficiente que ele se espremesse junto com ela entre as paredes. Sopesando seu peso leve para que pudesse libertar uma das mãos, ele puxou as cobertas para trás e posicionado um dos travesseiros para que ele pudesse colocar Honor para baixo e em conforto. Ele a colocou sobre o colchão e gentilmente baixou a cabeça até que ela encontrou o travesseiro. Ele ficou tenso quando ela se agitou rapidamente e, em seguida, soltou a respiração quando ela simplesmente emitiu um suspiro e se aconchegou mais profundamente no travesseiro. Ele começou a puxar as cobertas sobre seu corpo, mas hesitou, sabendo que ele precisava verificar sua ferida enquanto ela ainda estava sedada e certificar-se que os pontos estavam bem e não estava sangrando. Ele faria tudo assim que eles estivessem no ar. Por enquanto, ele descansou seu grande corpo na beirada. Ele amaldiçoou quando bateu com a cabeça na parede quando ele


tirou as botas. Custaram muitas manobras cuidadosas para realizar a tarefa nos parâmetros muito estreitos do quarto. A cabeça de Hancock veio imediatamente para cima, seus olhos afiados. Não tinha havido nenhuma batida na porta, mas ele soube imediatamente quando abriu até mesmo como silenciosamente como tinha sido feita. Conrad não disse nada. Ele nem sequer olhou para Honor. Na verdade, parecia que ele fez muito esforço para não colocá-la em sua linha de visão, com o rosto frio e ilegível, seus olhos pretos, do assassino que todos eles eram quando ele simplesmente estendeu a seringa que Hancock tinha solicitado. Hancock tomou da mão de seu homem e Conrad simplesmente se virou e saiu não se movendo nem uma única vez na direção de Honor. Hancock fechou os dedos ao redor da seringa, odiando-se um pouco mais a cada respiração. Ele nunca gostou de si mesmo, mas nunca teria pensado que se odiava até... Agora. Ele sabia que seu trabalho era brutal. Que para os outros, ele era um monstro sem coração. Uma máquina, não humano. Ele nunca tinha odiado a si mesmo, porque ele sabia que o que ele fazia era necessário. E justo. Mas agora? Auto aversão permeava cada batimento cardíaco. Porque não havia nada justo sobre enviar uma mulher inocente para o inferno, não importando quantas vidas ele salvaria no processo.


CAPÍTULO 15

HANCOCK apenas cochilou levemente, não se permitindo cair totalmente no sono. De alguma forma, Honor tinha mais uma vez procurado seu corpo e estava enrolada nele como um gatinho. Sua camisa estava firmemente agarrada em suas mãos, mesmo durante o sono, como se estivesse segurando a única coisa sólida em sua vida. Mesmo as pernas estavam entrelaçadas com as dele, e ela descansou em seu lado ileso e sua cabeça estava aninhada, não sobre o travesseiro onde ele a tinha colocado, mas em seu ombro. Ele podia sentir o leve sopro na sua respiração, calorosamente ao longo de seu pescoço, e ficou maravilhado como algo tão inocente e benigno o fazia se sentir... Bem. Sentiu-se bem, apenas pelo fato de segurá-la. Certo. Como se ela pertencesse ali. Sob sua proteção. Ele bateu a porta no pensamento tão rápido que quase se encolheu. Ele não era seu protetor. Mas o pensamento fugaz dera uma feroz, ainda que breve satisfação. Não conseguia se lembrar de sentir algo tão bom. Ele não tinha muita experiência com o bem. O mau ele poderia segurar, processar e compartimentalo. O bem? Não muito. Esse breve lampejo foi quase inebriante que por um momento tinha contemplado ser o bom rapaz. O cavaleiro de armadura brilhante com que Honor parecia considerá-lo. E isso era perigoso. Não, não era perigoso. Era mortal. Porque ele poderia facilmente tornar-se viciado a uma emoção negada a ele até aqueles poucos segundos atrás. Não tinha muitas horas para suportar e manter o foco até... Ele fechou os olhos, chocado com a dor que estilhaçou seu coração com o que estava por vir. Algo que sentiu suspeitosamente como... tristeza... filtrando lentamente em suas veias, rastejando em seu coração, enchendo-o com uma dor estranha. Ele foi abençoadamente distraído da direção de seus pensamentos, e do perigo que representava, quando Honor se agitou, inquieta contra ele. Podia


sentir cada movimento dela, sabia que ela estava saindo gradualmente da névoa do sedativo, voltando à sua consciência. Ainda não. Agora não, caramba. Ele alcançou cegamente atrás dele onde a seringa preparada estava por trás de suas costas. Deixara ali para ter fácil acesso e pudesse pegá-la enquanto a estava segurando como agora, injetar-lhe mais se ela acordasse antes que ele quisesse. Mas, principalmente, porque ele era um covarde e queria adiar o momento em que ela já não olhasse para ele como se fosse algum tipo de herói maldito e em vez disso olhasse para ele com todo o desespero da traição. Ele não queria ver o olhar acusador em seus olhos. Sua imaginação conjurou a imagem bem o suficiente por conta própria e foi o suficiente para deixá-lo... machucado. — Hancock? — Ela sussurrou contra seu pescoço. Ele congelou no processo de destapar a seringa com uma mão, mas, em seguida, com cuidado, de modo a não assustar ou amedrontá-la, ele deslizou o braço por sobre o corpo e colocou a mão em seu quadril, a seringa estendida entre as pontas dos dedos para que ela só sentisse o calor de sua palma. Mesmo com seus sentidos embotados pela medicação e tendo vivido a cada hora dos últimos dias em constante medo de ser descoberta, ela soube imediatamente com quem estava. Sem pânico, sem medo de que tivesse sido capturada pelas pessoas que a caçavam. Ela estava completamente relaxada e confiante de que estava a salvo. — Estou sonhando? — Ela disse em um tom sonolento e confuso. Era uma compulsão, nada mais. Ele não poderia ter controlado isso nem mesmo se sua vida dependesse disso. Ele roçou os lábios sobre a testa, na linha dos cabelos. — Sim querida. É apenas um sonho. Continue dormindo e sonhando com o bem. Sua testa enrugada como se estivesse tentando entender sua afirmação e ponderando a verdade dela. Mas então ela o chocou e o assustou até a morte, e ele não era um homem que se chocasse com alguma coisa.


— Então, se isto é um sonho, você vai me beijar? — Ela perguntou em voz baixa. — Se é um sonho, não é real, por isso não vai doer nada. E você nunca saberá que me beijou porque este é o meu sonho, não o seu. O pensamento correu através de sua mente, antes mesmo que ele estivesse ciente de que estava lá. Não. Não era apenas o seu sonho. O meu também. Fodase tudo, mas esta missão tinha FUBAR10 escrito sobre ela. Ele prendeu a respiração, incapaz de fazer qualquer coisa mais do que ficar ali rigidamente, o corpo moldado ao seu como uma luva. Um ajuste perfeito. O que diabos ele deveria fazer? Outra emoção completamente estranha o agarrou pelo pescoço. Pânico. Se ele a beijasse, faria sua traição ainda pior. Se não a beijasse, ele negaria o conforto que ela obviamente queria — precisava. E ele prometeu dar-lhe nada mais do que era bom, até que chegasse o momento que a entregasse ao inimigo. Maldição. Porra! Ele já estava condenado ao inferno. Uma eternidade de tormento, dor infinita e tortura. O que era mais um pecado no topo da montanha, que ele já tinha cometido? De alguma forma, beijar uma mulher bonita era pouco em comparação com todo o sangue que tinha derramado. — E é me beijar, o que você quer que aconteça no seu sonho? — Ele perguntou em um murmúrio abafado, não querendo puxá-la ainda mais perto da plena consciência. Ele tinha a seringa tão perto de sua carne, e não queria que ela acordasse completamente. Inferno, ele nem sequer queria que ela se lembrasse disso. Apenas tornaria tudo pior quando... Ele sacudiu o pensamento de novo exatamente quando ela sussurrou e se aninhou contra seu pescoço.

10

A expressão FUBAR se deriva de um termo militar "fodidos acima além de tudo / qualquer reconhecimento / reparo / razão / redenção."


— Sim. Você não é o grande homem mau que quer que todos pensem. Eu vejo você, Hancock. Talvez outros não, mas eu faço. Sua respiração escapou em um silvo de choque e surpresa, e a culpa o eviscerou, consumiu-o até que ele literalmente tremia com isso. Antes que pudesse arriscar mais nesse território, era melhor ficar sozinho, ele rapidamente inseriu a agulha e empurrou a medicação em seu corpo. Ela vacilou, sua boca deixando de tocar sua garganta, mas ele jogou a seringa para fora da cama e rapidamente levantou a mão livre para o queixo, inclinando-o para cima de modo que sua boca poderia capturar a dela, engolindo qualquer protesto ou pergunta que ela poderia ter expressado. Seu corpo inteiro sacudiu como se tivesse sido atingido por um raio. Cada descrição piegas que alguma vez escreveram sobre química, compatibilidade, um primeiro beijo de repente era apenas muito real. Mesmo em um avião, ele sentiu como se toda a terra se deslocou abaixo dele. Um terremoto no ar. Ele aprofundou o beijo, porque ele estava impotente para fazer qualquer outra coisa. Sua boca era como o ímã o mais forte. Ele não poderia ter se afastado. Um exército inteiro não poderia ter separado seus lábios. Era como beber sol líquido. Assim que os seus lábios se encontraram com os dela, ela abriu a boca em um suspiro ofegante e ele a inalou. A consumiu. Ela tinha um gosto mais doce do que qualquer coisa que ele já tinha conhecido. Ele pretendia que fosse um beijo suave, nada mais. Apenas o suficiente para satisfazer seu desejo por um breve momento de intimidade. O contato humano. Ternura em vez da dor e da violência que tinha experimentado por tantos dias. Mas assim que ele a provou sentiu o choque elétrico por todo o caminho até os dedos dos pés, todos os pensamentos de um beijo casto e segurála até que ela dormisse novamente, fugiram. Ela fez um zumbido gutural que vibrou sobre sua língua. Ele lambeu o interior de sua boca. Provou cada centímetro do gostoso paraíso. Cetim e seda, aveludada. O calor entre eles rivalizava com o deserto escaldante que tinham viajado. Seus dedos se curvaram mais firmemente em seu peito, as unhas, as poucas que não tinham sido quebradas, marcando em sua pele.


Ele usaria as marcas daquelas unhas, e por um breve momento ele teria um lembrete de sua marca nele. Sua marca. Ele desejou com o inferno que poderia tê-las permanentemente tatuadas em sua pele. Ele marcaria uma das melhores memórias e seria como um lembrete do que ele insensivelmente destruiu. Seu domínio sobre o queixo que apertava, em seguida, soltou quando ele espalhou os dedos para agarrar a mandíbula dela, segurando-a no lugar enquanto ele devorava a doce inocência que ela oferecia. Ele já estava indo para o inferno e esta... esta seria uma memória que o sustentaria através da escuridão que se aproximava. Um momento único capturado no tempo que poderia fazer uma pausa e repetir várias vezes, então, lembrou e viu outras imagens horríveis de Honor. — Eu nunca tive um sonho melhor — ela falou arrastada, as pálpebras já fechando sob seus olhos, pelo efeito da medicação que a puxava mais fundo em sua teia. — Tantos pesadelos. Eles nunca param. Primeira vez que eu tenho um sonho... bom. Obrigada... A voz dela começou a se dispersar, mesmo quando ele a beijou novamente, e ele continuou a beijá-la mesmo quando ela ficou completamente mole e seus lábios se afrouxaram. E quando ele varreu os lábios, suavemente sobre sua bochecha, seu estômago se apertou quando saboreou suas lágrimas. Ele fechou os olhos e colocou seu braço ao redor dela, arrastando-a mais firmemente contra seu corpo enquanto estava consciente de seu lado ferido. Ela agradeceu-lhe. Deus ajudasse a todos. E ela chorou porque pela primeira vez seu sono não foi preenchido com terror e morte. Ele queria bater o punho nas paredes até que suas mãos sangrassem. Ele queria matar alguém. Bristow, Maksimov, Nova Era. Todo o bando de miseráveis. Cada pessoa que iria colocar as mãos em Honor para machucá-la e aterrorizá-la, ele queria seu sangue. Mas acima de tudo queria o seu próprio. Ele era o maior monstro de todos. Porque se não fosse por ele, os bastardos nunca colocariam as mãos sobre ela.


CAPÍTULO 16 HONOR lutou através do véu pesado da neblina densa em torno dela. Seus reflexos eram fracos e sua língua estava grossa em sua boca. Ela estava semiadormecida e ainda não conseguia reunir forças para abrir suas pálpebras. A palpitação maçante em sua cabeça fez sua presença conhecida. Sentia sua boca como algodão e até mesmo com os olhos fechados, os sentiam secos e ásperos, como se uma lixa os cobrisse em vez de suas pálpebras. Enquanto ela continuava lentamente buscar sua lucidez, se deu conta de que estava... confortável. Suavidade a cercava, em conformidade com o seu corpo de modo que cada parte dela estava amortecida. Mesmo a dor em sua cabeça diminuiu um pouco quando registrou a suavidade aveludada amortecendo a cabeça. Ela soltou um suspiro suave. Isso tinha que ser outro sonho realmente bom. Não tão bom como aquele onde Hancock a tinha beijado, mas ainda era bom. Seus lábios se viraram para baixo em uma careta enquanto ela processava a última informação que seu cérebro lento mandou. Nada tão realista que poderia ser um sonho. Se ela ignorasse a secura de sua boca, ainda podia sentir o gosto dele. Os efeitos nefastos daquele beijo quente e sexy — como o pecado. E foi delicioso. Ela quase gemeu quando a memória se tornou mais clara e lembrou o quanto bem ele a tinha beijado. O que foi que ele perguntou a ela? E é me beijar, o que você quer que aconteça no seu sonho? E não foi um sonho. Ele tinha falando com ela como se ela estivesse sonhando, garantindo que ela realmente queria que ele a beijasse. A dúvida a importunava. Por que ele fez isso, então? Ele queria beijá-la ou estava apenas dando a ela o que ela pediu? Hancock não parecia um homem que faria qualquer coisa que não quisesse. E certamente ninguém iria forçá-lo a fazer qualquer coisa.


E quanto mais daquele beijo decadente voltava para seu sonho, e a realidade flutuava, percebeu que seu beijo não tinha sido o beijo de um homem sem vontade. Nem se tivesse sido um simples beijo, um projetado para satisfazer sua necessidade. Ele devorou sua boca e, em seguida, as coisas ficaram distorcidas novamente. Ela franziu a testa novamente e dirigiu sua mão lentamente para baixo para esfregar sobre seu quadril. Ele injetou nela alguma coisa. Um sedativo. Pouco antes de beijá-la. Então, obviamente, ele não a queria consciente muito tempo depois que a beijou. E talvez ele não quisesse que ela se lembrasse... Esse era o cenário mais provável. E ainda bem que ele quis assim, porque agora ela podia fingir ignorância de todo o episódio para que não ficasse mortificada toda vez que ele olhava para ela ou ela olhasse para ele. Ela simplesmente agiria como se não tivesse qualquer memória do evento. Mas não significava que ela não iria segurar essa lembrança querida para, saboreá-la, trancá-la separada para ser puxada para fora a qualquer hora, para que pudesse reviver aquele momento mais e mais. Por hora, guardando o prazer daquele momento roubado, ela se jogou na tarefa em mãos. Tinha que abrir os malditos olhos e descobrir onde estava. E se estava segura. Demorou muito mais esforço do que ela teria gostado para abrir os olhos. Todo o seu rosto foi definido em uma careta enquanto trabalhava para levantar as pálpebras que pareciam como chumbo. Registrou uma fresta de luz e tomou coragem no fato de que estava fazendo progressos. Depois de várias respirações mais firmes, e garantir que não vomitaria, forçou novamente. Foi desorientador no início. Demais para aceitar tudo de uma vez. Nada sobre ambiente era familiar. A primeira coisa que registrou foi que ela estava em uma cama confortável. Não é era um catre, um saco de dormir ou um lugar improvisado para dormir. Era uma cama de verdade com um colchão e roupa de cama de matar. Qualidade de hotel cinco estrelas, não que ela tivesse muita experiência com acomodações cinco estrelas. Mas isso era o paraíso.


Quando ela deu sacudiu os últimos vestígios da névoa em sua mente, rapidamente examinou seus arredores, à procura de qualquer indício de que ela estava em perigo. As paredes eram pintadas em lavanda suave, várias pinturas florais estrategicamente colocadas para dar ao quarto um ambiente aberto e arejado. Os móveis eram caros, de aparência personalizada e entalhados à mão. A madeira era um marrom profundo, o contraste entre as partes mais escuras e as paredes mais femininas de aparência agradável aos olhos. Ela sentiu... segurança. Sem medo espetando sua nuca ou fazendo com que os pelos em seus braços levantassem. Mas onde ela estava? Ela se mexeu na cama macia, a sua intenção em sentar-se, sair da cama e... Fazer o quê? A questão foi resolvida por ela quando seu corpo gritou em protesto com seu movimento. Ela podia sentir o sangue escorrer do rosto e dor atravessar seu lado, deixando-a sem fôlego. Seus pulmões estavam congelados, incapazes de sugar o ar ou expulsá-lo de volta. Em pânico, ela não sabia se deitava de volta na cama ou continuava a se levantar. Qualquer um dos dois ia doer como o inferno. Um barulho na porta a assustou. O corpo dela estremeceu involuntariamente, o que provocou outra explosão de dor escaldante de seu lado. Hancock chegou à soleira da porta. Ele deu uma olhada para ela e emitiu uma maldição cruel sob sua respiração, mesmo quando ele caminhou rapidamente para a cama. Ele a pegou em seus braços, seu abraço apertado, mas não doloroso. Ele cuidadosamente a deitou de volta no colchão, mas mesmo com o cuidado óbvio que tomou em seu movimento, a dor correu através dela, roubando o fôlego mesmo quando pensou que ela tinha ficado para trás. Lágrimas embaçaram sua visão, fazendo que o sombrio e preocupado rosto de Hancock nadasse acima dela. — Droga, Honor. Você não deveria ter tentado se levantar.


Ela não disse nada por um momento, suas narinas alargando enquanto ela tentava desesperadamente sugar e respirar oxigênio através dos restos da dor incapacitante. — Onde estou? — Ela perguntou fracamente. — Estamos seguros? Sua expressão se tornou ainda mais sombria, um lampejo distante em seus olhos antes que ele desviasse o olhar, cuidadosamente evitando o seu. — Sim. — Disse ele depois de um momento. — Nós estamos seguros aqui. Ela fechou os olhos. — Graças a Deus. Mas onde é aqui? Será que estamos de volta em casa? Posso ligar para minha família? — Uma lágrima escorreu pelo seu rosto quente. — Eles provavelmente acham que eu estou morta. Hancock amaldiçoou novamente, as palavras embolando, embora ele as pronunciasse quase em um sussurro. Ele se ajoelhou ao lado da cama e colocou a mão em sua testa no que só poderia ser interpretado como ternura. Seus olhos voaram para os dele em confusão, porque ele nunca tinha feito qualquer demonstração exterior de suavidade para ela, exceto os momentos em que ele não achava que ela estava consciente. — Agora, você tem que se concentrar em ficar bem. — Ele disse com aquela voz sombria. E, no entanto, ela ouviu outra coisa em seu tom. Algo que ela não conseguia colocar o dedo, e a incomodava. Ele parecia... inquieto. E Hancock não era nada mais do que confiante e indecifrável. — Quanto tempo? — Ela perguntou, e depois se arrependeu por falar tanto. Quem diria que a tarefa de falar seria tão cansativa? A dor se apoderou dela de forma constante. Era crua e pulsante, levantando-se mais uma vez após o alívio inicial de ser sugada de volta para a nuvem celestial da cama que ela descansava. — O quanto for preciso — disse ele vagamente. Seu olhar procurou o dela, deixando-a desconfortável com seu escrutínio. Era como se ele pudesse ver cada coisa dentro dela. Como se ele sentisse a dor


que irradiava de seu corpo. Seus olhos ficaram frios e os lábios apertados. Ele parecia irritado. — Você está machucada, ou não se lembra de levar um tiro quando protegeu um dos meus homens? Sim, ele estava chateado e ele a estava deixando saber disso. Ele não levantou a voz. Não precisava. Na verdade, se ele tivesse gritado com ela, ela não estaria tão nervosa. O baixo açoite de autoridade em sua voz era como um chicote tangível de repreensão que ela sentia. Ela lambeu os lábios antes de abri-los para se defender e prontamente se encontrou silenciosa quando ele colocou dois dedos sobre sua boca e seu olhar se atreveu a desafiar seu ditame silencioso para que não falasse. — Nós não podemos movê-la até que você esteja fora de perigo — disse ele. —Você perdeu muito sangue e eu estou te dando fluidos intravenosos e antibióticos. Eu estava apenas entrando para ver se estava acordada e com dor, e você tem ambos. Então, eu estou dando-lhe remédios contra a dor para que você possa descansar e se curar. Ela se mexeu, o protesto forte em seus lábios. Ela não se importava que estivesse ferida. Ela estava tão perto de liberdade e de casa que poderia proválo, e não queria perder outro dia. A cada hora que ela estava longe de sua família era uma hora que eles acreditavam no pior. — Não haverá nenhum argumento, Honor — Hancock disse naquela sua voz fria. O que a fez estremecer e tornar-se uma covarde e fraca. Que nojo dela, e não fazia sentido que poderia resistir a toda uma organização terrorista e desafiar suas tentativas de caçá-la como um animal, e ainda assim um único homem tinha a capacidade de congelá-la e automaticamente fazer com que ela retrocedesse com nada mais do que palavras. Ela não era tola, apesar de tudo. Este homem não precisava repetir suas palavras. Qualquer um com senso podia ver nos olhos daquele homem. Ele era um assassino de sangue frio implacável. Teria que ser alguém muito estúpido para desafiá-lo, e ela não era uma mulher estúpida. Ele tirou uma seringa tampada e limpou a entrada do intravenoso. Embora ele tivesse dito que a estava tratando com fluidos e medicação intravenosa, ela


ainda não tinha notado a restrição em seu pulso direito. Muito bem, como ela faria para realizar a façanha de se levantar quando teria que arrastar um mastro do soro atrás dela. — Isso só vai levar um segundo. Relaxe e deixe-o trabalhar — disse ele, uma voz calmante substituindo sua rispidez mais cedo. Ela franziu a testa quando a queimadura da medicação atingiu suas veias, e se encolheu. Hancock esfregou automaticamente a palma da mão sobre o braço inferior, onde a queimadura foi o pior, mas ela não tinha certeza de que ele estava fazendo isso conscientemente. Este era um homem que parecia incapaz de ternura, e ainda assim ela sabia que era mentira. Ele segurou-a quando tinha pesadelos atormentado seu sono fragmentado. Ele a beijou e confortou-a quando ela despertou, com medo e confusa. Ela não conseguia entender esse homem, mas em algum nível profundo, instintivo, sabia que ele não era um homem mau. Ele não era quem ele mesmo achava que era. E ele negaria até a morte que não tinha um grama de gentileza nele. Ela não tinha certeza do momento exato em que decidiu confiar nele. Talvez em algum nível que tinha estado lá desde o início, mesmo que ela tenha sido cautelosa em suas intenções. Seus motivos. Mas ele manteve sua promessa de levá-la longe do alcance da Nova Era, e, a julgar pelo mobiliário do quarto, eles pareciam não estar em qualquer lugar perto das regiões devastadas pela guerra que ele a livrou. O medicamento estava tornando tudo distorcido e ela estava apenas meio consciente. Hancock começou a sumir, mas com o último resquício de sua força, ela ergueu o braço com o intravenoso e agarrou a mão dele com firmeza para que ele não pudesse escapar de seu domínio. Ele olhou para ela com surpresa, mas não fez nenhum esforço para livrar a mão da dela. Ele não disse nada. Simplesmente esperou pelo o que ela queria dizer. — Obrigada — ela sussurrou.


Ele fez uma careta, e ela percebeu que ele não gostava nem um pouco por ela estar agradecendo. Sua reação foi à mesma da primeira vez que ela agradeceu. — Por manter sua promessa comigo — ela conseguiu falar através da sua língua pesada. A última coisa que ela registrou quando finalmente sucumbiu à medicação foi o olhar sombrio, selvagem de fúria em seus olhos. E algo ainda mais surpreendente. Culpa.


CAPÍTULO 17 — SEU ferimento está melhorando — Hancock disse só para constatar. Seu exame brusco e impessoal dos pontos de Honor disse que ele realmente não tinha nenhum desejo de que ela se lembrasse daqueles momentos ternos e de guarda baixa no qual pensou que ela não tinha nenhum conhecimento. — O inchaço do seu joelho quase se foi. Você deve ser capaz de caminhar se apoiando nele sem dor em mais um dia. — Isso significa que podemos ir para casa logo? Amanhã? — Ela perguntou, agarrando-se nessas últimas palavras e segurando-se nelas com franca excitação. Os olhos dele cintilaram. Ela quase perdeu isto antes dele se virar, fingindo interesse em um de seus outros ferimentos menores. Existia algo ali. Algo que não queria que ela visse. Isso devia alarmá-la, mas não tinha medo dele. Confiava nele. Ele disse a ela que conseguiria tirá-la do alcance da Nova Era em segurança, e fez exatamente isto. Então ele deu de ombros. — Não é tão fácil quanto você parece pensar que é. Existem... Coisas, planos, que devem ser postos em prática. Não faria qualquer movimento precipitado. Não estamos fora de perigo ainda. Isso foi vago e ainda assim era uma lembrança para ela que, independente do fato que se sentia segura com ele, eles não estavam seguros e não eram imunes a um ataque. Ela franziu o cenho, desejando que soubesse onde diabos estavam. Ela nem mesmo viu um dos homens de Hancock nos dias em que esteve deitada nesta cama, neste quarto isolado descansando e se curando. Hancock trouxe suas refeições. A tinha medicado e atendido seus ferimentos. Inclusive, para sua mortificação, a ajudou a tomar banho. Ajudou-a entrar no chuveiro com brusca eficiência, que fez aparecer como se fosse à tarefa mais mundana do mundo. Ele pacientemente lavou seu cabelo, passou xampu várias vezes a


cada banho para libertar as camadas de tinta. E então teve a parte de esfregar o corpo que fez seu rosto ficar escarlate, o que a fez provavelmente se assemelhar a alguém com uma terrível queimadura de sol. Mas de novo, ele somente foi exato e minucioso enquanto limpava a hena de sua pele, retornando ao estado original beijado pelo sol. Se ele estava tentando fazê-la dependente dele, estava fazendo um maldito bom trabalho, por que só de pensar em outra pessoa em seu — neste — quarto a deixava inquieta. Este não era seu quarto. Mesmo tendo se tornado dela ao longo dos últimos dias. Seu quarto estava em casa. Na casa dos seus pais. Não manteve uma residência separada nos Estados Unidos. Não fazia nenhum sentido fazer isso. Ela estava fora mais frequentemente do que estava em casa, e então quando os visitava entre uma tarefa e outra, ou simplesmente precisava de uma pausa quando a dor e desespero que enfrentava diariamente se tornavam demais para aguentar sem perder de vista sua missão, buscava refúgio na casa dos seus pais. Dormia no seu quarto de infância, um quarto que eles mantiveram para ela. Um que era estava propositadamente inalterado desde quando era uma adolescente ainda no ensino médio. Tinha todas as coisas com que ela cresceu. Seus bichinhos de pelúcia favoritos. Seus amados livros. Seus livros didáticos de idiomas e todos os livros de pesquisas do Oriente Médio, sua cultura, as diferenças e nuances de cada dialeto individual que mudava de região para região. Até seus troféus esportivos, embora risse da ideia que seus pais manteriam o que totalizava nada além de um troféu de participação. Ela certamente não venceu nenhum campeonato, nem se destacou como uma atleta como todos os seus irmãos. Ela era o patinho feio da família. Honor jurou para seus pais que eles deviam tê-la adotado ou a acharam dentro de um repolho por que ela não era nada como seus irmãos. Era muito mais suave. Mais empática. Carecia da implacável determinação para ter sucesso, ser bem-sucedida em tudo que fazia como seus irmãos fizeram. Eles a chamavam de suave. Muito molenga e terna para sobreviver no “mundo real” como eles chamavam. E ainda assim, o mundo em ela vivia era o epítome da sobrevivência. Nada como os trabalhos seguros da sua família, casas seguras, vidas seguras.


Seu pai era um ex-astro atleta. Ele jogou em vários esportes, mas foi para a faculdade com uma bolsa de estudos de futebol, até chegou a ser selecionado para o profissional. Mas até lá conheceu e se apaixonou pela sua mãe, e ele dizia a seus filhos frequentemente que não queria nada além de estar em casa com ela, e para ter seus filhos. Uma casa cheia. A maioria duvidava da sua sinceridade, e a mãe de Honor disse que até ela ficou cética a princípio. Não pensou que seu marido seria feliz simplesmente dando as costas a uma carreira tão lucrativa dentro dos holofotes. Mas ele nunca demonstrou nem um pingo de arrependimento, e apenas um ano depois que se casaram, teve seu primeiro filho. Jogando futebol profissional o teria mantido longe de casa na maior parte do ano. Havia treinamento de primavera na concentração. Havia a temporada inteira de futebol, e as eliminatórias se o time chegasse até o final da temporada. Não existia nenhuma dúvida que seu pai podia ter sido um dos maiores, mas ao invés disso ele pegou um trabalho de treinador do ensino médio no Kentucky, onde ele e a mãe dela escolheram para viver e criar sua família. Era uma cidade pequena no Kentucky, não tão ao norte que chegava perto demais da linha entre norte e sul. Tinha a marca registrada de toda cidade do sul. Aberta, amigável e acolhedora. Pequena suficiente para que todo mundo conhecesse todo mundo, e como resultado, os negócios de todo mundo também era conhecido. Honor e seus irmãos cresceram e floresceram debaixo do amor e afeto que seus pais deram a eles. Seus irmãos, cada um deles, destacaram-se em um esporte ou outro. Como teve sua irmã mais velha. Seu irmão mais velho também jogou futebol na faculdade e mostrou a promessa de ser recrutado por um time profissional. Ele, como seu pai, não entrou e ninguém questionou essa decisão. Entretanto seu pai sabia bem que algumas decisões eram simplesmente pessoais demais para serem discutidas. Mas onde seu pai seguiu como técnico, um substituto adequado para não jogar o esporte que ele amava, seu irmão mais velho escolheu trabalhar como policial, e era o xerife de seu condado. Seu segundo irmão mais velho escolheu uma carreira profissional nos esportes. Diferente de seu pai e irmão mais velho, ele não fora um fanático do


futebol. Sua infância inteira foi dedicada ao beisebol e ele era um jogador natural. Até agora estava jogando com um time profissional e acabou de assinar outro contrato lucrativo em longo prazo antes de Honor partir daquela última vez. Os dois irmãos mais novos eram ambos homens de negócios e parceiros em várias aventuras. Mas isso não significava que não tinham o mesmo amor duradouro — e presente — pelos esportes. Até sua irmã, a segunda mais nova e a única outra filha em um mar de filhos, era atlética e tão graciosa e rápida quanto uma gazela. Ela também se tornou treinadora depois de uma breve carreira jogando softball profissional na Itália depois de ganhar uma bolsa de estudos para jogar softball pelo Estado do Kentucky. Honor estava muito orgulhosa de sua irmã, que era a treinadora principal mais jovem do time de softball na história da pequena universidade onde trabalhava. Nos dois anos desde que sua irmã, Miranda, ou Mandie como ela foi afetuosamente apelidada, assumiu o programa, o time chegou às eliminatórias pela primeira vez na história do programa. Seu trabalho estava definitivamente assegurado. A universidade viu para que aquilo acontecesse. E ela estava muito feliz ali por que já estava sendo fortemente recrutada por outras universidades maiores, mais prestigiadas e com programas muito maiores, e essas tinham legados há muito anunciados em esportes na faculdade. Mas no fundo Mandie era caseira, enquanto Honor era completamente o oposto. Mandie gostava do seu trabalho. Gostava de sujar as mãos e reconstruir um programa do nada. Não tinha nenhuma vontade de entrar em um programa que já estava bem estabelecido e ser uma figura decorativa. Queria fazer diferença em cada aspecto do jogo. Brevemente Honor fechou os olhos, voltando ao fato que seu irmão tinha assinado outro contrato com seu time bem antes dela partir. Sua festa de despedida foi uma mistura de alegria e celebração com coração partido e preocupação. Nenhum deles gostava do que ela fazia. Não entendiam. Eles não tentaram entender. Cada um deles foi para seu próprio caminho e ninguém nunca os questionou por isto. Ninguém questionou Brad, que simplesmente


largou o futebol profissional sem explicação. Ou por que seu desejo ardente em se tornar um policial nunca foi conhecido por família. Eles só questionaram a ela. E sabia que não era por que não acreditavam nela — eles acreditavam. Eles a amavam. Nunca duvidou disso nem por um instante. Só não a entendiam. Não entendiam por que seu chamado a levava tão longe das pessoas que a amavam quando os caminhos de todos seus outros irmãos os mantiveram perto de casa. Como podia explicar a compulsão inquietante para fazer diferença em lugares que raramente recebiam qualquer coisa exceto morte e violência? Brad devia entendê-la melhor do que ninguém. Ele era um protetor. O xerife. Era responsável por um monte de vidas. Talvez fosse o único irmão que ela acreditava que tinha afinidade. Um fardo compartilhado. Certamente sua necessidade de proteger e salvar outros teve que vir de algum lugar. — Honor, você está sentindo dor? A voz baixa de Hancock atada com preocupação se moveu através da sua melancolia e trouxe seu olhar para o dele, ela o viu estudar atentamente seu rosto como se estivesse a par de cada pensamento seu. Ela respirou fundo e impulsivamente deslizou seus dedos pelos dele onde descansavam na beirada da cama ao seu lado, e os juntou com um puxão gentil. Ele se encolheu como se tivesse recebido um choque elétrico, mas não removeu a mão ou empurrou a dela para longe, um fato pelo qual estava agradecida. Pois neste único breve momento, ela precisava do toque de outra pessoa. Conforto. A promessa de logo ser segura e rodeada pelo amor e apoio de sua família. Cada minuto que estava longe era o pior tipo de inferno para todos eles. Provavelmente pensavam que ela estava morta, e se não estivessem certos de sua morte então pior, eles temiam qual era o seu destino. O que ela estava suportando até agora. Orava para que pensassem que estava morta até que pudesse provar para eles que não estava. Era mais amável do que ficarem se torturando com as infinitas possibilidades do que podia estar acontecendo com ela. Além disso, isso não iria acontecer. Hancock estava com ela. Ele não deixaria ninguém a machucar.


Era tolice pensar em alguém sendo invencível ou inacessível ao alcance da Nova Era, mas absolutamente acreditava que Hancock podia e iria destruir qualquer coisa em seu caminho e nunca deixaria o mal vir a ela. Sabia disso com tanta certeza quanto o sol se levantava no Leste e deslizava para o sono no Oeste. — O que está errado, Honor? — Hancock exigiu abruptamente, seus olhos estreitando ainda mais enquanto procurava em seu rosto por qualquer sinal do que estava causando sua angústia. Ela não estava angustiada. Necessitada. Calor percorreu seu pescoço acima e em suas bochechas, e ela só podia rezar para que o que sobrou da tintura como também estar ao sol por tanto tempo o impedisse de ver a evidência do rubor culpado. Ela lambeu seus lábios secos, rachados e hesitante, timidamente, olhou para ele por baixo dos cílios. — Beije-me, Hancock — ela disse em uma voz trêmula que podia ser interpretada como temerosa. Mas ela sabia melhor. E a julgar pelo olhar no rosto de Hancock, ele também sabia que ela não tinha medo dele. Ou do que ela estava pedindo. Os olhos dele faiscaram com incerteza, uma raridade para ele. Sabia disso sem questionar. Só sabia. Mas também havia uma faísca de algo totalmente diferente. Respondendo em necessidade. Querer. Desejo. Sumiu quase antes de registrar isso acontecendo, mas os olhos nunca mentem. Eram a porta para a alma de uma pessoa, ou era o que os poetas sempre disseram. E da mesma maneira que soube que Hancock raramente, se é que algum dia esteve incerto sobre qualquer coisa, também soube que era ainda mais raro para ele permitir que alguém visse o que ela acabou de testemunhar dentro dos olhos dele. Ela chegou até ele e sabia disso. Estava atônita por isto.


Bom Deus… estava feliz a respeito disso? Que diabo estava errado com ela? Não conhecia este homem e era presunção de sua parte, para não dizer arrogância, pensar que podia discernir qualquer coisa sobre ele quando outros certamente não podiam. Mas já estava indo por um caminho perigoso que lhe deu uma corrida eufórica. Viva. Ela se sentia viva. Gloriosamente viva quando a morte foi uma névoa sufocante cercando-a em cada curva. Foi deixada livre. Hancock entregou o que prometeu. Sua liberdade dos homens horríveis a caçando como predadores impiedosos. — Beije-me — ela disse novamente, sua voz caindo para um sussurro rouco atado com necessidade. — Só uma vez quando ambos estamos perfeitamente cientes disso acontecendo e nenhum de nós pode dizer que nunca aconteceu. Os olhos dele se arregalaram em rápido alarme, e então surpresa. Ambas as reações foram entregues por seus olhos enquanto eles endureciam com o que ela sabia. Ela lembrou. Talvez nunca tivesse esquecido de todo, mas precisou de tempo para todos os pedaços se juntarem. Agora que tinha todos no lugar, trancaria essa memória em sua alma para todo o sempre. Iria saborear. Um momento puro e doce no meio de tanto medo, caos e tormento. Ele praguejou suavemente, mas mesmo enquanto o fazia, deslizou um joelho sobre o colchão e inclinou seu corpo grande e firmemente musculoso em direção ao dela até que pairou a meros centímetros acima dela. Calor lambeu sua pele, aquecendo-a até os ossos. De repente caiu em si da enorme disparidade em seus tamanhos. Ele era uma montanha de aço sólido, nem um pingo de carne sobressalente em qualquer lugar em seu corpo que ela pudesse discernir. E tinha uma imaginação muito vívida. Mas ele a fazia se sentir pequena e frágil. Vulnerável. Mas não com medo. Ela lambeu os lábios, de repente percebendo que talvez devesse ter medo, provocando a besta quando ela estava completamente acordada e tinha todos os seus sentidos sobre ela. Ou talvez não a suficiente sensação para resistir ao avançar do animal selvagem.


Com um gemido rouco quando a língua dela arremessou por cima do seu lábio inferior, ele abaixou e varreu sua boca na dele, quente e faminto. Não existia nada da ternura quase delicada que ele manteve quando a beijou de forma tão reverente quando pensou que ela estava inconsciente de suas ações ou que ele a estava beijando. Devorou sua boca, consumiu-a, saboreou cada parte de sua língua faminta, mostrando a ela a diferença impressionante entre um macho tentando oferecer conforto a uma mulher e um homem faminto demonstrando seu domínio inexorável sobre ela. Se não doesse tanto, rasgaria cada pedaço das roupas dele fora, ficaria nua e se lançaria para ele, ou melhor, nele. Tudo que administrou foi um gemido baixo que terminou em um ronronar, e então um suspiro de prazer sem fôlego e puro contentamento, que foi rapidamente engolido e inalado por ele. Com esforço considerável, ele afastou seus lábios dos dela, mas não se distanciou imediatamente dela. Perguntou-se por que considerou isso uma enorme vitória. Ele encostou sua testa na dela em um gesto surpreendentemente terno, a respiração dele soprando de forma trabalhosa acima de sua boca latejante. — Isso não foi uma boa ideia — ele disse através de seus dentes firmemente apertados. — Droga, isso foi estúpido. Certo, isso doeu. Ela podia admitir, e mesmo se não pudesse a própria reação física muito real — seu encolher — a teria traído. Ela se arrastou para alguma coisa — qualquer coisa — para dizer para quebrar a tensão do silêncio embaraçoso que os cercou, esticando seus nervos até o ponto de quebrarem. — Em quanto tempo eu estarei bem suficiente para ir para casa? — Perguntou ansiosamente. Isso teve o efeito de um temporal feroz. O rosto dele se tornou fechado, bloqueado, enquanto a fúria tão fria explodiu por seus olhos e então nela, enviando onda após onda de arrepios correndo por sua carne. Ele se levantou abruptamente, virando suas costas como se não quisesse que ela visse qualquer parte dele ou sua reação.


— Você ainda não está bem o suficiente para podermos te mover — ele disse categoricamente. E então andou a passos largos para a porta, abrindo-a com um puxão e então a batendo atrás dele com força suficiente para sacudir e deixar uma das pinturas tortas na parede.


CAPÍTULO 18 HANCOCK soube que estava caminhando no fio da navalha em uma verdadeira batalha por sua sanidade. Pior, estava batalhando contra o que sabia que devia ser feito. A missão. O custo de completar sua missão. Tudo amarrado a uma mulher inocente com mais coragem e fogo que ele já testemunhou em uma pequena guerreira. Ele a intimidou por dias, assegurando que ele, e apenas ele, tivesse acesso ao quarto onde ela era mantida... Prisioneira. Nenhum modo de deixar o quarto, justo como as prisões eram, mas teve certeza que ela tinha todos os confortos que possivelmente podia necessitar ou querer. Ele evitou suas perguntas. Perguntas naturais. Perguntas que ela tinha todo o direito de saber as respostas. Mas no minuto em que as respondesse tudo estaria perdido. Por que não mentiria para ela. E teria que enfrentá-la, aqueles enormes olhos confiantes, e assistir a luz murchar para nada além de surpresa e resignação. E pior, traição. Saberia que ele era a própria coisa do qual ela fugiu e lutou contra, a coisa da qual agora acreditava que estava protegida. Ela não sabia — ainda — que ele a estava entregando para o pior tipo de mal, que então a entregaria direto de volta para o mal que ela conhecia. E ele não podia aguentar isto. Mesmo sabendo que seu tempo estava se esgotando e que a cada dia que passava em que ele não contava a verdade a ela sobre suas intenções, era simplesmente tática de adiamento. Por que ele queria aqueles poucos dias para ela. Inferno! Queria para si mesmo. Só mais algumas horas, dias, qualquer coisa que pudesse comprar quando ela ainda olhava para ele com confiança naqueles olhos castanhos calorosos. Sem medo ou hesitação para seguir sua liderança. Com confiança. Ela confiou nele quando não devia confiar em ninguém. Disse tanto isso a ela. Mas Honor era Honra. A própria coisa que dava nome a ela. Deus, a ironia de quão bem aquele nome se ajustava a ela. Como seus pais podiam saber que estaria à altura do legado e profecia daquele nome?


Ninguém nunca confiou nele. Seus homens o respeitavam. Eles o obedeciam sem questionar. Morreriam por ele sem hesitar, assim como faria por eles. Eles tinham lealdade que corria profundamente em seu sangue. Mas não confiavam nele mais do que confiavam em seus outros companheiros de equipe ou até neles mesmos. Eram todos muito cientes do que eram. Assassinos implacáveis, dispostos a sacrificar uma mulher inocente para alcançar suas metas. — Quando? — Conrad perguntou abruptamente quando ele e seus homens se reuniram fora da mansão enorme que pertencia a Bristow. A ironia deles já estarem nos EUA não foi perdida para Hancock. Honor pensava que ainda estava em algum lugar no interior do Oriente Médio, e que cada movimento deles podia ser observado, que estavam em perigo de serem descobertos. Se ela descobrisse justamente o quão perto estava de sua família, ele teria que amarrá-la na cama para impedi-la de cair fora sozinha. Ele deu uma olhada de relance para seus homens, para suas expressões apertadas enquanto permaneciam em expectativa, esperando a hora de ir. Esta era uma das poucas vezes que Hancock deixava o lado de Honor, mas se assegurou que ela dormiria em sua ausência, e os homens de Bristow sabiam as consequências de transgredirem. Hancock deixou muito claro que ninguém teria acesso garantido aos aposentos privados de Honor usando seus ferimentos como desculpa. Bristow estava impaciente. Excitado e irritado, como alguém que tivesse encontrado um tesouro mais valioso que todo o ouro e joias do mundo. Sua antecipação era espessa no ar quando estava no quarto e era por isso que Hancock o evitava o máximo. A doença da alma de Bristow — o mau cheiro asqueroso que sempre emanava dele — era difícil para Hancock lidar sem que tomasse conta dos seus sentidos. Ele se sentia doente e sufocado por tanta maldade que mal podia respirar. Isso o estava sufocando, como alguém que sofria de severa claustrofobia, e Hancock não sentia nada disso. Podia permanecer imóvel em um espaço apertado para um homem de seu tamanho que nunca seria capaz de encaixar por dias, semanas quando necessário, esperando por essa única oportunidade. Uma janela rara em que só alguém com extrema paciência chegaria a abater um alvo esquivo.


Bristow queria mandar avisar Maksimov imediatamente, mas Hancock o advertiu que se Maksimov soubesse da mulher antes deles estarem prontos, ele não ficaria sentando esperando quanto ao que Bristow atualmente estava fazendo. Ele viria atrás de Honor e devastaria qualquer um no caminho de sua presa. Hancock deixou muito claro que Honor devia se curar antes deles arranjarem a entrega para Maksimov e que tinha que ser nos seus termos — de Hancock — ou eles perderiam qualquer poder de barganha que atualmente possuíam. A única coisa mantendo Bristow vivo era o fato que Maksimov não sabia onde Honor estava, e ele se certificou que Bristow percebesse o quão perigoso e poderoso um homem como Maksimov era. Bristow era perigoso e ele mesmo tinha muito poder, mas Hancock certificou-se que Bristow tivesse bastante medo de Maksimov. Ele falava de Maksimov num tom que Bristow não pudesse interpretar mal, e Bristow ficava pálido escutando a recitação de fatos de Hancock do que Maksimov faria para alcançar o que queria. Vida e morte não significavam nada para um homem como Maksimov, que se considerava invencível. Ele pensava de verdade que era imortal. Um deus no meio de meros homens, capaz de ir e vir como lhe agradasse. Portador da morte e da destruição, e ele era imbatível. Esse tipo de pensamento era quase o caso do Maksimov. Ele era um bastardo cuidadoso, diferente de outros que vieram antes dele usando este mesmo escudo de invencibilidade, convencido que ninguém pudesse alcançálo, quem estava fodido. Eles todos estavam, num certo ponto. Mas até agora Maksimov não exibiu nenhum sinal de descuido. Nenhum sinal que dava como certo o que pensava que ele mesmo fosse. Indestrutível. Apesar de ele achar isto, estar totalmente seguro disto, ainda tinha cuidado de manter uma rede de segurança firmemente ao redor dele, removendo qualquer um que considerasse uma ameaça para sua causa. Ele era juiz e executor, e ninguém recebia um julgamento justo com Maksimov. Se Maksimov sequer pensasse que alguém era desleal, que o tivesse traído ou simplesmente não tivesse a vontade de fazer o que Maksimov exigia, então ele era descartado com todo o cuidado que Maksimov reservava para jogar o lixo fora.


Aquele tipo de medo comprava um monte de lealdade. Comprava para ele homens que preferiam ter morte certa a encarar Maksimov depois de falhar em executar uma missão. Ele criava soldados implacáveis e desesperados que morreriam executando as ordens de Maksimov, algumas vezes por sua própria mão se eles falhassem. Era um destino preferível a encarar Maksimov e tendo que dizer ao ditador que eles falharam. Maksimov não tinha nenhuma tolerância para o fracasso. Não aceitava dele mesmo e certo como o inferno, não aceitava daqueles que trabalhavam para ele. Em todos os anos que Hancock o caçou, não achou nenhuma fraqueza em Maksimov que pudesse explorar. Nem uma única brecha em sua armadura. O homem não se importava com nada além dele mesmo. Era difícil para cacete conseguir chegar perto de um homem a fim de poder explorar suas fraquezas quando parecia que ele não tinha nenhuma. Mas Hancock sabia melhor. Havia alguma coisa. Sempre havia alguma coisa. Ele mesmo teria jurado que não tinha nenhuma fraqueza. Nada que pudesse ser usado contra ele. Mas também sabia que estava errado. Ele tinha o Big Eddie. Raid e Ryker. E Eden. A preciosa, inocente e boa Eden. Ele teve cuidado de nunca os expor, nunca permitir que alguém soubesse da existência deles por que certamente estariam em perigo cada dia de suas vidas. Ele até manteve distância da porra dos Kellys por que qualquer um com olhos podia dizer que ele os respeitava. Podia não gostar deles, seus métodos ou sua ética. Coisas que considerava suas fraquezas. Mas ao longo dos anos começou a perceber que eles não eram tão diferentes dele. Eles só controlavam seus impulsos melhor do que Hancock fazia. Quando alguém feria um dos seus, eles retaliavam e executavam a justiça rápida. E não era a justiça que a maior parte das pessoas considerava. Eles não usavam o sistema legal. Não, executavam seu próprio tipo de justiça, cruzando linhas que Hancock há muito tempo cruzou. Porém não esperava isto deles. Eles estavam rigidamente estabelecidos no bem. Capitães Américas, ele sempre debochava deles. Mas alguma das coisas que eles fizeram em nome da justiça não era melhor do que o próprio Hancock fez em muitas ocasiões. Ele sentia uma


enorme admiração por P.J. Coletrane11. A mulher foi brutalizada. Os detalhes ainda deixavam seus dentes no limite por que estava furioso com a equipe dela por deixá-la vulnerável. Por não a cobrir melhor. Ela merecia melhor do que eles lhe deram, e ela pagou o derradeiro preço. E então ela se afastou de sua equipe, não querendo arrastá-los na sujeira da vingança. Nenhuma justiça. Vingança a sangue frio. Ela caçou cada homem responsável pelo ataque cruel a ela, e matou todos eles. E no fim, sua equipe a alcançou e estiveram lado a lado com ela, não permitindo que ela aguentasse o ímpeto das repercussões. Os Kelly eram uma raça diferente de pessoas. O tipo de pessoas que Hancock uma vez poderia ter sido se tivesse escolhido um caminho diferente. O caminho certo. Eles eram protetores ferozes. Os mocinhos. Aqueles que você chamava quando precisava de ajuda. Eles eram bons, talvez tão bons quanto o próprio Hancock, mas onde ele se distinguia, tendo a distinta vantagem, era que estava muito mais disposto a cavar daquelas cinzas retorcidas — não, nem mesmo cinzas... Áreas pretas. Uma linha que nenhum dos Kelly algum dia cruzaria a menos que dissesse respeito a alguém que eles amavam. Uma de suas esposas. Seus companheiros de equipe. Qualquer outra missão seria administrada conforme o que estava escrito. Nenhum deles. Nem um único membro do grupo da KGI algum dia se rebaixaria ao nível de Hancock. Eles nunca resgatariam uma mulher açoitada pela vida que então tomou uma bala designada para um de seus homens, e então a recompensariam com deslealdade. Tudo em nome do bem maior. O rosto de P.J. Coletrane entrou em sua visão, suas feições rosnando dando a ele um sorriso interno. Ele podia ouvir suas palavras como se ela mesma as dissesse. Foda-se o bem maior. Sim, isso era absolutamente algo que ela — e o resto da equipe dela — diriam. Especialmente Steele. O líder de equipe que tinha a reputação de ser como Hancock. Gelo correndo em suas veias. Uma máquina incapaz de sentir 11

Para saber mais, leia o livro Tons de Cinza – KGI 6 que conta a história de P.J. (Penelope Jane) e Cole (Coletrane)


qualquer coisa. Capaz de fazer uma missão sem a emoção nublar seu julgamento e levando-o para baixo. Mas agora? O homem de gelo foi derrubado por uma loirinha e uma garotinha que parecia com sua mãe. Hancock não tinha mais certeza se Steele era o mesmo homem que ele foi antes. Exceto... Exceto se sua esposa ou filha estivessem em perigo. Então não haveria como controlar o homem. Ele se tornaria uma máquina de matar implacável diferente de qualquer outra que o mundo já viu antes. Hancock não estava nem certo se ele podia encarar um Steele enfurecido se as vidas da sua esposa e filha estivessem em jogo. Percebendo que seus homens ainda estavam mudos e irritados esperando que ele respondesse à pergunta de Conrad, Hancock sacudiu seus pensamentos para o presente, praguejando baixinho violentamente. Ele estava fora do seu jogo e sua equipe sabia disso. Justamente como eles estavam ficando mais irritáveis conforme chegavam mais perto do dia da... Traição. O dia quando eles entregariam Honor para Maksimov, esperançosamente os capacitando de acabar com o homem de uma vez por todas. Mas provavelmente seria tarde demais para Honor. Eles já se resignaram à morte dela e não existia uma maldita coisa que pudessem fazer a respeito disso. Mas isso não significava que cada vez que olhava dentro dos olhos de sua equipe que ele não visse raiva impotente queimando em suas profundezas. Ele estava certo que refletia sua própria raiva, apesar de sua melhor tentativa de impedi-los de ver como estava atormentado pelo que deviam fazer. — Logo — Hancock disse em uma voz baixa. — Ela está se recuperando mais a cada dia. Fui capaz de manter Bristow longe dela. Ele tem medo de mim. Mas ele está apavorado com Maksimov, e eu disse a ele que Maksimov não estaria feliz de ser apresentado a uma Honor ferida e danificada por que diminuiria seu valor para a NE. Ele não gostou, mas ele nos teme demais para me desobedecer nisto. E eu tenho um de vocês parado do lado de fora da porta dela o tempo todo, até quando estou lá dentro perturbando-a para comer e dar seus remédios contra dor quando ela extrapola demais. — Exceto agora — Copeland disse brandamente. — Mau mojo — Mojo rosnou.


Uma pontada de inquietação subiu pela espinha de Hancock. Seus homens estavam certos. Ele os convocou aqui fora onde podia falar livremente com eles. As paredes tinham ouvidos na casa de Bristow. Nada passava despercebido. Era por isso que ele e seus homens foram tão cuidadosos em não ser super solícitos quando se tratava de Honor. Eles a tratavam como uma prisioneira que não queriam que fosse maltratada. Os bens maltratados não favoreciam bons negócios. Mas a deixaram sozinha. Por uma hora agora. E se Bristow aproveitasse a oportunidade para fazer uma breve visita a sua “convidada”? Ele não era um homem paciente e claramente não gostou de ser mantido afastado dela. Todo o trabalho que Hancock tinha feito pode ter sido desvendado em apenas alguns minutos na presença de Bristow. Ele foi arrogante demais, muito certo de seu aperto em Bristow quando devia ter sabido melhor. Bristow acreditava que era invencível, e apesar de ter medo e ser intimidado por Hancock, não tinha medo que Hancock o matasse. E este foi seu erro. Hancock acabaria com Bristow com suas mãos nuas se ele machucasse Honor. — Volte — Hancock disse roucamente. — Voltem agora. Achem os homens do Bristow e certifiquem-se que eles estejam sob controle. Mate qualquer um que resista. Eu cuidarei de Bristow. — Hancock. A voz fria de Conrad penetrou a mente de Hancock rodeada por névoa incandescente, tornando-o mais uma vez uma máquina mortal implacável. — Você não pode comprometer a missão pelo que ele fez. Se ele fez qualquer coisa mesmo. — O inferno que eu não posso — Hancock cuspiu. — Não preciso de Bristow para fazer a troca com Maksimov. Eu fiz a princípio. Mas esse contato foi feito. Tudo que tenho que fazer é completar a gota que falta e então levar o canalha e sua rede inteira abaixo. — Mas não a tempo de salvar Honor — Viper disse firmemente. Hancock lançou seu olhar assombrado para seu homem. — Você não acha que eu não a salvaria se pudesse?


— Você iria? — Henderson pressionou, seu rosto desenhado em linhas sinistras. — Você nunca vacilou em uma missão antes. Por que agora? — Você esquece que eu sacrifiquei duas oportunidades de derrubar Maksimov para salvar vidas inocentes — Hancock estalou. — Eu não farei uma terceira vez. Agora saiam. Se ele tocou Honor, se ele a deixou com medo, eu o matarei. Nenhum de seus homens comentou na hipocrisia de Hancock matar um homem quem pelo menos seria mais honesto com Honor do que Hancock tinha sido. Nenhum se atreveu.


CAPÍTULO 19 HONOR estava tão cansada de estar na cama que estava pronta para gritar. Se passasse mais um dia e ela ouvisse, assim como ela ouviu toda vez que perguntou a Hancock quando poderia ir para casa e ele respondia “Ainda não”, ela ia bater em alguém. E só estava fantasiando sobre um rosto para esmagar. Quando ela não estava fantasiando sobre a boca ligada a esse rosto. Ela estava perdendo a cabeça. Estava totalmente louca, louca varrida. Isso só poderia ser explicado pela insanidade que tinha sofrido ao longo das duas últimas semanas. Certamente ninguém poderia sair de algo assim com a sua mente intacta. Ela não era uma exceção. Tinha muito mais massa cerebral do que sangue, e mesmo assim, não conseguia tirar a fixação pelo grande homem mau, Hancock, que continuava sendo um ponto de interrogação contra si mesma. Ela tentou se convencer disso, mas estava falhando miseravelmente. Que tipo de pessoa normal era atraída por um homem que nem conhecia? Um homem envolto com tantas camadas de segredos, e cada uma dessas camadas tinham outras camadas. Levaria uma eternidade para discernir o homem sob o manto de mistério, e mesmo assim ela não estava certa de que havia qualquer coisa, além dos segredos que ele usava como a pele. Ela estava louca. Era a única explicação razoável. E então ela queria rir de si mesma por usar a palavra razoável, ao explicar a loucura. A porta se abriu e seu pulso imediatamente acelerou, antecipando o único homem que tinha entrado em seu quarto nos últimos dias. Ontem, ela estava se sentindo inquieta e cautelosa e decidiu testar a extensão do dano feito a ela. Forçou-se a sair da cama, determinada a sair deste quarto e descobrir onde diabos estava. Neste ponto, ela estava apenas desesperada por uma mudança de cenário. As paredes na cor lavanda e obras de arte florais alegres estavam apenas insultando-a, uma vez que a última coisa que estava sentindo era ser feliz e despreocupada. Isso a esgotou, mas a euforia emprestara uma onda de força quando ela finalmente chegou até a porta, apenas para a ilusão de força se evaporar quando a porta não destrancou. Ela estava presa, e trancada pelo lado de dentro.


Ela não era uma prisioneira. Era? Não sabia mais o que fazer, com os joelhos perigosamente perto de ceder, ela voltou para a cama e rastejou sobre ela, seu corpo protestando a cada movimento. E então um som a congelou e rapidamente voltou a se estabelecer na cama, irritada com a culpa que sentia, como se fosse uma adolescente errante tentando fugir. Ela não era uma prisioneira! Sua pulsação, já elevada, disparou, e foi como pressionar o acelerador até o chão em um carro esportivo. Um homem que nunca tinha visto deslizou como uma víbora pela porta entreaberta. Ele não se encaixava neste mundo. Nesse lugar. Mas então, onde era aqui? Era ela que não pertencia aqui. Uma sensação desagradável a circulou e o medo cresceu em seu estômago e ácido traçou o seu caminho até a garganta. Pior ainda, no momento em que o intruso percebeu seu medo, ela o viu ficar duro com excitação. Havia uma protuberância inconfundível em suas calças caras, que claramente delineava sua ereção, e um riso baixo escapou. Ele era vil e repugnante. — Quem é você? — Ela perguntou com muito mais ousadia do que sentia. Ela juntou os lençóis em um pacote apertado, protegendo seu corpo de sua visão, embora estivesse completamente vestida debaixo das cobertas. Assim como seus olhos eram monótonos e gelados e um arrepio passou por sua espinha, viu que malicia brilhava intensamente nas esferas negras quando ele avançou sobre a cama. Ela abriu a boca para gritar e ele estava em cima dela em um instante, sufocando qualquer grito que teria feito com um tapa afiado em sua boca. O golpe a surpreendeu e a silenciou e apenas um pequeno gemido de dor escapou. — Eu sou o homem que possui você. Temporariamente. — Acrescentou ele, o som de sua voz vinda como um silvo, arrepiando a pele dela, como se ele não fosse uma coisa viva. Um monstro. Como muitos dos monstros que assombraram seus sonhos.


