Revista 74 - Specialized #2

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SETENTA E QUATRO U M A P U B L I C A Ç Ã O B I A N U A L DA S P EC I A L I Z E D

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V O LU M E 0 2 / E D I Ç Ã O 0 1

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MAIO

2017

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PRA ZERES S I M PLES

Q ua n do s e t ra ta da s s u b -c ul turas d o c ic li smo, sempre existe a ten taç ão de j ul gar. Ho mens g ran des em ro upas

c o l a da s ; a dul tos pe ga n do b i c ic letas e se aven turan d o ao ar l ivre, mesmo ten d o c a mas em per feit o estado

a a l g u ns qui l ôme t ro s de d i s tân c ia; e al mas c ob er tas por lama em l u gares total men te deso lado s - co mo não

j ul ga r? Fe l iz me nte , qua n do s e trata de b ikes, existem mais c oi sas para n os u n i r d o q ue para no s div idir.

S e mpre e xi s t i r á aqu e l a s i mpl es c on exão en tre a terra, a b i ke e n ós.

É pura, desc omplicada e santa.

Ne s ta e d i ç ão, t e s t e mu nhe a a legri a simpl es dessa c on exão amplamen te estampada no ro st o do filho de Mat t

H u nt e r e nq ua nto e l e s e xpl o ra m as tri lhas j u n tos. Al egre-se n os rituais d o b ac kpacking em uma no it e no meio

da s e mana - u m ato qu e s e r ve tan to para pedalar c omo para desc an sar - qu em sabe v o cê não ficar á inspirado

a p l a ne ja r u m ac ampame nto ta mb ém? O s f ãs de marc ha-ú n i c a f ic arão c om água na bo ca ao verem o amo r

c r i a t i v o e c ui da do c om qua t ro b i kes Red Hook C ri t ú n ic as, en quan to os vi c i ad os em arame t er ão um relance de

n o s s a fáb r i c a de pne u s de mon tan ha. Já ou vi u a h istória sob re Fau sto Coppi paran do para t o mar café durant e

a Mi l an-San Re mo? I re mo s e x pl orar a c on exão en tre este c on to len d ári o, c i c l ismo e do ces, e fechar esta

e d i ç ão da n do u ma o l ha da na paixão por cyc l oc ross.

B i kes, u hul !

‘ 74

SUMÁRIO

RED HOOK CRIT

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Q U A N D O C O P P I PA R O U

10

O PEQUENO CAÇADOR DE TRILHAS P E LO A M O R D O C R O S S

22

FÁBRICA DOS SONHOS

28

CAMP OUT WITH YOUR LAMP OUT

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18

32


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RE D HOOK CRI T É u m a co r rida am ada p o r m ui t o s, o n de a s ro u p a s rei n a m e a força n a s pernas é usada tanto p a ra i r m a i s r á p i d o c o m o p a ra d i m i n ui r a ve l oci da de . S e m f re io s, se m pro b l em a s . Pa ra c el eb ra r a a l eg r i a q u e é Re d Hook Cri t , quatro de no sso s de s i gn er s rec eb era m a ta refa de p er s o n a l iza r u ma b i ke e e quipam e nto s para c a da c i da de da Red Ho o k C r i t - B ro o klyn , Ba rce l on a , Lo n d re s e Milão .

4


BR OOK LY N N O . 9 A pri m e i ra Re d Ho ok C r i t - s e di ada e m Re d Hook , Brookly n , e m 20 0 8 pa ra c e l e b ra r u m ani ve r sário - f oi um ac o n t e ci m e n t o h u mi l de , c o m ape nas al gu n s c i c l istas e espe cta d o re s . A t ua l me nt e , s e t ra nsfor mo u em u ma verda de i ra i n s t i t ui ç ão, c o m te mpo s qua l i fi c ad ores. É u m even t o n ã o s a n c i ona do fo c ad o e m ve l oc i da de pura ao i n vés de re s i s t ê n ci a , e a tra i c i c l i s ta s q u e gos ta m de c orri das de es t ra da c o m c ur vas mui to ac e ntua da s e verdadei ras habili da de s t é cn i c a s pa ra te r a l g u ma c ha nc e de ven c er. A mada p o r e sp e cta dore s e pe l o s c i c l i s ta s, a en ergia é purame n t e de r ua - o amb i e nte pe r fe i t o para u m ar ti sta.

M cKe n z i e Sa m p s on, D e s i gne r de Rou pa s e G ráf ic os Técn i co s n a S p e c i a l ize d, s e mpre s e i nc l i no u ao estil o de ar t e de r ua d o B ro okly n.

Ao ab orda r e s te proj eto,

lev ou e m c o n s i de ra ç ã o s e u e s t i l o pe s s o al e amor por graf ite, e m is t uro u c o m a s e moç õe s q u e os c i c l i s ta s sen tem ao c orrer com bi ke s : a s e n saç ão de “ l u t e o u v oe ” na men te, ao lu tar com o co r p o p a ra c ons e gui r.

O s qua d ro s, s a p a ti l ha s, c a pac e te s e ro u pa s - u m jogo b ran c o com g r á f i co s pre t o s, e o ou t ro ao c ont r ár i o - c om u ma colag e m de í co n e s e de s e nh os qu e apare nta m ter saí d o direta m e n t e d o ca de r no de de s e nh os de Sampson . As b i kes e cap ace t e s t i n ha m s e u s de s e nh os apl i c ad os d iretamen te à mão, e s ã o ve rda de i ra me nt e ú ni c o s .

“ D E F I N I T I VA M E N TE T E M O S QUE N O S ESFO R Ç AR M UI TO PARA FA ZER COIS AS QUE S ÃO LEG AIS E

RE LEVA N T ES PARA O USUÁR IO D O D IA-A-D IA . ISS O REQUE R M UI TA PES QUIS A E MUI TO TEMP O

C O NST RU I N DO G R ÁF ICO S E INSPIRAÇÕ ES QUE RE PRESE N T E M IS S O. É COMO UM PEQUENO

PE DA Ç O D E M I M , EU ACHO .” — M c Ken zi e Sampson

BARCELONA N O .4 “ N O MEIO D O C AO S HÁ S E M PRE U M A O PO RT UN IDAD E .”

design s para a R HC Barcelo na - uma camuf lag em co lo rida qu e é tão c aótic a c omo a pró pr ia co rrida. “ Ela é co nfusa e

Ao m e s m o t e mpo qu e s e ja du v i d os o qu e Su n Tzu ten ha pedal ad o

se mi stura c om tod os os kit s do s o ut ro s co r redo res,

um a bi ke de m a rc ha ú ni c a , e s ta fra s e ampl amen te c on h ec i da

mas ao mesmo tempo, n ã o se encaixa. Mesmo no meio do

do l i vro “A A r t e da G u e r ra” pode r i a te r s i do fac il men te esc rita

pel otão, mas se seu c ol ega precisar saber o n de v o cê est á,

so bre a e x p e r i ê nc i a c aóti c a qu e é s e ve r n o meio d o pelotão

el e c on segu e lh e ver a u m q uilô met ro de dist ância.”

em u m a Re d Ho ok C r i t ( RHC ) . Há u m fre n ezi de ati vi dade, co re s vo a n d o p or tod os os l ad os e a c o n f u são de c ada c ic li sta

“Eu proc urei al gu mas c i taçõ es do livro A Ar t e da Guer ra

ten ta n d o co n s eg ui r a s ua c ha nc e e ve nc er a c orri da. Existem

para c oloc ar lá, porqu e essa co r rida se parece muit o co m

opo r t u n i da de s a q ui - v o c ê pre c i s a a pe na s en c on trar a sua

u ma b atalha”, d isse el e s o bre a frase q ue est á no int erio r

cha n ce .

d o c ol ari n h o d os kits de Co lin S t ricklan d e Aldo Ilesic (Al lez-Al lez Spec i alized ). “ No meio do cao s há sempre uma

“ Eu o cha m o de C r i t Camo” , di s s e Br i an “ Swiz” Sz ykownym,

opor tu n i dade, e i sso tam bém se parece um po uq uinho co m

D e s i gn e r In d u s tr i al da S pe c i a l ize d, de sc reven d o o tema de seu s

a n ossa empresa.”

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A s bi ke s, ki t s, c apac e t e s e s apati l ha s da RHC ten tam c ri ar

paleta de c ores f oi esc ol hida. “ Tem um po uco de t eo ria de co res

o ef e i t o de e s ta re m e sc on d i da s à v i s ta duran te a c orrida, mas

n o mei o d isso tu d o. Algu mas são co res t riádicas, ent ão elas se

o “ C r i t Ca m o ” n ão é a pe na s u ma c ol e ç ã o aleatória de f or mas.

c omplemen tam n a roda de co res, e no final eu acrescent ei o

Ao f i n a l iza r s e u de s i gn, Sz y ko w ny c omb i n ou três pad rões de

a zul, qu e é u ma c or c omp lementar do laranja.”

ca m u f l a g e n s m i l i ta re s d i fe re nte s : doi s A l emães - Pad rão Rain e Pl a n e Tre e - e u m te rc e i ro pad r ão c ha m ad o M 9 0 . C om u m

“O prob lema c om as c ores - o desafio , na verdade - sempre

cu m pr i m e n t o a o ar ti s ta e spa nh ol G a u d i e seu estil o mosáic o,

esteve n a quan tidade de t rabalho necessár ia para co lo car

Br i a n m i s t uro u os tr ê s pa dr õe s pa ra c r i ar u ma expl osão de

todas el as n as b i kes. “A pint ura é ext ensiva para alg o assim,

core s . É, fa l a n d o de fo r ma s i mpl e s, gr i ta nte.

mas eu real men te qu eria um desafio na cabine de pint ura.”

“Na ve rda de , c o me ç o u de fo r ma ma i s c o mpli c ada e f oi se

O lhan d o para as f otos d o s bast ido res, aparent ement e ele

en ca i x a n d o de p oi s ” , di s s e Br i an, e xpl i c a n d o c omo a

c on segui u o qu e qu eri a.

