Ana Hatherly Plurinímica e Outros Ensaios

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ANA HATHERLY PLURINÍMICA e outros ensaios

Ana Marques Gastão

ANA HATHERLY

PLURINÍMICA

e outros ensaios

DOCUMENTA

APOIO

© ANA MARQUES GASTÃO, 2023 imagens © CENTRO DE ARTE MODERNA DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN; COLECÇÃO DE ARTE DA FUNDAÇÃO LUSO-AMERICANA PARA O DESENVOLVIMENTO

© SISTEMA SOLAR (CHANCELA DOCUMENTA) RUA PASSOS MANUEL, 67 B, 1150-258 LISBOA

ISBN: 978-989-8833-79-2

1.ª EDIÇÃO: DEZEMBRO DE 2023

REVISÃO: LUÍS GUERRA

NA CAPA: DESENHO DE ANA HATHERLY, IN MAPAS DA IMAGINAÇÃO E DA MEMÓRIA (p. 44 baixo) SEM TÍTULO, SEM DATA, TINTA SOBRE PAPEL (13 × 8,9 cm)

COLECÇÃO DE ARTE DA FUNDAÇÃO LUSO-AMERICANA PARA O DESENVOLVIMENTO

DEPÓSITO LEGAL: 523308/23

IMPRESSÃO E ACABAMENTO: TÓRCULO

Índice Introdução | Inventar o futuro com Ana Hatherly . . . . . . . . . . 9 Ana plurinímica: a deflagração do nome . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Anagregoriana: o som na obra de Ana Hatherly . . . . . . . . . . . 39 Cyberana: uma poética da máquina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Anacromática: a operação das cores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 O Mestre : uma novela filosófica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 As Tisanas : auto-retrato de um samurai ocidental . . . . . . . . . 117 Procedência dos textos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 Nota sobre a autora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

Inventar o futuro com Ana Hatherly

Os ensaios reunidos neste livro constituem modos de aproximação diversos à obra de Ana Hatherly (1929-2015), cujo percurso acompanho há vinte e dois anos. No processo de compilação destes estudos, apercebi-me de que o tema «futuro», enquanto rede explorada pelo pensamento, pela imaginação, pela escrita e pela arte, atravessa de modo constante o trajecto da poeta-pintora que marcou de modo indelével a literatura e as artes do século XX. A experiência, a metamorfose e a plurinímia — adequada à (re)invenção em contraste com a noção de heteronímia — são alguns dos conceitos que ressaltam na análise do discurso cosmológico avançado pela autora, impossível de se percorrer sem nos interrogarmos sobre o que é a imagem e a escrita. A pluralidade da obra de Ana Hatherly é aqui analisada enquanto unidade — a da escrita na sua dimensão interartes —, apontando-se para a transgressão enquanto princípio veiculador de um caminho performático no qual a representação se associa a uma concepção do signo, do símbolo, do ícone, da cor: as palavras/desenho representam coisas outras, amiúde além sentido. Importa o que não se vê e não se diz. Nessa medida, a temática do som, e não só da música, dir-se-ia fulcral: o trabalho poético-visual da autora de O Cisne Intacto acompanha a história das ideias, das religiões, da mística e das artes, no sentido de uma erudição e de uma práxisconhecedora da pansemiótica cabalística, da arte combinatória e seus aspectos permutacionais, algo ao qual o conhecimento aprofundado do universo musical da ensaísta muito acrescenta.

introdução
Introdução | Inventar o futuro com Ana Hatherly 9

A ideia da criação de um alfabeto estrutural, interpretado no possível em pelo menos dois ensaios, não exclui a viabilidade de este ter sido um ponto de partida para a criação oculta ao longo do tempo de um Liber Brevior contemporâneo ou de uma missa cantada experimental. A obra, em vários domínios, merece um decifrador, como a de Pessoa, mas de outro modo, e andou sempre à frente do seu tempo, na forma e no conteúdo, seja ou não no período do Experimentalismo, nomeadamente no campo da inteligência artificial, da cibernética, da filosofia da máquina, ou da subversão da memória cultural, tantas vezes com o auxílio de ferramentas de outras épocas.

A escritora colocou, de facto, o Barroco em movimento como se a sua arte constituísse um género de microenciclopédia ou um extenso poliedro que não destrói nem canibaliza a sabedoria dos antigos, mas antes lhe confere continuidade expressiva. Na década de 60, Ana Hatherly apontava já a sua mão inteligente, sobretudo no domínio da poesia ficcional, para o mundo da robótica, no qual tanto do ser humano se inseriu em matéria de amor, poder, falta e ausência de liberdade, passando a obra, desde logo, a construir uma vasta máquina-imagem do mundo-máquina em velocidade intensíssima.

Este conjunto de textos não privilegia géneros literários ou áreas de criação intelectual, nem deixa de fora a personagem que Ana Hatherly era, contida e revelada em auto-retratos de vários tipos. Para além da poesia tout court, da poesia visual, da prosopoesia, da poesia-ensaio, sempre em diálogo com o desenho, reflecte-se aqui também sobre títulos centrais da literatura como a novela O Mestre e Tisanas. Analisa-se, por outro lado, não só o modo de investigação da autora, orientado para a criação literário-plástica, como a influência no seu caminho do estudo da escrita e da música, das filosofias orientais e europeias, do Barroco, da Linguística, da Teoria da Informação, da Psicanálise, do Estruturalismo, da Alquimia,

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do Simbolismo, da Cabala e de diversos domínios das Ciências Naturais e Humanas.

Utilizando um método, denominado por si própria como «arqueológico», Ana Hatherly criou uma antropologia artística da imagem não alheada daquilo que Derrida designou por «l’image vivante du vivant»1. Por meio de um olhar atento, tão acelerado quão contemplativo, fez da arte uma câmara de filmar e simultaneamente um ecrã. A força da visão, um dos seus mais poderosos dispositivos artísticos2, lançou-a num percurso alucinante em que foi tomando consciência da natureza nómada das imagens e da impossibilidade e impermanência de tudo, nunca esquecendo que a produção do imaginário tem sempre subjacente um processo social. Talvez por isso a sua obra possa ser entendida — não sem lhe atribuirmos uma certa vontade utópica na realização do possível — como uma poética do desejo, fulgurante, trágica, desconcertante.

1Jacques Derrida e Bernard Stiegler, Échographies de la télévision, Paris, Éditions Galilée, 1996.

2Edward S. Casey, The World at a Glance, Bloomington, Indiana, Indiana University Press, 2007, pp. 482-483.

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Ana plurinímica: a deflagração do nome

Poderíamos entrar de múltiplas formas na obra de Ana Hatherly. Diga-se, antes de mais, que esta marcou de modo singularíssimo a literatura e as artes do século XX, cabendo-lhe um lugar pioneiro, não só no campo das vanguardas, como na superação dos modelos da criação artística do seu tempo. A forma como se moveu no tratamento daquilo que se pode intitular «poema-coisa», estudado pelos concretistas, é revelador pelas características icónicas que vibram no modelo combinatório usado nos seus textos (palavra e número) e no modo particular como utiliza a mnemotecnia1.Há uma vibração de uma toute-puissance-autre (Derrida, 2003: 67)

naquilo que chamou de «escritura», geradora de um corpo de letras simbólico, enigmático, fragmentário e, todavia, uno: não por acaso fez um estudo da escrita desde a sua origem. Pela suspensão tão trágica quão gloriosa de uma obra praticada enquanto máquina proxémica, cinésica e paralinguística, chamaríamos aos seus desenhos-escrita poemas-selo. Centremo-nos, nesta abordagem, num conceito central da arte de Ana Hatherly, o de experimentação, contando com uma variabilidade de caminhos. Não que estejamos perante um método científico, mas diante da ideia de experiência (do latim experientia), que envolve a necessária perícia associada a um ofício (officium), também aliado a uma técnica, a uma habilidade, ou a um ritual de habitação do corpo em movimento ou em

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Ana plurinímica: a deflagração do nome 1Técnica de estimulação da memória, considerada divina pelos gregos. O nome vem da deusa Mnemosyne.

repouso, como defendeu Espinosa.2 Não a despropósito poder-se-ia começar por analisar a sua concepção de retorno a uma origem supostamente divina — recorrendo a uma tradição a subverter — e de rotura3, título de um dos filmes (e performances) mais marcantes da artista. Este trabalho remete-nos para a ideia de inscrição, que nos separa de um mundo inconsolável, e recusa o circuito de exploração do ser humano, nomeadamente o artista, sempre estrangeiro, «fugaz viajante» em «busca heróica», conforme se lê em Rilkeana (Hatherly, 1999: 48-49).

«Tudo está, afinal, em crise, o homem moderno, a ontologia — “homo mechanicus, homo eroticus, homo cyclopicus, homo ludicus” —, a linguagem, a fidúcia, a noção de objecto literário», segundo escreve José Augusto Mourão, citando o Padre Manuel Antunes4, algo pressagiado nos anos 60-70 por Ana Hatherly em textos como «Anatomia e Liberdade do Poeta Robot TU-114-Ag», prosopoema com veios de ficção científica. Nele, os conceitos (urgentes) de detergência, limpeza, mudança, regeneração, anunciavam, com uma ironia gélida, os malefícios da sociedade de consumo, da globalização desumanizante, da tecnologia mal utilizada. O acaso era ainda motivo de análise, desconstruindo-se, por meio da noção de operação5, a ideia de liberdade.

Os rasgões operados pela arte de Ana Hatherly levam-nos a pensar no conhecimento tal como este se adquire/transmite por meio dos cinco

2Cfr. Bento de Espinosa, Ética.Leia-se, na Parte II, «Da Natureza e da Origem da Alma», p. 26: Axioma I: «Todos os corpos estão em movimento ou em repouso». Axioma II: «Todo o corpo se move, ora mais lentamente, ora mais rapidamente».

3 Rotura integra o acervo de Ana Hatherly doado à Fundação Calouste Gulbenkian (Centro de Arte Moderna).

4José Augusto Mourão, em «Que Pode a Literatura?»(ensaio inédito), remete para o artigo «Homo mechanicus e Homo misericors», de Manuel Antunes, Brotéria,Dez. 1972, pp. 507-518.

5 Operação 1 constitui um álbum em que participaram os experimentalistas portugueses, objecto de uma exposição realizada na Galeria Quadrante (Abril de 1967). Operação 2 integra a produção pessoal de Ana Hatherly; a revista para a qual foi pensada não chegou a nascer. Segundo a autora, trata-se de um exemplo da «experimentação estrutural» iniciada nos Livros II e III de Anagramático (1965-1966).

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sentidos, indispensáveis à investigação, ou seja, como uma extensão do mecanismo do corpo em diversas acepções: o da movência de uma interioridade (operação interior), dada a conhecer a partir de um exterior aparente. A temática foi cultivada pelo Barroco e aprofundada pela ensaísta a propósito de A Preciosa, de Sóror Maria do Céu, e das anónimas Oytavas, em O Ladrão Cristalino (Hatherly, 1997: 221-231).6 Relembre-se que os cinco sentidos, tratados na perspectiva dúplice do terror/deleite, metáfora/alegoria, analogia/alusão, remetem, na obra da autora de Um Ritmo Perdido,para as cinco chagas de Cristo, como se nela percorrêssemos um único texto na sua linha de cumes que se bifurca e prolonga, em conjunção e disjunção, numa espessura vertical, horizontal e circular. Texto-corpo, afinal, corpo sem órgãos, erótico, mistérico e agónico, sanguíneo, anunciador da morte e da ressurreição, dadas a ver pela presença da cruz na obra literário-plástica, nomeadamente a swastika em Metamorfoses da Romã, encontrada do Extremo Oriente ao Extremo Ocidente e associada à rotação de uma esfera, a celeste (Guénon, 2010: 97-101). Relembre-se a ficção poética «Tacto — Um Sentido»,no qual a poeta entrecruza os fios de uma das tapeçarias de La Dame à la Licorne (Hatherly, 2001: 161-165), confrontando o desejo com o interdito e o intocável.

Elucidativa da figuração do cinco na obra de Ana Hatherly — número do centro, da crucificação e da vida, nupcial para os pitagóricos —

6Leia-se a introdução histórica e literária à edição de Ana Hatherly de A Preciosa, de Sóror Maria do Céu Edição actualizada do Códice 3773 da Biblioteca Nacional precedida de um estudo histórico, «Aspectos do funcionamento da alegoria» (alínea 3.2 referente a «Os cinco sentidos»), Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1990, pp. 77, 84. Cfr. Frei Antonio do Rosario, Carta de Mareardelineada pelo Reverendo Padre Mestre Frey Antonio do Rosario filho da Capucha de Santo Antonio do Brasil, Missionário no dito Estado, dirigida ao senhor D. Franco de Sousa Fidalgo da Casa de Sua Magestade, Cavalleyro professo, e Commendador da ordem de Christo, e Coronel da Cavallaria de Pernambuco, Lisboa, Officina de Felippe de Sousa Villela, Lisboa, 1717. Esta obra, também estudada pela ensaísta, inclui comentários esclarecedores sobre a matéria.

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dir-se-ia a análise, feita por José Fernandes Pereira, da simbologia arquitectónica de um martírio na Fonte das Cinco Chagas (Bom Jesus)7,exemplificado pelas «cinco bicas, as cinco chagas», jorrando «água para uma taça, encimada pelos instrumentos da tortura: a corda, o martelo, o açoite, o dístico superior» e indicando «o caminho da redenção do corpo, só possível pela anulação da sua inquietante materialidade»8. De facto, cinco são as almas em Le Bahir — Livre de la clarté e cinco são os livros (rolos) do Pentateuco, cinco são os dedos da mão que recebe e dá. A representação das estrelas de cinco, seis ou oito pontas, ou da flor de cinco pétalas, no desenho da artista, é vastíssima, aludindo à quinta-essência.

Regressando a um registo etimológico da palavra experiência, percebemos, por um lado, que ex significa separação do interior e, por outro, que a raiz, peri, denota o intento, a sabedoria e a expansão da arte como meios de transgressão e transmutação. Quanto ao sufixo composto, entia, indica a qualidade e a acção de um agente, o artista. Na verdade, o conhecimento está associado a uma pragmática, ligando-se a algo existente no mundo real em relação ao qual possuímos uma prática directa. É isso que a ensaísta faz, remetendo o símbolo para um referente que se torna ele próprio referente, tal como esclarece num seu artigo dedicado a Blake, no qual afirma que «símbolos são correspondências, correspondências entre si e correspondências duma outra realidade que o Poeta (entre)vê e comunica obscuramente, confusamente mesmo, porque não pode fazê-lo senão por transposição, através da representação»9.

7A Fonte das Cinco Chagas era, segundo o autor, inicialmente intitulada Fonte dos Sete Castelos, em alusão às armas de Dom Rodrigo de Moura Teles, que vem a introduzir mudanças no santuário.

8Cfr. Claro/Escuro, 1, Lisboa, 1988, p. 21.

9Ler, de Ana Hatherly, «Simbolismo e imaginação em Blake», em Colóquio/Letras, n.º 54, Mar. 1980, pp. 14-22.

