André Gide estava no seu sexto livro; tinha vinte e seis anos de idade e escrevia a sua primeira sotia — seriam na sua
obra três — lembrando-se com esta palavra arcaica das peças medievais assim chamadas e que parodiavam de forma estou vada, ou mesmo enlouquecida, realidades familiares aos seus populares espectadores.
1895 foi também o ano em que ele saiu de uma determinante viagem à África do Norte, onde cedeu pela primeira vez
à sua verdade sexual; também o ano em que se casou com a sua prima Madeleine Rondeaux (um casamento «branco») e teve
o enorme transtorno sentimental provocado pela morte da sua mãe. São factos que não devem ser esquecidos se quiser mos perceber o abalo interior que agudizou a sua percepção dos intelectuais parisienses, o seu cansaço perante o vazio que
tinha à sua volta, um mundo de estilizadas vaidades e com a futili dade «pantanosa» que o incitou às metáforas virgilianas de Paludes.
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Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes