O Naturismo Médico na Medicina Natural

O NATURISMO MÉDICO NA MEDICINA NATURAL Introdução É bem sabido que a Medicina naturista (MN) não é reconhecida em todos os países do mundo, onde alegam, entre outras razões, que não é um método validado cientificamente.

Estas e outras afirmações semelhantes não se sustentam, já que o que caracteriza a MN é o critério com que se aplicam estas terapias, mais do que as terapias em si, embora sempre optará pelas que mais se aproximem ao “primum non nocere” do professor do Cós.

As terapias empregadas com mais freqüência na MN, como a dietoterapia, a fitoterapia, a hidroterapia, a fisioterapia, etc., possuem um reconhecimento cada vez mais amplo. O obstáculo para um futuro reconhecimento da MN na Espanha está mais relacionado à forma como são interpretadas as doenças do, propriamente, nas terapias empregadas.

Neste sentido, tentaremos demonstrar o papel que desempenhou, e ainda desempenha, a MN na Medicina atual, com dados provenientes de bibliografia científica dos últimos anos.

Também serão buscados resultados obtidos em uma consulta de atenção primária particular aplicando o critério médico-naturista, ou seja, a arte de potencializar e/ou guiar a força curativa que todos carregam em si.

A resolução de problemas em atenção primária

Um conceito fundamental na atenção primária é a resolução de problemas de saúde. Os médicos que trabalham no sistema público podem comprovar que o que a maioria dos pacientes crônicos quer é a “renovação das receitas dos medicamentos”, que, na sua maioria, tratam-se de problemas de saúde habituais, como a hipertensão arterial, artrose em seus primeiros estágios, patologia psiquiátrica (ansiedade, insônia, depressão, etc.), neurológica (cefaleias, vertigem, etc.), doenças funcionais, etc. Algumas destas patologias são analisadas primeiramente pelo médico de atenção primária, e caso continuem, às vezes, encaminha ao especialista.

OBJETIVOS • Entender a importância da Medicina Naturista no século XXI. • Compreender que a Medicina Naturista deve atuar conjuntamente com a Medicina Tradicional.

1. Fonte: Ursa Herguedas, Andrés J. Dr. (Médico Naturista). El naturismo médico en la medicina natural. Revista Dynamis, Revista de la Asociación de Médicos Naturistas de España (AEMN). Endereço web: http://www.medicina-naturista.net/dynamis/Naturismo.pdf

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A Medicina Naturista (MN), embora seja validada cientificamente, não é aceita em todos os países por ter um método próprio e uma interpretação da doença diferente da “oficial”.

Os sistemas sanitários dos países se beneficiariam com a introdução da MN por seu caráter preventivo e curativo. Suas práticas respeitam o Meio Ambiente, não são agressivas, são baratas e eficientes. O freio na pesquisa em MN encontrase no acordo das multinacionais farmacêuticas de pesquisar somente remédios rentáveis. Seria interessante que uma próxima regulação da prática da Medicina Complementar (MC) na União Europeia fosse realizada por uma junta médica. A MC vai desempenhar um papel cada vez mais importante nos próximos anos, já que serão destinados mais recursos na pesquisa, aumentando a demanda por parte da população e regularizando sua prática.

Palavras-chave: Medicina naturista. Resolução de problemas de saúde.

Medicina Complementar. Medicina não convencional.

Embora haja cada vez mais colaboração dos médicos de atenção primária com os médicos naturistas, e vice-versa, os médicos de atenção especializada não costumam admitir interferências, sendo um obstáculo para a aceitação da MN no sistema público de saúde.

Seria interessante, como já foi realizada na Comunidade de Aragão, na Espanha, a introdução da MN nos Centros de Saúde, dando possibilidade para que os usuários adotem a MN para tratar as patologias habituais. Isto possibilitaria a pesquisa e o avanço desta disciplina.

A prevenção de doenças A MN tem grande utilidade atualmente por seu caráter preventivo. Isso já intuíam nossos antepassados, ao recomendar a dieta vegetariana para a manutenção de um melhor estado de saúde. Hoje podemos recolher na literatura científica diversas entrevistas que contemplam os benefícios para a saúde oferecidos por uma alimentação com predomínio de vegetais. Em relação à alimentação vegetariana, observa-se, entre os médicos naturistas, que nem todos a recomendam. Pessoalmente, adotei este tipo de alimentação há mais de 25 anos, e pude observar muitos benefícios. Fazendo um estudo retrospectivo com outros membros da família que não modificaram seus hábitos alimentares neste sentido, tomando como base os membros da associação vegetariana local e meus próprios pacientes, cheguei à conclusão de que se adoece menos e, portanto, os gastos farmacêuticos e com saúde diminuem. Este não seria um bom argumento na hora de debater a inclusão da MN na assistência pública? A melhoria do estado de saúde através

da alimentação adequada é potencializada, como se sabe, pelos hábitos ou estilos de vida saudáveis que estas pessoas (que adotam uma dieta vegetariana) costumam ter.

Dentro da dietética, deve-se lembrar, atualmente, que certas práticas médico-naturistas, como o crudivorismo, já eram recomendadas por médicos como BircherBenner na Suíça, no primeiro terço do século XX. Este médico, com uma intuição extraordinária, suspeitou da existência de alguns princípios dos alimentos ainda não revelados naquela época (as vitaminas), e que tantos problemas de saúde haviam resolvido quando a terapia moderna começava a se sobressair.

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O mesmo pode ser dito da fibra dietética, tão criticada até pouco tempo.

Há algumas décadas o pão integral era, virtualmente, apenas recomendado por médicos naturistas.

Hoje em dia, comprovou-se através de diversos estudos os benefícios oferecidos para a saúde, principalmente no campo preventivo.

Um assunto de interesse geral é o tema do consumo de proteína de origem vegetal, em

contraposição à proteína animal, que em geral é mais cara e, supostamente, menos saudável. Tradicionalmente, os médicos naturistas recomendam a suplementação (mistura de cereal com legumes) e, principalmente, o consumo de soja (Glicine sp.), alimento que é uma das exceções no Reino Vegetal, com uma composição de aminoácidos bastante adequada. Nos últimos anos, observou-se nas revistas médicas os benefícios que oferecidos pelos fitoestrogênios, principalmente no climatério, reduzindo os transtornos próprios desta etapa da vida e prevenindo patologias como a osteoporose (com menos possibilidade de fraturas patológicas), a arteriosclerose (com menor incidência de cardiopatia isquêmica e demência), etc. Os médicos que há anos recomendam o consumo de soja e derivados (ricos em fitoestrogênios) puderam observar esta realidade. Convidamos os administradores financeiros da saúde pública a fazerem as contas para ver se vale a pena prevenir com uma alimentação adequada.

Para alongar muito o tema da alimentação, mencionaremos apenas as recomendações das Associações da luta contra cardiossaudável), além da luta

a

arteriosclerose

(com

sua

dieta

contra o câncer, tanto nacionais quanto estrangeiras, que em seu decálogo preventivo descrevem o que é uma alimentação com predomínio de vegetais e a adoção de hábitos saudáveis de vida, algo que é recomendando em Medicina naturista há muito tempo.

A pesquisa em ciências da saúde Em relação à pesquisa em ciências da saúde, no caso específico da MN, como em outras técnicas sanitárias não validadas cientificamente, deve dizer o seguinte: geralmente, a pesquisa sobre remédios pelas grandes multinacionais farmacêuticas visa uma posterior rentabilidade do produto. Na MN, quem lucrará posteriormente com a pesquisa sobre a argila para uso interno ou externo, ou com o efeito da água sobre os reumatismos articulares, por exemplo, se estes remédios são oferecidos pela natureza?

Este é um dos obstáculos encontrados no avanço destas disciplinas: como a pesquisa é cara e, no caso da Medicina naturista, “não é rentável a longo prazo”, não se dedicam os recursos necessários para que seja realizada. No entanto, é justamente isso que a comunidade científica exige para que um determinado método seja validado.

Nos últimos anos se está tratando do termo “Medicina baseada na evidência” (científica, entende-se). As práticas médico-naturistas, supõem-se, podem ser adequadas perfeitamente a este conceito, já que, muitas vezes, os resultados das terapias naturais coincidem com os procedimentos analíticos e de imagem existentes atualmente, além da melhoria subjetiva. São exemplos de objetividade dos parâmetros humorais, após um tratamento médico-naturista, por exemplo, a normalização da velocidade de sedimentação

globular e/ou o ASLO em uma amidalite pultácea recorrente, normalização da proteína C reativa em um reumatismo soronegativo, a redução ou desaparecimento de um mioma uterino confirmado por ecografia antes e depois do tratamento ou a redução da placa de ateroma confirmado por cateterismo.

