Encarte
CULTURAL
AGOSTO de 2017 ED. 118
Lado A
Este encarte é parte do Jornal do SITRAEMG, e não deve ser distribuído separadamente.
ARTE DA PALAVRA
Burro com sorte! Por Daniel Tofani Carvalho filiado da Justiça Federal de BH DIZ A LENDA que um técnico famoso do futebol brasileiro, que
dirigia o Criciúma, clube de Santa Catarina, viveu uma situação inusitada há alguns anos. Em todos os jogos do time, um torcedor fanático do Criciúma, metido a entendido, ficava no alambrado, bem atrás do banco de reservas, só dando pitaco e cornetando o treinador. Se o técnico não substituía, ele achava ruim; se substituía, reclamava, dava palpite o tempo todo. Do contra convicto, verdadeiro mala, palpiteiro profissional. Todo jogo do Criciúma era a mesma ladainha: o bandeirinha sinalizava uma substituição e o mala já gritava do alambrado para o treinador: — Burro! Burro! O técnico fazia a segunda substituição e o corneta berrava de lá: — Burro! Burro! Era assim em todas as partidas do time, onde quer que fossem. O palpiteiro acompanhava o Criciúma pra todo lado. O técnico já não aguentava mais... Para o palpiteiro enxerido não havia uma substituição que prestasse! No final do campeonato catarinense daquele ano, o técnico, precisando da vitória, substituiu o melhor jogador do time — que parecia cansado — e colocou outro em seu lugar. Na mesma hora, ouviu a voz de seu algoz novamente, mesmo com o estádio lotado: — Burro! Burro! E o pior, dessa vez a torcida toda fez coro com ele: — Burro! Burro! Mas, para a surpresa geral, minutos depois de entrar em campo, o reserva fez o gol da vitória! Golaço, por sinal! A massa foi à loucura! Final do jogo. Criciúma campeão. O técnico só olhou para o alambrado e gritou para o bedelhudo: — E agora? Sou burro? — rindo, ironicamente. E ouviu a seguinte pérola: — É! Burro com sorte! Burro com sorte! — exclamou o palpiteiro. Dizem que essa estória é realmente verdadeira. O que todos não sabem é o que aconteceu depois. Conto: Para não ter que ficar ouvindo aquilo mais uma temporada inteira, o técnico resolveu pedir ao presidente do time a contratação do palpiteiro como seu auxiliar. Tinha lido há poucos dias no para-choque de um caminhão: “Se não pode contra eles, junte-se a eles”. E assim foi feito.
Só que, após a contratação do palpiteiro, a cada sugestão de substituição que ele dava, o time afundava mais. Todo jogo era a mesma coisa: o time bem em campo; o auxiliar palpiteiro sugeria a substituição; o treinador atendia a sugestão; o time piorava e acabava perdendo o jogo. A diretoria não aceitou a sequência de oito derrotas seguidas, sempre da mesma maneira. Acabou demitindo o técnico. Para a surpresa dele, quem foi contratado para assumir o comando da equipe foi o auxiliar palpiteiro. Quem diria! Foi promovido! Em sua estréia como treinador, campo lotado, torcida eufórica... Na primeira substituição o técnico palpiteiro ouviu um grito no alambrado, atrás do banco de reservas:
— Jumento! Jumento! Adivinha quem era? Isso mesmo: o ex-técnico! O treinador palpiteiro não durou cinco partidas no comando da equipe. Perdeu quatro jogos seguidos e também foi demitido. Dizem as más línguas que ele não aguentou a pressão da “torcida”. Hoje, os dois, como irmãos, assistem a todos os jogos do Criciúma juntos, no mesmo lugar de sempre, no alambrado, atrás do banco de reservas. E a cada treinador que passa... Epa! Substituição! E o coro de duas vozes: — Asno! Asno!
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