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Apesar da dimensão lírica da sua actividade artística, Ana Hatherly considera-se «uma investigadora do real»10, algo que, sem uma intuição de espanto (do latim intuitio, do verbo intueor, que quer dizer observar atentamente), não seria possível. Num sentido espinosiano, tudo é simultaneamente corpo (corpus) e espírito (mens), coisa e ideia. Ora, a autora fez decorrer a sua obra, seja em que ramo for, do que poderíamos chamar inspecção do que se vê, na acepção de Leibniz, o que nos leva a concluir que, mesmo tendo em conta a «ilusão da verdade que é a arte» (Hatherly, 2006: 14), será preciso uma apurada visão em movimento para se ser um sujeito que a opera. Para melhor o esclarecer e esquecendo que a tecnologia digital alterou o modo de fazer fotografia, pensemos que a retina, como Kühne observou, capta imagens em mudança, funcionando não apenas como chapa fotográfica, mas como estúdio, onde o fotógrafo a troca de modocontínuo. Só que, enquanto este vai tratando o novo material sensível à luz, a imagem antiga apaga-se em simultâneo. Que melhor metáfora da memória, tema central desta obra, poderíamos encontrar condizente com a da poeta, que a define, na «Tisana 120», como uma «claridade fictícia de sobreposições que se anulam» (Hatherly, 2006: 67)?

O escritor vê, conduzido por flashes da memória, fixando o instante e transfigurando-o a partir de uma pesquisa intuitiva e de uma complexidade teórica, como a da autora: o artista está sempre a ser arrastado, no entender de Ana Hatherly, em direcção ao reino da ficção, algo compreendido como inevitabilidade de um destino. Mas, sem intuição, seja ela de ordem empírica, inventiva ou intelectual, não há engenho, e o experimento, aleatório por definição, esvazia-se no seu propósito. É, pois, o acontecimento (aliado à experiência) a situar-nos no desenho-escrita de Ana Hatherly, que vive da recondução do sujeito ao acto de ver o que

10O lirismo é inconcebível sem a noção de real.

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não se vê, dando-o também, de modo alusivo ou alegórico, a ver. Em torno desta ideia gira uma multiplicidade, ou melhor, uma multiplicação de artes que a criadora entrelaça, em particular a escrita e o desenho, enquanto modos de investigação daquilo que considera ser um idioma artístico, no qual as imagens têm sempre leituras multíplices. São entidades exegéticas.

Nesse pacto lúdico, que exige, segundo Ana Hatherly, uma consciência da íntima ligação entre escrita e leitura, movimenta-se uma arte tão flamejante quão contida, em que o processo, à maneira dos alquimistas, não se distingue da obra (Hatherly, 2001: 11). A fragmentariedade aparente das parcelas deste puzzle poético constitui uma unidade centrada em ideias que tanto Francis Bacon como Aldous Huxley sustentaram, colocando-se, em diálogo, tradição e ruptura. Talvez a autora pudesse ter escrito com Augusto de Campos: «Assim como há gente que tem medo do novo, há gente que tem medo do antigo. Eu defenderei até à morte o novo por causa do antigo e até à vida o antigo por causa do novo. O antigo que foi novo é tão novo como o mais novo novo».11

Se, para Francis Bacon, a melhor prova residia na experiência, para Huxley não era ela a acontecer ao homem: experiência dir-se-ia aquilo que o ser humano faz com o que lhe sucede, filosofia que preside ao espírito das tisanas— prosopoemas nos quais a ideia de invento e de produção de um acontecer, também na acepção deleuziana, são recorrentes. Escreve a ensaísta na apresentação da obra: «Todas as Tisanasobedecem a um princípio semelhante ao do Koan budista, são sempre, directa ou indirectamente, um acontecimento, um evento, mesmo que seja apenas linguístico. Todas as

11Citação do prefácio de Augusto de Campos a Verso, Reverso, Controverso, São Paulo, Perspectiva, 1978, in Poesia Concreta,selecção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios de Iumna Maria Simon e Vinicius de Avila Dantas, «Literatura Comentada», São Paulo, Abril Educação, 1982, s/p.

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Tisanas dizem sempre respeito a algo que acontece, ao significado ou à questionação do significado de um acontecer que se depara ao narrador e que se oferece ao leitor como um desafio» (Hatherly, 2006: 14). A arte, na sua encruzilhada de linhas de fuga, na tessitura de redes condutoras de um saber estratificado, nada mais faz do que elevar o real, transformando-o, de algum modo, num «vapor incorporal» (Sousa Dias, 2012: 97).

Dito isto, lembre-se que a autora aderiu, no princípio de 60, ao movimento da Poesia Experimental Portuguesa, cabendo-lhe a autoria do primeiro poema concreto em Portugal (1959)12. Estamos perante uma obra pioneira e extensa. Recordemos que o boom da poesia concretista no Brasil se situa nos anos 1956-1960, como produto da evolução crítica das formas aliadas à importância da estrutura espaciotemporal. Daí, segundo afirma o plano-piloto para poesia concreta, assinado por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, publicado originalmente em Noigandres 413, o relevo dado a uma multiplicidade de movimentos concomitantes e à «importância da idéia de ideograma, desde o seu sentido geral da sintaxe espacial ou visual, até o seu sentido específico (fenollosa/pound) de método de compor baseado na justaposição direta — analógica, não lógico-discursiva — de elementos.»14

Neste contexto, não só Ana Hatherly se virá a tornar, em Portugal, numa teórica do Experimentalismo, como ela própria, também enquanto estudiosa da escrita — na base de toda a poesia visual do século XX—, passará a ter um papel essencial na introdução, entre nós, da função orgânica da poesia enquanto objecto de pensamento. São visíveis na sua obra a interacção entre caracter/letra e signo (ícone); o movimento imitativo do real, também corpóreo, e a forma geométrica; o diálogo entre a

12Espólio de Ana Hatherly, Biblioteca Nacional de Portugal, N57/cx. 20.