Onde estava Hancock? Dentro ela estava gritando por ele. O nome dele. Mais e mais. A ladainha, implorando para salvá-la. Mais uma vez. Quem era esse homem? Como ele chegou a seu quarto? Hancock tinha dito... Que ela que estava a salvo. Não tinha? Ela freneticamente procurou em sua memória pelas as palavras. Exatamente o que ele disse a ela. Eles não tinham tido muitas conversas reais. Ela estaria certa de que ele tinha prometido a ela, tinha certeza. Ela pensou nas poucas garantias de que ele tinha dado a seu coração. Um talismã. Sua mente confusa só tentava encontrar a promessa. Ele a pegou enquanto ela passava, fugindo para longe da célula terrorista que estava em seu encalço, a perseguindo em cada movimento. Mas, com certeza… Não, ela não pensaria isso. Não iria permitir a perda da única coisa que tinha para mantê-la forte. Que manteve a esperança e a fé viva em seu coração. Este idiota não tomaria isso dela. — Assim é melhor — disse ele em um ronronar suave. — Você é naturalmente submissa. Eu posso sentir isso. Você será facilmente ensinada à disciplina e obediência, embora, infelizmente, meu tempo com você vai ser curto. Seus olhos dispararam dardos, os lábios desenhados em uma linha rebelde. Submissa? Obediente? Ela queria arrancar os olhos dele fora e, em seguida, ir para suas bolas. Se ele pensava que ela era alguma imbecil impotente, cara ele teria uma surpresa. Ela bateu os cílios com inocência, dando a este imbecil seus melhores “olhos de Honor”, como sua família havia apelidado. O olhar que assegurava que ninguém poderia permanecer zangado com ela por muito tempo. O que instantaneamente a tirava de apuros quando ela estava fazendo suas travessuras. — Eu acho que você deve ter me confundido com outra pessoa — disse ela em uma voz calma. — Eu não sei quem você é ou onde estou e, aliás, eu não


tenho um osso submisso no meu corpo, e se você quiser tentar forçar minha obediência, eu vou arrancar seu coração. Sim, ela falou calmamente, mas havia violência e absoluta convicção em seu tom, em sua expressão. Ela não tinha sobrevivido a tudo, por ser fraca ou controlada pelo medo. Ele jogou a cabeça para trás e riu. — Você parece muito segura de si mesma Honor Cambridge. — E se eu falhar, Hancock vai terminar o trabalho — disse ela friamente. Com isso, alegria entrou em seus olhos. Alegria. Uma expressão extremamente satisfeita se apoderou dele, enquanto ele enrolou sua mão com força em seu cabelo e puxou seu corpo protestante perto do dele. Beijou-a brutalmente, forçando sua boca aberta, usando os dentes, cortando seus lábios até que suspirou de dor e permitiu que sua língua empurrasse para dentro. Ela lutou selvagemente, mas ele era muito mais forte, e ela estava enfraquecida por seus ferimentos. Lágrimas queimaram suas pálpebras e ela recusou-se a chorar, se recusou a permitir a este homem a satisfação de ver suas lágrimas de dor, raiva e pior, medo. Onde estava Hancock? — Hancock é conhecido por suas conquistas — disse o homem, sua respiração acariciando seus lábios machucados e trêmulos. — Diz-se que ele pode fazer qualquer um cumprir suas ordens. Ele pode fazer alguém acreditar em tudo o que ele quiser que acredite. Diga-me, Honor, ele prometeu levá-la em segurança para sua casa, para sua família? Pense com cuidado. Eu também sei que Hancock não é um mentiroso. Código interessante, você não acha? Um assassino de sangue frio. Um mercenário. Com um código. Ele não mente. E ainda assim ele pode fazer você acreditar em algo que ele nunca prometeu. Como facilmente você deve ter caído sob seu feitiço. — Você não vai me fazer acreditar que ele é o que você diz que ele é — disse ela em um tom gelado. Sua mão ainda mais apertada machucava seu cabelo e ele puxou para trás, expondo seu pescoço vulnerável, igual um vampiro faria com sua presa. Deus,


ela estava realmente a ponto de histeria se ela calmamente contemplasse como o monstro fictício gostava dessa abominação. — Eu não vou precisar — disse ele com satisfação presunçosa. — Ele trabalha para mim. O paguei para trazê-la para mim. Você é um instrumento de barganha que servirá a um propósito mais elevado. Você vai me dar o que eu quero... E então, você vai ser para Maksimov o que ele quiser. Então a Nova Era terá o que eles querem. Ele a estudou por um breve momento, propositadamente extraindo seu terror. —Você — ele terminou em triunfo. —Tudo aquilo do que pensou que escapou, será o seu destino final. Tudo o que fez foi para nada. Mas sua fuga me beneficiará muito. Muito — ele murmurou, baixando a voz quando ele passou seu olhar sobre seu corpo trêmulo. — Entre, Hancock — o homem chamou, evidentemente, ao ter ouvido algo que Honor não tinha. — Eu deveria saber que você estaria de volta para dar uma olhada em seu bichinho de estimação. Bile subiu em sua garganta. Não. Isso não estava acontecendo. Ele estava brincando. Ela fechou os olhos, recusando-se a se envolver no seu jogo doentio. Sua cabeça foi puxada brutalmente para trás até que ela temia que seu pescoço fosse estourar. — Abra os olhos — disse o homem, sua voz estalando sobre ela com a força de um chicote. Não porque quisesse, mas porque que tinha, ela obedeceu. Ela tinha que saber o que era verdade e o que era mentira. Quando sua visão clareou, viu Hancock em pé silenciosamente ao pé da cama, com os olhos atentos e vigilantes, mas era o ar de desinteresse e o vazio em seu olhar que a aterrorizava. — Não — ela sussurrou. — Não! Desta vez, ela gritou, e então não parou de gritar mesmo quando cambaleou porque um punho se conectou com sua mandíbula para silenciá-la. — Você sabe que Maksimov não ficará satisfeito — disse Hancock em uma voz calma e serena. — Você é um tolo, Bristow. Ela estava se curando


bem. Agora você machucou um lado dela que não estava danificado. O rosto dela. Você sabe que Maksimov gosta de um rosto bonito. Ele não vai ficar feliz quando souber que a mercadoria sofreu danos em suas mãos. Mercadoria? Ela olhou para Hancock com horror, sabendo que não podia controlar o choque de sua traição em seus olhos, e ele não fez mais do que recuar. Não havia culpa, apenas determinação constante irradiando dele em ondas. Oh, Deus. Não. Honor rolou, o homem de repente permitindo que ela fizesse como se ele visse exatamente o que estava prestes a acontecer. Ela quase não foi capaz de colocar a cabeça para o lado da cama a tempo de vomitar por todo o chão. Ela registrou o som distante de uma briga, as palavras de raiva que estavam sendo trocadas, mas sua cabeça estava se despedaçando além da dor, enquanto ela continuava a vomitar o que não havia mais nada a expulsar de seu estômago. E a dor do stress em seu lado ferido, os pontos, sem dúvida, rasgados, roubaram sua respiração. Seu cabelo caía em desordem quando a cabeça dela ficou mole. Ela simplesmente não tinha mais forças para segurá-la. Sangue misturado com as lágrimas escorria pelo o chão, um espetáculo macabro, juntamente com o conteúdo de seu estômago. Principalmente bile. Ela mal sentiu a sua própria alma. E então, mãos surpreendentemente suaves deslizaram sobre seus ombros, uma espalmando a parte de trás de sua cabeça, a outra levantando a parte dela que estava pendurada sem vida sobre a borda da cama. Ela estremeceu, entrando em um ataque frenético. Ela conhecia aquelas mãos. Conhecia aquele toque. O que antes era a sua maior fonte de conforto era agora vil. Mal. Ela nunca se sentiu tão devastada em sua vida. — Droga, Honor, pare de lutar contra mim. Você só vai se machucar mais. Ela empinou a cabeça para trás, odiando que sua visão nadou com lágrimas. Ela mal registrou que o homem que Hancock tinha chamado de


Bristow tinha ido agora, e em seu lugar estavam todos os homens de Hancock. Todo o bando de traidores. — Não há nenhuma maneira de me machucar mais — disse ela estupidamente. Alguém, mais do que um homem, xingou, em mais de um idioma, mas seu olhar nunca deixou Hancock. Ele a olhou melancolicamente, nenhum indício de culpa. Sem pesar por tão insensivelmente trair a confiança dela, que tinha sido tola em dar. Isso era sobre ela. Mas então não tinha escolha real. Sem chance real. Ela enganou-se ao pensar que tinha uma. Ela havia sido condenada desde o momento em que a clínica tinha caído em torno dela e sobre ela, os gritos de seus colegas de trabalho ainda ecoando em seus ouvidos, o cheiro de sangue sempre presente em suas narinas. Choque e um grande senso de traição a paralisou. Ela tinha confiado nele. Não no início, mas sua confiança nele tinha crescido nos últimos dias, quando ele lutou para tirá-la do país e fora das mãos da Nova Era. Alguém, ela nunca ergueu o olhar para reconhecer quem quer que fosse, gentilmente pressionou um copo contendo água fria em sua mão e, em seguida, ofereceu-lhe uma bacia, segurando-a alguns centímetros abaixo de sua boca. — Enxágue a boca e cuspa na bacia — veio a ordem ríspida, o rugido em sua cabeça, suas orelhas, seu coração muito sobrecarregado para registrar de quem era a voz. Ela fez como instruído mecanicamente, como uma coisa programada. Uma máquina sem sentimentos, não havia processos ou escolha de pensamento. E quando ela terminou de cuspir o gosto ruim da sua boca, engoliu vários goles do líquido refrescante para acalmar a garganta queimada, que estava assim por ter gritado em negação da traição de Hancock. Seu olhar acusador parou em Hancock, certa de que sua dor e confusão brilharam em seus olhos. Ele a considerou calmamente, desapaixonadamente. Mas então, é claro, ele não teria a graça de parecer envergonhado. Ele não era o seu cavaleiro branco, seu salvador. Ele foi o instrumento de sua morte. — Você prometeu — ela sussurrou entrecortada, jogando o copo em sua direção.


Ele balançou a cabeça em negação. — Eu nunca prometi nada, Honor — disse ele em um tom tranquilo que refletia nada de remorso exibido em sua expressão. — Não, mas você me permitiu pensar que eu estava segura… E isso é pior — disse ela em um tom selvagem. — Você poderia ter me dito. Você poderia ter corrigido a minha suposição a qualquer momento. Pelo menos, então eu teria tempo para me preparar. Em vez de pensar o tempo todo que eu estava a um passo de liberdade. Você é um monstro. Assim como eles. Mas pelo menos eles são honestos sobre suas intenções. Isso faz de você pior do que aqueles selvagens assassinos. Hancock levantou uma sobrancelha, ignorando as farpas pontiagudas que ela jogou nele. — Para você escapar na primeira oportunidade? Sim, isso é o que eu faço com todos os meus prisioneiros. Eu digo a eles exatamente qual é o seu destino para que eles possam fugir. Seu rosto se contorceu em um grunhido impotente. Muito parecido com um animal ferido esperando ser executado por um caçador. — Como eu seria capaz de escapar de você e… dessas pessoas? Ela deu a todos um olhar mordaz, ficando mais irritada a cada minuto, quando nenhum deles pareceu nem remotamente arrependido. Eles eram todos bastardos sem coração. Traidores de seus compatriotas. Ela não podia olhar para nenhum deles naquele momento. Eles enojavam a sua alma. — Você escapou de um grupo terrorista organizado que, supera e muito a quantidade de meus homens e conseguiu enganá-los por mais de uma semana. Então sim. Eu não tenho nenhuma dúvida de que você teria encontrado uma maneira de escapar de mim também. Ela ficou em silêncio, o olhar inflexível fixo à frente e se recusando a reconhecer qualquer um deles novamente. Nem permitiu que o desespero esmagador que ameaçava engoli-la se mostrasse. Ela não lhes daria essa satisfação. — Diga-me — ela disse em uma voz devastada. Sua raiva era uma coisa terrível. Seu senso de traição era muito maior. O pior de tudo, ela não poderia mantê-lo dele. Não conseguiu esconder o quanto ele a tinha machucado, ele ou


qualquer outra pessoa na sala. Ela foi despojada de sua dignidade, seu orgulho, sua própria alma. Ela não tinha mais nada. — Qual será meu destino, Hancock? Você me deve pelo menos isso. Num piscar de olhos, a vida tinha saído dela. Ela estava perigosamente calma. Desencarnada, uma morta-viva, respirava, mas sem esperanças ou sonhos. Ela viu algo selvagem em seu olhar por um breve momento antes de deslizar sobre a cama ao lado dela, ignorando-a quando ela se movimentou para longe dele o quanto podia. Ela não podia tocá-lo, não podia permitir que ele a tocasse. Ela só ia vomitar novamente. — Por que você precisa saber? — Ele perguntou com uma voz surpreendentemente suave. Deus, ela precisava que ele fosse o idiota que ela pensou que fosse desde o início. A opinião que uma vez formou e que nunca deveria ter mudado. Ela sempre confiou em seu instinto quando se tratava de pessoas, e isso dizia o quê? Que estava tão terrivelmente errada sobre ele? Ela encontrou seus olhos friamente, sentindo camadas sobre camadas de gelo se formando em seu coração, sua mente, sua alma, encapsulando-a e a congelando até os ossos. — Para que eu tenha tempo suficiente para esculpir um buraco no meu cérebro, então eu posso rastejar nele e morrer. Ele instantaneamente recuou com um estremecimento. Ela ouviu uma maldição disparada do outro lado da sala e, em seguida, alguém andou para longe, batendo a porta com tanta força que terminou o trabalho de derrubar a pintura da parede que Hancock já tinha começado a derrubar quando ele a deixou depois que ela pediu que a beijasse. Que estúpida, sem esperança, tola ingênua que tinha sido. — Que soldado honrado você é — ela disse em uma voz zombeteira. Mas a dor dela a traiu. Como tantas outras coisas nessa tarde. Ela tentou soar amarga, irritada, furiosa mesmo. Mas ela mal conseguia sufocar as palavras


porque ela ainda estava gritando por dentro, sua dor era tão grande que podia sentir quebrando em um milhão de pedaços. — Prostituindo-se para conseguir fazer o trabalho. Qual é exatamente a taxa de mercado para o serviço de prisioneiros nos dias de hoje? A raiva brilhou calorosamente nos olhos de Hancock, mas ela estava longe demais para se importar. Ela já estava recuando dentro de si mesma. Ele se condenou com o silêncio. Ela sabia que ele tinha feito àquelas coisas em missões anteriores. Não, seus trabalhos. Missões de alguma forma invocavam algo com significado. Valor. Honra. Lealdade. Bondade. Ela era um trabalho, assim como outras mulheres tinham provavelmente sido trabalho também. — Saia — disse ela, segurando até o último grama de sua compostura em ruínas. —Todos vocês. Saiam! E enquanto ela estava deitada lá, quebrada, chorando silenciosamente por tudo que tinha perdido, percebeu que a única coisa que ela tinha jurado que Bristow não tiraria dela — Hancock, seu talismã e protetor — nunca tinha sido dela, para começar. Ela não tinha mais nada para ninguém tirar dela. Não tinha nada, não era nada. Apenas uma ferramenta. Uma moeda de troca. Um brinquedo para homens maus e implacáveis. E por pouco tempo, ela tinha dormido com o inimigo, figurativamente falando. Ela cometeu o erro de confiar quando sabia que não deveria. Mas pelo menos ela não teria que viver com esse arrependimento de partir o coração. Seu tempo seria muito curto, de fato. Ela fechou os olhos, angustiada com o que estava por vir: o sofrimento e agonia que seria infligida sobre ela antes que finalmente escapasse para a proteção da morte. Ela lamentou que sua morte não pudesse vir mais cedo.


CAPÍTULO 20 IRA comia Hancock, embora ele tivesse o cuidado de manter suas emoções sob controle — uma arte que tinha aperfeiçoado até que era como uma segunda natureza, como respirar. Mas ele nunca se sentiu tão perto de perder seu controle firmemente amarrado. Ele estendeu a mão na direção de sua equipe, e uma delas se esforçava para entregar um kit médico. — Traga Conrad aqui — Hancock estalou. — Eu preciso dele para dar uma olhada em seus pontos. Cope, Viper e Henderson trocaram imediatamente olhares sombrios e silenciosos. No fim do berro de Hancock, Honor ficou completamente imóvel e, em seguida, rolou para longe, para que ela enfrentasse a parede e se enrolasse em si mesma, formando uma barreira protetora. Com resignação sombria, ele deslizou na cama ao lado de Honor, um joelho dobrado, então estava sentado de frente para a cabeceira da cama para que ele pudesse apreciar a massa de cabelos cor de mel — ela conseguiu voltar à cor original com repetidas lavagens — e moveu os fios que cobriam o rosto. E a evidência de suas lágrimas. Ele empurrou os fios a distância, ignorando o recuo e o fato de que ela estava se afastando cada vez mais para longe dele, não só fisicamente, mas mentalmente. Seu temperamento, cru e selvagem, disparou quando ele tocou em seus lábios machucados, o filete de sangue que ainda escorria não só de sua boca, mas de seu nariz também. Um feio hematoma parecia que já estava se formando onde aquele bastardo a tinha tocado. Machucou-a. Colocando suas malditas mãos sobre o que não lhe pertencia. Hancock sabia que ele estava vivendo em tempo limitado. Era só uma questão de quando — não se — ela descobriria suas intenções e que não eram do homem que ela pensou que via quando olhava para ele antes. Mas agora, o conhecimento e a compreensão estavam ali, olhando para ele com acusação escura, mas o pior de tudo, ferida e devastada que estava além


do reparo. Ele tinha feito isso a ela. E ela estava certa quando disse que o que ele tinha feito — estava fazendo — era muito pior do que a Nova Era tinha planejado. Os homens que a caçavam não a embalaram em uma falsa sensação de segurança. Eles não tinham lhe dado esperança. Ou ternura ou carinho, durante todo o tempo com a intenção de sacrificá-la. Trocar sua vida por milhares de outras. Hancock tinha feito todas essas coisas, e ele sabia que ela iria odiá-lo. O que ele não sabia era o quanto ele odiaria a si mesmo, nem se soubesse que sua profunda angústia iria torcer o intestino em nós, que não tinha nenhuma esperança de desatar. Ele revirou mais, consciente para não a machucar mais do que o necessário, mas tinha que estar no comandando e firme. O próprio imbecil ela agora estava convencida que ele era. E ele não negou que era apenas isso. — Você está sangrando — disse ele severamente. Ela estremeceu sob os dedos que a tocavam, e ele viu o que o movimento lhe custou. — Onde diabos está Conrad? — Ele gritou. Ele não queria que ela tivesse mais dor do que o necessário. Sobre sua angústia mental ele não poderia fazer nada, mas poderia, pelo menos, aliviar o desconforto físico. Ele nunca reconquistaria a sua confiança novamente. Não que merecesse. Mas isso, também, era inesperado. A dor que sentiu pela perda de algo tão precioso. Conrad entrou com sua fúria parecendo uma coisa viva, em cada respiração. Ele nem sequer encontrou os olhos de Honor, não que eles estivessem disponíveis para encontrar, mas ele não sabia disso, porque não deu sequer um olhar na direção de Honor. Ele só olhou para Hancock, fervendo com impaciência mal controlada, à espera de instruções do seu chefe de equipe. — Dê-lhe algo para a dor. E para acalmá-la — Hancock acrescentou calmamente. — Ela está abrindo algumas das suturas. Eu tenho certeza disso. Certifique-se de dar-lhe outra injeção de antibióticos. — Não.


Disse tão suavemente que todo mundo congelou, incertos sobre se realmente tinha vindo dela. Ela virou a cabeça sobre o ombro trêmulo, os olhos baixos para que eles não vissem a dor e tristeza inundando-os, tornando-os piscinas gigantes que engoliram totalmente Hancock. Mas ele viu. Somente ele estava perto o suficiente para ver o que ela tentou tão valentemente esconder de sua equipe. — Não para tudo — disse ela em um tom mais firme, que tinha uma ponta da fúria rodando em seus olhos. — E definitivamente não para qualquer droga que me acalme. Eu estou farta de ter vontade de outra pessoa sendo imposta a mim. Entendi. Vou morrer. Mas porra, eu não vou morrer sem uma chance de lutar. Eu não vou desistir sem lutar. Hancock suspirou incapaz de manter seu respeito por ela e seu espírito indomável em cheque. Então mais uma vez se tornou o idiota que ele era e o idiota que ela pensou que ele fosse. — Eu não me importo muito com o que você quer Honor. E você não vai a lugar nenhum. No entanto — ele emendou, lembrando-se de sua promessa de que ele não mentiria para ela. Não que isso traria qualquer conforto ou consolo. Mas ele não iria mentir para ela. — Eu vou te segurar se necessário, mas Conrad olhará seus ferimentos e você vai aguentar e ficará o quanto possível livre da dor. E então você vai dormir e se curar. — Com pressa em deixar sua prisioneira bem o suficiente para o próximo monstro que você irá me penhorar? — Perguntou ela, com lágrimas grossas sua voz. Maldição. Ela o estava matando. Lentamente centímetro por centímetro. Cavando um buraco em seu intestino e seu coração. No que restava de sua maldita alma. Ele não respondeu à sua pergunta. Como, se isso era exatamente o que ele pretendia fazer? Mas não querer vê-la ferida não tinha nada a ver com Maksimov. O russo não se importaria que em condição ela fosse recebida, porque ele certamente provocaria sua própria marca de danos antes de jogá-la como sobras para a NE.


Mas ele queria que Bristow acreditasse que Maksimov ficaria mortalmente chateado se Honor fosse machucada. Ele comprou para ela… tempo. O que era cruel. Ele admitiu. Mas maldita fosse, ele não estava pronto para deixá-la ir para sua desgraça tão rapidamente. Ele precisava desse tempo adicional. Mesmo que ela não quisesse. Se Bristow acreditasse que Maksimov o mataria se Honor tivesse sinais visíveis de que Bristow a atacou, ele a manteria segura, então que assim fosse. E ainda não tinha dissuadido o filho da puta de saltar na primeira oportunidade para demonstrar seu controle sobre Honor e seu destino. Ou ter grande satisfação de assustá-la até a morte. Ele se alimentava com o medo dos outros. Era um afrodisíaco inebriante que alimentava fantasias sádicas de Bristow. Essa era uma realidade. A única razão de Hancock não ter acabado com Bristow com suas mãos — o que ele prometeu aos seus homens que faria se tivesse prejudicado Honor — foi porque ele viu um dos homens de Bristow fazer uma chamada discreta, quando viu a enxurrada de atividades em torno do quarto de Honor, e então ele soube. Ele sabia Maksimov tinha uma toupeira12 dentro da organização de Bristow. Maksimov tinha olhos e ouvidos em todos os lugares. Para Hancock não era nada menos do que o esperado. Mas ele não tinha identificado o toupeira. Até agora. E sua audição, sintonizada para ouvir o que a maioria dos outros não eram capazes de ouvir, o fez perceber que ele não podia matar Bristow. Ainda não. Porque Maksimov descobriu que Honor estava na posse de Bristow. Bristow não tinha contatado o russo ainda para organizar a transferência. Por quê? Hancock não sabia, mas tinha uma boa ideia. Bristow queria Honor primeiro. Antes que ele a entregasse tão prontamente. Ele podia querer dinheiro, poder e status elevado com Maksimov, mas ele era um filho da puta doente, e cada um dos instintos de Hancock disse

12

Toupeira: Um espião, um informante. Alguém que penetra , entra em um círculo de amigos ou organização com o único objetivo de recolher informações sensíveis ou confidenciais e divulgar a um grupo adversário ou concorrente.


a ele que Bristow planejou viver cada uma dessas fantasias doentes com Honor antes de fazer a troca. E então Hancock foi forçado a entrar quando Bristow pediu. E fazer parecer que ele era exatamente o que ele era. Um assassino a sangue frio contratado, sem sentimentos, remorso ou culpa, e convencer Honor que ele era exatamente como Bristow o tinha descrito. Ele sentiu cada estremecimento e podia ouvir os gritos de negação profundamente dentro dela quando ele a chamou de mercadoria. Porque ele não podia matar Bristow, independentemente do desejo esmagador que teve no momento em que viu o estrago que tinha feito a Honor. Que não somente a tinha destruído, mas a tinha machucado. Tinha propositadamente imposto o seu domínio na tentativa de quebrá-la, sem perceber que ela já estava quebrada e que tinha sido Hancock que tinha feito isso. Não Bristow. Só depois que Bristow fizesse a troca. Quando tivesse certeza absoluta da hora e localização. Só então Hancock poderia descarregar sua raiva terrível e destruí-lo. Sua morte não seria lenta ou misericordiosa. Ele tinha toda a intenção de fazer Bristow pagar por cada palavra que ele tinha dito a Honor. Cada golpe que ele tinha infligido. Cada lágrima, cada machucado, cada gota de sangue que tinha derramado. Porque era a única maneira de libertar a terrível raiva que aumentava dentro dele, porque ele sabia, assim como Bristow iria sofrer, que Honor também sofreria horrivelmente. E não havia uma maldita coisa que ele pudesse fazer sobre isso. Seus homens foram pegos na terrível guerra interna que Hancock estava atualmente travando, e as suas próprias posições relaxaram um pouco, tristeza e lamento rolando em seus olhos. Eles odiavam. Pela primeira vez, eles odiavam a ordem que ele lhes deu. Eles tinham até mesmo considerado uma rebelião. Ele não poderia culpá-los. Não podia culpar o ódio deles, porque ele odiava a si mesmo muito mais do que alguém jamais poderia. Mas agora eles entenderam que ele não gostava disso mais do que eles. Odiava-se ainda mais porque em algum lugar ao longo do caminho, esta missão


— Honor — se tornara profundamente pessoal. Muito mais do que tinha sido com Elizabeth, Grace e Maren. E ainda assim ele poupou as mulheres e ele não permitiria a Honor ter a mesma salvação. Ele era um bastardo que não merecia morrer com honra ou dignidade. Ele merecia ser caçado como um animal e ter uma morte longa e dolorosa com todos os pecados que já tinha cometido rolando através de sua alma como uma ladainha sem fim. Ele deslizou a mão até o ombro de Honor, odiando o tremor revoltante que andou por seu corpo no momento em que fez contato. Sua pele estava tão fria e tremia com… medo. Ela, que nunca teve medo dele. Inferno, ela não temia nada, embora ela contestasse e afirmasse que era uma covarde. Ele colocou o medo em seus olhos, e ele odiava a si mesmo mais a cada segundo que passava. Ele virou-se para ela, seu aperto firme e inflexível. Ela resistiu e ele não cedeu, mas amaldiçoou em silêncio quando ele viu a dor momentaneamente não somente roubar seu ar, mas também sua força. Ela cedeu, caindo de costas com mais força do que pretendia. — Droga, Honor — ele murmurou. — Me odeie. Me despreze. O que fizer você se sentir melhor. Mas não cause sofrimento desnecessário a si mesma por me desafiar. Eu farei o que for preciso para forçar a minha ordem. Em todas as questões e, especialmente, quando se trata de você se recusar a diminuir sua dor. — Diminuir a minha dor? — Ela perguntou com voz rouca. — Você é humano? Você me magoou, Hancock. Você… Não foi o maldito bombardeio. Não foi a bala que eu tomei por um homem que eu acreditava que estava arriscando sua vida para salvar a minha, e não para garantir que eu estava acelerando em direção a minha morte. Você me machucou e não há um maldito remédio ou tratamento na terra que vai me ajudar nesse tipo de dor. Ela estava deitada de costas, seu peito subindo e descendo rapidamente, e em torno de seus lábios estavam planos com as linhas de tensão. Ela estava machucada como o inferno. Ele acenou para Conrad, e Honor empurrou-se para cima na cama, equilibrando-se sobre os cotovelos, lágrimas que ele soube que ela não sabia


que estavam lá, escorrendo pelo rosto com a dor que o movimento brusco havia causado. — Sedativo não! — Ela gritou, sufocando antes que sua voz se elevasse em histeria. Ela virou os olhos acusadores em Hancock. — Você me deve alguma coisa e eu quero respostas. É por isso que você queria que ele me nocauteasse. É por isso que eu fiquei trancada neste quarto todo esse tempo, porque você não queria que eu descobrisse a verdade. Por quê? Por que isso importa? E quando descubro você não quer responder às minhas perguntas. É por isso que você disse ao seu servo ali para me sedar. Porque você é um enorme bastardo sem coração, por me negar a única coisa que me devem. Salvei a vida do seu homem. Meu reembolso é a verdade. A mandíbula de Hancock se contraiu, porque apesar da raiva de Honor, sua aparência exterior de força, ele viu algo mais e assim a constatação o bateu a respeito de por que ela estava tão determinada a estar ciente enquanto Conrad reparava suas suturas. Ela estava preparando-se para a dor. Preparando-se para o que estava por vir. Porque pontos simples, apesar de dolorosos, eram meros aborrecimentos comparados à tortura projetada para causar tanta agonia possível sem matar a vítima. Para fazê-los suportar tanto tempo até que a dor assumisse como uma loucura e eles pedissem pela morte. Liberdade total. Paz e liberdade da miséria de sua existência. Então, imaginar o que aconteceria com ela, sabendo que ela estava pintando imagens igualmente dolorosas em sua cabeça, ao mesmo tempo, fez os dedos do mal agarrarem-se à sua própria sanidade que finalmente ameaçou escorregar. E tudo o que tinha no momento era a sua sanidade. A parte calculista e inteligente de seu cérebro que realizou cada missão, sem importar o quanto de sua alma tinha sido perdida. Deus sabia que o resto dele já tinha cedido à culpa e o desespero. — Sem sedativo— disse Hancock depois de estudá-la por mais um momento. E seu olhar nenhuma única vez deixou seu rosto quando ele deu a


seguinte ordem. —Mas ela receberá antibióticos e medicação para a dor. Antes de qualquer coisa. Antes da anestesia para os pontos. E você vai esperar até que comece a fazer efeito antes de você sequer a tocar.


CAPÍTULO 21 — A MEDICAÇÃO para dor faz a mesma coisa que um sedativo — Honor acusou, encolhendo-se pela súbita presença de Conrad na sua cama. — Isso me deixa tonta e não quero ficar atordoada. Quero as malditas respostas para minhas perguntas. Se um prisioneiro, mera mercadoria, desse ordens imperiosas para homens que não pensavam em nada além de descartá-la insensivelmente e a enviassem através dos próprios portões do inferno para saudarem Satanás e então esperar obediência, era óbvio que o cativo realmente enlouqueceu. O que de pior eles podiam fazer? Matá-la? Torturá-la? Não era como se esse não fosse seu destino eventual. Atrasá-lo tornava tudo pior porque isso lhe dava tempo demais para imaginar como ela poderia sobreviver até mesmo um dia nas mãos de um brutal animal desumano cuja única meta era fazê-la sofrer. — Você estará consciente o bastante para fazer suas perguntas — veio a resposta seca e sem emoção de Hancock. — Porém, você não estará consciente de sua dor se eu tiver alguma coisa a dizer sobre isto. Já que conhecia bem aquela expressão implacável, sabia que não teria escolha não importando o que ele decidisse fazer com ela. Derrota amarga trouxe lágrimas ácidas, fazendo seus olhos arderem como abelhas enfurecidas. Ao lado dela, Hancock enrijeceu, e por um momento a mão dele pairou acima de seu braço antes de se estabelecer ali, as pontas dos seus dedos descansando em sua pele. Ela se sacudiu para trás como se ele a queimasse e se amontoou ainda mais dentro de si mesma, fazendo-se o menor possível em um lugar cheio de homens incrivelmente grandes. Hancock esticou a mão para erguer a bainha do pijama dela até o topo enquanto ele facilmente deslizava a cintura da parte de baixo só o suficiente para desnudar seu quadril. Furiosa pelo quanto era impotente — se sentia — ela deitou ali estoica, recusando-se a não mostrar nada mais a eles. Sem mais fraqueza para explorar.


Ela sentiu a primeira agulha entrar deslizando, controlando sua reação dolorosa à medida que o remédio queimava. Mal conseguiu se impedir de estremecer com um encolher involuntário quando a mão de Conrad empurrou em cima do local da injeção e suavemente massageou a área para espalhar a medicação mais depressa, então o desconforto enfraqueceria mais cedo. Então como se ele não tivesse acabado de tocá-la com uma ternura que ela sabia que nenhum deles possuía, ele inseriu a segunda agulha com destreza e administrou o que ela assumia — esperava — fosse meramente o antibiótico que Hancock insistiu que ela recebesse. Ela esperou por traição. Esperou pela atenuação da consciência que um sedativo traria. O entorpecer de todas as suas emoções até que ela vagasse e se tornasse nada além de um vegetal manejável, incapaz de resistir a qualquer coisa que eles escolhessem fazer. Mas além da névoa da medicação para dor, que já estava fazendo seu trabalho de empurrar a dor para baixo — sua dor física —, ela não sentiu nenhuma outra indicação que estivesse comprometida. Aparentemente Hancock era capaz de manter promessas quando lhe convinha. Ele esperou por longos minutos, observando-a com olhos que não perderam nada antes de virar e despachar os outros. As únicas instruções que deu a seus homens foram: — Mantenha um olho nesse bastardo e certifiquem-se que isto não aconteça novamente. Ela estava cansada e magoada demais até mesmo para tentar considerar o que ele quis dizer com seu comando enigmático. Assim que seus homens partiram, deixando-a sozinha com seu traidor, ela não lhe deu nenhuma chance de assumir o comando da situação. Nenhuma chance para ter a vantagem, entretanto sabia que de maneira nenhuma tinha qualquer vantagem nesta situação. — Por quê? — Ela perguntou em uma voz enganosamente suave. Ela sabia que sua ira terrível trepidava logo abaixo da superfície, que não levaria muito para estourar em algo horrível.


Hancock suspirou e pôs mais distância entre eles, uma pequena coisa para ela ser agradecida, mas podia admitir que a proximidade dele só a fazia se sentir mais presa, mais vulnerável, e se ela quisesse passar por isto, precisava de qualquer vantagem que pudesse ganhar. — Eu tenho trabalhado encoberto há muito tempo, Honor — ele disse baixinho, como se as paredes tivessem olhos e ouvidos. Enquanto falava, ele rapidamente fechou a distância entre eles mais uma vez, deslizando na cama ao lado dela, só que desta vez sentando ao lado dela, então as costas dos dois descansava contra os travesseiros encostados na cabeceira da cama. — Você não era meu alvo pretendido. Você apenas se tornou um... Dano colateral. Um sacrifício inevitável para o bem maior. Ela fez um som baixo porque ele estava sutilmente dançando em torno do assunto quando ela queria a verdade nua e crua. — Eu trabalho para Bristow. — Um sorriso frio torceu aqueles lábios implacáveis. — Ou é o que ele gostaria de acreditar. Que não sou nenhuma ameaça para ele. E isso convém muito bem ao meu propósito. Ele nunca saberá a verdade até que seja tarde demais. — Ele disse que você era expert em fazer as pessoas acreditarem no que queria que eles pensassem — ela disse em um tom neutro. — Talvez ele saiba mais do que você acha. — Sim, ele está ciente do meu talento. Simplesmente acredita que é inacessível. Está errado. Eu estive manipulando-o desde que vim trabalhar para ele. Eu precisava dele apenas para a conexão que ele tem com um russo chamado Maksimov. Um homem que matou milhares e milhares de pessoas inocentes. Mulheres. Crianças. Nada disso importa para Maksimov. Nada conseguiu detê-lo. Estive duas vezes perto de derrubá-lo e ele deslizou através dos meus dedos. Não permitirei isto uma terceira vez. Ela sabia que tinha tudo a ver com a confiança com a qual ele falou em derrubá-lo desta vez. E isso a apavorou. — Mas o que eu tenho a ver o que vocês querem? — Perguntou desdenhosamente, tentando esconder o medo paralisante e a sensação de


fatalismo quando percebeu que ela era um pedaço bem grande da coisa toda. Talvez o único pedaço que importava agora. Estava completamente confusa com o como ou o porquê. Ela era insignificante. Uma ninguém. Como podia ser tão importante para não apenas um, mas três homens muito poderosos — e organizações? Sabia por que a Nova Era a queria. Para livrar sua cara. Mas por que Bristow? E por que este Maksimov? Ela estava presa. Nunca iria para casa. Nunca mais veria sua família. Lágrimas reluziram em sua visão, mas não tentou segurá-las. Lamentava pelo que nunca poderia ser. Pela perda da única coisa que a fez atravessar tantos dias longos e dolorosos. Que a manteve seguindo apesar das chances insuperáveis. Esperança. Esperança que foi extinta no minuto que Hancock revelou sua traição cortante e impessoal. Sem esperança havia só derrota. E... Morte. Tristemente, lembrou-se daquele breve momento de fraqueza, quando teve o punhal em suas mãos e contemplou acabar com tudo então. E mais tarde, quando se libertou do monte de destroços no qual ficou presa, prometeu se matar bem antes de permitir a Nova Era à satisfação de fazê-la implorar a eles pela morte. Deus, como queria que tivesse cedido ao impulso agora. Pelo menos então teria a única coisa que agora lhe era negada para sempre. Paz. — Você escapou da NE — Hancock disse simplesmente. — Você se tornou um ícone de esperança para um povo oprimido. Deu a eles esperança, quando pensavam que não tinha nenhuma disponível para eles. A NE fodeu Maksimov durante um negócio. E Maksimov não é um homem com quem se brinque. A NE deve a ele um monte de dinheiro. Bristow está tentando fazer um jogo com Maksimov. Ele não é estúpido o suficiente para pensar que pode tirar os russos e assumir o comando de suas operações. Ele só quer um pedaço do bolo. Quer um lugar de importância dentro da organização de Maksimov. Então me enviou para te encontrar antes que a NE eventualmente te pegasse. E eles teriam, se eu não tivesse chegado a você naquele momento. Ela abriu a boca para soltar sua ira e negação, mas Hancock simplesmente apertou sua mão, seus dedos entrelaçados juntos, e ela não se lembrou deles terem chegado até ali. Mas quando tentou arrastar sua mão para se soltar, seu aperto só aumentou até que seu polegar alisou acima da pele sensível do pulso dela.


— Bristow está arrumando uma reunião com Maksimov e planeja te dar para os russos, que então vão balançar você na frente do nariz da NE como a proverbial cenoura na frente do nariz do burro. A NE sobre uma grande derrota em não te apanhar e farão qualquer coisa para ter você de volta em sua posse, de forma que a fuga de uma mulher não manche para sempre sua honra e orgulho permanentemente escapando deles. Uma vez que Maksimov tenha você, então fará uma troca com a NE, uma que custará a eles muito mais do que devem a Maksimov. Mas o orgulho deles é maior que seu bom senso, e Maksimov sabe disso. Ele se aproveitará disto. Ele conseguirá o que quer, e a NE conseguirá o que eles querem. — Eu — ela sussurrou. E então ela desmoronou, arrancando sua mão do aperto de Hancock enquanto suas duas mãos voaram para seu rosto em um esforço de abafar o soluço que de algum jeito fez sua saída de qualquer maneira. — Oh Deus, por que não morri naquele dia? Por que fui a única a sobreviver? Acreditei a princípio que eu tinha um propósito. Que minha vida permanecia por alguma coisa. Que eu chegaria em casa, se por nenhuma outra razão, para que então o mundo soubesse o que estes animais fizeram. Que minha fuga seria o derradeiro ato de desafio e recusa em permitir a eles governar e ter controle absoluto sobre uma região tão vasta. Mas isso foi tudo por nada. Toda essa fuga correndo, a dor, o medo, todas aquelas noites de não ser capaz de dormir por causa dos pesadelos e medo de ser descoberta em cada curva. Eu nunca tive uma chance, não é? — Ela perguntou com sua voz pequena e dolorosamente vulnerável. A voz de Hancock foi áspera. Soou moderada e possessa. E tudo que ele disse foi uma palavra, e ainda assim carregada de uma riqueza de emoção. — Não. Ela cavou suas palmas nos olhos e balançou de um lado a outro, sua angústia tão grande que não estava nem ciente do que fazia ou quão frágil parecia.


— A medicação leva tempo para fazer efeito — Hancock disse no mesmo tom plano, não traindo nenhuma sugestão de qualquer coisa, como se não tivesse acabado de soar enfurecido segundos antes. Levou um momento para ela perceber a quem ele estava se endereçando até que viu Conrad dar um passo das sombras do outro lado da sua cama. Ela esqueceu sua presença. Assumiu que ele tivesse partido quando Hancock mandou os outros fazerem o mesmo. Mas ele ia arrumar os pontos rasgados. E ela tinha se desnudado dolorosamente, não só a Hancock, mas agora também a Conrad. Um homem cuja vida ela salvou. Ela ficou em silêncio, não dizendo uma única palavra, não emitindo um único som enquanto Conrad rapidamente puxava os pedaços dos pontos soltos de sua pele e então os reajustando, fazendo sons inarticulados profundos em sua garganta. Quase como o grunhido de um predador raivoso. Ela retrocedeu para dentro de si mesma, já preparando suas barreiras, vendo quão fortes elas podiam ser e como ela estava se tornando perita em se tornar alguém, algo, completamente diferente. Levou um longo tempo, o quarto envolto em silêncio, para ela perceber que Conrad tinha se retirado e somente Hancock permanecia. — Você pode ir agora — disse ela, nenhuma vida em sua voz. — Honor, escute-me — Hancock disse em uma urgência que nunca antes detectou em sua voz, escoando acima dela como um choque elétrico. Ela olhou fixamente para frente de maneira rebelde, seu olhar fixo em um objeto distante enquanto continuava a retroceder cada vez mais e mais dentro do silêncio que ela construiu ao seu redor. — Droga, Honor. Pelo menos uma vez só me ouça. Sei que você me odeia. Despreza-me. Você tem todo direito. Mas preciso que você me escute. Seu sacrifício não será em vão — ele disse ferozmente. — Sua bravura não ficará sem ser contada. Sua coragem não será esquecida. Você nunca será esquecida. Eu juro pela minha vida. — O que isso importa? — Ela perguntou estupidamente. — Eu morrerei uma covarde, implorando pela morte, desejando morrer com todo meu coração e alma. Como isso é bravura ou coragem? Não quero jamais que meus pais


saibam a verdade da minha morte. É mais gentil dizer a eles que eu morri no bombardeio. Você pode me prometer pelo menos isso, Hancock? Você pode fazer a eles esta pequena gentileza, já que eu sei que não fará isto por mim? — Não — ele disse em uma voz puta da vida. — Não, eu nunca vou deixá-los acreditar que você simplesmente morreu. Vou dizer a eles a verdade. Que sua vida e morte significou algo. Que sua morte salvou centenas de milhares de outras pessoas. Então eles nunca vão pensar que sua morte foi sem sentido e aleatória. Eles merecem essa verdade. — Então não importa o que eu quero, entretanto isso devia ser óbvio para mim agora — ela disse com auto aversão a enchendo por ter considerado sequer por um instante que iria. Ela levantou seu rosto para ele, e o viu recuar por seja o que for que tenha visto de terrível em seus olhos. Ou talvez tenha sido a falta do que ele viu em seus olhos. Vida. Significado. Que ela não mais se importava e desistiu. Finalmente derrotada. — Por que você me beijou? — Ela sussurrou ferozmente, odiando-se ainda mais por esta exibição de debilidade absoluta. — Por que se dar ao trabalho de fazer com que eu importasse? Fazendo-me pensar que se importava pelo menos ao nível de um humano cuidando de outro? Você me despreza tanto? Não posso conceber o tipo de ódio que dirige você. Ela estremeceu e correu as mãos de cima a baixo em ambos os braços, dobrando-se em si mesma, ficando menor e mais sem importância a cada minuto que passava. Preparando, suas defesas, fortalecendo-as para o terrível futuro que a aguardava. — Eu me importo — ele negou duramente. — Eu me importo demais, porra, e é por isso que estou tão puto, Honor. Porque eu não deveria me importar. Eu não deveria ser humano. Sou um assassino. Um mercenário. Dê o nome que quiser, mas é tudo verdade. Cada coisa terrível possível que você possa imaginar. É verdade. Mas você nunca pode dizer que eu não me importo, droga. Porque eu me importo demais. Naquele momento, Honor soube. Soube que Hancock não era tão incapaz de emoção como ela tinha pensado. Que provavelmente odiava o que ele sabia


que tinha que ser feito. Mas isso não o deteria porque acreditava em seja qual for sua missão, ou trabalho. E para tal, como ele colocou, para salvar milhares de outras vidas, a dela deveria ser perdida. E ele odiava isto. Mas odiava que ele se importava ainda mais. Quão solitária e rígida sua existência devia ser? Destituído de todas as coisas que ela dava por certo sendo criada em uma enorme e amorosa família, cercada por amor incondicional e apoio. Coisas que obviamente ele nunca teve — nunca teria — porque nunca se permitiria ter tais coisas. Ele não pensava que era digno ou que as merecia. Ela o odiava por traí-la, mas o entendia de um modo distorcido. Em seu próprio modo, ele era honrado. Fazendo o que a maioria não podia fazer, mas tinha que ser feito para livrar o mundo de monstros. Até se tornar a mesma coisa que ele caçava. Um monstro do pior tipo. Talvez se ele não tivesse feito ela se importar com ele, o homem, ela não estaria tão magoada ou se sentindo tão traída. Talvez até entendesse melhor que seu sacrifício, como ele o julgava, fosse necessário. Mas não podia simplesmente pôr isto de lado como ele fez e desligar o que a fazia humana. Ainda doía. Doía mais que o pensamento de tortura e morte. Doía por ter confiado nele, que se importou com ele num nível mais profundo. Que eles compartilharam a intimidade — um vínculo — que ela não tinha compartilhado com mais ninguém e isso tudo tinha sido jogado de volta na sua cara. Isso não significou para ele o mesmo que para ela, e por isso se sentia tola e humilhada. Será que seu orgulho ferido verdadeiramente valia a perda de tantas vidas? Até mesmo importava como ela morreu ou como foi sacrificada se tantos outros podiam ser salvos por uma mulher? Ela? E por que agora estava preparando para tentar absolvê-lo da terrível culpa e sofrimento que viu tão brevemente nos seus olhos? Que tipo de tola ingênua ela era por sequer acreditar que podia dar a ele absolvição ou paz?


— Eu entendo, Hancock — ela disse, permitindo que um pouco da fria distância em sua voz diminuísse, a sinceridade tomando seu lugar. — E eu te perdoo, se minha opinião vale alguma coisa. Você está certo. O que é o bem de um comparado ao bem de muitos? Hancock xingou selvagemente, levantando tão rapidamente que balançou a cama, e ela se segurou, ainda tonta da medicação para dor. Ele andou de um lado para o outro como um animal enjaulado, raiva irradiando dele em onda após onda. — Você nunca me perdoe — ele sibilou. — E com toda certeza não me ofereça uma desculpa que seja disfarçada propriamente com compreensão. Ela olhou para ele, permitindo que a tristeza enchesse seus olhos. E resignação. — Você não pode controlar meus sentimentos, Hancock. Você controla meu destino, sim. Meu derradeiro destino. Inclusive minha vida. Mas não pode me controlar. Você não tem essa escolha se eu concedo perdão, ou compreensão, ou até me desculpe por não ser mais forte, que eu não possa simplesmente parar de lutar e aceitar que minha morte salvará as vidas de tantas outras pessoas inocentes. Hancock ficou imóvel, parando de andar de um lado para o outro enquanto a encarava, suas mãos apertadas em punhos de cada lado do corpo enquanto ele tremia de ira descontrolada. Ela prendeu o fôlego ante a agonia crua inundando os olhos dele de forma descuidada, algo que ele nunca permitiria — ou iria querer — que alguém visse. Mas ela viu isto onde talvez ninguém mais iria ver. Onde outra pessoa meramente pensaria que ele era perigosamente bravo. — Eu não faço muitas promessas, Honor. E você não devia nem sequer confiar em mim para mantê-las. Mas de uma coisa juro, é que você será lembrada. Seu sacrifício não será em vão. Sua família será informada da verdade. Cada parte feia dela. Porque você e eles merecem tanto. Sua vida não será esquecida. E porra, você importa. Você importa. O olhar dele caiu, e seus dedos curvavam e soltavam em movimentos rítmicos que ela não tinha certeza se ele estava sequer ciente disso. E quando a


olhou de volta, ela inalou bruscamente pelo que viu naquele único momento de guarda baixa. — Você importa para mim — ele disse roucamente. E então ele andou a passos largos em direção à sua cama, o predador que ele era, mas quando uma vez mais se acomodou sobre a cama, havia algo feroz em seus olhos que não tinha nada a ver com o predador e tudo a ver com ele, o homem. Ele emoldurou seu rosto nas mãos e a beijou, despejando toda a emoção firmemente guardada naquele beijo. Devorou sua boca como um homem morrendo de fome. Sua língua varreu ardentemente sobre a dela, deixando-a ofegante e dolorida. Ele a beijou como se não houvesse amanhã, como se este único momento era tudo que eles tinham, era tudo que importava. O beijo continuou até que ela se rendeu, relaxando contra a força e calor de seu corpo musculoso. Então, surpreendendo-a, ele pressionou beijos minúsculos sobre a linha inteira de seus lábios, parando nos cantos, lambendoos delicadamente com sua língua, e então simplesmente apertou sua boca na dela e deixou-a lá até ambos ofegaram por ar. — Você importa, Honor — ele sussurrou encostado em seus lábios. — Nunca pense que você não importa. Você importa para mim — ele disse, ecoando as mesmas palavras que acabou de dizer momentos antes. — Você importa para caralho. A angústia em sua voz quase foi sua perdição.


CAPÍTULO 22 HONOR acordou e a primeira pessoa que viu pairando ao seu lado da cama foi Hancock. Ela olhou acusadoramente para ele, ainda agitada dos últimos momentos antes de sucumbir aos efeitos do medicamento. Hancock suspirou. — Foi apenas medicação para dor, Honor. Depois que nós conversamos, você estava exausta, não só fisicamente, mas emocionalmente drenada também. Nada teria te impedido de dormir. Eu te dei o que você queria. Respostas. Ele lhe deu um inferno de mais do que as respostas para as perguntas que ela fez. Muito mais. E ela não teve tempo para classificar através do emaranhado de emoções a inundando. Estava confusa com o coração e mente completamente em conflito. — Nem todas — ela murmurou. — As que importavam — ele disse simplesmente. Ela se empurrou para cima, testando as restrições que seus machucados marcaram em seu corpo, satisfeita que podia fazer isto sem trair a dor que a inundou. — Foi uma versão muito abreviada. Uma que você poderia ter dado em um interrogatório. Não mentindo, mas não dando a verdade completa também. Ele acenou com a cabeça, nem um pouco surpreso por sua percepção. Não eram muitas pessoas viam além da fachada que ele sempre, sempre tinha no lugar, e ainda assim ela via mais profundamente, para o homem atrás da máscara de ferro, e ele não gostou disto nem um pouco. — Eu quero tudo — ela disse em uma voz baixa. — Se é para isto ser meu destino, o que deve ser feito, então pelo menos eu mereço... Tudo. E desta vez ninguém vai se aproximar de mim com uma agulha. — E depois? — Hancock desafiou. — Quando você está caindo de cansaço e ficou pálida com dor, que obviamente, está sentindo inclusive agora,


vai lutar comigo então ou vai me permitir te dar esta pequena coisa, algumas horas onde você não está sentindo dor e não está se lembrando da traição? Ela teria que ser cega para não ver o flash de dor que ele não podia controlar. Não na frente dela. Ele podia muito bem ser um livro aberto no que dizia respeito a ela. Pelo amor de Deus, ela pediu desculpas a ele. Por ser egoísta. Por não ser forte. Ela não percebia que tinha a coragem que a maioria dos homens não podia convocar? Nunca podia possuir? Coragem não era algo aprendido. Era nascido em fogo, pelo próprio inferno. Isso era bravura na ausência de medo, ou talvez mascarando o medo. Ela era a porra da mulher mais feroz que ele já conheceu na sua vida, e nunca haveria outra como ela. Ele podia procurar no mundo de cabo a rabo e nunca encontraria alguma mulher — ou homem igual a ela. — Depois — ela concordou, e ele percebeu sua resolução de aço disfarçada só por estar, inclusive agora, suportando dor física e mental. — Mas primeiro quero a verdade inteira. Não apenas a verdade diluída que você escolheu me dar. Eu quero saber quem é este Maksimov e por que ele é tal ameaça. Por que um homem tão impiedoso quanto Bristow tem medo dele, e por que você está tão certo que ele só vai me entregar a NE. Hancock passou uma mão pelo cabelo e a nuca, preso em óbvia agitação. Era óbvio que não estava gostando de sua pergunta. Ele nem sequer tentou esconder sua repulsa, e isso a assustou para caramba, que ele reagisse tão violentamente. Ainda assim, também sabia que lhe daria as respostas que ela exigiu. Estava preparada, verdadeiramente preparada, para a verdade feia e sem verniz? — Maksimov é um monstro além de sua mais selvagem imaginação. Ele é astuto e cruel, e não tem nenhuma consciência. — Ele se encolheu visivelmente, a vergonha entrando em seu olhar conforme ele olhava fixamente para Honor. — Justo como eu. Ela balançou a cabeça antes de até mesmo perceber que estava fazendo isso, inflexível, seus olhos ficando irritados, com raiva.


— Você nem sequer se compare a ele — ela disse ferozmente. — Você não me engana, Hancock. Nem sequer tente mentir ou tentar me fazer ver o que você quer que eu veja. Eu te vejo. E você não é Maksimov. Ele parecia... Perplexo, como se não tivesse nenhuma ideia de como responder a sua declaração apaixonada. Por um longo momento, o silêncio reinou. — Voltando a Maksimov? — Ela iniciou. — Matar é sua segunda natureza. Para ele matar é tão normal quanto respirar. Como comer ou beber. Se isso o faz conseguir o que quer, ele faz. Prospera na dor, no tormento. — Ele estremeceu novamente. — Tortura. Estupro. Você não pode imaginar as coisas distorcidas e sádicas que faz com as mulheres que estupra. Ele está em cada crime imaginável. Não tem nenhuma lealdade, exceto para si mesmo. Lida com drogas, armas, bombas. Tráfico humano. Ele é a porra de um pedófilo e favorece a si mesmo, inclusive vende crianças para pessoas que são tão pervertidas e retorcidas quanto ele. Hancock vibrava com ira. Ele fervilhava, como um vulcão prestes a entrar em erupção. Seus olhos estavam mais gelados do que já tinha visto, e tinha testemunhado essa frieza sem emoção antes, mas nunca neste grau de frio absoluto. Estes eram os olhos de um assassino. Olhos que evocavam terror em quem quer que fosse seu alvo. — Dinheiro, faz dinheiro, é um jogo para ele. E não importa quanto tenha, ele almeja mais. Porque para ele dinheiro é poder, e poder, poder supremo, é o que ele mais quer. Vê a si mesmo como um deus. Ele nunca irá parar, então alguém tem que acabar com ele. — Você — ela sussurrou. Ele deu um aceno curto. — Sou a melhor chance que alguém tem de derrubá-lo, porque diferente dos outros não tenho coração ou consciência. Sou mais máquina que homem. Uma máquina mortal programada, disposta a fazer o que for preciso para acabar com ele. Até me tornar a própria coisa que ele é. Eu sou o que ele é. Não sou melhor do que ele.


— Você não é uma máquina de matar sem coração — ela estalou com raiva de novo. — Diga-me uma coisa, Hancock. Você sai e encontra alguma mulher inocente para estuprar e torturar, prolongando sua agonia até que ela finalmente não possa tomar mais e então a joga fora como lixo? Você se aproveita de crianças? É um pedófilo depravado que gosta de infligir dor e terror em crianças inocentes? Os olhos dele estavam chocados e ele estremeceu, repulsa inundando seus olhos. — Não! Nunca! Deus, não. Ela sorriu com satisfação, e ele não pareceu contente que forçou a barra e conseguiu a reação que obviamente queria dele. — Existe diferença entre se tornar parecido com alguém para se infiltrar em suas fileiras a fim de matá-lo e salvar milhares de vidas, e se tornar aquele monstro quando você não está na caça por um — ela disse em uma voz suave. — Você pode dizer a si mesmo todo tipo de mentiras, Hancock. Pode tentar se convencer que não é melhor do que Maksimov, mas você e eu, ambos sabemos a verdade. Embora nunca admita para si mesmo. Você faz o que tem que fazer a fim de salvar incontáveis inocentes, mas você odeia isto e odeia a si mesmo. Mas isto não é quem você é. Não é quem você sempre será. O mundo é um lugar melhor por ter você nele — ela disse muito mais quieta que antes. — Não deixe o mal ganhar e deixar isto te convencer que você é o mal. Que você é algum canalha insensível que anseia matar, torturar e derramar sangue. Porque quando verdadeiramente começar a acreditar isso de si mesmo, então se tornará a própria coisa que você mais odeia. — Puta que pariu. Juro por Deus que não sei o que vou fazer com você, Honor — ele disse com agitação óbvia. Seu rosto imediatamente mudou e ela girou, tentando esconder isto dele. Porque ambos sabiam exatamente o que ele iria fazer com ela, e não queria fazêlo se sentir ainda pior. O quanto isto era fodido? Que queria protegê-lo de sua dor. Que não queria causar dor nele. Adicionar ainda mais um fardo — pecado — para manchar sua alma já manchada. Ele a traiu. Ele a enganou a cada virada.


Deveria odiá-lo. Não devia se importar quanta dor ela causou a ele ou ele causou em si mesmo. Mas ela não podia fazer isto. Não entendia esta... conexão... seja o que for que estava entre eles, só que estava lá. Uma entidade viva e respirando para a qual ela estava impotente. Simplesmente não podia desligar, e se fazer fria e insensível como Hancock podia quando ele desejava. Não era sua natureza. Não era quem ela era, muito menos o que Hancock supostamente era. — Isso foi uma coisa lamentável a dizer — Hancock disse em um grunhido baixo. — Droga, Honor, eu sinto muito. Isso foi uma merda e imperdoável. — Achei que já tinha estabelecido que só eu que decido o que é merda ou imperdoável — ela disse ligeiramente. E então lhe deu um olhar sombrio e fez um gesto para ele com sua mão. Ele veio de má vontade, acomodando-se na cama ao lado dela. Desta vez foi ela quem tomou sua mão, quando antes tentou evitar qualquer contato pessoal com ele. Enrolou os dedos ao redor dos dele e a princípio ele estava rígido, duro e inflexível, mas simplesmente aguardou, recusando-se permitir que ele deslizasse de seu aperto. Então, com um suspiro ele relaxou e acariciou suas juntas com o polegar. — Olhe para mim, Hancock — ela pediu suavemente. A princípio ele recusou, porém finalmente ergueu seu olhar para ela e pareceu... Atormentado. Algo bem lá no fundo dela retorceu dolorosamente e roubou sua respiração. Havia pesar em seus olhos e isso a machucou. Isso a fez querer tirar isto dele. De alguma maneira aliviar a dor horrível dentro dele. — Eu sei que você não acredita em mim. Não tem que acreditar. Mas vai escutar o que tenho a dizer e não vai me bloquear porque não quer ouvir o que tenho a dizer. Está entendendo? Ele ficou totalmente imóvel e seus olhos se tornaram ainda mais assombrados, como se temesse suas próximas palavras. Mas acenou devagar, seu olhar segurando o dela. Aqueles belos olhos verdes cheios de tanta agonia que doía manter aquela conexão. Mas ela não desviou o olhar. Não queria que percebesse isto como uma rejeição do que e de quem ele pensava que fosse.