LO N D O N N O.2 O qu e voc ê c o nseg ue q uan do junta a Família Real d o Rei n o Un ido ,o Palácio de Bucking ham e as Jo ias da Coroa B ri tânica, e as mist ura co m Alice no País das M aravil has e um baralho? Uma co leção (bike, ki t, c apac ete e sapat ilhas) q ue est á pro nta para “A S B IK ES D O RE D HO O K C RI T FO RA M O PR OJE TO

proporc ion ar um t ratament o Real na RH C Lo n dres No.2

MA IS D ES A FIAD O R Q U E J Á F I Z E M U MA B IKE . FO RAM 1 6 Quan d o o D esigner de Calçado s da S pecialized, CAMA DA S D E T I N TA C O M 6 M Á S C A RAS D IFE RE N T ES E M C IM A D E

Jon Takao, c omeço u a pensar no co nceit o para seu proj eto c om tema de Lo n dres para a Red Ho o k Cr it ,

TU D O IS S O, E N T Ã O FO I U M PROJ E TO G IG AN T ES C O .”

el e f oc ou n a c idade em si e em seus íco nes. Ele n atural men te cheg o u at é o s po r t õ es do Palácio de

—B r i a n Sz yko wny, D e s i gne r I n du s t r i al , S pec i alized .

B u c ki n ham e à Família Real. Element o s da Co leção de Joi as da C oro a, além do mesmo pret o e do urado d os por tões d o Palácio t o maram seu lugar no design da b i ke e das s apat ilhas. A jo ia final na co ro a do proj eto f oi c ol ocada q uan do Takao co meço u a ref letir sob re o q ue significa co r rer no fo r mat o sel vagem da RH C. “ Eu co mecei a pensar so bre a c orri da e sob re co mo na metade do t empo é uma gran de aposta . Co r ridas no g eral req uerem muita sor te, posi c i onament o e ent ão muit o esfo r ço ,” Diz Takao. Com a ideia da “ g ran de apo sta” em ment e,

“ EU M E INSPIRE I N O S PO RT Õ ES D O PALÁC IO D E BU CKINGH AM PARA OS DE TAL H ES

E O S CO LO QUE I N A B IKE E M UM A PART E RE F LE T IVA , E ENCONTREI UMA ES PADA NA

C O LEÇ ÃO D E JO IAS DA CO R OA , E É DAÍ QUE TAM B É M V IERAM

A LGUNS D E TALHES.” —Jon Takao, D esi gn er In d u strial , S pecialized

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M I LA N O N O.7 Ta ka o s e g ui u o pr ó xi mo pas s o l ógi c o e u sou u m

M i lão é mais do q ue apenas um lo cal para a Red

Roya l Fl us h p a ra fe c ha r a i de i a or i gi na l . Após

Hook Crit: M il ã o No .7 é um lugar de inspiração para

esco l h e r o Re i c o mo s e u j oga dor, e l e c omeç ou a

design ers de to do s o s t ipo s. Mo da, arq uit et ura, ar t e

pe sq ui s a r de ta l he s pa ra os e l e me ntos d o desi gn ,

- está tu d o lá. Mas de aco rdo co m o designer Er ik

e no pro c e s s o , e nc o nt ro u u ma mane i ra de c riar a

Noh li n , a mel h o r co isa q ue veio daq uela bela cidade

pe ça f i n a l da co l e ç ã o - u ma pe ç a qu e e nc errari a o

n ão f oram marcas co mo Prada, Ar mani, Do lce &

tem a .

G ab b an a ou K ar t el, mas sim Et t o re S o t t sass, “ o ú n ic o verdadeiro punk ro cker q ue a área de design

“Os g ua rda s da Rai nha e m A l i c e no Paí s das

j á teve.” N u n c a o uv iu falar do S o t t sass? S e prepare

Ma ravi l ha s s ã o c ar ta s de b ara l ho, e nt ão i sso se

para u ma aula, po rq ue para chegar at é a alma da

tor n o u a i n sp i raç ão para o ki t. ”

c ol eç ão da equipe Allez-Allez da Red Ho o k Crit de Noh l in s, você deve pr imeirament e co nhecer o

Com o pre t o e dourad o da b i ke ( c o m de ta l h es

h omem qu e acen deu esse fo g o .

ref l e t i vo s q ue t o mar ão v i da a o s e re m ati n gi d os pe l o s f l a s h e s da s c â me ra s, a i nte ns i da de d o kit e

Ettore Sottsas s, um arq uit et o e designer italiano ,

a a udaci da de das s apati l ha s, Takao c r i ou u ma

f u n d ou o gr u po ar t íst ico pó s mo der no chamado

col e ç ã o d i gn a de Re i s .

G r u po M emphis, em 198 1, em Milão . Nas décadas seguin tes, ess e g r upo refo r mulo u a área de design ao qu eb rar todas as reg ras, v iran do t o do o cenário de c ab eç a para baixo . S eu est ilo par t icular de design gerou o mesmo t ipo de reação q ue a música punk gera - an i mou a alg uns e desper t o u um fo r t e senso de relu tân c ia em o ut ro s. Cer ta vez um ar t ig o no S F C h ron i c l e resumiu Memphis co mo “ uma esco la de design qu e era um mo t im de co res e mat er iais q ue f requ en temen t e so brecarregava o int uit o o r ig inal de u ma peç a, u m casament o às pressas ent re Bauhaus e a Fish er-Price.”

“QUALQUE R UM QUE QUEBRA AS REGRAS É

M EU AM IG O .”

—Eri k Noh l in , Designer In dust r ial, S pecialized

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Se v o c ê c o nc o rda o u não qu e essa aval iaç ão é

“Eu ten h o u ma ab ordagem mais escan dinava para

d i sc u tí ve l , porqu e d o pont o de vista de Noh li n ,

o design . M ai s tran qui lo, nat ural e t radicio nal.

“Q ual qu e r u m q u e qu e b ra a s regras é meu amigo,

Basic amen te u ma perspect iva o po sta do s

e Et t ore s e mpre fo i u ma i nspi raç ão para o meu

trab al h os mais Tard i os de S o t t sass.” S o bre o

t ra b al h o, não c om s e u s tra b a l hos f ísi c os n o

própri o Noh li n : “Eu def in i tivament e me div ir t o

p a s s ad o, ma s s i m po r s ua fi l osof ia, métod o e

muito ao esti lo de Sottsass, e ext er nar um po uco

cur i o s i da de . ” Es te foi o pont o de par ti da para a

d i sso n o proc esso de des ign fo i muit o bo m.

co l eç ã o de M i l ão da RHC de c apac ete, b ike, ki t e

Um tri b u to ao Ettore é u m co nceit o est ranho

s a p ati l ha s . ”

e d i ver tid o, e espero ser fiel ao seu legado de qu eb rar as regras E se d iver t ir, e no final,

“Nos e s t ági os i ni c i a i s do de s i gn da Red Hook

Criar muita c on f u são.”

C r i t : M i l ã o ” , e xpl i c a No h l i n, “ Eu estu dei a en or me q ua nt i da de de tra b a l ho de Et tore e dec id i qu e

Coli n Stri c klan d e Al d o Ilesic da eq uipe Allez-Allez

m e u c o nc e i to s e r i a u m tr i b u t o a el e e ao seu

irão pedalar a c oleç ão de No hlin na RH C Milão No .

l e ga do b r i l ha nte . U m g ra n de “ ob ri gad o” por toda

7 e estão pron tos para c analizar um po uq uinho de

i n spi raç ão e po r tor na r o de s i gn de prod u to men os

sua ati tu de pu n k , c on f u n dir a co mpet ição e v irar

e n t ed i ant e pa ra tod os nó s ” . Et tore é, de ac ord o

a c orrida de c ab eç a para baixo - exatament e da

co m Noh l i n, “ u m dos de s i gne rs mai s impor tan tes e

f or ma qu e o gran de e fal ecido S o t t sass g o star ia.

i n f l u e nte s q u e o mu n do j á v i u . ”

“A mane i ra c omo M e mph i s mo strou o ded o d o meio p a ra o e s ta b e l e c i me nt o fo i u m a gran de i n spiraç ão p a ra mi m c omo de s i gne r, ” e l e ac resc en tou . “Ao s i m p l e s me nt e s e d i ve r t i r mai s destr uin d o b arrei ras, So t ts as s c ons e gui u c r i a r ta nta c on f u são, qu e as p e s s o as s i mpl e s me nt e t i nha m qu e gostar del e, pr i n c i pa l me nt e po r de i xá-l as i n seguras e c on f u sas.

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“ EU Q U ER O Q U E O P Ú BL I C O O L HE ES S A B IKE E PE NSE , ‘QUE D IAB O É AQUE LA C O IS A?’ DA MES MA FORMA

COMO EU REA G I Q UA N D O V I U M A O BRA D E S OT TS ASS N A ES C O LA D E ART ES.

- Er i k No h l i n , Qu e b rad or de Re g ra s Esc a n d i n avo

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R O UT E S C O UT: M ILAN -S AN RE M O

QUA ND O C OPPI PA RO U

Em al gu m l u ga r do mu n do, ne s te exato momen to,

min u tos, eles i rão c ompar t ilhar hist ó r ias, t o mar um

e s s a c e na e s t á ac ont e c e n d o: Um c i c l ista ac ab a de

expresso, e relaxar n aqu e la cafet er ia at é q ue um deles

e n t rar nu ma c afe te r i a e e s t á proc uran d o seu d i n h ei ro

f i c a de pé e rec l ama das per nas duras. O g r upo t o do

n u m s a q ui nho de pl ás ti c o, e nq uan to c amb alei a

en tão se levan ta e c oloc a o s capacet es, luvas e ó culo s

n a d i re ç ã o de u ma b a r i s ta . M as an tes de ped ir u m

para prosseguir c om a pedalada.

c a f ez i nho, s e u s o l h os i ne v i tavelmen te perc orrem o c o n te ú d o da v i tr i ne à s ua fre nte.

