Revista Brilia Insight 1ª Edição

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U m a P u b l i c a テァ テ」 o B r i l i a - L u z M u d a Tu d o

PERFIL

INGO MAURER

CINEMA

AFFONSO BEATO

FOTOGRAFIA

SEBASTIテグ SALGADO





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CARTA EDITORIAL |

MULTISSENSORIAL É com muita satisfação que apresentamos a primeira edição da revista Brilia Insight. Uma publicação que deixa a todos nós da Brilia muito orgulhosos ao apresentar a luz sob novas perspectivas, ideias e conceitos. Acreditamos que a luz muda tudo para as pessoas. Por isso, o aspecto multissensorial da iluminação está cada vez mais dinâmico, isto é, diversos estímulos sensorais atuam simultaneamente, principalmente quando estamos falando de LED. E com esse espírito, de fazer diferente, de buscar um novo olhar para o dia a dia e inventar novas maneiras de explorar a luz é que desenvolvemos um conteúdo especial para você. Nos sentimos privilegiados pela oportunidade de trabalhar com uma força tão incrível quanto a luz, principalmente por vivermos um momento em que se abre um leque de possibilidades, uma expansão quase sem limites, fruto do avanço da luz artificial convencional para o estado sólido, os LEDs, com diversos formatos, cores e efeitos. Acreditamos que essas possibilidades transcendem a tecnologia ou produtos e permeiam nossa cultura e nossas relações. Nas páginas a seguir conheça um pouco mais sobre o alemão Ingo Maurer, certamente o mais prestigiado, premiado e talentoso lightdesigner do mundo. Outra estrela que não poderia faltar no editorial é o fotógrafo Sebastião Salgado, brasileiro de carteirinha e cidadão do mundo, um gênio que transforma flagrantes da vida real em arte, assim como o diretor de fotografia Affonso Beato, que brilha no cinema internacional ao fazer da luz um deleite visual. Do cinema para o teatro, jogamos um pouco de luz para Maneco Quinderé, o iluminador preferido de dez entre dez produtores de drama, comédia, musicais, shows e até desfiles de moda. Sem esquecer de destacar uma geração inteira de artistas plásticos que usam a luz como plataforma para suas instalações de arte, como Julio Le Parc, Dan Flavin e James Turrel, entre outros. Esperamos que você goste e compartilhe suas percepções e experiências conosco. Boa leitura! Vinicius Marchini e Leandro Neves Co-Fundadores da Brilia

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* Sugestões e comentários:

briliainsight@brilia.com

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SUMÁRIO agosto / 2014

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ENOGRAFIA C Seja no drama ou na comédia, o iluminador Maneco Quinderé dá um show.

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P ERFIL

034 Capa: Ingo Maurer fotografado por Robert Fischer

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I NSTITUCIONAL

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Tecnologia e inovação são os pontos fortes do DNA da Brilia. IAT LUX F O futuro da luz é o LED: conheça sua história e aplicações.

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SPOT

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A nova geração de luminárias e lâmpadas led que chega ao mercado brasileiro. RT A Um time de artistas que sabe transformar a luz em espetáculos de arte.

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A trajetória de sucesso do light designer alemão Ingo Maurer.

FOTOGRAFIA

O foco preciso do fotógrafo celebrity Sebastião Salgado.

CINEMA

Affonso Beato já fez a luz para filmes de Almodóvar, Stephen Frears e Glauber Rocha.

U RBANIDADE

A iluminação da Avenida 23 de Maio e do Parque do Ibirapuera.

TALK

O publicitário Max Petrucci num bate-papo rápido sobre luz e criação.

EMAIL

A busca da brasilidade sob a ótica do light designer Guinter Parschalk.

LUMINOTÉCNICA Saiba como um projeto de iluminação tem o poder de ampliar os negócios.

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EQUIPE BRILIA Vinicius Marchini Leandro Neves Pamela Gerard Edilson Mateus.

PROJETO EDITORIAL

www.studiolemon.com.br Rua Harmonia, 293 CEP 05435-000 Tel (11) 2893 - 0199 São Paulo - SP DIRETOR DE CRIAÇÃO Cesar Rodrigues cesar@studiolemon.com.br DIRETOR EXECUTIVO Chico Volponi cvolponi@studiolemon.com.br PROJETO GRÁFICO Lemon Design & Comunicação DESIGN Cesar Rodrigues Eduardo Barletta EDITOR Luiz Claudio Rodrigues JORNALISTAS Caique Lima Claudio Gues DIAGRAMAÇÃO Pedro Enrike ARTE FINAL Ana Luiza Vaccarin REVISÃO Ana Luisa Novato Faleiros Claudio Nogueira Ramos


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INSTITUCIONAL |

MUNDO

NOVO Permitir novos usos para a luz com tecnologia avançada e design, criando novos modos de como usar a iluminação, com foco na emoção, sentimentos e sensações. Para a Brilia, a luz pode mudar tudo.

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FIAT LUX | POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES • FOTOS: DIVULGAÇÃO

ALÉM DA IMAGINAÇÃO Apontada como a iluminação do futuro, o LED marca o espírito de inovação, sustentabilidade e tecnologia do século 21.

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Mais do que uma nova fonte de luz, o LED (Light Emitting Diode - diodo emissor de luz) veio para transformar a iluminação. Ao contrário das lâmpadas incandescentes, que geram luz passando eletricidade por meio de filamentos, ou lâmpadas fluorescentes, que passam uma corrente através de um gás, o LED funciona por meio de energia elétrica através de uma ou mais camadas milimétricas de material semicondutor. A eficiência energética é a sua principal qualidade. Graças a sua tecnologia, utiliza menos energia, tem maior durabilidade (trocas menos frequentes e, como consequência, menos resíduos), não contém mercúrio e é muito versátil, resultado de suas dimensões extremamente compactas. Segundo dados da Abilux (Associação Brasileira da Indústria de Iluminação), a tecnologia torna as lâmpadas mais eficientes, com consumo de energia até 80% menor que as demais, e duráveis, de 20 mil a 50 mil horas. Para efeito comparativo, as lâmpadas incandescentes tradicionais têm vida útil de aproximadamente mil horas e as fluorescentes compactas, de seis mil horas. É a luz para as necessidades do nosso tempo e caminha lado a lado com o conceito de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente.

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FIAT LUX |

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Na foto maior, ao lado, o Beijing National Aquatics Center, na China. 01. Pavilhão na Expo Boulevard in World, em Xangai, na China. 02 e 03. Smartphone e tablet com monitores de LED.

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Com diferentes possibilidades de aplicação, o LED, no começo, foi usado em equipamentos de alta fidelidade, luzes automotivas e sistemas industriais. Atualmente está presente na confecção de diversos aparelhos eletrônicos que fazem parte do nosso dia a dia, como TVs, luminárias, controles remotos, semáforos, tablets, relógios digitais e telefones celulares. “O grande diferencial dessa luz é que ela produz um facho direcional, similar ao raio laser”, esclarece Isac Roizenblatt, diretor técnico da Abilux. De acordo com o especialista, nos próximos anos o uso das lâmpadas LED irá crescer no Brasil, principalmente após o fim da produção e importação de lâmpadas incandescentes a partir de junho deste ano. Os LEDs têm tido um aumento de eficiência e redução de preços constantes, uma melhora considerável na sua qualidade de reprodução das cores naturais e disponibilização de variados tipos para inúmeras aplicações, pontua Roizenblatt.