— Eu não te odeio — ela disse, medindo a reação dele. — Eu odiei a princípio — ela admitiu. — Eu me senti traída. Confiei em você. Eu me sentia a salvo com você quando não me sentia há muito tempo. Cada palavra era como se ela enfiasse um punhal dentro dele e torcesse a evidência lá nas profundezas insondáveis daquelas piscinas verdes. — Não estou dizendo isto para te magoar — ela disse, permitindo a dor que ela sentia entrasse em sua voz. — Estou dizendo para chegar onde quero. — Eu mereço muito pior — ele disse entredentes. Ela o ignorou. — Mas eu entendo, Hancock. Você não acha que eu entendo porque não quer pensar que eu entendo. Mas eu entendo por que isso deve acontecer. Eu já te dei meu perdão. O que faz com isto é com você, mas é dado da mesma forma. Você não pode me fazer aceitar de volta. Eu não aceitarei de volta. É meu para dar. Você não tem que decidir o que eu dou ou não. Você ou aceita ou não, mas isso é dado, e quando eu dou alguma coisa, eu não aceito de volta. Nunca. — Eu quero morrer? Claro que não. Tenho tanto pelo que viver. Tantos sonhos... — Ela parou de falar, sabendo que isto era sem sentido e apenas o faria se sentir pior. Ela sacudiu a cabeça para se livrar da direção que suas palavras seguiram. — Mas sei que minha morte é uma coisa necessária. E se minha morte significa que Maksimov pode não mais causar tanta dor em tantos outros, então eu posso morrer em paz. Saberei que minha vida significou alguma coisa. Que eu sobreviver ao ataque tinha de fato ter um propósito. Um propósito muito mais alto. E isto é suficiente para mim. Posso enfrentar a morte e não ter medo porque imagino todas aquelas mulheres, aquelas meninas, e sei que elas estarão a salvo porque você derrubou Maksimov. Ele fez um som inarticulado de ira, mas não a interrompeu. — Você me mostrou bondade e gentileza — ela disse baixinho. — Você não me machucou e nós dois sabemos que outra pessoa teria. Eles não teriam se importado em que condições eu fosse entregue a Maksimov. Mas você me protegeu e nós dois sabemos disso. E por isso eu te agradeço. Mas o que eu te agradeço mais é por me dizer a verdade. Desta forma eu não vou para minha


morte apavorada e sozinha. Saberei que enquanto dou meu último fôlego que minha morte não foi sem sentido e sem propósito. Lágrimas reluziram nos olhos de Hancock, chocando-a com emoção não característica. Parecia que tinha arrancado suas entranhas. Ele tinha o olhar de um homem torturado com demônios que o assombrariam pela eternidade. Ela desejou com tudo que tinha que pudesse tomá-los dele. Para que pudesse estar livre. Acima de tudo, odiava que sua morte o assombraria pelo resto de sua vida. — Eu tenho duas coisas para te perguntar, Hancock. Só duas. E são simples. Eu nunca pedirei outra coisa e não lutarei com você. Não tentarei escapar. Eu tenho alguma dignidade e me resignei ao que deve ser. Mas quero que você me prometa duas coisas. — Qualquer coisa — ele disse roucamente. — Prometa-me que minha morte não será em vão. Jure para mim que você vai derrubar Maksimov. — Ele está afundando — Hancock disse, ameaça em sua voz. — Eu juro, Honor. Não deixarei que seu sacrifício seja por nada. Nunca. Ela fechou seus olhos brevemente, preparando-se para o segundo pedido. — Por favor, poupe meus pais dos detalhes. Você pode dizer a eles que minha morte trouxe um fim a um maníaco e seu império inteiro. Mas jure para mim que você dirá a eles que minha morte foi rápida e misericordiosa. Prometame que você não dirá como eu morri. Eles nunca sobreviveriam a isto. Eu não quero que eles saibam que eu orei pela morte ou que morri gritando e implorando pela morte. Eu não quero que eles saibam tudo que foi feito a mim. Por favor, Hancock. Por favor, estou implorando. Faça isto por mim. Por eles. Hancock juntou as mãos dela dentro das suas, apertando com tanta força que levou todo seu controle para não estremecer, porque sabia que ele não estava tentando machucá-la. Era a força de suas emoções, emoções que ele estava tentando não permitir mostrar, mas ela sabia. Ela o via. O coração dele. Passando pela fachada externa que ele aperfeiçoou ao longo de toda uma vida. — Toda sua família saberá que mulher feroz, valente e amorosa você foi. Eles saberão de todas as vidas que você salvou e a coragem que mostrou o tempo inteiro. Quando eu disse que você importava, que você nunca seria


esquecida, eu não quis dizer de uma forma que você pensasse que seria lembrada pelo modo que você... morreu. A última palavra saiu estrangulada, como se só dizendo a palavra o ferisse profundamente. Ele desviou o olhar dela, não mais capaz de manter seus olhares trancados e então ela não veria o que ele tão desesperadamente tentava esconder. — Obrigada — ela sussurrou, sua própria voz espessa com lágrimas. — Como você pode me agradecer por ser o instrumento de sua morte? — Ele se enfureceu, raiva e tristeza refletidas em cada palavra. — Como pode oferecer perdão e compreensão para seu executor? Você devia me odiar, Honor. Devia me desprezar. Devia estar planejando me matar, escapar, fazer o que fosse necessário para acabar comigo, e tudo que pede é que eu tenha certeza que Maksimov morra e que sua família seja protegida dos detalhes de sua tortura e agonia? O rosto dela ficou suave e ela ergueu a mão para suavemente acariciar sua bochecha. — Você não é meu executor. — Uma porra que não sou — ele disse, com fogo em sua voz. — Não sou um maldito herói. Sou um assassino impiedoso que está disposto a sacrificar tudo que é bom neste mundo para que eu possa completar minha missão. Isso não me faz melhor do que Maksimov, não importa o que você diga ou pense. Ele abruptamente ficou de pé e ela sentiu a perda de sua proximidade, de repente gelada e tremendo. — Você precisa descansar — ele cortou. — Você está com dor. E não negue. Conrad vai te dar outra injeção e eu quero que você durma. Mas ela sabia que sua ordem era só em parte nascida de sua convicção que ela precisava de descanso e alívio da dor inexorável que a importunava. Ele não podia mais aguentar olhar para ela. Não podia mais aguentar a culpa, a raiva horrível e ira impotente sem perder todo o controle. Porque eles dois sabiam que seu destino era inevitável, e ele odiou a si mesmo porque não havia nenhum outro modo. Nenhuma alternativa. E ambos sabiam disso. Ele odiava que ela podia tão calmamente aceitar o que ele não


podia e ainda pior, deu a ele perdão e compreensão, duas coisas que ele sentia que não merecia.


CAPÍTULO 23 — A TROCA foi estabelecida. — Bristow disse o que Hancock já sabia. Seus olhos cintilavam de satisfação. — Maksimov estava muito contente quando eu disse a ele que eu a mulher estava em minha posse. Hancock permaneceu em silêncio, esperando. Atrás dele, seus homens estavam da mesma maneira em silêncio, porém podia sentir as subcorrentes, a tensão irradiando de todos eles. Porque sabiam que assim que Honor fosse entregue a Maksimov, não teria nenhuma proteção. E nenhum deles era tolo o bastante para pensar que Maksimov não se aproveitaria de Honor e a apreciaria por um tempo antes de fazer a entrega para NE. — Você parte daqui a dois dias. Tenho as coordenadas e todas as informações que você precisar. Maksimov tem instruções explícitas de como quer que a mulher seja entregue. Espero que você cuide de todas elas. Hancock meramente balançou a cabeça e pegou o arquivo da mão estendida de Bristow. — Considere isto feito — Hancock disse friamente. Bristow lançou um envelope grosso em direção a Hancock. — Metade do seu pagamento agora. A outra quando você fizer a entrega. Levou cada pingo de sua força de vontade para não matar o homem neste exato momento. O envelope queimava sua pele. Dinheiro de sangue. Ele daria a seus homens. Eles mereceram. Mas não ia levar um maldito centavo por enviar Honor para sua morte. — Você pode sair agora — Bristow disse arrogantemente. — Verei os arranjos da viagem. Discrição será necessária, claro. — Eu farei os planos — Hancock disse em um tom frio. — Você me contratou para fazer um trabalho, mas ele será feito do meu modo. Meus homens. Minha missão. — Muito bem. Desde que você realize o que estou te pagando para fazer,


não me importo como é feito. Sem outra palavra, Hancock virou e saiu a passos largos do aposento antes de se perder completamente e rasgar a garganta do homem. Seus homens o seguiram, e a única coisa que quebrou o silêncio foi: — Mal mojo. Muito mal mojo realmente. Ele não podia nem olhar seus homens nos olhos. Somente disse a eles que descansassem e se preparassem para a jornada à frente. Ninguém discutiu. Ninguém disse qualquer coisa mesmo. Eles só se afastaram para seus quartos separados, ninguém tentando encontrar seu olhar exatamente como ele evitava os deles. Duvidava que algum deles dormisse nas próximas duas noites.


CAPÍTULO 24 HONOR foi acordada de um sono induzido por remédios com uma mão forte em cima da sua boca e outra em forma de xícara apertando um seio de forma rude, dolorosa. Seu coração deu um salto enquanto ela lutava através da névoa e atordoamento da medicação. — Ele não vai te salvar desta vez, sua vadiazinha. Ele está muito ocupado planejando sua entrega para Maksimov, e eu pretendo fazer uso desse pequeno tempo que eu tenho restante antes de te entregar para os russos. Um homem como Maksimov não se importará com coisa usada. Ele certamente não te devolverá para NE antes de se encher de você. Bristow. Oh Deus. Onde estava Hancock? Bristow o drogou para ter certeza que ele não era uma ameaça? Ou ele estava realmente planejando a troca como Bristow disse? Quando ele rasgou sua camisa, rasgando-a ao meio e expondo seus seios, ela começou a lutar, os efeitos da medicação rapidamente desaparecendo à medida que a adrenalina despejava e lutou com cada pingo de força que tinha. Ele não lhe deu um bofetão como antes. Fechou o punho e a esmurrou na boca, deixando-a sem fôlego e arquejando com dor. Então a castigou com sua boca, beijando-a brutalmente, lambendo o sangue que derramava de seu lábio rasgado. Ele enfiou um trapo sujo na sua boca, e para seu horror ela percebeu que estava imerso em algum tipo de droga. Então ele bateu em sua boca fechandoa, prendendo o material em sua boca. Mas não ia se entregar desse jeito. Sim, resignou-se ao seu destino, mas não a ser estuprada por este babaca. Morreria antes de permitir que isso acontecesse. Suas mãos a espancavam, perambulando possessivamente pelo seu corpo, cavando abaixo da sua calça, puxando impacientemente e xingando quando ela ainda resistiu. Talvez ele tivesse pensado que nessa hora a droga já


a teria deixado desmaiada, mas teve remédio e drogas suficientes para ter construído uma leve resistência e podia resistir mais tempo agora. Ela lutou sem soltar um som, apavorada pelo fato que não podia fazer nenhum som. Nenhum grito por ajuda. Por Hancock. Os dedos dele se enterraram brutalmente entre suas pernas e ela ficou selvagem, resistindo, chutando, lutando com cada pingo de força de vontade que pôde reunir. Ela podia sentir os efeitos da droga, sabia que estava lenta, mas puxou reservas que nem percebeu que possuía. Ele soltou impropérios e bateu nela, repetidamente, mas ela não parou. Não podia parar. Ele mordeu seus peitos barbaramente, deixando marcas e hematomas. Lágrimas de raiva e impotência queimaram suas pálpebras. Ela estava de saco cheio de ser impotente e fraca. Ela conseguiu soltar uma de suas mãos e arrancou a fita pesada, ofegando quando pele saiu. Empurrou o trapo com a língua, encolhendo-se ante o gosto, mas conseguiu cuspir isto fora e então soltou um grito. Ele a atingiu na lateral da cabeça e ela quase perdeu a consciência. E então estava nela novamente, arrancando a calça para livrar sua enorme ereção. Ela estava nua, sua roupa em farrapos. Algo cutucou seu quadril e ela percebeu que ele tinha uma faca presa no cinto. Ele não estava nem se dando ao trabalho de tirar a calça. Planejava empurrá-la para baixo só o suficiente para livrar seu membro e empurrá-lo dentro do seu corpo que estava resistindo. Sabendo que esta era sua única chance, agarrou o cabo, empurrando o fecho que o mantinha seguro, e puxou de uma vez o mais forte que podia. Ela rolou para longe abrindo a faca e tropeçou ao sair da cama, caindo de joelho enquanto rastejava em direção ao canto do quarto. — Você acha que pode me matar com isto? — Ele zombou. — N-não — ela disse trêmula. — Mas posso me matar e foda-se seu acordo com Maksimov. Pelo que ouvi, ele não é um homem para se sacanear. Estará muito puto se você não entregou a mercadoria. Os olhos dele estreitaram.


— Você blefa horrivelmente. Ela trouxe a lâmina para seu pulso e cortou uma linha fina, só o suficiente para que pudesse ver a gota de sangue descer por seu braço e pingar no chão. Pânico entrou nos olhos dele e ele recuou. Sua adrenalina estava rapidamente dissipando e ela sabia que ele simplesmente esperaria, sobreviveria a ela. O pesar a encheu porque se matar significaria que milhares de outros também morreriam. Tudo por que ela não era forte suficiente para permitir que este homem a estuprasse. Algo que sem dúvida aconteceria muitas vezes quando ela fosse entregue para Maksimov e então para a NE. Como um pedaço de lixo usado. Sem valor. Lixo. Um soluço escapou e a queimadura da lâmina afundou quando percebeu que tinha cortado mais fundo sem nem perceber. Estava bem fundo na concha de sua mente danificada. Ela se retirou do horror disso tudo. Inútil. Uma ovelha de sacrifício. Algo para ser usado, estuprado, espancado, torturado. Sem valor. Nada. Sem nome e sem rosto. Somente outra estatística. Havia som. Isso foi vagamente registrado. Estranhamente, soou como um rugido de leão, mas bloqueou isto do lado de fora como fazia com tudo exceto a faca, lentamente drenando seu sangue vital. Mas espere. Um pulso não seria suficiente, e se não cortasse o outro agora, ela perderia a força e o uso dele que ela precisava para cortar o outro pulso. Desajeitadamente, ela transferiu a lâmina para sua outra mão, franzindo o cenho ao perceber o quanto estava escorregadia. E o quanto se sentia fraca. Lentamente, bloqueando a dor, fez o corte como se estivesse do lado de fora do seu corpo assistindo com desinteresse enquanto tirava sangue uma segunda vez. Assistiu com estranha fascinação enquanto o sangue derramava e deslizava por sua pele, manchando o chão e se espalhando por sua perna. Outro som a despertou e seu aperto aumentou na faca. Isto estava levando muito tempo. Então a ergueu, novamente surpresa como se sentia fraca, e pôs a lâmina no seu pescoço. Uma hemorragia arterial a mataria muito mais rápido.


CAPÍTULO 25 HANCOCK fez uma breve reunião com sua equipe, dando-lhes o resumo sobre as informações que Bristow tinha fornecido e como seria seu plano de ação. Foi um desagradável intercâmbio, na maior parte em silêncio, com Hancock monopolizando toda a conversa com exceção do ocasional “Mal mojo” de Mojo. Ele não gostava de estar longe de Honor, até mesmo na meia hora que ele gastou depois que garantiu que ela estava dormindo depois de ter tomado uma leve dose de remédio para dor. Ela não gostava do nevoeiro, como ela descreveu. Isso a fazia se sentir vulnerável e deficiente. Assim, ele se comprometeu, porque não podia suportar a ideia que ela se ferisse quando tanta dor ainda a esperava. Ele dispensou seus homens e imediatamente começou a atravessar a casa para a ala onde o quarto de Honor estava. Ele estava no meio do caminho quando o seu sangue gelou nas veias. Um grito quebrou o silêncio assustador da casa. Um grito de Honor. Ele correu com medo alojado em sua garganta, quase o paralisando. Apenas a necessidade desesperada de chegar até ela, protegê-la, empurrou para longe a paralisia com a adrenalina o chutando e o assassino formidável rapidamente subiu à superfície, anulando tudo. Ele esperava o pior, mas quando ele explodiu em seu quarto, seu coração quase parou, porque era muito pior do que ele jamais poderia ter imaginado. Bristow estava parado do outro lado do quarto, onde Honor estava encolhida no canto, segurando uma faca letal em sua garganta. Um filete de sangue deslizava por seu pescoço, mas depois viu que ambos os pulsos estavam cortados e sangue corria livremente das feridas. Havia sangue no rosto, boca e queixo inchado e já machucado. Fúria assassina o consumiu. Ele queria acabar com o bastardo com as próprias mãos, mas ele não tinha tempo. Honor não tinha tempo.


Seus olhos estavam vagos e assombrados. Ela retirou-se profundamente dentro de si mesma e ele duvidava que ela sequer estivesse ciente de que ele viria. Muito tarde. Ele falhou em protegê-la. Mais uma vez. —Eu tenho Bristow, — disse Conrad friamente, raiva se igualando a Hancock, pelo tom selvagem em sua voz. — Você a vê? Você vai ter que acalmá-la. Ela não está mais lá. — Não na frente dela — Hancock retrucou. — Ela já está traumatizada o suficiente. — Espere só um minuto maldito — Bristow exigiu. — Você esquece que trabalha para mim. Ela é minha até que eu a dê a Maksimov, e eu vou fazer o que eu bem entender com ela. Conrad apenas executou uma manobra paralisante que colocou Bristow de joelhos, ofegante e tentando respirar. Em seguida, ele torceu o braço atrás das costas, empurrando para cima até se ouvir o estalar de um osso quebrando. E com a mesma rapidez, Conrad os conduziu para fora do quarto. Bristow era um homem morto. Tanto quanto Hancock queria ser o único a matar o filho da puta e não tão rapidamente ou misericordiosamente, seu foco tinha de estar em Honor ou ela morreria por sua própria mão. O medo se apoderou dele porque Honor estava completamente nua e coberta de hematomas, marcas de mordidas, arranhões. O filho da puta a estuprou? Ele a levou a isso? Ela estava tão traumatizada que sua única saída era tirar sua própria vida? — Honor? Sua voz era baixa, procurando saber o quão longe ela estava e se ela tinha alguma consciência de onde estava. Ela nem piscou, e ele entrou em pânico quando a lâmina pressionou um centímetro mais sobre sua artéria carótida. Ele não se atreveu a se aproximar dela. Ela poderia muito bem interpretar como outro ataque. Ele se amaldiçoou por não sair com Bristow na primeira vez, e amaldiçoou-se por deixá-la desprotegida durante trinta minutos malditos, porque Bristow estava saindo. Ele tinha visto o homem ir embora, e isso foi a única razão pela qual ele tinha feito a breve reunião com os seus homens.


O filho da puta tinha, obviamente, encenado a coisa toda, querendo usar Honor antes que ele passasse as sobras para Maksimov. Ele esperava que Conrad tomasse seu maldito tempo para matar o imbecil. A julgar pela raiva na voz de seu homem, se sentia confiante de que Conrad teria grande prazer em fazer a morte de Bristow prolongada e muito dolorosa. — Honor, querida, sou eu, Hancock. Bristow se foi. Ele é um homem morto. Ele nunca vai te machucar novamente. Suas palavras eram ferozes, apesar de sua tentativa de se manter calmo e acalmar. Ela piscou, então, e cautelosamente ergueu o olhar para Hancock. Algo dentro dele se acalmou e se permitiu respirar pela primeira vez desde que tinha visto sua aparência. Seus olhos piscaram em reconhecimento, mas depois o brilho do olhar desapareceu quando a angústia inundou seus belos olhos. O que o preocupava agora era o fato que seu domínio sobre a faca não tinha afrouxado. Seus pulsos estavam sangrando livremente, mais do que o corte raso em seu pescoço. Ele tinha que agir rápido e parar a perda de sangue, antes que ele a perdesse. — Ele está realmente morto? — Ela sussurrou. — Ele está morto — disse Hancock selvagemente. Ela se desintegrou diante de seus olhos, apertando a faca, causando mais danos, e era imperativo que ele a tirasse para longe dela agora. Ele teve uma chance e se moveu lentamente em direção a ela, seus passos medidos e não ameaçadores. Ele se ajoelhou na frente dela, praguejando violentamente sob sua respiração quando percebeu a extensão do ataque a ela. Ela tinha sido brutalizada. Atacada como um animal. — Querida, me dê a faca — ele a persuadiu. — Você está sangrando e eu preciso conseguir que pare antes que seja tarde demais. Havia tanta tristeza em seus olhos que seu coração parou.


— Me desculpe, eu não consegui ser mais forte — ela sussurrou. — Eu sei que você precisa de mim para chegar até Maksimov. Mas eu não podia... Oh Deus, Hancock, eu não podia deixá-lo... — Shhh, baby. Está tudo bem. Ele quis chorar, pois mais uma vez ela estava se desculpando por não ser forte quando ela era a pessoa mais forte que ele já tinha conhecido. Com mãos trêmulas, ela estendeu a faca, e ele tomou-a, dobrando-a de volta para que não representasse uma ameaça. — Eu vou pegá-la e levá-la para a cama para que eu possa tratar suas feridas — disse suavemente. Com isso, ela ficou descontrolada, recuando ainda mais no canto, puxando os joelhos para cima e envolvendo os braços de forma protetora ao redor das pernas, abraçando-se, balançando para frente e para trás, seus olhos selvagens. Ela estremeceu violentamente, sacudindo a cabeça com firmeza. — Não. Nunca. Não naquela cama. Não. Eu não vou ficar lá. — Então, eu vou levá-lo para o meu quarto — disse ele suavemente. — Mas baby, você está perdendo muito sangue. Eu tenho que parar o sangramento agora. — Você promete? — Ela perguntou com voz rouca. Ele sabia o que ela pedia. Que ele prometesse que não a colocaria de volta na cama onde Bristow a tinha atacado. Onde ele poderia tê-la estuprado e tinha a maldita certeza que ele tentou, podia até mesmo ter conseguido. Ele enrolou os braços debaixo de seu corpo leve e levantou, embalandoa carinhosamente contra o peito dele. — Eu prometo. Você vai ficar comigo. Eu não vou deixar você, nem mesmo por um minuto. Eu juro. Ela assentiu com a cabeça e, em seguida, virou o rosto em seu pescoço e começou a chorar.


Ele se encheu de raiva, cada músculo em seu corpo rígido como a sua necessidade do sangue de Bristow encheu sua alma. Ele segurou-a firmemente, correndo pelo corredor para a ala onde ele e seus homens estavam alojados. Conrad estava esperando, sua expressão sombria. — O que aquele filho da puta fez com ela? — Conrad rosnou. — Agora não — Hancock retrucou. — Quero um kit de primeiros socorros e um kit de sutura. Nós temos que começar a suturar seus pulsos e parar o sangramento. Porque ela perdeu muito sangue. O corte em sua garganta não é tão ruim e não vai exigir suturas. E lhe dê remédio para dor e um sedativo. Ela nunca vai conseguir dormir depois disso. Conrad amaldiçoou, mas correu para obter os suprimentos necessários. Hancock cuidadosamente a deitou na cama, e ela imediatamente se enrolou em uma bola de proteção. — Eu só estou saindo para pegar uma das minhas camisas para você — disse ele, para não a alarmar. Ela olhou para baixo, horror refletido em seu olhar, como se apenas agora lembrou que estava completamente exposta. Mortificação varreu suas feições delicadas e ela começou a chorar em silêncio mais uma vez. Ele pegou uma camiseta, uma que permitiria que Conrad tivesse fácil acesso às áreas que necessitavam de atenção, e vestiu-a como uma criança incapaz de fazer a tarefa a si mesma. Ele trouxe panos úmidos e várias ataduras para que pudesse aplicar pressão nos pulsos até que Conrad pudesse controlar o sangramento e suturar os cortes. — Você pode me dizer o que aconteceu? — Ele perguntou em voz baixa. — O que aquele filho da puta fez com você? — Ele me tocou — disse ela, estremecendo em repulsa. — Será que ele te violentou? — Ele perguntou sem rodeios. Ela estremeceu e desviou o olhar. Seu coração estava na garganta, porque ela tinha a aparência de uma mulher que tinha sido brutalizada, que tinha sido jogada à beira do inferno. Ele estava perigosamente perto de perder sua cabeça e era a última coisa que ela precisava agora.


Ela precisava de ternura. Gentileza. Coisas que ele nunca tinha pensado que possuísse até que a conheceu. — Não — ela finalmente disse em quase um sussurro. — Mas ele queria. Ele tentou. Eu lutei com ele e isso o deixou com raiva. Ele me acertou. Tocoume. Peguei a faca e lhe disse que me mataria e seu contrato com Maksimov iria direto para o inferno e que ele seria um homem morto por prometer a Maksimov algo que ele já não podia entregar. Em meio a sua terrível ira, orgulho subiu com ferocidade. E seu raciocínio rápido. — Ele não acreditou em mim quando eu cortei meu pulso. E então eu percebi que se eu esperasse muito tempo, eu não teria forças para cortar o outro. Então eu fui para a minha artéria carótida, porque sabia que ia sangrar em segundos. Só então ele recuou. Por um momento Hancock não conseguiu respirar. Era o cúmulo da hipocrisia ele se aterrorizar pelo fato de que Honor tinha ficado apavorada o suficiente para se matar, quando seria o mais amável de seus dois possíveis destinos. Mas ele era um covarde. Ele seria testemunha da morte de Honor aqui. Não iria ver o que aconteceria com ela depois que ela deixasse a sua proteção. E ele prometeu que, enquanto ela estivesse sob sua proteção, ele não permitiria que ela tivesse qualquer dano. Por duas vezes ele tinha quebrado sua promessa. Duas vezes Bristow tinha chegado a ela, quando ela estava mais vulnerável. Conrad caminhou sem dizer uma palavra — ele apertava os lábios — e fúria emanava dele em ondas palpáveis. Ele começou a limpar as feridas nos pulsos com vigorosa eficiência, e Honor olhou ansiosamente para Conrad, seu nervosismo e inquietação irradiando através de toda a sala. — Eu sinto muito — ela murmurou, incluindo os homens em seu pedido de desculpas. — Eu poderia ter arruinado sua missão. Poderia ter estragado tudo. Eu não estava pensando racionalmente. Ele… Me machucou. Ela parou de falar como se estivesse com vergonha de admitir que ele a machucara e que estava apavorada, e agora ela procurava o quê, seu perdão?


Conrad fez uma pausa e visivelmente respirou profundamente. Então ele olhou diretamente nos olhos, fixando-a com seu olhar de aço. — Você não vai se desculpar comigo, e nem com ninguém. Nunca mais. Nós é que lhe devemos um pedido de desculpas por deixá-la em uma posição vulnerável, mesmo pelo pouco tempo que fizemos. Você é uma mulher incrível, Honor Cambridge, e posso dizer honestamente que eu tenho o privilégio de têla conhecido. Eu nunca me esquecerei de você. Lágrimas brilharam como diamantes em seus cílios, enquanto ela olhava para o homem sóbrio com perplexidade. — Eu fui uma covarde — disse ela em desgosto. — Agora você está me irritando — disse Conrad com voz aborrecida. — Cale-se e deixe-me fazer o meu trabalho. Ela ficou em silêncio, e Hancock sorriu para si mesmo. Conrad não tinha ideia do que fazer com Honor. Ela o confundia. Era um enigma que ele ainda tinha que resolver, e isso o corroía. No mundo em que Titan vivia, não havia pessoas como Honor. Altruísta. Corajosa. Admirável. Colocando os outros antes de si mesma. — Ele está lhe dando medicação para a dor e um sedativo — disse Hancock em um tom que não admitia discussão. — Precisa de descanso. A prova de quão exausta e abatida ela estava, foi que ela não fez nem mesmo um único protesto. Ela ficou em silêncio enquanto ele suturava os cortes nos pulsos. Embora eles sangrassem um pouco, não estavam tão profundos como Hancock temia, e o corte em seu pescoço era tão raso que tudo que foi necessário era um curativo borboleta. Quando terminou, Conrad reuniu suas coisas e ele e Hancock caminharam em direção à porta. — Hancock? Havia medo em sua voz e ele parou em seu caminho. Ele se virou e Conrad saiu enquanto Hancock fazia seu caminho de volta para onde Honor estava em sua cama.


— Eu não quero ficar sozinha — ela sussurrou. — Você fica comigo, por favor? Eu não vou ser um incômodo. Vou tentar não incomodar — rapidamente completou. — Eu prometo. Ele se inclinou e roçou seus lábios levemente. Em seguida, ele entrelaçou os dedos com os dela e deu-lhes um aperto reconfortante. Seu tom era infinitamente gentil como se temesse quebrá-la. Ela estava tão frágil como ele nunca tinha visto, quando tudo o que ele já testemunhou foi sua inabalável força e teimosia. — Eu não vou deixá-la, Honor. Eu não vou a lugar nenhum. Eu só estava dando a liderança da equipe a Conrad, por enquanto, para que eu possa ficar com você. Ele será meus olhos e ouvidos temporariamente enquanto eu estou aqui. Com você — acrescentou com ênfase. O alívio em seus olhos foi quase sua ruína. Ela caiu contra os travesseiros, parecendo pequena e derrotada. Lágrimas brilharam, caindo em seus longos cílios. — Se você me agradecer, que Deus me ajude, mas vou me livrar de você — alertou. Um fantasma de um sorriso pairou em seus lábios. — Prometa que você vai ficar mesmo quando o sedativo fizer efeito? — Ela perguntou em voz baixa. Ele poderia dizer que já estava fazendo. Suas respostas eram mais lentas e seu discurso um pouco fora de equilíbrio, e não era inteiramente devido ao trauma que tinha sofrido. — Eu estarei aqui, ao seu lado, toda a noite — disse solenemente. — E se você tiver um sonho ruim, eu vou te abraçar e chutar a bunda dele para você. Ela sorriu de novo, e seus joelhos fraquejaram. Ele percebeu que um homem poderia fazer qualquer coisa para uma mulher como Honor sorrir para ele. Ela abriu a boca e ele deu-lhe um olhar de advertência. — Não diga uma única palavra, a não ser que não seja um pedido de desculpas ou um obrigado.


Ela riu suavemente, mas fechou os lábios, a gratidão estava lá em seus olhos para ele ver, mesmo se fosse silenciosa. — E por falar nisso, você é muito bem-vinda — ele sussurrou, inclinando-se para pôr os lábios sobre sua testa.


CAPÍTULO 26 MESMO sob os efeitos do sedativo, Honor estava inquieta e agitada durante o sono. Hancock nunca deixou o seu lado. Ele estava deitado de lado ao lado dela, embalando seu pequeno corpo contra o seu corpo muito maior. Quando ela tremia e fazia pequenos sons guturais na garganta que lhe lembrava aquelas feitas por um animal encurralado, ele fervia em silêncio e esfregava a mão para cima e para baixo em suas costas, acariciando e massageando. Seu toque parecia acalmá-la. Quando ela ficava transtornada, ela relaxava e descansava mais, uma vez enquanto ele acariciava sua pele. Para sua surpresa, ela despertou totalmente apenas algumas horas depois de Conrad ter lhe dado a medicação para a dor e um sedativo, mas, em seguida, ele e Conrad tinha descoberto o lenço drogado que Bristow tinha colocado contra a boca de Honor para forçar sua complacência, e então Conrad tinha administrado apenas uma dose leve, mais para acalmar do que para deixá-la inconsciente. Nenhum dos dois queria ser acusado de fazer o mesmo que Bristow tinha feito com ela. —Hancock? — Ela sussurrou, se mexendo contra ele. Sua posse aumentando automaticamente quando ele a abraçou mais plenamente. —Sim, Honor, sou eu. Ela relaxou, parecendo murchar com alívio. Por um longo momento, sua mão pousou sobre o seu coração, seu pulso enfaixado o lembrando de quão perto da morte que ela esteve. Como desesperadamente ela deve ter caído nesses momentos escuros quando Hancock não estava lá como tinha prometido. Só mais um pecado para adicionar à sua lista infinita. Ela parecia estar pensando algo. Ele sentiu sua hesitação e… medo. Como se ela quisesse perguntar-lhe alguma coisa, mas não o faria. Ou simplesmente não podia.


Ele deslizou a mão entre eles para embalar a palma da mão por cima da mão dela. —O que é, Honor? Existe algo que você precise? Está doendo? Ela respirou fundo. —Eu sei que eu disse que eu não iria pedir mais nada… —Mas… — Hancock pediu suavemente. Ele sabia muito bem que ele daria a ela a lua se ela pedisse. A única coisa que ele não poderia dar a ela era o que ambos mais queriam. Sua liberdade. Dor cortou em ondas implacáveis através de seu coração pelo que ele sabia que deveria ser feito. Ela aceitava muito mais o seu destino do que ele, e que o irritava ainda mais. Ela deveria odiá-lo. Ela deveria estar protestando contra ele, chamando-o de todos os nomes vis que conseguisse reunir. Ele merecia todos eles. Ela virou os olhos suplicantes sobre ele e ele estava perdido. Era perigoso, porque se ela perguntasse isso a ele agora, ele a deixaria ir embora e foda-se a missão e ele nunca teria outra oportunidade de derrubar Maksimov. Ela levantou a mão livre para a têmpora e massageou, mas ele não sentiu que ela estava com dor. Só enfrentando algo difícil para ela falar. Então ele simplesmente esperou, dando-lhe o tempo que ela precisava, e ele não a apressou. Seu olhar acariciou seu pulso envolto, e raiva impotente enchia tudo de novo. Para uma mulher como Honor, tão valente e corajosa, nunca a covarde que chamou a si mesma, por estar tão desesperada para fazer uma tentativa de se matar, ele sabia que tinha sido ruim. Deus, o que aquele bastardo fez com ela? —Ele teria me estuprado —, ela sussurrou. —Ele queria. Ele me t-tocou. E doeu. O peito de Hancock apertou e seus dentes rangeram quando ele lutou para manter a compostura. Ele acariciou a mão pelo seu cabelo sedoso, massageando suavemente o couro cabeludo com toques suaves. Ela desviou o olhar, obviamente, envergonhada. Por quê? Porque Bristow tinha a atacado? Porque ele teria a estuprado? Ela tinha vergonha?


—Eu sou virgem —, ela desabafou. —Eu nunca tive relações sexuais com ninguém. Hancock continuou ainda, sem saber o que dizer. O que fazer. Ele estava congelado até os ossos, feliz que ela não estava olhando para ele no momento. Porque Deus o ajudasse, ele estava entregando uma virgem para Maksimov, que iria deliciar-se com a descoberta e fazer sua iniciação muito pior. Ele se deleitava sobre quanta dor que ele poderia causar em um inocente. Mas então ela virou os olhos aflitos nele, olhos que lhe imploravam. —Eu sei o que vai acontecer comigo —, ela engasgou. —Eu faço. Mas eu quero saber se há algo que você faria por mim. Isso significaria… —Ela sugou uma respiração profunda. —Significaria tudo para mim. Ele segurou seu queixo e esfregou seu polegar sobre a contusão que Bristow tinha infligido. —Pergunte-me, Honor—, disse ele calmamente. —O que é que você está tendo um momento tão difícil para me perguntar? —Poderia… Você faria amor comigo? Agora? Antes que você tenha que me entregar a Maksimov? Você vai me mostrar apenas uma vez como deve ser, para que eu saiba? Assim que eu vou ter uma memória de algo bonito, algo que ninguém nunca possa tocar. Isso nunca pode ser maculado, não importa o que me façam. De modo que quando um outro homem… me machucar, eu posso refugiar-me neste momento e me agarrar. Deixar tudo para fora, menos esta noite perfeita. Você vai fazer isso por mim? O coração de Hancock ameaçava explodir fora de seu peito. Ele não conseguia respirar. Seu tormento era uma dor tangível que nenhuma quantidade de desejo que poderia fazer ir embora. Ela estava implorando-lhe. Cada inflexão de sua voz estava implorando. —Sinto muito—, disse ela em voz baixa, envergonhada. —Eu não deveria ter perguntado. Por favor me perdoe. Eu nunca vou mencionar isso novamente. Eu juro. Você pode ir agora. Estou bem. Deve ter havido uma tremenda angústia em sua expressão, porque seus olhos tornaram-se sombrios e envergonhados, seu olhar se afastando após o seu


pedido de desculpas envergonhado. Ela puxou as cobertas até o queixo e, em seguida, escondeu o rosto contra os joelhos sobrados, envolvendo os braços ao redor deles enquanto ela balançava um pouco agitada. Ela afastou-se, encolhendo tão longe dele quanto podia, por perceber a rejeição de um presente tão precioso. Um presente que ele de modo algum merecia. Mas, e o que ela merecia? Ele não tinha experiência com virgens. Inocentes. Ele não tinha muito sexo. Era uma distração, ele não podia se dar ao luxo. Cuidava de suas necessidades quando necessário, mas o sexo, como tantas outras coisas em sua vida, era mecânico. Sem sentimento, sem coração. Apenas liberação física. E ele sabia, ele sabia, que com Honor não poderia se esconder por trás de sua fachada de ferro. Ela tinha um jeito de despir as camadas até que ele estivesse cru e vulnerável e completamente nu, sem nenhuma das proteções que ele sempre se cercou. —Honor. Foi um som sussurrado. Ele mal conseguia formar o nome dela e muito menos exprimir em voz alta. —Olhe para mim —, suplicou ele. No início, ela se recusou, olhando estoicamente à frente para o nada. Ele reconheceu imediatamente. Ela estava se tornando mais hábil em se retirar profundamente em si mesma, preparando-se para o que estava previsto para ela. Dor. Humilhação. A degradação e, finalmente, a morte. Mas maldita seja, ela não precisa recuar em si mesma com ele. Nunca com ele. —Honor, por favor, olhe para mim. Relutante, ela girou o olhar para encontrar o dele, e a dor em seus olhos deu-lhe um nó na garganta. Ele não conseguia respirar. Não era possível aliviar a dor em seu peito. O tipo tão profundo que nada poderia tirá-la. Ela estaria permanentemente gravada em seu coração para sempre.


—Eu não estava rejeitando você, baby. Nunca você. Eu estava atordoado. Humilhado. E eu estava com medo —, admitiu. Os olhos dela se arregalaram de surpresa. —Medo? Por quê? —Ela estava claramente confusa. Ela achava que ele não temia nada. Que ele era invencível. E na maioria das vezes ela estava certa. Mas ela não tinha ideia que sua única fraqueza estava diante dele pedindo-lhe para fazer o que cada parte do seu coração, mente e corpo gritava para fazer. Tocá-la com ternura. Fazer amor com ela quando ele nunca tinha feito amor com outra mulher em sua vida. Sexo era sexo. Mas sexo com Honor? Seria a primeira vez que ele ofereceu mais do que simplesmente seu pau e sua boca ao prazer a uma mulher. Com Honor, ele iria partilhar tudo o que ele era e tudo o que ele não era. E isso o assustava até a morte. —Porque você merece algo muito melhor do que eu —, disse ele honestamente. —Eu não sei se eu posso ser o que você precisa. Você merece ser tratada com cuidado, como o tesouro que você é. Você merece esse presente de ser valorizada e respeitada, e eu não sou um bom homem. Eu sou egoísta. Eu não tenho nenhuma experiência com virgens. E eu me odiaria se eu te machucasse. Eu me desprezaria. Me mataria se eu te machucasse, Honor. Ele fechou os olhos para o absurdo de tal declaração. Ele a tinha machucado. E ele iria machucá-la novamente. Ele lhe daria a um homem que iria machucá-la sem cessar. Que, então, lhe daria para homens que a degradariam e a torturariam até que ela orasse com cada respiração dolorosa pela misericórdia e pela morte. Nunca tinha odiado tanto a si mesmo do que ele fazia neste momento. Ele desprezava quem e o que ele era, quando antes ele se limitasse a aceitar isso como um mal necessário, a fim de fazer o seu trabalho. Para tentar fazer do mundo um lugar melhor. Sacrificar Honor, de nenhuma maneira fazia algo melhor. —Você está errado —, disse ela, levantando o queixo, desafiando-o a desafiá-la. —Você não iria me machucar. Você seria gentil e doce. E você também está errado sobre este ser um presente meu. Seria um presente seu para mim. Desta vez, eu não vou pedir outra coisa de você. Eu juro. Eu não vou fazer você se sentir ainda pior para o que você deve fazer quando nós dois sabemos que você não tem escolha. Mas hoje à noite… Hoje à noite é nossa para


fazermos o que quisermos. Sem regras. Nenhuma missão. Sem salvar o mundo. Isso é para outro dia. Mas hoje eu quero sentir algo diferente de medo e ódio e dor. Seus olhos ficaram assombrados, como o seu certamente deveriam estar. —Eu não quero ficar sozinha esta noite, Hancock—, disse ela, em voz baixa, envergonhada, como se ela odiasse revelar uma fraqueza. Que ela precisava de alguém para confortá-la e tocá-la mesmo que por apenas uma noite. —Você não vai implorar-me por qualquer coisa—, disse ele asperamente. —Eu lhe daria o mundo se eu pudesse, Honor. Eu juro que eu faria. Se apenas… Ele fechou os olhos, calando os desejos com o conhecimento que esse caminho levava apenas a dor incomensurável. —Não —, ela disse, sua voz cheia de tristeza. Para enfatizar sua declaração, ela empurrou um dedo gentil em seus lábios. Incapaz de resistir a tal tentação, ele passou a língua para fora e chupou a ponta do seu dedo em sua boca. —Ninguém tem o amanhã garantido—, ela continuou em voz baixa, sufocando as emoções, sabendo que o machucava. E esta noite ela estava determinada que ambos esquecessem suas dores. Apenas durante algumas horas roubadas. —Mas nós temos hoje. Bristow não é nenhuma ameaça. Seus homens te guardarão bem. Por favor, conceda-me este último pedido, Hancock. Eu gostaria de saber como deveria ser. Eu não quero morrer sem nunca conhecer o prazer. —Você está tão certa de que eu sou capaz de ser este amante das suas fantasias —, disse ele quase em um rosnado. Ela balançou a cabeça, os olhos brilhando. —Fantasias são para pessoas que não podem ver ou tocar o que é que elas querem. Eu não quero uma fantasia, Hancock. Eu só quero você. E como eu nunca fiz isso antes, eu nem saberei se você fizer isso errado —, ela acrescentou, pesarosa. —Eu não vou fazer isso errado —, disse ele com a voz rouca. —Eu nunca a tocaria com qualquer coisa, a não ser ternura, tanto quanto eu sou capaz de


qualquer maneira. Eu não sou um homem gentil. Eu sou áspero e exigente. Eu não confio que eu posso ser o que você precisa agora. O que eu quero te enviaria provavelmente gritando e rastejando para debaixo da cama. Ela arregalou os olhos, mas não por medo ou até mesmo choque. Havia definitivamente curiosidade. E interesse. Seu rosto ficou corado e seus olhos ganharam um brilho nebuloso que lhe diziam que ela estava excitada com o que ele disse, como ele disse. Ele não tinha a intenção que fosse excitante. Puta merda, ele queria assustá-la até a morte para que ela repensasse essa insanidade. Mas a parte egoísta tinha grande satisfação por ela responder como fez, os lábios entreabertos no convite silencioso. Deus, as coisas que ele gostaria de fazer a sua boca. Ele colocou um freio nas ideias grosseiras, que corriam em círculos em seu cérebro e faziam seu pau sentir com tanta força, que era como se a pele simplesmente se dividiria sob a pressão. Ela merecia uma iniciação suave. Não baixo-e-sujo de merda. Ele fechou os olhos, xingando em sua escolha de pensamentos. A ideia de outros homens segurando-a, a estuprando como animais irracionais o deixou doente. Sua ereção perdeu sua rigidez e frieza entrou em sua alma. —Hoje à noite, — ela lembrou a ele, como se tivesse alcançado sua mente e arrancado seus pensamentos. Ela girou e levantou-se sobre ele, apoiando-se em seu peito, batendo o nariz no seu de uma forma encantadoramente desajeitada. Mas caramba, ela não tinha nada que colocar qualquer pressão sobre seus pontos ou agravar ainda mais seus ferimentos. Tão cuidadosamente quanto pôde e certificando-se que ela não levasse seu gesto como rejeição, ele deitou-a de costas e a arrumou a seu gosto, inspecionando todos os ângulos para garantir que ele não iria causar nenhum dano a suas feridas. —Você vai ficar deitada, assim como eu coloquei você—, disse ele com uma voz rouca que ele não reconhecia. —Você não vai se machucar, rasgar seus pontos ou piorar seus ferimentos.


Ela engoliu visivelmente, com os olhos brilhando intensamente com entusiasmo, seus lábios carnudos, e as bochechas coradas de desejo. Ela era a coisa mais linda que ele já tinha visto em sua existência monótona, incolor. —Eu vou ser tão gentil, suave e paciente como nunca um homem já foi ao fazer amor com uma mulher, — ele prometeu, assim quando ele abaixou seu corpo sobre o dela, encaixando sua boca na dela. Ele teve o cuidado de manter o peso de seu corpo esguio, não querendo machucá-la de qualquer forma. Ele não poderia oferecer nada a ela. Ele não poderia conceder o que eles mais desejavam. Mas ele poderia dar a ela este presente que ela pedia. Ele iria fazer amor com ela e mostrar-lhe como era entre as pessoas que… se importavam. A palavra sussurrou insidiosamente dentro de sua mente, forçando-o a reconhecer que em algum nível ele se importava profundamente com Honor Cambridge. Ele a admirava pra caramba. A respeitava. Achava que ela uma mulher sem igual. Ele não podia conceber o que ele poderia ter feito certo em sua vida para ter esta noite com ela. Logo antes de ele entrega-la para as mãos do mal. Ele tomou seu tempo, estudando e aprendendo seu corpo centímetro por centímetro delicioso. Ele beijou cada marca, cada contusão ou ferida e depois lambeu suavemente para acalmar qualquer picada ele poderia ter causado. Suas mãos embalaram sua cabeça quando ela podia alcançá-lo, quando ele continuou a sua exploração completa de seu corpo. Enquanto ela tremia, não de dor, mas quase estremecendo de desejo, ele se tornou mais agressivo e exigente, mas ainda consciente de sua fragilidade. Ele chupou e mordiscou seu pescoço, descobrindo rapidamente que, como os seios, era uma das regiões mais sensíveis em seu corpo. Ou pelo menos o que ele tinha descoberto até agora. Seu néctar feminino final, ele estava esperando um gosto, prolongando a antecipação dele – e a dela. Várias vezes ele chegou perto, roçando sua língua e os lábios e, em seguida, passava os dentes ao longo de sua barriga e apenas acima de seu montículo suave. Ela gemeu baixinho em sua garganta e, em seguida, fez um som de mulher frustrada chegando ao fim de seus limites.


Ele sorriu e ergueu o olhar feroz, selvagem satisfação emocionando-o quando ela retornou cada gota de sua ferocidade em seu próprio olhar. E então, finalmente, ele cedeu ao que tanto queria. Usando um toque suave, ele escovou as pontas de seus dedos sobre os lábios macios de seu sexo e depois os separou com cuidado, inalando enquanto ele cheirava sua necessidade e via sua delicada carne rosada brilhando com a evidência de sua intensa excitação. Ainda assim, ele advertiu a si mesmo para ir devagar. Para não a sobrecarregar. Ela era pequena. Uma lutadora, sim, uma lutadora que não sabia como parar. Mas ela era delicadamente construída. Suas mãos facilmente cobriam sua caixa torácica estreita, facilmente prendiam seus quadris em seu aperto firme, mantendo-a cativa contra a cama. Ele baixou a cabeça e ela choramingou e, em seguida, engasgou abruptamente quando ele a lambeu a sua pequena abertura para seu clitóris tenso que enrugava e esticava para cima, para receber os pequenos movimentos de sua língua. Ele rolou pela a língua pelo seu broto, provocando e atormentando, tirando cada bocado de prazer, tanto do ato quanto ela. Ela estava molhada, muito molhada, mas ele ainda queria ter certeza de que ela estava pronta e –capaz– de levá-lo. Ele era um grande homem em todas as áreas. Forte, musculoso. Mas, esguio. Uma arma final para a destruição. E sedução. Sim, ele tinha seduzido mulheres para obter informações. Ele nunca tinha machucado nenhuma delas, e ele sempre tornou o sexo bom para elas. Mas, para ele? Ele simplesmente se desligava e realizado de forma mecânica, não se permitindo sentir este tipo de necessidade –obsessão. Ele bebeu de sua doçura. Tanta inocência. Ele nunca teve tanta inocência. Ele lambeu e bebeu até que teve que segurá-la para baixo para evitar que ela se machucasse. Quando ele teve certeza de que ela estava quente e molhada o suficiente para levá-lo, ele mudou seu poderoso corpo sobre o dela e olhou em seus olhos semicerrados.


—Você tem certeza, Honor? — Perguntou ele, quando seu pau tocou sua entrada escorregadia. —Eu nunca tive mais certeza de nada na minha vida. Por favor, Hancock. Faça isso por mim. Ele queria entrar nela tão profundo e duro que não haveria separação entre eles. Que, nesses poucos segundos preciosos, fossem uma só pessoa. Um só coração e alma. Mas ele reuniu toda grama de controle que possuía e deitou com cuidado para frente, observando seus olhos se arregalam enquanto ela se estendia em torno dele. E então uma careta tocou aqueles olhos e ele parou. —Não —, ela protestou. —Ou puxe para trás ou apenas empurre. Rapidamente, por favor. Eu posso sentir algo esticando, como se estivesse prestes a rasgar, e dói desta forma. Por favor, faça isso ir embora. Se ele se retirasse, então ela teria que repetir tudo de novo, e ele iria poupá-la de todo o mal que pudesse. Fechando os olhos, cerrando os dentes com força, como se estivesse experimentando a agonia mais doce, ele empurrou todo o caminho de casa. Ela sacudiu para cima, gritando, mesmo enquanto suas mãos estavam firmemente ancoradas em seus quadris. Ele imediatamente salpicou todo o rosto, olhos, testa, nariz, lábios, com beijos, —desculpe-me— uma ladainha entre cada beijo. —Eu sinto muito, eu te machuquei, Honor—, disse ele, permitindo que a sua voz torturada se libertasse. O sorriso dela deslizou para os recantos mais profundos do seu próprio ser. —Mova-se comigo—, ela convidou voz rouca. —Não dói tanto. E se você… Ela parou timidamente, desviando o olhar. Seu coração revirou em seu peito. —O que você precisa para eu faça, baby? — Perguntou ele com ternura. —Toque-me, — ela sussurrou. —Coloque sua boca nos meus seios.


Ele deslizou a mão entre seus corpos unidos e acariciou um dedo sobre sua saliência escorregadia e foi recompensado com um impulso imediato de umidade revestindo e aquecendo seu pau. Ele gemeu, mesmo quando ele abaixou a cabeça para chupar um mamilo esticado em sua na boca, o deixando rígido. Ele tomou seu tempo, lambendo e lambendo, circulando um rastro úmido em torno da crista enrugada. Então ele virou seu foco para o outro seio, dando-lhe a mesma atenção até que ela estava sem fôlego e movendo-se inquieta embaixo dele. —Agora? — Perguntou ele, esforçando que as palavras passassem pela sua mandíbula apertada. —Agora—, ela concordou, seus olhos brilhando com desejo que ela não tentou esconder dele. Ele agarrou seus quadris, não para machucá-la, mas para mantê-la no lugar, cuidadosamente presa entre ele e a cama para que ela não se machucasse. Em seguida, ele avançou. Ele retirou-se, arrastando seu pau através da carne inchada e altamente sensibilizada, cada golpe em sua boceta suave e aveludada enviava de choques elétricos em sua espinha. Suas bolas se apertaram firmemente ao ponto de dor, mas isso não era para ele. Ele não estava tomando. Ele estava dando. Seu último presente para ela.

Ele teve que empurrar esse pensamento longe quando uma dor, uma enorme tristeza encheu seu coração, seus pulmões, sua própria alma. E em vez disso, concentrou-se em tornar isto tão agradável quanto ele esperava que ela pensaria que ele fosse. Ele empurrou profundamente, mantendo-se lá, fechando os olhos e simplesmente entregando-se à onda de prazer que o envolvendo. Doçura que ele nunca tinha conhecido antes em sua vida em torno dele e puxando-o ainda mais em sua teia do êxtase. —Por favor—, ela implorou, sua voz rouca de tensão. —Eu preciso de você agora, Hancock. Estou tão perto… mas eu não sei o que fazer. Ela parecia em pânico e insegura de si mesma. Ele a abraçou, envolvendo os braços em volta de seu corpo frágil, e segurou-a como ela merecia ser tocada


na primeira vez que alguém fazia amor com ela. Apenas seus quadris se movendo, ondulando para cima e sobre a dela, empurrando fundo e depois se retirando. Mas quando a boca dela se aninhou contra seu pescoço e o mordeu, antes de beijar uma linha para seu ouvido e chupar o lóbulo em sua boca, ele viu estrelas e seu corpo já não era dele para controlar. Ele era dela. Apenas dela. Ele se moveu para a frente novamente e novamente. —Sim—, ela gemeu. —Isso, Hancock. Assim. Por favor, não pare. Eu estou tão perto, mas eu não sei do que eu estou perto! A frustração e a inocência na voz dela o levou a esses últimos centímetros preciosos sobre a borda. Ele deslizou um braço para debaixo de seu doce traseiro e levantou-a, dobrando para que ele pudesse dirigir ainda mais profundamente, e, em seguida, ele estabeleceu um ritmo que os deixou ofegantes, gemendo, se contorcendo. Suas pernas deslizaram ao redor dele, fixando-as com firmeza contra para ele. —É isso aí, baby—, ele sussurrou. —Tranque-as em torno de mim e me abrace forte. Confie em mim para chegar onde você quer ir. Não tenha medo. Eu vou estar lá para pegar você. Basta deixar-se ir. Depois de seu segundo impulso, com as pernas travadas em torno dele, ela quebrou em seus braços, tremendo, tremendo, seus gritos dividindo a noite. O aumento de umidade em torno de seu pau roubou o último de seu controle vacilante e ele seguiu logo atrás dela, certificando-se que ela foi primeiro, que ela encontrou seu prazer e liberou-se antes dele. Só quando ela estava no meio de seu orgasmo que ele mergulhou fundo e manteve-se lá, esvaziando-se profundamente dentro de seu corpo. Ele nunca tinha sentido uma sensação de regresso ao lar que rivalizava com o toque de dois corações, o corpo e a alma. Ele sabia que ele nunca teria isso novamente.


CAPÍTULO 27

HANCOCK segurou Honor firmemente em seus braços enquanto eles deitavam lado a lado, assegurando-se que seu lado ferido não era o que ela deitava ou colocava qualquer pressão. Quietude desceu e nenhum dos dois fez qualquer esforço para perturbar a paz que os envolveu.

Ela se aconchegou ainda mais em seu abraço, como se pudesse se enterrar dentro dele e ficar para todo o sempre. Será que ela não sabia que já tinha feito isto? Que não importa onde ele fosse nesta vida, levaria uma parte dela com ele. E todo o remorso para o que nunca podia ser.

Ele se odiava. Seu ódio era uma entidade viva respirando fogo que tinha tomado vida própria, lentamente o consumindo até que nada permaneceria exceto a concha oca de um homem-máquina. Por que nenhum homem algum dia permitiria que a mulher deitada em seus braços fosse prejudicada.

Ela estava em silêncio, mas quando a contemplou, pode ver que seu cenho estava franzido e seus olhos sombreados. Ele franziu a testa. Ele a tinha machucado afinal? Ela lamentou o que pediu que ele fizesse? Por que não havia uma parte única dele que lamentasse fazê-la sua. Tomar algo que nunca pertenceria a outro. Sua inocência. Sua virgindade. A honra de ser o primeiro homem a ter feito amor com Honor.

Se isso o fazia uma primitiva besta, um homem das cavernas batendo no peito, que assim seja. Ele certamente já foi chamado de coisa pior. — O que você está pensando? — Perguntou suavemente. — Machuquei você? Você lamenta o que nós fizemos?


Os olhos dela imediatamente ficaram ferozes. — Não. Nunca! Nunca lamentarei isto. É só que...

Seus olhos abaixaram e vergonha queimou vermelho nas suas bochechas.

Ele inclinou seu queixo para cima com um dedo gentil. — O que é, Honor? Você deve saber que pode me dizer qualquer coisa. — Mesmo que o que eu disser quebre uma promessa que fiz para você?

Desta vez a sobrancelha dele franziu. Ela não fez muitas promessas. Somente não pedir outra coisa. Ah. Deve ser a isso que ela estava se agarrando. Ela tinha outro pedido, mas sentia que era falta de honra pedir por que prometeu que não pediria nada mais, e era uma mulher que mantinha sua palavra. — Diga-me o que você quer — ele disse, acariciando com a ponta do dedo sua mandíbula até que ela se inclinou para seu toque, fechando os olhos com satisfação. — Sei que eu disse que não pediria nada além de você fazer amor comigo, mas... — Mas? — Ele iniciou. — Mas gostaria muito de te tocar. Fazer amor com você — ela disse


ardentemente. — Eu quero saborear você. Quero te dar tanto prazer como você me deu.

Ele gemeu. — Baby, se você acha que não me deu prazer, então nós precisamos ter uma conversa séria agora mesmo. Nunca senti mais prazer na minha vida do que quando fizemos amor. Nunca.

Os olhos dela arregalaram com surpresa. — Mas, Hancock, eu era virgem. Eu não tive nenhuma pista do que eu estava fazendo! Como isso pode ter sido agradável para você? — Confie em mim, baby. Se tivesse sido um pouco melhor, eu estaria morto.

Seus olhos riram dele, mas aí ela ficou séria. — Você se importaria muito mesmo se eu te tocasse e saboreasse como você fez comigo? — Homens matariam por uma oportunidade como essa que você está oferecendo, Honor. Não sou nenhuma exceção. Mas quero uma promessa sua em troca.

Ela enviou a ele um olhar intrigado. — Você não fará nada que te machuque. Se eu sequer pensar que você está


com dor, isso acaba. Faço questão disso, Honor — ele disse, seu tom grave para que ela soubesse que estava totalmente sério. Não queria deixá-la puta, mas também não a queria com dor enquanto tentava dar prazer a ele, pelo amor de Deus. Ele quem não merecia nada além de ódio e frio desdém desta bela mulher, que era bonita por dentro e por fora. Que brilhava como um radiante raio de sol, aquecendo lugares dentro dele que só tinham sentido frio e escuridão.

Mas ela apenas sorriu, seus olhos acendendo, sua expressão tão entregue e generosa que o humilhou. — Eu prometo — ela disse solenemente. — Mas Hancock, só para você saber? Conseguir te tocar e te dar até um décimo do prazer que você me deu nunca vai me machucar. Eu quero isto demais para a dor sequer se registrar. Dême isto. Dê a si mesmo isto — adicionou suavemente, quase como se soubesse que ele sentia que não merecia isto, mas também queria isso como queria respirar.

Então os cílios dela tremularam e abaixaram, suas bochechas um toque de rosa como se estivesse envergonhada.

Mais uma vez ele deslizou seus dedos debaixo de seu queixo, persuadindoo para cima para que pudesse olhar dentro de seus olhos e ver o que a aborreceu. — Diga-me o que está assustando você, Honor — ele disse, injetando cada pingo de paciência e ternura de que era capaz em sua voz.

Ela engoliu em seco e então respirou fundo. — Não estou certa de como te dar prazer, e quero muito isto, Hancock. Você me deu tanto. Nunca imaginei que pudesse ser assim. Não me iludo em acreditar


que eu possa te dar sequer uma fração do que me deu, mas quero que você se sinta bem. Quero fazer você se sentir bem. Mas não sei como.

A última frase saiu com frustração, quase raiva. Raiva autodirigida. — Você pode me mostrar como te dar prazer? — Ela sussurrou. — Você pode me mostrar o que fazer e como fazer?

Umidade já enfeitava com gotas a ponta do seu pau, e o olhar dela foi atraído para as pérolas, aparentemente fascinada. Quase como se não pudesse evitar, atraída para a visão, inclinou-se para baixo e delicadamente lambeu uma das gotas.