Voc ê rec on h ec e essa c ena po rq ue a parada para um c af é d uran te u m pedal fa z par t e da cult ura do ciclismo .

H á de l i c i os os d oc e s di spo s tos de man eira apelativa

M as eu aposto qu e n en h um de v o cês já paro u para

s o b u ma l uz qu e nt e e nã o d á para n ão n otar os

u m c af é n o meio de u ma co r rida pro fissio nal. E muit o

m u f f i ns d o ta ma nh o d os pu nh os de u ma c ri an ç a, sem

men os en quan to n a li dera nça da La Pr imavera – a

fa l a r d os c ooki e s q u e o agua rdam pac ien temen te

M il an -San Remo.

e m s ua s fi l e i ras . A e s s a al tura, as c on sequ ên c i as c a l ó r i c a s s e r ão c al c ul ada s . Ta l vez até mesmo

D e ac ord o c om a len da, em 1946, Faust o Co ppi paro u

i gn o rada s .

e tomou u m c af é an tes de co nt inuar pedalan do para a vi tóri a n a c orrida de u m dia mais lo nga do ano ,

“En e rg i a de d oc e s ” ! É o qu e el es d i rão c omo

ven c en d o por 14 min u tos. A cafet er ia q ue ele esco lheu

j us t i fi c a t i va, e s e u s c ompanhei ros ri rão, provoc an d o:

n aqu ele d ia f oi a Caf f e Li gur i Past icceria em Imper ia, e

“En t ão j á ac ab ou a t e mpo ra da ”? Pel os próxi mos 15

até h oj e ela é a esc olh ida do s ciclistas.

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O LA B O RAT Ó RI O A pri meira c oisa qu e voc ê

É u m f l uxo c onstant e e calmo de mo v iment o e

vai pe rc e b e r é o c h ei ro. É o ti po de aroma qu e

atividade. Falam italiano suavement e, acenan do

ac e r ta s e u e s tômago em c h ei o, fa zen d o-o gri tar

a c ab eç a em s inal de co mpreensão . H á muit o s

i nc e s s ant e me nt e : “ prec iso daquil o agora”! O

assi sten tes tra balhan do ao lado deles, alg uns de

l ab ora t ór i o d os d oc es ( c hamam-n o de l ab oratório

esc olas de c ulinár ia, ali para apren der o o fício co m

para di s ti ng ui -l o da c ozin ha, on de as ref ei ç ões

Wil li am, o mas t er chef.

s ão pre para da s ) , fic a d iretamen te em c ima da Café Pas ti c c e r i a Pic c ard o. É on de n asc em tod os

M ai s tarde, Luca prepara o Krapen, um do nut

os marav i l h os os d oc es qu e os c li en tes poderão

desti n ad o a ser injetado co m creme italiano

de gu s ta r l á e mb ai xo, e depoi s de ob ser var os

amaren o, c h oco lat e o u g eleia, e car inho sament e

c h e fs d os d oc e s po r al gu n s min u tos – a pesagem

sal pic ad o c om açúcar. Ele leva a ban deja co m a

da ma s s a , a c ana l izaç ão d o c reme em vasi lhas

massa c r ua pa ra a coz inha para frit á-la. As bo las

d ourada s – v o c ê s erá f orç ad o a c on c ordar c om o

qu e vão se expan din do são v iradas cuidado sament e,

no me . D e fi ni t i vamen te aquil o qu e estão fa zen d o é

para qu e Lu c a co nfir me v isualment e se est ão

u ma c i ê nc i a .

pron tas, e depo is ret iradas do ó leo . A pró xima leva qu e el e trouxe co nt inha alg uns krapens co m furo s

N a s pr i me i ras h ora s da man h ã, Wil li am e Lu c a,

n o meio. M eu amig o Marco v iro u para mim r in do ,

pr i mo s da c i da de de N ápol i, trab al ham qui etamen te

expl ic an d o porq ue eu hav ia escutado a palavra

na q u e l a mane i ra ha r mon i osa qu e somen te aqu el es

“Si mpson s” n o meio de uma frase em italiano so bre

qu e s e c o nhe c e m mui to b em c on segu em. N ós

aqu el a c i amb ella.

os as s i s ti mos c ol oc an d o os toqu es f in ai s n os c ro i s s ant s ; e l i mpa n d o metod ic amen te o espaç o ao

“Esse d on u t c om o furo ” , ele disse, apo ntan do para

c ompl e ta r c a da ta refa.

el e, “n ão é muit o t ípico aq ui. Mas depo is q ue o

EM C A DA PE DA L D E T RE I N O , EU T E N H O QUE PARAR PARA TO M AR C A F É E C O M E R UM B OLO. DURANTE

OS T REINOS IS S O É P O S S Í V E L , M A S DURAN T E AS CO R R IDAS SE R IA IM PO SSÍVE L. PARA MIM, A MEL H OR

CO IS A PA RA C O M E R É C O M C HO C O LAT E . B O LO D E C HO C O LAT E É B O M .” —Peter Sagan, Tinko ff

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EU S O U S I C I L I A N O E AM O TO D O S O S D O C ES QUE VÊ M D E M IN HA TERRA NATAL , MAS O MEL H OR

D E TO D O S É C A NN O LI F RES C O , DA M ESSIN A . QUAN D O EU S AIO , EU S EMPRE PARO PARA

TO M A R U M C A F É . E M C O M O , JÁ UM A D O CE R IA SIC ILIAN A , M AS É MEL H RO QUE EU NÃO V Á L Á

F REQ U E N T E M E NT E .” —Vin c en zo N i b al i, Astan a

pro g ra m a Th e S i mps ons c o me ç o u a s e r tran smitid o n a It á l i a , a s p e s s o as c ome ç a ram a pe di r d on u ts

propagan das qu e passavam an tes d o pelo t ão , e de

co m o o s da t e l e v i s ão. Então c ome ç a ram a prod uzi r

u m em espec i al, qu e ti n ha amostras g rát is de pasta

es t e s c o m o f uro no me i o por c au s a di s s o”.

de den tes. N a époc a, n ão era f ác i l c onseg uir alg uma amostra gráti s, en tão ela se l emb ra b em daq uele dia.

“C i a o Ba m bi n i !”

E l a d i sse qu e as c rian ç as f oram à l oucura” .

Q ua n d o Ma r i a Te re s a Pi c c a rd o c h e g ou a o an dar de

Ao ou vir o som d o ob turad or da c âmera, Mar ia

cim a , p a s s a n d o pe l o s qu e l ab u tava m no l ab oratóri o,

Teresa sorri e fa z u m gesto c om a mã o . Não preciso u

fo i co m o s e uma nu ve m de e ne rgi a s áb i a ti vesse

de trad u tor quan d o ela d isse “Ph otosho p” . Ou

en t ra d o n a s a l a . N a sc i da e m 1 9 45, u m an o an tes

para a ri sada qu e veio após i sso. Sua energ ia era

de C o p p i t e r p ara do para t omar o famos o c af é, el a

c on tagi an te, e c om sua voz vi b ran te co ntava suas

an dava co m a q u e l e s pa s s o s r ápi d os c arac terístic os

h istórias c om os muitos gestos tí pic os de italiano s.

de u m ch e f , e m v i r t u de d o c ons ta nte mo vimen to típi c o de u m a c oz i nha – s e mpre c he c a n do i sso

E l a sol ta u ma lon ga f rase em i tal ian o q ue parecia

ou a q ui l o o ut ro . No ano pas s ad o, M a r i a Teresa

n ão ter f i m, mas eu rec on h ec i u m n ome. Co ppi.

fo ca l izo u m a i s a c oz i nha e o pre paro de al moç os,

Agora el a falava de Fau sto.

e m e n o s o l a d o d os d oc e s do ne góc i o. Mas sua hi s t ó r i a c o m o Caffè Pa s t i c c e r i a Pi c c a rd o – c omo

E l e n ão veio aqui só n aqu el e d i a, el a explico u. Ele

ta m bé m a de s ua i r mã , Car l a, q u e tra b a l ha n o an dar

vin ha f requ en temen te aqui para tomar café. E ag o ra

de ba i xo – é l o n ga . Por ge raç õe s, e s tá e m sua

é a vez de M aria Teresa fa zer u ma perg unta para

fa m í l i a . Es t á e m s e u s ang u e .

n ós.

Em p é a o l a d o de l a na pa s s a g e m e nt re o l ab oratório e a c ozi n ha , c o nve r s amos s ob re a v i da da c af eteri a,

“E la está pergu n tan d o”, d i sse M arc o, “ Qual a rel aç ão en tre c ic li stas e d oc es”?

jun ta m e n t e c o m hi s tór i as de al gu ma s M i l a n -San Re m o s q ue j á p as s ara m.

It’s a good qu estion . We’ll c ome b ac k t o t hat .

