A Violência Psicológica Intrafamiliar

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significações secundárias misteriosas e metapsicológicas. O papel, no entanto, pode ser definido como a menor unidade de uma cultura” (MORENO, 1974, p. 57). Segundo Moreno (1978), o papel é anterior à linguagem e ao próprio ego. É o ego que emerge dos papéis e também é modificado por estes. “Os papéis são os embriões, os precursores do eu, e esforçam-se por unificar e agrupar” (MORENO, 1978, p. 25). Os primeiros papéis a aparecerem são os fisiológicos ou psicossomáticos. Estes papéis fisiológicos como comer, dormir, sonhar, etc., integram-se formando uma unidade, ajudando “[...] a criança pequena a experimentar aquilo a que chamamos ‘corpo’” (MORENO, 1978, p. 26). Continuando o desenvolvimento infantil, os papéis psicológicos ou psicodramáticos vão se agrupando e formam uma espécie de eu psicodramático. Os papéis psicodramáticos emergem quando a criança tem condições de compreender o que é produção imaginária e o que é realidade, ajudando a criança “[...] a experimentar o que designamos por ‘psique’” (MORENO, 1978, p. 26). Finalmente, o mesmo acontece com os papéis sociais, formando uma espécie de eu social, que operam predominantemente a função de realidade. Apoiam-se nos papéis psicossomáticos e psicodramáticos como formas anteriores de experiência, ajudando a criança a experimentar “[...] o que denominamos ‘sociedade’” (MORENO, 1978, p. 26). Corpo, psique e sociedade são, portanto, para Moreno, as partes intermediárias do eu total. Na concepção do autor, ao nascer o bebê vivencia um universo indiferenciado, sendo a matriz da identidade o lócus de onde surgem os papéis e o eu. A matriz da identidade é a “placenta social” da criança e dissolve-se gradualmente à medida que a criança vai ganhando autonomia. Moreno (1978) divide o desenvolvimento infantil em dois universos. O primeiro universo que se estende por até por volta dos três anos de idade possui duas fases: a primeira é a fase da matriz indiferenciada ou “período de identidade” em que ocorre uma identidade indiferenciada entre o eu e o tu; a segunda é a fase da identidade total diferenciada na qual ocorre o reconhecimento do eu, de sua singularidade como pessoa. Nesse período, objetos, animais, pessoas e a própria criança passam a diferenciar-se, porém, não existe ainda uma diferença efetiva entre real e imaginado, animado e inanimado, aparência e coisas reais. O primeiro universo termina, começando o segundo universo, quando a experiência infantil de um mundo em que tudo é considerado real se decompõe em fantasia e realidade, aparecendo os “papéis psicodramáticos” (fantasia) e os “papéis


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