ITCProsa - Ed.5

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edição nº05

AS MULHERES NA ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA: AUTONOMIA E LUTA! Em homenagem ao mês da mulher, o ITCProsa conversou com trabalhadoras de diversos segmentos da Economia Popular Solidária para mostrar o protagonismo feminino na costrução de outra economia!


mulheres e A ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA

editorial

As mulheres estão presentes em todos os espaços da Economia Popular Solidária e têm sido as protagonistas na organização desse movimento. Na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal de Viçosa, grande parte dos empreendimentos apoiados conta com uma parcela feminina significativa. No segmento de artesanato, elas estão à frente de processos de resgate cultural, geração de renda e valorização da autoestima. Ocupando os espaços públicos com seus produtos e sua arte, como se faz nas feiras em diferentes municípios da Zona da Mata Mineira, essas trabalhadoras ganham visibilidade e voz. Entre os empreendimentos da agricultura familiar e agroecologia, as mulheres também têm um papel fundamental. Seja no cuidado com o cultivo ou na mobilização para o consumo consciente, mulheres de todas as idades lutam por um modelo de agricultura livre de agrotóxicos e sustentável. Na reciclagem, o caminho é bem parecido. Trabalhadoras de todo o Brasil se organizam em associações e cooperativas para ensinar aos poderes públicos locais que é possível fazer Reciclagem Popular, incluindo, no processo de coleta seletiva, os catadores e catadoras. A afirmação da cultura afro-brasileira é outro exemplo. As mulheres são fundamentais para o fortalecimento das tradições quilombolas, preservando e difundindo costumes, cantos, culinária e danças. Na organização do movimento de Economia Popular Solidária, essa presença também fica visível. Participando de conselhos de políticas públicas e das coordenações de Fóruns de EPS, as trabalhadoras ocupam o espaço público para gestão social. Para conhecer um pouco mais sobre essas mulheres, o ITCProsa entrevistou várias trabalhadoras para mostrar como elas fazem da EPS uma bandeira de luta diária. As entrevistas apresentadas nessa edição mostram que, embora ainda tenhamos um caminho grande a percorrer, já demos passos significativos na construção de novas formas de autonomia e de um mundo mais solidário e justo!

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Fatinha é artesã da Associação dos Artesãos de Viçosa, a ADAV. Para ela, o artesanato é uma fonte de renda, um estímulo para sua criatividade e produção cultural. Trabalhar numa Associação exige a divisão do trabalho e disposição para cooperar com o grupo. Ela diz que o envolvimento com o artesanato e a Economia Popular Solidária trouxe independência e aumento da sua autoestima. Além disso, ela acompanhou o crescimento e fortalecimento do grupo, passando a respeitar e a se sentir mais respeitada. Para a artesã, participar do empreendimento é uma alegria, pois na Associação não existe exploração e é possível se renovar e se valorizar sem ter medo. Na Economia Popular Solidária, o artesanato é um dos segmentos em que há predominância da presença feminina.

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Bela e Ma y s a s ão col a b ora dora s n a R e de A gro eco ló gica de Pr os um i d o r es / as R a íze s da M a t a , que f uncio na em Viço s a . M ay s a acr ed i t a n a i mp ort â n ci a do trabalho com a a g r o ec o l o gi a e do p a p e l da mul he r n e sse es paç o. A p r es ença f emi n i n a e st i mul a mui t a s a g ricul to r a s a se em p o d er are m e se a ssumi re m c o mo pr odu t or a s e d o n a s de se us n e góci os. Pa ra Bela, como n a s p r o p r i ed a de s o cui da do com o quintal fica ma is a c a r go d as mul he re s, é ma i s f á ci l para as t r a b a l h a d o r a s s e i n se ri re m n a a groe colo gia. A Re de é u m es p aço p a ra come rci a l i za çã o desses pr odu t os e u m es tí mul o p a ra con t i n ui da de desse tipo de p r odu ç ão , v al o r i z an do o t ra b a l ho f e mi n i n o no campo .

REDE DE CO N

M E G LA Para Isabel, associada da ACAMARE, Associação dos Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa, a importância das mulheres neste segmento aumentou bastante, sendo maior a participação feminina nesse ramo de trabalho. O empreendimento é composto majoritariamente por mulheres. Isabel destaca a importância disso para as trabalhadoras que estão cada vez mais assumindo papéis de poder e responsabilidade em diversos espaços.

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Maria do Carmo, Gracinha e Rosângela fazem parte da Associação Quilobola Herdeiros do Bânzo, da cidade de Ponte Nova, Minas Gerais. A associação cultural tem como objetivo resgatar tradições da cultura afrobrasileira. Para elas, ser negra é ser uma mulher forte, de raça e de trabalho. No entanto, é preciso lidar também com várias dificuldades, como o preconceito. As associadas trabalham com o fortalecimento e divulgação da cultura negra, o que nem sempre é fácil, pois falta reconhecimento na região. Para Rosângela, a mulher negra tem que ter coragem para enfrentar esses desafios e assumir a negritude.

