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pontofinal Projeto Experimental dos alunos do 8º semestre de Jornalismo da Unimep

Sábado, 20 de novembro de 2010

Mayara Cristofoletti

Jornalismo de qualidade estimula conhecimento Ao realçar a cultura, jornalismo estimula leitura e agrega conhecimento

O jornalismo cultural constitui hoje ferramenta importante na imensa tarefa dos meios de comunicação impressos de atrair a atenção dos jovens. Para conseguir este feito, entretanto, precisa superar a chamada cobertura de agenda. É necessário oferecer mais análise, interpretação e contextualização do que informação. Além disto,

especialistas apostam na elaboração de textos de qualidade, que permitam estimular o prazer da leitura, aliados ao visual moderno e identificado com as mídias digitais. Mais importante que tudo isto, entretanto, é manter uma visão ampla de cultura, que inclui política, economia, tecnologia e comportamento. Página 7

Telejornalismo ganha as telas do computador Há poucos anos, não era possível imaginar ser possível assistir ao jornal da noite durante a manhã, e àquela série de reportagens que passa na hora do almoço pela madrugada. Pois bem, isso se tornou possível com o surgimento e a expansão da internet, e acontece cada vez mais e com mais gente. Na rede se consolidou o maior site de vídeos já criado, o YouTube, que vem revolucionando a maneira

como hoje é vista a ‘velha’ televisão e transformando o conceito até então estabelecido de programação. Os reflexos já são evidentes no campo do jornalismo, pois atualmente é possível encontrar uma quantidade surpreendente de vídeos de telejornais de várias emissoras, que podem ser acessados 24 horas por dia, gratuitamente. Uma busca rápida revela centenas de canais de vídeos jornalísticos. Página 6

O trabalho do jornalista esportivo envolve a paixão e o lazer de todos. Esta frase, tão comum no meio esportivo, retrata o dia-a-dia da profissão. Finais de semana repletos de trabalho são comuns na área, principalmente no país do futebol. E os desafios não param ai. Como lidar com a paixão sem dar opinião? Muitos profissionais divergem sobre a resposta a essa pergunta, que aborda um dos maiores dilemas neste campo. A rotina no segmento esportivo não se limita as quatro linhas de campos e quadras. O trabalho pode se estender para áreas como política e, em alguns casos, por incrível que possa parecer, polícia. Crimes e escândalos nos bastidores fazem parte do cardápio e podem representar verdadeiros golaços quando devidamente desvendados e transformados em notícia. Página 5

uma nova cidade está nascendo. Página 2 Em Atacama, a Lua É Menos Visível. Página 2 MediaOn avalia futuro do webjornalismo. Página 11

Patrícia Elias

Mais que bate papo, Twitter se torna meio de informação Escrever diretamente para o presidente dos Estados Unidos, interagir com um ator, jornalista famoso ou mesmo um amigo sem sair da frente do computador. Tudo isso se tornou realidade com o surgimento do Twitter, ferramenta que permite a troca de informações de forma rápida e instantânea. O limite de 140 caracteres para as mensagens de texto é a principal característica, e as mensagens curtas fazem com que os

Acesso via celular impulsiona uso do Twitter entre os jovens

A reportagem constitui a essência do jornalismo, e a figura do repórter é o seu símbolo máximo. A tarefa de conhecer a realidade e contá-la em boas histórias, que ajudem as pessoas a compreenderem o seu tempo é, sem dúvida, a mais nobre no campo da imprensa. Este trabalho, muitas vezes idealizado pela sociedade, define o perfil dos seus profissionais há mais de duzentos anos. Apesar de tão importante para a sociedade, a figura do repórter muitas vezes não é corretamente interpretada, pois a própria imprensa em muitos momentos faz questão de manter este mistério em torno da atividade. Neste contexto, se destaca o papel desem-

No Brasil, esporte atrai atenção do público e mobiliza mídia

Correspondentes garantem ‘olhar brasileiro’ sobre o mundo Informar sobre o que acontece fora do país, com o “olhar brasileiro”, é o desafio dos correspondentes internacionais do país. São jornalistas que permanecem muitas vezes durante longos períodos em outros países, ou que em outras situações são enviados para estes locais em momentos de emergência, na maioria dos casos tragédias ou crises políticas. O custo para manter um jornalista fora do país é alto, e isto leva muitas empresas jornalísticas a optarem pelo uso de informações de agências internacionais de notícia. O procedimento, na opinião de boa parte dos especialistas da área não garante a mesma qualidade na análise e interpretação dos fatos. Apesar dos custos e das dificuldades neste tipo de trabalho, o Brasil possui correspondentes com experiências significativas. É o caso de Flávio Fachel, Carlos Dorneles e José Hamilton Ribeiro que contam algumas de suas ‘aventuras’ em coberturas que entraram para história, Luiza Mendo

Karla Camargo

‘Profissão’ revela bastidores e desmistifica figura do repórter

usuários abusem da criatividade. O fato de permitir postagens via celular confere maior poder de comunicação à ferramenta, principalmente entre os jovens, que se mantém conectados o tempo todo. Nas empresas jornalísticas e entre os profissionais da área também já virou instrumento. É usado na prospecção de pautas, levantamento de informações junto às fontes e para a divulgação de notícias. Página 4

Kaleo Alves

A rotina de quem trabalha com a paixão popular

O jornalista Caco Barcellos lidera jovens repórteres na busca pela informação

penhado pelo programa Profissão Repórter, exibido pela Rede Globo de televisão, que mostra os “bastidores da notícia”. Página 9

Redação do Grupo Bandeirantes: espaços de trabalho também estão cada vez mais interligados

Arquivo pessoal

O jornalista Carlos Dorneles durante a guerra do Iraque em 1991

como a Guerra do Iraque, coberta por Dorneles e do Vietnã, onde o enviado José Hamilton Ribeiro perdeu parte de sua perna esquerda. Página 10.

Portais estão com os dias contados O jornalismo na internet vem passando por muitas transformações na atualidade e a bola da vez são os portais. Considerados ainda novidade e utilizados pelas principais empresas jornalísticas do país, eles já são vistos como superados por muitos profissionais de webjornalismo. Na visão destes profissionais, estas tradicionais portas de entrada para os sites de informação serão rapidamente substituídas em um mundo marcado pela emergência das redes sociais, espaços que privilegiam o relacionamento entre jornalistas e leitores. Os novos formatos de jornalismo on-line serão definidos pela estrutura multimídia e pela interatividade. Página 8


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Sábado, 20 de novembro de 2010

Uma nova cidade está nascendo Clóvis Pinto de Castro * “Fortes razões, fazem fortes ações.” (William Shakespeare)

Mídia e crítica social Paulo Roberto Botão * O Ponto Final é síntese, mas também ponto de partida. Reúne, sob a forma de reportagens, parte das reflexões que os estudantes de Jornalismo da Unimep realizam no último ano de seu curso de graduação. Seu conteúdo funciona como espécie de crítica de mídia, pois se volta à análise de faces do jornalismo contemporâneo, de elementos que constituem a experiência de produzir informação na atualidade, em ambiente marcado pelas novas tecnologias e crescimento acelerado do alcance das novas redes sociais. Três das sete reportagens desta edição tratam diretamente de fenômenos ligados ao avanço das tecnologias digitais e da comunicação em rede. Investigam os efeitos de ferramentas novas como o Twitter e o YouTube, e questionam o modelo de jornalismo on-line mantido ainda com base na estrutura de portais midiáticos. Outras três discutem especializações da área. Abordam os diferenciais do jornalismo esportivo, do cultural e as peculiaridades da atividade do correspondente internacional. Nos três casos se tangencia, é claro, a questão da tecnologia. O foco do sétimo trabalho é justamente a reportagem em si, o repórter, sua natureza e suas riquezas, tão bem exploradas no programa Profissão Repórter, objeto de estudo dos candidatos a jornalistas. A experiência de produzir este jornal é rica em muitas dimensões, mas a principal reside justamente no seu caráter crítico, na possibilidade que abre aos estudantes de dialogarem com jornalistas profissionais em pleno exercício de sua atividade, de um lado, e pesquisadores, críticos e intelectuais de outro. Os resultados, nos últimos anos – e já estamos na 22ª edição – têm se mostrado positivos, pois o exercício da crítica é importante motor de transformações e será decisivo para a própria sobrevivência da imprensa em um mundo cada vez menos dependente da intermediação informativa. A imprensa e o jornalismo só têm a ganhar quando se abrem à crítica, ao diálogo com a sociedade, com o seu público, com os especialistas e pensadores da comunicação e com a universidade. Pensar criticamente o jornalismo e a sua interferência no processo de construção da opinião pública é um dos papéis essenciais da universidade. E este é um dos objetivos deste Ponto Final, que representa também ponto de partida na carreira de novos profissionais que concluem sua formação através de suas páginas. * Paulo Roberto Botão é graduado em Jornalismo, mestre em Comunicação Social e coordenador do Curso de Jornalismo da Unimep EXPEDIENTE Ponto Final: Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) - Reitor: Clóvis Pinto de Castro - Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães de Costa - Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão - Orientador e Editor Responsável: Paulo Roberto Botão (MTB 19.585) - Repórteres: Amanda Dantas Silva, Camila Viscardi, Carla Bovolini, Clayton Padovan, Daniane Gambaroto, Kaleo Alves, Luan Antunes, Luiza Mendo e Patrícia Elias da Silva - Produção Gráfica e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) - Ilustrações: Estela Menegalli (Página 10) e Thiago Felipe Cezarino (Página 8), alunos do 2º semestre do Curso de Design da Unimep, sob orientação do prof. Renato Fabregat - Correspondência: Faculdade de Comunicação - Campus Taquaral Rodovia do Açúcar, Km 156 - Caixa Postal 68 - Telefone: (19) 3124-1676 e-mail: prbotao@unimep.br - Impressão: Jornal de Piracicaba.

As universidades privadas do mundo inteiro estão cada dia mais conscientes da necessidade de maior articulação com o seu entorno. Elas precisam ser relevantes para a sociedade na qual estão inseridas. Como instituições de estudos, e não simplesmente de ensino, elas precisam interagir com os espaços que a circundam. Exige-se uma relação de pertença, pois devem ser instituições públicas. Nessa direção, a UNIMEP, ao longo dos anos, tem buscado fortalecer sua dimensão pública. Ela já possui um forte vínculo com as cidades onde estão seus diversos campi. Entretanto, com o lançamento do Park UNIMEP Taquaral, o primeiro Masterplan de Piracicaba e região, além de captar recursos para investir em infra-estrutura para a qualificação de seus cursos, ela poderá fortalecer sua dimensão pública. O Masterplan é um novo conceito de intervenção urbana, onde diferentes espaços se complementam: Condôminos horizontais e verticais, Hotel, Shopping Center, Centro de Convenções, Centro Empresarial, Instituições de Ensino etc. É um empreendimento que colabora de forma decisiva com o desenvolvimento econômico da cidade e potencializa o crescimento da UNIMEP, além de agregar valores ao nosso foco de atuação que é a educação com qualidade. Com a concretização do Masterplan, a UNIMEP terá, num futuro próximo, maior interação com milhares de pessoas da cidade de Piracicaba e de outras cidades dessa região. Teremos essas pessoas trabalhando ou morando próximas ao campus. Elas poderão ingressar em cursos de graduação, de pós-graduação ou de formação profissional específica da UNIMEP ou colocar seus filhos e filhas na nova Unidade do Colégio Piracicabano. Participarão também de inúmeras atividades culturais, freqüentarão o Teatro UNIMEP e poderão interagir com todos os espaços institucionais, muitos dos quais

precisarão se reinventar para atender as novas demandas. Haverá um aumento significativo de oportunidades de estágios, de prestação de serviços e de empregabilidade. Como afirma Michael de Certeau: espaço é o lugar praticado. Transformaremos os novos lugares em espaços de vida, espaços culturais, espaços educativos. Queremos construir juntos com o poder público e a sociedade civil uma cidade educadora. Cidade “que converte o seu espaço urbano em uma escola. Imagine uma escola sem paredes e sem teto. Nesse espaço, todos os lugares são salas de aula: rua, parque, praça, praia, rio, favela, shopping e também as escolas e as universidades. Há espaços para a educação formal, em que se aplicam conhecimentos sistematizados, e a informal, em que cabe todo tipo de conhecimento. Ela integra esses tipos de educação, ensinando todos os cidadãos, do bebê ao avô, por toda a vida”.1 Milton Santos, o mais famoso geógrafo brasileiro, costumava dizer que os educadores têm como desafio levar “tarefas” para as novas gerações, A construção do Shopping Park Taquaral e do Park UNIMEP Taquaral, que se junta a outros grandes investimentos – em andamento ou em fase de estudos – tais como: Hospital Regional de Piracicaba, duplicação da Estrada do Rio das Pedras, a ampliação do Anel Viário, a “prometida” duplicação da Rodovia do Açúcar e a projeção de vários condomínios nessa região são fatores determinantes para redesenhar a cidade de Piracicaba levando a região do Taquaral e de seus bairros vizinhos a se circunscrever em novo pólo de negócios e serviços. Uma nova cidade está nascendo! E, com isso, as novas gerações terão novas “tarefas”.