Seu pau inteiro sacudiu e seus quadris corcovearam, maldições rasgando de seus lábios. Seus dedos formaram punhos apertados, juntando os lençóis em suas mãos conforme se segurava.

Ela imediatamente se afastou, seus olhos aflitos, lágrimas nos olhos. — Eu sinto muito — ela se apressou a dizer, como se temendo que o tivesse deixado com raiva. Então bateu o punho em sua perna, fazendo com que ele imediatamente pegasse a mão dela para se assegurar que não reabrisse os pontos nos pulsos. Ele esfregou seu polegar carinhosamente sobre sua pele e então trouxe a mão dela até sua boca e beijou cada junta. Cada ponta do dedo, trazendo cada um em sua boca e sugando-os.

Então ele permitiu cada dedo se afundar ainda mais na entrada, lambendo a ponta e então debaixo de seus dedos macios, tomando-o até o fundo da garganta e então engolindo ao redor dele.


Os olhos dela se arregalaram em súbita compreensão. Ele estava mostrando a ela como lhe dar prazer. Como tomar seu pau na boca e dar prazer a ele. — Honor, você não fez nada errado — ele disse, não reconhecendo a carícia terna que de repente se tornou sua voz. Ele soou gutural e sedutor, como se estivesse cortejando a mulher mais importante do mundo. Uma que ele devia fazer sua ou morrer. — Deus, se você fizesse qualquer coisa mais certa eu quebraria. Olhe para mim, baby. Olhe para mim. Realmente olhe para mim.

Relutantemente, ela ergueu os olhos ao encontro dos seus. — Eu pareço como se não estivesse agradado com qualquer coisa que você está fazendo? Olhe para mim, Honor. Veja o que faz comigo. Estou tão nu e vulnerável como um bebê recém-nascido, e acredite em mim, não gosto de me sentir desse modo. Exceto — ele disse com voz arrastada — por você. Com você. Só com você.

Ela sorriu então, alívio iluminando seus profundos olhos castanhos até que o aqueceram até sua alma. — Não existe nada que você possa fazer que eu não vá amar e implorar, sim, está certo Honor, eu disse implorar por mais. Você me terá de joelhos e à sua mercê por somente um toque seu. Sua boca. Seus mamilos. Seu corpo. Eu quero isso tudo. — Você não se importa com minha inexperiência então — ela disse num tom contente.


Ele juntou o rosto dela em suas mãos, emaranhando seus dedos nos cabelos dela enquanto tomava sua boca em um movimento sem fôlego. Então se puxou para trás, ainda correndo os dedos pelas mechas sedosas do seu cabelo como se simplesmente não pudesse conseguir suficiente de tocá-la. — Adoro que sou o único homem que algum dia tocou você assim intimamente. Estou contente que sou o único homem que você já tocou assim intimamente. O único homem que teve o pau na sua doce boca e sentiu o toque dessa língua suave e aveludada. Deus, o que você faz comigo, Honor. Condeneme ao inferno por tomar um presente tão precioso quando eu não tenho nada para te dar em troca, exceto um coração partido e traição.

Lágrimas queimaram seus olhos e ele não fez nada para guardar suas emoções dela, algo que ele nunca teria feito no passado com ninguém. Ninguém viu dentro dele. Nem mesmo sua família. Eles pegaram vislumbres, mas só o que ele queria que eles vissem. Só o suficiente para que eles soubessem que ele os amava.

Mas Honor conseguiu tudo dele. Cada única coisa que ele passou a vida inteira suprimindo. Construindo fortalezas impenetráveis em torno das coisas que importavam para ele até que elas simplesmente não mais existiam. Ele se tornou o que estabeleceu para se tornar. O derradeiro assassino. Sem sentimentos bagunçando as coisas. Nenhuma emoção para interferir em uma missão.

Mas ele sabia já há algum tempo agora que seu coração não estava mais nisto. Que não mais tinha um coração ou uma alma. Honor tinha sido o prego final em seu caixão e depois disto — dela — ele iria embora e nunca mais olharia para trás. Viveria o tipo de vida que Honor iria querer que ele tivesse — ou tentaria. Como um homem podia viver em paz sabendo que destruiu a própria essência do bem? Mesmo que fosse para tirar a própria face do mal e salvar milhares de mulheres, crianças e homens inocentes?


Realmente valia isto?

Valia?

Os olhos de Honor estreitaram enquanto ela olhava fixamente de volta para Hancock. — Você não tem o olhar de um homem contente agora.

Ele sorriu. Realmente sorriu, permitindo que os demônios e sombras que o assombravam e o assombraria o resto da sua vida escapassem, por que nada interferiria neste único breve momento brilhando no sol. Ele se envolveria na luz e bondade de Honor e manteria isto para sempre. — Isto é por que sua boca não está onde deveria estar — ele murmurou, tocando com o polegar seu lábio inferior antes de deslizá-lo para dentro, esfregando suavemente por cima de sua língua. — Então me mostre — ela disse ofegante, suas respirações acelerando, seus mamilos enrugando em pontos tensos, rígidos.

Incapaz de resistir, ele deslizou a mão entre suas coxas e deslizou um dedo comprido dentro dela, apreciando o silvar de prazer e surpresa que escapou de seus lábios.

Oh sim, ela estava molhada e excitada. Com a ideia de dar prazer a ele.

Lançou um travesseiro no chão ao lado da cama, e então reverentemente e


sempre muito cuidadosamente a ergueu em seus braços, e então a abaixou de joelhos no travesseiro para que este amortecesse o chão duro.

Ele se sentou na beirada da cama com as coxas espalhadas, seu pau se esticando para cima quase até seu abdômen, gotas pré-ejaculatórias ainda perolando a ponta. Honor olhou para isto novamente, e inconscientemente lambeu os lábios, arrancando um gemido dele. — Baby, você tem que parar com isto — ele disse rouco. — Vou gozar antes de conseguir estar dentro dessa boca doce, e neste exato momento estou morrendo para entrar aí. — Então faça isto — ela disse docemente, sua inocência fluindo sobre ele como chuva refrescante. — Faça isto, Hancock. Quero que você tenha o controle. Mostre-me o que você gosta. Como te dar prazer. Não vou falhar com você.

Jesus Cristo! Como ela podia algum dia falhar em dar prazer a ele? Só seu toque lhe dava prazer. Ele sabia há muito tempo que estava condenado ao inferno, mas estar com ela, beijá-la, tocá-la, estar bem no fundo dela que eles se tornaram uma só pessoa, uma alma, um ser, por aquele breve momento ele viu o céu, e nunca quis tanto alguma coisa na sua vida.

Não dando palavras para aqueles pensamentos por que então estaria perdido para sempre, ele enlaçou os dedos em seu cabelo, palmeando ambos os lados de sua cabeça para puxá-la adiante. — Abra sua boca — ele disse asperamente. — Mas guarde seus dentes. Dentes são... dolorosos e não de um modo bom.


Ela sorriu justo quando ele empurrou dentro de sua boca, e ela abriu seus lábios de maneira obediente. — Agora relaxe e confie em mim. Vamos começar devagar e deixar você se acostumar a isto. Brinque e provoque a cabeça. Especialmente debaixo dela. Use somente sua língua.

Ela fez exatamente como ele instruiu. Muito bem. Ele lançou sua cabeça para trás no primeiro toque hesitante de sua língua circulando a cabeça larga de seu pênis. Isso. Isso era o céu. Ela era o céu. Um anjo.

Ela lambeu e provocou, dando atenção especial para o lado inferior da ponta larga, e então traçou as bordas da cabeça, o cume entre elas e o comprimento de sua seta.

Sua respiração escapou em um longo silvo e seu aperto aumentou no cabelo dela e contra sua cabeça, mas ela não emitiu nenhuma reclamação. Nem sequer recuou, mas ele ainda se forçou a ser mais gentil, lembrando-se que ela não estava ilesa. Nem devia estar fazendo isto. Ela foi atacada, levou um tiro e então quase foi estuprada por aquele filho da puta do Bristow. O que estava pensando, sujeitando-a a isto quando ela devia estar deitada em seus braços descansando?

E ainda a parte egoísta dele não podia se negar este único prazer. A única coisa que ele já quis para si mesmo. A única coisa que algum dia precisou. Ele, quem não precisava de nada e de ninguém. Mas precisava dela.

Relutantemente, puxou-se de seus lábios acetinados e simplesmente sentou ali, suas respirações duras e altas no quarto silencioso. — Só me dê um minuto, baby — ele arquejou.


— Então gosta disto? — Ela perguntou timidamente. — Estou fazendo o que você gosta?

Ele se debruçou, arrastando-se para sua boca para beijá-la, para mostrar a ela o quanto gostou disto. — Eu não gosto disto. Eu amo.

Ela o recompensou com um sorriso que roubou o fôlego direto dos seus pulmões. — Quero mais agora — ela disse. — Você vai ter — ele prometeu.

Mais uma vez palmeando sua cabeça e entrelaçando os dedos mais duro do que pretendia, ele guiou-a de volta para seu pau esticado. — Vou começar com punhaladas rasas para te permitir tempo para se ajustar. Não quero você em pânico. Respire pelo nariz. Quando eu achar que você está pronta, vou mais fundo. Vou bem fundo — ele disse, advertência clara em sua voz. Sua única chance de voltar atrás.

Mas ela não hesitou. Só assentiu, excitação e tesão faiscando em seus olhos. — Confie em mim — ele disse. — Vou te segurar ali e quero que você engula em torno da cabeça, ordenhando. O prazer é indescritível. Mas não entre em pânico. Saberei quando você precisar respirar e puxarei para trás. Mas vou


empurrar você, Honor. Vou ver quanto você pode tomar. Se a qualquer hora for demais, precisar de uma pausa ou quiser que eu pare, aperte minhas pernas.

Suas mãos deixaram a cabeça dela tempo suficiente para recolher suas mãos com bandagem, tristeza mais uma vez enchendo-o pelo desespero que levou para ela fazer isto consigo mesma. Para realmente tentar dar fim à sua vida preciosa.

Cuidadosamente, como se fossem as coisas mais frágeis e estimadas do mundo, colocou suas palmas para baixo em cima das coxas dele, ressaltadas com músculos espessos, endurecidos pelos muitos anos de treinamento incansável e uso.

Pressionou o polegar dela em sua carne, olhando para ela enquanto fazia isso. — Isto é tudo que você precisa fazer. E vou parar. Imediatamente.

Ela franziu a testa e balançou a cabeça. — Hancock, gosto de tocar você. Tenho certeza que estarei apertando muito você. Tem que ter outro sinal. Minhas mãos nunca ficarão quietas.

Ele sorriu. — Sim. Elas irão. Por que estou dizendo a você que irão. Não mova suas mãos, Honor. Só se quiser que eu pare. Você entende?

Ela estremeceu na demanda, a dominação que ele não podia afastar de sua voz. Sua submissão, que presente! Se apenas pudesse ter isso durante toda sua


vida. Sim, absolutamente a dominaria sua vida inteira. Controlaria cada aspecto de sua vida. Mas nunca haveria uma mulher mais mimada, estragada, estimada além da medida do que esta aqui. Sua dominação seria de amor e de sua necessidade de proteger e fornecer. Nunca para castigar, ser um babaca controlador. Tudo. Todas as coisas. Seria tudo para ela. A vida dele. Sua própria existência. Sua única meta dar prazer a ela e fazê-la feliz. — Eu entendo — ela sussurrou, seus olhos reluzindo com necessidade. Seus lábios separaram e ela os lambeu como se não pudesse esperar outro momento por seu pau.

Ele deu isto para ela, alimentando lentamente centímetro a centímetro agonizante, parando para permitir que ela se acostumasse a seu tamanho. Ele sabia sem falsa modéstia que não era um homem pequeno. Nem de tamanho médio. Mulheres o recusaram depois de ver seu tamanho. Outras gemeram, sem acreditar em sua sorte.

Para ele era só um apêndice. Outra arma em um arsenal que carregava consigo o tempo todo. Só agora era ciente que podia machucar Honor. Que podia assustá-la. Que seu tamanho podia muito bem intimidá-la e fazê-la pensar que não era capaz de dar prazer a ele. Como se pudesse... — Tudo bem? — Sussurrou quando seu pau estava a meio caminho dentro de sua boca sedosa.

Seus olhos responderam por ela, ardendo brilhantemente, um claro convite para mais. Inferno, era uma exigência. Mas suas mãos permaneciam quietas, assim como sabia que ficariam uma vez que fez a exigência. Também sabia que ela nunca iria pará-lo, não importa a quão longe ele levasse as coisas, e estava atento a isso a cada segundo.


Ele fez uma pausa, retirou e desta vez empurrou com mais força, produzindo um arfar conforme suas bochechas inchavam. Mas ela se acalmou rapidamente exalando pelo nariz, e ele a sentiu relaxar ao redor de sua masculinidade, chupando-o ainda mais para dentro.

Ele se retirou, e cada vez que empurrava ainda mais, ganhando mais profundidade, cada vez medindo sua resposta, procurando por qualquer sinal que a estava empurrando muito longe. Assustando-a. Machucando-a. E toda vez, ela dava a ele um olhar faminto que dizia que só queria mais.

Convencido que ela não iria quebrar, finalmente cedeu a besta dentro dele rugindo para tomar controle e achar seu prazer. Para dominar, assumir o comando e tomar o que era seu, pelo menos por esta única noite.

Nenhuma vez os dedos dela apertaram. Seu polegar, em vez de pressionar sua pele, o sinal que deu a ela que significava que era demais, acariciou-o, esfregando ligeiramente em círculos, zumbindo ao redor de seu pau com satisfação.

Só tocá-lo trazia prazer a ela. Isso o confundiu. Não entendeu isto — ela —, esta conexão. Sua fácil aceitação dele. Do que ele era. De suas necessidades que muitos chamariam retorcidas. Doente. Perverso. Ela as aceitou tão naturalmente quanto respirar.

Ele se tornou mais rude, entretanto estava sempre atento de cada único ferimento, e onde podia e não podia tocar.

Entretanto não pode aguentar mais e emoldurou seu rosto nas mãos grandes e a segurou firmemente, dando a ela nenhuma escolha senão ajoelhar ali e tomar


o que ele escolheu fazer. Ele a fodeu duro e muito tempo, parando quando estava lá no fundo e deleitando-se com ela engolindo delicadamente ao redor da cabeça de seu pau, chupando os goles de pré-ejaculação, meramente um precursor do que estava por vir.

Sabia que ela esperava que gozasse em sua boca, mas tinha outros planos. Primitivos. Animalescos. Todos traços que sabia que existiam dentro do monstro que ele era.

Então saiu, deixando-a pegar fôlego. Deu-lhe uma olhada, permitindo que o que sentia se mostrasse em seus olhos. Para deixá-la saber que ela importava. Disse isto muitas vezes, mas desta vez deu a ela a evidência. O que nunca deu a qualquer outra. Ele mesmo, desprotegido. Seus olhos não protegidos. Ela ofegou e lágrimas juntaram em seus olhos, então lentamente deslizaram por seu rosto, colidindo com as mãos que a seguravam tão firmemente no lugar. — Estou indo te foder duro, Honor — ele disse com sua voz áspera, atada com paixão drogada. — Por favor — ela pediu suavemente enquanto a ponta do seu pau descansava em seus lábios. — Dê-me tudo, Hancock. Eu quero tanto te agradar. Devolver a você o que me deu. Não há nada que você possa fazer para me fazer te rejeitar.

Com um grito gutural, ele mergulhou duro, quase punindo até o fundo da sua garganta, roubando sua respiração. Ele não se deu ao luxo de permanecer ali. Estava muito perto. Tão perto de gozar. E queria isto. Foder sua boca. Marcála. Ela era sua hoje à noite. E ela saberia disso.

Ele fodeu longo e duro. Ela lutou para respirar, mas se adaptou depressa e aprendeu como respirar quando se retirava. Quando ele sentiu a primeira


explosão de sêmen salpicar na língua dela, seu controle de ferro quase o abandonou e quase ficou lá, enchendo sua boca com a essência dele.

Ao invés disso, permitiu a ela esse gosto. Só um. Então ela dormiria cheirando a ele, o gosto dele em sua boca.

Quando ele se retirou, ela protestou e seus olhos estavam magoados, sombreados. Como se pensasse que fez algo errado. Ele acariciou sua bochecha com uma mão, segurando seu pau ingurgitado com a outra.

Deslizou a mão para debaixo do seu queixo e ergueu, mostrando seu pescoço, e então começou a bombear seu pau com a mão, duro, quase cruel. Grossas tiras brancas espirraram sobre seu pescoço, e então mirou sobre seus seios, cobrindo cada um, seus mamilos e então finalmente seu rosto, apertando sua ereção em sua carne acetinada, assim fluiria por toda sua pele, descontrolada, mas não atingiria os olhos.

Ele espalhou seu gozo nas bochechas e então sobre seus lábios, cobrindo-os como batom, e então quando a última gota veio, empurrou dentro de sua boca novamente, fundo, duro, e ficou lá enquanto pulsava contra o fundo da sua garganta. Gastando até a última gota ali na seda afiada de sua boca deliciosa.

Podia ficar para sempre ali.

Ela lambeu sua seta lentamente amolecendo, chupando ternamente como se soubesse o quanto estava hipersensível agora que ele gozou. Ela cavou em forma de xícara suas bolas com uma mão, acariciando-as amorosamente à medida que limpava até a última gota de sêmen do seu pau.

Quando finalmente deslizou livre de sua boca, ela cavou sua ereção


minguando nas palmas das mãos e pressionou um beijo na cabeça, lambendo muito levemente a fenda enquanto afagava o saco.

Então levantou o olhar para ele, seu coração nos olhos com lágrimas brilhando, minúsculos diamantes presos em seus cílios. — Obrigada — ela sussurrou em uma voz cascuda. — Nunca esquecerei esta noite. Ou você.


CAPÍTULO 28 HONOR jazia aninhada nos braços de Hancock, seu rosto descansando em seu peito, o queixo no alto da cabeça. Ficaram deitados em silêncio, o braço de Honor enrolado em torno da cintura de Hancock, querendo mantê-lo ali, ao seu lado, pelo maior tempo possível. A cada minuto que passava era mais um minuto mais perto de amanhecer e ao final de sua noite juntos. Ele passou seus dedos através de seu cabelo, mais e mais. Apenas acariciando, distraidamente quase, como se estivesse refletindo sobre algo importante. Ela o amava. Agonia queimou através de seu corpo, pior do que qualquer dor que ela já tinha experimentado. Todas as lesões, o espancamento que ela tinha tomado no ataque, a bala que tinha tomado por Conrad, dois ataques de Bristow sobre ela. Nada doía mais do que amar este homem e saber que quando chegasse ao amanhecer ele a entregaria para Maksimov e ela nunca o veria novamente. Era a coisa mais difícil, e reuniu cada grama de seu autocontrole para não chorar por tudo o que foi perdido. Mas ela se recusou a ceder. Porque Hancock estava ferido também. Ela sabia disso. Ele estava tranquilo. Ele não tinha dito uma única palavra desde que ele beijou suavemente sua testa depois que ela agradeceu e disse: —Não, minha querida Honor. Obrigado a você. É a primeira vez que eu já provei luz do sol. Em seguida, ele a levou para o banheiro e em um banho quente, onde ele lavou cada centímetro de seu corpo, tendo especial cuidado com seus ferimentos. Ele até lavou os cabelos, massageando suavemente antes de enxaguar o sabão dos seus longos fios. Depois de uma minuciosa secagem, ele disse que tinha o que refazer bandagem, e aplicar o creme antibiótico e um anestésico para evitar a dor. Em seguida, ele terminou secar os cabelos, a levou para o quarto e puxou-a entre suas pernas quando ele se sentou com as costas apoiadas na cabeceira da cama, e ele penteou os fios embaraçados.


Ela estava quase dormindo quando ele a deitou em seu lado ileso e simplesmente enrolou-se em volta dela, enfiando a cabeça embaixo do queixo, e segurou-a. Mas nem dormiram e ninguém falou. O que havia para dizer de qualquer maneira? Ambos sabiam o que tinha de ser feito. O que seria feito. E ela tinha apenas um arrependimento. Apenas um. Não era o ataque à clínica, nem sua fuga com medo constante, nem a traição inicial de Hancock, nem mesmo o ataque de Bristow. Porque tudo tinha levado a esta bela noite. Não, seu único arrependimento era que ela só tinha esta noite. Ele tinha dado a ela a mais bela noite de sua vida, mas ele também tinha mostrado a ela o que ela nunca teria, e ela ansiava por ele como ela nunca almejou qualquer coisa em sua vida. Estar com Hancock? Estar em seu domínio, seu carinho, proteção, sua devoção absoluta, fazer o que fosse preciso para fazêla feliz? Ela queria chorar, porque tanto quanto ela queria esta noite, ela quase desejou que ela nunca tivesse conseguido uma amostra do que agora era um fruto proibido. Você não pode lamentar o que você nunca teve. Hancock estava tenso, agitado. Ela podia sentir a sua vibração do corpo, quando ele a segurou com força. Seu aperto quase fez mais hematomas e era doloroso às vezes, mas ela nunca disse uma palavra, não querendo perder o seu toque. Se ele pensasse que a estava machucando, ele imediatamente colocaria distância entre eles, e que ela não poderia suportar. Um pouco de dor era um pequeno preço a pagar para se deitar em seus braços naquelas poucas horas que teriam juntos. Ela lhe pediu para esta noite. Só hoje à noite. Mas será que ele faria amor com ela novamente amanhã à noite? Sabendo que realmente seria sua última noite juntos? Que na manhã seguinte eles a deixaria para entregá-la para Maksimov? Ou será que ele passaria aquela noite endurecendo-se, voltando a ser o Hancock que todos viam? A máquina. O mercenário sem emoção que não pensaria duas vezes em entregar uma mulher a um homem se ele cumprisse seu objetivo.


Sim, essa era a possibilidade mais provável. Ele iria distanciar-se dela. Ele iria acordá-la com aqueles olhos frios e com características implacáveis. Ele a trataria como prisioneira que era. Oh, ele não a machucaria fisicamente. Mas ele iria tratá-la como um objeto. Desapaixonado e como se ela tivesse nenhuma importância. Porque era a única maneira que ele seria capaz de suportar o que ele tinha que fazer. E ela sabia que ia machucá-lo. Ninguém mais sabia. Mas ela fez e faria. Isso não a machucou, que ele se endurecesse e tornar-se um escudo de seu verdadeiro eu. Ela sabia que era a maneira como ele suportou —sofreu— todos estes anos de solidão. O que lhe doía era que ela nunca mais o veria. Nada do que Maksimov ou a NE fizesse com ela poderia comparar com a agonia de conhecer o amor por um tempo tão curto, provar a paixão que não poderia ser comum, partilhar uma ligação íntima com o Hancock real. O Hancock que só ela via. E nunca mais veria. Seja o que for que Maksimov e a NE fizessem, ela aguentaria. Ela até o receberia porque lhe daria alívio da dor muito real de perder Hancock. E quando a morte viesse buscá-la, ela a receberia, porque então ela não sentiria depois de tudo. Ela fechou os olhos, uma sensação de paz envolvendo-a. Sua vida não tinha sido em vão. Por uma noite mágica, ela experimentou o amor. Ela amou e foi amado em troca. Esta noite valeu a pena tudo o que tinha vindo antes e tudo o que viria depois. Porque ele deu-lhe isso. E por isso valia a pena morrer. —Eu não posso deixar você ir. As palavras de Hancock, guturais com agonia e desespero, a assustou, quebrando o silêncio pesado e os pensamentos em que ela tinha se perdido. Seu domínio sobre ela apertou até que ela já não podia conter o estremecimento. Ele nem percebeu. —Eu não posso fazê-lo, Honor. Eu não posso. Eu não vou. Porra, eu não vou fazer isso! Ele estava fervendo, seu corpo inteiro tenso, seus músculos ondulando com raiva. Seu rosto, se ela não conhecesse o homem por baixo, a aterrorizaria.


Pelo que ele tinha sido rotulado por toda a sua vida. Um assassino implacável cruel e impiedoso. Ela gentilmente soltou-se dele, apenas o suficiente para que ela pudesse se inclinar-se e enfrentá-lo totalmente, sua perplexidade não disfarçada. —Hancock? — Ela sussurrou timidamente. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. O que ele estava dizendo. Ela estava totalmente confusa. Seu rosto era uma coroa de tormento. Agonia brilhou em seus olhos e ele olhou como se ele levasse sobre si o peso do mundo sobre seus ombros. Se tivesse sido esse o que ele estava pensando tão intensamente as últimas horas quando tinham ficado em silêncio, ele segurando-a como se tivesse medo que ela simplesmente desaparecesse? Como se ele tivesse planejando isso o tempo todo, ou ele simplesmente fez uma decisão de impulso? Um lance irracional para segurar a noite tanto quanto ela queria segurar. Ele estendeu a mão para tocar seu rosto e ela não se conteve. Ela se aninhou na palma da mão e virou-se para beijá-la, mas depois voltou seu olhar para ele, em questionamento. Não entendendo o que estava acontecendo aqui. Fosse o que fosse… era enorme. E isso a deixava com muito medo. Não por si mesma. Mas, por ele. —Eu preciso que você me ouça, Honor. E eu preciso que você entenda. Eu não vou desistir de você —, disse ele ferozmente. —Não existe força forte o suficiente neste mundo fazer-me desistir de você. Você entende? Sua testa franzida. —Mas Maksimov… —Que se foda Maksimov —, disse ele ferozmente. —E foda-se o bem maior também, porra. Eu fui um instrumento para o bem maior toda a minha vida e eu nunca, nunca pedi uma coisa maldita para mim. Eu nunca esperei algo para mim. Eu nunca tive uma coisa que é toda minha. Só minha. Mas eu tenho você, Honor. E eu não vou desistir de você. Nunca. O medo era afiado e amargo na boca. Ela olhou para Hancock, permitindo que cada grama do que o medo que sentia, se mostrasse. Ela estava apavorada. Por ele. E pelo o que ela achava que ele estava dizendo a ela.


—Mas Hancock, se você não der Maksimov o que ele quer… Você me disse o que ele é. Ele vai te matar. Ele vai te caçar como um animal. Pelo que você me disse sobre ele, sobre o tipo de homem que ele é, eu posso muito bem imaginar que o tempo não significa nada para ele. Que ele vai esperar meses, anos, independente de tempo leva, mas ele vai te matar. Não importa quanto tempo leve para se vingar. Ele vai esperar e ele vai atacar. Eu não posso, eu não vou deixar que isso aconteça, Hancock. Você constantemente me diz que eu importo. Porra, Hancock, você é importante também —, ela se enfureceu. — Você importa! Você é importante para este mundo. O mundo precisa de você. Você é importante para mim! Você disse que meu sacrifício não seria em vão, que ele serviu a um bem maior. Então não deixe que meu sacrifício seja desperdiçado! Eu nunca trocaria minha vida pela sua. Nunca! —E você acha que não importa para mim? — Ele gritou. —Você acha que eu vou apenas entregá-la a ele e ir embora sabendo que ele vai estuprar repetidamente você, que seus homens vão estuprar você? Quem ele quer premiar, vai te violentar. Ele vai torturá-la só porque ele gosta do que faz. E então ele vai entregá-la a NE e cada horror que se possa imaginar, que você pode imaginar, eles vão fazer todos com você. Quando e somente quando você estiver tão perto da morte que você não puder mais suportar sua brutalidade constante, eles vão te matar, mas não vão ser misericordiosos e não vai ser rápidos. Eles vão arrastá-la para o meio de qualquer aldeia que ocupam e vão infligir tantas feridas quantas forem possíveis, para que você morra, uma morte horrível, lenta, e, em seguida, eles vão deixar seu corpo apodrecer e se decompor e ninguém vai mover um dedo por medo que sejam mortos por interferir. Ela estremeceu com as imagens muito reais que ele invocou. Lágrimas correram pelo rosto. A situação deles era impossível e ela sabia disso, mesmo que ele não admitisse saber o mesmo. Eles estavam condenados. Eles nunca poderiam estar juntos. Se ela não morresse, em seguida, Hancock faria. —Eu não vou trocar a minha vida pela sua, — ela repetiu, uma raiva horrível se construindo e aumentando até virar um inferno. —Você é um bom homem. Eu não me importo o que ou quem você pensa que é. Eu vejo você, Hancock. Eu te vejo. O mundo precisa de você.


—E eu preciso de você —, ele fervia. —Você é a única coisa que eu quero —necessito— acima de tudo. Eu preciso de você, Honor. Que tipo de homem eu seria se eu te levasse para sua violação, tortura e eventual morte? Você honestamente acha que eu poderia continuar como se nada tivesse acontecido? Você acha que eu sobreviveria? Que eu poderia continuar combatendo o bom combate, lutando para o bem maior quando você é o bem maior e eu matei você. Eu assassinei você. Eu deixei você ser estuprada e torturada. Você acha que eu ia dormir à noite a imaginando nas mãos deles? Você acha que o mundo seria um lugar melhor comigo lá dentro? Eu me transformaria em um monstro ao contrário do que este mundo já viu, e eu não dou a mínima para o bem maior, porque o meu bem maior foi destruído por mim. Ela encostou a testa à dele, as lágrimas escorrendo em seu rosto. —O que vamos fazer? —Ela sussurrou entrecortada. —Nós vamos fazer a troca. Honor olhou para ele em choque. —Nós vamos arrumar para que tudo se pareça exatamente como deveria. E então meus homens e eu vamos derrubar Maksimov. Eu não vou te entregar a ele, Honor. Você entende isso? Você confia em mim? Eu não vou te entregar a ele. Ela engoliu em seco, a esperança começando a florescer, e ela tentou, oh como ela tentou segurá-la porque a esperança era uma coisa tão perigosa e delicada. Assim, facilmente se quebrava e ainda assim tão facilmente estimulada. —Eu confio em você—, disse ela sem hesitação. Ele se inclinou e beijou-a. —Então confie em mim para fazer isso. Eu tenho que ir agora. Eu quero que você descanse. Realmente descanse. E Honor, se você não fizer isso, eu vou fazer Conrad sedá-la. Eu tenho que ficar junto de meus homens, porque agora só temos um pouco mais de 24 horas para chegar a um plano completamente diferente. Ela sorriu com tristeza. —Após a notícia bombástica que você acaba de jogar em mim, é melhor você ir em frente e ir buscar Conrad, porque não há


nenhuma maneira que eu vou dormir. Eu só vou ficar e me preocupar… — Sua voz sumiu a um sussurro, como se dizer o último alto demais de alguma forma traria azar sobre eles — …e ter esperança. Eu tenho medo de ter esperança, Hancock. —Meu nome é Guy —, ele disse em voz baixa, surpreendendo-a com a brusquidão na mudança de assunto. —Ninguém, mas minha família me chama assim. Bem, realmente só Eden, minha irmã. Irmã adotiva se você quiser. Meu pai adotivo e meus dois irmãos adotivos principalmente me chamam de Hancock. Eu gostaria que você me chamasse pelo meu nome, mas apenas quando estivermos sozinhos. —Guy —, disse ela, testando o som em seus lábios. —Guy —, disse ela novamente. —Combina com você. Eu gosto muito mais do que Hancock. —Ela fez uma pausa antes de olhar para ele, fixando seu olhar com o dele, permitindo demonstrar tudo o que ela sentia em seus olhos, esperando que ele pudesse ver. Ele engoliu visivelmente, espelhando a emoção, fervendo em sua própria expressão. —Eu gosto muito mais porque você dividiu isso comigo—, acrescentou ela em voz baixa. Ela acariciou seu queixo, olhando para ele com o amor que ela sentia e esperava que ele visse isso, porque ela não podia —não devia— dizer. Agora não. Ia parecer manipulação emocional e eles não estavam fora de perigo. As coisas poderiam dar terrivelmente erradas. Ela não faria nada para piorar as coisas. Ele a beijou novamente, mesmo quando ele estava subindo para vestir um par de jeans. —Eu não vou te decepcionar —, disse ele ferozmente. —Eu não te decepcionarei outra vez, Honor. Mas não desta vez. Nunca mais. Sei que estou pedindo muito quando eu peço que confie em mim. Eu já traí sua confiança. Eu não mereço isso de você, mas eu estou pedindo de qualquer maneira. É importante para mim. Isso importa muito. Ela deu-lhe as palavras, sem reservas, seus olhos nunca deixando os dele, as palavras vindas diretamente de seu coração. Ela poderia muito bem ter dito que eu te amo pela maneira como ela deu as palavras. E, a julgar pelo furor que


entrou em seus olhos, ela pensou ter ouvido o eco do seu eu te amo quando ela lhe disse que confiava nele. E para ela, a confiança era o amor. O amor era a confiança. Eles eram uma e a mesma coisa para ela.


CAPÍTULO 29 —VOCÊ quer explicar isso novamente, chefe? — Viper perguntou, confusão clara em seus olhos. Seus outros colegas usavam expressões confusas semelhantes, mas uma linha comum que encontrou em cada reação que ele estudou foi… alívio. No rosto de Conrad ele não encontrou apenas alívio, mas a satisfação ardente. Parecia que ele queria reagir fisicamente e fazer algo absurdamente atípico como jogar a mão para cima e fazer uma bomba do punho. Conrad, que não gostava de ninguém, foi conquistado por uma mulher com mais coração do que noventa e nove por cento dos homens que eles haviam servido. Ela tinha o seu respeito e agora sua proteção. De todos os homens, o alívio de Conrad foi o mais pronunciado. O consumia que uma mulher que tinha salvado sua vida e agora estava sendo servido como um cordeiro em sacrifício e ele estava participando desse ato repulsivo. —Você me ouviu, — Hancock disse secamente, sem paciência para reafirmar o que tinham ouvido claramente. —A missão mudou. —Bom mojo—, disse Mojo, com uma voz mais animada do que o seu tom monótono habitual. O homem, na verdade, parecia feliz. —Não é que remotamente me oponho e se eu ainda estivesse nas forças armadas, eu estaria dizendo hooyah,13— Cope interrompeu. —Mas não temos a menor ideia sobre o que mudou desde a nossa última reunião um pouco mais de 12 horas atrás? —Tudo, — Hancock rosnou. —Nós não vamos para usar a tortura e o assassinato de uma mulher inocente para finalmente derrubar Maksimov. Eu estou fodidamente cansado de ouvir a crença sobre o bem maior e eu juro por Deus, eu vou ter as bolas de quem disser isso nos meus ouvidos de novo. —Foda-se, — Conrad explodiu. —Bom mojo—. 13

1. O grito de batalha dos SEAL’s 2- Um reconhecimento afirmativo como: Eu entendo, Sim senhor, Não há problema.


—Vamos detonar essa merda, amigo, — Henderson saltou. Viper e Cope assentiram em acordo. —Nós vamos pegar Maksimov, fazendo parecer que daremos a ele o que ele quer. E, então, derrubá-lo e qualquer outra ameaça. Eu não dou uma merda se será sujo ou limpo. E eu não dou a mínima para o desmantelamento do seu império. Pela primeira vez, outra pessoa pode limpar essa maldita bagunça. —Você o terá nesta noite, o homem—, disse Conrad em um tom seco. —Diga-me como Bristow morreu—, perguntou abruptamente Hancock, seu tom transformando-se em letal. Conrad encolheu os ombros. —Ele ainda pode estar vivo. Ou não. Eu pensei que seria algumas horas, mas ele é um maricas. Duvido que ele durou mais de uma hora. É uma pena. Os outros membros da equipe murmuraram e expressaram o descontentamento com a ideia de que ele morresse tão rapidamente. —Suas instruções eram para drogá-la para a entrega, — Hancock disse, mudando a conversa de volta ao seu assunto original. A testa de Conrad levantou. —É isso que você está fazendo? Hancock estranhamente fez uma pausa. Normalmente, suas respostas eram rápidas, seguras. Situação completamente na mão e no ponto. Seus homens perceberam. Ele estaria chateado se não tivessem, mas ao mesmo tempo o irritou por ele permitir-se mesmo que breve uma demonstração de incerteza. Seus homens foram treinados para pegar sutilezas. Era o menor dos detalhes que salvou sua bunda. Hancock suspirou. —Eu estou. Os outros olharam para ele com surpresa. —Se eu achasse que outra opção era a melhor, então eu não iria drogá-la. Ninguém fez a pergunta óbvia, mas estava lá em cada rosto único e em seus olhos. Eles esperaram em silêncio por seu chefe de equipe de explicasse. —Honor não pode saber que na verdade estamos fingindo entregá-la, e ela não pode estar consciente por mais razões além do fato que Maksimov fez


essa condição. Ela é simplesmente muito honesta. Tudo que você tem a fazer é olhar para o seu rosto, em seus olhos, e você vê a verdade. Maksimov nunca acreditaria que ela estava como deveria parecer, espancada, uma prisioneira com medo de ser entregue a um monstro. Então eu tenho que drogá-la, e… eu tenho que fodidamente mentir para ela. Ele disse que a última com raiva abrasadora, um gosto amargo enchendo a boca. Era um mal necessário, um que iria salvar a vida dela e, se tivessem sorte, derrubar Maksimov no processo. Mas isso não quer dizer que ele gostava de enganá-la. Mais uma vez. Porra, ele odiava. Especialmente depois do que eles tinham compartilhado na noite anterior. E ainda mais, ela tinha dado a ele sua confiança incondicional. O simples pensamento de que nem por um momento que ela pudesse pensar que ele a traiu fez mal a sua alma. —Nós fazemos o que é necessário—, disse Viper, seu tom mais tranquilo do que o normal. —Bom mojo—, disse Mojo por via de acordo. —Você sabe que é a única maneira—, disse Conrad, mas Hancock podia ver igualmente seu desagrado e decepção. E sua culpa. Ele podia ler Hancock. Conrad sempre teve o dom estranho de ler seu chefe de equipe, e ele sabia o quanto Hancock odiava o que tinha que ser feito da mesma maneira que ele sabia o quanto ele tinha desprezado a missão inicial de entregar Honor e indo embora. —Sim. É —, disse Hancock. —Agora, precisamos bolar um plano. Um plano malditamente bom. Não há nenhuma margem para erro. Maksimov tem de ser retirado, e Honor não pode ser prejudicada de forma alguma. Ela, não Maksimov, é o principal objetivo. Sim, nós estamos usando-a como uma maneira de chegar perto o suficiente de Maksimov para derrubá-lo. Mas a segurança de Honor vem antes de tudo. Mesmo que isso signifique que Maksimov nos escape. Mais uma vez. —Estamos nisso—, disse Cope imediatamente. E então, como uma equipe, todos eles se viraram para Hancock, em posição de sentido, algo que não faziam desde que tinham deixado as forças armadas.


—Você tem a nossa palavra. Vamos proteger Honor Cambridge com nossas vidas —, disse Conrad formalmente. Por sua vez, cada um dos homens restantes repetiu a promessa de Conrad, e o coração de Hancock se encheu de orgulho. Eles eram odiados, desprezados. Seu próprio governo, para quem Titan fez o trabalho sujo durante anos, tinha se voltado contra eles e tentou executá-los. Quando isso não funcionou, o governo colocou uma recompensa por suas cabeças. Seus homens eram bons homens. Bons homens que tinham feito coisas terríveis em nome da justiça. E para o bem maior do caralho de muitos. Salvaram muitas vidas, até mesmo a vida das próprias pessoas que procuravam a sua morte. Eles trabalharam sob nenhuma bandeira, nenhum país. Eles não tinham uma pátria verdadeira. E eles seriam sempre caçados por poucos remanescentes que nem sabiam de sua existência. O próprio país que eles haviam lutado incansavelmente para proteger — e ainda protegiam— denunciou todos eles. Os marcou com o pior insulto que poderiam ter recebido após tantos atos de terrorismo que tinham impedido. Terroristas. Traidores do seu país. O país ao qual teriam dado suas vidas. Eles foram despojados de honra, declarados oficialmente mortos antes de se tornarem o grupo Black Ops Titan e foram roubados de sua cidadania. Eles não tinham casa, nenhum lugar qualquer para chamar de lar. Sem lealdade a ninguém, exceto a si mesmos. A sua causa, a sua missão, ainda era a mesma. Isso nunca tinha mudado, mesmo quando tudo o mais tinha. Proteger os inocentes. Caçar o mal. Independentemente da nacionalidade. E seus homens nem uma única vez vacilaram. Eles permaneceram fiéis à Hancock e aos princípios que foram estabelecidos quando eles foram forçados a sair por conta própria. Desonestos. Através de tudo isso, Hancock nunca tinha sido capaz de convocar o ódio ao país que ele ainda considerava seu, mesmo que ele não o reclamasse como um dos seus próprios. Ele amava a América. Ele amava seu povo. Seu ódio era reservado para os poucos que tinham o traído e colocar em prática uma década escapando de assassinos, lutando o tempo todo o bom combate. Na noite passada, ele o abalou em muitos níveis. Mas talvez o mais profundo de tudo foi que, pela primeira vez desde que seu país o havia rejeitado,


deixando-o sem lugar para chamar de lar, ele finalmente encontrou seu lar nos braços de Honor. Ela era sua casa. E nada nunca o fez se sentir tão bem —tão calmo e pacífico— em sua vida. —Eu tenho mais um pedido—, disse Hancock, tão formal como seus homens tinham sido. —Se eu for derrubado. Se alguma coisa me acontecer, caiam fora de lá com Honor. Sob nenhuma circunstância ela pode acabar nas mãos de Maksimov, mesmo que isso signifique abandonar a missão e deixar o bastardo ficar livre. Eu sei que nossa crença sempre foi nunca deixar um companheiro caído. Mas eu pergunto isso a vocês, porque de bom grado trocaria minha vida pela de Honor. Ela não merece menos. Ela merece viver. Ela serve a um propósito maior e o mundo é um lugar melhor com ela. —Se não conseguirmos, será apenas porque todos nós estamos mortos, — disse Viper por meio de um voto. Os outros concordaram com a cabeça. —Nós vamos levá-la para casa—, disse Conrad suavemente. —De uma forma ou de outra. Vou protegê-la com o meu último suspiro.


CAPÍTULO 30 HANCOCK cuidadosamente equilibrou a bandeja com uma mão enquanto ele abria a porta de seu quarto com a outra. Ele entrou para ver Honor vestida como tinha pedido em calças confortáveis e uma camiseta. Só estava descalça e ela estava sentada com as pernas cruzadas sobre a cama e presenteou-o com um sorriso de boas-vindas que foi como uma faca para o intestino. Ele tinha que se lembrar que isto era necessário para garantir sua segurança. Para salvar a vida dela e levá-la para casa como ele tinha prometido. Uma promessa que ele tinha a intenção de manter. Obrigou-se a devolver o sorriso dela e, em seguida, levou a bandeja até colocá-lo na frente dela. —Café da manhã na cama? — Ela perguntou, fingindo surpresa. —Você sabe, eu poderia me acostumar com esse tratamento real. Ela estava radiante. Feliz. Sorrindo. E seus olhos estavam livres das sombras que tinham permanecido lá por tanto tempo. Eles estavam brilhantes. Brilhantes. E esperançosos. —Eu quero que você coma e beba tudo—, disse ele com gravidade simulada, tentando adotar seu humor brincalhão. Ele sabia que ela, eventualmente, faria perguntas. Ela gostaria de saber qual era o plano. Ela gostaria de saber cada detalhe, porque ela se preocuparia com ele. Então, ele a queria que comesse e bebesse antes que abordasse as outras questões. Ela olhou para o prato e suspirou, pegando o garfo. —Uh-uh —, disse ele com uma carranca, feita para diverti-la. Ele fez um gesto em direção às pílulas de antibiótico na bandeja. — Aquelas primeiro, e beba bastante suco. Então você pode comer. Ela revirou os olhos, mas cumpriu o seu pedido, tomando as pílulas com vários goles de suco. Metade da bebida tinha ido embora. Bom, mas não era o suficiente.


Ele deixou-a comer algumas mordidas de sua comida, cortesia de Mojo, que era assistente na cozinha. Ele fez crepes, qualquer que seja o inferno que aquilo era. Eles pareciam muito chiques para Hancock. Havia beignets14, que Hancock conhecia e gostava. Quem não gostava beignets com café preto e forte em Nova Orleans? E no café da manhã também tinha ovos mexidos com presunto e bacon. —O que ele fez, abateu um porco? — Perguntou ela, o riso em seus olhos. Ele fez um gesto em direção ao suco. —É fresco e espremido. Mojo ficará ofendido se sobrar algum. Ela quase engasgou enquanto engolia a comida em sua boca. —Mojo cozinhou isso? Hancock sorriu com a reação dela. —Ele é um homem de muitos talentos escondidos. —Obviamente, — Honor murmurou enquanto ela bebia o suco. Ela cortou em um dos crepes e deu uma mordida delicada, mas ela franziu a testa e, em seguida, rapidamente tentou encobri-lo. Hancock fingiu não perceber, seu coração já afundando. Ela brincou com os ovos um momento, espetou uma garfada e levantoua em direção a boca, mas, em seguida, enfiou a mão livre sobre seu estômago e deixou o garfo com um barulho alto. —Hancock, eu me sinto doente. Eu não comi quase nada. Mas eu me sinto… Ela oscilou, rosto pálido quando ela apertou a palma da mão com mais força contra seu estômago. Ele viu sua garganta trabalhando como se ela estivesse tentando não vomitar. Ele imediatamente estendeu a mão para esfregar suas costas em um esforço para acalmá-la e esperando acalmar seu estômago.

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A palavra Beignet (pronuncia-se benhê) vem do Celta que significa aumentar. Nos Estados Unidos são conhecidos como donuts. Os beignets são quadrados e sem buracos no meio. Em Nova Orleans existe um café estabelecido em 1862 que se chama Cafe du Monde, onde você pode pedir somente uma coisa: Beignets acompanhados de café com leite. Daí a referência de Hancock.


Ela se encolheu e, em seguida, olhou para ele com tanto horror e dor em seus olhos que era como uma faca no coração. —O que há de errado? —Ela perguntou em uma voz ferida. —O que você fez para mim? Ele segurou seu rosto com firmeza quando ela resistiu, e ele a puxou para um beijo suave, derramando toda a emoção que ele nunca tinha se permitido sentir até ela. Ele saboreou suas lágrimas quentes. Sentiu seu senso de traição como se tivesse sido feito para ele, e só o fez odiar-se ainda mais pelo que ele sabia que tinha que fazer. Beijando-a novamente, ele sussurrou contra seus lábios, —Confie em mim, Honor. Não lute contra isso. Basta ir dormir agora. Basta dormir. —Estou morrendo? — Perguntou ela com a voz embargada, lágrimas escorrendo silenciosamente pelo seu rosto. —Beije-me —, ela sussurrou, os olhos brilhando com as lágrimas de cortar o coração. —Beije-me uma última vez antes de eu ir. Finja isso uma vez, por mim. Partiu o coração dele que ela pensasse que ele fingia paixão por ela. Que ele a tinha usado, manipulado suas emoções e a enganado para confiar nele. Acreditar nele. Mas ele deu a ela o que ela queria — o que ele queria, saboreando a doçura de sua boca uma última vez antes que eles tivessem que ir. Em seguida, ele se afastou, olhando fixamente em seus olhos para que ela soubesse que ele estava sendo sincero. —Não, querida—, disse ele com ternura, acariciando a mão pelo seu cabelo sedoso. —Apenas confie em mim. Só desta vez. Confie em mim. A morte não vem para o inocente neste dia. Mas os olhos dela já tinham fechado e se não tivesse com a mão contra a cabeça dela, acariciando seus cabelos, ela teria caído para o lado, já inconsciente. Ele xingou violentamente, lágrimas queimando suas próprias pálpebras. Ela desmaiou não só pensando que ela estava respirando seu último suspiro, mas que ele foi o único a envenená-la. Sua traição final, quando ela ofereceu sua confiança uma e outra vez, só para ele para quebrá-la mais e mais.


Tanto pesar surgiu através de seu corpo, coração, mente e alma. Por um momento, ele simplesmente a tomou em seus braços e a segurou, enterrando o rosto em seu pescoço macio. Ele respirou profundamente, querendo saborear este momento em um tempo que não havia barreiras impossíveis entre eles. Ele sofria em silêncio, segurando a mulher que tinha mudado para sempre o curso de seu destino —o seu destino— a direção de todo o seu futuro. E então ele mais uma vez pegou e abraçou o frio familiar, a gelada indiferença. Ele fez a transição de um homem com humanidade, uma alma para um assassino sem emoção. Uma máquina programada para realizar a missão a todo custo. Ou morrer tentando. Sem dizer uma palavra, ele se inclinou e cuidadosamente a pegou em seus braços antes de subir com ela. Ele caminhou até a porta até o corredor, onde seus homens esperavam, tendo perdido quaisquer vestígios restantes de sua profunda ligação com Honor, recusando-se a contemplar que ele poderia muito bem ser o único a levá-la para a sua morte. Todos eles tinham expressões sombrias, não gostando da tarefa tanto quanto Hancock. Mas eles não tinham escolha. Era a sua única chance de salvar Honor. E, finalmente, derrubar Maksimov. Deus os ajudasse, se eles falhassem. Deus ajudasse o mundo se Honor fosse perdida e Hancock sobrevivesse. Porque ninguém seria capaz de detê-lo. Nem mesmo o próprio diabo.


CAPÍTULO 31 OS MEMBROS do Titan rastejaram silenciosamente no meio do mato, contornando a rota que Maksimov havia esboçado para que eles o cercassem e entrassem atrás dele onde ele pensava que estaria seguro. Tinham passado horas incontáveis, considerando todos os ângulos, todas as possibilidades, se preparando para o pior cenário possível e mais fácil. Depois de tudo, por vezes, o caminho de menor resistência era… só isso. Pela primeira vez, Hancock não liderou seus homens, como sempre fazia, colocando-se entre ele e sua equipe. Sua equipe — sua segurança — era sua responsabilidade, mas hoje Honor era seu único objetivo. Os outros rodearam Honor, formando uma barreira protetora em torno dele e da mulher inconsciente que ele tão cuidadosamente segurava em seus braços. Ele garantiu que a droga que ele tinha dado a ela fosse tão forte que não havia chance que ela recuperasse a consciência até que tudo acabasse e ela iria despertar em seus braços, segura, com o conhecimento de que tudo estava acabado. Maksimov não era mais uma ameaça e ela foi finalmente estava segura. Além do alcance da NE. E bem, algumas sementes plantadas, infiltrar informações nos meios de comunicação corretos, e a história sensacional iria se espalhar como fogo que Honor Cambridge tinha morrido nas mãos da NE. Salvaria as aparências para eles e ia apaziguar o sentimento de desonra. Sua imagem pública era tudo e enquanto Honor fosse discreta, ela estaria a salvo dentro dos limites dos Estados Unidos. Mas eles iam ter uma reunião séria venha-a-Jesus sobre sua promessa de não deixar a NE interromper seu trabalho. Ela nunca ia voltar para seu antigo emprego. Sobre o seu cadáver que ela se colocaria nesse tipo de perigo de novo, e ele sabia que teria aliados com sua família. Ela disse a ele que tinham desesperadamente tentado dissuadi-la de ir, mas que, no final, eles haviam apoiado sua decisão. Quando eles soubessem a verdade — e eles saberiam a verdade total, menos os detalhes sórdidos que não


seriam nada bons para sonhar à noite, eles iriam se aliar com ele e ser tão determinados a mantê-la fora de perigo. Uma pontada de alarme, uma mudança no ar, trouxe um mal-estar amarrando o intestino de Hancock. E ele sempre ouvia seu intestino. Mesmo quando ele embalou Honor a mudando de posição, ele a segurou para colocá-la cuidadosamente sobre ombros para que ele pudesse libertar a mão que já agarrava a base de sua pistola, e ouviu Mojo murmurando —Mau mojo. Um sentimento compartilhado por seus outros colegas quando eles pararam e cheiraram o ar como predadores na caça. Ou presas, medindo o seu adversário. A dor explodiu em ombro esquerdo de Hancock, deixando-o sem fôlego enquanto o sangue quente escorria o seu caminho até seu braço e lateral. Caramba. Ele tinha cometido um erro de principiante. Com Honor embalada em seus braços, ninguém tinha a mira para um tiro limpo sem correr o risco de acertá-la. Quando ele a mudou de posição, deixou todo o seu lado esquerdo exposto. Ele cambaleou até ficar de joelhos, garantindo que ele ficasse com o impacto da queda e então Honor não seria acordada. A última coisa que ele precisava era ela acordada e consciente, convencida de que ele tinha traído e a entregado ao inimigo. E quem poderia dizer que ele não tinha feito exatamente isso, foda-se tudo. Seu braço ficou dormente quando ele cambaleante tentou se levantar e endireitar-se para que ele pudesse se posicionar sobre Honor, mas o seu rifle caiu inútil de sua mão. Seus joelhos bateram no chão, rangendo todo o seu corpo dolorosamente, e os seus homens irromperam em um tiroteio em torno dele, com gritos de —Abaixe-se! Abaixe-se! Sniper15! Seis horas16. Cubram Hancock, porra! Ele está para baixo!

15 Sniper ou franco-atirador, é um exímio atirador, que tem a capacidade de atirar em alvos a partir de posições escondidas ou distâncias superiores as das pessoas não treinadas. 16 O ATIRADOR ESTÁ ATRÁS DE HANCOCK - É um sistema de referência espacial dinâmico, de uso muito comum entre os americanos; baseia-se na posição e/ou direção em relação ao observador. Usa como referência o mostrador de um relógio analógico. Algo que esteja na 'posição das 12 horas' está exatamente à frente do observador, da mesma forma que algo na ‘posição das 6 horas’ está exatamente atrás do observador.


Ele caiu para frente, girando o melhor que podia para que ele absorvesse o impacto, e não Honor. Ela era pouco mais que uma boneca de pano deitada ao lado dele, seu braço enrolado firmemente em torno dela. O mundo ao seu redor estava indo para o inferno. Emboscada. Alguns de seus homens haviam sido baleados, alguns já morrendo. —Sinto muito—, ele sussurrou para Honor, sua voz quase inaudível. — Eu sinto muito, Honor. O tiroteio foi feroz e implacável. Seus homens deram tudo o que tinham, mas Hancock não poderia localizar Maksimov em qualquer lugar. E tudo o que ele podia fazer era tentar manter Honor coberta o melhor que pôde e de alguma forma manobrar o braço agora inútil para que ele pudesse conseguir um aperto em sua arma, agora escorregadia com seu próprio sangue e o único maldito meio que ele tinha para proteger Honor. Aparentemente a quilômetros de distância, Hancock ouviu o grito de Cope, —Mojo! Hancock fechou os olhos. Porra, não! Mojo obviamente tinha levado um golpe, e pela nota frenética em Cope voz era ruim. Dor o consumiu quando ouviu o apelo igualmente frenético de Viper. — Mojo! Fique com a gente, porra. Não se atreva a deixar ir. Você me ouve? Lute, droga! Você tem que lutar! Copeland passou por cima e arrastou Mojo para trás de uma densa formação rochosa que fornecia cobertura natural e apenas um local para entrar ou sair. Qualquer um que chegasse por ali ia se encontrar com o rifle de Cope e ele estava furioso e com sede de sangue, pronto para tirar em cada um dos bastardos. —Mojo, homem, espera. Fala comigo, — implorou Cope, balançando seu companheiro de equipe. Sangue transbordava e era espumante, vindo dos lábios de Mojo, e Cope sabia que não era bom. Um tiro no pulmão. Quando Viper implorou com Mojo para se segurar, Mojo sussurrou, — Bom mojo.


Então ele sorriu, para choque de seus companheiros de equipe. Mojo nunca sorria. Ele virou-se para seu companheiro de equipe, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Um rosto esculpido com emoção que nunca tinha presenciado nenhuma vez. Estoico e reservado. Nunca tinha muito a dizer. Ele foi superado e mal podia falar em torno das lágrimas obstruindo sua garganta. —Eu sempre pensei que eu iria para o inferno por tudo que eu fiz no meu tempo na terra. Mas isso tem que ser o céu. É a coisa mais linda que eu já vi. Havia temor em sua voz, e, em seguida, suas palavras sumiram e seu olhar tornou-se fixo, mas havia uma expressão de paz que deixou Cope engasgado, e ele deitou sua cabeça no peito de Mojo quando Mojo deu seu último suspiro ofegante. Seus olhos se fecharam e de repente ele parecia muito mais jovem; as linhas de idade e dos horrores que tinham visto e participaram diminuiu, deixando a pele suave da juventude em seu lugar. Seus lábios se curvaram para cima quase como se ele estivesse segurando os braços, dando boas-vindas a morte como uma amante há muito perdida. Hancock sentiu um pontapé na perna e ficou rígido, seu aperto em Honor apertado, tão apertado que deixaria um hematoma. Ele nunca tinha estado com mais medo em sua vida. Ele foi absolutamente incapaz de protegê-la. Não havia nada que pudesse fazer para impedi-la de ser tirada dele. E Deus o ajudasse, mas ele partiria o mundo em pedaços para encontrá-la novamente. —Bem, talvez eu estivesse errado. — Uma voz com um forte sotaque russo o fez endurecer, seu braço imperceptivelmente apertando ao redor Honor. —Talvez ele não estivesse muito ligado à garota e meus informantes estavam errados. Claro que Maksimov tinha mais do que um toupeira relatando cada movimento feito na casa de Bristow. Quem Hancock tinha negligenciado? Ele tinha farejado o primeiro quando saiu rapidamente, mas como tinha Bristow qualquer conhecimento de seu “compromisso” com Honor? A menos que… Não, ele nem sequer se permitiria a semente da dúvida. Seus homens eram sólidos. Eles não iriam traí-lo. Havia mais alguém na operação de Bristow


que estava alimentando informações à Maksimov, e era a culpa maldita de Hancock por perder cabeça e foder tudo quando Bristow tinha tentado estuprar Honor uma segunda vez e terem matado o idiota. Isso teria alertado Maksimov de uma maneira grandiosa, porque ele sabia que Hancock era frio. Aquele sem emoções, sem sentimentos. Tão frio como um iceberg e absolutamente incapaz de sentimentos humanos ou reações. O informante de Maksimov não teria deixado de fora nenhuma informação que seria útil para Maksimov. —Talvez o idiota do Bristow pretendia matá-la ou usá-la de tal maneira que nem você nem a NE iriam querê-la—, sugeriu Ruslan, segundo de Bristow. —Você recebeu toda a informação sobre ele e seus homens. Você sabe que eles tomam as suas missões a sério, e você não teria pago a Bristow por uma mercadoria danificada, o que significa que ele e seus homens não foram pagos também. Ele é um mercenário. Duvido que ele estivesse interessado em nada mais do que um pagamento. —Talvez —, Maksimov relutantemente admitiu. —Ele fez como eu pedi e a drogou, e parece como se ele preparou-se para entregá-la para mim. Ah, bem, ele nunca se perde por ser muito cuidadoso. Maksimov parecia perplexo e um pouco divertido com a noção de que ele poderia estar errado. Ele pisou no corpo de Hancock e depois inclinou-se para erguer Honor longe dele. Honor foi levantada e a mão de Hancock percorreu seu corpo para segurou desesperadamente em sua mão, segurando por um breve momento antes de ser puxado à força de suas mãos. —Não, eu não estava errado em tudo —, disse Maksimov presunçosamente. Ele apareceu na visão turva de Hancock acima dele. —Eu me pergunto o que você pensou que você estava fazendo por entregar a garota para mim? — Ele riu e, em seguida, apontou uma pistola para o peito de Hancock e rapidamente disparou um tiro. Apesar do colete de Kevlar, que Hancock e todos os seus homens usavam, a uma distância tão perto e com o fato de que Maksimov estava usando o que nas ruas eram chamados de “assassinos de policial”, o que significava que poderia penetrar um colete à prova de balas, enquanto ele não sentiu que a bala penetrou sua pele, ele tinha a maldita certeza que tinha quebrado algumas costelas. Ou algo vital. Era como ser atingido por um tridente do inferno. A


propósito, uma vez que em breve ele estaria às portas do inferno. Os portões seriam abertos e o receberiam como uma criança perdida ou um pecador que fugiu, mas que havia sido julgado e considerado culpado várias vidas atrás. Por muito tempo, ele abraçou a noção de que ele tinha perdido toda a aparência de humanidade e era o homem de gelo, sem emoção que todos pensavam que ele fosse. Nunca, porque isso significava sentir remorso. Isso significava a sensação de perda tão devastadora que ameaçava consumi-lo e comer sua alma, até não sobrar nada. Por nada valia não sentir isso. Ele sabia agora, porque agora ele sentia tudo isso. E foi pior do que qualquer ferimento mortal, jamais seria. O mundo desaparecendo em preto em torno dele e uma única lágrima escorreu do canto de seu olho sobre sua têmpora desaparecendo em seu cabelo. Tornou-se difícil respirar, e a dor em seu peito era insuportável, seja por causa da bala ou o peso do seu desespero, ele não estava certo. Provavelmente uma dose saudável de ambos. Ele tinha falhado com seus homens. Ele tinha falhado com seu país, embora ele nem o reclamasse, muito menos o apoiasse. Ele falhou com inúmeras vidas inocentes. Ele tinha falhado com si mesmo, mas, acima de tudo, ele tinha falhado com a única coisa que importava para ele. Não era a porra da crença de um bem maior do caralho. Porque Honor era o bem maior. Ela era a própria essência de um bem maior. De onde sua crença deveria repousar. O que deveria sempre ser defendida. E agora uma inocente estaria condenado ao inferno, um lugar onde as asas do anjo nunca deveriam ser chamuscadas por gananciosos, lambendo chamas, impedindo-os de voar para os céus onde Honor pertencia.


