Ensaios de Sena

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ensaios de sena

Jorge Vaz de Carvalho

ENSAIOS DE SENA

DOCUMENTA
ÍNDICE Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 poesia Jorge de Sena: il miglior fabbro ...................... 17 As cores da liberdade ............................. 27 Fantasias de Mozart, para tecla ...................... 41 A poesia, a arte, a imortalidade ..................... 43 Poéticas do envelhecer ............................ 55 ficção Jorge de Sena e os realismos ....................... 75 Paisagem e humanismo ........................... 87 A «História do Peixe-Pato»: um conto fabuloso ......... 97 Incipit vita nova: romance de formação na Vita Nuova de Dante Alighieri e em Sinais de Fogo de Jorge de Sena ... 111 Sinais de Fogo: metamorfose e epigenia. . . . . . . . . . . . . . . . 129 o intelectual O intelectual no exílio: Jorge de Sena no Portugal Democrático ................................. 143

Este é um livro de profunda admiração. Uma recolha de textos do que ao longo de uma década fui escrevendo para publicações literárias, comunicações e conferências, ou que preparei para aulas e apresentações sobre Jorge de Sena. Eis a sua proveniência:

«Jorge de Sena: il miglior fabbro» teve origem numa comunicação apresentada no colóquio internacional Sena Hoje. Colóquio Comemorativo do Nascimento de Jorge de Sena, realizado na Universidade do Minho, em Novembro de 2019; mais desenvolvida e traduzida em inglês, foi apresentada na conferência internacional Saudade de Conversar Contigo — 100 Years of Sophia and Jorge de Sena, em Dezembro do mesmo ano, na Universidade de Nottingham.

O texto «As cores da liberdade» resulta da conjugação de três circunstâncias: a leitura durante o ciclo de conferências A Poesia e a Liberdade, na Biblioteca-Museu República e Resistência, em 3 de Janeiro de 2011; o artigo «Jorge de Sena neo-realista», publicado no n.º 1748 da revista Seara Nova, do Outono de 2019; e, mais desenvolvido, a comunicação «Jorge de Sena e as cores da liberdade», lida no Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, em Setembro de 2019, no congresso internacional Sena & Sophia: Centenários, organizado por Gilda Santos, Luci Ruas e Teresa Cristina Cerdeira, depois publicada como capítulo do livro com igual título, editado por Bazar do Tempo, Rio de Janeiro, 2020.

ensaios de sena 9 INTRODUÇÃO

Talvez um dia escreva mais longamente sobre o livro Arte de Música. Por agora, o breve escrito «Fantasias de Mozart, para tecla» foi publicado na revista Metamorfoses: Edição do Centenário de Jorge de Sena, da Cátedra Jorge de Sena, Belo Horizonte, Editora Moinhos, 2019.

O texto «A poesia, a arte, a imortalidade» nasceu da comunicação apresentada no colóquio internacional Jorge de Sena no Centenário do Seu Nascimento, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em Outubro de 2019, e foi publicado na revista e-Letras com Vida, n.º 3 (2019).

«Poéticas do envelhecer» foi escrito como capítulo para o livro Envelhecimento: Dimensões e Contextos, coordenado por Joana Carneiro Pinto e Helena Rebelo Pinto, e publicado pela Universidade Católica Editora, em 2021.

«Jorge de Sena e os realismos» foi publicado como capítulo do livro A Crítica de Jorge de Sena, Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2022, coordenado por Joana Matos Frias e Joana Meirim, na sequência da apresentação num colóquio realizado nessa instituição em Novembro 2019.

O ensaio «Paisagem e humanismo» foi lido no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, no Colóquio O Atlântico como Ponte: a Europa e o Espaço Lusófono, em Setembro de 2010, e publicado no repositório digital Ler Jorge de Sena.

«A “História do Peixe-Pato”: um conto fabuloso» é um texto que regista reflexões feitas para os meus alunos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Foi escrito e publicado na revista Colóquio/Letras, n.º 200, Janeiro de 2019, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

O ensaio «Incipit vita nova: romance de formação na Vita Nuova de Dante Alighieri e em Sinais de Fogo de Jorge de Sena»

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teve origem na comunicação apresentada ao colóquio internacional Jorge de Sena Cá e Lá: Novas Perspectivas, 30 Anos Depois, realizado na Universidade de Massachusetts, em Amherst, Abril de 2008. A versão inicial está publicada em: Francisco Cota Fagundes; Jorge Fazenda Lourenço (org.), Jorge de Sena; Novas Perspectivas, 30 Anos Depois, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2009.