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Mercado brasileiro O consumo de LED no Brasil vai crescer astronomicamente nos próximos anos. A afirmação é do presidente da Abilux, o engenheiro Carlos Eduardo Uchôa Fagundes. As perspectivas da Abilux mostram crescimento de 100% ao ano no consumo de LEDs no País, destaca Fagundes. As projeções baseiam-se na área de crescimento do setor de construção civil e na conquista do mercado de regiões menos exploradas, como Nordeste e Centro-Oeste. Além da iluminação residencial, industrial e corporativa, os empresários do setor estão de olho no mercado de iluminação pública. De acordo com o jornal Valor Econômico, atualmente o Brasil tem 15 milhões de pontos de iluminação que precisam ser renovados. Com a transição tecnológica, muitas empresas multinacionais e brasileiras estão atentas a esse novo nicho no mercado. Para estar na vanguarda, as empresas devem investir em inovações, recomenda o presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpel), Gerson Vallença Pinto. Com todas essas perspectivas e diferentes aplicações, o céu parece ser o limite para o uso do LED. Basta usar a imaginação.

LINHA DO TEMPO

1907

1921

1935

1951

1962

O inglês Henry Joseph Round descobre que materiais inorgânicos podem acender quando uma corrente elétrica é aplicada. Essa descoberta foi inicialmente esquecida.

O físico russo Oleg Losev inicia estudos sobre o efeito circular da emissão de luz, examinando e descrevendo o fenômeno em mais detalhes.

O físico francês Georges Destriau descobre a emissão de luz no sulfeto de zinco, batizando a descoberta de Luz de Lossew. É considerado o inventor da eletroluminescência.

O desenvolvimento de um transistor marca uma etapa científica à frente na física de semicondutores, tornando possível uma explicação lógica sobre a emissão de luz.

O primeiro diodo de luminescência vermelho (tipo GaAsP) passa a ser comercializado. Criado pelo americano Nick Holonyak, o invento torna-se o primeiro LED na área de comprimento de onda visível a ser produzido em escala industrial.

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1971

1993

1995

2006

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Como resultado do desenvolvimento de novos materiais de semicondutores, os LEDs são produzidos nas cores verde, laranja e amarelo. O desempenho e eficiência evoluem.

O japonês Shuji Nakamura desenvolve o primeiro LED azul brilhante e outro LED produzido no espectro verde (diodo InGaN). Tempos depois desenvolve o LED branco.

Surge o primeiro LED

Os primeiros diodos de emissão de luz com 100 lúmens por watt são produzidos.

LEDS com eficiência luminosa gigante de 250 lúmens por watt são testados em laboratório. Com essa evolução, o LED passa a ser visto como a tecnologia do futuro em iluminação.

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com luz branca.

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LUMINÁRIAS E LÂMPADAS LED CRIAM UMA ATMOSFERA ESPECIAL EM TODOS OS AMBIENTES DA CASA

SLIM Desenhada pela dupla Leonardo Lattavo e Pedro Moog, a luminária articulada Lattoog (110x56x230H) tem estrutura com acabamento em Lyptus e detalhe em aço inox polido. Lançamento do Empório Vermeil. Rua Cônego Eugênio Leite, 659, São Paulo, SP, (11) 3086 1551.

FLASH Primeira AR 111 em LED com ótica 100% reflexiva e livre de ofuscamento, o modelo AR 111 Refletora Dimerizável tem ângulo fechado de 8 graus e temperatura aconchegante de 2700K. Ideal para ambientes com pé-direito alto, possibilitando controle de intensidade e criação de diferentes cenários. A novidade faz parte do portfólio da Brilia, www.brilia.com

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COMFORT Da grife francesa Ligne Rosset, a luminária de chão Peye (1,88 cm X 80 cm) é composta por fibra de vidro e resina de poliéster injetada. Equipada com fita 2m LED, a peça tem 492 LEDs que emitem um total de 32 W. A peça vem equipada com cabo transparente e pedal. Confira de perto na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1844, São Paulo, SP, (11) 3064 2529.

LÚDICO Para quem gosta de dar um toque lúdico no décor, o pendente Berimbau (16 cm x 14 cm) é feito de alumínio colorido, cordão de tecido e detalhes em latão. A novidade é da Bertolucci. Rua Espártaco, 367, São Paulo, SP, (11) 3873 2879.

MODULAR Com diversos formatos e fabricadas em vidro, plástico e silicone, o conjunto de luminárias do trio de designers Jonas Petterson, John Löfgren e Petrus Palmér é um dos mais recentes lançamentos da Benedixt. Rua Haddock Lobo, 1584, São Paulo, SP, (11) 3081 5606.

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FRUTA Após o sucesso do pendente Cherry, nas versões preto e vermelho, a designer Nika Zupanc decidiu ousar ainda mais e criou, em edição limitada, a versão em dourado. A peça é um pendente, de grandes proporções, na forma de um cacho de cerejas, fabricado em vidro colorido. No Brasil, a luminária faz parte do acervo da La Lampe. Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1258, São Paulo, SP, (11) 3069 3949.

VINTAGE Com desenho tradicional, o Bulbo Filamento LED é a opção ideal para iluminação de espaços que possuem luminárias do tipo lustres e abajures. Consome apenas 4W, sua distribuição é uniforme e oferece temperatura aconchegante de 2700K. Lançamento da Brilia, www.brilia.com

NATURAL Da Zull Light Boutique, o pendente Link Sg (69 X 48 cm) é uma criação do designer Ray Power. A peça é produzida com lâminas de madeira e tem certificado FSC. Rua João Moura, 112, São Paulo, SP, (11) 3062 3894.

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DIFUSA A lâmpada Balloon produz iluminação decorativa de temperatura branca quente aconchegante (2700K). Seu ângulo aberto garante uma excelente difusão de luz. Ideal para cozinhas e bancadas. A peça faz parte do portfólio de lançamentos da Brilia. www.brilia.com

MINIMALISTA Apoiado por um corpo delgado ligado a uma base discreta, a luminária de mesa Echo parece desafiar a gravidade. Seu design de extrema leveza tem foco de luz LED totalmente articulável. Veja de perto na COD. Avenida Cidade Jardim, 924, São Paulo, SP, (11) 3816 7233.

SENSORIAL Assinada pelo designer Sylvain Willenz, a luminária Torch Light – da marca inglesa Established & Sons –, além do formato criativo, produz sensações táteis únicas, uma vez que o PVC em contato com o polímero transmite um toque aveludado. Disponível em quatro tamanhos com pendentes de 5, 10 ou 20 luminárias e nas cores vermelho, preto, amarelo e branco. No Brasil é encontrada na Wall Lamps. Rua Lineu de Paula Machado, 1477, São Paulo, SP, (11) 3064 8395.