“Queremos construir juntos com o poder público e a sociedade civil uma cidade educadora”

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Alicia Cabezudo, educadora argentina, em entrevista ao caderno Sinapse do Folha On-line, no dia 25/05/2004, “A cidade que educa”.

* Graduado em Teologia e Pedagogia, mestre em Educação e doutor em Ciências da Religião, Clóvis Pinto de Castro é reitor da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e diretor geral do IEP (Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista)

Em Atacama, a Lua é Menos Visível Belarmino Cesar Guimarães da Costa * É surpreendente a história dos mineiros chilenos que ficaram soterrados na mina de San José, em Atacama, de onde, quando houve os resgates, o mundo todo ficou à espreita para observar os seres telúricos que brotavam do centro da Terra, como a imaginar ficções científicas de Júlio Verne, num tempo em que não existiam satélites, transmissão em tempo real e um mundo integrado sistemicamente pelas comunicações digitais. O resgate dos trabalhadores mineiros no Atacama, que envolveu tecnologia aeroespacial e visibilidade própria da sociedade do espetáculo, foi visto por mais de um bilhão de pessoas, uma enormidade inclusive se comparada com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969. A cobertura jornalística deste evento épico assinala contradições contemporâneas em diferentes angulações, uma delas é o contraste existente entre a positivação da ciência e da tecnologia no capitalismo, que cria condições de superação dos limites da condição humana, em termos de extensão sensorial e da inteligência. Contudo, também aponta para a existência de situações-limite de barbarização das condições do trabalho humano, tal como se passou a conhecer com os mineiros chilenos, cujos destinos estavam presos numa mina sem visibilidade do mundo exterior. A cobertura jornalística com relação aos mineiros de Atacama provoca reflexões sobre o potencial da informação: o de tornar consciente o estado de prisão no qual os trabalhadores se encontravam e, com isso, presta-se a uma pressão de mudança na logística da condição de extração de minérios. Mas, em outra perspectiva, de atrair a curiosidade da audiência para, num evento igualmente inusitado, deixar que o fato caia no esquecimento. É tênue a passagem do jornalismo permeado pelo juízo ético e estético, com a capacidade de informar para mobilizar e ser um vetor de

tomada de consciência e pressão social, para outra dimensão, em sentido contrário, associada à administração dos fatos como entretenimento e espetáculo. Seria inimaginável que a cobertura sobre os mineiros presos e toda movimentação que envolveu o resgate, do ponto de vista do interesse público, fosse desconsiderada pelas coberturas jornalísticas em todo o mundo. Ou seja, pelos critérios de noticiabilidade, é um fato que tem todos os componentes para gerar atenção, especialmente pelo drama e pelo componente de tensão humana. Contudo, a indústria da cultura rapidamente se utilizou deste evento para criar games e outros produtos associados à imagem dos mineiros e à situação de resgate, incluindo a capitalização política feita pelo governo chileno. A mediação tecnológica e o papel do jornalismo têm sido estratégico para a afirmação de sociedades democráticas e de extensão da visibilidade sobre culturas, lugares e representação do mundo. A ida do homem à Lua e o resgate dos mineiros nas entranhas da Terra, como metáfora, simbolizam a extensão do olhar jornalístico sobre as macroestruturas e a narrativa do cotidiano de toda pessoa que, numa circunstância, passe a ser referência para a construção da notícia. A saga dos mineiros de Atacama é uma história fascinante em termos de tomada de consciência a respeito da condição do jornalismo nos tempos de mundialização da cultura e da necessidade de humanizar as narrativas. Na cápsula Fênix, que içou cada um dos mineiros, havia mais do que relato jornalístico: era possível extrair interpretações sobre os limites éticos e estéticos, enfim, um momento diferenciado para observar os componentes humanos, a forma de construção da notícia e o interesse da ambivalente da audiência na busca de espetáculo e de algo pungente à experiência. * Doutor em Educação e graduado em Jornalismo, é diretor da Faculdade de Comunicação da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba)


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Jornalismo Unimep – 30 anos

Ensino deve valorizar pluralidade e realidade regional

Patrícia Elias da Silva

patriciaelias.ies@hotmail.com

Luan Antunes

luan.antunes@gmail.com

Apesar das tecnologias e de todo o seu apelo, o jornalismo precisa estar mais interligado às demandas regionais. Com este foco o jornalista Sérgio Luiz Gadini, presidente do FNPJ (Fórum Nacional de Professores de Jornalismo) conduziu a conferência de abertura do 4º Simpósio de Jornalismo da Unimep, no dia 4 de outubro. O evento foi comemorativo aos 30 anos da área na Unimep. A partir do tema “A formação do jornalista no contexto atual”, Gadini fez uma defesa enfática da profissão e do que chamou de “jornalismo plural e compromissado”. Na opinião do conferencista, a nova geração de jornalistas no Brasil precisa redescobrir a profissão ética e compromissada, desafio diretamente ligado à legitimidade da profissão. “Devemos buscar um modelo mais plural, que dialogue com setores sociais excluídos, contribuindo para a formação da cidadania”, explicou. Gadini também destacou a necessidade de um órgão que dialogue com a ‘reconfigurada sociedade brasileira’. “Como em diversas profissões, precisamos de uma autarquia autônoma

Mercado quer profissionais “prontos”, mas também exige formação contínua

Sérgio Gadini enfatiza compromisso ético do jornalismo

capaz de orientar nossa atividade profissional”, enfatizou referindo-se à proposta de criação de um Conselho Federal de Jornalistas, em semelhança ao que existe em outros setores, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Em relação às escolas de jornalismo, Gadini ressaltou sua importância para garantir a formação de pessoas comprometidas com a ética e o profissionalismo, e capazes de compreender o real papel da atividade. Neste aspecto, reforçou o compromisso social, de denunciar as desigualdades sociais, de se solidarizar com amplos setores da sociedade que não tem garantido seu direito à comunicação. O simpósio No segundo dia do Simpósio foi realizada, no dia 05, mesa-redonda sobre o tema “Desafios da profissão: impactos das novas tecnologias”. Os participantes foram todos jornalistas formados pela Unimep:

Rodrigo Alves, editor do Jornal de Piracicaba; Roger Marzochi, da Agência Estado; Hellen Sacconi, repórter da EPTV Campinas e Giuliana Girardi, da Rede Globo São Paulo. Na quarta-feira, 06, o curso celebrou os seus 30 anos com uma homenagem ao professor Elias Boaventura, reitor da universidade no período de sua criação, em 1980. Boaventura também participou de debate sobre o tema “30 Anos de Jornalismo na Unimep: Perspectivas políticas, acadêmicas e profissionais”, com o diretor da Faculdade de Comunicação, Belarmino Cesar Guimarães da Costa, e a professora Rosemary Bars Mendez. O evento contou ainda, no dia 7, com sessão de entrega de certificados aos participantes do 1º Trainee Unimep de Jornalismo, com a presença dos jornalistas Carlos Chinellato e Paula Sillmann, do Jornal de Limeira e mesa-redonda sobre os desafios do mercado de trabalho (texto ao lado).

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Trabalho existe, mas as empresas de comunicação querem profissionais “prontos”, capazes de enfrentar todos os desafios da atualidade, principalmente diante da nova onda que está transformando todas as áreas e envolve as redes sociais e as novas tecnologias. Esta foi a constatação principal de mesa-redonda que reuniu ex-alunos do Curso de Jornalismo da Unimep no último dia 07 de outubro na universidade. A mesa integrou as atividades do 4º Simpósio de Jornalismo, em comemoração aos 30 anos do Curso, e reuniu os jornalistas César Dassie(Repórter e editor do Globo Rural), Cid Luis de Oliveira Pinto (Diretor da Alphapress Comunicação), Kesi Adria (Editora do Núcleo

de Revistas do Grupo Liberal, de Americana) e Poliana Sala Ribeiro (Chefe de Reportagem da TVClaret/Rio Claro). Os profissionais debateram o tema “Desafios da profissão: Tendências do mercado de trabalho”. Segundo Cid Moreira, da Alphapress, na atualidade o profissional precisa ter relacionamento interpessoal, liderança e se especializar nas redes sociais. Em sua opinião, esta é uma estratégia que ajuda a fortalecer o produto que está entregando à sociedade: a notícia. Os participantes também insistiram que o papel do jornalista deve ser o de buscar os fatos, ouvir várias fontes e trazer as diversas vertentes da notícia. Para isso é preciso que o profissional da comunicação, mesmo com as novas tecnologias, tenha sempre contato direto com a fonte.

A inovação nos meios de comunicação também é algo que precisa acontecer para acompanhar as novas tendências da mídia. “Acredito que se não inovarmos e trouxermos novos formatos, a televisão vai perder. Estamos buscando superar as barreiras de formato padrão”, disse Poliana. Para César Dassie, o grande desafio do jornalismo é o de transmitir a notícia sem perder a sensibilidade perante os fatos e superando o sensacionalismo. “Sensibilidade não tem a ver com sensacionalismo”, enfatizou. Os convidados também destacaram a importância de uma boa formação cultural e de conhecimentos técnicos na área da comunicação. Esta exigência do mercado, segundo os jornalistas, exige educação continuada, além de inserção em experiências inovadoras. Tito Lívio

Debatedores apostam na inovação e formação permanente

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Textos curtos do microblog atraem usuários e mudam forma de comunicação na internet

Crescimento do Twitter facilita a troca de informações em rede positivos móveis e no ecossistema de aplicativos criado no seu entorno, além do volume de pessoas que a utilizam. Para a pesquisadora Gabriela Zago, mestranda em Comunicação e Informação na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o fenômeno se diferencia dos outros tipos de redes sociais pelo enfoque no compartilhamento de informações. “Isso decorre da apropriação que os usuários fizeram do site, e não da ferramenta em si, e também pelo fato dos contatos não necessariamente serem recíprocos. Pode-se seguir alguém sem ser seguido de volta, e isso produz reflexos nas redes sociais que podem se constituir na ferramenta”, explica Zago. Ainda que o Brasil ocupe o segundo lugar no ranking de acessos, a ferramenta ainda não possui uma versão em português, o que limita o crescimento do número de usuários.

