ças de cor e origem, da escravidão dos ancestrais, dentre vários outros aspectos. Tampouco se abordava a luta dos(as) afrodescendentes contra o preconceito e a discriminação social. O próprio fim da escravidão era historicamente ensinado como resultado da benevolência dos(as) brancos(as). Uma das importantes conquistas dos movimentos afro-brasileiros foi a Lei n. 10 639, de 2003, que instituiu na rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Em 2008, essa lei foi alterada pela de n. 11 645, que acrescentou o ensino da história indígena, ficando a temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no ensino básico. Essa conquista contribuiu para uma revisão e ressignificação da participação de africanos(as) e afrodescendentes no passado e no presente do Brasil. Assim, pudemos criar ou recriar o ensino dessa temática e enfim transformar as representações sociais dos(as) afrodescendentes encontradas nos materiais didáticos. Os livros didáticos – que nós autores brasileiros produzimos – passaram, assim como outros setores da sociedade, a refletir essa preocupação e a representar os(as) afrodescendentes em situações diversificadas. Hoje, como afirma Ana Célia da Silva, esse grupo aparece com: status econômico de classe média, com constelação familiar, crianças praticando atividade de lazer, em interação com crianças de outras [...] etnias, com nome próprio, sem aspecto caricatural, frequentando escola, adultos negros exercendo funções e papéis diversificados, descritos como cidadãos, interagindo com pessoas de outras etnias sem subalternalidade, etc.16.
Esta coleção busca contribuir para essas reformulações, resgatando em vários momentos e de diversas formas a história e a cultura dos afro-brasileiros e a história da África. Para que isso se efetive, reforçamos a necessidade de direcionar o olhar dos(as) alunos(as), a fim de que percebam que esses grupos humanos têm uma história que vai além da escravidão, da pobreza ou da submissão. É de extrema importância dedicar atenção especial aos fatos e processos históricos que apresentam os povos africanos e seus descendentes em
situações políticas, econômicas e sociais diversas. Procuramos desenvolver vários trabalhos nesse sentido, mas achamos importante reforçar, sempre que possível, aspectos que muitas vezes passam despercebidos como: os primeiros seres humanos surgiram no continente africano. Na Antiguidade, um dos reinos mais poderosos, criativos e opulentos se desenvolveu na África: o Egito. E existiram várias outras sociedades africanas ricas e poderosas, como a cidade-Estado Cartago, a civilização Nok, o Reino Kush e o de Axum, entre outros. Fizemos um grande esforço para destacar a diversidade de povos presentes na África e as experiências históricas e culturais variadas, distintas e ricas dos(as) africanos(as). Buscamos, igualmente, enfatizar a participação dos(as) africanos(as) e afrodescendentes na construção da sociedade brasileira, por meio de textos, imagens e atividades. Procuramos apresentar os(as) africanos(as) e afrodescendentes como sujeitos históricos que, ao longo dos séculos, ocuparam espaços variados na economia, na política e na cultura brasileira. Capítulos exclusivos, com informações, textos e imagens variadas, buscam demonstrar o quanto nossa cultura é marcada pela cultura africana. Discutem também a importância de refletirmos sobre esse legado e, paralelamente, sobre as formas de preconceito e exclusão social que ainda persistem em nossa sociedade. Esperamos assim contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e plural, que conceba um novo lugar social e político para os afrodescendentes, ajudando a acabar com preconceitos e práticas racistas, a construir uma verdadeira democracia, fundada no respeito à diversidade étnica e cultural da sociedade brasileira.
A história dos povos indígenas A problemática dos povos indígenas diz respeito a todos. Seu estudo nos permite pensar e discutir questões essenciais ao mundo contemporâneo e novas perspectivas para o Brasil. Um dos temas que podem ser abordados, tomando-se por base a história e a cultura dos povos indígenas, é o da pluralidade cultural do nosso país.
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SILVA, Ana Célia da. Por uma representação social do negro mais próxima e familiar. In: BARBOSA, Lucia Maria de Assunção; GONÇALVES E SILVA, Petronilha Beatriz; SILVÉRIO, Valter Roberto (Org.). De preto a afrodescendente: trajetos de pesquisa sobre o negro, cultura negra e relações étnico-raciais no Brasil. São Paulo: Edufscar, 2003. p. 151. Manual do Professor
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