Revista Escada - Edição 50

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ChatGPT

Desafios e possibilidades dentro da sala de aula

Nova ferramenta de inteligência artificial movimenta discussões sobre os modelos de ensino e aprendizagem, impondo novos desafios aos docentes

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ENTREVISTA Atuação no fortalecimento da educação integral e em atividades de contraturno

Roni Miranda Vieira assume a Secretaria de Educação do Paraná, depois de ter passado por diversas experiências na gestão educacional, inclusive ao lado do antigo secretário, Renato Feder

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Talentos e oportunidades

Relatório de Capital Humano Brasileiro demonstra que falta de investimentos sociais implica na manutenção da desigualdade

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Número 50 | Ano 11 mar 2023

Publicação Sinepe/PR

A REVISTA DAS
ESCOLAS PARTICULARES DO PARANÁ

Índice

REVISTA ESCADA

Publicação periódica de caráter informativo, com circulação dirigida e gratuita, desenvolvida para o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná.

Conteúdo e comercialização V3COM

Projeto gráfico e ilustrações V3COM

Design gráfico e arte final

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Redação

Camila Acordi

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Jornalista responsável

Ari Lemos | MTB 5954

Críticas e sugestões ari@v3com.com.br

Conselho editorial

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Everton Drohomeretski

Fatima Chueire Hollanda

Marcio Mocellin

Haroldo Andriguetto Júnior

Adriana Veríssimo Karam Koleski

Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião desta revista.

CHATGPT : DESAFIOS E POSSIBILIDADES

DENTRO DA SALA DE AULA

Nova ferramenta de inteligência artificial movimenta discussões sobre os modelos de ensino e aprendizagem, impondo novos desafios aos docentes.

Traçando metas: professores, metas e bem-estar no dia a dia Com o início do ano letivo, docentes podem sentir os impactos da retomada da rotina; planejamento e objetivos podem ajudar nessa questão

Frente a frente com o bullying

Diálogo e escuta ativa são ferramentas poderosas para combater violências que podem trazer graves consequências ao desenvolvimento dos estudantes

Geração perdida: como escolas podem evitar desperdício de talentos

Relatório de Capital Humano Brasileiro demonstra que falta de investimentos sociais implica na manutenção da desigualdade

O direito à inclusão

A educação inclusiva e adaptada às necessidades do estudante permite mais felicidade e integração da criança na escola

Novo secretário de educação do Paraná pretende atuar no fortalecimento da educação integral e em atividades de contraturno

Roni Miranda Vieira assume a secretaria depois de ter passado por diversas experiências na gestão educacional, inclusive ao lado do antigo secretário, Renato Feder.

Evasão escolar e um futuro incerto

Longe das salas de aula, estudantes perdem a experiência de uma infância segura e com práticas que desenvolvem diversas habilidades e competências

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EDITORIAL ENTREVISTA DO MÊS
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Sergio Herrero Moraes

Presidente do Sinepe/PR

Caros leitores, É com grande alegria e satisfação que o Sinepe/PR apresenta a primeira edição de 2023 da Revista Escada, marcando o início de mais um ano letivo, que já começou com movimentações importantes para a educação brasileira, a começar pela transição política e, consequentemente, pela posse de novas equipes na gestão pública. No Paraná, apesar do cenário de reeleição, a Secretaria Estadual de Educação (Seed-PR) passou a ter um novo representante. Para conhecer as prioridades e o planejamento da nova equipe, a Revista Escada traz uma entrevista exclusiva com o novo secretário Roni Miranda Vieira. Com experiência na gestão educacional, Roni contou sobre sua trajetória e desafios profissionais e demonstrou que pretende investir esforços no fortalecimento da educação integral e do contraturno. Vale a pena conferir e conhecer mais sobre o dirigente estadual. No mundo da tecnologia, todos os olhares se voltaram para uma ferramenta de inteligência artificial lançada no início do ano passado: o

ChatGPT. Gratuita e aberta, a plataforma já é uma realidade dentro das escolas e universidades, trazendo novos desafios aos docentes. Por isso, nesta edição, não poderíamos deixar de apresentar uma reflexão sobre o tema e trazer a visão de especialistas e educadores. Como lidar com essa nova ferramenta? É possível torná-la uma aliada no processo de ensino e aprendizagem? Como levar a discussão para dentro das salas de aula? Muitas perguntas ainda não podem ser respondidas, mas o debate é urgente, extremamente relevante e acredito que, apenas com coletividade e colaboração, encontraremos caminhos e soluções inteligentes para esse e para outros tantos desafios complexos da educação. Não deixe de conferir também as outras discussões sobre temas caros à educação: inclusão, oportunidades, evasão e planejamento dentro da escola. Interconectadas, essas pautas indicam caminhos mais certeiros e qualificados para a educação brasileira. Esperamos que aproveite a leitura!

Sergio Herrero Moraes

EDITORIAL

SINEPE/PR

Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná www.sinepepr.org.br | www.facebook.com/sinepepr

