Joseph Roth, «Fuga Sem Fim»

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Joseph Roth

FUGA SEM FIM

tradução do alemão e notas

Álvaro Gonçalves


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Tive que percorrer muitas milhas. Entre o local onde nasci e as cidades, países, aldeias que atravessei nos últimos dez anos para poder permanecer neles e permaneço neles apenas para os abandonar de novo, fica a minha vida, mensurável mais de acordo com as medidas de espaço do que de tempo. As estradas percorridas representam os anos que percorri. O dia do meu nascimento e o meu nome, não estão registados em lado nenhum, em nenhum registo paroquial e em nenhuma conservatória de registo civil. Não tenho nenhuma terra natal, se excluir o facto de que existo em mim próprio e que me sinto em casa comigo mesmo. Onde me sinto mal é onde é a minha pátria. Só me sinto bem no estrangeiro. Se eu me abandono, perco-me. Daí ter o extremo cuidado de ficar sempre comigo mesmo. Eu nasci numa minúscula aldeola em Wolhynien, no dia 2 de Setembro de 1894, sob o signo de Virgem, com o qual o meu nome Joseph tem uma qualquer vaga relação. A minha mãe era judia, tinha uma estrutura robusta, era uma mulher ligada à terra e era de origem eslava, cantava frequentemente canções ucranianas, pois era muito infeliz; (na nossa terra, são os pobres que cantam, não os 1 Editor alemão (1880-1949), que fundou, em 1909, a editora Gustav Kiepenheuer Verlag. Para além dos clássicos da literatura alemã, editou autores clássicos estrangeiros e, mais tarde, contemporâneos alemães como Bertolt Brecht, Anna Seghers e Stefan Zweig. Em 1947, decidiu, com Joseph Caspar Witsch, criar uma nova editora, ideia que só se concretizou em 1951.


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que são felizes como acontece nos países ocidentais. Por isso, as canções orientais são mais bonitas e quem tem coração e as ouve fica à beira das lágrimas. Ela não tinha nenhum dinheiro e nenhum marido. Pois o meu pai, que, um belo dia, a levou para o ocidente, muito provavelmente apenas para me procriar, deixou-a sozinha em Kattowitz e desapareceu para sempre. Deve ter sido um homem muito estranho, um austríaco vigarista, esbanjava muito, bebia, provavelmente, e morreu enlouquecido quando eu tinha dezasseis anos. A sua especialidade era a melancolia, que herdei dele. Nunca o vi. Contudo, quando era uma criança de uns quatro ou cinco anos, lembro-me de ter sonhado com um homem que representava o meu pai. Dez ou doze anos mais tarde, vi pela primeira vez uma fotografia do meu pai. Já a conhecia. Era o homem do meu sonho. Na tenra idade em que os outros aprendem a andar, já eu andava de comboio. Vim muito novo para Viena, deixei-a de imediato e regressei, viajei de novo para o ocidente, não tinha dinheiro nenhum, vivia com a ajuda de parentes abastados e de explicações, comecei a aprender, com fervor e ambição, era um jovem especialmente bem comportado, cheio de maldade silenciosa e carregado de veneno, com uma humildade derivada da arrogância, amargurado com os que eram ricos, mas sem solidariedade para com os pobres. Pareciam-me estúpidos e desastrados. Também tinha medo de quaquer tipo de observação grosseira. Sentia-me feliz quando encontrava uma justificação autorizada dos meus instintos no Odi profanum vulgus de Horácio. Amava a liberdade. O tempo que passei com a minha mãe foi o mais feliz da minha vida. À noite, levantava-me, vestia-me e saía de casa. Vagueava durante três, quatro dias, dormia em casas que não sabia onde ficavam e com mulheres cujos rostos não via, rostos que não me despertavam curiosidade. Assava batatas nos prados de Verão e nos campos duros de Outono.