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M O VI M E

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Maria Geralda é presidente da Cooperativa de Portadores de Deficiência - COOPDEF, presidente do Conselho Estadual de Economia Solidária, repre-sentante do estado de Minas Gerais no Conselho Nacional de Economia Solidária, e faz parte das coordenações do Fórum Regional de Economia Popular Solidária da Zona da Mata Mineira e do Fórum Mineiro de Economia Popular Solidária. Para ela, o local que a mulher ocupa no mercado de trabalho ainda é residual e reflete as desigualdades sociais, econômicas e de gênero da nossa sociedade. Em relação às mulheres deficientes ainda há um longo caminho a percorrer na busca pelo reconhecimento de direitos, igualdade e acessibilidade. Sendo uma das militantes mais atuantes na Economia Popular Solidária em Minas Gerais, Maria Geralda foi premiada pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora com o troféu “Mulher Cidadã 2015”. Ela recebeu o prêmio na categoria “Geração de Trabalho e Renda” pelo seu trabalho com a COOPDEF e a EPS.

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Dona Marlene é agricultora familiar e vive e trabalha em Viçosa. Ela produz frutas, legumes, verduras, hortaliças e comercializa na Rede Agroecológica de Prosumidores/as Raízes da Mata. Para ela, o trabalho da mulher na agricultura é importante, pois contribui para renda da família. Embora não seja um volume grande, a produção dignifica e valoriza o trabalho feminino no campo. Dona Marlene não utiliza agrotóxicos em suas plantações e revela que, participando da Rede, passou a dar maior importância à agroecologia. Trata-se, segundo ela, de uma maneira mais saudável de produzir que não afeta a saúde de sua família e dos consumidores de seus produtos.

A G RIC U L T U R


CARTAS DAS MULHERES DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: - Trecho da carta escrita no 2º Encontro das mulheres da América Latina e Caribe da Economia Solidária: “Nós, mulheres, que somos a grande maioria na Economia Solidária. Somos negras, indígenas, brancas, jovens, idosas, de todas as crenças e de todos os territórios, reunidas (...) para aprofundar o debate sobre temas comuns da nossa realidade. Estamos todas produzindo ou comercializando coletivamente como catadoras, agricultoras,costureiras, artesãs, cozinheiras, doceiras, pescadoras, sociólogas, educadoras, dentistas, metalúrgicas, tecelãs, outras e até mesmo como Gestoras Públicas. O atual modelo de desenvolvimento é estruturado na exploração do trabalho, nos valores capitalistas, pela apropriação privada de recursos naturais, pela concentração de riquezas e da terra e pela mercantilização da vida. Isto produz discriminação e desigualdades estruturais nas relações sociais entre homens e mulheres e, sobretudo, para as populações negras, indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais, sendo as mulheres e crianças, oriundas desses grupos, as maiores vítimas. Diante disto, reafirmamos a necessidade de políticas públicas estruturantes para um novo modelo de desenvolvimento que possibilite o reconhecimento das mulheres como sujeito político, a importância da sua auto-organização e o fim da divisão sexual do trabalho, que desvaloriza e separa o trabalho das mulheres em relação ao dos homens.”

- Trecho da carta escrita no 3º Encontro das mulheres da América Latina e Caribe da Economia Solidária: “A economia solidária é uma prática, econômica e social, que se estende pelo mundo inteiro, sendo a América Latina uma das regiões onde mais vem se desenvolvendo, produzindo experiências alternativas, que se contrapõe à lógica excludente do sistema neoliberal e do mercado capitalista. E nós, mulheres, estamos na base desta construção, no campo e na cidade; na agricultura; na produção e nos serviços; ligadas às nossas comunidades e à movimentos diversos, gerando alternativas - não apenas econômicas mas também de inclusão social e de sustentação da vida, em todas as suas dimensões. (...) Como mulheres, valorizamos o trabalho reprodutivo e o cuidado com nossas famílias e nossas comunidades. Sabemos da importância deste trabalho para a sustentação da vida e queremos que seja reco-nhecido, valorizado e transformado em ações sociais e políticas públicas. Como mulheres, temos sofrido com a desigualdade, a discriminação, a violência, que nos anulam, nos invizibilizam, despotencializando nossa capacidade e reproduzindo um mundo onde somos consideradas cidadãs de segunda categoria em muitas dimensões. A economia solidária tem sido um espaço importante de busca de alternativas, de nossa autonomia econômica, de revelar nossa capacidade produtiva, de nos afirmar como trabalhadoras e como construtoras de um mundo novo, baseado na cooperação, na autogestão e na solidariedade.”

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Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares Casa 3, Vila Matoso Campus Universitário, UFV Viçosa - MG CONTATO: (31) 3899-2798 itcpufv@gmail.com www.itcp.ufv.br

/itcpufv2003

produção deste material Alvino Amaral Marcela Oliveira Taís Pires

DIAGRAMAÇÃO

PROEXT

Programa de Extensão Universitária

Taís Pires

REVISÃO E COORDENAÇÃO DO PROJETO Bianca Lima Costa

PEC

Pro-reitoria de Extensão e Cultura


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