“El a s e l e m bra mui t o b e m” , d i s s e M a rc o, trad uzi n d o pa ra m i m , “da M i l an-San Re mo d os ano s 50, qua n d o e l a e ra ape nas u ma c r i a nç a. I s s o f oi depois da g u e r ra e n ã o hav i a mui ta s r i q u ezas, e ntão a co r r i da e ra u m g ra n de e ve nt o para a c i da de de Im p e r i a . El a s e l e mb ra dos c ami nhõe s c o m todas as

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S O LT E M O KRA PEN A mul ti d ão da man h ã

provoc am sorriso s. O legado da família Piccardo .

e s tá i n d o e v i n d o d o Caf é Pastic c eria Pic c ard o, c ui da dos ame nte s el ec i on an d o b ri oc h e e f oc c ac ia

Nos d ias de Co ppi, a cafet eria na verdade ficava em

da v i tr i ne ant e s de sen tarem n o b alc ão para c omer.

ou tro lu gar, a po uco s met ro s, na esq uina da Pia z za

A s pe s s oas tomam seu s c af és para darem u m “star t”

D an te. Por u m século , era lá q ue ficava, ant es de

no s e u d i a na q u e l e momen to, en quan to n o f u n d o da

mu dar em 20 02 para um espaço maio r, co njugado

c a fe t e r i a , u m t r i o de i d osos está sen tad o per to de

c om o restaura nt e Piccadilly, fo r man do a Café

u ma jane l a, t ro c an d o h istórias. E les tin ham aqu el e ar

Pasti c c eri a Pi ccardo . Mesmo depo is de mudar de

me i go de ve l hos amigos c on versan d o sob re a vida

l u gar, a c af eter ia ret êm g ran de par t e de seu ant ig o

durant e o pi c o d o movi men to matu ti n o.

c har me, graç as a presença do painel de mo gno ori gi n al d o b a r, e o let reiro na fachada – L iq uo rer ia,

Auro ra A l k u , u ma garç on ete n a pastic c eria,

C on f ettoria e Past iccer ia.

g e nti l me nte nos mostrou tod os os iten s n a vi trin e. Pac i e nt e e pre c i s amen te desc revi a os i n gred ien tes

M aria Teresa cuidado sament e t iro u fo t o g rafias, uma

de c ada u m, mo s tra n d o os mai s populares e os seu s

a u ma, desc reven do as par t es int eressant es de cada

fav or i tos pe s s o ai s, in c lu sive trad uzin d o al gu n s d os

u ma. Vimos f o t o g rafias do lugar o r ig inal, e imag ens

nome s e nq ua nto e u os provava. A vitri n e é en or me

de sua mãe n o caixa, no s ano s 70, exatament e co mo

e c ompl e ta me nt e preen c h ida c om f i lei ras e f il eiras

Carla e M aria Teresa fa zem ho je (mas co m uma

de pe q u e na s t e nta ções. Toda essa área, i n c l uin d o

c aixa registrado ra meno r ). Dei uma mo rdida em meu

a v i tr i ne atr ás de mi m c om os b ri oc h es e f oc ac c ias,

krapen c on f or me Marco t raduz ia, e fiq uei sur preso

é u ma zo na pe r i gosa para d ietas. E n em vamos

c om a suavida de e do çura daq uele do ce. É uma

me nc i o na r o s or ve t e ( emb ora c on f esso qu e Aurora

pura b omb a de açúcar. O creme amarelo explo de

me de i xo u e xpe r i m en tá-lo, tamb ém). M as é por i sso

de den tro para fo ra, causan do esfo r ço frenét ico de

q u e pe da l a mo s, c er to? Calori as en tram, c alori as

mi n ha par te para q ue eu não me sujasse. É o t ipo

s ae m.

de gosto qu e fa z v o cê dizer, “ q ue se dane a fo r ma c omo estou c omen do , só q uero apro veitar isso ” .

É hora de e xpe r i men tar al gu mas merc ad ori as

Um b om d oc e e um cappuccino em uma cafet er ia

do l ab ora t ór i o. Hora para u m c af é e u m b ate

i tal ian a. Será que a v ida fica melho r do q ue isso?

pa po no s s o. Ao s e ntar mos para tomar n ossos

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c a ppu c c i no s e pro var u ma sel eç ão de d oc es, M ari a

D epois d isso veio um livro q ue co ntava a hist ó r ia

Te re s a t i ro u u ma c ol eç ão de f otograf ias h istóric as

da M il an -San Remo , desde o ano q ue co meço u

de u ma ma l a ve l ha . As an ti gas f otograf ias em preto

até 19 4 9. As f ot o g rafias mo st ravam um per ío do

e b ra nc o da e ra de C oppi – u m relan c e d os d i as d os

verdadeirament e ro mânt ico no ciclismo – as difíceis

pa s s a do e l e mb ra nç as da h istória da pasti c c eri a –

c on d iç ões de quan do a Turchino ain da era uma


“EU S OU SU PE R A FAVO R DE U M C O F FE E B REAK DURAN T E O S T RE IN O S – M E LHO R AINDA S E FOR COM UM

BR IOC H E . S E ESTO U PE DA LA N D O P O R UM A LO N G A D IST ÂN CIA , O U SE ESTO U IN D ECIS O S OBRE A ROTA , EU PARO

MA IS D E U MA V EZ . EU REA L M E N T E A MO O S D O C ES, ESPEC IALM E N T E AQUE LES CO M FRUTAS , MAS S E FOR PARA

ES C OLH ER A PE N A S U M , C O M C E RT EZ A SE R IA O M AS C AR PO N E , AT É PO R QUE R IM A COM MEU S OBRENOME” . — Mi ch e l e Sc a r p oni , A s ta na

detalh es de sua parada l eva a mú l ti plas ver sõ es del a. Algu mas atestam qu e C oppi , surg iu pedalan do c asual men te, en c ostou sua b ike n u ma parede, e en trou n a c af eteria para ped i r e b eb er seu café no b al c ão. O u tros d izem qu e el e apen as reduz iu o r it mo e en tregaram-l h e o c af é an tes qu e el e ret o masse a sua vel oc idade n or mal . In depen den te da ver são q ue voc ê ac red i ta, é d o c on sen so geral que realment e ac on tec eu .

“Eu mesmo n ão vi ”, d i sse u m c li en te reg ular da Pi c c ard o, Umb er to Borell i, “mas eu estava assist in do a c orrida e c on h eç o pessoas qu e vi ram. Elas me es t ra da de ca r val h o, e hav i am h e r ó i s no c i c l ismo

d i sseram qu e ac on tec eu mesmo”.

com o A l f re d o B i n da , G i no Bara l i e , é c l aro , Fau sto Cop p i . S ó de ver a e l e gânc i a de s e u s e s t il os, a

Umb er to – par te d o trio qu e vi mos mais cedo –

lam a e s u j e i ra e v i de nt e s nas fo tos, e a t é m esmo as

en c on tra c om seu s ami gos n a c af eter ia q uase t o do s

po s e s o f i c i a i s qu e e l e s fa z i am para a s fotos – esses

os d ias, e esc olh e u m l u gar privil egi a do , banhado

cicl i s ta s e ra m de u ma é poc a e u m l u ga r di f eren tes.

pelo sol n o f u n d o da c af eteria, para co nversar, ler

Fic a m o s g r uda d o s e m nos s as c ade i ra s .

as n otíc ias d o d ia, e b eb er u m b om c afé. Quan do ele veio até n ossa mesa para fal ar de Co ppi e do s

“ Q ua l f o i a co i s a q u e mai s mu dou pa ra v o c ê n estes ano s ”?

d i as qu e se passaram, ele tirou o c ha péu e passo u a mão n o c ab elo para tirar u ma f oto. C om um so rriso c on tagian te e alegre, orgul h osamen te no s disse

Ma r i a Te re s a r i u e re spon de u c o m s i mpl i c idade.

qu e assistiu a todas as ed iç ões da M ilan-San Remo desde 19 35 ( emb ora mai s tarde ten ha co nfessado

“O m un d o ”.

qu e perdeu u ma n os an os 9 0 porqu e estava par ti c i pan d o de u ma c ompeti ç ão de t ig elas), e as assiste de sua varan da tod os os an os. Co nseg ue

Q UA N TO MA IS A S C O I S A S M U DA M N ã o restam

u ma vista per f ei ta d o pel otão en quant o est e passa

dú vi da s de q ue Fa u s to C oppi e ra u ma l e n da, e a

pela Pia z za D an te, em Imperia.

his t ó r i a de s ua pau s a pa ra u m c a fé – e xa g erada ou n ã o – s o m e n t e ac re sc e nta ma i s u m ga l ho místic o n a s ua á r vo re l en dár i a. Q ual qu e r b u sc a pel os

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“NA MIN H A C ABE Ç A , C O P P I FEZ A ES CO LHA CE RTA JÁ QUE T IN HA TO DA AQUE LA VANTAG EM S OBRE OS

OU T R OS C IC L I STA S . I S S O N Ã O S E RI A PO SSÍVE L AT UALM E N T E N A M ILAN -S AN RE M O. ” —Mi ch e l e Sc a r p o ni , A s ta na

A c onve r s a fo i l onga e el e n ão deixava M arc o

a li gaç ão en tre as cafet erias e o s ciclistas.

te r mi na r de c ompl etar as trad u ç ões an tes de

Fi n almen te, voltamo s para a q uest ão de Mar ia

c ome ç a r a fa l a r novamen te, mas c on seguia assi mil ar

Teresa – qual a co nexão ent re o ciclismo e

as par te s ma i s i mp or tan tes. E l e desc reveu a

c af eterias? Por q ue v o cê parar ia no meio de uma

ani ma ç ã o da q u e l e tempo em torn o d o c i c l ismo, a

pedal ada, suado , para sair an dan do po r aí de lycra

re s i s t ê nc i a d os c i c l istas e as d i f eren ç as en tre aqu el a

e sapatos estranho s, pagan do co m dinheiro t o do

é po c a e hoj e . Fa zen d o gestos em d ireç ão a pi a z za

amassad o porque v o cê esq ueceu de levar um

l á fo ra , e l e de sc re veu c omo an ti gamen te havi a u ma

saqui n h o plást ico? Vo cê po de t o mar café a q ualq uer

gra n de l ata na e sq uin a para os c ic li stas se l imparem.

h ora.

À s veze s, os c i c l i s tas estavam tão su j os da estrada qu e mal dava pa ra rec on h ec ê-l os. E , é c l aro, haviam

M as c af eterias são co mo nepentas para ciclistas.

as r i val i da de s .

