Da Crítica, Bruno Duarte (org) - excerto

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DA CRÍTICA ANDREAS ARNDT CHRISTIAN BERNER JUDITH BUTLER JOÃO PEDRO CACHOPO BRUNO C. DUARTE RODOLPHE GASCHÉ DIOGO SARDINHA MÁRCIO SELIGMANN-SILVA DENIS THOUARD

[…] e o que devo dizer em primeiro lugar a propósito desta época? A mesma época em que também nós temos a honra de viver; a época que, para tudo dizer numa palavra, merece o modesto mas significativo nome de época crítica, de modo que muito em breve tudo será criticado, com a excepção da própria época, e tudo se tornará sempre mais crítico, e aos artistas ser-lhes-á permitido nutrir a justa esperança de que a humanidade se eleve enfim em massa e aprenda a ler. Friedrich Schlegel

DA CRÍTICA

A nossa época é a verdadeira época da crítica, à qual tudo tem de submeter-se. A religião, pela sua santidade, e a legislação, pela sua majestade, querem geralmente esquivar-se a ela. Mas desse modo provocam contra si mesmas uma justificada desconfiança, e não podem reivindicar o sincero respeito que a razão concede apenas aos que podem suportar o seu livre e público exame. Immanuel Kant

DA C R Í T I C A edição e organização

Bruno C. Duarte

É muito provável que o problema central da crítica não seja, em primeira instância, o de definir qual o seu conteúdo, a sua função ou a sua finalidade, mas sim o de discernir o limite do confronto com a composição e decomposição formais do seu núcleo. De uma forma ou de outra, a constituição do conceito enquanto conceito regressa continuamente do sentido partitivo e reflexivo do nome, descobre na crítica algo que volta da crítica – e aí reside a sua maior dificuldade.

A palavra crítica exorta à crítica, a palavra faculdade do juízo ao julgar; nenhuma delas é dada ou arrendada a quem quer que seja. J.G. Herder A crítica nem sempre dá provas do seu olhar aguçado; ignora frequentemente as manifestações mais insignificantes. Karl Kraus

Há uma diferença entre dar-se conta da omnipresença (soletrada ou implícita) da noção de crítica no pensamento ‘contemporâneo’ – dito assim, mais uma vez, por falta de um melhor ou de um pior termo – e tentar apreender essa noção como um conceito unido a si mesmo. Inversamente, há uma diferença entre procurar a crítica e dar de caras com ela. É precisamente na tensão trazida por essa diferença que se torna necessário encontrar a coragem ou a imprudência de enfrentar a questão: que experiência é possível ter da “própria crítica”? É nesse ponto que é preciso recuar, por um instante que seja, e, antes de enunciar ou lançar qualquer juízo sobre a relevância e a necessidade, isto é, sobre o presente e sobre a presença da crítica, tentar encontrar ou reencontrar a percepção que é ainda possível ter desse conceito por si mesmo e junto a si mesmo, na sua individualidade.

com o apoio

D O C U M E N TA


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