CAPÍTULO 32 SEDE DA KGI STEWART COUNTY, TENNESSEE O CLIMA era extraordinariamente relaxado na sala de guerra da KGI. Sam estava segurando uma reunião de “pessoal”, embora os outros brincavam que era apenas uma desculpa para reunir todos para que Swanny e Donovan demonstrassem suas habilidades loucas de cozinhar e grelhar. Eles não tinham saído em uma missão em quatro semanas. Quatro pacíficas, semanas felizes que passaram com suas famílias. Suas esposas, suas crianças, as pessoas que se preocupavam. Bons tempos. O riso soou quando Garrett deixou cair uma F-bomba17 e foi imediatamente ameaçado por pelo menos três dos seus homens, sabendo que Sarah estava ainda mais rigorosa do que nunca, agora que eles tiveram uma menina e ela não queria que a primeira palavra de sua filha fosse foda-se. Quando o riso morreu, um telefone tocou e uma rodada de gemidos soou. Sam amaldiçoou com veemência, ganhando com folga para Garrett no departamento de palavrões. A linha segura tinha que tocar agora? Hoje de todos os dias? Quando o tempo não poderia ser mais bonito. Outono no Lago Kentucky. Todas as esposas em seu caminho para o ponto de encontro central, a recém-construída e réplica recriada da casa de Marlene e Frank Kelly onde os seis irmãos Kelly tinham crescido. O novo coração do complexo KGI. Agora, tudo que permanecia fora da instalação segura era resistente e solitário, Joe. Bem... e os membros da equipe. Mas dos Kellys, apenas Joe ainda vivia na velha cabana de Sam, chamando-o de solteiro perfeito, e se ele não passasse muito 17

* Numa época em que palavras como 'puta' e 'bunda' perderam seu valor de choque na cultura pop, a palavra

'foda-se' ainda é como deixar cair uma bomba em uma conversa educada. ** Dizer foda-se quando provavelmente Garret não deveria.


tempo dentro do complexo, então, ele escaparia de sua mãe de suas cunhadas —quem ele adorava além da razão— que conspiravam para sua eventual queda. Raios partam todos para o inferno. Sam estava ansioso para passar o tempo com sua preciosa esposa. Sua bela Sophie e sua miniatura, Charlotte, ou Cece como ela foi carinhosamente apelidada por suas tias babonas, tios e avós. E seu filho bebê. Ele fez seu tempo a cada dia — não importa onde no mundo ele estava, não importa o quão desagradável ou terrível as circunstâncias — para agradecer a Deus pelo milagre da sua família. Ele ainda ficou maravilhado com tudo o que era seu, e ele sabia que seus irmãos e muitos dos membros de sua equipe faziam também. Rio, um líder de equipe. Steele, outro líder da equipe. Nathan, co-líder da equipe com seu irmão gêmeo, Joe, que também passou a ser o único Kelly solteiro sobrevivente sob o olhar vigilante de Mama Kelly. A KGI tinha sofrido muitos eventos traumáticos ao longo dos anos. Coisas que teriam aleijado e destruído uma família menor. Mas os Kellys eram duros, resistentes, todas as qualidades herdadas e incutidas em todos os seus filhos —de sangue ou não— por Frank e Marlene, o patriarca e matriarca do clã Kelly sempre em expansão. O próprio coração de toda a família. O alcance de Marlene se estendia não só para os filhos de nascimento, mas muito além. Ela tinha uma propensão para a adoção de vira-latas, como os filhos dela brincavam com ela, um termo que ela ficou ofendida. Mas ela tinha tomado muitos sob sua asa. O agora xerife do Condado de Stewart, Sean Cameron. Rusty Kelly, a quem seus pais tinham adotado, mesmo que ela não fosse menor de idade quando a adoção tinha ocorrido. Mas significou mais para ela do que qualquer outra coisa em sua vida jovem, problemática, e Sam sabia, sem dúvida que sua mãe tinha salvado a vida de Rusty. Swanny, que voltou ferido e sofrendo junto com Nathan depois que ficaram meses em cativeiro quando uma missão foi FUBAR18. Todos os membros da equipe KGI, incluindo os líderes, e eles nem sequer se preocuparam tentando negar. Eles podiam protestar e fingir ficar exasperados, mas eles adoravam o jeito maternal de mamãe Kelly assim como seus próprios filhos faziam.

18

Leia a História do cativeiro de Nathan e Swanny em KGI #4 – Sussurros na Escuridão


E Maren Steele, esposa de Steele e sua filha. Ela também foi uma das adotadas de Marlene. Ele encontrou-se irritado quando ele caminhou para atender o telefone por satélite seguro, perturbando o que deveria ter sido um dia perfeito. Um dia para lembrar as suas bênçãos e deleitar-se com elas. Simplesmente desfrutar a vida e amar e ser a unidade da família que eram. Ou talvez ele só estava ficando piegas para caralho em sua velhice. Encontrar o amor de sua vida e depois vêla carregar seus filhos fazia um homem repensar cada prioridade que ele pensou que já teve importância. —Sam Kelly—, ele retrucou. —E é melhor que seja malditamente importante. —Kelly—, a confirmação veio rápido, e houve um breve formigamento de reconhecimento de que cintilou na mente de Sam, mas ele não poderia reconhecer à voz para salvar sua vida. —Você me tem em desvantagem—, disse Sam, uma vantagem para a sua voz. —Quem é você e como você conseguiu esse número? A voz soava fraca. Abatida. Como se tivesse ido ao inferno e voltado, e foi somente mal sobreviveu para contar a história. —Eu duvido que você se lembre do meu nome, mas você conhece o meu líder de equipe. Eu sou Conrad. Eu trabalho para… Hancock. —Porra! A sala inteira ficou atenta. O silêncio foi imediato quando cada membro da KGI se aglomerou por perto, observando cada movimento de Sam, sua linguagem corporal, e esforçando-se para ouvir o que estava sendo dito do outro lado. —E por que você está me chamando —nós— desde que eu suponho que você não está ligando para ter uma conversa pessoal comigo—, disse Sam sem rodeios. —Olha, eu não tenho muito tempo. Ele não tem muito tempo. Mais importante, ela não tem tempo nenhum—, disse ele em uma voz que ficou selvagem em uma fração de segundo. —Eu não estou interessado no tamanho dos paus ou ter um concurso de mijo. Eu —nós— precisamos da sua ajuda. O


máximo que você pode dar. E eu preciso que você saia agora. Eu não pediria isso se não fosse uma questão de vida e morte, e não apenas a vida de Hancock, que pode ou não pode mesmo ser um problema, ou até mesmo o homem que já perdemos. Mas há uma mulher inocente nas mãos de Maksimov, um homem que esteve perto de derrubar em duas ocasiões anteriores, mas nós perdemos nossa missão para salvar duas de suas mulheres e um de seus filhos. Rio endureceu e estendeu a mão para o telefone. Não era um pedido. Sam entregou-o sem questionar, mas ele apertou o botão de viva-voz para que eles estivessem informados de tudo. Rio já comandou Titan. Ele conhecia este homem, e Sam confiava Rio e seus instintos. Rio não os guiaria errado. —É Rio—, disse ele. —Rio, é Conrad. Alívio era evidente na voz de Conrad. —Eu não tenho muito tempo para explicar—, continuou Conrad. —Mas é ruim, Rio. Muito ruim. Tivemos Maksimov em nossa mira. Mais uma vez. Tínhamos algo que queria muito desesperadamente, e tudo o que nós tínhamos que fazer era entregá-la e estaríamos dentro. —Ela? — PJ e Skylar ecoou ao mesmo tempo, carrancas escurecendo seus rostos. —É assim que você ganha suas batalhas no Titan? —Ela nunca deveria estar dentro de uma milha de Maksimov—, disse Conrad, impaciência fervendo em sua voz. —Olha, você tem sua médica na mão? Se ela não puder me dizer como ajudar ou corrigir Hancock, ele vai morrer. E maldita seja, precisamos de seu… Socorro. Qualquer outro momento, essa declaração começaria uma cadeia sem fim de tormento, insinuações manhosas, presunção e arrogância que acabaria em derramamento de sangue em ambos os lados. Tudo na brincadeira, é claro. Exceto que havia uma hostilidade muito real entre os dois grupos. Mas eles também deviam a Hancock, e Sam pagava todas as suas dívidas. Cada uma. E eles deviam a Hancock muito. —Maksimov está com ela neste momento—, disse Conrad dolorosamente. Como se ele se importasse. Como ele tivesse um coração.


Os outros se entreolharam com espanto. Os membros de Titan não eram conhecidos por suas qualidades humanoides. Era questionável saber o quanto eles eram humanos em tudo, exceto que Rio uma vez tinha liderado a equipe, e ele era uma evidência de que havia pelo menos alguns vestígios do que eram formados por ser humano. —Fique no telefone, Conrad, — Sam disse em um tom nítido de comando. —Resuma para nós sobre o que precisamos saber, enquanto eu chamo Maren. Então eu vou colocá-la no telefone com você para que ela possa avaliar os danos com base em suas descobertas e guiá-lo através do que tem que ser feito. —Eu vou fazer a chamada—, disse Steele. —Ela está a dois minutos a uma velocidade normal. Ela estará aqui em menos de um. Eu garanto. E assim Conrad deu-lhes um resumo conciso, uma recitação estéril e abreviada, direto ao ponto da sua missão, a integração na organização de Bristow e como Honor tornou-se um efeito colateral, mas ao mesmo tempo deulhes a sua melhor oportunidade que eles tiverem em longos anos que tinham passado caçando Maksimov. A KGI estava bem ciente de quem e o que era Maksimov e que a maioria dos governos o temiam e ficavam longe dele. Eles também sabiam do encontro anterior de Hancock com ele quando Maksimov tinha quase espancado até a morte Hancock por tirar Maren fora de perigo e devolver para a KGI — e Steele. —Ele não poderia fazê-lo—, disse Conrad calmamente. —Ele seguiu o curso até um dia antes que estávamos prontos para entrega-la para Maksimov e ele se recusou a fazê-lo. Suas palavras exatas foram foda-se o bem maior. Que Honor era o maior bem e ele estava malditamente cansado de lutar o bom combate por um país que não nos acolhe e não somos bem-vindos, para proteger as pessoas que tentaram nos assassinar. E para quê? O que qualquer um de nós ganhou? Nós não temos nenhuma casa, nenhuma pátria. Ninguém que nos sustenta. Nós nem sequer existimos. Nós somos como fodidos fantasmas esperados para limpar a bagunça que ninguém mais tem vontade e tirar o lixo que ataca os inocentes. Bem, foda-se. Honor Cambridge levou um tiro maldito por mim. Eu. Um homem que a traiu, fazendo-a acreditar que eu era a sua salvação. Que eu salvei de uma organização terrorista que eu planejava até então


entrega-la de volta. Ela tem mais fogo, coragem, coração e lealdade em seu dedo mindinho do que a maioria dos homens que eu já servi. Então, sim, foda-se o bem maior e foda Maksimov. Precisamos da sua ajuda, porque pelo meu cadáver e sobre o cadáver de nosso irmão caído e acima de tudo por Hancock — que sacrificou muito mais do que qualquer um de nós nunca vai saber, se ele sobreviver— quero ver Honor segura e de volta para sua família. E eu não sou orgulhoso demais para implorar, se é isso que é preciso, porque devo a Honor Cambridge mais do que posso retribuir a ela e eu serei amaldiçoado se seu reembolso for estupro, tortura e dor de Maksimov só para depois ser devolvida para a NE para ser infinitamente brutalizada e mantida viva por tanto tempo quanto possível, para que ela sofra tanto que ela implorará, ela implorará, ela orará pela a morte, porque só então ela será verdadeiramente livre. —Eu estou com ele—, Skylar murmurou. —Foda-se o maior bem maldito. Especialmente quando isso significa que uma mulher inocente, cujos crimes só foram dar ajuda às pessoas que mais ninguém no mundo dá a mínima e de estar no lugar errado na hora errada, ser punida. Donovan fez uma careta, sua relação lendária para as mulheres e crianças — veio rugindo para a frente. Ele parecia pronto para enfrentar todo um exército do caralho e desmontar qualquer um que abusasse de uma mulher indefesa. —Que raios nós saberemos como vamos ajudá-lo a recuperar Honor Cambridge, nós apenas terminaremos o trabalho que começaram — e evidentemente, não conseguiram concluir? Eu —KGI— não será usado para enviar uma mulher inocente, qualquer mulher, a um destino pior que a morte e todos nós conhecemos Maksimov, NE, faça a sua escolha, seria um pesadelo de agonia inimaginável e degradação. —Porra, Bristow tentou estuprá-la antes de repassar a mercadoria usada para Maksimov—, disse Conrad em um tom frágil que de nenhuma maneira desmentia a fúria atado em cada palavra. —Para salvar a si mesma, — ou inferno, talvez ela realmente quisesse — ela cortou um pulso e depois o outro e, em seguida, ela enfrentou esse filho da puta segurando a faca em sua garganta depois que ele a tinha atacado e disse-lhe que se ela morresse, então, ele também iria, porque Maksimov iria matá-lo por não cumprir com sua promessa de entrega-la a ele.


—Puta merda, — PJ respirou, seus olhos escurecendo, sombreados pelo passado, provavelmente nem mesmo percebendo que ela tremia contra Cole, a quem ela se inclinou, mais uma vez, provavelmente sem ser consciente disso. Ela não era uma mulher que mostrasse a sua vulnerabilidade na frente dos outros. Especialmente sua equipe. —Você o matou? — Perguntou Garrett calmamente. —Merda, claro que sim, eu fiz, e eu tive a maldita certeza que não foi rápido e com certeza não foi misericordioso. Hancock teria feito ele mesmo. Ele queria desmontá-lo com as próprias mãos, mas ele era o único que podia acalmar Honor, e ele fez. Mas se você pudesse tê-lo visto naquele momento, se você pudesse tê-lo visto quando ele deu a ordem de que a missão havia mudado, você não questionaria seus motivos —nossos— nenhum pouco. Ela significa muito para todos nós, Kelly —, disse ele, usando o nome comum para todos eles. —Ela é nossa, e nós não vamos entrega-la para aquele pedaço de merda sádico. Tudo o que queríamos era dar a aparência de que estávamos fazendo a troca e nós íamos derrubá-lo. Foda-se fazer as coisas limpas e arrumadas, a construção de evidências, desmantelar seu império e permitir que os países lutassem por quem tinha direito a seus bens apreendidos. Queríamos sua maldita bunda morta e isso era tudo que importava para nós. —Ele tinha mais do que um toupeira na organização de Bristow. Nós conhecíamos um. Nós matamos Bristow porque já não precisávamos dele e até mesmo se tivéssemos, depois do que ele fez, ele era um homem morto. Mas Maksimov ainda não sabia... e então ele se mostrou quando nos emboscaram. Hancock traiu suas emoções para Honor quando ele tentou evitar que Maksimov a tomasse de suas mãos. Um sniper já tinha colocado um tiro em seu ombro esquerdo. Desta vez Maksimov atirou-o no peito à queima roupa, e ele não está indo bem. Nada bem. Eu já perdi um bom homem e porra, eu não vou perder Hancock. E eu tenho certeza porra, que eu não vou perder Honor Cambridge para aquele babaca torcido que pensa que é um deus. Maren explodiu com seus óculos tortos, cabelos em desalinho, como se ela tivesse corrido todo o caminho. Steele imediatamente pegou Olivia de seus braços e gentilmente a guiou em direção ao telefone.


—Conrad, Maren Steele, é a nossa médica da equipe, está aqui e você vai dar-lhe o resumo para que ela possa ver se há alguma esperança para ele. —Estou mais interessado em saber se há esperança para qualquer um de nós. Especialmente Honor —, Conrad moeu fora. —Acalme-se. Nós temos que pensar sobre isso por mais de três segundos. Fale com Maren. Deixe-a ajudá-lo a ajudar a Hancock. Em nome de Hancock, a cabeça de Maren ergueu, os olhos arregalados de preocupação. A mão de Steele caiu confortavelmente em torno nuca de sua esposa, sua expressão sombria. —Eles precisam de você querida. Hancock precisa de você. —Ele suspirou, sabendo que, apesar de suas dúvidas sobre o homem, lhe devia a vida de sua esposa e filha para ele, assim como Rio também. —Isso não parece bom—, acrescentou ele em voz baixa. —Você precisa falar rápido e ajudar o seu homem qualquer maneira que puder enquanto nos preparamos para decolar.

Maren rapidamente pegou o telefone via satélite, mas desligou o vivavoz, para grande desgosto de Sam. Ela franziu a testa e balançou a cabeça. — Eu preciso pensar, droga, Sam. Ela empurrou para longe dos outros, falando em voz baixa, com urgência, suas perguntas calmas e eficientes, não permitindo que Conrad entrasse em pânico. —Que porra é essa, Sam? — Perguntou Garrett, em voz baixa. —Esta é uma merda. Isto é mais profunda do que até mesmo nós possamos pensar. —O que mais podemos fazer? — Perguntou Rio simplesmente, seus olhos escuros piscando. —Eu entendo que Hancock é incontrolável. Mas ele tem um código. Pode ser fodido para você e para mim, mas ele é um homem honrado. Antes de você rir aqui na sala de guerra, basta lembrar que ele poderia ter tomado Grace 19a qualquer momento. Levei-a a meio caminho das montanhas anexados às minhas costas, e ela andou o resto do caminho em agonia indescritível até que ela quisesse morrer. Eu e os meus homens de modo 19

Leia a história completa de Rio e Grace em KGI #5 – Ecos ao amanhecer


algum estávamos preparados para repelir um ataque em grande escala de Titan. Ao invés? Hancock me deu um passe. Disse que era o único, mas era besteira. Livrou sua cara. Parecendo que ele me devia porque eu salvei sua vida. Foi o que fizemos como equipe. Ninguém mantinha uma pontuação. Isso era besteira. Nós fizemos o que tinha que fazer e nós não nos desculpamos ou agradecemos. E então ele me avisou. Ele me deu tudo que eu precisava saber sobre quem estava atrás de Grace. Tudo o que ele não me deu foi por isso, e você quer dar um palpite por que era? —Não, mas eu tenho certeza que você vai nos dizer —, disse Donovan em uma voz cansada. —Porque ele sabia que Grace estava malditamente fraca para curar um gatinho. E ela provavelmente morreria se ele a levasse para Farnsworth e então e ele a forçasse a tentar curar sua filha. Assim, ele esperou o tempo, esperou, sabendo muito bem que ela estava em boas mãos comigo. E quando ele soube que ela estava bem o suficiente para ter uma chance de salvar Elizabeth, em seguida, ele a levou. Ele nunca a machucaria. Nunca pôs a mão sobre ela. Mas ela também era feroz pra porra e ele admirava isso nela. —Será que isso vai dar em algum lugar, porque o tempo está passando —, Garrett rosnou. —Sim, vai,— Rio retrucou. —Deixe-o falar, porque eu tenho muito o que falar também—, disse Steele em um tom gelado. —Só quando ele estava certo que Grace tinha uma boa chance de sobreviver a cura de Elizabeth que ele a levou. Ele poderia ter derrubado Farnsworth a qualquer momento. Por que esperar? Por que uma mera criança importa para ele? Joe limpou a garganta. —Não parece que uma mulher inocente significa muito para ele. —Ele queria salvar Elizabeth, — Rio disse calmamente. —E ele queria salvar Grace. Eu não descobri até que a coisa toda com Maren20 aconteceu, e eu 20

Leia a história de Maren e Steele em KGI#7 – Forjado em Steele


contei a Steele. Mas todos sabem. Eu já lhe disse. Titan era o negócio real. A falha era equivalente a morte desonrosa. E ainda assim ele desistiu de sua chance de pregar Maksimov para o bem, porque ele temia que Maren ficasse mais uma noite como prisioneira de Caldwell. Ela estava grávida, assustada fora de sua mente, e então ele me chamou e ele a tirou de lá. —Acho que este é o lugar onde eu assumo—, disse Steele incisivamente, olhando para sua esposa, seus olhos brevemente assombrados como se estivesse revivendo a experiência tudo de novo. —Ele apareceu na minha casa espancado, parecia que estava voltando do inferno. Nunca vi um homem tão espancado, e estava porque ele deixou Maren ir e já não conseguia controlar Caldwell. Maksimov estava enviando-lhe uma mensagem. Não brinque comigo. Nunca. E então ele tomou uma bala que era para minha esposa, meu filho —, Steele fervia. —E quando o helicóptero caiu, ele cobriu o corpo dela com o seu próprio, e eu ainda não sei como diabos ele sobreviveu. —Isso é porque o filho da puta tem nove vidas—, disse Garrett sombriamente. —Tudo bem eu já entendi. Temos de entrar, mas nós não vamos sem saber o que diabos estamos enfrentando. Isso é maior do que qualquer coisa que já fizemos. O alcance de Maksimov se estende ao redor do globo. Eu não confio em alguém que não está nesta sala, e isso é verdade. A voz de Maren levantou-se em agitação. —Claro que eu não esperaria que você tivesse um dreno de tórax em um kit de campo. Você não é um cirurgião. Você apenas tem que encontrar algo que você possa esterilizar e usar como um dreno de tórax. Não é isso que você está treinado para fazer? Adaptar e superar? Sua resposta foi recebida por uma rodada estridente de hooyahs, oorahs e “Oh inferno sim, essa é a nossa menina.” Steele franziu o cenho, mas parecia absurdamente orgulhoso de sua pequena esposa, tanta ferocidade em um corpo tão pequeno. —Minha mulher. Não qualquer outra pessoa. —Eu não acho que é tão ruim quanto você pensa que é—, disse Maren suavemente para o homem ao telefone.


—Ele não pode respirar porra e ele está sangrando como um porco! — Conrad gritou alto o suficiente para o resto da sala para ouvir. —Como é que pode não ser tão ruim quanto eu penso que é? Steele arrancou o telefone da mão de Maren apesar de seu protesto aquecido e um olhar que prometia retribuição. —Você vai tomar cuidado na maneira de falar com a minha esposa, e você vai tratá-la com o maior respeito que ela merece. Ela merece —, Steele disse em uma voz perigosamente suave. —Se ela diz que não é tão ruim quanto você pensa, então não é. Então cale a boca e comece a fazer o que ela diz a você ou você vai ter para si uma missão ainda mais fodida. Maren revirou os olhos e puxou o telefone de volta, explicando a necessidade de um tubo no peito para drenar o sangue e ar que impedia seu pulmão de encher novamente. Enquanto a bala não penetrou o peito de Hancock, apenas o colete, o impacto foi grande o suficiente para quebrar costelas e danificar seu pulmão. A bala em seu ombro era uma limpa por completo e tudo o que era necessário era garantir que não houvesse mais nenhuma perda de sangue e obter uma intravenosa imediatamente para repor o volume de sangue reduzido. E ela instruiu Conrad para iniciar antibióticos, uma vez que o risco de infecção era grande, dadas as condições. —Será que estamos realmente indo arriscar nossas vidas por Hancock? — Perguntou Dolphin, como se ele não conseguisse entender como uma tarde tão comum havia se tornado algo bizarro como a teoria conspiração do governo. Dolphin tinha mais razão do que a maioria para não gostar do homem. Ele tinha sido baleado por um sniper, mas ele sabia que não tinha a intenção de ser um tiro mortal, nem tinha sido, quando Hancock tinha feito a sua jogada e levado Grace da KGI. Dolphin tinha uma memória longa e ele tendia a se lembrar especialmente coisas que o levaram para fora de ação por períodos prolongados de tempo. Com a pergunta de Dolphin, a carranca de Maren aprofundou e ela abaixou o telefone, pressionando-o em sua coxa, para que ela não fosse ouvida. —De alguma forma eu acho Eden teria uma opinião diferente—, disse ela baixinho. —Assim como eu. Ele me salvou. Três vezes. Ele cuidou de mim.


Você — nenhum de vocês— passou todos esses meses com ele como eu fiz — , disse ela, que não poupou uma única pessoa na sala de seu olhar penetrante. —Ele era… tipo. Se importa mesmo. Mesmo quando ele era assustador como o inferno, ele também foi muito gentil comigo, e ele me disse que não permitiria que nenhum dano viesse a mim ou meu filho. Ele poderia ter morrido porque ele me salvou. Ele quase fez. —Devo-lhe muito—, Steele disse rispidamente. —Devo tudo a ele. Era óbvio o quanto ele odiava expressar sua vulnerabilidade e revelar as sombras que ainda ocasionalmente assombravam seus olhos quando ele lembrava o quão perto ele estava de perder Maren e Olivia. —Eu também, — Rio afirmou. —O que ele fez mais do que compensar por que eu salvei a vida dele. Salvar a vida de um companheiro de equipe não é um favor maldito. Não é gravado em um placar. É a porra do seu trabalho e se você deixa matar seu companheiro de equipe, você obtém um F gigantesco no seu boletim. —Todos nós devemos a ele. — Swanny falou em um tom tranquilo. Ele varreu seu olhar sobre a sala. —Ele é da família de Eden. Que agora faz dele a minha família. E se todos vocês estavam falando a verdade sobre o fato de que somos todos uma família, então isso faz Hancock sua família também. Eden nunca vai perdoá-los e nem eu, se vocês o deixarem morrer. Isso não é o que somos. Nunca foi e peço a Deus que nunca será. —Quando você finalmente fala, você não faz prisioneiros—, disse Sam em voz azeda. —Foda-se! — Garrett explodiu, sabendo que tinham tido suficiente. — Porra, porra, porra, porra, PORRA! E, além disso, eu não dou a mínima para quem for queixar-se com Sarah. Se isso não precisa de uma centena de Fbombas, então, o que faz? —Ele fez um show de puxar o cabelo para os lados de sua cabeça. —Porra, Maldito Hancock. Juro por Deus, se até mesmo um de nós morrer salvando sua bunda, eu vou desfazer toda a obra de Maren e matar o filho da puta eu mesmo. Donovan levantou a mão. —Ninguém nunca supôs que iríamos fechar os olhos sobre este assunto. A decisão será de cada um, sobre quem vai e quem


fica. Não se agimos ou não. Isso é um dado. O que eu não vou fazer nessa ou qualquer outra missão é fazer a participação na missão obrigatória. Ninguém vai ser enviado em uma situação com informações imprecisas e com nenhuma ideia exatamente do que estamos enfrentando. Maren tinha retomado as instruções para o homem que atendendo Hancock em uma voz calma, mas ela manteve um olhar atento sobre os processos ao seu redor, como se não confiasse neles para não levá-la junto. Como se ela ficasse para trás a sete chaves quando Hancock tinha salvado sua vida três vezes. Ela devia seu mundo inteiro para ele e era uma dívida que ela nunca poderia esperar para pagar em mil anos. —Esta missão será voluntária—, disse Donovan calmamente. —Estou indo. —Estou dentro—, disse Rio. O resto dos seus homens rapidamente seguiram o exemplo. Terrence foi longe demais com Rio, que tinha sido parte do Titan quando Rio treinava um novo recruta chamado Hancock, embora muitas pessoas não estavam a par dessa informação. Rio duvidava que mesmo Sam soubesse disso. Como todos que já associaram a Titan eram marcados para morrer, seria uma sentença de morte para os membros e famílias da KGI. Rio não era estúpido, no entanto. Ele tinha uma espécie de apólice de seguro. Um passe livre da prisão. Ele tinha informação contundente o suficiente de funcionários de alto escalão do governo, domésticos e no exterior, ele tinha deixado bem claro que se ele morresse sob quaisquer circunstâncias, a informação poderia ser tornada pública e países inteiros desmoronariam. Este cartão que mantinha poderia vir a ser muito útil nesse tipo de situação e poderia muito bem salvar a bunda de Hancock, desde que ele mantivesse seu nariz limpo no futuro. —Estou dentro —, disse Steele. —Minha equipe faz suas próprias decisões. — Ele não olhou para PJ quando as missões que envolviam tais circunstâncias terríveis que desciam pelo esgoto. Ele respeitava o fato de que ela sabia o suficiente o que ela poderia lidar e o que não poderia depois de seu calvário nas mãos de três estupradores. E era igualmente claro que ela era grata a seu líder de equipe por não a colocar em evidência e chamar a atenção para seu passado.


—Estou dentro—, disse ela com firmeza. —Eu nunca vou permitir que outra mulher suporte o que eu tive que suportar se eu posso impedir. Sua equipe —e os outros— olharam para ela com surpresa. Orgulho brilhou nos olhos do marido. Cole. Por muito tempo, ela nunca falou disso. Era uma regra tácita. Estava lá. Sempre lá. Mas nunca reconhecida em voz alta. Até agora. Cole apertou a mão dela e sussurrou baixinho em seu ouvido para que apenas ela pudesse ouvir. —Eu estou tão orgulhoso de você, PJ. Agradeço a Deus todos os dias que você me escolheu. Que você me ama. E que eu sou casado com a mulher mais forte do caralho que eu já conheci. Cor tênue espalhou em suas bochechas, mas com o tempo ela tinha se acostumado a ele exibindo seu amor, carinho e admiração por ela na frente dos outros, embora tinha tomado um monte de ajuste da parte dela. —Ninguém deveria ter que sofrer tal degradação e humilhação. Ninguém deve se sentir tão envergonhado que literalmente quer acabar com seu sofrimento incessante, levando sua vida. E ainda assim ela se desculpou por quase foder com a missão —, disse PJ, raiva terrível brilhando em seus olhos. —Ela pediu desculpas por ser fraca, pelo amor de Deus, e não ser capaz de salvar todas essas pessoas porque por um momento ela só queria morrer, assim a dor finalmente acabaria. Não é de admirar Hancock não pode e não vai entregá-la para Maksimov. Juro por Deus, se o fizesse, não haveria um lugar seguro na terra para ele, porque eu iria caçá-lo e gostaria de pagar em espécie cada machucado feito a ela. —Cantando para o coro, irmã—, disse Skylar, raiva estragando seu sorriso geralmente contagiante e seu olhar cintilante. Nathan e Joe trocaram olhares, em seguida, olharam para sua equipe, onde Swanny estava alto e rígido. Antes que os gêmeos pudessem dizer qualquer coisa, Swanny se adiantou, desafiando e abrindo um precedente, se juntando com a equipe de Rio e Steele aguardando a decisão do seu líder de equipe antes de cair atrás dele. —Eu estou dentro, — disse Swanny numa voz determinada.


—Assim como nós—, disse PJ, enquanto ela e Cole deram um passo adiante, a mão de PJ apertou firmemente em Cole. Houve lampejos de surpresa na falta de hesitação de PJ. Não era um segredo que ela adoraria ter Hancock entre a mira de seu escopo quando um dos membros de sua equipe foi alvejado pela equipe de Hancock quando a missão de salvar Grace foi tudo para o inferno. Ela tinha jurado chutar a bunda dele se ela se encontrasse com ele em um beco escuro em algum lugar. Zane e Skylar reforçaram os dois lados de Swanny, nem mesmo expressando o que sua ação deixava implícita. Não havia necessidade. Suas ações falavam por eles. —Eu acho que nós temos motim em nossas mãos—, disse Joe com um sorriso irônico. Nathan sacudiu a cabeça. —Como a nossa equipe vai a algum lugar sem nós? Toda a atenção se voltou para Sam e Garrett, os dois únicos que não tinham falado. —Bem. Estou dentro —, disse Garrett, jogando as mãos para cima em meio a mais F-bombas murmuradas. Sam suspirou. —Vocês honestamente acham que eu vou deixar vocês crianças irem por conta própria? Foda-se isso. Estou dentro. Isso é apenas para salvar suas bundas malditas. Uma rodada de insultos com o dedo médio entrou em erupção, quebrando a tensão tão evidente na sala. Em seguida, Sam deu a ordem para que eles carregassem e fossem embora. Hancock não tem muito tempo, a julgar pelas linhas sombrias estragando os delicados traços femininos de Maren. —E só assim para você saber, eu estou dentro, — disse Maren em uma voz que rivalizava com tom exigente do marido. —Olivia pode ficar com Marlene. Você poderia ter quebrado uma pedra no rosto de Steele quando ele lutou com o conhecimento de que ele estaria colocando sua mulher —toda a sua vida— no caminho do perigo. Mas ele também sabia que Maren era a única chance de sobrevivência em Hancock. Com um suspiro de resignação, que dizia


que não gostou nem um pouco, ele deu um aceno de cabeça rígida e foi recompensado com um sorriso amoroso que derreteu o grande homem a seus pés. Sam deu o movimento para sair. Ele planejava chamar Resnick, quando estivessem no ar e desentocar o máximo de informações possíveis. Resnick faria um sorvete de si mesmo se ele achasse que tinha uma chance de derrubar Maksimov e a NE. Sam não hesitaria em convidar as duas equipes Black Ops à disposição da Resnick também, porque eles iam precisar de toda a força de trabalho que eles conseguissem, se eles tinham qualquer chance de recuperar Honor. Se ela ainda estava viva, era um enorme ponto de interrogação, mas se ela já estivesse morta, Hancock não ia estar mais vivo do que ela era, se Conrad disse a verdade. Maren ainda tinha uma linha aberta com Conrad, pacientemente instruindo-o quando sua frustração aumentava a fúria impotente que ele sentia por ser incapaz de fazer mais para estabilizar Hancock. Mas Maren asseguroulhe que uma vez que o dreno do tórax fosse inserido corretamente, a respiração de Hancock se tornaria mais fácil e menos trabalhosa; ele estaria estável quando o voo terminasse e eles aterrissassem, e então ela poderia avaliar plenamente o dano. E, em seguida, a tristeza encheu seu coração, lágrimas ameaçando cair, e ela imediatamente se escondeu de Steele, porque ele entrava em pânico se ela chorasse. E então, porque ele tinha visto, ela apressou-se a dar a razão — compaixão— quando disse do seu horror que isso poderia ter sido se Steele não retornasse de uma missão. Ou qualquer um dos outros membros da KGI. —Sinto muito sobre a perda de seu companheiro de equipe—, disse ela à Conrad, sua tristeza genuína. —Eu farei tudo ao meu alcance para salvar Hancock. —Obrigado —, disse ele com a voz rouca. —Querida, — Steele disse, deslizando sua grande mão suavemente sobre sua perna e apertando. —Não será um de nós. Eu preciso que você acredite nisso.


Ela olhou para ele e depois para todos eles, as lágrimas brilhando em cílios. —Mas poderia ser—, ela sussurrou. —Há sempre a chance de que eu vou receber um telefonema como este e vai ser sobre um de vocês, e eu amo todos vocês carinhosamente. Eu não posso perder qualquer um de vocês, assim como eu sei que isso é o que você tem que fazer. O que temos de fazer. Só me prometam que serão cuidadosos. E me prometam que vocês vão conseguir aquela pobre mulher fora do inferno ela está resistindo. Hancock me protegeu contra isso, mas ele não pode protegê-la agora.


CAPÍTULO 33 HONOR veio lentamente à consciência, confusão e alarme disputando igualmente pelo controle de seu estado de espírito. Sua cabeça doía vilmente e ela tentou levantar a mão para massagear as têmporas, mas viu-se incapaz de fazer. Quando sua visão clareou, uma dor horrível — uma sensação de traição — a cortando em fatias minúsculas, até que nada restava dela. Apenas um ser vago e nebuloso, que pairava em algum lugar entre a vida e a morte no mundo espiritual. Purgatório. Hancock tinha prometido a ela que ele não a entregaria a Maksimov. Hancock a tinha drogado. Hancock a entregou para Maksimov em uma transação de negócios simples. Hancock não estava nem perto deste lugar, onde quer que fosse. Ela se perguntou o quão ingênua ela tinha sido. Toda essa baboseira sobre sacrifícios para o bem maior. Que por causa de seu sacrifício, Maksimov e a NE, iam ser derrubados, não seriam mais uma ameaça para centenas de milhares de vidas inocentes. Parecia-lhe que isso era apenas uma troca mercenária. Por dinheiro. Hancock nunca negou ser um mercenário. Mas por que ser assim… cruel? Tão desumano? Por que fingir gentileza e carinho quando ele não possuía nenhum dos dois? Não era como se ela pudesse escapar de qualquer maneira. Então, por que todas essas as besteiras? Por que até mesmo fazer o esforço para confortá-la? Ela preferia brutalidade, o até mesmo o estupro, sobre o que ela pensava ser algo belo e… genuíno. Talvez fosse como ele lidava com a sua consciência, mas então ele não tinha uma. Ele não tinha um coração ou uma alma. Então por que? A pergunta ecoou em sua mente até que ela queria gritar sua frustração. Por que ser gentil com ela? Por que fingir ternura? Por que fingir que ela importava? E pelo amor de Deus, por que dar-lhe uma falsa esperança? Isso foi o mais cruel de todos. Dar esperança de um momento que o que acontecesse, ela teria que aceitar como o seu destino o que quer que acontecesse, afinal.


Ela olhou descontroladamente em torno dela, tentando discernir seus arredores, qualquer coisa para tirar sua mente de seus gritos silenciosos de tristeza e agonia. Mas só o que ela encontrou aumentou seu terror e tristeza.

Ela estava em uma… gaiola. Pulsos e tornozelos algemados como um animal. O espaço era tão pequeno que ela foi forçada a uma posição desconfortável, seu corpo contorcido como o um mágico faria. Tão estúpida. Tão tola. Então ingênua. Como Hancock deve ter rido de sua inocência. Como ele deve ter ficado encantado ao saber que ia superar Maksimov e até mesmo Bristow por ser o único a tê-la primeiro. A pequena virgem inocente. O suposto presente que ele ficou tão humilhado por ter recebido. Tristeza rivalizava com pesar. Tanto pesar que não havia espaço para o medo pelo seu destino. Ela estava resignada a ele depois de desfrutar de uma breve pausa. Uma pequena janela de tempo em que ela tinha permitido a esperança florescer. Ela foi muito tola para fomentar o proibido. Ela sabia e ainda assim ela tinha permitido que a esperança crescesse, sem controle dentro de seu coração, englobando sua própria alma. A respiração dela gaguejou erraticamente sobre seus lábios quando ela olhou ao redor de sua prisão. Ela estava em uma pequena gaiola suspensa no teto, mesmo se ela conseguisse de alguma forma ficar livre das algemas apertadas em sua pele e conseguir abrir a gaiola, ela estava pelo menos três metros e meio acima do chão. Não que ela nunca será capaz de libertar-se de qualquer maneira. As algemas tinham rasgado sua pele, suas mãos e pés formigavam, pois, a circulação sanguínea diminuiu, forçada pelo aperto de suas restrições. A altura era vertiginosa, mas seu medo de espaços fechados era ainda mais incapacitante. Depois de ter passado uma noite inteira presa sob os escombros da clínica, que estava ao seu redor em ruínas, havia lhe dado uma intensa fobia de lugares apertados, fechados e mal ventilados, mesmo que a gaiola fosse bem ventilada.


Dor súbita e inesperada gritando através de seu corpo, mas não, o grito agudo veio dela, o som de alguém em agonia indescritível. Sua pele estava em chamas. Ela podia sentir as lambidas horríveis de chamas consumindo-a. Ela estava sendo queimada viva? Uma vaga lembrança de algo como um marcador de gado, um instrumento que, quando tocou em sua pele lhe enviou um choque elétrico que foi chiando por suas terminações nervosas a queimando, flutuou através de suas memórias despedaçadas. Por um momento, foi como simplesmente curto-circuito, porque ela não tinha ideia do que tinha acontecido. Só que não foi a primeira vez que tinha sido feito para ela. Então ela o viu. O homem que deveria ser Maksimov. Ele segurava uma longa haste e tinha pressionada contra sua pele, proporcionando um choque elétrico devastador que fazia seus nervos pularem e ficarem trêmulos. Ela não tinha nenhuma forma de controle sobre seu corpo, seus músculos, dando empurrões involuntários e espasmos. Ela amontoada ali, chorando, e não apenas a pelo choque aplicado ao seu corpo, mas pela traição final de Hancock, ele lhe entregara. A culpa foi dela por oferecer-lhe o seu perdão. Dar-lhe a confiança dela quando ele provou que ele não era merecedor dela. Mas não deixava a agonia diminuir. Ele tinha feito o que nada ou alguém foi capaz de fazer. Hancock a tinha quebrado. Nem o bombardeio na clínica. Muito menos a NE. Nem as duas tentativas de Bristow de estuprá-la. Nem mesmo este idiota em pé perto da sua gaiola, com um brilho predatório em seus olhos. Ele gostava de dor, infligir dor. Ele florescia com isso. Se ela pudesse ver mais baixo do que o seu rosto, ela tinha certeza que ele estaria excitado, assim como Bristow tinha ficado quando ele a tinha machucado. Mas nenhum desses homens, Bristow ou Maksimov, a tinha quebrado ou a quebraria. Hancock a tinha quebrado, e ela não se importava se ela vivesse ou morresse. Ela não se importava mais com o que fariam com ela, porque nada poderia igualar o que já havia sido feito pelas mãos de Hancock.


—Eu acho que posso mantê-la por um tempo antes de eu deixar a Nova Era saber do meu precioso achado —, ele meditou, estudando-a enquanto ele circulava a gaiola. —Você é surpreendentemente forte. Para uma mulher —, acrescentou com um sorriso de escárnio que transmitia todo o desdém que ele, obviamente, sentiu pelo “sexo frágil”. —Eu acho que você irá me fornecer muitos dias de entretenimento. Você será um desafio e eu adoro um bom desafio. Mas eu vou quebrar você. Você vai aprender o que se espera de você. —Você não pode me quebrar—, Honor disse baixinho, falando pela primeira vez. Seu tom era ausente, quase desinteressado, como se ela estivesse pensando em outra coisa e ele era uma mera distração. Ele não gostaria de não ser capaz de ter o foco absoluto e atenção. Ele era um homem habituado a ter deferência de todos. Bem, isso era ruim para caralho, porque ele não ia receber isso dela. Ele pareceu ligeiramente embaraçado, como se sentisse algo além de desafio, porque tal declaração seria normalmente interpretado como um. —E por que? — Ele perguntou em um tom suave que dizia que ela não tinha o irritado. Ainda. Não, ele estava genuinamente curioso. Ela encontrou seu olhar e sabia que o dela era vago. Oco. Sem vida. Desaparecido. Seus olhos se estreitaram como se ele também visse o que ela sabia estar lá. E por alguma razão desconhecida para ela, ela teve a impressão de que isso o incomodava. Isso era engraçado, já que ele se deleitava em fazer os outros sofrer tanto até que eles se tornassem tão sem vida e tão desesperados como ela já estava, e ele só começou agora. Talvez ele estava meramente com raiva porque ele não era o motivo que ela já estava longe deste mundo e da realidade. —Porque você não pode quebrar o que já está quebrado—, ela sussurrou com os lábios dormentes. Ele ponderou suas palavras por um momento e talvez fosse sua imaginação, mas ela poderia jurar que algo em seu olhar mudou e se suavizou. Talvez ela só estava finalmente perdendo o pedaço final da sua sanidade, aquela


que via mais longe, porque não era mais necessário. Ela não precisava de escudo. Nenhuma proteção. Se apenas… Ela nem se incomodou em sentir vergonha ou arrependimento por não ter conseguido tirar sua própria vida. Se ela tivesse alguma ideia do que viria com a traição de Hancock, ela teria cortado sua artéria carótida em um piscar de olhos e frustraria a todos. Hancock, Maksimov e a NE. Ele virou um interruptor que fez a gaiola se abaixar e chegar mais perto do chão, e então ele chegou através de uma das barras, os dedos levemente acariciando as ataduras de seus pulsos, estudando-as. —Eu suponho que você não possa, — ele murmurou. —Mas eu acho que nós vamos ver então, não vamos? Mas, mulher, não me desafie. Você vai se arrepender imediatamente. Ela deu uma débil sombra de um sorriso, um que combinava com o vazio de seus olhos, e um pequeno encolher de ombros, o máximo que ela foi capaz, nos confins de sua pequena prisão. —Eu não tenho nenhuma razão para desafiar você. Meu destino foi selado. Eu sei qual será meu destino. Eu não tenho nenhuma razão para viver, então por que fazer minha eventual morte pior, por lutar contra o inevitável? Ele franziu a testa novamente, como se ele não tivesse ideia do que fazer com ela. Como se ele nunca se deparou com alguém como ela. E, a julgar pela expressão em seu rosto, ele não gostava muito de quebra-cabeças que não conseguia resolver. Qualquer idiota poderia entendê-la. Um cientista não demorava compreender quando uma pessoa já tinha sido levada além dos seus limites. Que já era uma concha vazia de um ser humano. Nada podia tocá-la, não importa o que era infligido a ela a partir de agora até o final, quando os monstros cansassem de seus jogos doentes e torturantes e, finalmente, dessem-lhe descanso eterno e… Paz.

Ela fechou os olhos, imaginando que descansava com os anjos. Ela quase podia sentir o suave toque de suas asas e o conforto de seu abraço protetor.


—Logo —, ela sussurrou para si mesma. —Em breve.


CAPÍTULO 34 ASSIM que embarcou no jato da KGI, Sam pegou seu telefone seguro e deu um soco na série de números que o levaria até Resnick não importava a hora do dia ou circunstância. Resnick respondeu no segundo toque, sua voz cautelosa e alerta. —Sam —, disse ele em forma de saudação. —Adam —, Sam retornou secamente. —Agora que gentilezas foram trocadas, o que devo esta honra inesperada? Sua voz estava misturada com forte sarcasmo, o que Sam ignorou. Uma provocação de Resnick, assim como a provocação a Hancock, ele até poderia apreciar, mas este era um negócio e não havia espaço nem tempo para foder tudo ao redor. —Não estou pedindo um favor —, disse Sam. —Obrigado por essa porra —, murmurou Resnick. —Eu aprendi que seus favores têm um padrão de quase me matar. —Você ainda está vivo, — Sam apontou. —Olha, se eu dissesse a você que nós estamos prestes a derrubar Maksimov e há uma boa possibilidade de que vamos derrubar a Nova Era junto com ele. Houve um inalar sufocante como se tivesse acabado de inalar uma tragada em seu cigarro e ele expelir de sua boca e narina inundada pela animação. —Você está gozando comigo. De maneira nenhuma. Você está fora de sua mente maldita. Então, sua voz tornou-se desconfiada. —Nós estivemos atrás de Maksimov por anos. Inferno, todo mundo está atrás do bastardo há anos, e ninguém jamais chegou perto o suficiente dele para derrubá-lo sem ser morto. —Você está familiarizado com Titan, — Sam disse suavemente, sabendo que o lembrete só irritaria Resnick. —Hancock em particular. E Hancock o está caçando por um tempo muito longo. Ele chegou perto em duas ocasiões apenas para deixá-lo ir para evitar que um inocente morresse.


Resnick bufou. —Hancock venderia a sua própria mãe para terminar sua missão. —E é aí que você está errado—, disse Sam, sua voz suavemente mortal, sugerindo insultuosamente que Resnick não sabia porra nenhuma sobre Hancock. —Maksimov fez uma grande merda neste momento. Ele tem algo muito valioso para Hancock, e confie em mim quando eu digo Maksimov é um homem morto. —Diga-me como Maksimov nos leva até a NE. — Excitação afiava a voz de Resnick e Sam podia ouvir as inspirações e expirações nítidas de cigarro repetidas vezes. —Não é possível prometer nada, mas o que Maksimov têm, Hancock quer, e a NE quer também e vão pagar um monte de dinheiro para ter. O plano era para encenar a troca, pegar Maksimov e, em seguida, estabelecer um intercâmbio similar com a NE. —Um FUBAR então, — Resnick adivinhou com precisão. —Exatamente. —O que é que Maksimov tem, que tanto Hancock quanto a NE querem tão desesperadamente? — Perguntou Resnick. —Uma mulher, — Sam disse calmamente. Resnick gemeu. —Foda-me. Uma mulher? Vocês Kellys e as mulheres malditas. Juro por Deus. — E então, como se o que Sam disse finalmente fez sentido, registrando o choque. —Hancock perdeu a merda da cabeça por uma mulher? Houve uma longa pausa, enquanto Resnick tomou seu tempo para classificar através de todas as informações que Sam sabia que estavam fodidamente circulando por sua mente. —Ok, então por mais chocante é que Hancock perdendo a merda de sua cabeça por uma mulher, o que diabos a NE poderia querer com esta mesma mulher? —Honor Cambridge lembra alguma coisa? — Perguntou Sam.


—Claro. Ela foi morta em um ataque, que a NE assumiu o crédito. Era um centro de ajuda. Voluntários em sua maioria ocidentais, médicos e enfermeiros. —Ela sobreviveu. —O inferno que ela fez —, balbuciou Resnick. —Não houve sobreviventes. —Ela sobreviveu —, disse Sam calmamente. —Não só está viva, como ela conseguiu escapar por mais de uma semana. Ela fez a NE parecer idiotas fracos. Eles perderam muito e ela se tornou um farol de esperança para um povo oprimido. A NE a quer e eles querem ser maus. A NE fodeu Maksimov em mais de um negócio. Isso nunca uma boa ideia. Bristow, era o homem que Hancock estava trabalhando disfarçado para chegar a Maksimov, soube que Honor sobreviveu e enviou Hancock para chegar até ela antes que a NE conseguisse. Bristow queria favores na organização de Maksimov. Então, ele daria Honor a Maksimov, e depois Maksimov ia devolver Honor a NE por uma quantidade infernal de muito mais dinheiro do que originalmente tinham fodido com ele. —Tudo bem—, disse Resnick, pensativo. —Isso tudo faz sentido. Até a parte sobre Hancock perder a merda da sua cabeça porque Maksimov tem a mulher que Hancock planejava entregar a ele desde o início. —Olha, você sabe de tudo neste momento, exceto que Conrad, o segundo em comando de Hancock, disse que na noite anterior que a troca deveria ocorrer, Hancock cancelou tudo. Surgiu com a ideia de encenar a troca para emboscar Maksimov e executá-lo no local. Ele não dava a mínima para conexões de Maksimov, o que poderiam levar a Interpol, a CIA e só Deus sabe quem mais. Tudo o que ele queria era Maksimov derrubado e que Maksimov nunca colocasse as mãos em Honor. —Obviamente as coisas não saíram como planejado ou você não estaria me chamando—, disse Resnick severamente. —Hancock perdeu um de seus homens. Vários estão feridos. Hancock estava muito ruim. Eu nem sei se ele está vivo neste momento. Mas o seu segundo me chamou e pediu a nossa ajuda. Eles querem tirar Honor das mãos


de Maksimov, e eles não se importam como conseguimos. Ele é um sádico filho da puta e cada hora ela está com ele será como um inferno. —Vou mandar a equipe de Kyle Phillips e outras duas. Você vai precisar de toda a força de trabalho que você puder conseguir. Eu suponho que você tem todos os homens disponíveis do teu lado. Sam nem se dignificou em dar uma resposta. —Eu vou lhe enviar as coordenadas e eu preciso que os homens estejam prontos em meia hora no máximo. E Adam? —Sim? —Duas coisas. Estamos operando às cegas aqui, então eu preciso de cada pedaço informação que você tem em Maksimov. Eu não dou a mínima se essa merda é confidencial. Eu preciso disso e eu preciso para ontem se nós vamos salvá-la e derrubar esse russo. —Feito. O outro? —Honor Cambridge morreu no ataque. Você não pode deixar vazar que ela sobreviveu. Ainda não. Se conseguirmos chegar até ela a tempo de salvar sua vida e levá-la de volta para casa, para sua família, então pode tranquilamente ser revelado que ela foi resgatada por uma operação conjunta de forças especiais. Resnick bufou. —Como se esse tipo de informação ficasse em segredo ou silencioso. Será um circo da mídia.


CAPÍTULO 35 A CABANA de campo degradada em Bumfuck, Virgínia Ocidental, onde se refugiara Titan cheirava a sangue e morte. Resnick reclamou que não era de admirar que ninguém tinha sido capaz de encontrar Maksimov quando as pessoas se encontravam em um lugar tão afastado. Rio liderou o caminho para dentro, porque ele era conhecido por Titan. Apesar de que isso não o salvou de um disparo de alguém excessivamente ansioso, numa das últimas vezes que Titan e Rio tinham batido suas cabeças. Conrad encontrou Rio na porta, a dor em seus olhos. —Mojo —, ele engasgou. Rio fechou os olhos por um momento. Ele gostava de Mojo. Tranquilo, mas atormentado como tantos outros no contingente de Titan. Mas Mojo era leal até seus ossos, e sua morte bateu com muito mais força, do que Rio teria imaginado depois de tanto tempo. Ele tinha desistido dessa vida. A vida sempre nas sombras, sempre patinando na borda fina entre o certo e o errado. Às vezes, errado estava certo. E, às vezes o certo era uma porcaria. Mas agora, vendo os homens que costumavam segui-lo, quando eles agora seguiam Hancock trouxe de volta muitas das coisas que ele tinha tentado esquecer. —Sinto muito —, disse Rio, permitindo que a tristeza que sentia rastejasse em sua voz. —Ele era um bom homem. — Ele olhou para o chão, onde Conrad estava trabalhando em seu chefe de equipe. —Hancock? Conrad se voltou para Maren que já estava olhando Hancock. Conrad tinha lhe dado medicação para a dor, mas não o suficiente para suprimir suas respirações, porque não havia nenhuma maneira de saber a extensão dos danos a seus pulmões. A ação depressora do CNS poderia ser letal para os pulmões enfraquecidos e respiração muito superficiais. Maren inclinou-se sobre Hancock, e ele se virou olhos opacos sobre ela e brevemente se iluminaram com reconhecimento. E alívio.


—Maren. Graças a Deus. Preciso de você. —Ele lambeu os lábios secos. —Eles a têm. Não a salvei como eu fiz você. Temos que conseguir —, disse ele dolorosamente. —Hancock—, disse ela com gravidade simulada, com a mão em seu quadril. —Que eu sempre lhe disse sobre brincar com armas? Steele tinha silenciosamente deslizado para o lado de sua esposa no momento em que ela se moveu em direção Hancock, e ele viu o sorriso de Hancock. O bastardo realmente sorriu, mas com a mesma rapidez tinha ido embora e seus olhos brilharam com tanta dor e sofrimento que tirou o fôlego de Steele à distância. E levava bem mais que um inferno para provocar esse tipo de reação em Steele. Maren tinha visto isso também, porque a umidade margeou seus olhos compassivos. Enquanto o resto da KGI tinha um… interessante… amor relacionamento / ódio com Hancock, Maren gostava dele e não escondia o fato. Ele tinha sua lealdade, e bem, ela era uma mulher feroz quando ela lhe dava sua lealdade. —O quanto é ruim? — Hancock perguntou sem rodeios através de uma mandíbula cerrada. Ele tinha que estar com muita dor. A transpiração brilhava em sua testa e ele estava pálido, com sulcos profundos gravados em seu rosto. De repente, ele parecia um inferno de muito mais velho, quando antes ele tinha um olhar imutável sobre ele. Era parte de sua habilidade de camaleão para se misturar, de parecer em qualquer lugar entre vinte e poucos anos a quarenta e poucos anos ou em qualquer lugar. Agora ele parecia exausto e doente até sua alma. —Eu preciso estar de pé. Eu não tenho muito tempo. —Tristeza inundando seu olhar e para choque contínuo de Steele, um brilho de lágrimas caíram nos olhos do homem endurecido. —Para mim pode ser tarde demais — disse ele com voz rouca. —Você vai viver—, disse Maren levemente. —Conrad fez um excelente trabalho com as ferramentas que ele tinha. Ele precisa ser elogiado. Ele salvou sua vida. —Eu só fiz o meu maldito trabalho, — Conrad retrucou, irritado que salvar seu chefe de equipe fosse anunciado. Como se ele tivesse feito outra escolha.


A cabeça de Steele chicoteou na direção de Conrad, seus olhos tão frios e tão monótonos como normalmente eram os de Hancock. —Veja como você fala com a minha esposa —, ele murmurou. Os olhos de Conrad eram sombrios. —Eu não quis desrespeitar, Dra. Steele. Mas ele é meu líder. Eu daria minha vida por ele. —Se acalme, porra, Conrad, — Hancock estalou. —Nós não temos tempo para esta merda. — Então ele olhou para Maren, pegando em sua mão, apertando os dedos no que poderia ter sido interpretado como um gesto carinhoso se Steele não o conhecesse melhor. —Seja honesta comigo, Maren. Eu tenho que chegar até ela. Cada hora… Cada minuto maldito que ela está em suas mãos… —Ele parou e fechou os olhos, mas não antes de sua dor e medo serem transmitidos pela sala inteira, deixando os membros KGI com um olhar de espanto. Eles estavam testemunhando algo mais importante do que assistir Steele, ex-homem de gelo, ser derrubado por uma mulher loura de olhos azuis pequena e um bebê precioso que se parecia com a mãe dela. Os olhares variaram de perplexidade, a diversão, à descrença e definitivamente um “que porra é essa”? P.J. não parecia assombrada, como se poderia esperar. Sim, ela tinha tido tempo para não reagir ao conhecimento de uma mulher sendo abusada, mas ela se tornou cada vez mais hábil em esconder sua reação. Em seguida, o olhar de Hancock se estabeleceu em Resnick e cintilando desapaixonadamente sobre as equipes que estavam atrás do homem que pendia um cigarro apagado entre os lábios. Aquele olhar se voltou para Sam, estudando e medindo, fazendo a pergunta silenciosa. —Ele pode ser confiável—, disse Sam. —Precisamos de toda a potência de fogo que podemos conseguir. Não será um passeio no parque derrubar Maksimov, mas primeiro temos de encontrá-lo, e é aí que Adam provou ser particularmente útil no passado. —Você deve saber —, Resnick disse em um tom azedo. —Você me deu um tiro e invadiu meu computador.


