A corrida de escorpião

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tipo que provoca uma carranca naqueles que não estão na brincadeira. As sobrancelhas de Malvern se curvam para baixo e sua cabeça está inclinada, como se ele pudesse imaginar a cena ali fora de maneira mais clara que meu rosto. Os tambores agora soam quase que intencionalmente como batidas de casco de cavalo, e eu me pergunto se ele está vendo outra vez o garanhão dourado do tamanho de um estábulo galopando pelo campo em alguma ilha exótica. – Quinn Daly me contou o que viu – diz Malvern. – Ele me disse que você estava exercitando Fundamental na enseada. Disse que você parecia distraído, que sua mente estava longe do trabalho e que você nunca teria visto uma ameaça na água. Claro que eu estava distraído. Aquela garota ruiva e seu cavalo de corrida da ilha e as manchas de sangue das éguas selvagens na areia. Não consigo imaginar que Malvern vai me demitir por isso, não consigo imaginar que me demitiria por coisa alguma, mas então, mais uma vez, eu consigo. Eu caminho no fio da navalha. Meus olhos encontram os de Malvern. – O que mais Quinn Daly lhe contou? – Que Matthew disse a ele que o substituiria em seu posto e vigiaria a enseada. Que a próxima coisa que viu foi Fundamental afundando e você mergulhando atrás dele – Malvern cruza as mãos sobre a mesa diante dele. – Mas não é isso que meu filho diz. É a palavra de um contra a do outro. O que você tem a dizer? Cerro os dentes. Este é um jogo impossível de vencer. Arrasto as palavras para fora. – Não posso falar nada contra seu filho. – Você não precisa fazer isso – Malvern responde. – Sua jaqueta me diz qual é a história verdadeira. Nós dois estamos em silêncio. Finalmente, Malvern diz: – Gostaria de saber o que se passa em sua mente. O que quer da vida?


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