Patrícia Elias da Silva

patriciaelias.ies@hotmail.com

patriciaesilva Compartilhar notícias rápidas e curtas é um desafio da comunicação. Gera debates, são retransmitidas. É a era das redes, é tempo de twittar. O parágrafo anterior possui exatos 140 caracteres, medida imposta pelo microblog Twitter, que virou uma mania mundial e também no Brasil, e já reúne milhões de usuários. A disseminação rápida de informações através desta nova ferramenta faz com que um grupo maior de pessoas se interesse em receber notícias em primeira mão, acompanhe em tempo real o que está acontecendo em qualquer parte do mundo ou simplesmente em sua rede de amigos ou colegas de trabalho. O grupo de usuários do Twitter inclui artistas, jornalistas, estudantes, religiosos, empresários, e inclusive personalidades como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama que fez do microblog seu carro chefe na campanha presidencial em 2008, o que contribuiu para que se elegesse. No Brasil artistas ganharam destaque no espaço, como o ator e jornalista Marcelo Tas, do programa CQC (Custe o Que Custar), que ultrapassou o numero de 1 milhão de seguidores em sua página e chegou a twittar que em 2038 irá se candidatar à Presidência do Brasil. “2038, ta logo aí RT @Depdiego: @marcelotas Marcelo, se candidata um dia?”, twittou o comediante. O Twitter também é lugar para ‘anônimos’, como a estudante Camila Costa, que usa a ferramenta para relatar o que acontece no seu dia a dia, o que pensa sobre determinados assuntos e para se informar. “O que eu mais gosto é o fato das pessoas falarem o que pensam, e também de me informar. Às vezes chego a pensar que fico sabendo das coisas que acontecem mais pelo Twitter do que por qualquer outro meio de comunicação”, diz a estudante. A religiosa Bethânia de Jesus usa o instrumento para anunciar a palavra de Deus. Todos os dias ela posta frases do Evangelho com o objetivo de alcançar as pessoas, dar-lhes respostas e força para vencer os medos contemporâneos. “As redes sociais são facas de dois gumes, é uma arma poderosa que alcança muitas pessoas. Mas como toda rede social se não for usada com bons objetivos podem espalhar muitos danos”, diz. Lançado em 2006, a ferramenta de publicação de conteúdo se tornou conhecida pela limitação de caracteres e pela pergunta que motiva, ou deveria motivar, os participantes: “What’s happening?” (O que está acontecendo?). É possível enviar mensagens direcionadas ou a todos que estão na sua rede. Para a pesquisadora em jornalismo e editoração da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo), Nancy Ramadan, o Twitter e outras redes sociais têm gerado mudanças na forma das pessoas se comunicarem. “Tudo é muito curto, as pessoas ficam mais telegráficas. As tags tomam o lugar do pensamento e não cabe uma conversa detalhada, aprofundada. Nesse aspecto, o diálogo, o pensamento tende a ficar cada vez mais sintético”, explica. Após apresentar a nova versão, em outubro deste ano, os responsáveis declararam que o site já chega a ter 160 milhões de usuários registrados. Um estudo realizado pelo grupo Com Score mostrou que em junho de 2010, 93 milhões de usuários da internet visitaram o Twitter, um aumento de 190% em relação ao ano anterior. O jornalista e pesquisador de mídia Tiago Dória afirma que o diferencial da ferramenta está na restrição, na forte integração com dis-

Jornalismo As contribuições que o Twitter tem trazido para o jornalismo brasileiro são diversas. A ferramenta se insere no processo jornalístico e pode ser usada em todas as fases do trabalho, desde o momento da apuração das informações, captação de fontes e pautas, até a produção e distribuição da notícia. @camillac Eu não sou Segundo a pesquisadora Gabriela Zago, fã de seguir jornalistas, eles falam mais do que em razão de suas particularidades, o Twitter acontece na vida deles pode ser usado para a circulação de notícias. do que dão notícias, “Veículos jornalísticos podem utilizar um perfil prefiro sites que postam na ferramenta para postar links para notícias, notícias e esses tweets poderão ter seu alcance potencializado através de retweets, contribuindo para difundir a notícia, bem como atraindo mais cliques e leitores @bethlopes Uma das primeipara o site do jornal”, explica Zago. @gabizago Pode contribuir ras coisas que hoje eu faço, por Os retweets (RT) são as trocas para que as pessoas reincrível que pareça é acessar o de informações entre os particebam as informações em Twitter e já dar uma navegada cipantes que podem passar ou primeira mão, em tempo rápida para ver os assuntos! real do que está aconteretransmitir uma informação cendo no mundo ou seus que considerem importante amigos para os seus seguidores. Na opinião do redator Gustavo Uribe, da Agência Estado, o microblog facilitou a produção jornalística. “Não vejo problema, @irbethaniaihs Acredito que porque houve uma aproos jornalistas são protagonis@NancyNuyen saber se as ximação maior. É mais tas de um tempo novo, pois noticias são confiáveis ou podem proclamar palavras um canal de ligação com não para isso nós vamos que levem algo mais que o entrevistado. O leitor continuar precisando de jorsomente informações pode propor coisas nonalistas bons, que consigam fazer essa apuração vas”, afirma. Uma discussão permanente no jornalismo é a responsabilidade no uso dessa ferramenta e a filtragem das informações. A jornalista Elisabeth Lopes afirma que @gustavouribe O twitter é sempre é preciso checar a inuma ferramenta que você @lucianobianco Uso o Twitter de posta as coisas no calor dos formação junto a uma ou mais duas maneiras, como ferramenta fatos e dos sentimentos. fontes. “O processo de checagem de divulgação e para levar a notícia Pensar duas vezes antes de não mudou. Mesmo com a rapiao leitor, muitas pessoas me secolocar a informação dez o processo é o mesmo. Hoje o guem e fazem sugestões Twitter é uma ferramenta necessária para os jornalistas, porém por si só não sustenta a notícia, para isso é preciso uma boa análise”, enfatiza. Jornais locais e regionais como o Jornal de Limeira também têm feito uso da ferra@tdoria Ao utilizar o Twitter você adquire a responsabimenta para divulgar suas matérias e para fins lidade de fazer sua própria publicitários. Nas eleições deste ano, o jornal filtragem da informação, sefez entrevistas com candidatos a deputados da parar aquilo que é relevante cidade via Twitcam, um aplicativo que permite o ou não envio de imagem e som em tempo real para seus seguidores. Segundo o jornalista e editor, Carlos Chinellato, isso trouxe um resultado positivo para a empresa. “Foi uma inovação no Jornal de limeira. O retorno que isso teve foi excepcional, poder fazer entrevistas online, mostrar o vídeo e depois publicar no impresso”, conta. Para o jornalista Luciano Giuliani, editor de internet do jornal O Liberal, de Americana, A palavra Twitter refere-se ao som que os pássaros que usa a ferramenta para fins pessoais e profazem. Algo como “piar”, “gorjear”, “trinar”, “chilrear” ou fissionais, o Twitter é uma forma de expressar a “pipilar” em português. As pessoas escrevem no Twitter pelo sua opinião em tempo real. “As notícias correm prazer de dizer o que estão fazendo no momento, por isso mais, porque você não precisa procurá-la, ela a palavra twitter, no sentido figurado, quer dizer também, “jogar vai até você. Sempre que uma notícia é publiconversa fora”, “papear”, “tagarelar”. Daí o símbolo do pássaro. cada, você já pode comentar, falar o que achou, do que gostou ou não”, diz.

Twittando

# O som do passarinho


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5 Fotos: Kaleo Alves

Rotinas cansativas, entrevistas com grandes ídolos e a presença em momentos históricos marcam jornalismo esportivo

Rotina apertada, sem tempo para a família. Finais de semana repletos de trabalho até altas horas da madrugada. Coberturas debaixo de chuva, vento, frio e calor intensos. Esse é o diaa-dia do jornalista responsável pela cobertura da maior paixão do brasileiro, o esporte. Para os profissionais, o movimentado fim de semana é uma das principais características da área esportiva. “O esporte exige tanto tempo quanto as outras áreas de segunda à sexta-feira, mas demanda muito mais que qualquer outra no final de semana”, diz Wagner Villaron, repórter esportivo de Estado de S. Paulo. E a jornada cansativa não perdoa nem mesmo os mais experientes. Mauro Naves, há 23 anos no jornalismo esportivo da Rede Globo, é enfático: “Não tem sábado nem domingo”. Muitos aspirantes a jornalista esportivo sonham com grandes coberturas, como a de uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada, mas o jornalista da rádio Bandeirantes Ricardo Capriotti alerta que a área não é um mar de rosas: “Muita gente glamouriza a profissão, mas é uma jornada extenuante, que em Copas do Mundo, por exemplo, exigem coberturas de 15, 16 horas por dia”. Além dos problemas fora da redação, o repórter esportivo tem outro adversário: o menosprezo de muitos colegas em relação à área esportiva. Villaron explica que“ muita gente de outras editorias pensa que não está lidando com jornalista, mas com alguém que faz entretenimento. “Para eles, os jornalistas esportivos não estão trabalhando, estão se divertindo”, destaca. André Rizek, do canal SporTV, conta que já foi desprezado dentro da redação. “Tinha uma festa dentro da empresa com um cartaz que dizia: ‘todos convidados, menos a borracharia do esporte”. Apesar dos obstáculos, os profissionais reconhecem que o jornalismo esportivo exerce um papel fundamental, pela peculiaridade de abordar a paixão do seu público. O jornalista Antero Greco, do canal ESPN, classifica essa característica como um “agravante”, que confere maior responsabilidade, pois o torcedor trata essa paixão de maneira quase “irracional”. Ricardo Martins, há 16 anos no rádio esportivo de São Paulo, acredita que o jornalismo esportivo tem características diferentes do jornalismo em geral. “Você está lidando com o amor das pessoas, com a paixão que o torcedor tem”, argumenta. Mais que informar, entretanto, o jornalista esportivo também forma a opinião do seu público. E quando se trabalha com a emoção é preciso ser

Naves: “É lindo ser campeão do mundo, e mais bonito ainda quando a gente está do lado do campo, junto com a seleção”

notícia

ainda mais cauteloso. O jornalista esportivo da rádio Jovem Pan Marcelo Lima aconselha: “Exatamente por mexer com a emoção, com a paixão das pessoas, o profissional tem que tomar cuidado no que fala para que não fomente a violência”. Osvaldo Luís, diretor de esportes da EPTV Campinas concorda e destaca que o cuidado na precisão das informações é fundamental. “Você tem que ter no jornalismo esportivo um cuidado mais apurado, porque você mexe com a paixão. Você mexe com aquilo que é importante para a pessoa”, comenta.

Rafaela Barboza

Kaleo Alves

kaleoal@hotmail.com

Bastidor Mas nem só de esportes vive o jornalismo esportivo. A notícia muitas vezes está longe das piscinas, quadras e campos de futebol. Crimes nos bastidores de clubes e entidades também fazem parte dessa área, e podem render grandes reportagens. Giuliander Carpes, repórter do Estado de S. Paulo, comenta que a reportagem que mais marcou sua carreira estava fora das quatro linhas, quando desvendou o esquema de cambistas que atuava no futebol paulista: “A gente comprou ingresso de cambista na frente do Palmeiras. Entramos com ingresso falso no estádio, para um clássico. Esse é um bom exemplo de jornalismo esportivo e não necessariamente dentro de clube”, conta. André Rizek também teve sua grande reportagem fora dos campos, quando revelou ao Brasil o esquema de compra de resultados

Capriotti: Muita gente glamuriza a profissão, mas às vezes são rotinas de 15, 16 horas por dia”

Assessorias Na atualidade, há uma crescente atividade de assessorias de imprensa, e isso repercute no esporte. É a presença dessas assessorias que, segundo os profissionais, afasta a fonte e a informação do público. Muitos jornalistas reclamam do protecionismo dos assessores junto a clubes e atletas. Ricardo Martins destaca que a relação entre jornalistas e assessores é muito difícil: “Ela já foi de assessoria de imprensa. Hoje muitos viraram babá de jogadores, babás de treinadores e refém de clubes”, reclama. Para Antero Greco, o assessor de imprensa está contrariando sua própria profissão: “Muitos infelizmente acabam funcionando como um entrave entre o jornalista e o os entrevistados”. Capriotti destaca que a função básica do assessor está se perdendo: “O princípio básico da profissão é assessorar, ajudar a imprensa, mas hoje alguns profissionais que mais atrapalham do que ajudam”. Rodrigo Ceregatti, assessor de imprensa da Ponte Preta, de Campinas, se defende dizendo que “O assessor tenta proteger o atleta e o clube. Você tem que ter um cuidado muito grande porque o jornalista vai no erro do atleta, que é o que vende mais. Ele errar é muito mais valioso do que ele acertar” .

Mayara Veiga

o jogo da

no Campeonato Brasileiro de 2005, conhecida como a“Máfia do Apito”. Villaron já teve inclusive sua vida em risco devido a reportagens dos bastidores esportivos, quando noticiou casos de corrupção e desvio de dinheiro no Corinthians. “Isso me rendeu ameaça de morte, tive que andar com escolta armada, ‘detonaram’ meu carro. Às vezes o esporte te expõe a situações que você nem sonha quando está na faculdade”, conta. Outro diferencial é o relacionamento com grandes nomes do esporte, pois jornalistas também são fãs, e entrevistas com ídolos são histórias que marcam a carreira das pessoas. Ricardo Martins lembra de seu início na profissão: “Minha primeira grande matéria foi com a Paula, e o Brasil tinha acabado de ser campeão do mundo de basquete, isso me marcou demais”. Mauro Naves conta que foi o último brasileiro a gravar uma reportagem com Ayrton Senna. “Ele estava lançando aqui uma marca de carro que ele trouxe pro Brasil e nós demos duas voltas em Interlagos, só eu e ele. Depois ele saiu dali, pegou o helicóptero, foi para Guarulhos, pegou o avião e foi pra Europa. Só voltou ao Brasil um mês depois, morto”. Outro grande dilema é a isenção. Porém, os próprios profissionais reconhecem que a opinião está presente no jornalismo esportivo, mesmo dentro da área considerada informativa. “É lógico que a nossa visão das coisas sempre está metida junto da informação que nós estamos dando”, destaca o professor e jornalista Carlos Alberto Di Franco. Para André Rizek, a opinião é fundamental na área esportiva. “Na editoria de esportes o profissional está mais livre. É um assunto que pressupõe mais opinião, e faz parte do nosso trabalho ser opinativo”.


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Reprodução

YouTube altera comportamento do telespectador e facilita acesso à informação audiovisual

Telejornalismo Dicas de canais

sem filtro claytonpadovan@gmail.com

lisar o conteúdo das reportagens, criar seu próprio vídeo e disponibilizar na rede.

20h00. Está no ar o Jornal Nacional. Essa frase inicia há 41 anos o telejornal mais tradicional do Brasil. Nele as principais informações do país são transmitidas, e “você não pode perder”. Hoje vai passar aquela entrevista com o presidente que você tanto esperava; vai ser mostrada a situação dos desabrigados em um desastre natural que você acompanhou nas chamadas durante a programação e aguarda ansioso. Mas, você está preso no trânsito. Seu chefe pediu um relatório de última hora. Seu filho tem apresentação no teatro da escola. E agora? Há poucos anos a resposta seria: “Meu amigo, você perdeu. Pergunte ao seu vizinho ou torça para que aconteça uma reprise”. E você decepcionado iria dormir, sem assistir seu programa favorito, ou aquela reportagem especial. Porém estamos em 2010, e você já não precisa passar por estes dissabores. Acabou a ditadura da televisão. Há algum tempo estar em frente à TV em uma hora pré-determinada já não é mais indispensável. Há cinco anos surgiu o YouTube, para quem ainda não conhece, o maior repositório de vídeos que a internet, em seus mais de 40 anos, já viu e que não para de crescer. Como diz o sociólogo Pierre Lévy esse é o fenômeno da inteligência coletiva, e quanto mais cresce a quantidade de vídeos, mais o site se expande. “É uma ferramenta sensacional que está ajudando a democratizar a comunicação”, diz o presidente da Apijor (Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas Profissionais), Paulo Canabrava Filho. Para o diretor de jornalismo da TV Gazeta, Dácio Nitrini, “é um dos melhores instrumentos que nós já temos para realizar essa nova televisão que virá”. Quem também aposta no fenômeno é a jornalista e professora da PUC-SP Pollyana Ferrari, para quem se trata de “um grande deleite, uma imersão”. O YouTube surgiu em da iniciativa de três amigos, e após pouco tempo, em 2006, foi vendido ao Google por US$ 1,65 bilhões. E não é um grande fenômeno só por ser uma enorme memória on-line de vídeos, disponíveis a qualquer um e a qualquer hora. O grande diferencial são as ferramentas de interatividade que revolucionaram o modo de encarar o receptor, você, meu caro, que de agente passivo que só recebia informações passou a comentar, compartilhar, ana-

Audiência O fenômeno tem conseqüências para as emissoras de televisão, que perderam em parte o seu poder de controle sobre os telespectadores. Segundo a editora-chefe da GloboNews, Roseane Baptista, a interatividade desenvolvida não só pelo YouTube com também na internet como um todo desmonta a grade das emissoras. “Na medida em que você tem internet isso acaba totalmente, eu posso ver um filme ao meio dia, uma noticia às 16 horas, muda tudo” diz. Para o jornalista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Ricardo Christofoletti, o processo se compara à chegada do controle remoto “claro que guardadas as devidas proporções entre um evento e outro”. E com isso as emissoras têm sua audiência afetada, afinal com quase que 100% de seu material disponibilizado no site e sem custos para os usuários, disponíveis 24 horas por dia e com acesso até mesmo via celular, muda a quantidade de pessoas que param para assistir diretamente no aparelho TV. Na opinião do diretor de Jornalismo da TV Gazeta, Dácio Nitrini, o conceito de audiência irá mudar. “Ela vai ser medida ao longo dos vários meios.” Ou seja, para ele a audiência será uma soma dos vários veículos, internet, TV, celular etc. Porém como fala o gerente de conteúdo da EPTV Campinas, Duílio Fabri Jr, o site ainda é um espaço ao qual grande parte da população não tem acesso. Segundo a constatação da União Internacional de Telecomunicações, que no dia 25 de Março de 2010, divulgou o mais completo relatório já feito sobre as tecnologias da informação, 75% da população mundial não têm acesso à internet. No Brasil a média de pessoas com acesso à rede é de 33%. Essa exclusão digital é mais estarrecedora quando o assunto é internet banda larga, pois nos países em desenvolvimento apenas 3% das casas possuem internet rápida. Para Fabri Junior, mesmo com o barateamento dos computadores e a disseminação de uma internet banda larga de qualidade e com preço acessível, ainda assim o problema continua a ser o da educação. “Eu preciso compreender aquilo como uma ferramenta e usar, se não eu vou ter computador só para ter joguinho e ter MSN”, argumenta. A opinião é compartilhada por Nitrini: “Precisa formar muito bem o cidadão culturalmente e eticamente, e a partir daí ele poderá tomar suas decisões. Educação é a pedra de toque”.

Clayton Padovan

Direitos Autorais Outra grande discussão referente ao YouTube é sobre a violação dos direitos autorais por parte dos usuários, que reproduzem sem prévia autorização materiais das emissoras de televisão. Como fala o diretor geral da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) Luis Roberto Antonik, esta é uma situação complexa. “Somos signatários da declaração de Hamburgo, que impõe certas regras para a reprodução de artigos, matérias e noticias na internet, coibindo o seu uso indiscriminado, inclusive sem remunerar o direito do autor da matéria”. Por isso na visão da Abert postar material na internet sem a devida autorização constitui violação dos direitos autorais. O vice-presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil do Estado de São Paulo) e especialista em direitos da internet, Marcos da Costa, afirma que apesar da informação já ter ido para o ar, a emissora não deixa de ter direitos sobre esse material. “O fato de ser na internet ou não, não tira a titularidade dos direitos sobre o material”, enfatiza. Porém, quando os próprios jornalistas são consultados, a maioria concorda que pela lei atual é crime, mas muitos não são contra essa reprodução, como se manifesta Nitrini sobre o fato de anônimos reproduzirem material de telejornais no site. “Como jornalista eu acho ótimo essa reprodução, quando mais pessoas verem melhor”. Para Christofoletti, a legislação atual precisa ser revista em decorrência do crescimento da internet. “Penso que em alguns anos teremos novas bases para este assunto, mais flexíveis, reorientadas para novos fins que não apenas os de exploração comercial”, explica. O presidente da Apijor, Paulo Cannabrava Jr, diz que na opinião da entidade que representa, há crime somente quando o jornalista reclama seus direitos, do contrário “está tudo tranquilo”. Um dos grandes princípios do jornalismo é fazer com que a informação chegue ao maior número possível de pessoas. Nesta perspectiva, para Roseane e todos os entrevistados desta reportagem, ao atingir este objetivo o site é uma ferramenta de democratização do telejornalismo. “Se você entender o democratizar como dar acesso ao maior número de pessoas, sem dúvida ele democratiza”, afirma. Segundo Pollyana Ferrari, o YouTube “democratiza por que não tem o filtro de uma grande emissora”.

Jornal da Gazeta Diariamente as reportagens exibidas pela TV são postadas no canal da emissora no YouTube

EFE (Agência de Notícias) Primeira agência espanhola e a quarta maior do mundo. Exibe reportagens em espanhol

Fato e Verdade Notícias Canal abastecido por anônimo, que diariamente recebe material jornalísticos de diversas emissoras

TV Bandeirantes O canal exibe vídeos da programação da emissora, e também o material jornalístico que produz

Clayton Padovan

Clayton Padovan

Amanda Sabino

Para encontrar canais no YouTube, basta ir até a barra de busca do site, digitar a área desejada e pesquisar em canais. Abaixo seguem algumas dicas de canais de jornalismo:

Ricardo Noblat O jornalista possui um blog na globo.com, e utiliza o seu canal do YouTube para comentar assuntos da política brasileira

Paulo Cannabrava:

“Duvido que algum autor questione se a sua obra estiver no YouTube”

Dácio Nitrini:

Roseane Baptista:

“Assim que termina o Jornal da Gazeta as reportagens são postadas no YouTube”

”Uma vez exibido o material, ele é do mundo”

Veja Canal produzido pela revista Veja, a de maior tiragem no país, traz material produzido exclusivamente para internet


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Jornalismo cultural aposta no texto de qualidade e na formação do jovem