Hancock não se incomodou em demonstrar um falso remorso. Todos eles sabiam que seus trabalhos eram feitos por missões menos do que desejáveis, e cada pessoa na sala tinha sido forçada em um momento ou outro a ir contra o seu código pessoal em nome do bem. Hancock ignorou a ironia de Resnick, e seu olhar encontrou Maren de novo. —Cope está machucado. Eu preciso que você o examine. Viper também. Você mesmo disse. Eu não estou morrendo. Ainda não. Cuide deles. Então ele olhou ferozmente para Rio e incluindo Sam, que estava ao lado de ex-líder da equipe de Hancock. Embora Sam conduzisse a KGI, não se incomodou que Hancock procurasse Rio. Rio era para Hancock o que Sam era para Rio e para o resto da KGI. —A prioridade é Honor. Eu não dou a mínima para Maksimov. Outro dia. Outra hora. Haverá sempre uma outra hora. Mas não outra Honor. Ela tem que vir em primeiro lugar. Jurem isso. Ela tem que ser a prioridade. Rio ajoelhou-se e agarrou o braço ileso de Hancock no aperto de um guerreiro para outro. —Você tem a minha palavra, irmão. Era a primeira vez que Rio reconhecia o forte vínculo entre ele e o homem que ele havia treinado. E Sam sabia como Hancock se sentia. Cada homem na sala sabia como ele se sentia. Eles todos estiveram na posição dele, e sabiam que mulher que amavam vinha antes de tudo. Da missão. Do bem maior. Que, em alguns casos, o bem de um, foda-se, superava o bem de muitos. —Eu já estou o localizando —, Resnick interrompeu. —Ele poderia estar em qualquer maldito lugar, mas eu estou trabalhando na logística dada a nossa posição atual e o que eu sei ser alguns de seus esconderijos. O problema nunca foi não saber onde está Maksimov, mas sim ser capaz de apanhar e derrubar o bastardo. Ele é um maldito artista em fugas. Está lá em um momento, depois sumiu. —Eu fui arrogante, — Hancock admitiu dolorosamente, olhando para cima para encontrar Swanny. O considerava seu cunhado. —Eu deveria ter colocado um dispositivo de rastreamento nela como você fez com Eden.


Simplesmente não havia muito tempo e eu tinha tanta certeza de que eu poderia apenas derrubá-lo e Honor nem teria acordado. —Por que você a drogou? — Perguntou P.J. com raiva. Seus companheiros de equipe a olharam com cautela, e a expressão de Cole se transformou em sombria, enquanto se reunia a sua esposa e ficava a seu lado. —Você a deixou indefesa e você não se planejou para o pior. Você sempre planeja para o pior —, disse ela com voz rouca. Hancock fechou os olhos. —Eu não tinha escolha. Eu estava trabalhando sem uma rede de proteção. Nenhum plano de backup. Era a maneira que Maksimov queria que ela fosse entregue, e eu tive que fazer parecer bom ou nós nunca teríamos chegado perto o suficiente para derrubá-lo. Não que isso nos serviu de alguma coisa. Seu tom era amargo e cheio de autocondenação. —Eu encontrei um toupeira enterrado na organização de Bristow, mas obviamente havia outro. Isso ou um dos meus homens está ou estava sujo, e eu não posso acreditar nisso. —Você sabe que não pode supor qualquer coisa—, disse sem rodeios Rio, repreendendo seu ex-homem. —Você os conhece também, Rio. Olhe para eles. Olhe para seus rostos e veja como eles se sentem sobre Honor. Então você me diz um deles a vendeu —nos vendeu— para ele. —Qual é o dano dele, Maren? — Perguntou Steele, interrompendo a troca tensa. —Ele tem condições de ir? Porque eu não tenho nenhum escrúpulo em deixá-lo de lado se eu achar que ele nos levará para a morte com sua condição. —Algumas costelas quebradas —, disse ela bruscamente. —O colete salvou sua vida, mas a uma distância tão curta, e o calibre do projétil usado, ele teve sorte que a bala não foi mais para a direita através do colete. Conrad aliviou a pressão sobre o pulmão e drenou o líquido e o ar para que ele pudesse ventilar. Não estou dizendo que ele poderia ir para a guerra, mas ele vai fazer. Desde que ele descanse e não se mova até a hora de ir.


Hancock acenou com a cabeça, surpreendendo Sam com sua aquiescência. A julgar pela sua palidez e suor, Hancock estava sofrendo muito mais do que ele estava deixando saber. Mas seu sofrimento físico era pequeno em comparação com a sua dor emocional. —Então vamos começar a rastrear esse filho da puta e derrubá-lo —, disse Garrett, falando pela primeira vez. Cada pessoa na sala, as equipes da KGI, Titan e de Resnick, ecoaram o mesmo sentimento. Havia uma mulher inocente nas mãos de um monstro, e enquanto isso era motivo suficiente para encenar a queda de um dos homens mais perigosos do mundo, ela não era qualquer mulher. Ela era a única mulher Hancock já se mostrou vulnerável, o que a fez ainda mais importante.


CAPÍTULO 36 HONOR estava em sua jaula, enrolada em uma bola insensível. Ela sentia a frustração de Maksimov, sua raiva aumentando. E a sua perplexidade sobre sua capacidade de resistir a suas repetidas tentativas de feri-la. Mas ela simplesmente não sentia absolutamente nada. Era difícil ferir alguém que simplesmente não se importava e não tinha mais nada para viver. Ela não era um tola. Não haveria resgate. Quando Maksimov se cansasse de seus jogos, ele recorreria para conseguir a única coisa dela que podia. Dinheiro. Da NE. Ela sabia que seria em breve, porque a cada dia que se passava, e ela perdeu a conta deles, ele ficava mais agitado e lamentando que sua presa não lhe dava a satisfação que ele contava. Ela sentiu a mudança nele esta manhã, quando ele entrou na pequena sala sem janelas onde sua gaiola estava suspensa no teto. Ele não se incomodou em dar-lhe comida e água. Ela não poderia ter comido de qualquer maneira. Ela teria jogado tudo para cima. Mas a água, ela venderia sua alma por ela, mas depois lembrou-se ela não tinha uma. Os mortos não têm alma ou qualquer outra coisa. —Você se provou uma decepção—, disse ele em um tom grosseiro. Quase como uma criança privada de seu brinquedo favorito. Mas, então, ele não era nada mais do que um valentão mimado, acostumada a conseguir o que queria. Ele estava acostumado a ser temido, a ponto de ser capaz de dobrar e manipular as pessoas à sua vontade, e ele fracassou totalmente com Honor. —Eu estarei fora por um tempo—, disse ele com um sorriso sinistro, que tinha a intenção de assustá-la. —A NE está muito ansiosa para colocar as mãos em você. Você irá em uma viagem em breve. Eu acredito que você está familiarizada com o destino. Pelo menos você não vai ter um problema com a barreira da língua. Ela não reagiu. Não lhe daria a satisfação. Além disso, isso lhe levaria a um passo mais perto da morte, então ela acolheria com agrado. Ela esperava


que ele a mantivesse mais alguns dias, determinado a ter o seu divertimento e mais importante vencer a batalha de vontades que se seguia entre eles. Se ele soubesse. Não houve batalha. Ela não tinha nenhuma razão para lutar. Tudo o que ela queria agora era descansar. E a esperança de encontrar a paz na próxima vida, embora suas crenças tinham sido muito abaladas e ela já não estava certa o que a esperava após a morte. Ela testemunhou o mal ganhar muitas vezes para ter tanta certeza de que a bondade existia. Que triunfava sobre tudo. E que aqueles que combateram o bom combate eram recompensados em seu repouso final. Ele nem sequer se preocupou com uma última jogada de despedida. Nenhuma tentativa de fazê-la gritar de dor. Talvez ele soubesse que não teria qualquer sucesso mais do que ele teve com todas as outras tentativas. Ele simplesmente virou-se e saiu da sala, batendo-a atrás dele. Ela ouviu o silvo da represa, selando o quarto. Era um quarto com paredes fortificadas impenetráveis. Provavelmente no subsolo, porém ela só estava supondo pelo cheiro úmido e o fato de que não havia janelas, apenas uma luz fluorescente que ficava acesa em todos os momentos, garantindo que ela nunca fosse capaz de buscar consolo no abraço reconfortante do escuro. Apenas uma outra tentativa de quebrar o já estava quebrado. Ela fixou o olhar na parede oposta e começou a fazer padrões em sua mente, criando um redemoinho de cor e chamando de volta memórias de sua família, um ritual que ela se entregou constantemente, especialmente quando Maksimov estava atormentando-a. Ela estava construindo um muro em torno de si mesma, porque o pior estava por vir e só porque ela dava boas-vindas, queria, ficaria aliviada quando a morte finalmente a alegasse, não queria dizer que ela ia sair gritando, implorando e soluçando. Ela poderia não ter nenhum orgulho por mais tempo, mas não era sobre orgulho. Era sobre não os deixar ter a vitória final de ver e desfrutar de sua tortura. Ela iria tão silenciosa e pacificamente quando fosse para a sua morte. Essa era a sua promessa a si mesma. E para sua família.


••• —O problema, como eu tenho certeza que você sabe, Hancock, é que o acesso a uma das detenções de Maksimov não é o problema. Ele é um bastardo cauteloso, paranoico com cantos e recantos que pode ser facilmente esquecido quando eles estão bem escondidos debaixo do seu nariz —, disse Resnick. Hancock acenou com a cabeça, movendo-se mais lento do que ele gostaria. Ele ainda tinha dificuldade para respirar, mas seu foco era absoluto em encontrar Honor, e esta era a sua terceira pesquisa. Eles estavam correndo contra o tempo e ele estava engasgado com seu desespero. —Eu tenho movimento na ala norte. Havia uma emoção atípica na voz de P.J. quando ela veio através do comunicador. Ela, Cole, Skylar e dois dos atiradores de Resnick cercaram a prisão enquanto os outros tinham se espalhado, ficando em cada posição possível no ponto de entrada. Explosivos tinham sido fixados em dois muros de concreto para abrir um buraco, dando-lhes pontos de entrada adicionais. Todos esperavam que agora era a hora. —Sul também—, disse Cole, verificando. —Parecem guardas. Esperança enrolou no intestino de Hancock, apesar de sua melhor tentativa de não antecipar uma decepção. Mais uma vez. Mas as outras prisões que tinham olhado estavam desertas. Este era a primeira que mostrou quaisquer sinais de vida. —Precisamos de uma contagem de assinaturas de calor, — Hancock interrompeu. Sim, ele estava no chão, mas ele não estava fora, e ele não ficaria no banco traseiro nesta operação. Esta era a sua missão. Seus fodidos erros. Ele resgataria Honor de volta não importa o que custasse. —Eu tenho três aqui—, relatou PJ. —Dois aqui—, disse Cole.


—Existe um movimento no pátio, — Edge disse calmamente. —Pareceme que eles estão se preparando para sair. O coração de Hancock se acelerou assim como sua respiração, e ele pagou quando seu pulmão expandiu muito rapidamente e dor a atravessou seu peito. Mas ele ignorou isso, porque se houvesse movimento, isso significava que era provável que Honor estivesse aqui e Maksimov estava se preparando para entregá-la a NE. Então não era tarde demais. Tristeza comeu no seu intestino. Não era muito tarde para salvá-la das garras da NE, mas tarde demais para salvá-la de tudo o que Maksimov tinha feito para ela. Controle-se. Steele tinha lhe dito para se desligar, e o homem tinha experiência em ter que fazer exatamente isso. Ele quase perdeu Maren e com ele o seu controle de ferro. Hancock não faria nenhum bem a Honor se ficasse perdido. Ele não seria de nenhuma utilidade se estivesse louco de dor. Ele poderia levá-la e os outros todos à morte. —Mantenham suas posições —, Sam ordenou. —Veículo vindo no portão da frente. Assim que eu mandar sair, vamos entrar quente. Precisamos fazer isso rápido. Não dou a mínima com a limpeza. Basta ter a maldita certeza que Honor não será pega no fogo cruzado. Todos tinham as suas ordens, então o silêncio de rádio seguiu. Os atiradores acertaram em seus objetivos logo que pudessem ter certeza Honor não estava no caminho. —Eu tenho uma assinatura de calor completamente imóvel e aparentemente suspensa no ar—, disse Skylar calmamente. Hancock sabia que ela não iria quebrar o silêncio de rádio a menos que ela tivesse certeza de era foi Honor. —Dê-me um minuto para obter uma melhor linha de visão—, disse ela. Em seguida, ela xingou, e o sangue de Hancock congelou. —É abaixo da casa. E a assinatura é fraca. Eu estou apostando em um porão em um quarto seguro. Paredes reforçadas. Apenas o tipo de lugar um prisioneiro seria mantido.


Era o fato de que Skylar tinha dito a fonte de calor estava completamente imóvel, deixou Hancock apreensivo. E que era fraco. Mas não. Calor significava vida. E se Skylar estava certa e era um porão subterrâneo com paredes reforçadas, isso explicaria a fraqueza do sinal. Mas não a quietude. Mas ela estava viva, e isso era tudo o que ele poderia pensar ou ele perderia a cabeça. —Me cubram —, disse Hancock calmamente. —O subsolo é meu. Rio xingou. —Não sem apoio. Nem sequer discuta comigo. Hancock sorriu levemente. —Você não me conduz mais, Rio. —Isso não significa que você ainda não é meu, porra—, disse Rio em um tom selvagem. —Rio e eu vamos ter o seu seis21, enquanto os outros limpam o caminho —, disse Conrad, aliando-se a Rio. —O veículo está parado. Três homens. Ninguém mais. Eles estão todos dentro. Precisamos avançar agora —, disse Nathan. —Vão —, Sam latiu. E o mundo desabou. Houve um tiroteio. Explosões atingiram a terra, quase derrubando Hancock de joelhos, mas Rio e Conrad estavam lá para ancorá-lo quando eles correram para dentro da casa, procurando o caminho abaixo do piso principal. As equipes da Resnick inundaram as salas, derrubando todos os alvos em seu caminho. O único foco de Hancock era em encontrar o caminho para baixo. Rio e Conrad estavam ao lado dele, mas ele não se atrasava ou esperava pela sua cobertura. Ele carregava um rifle de assalto em uma mão e uma pistola na mão no lado onde ele tinha tomado uma bala de seu ombro. Uma varredura inicial no térreo não lhes trouxe exatamente nada e Hancock xingou violentamente. O que eles não viam? 21

Nas forças armadas, "Got your six = Ter seu seis" significa "Eu tenho a sua volta." O ditado se originou com a Primeira Guerra Mundial quando os pilotos de caça faziam referência traseira de um piloto como a posição das seis. Agora é um termo onipresente nas forças armadas que destaca a lealdade e cooperação encontrada na cultura militar.


—Acalme-se e concentre-se —, disse Rio calmamente. Então ele falou no comunicador, —Sky, você pode nos dar uma posição da assinatura de calor no subsolo? Não estamos chegando a merda nenhuma. Precisamos de seus olhos. —Centro. Ponto morto —, veio a resposta calma de Skylar. —Você está de pé direto sobre ele. Está lá. Hancock caiu de joelhos, como fizeram Conrad e Rio, e eles sentiram ao longo do chão qualquer sinal de entrada. Em seguida, o olhar de Hancock se levantou e examinou as paredes. Um interruptor, é claro. Não havia uma porta óbvia e o piso não tinha emenda. —Procurem os interruptores—, ele latiu para Conrad. —Experimente todos eles. Há uma linha de meia dúzia no lado direito da sala. Um deles tem de abrir o subsolo. Conrad se apressou e, um a um ligou os interruptores. No último, Rio quase tropeçou e caiu bem no meio do chão, quando uma seção suavemente começou a deslizar e se abrir, revelando um conjunto de escadas. Hancock não perdeu tempo. Luz estava radiante acima, o pequeno quarto inundado de luz brilhante. Ele invadiu, descendo as escadas, preparado para o pior, mas nem isso poderia tê-lo preparado para o que ele descobriu. Seus joelhos se travaram e seu estômago embrulhou quando viu a impossivelmente pequena gaiola suspensa no teto e corpo de Honor enrolado em uma bola apertada, mal cabendo na sua prisão. A gaiola começou a abaixar e ele olhou com surpresa para ver Rio apertar um botão que fazia a gaiola lentamente descer do teto. Hancock correu para a frente, com o coração na garganta, e em seguida, ele quase foi arrancado de seu peito quando ele deu uma boa olhada nela. Seus pulsos e tornozelos estavam em carne viva e sangrando, a pele arrancada de algemas muito apertadas. Por quê? Ela não teria nenhuma maneira de escapar da jaula. Mas então Maksimov adorava infligir dor e miséria. Oh, Deus.


Ele fez um som de um animal ferido e nem sequer se apercebeu que tinha vindo dele. Honor estava uma bagunça. Seu cabelo uma massa de emaranhados, o rosto machucado e sangrando. Pior, debaixo de onde a gaiola estava suspensa tinha uma sonda de choque do caralho. E havia marcas de queimaduras que cobriam seu corpo, onde Maksimov tinha obviamente tocado repetidamente. As lágrimas nublaram sua visão e ele gritou de raiva reprimida, seu corpo inteiro tremendo. Ele agarrou as barras como se por pura força de vontade, ele pudesse quebra-la sozinho e libertá-la. Ele era imparável. Rio e Conrad rapidamente viram a futilidade em tentar acalmar Hancock e em vez disso procurou uma maneira de abrir a gaiola. Quando finalmente encontraram, Hancock estava ensanguentado e sem pele numa boa parte e a palma de suas mãos em carne viva na tentativa de libertá-la Hancock abriu a porta, mas depois parou, sua frustração perto de ebulição. —A chave —, ele murmurou. —Onde diabos está a chave para tirá-la dessa porra de algemas? Conrad não disse nada. Ele simplesmente empurrou do bolso do seu uniforme uma chave mestra, e começou a trabalhar para libertar Honor de suas restrições. Tão envolvido na tentativa de deixar Honor livre, Hancock nem tinha percebido até agora que seus olhos estavam abertos. Ele congelou, olhando para os olhos completamente sem vida. Nenhuma faísca. Embotados como a morte. Absolutamente nenhuma reação, não havia evidências que ela sabia que eles estavam lá. Ele timidamente acariciou sua bochecha, com medo de que ela pudesse quebrar se ele a tocasse. —Honor? Sua voz estava rouca, misturada com preocupação e se engasgou com lágrimas que ele não podia controlar. Elas escorriam pelo seu rosto e ele baixou o rosto em seu cabelo enquanto Conrad conseguia desbloquear a última algema segurando seu tornozelo.


Seu corpo inteiro arfava quando suas lágrimas embebiam seu cabelo. —Ela está livre—, disse Conrad, em voz baixa. —Deixe-me levá-la, Hancock. Você sabe que você não está forte o suficiente. E se ela acordar e vêlo assim, você vai assustá-la até a morte. Hancock relutantemente concordou, mas não pelas razões descritas por Conrad. Hancock sabia que se Honor recuperasse a consciência e visse Hancock, ela olharia para ele como o traidor que ele era. Como ele falhou com ela. Como um homem que tinha quebrado suas promessas a ela uma e outra vez. —Só até chegarmos ao avião, — Hancock disse ferozmente. —Então eu quero que ela tenha medicação para a dor e um sedativo. Eu não quero que ela acorde desse jeito. Aqui não. Não no avião. Eu quero que ela acorde em um lugar que ela saiba que está segura. —Eu vou cuidar dela—, disse Conrad, compreendendo o tormento Hancock enfrentava. —E Hancock, todos nós falhado com ela. Não apenas você. —Eu a traí, — Hancock disse selvagemente. —Eu era o único que prometeu a ela que eu não a entregaria para Maksimov, que eu encontraria outro caminho. Eu fui o único que a drogou e não contou a ela o que estávamos fazendo. Eu sou a pessoa que ela pensa que a traiu quando ela acordou com as mãos de Maksimov sobre ela. Isto é meu. Somente meu. E sou eu quem vai ter que viver com isso para o resto da minha vida maldita.


CAPÍTULO 37 —EU encontrei o ouro —, disse Donovan, alegremente fechando a mão em punho quando ele se inclinou para trás de onde ele estava febrilmente hackeando os arquivos de computador codificados de Maksimov. O avião tinha levantado voo há uma hora e Honor estava no pequeno quarto, sedada, enquanto os outros tinham se esparramado na área de estar nas cadeiras, sofá e até mesmo no chão. Uma das equipes de Resnick tinha levado o outro jato para que eles pudessem manter estreita vigilância sobre a família de Honor. Sam tinha enviado notícias à Sean para bloquear o complexo, e que sob nenhuma circunstância ninguém podia entrar ou sair da área segura. Ele já tinha sido decidido que a equipe de Nathan e Joe permaneceriam no complexo para garantir a segurança da família, enquanto todos os outros membros disponíveis da KGI, juntamente com Titan iriam atrás Maksimov. —Derrame—, Hancock rosnou. Ele era o único que não se sentou e era o que mais precisava de descanso, mas ele andava pelos pequenos limites da área de estar, seu olhar muitas vezes indo para a porta do quarto onde Honor dormia, que foi deixada entreaberta apenas no caso ela acordasse e entrasse em pânico. —Se fosse qualquer outra pessoa, eu suspeitaria de uma armadilha —, disse Donovan. —Mas Maksimov é um bastardo arrogante que realmente acredita que ele é invencível e é incontrolável. Eu tenho as coordenadas, o lugar e o horário que ele fará a troca com a NE e ele já foi em frente. É por isso que ele não estava aqui. Ele está negociando com a NE e alardeava que sua ‘descoberta’ vale a pena. Ele enviou seus homens para levar Honor até ele e a NE. Temos um cenário de sonho aqui. Podemos removê-los ambos ao mesmo tempo. Nós nunca vamos ter outra oportunidade como esta, por isso temos que ir e cumprir a missão. Sam franziu a testa. —Nós não temos mão de obra para esse tipo de operação. Nós somos bons, mas estamos em número bem menor e sem a equipe


que está guardando a família de Honor e a equipe de Nathan e Joe que estão guardando o complexo, não temos nenhuma maldita chance de derrubar tanto Maksimov quanto a NE. —É aí que você está errado—, disse Resnick ferozmente. —Estou fazendo de tudo sobre este assunto. Eu tenho quatro equipes dos SEAL’s que estou chamando. Tenho as duas equipes Black Ops, e eu estou trazendo três unidades de forças especiais e os melhores dos melhores, rangers do exército e várias unidades aéreas. Eles não saberão o que os atingiu. Tio Sam não gostaria de nada mais do que matar dois pássaros com uma pedra só, e eles vão nos dar qualquer merda que precisarmos para derrubarmos todos eles. Para esta missão? Eles vão me dar a porra das chaves do reino. E isso é um fato. —Você vai precisar de uma isca, — P.J. disse, pensativa. —Sem evidências de Honor, nós nunca vamos chegar perto o suficiente para derrubálos —Não! — Cole explodiu em fúria, sabendo exatamente onde ela estava indo com isso. Hancock podia ver a dor crua nos olhos de Cole e sabia que ele estava se lembrando da última vez que a KGI tinha usado uma isca —P.J.— e os resultados horríveis. Ela havia sido estuprada e brutalizada e cada membro da KGI ainda carregava o peso de suas culpas, mas ninguém mais do que Cole. —Isso não é uma opção—, disse Cole em um tom gelado, furioso. —Eu não vou arriscar de novo, P.J., você não pode esperar que eu deixe. Não depois… Ele parou de falar, as palavras sufocando e morrendo em sua voz, mas as lágrimas brilharam com dureza em seus olhos. —É claro que ela não pode —, disse Skylar com uma voz suave, colocando a mão no braço de Cole, apertando em um gesto reconfortante. — P.J. não se parece em nada com Honor. Isso não pode funcionar. O alívio deixou Cole com os joelhos fracos, e ele arrastou P.J. contra o seu lado, enterrando seu rosto no cabelo dela, e ela deixou, uma prova de quão chateado ela sabia que seu marido estava.


P.J. não era uma mulher que se permitia parecer fraca ou necessitada de proteção ou conforto na frente dos outros. Ela era uma guerreira feroz porra. Honor era tão feroz, apenas de uma forma diferente. —Eu seria a escolha lógica—, disse Skylar calmamente. A cabine inteira explodiu com um coro que variou de jeito nenhum para nem por cima do meu cadáver! Edge ficou parado, o grande homem parecendo ocupar todo o espaço da cabine já apertada, os olhos brilhando de raiva. —Você não vai fazer isso, Sky. —Você não é meu líder de equipe, Zane, — Skylar disse gentilmente, usando seu nome real. O dois moravam juntos e eram amigos íntimos. Melhores amigos. Não havia nada de romântico em seu relacionamento. Eram mais próximos como irmãos. Mas isso não significava Edge não era ferozmente protetor dela. —Não, mas nós somos—, disse Nathan com uma voz dura, indicando seu peito e, em seguida, na direção de Joe. —E não arriscaremos você como isca, porra. Nunca mais vamos colocar alguém na posição que P.J. foi forçada a entrar. Ela pagou o preço final e nós quase a perdemos. Nós não vamos perder você. E isso é uma ordem. Skylar enviou a todos um olhar exasperado. Ela e P.J. trocaram olhares rápidos de irmandade e o equivalente a um rolar de olho mental. Elas eram altamente treinadas, armas letais, iguais aos seus colegas do sexo masculino na organização KGI, mas acima de tudo, KGI guardava e protegia suas mulheres. Todas elas. Esposas, irmãs, mães. E até mesmo suas companheiras de equipe. —Se nós precisávamos de um macho para usar como isca, qualquer um de vocês sequer hesitariam em ser voluntários? — Skylar desafiou. —Lembrome de Nathan tomando o lugar do piloto do avião que ia voar com Maren e Caldwell para onde diabos ele a estava levando. Ninguém fez nenhuma objeção sobre ele se arriscar. Os homens da KGI trocaram olhares inquietos, porque eles estavam bem e verdadeiramente fodidos. Se eles insistissem em não correr risco com Skylar, enviariam uma mensagem errada. Que ela não era um igual quando ela era em


todos os sentidos possíveis. Que eles não confiavam que ela fosse capaz de cuidar de si mesma e fazer o seu trabalho. —Apenas me escutem antes de entregar o decreto da cúpula—, disse Skylar com sarcasmo. —Honor é pequena. Somos quase exatamente a mesma altura. Ela é mais magra do que eu, mas ela passou pelo inferno de modo que é de se esperar. Mas nós duas somos loiras e eu não preciso estar perto e em pessoa para que eles consigam uma visão detalhada. Eles só precisam ver o que eles acham que é Honor, amarrada como um peru de Ação de Graças para ser entregue a NE. —Vou me machucar. Não literalmente, —ela acrescentou apressadamente quando cada expressão no avião se escureceu com raiva. — Maquiagem é uma ferramenta útil. Nós faremos que eu me pareça como ela estava, quando a encontramos. E eu vou fingir inconsciência, o que seria de se esperar, uma vez que eles parecem ter uma predileção por mulheres drogadas —, acrescentou ela em desgosto. —O ponto é, eu me parecer com Honor quando chegarmos. O resto depende de nós, as equipes de Resnick e quem diabos outra coisa Tio Sam decidir enviar. Você sabe que é um plano muito bom e se vocês deixassem de lado seus egos viris do século XIII por dois segundos, vocês reconheceriam que é a única maneira de alcançar o nosso objetivo. —Bem foda-se, — Garrett murmurou. Edge não parecia mais feliz do que ele estava no início, mas ele apertou os lábios, obviamente, recusando-se a dar voz à torrente de acusações que ele queria lançar. —Ela está certa—, disse Sam calmamente. —Porra, eu não tenho que gostar — Eu não gosto. Eu odeio isso, mas ela está certa. Mas eu a quero coberta em todos os momentos. P.J. estendeu a mão e apertou a mão de Skylar. —Obrigada. Eu não tinha a intenção que você fizesse. Eu não estava preparando-a para ser a isca. Eu teria feito isso, pintaria meu cabelo, o que fosse necessário. Mas… Ela parecia envergonhada e vulnerável, o suficiente para Cole deslizar sua mão ao redor de sua nuca e apertar suavemente em conforto e apoio.


—Eu não tenho certeza que eu poderia fazer isso —, P.J. admitiu. —Eu não sei se eu poderia confiar em mim mesma para não perder o bom senso, e me envergonhar, especialmente desde que eu estou aliviada que você estará fazendo isso e não eu. Isso me faz uma covarde —, acrescentou ela em desgosto, emoção brilhando e iluminando os olhos que eram geralmente ilegíveis. Hancock estava farto que esta mulher corajosa, intimidando a si mesma quando ela era uma das mulheres mais ferozes que ele já tinha conhecido. Ele andou até ela, ignorando o fato de que Cole imediatamente se irritou e tentou manobrar P.J. atrás dele. Hancock parou na frente da P.J. e ajoelhou-se então ele estava no nível dos olhos com ela. —Nunca se atreva a chamar-se de covarde—, disse ele, permitindo que cada pedaço do seu tom chateado fosse ouvido. —Você tem o coração de um guerreiro e você é uma das mais bravas pessoas — é isso mesmo, pessoa, não a mulher — que eu já conheci. Eu não tenho nenhuma dúvida de que você pode derrubar cada um dos membros da sua equipe em uma briga e eles sabem disso. Nós todos sabemos disso. O que você fez, o que você passou foi o ato mais altruísta que eu já presenciei. Até Honor… Ele parou quando a tristeza encheu sua voz. Cole pareceu atordoado com a defesa apaixonada de Hancock a P.J. Respeito brilhou em seus olhos quando ele e Hancock trocaram um olhar de compreensão. O resto da KGI não parecia menos atônito. Exceto Rio, que parecia que ele não esperava nada menos. Hancock se recompôs, porque ele não tinha terminado. Ele abruptamente se levantou e, em seguida, foi para onde Skylar sentava-se, e como ele fez com P.J., ajoelhou-se e tomou as duas mãos na sua, certificando-se de seu toque era gentil e não contundente por causa da raiva fervilhante impressa em seus ossos. —Obrigado—, disse ele em voz baixa. —Por arriscar-se por uma mulher que você não conhece e por um homem desonroso que causou muitos problemas para todos vocês no passado. Eu não mereço a ajuda que você está oferecendo incondicionalmente, mas vocês têm a minha profunda gratidão — e sabem disso.


Ele fez uma pausa e fixou-a com o olhar, encarou até que ele tivesse certeza que ela estava olhando diretamente para ele, o vendo. O coração dele. —Se em qualquer momento você precisar de ajuda. Se você precisar de alguma coisa, você só tem que entrar em contato comigo. Eu irei. Não importa o que. Eu nunca posso esperar pagar minha dívida com todos vocês, mas eu só posso tentar. Skylar surpreendeu ao inclinar-se para frente e envolvendo os braços ao redor dele, abraçando-o com cuidado, garantindo que ela não lhe causasse mais dor. Ele estava duro, pego totalmente desprevenido e sem saber ao certo o que ele deveria fazer. Ninguém o abraçava. Exceto Honor. E sua irmã. —Vai dar tudo certo, Hancock, — Skylar sussurrou perto de seu ouvido. —Nem tudo está perdido. Você desistiu e você não pode fazer isso. Ela vale a pena lutar? Se assim for, então lute. Você me ouve? Você luta, Guy Hancock. Ele a abraçou de volta e apoiou o queixo no alto da cabeça. —Você é uma mulher muito especial, Skylar —, disse ele, o cansaço na voz. —Vá para a Honor, Hancock, — Donovan disse calmamente. —Sua cabeça não está no jogo agora. Você precisa tranquilizar-se que ela está bem. Vamos mantê-lo informado. Nós não o colocaremos no banco, embora Deus saiba que você não está em condições de fazer qualquer coisa, senão estar deitado em uma cama de hospital, mas se fosse Eve ou qualquer uma de nossas esposas, nós não iríamos ficar de fora, mesmo se estivéssemos as portas da morte. Você tem a minha palavra, você vai saber tudo. —A última coisa que ela precisa é acordar e me ver, — Hancock disse friamente. —Eu não vou machucá-la mais do que eu já fiz. —Ela está fora—, disse Conrad. —Ela não vai acordar tão cedo. Pare de se torturar. Você e eu sabemos que isso não foi culpa sua. —O inferno que não foi, — Hancock disse em um tom selvagem que fez os outros recuarem com a dor crua na voz dele. Conrad estava errado e Hancock sabia disso. Era culpa dele. Ele tinha a traído e ele tinha falhado com ela e era imperdoável. Mas ele confiou em Conrad e em sua palavra de que ele tinha sedado Honor, e que ela não iria acordar até


que ela estivesse em um lugar seguro, e ele precisava vê-la. Tocá-la, mesmo que ele não merecia isso. Mas ele tinha que saber o quão mal Maksimov a tinha machucado. Ele assentiu e, em seguida, deslizou silenciosamente para o minúsculo quarto onde Honor estava encolhida na cama. Mesmo inconsciente, ela estava em uma bola de proteção, enrolada em si mesma, tão vulnerável, vê-la foi uma dor tangível em seu peito. Ele a amava. Porra, ele a adorava. Ele nunca amou ninguém, exceto sua família adotiva, Eddie e Caroline Sinclair, os pais que nunca teve. E seus irmãos, Raid e Ryker, e sua preciosa irmã caçula, a quem ele também ia decepcionar. Parecia que ele estava sempre machucando as pessoas que mais importavam para ele. Como ele poderia olhar Big Eddie Sinclair no rosto de novo depois de tudo que ele tinha feito? Antes, ele sempre soube que suas ações eram um mal necessário. Mas Honor era algo que ele estava completamente despreparado. Ela passou por suas barreiras erguidas com cuidado e de alguma forma ela se tornou sua vida, parte de sua respiração. Sua outra metade. Agora ele entendia o que levava os Kellys a proteção absoluta de suas mulheres, suas esposas. Porque ele sentia o mesmo. Mas os Kellys não tinham feito para as suas mulheres o que Hancock tinha feito a Honor, o que ele tinha planejado fazer no início, sem arrependimento ou remorso. Agora, aquelas eram duas emoções que ele sentiria profundamente para o resto de sua vida. Ele deslizou em cima da cama, movendo-se centímetro por centímetro mais perto dela para que ele pudesse sentir o cheiro dela, sentir seu calor, tocála. Parecia uma eternidade desde que ele finalmente a teve aninhada em seus braços, e, em seguida, ele finalmente se permitiu relaxar. Ele enterrou o rosto em seu cabelo emaranhado, sem se importar com o cheiro de sujeira e sangue. E então ele chorou. Ele chorou por tudo que ele lhe tinha sido dado e para o que ele tinha tão insensivelmente descartado e traído. O que agora estava perdido para sempre.


Honor o mudou. Ela mudou-o em um nível fundamental e embora ela agora o odiasse, ele viveria o tipo de vida daqui para frente que ela queria para ele. Ele queria ser o homem que ela pensou que ele fosse. A única pessoa que nunca tinha visto além da escuridão que estava sempre presente em sua alma. Ele tinha terminado com Titan. Terminado com a luta para o bem maior. Ele seria um homem que nem sequer olharia para si mesmo no espelho, porque ele já não reconheceria o homem olhando para ele. Ela tinha-lhe dado o presente de si mesma, a melhor parte dele, e ele tinha jogado fora. Tudo pelo bem maior.


CAPÍTULO 38 HANCOCK enrijeceu, chegando a consciência instantânea quando sentiu Honor se agitar contra ele. Caramba! Ele afastou-se, necessitando de sono e recuperação, mas ele não tinha a intenção de ficar tanto tempo. E supostamente ela não ia recuperar a consciência até que ela fosse devolvida à sua família. Ele nem sequer tinha outra seringa para que ele pudesse rapidamente injetar mais sedativos, para que ele continuasse inconsciente. Ele olhou ansiosamente para ela, esperando que ela estivesse apenas inquieta e sucumbisse mais uma vez para as drogas em seu sistema. Mas ele não foi tão afortunado. Suas pálpebras dela vibraram lentamente e, em seguida, ela o viu. Ele ficou tenso, à espera de sua condenação, seu ódio, se preparando para tudo o que ele merecia. Mas ela simplesmente olhou para ele com olhos cansados e sem vida e sem reação. Nada. Medo deslizou por sua espinha, porque ela simplesmente não estava lá. —Eu deveria saber—, disse ela em um tom monótono. —Que você seria o único a me levar para a NE, e não Maksimov. Irônico, não é? Você 'me salvar' da NE e você é o único que me entrega a eles. Círculo completo. Sem nada mais a dizer, virou-se, lutando, emitindo suspiros de dor causados por seu movimento, quando ela se afastou dele e se enrolou mais uma vez em uma bola de proteção, fechando-o, recuando em si mesma em um lugar onde ela não poderia se machucar mais. Seu tormento estava rasgando-o com suas garras cruéis. Ele sentia cada palavra de sua alma maculada. Ele ansiava por abraçá-la. Consolá-la. Dizer a ela tudo o que estava em seu coração. Mas ela não iria acreditar nele. Ela nunca acreditaria nele. Como tudo que era precioso que ele tinha perdido, tinha perdido a confiança dela também. Ele quase colocou a mão no ombro dela, recuando no último segundo, porque ele não queria lhe causar mais dor e ele ainda tinha que determinar a extensão de seus ferimentos.


—O que aquele bastardo fez com você? — Ele perguntou, mal capaz de reter o rugido de fúria que ameaçava entrar em erupção. Um pequeno ombro levantado em um encolher de ombros. —Isso importa? —Sim, porra importa! O que ele fez, Honor? Ela endureceu e ele podia sentir a sua dor que irradiava de seu corpo firmemente enrolado, e isso o fez querer chorar como um bebê. —Você deve saber, Hancock—, disse ela, seu tom cansado, como se suas barreiras estivessem deslizando, como se os escudos que tinha construído e a realidade alternativa que tinha criado a fim de sobreviver estivessem lentamente se desintegrando. —Você me disse o que Maksimov faria. Assim como você me disse o que a NE fará. Você quer todos os detalhes? Será que você ficará feliz em saber que eu sofri? Você está preocupado que eles não fizeram todas as coisas que você disse que fariam? Ele não conseguia respirar. Seu coração pesava uma tonelada em seu peito. O medo que ele nunca tinha conhecido o paralisou e ele não podia falar. Não conseguia pensar. Não poderia ter dito tudo o que ele disse a ela que Maksimov e a NE fariam. Coisas que ele jurou a ela que ele não permitiria que acontecessem, porque ele estava interrompendo a missão. E ela pensava que tudo tinha sido uma mentira. —O que ele fez? — Perguntou com voz rouca Hancock, sua voz grossa com lágrimas e muita emoção que tomou conta dele, consumiram-no, tornavao incapaz do mais simples dos processos. —Nada pior do que foi feito antes—, disse ela, como se isso não importasse. —Ele não me machucou, Hancock. Você fez isso. Você me destruiu. E eu acho que, de certa forma, eu tenho que agradecer a você. Porque você me machucou de uma forma que ninguém nunca me machucou, e as coisas que Maksimov fez, empalideceu em comparação. Isso doeu. Eu sei que fez. Quero dizer que tinha que ser, certo? Mas eu não senti. Porque os mortos não sentem. E eu morri no dia que você me traiu. Então o que NE me reserva, será bem-vindo. Porque não importa. Nada importa mais. E como com Maksimov, eu posso, pelo menos, privá-los do prazer de me ouvir gritar. De me ouvir


implorar. Porque isso nunca vai acontecer. Eles vão deliciar em me quebrar, mas como eu disse a Maksimov quando ele presunçosamente me informou que ele iria me quebrar, você não pode quebrar o que já está quebrado. O coração de Hancock quebrou em fragmentos minúsculos e afiados, causando ferimentos permanentes que ele nunca ia se recuperar. Ele estava sangrando no interior. E isso nunca iria parar. Lágrimas riscavam suas bochechas, sofrimento consumindo-o até que não havia simplesmente mais nada. Assim como Honor tinha dito não havia mais nada dela. Quebrado. Ele tinha a quebrado, quando nada mais tinha sido capaz de fazer. Ele destruiu este presente precioso. —Eu sei que você não se importa com o que eu quero—, disse ela com a voz cansada. —Mas eu estou ferida, Hancock, e eu sei que eu não tenho muito tempo até que o fim comece. Você pode pelo menos me deixar em paz? Você vai me conceder pelo menos isso? Veja, falar com você destruiu o vazio que eu trabalhei tão duro para construir. Um lugar onde nada e ninguém pode me machucar, me tocar. Onde eu não sinto nenhuma dor. Eu… não sinto nada. E eu preciso disso. Você conseguiu o que queria. Você, por favor só me deixe em paz para que eu possa tentar me preparar para o que está por vir? Hancock rolou para o lado, sem se atrever a olhar para ela, sabendo que iria matá-lo. Ela estava sofrendo. Não importa que ela tinha dito que Maksimov não a machucou, ela não quis dizer isso da maneira que ele tinha. Ela só queria dizer que Maksimov não tinha sido capaz de quebrá-la porque Hancock já tinha feito isso. Ele entrou na sala de estar, e ele sabia tudo o que sentia deve ser refletido em seus olhos, seu rosto, porque os outros visivelmente recuaram de todo o horror que viam nele. Ele concentrou sua atenção em Maren e tentou ficar calmo e composto quando ele estava morrendo por dentro. Sangrando pelos dos milhares de cortes causados por seu coração despedaçado. —Ela está sofrendo. Eu não sei o que ele fez com ela, e ela me odeia. Mas ela está sofrendo e eu preciso que você a inspecione. Ela precisa de


remédios contra a dor, e Maren, eu a quero sedada. Ela está… quebrada. Eu a quebrei —, ele engasgou. —Eu fiz. Não foi Maksimov. Eu. Cada segundo que ela está consciente, ela está sofrendo, morta em seu interior. Por favor, dê-lhe paz. Por mim. Por favor. O rosto de Maren mostrou tristeza e ela, como Skylar tinha feito, colocou os braços ao redor dele e abraçou-o suavemente. Podia sentir a umidade de suas lágrimas molhar sua camisa. Por ele. Deus. Ele gentilmente puxou-a para longe e, em seguida, olhou para ela com olhos mortos. —Não me defenda, Maren. Não tente explicar nada para ela. Se ela pensar que você não seja alguém que eu pago para conseguir a limpar antes que ela seja entregue à NE, ela não vai confiar em você e ela vai recusar o tratamento, a medicação para a dor e, especialmente, a sedação. Por favor, apenas deixe-a o mais confortável possível e tente descobrir o que aquele bastardo fez com ela. Eu tenho que saber. Porra, eu tenho que saber porque será meu pecado para suportar para a eternidade. —Mas… —Por favor. Por ela, Maren. Faça essa bondade por ela. Eu não mereço qualquer coisa, mas ela faz. Faça-a pensar que você me odeia. Que eu te sequestrei e a forcei a cuidar de seus ferimentos. Faça o que for preciso para convencê-la de que você de nenhuma maneira simpatiza comigo ou ela não vai cooperar. Maren suspirou, mas, em seguida, acenou com a cabeça, indo recolher a maleta médica. Ela lançou um último olhar triste na direção de Hancock antes de desaparecer no quarto. Hancock voltou-se para Resnick. —Eu não tenho o direito de pedir-lhe qualquer coisa, mas eu quero sua melhor equipe para proteger Honor no esconderijo. Diga a ela que os militares dos EUA me interceptaram — ela acredita que eu sou o único entregando-a a NE — e a resgataram e que ela está segura e em solo americano, mas até Maksimov, NE e… EU… sermos derrubados, não é seguro que ela esteja com sua família. Não é seguro para a sua família saber que ela está viva. Explique o perigo para ela e para a sua


família e que a família dela também será guardada e protegida, e que quando o perigo não existir mais, a sua equipe vai levá-la para sua família. —Considere feito —, disse Resnick sem hesitação. —E apenas para o registro, Hancock. Você não é o bastardo sem coração que você quer que o mundo acredite. Lembre-se, eu não apreciei ser baleado, mas agora eu sei as razões e foi uma missão justa. —Você está errado, — Hancock disse friamente. —Eu sou exatamente isso e muito pior.


CAPÍTULO 39 TODOS os olhos voaram para a porta do quarto de uma hora mais tarde, quando Maren colocou a cabeça para fora. O estômago de Hancock foi ao fundo do poço, porque Maren parecia que estava à beira da ruptura. Steele atravessou o espaço antes que Hancock pudesse perguntar sobre Honor. —Venha para dentro comigo, por favor, Jackson? — Maren perguntou com uma voz chorosa. Ela era a única pessoa que o chamava pelo seu primeiro nome, e soava estranho, quando Steele22 se encaixava com perfeição com sua personalidade. Hancock quis protestar, mas Maren ergueu a mão. —Ela está descansando pacificamente. Ela não estará ciente da presença de Jackson. Eu... Eu preciso dele por um momento. Steele a esmagou contra, envolvendo sua esposa em seus braços, empurrando-os para dentro do quarto e fechando a porta atrás deles. Maren começou a chorar, escondendo o rosto no peito largo do marido. —Não chore, baby—, disse Steele com uma voz desesperada. Era um fato bem conhecido que o choro de sua esposa o deixava de joelhos e o fazia tão indefeso como um bebê recém-nascido. —Ela está sofrendo tanto, Jackson —, ela engasgou. —Ambos estão. Hancock estava certo. Ela está abalada. Ela não está lá. Nenhuma luta restou nela. Ela quer morrer. Steele segurou-a, acariciando-a, sua mão subindo e descendo em suas costas, oferecendo-lhe conforto que ele sabia que ela não iria encontrar. Ela era boa com o próximo. Compassiva e doce. Luz e sol. Todas as coisas que ele não era, mas vivenciou por causa ela. Com ela. Deus, o que era a sua vida antes dela?

22

Aqui refere-se a Steele, ser aço em Inglês, ele é um verdadeiro homem de aço.


Ele olhou por cima da cabeça de sua esposa para onde Honor estava enrolada em uma bola protetora sobre a cama, e ele fez uma careta. Ela parecia terrível. —O que aquele bastardo fez com ela? — Perguntou Steele, sua voz perigosamente baixa, raiva rolando dele em ondas. —Ele a torturou. Ele usou um marcador de gado com frequência. Ela tem marcas por todo o corpo. Ela está machucada. Ela foi espancada. Mas Jackson, isto não é o pior. Ela vai se recuperar de seus ferimentos. Mas ela está quebrada. Ela simplesmente desistiu. Ela não se importa. Ela não odeia. Ela não ama. Ela não está com raiva. Ela é incapaz de sentir qualquer coisa. Ela é uma concha vazia, já morta, exceto que o seu coração ainda bate. Mas em todos os sentidos que contam, ela já se foi. —Ela não tem medo de ser entregue à NE. Ela aceita. Ela apenas recebe. Deus! Ela simplesmente não sente nada. Eu não sei se ela vai sobreviver a isso. Ela tentou se matar quando Bristow tentou estuprá-la. Ambos os pulsos estão suturados e os cortes são profundos. Quando ela perceber que ela não será entregue à NE, temo que ela simplesmente termine o trabalho e acabe com sua vida física, porque a sua alma já está morta. —Filho da puta —, Steele disse, esfregando seu peito na dor súbita que se apoderou dele. —Essa mulher foi ao inferno e voltou. Ela sobreviveu em face de probabilidades impossíveis. Ela lutou. Ela nunca desistiu. Mas ela obviamente ama Hancock, e sua percepção de sua traição foi capaz de fazer o que nada mais poderia. Derrotá-la. Maren levantou seu olhar lacrimoso para Steele. —E como eu posso andar até lá e dizer Hancock tudo o que eu acabei de te dizer? Você o viu? Está tão morto como ela, tão devastado quanto ela está, ele está tão morto por dentro quanto ela. Ele não vai sobreviver a isto mais do que ela o fará. Steele segurou seu queixo suavemente na mão e deu um beijo em seus lábios. —Você não fará. —Ele não vai aceitar isso—, disse ela. —Ele vai se perder. Ele já está se torturando com o que Maksimov fez com ela. Sabendo que não o matar.


—Só lhe diga o básico. Diga-lhe sobre seus ferimentos. Mas tudo o que você acabou de me dizer, não diga a ele. Não vai adiantar nada, e, de fato, poderia comprometer a nossa missão de uma forma ampla. Porque ele vai se perder completamente, se você contar a ele tudo o que você me disse. Será impossível controla-lo. Uma responsabilidade. Seu único objetivo será o de acabar com o homem que a machucou e os homens que querem machucá-la. Ele não se importará se ele morrer. Como você disse, ele já está morto. Mas ele poderia conseguir nos colocar em um inferno e nos matar. Precisamos dele tão calmo e tão focado quanto possível, então lhe diga apenas o que você precisa dizer a ele e nada mais. Eu não vou perder um único membro da KGI porque Hancock perdeu seu aperto tênue sobre sua sanidade e colocar toda a nossa missão em risco. Ela suspirou, apoiando-se nele. Ele passou os braços em torno dela e simplesmente segurou-a, sabendo que era o que ela mais precisava no momento. —Você está certo, é claro —, disse ela. —Mas Deus, Jackson. Me dói ver aquela moça tão derrotada e aceitando seu destino. Eu quero chorar tanto por ela. Ele sorriu. —Querida, você está chorando. Você chorou em cima de mim. Ela fugou. —Você não deveria perceber isso. Ele pegou sua mão e apertou. —Vamos dar Hancock um relatório antes que ele destrua o avião. —Eu te amo —, ela disse em uma voz dolorida. —Eu acho que parte da razão pela qual eu estou tão devastada por Honor é que poderia ter sido eu. Steele a abraçou, tremores correndo através de seu corpo. A lembrança do quão perto ele chegou de a perder, a nunca o abandonava. Não havia um dia em que não pensava sobre isso, que ele não se lembrava dos momentos em que ele pensou que ele a tinha perdido. Porque, Deus, tinha havido mais de um. —Eu também te amo —, disse ele com a voz rouca. —Você e Olivia são minha vida. —E me dói ver Hancock desta forma —, ela disse em uma voz triste. — Ele é um bom homem. Ele não é o homem todo mundo acha que ele fosse. Ele não é o homem que ele acredita ser, o homem que ele se convenceu de que ele


é. Ele cuidou de mim o tempo todo eu estava em cativeiro. Ele me protegeu e ele foi gentil e carinhoso. Ele me ofereceu tranquilidade e conforto, quando ele sabia que eu mais precisava. Nem uma única vez ele me ameaçou, e ele desistiu de sua missão para me salvar. E então ele me salvou de novo. Ele estava disposto a morrer por mim. Ele não merece isso, Jackson. Nenhum deles merecem. Ele passou a mão pelos cabelos, sabendo muito bem que tinha com Hancock uma dívida que ele nunca poderia esperar pagar. Por causa de Hancock, ele tinha Maren e sua preciosa menina. Não, Hancock não merecia a dor de perder a mulher que amava e esperava como o inferno que de alguma forma, de alguma maneira, as coisas se consertassem e as duas pessoas que estavam morrendo mortes lentas poderiam de alguma forma encontrar o seu caminho de volta um para o outro para que eles pudessem ser inteiros novamente.


CAPÍTULO 40 QUANDO o avião pousou na pista onde as equipes se separaram, uma levou Honor para a casa segura e ficando encarregada de protegê-la e os outros se encontraram para planejar a missão para derrubar Maksimov e a NE, Hancock insistiu em carregar Honor ao jato ela e a equipe de Resnick voariam. Ele pediu alguns momentos a sós antes que os outros embarcassem, e concederam seu pedido. O clima era grave, e tristeza permeava todo o grupo. Reverentemente, Hancock colocou Honor no sofá, garantindo que ela estivesse tão confortável quanto ele podia deixa-la. Suas mãos vagaram sobre a carne rasgada em seus pulsos. No topo das suturas de quando ela cortou os próprios pulsos, a pele foi arrancada e estava crua pois as algemas tinham cavado tão profundamente em sua carne delicada. Ele espalmou a testa dela, acariciando com seus dedos através de seu cabelo embaraçado, e ele simplesmente a contemplou antes de se inclinar para pressionar um beijo em seus lábios. Ele inalou, saboreando seu cheiro, seu gosto, imprimindo-o em seu coração para sempre. Tristeza se abateu sobre ele, tão pesada que ele não podia se mover. Onde quer que fosse em sua vida sem sentido, ele iria para sempre levar um pedaço dela com ele. Aquele pedaço sendo o melhor, a única boa parte dele. —Eu sinto muito, Honor—, ele sussurrou. —Eu te amo. Eu sempre vou te amar. Só você. Nunca haverá outra. Eu te amo tanto. Como eu te amo. Eu estou tão arrependido por não ser o homem que você precisa. Que eu não posso ser um bom homem para você. Eu espero que você encontre a felicidade. Que eu não tenha destruído para sempre algo tão precioso. O mundo precisa de mais pessoas como você, Honor. Ele precisa da sua bondade, seu espírito, chama e coragem. E sua compaixão. Todas as coisas que me faltam, mas apenas por pouco tempo eu consegui experimentar essas coisas através de você. Seja feliz, meu amor. E viva. Viva. Sabia que se ele não fosse embora agora, ele nunca seria capaz de ir, ele relutantemente levantou-se, permitindo que seus dedos ficassem ainda em seus


cabelos, arrastando para baixo até o fim de as tranças até que finalmente eles se afastaram. Ele sentiu a perda tão profundamente como se ela tivesse morrido. Ele nunca ia tocá-la novamente. Nunca a beijaria, ia abraçá-la, ser envolvido por sua doçura, nem veria o seu sorriso radiante que rivalizava com um nascer do sol. Fechando os olhos, ele se virou e caminhou para frente e depois desceu as escadas para a pista pavimentada. Ele sabia o que parecia. Por que os outros se recusavam a olhar para ele. Porque o que eles veriam era algo aterrorizante. Muito terrível de se olhar. Ele nunca se olharia no espelho novamente, porque sem Honor, ele sabia que ele só veria um monstro desalmado que tinha roubado todas as coisas de um inocente. —Vamos —, disse ele em uma voz que não reconheceu.


CAPÍTULO 41 HONOR começou a lenta subida à consciência, sinalizando que ela estava mais uma vez descartando os efeitos do sedativo. Ela tinha sido tão inflexível no início sobre não tomar, não querendo nada que a prejudicasse. Ela precisava de reflexos rápidos e um pensamento claro. Agora? Era um alívio bem-vindo e realmente não era tão diferente de seu estado drogado, por isso ela não poderia realmente cuidar de si mesma. Ela abriu os olhos e descobriu que ela não estava em um avião mais. Ela estava em um quarto. Um quarto bem mobiliado com uma cama muito confortável. Uma risada histérica começou em sua garganta, mas ela a sufocou. Ele lembrou de quando tinha despertado na casa de Bristow, pensando que ela estava a salvo, resgatada. Ela nunca faria o mesmo erro novamente. Nunca seria tão confiante e ingênua. Um som a fez lentamente virar a cabeça em sua direção, o desinteresse refletido em seus movimentos. Um homem alto e musculoso em um uniforme militar estava próximo a porta. Quando ele viu que ela estava acordada, ele deu alguns passos em frente, mas manteve uma distância entre ele e a cama. Como se temesse assustá-la? Ela teve que morder o lábio para evitar a risada histérica borbulhar em sua garganta. Ela estava além do medo. Agora ela simplesmente aceitava seu destino. —Senhorita Cambridge, sou Kyle Phillips do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Nós interceptamos uma tentativa de troca entre um traficante de armas russo e uma organização terrorista, e vimos que você estava como prisioneira, tomamos as medidas necessárias para resgatá-la e trazê-la de volta para os EUA. Ela simplesmente piscou. Ele esperava que ela acreditasse nessa besteira? Além disso, por que se preocupar em mentir? Aparentemente monstros gostavam de jogar jogos psicológicos. Hancock era certamente um mestre nisso.


—Até que a organização terrorista seja desmontada e Maksimov seja eliminado, você estará sob constante vigilância e proteção em turnos. Você não é uma prisioneira. Você é livre para ir a qualquer lugar nesta casa que você desejar. Nós também acreditamos que haja uma ameaça à sua família, por isso até que a ameaça seja eliminada, arranjamos proteção para eles também. Mas é imperativo que não saibam que está viva até depois... —Sim, sim —, Honor murmurou. —Até que depois que todos os bandidos sejam mortos. Aqui vai uma dica. Eles nunca serão mortos. Eles nunca estiveram vivos. Você não pode matar alguém que não tem uma alma. O homem, Kyle, como ele tinha se apresentando, franziu a testa e estudou, algo semelhante a preocupação refletida em seus olhos. —Assim que eu receber o sinal verde, eu vou levá-la para se reunir com sua família pessoalmente. Você tem minha palavra. —As palavras são insignificantes —, disse ela amargamente. Ela virou-se, bloqueando-o para fora, surpreso que ela sequer se preocupou em dizer qualquer coisa. Por um momento ela realmente sentiu… raiva. Algo diferente do tédio que tinha preenchido toda sua mente. E ela não gostou. De modo nenhum. Uma rachadura tinha se formado na sua barreira, em sua dura batalha contra a emoção. Uma fortaleza impenetrável em torno dela para que ela não sentisse… nada. Ou então ela pensava. Será que agora ia se desintegrar quando ela mais precisava? Pena que alguém não tivesse apanhado uma seringa e injetado um sedativo. Então ela poderia se afastar novamente. Para o nada. Em vez disso, ela fechou os olhos e começou a ressuscitar mentalmente as paredes que ela tinha tão meticulosamente construído durante seu cativeiro, abraçando a sensação do negro vazio. •••

—Porra, QUANDO eu posso levá-la para casa? — Kyle Phillips disparou para Sam Kelly.


—Assim que a porra toda explodir Maksimov e a NE e os levarem todos para o inferno —, Sam retrucou. —Ela está definhando —, disse Kyle com a frustração pronunciada. Houve uma breve pausa. —O que você quer dizer? Você disse a ela que foi resgatada e que ela e sua família está sendo protegida e que, logo que Maksimov e a NE forem eliminados ela irá para casa, certo? Kyle fez um som de impaciência. —Seja honesto com Deus, você acha que uma mulher que tem estado na merda e que mentiram em a cada passo, vai simplesmente aceitar que em um minuto ela está em um avião com um homem que ela acredita que está entregando-a a um grupo terrorista e, em seguida, ela acorda e fica sabendo que os Fuzileiros entraram e a salvaram, mas oh, a propósito, você não pode ir para casa ainda, mas você vai. Eventualmente. —Descreva “definhando’, — Sam latiu. —Você acha que eu estou mentindo —, disse Kyle, chateado agora. — Ela não vai comer. Ela não quer beber. Porra, eu tive que ter um dos meus homens a segurando para que eu pudesse inserir uma IV para que eu pudesse, pelo menos, mantê-la hidratada. Sim, isso foi divertido. Aterrorizar e intimidar uma mulher que já foi ao inferno e voltou, está lá em cima no topo da minha lista de funções. O inferno de uma maneira de servir seu país, não é? Ela não fala. Ela não responde. As luzes estão acesas, mas ninguém está em casa, e isso não é uma figura de linguagem. Ela vai morrer, Sam. Se algo não mudar e mudar em breve, ela vai morrer. E o pior de tudo é, ela está esperando por isso. Ela quer. Você tem que se importar o suficiente para lutar para viver, e ela não dá a mínima para o que acontece com ela. Sam soltou palavrões que teriam sangrado os ouvidos de qualquer um. Para Kyle, era apenas mais um dia no campo. —A hora é amanhã—, disse Sam, e Kyle sabia que ele não deveria terlhe dito isso. —Você faz tudo o que tem que fazer, mas você a mantenha viva até amanhã, e então eu vou chamar e você levá-la de volta para sua família. Ela não vai acreditar em qualquer coisa até que ela a veja. —Agora você descobriu isso,— Kyle murmurou.


••• HANCOCK se deteve sobre o corpo ensanguentado de Maksimov com tanto ódio que os olhos do homem estavam cheios de terror e resignação também. Nenhum sangue foi cortesia de Hancock. Quando o ataque foi lançado, Maksimov tinha empurrado vários de seus homens na frente dele, usando-os como escudos. O resultado foi Maksimov usando o sangue de cinco homens de quem ele tinha escondido atrás como o covarde que ele era. Resnick e a KGI foram fiéis à sua palavra, e Maksimov havia sido deixado somente para Hancock. Mesmo agora Resnick foi em uma missão com a equipe militar atrás dos terroristas que tinham sobrevivido e fazendo uma contagem de corpos daqueles que não tinham. Ninguém além de Resnick, a KGI e Hancock jamais saberiam como Maksimov encontrou seu fim. Hancock queria levar Maksimov para longe e fazer sua morte longa e dolorosa, impiedosa. Torturá-lo como ele tinha torturado Honor. As marcas de queimaduras em seu corpo, a pele mutilada e retalhada em seus pulsos por causa das algemas que foram erguidas, porque estas imagens vivas estavam tão profundamente enraizadas em sua memória, e ele queria retribuir a Maksimov em espécie. Era o que Hancock teria feito anos atrás, o inferno, mesmo um mês atrás. Mas isso foi antes de Honor. Antes dele realmente ter visto e experimentado a bondade. Ele queria que Maksimov sofresse como nenhum homem jamais tinha sofrido. Ele queria devolver para Maksimov tudo o que ele tinha feito para Honor dez vezes mais. Mas que o fez não foi melhor, não era diferente do que o monstro que tinha brutalizado Honor e inúmeros outros. Ele não queria ser mais aquele homem. Ele queria ser um homem que Honor teria motivo de orgulho. Ele queria ser digno dela. Ele queria ser como ela. —Você não merece nenhuma misericórdia para o que você tem feito —, disse Hancock em uma voz que fervilhava de raiva e tristeza. —Mas eu sou melhor que você. E eu não vou me rebaixar a seus padrões. Eu não irei me tornar igual a você.