CONSELHO DIRETOR - GESTÃO 2022/2024

DIRETORIA EXECUTIVA

Presidente Sergio Herrero Moraes

1.º Vice-Presidente Haroldo Andriguetto Júnior

2.º Vice-Presidente Celso Maurício Hartmann

Diretor Administrativo Everton Drohomeretski

Diretor Econômico/Financeiro Cristiano Vinícius Frizon

Diretor de Legislação e Normas Nilson Izaias Pegorini

Diretor de Planejamento Carmem Regina Murara

DIRETORIA DE ENSINO

Diretor de Ensino Superior Adriana Veríssimo Karam Koleski

Diretor de Ensino Médio Felipe Mazzoni Pierzynski

Diretor de Ensino Fundamental Ir. Maria Zorzi

Diretor de Ensino da Ed. Infantil Dorojara da Silva Ribas

Diretor de Ensino dos Cursos Livres Valdecir Cavalheiro

Diretor de Ensino dos Cursos de Idiomas Magdal Justino Frigotto

Diretor de Marketing Rogério Pedrozo Mainardes

Diretor de Ensino da Educação Profissional

Técnica de Nível Médio Carolina Caramico Berg

Diretor dos Cursos Pré-Vestibulares Fernando Luiz Fruet Ribeiro

Diretor da EaD Dinamara Pereira Machado

Diretor de Sistemas de Ensino Acedriana Vicente Vogel

Diretor de Ensino de Pós-Graduação Ana Lucia Cardoso Ribeiro

CONSELHEIROS

1.º Conselheiro Fábio Hauagge do Prado

2.º Conselheiro José Mário de Jesus

3.º Conselheiro Angela Silvana Basso

4.º Conselheiro Raquel Adriano Momm Maciel de Camargo

5.º Conselheiro Durval Antunes Filho

6.º Conselheiro Leonora Maria Josefina Mongelós Rossato Pucci

7.º Conselheiro Artur Gustavo Rial

8.º Conselheiro Newton Andrade da Silva Júnior

9.º Conselheiro Josiane Domingas Bertoja

10.º Conselheiro Ricardo de Albuquerque Todeschini

12.º Conselheiro Guilherme Isensee Andrade

13.º Conselheiro Osni Mongruel Junior

14.º Conselheiro Fabrício Pretto Guerra

15.º Conselheiro Marcelo Ivan Melek

16.º Conselheiro Jose Luiz Coimbra Drummond

17.º Conselheiro Daniela Ferreira Correa

CONSELHO FISCAL

Efetivos Suplentes

Dilceméri Padilha de Liz Marta Regina Andre

Marcelo Pereira da Cruz Gisele Mantovani Pinheiro

Luiz Antônio Michaliszyn Filho Charles Pereira Lustosa Santos

DELEGADOS REPRESENTANTES - FENEP

Ademar Batista Pereira

Sergio Herrero Moraes

DIRETORIAS REGIONAIS

REGIONAL CAMPOS GERAIS

Diretor Presidente - Osni Mongruel Junior

Diretor de Ensino Superior - Patrício Vasconcelos e José Sebastião Fagundes Cunha Filho

Diretor de Ensino da Educação Básica - Rosângela

Graboski e Valquíria Koehler de Oliveira

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Bianca

Von Holleben Pereira e Carla Moresco

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas -

Paul Chaves Watkins

REGIONAL CATARATAS

Diretor Presidente - Artur Gustavo Rial

Diretor de Ensino Superior - Fábio Hauagge do Prado

Diretora de Ensino da Educação Básica - Edite Larssen

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Ana

Paula Krefta

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas -

Lucimar Neis

REGIONAL CENTRAL

Diretor Presidente - Dilceméri Padilha de Liz

Diretor de Ensino Superior - Roberto Sene

Diretor de Ensino da Educação Básica - Cristiane

Siqueira de Macedo e Juelina Marcondes Simão

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Ir.

Roselha Vandersen e Ir. Sirlene N. Costa

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasMarcos Aurélio Lemos de Mattos

REGIONAL SUDOESTE

Diretor Presidente - Fabricio Pretto Guerra

Diretor de Ensino Superior - Ivone Maria Pretto

Guerra

Diretor de Ensino da Educação Básica - Velamar

Cargnin

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Márcia

Fornazari Abasto

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasVanessa Pretto Guerra Stefani

REGIONAL OESTE

Diretora Presidente - Marta Regina Andre

Diretora de Educação Infantil - Sônia Regina Spengler Xavier

Diretor de Educação Básica - Valmir Gomes

Diretor de Ensino Superior - Gelson Luiz Uecker

Cursos Livres/idiomas - Denise Veronese

REGIONAL LITORAL

Diretor Presidente - Luiz Antonio Michaliszyn Filho

Diretor de Ensino Superior - Ivan de Medeiros

Petry Maciel

Diretor de Ensino da Educação - Básica (Ensino

Fundamental)- Selma Alves Ferreira

Diretor de Ensino da Educação Básica (Ensino

Médio) - Mirian da Silva Ferreira Alves

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Lilian R.

M. Borba

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasLiliane C. Alberton Silva

EXPEDIENTE

Traçando metas: professores, metas e bem-estar no dia a dia

Com o início do ano letivo, docentes podem sentir os impactos da retomada da rotina; planejamento e objetivos podem ajudar nessa questão

A conciliação entre vida pessoal e trabalho é uma das principais dificuldades em todo mundo. Com o avanço das tecnologias essa relação ficou ainda mais fluida, especialmente com as ligações e mensagens dos empregadores para colaboradores fora do horário de expediente. A dificuldade em se desconectar do ambiente de trabalho pode acarretar em diversos problemas de saúde, entre eles o burnout. Essa síndrome é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. Um levantamento da consultoria Mercer Brasil com 10.910 profissionais (500 no Brasil) aponta que 81% dos entrevistados estão à beira do burnout. A pesquisa ainda mostrou que 50% dos entrevistados querem um futuro equilibrado entre trabalho, vida pessoal e saúde (física, mental e financeira), sendo que apenas uma em cada três empresas que participaram do levantamento têm ações concretas na agenda ESG. Dentre as profissões que mais estão sujeitas a ambientes desgastantes segundo levantamento feio pelo Instituto Swins estão os profissionais de TI, médicos, engenheiros, operadores de telemarketing e

Foto: freepik.com
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Por Jorge de Souza

os professores. Os docentes estão expostos a rotinas longas de trabalho e que muitas vezes invadem um período de tempo que seria destinado para a vida pessoal.

“O professor em uma escola tem se tornado, além de docente, um monte de outras coisas, chegando ao escrúpulo de ser confundido, inclusive, com um ‘terapeuta educacional’, forçado a oferecer um serviço para o qual não foi sequer preparado, quiçá contratado. A rotina de uma escola está cada vez mais insana e isso não deverá mudar ou melhorar nos próximos anos”, avalia o diretor do Colégio Marista de Cascavel, Ronaldo Luzzi. Por isso é importante que os diretores se preocupem com a rotina e a qualidade de vida dos professores, bem como estabelecer um ambiente de trabalho aberto ao diálogo e respeito com esses profissionais. Esse canal de comunicação inclusive

é benéfico para a construção de uma escola melhor, como por exemplo na análise da infraestrutura de salas e outros espaços do local.

“Quanto melhor for a organização da escola e dos profissionais, menor será o impacto da rotina de trabalho na rotina pessoal, seja do gestor ou do docente. Essa organização passa, necessariamente, pela expertise e profissionalização da rede. O conjunto de suporte que a escola oferece localmente e a sua capacidade de capilarizar os serviços de forma descentralizada em nível macro também refletirão na qualidade

dessa conciliação entre as rotinas de trabalho e a pessoal do docente”, prossegue Luzzi.

Para auxiliar a rotina no dia a dia é fundamental o estabelecimento de metas, sejam de curto ou a longo prazo. Colocar no papel o que se deseja e então dividir essa aspiração em ações para conquistar esse objetivo. Por exemplo, caso o desejo a ser alcançado seja uma viagem é importante quebrar essa meta de médio ou longo prazo em pequenas ações no curto, como definir formas de poupar dinheiro para o investimento, levantar e pesquisar cronogramas e custos ou até mesmo aprender um novo idioma.