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Colhia morangos nas florestas e dava-me com a arraia-miúda muito mais nova do que eu e às vezes levava sovas, de certo modo erradamente. Sempre que alguém me sovava, pedia-me logo a seguir desculpas. Pois receava a minha vingança. Esta podia ser cruel. Não tinha nenhuma simpatia especial por ninguém. Mas se calhava odiar alguém, desejava-lhe a morte e estava disposto a matar. Possuía os melhores lança-pedras, apontava apenas para as cabeças e não só com pedras, mas também com cacos de vidros e lâminas de facas partidas. Preparava ciladas, armadilhas em metal, alçapões e o disfarce do terreno. Quando uma vez um dos meus inimigos apareceu armado de um revólver, que não tinha nenhuma munição, senti-me humilhado. Comecei por lisonjeá-lo, depois tornei-me pouco a pouco mas contrariado seu amigo, comprando-lhe finalmente o seu revólver para utilizar com cartuchos que um guarda-florestal me oferecera. Convenci o meu amigo de que a munição era muito mais perigosa do que uma arma sem munição. Só mais tarde me tornei generoso, mas também não durou muito tempo. Os primeiros sentimentos de generosidade foram despertados em mim por uma rapariga, já eu frequentava o segundo semestre do curso de germanística. A minha amiga era originária de Witkowitz. Com apenas dezasseis anos, tornou-se vítima de um engenheiro, que a engravidou. Felizmente deu à luz uma criança nada-morta. O engenheiro não cuidou dela. Então, ela foi para Viena como educadora junto de pessoas ruins e más. O que me restava mais do que ser generoso? Aluguei um quarto para a rapariga, fiz com que deixasse as duas crianças loiras e estúpidas com roupa de marinheiro e decidi fazer-lhe um filho vivo e pedir satisfações ao engenheiro. Com esse objectivo, vendi o meu sobretudo e pedi um adiantamento ao advogado a cujo filho dava aulas particulares. Viajei a Witkowitz, encontrei o meu engenheiro, este mar-


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cou um encontro comigo num café, depois de ter recebido a minha carta bastante rude e breve. Tinha uma pêra preta, sobrancelhas tortas e viradas para cima, olhos brilhantes, um rosto moreno e belo, mãos pequenas, fazia-me lembrar o demónio. O cartão de visita ostentava o seguinte: «Tenente na reserva». Pagou-me o café, foi simpático, sorriu, e reconheceu que, por uma questão de princípio, dormia à vez com todas as filhas dos seus encarregados de oficina, mas que não conseguia arranjar tempo para continuar a entreter-se com elas. Levou-me a um bordel, ofereceu-me três raparigas duma só vez e disponibilizou-se a ceder-me voluntariamente uma das virgens de Witkowitz. Ofereceu-me bebidas, acompanhou-me até à estação de caminhos-de-ferro e beijámo-nos na despedida. Infelizmente, ele morreu de tifóide na guerra em 1916. Foi um dos meus primeiros amigos. Regressei, a rapariga arranjara entretanto um novo emprego. Escreveu-me uma bela carta de despedida, donde se depreendia que eu não representava nada para ela. Justificadamente, ela amava ainda o engenheiro. A partir daí, comecei a procurar mulheres no Stadtpark, no Volksgarten e nos Bosques de Viena e, através da humildade, e pusilanimidade fingida, a conquistar a compaixão e, mais tarde, o amor das mães dos meus alunos. As mulheres dos advogados preferiam-me, porque os seus maridos tinham tão pouco tempo para elas. Ofereciam-me camisas, cuecas, gravatas, levavam-me para os camarotes da ópera, nos fiacres, e viajavam comigo para Klagenfurt, Innsbruck, Graz. Eram minhas mães. Amava-as todas sinceramente. Quando eclodiu a guerra, fui perdendo lentamente, uma a uma, as minhas aulas. Os advogados alistavam-se no exército, as mulheres tornavam-se mal-humoradas, patrióticas e mostravam uma clara preferência pelos feridos. Finalmente, alistei-me como voluntário no 21.º Batalhão de Caçadores. Não queria viajar sempre


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na 3.ª classe, fazer ininterruptamente a continência, tornei-me assim um soldado ambicioso, fui demasiado cedo para o campo de batalha, para a linha de combate da frente leste, apresentei-me na escola de oficiais, queria ser um oficial. Tornei-me alferes. Estive até ao fim da guerra na frente de combate no leste. Era corajoso, rigoroso e ambicioso. Decidi-me por ficar no exército. Odiava revoluções, mas tinha que me conformar com elas e, como o último comboio partira de Shmerinka, tive que marchar para casa. Marchei durante três semanas. Depois, viajei por desvios, durante dez dias, de Podwoloczysk até Budapeste, e daqui para Viena, onde, por falta de dinheiro, comecei a escrever para os jornais. Estes publicavam as minhas tontices. Eu vivia delas. Tornei-me um escritor. Mudei-me logo a seguir para Berlim — a paixão por uma mulher casada, o medo de perder a minha liberdade, que tinha mais valor para mim do que o meu duvidoso coração, obrigaram-me a tomar essa decisão. Escrevia artigos absolutamente estúpidos e, consequentemente, ganhei nome. Escrevia maus livros e tornei-me conhecido. Por duas vezes fui rejeitado por Kiepenheuer. Ele ter-me-ia rejeitado pela terceira vez, se entretanto não nos tivéssemos conhecido. Bebemos uma aguardente num domingo. Ele sentiu-se mal. Os dois ficámos doentes por a termos bebido. Declarámos amizade por uma questão de compaixão, apesar da diferença das nossas naturezas, que só se harmonizam no álcool. Kiepenheuer é um vestfaliano e eu ostfaliano. Dificilmente se consegue imaginar um contraste maior. Ele é um idealista, eu sou céptico. Ele ama os judeus, eu não. Ele é um adepto de progresso, eu sou um reacionário. Ele está sempre jovem, eu estou sempre velho. Ele vai fazer cinquenta anos, eu duzentos. Eu podia ser seu bisavô, se não fosse seu irmão. Eu sou radical, ele é conciliante. Ele é gentilmente indetermidado,