Luan Antunes

luan.antunes@gmail.com

Quando o assunto é cultura, os jornais diários costumam tratar a data, o horário e o preço, como o tripé das reportagens sobre shows, peças teatrais e estréias no cinema. Essa visão transforma as páginas de cultura de grande parte dos jornais em espaço de culto ao ‘aqui e agora’. O modelo, batizado por especialistas na área como “jornalismo de agenda” também deixa os profissionais dependentes do material dos produtores de eventos. Mas, esta não é a única tendência contemporânea na área do jornalismo de cultura, e a existência e ampliação da internet contribuem com isso. Como bom exemplo de fuga desse estilo que ‘espera a novidade chegar’, há na rede jornalistas comentando música por conta própria. É nesse novo momento, que valoriza a análise e a contextualização que o jornal de todo dia deveria se espelhar. Para quebrar o padrão de textos curtos e focados no factual, vivo no jornalismo diário, o jornalista Guilherme Bryan, da revista Língua Portuguesa, considera que a cobertura deve ser condizente com o foco do mercado de cultura. Para ele, a partir do momento que tudo se torna mais acessível graças à internet, a função do jornalista é ser referência de opinião e conhecimento de causa. “Nos anos setenta e oitenta era importante um cara como o Kid Vinil, para mostrar as tendências e bandas internacionais que não tínhamos acesso”, lembra. Segundo o pesquisador em Comunicação, Herom Vargas, é a fuga do texto objetivo que caracteriza o grande feitio do jornalista de cultura. “Jornalismo cultural tem a característica de dar a história e explicar as coisas, sem ficar no superficial do lançamento”, explica. Especialista em História da Comunicação, José Salvador Faro considera que o jornalismo cultural necessita de melhorias estruturais. “A dinamização do gênero precisa de abrangência maior de cobertura, maior densidade analítica e não meramente informativa”, aponta. Faro ainda reforça que a qualidade da abordagem depende muito do domínio que o profissional tem sobre artes e ciências sociais.

sobre literatura. Quando avança um pouco acha que se aplica ao cultural”, explica. Para compreender como se pratica o jornalismo literário no Brasil, Falaschi analisou os 11 maiores jornais do país. Das 165 matérias deste gênero encontradas, apenas sete eram da editoria de cultura. (In)formação Atualizar a noção de realidade das pessoas, fortalecendo a convivência em sociedade, é a função do jornalismo como gerador de conhecimento, afirma o pesquisador em jornalismo Rogério Christofoletti. E justifica: “A cada momento que a pessoa consome informação e se atualiza sobre algo, aquela noção de realidade precisa sair com algo agregado, fazendo com que a pessoa se informe e se forme mais como cidadão”. Produtos com visão ampla do significado da palavra cultura são os que Falaschi avalia como ideais na formação cultural do jovem. “A revolução silenciosa que o jornalismo pode fazer é pelo estímulo à cultura, com um bom caderno cultural, com matérias de política, economia, meio ambiente, educação, saúde. Se o leitor se habitua a ler texto de qualidade, ele vai querer cada vez mais”, explica. O presidente da ABJL aprecia o uso de textos maiores em revistas para jovens, desde que as linguagens textuais e visuais saibam dialogar com o público. “Não adianta só fazer texto de qualidade. Para se tornar atrativo eu preciso promover uma diagramação imagética, já que essa juventude que está aí foi formada pela televisão, vídeo-game e computador”, argumenta. Já Christofoletti aponta que alguns veículos se destacam ao buscar uma linguagem de maior identificação com o jovem, pois ampliam horizontes e repertórios culturais. “Esses veículos quebram resistências naturais, como a de consumir livros e teatro, formas de diversão e de entretenimento que agregam formação cultural”, comenta.

Luan

Antu

O segredo de publicações com reportagens aprofundadas, segundo Bryan, está na competência de contar novidades do presente e do passado, e na capacidade de atender à curiosidade do público pelo íntimo dos ídolos. “Isso é inerente ao ser humano”, comenta. Essa qualidade de reportagem nos cadernos de cultura sempre é relacionada à habilidade do jornalista em ser mais autor do que mero repetidor de informações, e por conseqüência, ao uso do estilo jornalismo literário. Porém, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL), Celso Falaschi, acredita que há equívocos nessa relação, pois o estilo não é exclusivo do gênero. “Muita gente quando ouve falar do jornalismo literário, acha que é jornalismo

Thomaz Fernandes

Rolling Stone:

de olho no tempo e na cultura

Miyazawa: o mote é interligar os fatos

Hoje intitulada como a maior revista de entretenimento do mundo, a Rolling Stone foi criada em 1967 nos Estados Unidos pelo publisher Jann Wenner e pelo crítico musical Ralph J. Glason. Trazendo o cantor Johnn Lennon vestido de soldado britânico na capa, a primeira edição já apresentava matérias sobre música, política, comportamento e sociedade, sintomas da efervescência da contracultura que a sociedade americana vivia naquele período. Na década de 1980, com a mudança de sua sede para Nova York, a revista foi abandonando o aspecto de contracultura, para nos anos 90 colocar Michael Jackson, Madona e Britney Spears na

capa e assumir de vez a postura pop. No Brasil, a publicação teve uma primeira versão underground na década de 70, com 36 edições. Depois de mais de 30 anos, a Rolling Stone brasileira retornou em outubro de 2006, como projeto encabeçado pela editora Spring Comunicações. Trouxe na capa da primeira edição a top-model brasileira Gisele Bündchen. Outras capas, como a do jornalista Pedro Bial, apresentador do Big Brother Brasil, reality show mais famoso do país, acabaram confirmando a influência editorial da edição americana na cobertura de ícones da cultura pop. Pablo Miyazawa, editor da publicação brasileira,

Reprodução

Focos Todavia, o grande dilema dos jornais diários não é sentido nas revistas com o mesmo peso. “Temos produtos que se encaixam na demanda de públicos específicos, principalmente revista, que é fortemente segmentado”, nota Herom. Guilherme Bryan aponta para o amplo leque de temas culturais como a salvação do jornalismo impresso. “Há várias maneiras de se trabalhar o cultural mesmo que não se intitule como tal”, afirma. Foi justamente a percepção de lacunas no mercado que justificou o surgimento, há quatro anos, de revistas como Rolling Stone Brasil, piauí e Brasileiros. Focadas em textos mais analíticos, essas publicações podem ganhar espaço em um mercado que, segundo Faro, é mais explorado por editoras de livros, devido à falta de coragem da imprensa de investir em textos mais literários.

Mayara Cristofoleti

Revolução Silenciosa

considera que o grande mote é saber interligar diferentes momentos da história. “Pegar o que está acontecendo agora, juntar com o passado, empacotar e colocar uma capa linda”, salienta. Prontamente, o pesquisador em jornalismo Rogério Christofoletti aponta na edição nacional a tradição forte da americana de dar maior evidência à cultura local e não às importadas. “Ela veio sinalizar que o mercado de bens simbólicos culturais nacionais está adiantado, com indústria forte e públicos alvos bem sinalizados”, explica. O especialista considera que esse conceito editorial permite acompanhamento maior pela sociedade da real cultura brasileira.

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Luiza Mendo

Luíza Dentinho Mendo

lumendo.jornal@gmail.com

Cerca de 67,9 milhões de pessoas têm acesso à internet no Brasil e o número de internautas vem crescendo rapidamente já que a web proporciona novas possibilidades de acesso à informação. A digitalização é uma quebra de paradigmas que a comunicação enfrenta e que afeta também o jornalismo e a atividade dos profissionais desta área, que são obrigados a se tornarem cada vez mais “multitarefas”. Seja para divulgação de trabalhos, estudar ou se entreter, pesquisas de diversos institutos do mundo inteiro apontam que o número de conectados às redes sociais, como Orkut, Facebook, chats entre outras, cresce de forma acelerada, sendo que no Brasil 86% dos internautas utilizam essas ferramentas. A internet é um aglomerado de informações, entretenimento e interatividade. “Algumas pesquisas apontam, que de repente a web é mais uma rede social que outra coisa. Então as pessoas vão procurar noticias filmes e perguntar para os amigos, pra fazer compras usando as redes sociais”, diz o jornalista multimídia André Deak, diretor da Fly Multimídia. Junto com essa tecnologia que está dominando o mundo vêm as mudanças de hábitos dos usuários e a linguagem desses novos meios de comunicação. “Sou uma pessoa que acredita que a tecnologia pode ser utilizada para o bem, que a convergência trouxe uma nova vida”, comenta a pesquisadora de rádio e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Lenize Villaça, que ainda complementa: “A interatividade pressupõe que você tem o emissor e o receptor em contato”. Os jovens utilizam mais a web, devido à facilidade de dominar a linguagem que a internet oferece. Para uma geração acostumada com um papel, jornal e revista, muitas vezes esse campo virtual faz surgir um momento complicado e inseguro. “É evidente que a internet conforme o tempo vai ter mais usuários, não só porque terá vários dispositivos, mas porque essas ‘trakitanas’ digitais permitem interatividade, deixando que o usuário interaja com o conteúdo, seja participando ou produzindo alguma coisa”, ressalta o jornalista, doutor e professor de jornalismo digital Walter Lima Júnior, da Faculdade Casper Libero. O “campo” digital sofre constantes adaptações, pois o dinamismo e a flexibilidade são características especificas da comunicação digital. A instantaniedade e a velocidade não–linear das informações destacam a diferença das outras formas de meios de comunicação. “Penso que os meios, cada vez mais, vão propiciar uma comunicação mais rápida, agora resta saber se isso vai configurar uma comunicação real entre as pessoas”, opina a professora de jornalismo impresso e jornalismo na web da USP (Universidade de São Paulo), Nancy Ramadan. A internet é um veiculo em constante construção que vai muito além da distribuição de informação, não apenas a informação em todos os suportes possíveis, mas conecta as pessoas e permite a comunicação, conecta os aparelhos e os sistemas. “A internet, tudo que ela traz é, no mínimo tão importante quanto a prensa. Eu acredito que é mais, porque a imprensa possibilitou a difusão de informação impressa, mas ainda num circulo restrito de pessoas”,comenta o diretor de produtos on-line do E-band, do grupo Bandeirantes, Ricardo Anderáos.

A um

clique da

informação

Jornalismo se transforma e portais são considerados “velharias” por especialistas

Jornalismo on-line O jornalismo na internet está em constantes transformações. A primeira etapa foi a transposição dos conteúdos do jornal impresso para a web. Logo após surgiu a versão on-line de jornais juntamente com os webdesigners e critérios de edição específicos para web. Agora o jornalismo presencia na terceira transformação a adaptação de se trabalhar com áudio, vídeo e texto num mesmo espaço. As bases primordiais do jornalismo não irão mudar com a internet. Mas as formas de captação vão ser diferentes, a distribuição de informação exigiu mudanças, isso porque o crescimento da interatividade permitirá aproximar mais as pessoas.

Redação/estúdio da Band: Espaços multimídias reúnem jornalistas de diferentes suportes

Com esses avanços da tecnologia, o trabalho do jornalista também enfrenta mudanças. “Antes da internet, havia uma articulação entre reportagem, planejamento gráfico e editor. Hoje eu vejo um processo muito distante, alguém manda a matéria, alguém cuida da imagem, isso não da uma singularidade às vezes, que pode ser legal para uma publicação”, opina Nancy Ramadan. “O sujeito sai na rua, vem com um vídeo, faz um texto para ageência, só que ele já tem o áudio da entrevista, ai já edita isso para o rádio. Então o que cara faz vai para varias mídias e atende varias mídias, é multimídia”, comenta André Deak. O jornalismo digital que se tem hoje oferece vários tipos de informações e um livre acesso de diversos públicos. Então muitas vezes a pratica deixa de ser informativa para ser entretenimento. É o que diz Walter Lima Júnior: “Atualmente até um portal de fofoca tem audiência, isso é porque as pessoas gostam de fofoca, e também tem espaço para que isso aconteça”. Uma maneira prática para facilitar o acesso dos usuários às informações foi a criação dos portais, termo que apareceu como uma referência a “portas” de entrada que as pessoas usam para acessar a internet, através de determinados sites. Mantendo seu modelo tradicional, os portais apareceram como uma metáfora do jornal impresso. No Brasil os primeiros sites jornalísticos foram criados em 1995. Mas foi em 1998 que surgem com a definição de ser um novo momento de diferenciação para o jornalismo, cuja intenção é ser a porta principal de acesso e também orientar a navegação. No Brasil os portais ainda são considerados as principais entradas para divulgar notícias. Segundo pesquisadores de webjornalismo, entretanto, o que existe é uma acomodação, na medida em que estes sites não enfrentam grande concorrência de empresas pequenas, como ocorre nos EUA e em vários outros países. “Isso porque o capitalismo do Brasil é menos radical e o país ainda está em desenvolvimento sustentável”, explica Walter Lima Júnior. Para estes mesmos estudiosos e especialistas em internet o termo “portal” é considerado ultrapassado em relação às tecnologias que se tem hoje. Com as páginas internas se tornando também principais, esse conceito vem mudando e sendo considerado ultrapassado. No resto do mundo não se usam mais portais, isso porque o Google e outros “buscadores” acabam sendo a porta de entrada para outros sites e noticias. “Os portais são os meios tradicionais que migram para a web, uma coisa extremamente enxuta e sintética, num espaço que deveria ser mais aproveitado”, opina a professora Nancy. O objetivo dos portais é funcionarem como um meio multimídia de comunicação. Esse conceito é um roteiro onde as coisas têm que ser complementares. Mas o que acontece são repetições de informações nos diversos meios que a internet integra. “Acham que fazem multimídia só porque põem fotos, vídeos áudios e texto. Mas você vai ver o texto fala a mesma coisa que o vídeo e a mesma coisa que o áudio”, ressalta Walter Lima Júnior. “Acontece que ainda não se tem um entendimento do que se trata o fenômeno pelo qual a sociedade vem passando, não só com a rede, mas a rede faz parte desse fenômeno. Então ainda tem esse pensamento de tentar distribuir esse conteúdo massificado”, afirma o jornalista multimídia André Deak.