São tão irrai gadas em no ssas v idas ciclíst icas qu e às vezes a t é alt eramo s alg umas ro tas para

“ N a q u e l a é po c a, v oc ê torc ia ou para Bar tal i ou para

passar em al guma cafet er ia em par t icular. Em

C oppi ” , t ra duz i u Marc o, an tes de se vi rar para mi m e

algu n s paí ses, as pedaladas são só po r causa das

s or r i r.

c af eterias, en q uant o em o ut ro s, há pedaladas q ue c omeç am em det er minadas cafet er ias. At é exist em

“ Es s e c ara ” , e l e d i sse. “E le torc i a para Bar tali ”.

h i stóri as esc ri tas para ciclistas so bre a et iq ueta das c af eterias para asseg urar o bo m co mpo r tament o .

O mu n do mu dou . Umb er to ec oava os pen samen tos de M ar i a Te re s a e desc revia as mu dan ç as qu e vi u

M as isso ain da não respo n de a perg unta de

de s de os d i as de Coppi e seu h erói , Bar tali .

M ari a Teresa. E enq uant o eu sei q ue muit o s t êm suas própri as teo rias, me per mita humildement e

No pas s ad o, e l e s en tia qu e a M i lan -San Remo u n ia

apresen tar a m inha.

as pe s s o as . I s s o an tes da T V, quan d o só exi sti am r ád i os . Rá di os fa z iam a c on exão c om o c i c l ismo ( e, é

Caf eteri as são as g ran des eq ualizado ras.

c l aro , a o u t ra g ra n de pai xão i tal ian a, f u teb ol ). Como mui ta s pe s s oas nã o tin ham rád i os em suas c asas,

Quan d o voc ê p ára em uma cafet er ia durant e um

e l e s pre fe r i am s e reu n i r n a c af eteri a para ou vir a

pedal , n ão impo r ta q uão bo m v o cê é, o u o q ue v o cê

c or r i da . A l gu ns até telef on avam para sab er sob re o

f ez. N ão impor ta se v o cê é um KOM o u uma lesma;

an da me nt o da c o r rida ( e sob re os jogos de f u teb ol).

algu ém qu e precisa melho rar o u um principiant e.

E no s ano s 50, a t elevisão c h egou . A presen ç a n as

Homem ou mulher? To talment e irrelevant e. Est á

c or r i da s di mi nui u mais ai n da. Para Umb er to, essa

ten d o u m mau dia o u se sent in do bem? To do s

fo i a mai or mu da nç a. Nos d i as pré-T V, ele se l emb ra

esses são fatores no ciclismo , mas nenhum deles

qu e as pe s s o as c h egavam n a Capo Ber ta às 6 da

impor ta quan do v o cê t em um do ce o u um café em

manhã, pro nta s pa ra assi sti r u ma c orrida qu e só teri a

sua mão. No reino das cafet er ias, jo gan do co nversa

i ní c i o mui ta s hora s depoi s. Às 6 da man h ã, j á havi am

f ora c om n ossos cafés, r in do so bre a pedalada e

pe s s o as qu e v i e ra m de ôn ib u s de tod os os l ad os

qual qu er ou tro assunt o debaixo do so l, apro veitan do

para a s s i s t i r a c or r i da ao vi vo. E agora? Agora el es

os raios sol ares durant e o verão , fican do junt o s

c h e ga m à s 1 0 h ora s para assistir. É mui to d i f eren te.

d uran te o in ve r no , so mo s t o do s ig uais. S em velho s

D e fi ni t i vame nte , as c oi sas mu daram.

ou n ovos c ic li s tas, sem amado res o u pro fissio nais, n em mesmo u m ho mem na liderança da Milan-San

M as e nqua nto a man ei ra pel a qual as pessoas

Remo. N aqu el e mo ment o , so mo s apenas humano s,

as s i s te m a c o r r i da mu d ou – e a tel evi são tamb ém

desf r u tan d o de no sso s cafés ant es de pro sseg uir.

pe r mi te q u e pe s s o as de todas as geraç ões faç am u m tour pe l a I tál i a através de suas telas – h á u ma c oisa qu e s e ma nte ve a mesma:

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A verdadeira p erg unta é: Já acabo u a t empo rada?


“EU NÃ O C O N HEC I A A HI ST Ó RI A D E C O PPI. PESS OALM E N T E , EU N ÃO T E R IA PARADO COMPLE TAMENTE , MAS S E

A LGU É M T I V ES S E M E O FE RECID O UM CA F É AO LO N G O DA EST RADA EU TERIA ACEI TADO.”

—Vi n c en zo N ib ali , Astan a

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VO C Ê N Ã O PREC I S A I R LON G E PARA CR IAR UM A VE R DAD E IRA AVE N T URA PARA UMA CRIANÇA .

N Ó S AC A M PA M O S A APE N AS ALGUM AS C E N T E N AS D E M E T R O S D E CAS A . — Mat t H unt er

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O PEQ U E NO CA ÇA DOR DE TRILH AS

S e v o c ê a pre n de r ape nas u ma c oi sa c om estas

“N ós pedal amos l á porqu e é per t o de casa e t em

f o t o s, q u e s e ja e s ta : a s c o i s as n ão prec isam ser

al gu mas c oli n as suaves para a Ho t walk” , disse Mat t ,

c o m pl e xas para s e re m g ra t i fi can tes. Um pai, u m

expl ic an d o a rota qu e esco lheram. Nó s assist imo s

f i l h o , a l g u ma s b i ke s e u ma tr i l ha - voc ê n ão prec isa

en quan to eles passei am p elas est radas, Ro bbie

de ma i s nada . Re c e nt e me nt e , M att Hu n ter l evou

arrastan d o seu s pés n o c hão para frear q uan do sua

s e u fi l h o Rob b i e pa ra u ma v i agem n os arred ores de

b ike pega mui ta veloc i dade, e Mat t car regan do -o

K a ml oops, pe r t o de on de e l e s moram. Esta j orn ada

quan d o as su b idas aper tam. É uma v iag em feita de

pro va qu e s ão as pe q u e na s c o isas - o simpl es fato

momen tos simpl es e en c antado res, recheada de

de e s ta re m j u ntos c ompar ti l ha n d o u ma aven tura -

l emb ran ç as e an sei os de no ssa pró pr ia infância.

q u e nos tra ze m a l e gr i a. Emb o ra o pequ en o Rob b i e a i n da te nha t u do pe l a fre nte na vi da, ele pode ter

“E le sempre me ped ia para ir mo s pedalar, acampar

c e r t eza q u e s e u pai e s ta r á a o seu lad o para lh e

e pesc ar”, d i sse M att, “Ent ão fo i exatament e isso

m o s t ra r o c ami nho.

qu e f izemos.”

19


A Hotwalk , u m present e da S pecialized para Ro bbie depoi s qu e ele nasceu, já passo u po r muitas co isas. “E le pedala desde o s 1 3 meses de idade [ag o ra ele j á tem d oi s an os]. Nó s t iramo s o selim e co nst r uímo s u ma almofada per so nalizada para q ue ficasse baixo o su f ic ien te pa ra ele. Ele co meço u a empurrar a bike por aí desde que co meço u a an dar.

N ós pergu n tamo s para Mat t se ele t inha alg um c on sel h o para aq ueles q ue q ueiram fa zer uma viagem tamb ém . “Apenas faça! ” , ele disse. “ O t railer é mui to ú til para levar co mida o suficient e e o s equipamen tos para t er co nfo r t o , e assim v o cê fica c om as c ostas livres para levar sua cr iança q uan do as su b i das f ic a m muit o íng remes.”

Algu mas b ikes, uma t rilha t ranq uila, um senso de aven tura e aquele pulinho q ue seu filho dá ao t o rcer por voc ê - é u ma receita simples q ue q ualq uer um pode seguir pa ra v iver uma avent ura.

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EU A DO RO A FO R M A CO M O E LE F IC A AN IM AD O CO M AS C O I S AS MAIS

SIM PLES. ‘O LHE , PAPAI, É CO C Ô !’—M att Hu n ter

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P E LO A M O R D O C R O S S

NA M U R & HEU S DE N -Z O LD E R , B É LG ICA

A multid ão aguarda an si osament e. Co mo um

C OPA M U N D I A L U C I #5 & #6

reb an h o de ovelhas mur m urant es, est ão ludibriado s pelo ri tmo da c orri da. O s ciclistas passam, e po r um

El e s v ê m. Ve s t i n d o s ua s b o ta s, jaqu etas volu mosas

b reve momen to, as mãos são ret iradas do s bo lso s

e c ac he c ó i s, e l e s c h e ga m e m b an d o, b u sc an d o o

das jaqu etas para torc er. Ho mens de big o de e faces

s a n t u ár i o no Te mpl o d o Cyc l oc ross. C om as fac es

marc adas c om d éc adas de memó rias de co r ridas

br i l han d o e m u m d i a c i nze nt o, el es são su b j u gad os

falam de f or mas e c han c es. A festa co nt inua. A

m o me nta ne a me nt e , gua rda n do suas vozes para o

c on gregaç ão está u n ida em seu êxtase - eles sabem

s e r mã o qu e s e a proxi ma . Esc an ean d o os c i c l istas,

qu e, l ogo, u m h erói surgi rá.

e l e s proc uram re l a nc e s de s e us í d olos - c i c l istas qu e aco m pa nha m a c a da fi na l de saman a, a c ada c orri da,

O prato c ol etor está c i rc ulan do e as o feren das do s

a cada re s ul ta do. O a r e s tá re p leto de an siedade.

c i c l istas c omeç am a c air nele. H abilidade. S o r t e.