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eu sou conciso. Ele é justo, eu sou injusto. Ele é optimista, eu sou pessimista. Deve certamente haver ligações secretas entre nós os dois. Pois, por vezes estamos de acordo com tudo. É como se fizéssemos mutuamente concessões, mas não há concessões nenhumas. Pois, ele não tem nenhuma sensibilidade para o dinheiro. Partilhamos os dois esta característica. É o homem mais cavalheiro que conheço. Eu também. Isso tem ele de mim. Ele perde dinheiro com os meus livros. Eu também. Ele acredita em mim. Eu também. Ele aguarda o meu sucesso. Eu também. Ele está confiante na posteridade. Eu também. Somos inseparáveis; é a qualidade dele. Joseph Roth, 1930


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prefácio

Nas páginas que se seguem, conto a história do meu amigo, camarada e correligionário Franz Tunda. Recorro, em parte, aos seus apontamentos, em parte, aos seus relatos. Não inventei nada, não compus nada. Já não se trata de «ficcionar» a narração. O mais importante é o que foi observado. Paris, Março de 1927

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i. O primeiro-tenente do exército austríaco, Franz Tunda, foi feito prisioneiro de guerra pelos Russos em Agosto de 1916. Foi enviado para um acampamento que fica a alguns quilómetros a nordeste de Irkutsk. Conseguiu evadir-se graças à ajuda de um polaco. O oficial permaneceu, até à Primavera de 1919, numa remota, solitária e desolada quinta do polaco situada na orla da taiga. A casa do polaco era frequentada por quem percorria as florestas, caçadores de ursos e negociantes de peles. Tunda não tinha motivos para temer perseguições. Ninguém o conhecia. Era filho de um major austríaco e duma judia polaca e nascera numa pequena cidade da Galícia onde estava sediado o quartel do pai. Falava polaco e fizera serviço militar num regimento da Galícia. Era-lhe fácil fazer-se passar pelo irmão mais novo do polaco. O polaco chamava-se Baranowicz. Tunda indicava esse nome como sendo também o seu. Arranjou um documento falso com o nome Baranowicz, que indicava, dali em diante, Lodz como o local de nascimento, e que, em 1917, por sofrer de uma doença de olhos, incurável e contagiosa, tinha sido dispensado do exército russo, sendo então negociante de peles, com a residência em Virkni Udinsk. O polaco era extremamente contido com o que dizia, a barba negra que usava, obrigava-o a manter-se silencioso. Há trinta anos, tinha sido deportado para a Sibéria como prisioneiro. Mais tarde, deixou-se ficar por lá voluntariamente. Tornou-se colaborador duma expedição científica para a investigação da taiga, atravessou as