13Edição dos autores, São Paulo, 1958.

14Cfr. Poesia Concreta, op. cit., 1982, s/p.

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atomização das palavras e os recursos tipográficos; o uso do caligrama na tradição mística, a prática do anagrama que estudou aprofundadamente15, bem como a evidência de uma relação com as regras da composição musical e coreográfica. A palavra é som e movimento, a cor é som e movimento — abrem a porta ao silêncio.

Mapas da Imaginação e da Memória, que integra uma série de desenhos-escrita, dá-nos a conhecer um invulgar alfabeto estrutural criado por Ana Hatherly, já antes publicado na obra colectiva Operação 116, sistema fundado na organização de oito caracteres básicos, que podem formar constelações de significados ou ser lidos como sintagmas. Trata-se de uma obra única, apoiada num denso conhecimento gestual da escrita (Oriente, Médio Oriente, Norte de África, Escandinávia, Latina), do Estruturalismo e da Cabala. Diga-se que, para a autora, «imaginar é igual a codificar». Escreve a artista, conhecedora da gematria17 (Hatherly, 1983: 59), que «a escrita surge como um sistema de sinais para indicar um roteiro específico, o que faz com que toda a página escrita seja um mapa» (Hatherly, 1973: 9).

15Ler «Para uma arqueologia da poesia experimental. Anagramas portugueses do século XVII», em Colóquio/Artes, n.º 40, 1979, pp. 32-41.

16 Operação 1 (1967),organização de Ernesto de Melo e Castro.

17Gematria é um sistema assírio-babilónico da numerologia, mais tarde adoptado pelos judeus e que atribui um valor numérico a cada palavra ou frase do alfabeto hebraico. 23 representa, por exemplo, o número de letras das seguintes palavras do Génesis: «E disse Deus: “Haja luz!” E houve luz.»

A utilização do oito (8) neste alfabeto corresponde ao número das bem-aventuranças, dos deveres de conforto moral do cavaleiro, dos oito demónios interiores do Budismo e dos oito trigramas do I Ching — Livro das Mutações, imagens de tudo quanto ocorre no Céu e na Terra, bem como da mutação permanente, ou melhor, da tendência universal do movimento. Pode atribuir-se-lhe, segundo a autora, uma natureza «conceptual» e relacioná-la com o facto de 8 ser duas vezes 4 (4 + 4 = 8) — número da 20

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terra, do quadrado e da cruz, dos quatro emblemas das tribos de Israel, dos quatro animais em Ezequiel, dos quatro cavaleiros do Apocalipse de João, etc.18 O tetragrama, Y-H-V-H(10 + 5 + 6 + 5 = 26), que percorre em variações a obra de Ana Hatherly, representa, por outro lado, o nome do Deus de Israel, formado, em hebraico, por quatro consoantes e escrito e lido de modo horizontal. Fala-nos da mobilidade da transcendência. Para a Cabala, todas as letras derivam do tetragrama e a estrutura íntima entre algumas delas reenvia-nos para esse Nome. Do ponto de vista simbólico, estamos perante a manifestação perfeita das formas, o reino espiritual, que sucederá ao mundo como o conhecemos, revelado por certos labirintos de letras. «Sabe, pensa, imagina», diz O Livro da Criação [Sefer Yesirah, 2002: 31)

Seguindo o raciocínio de Ana Hatherly (Hatherly, 1983: 59), e dando a conhecer um dos pontos de partida para a escolha dos oito caracteres do alfabeto AH, o tetragrama (TETRAGRAMMATON — o Nome de Deus) reenvia-nos para o número 8, pois o valor de YHVH (Yod-Hé-Vav-Hé )é igual a 26porque em hebraico yod vale 10, hé vale 5 e vav vale 6, o que nos dá: 10 + 5 + 6 + 5. Se completarmos a adição, obteremos8: 2 + 6 = 8. Do tetragrama deriva, por outro lado, o número 72 — número dos nomes de Deus e dos Anjos na Cabala —, que representa a soma das 50 portas da compreensão às 22 letras do alfabeto hebraico. Se ao primeiro número do tetragrama adicionarmos, por outro lado, os dois primeiros números, depois os três primeiros e finalmente os quatro, obteremos a

18Os Gregos diziam que todas as coisas são oito, sendo o número conhecido como o portão da eternidade, porque sucede ao sete (os sete dias da criação) e antecede o nove, totalidade dos três mundos. Os anjos são, no entender do Pseudo-Dionísio, o Aeropagita, hierarquizados em nove coros. O nove, segundo Dante, é o número do Céu, o de Beatriz, símbolo do amor, e também o do Inferno na mitologia azteca. Segundo Allendy, o nove resolve o retorno da multiplicidade à unidade, representa a solidariedade cósmica e a redenção.

