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IN MEMORIAM JAMES SYMINGTON

James Symington foi um dos membros da terceira geração da nossa família cuja firme dedicação e espírito de sacrifício garantiram a sobrevivência da empresa familiar em tempos difíceis. Juntamente com os seus primos, desempenhou um importante papel no desenvolvimento do negócio e no lançamento das bases sólidas da empresa de que hoje desfrutamos. Infelizmente, James faleceu em novembro de 2020, apenas a um mês de completar o seu 86.º aniversário.

James nasceu no Porto, em 1934. Era membro da terceira geração da família Symington a produzir Vinho do Porto. O seu avô, Andrew James Symington, veio para Portugal em 1882 e casou com Beatrice Leitão de Carvalhosa Atkinson, cuja família tinha há muito raízes no Vinho do Porto. O seu filho, Ron (pai de James), era um provador de Porto de renome e trabalhou com os seus irmãos na empresa familiar.

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James foi primeiramente educado no Colégio britânico do Porto. Com o início da guerra, em 1939, contudo, a vida em Portugal, embora país neutro, tornou-se cada vez mais difícil. Em 1941, a Embaixada britânica aconselhou todos os seus cidadãos a deixarem o país. Juntamente com a sua mãe e irmãos, James viajou de Lisboa para o Canadá, via Nova Iorque, a bordo da linha de hidroaviões, Pan Am Clipper. James, então com seis anos, chegou a Manhattan segurando uma rã trazida do jardim de sua casa no Porto e o “sapo transatlântico” foi destaque no jornal “The New York Times” do dia seguinte.

Após dois anos a viver no Canadá, a família regressou a Portugal, em julho de 1943. James frequentou o colégio St. Julian’s, em Lisboa, até 1946, quando foi para o colégio de Ampleforth, em Inglaterra. Em 1952, conseguiu um lugar em St. Edmund Hall, Oxford, mas não pôde aceitá-lo por motivos financeiros, já que o negócio do Vinho do Porto passara por anos difíceis durante e depois da guerra.

Em 1954, James foi alistado no Exército britânico e serviu como segundo-tenente no King’s African Rifles, no Quénia, durante quase dois anos. Tornou-se fluente em suaíli e desenvolveu uma estreita amizade com os Askaris africanos. Durante a reforma, James visitou frequentemente o Quénia e encontrou-se com os antigos soldados com quem tinha servido. Ao longo da multifacetada e preenchida vida, apoiou projetos sociais e de vida selvagem no Quénia para ajudar as comunidades que tão bem conhecia.

Após uma longa quebra nas vendas de Porto a partir do início dos anos 30, 1960 trouxe os primeiros sinais de recuperação. Foi neste ano que James casou com Penny, juntando-se ao seu pai e primos na empresa familiar.

Começou a carreira profissional como provador e lotador, um ofício altamente especializado e crucial para a elaboração de excelente Vinho do Porto. James foi responsável pelo lote dos Portos Vintage Dow e Warre 1966 e 1970, bem como do Graham 1970. Estes são alguns dos vinhos mais conceituados do século XX e envelheceram de forma magnífica.

Depois de passar o testemunho de provador ao seu primo Peter, em 1973, James começou a trabalhar na vertente comercial, desenvolvendo novos mercados nos EUA, Canadá e Escandinávia. James e os seus primos Michael e Ian criaram uma forte parceria que cimentou o negócio familiar ao longo de várias décadas turbulentas, numa fase em que muitas das históricas empresas familiares de Vinho do Porto foram vendidas ou simplesmente encerradas.

Em 1985, James fundou a Premium Port Wines, em São Francisco, a primeira empresa de distribuição de vinho estabelecida nos Estados Unidos por uma empresa de Vinho do Porto, hoje em dia responsável por uma percentagem significativa de todas as vendas de Vinho do Porto naquele país.

Com constante bom humor e inesgotável otimismo, James construiu muitas e boas relações em todo o mundo do vinho. Foi a sua amizade com Miguel Torres e Piero Antinori que levou a família Symington a tornar-se um dos membros fundadores da Primum Familiae Vini, em 1992. Desde então, a PFV tornou-se numa importante associação de 12 famílias produtoras de vinho empenhadas em defender os valores das empresas vitivinícolas familiares e em assegurar a sua continuidade nas gerações seguintes.

Tal como os seus antepassados, James tinha um amor profundo pelo Douro. Em 1987, adquiriu uma pequena propriedade semiabandonada chamada Quinta da Vila Velha. Juntamente com a sua esposa, Penny, transformou a quinta numa bem cuidada propriedade ribeirinha de 145 hectares, com 55 hectares de vinha. Atualmente, a quinta é responsável pela produção de alguns dos melhores vinhos da região.

James e Penny tiveram um filho, Rupert, e duas filhas, Clare e Miranda, e seis netos. Rupert é atualmente o CEO da Symington Family Estates e o seu filho mais velho, Hugh, está a trabalhar na Premium Port Wines nos EUA, promovendo os vinhos da família desde 2018. Clare também trabalha no negócio da família, mas baseada no Reino Unido.