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florestas durante cinco anos, casou-se com uma chinesa, converteu-se ao budismo, permaneceu numa aldeia chinesa como médico e conhecedor de plantas medicinais, teve dois filhos, perdeu ambos e a sua mulher, vitimados pela peste, foi viver de novo da caça e do comércio de peles para as florestas, aprendeu a reconhecer, na erva mais espessa, as pegadas dos tigres, no voo tímido dos pássaros, os presságios da tempestade, sabia distinguir a neve do granizo e as nuvens de chuva das da neve, conhecia os costumes dos que viviam nas florestas, os dos ladrões e dos caminhantes inofensivos, amava os seus dois cães como se estes fossem irmãos e adorava as cobras e os tigres. Alistou-se voluntariamente no exército, mas, já no quartel, os seus camaradas e oficiais achavam-no tão lunático, que o mandaram embora de regresso às florestas como se se tratasse de um doente mental. Todos os anos, no mês de Março, vinha à cidade. Trocava chifres, peles e cornaduras por munições, chá, tabaco e aguardente. Levava alguns jornais para se manter ao corrente do que acontecia, mas não acreditava nem nas notícias nem nos artigos que lia; até duvidava dos anúncios. Há anos que frequentava um determinado bordel onde era cliente duma ruiva que se chamava Ekaterina Pávlovna. Quando um outro cliente estava com a rapariga, Baranowicz, amante paciente que era, limitava-se a aguardar. A rapariga envelheceu, o cabelo ganhou a cor de prata, foi perdendo os dentes um atrás do outro e a própria dentadura postiça. Todos os anos, Baranowicz precisava de aguardar menos tempo, até que, finalmente, passou a ser o único que vinha ter com Ekaterina. Esta começou a amá-lo, ardendo de saudades durante o ano inteiro, eram saudades tardias de uma noiva tardia. À medida que passavam os anos, as suas carícias foram-se intensificando, a sua paixão tornou-se ardente, era já uma mulher idosa, com o corpo a definhar, começou a saborear o primeiro amor da sua vida. Todos os anos, Baranowicz trazia-


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-lhe sempre os mesmos colares e as pequenas flautas que ele próprio entalhava e com as quais imitava as vozes dos pássaros. Em Fevereiro de 1918, Baranowicz perdeu o polegar da mão esquerda quando descuidadamente serrava a madeira. A ferida sarou ao fim de seis semanas, em Abril viriam os caçadores de Vladivostok, nesse ano não pôde deslocar-se à cidade. Ekaterina esperou em vão. Baranowicz enviou-lhe uma carta através de um caçador e consolou-a. Em vez de pérolas chinesas, enviou-lhe uma pele de zibelina, outra de serpente e ainda uma outra de urso para servir de cobertor na cama. Foi assim que Tunda, nesse ano que foi o mais importante de todos, não leu nenhum jornal. Só na Primavera de 1919 é que soube, através de Baranowicz, que regressara a casa, que a guerra terminara. Foi numa sexta-feira, Tunda estava a lavar a loiça na cozinha, Baranowicz surgiu à porta, ouviam-se os cães a ladrar. O gelo tilintava na sua barba negra, e, no parapeito da janela, repousa um corvo. «Foi declarada a paz, é a revolução!», disse Baranowicz. Naquele preciso momento, a cozinha ficou em silêncio. O relógio do quarto ao lado tocou as três horas com três sonoras pancadas. Franz Tunda colocou cuidadosa e silenciosamente os pratos no banco. Não queria perturbar o silêncio, provavelmente estava com medo que os pratos se partissem. As suas mãos tremiam. — Durante todo o caminho —, disse Baranowicz, — estive a pensar se te devia contar o fim da guerra. Ao fim e ao cabo, lamento que regresses a casa. Provavelmente, nunca mais nos veremos e dificilmente me escreverás. — Não me esquecerei de ti —, disse Tunda. — Não prometas nada! —, disse Baranowicz. Assim foi a despedida.


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ii. Tunda queria ir à Ucrânia, de Jmérinka, onde tinha sido feito prisioneiro, para o posto fronteiriço de Podwoloczyska, e, depois, para Viena. Não tinha qualquer plano específico, o caminho que tinha à sua frente era inseguro, cheio de sinuosidades. Sabia que levaria muito tempo. Só tinha um único propósito: não se aproximar nem das tropas brancas nem das vermelhas e não se preocupar com a revolução. A monarquia austro-húngara desmoronara. Já não tinha a sua terra natal. O pai morrera como coronel, a sua mãe tinha já morrido há muito tempo. Tinha um irmão maestro numa cidade não muito grande. Em Viena, aguardava-o a sua noiva, filha do fabricante de lápis, Hartmann. Dela, o primeiro-tenente não sabia nada a não ser que era bonita, inteligente, rica e loira. Estas quatro qualidades tinham-na capacitado para ser a sua noiva. Enviava-lhe cartas e pasta de fígado para o campo de batalha, por vezes uma flor seca de Heiligenkreuz. Ele escrevia-lhe todas as semanas em papel azul-escuro de correio militar com lápis-tinta cartas breves, relatos sucintos, mensagens. Desde que fugira do acampamento, nunca mais ouvira falar dela. Não tinha dúvidas de que lhe era fiel e que estava à sua espera. Não tinha dúvidas de que estaria à sua espera, o aguardaria até que ele chegasse. Mas também lhe parecia certo que o deixaria de amar logo que ele aparecesse e se apresentasse diante dela. Pois quando se tornaram noivos, ele era oficial. Nessa altura, a grande tristeza do mundo embelezava-o, a proximidade da morte ampliava-lhe a alma, as honras da sepultura eram as honras do vivo, a cruz ao peito fazia-lhe lembrar a cruz do Calvário. Quem contava com um final feliz,


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Tunda encontrou-se com o amigo do grande poeta, pois era o tempo em que, em Paris, aqueles que pertenciam a uma determinada camada social povoavam os Campos Elísios — se com povoar se pode designar o passeio destas senhoras e destes senhores. Era como se alguém os conduzisse como se faz com os animais nos jardins zoológicos ou nas exposições de feras em certas horas do dia; era como acontece com museus que se abrem ao público durante algumas horas do dia da semana para permitir a exibição de preciosidades raras e antigas. Quem conduzia estas pessoas? Quem as colocava em exposição neste museu, que se chamava Campos Elísios, quem os deixava circular e virar-se como manequins? Quem os conduzia aos salões dos presidentes e aos chás de belas mulheres? Como vinham ter os grandes poetas com os seus amigos e estes com os grandes poetas? Como vinha ter o senhor de V. com o Presidente? Não eram acasos, eram leis. Ah, o que eles não faziam! Às vezes, pareciam a Tunda vermes de cadáveres, o mundo era o seu caixão, mas ninguém jazia nele. O caixão ficava debaixo da terra e os vermes furavam caminhos através da madeira, furavam buracos, juntavam-se, continuavam a furar, até o caixão se transformar num único buraco, sem os vermes nem o caixão, e a terra admira-se que não tenha estado lá nenhum cadáver …

xxix. Um dia Tunda tomou a decisão de pedir ajuda ao digníssimo Presidente. Hesitara durante algumas semanas. Pois não sabia se


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seria melhor escrever uma carta pormenorizada, eficaz e delicada, ainda que breve, ou visitar o velho senhor, que provavelmente ponderava cuidadosamente os passos que dava e que talvez nunca perdoasse a si próprio o mais pequeno erro que cometesse. Tunda reconheceu que todas as suas vivências não eram suficientes para lhe dar segurança num mundo que lhe não era familiar. De repente, compreendeu o temor dos inválidos, desses inválidos que, no purgatório da guerra, perdem olhos, ouvidos, narizes e pernas e, regressados à sua terra, obedecem às ordens da criada, que os enxotam da entrada destinada aos dignitários. Ele tinha palpitações. A coragem e a força vital que alguma vez fora capaz de arranjar tinham sido apenas o resultado de determinadas situações, e a cobardia era a essência das pessoas domesticadas. Escreveu algumas cartas e rasgou-as em seguida. Sentiu-se obrigado a pensar nas noites vermelhas, na púrpura flamejante dos dias do passado, no poderoso, infinito e absoluto branco do gelo branco siberiano, no silêncio perigoso das florestas que percorrera, em que nada mais se podia ouvir a não ser a respiração da morte, na sufocante fome que corroera as suas entranhas, na sua perigosa fuga e naquele dia em que, tendo perdido os sentidos, ficou pendurado no dorso de um cavalo a galopar, naquele momento em que ficara inconsciente, como uma queda repentina, ainda que lenta, num desfiladeiro vermelho escuro feito de macieza, horror e morte. Mas nenhuma recordação ajudava. Pois o presente é mil vezes mais forte do que o mais forte passado — e ele compreendeu a dor das pessoas, que dez anos antes enfrentaram heroicamente uma operação perigosa e hoje sucumbem a uma dor de dentes. Tomou a decisão de visitar o Presidente. Não anunciou a sua visita, e quando se colocou em frente à porta, foi um consolo para ele pensar que podia preencher os dois primeiros minutos com as