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série seguinte: 10 + 15 + 21 + 26 = 72. A dinâmica cumulativa de Ehyeh («Eu sou Aquele que É» ou «Serei o que Serei», Êxodo 3, 14) revela-se ainda no número 44, cujos números somados nos reenviam de novo para o 8 (4 + 4 = 8). Os oito caracteres são anunciadores de dores e alegrias, desenhadas amiúde pelo sete, número do esplendor divino (Hatherly, 1973: 5-9), que atravessa também aqui e ali os Mapas.

De uma forma ou de outra, o alfabeto estrutural, que enceta um discurso cosmológico, percorre toda a obra da escritora, também nos intervalos, nos espaços em branco, e surge transposto e permutado na dinâmica do verbo, a começar pelo uso do nome próprio de Ana Hatherly, Ana, se o entendermos enquanto partícula energética. Somos energia, daí a importância da química atomística e quântica no percurso literário-plástico hatherliano, bem como dos efeitos da vibração existente no som e nos modos de pensamento. Refira-se que os átomos são formados por partículas menores e que as fundamentais constroem todas as outras encontradas na natureza, formando assim correntes ou malhas energéticas e magnéticas. A luz emite partículas, por exemplo, fotões. É essa a metáfora da arte que a autora nos transmite. De um modo alusivo, poderíamos dizer que há quarks19, nomeadamente pelo uso da cor, na arte de Ana Hatherly, que, do ponto de vista da Física, não podem ser encontrados de forma isolada. A investigadora cria não só uma mitologia própria, mas comunidades de imagens, legíveis ou ilegíveis — algo paralelo a uma geometria sagrada, ou, se quisermos ser mais científicos, fractal, que retrata formas e fenómenos da Natureza, o que nos remete para a temática da repetição na obra da autora de O Cisne Intacto.

19O quark, na física das partículas, constitui uma partícula elementar, bem como um dos dois elementos básicos que constituem a matéria (o outro é o leptão).

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O nome ana, que surge em diversas obras (Hatherly, 1992: 75), é e não é, pelas razões apontadas, o nome da autora, por mais associações identificativas que possam fazer-se. A partir daí, poderíamos considerar a possibilidade de existência de uma heteronímia, mas esta implica a criação de várias personalidades, reconhecidas no caso Pessoa. Estamos antes perante uma plurinímia, conceito adequado ao invento de Ana Hatherly, no qual o conceito de auto-similaridade fractal é importante. A plurinominalidade (o que tem muitos nomes) identifica-se com um nome fragmentado (A-N-A), deslocado, desviado e repetido de modo vário e, em modo anagramático ou acróstico, nos diversos títulos dos seus livros, séries ou poemas isolados. Este aspecto plurinominal espelha-se em constelações múltiplas, emanações energéticas e linguísticas, ideias sem dimensão corpórea a não ser a da letra, mas que desenham pontos, linhas, círculos, árvores e seres mínimos, girando em torno de um lugar utópico, concentrado na ideia de noite/dia, que esboça uma filosofia do tempo.

O nome ana surge de modo mais ou menos oculto nos títulos de Ana Hatherly: relembre-se Leonorana, Tisanas, Anacrusa, Rilkeana, Joyciana, etc… Lê-los em maiúsculas permitir-nos-á uma leitura mais clara deste percurso de inscrição de partículas no escuro, como se um carro invisível, o do desejo do poeta, entendido como mago, as conduzisse a um espaço de luz, o do mistério.

Ficamos diante de uma música do futuro, como lhe chamou Kandinsky, a propósito das composições de Schönberg, que nos fazem entrar num domínio em que as experiências musicais já não são puramente acústicas, mas anímicas. A velocidade excessiva do pensar de Ana Hatherly reproduz-se na escrita num aglomerado complexo e, no entanto, despojado e claro, de forças em colisão. Só que o resultado produz elementos pictóricos de consonância geométrica e orgânica que parecem girar segundo um movimento centrífugo, ritmicamente, melodica-

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Esta imagem, tão kandinskiana, pode aludir, por exemplo, de modo transfigurado, aos corpúsculos. Pense-se nas partículas elementares, electrizadas ou não, que resultam da desintegração do átomo, em áreas da biologia celular ou da hematologia. De alguma forma estamos diante de um jogo de Lego simbólico que remete para os corpos vivos ou em desaparecimento.

Ana Hatherly, Sem título, 1964, papel, ponta de feltro e tinta-da-china, 16 × 10 cm. Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

mente, harmonicamente. Há uma voz nos textos da autora, voz de vento e unção, de água ridente de tão trágica, que também usa o caligrama, um desenho do pensamento que existe desde Símias de Rodes. São conhecidos em língua grega, hebraica ou árabe; o Barroco foi pródigo em textos visuais.

