P_Louis Philippe_Bubu.qxp:Ficção
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Introdução
Nessa aldeia Cérilly das florestas de Auvergne, Philippe fora excelente aluno da escola primária, e distanciava-se da pobreza familiar com uma bolsa que o reconhecia e o internava no liceu de Montluçon. No entanto, esta criança sobredotada fora desde os sete anos de idade deformada no rosto por uma osteíte do maxilar; e mais tarde, adulto, acrescentado em fealdade pelas cicatrizes de uma adenite escrofulosa e complexado por uma altura de homem que a não mais chegaria do que ao metro e cinquenta e três. «Sou pobre, feio, tímido, solitário, irascível e bondoso», escreveu numa carta a Francis Jammes. As fotografias mostram-no com barba estratégica e retocado pelo lápis do fotógrafo, mas resta-nos o implacável retrato de um médico: «A parte mais baixa do rosto era, por assim dizer, inexistente. Tinha o maxilar inferior totalmente retraído, e este maxilar mostrava do lado esquerdo uma cicatriz profunda que formava uma reentrância, com aderências que lhe esticavam para trás a boca dificultando-lhe muitas vezes a emissão da palavra e dando à fisionomia qualquer coisa como um ar trágico.» Em 1895 Philippe estava empregado numa farmácia militar em Paris; no ano seguinte estava sentado numa secretária do Município e a vigiar esgotos, e seis anos depois mais solto, menos burocrata, a fiscalizar o cumprimento de regras municipais nos espaços públicos do 7.º Arrondissement. Este degrau na carreira deveu-o a Maurice Barrès e a cordéis sensíveis à sua influência. O Philippe reconhecido não resistiu a enumerar, numa carta ao prestigiado escritor, as singularidades da sua trajectória: «A minha avó era mendiga; o meu pai, já em criança orgulhoso, mendigou desde muito novo o seu pão. Pertenço a uma geração que ainda não passou pelos livros. […] À volta tivemos o muro dos pobres e, muitas vezes, quando a Vida nos entrava em casa vinha armada com um pau. Só tínhamos como