Lo g o . Lo go e l e s l i b e rar ão s e u c l amor urgen te para

D iversão. Fome. As c on tribuiçõ es são feitas e

o cé u fr í g i d o, b rada n do o no me daqu eles a qu em

u m c ic li sta é ab en ç oad o. Quem será ho je? H á um

a d o ra m. E l e s s e r ão e ns urde c ed ores em seu

gran de sen so de u n idade na areia e lama - afinal

c l a m o r ; u m c o ra l a b a s e de waf f l es c el eb ran d o

de c on tas, o qu e val e para um vale para t o do s

o e spe tác ul o. Dize m qu e os fã s b él gi c os de

n essas c on d i ç ões. Vol ta apó s v o lta, o s ciclistas

cyc l oc ro s s s ão l ou c o s, mas todas as rel igiões

c h u tam para derraparem s em cerimô nia enq uant o

p a re c e m l o u c ura pa ra os qu e estão de f ora, n ão é

são ultrapassad os. O reb anho diminui, at é q ue,

m e s mo? S i l ê nc i o . O c ul t o e s t á prestes a c omeç ar.

f i n almen te tu d o se ac ab a e as mão s v it o r io sas d o u n gid o da seman a se levantam. Co m um suspiro

Os c i c l i s ta s s e pre para m, s e ac otovelan d o n a l in ha

ali vi ad o e a torc ida n as lat erais, o cult o acaba.

de pa r t i da c o mo c aval os re fre a d os. Com ob ri gaç ões pro fi s s i o na i s de c or r i da s de e s trada e mon tan ha

O d i tad o d iz qu e se n ão est iver sen do diver t ido ,

c umpr i da s pa ra a te mpo ra da , el es estão li vres para

voc ê está fa zen d o errad o , e co m t o das as filmag ens

s e de l i c i a re m e m s ua pai xão pelo c ross e podem

em c âmera len ta e f otogra fias épicas apresentadas

br i n c a r na l ama, po ç as e ne ve . N este momen to,

sob re c orridas de cyc loc ross, é fácil esq uecer

e l e s e s t ão fo c ad os e pro nt os, pen san d o apen as n a

qu e a ra zão prin c ipal pela q ual t o do s o amam é

pr i me i ra v ol ta . A pe nas e m s o b reviver ao c omeç o.

prec i samen te esta. É d iver t ido . É diver t ido para o s

S o b re v i ve r à pr i me i ra c ur va. S ob reviver ao c aos.

espec tad ores. É d iver ti d o para o s ciclistas. E q uem

El e s s a b e m qu e s e ac a b a re m n a f ren te d o pel otão,

n ão amaria u ma reli gi ão baseada nisso?

s e f o re m c ha ma dos ao pú l pi t o, el es dei xarão s e u s q ua dr i s tomare m a l i de ra n ç a.

O remos.

“A PRI M E I RA VO LTA É M U I TA LUTA , CO LO C AR SEUS C OTOVE LO S PARA FO RA E TENTAR DEFENDER

SUA P O S I Ç Ã O O U T E N TA R SUB IR N O PE LOT ÃO O M AIS R ÁPID O PO SSÍVE L. A PRIMEIRA VOLTA - ÀS V EZES É

C OM O U M A GU E RRA , M A S É UM A GUE R RA LE G AL.”

22

—Ch ri sti n e M ajer u s, Boels-Do lmans e v iciada em cro ss.


“ SE VOC Ê EN T REV I STA R O V E N C E DO R APÓ S A C O R R IDA , E LE

PR OVAVELME N T E DI RÁ ‘ A H, EU M E D I VE RT I M UI TO ’, E

O Ú LT IMO C OLO C A DO TA M BÉ M D I RÁ , ‘AH, ISS O FO I IN CR ÍVE L ,

EU ME D IVERT I M U I TO !’ E I S S O N Ã O É O QUE SE O UVE

DE U MA C OR RI DA D E EST RA DA . Q U E RO D IZE R , N ÃO

PERGU NT E AO Ú LT I M O C O LO C A DO D E UM A

COR R IDA D E EST RA DA

COMO FOI A C O RRI DA . E LE

PR OVAVELME N T E DI RÁ ,

‘A H, VA MOS DE I X A R I S S O PRA L Á . ‘ ”

—C h r i s t i n e Ma j e r u s

23


“ DU RA A PE N A S PO R UM A HO RA , TALVEZ UM PO U CO M AIS O U POU CO MENOS [...] E É UMA

B OA M A N E I RA D E DAR UM AS R IS ADAS N EST E ESPO RT E [...] EU ACH O QUE AS PES S OAS

Q U E EST Ã O A PE NAS C O M E ÇAN D O N O CR O SS PO D E M T E R UM A BIKE BEM BÁS ICA E

A I N DA A S S I M PA RT ICIPAR .” —Ru dy M el o

WEST SU SS EX , RE I N O U N I D O

“Uma das prin c ipai s c oisas qu e me i nt eressam no

RODA DA 8 , Ll G A LO N DO N X

c ross é j u stamen te a c omu n idade”, explico u Rudy M elo, c o-f u n dad or da organ izaç ão c iclíst ica 5 t h

Es t á f r i o l á f o ra , mas v o c ê s a i da c a ma m esmo

Fl oor. “É mui to tran qui lo, mas voc ê também po de

as s i m e p e ra m b ul a e m s e u apar ta me nt o aqu ec id o,

levar muito a sério se qui ser.”

se p a ra n d o s e u ki t e nqua nto c ome s ua torrada. M ais tarde n a q ue l a manhã, e nq ua nto c ol oc a sua b ike

M uito c ompetitivo ou n ão, c om vári os níveis de

no t e t o d o s e u c ar ro , v oc ê pe rc e b e q u e o c éu está

experi ên c i a em c ada c orrida ( n ão exist em cat eg o r ias

li g e i ra m e n t e ame a ç a dor - h mm, a pre v i s ão é de

n esta l iga, apen as agr u pamen tos por idade e

ch u va? Vo cê j á e s tá pe ns an d o s ob re a pressão

gên ero), Sempre existe algu ém para co rrer co nt ra -

d o s p n e us e a l i mpeza a pó s a c or r i da . Voc ê sai

mesmo qu e seja apen as c on tra seu s pr ó pr io s

da c i da de , p e ra mb ul a n do pe l a s r ua s a t é qu e as

demôn ios.

ca s a s c o m e ç am a di mi nui r e v o c ê s e e nc on tra em um a zo n a r ura l . A i n da c o m mui to te mpo de sob ra

“Se voc ê n ão está se sai n d o tão b em q uant o

- a co r r i da é s ó à s 2 da ta rde - v o c ê e s tac i on a.

gostaria, en tão voc ê está c ompeti n d o co nt ra v o cê

Al m a s co m o m e s mo pe ns ame nto j á e s t ão reu n i das

mesmo, ou para fa zer a sua melh or vo lta, o u v o cê

al i co n f o r m e v o c ê e s tac i o na s e u c a r ro, s orri n d o.

está c ompetin d o para se sair melh or q ue sua últ ima

“ Es t e é m e u p o v o” , v oc ê pe ns a , ob s e r va n d o rostos

c orrida, ou voc ê está c ompetin d o para alcançar

fa m i l i a re s fa zen do s ua s roti na s a nte s da c orri da. O s

o c ara da sua f ren te, ou apen as para ficar lo ng e

pa i s, o s f i l h o s e o s ami gos . Es ta c o mu ni dade - para

d o c ara qu e está atrás de voc ê”. Parece q ue não

v o cê , é c o m o u ma s e g u n da fa mí l i a .

impor ta on de voc ê está n aqu el es precio so s 60 min u tos de c orri da, é u ma verdadeira briga.

Vo cê de s l i ga o c ar ro e a s s o pra ar qu e nt e em suas mã o s . É h o ra de i r. Vo c ê s a i do c ar ro .

É in vern o. Em u ma estaç ão de b oas s o pas, o cro ss é c omo aqu el e en sopad o qu e ren ova a alma -

Ex i s t e um a c e r ta b e l eza c r ua nas l i ga s de cyc loc ross,

famil iar, sab oroso e imen samen te satisfat ó r io . A

co m o a Li ga Lo n d on X . E l a s i nc or pora m o espírito

c ada seman a, voc ê se pega al in han d o-se Na linha

da c o m un i da de cyc l o c ro s s e m t oda s ua gl ória -

de par tida, b ri n c an d o c om as pessoa s co m q uem ir á

ap o i a d o ra , c o m pe t i ti va, e , ac i ma de tu do, d i ver tida.

b rigar d uran te a próxima h ora - tal vez mais, talvez

Ex i s t e m o s c l u b e s, qu e a c ada fi na l de s eman a,

men os. Voc ê vai pedal ar, e vai pedalar para valer.

reveza m p a ra orga niza r a c o r r i da , c om v o l u n tári os

Voc ê vai pedal ar até qu e seu s pulmões se cansem

co l o c a n d o a s b ar re i ras e de s e nro l an d o a f ita da

e sua fac e se c on torç a c om o esf orç o. Vo cê vai

co r r i da . Ex i s t e m os c i c l i s ta s, q u e tra ze m c om eles

c ompeti r c on tra qualqu er u m qu e esteja ao seu lado ,

o de s e j o de s u pe rare m ta nto a e l e s me s m os c omo

atrás ou n a sua f ren te, e l u tará pel a vit ó r ia. E q uan do

se u s o p o n e n t es . E e xi s t e m ta mb é m as famí li as e

alc an ç ar a li n ha de c h egada, voc ê debr uçará so bre

am i g o s q ue , s emana a pó s s e ma na c h e ga m repletos

o guid ão, respiran d o f or te e su gan d o o oxig ênio em

de e n t u s i a s m o para mo ti var os c i c l i s ta s, os de 10 e

f or tes puxadas. An tes de ir para c asa , v o cê t ro car á

o s de m a i s de 50 a nos de i da de .

h i stóri as de gu erra, rec l amará d o f ri o, limpará seu equi pamen to e guardará suas c oi sas.

J un t o s, e l e s fa ze m o c ro s s ac ont e c e r. E n a seman a qu e vem? Quan d o el a c h egar, voc ê voltará por seg un do s.