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Os desafios da reportagem Arquivo pessoal da repórter

Filmes sobre a imprensa

Helen Saconi, da EPTV ao lado de índios que entrevistou para o Terra da Gente; Vida de repórter exige desprendimento e coragem

Amanda Dantas Silva

amandadantasilva@gmail.com

Camila Viscardi

camila_viscardi@hotmail.com

A essência do jornalismo está na reportagem, que conta histórias, faz denúncias, informa a população e aprofunda a reflexão sobre assuntos de interesse público e que são importantes para as pessoas de todas as camadas sociais.

Na opinião da jornalista Helen Sacconi, repórter da EPTV Campinas, uma boa reportagem precisa conter um assunto relevante, boas entrevistas, uma linguagem clara e trazer informações precisas e imparciais. O que define o gênero, segundo ela, é o fato de ser uma ferramenta fundamental para que o jornalismo possa levar informação de qualidade ao público. Para a repórter Raquel Cozer, do jornal O Estado de S. Paulo, a reportagem é a arte de aprender um pouco sobre tudo. O editor- chefe do Jornal de Limeira, Carlos Chinelatto, por sua vez, destaca a importância do contato entre o jornalista e as fontes de informação. “Toda vez que nós falarmos de jornalismo, nós temos que falar de reportagem. É algo que nunca vai se perder. A reportagem, o contato com o entrevistado é algo sem precedentes”, ressalta. A história recente mostra a importância da reportagem e é repleta de exemplos nos quais a sua realização alterarou o rumo dos acontecimentos. Este é o caso das reportagens feitas pelo jornal Washington Post sobre a invasão do Partido Democrata norte-americano por cinco homens. A investigação dos jornalistas desencadeou o escândalo Watergate e obrigou o presidente republicano Richard Nixon a renunciar à Presidência dos Estados Unidos em 1974. Outra série de reportagens produzidas aqui no Brasil pelo jornalista Vladimir Herzog incomodou a Ditadura Militar e acabou resultando em sua morte. Herzog foi encontrado morto em

Jornalismo de qualidade depende de investigação, inovação e pautas de interesse público outubro de 1975, fato que completa 35 anos e está sendo celebrado por muitas instituições preocupadas com a liberdade de imprensa. O crime contra o jornalista marcou o início do movimento pela democratização do país. O Brasil, infelizmente, tem ainda outros exemplos de reportagens que resultaram em tragédias e que causaram grande comoção, como a morte do jornalista Tim Lopes em 2002. Lopes foi assassinado enquanto fazia uma investigação sobre a exploração de adolescentes e venda de drogas dentro dos bailes funk que aconteciam no complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. Esses exemplos mostram o poder que os jornalistas têm nas mãos. Os repórteres juntamente com os meios de comunicação possuem o domínio das informações. Através deles e do que eles produzem as pessoas se mantém informadas, formulam suas opiniões e tomam suas decisões. A jornalista Cristina Cristiano, do Diário de São Paulo, diz a este respeito que o jornalista é a “tábua de salvação” dos mais simples e humildes e uma “ameaça” para as pessoas que têm poder. “Porque você pode denunciar algum problema, alguma coisa que eles fizeram, uma fraude”, comenta. Em contrapartida, o experiente jornalista Heródoto Barbeiro alerta para os riscos de tanto poder. Ele afirma que as pessoas devem ver o profissional com desconfiança. “O jornalista

deve ser visto sob suspeita e a sociedade deve fiscalizar para saber se ele tem competência ou não”, afirma. Para ser um bom jornalista, segundo Cristina, os repórteres precisam sentir vontade de ajudar os outros e devem manter sempre o prazer pela novidade. “Os jornalistas não podem perder a capacidade de se surpreender com as coisas”, ressalta. Além disso, ela defende que jornalismo correto é aquele que investiga tudo e desconfia de todos até o final. Já Chinelatto diz que um bom jornalista é aquele que exerce de forma ética a profissão e busca sempre algo que vá favorecer a sociedade. Por sua vez, o repórter César Dassiê, da Rede Globo, afirma que jornalista deve ser essencialmente aquele que conta as histórias dos outros. Além desta dimensão do poder, o jornalismo ainda é visto por muitos com certo glamour. Pessoas acreditam que repórteres são “astros da TV” e que o trabalho que exercem é fácil. Porém, a maioria não sabe os riscos e obstáculos que os profissionais precisam superar. Cada área tem sua particularidade e dificuldade. No campo da política, por exemplo, Chinelatto diz que políticos desmentem o que o jornalista escreve. “Eles contradizem a todo o momento o que é escrito, alegando que não falaram isso e nem aquilo.” Cristina Cristiano também fala das dificuldades na área de polícia, nas quais além da necessidade de freqüentar lugares com pouca segurança, é preciso cuidado com as assessorias de imprensa, que muitas vezes omitem informações. Como exemplo ela cita a Secretaria da Segurança Pública que não deixa o jornalista ter acesso aos dados parciais, só libera as informações oficiais dos fatos que registra. E o jornalismo enfrenta também obstáculos de cunho emocional, pois em muitas situações o jornalista testemunha tragédias, o sofrimento e a alegria das pessoas. O repórter Dassiê relata ter presenciado um parto em que o bebê não sobreviveu e diz que o episódio até hoje está vivo em sua memória.

Capote (2005)

Todos os homens do presidente (1976)

O repórter Truman Capote se interessa pelo crime contra a família Clutters, ocorrido na pequena cidade de Holcomb, no estado do Kansas, EUA. Vai para o local a fim de provar que uma história real – em boas mãos – pode ser tão emocionante quanto a ficção. O filme tem direção de Bennett Miller, e traz no elenco Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener e Clifton Collins Jr.

O jornal norte-americano Washington Post investiga a invasão da sede do Partido Democrata americano. A busca por informações desencadeia o escândalo Watergate - que teve como conseqüência a queda do presidente norte-americano Richard Nixon. Baseado em fatos reais, tem direção de Alan J. Pakula, e traz no elenco nomes como os de Dustin Hoffman, Robert Redford e Martin Balsam.

O Informante (1999)

O custo da coragem (2003)

Episódio protagonizado pela indústria do tabaco e pela rede de televisão americana CBS. Ex-diretor de uma das indústrias envolvidas dá entrevista para a emissora e faz revelações “bombásticas” que a CBS deixa de transmitir por medo que a denúncia provoque corte na publicidade e prejuízos para a emissora. O filme é baseado em fatos reais, tem direção de Michael Mann e traz no elenco Al Pacino, Russell Crowe e Chistopher Plummer.

A jornalista irlandesa Veronica Guerin investiga o mundo das drogas na capital do seu país. Mesmo sendo agredida e tendo sua casa invadida, não se intimida e vai até o fim com as suas denúncias. É assassinada dois dias antes de dar uma palestra sobre os riscos de ser jornalista. Também baseado em fatos reais, o filme tem direção de Joel Schumacher, e traz no elenco Cate Blanchett, Colin Farrell e Don Wycherley.

Profissão repórter revela ‘bastidores’ da notícia Exibido atualmente pela Rede Globo de televisão o programa Profissão Repórter inova na forma de mostrar e fazer jornalismo. Transmitido semanalmente às terças-feiras, a produção tem como características a reportagem documentário ou especial. O gênero permite que cada tema seja produzido através da investigação de ângulos distintos sobre o assunto. A proposta é oposta ao que ocorre na grande maioria dos telejornais diários, nos quais as informações são apenas repassadas à população. Enquanto uma reportagem do Jornal Nacional é exibida em um ou dois minutos a do Profissão Repórter tem duração de 25 a 30 minutos. O programa também mostra ao público os bastidores das produções, os obstáculos enfrentados e os sentimentos dos jornalistas. A equipe de profissionais responsáveis pelo Profissão é formada pelo jornalista Caco Barcellos e por jovens que muitas vezes não possuem ainda experiência na área. Os temas são diversificados e podem variar de tragédias, ações factuais,

problemas sociais ou aspectos pitorescos ligados ao dia a dia das pessoas. O programa acumula prêmios desde que é exibido, entre os quais o Troféu Imprensa em 2009 e 2010 como melhor programa jornalístico. O motivo do sucesso, na opinião de Caco Barcelos, está no modo como é construído. “A gente mostra os bastidores, porque eu acredito que isso aumenta a confiança do telespectador de que estamos falando a verdade. Porque quando a gente esconde o que faz, e como faz, e a maioria esconde, a gente passa a impressão de que nós somos donos da verdade, que a gente não tem dúvida, que a gente não erra, que a gente não vacila, que a gente não falha”, explica. A jornalista Júlia Bandeira, produtora do Profissão Repórter, afirma que o programa tem como objetivo mostrar que as matérias não aparecem por acaso, que tem produção, trabalho, investigação. Para a repórter Marina Novaes, do portal de notícias R-7, da Rede Record, mais programas como o Pro-

fissão Repórter deveriam ser criados. “O programa mostra muito bem que jornalismo não é fácil. Ao mostrar os bastidores da notícia eles dão ao público uma noção mais verdadeira de como uma reportagem é produzida”, comenta. Mas, pelo fato de deixar transparecer em suas produções o sentimento do jornalista, também recebe críticas, como a da jornalista e professora de telejornalismo da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo) Heidy Vargas. “O programa coloca o repórter em primeiro lugar deixando a notícia em segundo plano e isso não é modelo de jornalismo ideal”, afirma. O diretor da TV USP, Pedro Ortiz, se manifesta na mesma linha e diz que o programa dá mais status para o jornalista do que para a informação.

Caco Barcelos lidera equipe de repórteres e mostra os caminhos da produção jornalística

Karla Camargo


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Um mundo de

notícias

O papel do correspondente, as dificuldades e as grandes coberturas

são feitas por agências de notícias, que existem há quase 200 anos e cumprem um papel importantíssimo. É impossível ter uma cobertura de alguns lugares do mundo se não recorrer a este meio. Nenhum veículo de comunicação é capaz de manter um correspondente em cada país do mundo”, avalia. Apesar de serem consideradas boas fontes de informação, na opinião do editor do caderno internacional do Jornal da Tarde, José Leite, as agências devem ser usadas com moderação. O conteúdo deve ser dosado e mesclado com as informações trazidas pelos correspondentes.