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ART | POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES • FOTOS: DUVULGAÇÃO

Ao explorar o efeito sensorial na arte, um seleto grupo de artistas descobriu que a luz pode ser uma generosa plataforma para diferentes tipos de experimentações.

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ART |

Capturar a luz como forma de arte não é uma novidade. Por diferentes períodos e correntes artísticas diversas, a luz sempre deu um jeito de estar presente em esculturas, instalações, pinturas e fotografias. Mas tirar partido de sua essência é um caso recente na história da arte e faz parte do trabalho de um seleto grupo de artistas que sabe explorar sua fugacidade, oscilação, alternância entre claro e escuro e sua consequente projeção de sombras no espaço. Esse diálogo entre a luz e a arte está presente no trabalho de James Turrel, Ann Veronica Janssens, Bettina Samson, Blair Thurman, Dan Flavin, Garry Fabian Miller, Hiroshi Sugimoto, Isabelle Cornaro, Julio Le Parc, Larry Bell, Pierre Huyghe e William Klein. Um time e tanto! São artistas que podem ser considerados o melhor da vanguarda quando se fala em luz no circuito internacional de belas artes. Alternando períodos de exposições públicas e momentos de silêncio absoluto, esses artistas desenvolvem continuamente uma pesquisa sobre a utilização da luz na arte e sua influência sobre os sentidos. No ano passado, a luz ganhou todos os holofotes em duas grandes exposições em Paris. A primeira foi a mostra Dynamo – Un siècle de lumière et de mouvement dans l’art 1913-2013, no Grand Palais, em Paris, a segunda foi a individual de Julio Le Parc, chamada de Soleil froid, apresentada no Palais de Tokyo, ambas sucessos de crítica e público. De acordo com o curador de arte francês Matthieu Poirier, a luz não é mais considerada uma ferramenta para compreender ou fazer sentido. Em vez disso, ela dissolve a realidade, expandindo os limites da visão. Em suas palavras, a luz interroga a própria natureza da abstração, que tem o poder de criar e dissimular materialidade e presença visuais.

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NA PÁGINA ANTERIOR: Instalação do norteamericano James Turrell. 01. Hiroshi Sugimoto 02. Dan Flavin 03. Ann Veronica Janssen

Entre os destaques desse grupo de artistas contemporâneos estão Hiroshi Sugimoto, Dan Flavin, James Turrell, Ann Veronica Janssens e o célebre Julio Le Parc. Com trabalhos criados a partir da década de 1990, o japonês Sugimoto se dedica a fotografias em preto e branco. Sua série de fotografias intitulada Lighting fields 167 e 168 são imagens capturadas por descargas elétricas sobre a película fotográfica, num resultado que se assemelha a um relâmpago, como o próprio nome do trabalho sugere. Desse mesmo artista, que tem peças que fazem parte do acervo do Metropolitan Museum of Art, de Nova York, vale a pena conhecer os trabalhos Fox, Michigan e Avalon Theatre e Catalina Island. Resultado de mais de uma hora de exposição à luz, as fotos retratam cinemas de arquitetura rebuscada em cliques surpreendentes e fantasmagóricos. O minimalista Dan Flavin ganhou projeção com sua proposta inovadora de trazer para o espaço a criação de situações com a redefiniBRILIA

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ção arquitetônica por meio da luz e cor. Outro pioneiro, também norte-americano, James Turrell faz uma investigação sobre os limites sensoriais no uso da luz com obras que têm volumes que se produzem por nuances luminosos monocromáticos. A relatividade das cores é explorada pela inglesa Ann Veronica Janssens. Sua obra Blue, red and yellow, de grande dimensão, assume as cores citadas em seu título conforme é vista de diferentes ângulos, com a intenção de explorar a relatividade das cores com relação à posição do olhar de cada espectador. O argentino, radicado em Paris, Julio Le Parc tem papel de destaque na história da arte cinética e talvez seja o mais importante de todos os artistas que utilizam a luz como suporte. Desde 1960 se propõe a estimular a participação de observadores, ampliando sua capacidade de percepção e ação. Suas obras são formadas apenas por jogos de luz e sombra. Para entender um pouco mais de seu trabalho, o box a seguir faz um raio X de sua produção.


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ART |

UMA BUSCA PERMANENTE Por Estrellita B. Brodsky*

Ao longo de seis décadas, Julio Le Parc buscou de maneira sistemática redefinir a própria natureza da experiência artística, trazendo o que ele chama de perturbações dentro do sistema artístico. Ao fazer isso, ele brincou com as experiências sensoriais do público e deu aos espectadores um papel ativo. Com seus colegas membros do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV) – um coletivo de artistas criado por Le Parc com Horacio García Rossi, Francisco Sobrino, François Morellet, Joël Stein e Jean-Pierre Vasarely (Yvaral) em Paris no ano de 1960 –, Le Parc gerou encontros diretos com o público ao desmontar o que eles consideravam ser as amarras artificiais das estruturas institucionais. Como expresso em seu manifesto Assez de mystifications [Chega de Mistificações, Paris, 1961], a intenção do grupo era encontrar maneiras de confrontar o público com obras de arte fora do ambiente museológico por meio de intervenções em espaços públicos com jogos subversivos, charges de cunho político e questionários bem-humorados. Com tais estratégias, Le Parc e o GRAV transformavam espectadores em participantes com maior autoconsciência, tanto alcançando uma forma de nivelamento social como antecipando algumas das estratégias relacionais e colaborativas sociopolíticas que se vêm proliferando ao longo das duas últimas décadas. Após a dissolução do GRAV em 1968, Le Parc continuou dedicando-se ao que chama de una búsqueda permanente (uma busca contínua) por uma experiência artística que nunca supõe ditar um efeito predeterminado. Em vez disso, seu esforço é no sentido de provocar uma resposta espontânea do público. Le Parc usa sua arte interativa ou imersiva como um laboratório social, produzindo situações imprevisíveis e estimulando de forma provocativa o envolvimento do espectador no processo de criação artística. A produção artística de Le Parc evoluiu de estudos geométricos bidimensionais, com pe-

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quenas caixas de luz, para instalações de grande porte, ambientes imersivos e intervenções públicas na rua. No entanto, essa produção diversa tem em comum uma função desestabilizadora central: provocar a interação do indivíduo com seu ambiente, exigindo, ao mesmo tempo, um reconhecimento daquele envolvimento. Os componentes físicos das obras de Le Parc folhas de material refletivo penduradas, esculturas enormes feitas de acrílico transparente, pinturas geométricas, estruturas de luz motorizadas, telas de metal distorcidas – são tão impressionantemente variados quanto as próprias estruturas. O feito geral, no entanto, é criar um ambiente e uma impressão que alteram os sentidos e são, muitas vezes, desorientadores. Em esculturas como Cellule à pénétrer adaptée (Célula penetrável adaptada, 1963/2012) ou Formes en contorsion (Formas em contorção, 1971), Le Parc dá ênfase à mutabilidade da percepção. A fragmentação torna-se inerente à apreensão de obras nas quais espelhos, luzes refletidas ou projetadas, diferentes tipos de óculos, jogos e interações físicas confundem os sentidos. Assim, perspectivas cambiantes criam um dinamismo interno ou uma instabilidade essencial por meio das quais Le Parc questiona a precisão subjetiva e os modos tradicionais de exibição que, de acordo com o que ele escreve em seu influente texto Guerrilla culturel, servem apenas para perpetuar estruturas sociais de dominação. Para Le Parc, o objetivo é exatamente a interrogação e a reestruturação do entorno imediato. Ele busca uma total cumplicidade que exige do espectador não somente participação ativa, mas também autorreflexão. Dessa forma, a prática de Le Parc vai além do mero espetáculo visual rumo a um envolvimento físico com o presente, a arte enquanto concepção humana –, uma que não pode mais permanecer estática ou absoluta. *Estrellita B. Brodsky é curadora de arte latino-americana do Metropolitan Museum of Art.