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“ À S V EZ ES EU ESTO U C O M PE T IN D O APE N AS CO M AS PESS OAS AO MEU LADO, E NÃO PARA ESTAR

N O S TO P 1 0. [ … ] SE M PRE T E M ALGUÉ M PARA VO C Ê CO M PE T IR , O QUE É MUI TO LEG AL .” — Ru dy M e l o , 5t h Floor

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LO S A NG ELES , C A L I F Ó RN I A U C I CX LA

Vo c ê o s e n co n t ra r á nos parqu e s da c i da de d uran te

“N O CR O SS, VO C Ê N ÃO T E M C O MO ESTAR NO MEIO DO NADA ,

a s e m a n a l o g o a pó s o pôr-do-s ol , pra t i c an d o sua s m a n o bra s na g ra ma mac i a . U m, d oi s, três,

S O ZIN HO C O M SEUS PE NS AM E N TOS . É COMO S E FOS S E UM

step, u m d o i s, tr ê s, s t e p. N e s ta da nç a - a dan ç a do c ro s s - o e n s ai o é i mpo r ta nte . D e s mo n tagen s

SHOW D E HEAVY M E TAL , N A FO R MA DE UMA CORRIDA DE

step - back s re p e t i da s s e gui da s de e xe rc í ci os da de s m o n ta g e m s te p-t h ro u g h . O fi na l de s eman a está

B IKE .” —Cody K aiser

che ga n d o e e l es não de i xam de prati c ar. Desc em da bi ke e a j o gam para c i ma c o m mae s t r i a. Exi stem os i n i ci a n t e s, n o v o s no s mov i me nt os, al é m d os vet e ra n o s t ra bal ha n do para me l h ora r o tempo da da n ç a . E e n t ã o e xi s te m o s Lorde s .

É c l a ro q ue C o dy K a i s e r nã o s e pro c l amaria

Cyc loc ross é rápid o, c ur to e d iver ti d o . E q uant o

Lo rde de n a da , mas nã o h á c omo ne ga r q u e

mais voc ê pedal a, mai s desen vol ve as habilidades

dura n t e o c a m pe o na t o nac i o na l de Cyc l oc ross

para ter su c esso. A dan ç a e sua c ore o g rafia se

em 20 14 , o s f ã s o v i ram s e r Lo rde de u ma

torn am au tomáti c as c on f or me voc ê apren de a

ha bi l i da de e sp ec i a l - pe da l a r e sc a da ac i m a. O

pedal ar sob re arei a ou lama sem pestanejar. Co m o

v íde o q u e m o s t ra-o fa ze n d o u ma c ur va fec hada

tempo, a mon tagem e desmon tagem da bike se t o rna

e pul a n d o a s e sc ada s c o mo u m c o e l ho de f or ma

f ác il , e vagarosamen te tod os aqu el es mo ment o s q ue

inc r í ve l f u n d i u c é re b ro s e de r re t e u a I nt e rn et por

lh e ameaç avam c omeç am a d i min ui r. E , q uem sabe

um m i n u t o . Ma s não s e e nga ne - pa ra fa zer isso

u m d ia, voc ê fará algo tão i n c rível em uma co rrida

Cody t re i n o u o mo v i me nt o i nú me ras veze s, da

qu e haverá u ma expec tativa qu e voc ê o faça t o das

m e s m a f o r m a q u e aqu e l e s c i c l i s ta s fa ze m em seu s

as vezes. C omo Cody K aiser n aqu elas escadas. S em

pa rq u e s l o c a i s . Pa ra d omi na r a da nç a, v oc ê prec i sa

Pressão, mas...

sabe r o s p a s s os .

“É t ud o q u e s t ã o de r i tmo e ve l oc i da de ” , ele d isse,

“As pessoas esperam qu e eu pedal e to das as

de scre ve n d o c omo nã o ac ab ar c ai n d o. “ Naqu el e.

esc adas e pule todas as b arreiras, e s e haverá uma

dia, t ud o s e e n c ai xo u . fo i s u pe r r í tmi c o, e o ritmo

desmon tagem, el es esperam qu e eu fiq ue na bike.”

da co r r i da ta m b é m e s tava c e r to. [ … ] “ Vo c ê tem qu e es ta r n o r i t m o , e s e pe rde r o fo c o por u ma f raç ão

O f i n al de seman a está c h egan d o. Vejo v o cê na pista

de s e g un d o , va i tro pe ç a r no pr ó xi mo pas so.”

de dan ç a.

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“EU S EMPRE B RI N C O ‘ S I M , C O RRE M OS PO R 4 5 M IN UTO S E D E PO IS PASS AM O S QUATRO H ORAS

LI MPA N D O TO DA N O S S A SUJ E I RA . ’ ”

—C in dy Le well en , equipe Pol er CX

‘ C R O S S C RU S A D E # 1 | P O RT LAN D, O RE G O N

e se d i ver tin d o mui to. A c o isa t o da é uma g ran de aposta, e qualqu er u m pode ar rancar a der ro ta da

“Pe dal e !”

man d í b ula da vi tóri a. M as é bem claro para t o do mu n d o qu e tod os estão se diver t in do demais em suas

O i ns ul to ac l amad o d o b an d o preen c h e suas orel has

b i kes, c omo n u n c a an tes.

co n for me v o c ê s e aproxi ma de u ma gran de su b i da. Es t e mor ro te m u ma gra n de prob ab il idade de dar

“Tod os n ós c orremos n a cat eg o ria de marcha única” ,

e r ra do - e é por i s s o qu e o pe lotão está reu n id o

d i sse Ryan Barret da equipe Po ler CX, ao falar so bre o

a q ui . S e m pre s s ão. Vo c ê a po n ta sua b ike para b aixo

c en ário de Por tlan d , “e n ã o exist em muitas reg ras aq ui

e f i r ma s uas pe r nas para t e nta r f ic ar sen tad o n a

para a c lasse de vel oc idade única. Ent ão v o cê

bi ke . M a s s e a l ama re s o l ve r pregar u ma peç a,

en c on trará u ma mistura de pesso as q ue são ciclistas

vo cê c a i r á , de sc e n d o de “ e sq uib u n da” até o f in al

ded ic ad os e pessoas qu e est ão no fun do t o man do

da c ol i na . O pe l o tão s aú da a l egremen te sua falta

c er veja, pessoas pulan d o, e v o cê v ê muit o s so rriso s e

de s o r te . Ri n do de s ua pr ópr i a ri d i c ularidade,

u ma óti ma en ergia.”

vo cê s o b e na b i ke novame nte e c on ti n ua. Esta é a a b e r tura de te mpo ra da da C ross Cr u sade de

O s Puri stas podem até d izer : “ Tudo bem, mas não

Po r tl an d , e as c on d i ç õe s s ã o h orrí vei s e per f ei tas ao

é a B élgic a (apesar de que as co n diçõ es aq ui

m e s mo te mpo .

muitas vezes dei xam u ma bo a impressão ) mas n in gu ém c ompetin d o aqui diria q ue é. O Cyclo cro ss no

U m a c o r r i da de cyc l o c ro s s é como u m pen tead o

Noroeste d o Pac í f i c o tem o seu pró pr io est ilo , assim

Mul le t - s é r i o na fre nte , fe s te i ro atrás. N a

c omo n a C osta Leste, ass im co mo na Aust rália, no

e xt re mi da de pont u da do c ampo, os c ic li stas

Rein o Un i d o ou ... em qualq uer lugar. Cro ss? Cro ss é

p e da l a m for te e s ae m e m d i sp arada,en quan to n o

on de voc ê o f izer.

f un do, o s c i c l i s ta s e s tão te s ta n d o seu s l imi tes

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F Á BRI CA DO S S O N HOS Q ua n do pe da l a mo s monta nha s, n ós son hamos.

WO LF : “O mai s impor tan t e é o co nt ro le. Co nt ro le

S o n ha mo s e m ras ga r a s t r i l ha s c om prec isão,

n ão sign if ic a qu e voc ê po de simplesment e o rdenar

e n cara r a s c ur vas e f l ui r s o b re in f in i tas fai xas de

al gu ma c oisa e sempre será feit o do seu jeit o -

a re i a c om u m c o nt ro l e s u pre mo. A palavra-c have

ai n da h á u ma d isc u ssão - mas pelo meno s estamo s

a q ui é “ c ont ro l e ” . Para o s c i c l istas, a hab i li dade fa z

d isc u ti n d o c om a f áb ri c a no va. S e levamo s uma

p a r t e do c ont ro l e , e é c l aro , a b i ke tamb ém fa z. No

i dei a, el es têm qu e d isc u ti-la co no sco , po rq ue

e n ta nt o, o s pne u s - o s s onhos são f eitos deles. E

somos seu ú n i c o c l ien te. É exclusiv o . Dessa fo r ma

n ã o de ve s e r ne nhu ma s ur pre sa qu e assegurar

podemos c on trol ar o qu e aco nt ece na fábrica e no s

q u e e s s e s pne u s re a l ize m o s seu s son h os é algo

assegurar de qu e estamos alinhado s.

i m p o r ta nte pa ra nó s . N a ve rda de, é o fator prin c ipal p e l o qua l e nc e r ra mo s no s s a parc eri a c om n ossa

’74 : Qu ão en vol vi d os estávamo s na t ro ca para pneus

a n t i ga prod u t ora de pne u s pa ra i n vestir em n ossa

de b i c i c l eta? Como a f áb r ica em si mudo u?

pr ó pr i a fáb r i c a no Vi e t nã . C omo n ossa prod u tora a n t i ga fo r ne c i a para v ár i as marc as de pn eu s - e n ão

M IKE : “Pu demos n os en volver co m q ual

g o s tava mui t o de te nta r c o i s as n ovas - n osso son h o

equipamen to c omprar, c o m o layo ut do

de e s ta r ma i s pre s e nt e na prod u ç ão de pn eu s de

estab el ec i men to, e pen san do a lo ng o pra zo ,

m o u nta i n-b i ke s e tor no u u ma reali dade. N ós

qu eremos dei xar espaç o para expan dir um po uco . Já

s e n ta mo s c om d oi s me mb ros da equipe de pn eu s -

estamos ven d o qu e farem o s isso depo is do pr imeiro

Wo l f Vor mWa l de e M i ke Tay l or - para falar sob re

an o de prod u ç ão.”

c o m o Es s a nova fá b r i c a ac o nt ec eu . WO LF : An tes era apen as uma sala va z ia - eu acho qu e era u m ar ma zém. Agora exist e alg o em t o r no ’ 74 : no s s o parc e i ro J a po nê s ti n ha u ma f áb ric a

de 180 ou 120 trab alhad ores em t r ês t urno s,

n o Vi e t nã q u e c ui dava da pro d u ç ão de pn eu s de

trab alhan d o sete d i as por semana. É uma lo ucura.

l a m b re ta s pa ra gra n de s e mpresas de motoc ic letas.

C omeç ou de f or ma b em peq uena e devagar, mas

Q ua l a va nta g e m j á q u e e l e s n ão tem n en h u ma ou tra

agora quan d o voc ê en tra lá é do t ipo ... uau! [… ]

m a rc a de pne u s de b i c i c l e ta e m sua f áb ri c a?

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’74 : A prod u ç ão t o tal co meço u dia 1 de fevereiro de 20 1 6, mas esse pro cesso co meço u há do is ano s at r ás. D emorou mui to p ara o primeiro pneu sair da linha de prod u ç ão?

WO LF : N ós demo s a eles do is pneus inicialment e u m de estrada e um de mo ntanha - para representar b asic amen te toda a faixa de pneus q ue q uer íamo s prod uzi r al i. N ão mudamo s nada no s pneus, para qu e pu d éssemos apenas fa zer est es pneus q ue já prod uzí amos em o ut ras fábr icas e inco r po r á-lo s nas ven das. […]

M IKE : Si m, n ós levamo s o Espo ir [est rada] e o Purgator y [mo ntanha], e event ualment e levamo s toda n ossa l in ha de mo ntanha, do Renegade at é o Hil lb il ly. Lan ç am o s o Renegade, Fast Trak e o Gro un d C on trol an o pass ado para o mo delo dest e ano , e ent ão em Jul h o l an ç aremo s o But cher, S laug ht er e H illbilly, o qu e seria a segun da metade do s pneus de mo ntanha.

WO LF : En tão ago ra t emo s t o da no ssa linha de pn eu s de montanha sain do dessa no va fábr ica. Isso sign if ic a que t o do s o s pneus no v o s t êm o C omposto G ri pto n. Isso significa q ue as fó r mulas são n ossas - são todas diferent es, mas são t o das no ssas e a f áb ric a está mist uran do -as de aco rdo co m no ssas rec eitas. N ós c omeçamo s co m padr õ es de co nst r ução qu e possu í amos. Mas ag o ra estamo s desenv o lven do pad rões n ovos [...] Acho q ue já apresentamo s 40 pn eu s n ovos/d i f erent es at é ag o ra. Quarenta espec if ic aç ões diferent es em seis meses, isso é l ou c ura. […] Em seu estado final, a fábrica ser á capa z de prod uzir u m milhão de pneus po r ano . At ualment e, el es estão quase alcançan do 5 00,000 pneus.

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C A M P O UT W I TH YOUR LA MP OUT

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N asc er e Pôr d o Sol - estes são o s do is marco s do s no sso s d ias. E mesmo assi m, preso s no meio do s pra zo s e reuniõ es, n ós raramen te damos a eles mais do q ue um mero relance. M as n ão c om o pessoal d o Camp Out Wit h Yo ur Lamp Out ( COWY LO ). Estas al mas avent ureiras só q uerem pagar o dev ido tri b u to ao sol. Em u ma n o it e durant e a semana, eles carregam Suas b i kes e sob em u ma m o ntanha, fa zen do uma única “ pausa para c er veja” para c ompar t ilhar um po uco de espuma e assist ir o sol se pôr an tes de c on tinuar para o acampament o . Apó s uma n oite sob as estrel as, alguns se levantarão silencio sament e para ver o mesmo sol romper co m a escuridão e co meçar um no v o d ia. Carregan d o seu s equipament o s, eles descem 900 met ro s, c ada u m em seu próprio rit mo , para co meçar um no v o dia de trab alh o n asc i d os de n ovo . É uma restauração da alma.

M as o Camp O u t Wi th your L ig ht Out - uma pereg r inação para o topo d o Hen r y C oe d urant e a semana (g eralment e na seg un da f eira) para ac ampar c om os co legas de t rabalho - é muit o mai s d o qu e a c han c e de par t icipar de um ser mão do so l. Para aqu el es qu e en f ren tam a jo rnada de q uase 25 q uilô met ro s desde o Q G da Spec ial ized at é um acampament o nas n u ven s, é u ma qu estão de explo rar o paraíso no pr ó pr io q uintal de c asa e se c on ec tar c om o mun do t ranq uilo q ue se eleva ac ima de u m val e tu mul tuado . É q uest ão de se co nectar co m seu s c olegas de f or ma ma is pesso al, sem emails, planilhas e l in has d o tempo de produt o s. É so bre a camaradag em de pedalar ju n tos; de ar mar uma bar raca debaixo das est relas, de c on tar h i stóri as n a escur idão . Aq ui, as amizades são sac ramen tadas, e em al guns caso s, é aq ui q ue elas nascem. As i dei as tomam f or ma - b ri ncadeiras de Pr imeiro de Abr il, g ran des aven turas e até mesmo in o vaçõ es gast ro nô micas, co mo o SmO reo ( u ma b ol ac ha O reo em um palit o , aq uecida no fo g o ) - e os espíritos são ac esos n ovament e. É o ing redient e secret o do Camp O u t. .

“ EU S E M PRE A PRECIO A ‘IN CO N VE N IÊ N C IA’ D E QUE B RAR A M IN HA S EMANA QUANDO ESTOU L Á.

N U N C A VO U M E AR RE PE N D E R D E ESTAR D E I TAD O N A T E R RA C OM MEUS AMIGOS AS S IST INDO

U M A G RA N D E C HUVA D E M E T EO R O S.” —Joh n Kraf t, HR , Spec i alize d

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“Dor mir lá f ora é sempre, sempre um bô nus” , disse Rita Jet t , Plan ejad ora de D eman da da S pecialized, e membra assídua do C OWY LO . “[…] E é n o top o da co lina o n de o nascer e o pô r do sol são... São si mplesment e mág ico s.”

“Toda vez qu e eu passo na H ig hway 101 pela manhã e est o u a apen as 3 mi n u tos d o trabalho ” , disse Er ik No hlin, Designer In d u stri al e u m d os f u n dado res do COWYLO, “ Eu vejo aq uela f il eira de c arros e todas a s vezes eu dig o : ‘ Me sint o co mo um ven c ed or h oje.’ […] Ch egar no t rabalho , t o mar um banho , co mer sua aveia e aqu el e sorri so no ro st o - v o cê fica radiant e po rq ue c omeç ou to d i a da mel h or maneira po ssível, é a par t e mág ica da c oi sa.”

D ezesseis pessoas - este é o reco rde de par t icipação at é agora. D ezesseis ac ampa nt es q ue t ro caram suas camas e televisões para se c on ectarem co m a nat ureza. E co m d oi s an os de idade, o C OW YLO t o mo u pro po r çõ es Fo ra da Spec i alized , in spi ran d o out ro s a t entarem sua pró pr ia ver são de u ma aven tura d uran te a semana. “ Eu já t inha o uv ido falar at é mesmo an tes de c omeç ar a t rabalhar aq ui” , disse James Nixo n, Rel aç ões Pú b l ic as para a S pecialized. “ Eu t inha um amig o en gen h ei ro, [...] e ele c ost umava dizer, ‘ S im, nó s acampamo s d uran te a seman a’, o qu e era lo ucura para mim. Eu cresci ac ampan d o, mas a i dei a de acampar no meio da semana era do tipo... C omo assim? Era quase alg o míst ico .”

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“ Es t á s e t o r n a n do u ma i ns ti tui ç ão - v o c ê tem qu e gostar d isso”, dis s e Er i k . “E é a l g o qu e de ve mo s e nc ora jar muitas pessoas a fa ze r. Is s o m os tra à s pe s s oas qu ã o fá c il é, e qu e n ão é nec e s s á r i o p l a ne jar por tr ê s s e mana s . ”

“ É a p e n a s um a no i te e é u m pe da l c ur to” , c on ti n u ou R i ta, “ En t ã o s e vo c ê qui s e r l e var s e u v i o l ão, nós n ão estamos in d o mui t o l o n g e - vo c ê po de tra ze r o qu e qui ser c om voc ê. Se voc ê qui s e r l e va r uma fr i g i de i ra e fa ze r al gu ns ovos de man h ã, voc ê po de . ”

E n ã o é be n é f i c o ape nas para o s c i c l i s ta s . A Spec ial ized c olh e os re s ul ta d o s do C OWY LO , ta mb é m. “ Eu d i ri a qu e tem o mesmo efei t o n a m i n ha s e mana qu e o pe da l de a lmoç o tem n o meu d ia”, dis s e Er i k . “C o m o pe da l de al moç o, v oc ê pedal a pra val er e qua n d o vo l ta , v o c ê e s tá e ne rgiza do - v o c ê rec eb eu sua d ose de so l , de a r f re sc o e c o ns e gu e s e r pro d u t i v o n a segu n da metade do d i a . Eu f i co da me s ma for ma a o ac ampar n o c omeç o da se m a n a . ”

A s e m a n a p o de pare c e r re pl e ta de e s t re s se, reu n i ões e pra zos, ma s p a ra a l g un s, c a da di a te m o pote nc i al de ser espec i al. D e lib e rda de . D e pa z e t ra nqui l i da de . E e nt ão o sol n asc e e se põe em um e s ta d o de pac i ê nc i a e e spe ranç a , pisc an d o de f or ma se d u t o ra n o va l e a b a i xo. “ Ve nha e j u nte-se a mi m”, d iz el e. “Eu se m pre e s ta re i aqui para v oc ê . ” Voc ê va i aten der ao c hamad o?

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VA M O S P E D A L A R


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