Ele virou-se, poupando apenas um rápido olhar para os homens que montavam guarda. Que tinham salvado Honor. Que até agora estavam dispostos a virar as costas para o que ele queria fazer para Maksimov e jurar ignorância de seu destino. Bons homens a quem ele teria arrastado para o inferno com ele se tivesse realizado sua vingança. —Entregue-o a Resnick. Eu não tenho nenhum uso para este patético pedaço de merda, —Hancock cuspiu, ignorando os olhares de surpresa e… respeito. Ele passou por eles e continuou andando apenas querendo estar longe deste lugar e das memórias que escavavam insidiosamente em sua mente. Fechando os olhos para tudo o que ele ganhou e perdeu, em um curto espaço de tempo. Uma vida inteira. —Ei, espere—, disse Rio, correu após seu ex-companheiro. Hancock parou, mas tudo o que ele queria fazer era apenas ir. Ser deixado sozinho. —Quer uma carona para a casa de Honor? No momento em que chegar aos EUA, ela vai ficar na casa de sua família. Por um momento ele não podia respirar pelo estilhaçamento de dor através de seu corpo, coração, alma. —Não —, ele finalmente disse em voz baixa. Rio lançou lhe um olhar de surpresa. —Que porra é essa, cara? Você está indo embora? Hancock se voltou contra ele, suas feições selvagens quando raiva correu quente em suas veias. —Eu a traí. Eu quebrei tantas promessas que eu não posso nem contar. Eu não a mereço e ela certamente merece um inferno de alguém muito melhor do que eu. Ela me odeia, mas não mais do que eu me odeio. —Não faça isso, cara —, disse Rio, seus olhos escuros com simpatia. — Não faça algo que você vai se arrepender para o resto de sua vida. —Tarde demais, — Hancock ladrou, e ele se virou e foi embora.


CAPÍTULO 42 KYLE Phillips estava na sala de estar da casa dos pais de Honor de frente para toda a sua família. Sua mãe, pai, quatro irmãos e sua irmã. Havia tristeza gritante em seus olhos, porque ele sabia que eles assumiram o pior. A notícia vazou na noite anterior, que o grupo terrorista responsável pelo ataque contra o centro de ajuda que Honor era voluntária, tinha sido completamente exterminado por uma unidade de forças especiais dos EUA conjunta e equipes dos SEAL. A família dela estava totalmente preparada para receber a notícia da morte de sua filha, embora a notícia que era transmitida há vários dias e noites intermináveis imediatamente após o ataque, poderia agora ser confirmada oficialmente. Não houve nenhum sobrevivente, de acordo com relatos, embora o corpo de Honor nunca tinha sido encontrado. Foi por isso, que sua família havia se agarrado teimosamente à esperança. Mas agora? Eles esperavam a confirmação oficial da morte de Honor. Depois de se apresentar formalmente, Kyle pediu-lhes para sentar-se e esperou até que eles se acomodassem antes de dizer o que ele tinha vindo a dizer. Não havia nenhuma maneira fácil ou delicada para dizer o que ele tinha a dizer, e ele não era de fazer rodeios para resolver um problema. Era muito menos demorado ir direto ao ponto. —Sua filha está viva —, disse ele, seu tom sem nenhuma inflexão, quando ele notou em todos os seus rostos a mudança repentina de resignação para a esperança cautelosa. Houve um silêncio completo. Expressões atordoadas. Choque. E então pareceu se registrar o que ele estava dizendo a eles. Sua mãe começou a chorar, assim como sua irmã. Seus irmãos balançaram para a frente, rostos nas palmas das suas mãos, e seu pai ficou pálido. —O-o quê? — A voz de Mandie estremeceu quando ela olhou para o Fuzileiro em descrença. —Mas fomos informados que ela estava morta.


Disseram ao país inteiro que ela estava morta. E as notícias que falavam tudo sobre o ataque ao centro de ajuda onde ela trabalhava. Que diabos você está dizendo? —Ela sobreviveu —, disse Kyle calmamente. —Eu entendo que isso venha como um choque… Ele não conseguiu mais antes que ele fosse bombardeado com perguntas. —Onde ela está? — A mãe de Honor disse com voz rouca, com lágrimas escorrendo pelo rosto. —Ela está bem? — Perguntou o pai. —Por que ela não está aqui? Por que você está aqui e não ela? O que não está nos dizendo? Ela está machucada? —Por que diabos só fomos informados deste fato agora? — Brad perguntou com raiva, seus olhos se incendiando com alívio, mas também suspeita. Kyle ergueu as mãos para silenciar a torrente de conversa. —Eu preciso que vocês ouçam tudo o que eu tenho a lhes dizer. É muito importante e é por isso que eu cheguei antes. Ela está a caminho daqui agora. Ela não está muito longe, mas eu precisava vir à frente para… prepará-los. —Preparar-nos? — A mãe de Honor sussurrou, sua voz cheia de lágrimas, e agora temor. Percebendo a importância do que Kyle tinha a dizer, todo mundo ficou em silêncio e se inclinaram para frente, a preocupação gravada em sua característica cada. Kyle deu-lhes os detalhes —a maioria— da fuga de Honor e sua recaptura. Ele deu uma prestação de contas de tudo o que tinha acontecido. Salvo qualquer coisa relativa à Hancock. Sobre Hancock cabia a Honor revelar ou não, mas ele não tomaria essa escolha por dela. —Eu tive que forçar uma IV nela enquanto esperávamos até que fosse seguro a reunir com vocês. Ela desistiu, — Kyle disse em uma voz triste. —Ela era feroz. Admirável. Corajosa. Eu nunca conheci igual. Mas, no final, foi simplesmente demais. Muita dor e tortura e, pior, a perda definitiva de esperança o que a sustentou por tanto tempo. Ela não acredita que eu estou


dizendo a verdade, que ela é livre. Ela acredita que eu esteja insultando-a com uma “tortura psicológica” atrasando sua eventual tortura física e a morte que ela irá aceitar. Ela está quebrada, minha senhora —, ele disse à sua mãe. Com uma voz tranquila, disse-lhes o que eles já tinham decifrado por si mesmos. —Sua filha não é a mesma jovem que ela foi quando ela os deixou aqui, e eu quero que se preparem para isso. Ela retirou-se profundamente dentro de si mesma. Ela está morrendo de fome. Se recusa a comer. Eu tive que forçar a IV ou ela já teria morrido. Ela está ferida em várias áreas, de muitas maneiras. Ela vai precisar do seu amor, apoio e, acima de tudo, sua paciência. Ela precisa de cuidados médicos. Mas acima de tudo, ela precisa de uma razão para viver. —Oh meu Deus. Oh, meu Deus —, disse sua irmã, seus soluços ecoando pela sala. —Ela está viva! — Um de seus irmãos exclamou. —Ela está vindo para casa! —Nós vamos ajudá-la —, seu pai prometeu. —Tudo o que ela precisar. O que for preciso. Eu não vou ter o milagre da minha filha de volta apenas para perdê-la novamente. Eu não vou deixar isso acontecer. —Não há nada que eu não farei pelo meu bebê —, disse a mãe ferozmente. —Nada. Kyle assentiu. Sim, ele pensou. Sua família iria trazê-la de volta. Ele podia ver o amor e a resolução em seus olhos. Eles eram ferozes. Ele poderia muito bem ver onde Honor aprendeu. Mas quem iria salvar Hancock? ••• HONOR cautelosamente abriu os olhos e, em seguida, os fechou novamente, medo estremecendo através de sua mente fraturada. Esperança –algo que lhe tinha sido negado uma e outra vez até que ela se recusou a permitir-se sentir – insidiosamente rastejou através de suas veias, acelerando seu pulso até que ela estava quase sem fôlego. Ela balançou a cabeça. Não. De novo não. Nunca mais. Tinham lhe dado


esperança em uma última vez e ela havia se destruído completamente. Algumas lições eram aprendidas da maneira mais difícil. Quando o SUV virou na Oakwood Street, ela perdeu todo e qualquer de controle que ela tinha cuidadosamente construído e começou a chorar. Suas mãos voaram para seu rosto, cobrindo os soluços guturais que rasgavam de sua garganta. Ela balançou para frente e para trás à medida que se aproximava mais e mais de… casa. —Pare! — Gritou. —Oh Deus, por favor, pare! O motorista imediatamente pisou no freio e Honor se curvou, colocando sua cabeça entre os joelhos enquanto ela lutava para respirar, pânico arranhando suas entranhas. Kyle Phillips, que havia retornado a seu ponto de “espera” e deslizou no o banco ao lado dela, dando ao motorista ordem de ir, colocou a mão nas costas de Honor e esfregou cima e para baixo e, em seguida, em movimentos circulares suaves. —Honor? Você está passar mal? Você está bem? Venha, querida, você tem que respirar para mim. —Eu não posso ir lá—, ela chorou. Ela ergueu o olhar encharcado de lágrimas para surpresa de Kyle. —Eu não entendo —, disse ele, claramente perplexo com a reação dela. —Eles sabem que você está chegando, Honor. É por isso que eu te fiz chegar depois. Eu queria prepará-los. Eu não queria que eles saltassem em cima de você. —Eles não podem me ver dessa maneira —, ela gritou. —Olhe para mim! — Ela fez um movimento de varredura de seu corpo magro, as feridas ainda cicatrizando, as marcas de queimadura desbotando e os cortes ainda muito vivos em seus pulsos, parecida com aqueles em seus tornozelos, mas, pelo menos, aqueles estavam ocultos. —Isso vai matá-los —, ela sussurrou. —Eu não posso fazer isso, Kyle. Por favor, se você tem qualquer compaixão, qualquer misericórdia, você dirá a eles que eu vou falar com eles ao telefone. E eu vou vê-los. Depois que eu curar.


Eu irei comer. Eu juro. Vou fazer o que você me disser para fazer. Mas, por favor, Deus, não me faça entrar lá como estou. Kyle parecia eviscerado, com os olhos inundados com tanta simpatia e compreensão, que impulsionou uma nova rodada de lágrimas angustiantes. Gentilmente, ele a puxou para cima e, em seguida, em seus braços, abraçando-a contra o peito, balançando para frente e para trás de forma suave. —Eu entendo como você se sente, Honor —, disse ele calmamente. — Eu juro que eu faço. Mas, querida, eles sabem o que esperar. —Você disse a eles? — Ela perguntou em voz horrorizada. —Nem tudo —, disse ele ainda mais suavemente. —Só o que pertencia a sua condição física e psicológica. Eu nunca mencionei Hancock. Que é seu assunto, para dizer ou não. Mas olhe isso a partir do ponto de vista deles, Honor. Eles apenas souberam que a filha que julgavam morta está muito viva e vai estar em casa em breve. Claro que estão chateados e com raiva por você sofrer tanto. Mas o que eles querem, o que eles mais precisam, agora, é apenas vê-la. Para te abraçar. Para ter a prova de que você está viva. Você não tem nada para se envergonhar. Ele puxou-a para longe de seu peito para que ele pudesse tocar seu queixo. Ele esfregou seu polegar sobre sua bochecha e forçou-a a olhar em seus olhos. —Agora, me mostre a Honor Cambridge que fugiu e escapou da captura pelo grupo terrorista mais poderoso e implacável no Oriente Médio. Você não vai entrar em sua casa envergonhada com sua cabeça baixa. Sua família está exultante com alegria. Eles estão agora mesmo contando os segundos e esperando que nosso veículo estacione em sua garagem para que eles possam vê-la. Tocá-la. Abraçá-la. E dizer-lhe o quanto eles amam você. Você irá negarlhes isso? —Não—, ela engasgou. —Sinto muito. Me desculpe, por não ter acreditado em você. Você foi gentil comigo, mas eu aprendi que a traição segue a bondade, e que eu não a reconheci em você. Eu não podia. Era a única maneira que eu poderia sobreviver, porque eu não podia permitir a única coisa que tinha o poder de me destruir completamente. Esperança.


—Shhh, você não vai me pedir desculpas. Gostaria de servir com você em qualquer dia da semana, Honor Cambridge. Você tem o coração de um fuzileiro naval, e isso é um fato. Agora, posso dizer que Anthony continue dirigindo? Ela sorriu e, em seguida, impulsivamente o abraçou, desejando o que ela tinha sido por muito tempo desprovida. Toque humano. Contato. Conforto. Não desde… Não, ela não iria lá. O que ela tinha compartilhado ou melhor, o que Hancock tinha tirado dela não contava. Porque não era real. Como se sentisse sua necessidade desse contato humano, ele a abraçou de volta, sempre muito gentil, mas não menos abrangente e por longos momentos ele simplesmente segurou-a, permitindo que ela se agarrasse a ele, enquanto ela se recompunha. Finalmente, ela se afastou e se preparou, e permitiu esperança e alívio inundar as profundezas da sua alma oca. Excitação começou a queimar quando ela avistou sua casa no final do beco. Ela meio que esperava que toda a sua família estivesse à sua espera no gramado da frente, mas Kyle tinha dito que ele tinha ido na frente para preparálos, o que provavelmente significava que ele tinha dito a eles o quão frágil ela estava. Quando eles estacionaram atrás da minivan familiar de sua mãe, Honor sentou-se congelada em seu assento enquanto ela absorvia avidamente à vista do que ela pensou que nunca veria novamente. Incerteza agarrou-a e as palmas das mãos ficaram suadas, e ela reconheceu os sinais de mais um ataque de pânico iminente. Kyle estendeu tranquilizadoramente.

a

mão

e

pegou

a

mão

dela,

apertando

—Eu estarei com você o tempo todo —, disse ele calmamente. Ela sorriu para ele. Realmente sorriu, e ele parecia encantado. —Obrigada —, disse ela com sinceridade.


—Perdoe o trocadilho brega que estou prestes a dizer, mas foi realmente uma ‘honra’ conhecê-la, Honor Cambridge23. Ela apertou a mão dele e, em seguida, respirou forte e profundamente, o chiado flutuando para longe quando seus pulmões totalmente se abriram, permitindo-lhe respirar mais fácil mais uma vez. —Vamos fazer isso—, disse ela.

23

Tradução do nome Honor é: Honra


CAPÍTULO 43 CYNTHIA Cambridge ergueu as mãos, desespero irradiando de seus olhos quando ela enfrentou sua família, menos Honor, que estava escondida na biblioteca, seu santuário. Todo mundo se reuniu. Brad tinha chegado do trabalho, sem fazer perguntas. Keith tinha conseguido apoio de sua equipe no minuto em que ele recebeu a notícia do regresso para casa de Honor, e ele ainda tinha que retornar. Tate e Scott possuíam várias empresas locais e ambos fizeram suas casas nas proximidades, e podiam estar lá em minutos. Mandie, assim como Keith, ainda tinha que retornar a seu trabalho. Todos olharam para sua mãe –esposa– preocupação apertando em seus peitos. Cynthia parecia desgastada e abatida, tanta dor em sua expressão que todos temiam o pior. —Isso tem que acabar—, disse Cynthia, à beira das lágrimas. Mike, o marido dela, puxou sua esposa em seus braços, sua angústia tão grande quanto a dela, embora ele a segurava com força as rédeas, porque ele sentiu o quão perto sua amada esposa estava do ponto de ruptura. —Ela não está ficando melhor. Ela está doente. Ela não quer falar sobre isso, qualquer coisa. —Sabíamos que não seria fácil, mãe —, Brad, seu filho mais velho, disse. Ele estava de uniforme e tinha vindo quando seu pai tinha chamado, dizendo que ele era necessário em casa. Seus homens conseguiriam segurar o forte na sua ausência. Família –irmã– era mais importante. —Ela está se recuperando fisicamente, — Tate disse cautelosamente. — Uma brisa a derrubaria quando ela chegou aqui pela primeira vez. Ela ganhou peso. Ela está comendo. —Eu concordo com a mamãe —, disse Mandie com firmeza. —Ela está se recuperando de suas feridas, seus ferimentos. Na verdade, você mal consegue vê-los. Exceto os pulsos —, ela acrescentou com uma careta.


O fuzileiro naval que trouxe Honor para casa tinha lhes dito que seus pulsos e tornozelos tinham sido tão fortemente algemados que o metal tinha entrado em sua carne. Mas havia feridas subjacentes. Cortes que tinham sido suturados. Eles não sabiam, mas suspeitavam… No entanto, ninguém jamais mencionou isso porque significava reconhecer o quão ruim deve ter sido para Honor tentar tirar sua própria vida. E era mais do que podiam suportar que ela confirmasse que estava tão desesperada que tentou acabar com seu sofrimento. —Mas ela está doente —, continuou Mandie. —Algo está errado com ela. Ela não consegue manter nada no estômago. Ela está pálida e tão frágil. Estou preocupada. Realmente preocupada. Acho que devemos levá-la ao médico. Seu pai suspirou. Honor tinha se recusado a voltar ao médico após o exame preliminar, tratamentos e regime de vitaminas, que ela necessitava. Ela se recusou a ter aconselhamento, embora todos eles lhe pedissem que falasse com alguém, porque ela não estava falando com eles. E se algo não mudasse em breve, ela quebraria, e ele não tinha certeza se conseguiriam recuperá-la dessa vez. Se sua esposa e filha planejavam levar Honor ao médico, eles teriam uma tremenda luta em suas mãos. —Todos nós temos tido cuidado com Honor. Talvez muito cuidado — Cynthia reconheceu. —Mas agora temos de apresentar uma frente unida e não lhe dar nenhuma escolha. Mandie e eu estamos levando-a ao médico. Eu já liguei na clínica, e eles vão vê-la hoje. —E você nos queria aqui para um músculo extra —, disse Keith ironicamente. —Não. Para apoio —, corrigiu sua mãe. —Nós a amamos e eu me recuso a deixá-la se definhar. Ela pode me odiar, mas pelo menos ela vai estar viva para fazer isso. —Eu nunca vou te odiar, mãe —, Honor disse calmamente da porta da cozinha. Eles estavam tão absortos na discussão e preocupação, eles não tinham ouvido Honor entrar na cozinha.


—Me desculpe, por deixar vocês preocupados. Todos vocês —, ela acrescentou, varrendo seu olhar sobre cada membro da família, tristeza e um pedido de desculpas brilhante em seus olhos. —Se ir ao médico vai aliviar sua preocupação, então eu vou. Eu tenho certeza que é apenas um problema estomacal ou algo assim. Depois de tudo o que aconteceu, isso nem mesmo se registrou no meu radar —, disse ela honestamente. Características de Brad se escureceram em uma máscara de ódio com a menção de tudo o que sua irmã tinha sofrido. Ele era um xerife, que jurou cumprir a lei e buscar justiça. Pelo livro. Mas por tudo o que era sagrado, se ele tivesse colocado as mãos sobre os bastardos que tinham torturado Honor, ele teria os matado a sangue frio e não sofreria nenhum tipo de remorso. —Eu vou também —, disse Mandie, deslizando seu braço no de Honor e, em seguida, oferecendo sua irmã um apertão afetuoso. —De jeito nenhum eu iria deixá-la sozinha à mercê da mamãe. Ela pode ser implacável. Ela provavelmente terá o pobre médico gaguejando durante seu exame. Honor sorriu. Mandie poderia neutralizar qualquer situação com sua sagacidade e humor. Era uma das muitas razões que ela amava sua irmã tão querida. Ela amava a todos eles, e ela percebeu, para sua vergonha, que ela não era a única sofrendo. Ela tinha sido egoísta e egocêntrica, enquanto sua família estava claramente no final das suas forças. —Eu sinto muito—, disse Honor, sinceridade soando em sua voz. —Eu não quero ser um fardo para todos vocês se preocupassem tanto. Eu fui egoísta. Sua mãe contornou a ilha da cozinha e pegou Honor em um abraço apertado. —Você não é um fardo. Você não é egoísta, e eu não vou deixar você dizer isso. Você é nosso bebê, Honor. O coração e a alma de toda esta família. Sempre a pacificadora, sempre a primeira a acalmar as coisas. A primeira a oferecer um abraço. Você sempre soube o que todo mundo precisa e dá sem hesitação. Não conheço ninguém que tenha o coração mais generoso do que o seu. Claro que nos preocupamos. De todas as pessoas, você não merecia o que foi feito a você!


Lágrimas escorriam livremente e Honor já não podia dizer se era sua mãe a abraçando se era Honor abraçando sua mãe. E então Brad as separou suavemente e envolveu Honor em seus braços. Sempre o irmão mais velho. Seu protetor. Ela foi sua sombra desde o dia em que ela aprendeu a andar quando criança, e ele nunca esteve ocupado, nunca estava muito ocupado para sua irmãzinha. Como ela amava todos eles. Ela tinha perdido sua família. A proximidade. O amor incondicional de uma unidade familiar coesa. —Eu estou com raiva —, disse ele em voz baixa contra sua orelha. —Eu vejo muita merda todos os dias e nada se compara ao que foi feito para você. Porra, você de todas as pessoas não merecia isso. Você é tudo que é bom neste mundo, Honor. Nenhum de nós poderia ter feito o que você fez. Dar desinteressadamente a si mesmo para ajudar as pessoas que ninguém mais iria ajudar, conhecer e aceitar o risco, sabendo que poderia significar sua vida. Fardo? Você é um presente, menina, e não se esqueça disso. Eu te amo acima de todos os outros. Eu sempre vou. Desde o dia em que você nasceu, eu sabia que você era algo especial e que você realizaria grandes coisas. Eu só não imaginava os sacrifícios que você teria que fazer, a fim de responder a seu chamado. Os olhos de Honor marejaram, ela não tinha chorado desde a primeira vez que ela chegou à casa dos seus pais. Ela sabia que eles temiam que ela estivesse em negação. Que ela não estava lidando com seus demônios e apenas os reprimindo. Mas a verdade era que ela estava entorpecida e de luto, por algo que eles desconheciam. Deus, se apenas a tortura e abusos fossem tudo o que tinha que lidar. Mas ela nunca ia superar Hancock e sua traição. Deus a ajudasse, mas ela ainda o amava. Depois de tudo o que ele tinha feito, as promessas que tinha quebrado, fazer amor com ela e fazê-la acreditar que ele sentia por ela o que ela sentia por ele. Ela não tinha coragem de realmente odiá-lo, isso a deixava furiosa. Furiosa. —Se nós vamos ao consultório, então precisamos sair agora —, disse mamãe rapidamente, enxugando as lágrimas e entrando no modo mãe. —Eu espero que os rapazes cuidem do jantar hoje à noite, uma vez que eu e as minhas


filhas não estaremos de volta até muito tarde. Eles a atenderão no último horário do dia. Tate deu um sorriso preguiçoso. —Acho que podemos lidar com isso. ••• Duas horas mais tarde, Honor caminhou entorpecida de volta para a sala de espera onde Mandie e sua mãe estavam. A mãe dela não ficou satisfeita que Honor tinha insistido em ver o médico sozinha e por isso não estava a par de diagnóstico do médico. Mas Honor sabia que sua mãe teria deixado o médico maluco e elas ainda estariam na sala de exame, se Honor tivesse batido o pé e feito sua mãe e irmã esperar lá fora. Sua mãe e irmã imediatamente captaram o comportamento sombrio e chocado de Honor, e ambas saltaram de suas cadeiras e a rodearam imediatamente. —Bebê, o que há de errado? — Sua mãe perguntou. Honor levantou uma mão trêmula. Era tudo o que podia fazer para manter o pouco controle que ela tinha em cheque e não quebrar na frente de toda a sala de espera. —Por favor, não aqui —, ela sussurrou. —Por favor, vamos apenas ir para casa. Eu vou dizer tudo o que há. Mas não aqui. Por favor. A boca de sua mãe se definiu em uma linha rebelde, mas Mandie, sentindo como perigosamente Honor estava perto de quebrar, passou um braço de suporte ao redor da cintura de Honor e começou a caminhar para fora da clínica em direção ao estacionamento. —Você dirige, mãe —, disse Mandie com firmeza. —Eu vou sentar na parte de trás com Honor. Honor apertou a mão de Mandie quando ela deslizou para o banco traseiro com Honor e ofereceu-lhe um silencioso agradecimento com lágrimas que ela sabia que estavam prestes a se derramar. Mandie apertou de volta e, em seguida, sussurrou quando sua mãe ligou o motor, —Seja o que for, Honor, nós estamos com você. Nós vamos passar por


isso juntos. Não se preocupe. Você está em casa agora e você nunca estará longe de nós novamente. Honor inclinou-se para a irmã, surpreendendo-a com a sua necessidade de conforto. Honor tinha estado distante com toda a sua família, e apenas dandolhes o carinho que pareciam precisar, mas nunca procurava para si mesma. Mandie a abraçou com força, encontrando o olhar preocupado de sua mãe no espelho retrovisor. Cynthia, sempre uma motorista cuidadosa, quebrou todas as leis de trânsito em sua tentativa de levar sua filha para casa o mais rápido possível. Seu pai e irmãos estariam esperando. Enquanto Cynthia lhes havia proibido de ir, eles tinham sido firmes quando eles disseram que todos estariam lá quando elas voltassem. Como ela poderia enfrentá-los com o que ela tinha a dizer-lhes? Com o que ela nunca disse a eles. Agora, eles teriam que conhecer todos os aspectos vergonhosa de seu calvário. Elas estacionaram o carro e Honor rapidamente livrou-se do aperto feroz de sua irmã e correu para dentro. Como ela sabia, seu pai e irmãos estavam na sala de estar, fazendo pouco para disfarçar sua impaciência e preocupação. Mandie e sua mãe entraram atrás dela, e seu pai e irmãos olharam com expectativa para ela. Era simplesmente demais. Ela começou a chorar, para o horror de seus irmãos, especialmente Brad, e então ela passou por eles correndo, abrindo a porta para o deck traseiro. Ela caiu para trás no balanço onde sempre tinha encontrado conforto quando crescia, e as lágrimas escorriam. —O que diabos está errado, Cynthia? — Mike perguntou, seu olhar, até agora olhando na direção de onde Honor tinha desaparecido. —Eu não sei —, disse Cynthia em frustração. —Ela não disse nada. Ela parecia um fantasma, quando ela voltou para a sala de espera, e quando lhe perguntei o que estava errado, ela disse: —Não aqui. — Ela me implorou para não falar sobre isso lá. Ela disse que iria dizer-nos quando chegássemos em casa. —Deixe-me ir falar com ela—, disse Brad, em voz baixa.


Brad sempre teve uma relação estreita com sua irmã mais nova. Ele sabia desde muito jovem que ela era especial. Diferente. Meiga e boa. Nunca dizia algo ruim das pessoas, e ela faria qualquer coisa para quem precisasse. Ele tinha sido o mais forte opositor sobre ela ir para o Oriente Médio, mas ele também tinha entendido seu caminho. Mas ele não queria que ela fosse. Ele a queria aqui, onde ele poderia protegê-la. Onde ela não sofreria nenhum dano. E o que ele temia de pior, aconteceu. Mas ela estava viva. Ela era seu milagre. Mas agora ela estava ferida e tinha se afastado até mesmo de sua família quando ela nunca tinha sido nada, além de honesta e aberta. O que quer que estava errado era pior do que o que ela já tinha confiado a ele, e isso aterrorizava. O que poderia ser pior do que o que ela tinha sofrido? Ele enfrentou circunstâncias terríveis em seu trabalho como um policial, mas ele sempre foi capaz de ter o domínio sobre o medo. Agora? O medo apoderou-se dele, paralisando-o. O sufocou até que ele mal podia respirar. Sem esperar alguém se opor, ele se virou e seguiu o caminho de Honor para a varanda dos fundos, e quando ele saiu, ouvindo e vendo-a soluçar como se seu coração fosse partir –já tinha se quebrado– emoção atou sua garganta já em nós e ele se esforçou para segurar suas próprias lágrimas. Porque Honor precisava de sua força. Agora mais do que nunca. Silenciosamente, para não a assustar, ele se sentou no balanço ao lado dela e colocou seu corpo frágil ao lado do seu. —O que está errado, minha menina? — Ele perguntou em um tom suave. —Você sabe que você pode falar comigo sobre qualquer coisa. Tudo o que está errado, vamos consertar. —Eu não posso consertar isso—, disse ela, a tristeza engrossando sua voz. —Ninguém pode. Estou grávida, Brad. Oh Deus, eu estou grávida. Ele prendeu a respiração, sua expressão surpresa no início e depois assassina. —Você não nos contou… Quero dizer, você não nos disse muita coisa. Apenas a dor e a tortura. Você não disse que você havia sido estuprada.


Tristeza ferveu em seus olhos e ele inclinou-se, puxando-a em seus braços, segurando-a e embalando-a para trás e para a frente, com o corpo tremendo de tristeza. Ela enterrou em seus braços, absorvendo a sua força e amor. Sempre seu irmão mais velho e protetor. —Eu não fui estuprada —, ela sussurrou. —Alguns tentaram, mas o homem… o homem que é o pai do meu filho me protegeu. Ele se certificou que eles não me estuprassem. Mas… ele me traiu. Eu confiei nele. Ele me disse que estava me levando para casa, que eu estaria a salvo e que ele estaria comigo o tempo todo. Mas então ele me drogou e me entregou para Maksimov e eu não entendo o porquê. Por que me enganar? Por que me fazer pensar que ele se importava? Por que me seduzir e me dizer que ele me levaria de volta para a minha família e, em seguida, me drogar? Acordei como prisioneira de um homem que tentou me estuprar duas vezes. E então ele me entregou a um homem que me torturou. Me deu choques. Me bateu. Ele queria me quebrar, mas eu já estava quebrada. Hancock fez isso. Ninguém mais. —Até então eu estava forte. Recusei-me a desistir. Eu lutei, e eu não seria derrubada sem uma luta. Mas quando ele me traiu, eu desisti. Eu já não tinha nada por que lutar. Eu não me importava. Eu não tinha nada para viver, e eu nunca quis que a minha família me visse tão fraca e despedaçada. —Oh, querida—, disse seu irmão com uma voz dolorida abafada por seu cabelo. —Eu sinto muito por tudo o que passou. Ainda está passando —, emendou. Ele beijou o topo de sua cabeça e simplesmente segurou-a por vários momentos, permitindo que silêncio descesse quando seu choro acalmou. Ele dava ao balanço um leve empurrão com o pé de vez em quando, acalmando-a. Não a pressionou a dizer mais do que ela estava disposta. Apenas esperando que ela falasse com ele em seu próprio tempo. Embora secretamente queria rastrear o maldito fuzileiro que tinha devolvido Honor e o interrogar ele sobre esse tal de Hancock. Em especial, onde Brad poderia encontrá-lo. E então ele queria conseguir alguma justiça da velha escola, e que poderia o banir para sempre de uma carreira na aplicação da lei. Seria uma pena.


Ele suspirou enquanto ele acariciava suas costas. —Eu sei que isto é um choque. E eu sei que você passou o impensável. Mas você tem opções, querida. Se ter este bebê te machuca, e é um lembrete constante de dor e traição, você pode interromper a gravidez. Você pode dá-lo para adoção. Você pode fazer o que é melhor para você. Você entende isso? Pela primeira vez, pense em si mesma. Isso não é um crime. Especialmente com tudo o que você sofreu. Ninguém a culparia. Ninguém a condenaria. —Não! — Ela disse ferozmente. — Esta criança é inocente. Este bebê não fez nada errado e eu me recuso a ser tão egoísta a ponto de recusar-me a têlo, porque ele traz de volta memórias dolorosas. Esta criança –minha criança– merece a vida e eu não vou desistir. Eu vou embora. Eu não quero envergonhar você e o resto da minha família. Nenhum de vocês merece isso. —O inferno que você vai —, disse Brad selvagemente. —Você precisa de sua família, agora mais do que nunca, e se você pensar por um momento que lhe permitiremos sair porque você não quer envergonhar-nos, então você está fora de sua mente maldita. Nunca houve uma mulher mais corajosa do que você, e eu serei amaldiçoado se você suportar isso sozinha. Sua família estará com você a cada passo do caminho. Eu estarei com você a cada passo do caminho. Nos envergonhar? Nunca uma família teve mais motivo para se orgulhar de uma filha e irmã do que nós. E eu não dou a mínima para o que os outros pensam ou dizem. Eu vou ficar atrás de você e do meu sobrinho ou sobrinha todo o caminho e foda-se quem tem algo a dizer sobre isso. —Seu irmão está certo —, disse o pai de trás deles. Honor virou-se e inclinou a cabeça quando ela percebeu que a família inteira tinha seguido Brad para a varanda dos fundos e tinham ouvido cada palavra incriminatória. —Você não vai curvar sua cabeça como se você tivesse algo para se envergonhar —, disse sua mãe ferozmente. —Você foi uma vítima. Isso não é culpa sua. Isso não é culpa sua! E, por Deus, todos nós estaremos com você a cada passo do caminho. Honor ergueu o olhar para ver a mesma determinação nos olhos de cada membro da família. E ela começou a chorar de novo.


Mandie andou para a frente, ficando do outro lado de Honor e com isso Honor foi imprensada entre ela e Brad. —Você vai nos dizer sobre isso agora, Honor? Nós sabemos que você está se segurando. Isso é algo que a machuca terrivelmente, mas você se recusou a falar sobre isso. Você só pode ir por um tempo antes de quebrar. —Eu já estou quebrada, — Honor disse friamente. Brad segurou seu queixo, forçando seu olhar para ele. —O inferno que você está. Você é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. Você pode estar por baixo, mas você não está fora. Nem de longe. E se você deixar-nos ajudá-la, se você confiar em nós, podemos ajudá-la. Você não pode manter isto preso por mais tempo. Apoie-se em nós, querida. Isso é para que a família é feita. Você faria o mesmo por nós e você sabe disso. Você nunca aceitaria o silêncio de um de nós, se você soubesse que estávamos machucados, e temos a maldita certeza não vamos aceitar isso de você. Eu acredito em você, Honor. Mesmo se você não acredite em si mesma agora. Ela se inclinou para ele, abraçando-o, envolvendo-se completamente ao redor dele, segurando-o com tudo o que tinha. Ela fechou os olhos à medida que mais lágrimas escorriam silenciosamente pelo seu rosto. Seu abafado “eu te amo” foi devolvido rispidamente por Brad. E então ela disse a eles todas as partes que tinha deixado de fora. Sobre ela se apaixonar por Hancock e sua promessa, depois de fazer amor com ela, que ele encontraria uma outra maneira. Que ele não a sacrificaria para o bem maior. E que ele tinha mentido e como isso, e não qualquer outra coisa que tinham feito com ela, a tinha destruído. Quando ela terminou, ela estava exausta e enjoada. A família dela ficou furiosa, sua raiva evidente em seus olhos, suas expressões e suas palavras. Mas eles a cercaram com seu amor e apoio incondicional. Foram feitos planos. Visitas ao obstetra foram divididas de modo que alguém de sua família estaria sempre lá com ela. Seu pai imediatamente começou a planejar um aumento para o quarto de Honor assim o bebê teria um berçário, mas sempre perto o suficiente para que Honor pudesse ouvir o bebê.


As mãos de Honor escorregaram sobre a barriga para o ligeiro inchaço, que ela assumiu ser o resultado do ganho de peso necessário depois que ela quase tinha matado a si mesma de fome. De acordo com o médico, ela estava com cerca de quatro meses. Como não poderia saber até agora? Olhando para trás, todos os sinais e sintomas estavam lá. Fadiga esmagadora, náusea, sensibilidade nos seios e estar excessivamente emocional. Mas depois do que ela tinha passado, como ela poderia ter pensado que poderia ser qualquer coisa, mas as consequências disso? De alguma maneira estranha, ela congratulou-se com o pensamento de ter um filho de Hancock. Um pedaço dele que viveria através dela. A melhor parte de ambos. E se fosse um menino, ela iria criar a criança para ser o homem Hancock queria ser, mas pensava que ele nunca poderia ser. Ele teria a conduta de Hancock para proteger os outros, e ele teria a força e coragem de sua mãe. Se fosse uma menina, ela teria o fio de aço que infundia a vontade de Hancock e sua determinação por justiça. E Honor iria ensiná-la a nunca subestimar a si mesma. Seguir o seu coração e os seus sonhos e nunca evitar a estrada menos conhecida. Ela valorizaria esta criança como o presente era. Seu único arrependimento era que Hancock nunca conheceria seu filho e nunca saberia que ele era capaz de amar e proteger, e que ele nunca machucaria o que lhe pertencia. Seu filho era seu sangue. Honor não era. Enquanto ele poderia sacrificar Honor para a sua missão, ela sabia que ele nunca sacrificaria sua própria carne e sangue.


CAPÍTULO 44 A MÃE de Honor apareceu na varanda de trás, uma carranca no rosto. —Há um homem aqui para vê-la. Ele diz que é importante. Honor olhou para cima, ansiedade deslizando por sua espinha. Mas não, ela não tinha razão para temer. Sua família estava aqui. Nada aconteceria com ela. —Traga-o até aqui—, Honor disse em voz baixa. —E, por favor. Dê-nos privacidade até que eu saiba o que é que ele tem a dizer. Sua mãe olhou como se fosse discutir, mas a determinação estava centrada nos olhos de Honor e assim, de boca fechada, sua mãe assentiu e desapareceu, deixando Honor esperando e se preocupando sobre seu visitante inesperado. Alguns momentos depois, a porta se abriu e por um momento ela se recusou a olhar para cima. Então ela engoliu em seco, recusando-se a ser a covarde que ela tinha sido por tanto tempo, e ela ergueu o olhar, choque batendo nela como um relâmpago. —Conrad? Ele balançou a cabeça tristemente. —Estaremos aqui dentro —, disse sua mãe, mais para Conrad do que para Honor. Era um aviso claro, e que trouxe um pequeno sorriso nos lábios de Conrad. —Eu não tenho nenhuma intenção de machucar sua filha, Sra. Cambridge —, disse Conrad suavemente. —Mas eu gostaria de falar com ela em particular. Cynthia acenou com a cabeça e se retirou com relutância, embora Honor soubesse que sua família estaria reunida atrás da porta, os observando o tempo todo. —Você está um horror —, disse ele sem rodeios quando ele se sentou em frente ao Honor ocupando o outro balanço. —Eu poderia dizer o mesmo para você —, disse ela secamente.


—Touché —, disse ele ironicamente. —Mas no que me diz respeito, Honor. Você não parece bem. Ela arqueou uma sobrancelha. —Por que você está aqui, Conrad? —Eu vim por muitas razões —, disse ele. —Eu vim para agradecer por salvar minha vida. Vim para pedir desculpas por não salvar você. Mas a razão mais importante é que eu vim para lhe dizer que Hancock não te traiu, Honor. Ela endureceu, seu olhar se tornando duro e impenetrável. —Eu não tenho vontade de falar sobre Hancock. Se isso é tudo o que veio falar, você pode sair agora. A expressão de Conrad se tornou tão dura e tão determinada quanto a dela. Ele se inclinou para frente, suas feições selvagens. —Eu não vou sair até eu dizer o que tenho a dizer. O que você fará com o que eu disser, é problema seu, mas vou dizer-lhe o que realmente aconteceu. Honor fechou os olhos quando a dor a consumia tudo de novo. Nas semanas desde que ela descobriu que estava grávida de Hancock, ela trabalhou tão duro para colocar Hancock e sua traição atrás dela. Olhar para frente, não para trás. A concentrar-se na pequena a vida inocente dentro dela, que iria proteger com seu último suspiro. —Diga o que você tem a dizer, então—, disse ela com voz rouca. —Em seguida, saia. —Você sabe que ele mudou o plano. Que passou a noite planejando uma alternativa. E então ele drogou você e ele odiou. Ele odiava a si mesmo por que ele sabia o que ele deveria fazer. Por duas razões: primeiro, Maksimov ordenoulhe que estivesse drogada e fomos obrigados a cumprir a farsa. E segundo, se você estivesse consciente, não havia nenhuma maneira que Maksimov veria o que precisava ver. Você é muito honesta, Honor. De nenhuma maneira quando Maksimov olhasse para você, ele a veria aterrorizada, abatida, e cativa, quebrada como ele esperava. Ele veria a mulher corajosa, desafiante que lhe cuspiria em seu olho antes mesmo que lhe permitissem intimidá-la. —O que ele fez —, Honor apontou. —Eu diria que foi um desperdício de uma boa noite de sono.


Conrad balançou a cabeça. —Você não entende. Ele não poderia dizerlhe o plano. Deus, ele queria. Ele odiava a ideia de enganar você quando você tinha dado a ele sua confiança. Quando ele tinha jurado não trair sua confiança. Mas tudo dependia de você não saber. Você não poderia ter nenhum conhecimento ou poderia comprometer toda a missão e poderia levar-nos todos à morte. E Hancock deixou claro que você era a única prioridade. Mesmo que isso significasse deixar Maksimov fugir, você devia ser protegida a todo custo. Honor enviou-lhe um olhar perplexo porque ela não entendia nada disso. —Tínhamos planejado uma emboscada. O plano original, você vê, era entrega-la a Maksimov como uma forma de ter acesso a ele. Para finalmente fazer parte de seu círculo interno depois de anos de trabalho através de intermediários como Bristow. Ele iria entrega-la a NE enquanto nós trabalhamos para desmantelar sistematicamente toda a sua operação a partir núcleo. Cada jogador, cada fonte de crime. Queríamos toda sua rede destruída, e então nós os derrubaríamos. E isso ia levar tempo. Muito tempo. Você estaria morta pelas mãos da NE, antes de concluída a nossa destruição de toda a organização de Maksimov. —Mas Hancock decidiu contra isso. Bristow arrumou a troca e Maksimov ditou os termos, mas nós planejamos uma emboscada. Nós só íamos chegar perto o suficiente para pegar Maksimov e então daríamos o fora de lá, não importando o que custasse. Ele não se importava que as conexões que ainda estariam lá, que alguém poderia simplesmente pegaria as rédeas do império de Maksimov. Ele só queria que ele retirasse você segura e, em seguida, ele iria embora. Com você. E deixaria alguém assumir a tarefa de derrubar vasto império de Maksimov. —Então como…? Ela franziu a testa, sem entender nada. Ela tinha despertado em uma gaiola, Maksimov insultando-a. Ele a torturava durante dias. E então ela despertou em um avião com Hancock, que estava levando-a para a NE. —Maksimov, obviamente, tinha mais de um toupeira plantado na organização de Bristow. Pegamos o que fomos capazes de desmascarar. E ele relatou que Hancock perdeu o controle e matou Bristow quando ele tentou estuprá-la. Então ele nos emboscou, ao invés do contrário. Perdemos Mojo, —


disse Conrad dolorosamente. —Viper e Cope foram gravemente feridos e Hancock foi baleado duas vezes. Ele quase morreu e mesmo assim, Maksimov teve que tirá-la de seu alcance. Hancock cobrou todos os favores que lhe deviam de uma organização onde existe muita inimizade. Nós não somos inimigos diretos, mas nem nós somos aliados. Hancock não se importava. Ele não tinha orgulho no que dizia respeito a você. Ele lhes pediu para ajudá-lo a te encontrar e salvá-la. Ele torturou-se sem parar, sabendo que você estava nas mãos de Maksimov, e não havia absolutamente nada que ele pudesse fazer sobre isso. Ele culpou a si mesmo. Ele acredita que a traiu. Que ele falhou com você. Todas as coisas que você acredita sobre ele, ele acredita nisso também. Mas ele não te traiu, Honor. A missão era FUBAR. Nós perdemos bastante e ainda assim ele não ficou de fora quando ele desesperadamente precisava estar em um maldito hospital. Honor balançou a cabeça em confusão. —Eu não entendo. — Parecia que era tudo o que ela era capaz de dizer. Era demais para entender, por ter o que ela acreditava, e sofria por meses mudando em segundos. —Ele ama você, Honor —, disse Conrad suavemente. —Hancock nunca amou ninguém em sua vida, exceto sua família adotiva. Ele nunca foi amado por ninguém, exceto sua família adotiva. Ele nunca sentiu que merecia ser amado. Ele acredita ser um monstro. Ele acredita ser pior do que Maksimov. Ele está morrendo a cada dia que passa. Ele está de luto, atormentando a si mesmo, amar você e saber que ele não é digno de você, que ele não merece você. Que ele te derrubou. Ele traiu. Ele permitiu Maksimov a machucasse e ele nunca vai se perdoar por isso. —Por que você está me dizendo tudo isso? — Ela sussurrou. —Porque eu acredito que você está sofrendo tanto quanto ele está. Eu acredito que você o ama tanto quanto ele te ama. Eu acredito que vocês dois estão morrendo e que você desistiu. E eu sei que você é a única que pode salválo. Eu não podia permitir que você acreditasse que ele nem sequer te defendeu, porque acredita em tudo. Que ele te traiu. Decepcionou. Machucou você. Manipulou você. Mentiu para você. Mas Honor, você não o viu quando ele nos disse a missão havia mudado. Você não viu a determinação nos olhos dele quando ele nos disse que você era a única prioridade, que a sua segurança tinha


prioridade acima de tudo. Ele não deu uma merda sobre a missão ou se ela era bem-sucedida em derrubar Maksimov. Ele tentou fazer a coisa honrosa e poupála, mas ainda assim, tirar uma séria ameaça para milhares de vidas inocentes. E ele perdeu tudo como resultado. Lágrimas se derramavam pelo rosto de Honor e ela abraçou-se, balançando para frente e para trás no balanço. —Por que ele não me explicou? No avião. Depois que ele me libertou de Maksimov. Por que ele me deixou acreditar que ele estava entregando-me a NE? Por que ele não, pelo menos, tentou? —Porque você acreditou. Você não estava lá, Honor. Você estava a um milhão de milhas de distância e você não teria ouvido uma palavra do que ele tinha a dizer. E é difícil se defender ou explicar quando você sente que você é culpado de todos os pecados que você o acusou. Ele não se defendeu, porque ele sabia que ele era culpado dos crimes cometidos contra você. E ele te ama tanto quanto ele odeia a si mesmo. —Onde ele está? — Ela perguntou. Conrad fechou os olhos. —Eu não sei. Ele desapareceu após Maksimov e a NE serem derrubados. Titan não existe mais. Todos nós nos afastamos. Nós acabamos. Ele é um lobo solitário, Honor. Ele se foi para algum lugar para morrer, uma morte lenta e dolorosa, porque ele não pode viver com o que ele fez com você. Mas eu sei quanto a isso. Ele te ama com todo o fôlego em seu corpo. Eu trabalhei com ele, o segui, fui leal a ele por mais de uma década. E antes que você, cada característica única atribuída a ele era verdade. Ele era mais máquina do que homem. Sem emoção. Ele tinha o seu próprio código e viveu por ele. O bem maior. E às vezes isso significa sacrificar inocentes. Ele odiava isso, mas sabia que era um mal necessário. —Mas você mudou tudo. Você o mudou. De repente, ele queria ser o homem que você via quando olhava para ele. Ele queria ser melhor. Para você. Você mostrou-lhe como amar. Como se sentir. Como ser humano. E ele nunca vai amar novamente. Ele vai te amar para sempre, assim como ele vai odiar-se por toda a eternidade pelo que ele fez com você.


—Então, como posso encontrá-lo? —Ela perguntou com frustração. — Droga, Conrad, você não pode vir aqui e me dizer tudo isso e depois ir embora sem dar-me alguma coisa. Eu não vou deixa-lo fazer isso a si mesmo. Eu não vou. Eu o amo. Você tem alguma ideia de quanto machucou quando eu acreditei que ele tinha me usado, que ele me traiu e permitiu que Maksimov me torturasse? Os olhos de Conrad estavam assombrados. —Eu falhei com você também, Honor. Não apenas Hancock. Todos nós falhamos com você. —Besteira —, disse ela com raiva. Tristeza inundou os olhos dela. —Eu sinto muito sobre Mojo. Ele era um bom homem. Ele não merecia morrer por minha causa. Porque Hancock mudou a missão. Viper e Cope estão bem agora? — Perguntou ela, ansiosa. Conrad sorriu suavemente, pegando sua mão para dar-lhe um aperto de leve. —Sempre preocupada com os outros. Você é uma mulher notável, Honor. Minha vida é melhor por ter conhecido você. E se você puder salvar Hancock, você terá minha eterna gratidão. Sim, Mojo era um bom homem, mas ele morreu em paz. Ele se redimiu, algo que nenhum de nós nunca sequer sonhamos que conseguisse. E Viper e Cope estão muito bem. Eu não sei onde Hancock está, eu juro. Mas eu posso colocá-la no caminho das pessoas que podem saber ou pelo menos pode ajudá-la a encontrá-la. Ela se inclinou para frente ansiosamente. —Conte-me. —Eu vou te levar lá—, disse ele. —Eu não vou te mandar sem proteção. E não é muito longe. Dover, Tennessee, apenas alguns quilômetros ao sul da fronteira de Kentucky. Quanto tempo você pode estar pronta? Ela já estava levantando do balanço. —Dê-me cinco minutos. Conrad sorriu para si mesmo enquanto a olhava se afastar, seus olhos ferozes com um propósito. O olhar sem brilho, sem vida que se agarrava a ela como uma segunda pele tinha evaporado e ela parecia a Honor que ele conheceu pela primeira vez. Cheia de luta e fogo. Coragem e bravura. Se alguém salvaria Hancock, ia ser ela. Ele quase teve pena do homem. Quase. Porque ele nunca ia saber o que o atingiu quando Honor Cambridge o derrubasse ao chão.


CAPÍTULO 45 A FAMÍLIA de Honor deixou claro que ela não iria a lugar nenhum com um homem que não conheciam, e tinham a maldita certeza que ela não sairia sozinha com Conrad. Brad insistiu em acompanhá-la, e Conrad e ela foram igualmente insistentes que eles iriam sozinhos. Uma discussão eclodiu, e cada membro da família de Honor se recusava a deixá-la sair sem eles. —Isso é algo que eu tenho que fazer —, Honor disse calmamente. —Eu sei que você não me conhece e não tem nenhuma razão para confiar em mim—, disse Conrad em uma voz calma. —Mas eu vou proteger Honor com minha vida. Você tem minha palavra. E para onde estamos indo, não há nenhum perigo para ela. Ela terá todo um exército de homens em torno dela em todos os momentos. Isso é importante para a sua filha. Ela precisa se curar, e é exatamente o que eu quero ajudar a acontecer. Se vocês a amam, e eu sei que vocês fazem, e se vocês confiam nela, que eu sei que vocês fazem, então, a deixem fazer isso. Ela precisa disso, senão nunca voltará a ser inteira. —Eu não tenho muito tempo —, disse Honor, impaciente. —Confie em mim para saber o que eu estou fazendo. Eu vou manter contato. Conrad irá mantê-los informados. Mas eu tenho que fazer isso se eu pretendo sobreviver. Havia choque e expressões preocupadas em cada um dos rostos da sua família, mas também resignação, tanto quanto havia quando ela estava tão determinada a ir ao Oriente Médio para ajudar aqueles que tão desesperadamente necessitavam. Todos se reuniram ao redor dela, abraçando-a, lágrimas derramadas quando eles a beijaram e disseram-lhe que a amava. E então Brad dirigiu um olhar duro no Conrad. —Eu conheço o seu tipo. Eu sei que as coisas que você faz em nome da justiça. Eu não estou julgando você. Mas você proteja a minha irmã. Você a mantenha segura e se as coisas forem mal, você tire-a de lá. Eu não me importo o que ela quer ou diz. Você traga-a de volta para casa, onde ela pertence.


Conrad chamou a atenção, em um sinal de respeito para com o homem da lei. —Eu daria minha vida por ela —, disse ele com sinceridade. —Ela salvou minha vida, e eu pago minhas dívidas. Te juro que ela estará segura comigo. Honor deu a cada um de sua família um último abraço, e então ela apressou Conrad para fora de casa para que eles pudessem se colocar a caminho. —Qual é a distância? Será que vamos dirigindo ou voando? —Nós vamos voar. A KGI tem uma pista de pouso privada em seu complexo e é segura. Não é apenas a maneira mais rápida, mas também a mais segura. Alívio a deixou cambaleante. Agora que sabia, cada minuto era uma agonia. Cada momento sem Hancock parecia uma eternidade. ••• HONOR engoliu nervosamente quando um dos homens que tinha conhecido na pista de pouso, os levou para a “sala de guerra”, com um soco no código de acesso e as portas se abriram com a velocidade que a fez piscar. Ela usava propositadamente roupas largas e de grandes dimensões porque, aproximando-se de cinco meses de gravidez, em sua barriga havia se desenvolvido como uma bola apertada. Mas toda a perda de peso e fome que ela tinha causado a si mesma, na realidade, fazia a gravidez parecer com se ela recuperasse seu peso e tamanho normal. Além disso, queria que Hancock a desejasse. Ela queria que ele a amasse independente de qualquer outra coisa. E ela sabia que, independentemente se ele a amasse ou não, se ele a quisesse ou não, ele nunca a mandaria embora se ela estivesse grávida de seu filho. Não era da sua natureza enganar, mas ela se recusava a manipulá-lo ou forçá-lo a tomar uma decisão que ele não teria normalmente tomado, ao revelar que estava grávida, até que ela soubesse do resultado de sua reunião “Venhapara-Jesus” com Hancock.


Assim que ela foi levada para a área principal, ela podia ver que, aparentemente, todos que trabalhavam para KGI tinham aparecido para a ocasião. Só precisava de uma pessoa para dizer-lhe como encontrar Hancock. Não uma sala repleta de agentes fodões. A raiva de repente se apoderou dela. Ela estava cansada de infinitamente ser intimidada por soldados, mercenários, terroristas, idiotas, seja qual for. Se eles achavam que iam intimidá-la, todos eles poderiam beijar seu traseiro. Ela estreitou os olhos e saiu de trás posição protetora de Conrad. —Olha, todos os mais ou menos vinte de vocês sabem onde Hancock está, ou vocês estão apenas querendo sacanear e tentando me intimidar? Porque se isso é tudo que você tem, manda ver. Ela foi recebida por largos sorrisos, gargalhadas, e ela podia jurar que ela ouviu uma voz feminina dizendo: —Força, menina! Um dos homens se adiantou com um sorriso. Ele tinha cabelos loiros acinzentados e os mais claros olhos azuis que já tinha visto. Ele estendeu a mão e ela não teve outra escolha, mas aceita-la com relutância. —Senhorita Cambridge, é uma honra vê-la novamente. Eu sou Sam Kelly. Ela olhou para ele, ligeiramente confusa, mas depois percebeu que ele estava na missão de resgatá-la de Maksimov. O que significava que ela estava de frente para uma sala inteira de pessoas que tinham visto a forma como ela estava descontrolada. Endireitou suas costas. Ela se recusava a sentir vergonha por isso. Ela estava parando de se sentir humilhada sobre coisas que ela não tinha controle, e ela estava parando de ser tão facilmente intimidada e parar de agir como um maldito camundongo assustado. Talvez ela pudesse ter aulas com os dois únicos membros femininos da KGI. Elas certamente não se pareciam com camundongos assustados. —Quem pode me dizer onde encontrar Hancock? — Ela perguntou, usando seu olhar mais feroz. O qual Brad dizia que a fazia parecer um gatinho muito fofo sibilando pela primeira vez. Ela puxou os cabelos, exasperada, nem mesmo esperou uma resposta.


—O que é há com os homens que tomam decisões arbitrárias, pensando que eles sabem todas as respostas do universo? O que há com eles se torturando, porque eles pensam que traíram ou machucaram alguém, e sim, embora possa olhar para a pessoa que eles tenham ferrado, o homem sabe disso, mas não se preocupa em explicar porque ele acredita que ele é culpado de traí-la e a machucar. Assim, ele sai em alguns gigantes em perseguição e um bando de mau humorados e só Deus sabe o que mais homens como você fazem, — ela disse com uma fungada de desdém. —Mas eu sei o que Hancock não vai fazer, e que Deus me ajude se um de vocês não tossir algumas informações rapidamente, vocês não vão gostar dos resultados. Os outros a olhavam com bocas abertas em óbvia perplexidade, mas quando ela chegou ao final de seu discurso, eles começaram a rir até que lágrimas escorriam por seus rostos. Ela estava furiosa com eles por rir como hienas quando sua vida estava na linha. Seu futuro. O futuro de seu filho. E Hancock. Garrett gemeu. —Oh Deus, ele nunca mais vai esquecer isso. Vou torturar aquele desgraçado pelo resto de sua vida por causa disso. Como isso é inestimável? Honor cerrou os dentes e caminhou até chegar cara a cara com o grande homem. Ela quase o derrubou, e teria, mas suas costas bateram contra a parede, efetivamente prendendo-o. —O que está errado com você, rindo em um momento como este? Você está sendo um completo idiota. Garrett deu-lhe um olhar manso. —Sinto muito, senhora. Eu não quis desrespeitar. —Ele rapidamente olhou para seus companheiros de equipe, implorando por ajuda. Eles apenas riram ainda mais. Honor jogou as mãos para cima. —Isso é inútil. Eu desperdicei um dia inteiro por vir aqui. Bem. Eu vou encontrá-lo eu mesma. Não graças a vocês. Ela caminhou, passando por todos eles, Conrad saindo atrás dela, enquanto se dirigia para a porta. Sam pegou o braço dela e gentilmente a deteve,


os olhos ainda cheios de alegria, mas ele fez um esforço enorme para ser sério e sincero. —Nós sinceramente não sabemos onde Hancock está, mas eu conheço alguém que pode ajudar. Dê-me dois segundos para fazer essa ligação? Ela estudou-o por um momento, viu que ele estava todo negócio agora. Finalmente alguém com algum juízo. Ela assentiu com a cabeça. Sam pegou o telefone e discou um dígito, obviamente, um contato. —Eden, querida? É Sam. Eu preciso que você venha para a sala de guerra o mais rapidamente possível. Você pode fazer isso? É importante. Houve uma breve pausa e Sam sorriu. —Obrigado, Eden. Você é a melhor. —Joe, saia e encontre Eden para que ela não se sinta estranha vindo para a sala de guerra—, Sam instruiu. Donovan olhou para as câmeras de vigilância que mostravam pontos de vista de mais de trinta áreas. Ele sorriu. —Não há necessidade. Swanny está com ela e ele não parecia satisfeito por que ele não foi incluído no convite. —Deus nos salve dos recém-casados —, disse Joe em desgosto. Todos na sala atiraram sorrisos conhecedores de todas as direções. —Oh sua hora está chegando, irmão mais novo —, disse Garrett presunçosamente. —E eu prevejo que você vai se apaixonar mais do que todos nós juntos. Joe ergueu o dedo médio em meio a risos de todos os outros. PJ e Skylar, os dois membros femininos da KGI, tinham feito o seu caminho para onde Honor estava, quer fosse por solidariedade para que ela não estivesse cercada por tanta testosterona ou porque elas estavam simplesmente sendo gentis. —Como você está, Honor? — Perguntou PJ calmamente. —De verdade. Havia algo nos olhos desta mulher que dizia a Honor ela tinha visto e sofrido coisas horríveis e que ela sabia o que Honor estava passando e tinha atravessado.