Também é possível traçar metas de curto prazo, mas que tenham impacto por muito tempo. É o caso da adoção de hábitos saudáveis como:

- Dormir de 7 a 9 horas por noite;

- Adotar uma alimentação saudável, substituindo alimentos processados e ultraprocessados por frutas, legumes e verduras, por exemplo;

- Praticar atividades físicas de forma regular;

- Cuidar da saúde e ter uma agenda de consultas médicas regulares.

“Os principais impactos são a melhora imediata da qualidade de vida do profissional e a sua consequente satisfação pessoal frente a própria rotina. O colaborador que mantém bons hábitos tem mais condições de equilibrar suas expectativas pessoais com a necessária rotina do ambiente de trabalho”, finaliza Luzzi.

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Frente a frente com o bullying

Diálogo e escuta ativa são ferramentas poderosas para combater violências que podem trazer graves consequências ao desenvolvimento dos estudantes

Exclusão social, dificuldade de identificação individual e problemas de autoestima são alguns dos sintomas mais comuns apresentados por estudantes que enfrentam o bullying no ambiente escolar. Essa é a famosa pauta que, infelizmente, nunca envelhece, todos já conhecem e continua sendo uma realidade em muitas escolas do Brasil. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) analisou dados do 9º ano do ensino fundamental das capitais brasileiras de 2009 e 2019 e apontou que 40,3% dos estudantes adolescentes do país já declararam ter sofrido bullying. 24,1% chegaram a apontar que “a vida não vale a pena”, de acordo com a pesquisa realizada pelo IBGE.

“O bullying acontece na variação de brincadeiras maldosas, que ultrapassam o limite de respeito, quando você perde a segurança física. Se torna uma provocação e intimidação que afeta diretamente a confiança”, aponta Mirian Cèlia Castellain

Guebert, pedagoga e professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e do curso de Pedagogia da PUCPR. Esse sofrimento afeta o desempenho escolar e promove o medo, a dificuldade de concentração, e até mesmo dores físicas. “O estudante pede constantemente para sair da sala de aula, ir ao banheiro, é uma fuga do ambiente para tentar se sentir menos pior”, completa a pedagoga. A longo prazo, o bullying pode ocasionar quadros crônicos, como depressão, ansiedade, insônia, irritabilidade e, em casos mais graves, até suicídio. Para identificar estudantes que são vítimas desse tipo de agressão, a especialista indica que a atenção dos professores é primordial. “Os docentes precisam estar sempre atentos aos comportamentos dos alunos. Se ele está muito apático, não tem interação, é ríspido, agressivo, está sempre com uma

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Por Camila Acordi

condição de doença e não consegue terminar as atividades, é hora de ligar o sinal de alerta”, recomenda. A pedagoga acrescenta que não é somente na escola que o bullying acontece — ele pode vir de dentro de casa. “Esse tipo de violência tem uma questão cultural e o ideal é que a escola ofereça momentos com a família para identificar isso nos estudantes.

Têm famílias que não percebem nem que seus pequenos estão mutilados”, destaca. Além do ambiente físico, o bullying pode aparecer também no virtual, com o que conhecemos como cyberbullying. Como meio de combate ao bullying, Mirian aponta algumas formas eficientes de abordar o tema na escola, estabelecendo e fortalecendo uma cultura de não-violência:

DINÂMICAS: criar círculos restaurativos, com um bastão de fala, na qual apenas o aluno que está com o bastão pode falar. “Essa dinâmica é muito efetiva para criar a atitude de ouvir”, comenta a pedagoga. Para isso, ela indica que os estudantes realmente queiram participar da atividade e assim, criar um espaço seguro para o diálogo. “Todos os envolvidos podem se expressar e assim é possível entender as razões para cada atitude. São nestes momentos que percebemos os sintomas do bullying”, completa.

DIÁLOGOS ENTRE PARES: nessa proposta, um membro da escola se coloca como intermediador entre as pessoas envolvidas no caso de bullying e é proposto uma conversa com a vítima e com o agressor individualmente. Posteriormente é promovida uma conversa entre os dois lados.

PRÁTICAS RESTAURATIVAS: esse modelo visa restaurar o vínculo entre os sujeitos envolvidos e possibilita um acordo para que determinadas atitudes não aconteçam.

ESCUTA ATIVA: esse é um método que vem do campo jurídico e foca em compreender quatro elementos: a) o que está incomodando; b) qual a necessidade da pessoa;

c) quais são os sentimentos envolvidos; d) o que esses sentimentos pedem. A partir do momento que se tem essa conversa e se observa cada um dos quatro elementos, é possível pensar em estratégias para minimizar ou prevenir o bullying.

Por fim, a docente da PUCPR destaca que é papel do professor estar não só atento ao aprendizado, mas também aos sentimentos dos seus alunos. “Quando há sofrimento emocional, é como se acendesse

uma luz amarela em relação a vários tipos de violência. Nós, professores, precisamos fazer um monitoramento constante para possibilitar que os jovens verbalizem o que precisam para viver melhor”, finaliza.

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O direito à inclusão

A educação inclusiva e adaptada às necessidades do estudante permite mais felicidade e integração da criança na escola

No Brasil, uma em cada 160 crianças recebe o diagnóstico de autismo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Caracterizado por um desenvolvimento atípico, com manifestações comportamentais como padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, o transtorno do espectro autista (TEA) culmina em dificuldades na comunicação, na interação social e apresenta um seleto grupo de interesses. Com variações nos graus, o autismo exige adaptações no ambiente escolar para garantir o aprendizado das crianças portadoras da condição. Como forma de coordenar a educação inclusiva, foi aprovada, em 2008, a Política Nacional

de Educação Especial. Nela, aponta-se o atendimento educacional especializado como meio de identificar, elaborar e organizar formas pedagógicas e de acessibilidade para suprimir as dificuldades na participação dos alunos em sala de aula. Para isso, é preciso a identificação da necessidade especial do estudante.

“O Sindicato das Escolas Particulares sempre orienta para que as escolas promovam a participação com a família na identificação da deficiência”, aponta Naura Nanci Muniz Santos, membro do conselho de ex-presidentes do Sinepe/PR. “Esse é um princípio da inclusão: não há restrições ou impedimentos para a matrícula.

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Todo amparo e suporte pedagógico que o aluno necessitar deve ser providenciado pela escola”. Com a identificação da deficiência e a promoção do atendimento especializado, é possível incluir todos os estudantes de forma adequada e completa. “Normalmente os atendimentos pedagógicos especializados podem acontecer no contraturno escolar e funcionar como um suporte ao preparo dos alunos”. O programa especializado oferecido pelas próprias escolas deve estar adaptado e seguir uma linha vinculada à proposta pedagógica já adotada pela instituição. “Apenas quando o aluno não tem condições, por questões de saúde tratadas e averiguadas por médicos e especialistas, é que recomenda-se a matrícula em escolas específicas para educação especial”, aponta Naura. No Paraná, existem

mais de 400 escolas parceiras de educação especial, distribuídas nos municípios. Com o objetivo de debater ainda mais a pauta da inclusão na sala de aula, o Sinepe/PR criou uma Comissão de Inclusão. “Temos a ideia de que o que já está sendo feito pelas escolas, pode ficar ainda melhor. Já realizamos todos os processos de inclusão de acordo com a Política de Educação Especial de 2008, mas estamos nos antecipando para debater potenciais pontos de aprimoramento” explica a educadora. Ter o diagnóstico precoce e o apoio de uma instituição de ensino que ampare as necessidades especiais permite que a vida da criança ou jovem se torne muito mais ampla, integrada socialmente, confortável e com oportunidades de autonomia.

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Todo amparo e suporte que o aluno necessitar deve ser providenciado pela escola

ChatGPT: desafios e possibilidades dentro da sala de aula

Lançada em 2022, a ferramenta de inteligência artificial que permite criação de textos coesos coloca modelos tradicionais de ensino em debate

Por Jorge de Souza

Uma nova tecnologia, lançada no final de 2022, vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões em diversos setores da sociedade. O ChatGPT, ferramenta que permite a construção de textos bastante coesos, já redigiu até um roteiro de um filme de ficção científica que alcançou US$ 250 milhões em receitas com bilheteria. Com um modelo de funcionamento diferente de outros chatbots, o ChatGPT alia a inteligência artificial ao machine learning, que nada mais é do que um fluxo de aprendizado do programa para gerar conteúdos com base no histórico de trabalho. Ou seja, o ChatGPT consegue utilizar conteúdos originais da internet para elaborar modelos mais efetivos de resposta, por meio da análise dos padrões de escrita do usuário. Com benefícios tentadores, plataformas tec-

nológicas como o ChatGPT precisam ser analisadas e utilizadas com inteligência. Afinal, a criação automática de conteúdos coloca em xeque diversas funções inerentes ao ser humano, como o pensamento crítico e, claro, o aprendizado.

“Tenho sempre dito: o maior desafio dos educadores no mundo moderno é saber trabalhar com tantas ferramentas disponíveis e

Foto: freepik.com
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Cabe a nós como professores, educadores, diretores, pais e sociedade como um todo inseri-la como instrumento de aprendizagem. Precisamos fazer com que os estudantes observem essas tecnologias de maneira crítica.

com tanta inovação. É notório observar o quanto as tecnologias têm impactado a vida das pessoas como um todo – para o bem e para o mal. O ChatGPT, assim como outras ferramentas inovadoras, me parece estar em linha com tudo o que vem acontecendo no mundo da educação nos últimos tempos”, explica o CEO da Youtz e professor da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), Valdecir Cava-

lheiro, Diretor de Ensino dos Cursos Livres, do Sinepe/PR. E essa problemática pode ser cada vez mais vista nas salas de aula. A ferramenta lança desafios e possibilidades a estudantes, professores e toda a comunidade acadêmica, em especial em como gerar conhecimento e agregar essas ferramentas tecnológicas no ambiente escolar sem diminuir o poder analítico e crítico dos alunos.

“Temos várias possibilidades para o fomento do conhecimento por meio das tecnologias. O próprio ChatGPT pode ajudar muito nisso. A ferramenta em si oferece muitas possibilidades, até porque os estudantes diariamente nos trazem demandas que precisam ser analisadas e dialogadas para garantir um conhecimento contextualizado e aprofundado”, analisa o diretor do Colégio Medianeira, Carlos Torra.

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Diante desse cenário, é importante que os centros de educação preparem os professores e educadores para criarem atividades que englobam a tecnologia dentro de sala de aula. Essas práticas auxiliam na velocidade da troca de informações entre docentes e estudantes, seja como ferramentas de pesquisas que podem servir de iniciação para discussões ou até mesmo para correções e retornos de conteúdos já programados.

“Tenho que uma das questões-chave é o ganho de tempo. Lembremo-nos de que essa tecnologia ainda é incipiente e vamos aprender muito sobre suas potencialidades. O que precisamos neste momento é fazer uma adequada gestão do recurso para um bom proveito no processo pedagógico”, complementa o diretor. Outro benefício dessas tecnologias é o fomento a criação de práticas inovadoras dentro do ambiente acadêmico. Com a conexão dos estudantes com essas plataformas, é possível reforçar a importância do trabalho colaborativo e conceitos como a economia solidária e cidadania global. Ou seja, novamente a plataforma desempenha o papel de iniciar os debates que serão estabelecidos, desenvolvidos e até mesmo transformados em projetos de cocriação pelos alunos em sala de aula.

“Sinceramente, não acredito que o ChatGPT pode trazer prejuízos ao processo pedagógico se o uso da ferramenta for bem orientado. Vejo muito mais como um excelente apoio na busca do conhecimento. No fundo, o que se tem agora é uma forma

diferente de busca e estruturação da informação já disponível. Precisamos envidar esforços para evitarmos os ‘pré’ conceitos e fazermos da escola a protagonista no uso de boas ferramentas”, pontua Cavalheiro. Mas para que o uso de ferramentas como o ChatGPT seja efetivo e positivo, é importante que os educadores reforcem diariamente a importância do aprendizado e da autonomia. Mais do que apenas combater a prática de plágio, é fundamental evitar que os alunos se tornem reféns da

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ferramenta, buscando por respostas fáceis e tornando-os incapazes de analisar diversas questões no cotidiano e, consequentemente, incapazes de criar respostas e soluções para essas problemáticas.