Carla Bovolin

carlabovolini@yahoo.com.br

Daniane Gambaroto

dgambaroto@yahoo.com.br

A atividade jornalística que acontece além das fronteiras de um país é, em essência, jornalismo. A única diferença é que o profissional se volta a temas internacionais. Nesse contexto, o papel do jornalista é o de produzir e levar notícias sobre fatos que acontecem fora do país e que sejam de interesse do leitor. Os correspondentes internacionais de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão são profissionais que vivem ou são enviados para outro país, com a difícil missão de produzir notícias sobre o local que tenham interesse público. E há duas situações principais nesta área, a do profissional que se estabelece no país em que atua como correspondente, e a do profissional enviado, mais comum para eventos que envolvem o acompanhamento de tragédias naturais, conflitos e outros eventos inesperados. Pesquisadores defendem que a situação ideal é a do correspondente, por que ela permite ao profissional se ambientar e conhecer melhor a realidade. “Nem sempre há um mega acontecimento para relatar, e é preciso ser um repórter do cotidiano do país. Quando há um correspondente, ele vai entendendo a cultura local, está próximo da realidade”, comenta o pesquisador de Jornalismo Internacional Alexandre Barbosa. A imprensa brasileira possui tradição neste campo. Repórteres consagrados como Flávio Fachel, Carlos Dorneles e José Hamilton Ribeiro têm em comum as experiências internacionais e defendem a importância do seu trabalho. Fachel, jornalista da Rede Globo internacional, está em Nova York desde o início do ano, e explica que o correspondente é fundamental para manter o “olhar brasileiro” sobre os acontecimentos que presencia. Uma de suas experiências mais marcantes foi a de ter feito a cobertura da erupção do vulcão na Islândia em abril deste ano. “Lá, estávamos apenas eu e o cinegrafista, em um país com língua diferente, e com a obrigação de enviar material para todos os jornais brasileiros. Isso tudo sem contar a impressionante realidade no local: um vulcão jogando uma nuvem negra sobre parte da Europa, cobrindo de cinzas os povoados pobres ao pé da montanha. Sobrevoamos a boca do vulcão e andamos entre as cinzas, para tentar passar ao telespectador do Brasil um pouco da sensação do que estávamos presenciando”, relembra. Episódios de guerra também marcam a vida de muitos jornalistas, entre eles Carlos Dorneles. “Um fato inesquecível foi a invasão do Iraque em 1991. Eu era correspondente em Nova York, e quando me chamaram para fazer esta cobertura eu estava em Israel. Muitos jornalista da redação onde eu trabalhava se recusaram a ir, achavam que ia ter guerra nuclear, guerra química. Eu trabalhava o dia todo para abastecer todos os jornais da Rede Globo. Fiquei sem dormir durante três dias, pois encerrava minhas atividades a uma da manhã e os bombardeios começavam às duas. Não chegou a ser uma mortandade, mas foi uma coisa horrorosa”, conta. O que dificulta e reduz a presença destes profissionais ‘in loco’ é o custo. O trabalho do correspondente exige gastos elevados, como explica o editorialista do jornal O Estado de S.Paulo, Robert Appy. “É um ponto que parece muito mesquinho, mas que é fundamental: o jornalista precisa viajar, precisa freqüentar meios que lhe proporcionem encontrar pessoas

Arquivo pessoal

influentes. Tudo isso representa despesas que nem todos os jornais estão dispostos a pagar.” A falta do correspondente pode ser suprida pelas agências de notícias que deram viabilidade econômica aos veículos que precisam de informações internacionais. É incomparavelmente mais barato adquirir os serviços de uma agência, que fornece material 24 horas por dia, vende as imagens e os textos prontos, do que manter correspondentes. Carlos Eduardo Lins da Silva, que atuou como correspondente da Folha de S. Paulo em Washington de 1988 a 1991, admite a necessidade e mesmo a contribuição do trabalho realizado pelas agências. “Excelentes reportagens

Fachel, da Globo, usa telefone via satélite para enviar informações do meio da floresta

Tecnologia Na atualidade, o trabalho do correspondente internacional se beneficia das novas tecnologias, que agregaram rapidez e ampliaram o leque de informações que chegam de todas as partes do mundo. Mas, a situação já foi muito diferente, como relata o jornalista francês Robert Appy, que veio para o Brasil em 1953, com a missão de ser correspondente para dois jornais franceses. “Naquela época, o Brasil não era notícia e havia poucos correspondentes internacionais, principalmente pela dificuldade em transmitir a informação para o país de origem. As laudas transcritas através de máquinas de escrever viajavam de navio durante 12 dias, até chegarem ao velho continente.” Até a década de 1980 a situação não era muito diferente, segundo o então editor da Rede Globo Internacional em Washington, Geraldo Baptista. “As ferramentas que foram criadas pela informática são maravilhosas. Você senta no computador e edita sua matéria se quiser. Antigamente os conhecimentos técnicos eram restritos.” Para Lins da Silva, as novas ferramentas tecnológicas podem ajudar ou atrapalhar dependendo do bom senso e do conhecimento que o jornalista tem sobre determinados assuntos. “Os instrumentos não definem a qualidade do trabalho”, enfatiza.

Sobrevivente:

Na guerra a primeira vítima é a verdade José Hamilton Ribeiro, que atualmente é editor e repórter do programa Globo Rural, foi o primeiro jornalista brasileiro enviado para uma cobertura de guerra, em 1968. Na ocasião, Ribeiro era repórter da revista Realidade. Em seu último dia no Vietnã, após pisar em uma mina terrestre teve sua perna esquerda amputada, Thiane Mendieta

Ribeiro: “bomba atingiu várias partes do meu corpo”

e conta que neste momento passou por três medos.. “O primeiro medo foi o de morrer, como a bomba atingiu várias partes do meu corpo, principalmente a perna esquerda, vendo aquela poça de sangue se formar, você imediatamente raciocina que dentro de alguns minutos todo seu sangue sai do corpo e você vai morrer de inanição, que afinal foi superado assim que fui socorrido e levado para o hospital. Então veio o segundo medo, que era de me tornar uma pessoa incapaz fisicamente, e que não tivesse condições de ganhar a vida com meu trabalho. Se você não tem uma perna será que você vai poder ser repórter? Eu lutei contra este medo desde que eu tive um nível de liberdade mental no hospital do Vietnã. O terceiro medo foi um pouco posterior, foi o de que eu fosse carimbado como repórter que fez uma reportagem só.” José Hamilton é referencia quando se fala nesta área do jornalismo internacional, e comenta que na guerra o jornalismo é muito prejudicado, sendo a verdade a primeira vítima. “A guerra é feita de mentira, o jogo político em torno da guerra é manipulação. No Vietnã foi atípico e talvez tenha sido a mais bem coberta guerra da história da imprensa. A parcialidade no jornalismo de guerra existe.”

Reprodução

Experiência de Hamilton é relatada no livro “O gosto da guerra”


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MediaOn

Internet abre possibilidades infinitas para o jornalismo on-line, avaliam profissionais Wanderley Garcia * Se alguém queria receita, saiu frustrado do MediaOn (4º Seminário Internacional de Jornalismo On Line), realizado em São Paulo, de 9 a 11 de novembro. As possibilidades abertas pela internet parecem infinitas e não há um modelo que possa ser visto como o que terá sucesso no futuro. “É preciso explorar os nichos de mercado. Há espaço para o ecossistema de mídias, mas precisamos ver qual é a nossa vocação. Se queremos ser um USA Today ou um The New York Times”, disse, o diretor de infografia e multimídia da revista Época Alberto Cairo, referindo-se a dois jornais norte-americanos, o primeiro conhecido por notícias curtas e o segundo por coberturas aprofundadas. Por trabalhar em uma revista semanal, Cairo aposta que a internet permite um aprofundamento que nem mesmo o papel garante. A possibilidade de acrescentar conteúdos indefinidamente, utilizando ferramentas interativas confere à internet a possibilidade de ir além do papel. Ao expor sobre a produção de conteúdos jornalísticos para equipamentos portáteis como tablets e smart phones, Cairo disse que há três modelos: a transposição do conteúdo do material impresso, a utilização de ferramentas interativas e a junção das duas formas. “Mas pode aparecer uma quarta possibilidade que ninguém pensou ainda”, afirmou. Mas a aposta na cobertura aprofundada pode ser o caminho para o jornalismo impres-

Cobertura do MediaOn usa redes sociais e interatividade como base

so, em contraponto à internet. É o que acredita Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado. Para Gandour, somente o trabalho de edição planejada ao longo do dia, após o resultado de uma apuração dedicada, é capaz de oferecer ao leitor um conteúdo mais acabado e pensado para compreender melhor a realidade. Pelo lado do conteúdo eletrônico, o gerente de Serviços Digitais do grupo argentino

Clarín, Pablo Mancini, acredita nas bolhas de tempo, ou seja, pequenos períodos ao longo do dia que o cidadão tem disponíveis para consumir informação. Ao contrário do leitor tradicional de jornais impressos, o novo leitor utilizará dispositivos móveis como celulares e tablets para ler conteúdos enquanto se locomove e entre uma atividade e outra. Desta forma, os conteúdos para estes equipamentos devem ser

Unimep amplia produção multimidia O curso de Jornalismo da Unimep inicia novo currículo em 2011 e uma das ênfases será o jornalismo voltado à internet. A nova matriz inclui disciplinas como Jornalismo on-line e redes sociais, Jornalismo na Internet e Reportagem miltimídia, que vão permitir explorar todas as possibilidades de produção e distribuição de conteúdos em formatos digitais e em rede.

A proposta prevê também uma ampliação dos espaços voltados à produção de conteúdo em vídeo e áudio, o que permitirá aos estudantes experimentarem a construção de narrativas multimídias, ou seja, que integrem texto, fotografia e audiovisual. Estas disciplinas, principalmente no campo do telejornalismo, também possibilitarão uma aproximação e diálogo permanente com os

espaços da TV Unimep. O novo currículo também responde às proposições que vêm sendo discutidas pelo Conselho Nacional de Educação, que avalia novas diretrizes curriculares para o ensino do jornalismo no país. Entre as indicações está o aprofundamento da reflexão teórica sobre o papel social do jornalismo na sociedade contemporânea. (PRB)

Faculdade de Comunicação define novos cursos de especialização Ana Maria Cordenonsi * A sociedade contemporânea experimenta novas transformações provocadas pela evolução tecnológica e pela globalização, que passaram a exigir a formação cosmopolita do cidadão. Os impactos são visíveis em todos os campos, e em especial na comunicação. Neste sentido, aperfeiçoar o que já se sabe pela prática ou pela formação teórica torna-se indispensável para quem quer ingressar ou se manter na atividade profissional nesta área. Assim, a Facom (Faculdade de Comunicação) da Unimep há dois anos implantou o curso de especialização em Jornalismo Contemporâneo para debater o jornalismo neste final de década. Com duas turmas formadas, o Curso, que produziu trabalhos excelentes, cumpriu plenamente a proposta de ser o embrião de novas possibilidades de especialização sem, contudo, excluir a oportunidade de voltar a ser oferecido em outro momento. Como segunda etapa, a Facom lança para o próximo ano três novos cursos: o de Comunicação Corporativa para

os profissionais da área de Publicidade e Propaganda, com o objetivo capacitar o profissional de comunicação para empresas de pequeno, médio e grande porte, organizações nãogovernamentais e instituições públicas no relacionamento com os públicos que interagem com a organização (público interno, externo, fornecedores e comunidade). O Curso de Jornalismo Multimídia vem com a proposta de aprimorar as discussões sobre a nova mudança de paradigma no campo da Comunicação que as tecnologias digitais provocaram. Pretende preencher este espaço, apresentar e debater estas transformações e apontar para onde caminham os meios de comunicação de massa ou em rede. Mais que isso, aspira preparar profissionais para enfrentar os desafios que um futuro em constante mutação nos colocará. O terceiro curso é o de Assessoria de Imprensa que visa a aprimorar um dos campos mais profícuos de atuação do jornalista e que passou a exigir cada vez mais profissionalismo. Assim, é imprescindível dominar a

construção da lógica discursiva nas estruturas de produção de bens simbólicos para combinar os conhecimentos da esfera organizacional com os específicos da esfera midiática. Mesmo porque o jornalismo passou a ser a forma mais eficiente de interferir na realidade. Vale ressaltar que os três cursos estão amparados nos respectivos Projetos Pedagógicos que garantiram à Unimep a tradição em educação superior no campo da Comunicação. Mas o mais importante é que são cursos que pretendem, além de qualificar o profissional para atuar em um mercado globalizado cada vez mais competitivo e tecnológico, também estimular nestes profissionais a reflexão sobre o seu papel de assegurar ao cidadão o direito à informação, conforme preconiza a Constituição Federal. * Ana Maria Cordenonssi é graduada em Jornalismo e doutora em Comunicação Social. É professora do curso de graduação em Jornalismo e coordenadora dos cursos de especialização em Jornalismo Contemporâneo e Assessoria de Imprensa da Unimep

curtos e permitir leitura rápida. O aprofundamento caberia a outras mídias. Mas as narrativas não devem ser feitas somente a partir do texto escrito. Para o editor de conteúdo interativo do The New York Times, Aron Pilhofer, conteúdos interativos, como a

infografia, oferecem mais ao leitor que o texto jornalístico tradicional. Enquanto o texto traz somente aquilo que o jornalista julgou relevante, o conteúdo interativo pode ter muito mais informação, que é filtrada pelo leitor de acordo com seus interesses.