Ana Hatherly praticou o caligrama e o anagrama de forma singular na poesia visual, que se constitui como anábase — denominação dada na Grécia Antiga à melodia ascendente — tornando-a ilegível, porque o importante era o peso-leveza do movimento, a transgressão progressiva e aleatória do acto criador, tantas vezes de dimensão cartográfica

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Observe-se a sequência das romãs, que vão do nascimento até à morte. Se a primeira romã é elaborada em conjugação entre desenho e escrita, numa perplexidade quase irónica, as últimas dão-nos a dimensão de uma tragicidade fluida e tocante. É evidente a presença da swastica na segunda romã de um espesso negro.

— a beatitude representada em cada letra. O vocábulo labor,associado também à ideia de uma obra de longo fôlego, conjuga-se com a ideia de comunidade. Nesta escrita-desenho, as palavras fundem-se, quebram-se em novas montagens, criando uma mineralogia mitológica do texto (veja-se a estrutura de um cristal, comparando-a com os desenhos de Ana Hatherly),que participa do labirinto das catedrais. Observe-se as séries de círculos concêntricos na sua arte e descubra-se como formam um trajecto bizarro pelas redes da escuridão, reproduzindo a simbologia do orvalho e o voo das aves viradas de costas para o mundo. São perceptíveis, na sua obra visual, numa dinâmica de exaltação recolhida, o sangue microscópico

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pp. 25-27:

Ana Hatherly, cinco desenhos da série Metamorfoses da Romã, sem data, colagem e lápis de cor, ponta de feltro e tinta-da-china, 14× 8,9 cm. Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

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de um corpo devastado; o esmagamento de uma cabeça esvaída na sua morte; a luminosidade ígnea da chuva, o movimento do que poderíamos chamar anima mundi; cenários genesíacos ou apocalípticos, centralizados no grande olho, o terceiro de Shiva (o da inteligência, da destruição e da regeneração), representado em Metamorfoses da Romã, desenhadas em evolução vívida até ao seu desaparecimento num êxtase.

Êxtase — ec-stasis —, que é também uma anastasis (ressurreição), a do instante incerto, dir-se-ia também o de uma constelação linguística.A mecânica ocular, posta em prática pela artista na série das romãs20, produz um movimento de lenta perseguição imagética, ao qual a artista procede na sua caçada do invisível a partir do visível. A representação do mundo como máquina, que absorve a revolução mecânica do século XVII, iniciada por Galileu, que a autora estudou (bem como a anterior investigação de Giordano Bruno), está patente na sua obra. Segundo Platão, Deus é um geómetra, um matemático, mas Bacon, Mersenne, Descartes e Pascal fizeram sua uma harmonia entre uma visão mecanicista do mundo e a de um Deus criador. Ana Hatherly é uma herdeira contemporânea desse modo de pensar a Natureza, a Ciência, o Divino, o Infinito.

Para a poeta, construtora de um mysterium cosmographicum, tanto na obra literária como na visual, que são afinal da mesma essência, a da escrita, vivemos num chaosmos a harmonizar. A analogia com a literatura de Joyce é óbvia, cuja obra a autora glosou, reinventou e homenageou, não por acaso, ao longo de 23 variações, a partir de Finnegans Wake, em Joyciana: Anaviva e Plurilida (Hatherly, 2001: 338-370). Poderíamos ainda chamar à cola-

20A romã possui 613 sementes. Se se contarem as letras dos dez mandamentos, encontrar-se-ão 613. O fruto estava representado no Templo de Salomão e é associado à deusa Perséfone. Pomegranate, do inglês, deriva do latim. «Pomum» significa «maçã» e «granatus» «com sementes». A série Metamorfoses da Romã pertence ao acervo do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Procedência dos textos

1.O primeiro ensaio, «Ana plurinímica: a deflagração do nome», intitulado na sua primeira versão «Ana plurinímica», foi lido a 13 de Janeiro de 2014 numa conferência proferida na Academia das Ciências de Lisboa. Esse texto, ainda enquanto esboço inacabado, está disponível em:

http://www. acad-ciencias.pt/ documentuploads/4900851_ana-marques-gastaoana-plurinimica.pdf e em

https://poex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-alografas/anamarques-gastao-ana-plurini-mica/ Publica-se neste volume em versão revista e aprofundada.

2.«Anagregoriana: o som na obra de Ana Hatherly»foi publicado na revista online da Cátedra Cascais Interartes, 2019:

http://online.flip html5.com/kyoil/thvz/#p=42

3.«Cyberana: uma poética da máquina»pode ler-se em Biblos —Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, n.º 3, «Futuros», 3.ª série, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017.

4.«Anacromática: a operação das cores»teve a sua primeira publicação na revista Colóquio/Letras, n.º 193, Setembro 2016, pp. 61-70.

5.«O Mestre: uma novela filosófica» está disponível em Ana Marques Gastão, As Palavras Fracturadas,Lisboa, Theya, 2013. Primeira versão in Colóquio/Letras, n.º 178, Setembro 2011, pp. 122-133. O ensaio foi reproduzido na Plural Pluriel, Revue des Cultures de Langue Portugaise, Université Paris Nanterre, 2017: https://www.pluralpluriel.org/index.php/revue/article/view/80. Dá-se a conhecer neste livro uma versão revista e ampliada deste estudo, desenvolvido

Procedência dos textos 139

na sequência da recensão crítica à tradução de O Mestre para língua francesa por Catherine Dumas: Le Roi de pierre, Anne Rideau Éditions, 2015, in Colóquio/Letras, n.º 194, Jan. 2017, pp. 246-248.