“Nós sabemos que, mesmo a escola propondo um cenário criativo, esse tipo de tecnologia será utilizado pelo estudante com foco na diminuição dos esforços para as atividades diárias. Cabe a nós como professores, educadores, diretores, pais e sociedade como um todo inseri-

-la como instrumento de aprendizagem. Precisamos fazer com que os estudantes observem essas tecnologias de maneira crítica”, contextualiza Torra. Ou seja, é necessário uma construção coletiva por toda a comunidade acadêmica para que o ChatGPT e outras plataformas tecnológicas sejam inseridas de forma programada e responsável dentro das salas de aula, como foco na potencialização da esfera de debate e geração de conhecimento. “Esse conhecimento só vai ter significado se o estudante entender que, com aquilo, ele conseguirá resolver problemas no dia a dia, seja em relações com a família, colegas e até mesmo na vida profissional mais adiante. Se a tecnologia nos dá algumas ferramentas para a leitura do mundo, somente a interação constante entre pessoas vai garantir que de fato esse conhecimento seja humanizado e possa produzir uma consciência criativa nos estudantes, que assim poderão aplicá-las para a resolução de problemas diários, do mundo real”, finaliza Torra.

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“Esse conhecimento só vai ter significado se o estudante entender que, com aquilo, ele conseguirá resolver problemas no dia a dia”

Geração perdida: como escolas podem evitar desperdício de talentos

Relatório de Capital H umano Brasileiro demonstra que falta de investimentos socia is implica na manutenção da desigualdade

Por Jorge de Souza

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O Brasil tem uma população de 214,3 milhões de pessoas, segundo números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desse montante, 38% (equivalente a cerca de 71,4 milhões de pessoas) vivem em condições de pobreza ou extrema pobreza. Essa desigualdade social exposta impacta diretamente nas métricas educacionais e na captação de talentos, segundo o Relatório de Capital Humano Brasileiro (RCHB). O estudo faz parte do Human Capital Project, organizado pelo Banco Mundial, e tem como objetivo principal demonstrar a importância dos investimentos sociais para a captação de talentos.

“Analisar as tendências de acumulação de capital humano ajuda a explicar por que a desigualdade de renda tem permanecido em patamares tão elevados ao longo dos anos e sugere também por que, em média, os brasileiros tendem a permanecer na pobreza por várias gerações”, apontou o relatório. O relatório utiliza o Índice de Capital Humano (ICH) para analisar os indicadores de capital humano no Brasil. O ICH estima a produtividade esperada de uma criança nascida hoje aos 18 anos de idade, dentro de um cenário onde educação e saúde permanecem inalteradas. Dessa forma, é possível traçar focos de investimentos para o Poder Público corrigir essas desigualdades sociais.

“Além disso, as escolas também têm um papel importante a desempenhar na descoberta e desenvolvimento de jovens talentosos. Isso pode incluir a oferta de programas de apoio à aprendizagem, incentivos para a participação em atividades extracurriculares, oportunidades para o desenvolvimento de habilidades e o apoio aos alunos em suas escolhas futuras”, explica a doutora em Educação e coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Positivo (UP), Valéria Brasil.

O ICH varia de 0 a 1 considerando que a nota mais alta significa condições favoráveis para uma criança não sofrer de déficit de crescimento ou morrer antes dos cinco anos de idade, receber educação de alta qualidade e se tornar um adulto saudável. Já o oposto com risco de má nutrição ou morte prematura alto, acesso à educação é limitado e a qualidade da aprendizagem baixa gera notas mais próximas a 0.

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“Quando a criança ou jovem abandona a escola, ela abandona toda a sua oportunidade de crescimento pessoal, social e de empregabilidade futura”

No Brasil, o indicador marcou para as crianças nascidas em 2019 uma média de 0,60%. Ou seja, a cada dez brasileiros, quatro não irão atingir o potencial completo quando completarem 18 anos. Isso também demonstra que a desigualdade social no país também é regionalizada, com diversas localidades com altas taxas de evasão escolar.

“Os principais problemas na educação básica brasileira incluem falta de investimentos, infraestrutura precária, falta de professores qualificados e desigualdade socioeconômica. Esses problemas afetam a rotina dos estudantes brasileiros, impedindo o acesso à educação de qualidade e limitando suas oportunidades futuras. Além disso, a pandemia trouxe novos desafios para a educação, incluindo a interrupção da aprendizagem e a desigualdade na acessibilidade à tecnologia”, contextualiza a professora. Um estudo realizado pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) para a Unicef em 2022, apontou que dois milhões de crianças e adolescentes, com idade entre 11 a 19 anos, que ainda não haviam terminado a educação básica deixaram a escola no Brasil. Esse número representa 11% do total da amostra pesquisada.

“A formação continuada para professores é também uma medida importante para melhorar a qualidade da educação, garantir que eles tenham as habilidades e conhecimentos necessários para enfrentar os desafios atuais e futuros. É impor-

tante que políticas públicas sejam orientadas para garantir o acesso à educação de qualidade e promover o desenvolvimento humano e econômico do país”, prossegue Valéria. Essa desigualdade social regionalizada pode ser vista ao observar os indicadores do ICH: crianças nascidas em cidades das regiões Norte e Nordeste apresentam um índice de desenvolvimento de

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potencial e talento 10 pontos percentuais (ou 0,1%) a menos que um jovem do Sudeste brasileiro.

Dentro desse cenário também é preciso combater outro fator de risco às crianças brasileiras: a desnutrição infantil. Segundo dados do documento Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2021, o Brasil registrou 2.979 internações infantis por desnutrição, resul-

tando na maior taxa de hospitalizações de crianças menores de um ano desde 2008, com 113 hospitalizações para cada 100 mil nascidos vivos. E as escolas acabam ganhando ainda maior importância no contexto dessas famílias, porque muitas vezes são responsáveis pela única refeição garantida no dia a dia das crianças. “Como educadora, pode-se observar os impactos dessa questão na sala de aula, como a falta de concentração, dificuldade de aprendizagem e baixo rendimento escolar. Além disso, a desnutrição também pode contribuir para a evasão escolar, pois as crianças precisam faltar à escola para cuidar de sua saúde ou para trabalhar para ajudar a sua família a sobreviver”, completa Valéria.

Para combater esse cenário é importante a implementação de políticas de saúde e renda para a infância que garantam o acesso à alimentação saudável e a um estilo de vida saudável, bem como programas de merenda escolar.

“Políticas de combate à pobreza e à desigualdade socioeconômica também são importantes para garantir que as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade e possam desenvolver todo o seu potencial. É fundamental que as políticas públicas sejam orientadas para garantir a igualdade de oportunidades e melhorar a saúde e a educação da infância, a fim de assegurar o desenvolvimento de jovens talentosos e o futuro do país”, finaliza a professora.