Ela sorriu, embora sentiu mais como uma careta. —No começo, não estava tão bem. Mas agora… Estou esperançosa. Se eu conseguir que um certo homem arrogante para puxe a cabeça para fora de sua bunda, as coisas vão ser ótimas. Skylar assobiou com uma gargalhada, atraindo olhares desconfiados de seus companheiros de equipe masculinos. Ela só lhes deu um sorriso inocente que de nenhuma maneira dissipou o nervosismo em seus olhos. P.J. ainda encarou Honor séria. —Não importa o que acontecer, se você é capaz de fazer Hancock ver a razão, aquele homem te ama. Cada pessoa nesta sala pode dizer-lhe o quanto ele ama você. Hancock é um homem duro. Ninguém aqui teria pensado que ele era capaz de amar alguém, mas ao longo do tempo, começamos a ver pedaços de humanidade e percebemos que Hancock foi um produto de seu treinamento, e ele é letal, mas ele tem um coração. Ele é um bom homem, Honor. Honor sorriu. —Eu sei. E obrigada. —Ela tocou a mão da outra mulher. —Isso significou muito para mim. E eu estou feliz que eu não sou a única que vê além da fachada. A porta se abriu e o coração de Honor pulou quando uma mulher loura absolutamente impressionante, alta caminhou graciosamente para dentro, ladeada por um homem alguns centímetros mais alto que ela, com características muito marcadas e um corpo musculoso que rivalizava com a de qualquer um dos homens no complexo. Os olhos de Eden se arregalaram quando ela viu que todos da KGI estavam reunidos, e ela olhou com medo para o homem ao seu lado, que Honor assumiu ser seu marido. Ele a puxou para seu lado e deu um beijo em sua têmpora. —Está tudo bem, querida —, ele tranquilizou. Sam se aproximou e deu um abraço caloroso Eden. —Obrigado por terem vindo tão rapidamente. Há alguém aqui que está muito ansiosa para atropelar Hancock, e nós queremos saber se você pode ser de alguma ajuda para ela?


A testa de Eden franziu em confusão, mas antes que pudesse fazer a varredura do espaço para a fonte do “ela” que precisava de sua ajuda, Sam puxou-a para o lado e falou-lhe em voz baixa que não chegou aos outros. No primeiro momento Eden parecia chocada. Então lágrimas brilharam intensamente em seus olhos extraordinariamente coloridos e então ela sorriu, o alívio tão gritante em sua expressão que Honor perguntou o que na terra Sam estava dizendo a ela. Quando Sam começou a levar Eden para onde Honor estava parada, Eden voou em torno dele e, em seguida, jogou os braços em torno de uma Honor atordoada. Eden abraçou ferozmente e um estremecimento de emoção tremeu através do corpo da mulher quando ela se agarrou a Honor. Quando ela finalmente se afastou, ela estava sorrindo amplamente, um brilho de lágrimas nos olhos. Honor olhou para ela em confusão completa quando Eden tomou as mãos de Honor nas dela e segurou quase tão firmemente como ela a abraçou. —Você não tem ideia de quanto tempo eu tenho orado por este dia —, disse Eden, a emoção engrossando sua voz. —Guy estava tão perdido quando era um jovem garoto. Minha mãe e meu pai o acolheram. Ele era considerado filho tanto como meus dois irmãos mais velhos, Raid e Ryker. Minha família é a única Guy família já conheceu. Ela se virou e sorriu para o resto da KGI, e todos eles gemeram. Ela voltou para Honor, um sorriso de satisfação no rosto. —Eles estão apenas chateados porque Guy é a minha família e agora a KGI é a minha família, o que torna Guy e a KGI uma família. Um fato que ninguém está particularmente entusiasmado. Mas eles vão superar isso —, disse ela alegremente. —Especialmente agora que você está aqui. Você vai mudar a vida de Guy. —Ela já mudou —, disse Conrad, falando pela primeira vez. Os outros membros da KGI fizeram uma careta para Conrad como se apenas agora lembrassem que ele tinha acompanhado Honor. Honor fez uma carranca desafiadora para eles.


—Não se atrevam a olhar para ele assim. Ele é a minha família e Guy vai ser a minha família, o que tornará a família Eden e por procuração de vocês também. Portanto Conrad agora também da sua família. Conrad parecia perplexo. Seu olhar de espanto foi cômico. Toda a KGI apenas riu, e ela ouviu murmúrios sobre as mulheres que regem o mundo. —Eu sei que você está com pressa, por isso não irei atrasar você por mais tempo —, disse Eden para Honor. —Guy está na casa de meu pai com meus dois irmãos, e de acordo com eles, ele está em um humor tão negro desde que ele chegou que eles estão prontos para matá-lo quando estiver dormindo. Honor olhou para Sam, com o coração na garganta, e todo o seu olhar se suavizou. —Você vai me levar para ele? — Perguntou ela, hesitante. Sam fechou a curta distância entre eles e envolveu-a em um abraço. — Claro, querida. Assim que o jato for abastecido e estiver pronto para ir. Então ele se virou e sorriu para seus irmãos. —Então, quem quer ser testemunha da maior queda já conhecida para a humanidade? Um coro de gritos, hooyahs e oorahs explodiu pela sala, e Honor olhou para Sam ainda mais confusa. Eles estavam todos loucos? Ele sorriu. —Não se preocupe conosco. Nós esperamos um longo tempo para Hancock provar que ele é um maldito humano depois de tudo. Ele se virou para Eden. —Ligue para o seu pai, querida, e diga-lhe para se sentar em cima Hancock e não o deixar fora de sua vista até chegarmos lá. Em seguida, ele latia uma série de pedidos para que pudessem estar no ar em não mais do que meia hora. ••• BIG Eddie Sinclair arrancou o telefone e voltou-se para seus filhos, Raid e Ryker.


—Era Eden—, ele disse em uma voz perplexa. —Ela quer que a gente se sente em cima de Hancock e termos certeza que ele não vá a lugar nenhum até que ela chegue. Ela diz que tem a cura para o que o aflige. —Bem, graças a Deus alguém faz—, disse Raid sombriamente. —Eu tive toda a auto aversão e pena que um homem pode ter. —Um-homem-fodido—, disse Ryker em voz fervorosa.


CAPÍTULO 46 EDEN abriu o caminho para a porta da frente da casa de sua família. Era uma boa coisa que crepúsculo havia caído, porque não havia nenhuma maneira que eles não teriam chamado a atenção com mais de vinte agentes fodões e à direita Honor, Eden e Swanny, que nunca saiu do lado de sua esposa. A porta se abriu antes de Eden poder até mesmo bater, e de pé na soleira da porta estava um homem de Honor assumiu que fosse seu pai e seus dois irmãos mais velhos. A família de Guy. Olhar dos três homens passaram de Swanny a Eden e, em seguida, finalmente, em Honor, choque refletindo em seus olhos. O irmão mais velho balançou a cabeça. —Não é possível—, ele murmurou. —Foda-se, não é possível—, seu irmão mais novo concordou. O pai de Eden sorriu e quando antes suas características tinham sido gravadas com preocupação e tristeza. De repente, ele parecia mais jovem, os sulcos profundos se suavizando, enquanto olhava para Honor. —Bem, eu vou ser amaldiçoado—, disse ele em um tom reverente. — Nunca pensei que veria o dia. Isso só chateou Honor e ela colocou as duas mãos nos quadris, olhando para baixo para os membros masculinos da família de Eden. —O que há de errado com vocês? Tratam Guy como ele não fosse humano ou capaz de humanidade. Eu não sei o que é pior. Ele acreditando que não tem uma alma ou sua família acreditar nisso. Os irmãos de Eden deram uma gargalhada, mas o rosto do seu pai já grisalho amoleceu. Ele deu dois passos em direção a Honor e a puxou para um abraço esmagador de ossos. Ela poderia ter disfarçado a sua gravidez bem, mas um abraço daqueles revelaria o bebê que ela carregava em seu ventre.


—Bem-vinda à família, minha querida. Nós esperamos muito tempo para alguém como você virar o mundo de cabeça para baixo de Hancock. Meu nome é Eddie e estes são meus filhos, Raid e Ryker. —Ele apontou para indicar quem era quem. E então, como se apenas observando a horda de homens corpulentos de pé vários metros atrás de Eden, Swanny e Honor, o pai de Eden deu a sua filha um olhar inquisidor. —Eden? Quem são todas essas pessoas em meu jardim da frente? —Oh, eles estão aqui para testemunhar a queda de Guy, — Eden disse alegremente. —Está escuro para que você os reconheça, mas eles são a KGI. —Nathan? Joe? —Ryker perguntou quando ele entrou na frente de seu pai para ver todos que tinham acompanhado Eden e Honor. O rosto de Eddie iluminou em reconhecimento quando ele viu o resto da equipe do seu genro se dirigindo para cumprimentar os Sinclairs. Skylar forçosamente foi abraçada por Eddie e Ryker enquanto Zane trocava apertos de mão com os homens. —É bom ver você, senhor —, Joe falou. —Quanto ao porquê de toda a organização KGI estar aqui? Não havia nenhuma maneira no inferno que deixaríamos passar a oportunidade de testemunhar Hancock cair de joelhos por uma mulher pouco mais de um metro e meio de altura. Temos a intenção de nos certificar de que ele nunca esqueça isso. Nem mesmo Steele nos divertiu tanto, desde que ele serviu suas bolas em um prato para sua esposa. —Foda-se —, Steele disse rudemente das sombras que ainda não tinha saído. —Olá? — Honor rosnou, impaciência e frustração evidente em sua voz. —Onde ele está? —Eu serei mais do que feliz para leva-la a ele eu mesmo—, disse Raid presunçosamente. —Bem, vamos lá dentro—, disse Eddie ao grande grupo reunido. —Acho que vamos ver os dois eventualmente. Nós estaremos muito mais confortáveis na sala de estar.


Deixando os outros, Raid foi até as escadas e um longo corredor para o quarto no final. Fez uma pausa e olhou para ela, sua expressão totalmente séria. —Se você pode trazê-lo de volta para nós, eu sempre estarei em dívida com você. Ele desistiu, Honor. Ele não tem absolutamente nenhuma vontade de viver, e ele está com tanta dor que eu não posso nem mais olhar para meu próprio irmão. —Oh, ele está voltando—, ela prometeu. —Mesmo se eu tiver que nocauteá-lo, amarrá-lo e arrastá-lo de volta para casa, eu não vou sair daqui sem ele. Raid riu e se inclinou para beijar sua testa. —Você sabe o que? Eu acredito em você, irmãzinha. —Então, sua expressão tornou-se séria de novo. —Você quer que eu vá em primeiro lugar? Ela revirou os olhos. —Guy nunca me machucaria. Você deve estar preocupado, se eu vou machucá-lo. Mas não. Isto é privado. Eu não quero mais ninguém, somente eu e ele. Raid assentiu com a cabeça e começou a voltar para o corredor. Ela esperou que ele desaparecesse antes de se voltar para a porta de Guy. Sua mão pairou sobre a maçaneta, com medo que a porta estivesse trancada e ele se recusasse a deixá-la entrar. Em seguida, ela balançou a cabeça. Havia mais de vinte pessoas no andar de baixo que poderiam facilmente quebrar a porta. De uma forma ou outra, ela entraria. Para seu alívio, quando ela calmamente torceu a maçaneta, estava destrancada e a porta se abriu uma fração. Ainda assim, ela hesitou, porque mesmo com toda a sua bravata e determinação, ela estava apavorada que ele nem sequer olharia para ela. Reconhecê-la. Ouvi-la. De dentro veio um grunhido irritado. —Eu disse para me deixar sozinho. Qual parte de não interferir, não entenderam seus idiotas? Honor abriu toda a porta, pisando para dentro do quarto, com as mãos nos quadris. Quando Hancock a viu, quase caiu da cama. Ele lutou para sentar-se, o rosto contraído com o choque. E depois o sofrimento e arrependimento e auto aversão substituiu o choque inicial e quase deixou-a de joelhos.


Naquele momento ela sabia que teria que ser forte. Não podia permitir que uma grama do passado de dor nos olhos dela, porque iria destruí-lo e ele nunca daria ouvidos a ela. Ele nunca a ouviria. Ele a afastaria, convencido de que ele só a magoaria novamente. Pelo menos um deles tinha que ter consciência, e não era ele no momento. Então, ao invés de jogar-se em seus braços como se ela estava louca para fazer e chorar por tudo o que havia sido perdido e o quanto ela o amava, ela ia ter de repartir um pouco de amor bruto. —Isso é jeito de falar com a sua família? — Ela perguntou, seu pé batendo no chão em repreensão. —Honor? Sua voz estava abalada, tão rouca que o nome dela era quase indecifrável, seus olhos devastados pela tristeza e dor. Tanto sofrimento que sua garganta se fechou sobre ela, deixando-a momentaneamente incapaz de falar. Ela esqueceu tudo sobre amor bruto e ser uma cadela. Ela não podia suportar a distância entre eles por mais tempo, e ela atirouse para o seu corpo para que ele não tivesse outra escolha, mas para pegá-la ou ser atropelado por ela. As mãos dela descansaram em suas bochechas enquanto olhava para baixo, para o despertar de esperança nos olhos de Guy. Ele engoliu em seco e, em seguida, olhou para o lado, como se recusando a sequer acolher tal emoção, mas ela não teria. Ela também recusou a si mesma a esperança, e ela estava errada. Ela deveria ter lutado, como estava preparada para lutar agora. Era uma batalha que não podia perder ou ele iria destruí-la. Ela não iria perder. Ela firmemente guiou seu rosto de volta para o dela e simplesmente olhou-o para baixo até que ele finalmente e relutantemente levantou os olhos e encontrou o olhar dela. —Sim, sou eu—, ela disse em uma voz rouca. —E eu tenho que dizerlhe, Guy Hancock, eu não estou muito feliz com você agora. —Por que você deveria estar? — Ele perguntou com uma voz triste. Ela fez um som de exasperação. —Você não me traiu, e nós dois sabemos disso. Ou você deveria saber. Se você não estivesse tão empenhado em


convencer a si mesmo que você é esse monstro horrível, você ia perceber que você não me traiu. —Como você pode pensar que eu não fiz? — Ele perguntou, incrédulo. Ela revirou os olhos. —Bem, é claro, no início eu pensei exatamente isso. Mas, caramba, alguém se deu ao trabalho de me dizer o que realmente aconteceu quando você me deixou acreditar que você estava voando para me entregar a NE –outra coisa estou extremamente chateada com isso a propósito– nenhum de nós teria sofrido por nos últimos meses. —Eu menti para você. Eu droguei você, algo que eu jurei que nunca faria novamente. E eu falhei com você, Honor. Eu deixei aquele bastardo chegar até você e ele te torturou por dias antes que eu pudesse encontrá-la. —Alguma vez lhe ocorreu a você mesmo, me dizer o que aconteceu e me permitir o luxo de decidir se você me traiu ou não? Em vez disso, você foi juiz e júri para mim. Você estava tão convencido de que tinha feito exatamente aquelas coisas que você decidiu por mim que eu nunca ia saber. Essa é a única coisa que eu estou brava com você de novo. Bem, não é bem raiva, mas magoada. Você me magoou, Guy —, disse ela dolorosamente. —Durante cinco longos meses eu me machuquei. Eu não conseguia dormir, não conseguia comer. E a verdade perante Deus, eu queria morrer. Eu desisti. Eu não quero viver sem você. Você não consegue entender isso? Sua voz estava implorando. Precariamente perto de implorar, mas Deus, ela não tinha qualquer orgulho quando veio a este homem. Ela ia rastejar se ela tivesse que fazer. Qualquer coisa para fazê-lo voltar para ela. Amá-la tanto quanto ela o amava. Ele a olhou com aqueles olhos assombrados, e ele claramente não tinha ideia de como responder. Ele estava tão seguro de sua culpa que não, não lhe ocorrera a dar-lhe a escolha de julgar. Ele simplesmente passou as mãos sobre o rosto, os lábios, o pescoço, ombros, mais e mais, como se ele realmente não acreditasse que ela estava aqui. —Você me odeia—, ele sussurrou com voz torturada. —Deus, eu me odeio. —Olhe para mim, Guy—, disse ela com ternura. —Me veja.


Ele olhou fixamente em seus olhos para o que pareceu uma eternidade antes que ele finalmente registrasse. Não havia ódio lá. Nem medo. Nenhuma sensação de traição ou mágoa. Apenas amor. E ternura, compaixão e um voto para protegê-lo sempre. Que ele sempre estaria seguro com ela. Seu coração estaria sempre seguro com ela. —Eu não odeio você. Eu te amo —, ela sussurrou ferozmente. —Eu te amo. E você não pode decidir por mim. Você não pode me dizer que eu não te amo. Não há nada que você possa fazer para me fazer não te amar. Pequenos riachos escorriam por seu rosto. Suas narinas alargadas com cada inalação quando lutava uma batalha viciosa pelo o controle, para não quebrar completamente. Ela emoldurou seu amado rosto nas palmas das mãos e olhou diretamente em seus olhos. —Agora, me escute, Guy, porque isso é importante. Tudo é. Não me interrompa até que eu tenha acabado. Você entende? Ele deu um aceno com a cabeça, e ela ponderou se era mesmo necessário ela pedir para não a interromper. Ele não era capaz de dizer qualquer coisa no momento. Ele estava simplesmente muito subjugado. —Agora, se você se afastou de mim, porque você não me quer e você não me ama, então eu tenho que aceitar isso. Ele fez um ruído estrangulado em sua garganta, e ela lhe lançou um olhar de advertência, lembrando-o de sua promessa. Mas ele não parecia feliz em tudo. Ele parecia chateado, fogo ardente em seus olhos. Bom, pensou selvagemente. Ela preferia a sua ira e raiva sobre o olhar sem alma em seus olhos em qualquer dia da semana. —No entanto, se você se afastou de mim, porque você pensou que eu odiava você, porque você realmente acredita que você me traiu, mentiu para mim e sente que não é digno de mim, então eu não vou aceitar isso —, ela disse ferozmente. —Porque é besteira. É tudo besteira. E eu não vou jogar fora a melhor coisa na minha vida porque você decidiu que cometeu um pecado imperdoável contra alguém que já tenha te perdoado. —Você já terminou? — Perguntou ele.


Ela assentiu com a cabeça. —Bom. Porque eu te amo para caralho, mais do que eu já amei outro ser humano na minha vida. Você não é apenas o mundo, Honor Cambridge. Você é o meu mundo. Toda a minha razão de viver. Me afastar de você, porque eu não te quero ou te amo? Eu fui embora porque você merece coisa melhor do que eu. Porque você merece um homem que não deixará de proteger você e permitir que você seja quase estuprada e depois torturada. E eu não sou esse homem —, disse ele em uma voz selvagem. —Sim—, ela disse calmamente. —Você é. Desespero arrastou mais uma vez em seus olhos. —Você não tem ideia do tipo de vida que você tem que viver se você estiver comigo. Devido ao fato de que eu acumulei mais inimigos ao longo dos anos do que os próprios monstros que eu trabalhei para derrubar, você seria sempre um alvo. Você é a minha maior fraqueza, e todos nesse mundo maldito iriam conhecê-la e tentar me machucar por ficar com você. E eles iria machucála. Eles já te machucaram —, ele disse em uma voz torturada. —E eu não posso suportar, Honor. Eu não poderia viver comigo mesmo se eu perdesse você. —Estou feliz que você é tão durão, então—, disse ela levemente. —Você nunca, nunca mais deixe ninguém me machucar. Guy fechou os olhos, apertando os dedos em punhos apertados. —Sua confiança em mim me desconcerta. Ela me humilha quando você não tem nenhuma razão para confiar em qualquer coisa que eu digo ou a promessa que faço. Mas, Honor, o perigo… isso é apenas uma parte. Eu sou um homem que exige e espera o controle completo. Em todos os aspectos. Como minha mulher, eu iria dominar você. Eu quero saber de cada movimento seu. Eu espero que você fale comigo a qualquer hora, mesmo que você só vá até o supermercado. Ele levantou uma mão para passá-la asperamente sobre sua cabeça. —Eu sou exigente sexualmente. Eu não abro mão do controle em qualquer aspecto da minha vida, baby —, ele disse em uma voz dolorida, como se estivesse admitindo um assassinato. —Eu não posso. Controle foi enraizado em mim toda a minha vida. Eu fui treinado para estar sempre no controle de


todos os aspectos de cada situação. Quanto tempo você acha que seria necessário antes que você começasse a se sentir sufocada? Quanto tempo levaria para que eu matasse a coisa que até agora diferencia você do restante do mundo? Seu sorriso, sua luz do sol, sua bondade e generosidade. Eu sufocaria você, Honor. E, eventualmente, eu iria destruí-la. Ela riu, seu sorriso largo como ela tomou em sua total perplexidade com a reação dela à sua admissão doloroso. Ela ergueu os dedos, assinalando os pontos em cada dígito. —Vamos ver, em primeiro lugar, sexualmente dominante? Recebo os arrepios de pensar nisso. Eu já tive um gosto de sexo com você, Hancock, e qualquer idiota saberia que você está no comando, forte e dominante como o inferno. Eu lhe asseguro, eu vou aproveitar cada momento da sua posição dominante. Ela apertou outro dedo. —Segundo. A sua necessidade de saber onde eu estou em todos os momentos e você exagerar me protegendo. Uhm, duh? Eu não sou um idiota, Guy. Eu vi o pior este mundo tem para oferecer e tenho visto em seu mundo. Francamente, eu não vou querer ir a qualquer lugar sem você, e, além disso, se você quiser contratar um exército inteiro para nos proteger, eu estou dentro. Ela ergueu o último dedo. —Agora, para sufocar, matar, sufocar, destruir. Eu não vou dar esse tanto de uma resposta, porque ele não merece isso. Ela se inclinou e tocou seu rosto, pressionando levemente seus lábios nos dele. —A única maneira de matar qualquer parte de mim é que se você não amar e não me querer. Se você se afastar de mim novamente. Isso vai me destruir. Nada mais. Ele a beijou de volta, forte, quente, ardente, como se ele estivesse faminto por ela. E Deus, ela estava faminta por ele. Durante os últimos meses, ela viveu sem a outra metade de sua alma. Nunca mais ela queria passar por isso de novo. Então, ele escorregou para fora da cama, de joelhos, estendendo a mão para ela, puxando-a para ficar de frente, com ele ajoelhado diante dela. Ele passou os braços em volta dela, enterrando seu rosto entre os seios. Lágrimas


quentes deslizavam sobre sua pele, cada um a machucando-a, como minúsculos punhais em seu coração. —Eu sinto muito, Honor—, ele engasgou. —Eu sinto muito. Eu estava louco naqueles dias, morrendo um pouco mais a cada hora que você estava nas mãos deles. Era tudo que eu conseguia pensar. Sabendo que ele estava torturando você e saber que você pensava que eu tinha traído você, te entregando a ele. Eu não consigo dormir à noite. Até agora. Sabendo que ele está morto. A NE foi derrubada. Que eles não podem te machucar. Eu não consigo dormir, não consigo comer. Cada segundo que eu penso sobre o quão mal eu te machuquei, e todas as vezes que eu deixei você para baixo. Por favor me perdoe —, ele sussurrou. —Por favor me dê a chance de provar a você que eu nunca vou deixar você de novo. Vou passar a minha vida para garantir que você não tenha nenhum arranhão. Eu quero ser um homem bom. Para você. Eu quero ser um homem você pode se orgulhar. —Oh, meu amor—, ela sussurrou. —Você não entende? Eu amo o homem que você é. Você não pode mudar por mim. Eu não vou amar um homem que você criou pensando que é o que eu quero e preciso. Eu preciso de você. Ela tirou as lágrimas em seu rosto, em seguida, inclinou-se para beijá-lo enquanto suas mãos emolduravam seu rosto. —E eu já te perdoei. Não há nenhuma necessidade de pedir novamente. —Você deu sem nunca perguntar, — ele disse calmamente. —Eu deveria estar de joelhos implorando seu perdão e então eu dei isso para você, porque isso é o que você merece, independentemente que seu coração generoso já tenha me perdoado. Quando ele a estava puxando de volta para ele, ela resistiu, sabendo que no ângulo atual, ele teria sua bochecha direita sobre sua barriga arredondada. Ele olhou para ela, intrigado, um pouco incerto. Ela sorriu e voltou a se sentar na cama, batendo no espaço ao lado dela. —Venha. Há uma última coisa que temos que discutir. Ele sentou-se ao lado dela e franziu a testa porque ela tinha ficado de repente tensa e ela sabia que ele tinha notado. Ele deslizou sua mão ao redor


dela, levantando-a para descansar em sua coxa quando ele entrelaçou os dedos juntos. —O que é, Honor? —Primeiro de tudo, eu não estava – não estou– te enganando. Eu sou apenas — egoísta —, disse ela com uma careta. —Você é a pessoa menos egoísta que eu conheço —, ele rosnou. Ela sorriu levemente. —É só que eu tinha que saber… Eu tinha que saber que você me queria. Que você me amava. Eu não quero que você fique comigo por obrigação. Então, eu não lhe disse imediatamente. Mas eu estou dizendo a você agora. Seus olhos estavam preocupados agora. Não com raiva ou apreensão, como se achasse que ela tinha feito alguma coisa horrível. Ele estava preocupado por ela, e ela o amava ainda mais por isso. —Estou grávida—, ela disse suavemente. —Eu vou ter o seu bebê, Guy. Estou quase cinco meses de gravidez. Ele olhou para sua barriga em estado de choque e, em seguida, de volta até seu rosto, como se o que ela estava dizendo a ele simplesmente não foi computado. —Ainda não aparece, a menos que eu use roupas apertadas. Daí o traje folgado que eu escolhi para esta viagem. Nem mesmo os outros sabem. Apenas meus pais e irmãos. Eu perdi muito peso e estava tão faminta que, quando voltei para casa, eu estava literalmente pele e ossos, de modo que o peso que eu ganhei com a gravidez fez apenas com que pareça como se eu recuperasse o que eu tinha perdido antes. —Mostre-me—, disse ele, com a voz embargada. —Deixe-me ver o nosso filho. Por favor. Ela segurou a bainha de sua camisa de grandes dimensões e, lentamente, puxou-a para cima. Ambas as mãos sempre tão delicadamente pressionadas contra o montículo, seus dedos tremendo contra sua pele. —Você está bem? — Ele perguntou ansiosamente. —Você estava tão ferida e como você disse faminta. Não pode ser saudável para você ter um bebê.


Ela sorriu, querendo tranquilizá-lo. —Meu obstetra me colocou um regime estrito de vitamina, bem como uma agenda de alimentação que minha mãe impõe como um general do exército. —Você está feliz com isso? — Perguntou ele, a vulnerabilidade rastejando em seus olhos. Ela deixou-o ver toda a força de sua alegria como ela sorriu de volta. — Ah, sim—, ela respirou. —A questão é, você está? —Feliz? — Ele perguntou com voz rouca. —Eu não acho que feliz pode descrever adequadamente minha surpresa agora. Oh Deus, Honor, eu não mereço você ou o nosso filho. Você nem sabe quantos inimigos eu tenho? Você entende o perigo que você está colocando-se e nossa criança por querer uma vida comigo? Suas mãos tremiam ainda mais forte, e ela colocou as mãos suavemente sobre onde estava o inchaço de sua barriga. —Deus não me esqueceu—, disse ele em reverência, as lágrimas brilhando intensamente em seus olhos quando ele levantou a dela. —Eu não estou condenado. Nenhum homem sem alma, um homem condenado por uma eternidade, poderia ser dado dois preciosos presentes. Seu coração doía pela dor que Guy tinha sofrido por tanto tempo. Por saber que há muito tempo ele estava realmente sozinho no mundo, sem âncora para segurá-lo. —Não, meu querido—, disse ela com ternura. —Na verdade, você é muito abençoado. Nós dois somos. Você agora recebeu uma terceira oportunidade. Conte-me. Você vai pegá-la? —Sim—, disse ele ferozmente. —Oh sim. Ele fundiu sua boca para sua em uma corrida quente. Ele era áspero, quase animalesco, as mãos de viajando possessivamente de cima e para baixo em seu corpo, mas instantaneamente gentilmente quando eles deslizavam sobre onde seu filho estava aninhado no ventre de sua mãe. Ele afastou-se, ofegante bruscamente, seus olhos brilhando como o de um predador. —Você selou seu destino ao se entregar a mim duas vezes—, disse ele com a voz rouca. —Eu deixei você ir uma vez. Eu nunca vou fazer isso de novo.


Então não se esqueça, Honor. Esteja muito certo de que isto é o que você quer e eu sou quem você quer. Porque uma vez que você se comprometer a mim, vai ser para sempre. —Bem, obrigado, Deus—, disse ela, fingindo grande alívio. —Quero dizer, o que é que uma menina tem que fazer nestes dias? —Diga-me que me ama—, disse ele, com a voz embargada. Seu coração quase quebrou quando insegurança brilhou em seus olhos. E o medo. —Eu te amo—, ela sussurrou. —Muito. Eu nunca vou amar alguém tanto quanto eu te amo. —Graças a Deus—, ele respirou, esmagando-a contra ele, pendurado em sua preciosa vida. Lágrimas queimaram seus olhos e ele não se importou. Ele encontrou a redenção quando ele se encontrava desesperado para ver o sol novamente. —Você é um milagre—, disse ele com voz rouca. —Minha luz do sol, Honor. —Que bom que você finalmente reconheceu isso—, ela disse com um sorriso.


Epílogo HANCOCK cuidadosamente equilibrou a bandeja que estava segurando quando ele fez o caminho da cozinha para a sala onde Honor estava alimentando Reece, que estava agora com pouco mais de oito meses de idade. Ele tinha tomado um cuidado especial com o café da manhã, artisticamente –tão criativo como ele era capaz de arrumar– uma única rosa amarela em um vaso longo canelado situado ao lado do prato e um copo de suco de maçã, o favorito de sua esposa. Mesmo depois de todos esses meses, ele fez uma pausa com a visão de seu filho aninhado carinhosamente contra o peito de sua mãe, uma de suas mãos segurando a mamadeira no lugar enquanto a outra acariciava seus cachos macios. Sua expressão tão dolorosamente bela que nunca deixava de tirar o seu fôlego. Ela murmurou em voz baixa para Reece, dizendo-lhe o quanto ele era amado por sua mãe e por seu pai. E ela falava a verdade absoluta. O sol nascia e se punha aos pés de sua esposa e do seu filho. A cada dia que ele acordava, Honor estava aninhada em seus braços. Toda noite ele ia para a cama saciado, depois de fazer amor com sua esposa, e ela sonolenta dizia “eu te amo” ou “eu preciso tanto de você, Guy” murmurado em minhas orelhas. Ele se desfez a cada momento e ele sussurrou uma oração de agradecimento por ter encontrado redenção e perdão, outra chance com a mulher que ele amava mais do que a vida. As poucas vezes que ele estava longe dela, ele foi cercado pela necessidade de retornar a ela como mais rápido que podia. Ele não tinha certeza se algum dia ia superar seu medo de perdê-los, de voltar para casa para saber que eles foram embora. Ele, de todas as pessoas, era muito consciente do mal que andava entre as pessoas comuns nesta terra, e ao longo dos anos que ele tinha acumulado muitos inimigos para contar. Era por isso que eles viviam como os únicos habitantes nesta ilha remota, que era acessível apenas por barco ou helicóptero. Ele fez um monte de dinheiro durante seus anos como um mercenário, combatendo o bom combate. Dinheiro


que ele nunca tinha usado. Nunca teve um motivo para usar. Ninguém para gastar. Mas agora? Ele tinha uma esposa e um filho para estragar descaradamente, e fazia em uma base regular, para grande desgosto de Honor. Ele sempre tinha que esconder seu sorriso com sua exasperação e a declaração que ela sempre lhe dava: Que tinha tudo o que ela poderia querer. Ela não precisava de mais nada. Mas isso não significava que ele prestava atenção. Se ela dava a entender, em toda a sua inocência, que gostava de algo, ou ele via sua expressão quando algo chamava sua atenção, era dela. Mesmo agora ele já estava antecipando alegremente dar seu primeiro presente de aniversário para ela quando ela colocasse Reece para dormir durante toda a noite e com o fundo musical do mar, entregaria seu presente para ela. Ele amava satisfazer todos os caprichos dela. Ele adorava fazê-la feliz. O sorriso dela fazia tudo valer a pena em sua vida. Sentindo a sua presença, Honor olhou para cima de onde ela estava falando em voz baixa e amorosa com seu filho, e ela sorriu, com os olhos tão cheios de amor que incutiu uma dor feroz em seu coração. Sua alma inchou quase estourando e ela sequer olhou para ele. Ele nunca se cansava de ver seu amor por ele fervendo em seus olhos, assim como ele sempre o devolvia em espécie. —Não que eu não amo você me estragando assim, mas o que é isso? — Ela perguntou em tom de provocação. Ele colocou a bandeja na mesa de café em frente a ela e, em seguida, deslizou para o sofá ao lado dela, inclinando-se para beijá-la, embalando a cabeça de seu filho na sua grande palma. —Não me diga que você esqueceu que hoje é nosso aniversário de casamento de um ano—, disse ele com ferocidade simulada. Ela sorriu maliciosamente. —Não. Eu tenho meu próprio presente também, mas você vai ter que esperar um pouco. Estou um pouco ocupada no momento. —Você me amar é todo o presente que eu realmente preciso —, disse ele em completa sinceridade.


—Bem, isso é bastante fácil. Eu amo você, Guy. Eu sempre vou te amar. Isso nunca vai mudar e eu espero que você sinta o mesmo. Mas esse presente é dado todo dia. Hoje? Tenho algo muito especial para você. —Você diz as coisas mais estúpidas às vezes, mulher—, disse ele, estreitando os olhos, mas sabia que ele não parecia nem um pouco irritado. Os olhos de Honor estavam rindo dele. —Como se eu não vou sempre sentir o mesmo—, ele bufou. —Você é minha vida, Honor. Sem você, eu não tenho nada. Sem você, eu não quero viver. De repente, ela levantou a mão livre para seu rosto e acariciou o queixo bem barbeado, e ele não pôde evitar. Ciente do pacote precioso ainda se alimentando, ele se inclinou e beijou-a com ternura explorando sua boca, absorvendo seu gosto, algo que ele nunca iria se cansar. Quando ele finalmente se afastou, suas bochechas estavam vermelhas e desejo refletido em seus olhos castanhos quentes semicerrados. —Quanto tempo antes que ele termine com sua mãe e desça para uma sesta, para que seu pai possa roubá-la por um tempo? —Disse Hancock em uma voz cheia de excitação. Outras partes dele estavam tão espessas, tão pesadas e tão doloridas. Ela riu. —Ele só acabou de acordar. Ele tem algumas horas antes da sesta ainda. Hancock reprimiu uma maldição. Se ele não fosse um paranoico, bastardo superprotetor, ele teria aceitado as inúmeras ofertas das famílias sua e de Honor para ficar com Reece para o fim de semana prolongado de aniversário e ele teria Honor toda para si mesmo. Mas eles raramente deixavam a ilha. Um breve pensamento sombrio cintilou em sua mente. Será que Honor se sentia como uma prisioneira? Nunca podendo sair e nunca tendo a liberdade de ir e vir como quisesse? Hancock era um bastardo por controle. Ela nunca deixava a ilha sem ele. Ele nunca a deixava na ilha sozinha. A maioria das mulheres se sentiriam sufocadas e iam se ressentir dessas restrições, mas não Honor. Esse fato ainda não o impedia de se preocupar que


um dia… Ele sacudiu os pensamentos sombrios. Ele não iria lá. Honor lhe garantiu que ela amaria por toda a vida. Que ela o amava. —Faça-o arrotar e, em seguida, coloque-o na cadeirinha para mim? A doçura do pedido feito por Honor rompeu seus pensamentos sisudos, e ele entrou em ação, delicadamente deslizando suas mãos grandes e desajeitadas sob a cabeça de Reece e na parte inferior da fralda, levantando-o no ombro para que ele pudesse dar tapinhas costas de Reece. Poucos minutos e vários arrotos impressionantes depois, Hancock riu e colocou o bebê na cadeirinha de balanço que tinha vista para a praia de areia e águas brilhantes. Quando ele se virou para trás, os olhos de sua esposa brilharam com alegria, e ele enviou-lhe seu melhor olhar feroz. A divertia que até agora ele ainda estava convencido que derrubaria o bebê ou o esmagaria o seu pequenino corpo com as mãos que –até agora– foram usadas como armas. Para a violência, não ternura. Para infligir dor, não oferecer conforto. Ela deu um tapinha no espaço ao lado dela quando ela se reposicionou no sofá. Isso foi muito ruim, porque sua antiga pose dava-lhe uma visão muito boa de seus seios, que ainda estavam mais arredondados. Ela pegou um prato e entregou a ele e, em seguida, pegou o outro e eles se sentaram lado a lado a desfrutar do café da manhã que Hancock tinha preparado. Ela comeu, enquanto ele simplesmente gostava de observá-la. Ele nunca se cansava de observá-la. Deus, ele amava essa mulher. Honor estudou Guy por baixo de seus cílios. Mesmo que ela não pudesse sentir seu olhar aquecido, ela saberia que ele estava olhando para ela. Ele sempre olhava. No início, ela corava e lhe perguntava por que ele estava sempre olhando para ela. Muito sério, ele disse que ela era a coisa mais linda no mundo dele e que ele ainda tinha dificuldade em acreditar que ela pertencia a ele. E ela lhe pertencia em cada maneira possível. Ele avisou-a de sua possessividade. Seu domínio. Sua necessidade de controlar cada aspecto de sua vida, a sua vida. E sua dedicação absoluta para mantê-la segura em todos os momentos. Como se essa parte de sua


personalidade fosse assustá-la. Às vezes, ela podia sentir sua contenção. Podia senti-lo se segurando por causa de seu medo de afastá-la, mas ela não tinha nada disso e sempre o deixava saber muito vigorosamente. Ela queria o Guy real, tudo ou nada. Tinha tomado muita paciência da parte dela, e às vezes ele ainda precisava ser convencido de que as coisas que ele considerava falhas eram coisas que ela não só amava, mas também desfrutava. Ela precisava deles. Ela precisava dele. Deus, como ela precisava e amava com cada fôlego de seu corpo. Enquanto ele se preocupava com seu contentamento, ela se preocupava com a sua felicidade. Sua vida tinha feito uma virada total de 180 graus no ano passado. Ele já não vivia todos os dias sabendo que poderia ser o seu último, e tão louco quanto parecia, ela sabia que ele teve êxito. Não porque ele era um viciado em adrenalina ou gostava. Mas porque ele realmente queria fazer uma diferença no mundo. Proteger os inocentes, tirar o mal. Ele pensava ser um homem mau, quando nada poderia estar mais longe da verdade. E as mesmas pessoas que haviam formado Titan, para o bem maior, se voltaram contra a ele e seus companheiros de equipe, chamando-os de párias e traidores porque Guy e seus homens não estavam mais dispostos a fazer o trabalho sujo para eles. Ela odiou isso. Por manchar a honra de Guy e ousar questionar seus motivos. Motivos puros, quando eles eram os melhores dos homens, protegendo aqueles que não tinham ninguém para protegê-los. Levantando-se para aqueles sem vozes e se rebelando contra aqueles que traíram seu país e os cidadãos que tinham jurado representar. Ela se inclinou para frente para colocar o prato vazio na mesa de café, mas Guy interceptou, levando-o para ela, deslizando-o sobre a superfície de madeira e, em seguida, puxando-a em seus braços, colocando-a sob seu ombro e contra sua estrutura musculosa. Um suspiro de contentamento passou além de seus lábios quando ela se derreteu contra ele. —Você parece feliz, — ele disse em um tom satisfeito. —Oh, eu estou—, ela respirava.


Ela inclinou a cabeça para cima apenas o suficiente para que ela pudesse tocar em suas feições amadas. A boca sensual, o calor em seus olhos e sua mandíbula firme e maçãs do rosto definidas. Ela passou uma mão sobre o peito, até parar sobre o coração, sentindo a constante, e tranquilizadora batida contra a palma da mão. —Você se lembra do nosso casamento? Ele lhe deu um olhar que sugeria que ela tinha ficado louca. —Como se eu fosse esquecer o dia em que se tornou minha oficialmente? Eu me lembro de cada segundo. Nunca vou me esquecer de nenhum momento. O jeito que você parecia. O som de você dizendo: “Eu aceito”. A maneira que eu esqueci que tinha mais alguém lá quando eu provei a doçura de sua boca e beijei-a para sempre e não queria parar nunca. Como o tempo parou e naquele momento único no tempo que era só você e eu. Juntos. Prometendo a passar o resto de nossas vidas juntos. Você não tem ideia do que esse dia significou para mim, Honor. Eu penso nisso cada noite depois que eu faço amor com você e você cai no sono em meus braços, e eu simplesmente te olho, te segurando perto e eu repito o nosso casamento em minha mente. —Wow, — ela sussurrou, o calor inundando suas bochechas, amor enchendo o coração chegando quase a estourar. —É um dia eu vou levar comigo todos os dias para o resto da minha vida—, disse ele com absoluta seriedade. —Porque naquele dia você me deu algo muito precioso, Honor. Você me deu a si mesma, e eu levo isso – sempre levo isso muito a sério. Eu nunca tomarei, você ou nosso filho, por certo. —Eu te amo—, ela disse em uma voz dolorida infundida com emoção que ele não poderia perder. Ele a beijou, longa e persistentemente, mesmo quando Reece borbulhava alegremente enquanto chutava e agitava os braços em sua cadeira. —E eu te amo, Honor Hancock. Sempre. Para sempre. Ela se acomodou mais plenamente em seus braços, aconchegando-se em seu calor e sua força, seus dedos acariciando um padrão aleatório sobre o peito. —Você sente falta deles? Você se arrepende de não permanecer com sua equipe? Ir embora e nunca olhar para trás?


Ele se afastou, sua expressão feroz, enquanto olhava fixamente em seus olhos. —Não! Nunca. —Ele mudou de posição, virando para que ele pudesse enquadrar o rosto entre as mãos. —Por mais de uma década, Titan foi toda a minha vida. Minha família. Eles e os Sinclairs, embora eu não os veja muitas vezes. Mas, Honor, vocês são minha família agora. Todo o meu mundo. Você e nosso filho. Minha única razão de viver. Você me dá propósito. A razão de ser, uma razão para viver verdadeiramente. Eu nunca tive isso antes. Minhas missões eram apenas empregos realizados hábito. Meu coração e minha alma nunca estavam neles. Eu estava resignado com a razão da minha existência. Eu nunca tive nada para mim. Não queria nada. Até você. Se eu sinto falta daquela vida? De jeito nenhum. Eu não posso imaginar minha vida sem você e nosso filho. Eu não quero imaginar isso, e é por isso que tomo tantas precauções para protegê-los, para garantir que nenhum de vocês nunca se machuquem. Porque sem você, eu tenho e não sou nada. Você é tudo para mim. Lágrimas inundaram os olhos dela, quando ela olhou para o marido em estado de choque. Guy não era um homem prolixo. Nem era o que qualquer um chamaria poético ou suave em seu discurso. Ele era brusco, mesmo abrupto às vezes, embora ela nunca levava para o lado pessoal. Mais frequentemente do que não, ele estava apenas em silêncio. Sua declaração apaixonada era tão atípica e sincera que se sentia cada palavra nos recessos mais profundos de sua alma. Ela não tinha nenhuma resposta. O que ela poderia dizer em resposta às mais belas palavras eloquentes, que ela já tinha ouvido em sua vida? E todos elas foram para ela. Ele a amava. Lágrimas escorriam silenciosamente pelo seu rosto. Mesmo que ela tivesse as palavras apropriadas para oferecer, ela nunca seria capaz de falar com o nó que tinha na garganta. —Não chore—, disse Guy desesperadamente, com uma expressão de puro pânico masculino. Se ela não estivesse tão dominada pelo momento, certamente ela teria rido, porque Guy não podia suportar vê-la chorar. Certa vez, ele tinha confessado que o fazia se sentir totalmente impotente, e para um homem como Guy admitir que se sentia impotente… bem, isso era enorme.


Sentindo que uma mudança de assunto era desesperadamente necessária, e ela ainda precisava de um pouco mais de tempo até que ela revelasse seu presente de aniversário, ela agarrou a primeira coisa que entrou em sua mente. A próxima viagem de Guy para o Oriente Médio. —Você ainda está planejando sair em duas semanas? — Ela perguntou levemente, mantendo um rígido controle sobre a emoção que fechava sua garganta. Seus lábios imediatamente recusaram. Ele odiava deixar Honor e Reece, mas a alternativa era Honor ir também, e ele deixou claro, que nem sobre seu cadáver, ela voltaria lá. Apesar da maioria da NE ter sido desmantelada e ficar impotente, Honor ainda era um alvo para muitos que simpatizavam com a NE ou simplesmente ficaram ofendidos que uma simples mulher conseguiu derrubar todo um grupo terrorista. Não importava que ela não tinha feito nada apesar de tudo. Titan e a KGI juntamente com a ajuda de um agente da CIA haviam liderado a operação. Nem mesmo nos Estados Unidos ela estava segura, porque os remanescentes do grupo da NE adorariam assassiná-la. E outros simpatizantes, terroristas, teriam o prazer em ser os únicos a derrubá-la. Seria uma questão de honra e eles seriam anunciados como heróis para aqueles que se opunham a tudo que Honor representava. Sua coragem. Desafio. Uma mulher sobreviver e sair vitoriosa quando a maioria teria morrido. Honor tinha mantido a promessa que tinha feito para si mesma que a NE não iria fazê-la parar de seus esforços de ajuda. Hancock tinha sido igualmente insistente que ela nunca mais colocasse os pés na região novamente, e ele foi plenamente apoiado por Titan. Ou o que costumava ser Titan. Conrad, Cope, Viper e Henderson. Tristeza ainda agarrou seu coração pela perda de Mojo. Ela odiava que mesmo um dos homens de Guy foi morto por causa dela. Então, tinham alcançado um senso comum e que funcionava surpreendentemente bem para todas as partes envolvidas. Honor fundou uma fundação de caridade que fornecia os esforços de ajuda às aldeias desesperadamente necessitadas, em lugares que ninguém mais iria se aventurar. E os ex-membros de Titan descobriram que a aposentadoria não era tudo o que diziam, por isso, eles recrutaram novos membros para substituir Mojo e


Hancock, bem como aumentar seus números, mas eles não assumiam mais missões. Eles não agiam como Titan tinha feito no passado. Seu único objetivo era fornecer proteção para o centro de ajuda de Honor e os seus trabalhadores. Eles até mesmo ajudaram a treinar homens e mulheres locais nas aldeias para que eles não fossem tão vulneráveis a ataques. Era um arranjo mais que adequado para todas as partes envolvidas. Mas Honor conhecia Guy, e ela sabia que ele nunca seria feliz simplesmente não fazendo nada, a não ser ficar em casa com sua esposa e filho as vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Assim, ele atuava como emissário de Honor e fazia três ou quatro viagens para os centros de ajuda por ano para garantir que os médicos, enfermeiros e voluntários tivessem todos os equipamentos necessários que precisavam, embora Honor sabia que ele queria e precisava desse tempo para se reconectar com os homens que tinham sido irmãos para ele por mais de uma década. Então, havia as vezes que ele se tornava inquieto, e Honor sempre sabia quando era hora dele ir ser um lobo solitário por alguns dias. Ela nunca perguntou e ele nunca se ofereceu para dizer para onde ele foi, mas ele viveu a maior parte de sua vida sozinho e isolado, e de vez em quando ele precisava disso novamente. Ele ainda não estava completamente confortável em viver uma vida “normal”, e ela entendia e aceitava. E ele a amava ainda mais por isso. Ela beneficiava-se do arranjo também porque sob nenhuma circunstância Guy deixaria sua esposa e filho desprotegidos, por isso, quando Guy viajava para supervisionar as operações no centro de ajuda ou partia para partes desconhecidas, ele sempre a levava para a única pessoa em quem confiava mais além de Honor. Maren Steele e, por extensão: Jackson Steele, embora ninguém exceto sua esposa o chamasse de “Jackson”, assim como ninguém, senão Honor e Eden chamava Hancock de “Guy”. Como resultado, ela tinha sido totalmente inserida no clã Kelly e ridiculamente disseram que ela era o último pintinho a ser adotado por Mama Kelly. Era também durante esses tempos que ela via ver sua própria família. Sam Kelly trazia seus pais e irmãos em um voo direto ao completo da KGI,


longe dos olhares indiscretos dos meios de comunicação ou outras fontes de fofocas, e Honor apreciava os benefícios de ser capaz de visitar toda a sua família. Eddie, Raid, e Ryker Sinclair vinham quando podiam, no entanto, agora que Reece tinha nascido, Honor imaginava que Eddie estaria no Tennessee quando seu primeiro neto estivesse lá para uma visita. —Esse é o plano—, disse Guy, em resposta à pergunta de Honor. —A menos que algo mais apareça. Eu ficarei fora uma semana, no máximo. Sam vai enviar um dos jatos Kelly e uma das equipes da KGI para escoltá-la e Reece ao Tennessee. Honor mordeu o lábio para não sorrir. —A menos que algo mais apareça — era um código para os outros empreendimentos secundários Guy estava envolvido. Embora ele fosse cuidadoso de não se envolver pessoalmente em qualquer coisa que poderia matá-lo, deixando assim a sua família desprotegida, ele era um monte de coisas para um monte de gente. Ele fornecia informações para Resnick, um agente desonesto da CIA que era provavelmente tão sombrio como Guy era, qualquer outras agências não-governamentais – não apenas o governo norte-americano– e até mesmo a KGI, embora eles provavelmente morderiam a língua antes mesmo de admitir que ele estava realmente os ajudando. Guy fazia um monte de trabalho de consultoria. Ele trabalhou e viveu nas sombras por anos. Ele sabia coisas maioria dos agentes cumpridores da não lei. Ele sabia como os senhores do crime organizado pensavam e trabalhavam. Ele tinha vasto conhecimento do tráfico de seres humanos e aqueles que lideravam tais operações. Se Honor não conhecesse o coração de Guy, ela já teria corrido gritando em outra direção, porque ele tinha “más notícias” escrito sobre ele. E ainda assim ele era honrado. Ele tinha um código – um estrito código. Um que ele aderiu em todos os momentos. Ele era uma lei em si mesmo e, no entanto, ele não abusava desse poder, dos seus conhecimentos, habilidades ou contatos. Ele era um dos mocinhos. —Quantos filhos você quer? — Ela deixou escapar.


Em seguida, ela amaldiçoou sua falta de sutileza. Caramba. Fale sobre ser sutil, passando de um assunto para outro que não era de forma alguma, relevante. Guy pareceu perplexo por um décimo de segundo e, em seguida, ele fez uma careta. Uh oh. Talvez ela devesse ter esperado até esta noite, quando ele estivesse saciado e suave depois de fazer amor para soltar a notícia. Ele girou em torno dela e plantou as mãos em ambos os lados de seus quadris para que ele pudesse olhar para ela face-a-face. Guy tinha sido um pouco... ok, muito intenso durante sua primeira gravidez. Ele insistiu que Maren fosse a única a cuidar de Honor e da criança, mesmo que ela não fosse uma obstetra. Ela era uma clínica geral. Mas ele gostava de Maren, e Guy não gostava de muitas pessoas, mas mais do que isso, ele confiava Maren, e ele definitivamente não confiava em um punhado de pessoas. Assim, duas semanas antes de sua data de nascimento, tinham viajado para o Tennessee e Guy tinha anunciado que eles ficariam até Honor dar à luz e Maren dar-lhes autorização para viajar de volta para casa. Ele simplesmente nunca se preocupou em contar a ninguém onde “a casa” era. Isso era um segredo bem guardado que só Guy e Honor sabiam, e ele insistiu que nem mesmo suas famílias soubessem porque eles então, não poderiam serem forçados a dar informações que eles não tinham. Honor engoliu porque Guy estava inclinado sobre ela, fervilhando, agitação rolando fora dele em ondas com a simples menção de mais crianças. —Eu nunca vou colocá-la para passar por isso de novo—, disse ele com os dentes cerrados quando sua carranca se aprofundou. Em seguida, todo o seu rosto se suavizou e amor aqueceu seus olhos. —Você me deu um filho, algo que eu nunca pensei que eu teria. Você me deu uma família real. Algo somente meu. Meu sangue. Você e Reece são o suficiente para mim. Você sempre será o suficiente para mim. Ela riu. Ela não podia ajudar a si mesma, embora ele não gostava da sua diversão. —Guy, o meu parto foi tão simples quanto parece! Foi suave e saiu sem problemas. Eu só fiquei em trabalho de parto durante seis horas.


Seu rosto ficou pálido e seus olhos estavam assombrados. Seu coração torceu quando viu as emoções conflitantes tão evidentes em seu olhar. —Deus, Honor, você estava com tanta dor—, disse ele em uma voz torturada. —Você teve dor e sofrimento suficiente. Dor que eu causei. Eu! E eu serei amaldiçoado se eu lhe causar outra dor. Toda a sua conduta se suavizou e seu coração encheu-se com tanto amor por este homem. Como seria a sua vida sem ele? Ela levantou a mão ao rosto e suavemente acariciou sua bochecha. —Querido, dor é normal no parto. Desde o início dos tempos. Mas a recompensa… Oh, Guy, a recompensa vale a pena cada pedaço de dor e sofrimento, porque o resultado é um menino ou uma menina preciosa. Ela sentou-se do sofá, desembaraçando-se das mãos de Guy. Ela foi até onde seu belo filho estava curtindo a segurança que tinha crescido, e quando ele a viu, ele recompensou com um largo sorriso que ostentava dois pequenos dentes da frente na parte superior e inferior. Ele imediatamente começou a chutar e balançar o corpo inteiro, lembrando Honor que a cadeirinha de balanço teria que ir logo, antes que ela se quebrasse ou ele tombasse para fora dela. Ela o pegou e segurou-o nos braços, correndo suavemente a mão sobre sua pele macia. Então ela olhou para Guy, todo o amor que ela tinha por seu marido e seu filho brilhando como um farol em seus olhos. —O que eu tenho em meus braços vale qualquer quantidade de dor. Você não vai mudar minha mente sobre isso. Guy balançou a cabeça, um olhar teimoso ela estava bem familiarizada, refletindo em seus olhos. Ele cruzou os braços sobre o peito e olhou para ela, seus lábios em uma linha fina. —Reece será o nosso único filho. Eu não vou permitir que você passe por tudo isso de novo. Ela revirou os olhos e sorriu enquanto se levantava-se na ponta dos pés, Reece aninhado entre seus corpos e beijou Guy. —Eu te amo, mas é tarde demais para me negar a outra criança. Você só vai ter que aguentar e aceitar o inevitável.


Ele olhou para ela em completo choque, absolutamente atordoado. Por um longo momento ele abriu e fechou a boca, sem palavras. Ele parecia como se tivesse sido atingido na cabeça com uma marreta. —Você está grávida de novo? — Ele perguntou com voz rouca. —É muito cedo, Honor. — Pânico rapidamente invadindo sua voz e ele começou a tremer violentamente da cabeça aos pés. —Você não está nem totalmente recuperada de sua primeira gravidez! Ele parecia aterrorizado, seus olhos desoladores. —Eu não posso te perder. Você é meu tudo. Deus, o que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? Você estava no controle de natalidade. Isso não deveria ter acontecido. O que eu fiz? —Ele repetiu pela terceira vez, em um desespero irracional. —Eu vou te machucar. Eu não posso colocá-la nisso de novo. Especialmente não tão cedo. Ele esfregou as mãos sobre o rosto e, em seguida, para cima e sobre a cabeça, desespero fazendo seu corpo arquear. Nunca o tinha visto assim. Forte. Inquebrável. Sempre no controle. Capaz de desligá-lo à vontade. E ainda agora, ele estava caindo aos pedaços, quebrando diante de seus olhos. A única coisa que ela não podia fazer era responder na mesma moeda. Ela teve que tomar controle da situação e mostrar-lhe que ela não tinha o menor medo. —Eu diria que você tem alguns nadadores muito potentes—, ela brincou. —O meu controle de natalidade tem sua kryptonita e, aparentemente, é você. Ele encarou sua tentativa de humor. —Como você pode brincar com algo assim? Se algo acontecer com você, Reece não vai ter uma mãe e eu não vou ter você. Ok então humor estava fora. Então ela usaria as grandes armas. Ela olhou para ele com grandes olhos tristes… e na verdade fez beicinho, algo que ela nunca se imaginou fazendo. Mas funcionou, hey, ela não tinha nem um pingo de remorso. Ela não poderia ajudar nisso, porque o marido era tão denso como nevoeiro e insanamente superprotetor dela. —Guy, você sabia que queria uma família grande antes de nos casarmos—, disse ela em uma baixa, trêmula voz, que podia ou não soar como


se estivesse à beira das lágrimas. —Você vai me negar isso? Sabendo que é algo que eu quero com todo meu coração e alma? Ele fez uma careta e, em seguida, passou a mão sobre a sua cabeça, nas costas para apertar sua nuca. Em seguida, ele fechou os olhos. —Você sabe muito bem que eu te daria qualquer coisa que você queira. Eu te daria o mundo. Mas caramba, Honor. Eu não quero perder você! Ela mudou Reece de posição, assim sua cabeça estava embalada contra o lado de seu pescoço e ela olhou fixamente para seu marido. O homem que ela amava mais do que ela achava que era possível amar outro ser humano. —Oh, Guy, você não vai me perder—, ela disse em uma voz macia que transmitia tudo o que ela sentia por este homem. —Eu tenho medo que você esteja preso comigo para sempre. Ele envolveu ambos os braços em torno de sua esposa e filho e coçou o queixo por cima de sua cabeça. —Isso mesmo—, ele murmurou. —Nunca vou desistir de você, baby. Você já me deu algo que eu nunca me permiti sequer sonhar, e agora você está me dando mais. Ele inclinou a cabeça para trás o suficiente para que ele pudesse olhar nos olhos dela, para que ela pudesse ver tudo o que estava nos seus. —Eu te amo — disse ele, sua voz crua e devastada pela emoção. —Para sempre. Eu sei que sou um bastardo exigente, e eu posso ser um idiota, mas eu agradeço a Deus por você todos os dias, e apenas quando eu acho que não pode ficar melhor do que naquele momento, aí você sorri para mim e acende meu maldito mundo inteiro e só fica melhor. Cada maldito dia é melhor do que o último. Eu não mereço você, mas eu nunca vou deixar você ir. Tanta vulnerabilidade brilhou em seus olhos, e ela ficou chocada ao ver um brilho de umidade que se foi quase tão rapidamente como apareceu, deixando-a a se perguntar se ela tinha imaginado. Ela se mudou Reece para o lado dela para que ele não fosse sufocado entre seus pais e, em seguida, ela se levantou na ponta dos pés e beijou novamente Guy longa e docemente. E ele deu-lhe longa e docemente de volta, provando que nem sempre era dominante e exigente.


Eles relutantemente se afastaram quando Reece começou a se agitar e Guy o tirou dos braços de Honor. —Eu acho que nós precisamos ir ver Maren em breve—, disse ela com tristeza. —Vamos na próxima semana—, declarou ele, dominância e demanda de volta com força. Em seguida, ele fixou-a com um olhar severo. —E você pegue mais leve, Honor. Com um bebê e agora grávida e tão doente como você esteve na sua primeira gravidez, você não vai sequer levantar um dedo e não haverá nenhum argumento. —E, — ele disse, levantando um dedo quando ela ia abrir a boca para falar, —você vai me dar outro filho desde que você está obcecada em ter uma casa cheia de crianças. Nossa filha vai precisar de grandes irmãos para protegêla. Ela riu e o abraçou do lado que Reece não ocupava em Guy. —Eu vivo para agradá-lo, oh senhor e mestre. Seu olhar estava cheio de ternura, quando ele olhou para ela, seu filho de um lado, sua esposa aninhada contra o outro. —Você me agrada. Acordar ao seu lado todas as manhãs? Você dormindo em meus braços todas as noites? Você iluminando todo o meu mundo quando você sorri para mim e me diz que você me ama? Eu nunca vou pedir outra coisa na minha vida. Você é minha vida, e não há uma única coisa eu estimo mais. Sete meses mais tarde, ela agradou o marido mais uma vez por ter o filho que ele tinha pedido.




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