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Agradecimento especial à galeria Nara Roesler, que neste ano apresentou a exposição Spectres, da qual fizeram parte os artistas citados nesta reportagem, assim como a cessão do artigo Estrellita B. Brodsky.

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NA RIBALTA DA VIDA Premiado com as principais honrarias do teatro brasileiro, o iluminador Maneco Quinderé costuma dar um show de luz no drama, na comédia e até em musicais de sucesso.

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Imagens da peça teatral Toda Nudez Será Castigada, projeto de iluminação de Maneco Quinderé

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Ele iniciou sua carreira de iluminador nos anos 1980. Desse período para cá, Maneco Quinderé tornou-se um dos mais requisitados profissionais, ganhou diversos prêmios e tornou-se admirado por diretores de teatro importantes, como Aderbal Freire-Filho, Antônio Abujamra, Miguel Falabella, Domingos de Oliveira e Gabriel Vilela, entre tantos outros. Piauiense radicado no Rio, Maneco é uma referência em iluminação. Seja no teatro, espetáculos de dança, shows, concertos e na arquitetura. BRILIA

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Tudo começou quando era contrarregra na peça Barreado, onde foi assistente da dupla Luiz Paulo Neném e Aurélio de Simoni, iluminadores do espetáculo. Foi ajudando a montar a luz que foi tomando gosto pela coisa. Mas a certeza de que iria fazer carreira no teatro veio depois. “Fui assistente do Aurélio de Simoni na peça Galvez, Imperador do Acre e ele teve que viajar e me deixou cuidando da iluminação que era extremamente difícil e complicada. Quando terminei, percebi que poderia fazer qualquer coisa e vi que poderia caminhar sozinho”, lembra o iluminador. Entre os mais recentes espetáculos teatrais que assinou a luz estão Moby Dick, de Aderbal Freire-Filho; e Hairspray, de Miguel Falabella. Esse último foi o seu primeiro musical. “Trabalhei nas duas ao mesmo tempo. Em Moby Dick utilizei muita sombra, mudança de tempo e luz noturna. O clima interferia diretamente no estado de espírito dos personagens.


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A peça se passava num pequeno barco e sofria muita interferência do mar e da chuva o tempo todo. Ao contrário disso, Hairspray era pop, colorido e alegre”. Quando faz iluminação para o teatro, Maneco se envolve com a atmosfera do espetáculo. “O importante no teatro é contar a história da peça através da luz”, revela. Nesses trinta anos dedicados à ribalta, o iluminador colecionou alguns dos mais importantes prêmios no métier. Em sua estante estão dois Moliére, cinco prêmios Shell e quatro Mambembes, entre outros. São premiações que refletem o seu talento. “Ganhar prêmios é um reconhecimento do trabalho, principalmente dentro da própria classe teatral”, diz Maneco.

Para ele, o sucesso como iluminador de teatro vem da perseverança, estudo e dedicação. “O teatro é muito estimulante, te absorve com muita facilidade. É preciso observar o mundo, as coisas que acontecem ao seu redor e estudar a história da arte. O que mais quero é construir uma carreira no teatro que me dê orgulho”. Carreira que não para de acumular grandes sucessos. Nos últimos anos, Maneco fez a luz de peças memoráveis como Os sete afluentes do rio ota, do canadense Robert Lapage e direção de Monique Gardenberg; Fala baixo senão eu grito, de Leilah Assumpção; As três irmãs, de Tchecov e A Dona da História, de João Falcão. Nada mal para quem apenas está começando.

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01. Imagens da peça Toda Nudez Será Castigada. 02. Simplesmente eu, Clarice com a atriz Bethe Goulart


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O IMPORTANTE NO TEATRO É CONTAR A HISTÓRIA DA PEÇA ATRAVÉS DA LUZ Maneco Quinderé

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PERFIL | POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES • FOTOS: DUVULGAÇÃO

O GÊNIO DA LÂMPADA

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Considerado o mago da luz, o designer alemão Ingo Maurer tornou-se um ícone internacional ao criar instalações artísticas e objetos de iluminação que superam a imaginação. Todas com um toque divertido, lúdico e tecnológico. E uma pitada de épico.

Ao Lado: Ingo Maurer fotografado por Robert Fischer Acima: A luminária de mesa Bulb

O efeito surpresa é a primeira impressão quando nos deparamos com uma luminária ou um projeto de iluminação de Ingo Maurer. Mais do que a beleza das peças, sua busca em provocar sensações e capturar emoções com a luz o transformou num dos mais premiados designers do mundo. As pessoas subestimam o poder da iluminação, o que ela pode fazer, como ela pode soltar uma pessoa ou deixá-la tensa e aborrecida, declarou Ingo ao jornal New York Times por ocasião de uma de suas inúmeras premiações. Ele fala com propriedade, pois há quase 50 anos cria luminárias.

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Nascido na ilha de Reichenau, no Lago Constança, no sul da Alemanha, Ingo Maurer tornouse designer gráfico em 1958. Dois anos depois foi trabalhar em Nova York, mas regressou à Alemanha, onde fez carreira e alcançou sucesso internacional. Em 1966 abriu as portas de sua primeira empresa, a Design M - atualmente chamada de Ingo Maurer GmbH, com showrooms em Munique e Nova York. Nessa mesma época cria a Bulb, uma luminária de mesa com o formato de uma lâmpada tradicional que projeta uma luz de baixa voltagem. O inusitado em suas criações fez que seu trabalho se tornasse conhecido como iluminação contemporânea. Além das luminárias, suas instalações de luz chamaram a atenção de curadores de arte. Sua primeira exposição aconteceu em 1968 na Itália. Desde então, o seu nome figura em destaque no cenário internacional de design e das artes. Na década de 1980 fez a instalação YaYaHo para a exposição Lumières je pense a vous, no Centre Georges Pompidou, em Paris. Sua intervenção consistia em duas cordas de metal com lâmpadas de hidrogênio em cada ponta e virou sucesso imediato. A mesma instalação foi apresentada na Villa Medici, em Roma, e depois foi exibida no Instituto Francês de Arquitetura, na capital francesa. Em 1986 consagra-se com a medalha Cavaleiro das Artes e das Letras concedida pelo Ministério da Cultura da França. Três anos depois, Maurer criou uma instalação para a Fundação Cartier, seguida por diversas exposições e prêmios durante os anos 1990. Nessa época, o MoMA de Nova York já havia adquirido algumas de suas mais famosas criações para o seu acervo permanente de design.