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Evasão escolar e um futuro incerto

Longe das salas de aula, estudantes perdem a experiência de uma infância segura e com práticas que desenvolvem diversas habilidades e competências

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A trajetória escolar é fundamental para a inserção social e o desenvolvimento pessoal e intelectual dos jovens. Porém, uma em cada 10 meninas e meninos de 11 a 19 anos (11%) não estão frequentando a escola no país, segundo estudo realizado pelo Ipec para o Unicef. As principais causas para a evasão escolar incluem a necessidade de trabalhar (48%) e a dificuldade de aprendizagem (30%).

A pandemia deixou como marca um aumento considerável no cenário da evasão escolar. Segundo a organização Todos Pela Educação, com dados da Pnad Contínua/ IBGE, os números do segundo trimestre de 2021 mostram um aumento de 171,1% entre crianças e jovens entre 6 e 14 anos que estavam fora da sala de aula em relação ao mesmo período de 2019. Isso equivale a 244 mil jovens longe da escola.

Sergio Herrero Moraes, presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR) aponta que o distanciamento entre os estudantes e as escolas durante a pandemia foi um dos fatores de maior influência no aumento da evasão escolar. “Infelizmente, em muitas instituições o ensino remoto não conseguiu suprir as necessidades dos alunos. Não havia tecnologia o suficiente, foi feito de forma inesperada e muitas escolas não estavam preparadas para isso”. Além disso, a desigualdade social e econômica é refletida explicitamente quando se repara a causa da evasão escolar relatada pelos jovens.

Além do aprendizado, o momento de interação presencial dos estudantes é essencial para criar laços e conexões interpessoais para as crianças e jovens. Estar fora da es-

cola faz com que esses indivíduos estejam também excluídos socialmente, aumentando as chances do desenvolvimento de doenças como depressão e ansiedade.

“Quando a criança ou jovem abandona a escola, ela abandona toda a sua oportunidade de crescimento pessoal, social e de empregabilidade futura”, destaca Herrero. Elas perdem também toda a oportunidade de leitura, escrita e matemática básica, habilidades essenciais para o desenvolvimento do raciocínio lógico.

Para promover mais equidade social e manter os jovens por mais tempo nas salas de aula, propor uma educação mais atrativa aos estudantes é imprescindível. “É preciso estar atento aos conteúdos pedagógicos, buscar aperfeiçoamento, sempre visar atender o aluno e, ao mesmo tempo, ensinar”, comenta o presidente do Sinepe/PR. “O aluno precisa se sentir à vontade na escola, precisa se sentir acolhido e perceber o envolvimento familiar, além de maior flexibilidade curricular, para que ele seja motivado a buscar aprimoramento em áreas de interesse ou maio aptidão”.

Herrero ainda reforça a importância da figura da família na trajetória escolar. Para ele, o apoio dos pais é um aspecto que contribui diretamente para a continuidade dos alunos na escola. “Os pais devem entender que quando os filhos saem da escola eles fecham as portas para o futuro e para o aprendizado das disciplinas básicas que vão dar o conhecimento necessário para eles continuarem crescendo pessoal e profissionalmente”, conclui.

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Em janeiro, o educador Roni Miranda Vieira assumiu a gestão da Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed-PR). Com uma longa trajetória profissional na educação pública, Roni chega ao cargo com uma bagagem importante: além de atuar como docente e diretor escolar, ele já passou por experiências na Seed, atuando na chefia e subchefia do Núcleo Regional de Educação da Área Norte, além de ter ocupado os cargos de chefe do Departamento de Acompanhamento Pedagógico e diretor de educação no mandato do antigo secretário do órgão, Renato Feder. Assumindo em um momento positivo para a educação paranaense, com o Ideb do ensino médio figurando entre os mais altos do Brasil, o novo secretário pretende aumentar o número de escolas que oferecem ensino integral e ampliar os programas de contraturno, além de dar continuidade aos projetos que já estão em andamento, utilizando sua experiência na implantação de projetos e na articulações de políticas públicas educacionais.

Novo secretário do Paraná inicia mandato com foco no fortalecimento da educação integral

Depois de atuar como diretor de educação no mandato de Renato Feder, Roni Miranda Vieira assume a gestão da Secretaria Estadual de Educação com a intenção de deixar um legado na educação integral

ENTREVISTA DO MÊS
Por
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Foto: Divulgação

Secretário, como começou a sua trajetória com a educação pública e quais caminhos te fizeram chegar ao cargo?

Roni Miranda Vieira: Fui aluno da rede estadual do Paraná e sempre estudei em escola pública. No ensino superior, fiz uma licenciatura em História e uma especialização em História e Geografia do Paraná, além de outros cursos. Em 2005, ingressei profissionalmente na rede estadual de ensino, como professor temporário. Logo, em 2009, assumi como professor concursado. Três anos depois, encarei o desafio de atuar como diretor escolar no Colégio Djalma Marinho, em Campo Largo e, em 2015, comecei a trabalhar mais efetivamente na gestão educacional, como assessor da chefia do Núcleo Regional de Educação da Área Norte. Entre o início de 2017 e o final de 2018, fui chefe do Núcleo Regional.

Foi em 2019 que ingressei na Secretaria Estadual de Educação. A convite do então secretário, Renato Feder, assumi a gerência do Departamento de Acompanhamento Pedagógico. Em abril de 2020, no auge da pandemia, passei para o cargo de diretor de educação da Seed.

Toda essa trajetória sempre foi pautada por resultados educacionais, principalmente de aprendizagem do estudante, seja enquanto professor, diretor de escola ou na Secretaria. Em minha experiência como diretor de escola, assumi a escola com os indicadores educacionais mais fragilizados do município e, com o Núcleo Regional de Educação da Área Norte não foi diferente: o norte da região metropolitana vive um cenário desafiador, pois está situada geograficamente no Vale do Ribeira. Mesmo diante desse cenário, acredito que conseguimos fazer um trabalho muito positivo na região, refor-

çando a gestão e a estrutura das escolas, ao lado dos diretores escolares, que passaram a ter mais foco pedagógico, na aprendizagem dos estudantes.

Já como chefe de departamento na Seed, meu maior desafio foi a construção da consultoria pedagógica, um projeto inspirado em iniciativas presentes da rede de ensino de Nova Iorque e também em alguns estados brasileiros, especialmente em Goiás. Implantamos essa tutoria pedagógica, apoiando a gestão escolar e impactando o trabalho de diretores e da equipe pedagógica, com foco na aprendizagem e no combate ao abandono escolar. Também conseguimos virar uma chave e contribuir para que nossos diretores escolares, que tinham um perfil bastante administrativo, também passassem a olhar para a escola pelo viés pedagógico, com foco na aprendizagem.

Na pandemia, ao lado do secretário Renato Feder, colocamos o projeto Aula Paraná para funcionar. Esse projeto foi essencial para trabalhar com os estudantes da rede estadual de ensino de forma remota, seguindo os protocolos sanitários impostos pela onda de casos de Covid-19. Trabalhamos com canais de TV, canal no YouTube, com o aplicativo Aula Paraná, com a ferramenta Google Sala de Aula — que possibilitou a conexão com mais de 50 mil salas de aulas, alimentadas diariamente com conteúdos em vídeo, slides ou exercícios —, além de materiais impressos para alunos que não tinham acesso à internet ou aos equipamentos tecnológicos. Com o Aula Paraná, recebemos um reconhecimento da Fundação Getúlio Vargas por ser o estado que melhor atendeu os estudantes no período da pandemia. Depois, também fui responsável pela coordenação da volta às aulas presenciais. Conse-

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guimos fazer a retomada de forma tranquila, sem ruídos e com total controle dos ambientes escolares, para evitar um grande nível de contaminação. Tudo seguiu as recomendações da Secretaria Estadual de Saúde.

A partir de toda essa experiência na educação paranaense, como você analisa o cenário educacional do nosso estado? Quais são os maiores desafios, os grandes destaques e as principais fragilidades que precisam ser superadas?

Roni Miranda Vieira: Acredito que o maior desafio dos últimos anos na educação paranaense são os estudantes dos anos iniciais, que estão em fase de alfabetização e letramento em matemática e língua portuguesa. Eles foram os mais impactados pela pandemia, porque alfabetizar alguém de forma remota é impossível. Na educação pública, isso é ainda mais forte, os pais normalmente não têm condições de dar apoio aos estudantes. O pai e a mãe saem de manhã para trabalhar e voltam só às 19h. Como vão dar o suporte que as crianças precisam? Ou seja, os estudantes da rede municipal foram mui-

to mais impactados. Na rede estadual, nossas avaliações diagnósticas apontam que os estudantes foram impactados principalmente em matemática. Nas áreas de linguagens, conseguimos manter a aprendizagem e nossos indicadores não caíram. O que vinha sendo feito e que será continuado nos próximos anos dentro da Secretaria de Educação ataca duas grandes frentes prioritárias. Em primeiro lugar, estamos apostando na ampliação das escolas em tempo integral. No início da gestão do governador Ratinho Júnior, o Paraná tinha apenas 34 escolas integrais e agora estamos iniciando 2023 com 265 escolas. Outra ação muito forte que estamos investindo é o contraturno escolar: lá no início de 2019, o Paraná tinha em torno de 200 turmas de contraturno e agora temos 1.500 turmas. É um salto gigante, um grande destaque positivo. Além disso, dentro do horário regular das aulas, estamos trabalhando para melhorar o acesso e o uso de recursos tecnológicos. Se a pandemia deixou algum ganho para a área da educação foi o domínio da tecnologia pelos professores. Como eles passaram a utilizar e conhecer melhor as ferramentas, nós apostamos em algumas plataformas educacionais: no ano passado, introduzimos plataformas para o ensino de inglês, redação com inteligência artificial — ferramenta que foi desenvolvida dentro da própria secretaria —, aulas de programação e matemática para o sexto ano. Neste ano, vamos ampliar a plataforma de matemática para todos os estudantes do Paraná e incluir mais duas: o Leia Paraná, uma plataforma de leitura que disponibiliza dezenas de livros digitais; e o Desafio Paraná, uma plataforma de lição de casa, já utilizada dentro da rede privada, que, em breve, estará disponível também para os alunos da rede pública.

“Toda essa trajetória sempre foi pautada por resultados educacionais, principalmente de aprendizagem do estudante, seja enquanto professor, diretor de escola ou na Secretaria”
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Todas essas plataformas foram utilizadas para apoiar o trabalho dos docentes, dos nossos professores. Com as plataformas, eles conseguem atingir um maior número de estudantes.

E em relação ao cenário nacional, qual é a sua análise?

Roni Miranda Vieira: Com certeza, a educação brasileira se encontra em uma situação crítica. Já não estávamos bem e a pandemia trouxe um agravamento para a situação, principalmente nas séries iniciais da educação básica, como já mencionado. Tivemos muitos meninos e meninas nessa etapa de ensino que foram muito impactados pela pandemia, principalmente as pessoas pobres, que foram mais comprometidas. Agora, é preciso que o Ministério da Educação, como o nosso maior ente da federação, priorize a educação básica, fazendo uma coordenação com foco nos resultados de aprendizagem e uma gestão focada no apoio aos estados e municípios. Esperamos e precisamos que os nossos recursos retornem

para os estados e municípios, como políticas públicas educacionais que fortaleçam a educação e consigam trazer aqueles estudantes que acabaram ficando um pouco para trás.

Na gestão do secretário Renato Feder, alguns projetos e diretrizes se destacaram. Entre eles, podemos mencionar as parcerias público-privadas, os investimentos em tecnologia e a aposta em escolas do modelo cívico-militar. A nova gestão pretende seguir o mesmo modelo? Quais são as prioridades para os próximos quatro anos?

Roni Miranda Vieira: Além das escolas cívico-militares, vale reforçar que tivemos um grande aumento no número de escolas integrais também, como já mencionado. Hoje, temos 210 escolas cívico-militares e 260 escolas integrais. Nossa prioridade é continuar apostando nesse fortalecimento das escolas integrais, com o objetivo de chegar em 400 escolas que oferecem essa modalidade de ensino. Também vamos dar continuidade ao trabalho realizado junto às escolas cívi-

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Foto: Gilson Abreu / AEN

co-militares e, como contamos com os militares da reserva, temos um público muito restrito para o volume das escolas estaduais. Por isso, nesse momento estamos com o plano de manter as escolas cívicas e aperfeiçoar ainda mais o atendimento nas escolas cívico-militares. Na relação público-privado, temos duas escolas que serão acompanhadas ao longo do ano. Se esse projeto rodar bem e tiver sucesso no atendimento e nos resultados educacionais, vamos ampliar.

O que nós fazemos é dar opções aos pais paranaenses: se o pai quer colocar seu filho na escola pública regular, ele coloca; se o pai prefere uma escola integral, ele também tem essa opção, assim como a cívico-militar. A decisão é da família.