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desculpas do seu súbito aparecimento. O Presidente iria certamente reagir com a sua cordialidade habitual e exímia na forma como a expressava, que se sentia encantado que Tunda o tenha visitado. Depois Tunda ganharia coragem para o desiludir. O senhor Presidente estava em casa e estava sozinho. Tunda admirou de novo o ritual da cerimónia preciso, inocente e inexorável, em que não houve um único momento de hesitação e que se não preocupava com o propósito da sua visita, dando-lhe as honras que são devidas apenas a uma pessoa independente, orgulhosa e livre. Da mesma forma atenciosa como o criado ainda hoje o tratou, também o rejeitaria amanhã implacavelmente quando, em definitivo e à vista de todos, descesse à categoria do pedinte mal sucedido. Não há excepções. Tunda pensou na lei de que falara o alegre industrial. Tinha-se efectuado há muito tempo a evasão da sua classe, da sua posição, da sua categoria, mas o aparato do cerimonial ainda nada sabe disso e antes de se tomar consciência de uma ascensão ou de uma queda, pode esta ou aquela já não ser verdade. Tunda era como alguém que vinha duma cidade destruída pelo terramoto e era recebido de tal modo por pessoas que nada sabiam como se tivesse saído de um comboio que acabava de chegar pontualmente à estação. Se o hall da entrada e o criado lhe pareciam ainda ser como nos tempos antigos — como as poucas semanas se tinham alargado subitamente a décadas! —, ao ver o senhor Presidente sentiu toda a transformação do seu estado. Pois os proprietários, os tranquilos, os que não têm preocupações, sim, até mesmo os que têm posses medianas, desenvolvem um instinto de defesa contra qualquer invasão do seu mundo protegido, receiam até o contacto com uma pessoa da qual esperam um pedido e adivinham a proximidade do desamparo com a segurança que é característica dos animais do campo perante a iminência do incêndio da floresta. O senhor Pre-


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sidente teria adivinhado toda a transformação da situação de Tunda, e se ele até aí lhe fosse conhecido como o milionário e membro do clube da Citroën, tê-la-ia adivinhado justamente nesse momento em que Tunda se aproximasse dele para lhe confessar a sua pobreza, o Presidente tê-la-ia adivinhado graças ao dom profético que acompanha a posse, o bem-estar e os costumes burgueses, tal como o pastor alemão acompanha o cego escoveiro. A aristocracia do Presidente transformou-se em receio, a sua reserva, em austeridade, o seu cuidado em mau humor. Sim, até a sua beleza cedera a uma vaidade barata, superficial e facilmente explicável. A sua barba bela e prateada era o resultado de um pente e de uma escova, a testa lisa, um sinal do egoísmo despreocupado e cómodo, as unhas cuidadas, uma espécie de garras sofistificadas, o seu olhar, a expressão de olhos lisos e vítreos, que recebiam as imagens do mundo como se fosse um espelho. — Eu não estou bem, senhor Presidente! —, disse Tunda. O Presidente fez uma cara ainda mais séria e indicou uma cadeira cómoda e de couro, como um médico, pronto para auscultar e ouvir com aquele interesse de agrado com que os médicos ouvem uma história clínica, porque pode, de qualquer modo, fomentar os seus estudos. Ficou ali sentado como se fosse o eterno, à sombra como numa nuvem, enquanto que, perpassando a janela, um raio de sol amplo incidia sobre Tunda ao ponto de os seus joelhos ficarem iluminados, e a luz ficava diante dele como uma parede dourada e transparente, tendo por trás o senhor Presidente sentado, que ouvia ou também não ouvia. Mas depois aconteceu algo estranho, que foi o senhor Presidente levantar-se — então a parede de ouro vítreo avançou para junto dele, que a quebrou, transformando-se esta num véu dourado que se ajustava às formas do seu corpo, repousando nos seus ombros e tornando visíveis uma meia


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dúzia de partículas de caspa sobre o seu fato azul. O Presidente levantou-se, tornou-se humano, estendeu a mão a Tunda e disse: — Talvez eu possa fazer alguma coisa por si.

xxx. Tunda andou pelas ruas alegres com um enorme vazio no coração, como aquele que um preso acabado de ser libertado sente no seu primeiro passeio na liberdade. Ele sabia que o Presidente não o podia ajudar, mesmo que ele lhe desse a possibilidade de comer e lhe comprasse um fato. Tampouco se liberta um prisioneiro quando se lhe abrem as portas da prisão. Tampouco se dá a felicidade a uma criança quando se lhe garante um lugar no orfanato. Neste mundo não se sentia em casa. Onde estava ele? Na vala comum. A luz azul ardia no túmulo do Soldado Desconhecido. As coroas de flores murchavam. Estavam lá jovens ingleses, com chapéus macios e cinzentos nas mãos e estas atrás das costas. Tinham aparecido vindos do Café de la Paix, com o intuito de ver o túmulo. Um velho pai pensava no seu filho. O túmulo estava entre ele e os jovens ingleses. No fundo, debaixo deles, ficavam as ossadas do soldado desconhecido. O velho e os jovens entreolhavam-se por cima do túmulo. Havia um entendimento silencioso entre eles. Era como se assinassem um pacto para não lamentar em conjunto a morte do soldado, mas sim para o esquecer em conjunto. Tunda passara algumas vezes por este monumento. Havia sempre turistas à volta do túmulo, com os chapéus de viagem nas mãos, e nada o incomodava mais do que as suas homenagens. Era