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Além da Bulb, o museu conserva a Lucellino, de 1992, uma luminária composta por uma lâmpada envolta em asas de penas de ganso, que lembra um pequeno pássaro; e o lustre Porca Miséria, de 1994: uma luminária de teto feita com pedaços de porcelana quebrada que dá um efeito de uma explosão congelada no espaço. No fim da década de 1990 abre a primeira filial de sua loja em Nova York e no começo de 2000 inicia as suas primeiras experiências com tecnologia de iluminação de LEDs, depois de já ter desenvolvido luminárias que acendiam com som e toque. Sua mesa com tampo de cristal

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transparente com diversos pontos de luz em LED, que lembra uma constelação, talvez seja a peça mais famosa de Ingo desenvolvida com essa tecnologia. Ao elevar a iluminação a novo patamar com suas criações, Ingo alia funcionalidade, técnica e uma leitura nova, com toque lúdico e irreverente, dando um novo significado à iluminação. Qualidades que o levaram a ser convidado a fazer parcerias com criadores de outras áreas, como o estilista japonês Issey Miyake. Em 1999, o designer fez uma instalação com efeitos especiais para um desfile de moda em La Vilette.

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01. A Instalação Ya Ya Ho 02. Luminária Lucellino 03. Table Led: Uma Constelação feita de pontos de luz 04. Luminária Knot

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01. A luminária Porca Miséria: estilhaços de porcelana e talher 02. A estação de metrô de Munique, na Alemanha, com projeto de iluminação de Ingo Maurer

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Mais tarde foi premiado pela Prefeitura de Munique, para a qual, em 2011, desenvolveu o projeto de iluminação para a estação de metrô de Marienplatz, uma das mais belas do mundo. Anos antes, com mais exposições e prêmios conquistados em todo mundo, Ingo havia sido nomeado Designer Industrial Real pela Royal Society of Arts de Londres. Aos 82 anos, o designer ainda tem fôlego para participar das feiras de design mais conceituadas do mundo. Suas instalações de luz não encontram paralelo em criatividade. Sejam feitas por fios de luz que remetem a insetos ou velas com chamas sustentadas por fios invisíveis no teto, sua arte efêmera aguça a imaginação de quem as vê. Tudo feito com o mesmo conceito que norteia seu trabalho desde sempre: Iluminar o sentimento humano.

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FOTOGRAFIA | POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES • FOTOS: DUVULGAÇÃO

CHIAROSCURO Lenda viva da fotografia contemporânea, o brasileiro Sebastião Salgado registra em preto e branco lugares intocáveis ao redor do planeta em seu mais recente livro.

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À esquerda: Retrato de Sebastião Salgado Acima: tribo africana com criação de bovinos: a África foi a primeira incursão como fotógrafo de Sebastião Salgado

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A vida de Sebastião Salgado dá um livro. Em plenos anos de chumbo da ditadura militar brasileira foi amigo do líder revolucionário Carlos Marighela, emigrou para Paris em 1969, trabalhou como secretário na Organização Internacional do Café (OIC), em Londres, e numa de suas inúmeras viagens para a África, a convite do Banco Mundial, fez sua primeira sessão de fotos com a Leica de sua esposa, a arquiteta Lélia Deluiz Wanick. Poucos anos depois, em 1973, estabeleceu-se como fotojornalista em Paris, onde atuou para importantes agências de fotografia como a Magnum, Sygma e Gamma. Ao ser pautado para cobrir os primeiros 100 dias do governo Reagan, nos Estados Unidos, foi o homem que estava no lugar certo, na hora certa: teve o

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privilégio, se é que podemos dizer assim, de fotografar o atentado a tiros contra o presidente Ronald Reagan. Era março de 1981 e a venda das imagens para a imprensa de todo o mundo permitiu financiar seu primeiro projeto: uma viagem de cliques pela África. Esse momento marcou sua ida ao olimpo dos grandes mestres da fotografia de arte. Mas o start para iniciar uma nova carreira surgiu muito antes, em 1970, aos 26 anos de idade, quando Salgado olhou o mundo através de sua câmera e a vida passou a fazer sentido para ele. Daquele dia em diante, apesar de ter levado anos de trabalho duro antes que tivesse a experiência para ganhar a vida como fotógrafo, a câmera tornou-se sua principal ferramenta para interagir com o mundo. Com poucas incursões pela cor, a fotografia em preto e branco é sua marca registrada. “Sempre preferi a paleta chiaroscuro das imagens em PB”.

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Após diversas séries de fotografias que documentam situações limites do ser humano em diferentes lugares do planeta, seu mais recente trabalho, o livro Genesis, faz uma homenagem fotográfica à Terra em seu estado natural. “Em Genesis, minha câmera permitiu que a natureza pudesse falar comigo. E tive o privilégio de ouvir”, brinca o fotógrafo. Essa audição já estava em seu DNA desde a infância, quando vivia em uma fazenda no interior de Minas Gerais. O amor e o respeito à natureza eram divididos com outra preocupação que o acompanha desde que se entende por gente: a sensibilidade para perceber o quanto os seres humanos são afetados por suas condições sociais e

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econômicas. Em sua trajetória como fotógrafo, três projetos de longo prazo ganharam destaque e projeção. A série Trabalhadores (1993) documentou a forma de fuga da vida de trabalhadores braçais em todo o mundo; Migrações (2000) fez um registro da migração em massa, seja pela fome, catástrofes naturais, a degradação ambiental e a pressão demográfica; e, por fim, seu mais recente livro, Genesis. Resultado de um período de oito anos de expedição, quase épica, para redescobrir as montanhas, desertos e oceanos, animais e povos. Um recorte da vida em um planeta ainda intocado. “Cerca de 46% do planeta ainda é como era no tempo da Gênese”, afirma o fotógrafo.

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01. Imagem do ártico, flagrante capturado para o livro Genesis 02. A Capa do monumental Genesis, da editora Taschen


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“Nós temos que preservar o que existe. O projeto Genesis é dedicado a mostrar a beleza de nosso planeta, revertendo os danos causados, e preservá-lo para o futuro”. Com inúmeras viagens, seja em aviões, navios, canoas e até balões, Salgado enfrentou calor e frio extremos a fim de capturar uma coleção de imagens de tirar o fôlego – que mostram a natureza, os animais e os povos indígenas. Com sua peculiar destreza em fazer registros em preto e branco, Salgado é um dos mestres contemporâneos que dominam e levam o monocromático para uma nova dimensão, seja nas variações tonais ou nos contrastes de luz e sombra. No livro Genesis, editado

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FOTOGRAFIAS SÃO SÍMBOLOS. OU VOCÊ TEM UMA FOTOGRAFIA QUE ELA SOZINHA CONTA A HISTÓRIA SEM LEGENDA, SEM NADA, OU VOCÊ NÃO TEM A FOTOGRAFIA Sebastião Salgado

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pela Taschen, o leitor poderá ver, a partir de ângulos inéditos, espécies de animais e vulcões de Galápagos; pinguins, leões-marinhos, biguás e baleias da Antártida e Atlântico Sul; jacarés e onças brasileiros; leões, leopardos e elefantes africanos; uma tribo nas profundezas da selva amazônica; nômades e fazendeiros do Sudão; rebanhos de rena do Círculo Polar Ártico; tribos da selva em Sumatra; icebergs na Antártida; os vulcões da África Central; o deserto do Saara, as ravinas do Grand Canyon; os rios Negro e Juruá na Amazônia e as geleiras do Alasca. Tendo dedicado tempo, energia e paixão para a realização desse projeto, Salgado chama a série Genesis “como minha carta de amor para o planeta”.