É importante destacar também que, proporcionalmente, o Paraná tem o maior número de alunos matriculados no ensino técnico do Brasil. Então, é mais uma opção que a gente oferece aos estudantes paranaenses.

O ensino médio do Paraná vem apresentando resultados de destaque no Ideb, em uma ascensão importante. Que estratégias serão adotadas para manter esse crescimento Ideb, sem perder de vista a questão da equidade?

Roni Miranda Vieira: Acredito que o Ideb é um indicador que também mede a questão da equidade, porque ele está atrelado a dois pontos principais: a proficiência ou aprendizagem e o fluxo do estudante, ou seja, se ele tem continuidade na sua vida escolar. Isso é muito importante, pois não adianta ter uma escola que seleciona alunos e tem a melhor proficiência, mas do outro lado, ter centenas de meninas e meninos fora da escola. Então, uma escola que reprova muito vai ter um

baixo Ideb, assim como as escolas que aprovam automaticamente. Existe um equilíbrio neste indicador.

O Paraná chegou nos bons resultados principalmente por conta do trabalho dos nossos professores. A gestão anterior da Secretaria de Educação trouxe foco e o objetivo comum a todos de fazer uma educação focada em resultados de proficiência. Com isso, conseguimos levar suporte aos professores e mais tecnologia para dentro da sala de aula, com melhores equipamentos e qualidade na internet, além de ter feito um trabalho importante com os gestores, promovendo uma gestão mais pedagógica. Esse conjunto de ações trouxe um ganho muito grande. Outro grande diferencial são as avaliações diagnósticas realizadas trimestralmente com os estudantes, possibilitando que os professores percebam as lacunas de aprendizagem de cada aluno e realizem as intervenções cabíveis para superá-las. É assim que conseguimos mapear em quais habilidades os estudantes apresentam maior deficiência. Também realizamos o programa “Presente na Escola”, focado na frequência dos estudantes. Encaramos a frequência como um batimento cardíaco, que precisa ser acompanhada diariamente. Antigamente, os professores olhavam para a frequência e o aprendizado dos estudantes só no final do bimestre ou trimestre, quando já não tinha muito o que fazer para resgatar um estudantes. Como agora temos um acompanhamento diário ou semanal, os diretores e a equipe pedagógica conseguem fazer uma busca ativa com os professores e a família para que o estudante não falte. A conta é muito simples: o estudante na escola aprende, o estudante fora da escola não aprende.

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De que forma a Seed pretende dialogar com as escolas e universidades particulares do Paraná?

Roni Miranda Vieira: Nossa gestão é feita de diálogo e a pergunta que nós sempre fazemos é: “Isso é bom para a educação do Paraná?”. Se a resposta for positiva, vamos fazer parcerias. Caso contrário, não fazemos. Para nós, é uma avaliação muito simples de ser feita: para que a parceria seja realizada, o trabalho precisa estar voltado para a educação básica. Com a rede privada, nós já temos duas escolas parceiras. Também temos uma parceria com a Unicesumar em nosso ensino técnico e, além disso, temos um programa com estudantes de cursos de licenciatura de diversas instituições públicas e privadas,

que apoiam os alunos da rede estadual na recomposição da aprendizagem.

Para finalizar, que legado você espera deixar como secretário estadual de educação?

Roni Miranda Vieira: Essa é uma boa pergunta, eu penso nisso todos os dias. O legado que eu quero deixar é de aprendizagem com equidade, para o estudante preto, branco, indígena, de todo o canto do Paraná. Espero contribuir com a aprendizagem real, deixar uma marca muito forte na educação em tempo integral, fortalecer ainda mais o uso de tecnologias nas escolas, a formação continuada dos nossos professores e deixar o Paraná com a melhor educação da América Latina. Esse é o meu desejo para o final desses quatro anos de gestão.

Calendário de eventos

Aspectos da Organização da Escola e Práticas Pedagógicas e A Educação Pós-Pandemia

Quando: 03 de maio, às 19h

Local: Regional Campos Gerais

Palestrantes: Esméria de Lourdes Saveli e Marcos Meier

Primeiros Socorros e Lei Lucas

Quando: 15 de abril, às 09h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: CSP Assessoria e Treinamento

Análise Econômica e Setorial

Quando: 25 de abril, às 14h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: Rodrigo Capelato

Avaliação in loco: Reflexões sobre os resultados (Padrão decisório e recurso)

Quando: 26 e 27 de abril, às 14h

Local: Zoom

Palestrante: Dra. Aparecida do Carmo Frigeri Berchior (Ilape)

JORNADA DE INCLUSÃO

Local: Sinepe/PR Curitiba

Módulo II - Aspectos PedagógicosLegislação e Normas

Quando: 20 de abril, às 14h

Palestrantes: Fátima Chueire Hollanda e Naura Nanci Muniz Santos

Novo Ensino Médio: como preparar sua escola?

Quando: 10 de maio, às 14h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrantes: Fátima Chueire

Hollanda e Naura Nanci Muniz Santos

Inteligência Emocional dos Educadores

Quando: 16 de maio, às 19h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: Jane Haddad

Módulo III - A Prática em Sala de Aula

Quando: 18 de abril, às 14h

Palestrante: Wania Emerich Burmester

Módulo IV - TEA - Principais comorbidades: como orientar famílias e professores?

Quando: 21 de junho, às 14h

Palestrante: Sergio Antoniuk

Bullying e Cyberbullying

Quando: 23 de maio, às 19h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrantes: Victória Esmanhotto e Felipe Américo Moraes

Limites Adequados, Filhos

Felizes

Quando: 14 de maio, às 19h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: Marcos Meier

Novas escolas associadas:

• LCCA - Educação e Treinamento - 19/01/2023 - Palmas/PR

• Faculdade Evangélica Mackenzie - Fempar - 19/01/2023 - Curitiba/PR

• Escola Evangélica Boas Novas - 16/02/2023 - Ponta Grossa/PR

• Colégio Adventista – Ponta Grossa - 16/02/2023 - Ponta Grossa/PR

• Colégio Excelência - 23/02/2023 - Curitiba/PR

• Escola Phoenix - 23/02/2023 - Cascavel/PR

• Centro Educacional Pedacinho de Vida - 10/03/2023 - Medianeira/PR

• Proz Educação Profissional - Curitiba - 28/03/2023 - Curitiba/PR

• Escola Espaço Edukare - 28/03/2023 - Curitiba/PR

• Colmeia Montessori - 28/03/2023 - São José dos Pinhais/PR

• Centro de Educação Infantil Primeiros Passos28/03/2023 - São José dos Pinhais/PR

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