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como se os turistas que viajam pelo mundo fora, que ainda por cima são devotos, estivessem a visitar uma famosa igreja durante o serviço religioso e, com o guia turístico nas mãos, por hábito, se ajoelhassem diante do altar para não terem que se autocensurar. A sua devoção é uma blasfémia e um resgate para a sua consciência. A pequena chama azul debaixo do Arco do Triunfo ardia não para honrar os soldados mortos, mas sim para tranquilizar os sobreviventes. Nada era mais cruel do que a devoção inocente de um pai sobrevivente junto ao túmulo do seu filho, que sacrificara sem o saber. Às vezes era como se o próprio Tunda estivesse lá deitado em baixo, como se todos nós estivéssemos lá em baixo, nós que saíramos da nossa terra onde nascemos, caíramos em combate, foramos enterrados ou também retornáramos, mas já não à nossa terra, independentemente de estarmos sepultados ou de boa saúde. Somos estranhos neste mundo, vimos de um reino das sombras. Após alguns dias, o senhor Presidente chamou-o. Havia agora entre eles uma distância que existe entre quem ajuda e quem necessita dela, uma distância diferente daquela que existe entre os mais velhos e os mais novos, entre os naturais da terra e os estrangeiros, entre o mais poderoso e o mais fraco, a despeito da sua autonomia. Apesar de o olhar do Presidente não expressar nenhum menosprezo, tão-pouco se via nele aquela disponibilidade silenciosa para a consideração que pessoas nobres reservam a todo e qualquer estranho, isto é, a hospitalidade dos que não têm preconceitos. Talvez Tunda estivesse mais perto do seu coração. Mas já eram igualmente livres. Talvez o velho senhor confiasse até um dos seus segredos a Tunda; mas já não uma das suas filhas. — Encontrei uma coisa —, disse o Presidente. — Está aqui o senhor Cardillac, cuja filha vai viajar para a Alemanha e que necessita de aulas de conversação. Nessas ocasiões, geralmente, recorre-se


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a senhoras idosas provenientes da Alsásia. Mas, por princípio, sou contra esse tipo de professoras, que, embora dominem a língua, dominam uma área completamente diferente — não a que uma jovem de família abastada necessita. Falta a essas professoras o vocabulário necessário. Ao contrário, um jovem bem instruído, conhecedor do mundo, com conhecimentos e vasta experiência — o número de virtudes de Tunda crescia a olhos vistos — domina justamente a linguagem mais apropriada e adequada. Trata-se de transmitir à jovem também as condições do país para onde viajará, obviamente sem tecer críticas nem despertar nela preconceitos. Estes preconceitos seriam tanto piores quanto o senhor Cardillac, cá para nós, nem se chama sequer assim e até tem parentes afastados na Alemanha, se não me engano, em Desdren e Leipzig. Como se um Presidente, que lutou pela paz na Europa e tem a Alemanha em grande consideração, como se um Presidente desses precisasse de explicar que conhecia um senhor Cardillac, que, por sua vez, tinha parentes alemães, o velho senhor disse: — Não conheço muito bem o senhor Cardillac, ele próprio me foi recomendado há uns anos por uma velha família de Milão, que fabricava fogões de sala em azulejos de fama mundial e bibelôs de grande divulgação. O senhor Cardillac é uma pessoa de prestígio, penso que se dedica ao comércio de obras de arte, as suas relações são mais de negócios do que sociais, mas sabe perfeitamente, meu caro senhor — voltou a dizer: meu caro senhor — como depois da guerra relações de negócios e relações sociais se tornaram sinónimos. E o senhor Presidente mergulhou por momentos em silêncio, numa pausa retemperadora para recuperar do choque que se infligira a si próprio, com a constatação da identidade entre as relações sociais e as de negócio.