Eleições Não só o conteúdo, mas a relação com o público também está sofrendo grandes alterações. As eleições deste ano demonstraram a força que as mídias sociais estão adquirindo. “Nós só tivemos segundo turno no Brasil devido à internet”, declarou o jornalista Caio Túlio Costa, coordenou a campanha de Marina Silva na internet. Segundo ele, nos últimos dias da campanha no primeiro turno uma onda na internet permitiu o crescimento da candidata verde, o que impediu a vitória antecipada de Dilma Rousseff. Já o coordenador de mídias sociais da pestista, Marcelo Branco, demonstrou a estratégia da campanha para ganhar votos por meio da internet. No período de pré-campanha, Branco e sua equipe realizaram a ‘caravana digital’ e percorreram todo o Brasil em busca de pessoas influentes na internet que apoiavam sua candidata. A partir do envolvimento destas pessoas, a campanha passou a alimentar as redes sociais com notícias e temas favoráveis a Dilma. A rede de apoiadores disseminava as informações em espaços como Facebook, Orkut e Twitter. A estratégia foi usada até o dia da votação que elegeu a primeira mulher presidente do Brasil. * Wanderley Garcia é jornalista, mestre em Ciências da Informação e professor de jornalismo on-line e redes sociais da Unimep


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12 Thiane Mendieta

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Quem não sonhou ser um jornalista esportivo? Roberval Capreci

Gislaine Bettin, Nathália Ravara, Clayton Padovan, Amanda Sabino e Gustavo Antoniassi

YouTube: uma Revolução Com o avanço da tecnologia o jornalismo tem incorporado diversos novos meios, que vão surgindo em paralelo ao universo tecnológico. E tem que ser desta forma, uma vez que ele se propõe a ser o reflexo da sociedade, ou, ao menos, se aproximar desse objetivo. No telejornalismo essa incorporação é muito mais constante com a chegada da internet e a possibilidade de interação entre emissor e receptor ser muito maior. O YouTube surge como uma forma de fazer essa interação e consegue disponibilizar aos telespectadores conteúdo a

que muitos não teriam acesso. Sendo assim, essa nova forma de consumir informação, por meio do YouTube, sem a necessidade da instantaneidade, é um fenômeno e também uma forma de democratizar o acesso a algo que antes era impensável. Sem dúvida, o YouTube veio para ficar, querendo as emissoras ou não, e terá também um papel mais importante que é o de dar uma previa de como a televisão tem que ficar para não perder mais expectadores para a internet. Isso é só o começo de uma grande mudança. (Clayton Padovan) Pâmela Noronha

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Daniane Gambaroto, Milena Barros, Thiane Mendieta e Carla Bovolini

íntegro nas diversas partes do mundo. É preciso apurar qualquer informação, sempre, esteja onde estiver o jornalista, a verdade deve prevalecer. A pouca bibliografia a respeito da prática deste tipo de jornalismo nos fez enxergar que apesar de mais de 200 anos de história de imprensa, o Brasil precisa ainda escrever a história de seus bravos correspondentes internacionais, que dedicaram grande parte de sua vida pela profissão e correram riscos para mostrar a realidade de guerras, catástrofes, crises econômicas e revoluções. (Carla Bovolini e Daniane Gambaroto)

Rafaela Barboza, Mayara Veiga, Evelim Covre, Fernanda Zanetti, Leonardo Moniz Ribeiro, Kaleo Alves e Mônica Camolesi

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Jornalismo digital e suas mudanças O comportamento do jornalismo on-line no Brasil no que se refere aos portais de informação nos leva a refletir no que a tecnologia atinge o ser humano. Os portais de notícias só têm força ainda no Brasil devido à educação do país, por termos uma grande quantidade de analfabetos e pessoas com baixa instrução. Acredito que eles devem perder a força com o tempo, como já vem perdendo ao longo dos anos, mas que devem permanecer. Ao mesmo tempo, os portais são ferramentas que facilitam a distribuição de informações, em um momento em que o jornalismo tem que estar pronto a pro-

duzir noticia para qualquer um desses suportes. A web é um campo muito amplo, onde circulam vários tipos de informação. Isso de alguma forma impossibilita ao jornalismo manter suas bases primordiais de credibilidade, ou seja, a circulação livre de informações prejudica o jornalismo digital, já que qualquer pessoa pode postar as notícias que bem entender. Outro ponto negativo é que o jornalismo digital que se tem hoje oferece vários tipos de informações e um livre acesso de diversos públicos. Então muitas vezes a prática deixa de ser informativa para ser de entretenimento. (Luiza Mendo) Antonio Diego de Oliveira

Sagae Formaturas

Amanda Dantas Silva, Camila Tavares, Samanta Marçal, Camila Viscardi, Renan Bortoletto, Dainelle Moura, Alinne Schmidt e Larissa Zazirskas

Luan Antunes, Iuri Botão, Rafaela Ometto, Mayara Cristofoletti, João Lopes, Ligia Paloni e Thomaz Fernandes

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17 anos: um novo jovem Quem nasce hoje nas metrópoles brasileiras poderá ver no ápice de sua juventude o fim do jornal impresso. Estudo recente do grupo Future Exploration afirma veemente que os jornais têm data certa para acabar nos grandes centros urbanos do Brasil: 2027. 17 anos de amargura? Se o jornal da próxima década quebrar cabeça como o de hoje, certamente a juventude não perceberá sua saída de cena. É a petulância viva de não dar bola ao consenso forte entre especialistas de que com a entrada da internet, para sobreviver, o impresso deve ser mais analítico

e discursivo do que apenas informativo. Esse consenso é mais claro nos grandes centros, onde belas-artes, política, economia e comportamento são discutidos com maior envolvimento do cidadão, que quer escutar diferentes opiniões e análises, mas no impresso só encontra o factual. Para que o jovem de hoje seja o consumidor adulto de 2027, derrubando qualquer projeção de morte, o impresso precisa se levantar e participar da formação social, política e cultural dessa geração. Informar por informar não dá mais. (Luan Antunes) Karla Camargo

Soraya Defavari, Raphaela Spolidoro, Mariana Blanco, Natali Carvalho, Luiza Mendo e Stephanie Tomazin

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Profissão Repórter humaniza o jornalismo Página 9

vez mais importante em um país que têm o esporte como principal paixão e maior meio de fuga da violenta, corrupta e bárbara rotina da sociedade. A rotina neste campo é corrida, cansativa e com pouco tempo para a família, e pior ainda nos finais de semana, pois o lazer das pessoas é o trabalho do jornalista esportivo. Como em outras editorias do jornalismo, questões centrais definem a qualidade do trabalho, entre as quais a isenção, a objetividade e a imparcialidade. Além disto, a formação teórica é extremamente importante, mas a paixão pelo esporte é indispensável. (Kaleo Alves) Karla Camargo

O mundo como notícia As experiências internacionais de renomados jornalistas nos mostraram um mundo novo sobre o que é ser correspondente internacional em tempo de globalização e tecnologia. Indicaram também qual o verdadeiro papel do jornalismo para quem está do outro lado do globo e precisa transformar a informação para a realidade brasileira. A impressão do glamour de se viver nas grandes metrópoles como Nova York, por exemplo, foram convertidas para a realidade de um jornalismo que é igualmente praticado por qualquer profissional

Trabalhar com o amor das pessoas. Essa foi a frase mais ouvida durante a produção de reportagem sobre jornalismo esportivo para esta edição do Ponto Final. Mas como lidar com essa paixão sem esbarrar em paradigmas antigos do jornalismo, como o tema da isenção de opinião, tão discutido em livros e tão pouco presente no dia a dia, seja pela quantidade de filtros por onde passa a informação ou pela pura impossibilidade de ser isento, quando o assunto é esporte. A produção proporcionou uma experiência sem igual de conhecimento de uma área cada

O Profissão Repórter, exibido pela Rede Globo de televisão e criado pelo jornalista Caco Barcellos, vem ganhando destaque nos últimos anos ao conquistar prêmios e audiência. A produção que no início se limitava a um quadro do Fantástico foi transformada em programa, teve o seu tempo ampliado e hoje contribui para repercutir semanalmente temas de interesse social. Barcellos e sua equipe apostaram na idéia de mostrar os bastidores e os sentimentos dos jornalistas, o que ajuda a construir a imagem de um repórter mais humano e

próximo da sociedade. Ao mostrar o que os jornalistas fazem por trás das câmeras, o Profissão expõe para a população os desafios de ser repórter, revela que o profissional da comunicação tem obstáculos a superar e está sujeito a erros como todas as outras pessoas. O telespectador acompanha cada passo do jornalista na preparação das reportagens, desde a escolha das fontes até a última imagem e com isso se desconstrói a imagem muitas vezes repetida de que o jornalista sempre está com a razão. (Amanda Dantas Silva e Camila Viscardi)

Zamir De Bellis Junior, Vanessa Haas, Patrícia Elias, Camila Gusmão, Aline Joaquim, Mayara Banow, Ângela Silva

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O diferente pode se tornar igual? Ao contrário de outras redes sociais que visam apenas promover a imagem e a vida social dos usuários, fato simbolizado pelas postagens de fotos, o Twitter foi direcionado pelo seu público e tornou-se espaço para informações, tanto universais quanto pessoais. Seu público é composto por personalidades, blogueiros, jornalistas, artistas e estudantes universitários, pessoas que em geral buscam obter novas informações, se atualizarem constantemente. São usuários diferenciados, uma vez que formam uma espécie de massa crítica. Porém, o Twitter também corre um risco: o de tornar as

pessoas sintéticas no que dizem ou fazem, ao resumirem a informação em apenas 140 caracteres ou em um link. Para que isso não aconteça é preciso que as pessoas busquem espaços complementares de informação, não se restringindo ao Twitter. O microblog deve ser visto como uma ferramenta em que cada tweet possa levar à notícia mais completa. Outra questão é o uso do Twitter por jornalistas, e neste campo há muito por fazer. É importante explorar o microblog em todas as suas potencialidades, fazendo dele não só um meio de difusão, mas também de interação com o leitor. (Patrícia Elias da Silva)


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