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01. Tribo Na Amazônia: o fotógrafo viveu com os indígenas por três meses a fim de captar cenas como essa 02. Criador e Criatura: Salgado folheia o livro Genesis


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CINEMA | POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES • FOTOS: DIVULGACÃO

LUZ, CÂMERA, AÇÃO

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Um dos mais respeitados diretores de fotografia da atualidade, o brasileiro Affonso Beato tem uma cinematografia inovadora, sempre apoiada nos avanços da tecnologia.

01 e 02 Cenas do filme O Tempo e o Vento, do diretor Jayme Monjardim e direção de fotografia de Affonso Beato

Cinema basicamente é luz. São imagens planejadas por um time composto pelo roteirista, o diretor e o diretor de fotografia. O processo de criação é um trabalho coletivo, mas a alma cinematográfica por trás de toda película está na fotografia. É ela que transpõe uma ideia e realiza um modo de expressão. Entre os mais conceituados diretores de fotografia da atualidade está o brasileiro Affonso Beato, que vive há mais de quarenta anos nos Estados Unidos. Sua trajetória inclui filmes com diretores famosos como o inglês Stephen Frears, em A Rainha; parcerias de sucesso com o espanhol Pedro Almodóvar em Tudo sobre minha Mãe, Carne Trêmula e a Flor do

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meu segredo. Entre os brasileiros podemos citar Cacá Diegues, Glauber Rocha, Walter Salles, Bruno Barreto, Arnaldo Jabor e Jayme Monjardim, entre outros. Beato foi para os Estados Unidos em 1969 durante a ditadura militar. Viveu em Nova York, mas decidiu se radicar em Los Angeles, cidade onde vive e trabalha até os dias de hoje. O trampolim para a meca do cinema foi o filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha. Nele, Beato fazia coisas que não eram comuns no cinema, como super-revelar o negativo para saturar as cores primárias. “Na Europa, o filme foi um fenômeno.

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ELE É UM DOS MELHORES DIRETORES DE FOTOGRAFIA DO MUNDO, O QUE SE PODE ATESTAR NOS TRABALHOS QUE REALIZOU COM GRANDES CINEASTAS ESTRANGEIROS” Jayme Monjardim

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“AFFONSO TEM O SANGUE IBÉRICO E A CULTURA CINEMATOGRÁFICA AMERICANA” Chema Prado

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Na página anterior: o set de filmagens de O Tempo e o Vento 01. A atriz Hellen Mirren vive A Rainha, de Stephen Frears 02. Cecília Rotho e Penélope Cruz em cena do filme Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar 03. Cena do filme Carne Trêmula, de Almodóvar 04. Em primeiro plano, o fotógrafo Affonso Beato em um de seus encontros com gente de cinema, como o mexicano Alfonso Cuarón

Era revolucionário, principalmente por causa da cor”, lembra o brasileiro. A tecnologia de ponta é o que mais o atrai no cinema norte-americano. Beato ainda não fez nenhum filme em 3D, mas tem muita vontade de trabalhar com essa técnica. “Sou apaixonado desde criança, quando meu pai me trouxe um gibi assim: a gente botava óculos e as coisas pulavam na nossa frente”, afirmou recentemente numa entrevista para o jornal O Globo. Enquanto os convites não surgem, ele dá aulas nos Estados Unidos e já supervisionou cerca de 30 curtas-metragens de estudantes em 3D. Seu mais recente trabalho no cinema foi com o brasileiro Jayme Monjardim no épico O Tempo e o Vento, filme que é um dos pioneiros pela qua-

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lidade de imagem oferecida pela F65, a câmera digital mais avançada que existe na atualidade. “A imagem captada pela F65 é extraordinária, muito próxima à película. É tanta definição que se tem uma leve sensação de tridimensionalidade”, avalia. Com mais de 50 filmes em seu portfólio, Affonso Beato sempre recebe convites no circuito internacional. Entre os mais recentes estão o do porto-riquenho José Rivera (roteirista de Diários de Motocicleta e On the road) e uma comédia de Stuart Renfrew (assistente de Frears em A Rainha). É o único e primeiro brasileiro a ser membro da American Society of Cinematographers. Sinal de que seu prestígio é incontestável.

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O Tempo e o vento, de Jayme Monjardim (2013) Cinema Verite, de Shari Berman e Robert Pulcini (2011) Noite de Tormenta, de George C. Wolfe (2008) O amor nos tempos do cólera, de Mike Newell (2007) A rainha, de Stephen Frears (2006) Água Negra, de Walter Salles (2005) Resistindo às tentações, de Jonathan Lynn (2003) Deus é brasileiro, de Cacá Diegues (2003) Jogo de sedução, de Mathew Parkhil (2002) Voando alto, de Bruno Barreto (2002) Orfeu, de Cacá Diegues (1999) Tudo sobre minha mãe, de Pedro Almodóvar (1999) Carne trêmula, de Pedro Almodóvar (1997) Mil e uma, de Suzana Moraes (1996)

A flor do meu segredo, de Pedro Almodóvar (1995) A fera do rock, de Jim McBride (1989) Acerto de contas, de Jim McBride (1986) Para viver um grande amor, de Miguel Faria Jr. (1983) Pindorama, de Arnaldo Jabor (1970) O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha (1969) Copacabana me engana, de Antonio Carlos Fontoura (1969) Viagem ao fim do mundo, de Fernando Coni Campos (1968) O bravo guerreiro, de Gustavo Dahl (1968) Cara a cara, de Julio Bressane (1967) Memória do cangaço, de Paulo Gil Soares (1964) O circo, de Arnaldo Jabor (1964) Domingo, de Cacá Diegues (1960)

AFFONSO SABE TUDO DE CINEMA, TRABALHA COM O OLHO NO ATOR, ESTÁ SEMPRE A SERVIÇO DA NARRATIVA. A SUA LUZ NUNCA É DEMONSTRATIVA, EVIDENTE. É COMO UM JOGADOR DE FUTEBOL QUE, POR SER CRAQUE, FAZ AQUILO QUE É COMPLICADO PARECER SIMPLES” Walter Salles BRILIA

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URBANIDADE | POR: CLAUDIO GUES • FOTOS: NELSON AGUILAR

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LUZES NA CIDADE Novos projetos de iluminação pública em São Paulo tornam a cidade mais segura, bonita e também ecológica.

