Ponto Final 22

Page 2

pontofinal

2

Sábado, 20 de novembro de 2010

Uma nova cidade está nascendo Clóvis Pinto de Castro * “Fortes razões, fazem fortes ações.” (William Shakespeare)

Mídia e crítica social Paulo Roberto Botão * O Ponto Final é síntese, mas também ponto de partida. Reúne, sob a forma de reportagens, parte das reflexões que os estudantes de Jornalismo da Unimep realizam no último ano de seu curso de graduação. Seu conteúdo funciona como espécie de crítica de mídia, pois se volta à análise de faces do jornalismo contemporâneo, de elementos que constituem a experiência de produzir informação na atualidade, em ambiente marcado pelas novas tecnologias e crescimento acelerado do alcance das novas redes sociais. Três das sete reportagens desta edição tratam diretamente de fenômenos ligados ao avanço das tecnologias digitais e da comunicação em rede. Investigam os efeitos de ferramentas novas como o Twitter e o YouTube, e questionam o modelo de jornalismo on-line mantido ainda com base na estrutura de portais midiáticos. Outras três discutem especializações da área. Abordam os diferenciais do jornalismo esportivo, do cultural e as peculiaridades da atividade do correspondente internacional. Nos três casos se tangencia, é claro, a questão da tecnologia. O foco do sétimo trabalho é justamente a reportagem em si, o repórter, sua natureza e suas riquezas, tão bem exploradas no programa Profissão Repórter, objeto de estudo dos candidatos a jornalistas. A experiência de produzir este jornal é rica em muitas dimensões, mas a principal reside justamente no seu caráter crítico, na possibilidade que abre aos estudantes de dialogarem com jornalistas profissionais em pleno exercício de sua atividade, de um lado, e pesquisadores, críticos e intelectuais de outro. Os resultados, nos últimos anos – e já estamos na 22ª edição – têm se mostrado positivos, pois o exercício da crítica é importante motor de transformações e será decisivo para a própria sobrevivência da imprensa em um mundo cada vez menos dependente da intermediação informativa. A imprensa e o jornalismo só têm a ganhar quando se abrem à crítica, ao diálogo com a sociedade, com o seu público, com os especialistas e pensadores da comunicação e com a universidade. Pensar criticamente o jornalismo e a sua interferência no processo de construção da opinião pública é um dos papéis essenciais da universidade. E este é um dos objetivos deste Ponto Final, que representa também ponto de partida na carreira de novos profissionais que concluem sua formação através de suas páginas. * Paulo Roberto Botão é graduado em Jornalismo, mestre em Comunicação Social e coordenador do Curso de Jornalismo da Unimep EXPEDIENTE Ponto Final: Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) - Reitor: Clóvis Pinto de Castro - Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães de Costa - Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão - Orientador e Editor Responsável: Paulo Roberto Botão (MTB 19.585) - Repórteres: Amanda Dantas Silva, Camila Viscardi, Carla Bovolini, Clayton Padovan, Daniane Gambaroto, Kaleo Alves, Luan Antunes, Luiza Mendo e Patrícia Elias da Silva - Produção Gráfica e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) - Ilustrações: Estela Menegalli (Página 10) e Thiago Felipe Cezarino (Página 8), alunos do 2º semestre do Curso de Design da Unimep, sob orientação do prof. Renato Fabregat - Correspondência: Faculdade de Comunicação - Campus Taquaral Rodovia do Açúcar, Km 156 - Caixa Postal 68 - Telefone: (19) 3124-1676 e-mail: prbotao@unimep.br - Impressão: Jornal de Piracicaba.

As universidades privadas do mundo inteiro estão cada dia mais conscientes da necessidade de maior articulação com o seu entorno. Elas precisam ser relevantes para a sociedade na qual estão inseridas. Como instituições de estudos, e não simplesmente de ensino, elas precisam interagir com os espaços que a circundam. Exige-se uma relação de pertença, pois devem ser instituições públicas. Nessa direção, a UNIMEP, ao longo dos anos, tem buscado fortalecer sua dimensão pública. Ela já possui um forte vínculo com as cidades onde estão seus diversos campi. Entretanto, com o lançamento do Park UNIMEP Taquaral, o primeiro Masterplan de Piracicaba e região, além de captar recursos para investir em infra-estrutura para a qualificação de seus cursos, ela poderá fortalecer sua dimensão pública. O Masterplan é um novo conceito de intervenção urbana, onde diferentes espaços se complementam: Condôminos horizontais e verticais, Hotel, Shopping Center, Centro de Convenções, Centro Empresarial, Instituições de Ensino etc. É um empreendimento que colabora de forma decisiva com o desenvolvimento econômico da cidade e potencializa o crescimento da UNIMEP, além de agregar valores ao nosso foco de atuação que é a educação com qualidade. Com a concretização do Masterplan, a UNIMEP terá, num futuro próximo, maior interação com milhares de pessoas da cidade de Piracicaba e de outras cidades dessa região. Teremos essas pessoas trabalhando ou morando próximas ao campus. Elas poderão ingressar em cursos de graduação, de pós-graduação ou de formação profissional específica da UNIMEP ou colocar seus filhos e filhas na nova Unidade do Colégio Piracicabano. Participarão também de inúmeras atividades culturais, freqüentarão o Teatro UNIMEP e poderão interagir com todos os espaços institucionais, muitos dos quais

precisarão se reinventar para atender as novas demandas. Haverá um aumento significativo de oportunidades de estágios, de prestação de serviços e de empregabilidade. Como afirma Michael de Certeau: espaço é o lugar praticado. Transformaremos os novos lugares em espaços de vida, espaços culturais, espaços educativos. Queremos construir juntos com o poder público e a sociedade civil uma cidade educadora. Cidade “que converte o seu espaço urbano em uma escola. Imagine uma escola sem paredes e sem teto. Nesse espaço, todos os lugares são salas de aula: rua, parque, praça, praia, rio, favela, shopping e também as escolas e as universidades. Há espaços para a educação formal, em que se aplicam conhecimentos sistematizados, e a informal, em que cabe todo tipo de conhecimento. Ela integra esses tipos de educação, ensinando todos os cidadãos, do bebê ao avô, por toda a vida”.1 Milton Santos, o mais famoso geógrafo brasileiro, costumava dizer que os educadores têm como desafio levar “tarefas” para as novas gerações, A construção do Shopping Park Taquaral e do Park UNIMEP Taquaral, que se junta a outros grandes investimentos – em andamento ou em fase de estudos – tais como: Hospital Regional de Piracicaba, duplicação da Estrada do Rio das Pedras, a ampliação do Anel Viário, a “prometida” duplicação da Rodovia do Açúcar e a projeção de vários condomínios nessa região são fatores determinantes para redesenhar a cidade de Piracicaba levando a região do Taquaral e de seus bairros vizinhos a se circunscrever em novo pólo de negócios e serviços. Uma nova cidade está nascendo! E, com isso, as novas gerações terão novas “tarefas”.

“Queremos construir juntos com o poder público e a sociedade civil uma cidade educadora”

1

Alicia Cabezudo, educadora argentina, em entrevista ao caderno Sinapse do Folha On-line, no dia 25/05/2004, “A cidade que educa”.

* Graduado em Teologia e Pedagogia, mestre em Educação e doutor em Ciências da Religião, Clóvis Pinto de Castro é reitor da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e diretor geral do IEP (Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista)

Em Atacama, a Lua é Menos Visível Belarmino Cesar Guimarães da Costa * É surpreendente a história dos mineiros chilenos que ficaram soterrados na mina de San José, em Atacama, de onde, quando houve os resgates, o mundo todo ficou à espreita para observar os seres telúricos que brotavam do centro da Terra, como a imaginar ficções científicas de Júlio Verne, num tempo em que não existiam satélites, transmissão em tempo real e um mundo integrado sistemicamente pelas comunicações digitais. O resgate dos trabalhadores mineiros no Atacama, que envolveu tecnologia aeroespacial e visibilidade própria da sociedade do espetáculo, foi visto por mais de um bilhão de pessoas, uma enormidade inclusive se comparada com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969. A cobertura jornalística deste evento épico assinala contradições contemporâneas em diferentes angulações, uma delas é o contraste existente entre a positivação da ciência e da tecnologia no capitalismo, que cria condições de superação dos limites da condição humana, em termos de extensão sensorial e da inteligência. Contudo, também aponta para a existência de situações-limite de barbarização das condições do trabalho humano, tal como se passou a conhecer com os mineiros chilenos, cujos destinos estavam presos numa mina sem visibilidade do mundo exterior. A cobertura jornalística com relação aos mineiros de Atacama provoca reflexões sobre o potencial da informação: o de tornar consciente o estado de prisão no qual os trabalhadores se encontravam e, com isso, presta-se a uma pressão de mudança na logística da condição de extração de minérios. Mas, em outra perspectiva, de atrair a curiosidade da audiência para, num evento igualmente inusitado, deixar que o fato caia no esquecimento. É tênue a passagem do jornalismo permeado pelo juízo ético e estético, com a capacidade de informar para mobilizar e ser um vetor de

tomada de consciência e pressão social, para outra dimensão, em sentido contrário, associada à administração dos fatos como entretenimento e espetáculo. Seria inimaginável que a cobertura sobre os mineiros presos e toda movimentação que envolveu o resgate, do ponto de vista do interesse público, fosse desconsiderada pelas coberturas jornalísticas em todo o mundo. Ou seja, pelos critérios de noticiabilidade, é um fato que tem todos os componentes para gerar atenção, especialmente pelo drama e pelo componente de tensão humana. Contudo, a indústria da cultura rapidamente se utilizou deste evento para criar games e outros produtos associados à imagem dos mineiros e à situação de resgate, incluindo a capitalização política feita pelo governo chileno. A mediação tecnológica e o papel do jornalismo têm sido estratégico para a afirmação de sociedades democráticas e de extensão da visibilidade sobre culturas, lugares e representação do mundo. A ida do homem à Lua e o resgate dos mineiros nas entranhas da Terra, como metáfora, simbolizam a extensão do olhar jornalístico sobre as macroestruturas e a narrativa do cotidiano de toda pessoa que, numa circunstância, passe a ser referência para a construção da notícia. A saga dos mineiros de Atacama é uma história fascinante em termos de tomada de consciência a respeito da condição do jornalismo nos tempos de mundialização da cultura e da necessidade de humanizar as narrativas. Na cápsula Fênix, que içou cada um dos mineiros, havia mais do que relato jornalístico: era possível extrair interpretações sobre os limites éticos e estéticos, enfim, um momento diferenciado para observar os componentes humanos, a forma de construção da notícia e o interesse da ambivalente da audiência na busca de espetáculo e de algo pungente à experiência. * Doutor em Educação e graduado em Jornalismo, é diretor da Faculdade de Comunicação da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba)


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.