O texto «Sinais de Fogo: metamorfose e epigenia» foi lido no Rio de Janeiro, no I Congresso da Cátedra Jorge de Sena, intitulado Andanças Prodigiosas da Literatura, em Outubro de 2009, e publicado na revista Metamorfoses 10.2, Editorial Caminho e Cátedra Jorge de Sena, 2010. Contém linhas fundamentais da tese de doutoramento que defenderia na Universidade Católica Portuguesa, publicada pela Assírio & Alvim, em 2010, com o título Jorge de Sena: Sinais de Fogo como Romance de Formação.

A primeira versão do texto «O intelectual no exílio: Jorge de Sena no Portugal Democrático» foi escrita com as cópias dos números do Portugal Democrático em que Jorge de Sena colaborou cedidas pela generosa amizade da distinta seniana Gilda Santos, e apresentado num colóquio internacional realizado na Universidade Católica Portuguesa. Publicou-se em inglês com o título «The Intellectual in Exile: Jorge de Sena in Portugal Democrático», Helena Gonçalves da Silva; Maria Laura Bettencourt Pires; Inês Espada Vieira (coord.), Intellectual Topographies and the Making of Citizenship, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011. A colaboração de Jorge de Sena no jornal Portugal Democrático foi depois editada por Jorge Fazenda Lourenço: Jorge de Sena, Rever Portugal: Textos Políticos e Afins, Lisboa: Guimarães, 2011.

Já disse e escrevi muitas vezes que considero Jorge de Sena, a par de Fernando Pessoa, o maior escritor e intelectual do século XX português. Escrevesse Sena em inglês (como Conrad ou Nabokov,

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poderia ter optado por um idioma falado por milhões, que lhe proporcionaria um número muito mais vasto de leitores, maior evidência nos meios literários internacionais e fácil abertura de portas a distinções), seria decerto reconhecido a par dos nomes admiráveis das letras mundiais, porque não lhes fica atrás. Em Portugal, e a despeito dos estudos que lhe vão sendo dedicados, tal grandeza continua a não ser suficientemente evidenciada, sobretudo no que mais importa a um escritor, a leitura frequente e o conhecimento amplo das obras.

É de admirar? Não pode dar conta da excelência da criação seniana (e de outros escritores maiores) o público (des)informado por um modo de vida intelectual e cultural como o nosso. De resto, mais pobre ainda do que aquele que Sena no seu tempo denunciou e alterado em novas formas de alienação, desta vez democrática (não provou a História vezes sem conta que as mudanças políticas são muito mais velozes do que a mudança das mentalidades?). Falo de jornais cujas páginas literárias se reduzem ao mínimo, só para fazer de conta que existem; de televisões dominadas pela pacovice, que relegam os raros programas culturais para horários de insónia, ou se focam em autores que decerto não sobreviverão às promoções da época; do ensino escolar irresponsavelmente dirigido para a aprovação sem esforço, amestrado pelas estatísticas, indiferente à sensibilização da inteligência e avesso à exigência e premiação do mérito; de políticas livrescas que quase só aproveitam as ondas de maior oportunidade comercial para os holofotes da última novidade e da «besta célere» (como dizia Alexandre O’Neill), que abastecem o consumo de vulgaridades impingidas pela propaganda espertalhona como obras-primas.

Por fim, se Sena não alcança, como merece, o conhecimento universal, é porque escreveu numa língua que, embora goste de se dizer a

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quarta europeia mais falada no planeta, tem evidência diminuta no espaço culto das nações (da presença dos escritores nas livrarias aos estudos universitários), porque falta uma política cultural que divulgue e afirme internacionalmente os nossos melhores autores. Quantas literaturas se podem orgulhar de reunir na mesma década, a de 70 do século XX, poetas de diversas gerações e com o valor estético de Nemésio, Mourão-Ferreira, Sena, Sophia, Eugénio de Andrade, Carlos de Oliveira, Cesariny, Ramos Rosa, O’Neill, Herberto Helder, Ruy Belo, Neto Jorge, Fiama, Gastão, Júdice, Franco Alexandre, Fernandes Jorge, Magalhães? Gostaria de escrever sobre todos e outros mais. Fico-me por agora pelo melhor deles.

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© Sistema Solar, crl (Documenta), 2023

Rua Passos Manuel, 67 b, 1150-258 Lisboa

© Jorge Vaz de Carvalho

1.ª Edição: Novembro de 2023

isbn: 978-989-568-100-6

Revisão: Luís Guerra

Depósito legal: 523309/23

Impressão e acabamento: Europress

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