6.O ensaio«As Tisanas: auto-retrato de um samurai ocidental», aqui publicado em versão revista,serviu de base a uma conferência proferida na Universidade de Coimbra, vindo a ser posteriormentepublicado em As Artes do Colégio, «Vanguardas», vol. 2, Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, colecção dirigida por Rita Marnoto, 2016.

As Tisanas foram também abordadas em conferência proferida na Universidade de Florença, cátedra Fernando Pessoa, no colóquio intitulado «Trasparenze e rifrazioni. L’Oriente nella poesia di lingua portoghese moderna e contemporanea». Uma das várias versões do texto foi integrada no volume com o mesmo título, miscelânea de ensaios editados por Michela Graziani, Florença, Società Editrice Dante Alighieri,Perugia, 2015, pp. 61-76.

Esta obra foi igualmente alvo de uma palestra na Universidade de Nanterre por ocasião do colóquio internacional «Le Labyrinthe. La chasse de l’improbable et l’œuvre d’Ana Hatherly. 50 ans après la publication de O Mestre», Université

Paris Ouest Nanterre e Delegação em França da Fundação Calouste

Gulbenkian, 22 e 23 de Abril, 2013. Comissão de organização: Ana Paixão — Université Saint-Denis/Paris 8; José Manuel Esteves — Cátedra Lindley

Cintra, Université Paris Ouest Nanterre; Graça dos Santos — Université Paris

Ouest Nanterre e eu própria. Cfr. PluralPluriel,Université Paris Nanterre, 2017: https://www.pluralpluriel.org/index.php/ revue/article/view/83/70.

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Nota sobre a autora

Ana Marques Gastão (Lisboa, 1962) é poeta, ensaísta e investigadora. Escreveu Tempo de Morrer, Tempo para Viver (Universitária Editora, 1998), Terra sem Mãe (Gótica, 2000), Três Vezes Deus, em co-autoria com António Rego Chaves e Armando Silva Carvalho (Assírio & Alvim, 2001), Nocturnos (Gótica, 2002), Nós/Nudos — 25 Poemas sobre 25 Obrasde Paula Rego (Edição bilingue, traduzida para castelhano por Floriano Martins, Prémio PEN Clube, Gótica, 2004; Noeuds é o título da edição francesa traduzida por Catherine Dumas; éditions fédèrop, 2007), Lápis Mínimo (Asa, 2008), Adornos (Dom Quixote, 2011), L de Lisboa (Assírio & Alvim, 2015), O Olho e a Mão,com Sérgio Nazar David (Rio de Janeiro, 7Letras, 2018), A Mulher sem Pálpebras (BookBuilders, 2021, Prémio Autores da SPA 2022 para o melhor livro de ficção narrativa) e Oníricas, Assírio & Alvim, 2023). Publicou As Palavras Fracturadas — Ensaios (Theya, 2013). Organizou o livro de entrevistas O Falar dos Poetas (Afrontamento, 2011) e editou o volume de ensaios de Ana Hatherly, Esperança e Desejo — Aspectos do Pensamento Utópico Barroco (Theya, 2016), e Tisanas, da mesma autora (Assírio & Alvim, edição e posfácio, 2024).

A antologia A Definição da Noite saiu no Brasil (Escrituras, 2003). Alguns dos seus poemas estão traduzidos para castelhano, catalão, francês, inglês, alemão, romeno e esloveno. Coordena, desde 2009, a revista Colóquio/Letras da Fundação Calouste Gulbenkian. Licenciada em Direito pela Universidade Católica Portuguesa e advogada, foi jornalista cultural durante mais de vinte anos. É membro do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e consultora/assessora da cátedra Ana Hatherly (Instituto de Estudos Europeus e Instituto Camões), Universidade da Califórnia, Berkeley.

Nota sobre a autora 141

À Fundação Calouste Gulbenkian/Centro de Arte Moderna, à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, pela cedência das imagens, e à cátedra Ana Hatherly (Universidade da Califórnia, Berkeley) nas pessoas de Deolinda Adão e Duarte Carvalho Pinheiro.

Agradeço muito especialmente a Nuno Júdice, a Maria Filipe Ramos Rosa, a Luis Manuel Gaspar e a Raul Lourenço (revista Colóquio/Letras), a Rita Marnoto (Universidade de Coimbra/revista Biblos), a Mário Avelar (FLUL/revista Cascais Interartes),a Piero Ceccucci, a Ana Paixão, a José Manuel da Costa Esteves e a Graça dos Santos, com quem organizei, em 2013, o colóquio internacional

«Le Labyrinthe. La chasse de l'improbable et l'oeuvre d'Ana Hatherly. 50 ans après la publication de O Mestre», Université Paris Ouest Nanterre e Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, a Fátima Lopes (Biblioteca Nacional de Portugal), ao Goethe-Institut,à Academia das Ciências de Lisboa, a Sérgio Nazar David, e a Luís Guerra pela forma cuidadosa como acompanhou a revisão deste livro.

Agradecimentos 143
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