CRIMESnoMOSTEIRO

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Foi nesse momento que abade Calixto notou a ausência de um dos monges. Olhou em volta para se certificar daquela falta. Monge Josias não estava ali presente. “Por que ele faltou às Matinas?”, pensou, preocupado. Os olhos do abade procuraram os de frei Vicente, seu dedicado secretário. Tão logo aconteceu o contato visual, Calixto acenou com a cabeça, indicando a direção do assento vago no meio do coro. O frei levantou as sobrancelhas, numa expressão de dúvida. Com um balanço de cabeça, fez sinal ao abade de que se encaminharia às celas para chamar Josias. O abade concordou com outro gesto e voltou a atenção novamente para a liturgia. Nenhuma das palavras santas aquietava seu coração angustiado. Frei Vicente se levantou, benzeu-se diante do altar e deslizou diligentemente pela frente do coro, observado aqui e ali pelos que permaneciam. Ticando a bengala, dobrou à direita, abriu a porta da clausura e dirigiu-se às celas. O cântico gregoriano continuou, estimulado pela agitação do turíbulo, que espalhava fumaça mística por toda a região do altar. Uma pausa profunda na prece em latim encheu a nave com um silêncio sobrenatural. Os monges encontraram um frágil momento de paz. Passados alguns minutos, esse instante mágico foi quebrado pelo taque-taque nervoso de uma bengala, pressentida ao longe. Depois, ouviu-se uma respiração ofegante. A porta da clausura se abriu. Os monges viraram os rostos quando frei Vicente subiu os degraus do altar e deu um passo desequilibrado na direção do abade. Frei Vicente conseguiu balbuciar com dificuldade as palavras seguintes: – Nosso irmão Josias... Deus cuide de sua alma!... nosso querido Josias... nosso Josias... não está mais entre nós. O Senhor o chamou para a vida eterna! Como um cardume nervoso de peixes, os monges se dirigiram à cela de Josias. Para a maioria, a notícia parecia 14


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