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É certo que queria a paz entre as nações, mas o que isso significava para ele era a paz entre algumas camadas sociais, não tinha, é verdade, preconceitos, sentia-se o homem mais progressista do mundo culto, mas as categorias que criara estavam alicerçadas nos preconceitos que rejeitava. Com os que são designados por «reaccionários», o Presidente tinha em comum os fundamentos, só que a sua casa era mais arejada, tinha mais janelas, mas no momento em que tocássemos no fundamento, ela teria de se desmoronar. É evidente que se envergonhava de ser conhecido do senhor Cardillac. Era-lhe desagradável ter de falar desse senhor. Talvez lhe tivesse sido igualmente fácil recomendar Tunda a uma outra menina que fosse mais bem colocada. Mas Tunda já não lhe merecia assim tão grande respeito desde que lhe pedira ajuda.

xxxi. Foi assim que Tunda veio parar a casa do senhor Cardillac. Nunca vira uma casa maior. Parecia-lhe ainda mais espaçosa do que de facto era, porque nunca a conheceu por completo, porque sempre o deixavam ver apenas partes, fragmentos da casa, conhecia-a tão pouco como quem conhece uma enciclopédia, de onde se tira de vez em quando um determinado volume para procurar uma determinada palavra. Quem lhe interessava mais era a menina Pauline a quem teria de dar aulas de conversação. Tinha dezoito anos, morena, com uma tez que se conhece dos Balcãs — o senhor Cardillac era originário do sul da Roménia — tez que faz lembrar a cor dos meteoritos e


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Os génios, seguido de Exemplos, Victor Hugo O senhor de Bougrelon, Jean Lorrain No sentido da noite, Jean Genet Com os loucos, Albert Londres Os manuscritos de Aspern (versão de 1888), Henry James O romance de Tristão e Isolda, Joseph Bédier A freira no subterrâneo, com o português de Camilo Castelo Branco Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de O que ele me disse…, Joachim Gasquet David Golder, Irene Nemirowsky As lágrimas de Eros, Georges Bataille As lojas de canela, Bruno Schulz O mentiroso, Henry James As mamas de Tirésias — drama surrealista em dois actos e um prólogo, Guillaume Apollinaire Amor de perdição, Camilo Castelo Branco Judeus errantes, Joseph Roth A mulher que fugiu a cavalo, D.H. Lawrence Porgy e Bess, DuBose Heyward O aperto do parafuso, Henry James Bruges-a-Morta — romance, Georges Rodenbach Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), Herman Melville Histórias da areia, Isabelle Eberhardt O Lazarilho de Tormes, anónimo do século XVI e H. de Luna Autobiografia, Thomas Bernhard Bubu de Montparnasse, Charles-Louis Philippe Greco ou O segredo de Toledo, Maurice Barrès


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Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton Dicionário filosófico, Voltaire A papisa Joana — segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel Rhoides O raposo, D.H. Lawrence Bom Crioulo, Adolfo Caminha O meu corpo e eu, René Crevel Manon Lescaut, Padre Prévost O duelo, Joseph Conrad A felicidade dos tristes, Luc Dietrich Inferno, August Strindberg Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, Nathanael West Freya das sete ilhas, Joseph Conrad O nascimento da arte, Georges Bataille Os ombros da marquesa, Émile Zola O livro branco, Jean Cocteau Verdes moradas, W.H. Hudson A guerra do fogo, J.-H. Rosny Aîné Hamlet-Rei (Luís II da Baviera), Guy de Pourtalès Messalina, Alfred Jarry O capitão Veneno, Pedro Antonio de Alarcón Dona Guidinha do Poço, Manoel de Oliveira Paiva Visão invisível, Jean Cocteau A liberdade ou o amor, Robert Desnos A maçã de Cézanne… e eu, D.H. Lawrence O fogo-fátuo, Drieu la Rochelle Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg Histórias aquáticas — O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono O dicionário do diabo, Ambrose Bierce A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco O caso Kurílov, Irène Némirowsky A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson Nova Safo — tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura


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Gaspar da Noite — fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand Rimbaud-Verlaine, o estranho casal O rato da América, Jacques Lanzmann As amantes de Dom João V, Alberto Pimentel Os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, Leopoldo Lugones Preceptores – Gabrielle de Bergerac seguido de O discípulo, Henry James O Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest Renan Derborence, Charles Ferdinand Ramuz O farol de amor, Rachilde Diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière A minha vida, Isadora Duncan Rakhil, Isabelle Eberhardt


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TÍTULO ORIGINAL: DIE FLUCHT OHNE ENDE © SISTEMA SOLAR, CRL (2018) RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ÁLVARO GONÇALVES 1.ª EDIÇÃO, MAIO DE 2018 ISBN 978-989-8833-29-7 REVISÃO: ANTÓNIO D’ANDRADE NA CAPA: ERNST-LUDWIG KIRCHNER, CENA DE RUA EM BERLIM, 1913 DEPÓSITO LEGAL 440220/18 ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA ULZAMA, ESPANHA



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