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Na página anterior, a Avenida 23 de Maio 01 e 02 Parque do Ibirapuera 03. Sob outro ângulo, a Avenida 23 de Maio

Assim como um perfume pode evocar lembranças, a luz de uma cidade fica registrada - com forte apelo emocional - em nossos corações. Quem consegue esquecer Paris, a Cidade Luz? Ou a Times Square, em Nova York? Por ser tão marcante, um instantâneo dessas cidades durante a noite, seja em álbuns de família ou grandes outdoors espalhados pelo mundo, transforma-se imediatamente em cartão-postal. Dois bons exemplos do quanto uma boa iluminação pode fazer por nossas cidades são a iluminação do Parque do Ibirapuera e da Avenida Paulista, em São Paulo, a partir de 2011, que mudaram a percepção visual noturna da metrópole. Considerado o mais inovador projeto de iluminação pública do Brasil, a luz no Parque do Ibirapuera utiliza as tecnologias LED e vapor metálico.

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Numa parceria entre a Prefeitura de São Paulo e a AES Eletropaulo, a nova iluminação, além de proporcionar mais segurança, trouxe mais beleza para os frequentadores do parque. “O novo projeto trouxe bem-estar para a população no mais famoso e importante parque da capital paulista e utiliza tecnologia dos LEDs no 1,6 milhão de metros quadrados com a utilização de modernas luminárias com luz branca”, afirma a diretoria do Departamento de Iluminação Pública de São Paulo. Com a utilização das lâmpadas LED e de vapor metálico, que emitem luz branca, o índice de reprodução de cores foi aumentado, permitindo melhor realce das cores naturais do parque, além de proporcionar um ambiente mais confortável aos frequentadores do local. Ao todo, foram investidos R$ 4,6 milhões.


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Para toda a extensão do parque foram utilizadas 849 luminárias de 113 W de potência em substituição a outras 291 luminárias que utilizavam as ultrapassadas lâmpadas de vapor de mercúrio e vapor de sódio. As luminárias LED foram colocadas nas ruas internas do parque, enquanto as luminárias com lâmpadas de vapor metálico foram instaladas nas áreas dos jardins, de lazer e estacionamento. Os postes instalados e a altura das luminárias passaram por mudanças e foram reduzidos a cinco metros para que as copas das árvores não interferissem na incidência de luz das lâmpadas. Essa medida também contempla a preservação ambiental. Por sua vez, o trecho Corredor Norte-Sul da Avenida 23 de Maio – que vai do Centro ao Aeroporto de Congonhas – teve uma renovação de seus 453 postes com lâmpadas de vapor de sódio trocados por modelos LED, mas eficazes e econômicos. Aos poucos, o Departamento de Iluminação Pública (Ilume) da Prefeitura de São Paulo tem feito mudanças pontuais na iluminação de vias públicas da capital paulista.

A mais recente foi a inauguração, em junho passado, da nova iluminação da Praça Dom José Gaspar no entorno da Biblioteca Mário de Andrade, na região central, que recebeu 47 luminárias com lâmpadas de LED. O próximo passo será a revitalização da luz da Ladeira da Memória, um dos mais antigos patrimônios históricos da cidade. “A melhor iluminação traz investimentos e novos empregos”, afirma o secretário de Serviços, Simão Pedro.

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TALK | POR: CLAUDIO GUES • FOTOS: PAULO BRENTA

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| Publicitário especializado no universo digital, Max Petrucci foi o responsável pelo lançamento do MSN no Brasil na época em que foi executivo da Microsoft Corp, onde atuou como diretor de produtos de comunicação para Ásia/Pacífico, Canadá e América Latina. Atualmente é sóciopresidente da Garage Interactive Marketing, agência que opera no modelo full interactive para planejar, criar e executar ações para todas as áreas de marketing digital e mídia online. Sua carteira de clientes inclui grandes marcas globais como Parmalat, Nivea e brasileiras, como Skol, entre outras. Aqui, um rápido bate-papo exclusivo para a Brilia.

O que te ilumina? Max Petrucci: Para mim é muito importante, no meu trabalho, encontrar a intersecção perfeita entre a marca que simboliza um negócio, um produto ou serviço com os interesses das pessoas. Para mim, a mágica sempre são as pessoas. Esse contato com elas é o que me inspira. Gosto de saber como elas pensam e que escolhas fazem. Isso me ajuda a criar uma empatia entre marcas e pessoas. É isso o que faz o sucesso de nosso trabalho, é o que faz a comunicação acontecer. Brilia Insight:

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Para você, o que é uma boa comunicação? Max Petrucci: As marcas precisam compreender tudo sobre as pessoas, o que as motiva e as perspectivas que elas alimentam sobre um futuro mais presente, palpável. Com essa compreensão, as marcas podem buscar uma solução completa, mais humana, verdadeira. As novas marcas devem manter o foco na verdade, no peer to peer, quebrando os paradigmas do passado. Toda comunidade que vive em torno de uma marca deve ser valorizada. Quando as marcas passam a entender isso e fazer bom uso dela, o negócio se torna mais criativo e, como consequência, mais lucrativo. Brilia Insight:

Depois das redes sociais o que vem por aí no mundo digital? Max Petrucci: O mundo digital sempre tem coisas novas. As redes sociais são as novas sociedades, seja no plano social ou de network. As redes conectam as pessoas e tem sido cada vez melhor utilizadas. O avanço nesse segmento está nos aplicativos móveis. A mobilidade é uma tendência natural, permeia praticamente tudo nos dias de hoje, está em todos os momentos da vida e vai crescer muito mais. Não temos que ter receio. A raça humana se adaptou bem com as novas tecnologias e está sabendo tirar proveito delas.

Brilia Insight:

De que forma a luz física te afeta? Que tipo de ambiente te deixa mais confortável? Max Petrucci: A luz é uma palavra curta, mas tem muito significado. Para mim é importante que ela seja calorosa, não pode ser fria, nem totalmente funcional. O importante é que ela seja inspiradora. Sem luz a gente não vive, ela tem esse aspecto de trazer o equilíbrio certo. Gosto da luz do sol, e em casa ou no trabalho procuro estar em ambientes com uma luz mais intensa, calorosa. Brilia Insight:

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Detalhes da ambientação da agência Garage, nos Jardins, em São Paulo


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EMAIL | POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES • FOTOS: DUVULGAÇÃO

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Arquiteto de formação e pós-graduado em desenho industrial pela Hochschule für Künstlerische und Industrielle Gestaltung, na Áustria, o lighit designer Guinter Parschalk foi designer da Siemens na Alemanha. À frente do Studio ix, desenvolve projetos no Brasil e no exterior. Com trânsito livre nas artes plásticas, design e arquitetura, há mais de 15 anos faz projetos de iluminação, além de desenhar luminárias. Nessa entrevista exclusiva, feita por e-mail, ele nos fala de sua trajetória profissional e de sua paixão pela luz. Como você se descobriu luminotécnico? Minha vida sempre foi movida pela percepção visual. A luminotécnica foi uma circunstância disso. Estava preparando uma exposição sobre identidade cultural brasileira utilizando objetos indígenas. Queria debater a brasilidade em contraponto à contemporaneidade. Como os índios não usam luz artificial, tive a ideia de usar objetos luminosos e luminárias para fazer esse contraponto. Depois disso comecei a trabalhar com iluminação. Brilia Insight:

Guinter Parschalk:

O design de luminárias também faz parte de sua trajetória. Há um diferencial em suas criações? Guinter Parschalk: Como arquiteto já havia desenhado luminárias, mas sem nenhum interesse especial. Num dos primeiros trabalhos desenvolvi um objeto luminoso. Era uma mesa com quatro lâmpadas fluorescentes verticais, duas vermelhas e duas verdes que davam o color mix que se tornou comum nos dias de hoje. Brilia Insight:

Você é multifacetado. De onde vem tanta inspiração? Guinter Parschalk: Eu venho das artes plásticas. Considero-me um explorador, gosto de pesquisar e somo coisas, sempre com a ideia de encontrar novos caminhos para alcançar novos territórios. Desde criança sou interessado em percepção visual. Trabalhei com moda, publicidade, artes gráficas, embalagens, mas sempre como o foco no visual, no aspecto estético de cada projeto. Brilia Insight:

Esse seu lado de explorador certamente faz com que acompanhe o desenvolvimento tecnológico em iluminação? Guinter Parschalk: Sim, estou sempre atento às novidades. Já fui muito interessado pela técnica de indução luminosa pelas fibras óticas e atualmente acompanho a evolução do LED, que tem um repertório tecnológico dos mais avançados, com possibilidades infinitas, até como meio de expressão. Isso agrega valor ao meio de produção. Brilia Insight:

QUERIA DEBATER A BRASILIDADE EM CONTRAPONTO À CONTEMPORANEIDADE. COMO OS ÍNDIOS NÃO USAM LUZ ARTIFICIAL, TIVE A IDEIA DE USAR OBJETOS LUMINOSOS E LUMINÁRIAS PARA FAZER ESSE CONTRAPONTO.” Guinter Parschalk BRILIA

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01. Luminária Balão 02. Luminária Coité 03. Luminária Jangada

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Brilia Insight: Você

consegue visualizar até onde chegaremos com o avanço tecnológico no setor de iluminação? Guinter Parschalk: O avanço tecnológico passa por diversas áreas: as lâmpadas, a geração de luz artificial, ótica, engenharia de conformação de lentes, refletores, automação, dimerização, programação e tricromia, só para citar os diversos caminhos da tecnologia. Mas há outra coisa muito importante que me chama a atenção: o papel da luz na questão comportamental, não só no aspecto fisiológico, mas também psicológico. Isso abriu um repertório muito grande no mundo inteiro. Essa interferência da luz no comportamento humano pode ir até que ponto? Guinter Parschalk: Não vou falar do comportamento universal. Posso falar da minha experiência com os brasileiros que gostam muito do contraste entre claro e escuro, mas de uma forma mais suave. No Nordeste, por exemplo, a população sente-se mais atraída pela luz branca, fluorescente, que refresca psicologicamente, e que nós, do Sul, achamos desagradável em determinadas situações. É engraçado esse tipo de integração entre psicologia e fisiologia. Sinto que existe certa tendência para essa luz que eu não diria brasileira, mas mais tropical. Não vamos falar da luz paulista ou carioca, não sei se chega a esse ponto de diferença. Talvez até exista, mas ainda não foi captada por falta de pesquisa no assunto. O que considero um dos desafios na questão de percepção visual está vinculado à luminotécnica e à luz brasileira. Acredito que ela exista e que dê para codificarmos e conhecê-la melhor.

Brilia Insight:

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LUMINOTÉCNICA | POR: CLAUDIO GUES • FOTOS: DIVULGACÃO

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Segundo o ditado popular, a primeira impressão é a que sempre fica! Por isso, fazer uma iluminação planejada para pontos comerciais é o pulo do gato para aumentar o faturamento.

Um bom projeto de iluminação em lojas e showrooms é um fator de atração para os consumidores e, consequentemente, contribui para o aumento das vendas. Quem afirma isso é a publicitária Heloísa Omine, especialista em Visual Merchandising pelo Fashion Institute of Technology da Universidade de Nova York. “O primeiro objetivo da iluminação é fazer com que o consumidor entre na loja, chamando sua atenção; na sequência é fazer com que os consumidores enxerguem produtos e marcas, impulsionando-os a direcionar-se a eles, ou seja, o aumento de vendas existe porque eu vi, gostei e quis comprar”, afirma a especialista. Para ela, os pontos de venda – de qualquer segmento – podem ser mais convidativos e estimulantes “usando iluminação, cor e textura. São elementos que contribuem para o bom atendimento”.

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Na página anterior e aqui, os interiores da loja conceito da Valisère planejados pela arquiteta Patrícia Anastassiadis

Assim como em nossas casas, a iluminação também é responsável pela sensação de conforto e bem-estar do cliente. “Quanto mais o consumidor se sentir à vontade no espaço é maior a probabilidade de que fique mais tempo na loja e se interesse em encontrar novidades”, ensina o lighting designer Guinter Parschalk, responsável pelos projetos de luminotécnica da Brooksfield e da Cleusa Presentes, entre outras. Com soluções diferenciadas, a iluminação pode destacar o formato do produto, sem ofuscar ou descolorir as peças em exposição. Além disso, a luz valoriza o projeto arquitetônico e pode criar atmosferas diferenciadas, dependendo das necessidades de iluminação do ponto de venda. Com a iluminação certa, as lojas envolvem e convidam o cliente a conhecê-las, enquanto algumas aparentam ser frias ou quente demais. “Esses extremos acabam por afastar o desejo de permanecer no interior de certas lojas”, destaca Heloísa Omine. “A iluminação faz parte das estratégias sensoriais, principalmente no varejo. Quando a luz é bem planejada, aumenta o tempo de permanência do consumidor na loja, gerando maior possibilidade de efetivação de compra por causa do ambiente agradável e aconchegante para o consumo”, ensina a expert em visual merchandising.

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Ambientação da loja Adidas, por Patrícia Anastassiadis

A iluminação ideal Os especialistas recomendam os seguintes cuidados para que a iluminação seja funcional: Prioridade básica. É importante estabelecer as áreas que deverão ter maior quantidade de luz, levando em consideração a tonalidade das cores que a dobradinha luminária X lâmpada deverá reproduzir sobre os objetos em exposição. Emissão de calor. Na hora de selecionar as lâmpadas, as mais adequadas são as de LED. Ao contrário das lâmpadas halógenas, essa nova tecnologia não aumenta a temperatura do ambiente. Jogo de luz. Harmonizar a iluminação direta e indireta com o uso de sancas de gesso é uma boa solução. As sancas iluminam de forma indireta e podem ser complementadas com lâmpadas embutidas, spots ou luminárias de sobrepor, que podem estar direcionadas aos produtos em exposição. Olho vivo. Para que os consumidores possam visualizar bem os preços e objetos expostos, o nível médio de iluminação é de 500 lx (iluminância, medida em lux, corresponde a incidência de luz em uma superfície ).

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