ARTIGO AUTORALIDADE Rosyane Trotta

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AUTORALIDADE Rosyane Trotta

Em La Représentation Émancipée, 1988, Bernard Dort identifica o surgimento de uma nova concepção de representação que, baseada na autonomia dos criadores do espetáculo, “não postula mais uma fusão ou uma união entre as artes”. (Dort, 1988: 181) O teatro contemporâneo consistiria na interação – ou mesmo na rivalidade, como escreve Dort – entre os sistemas significantes que o compõem. O conceito de polifonia, empregado pelo teórico ao se referir a este espetáculo cuja significação não está mais sob a concepção exclusiva do encenador, permitiria falar em pluralidade autoral. Utilizando alguns dos conceitos empregados por Dort, podemos opor certos procedimentos de encenação: 1) Polifonia x unificação A polifonia pressupõe que todos os sistemas significantes atuem na obra sem que um predomine sobre os demais, sem que caminhem na direção de um mesmo sentido determinado pelo texto ou pela direção. Dort a descreve como “renúncia a uma unidade orgânica prescrita a priori e reconhecimento do fato teatral enquanto polifonia significante, aberta ao espectador”. (p.178) 2) Centralização x autonomia x coletivização Segundo Dort, a autonomia dos sistemas significantes sucedeu a centralização da direção. Trazendo sua formulação para a abordagem do nosso objeto de estudo, percebemos três modalidades: a centralização da autoria no encenador; a pluralização da autoria em sistemas autônomos; a coletivização da autoria em sistemas interdependentes. Enquanto a 

Capítulo 3 (p.67-101) de “A autoria coletiva no processo de criação teatral”. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), 2008. Tese de Doutorado.


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