Revista MEGA

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AR T IG O

Maior que a encomenda

ANTONIO DELFIN NETTO Professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, ex-ministro da Fazenda, exministro do Planejamento, ex-deputado federal e consultor de economia.

sistemamega.com

Caiu um pouco mais do que se imaginava o nível da atividade econômica por força das medidas de controle do crescimento adotadas pelo governo no início de 2011. Há uma boa discussão, hoje, para tentar saber se houve excesso de dosagem da equipe econômica ao colocar em vigor algumas barreiras para prevenir o avanço da inflação e desestimular a elevação dos níveis de consumo. Não importa muito o resultado da discussão. O fato é que as duas vertentes funcionaram na direção pretendida: a inflação, que ameaçava fugir ao controle, passou a se deslocar em direção ao centro da meta, vagarosamente é verdade, mas fazendo crer que a taxa de 4.5% em 2012 poderá ser alcançada; já o objetivo de conter o crescimento surpreendeu com uma velocidade maior do que o pretendido, derrubando as expectativas oficiais de uma expansão do PIB acima de 3.5% em 2011. As medidas preventivas visando preparar a nossa economia para o desaquecimento mundial tiveram o efeito de segurar o consumo e restringir a produção industrial, principalmente. O Produto não cresceu no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, o que manteve a expansão do PIB em 3.2% nos três trimestres do ano. Segundo o IBGE, os dados relativos ao comportamento do PIB no mundo, entre o segundo e terceiros trimestres de 2011, mostram que a economia continua desaquecida na maioria dos países importantes: cresceu apenas 0.6% nos Estados Unidos, 0.5% na Grã Bretanha e na Alemanha, e 0.4% na França, com destaques ainda mais medíocres na Espanha (zero de crescimento) e taxas negativas nos mais complicados da Zona do Euro, Grécia, Portugal. Os números da Itália ainda não estão acessíveis.

No Brasil, tendo em mãos os números do comportamento da produção industrial em outubro (uma queda de 0.6%) e do recuo nos níveis da demanda doméstica, o governo se antecipou à divulgação do IBGE sobre o PIB e editou novas medidas de desoneração de impostos para voltar a estimular os setores da habitação popular e da indústria de bens duráveis de maior consumo das famílias, como os produtos da linha branca. E eliminou ou reduziu os pagamentos relativos a PIS/COFINS do trigo, pão francês e massas em geral. De acordo com o Ministro da Fazenda, o governo está preparando novas medidas para reduzir os controles ao crescimento que adotou no início deste ano como forma de defesa contra os efeitos do forte desaquecimento mundial e do encolhimento do comércio internacional, que de fato se verificaram. Essas novas medidas devem ser tomadas agora, para não perder o crescimento de 2012. O Brasil, hoje, está melhor preparado para coloca-las em prática, porque todos aprendemos com a crise de 2008. Mesmo com os esforços que as lideranças europeias desenvolveram nas últimas semanas, ainda não está afastado o risco de novas turbulências: a quebra de um grande banco bastará para produzir perturbações graves na economia mundial. Num caso como este, renovam-se quase instantaneamente as dificuldades no movimento do comércio e nas disponibilidades de recursos para financiar o desenvolvimento dos países. E ninguém pode esperar que não seja molestado pelas consequências.


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