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Viver da consulta É uma realidade, como recentemente ressaltou Arteche em sua tese doutoral, a existência de médicos que dedicam sua carreira à prática, com todas as consequências decorrentes, da MN no âmbito privado. Embora haja diversos motivos para tomarem esta decisão, em todos existe a firme convicção de que esta Medicina funciona. No início de qualquer negócio sempre há certa incerteza, principalmente em um país como a Espanha, que há 20 anos mal conheciam a MN, ou era ainda mal vista, simplesmente porque havia sido censurada durante o período franquista. Além desta dificuldade, deve-se acrescentar o investimento financeiro e a formação teórico-prática. Com este panorama, como é possível

observar nestes últimos anos, são muitos os médicos naturistas que, por necessidade da “vida”, dividem a prática privada com a pública (hospital, centro de saúde, Universidade, Instituto, etc.) ou desempenham outro trabalho remunerado que compatibilizam com o consultório. Além disso, precisam colocar em prática todos os seus conhecimentos para “lidar” com o estresse, o sedentarismo, etc., próprios da profissão, para não prejudicar sua saúde. As necessidades da “vida” referem-se, obviamente, ao projeto de vida traçado, ou seja, profissão, moradia, matrimônio, filhos, etc. O cenário pode variar se, no casal, os dois trabalharem. Se, depois de tudo isto, chegamos aos 50 anos com um estado de saúde aceitável, podemos estar contentes de ter completado ao menos a metade do objetivo traçado. Dignos de mérito são os que cumpriram a idade de aposentadoria (65 anos) e se encontram em condições de continuar recebendo pacientes. O médico naturista vocacional, que trabalha por gosto e vive da consulta, possui um componente de satisfação que, sem dúvida, deve proporcionar um estado de saúde positivo, mesmo que seja imposto um ritmo de trabalho altíssimo. Este aspecto é importante desde o ponto de vista trabalhista geral e, muito particularmente, do ponto de vista da saúde, já que é alto o índice de insatisfação por não ter um ponto fixo, ser mal remunerado, lidar com uma alta responsabilidade, etc., e outras muitas vicissitudes que podem ser fontes de frustração,

que podem prejudicar a saúde ao longo do tempo. Não podemos ignorar o valor cobrado por cada consulta, que deve ser digno, já que se pretende aproximar-se de toda a população, e não apenas dos mais ricos. Um valor "digno" não deve ser confundido com "mísero". Devemos lembrar que é uma prática no âmbito privado de uma Medicina não reconhecida oficialmente. O médico que queira dar o exemplo deveria reservar um tempo para o exercício físico, de qualquer modalidade e adaptado a cada situação, idade, gostos e possibilidades. Pode-se observar entre os médicos naturistas jovens velhos e velhos jovens, sem dúvida reflexo de suas práticas higiênicas.

O critério “naturopático” Sempre existiu o conflito entre médicos e não médicos na prática da Medicina não convencional na Espanha e no exterior. No caso específico da Espanha, observamos nos últimos meses um aumento nas tensões entre ambos os grupos como resultado de uma publicação em uma conhecida revista homeopática. Em defesa de nossos interesses e diante da falta de uma legislação a respeito, é possível alegar, entre outros motivos essenciais, que por sermos médicos podemos abordar qualquer tipo de patologia que, caso não seja da nossa competência, podemos encaminhar a um especialista. Temos que reconhecer o valor (quando não a temeridade) que impõem os “naturoterapeutas” que,

sem os estudos de Medicina, se atrevam a tratar determinados tipos de patologias, geralmente banais e funcionais, a base de “remédios naturais”. A situação pode mudar

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quando não se realizou um diagnóstico adequado e se mascaram os sintomas da doença com “complementos nutricionais”, possibilitando sua evolução de forma desfavorável. É curioso o deslocamento que os profissionais pretendem impor, no caso específico da MN, autorreconhecendo-se como os “autênticos médicos naturistas”, sem ser licenciados em Medicina, sem existir uma tradição (na Espanha, embora escassa, mas existe) e pretendendo curar tudo com “remédios naturais”, desprezando o tratamento antibiótico, quimioterápico, cirúrgico, etc., que sabemos não poder prescindir em determinadas ocasiões, para salvar vidas (embora bombardeie o organismo).

A medicina complementar no século XXI Diante de uma primeira revolução farmacológica no século XX, e uma segunda revolução baseada na Biologia molecular, pode parecer um anacronismo a prática da MC no século

XXI. Nada mais distante da realidade, já que longe das misérias pelas que passa grande parte da Humanidade, a pesar do avanço médico-científico, é cada vez maior o número os profissionais da saúde em todo o mundo que adotam em suas práticas, privada ou pública, algum método relacionado com a MN. Isto também está refletido no número crescente de Universidades que incorporam algum estudo relacionado a esta área, à destinação de verbas econômicas cada vez mais significativas nos países mais adiantados, assim como no acréscimo de grupos científicos. No caso específico da MN na Espanha, com o caminho percorrido nas últimas décadas, poderíamos estar mais

não

otimistas. Chegará o dia, mais ou menos próximo, em que a legislação regularizará a docência e a prática desta Medicina, que é preventiva e curativa, resolve problemas de saúde e respeita o Meio ambiente.

Com estas afirmações respondo às perguntas do Dr. A. Arteche na revista Natura Medicatrix de 1995, sobre a posição que ocupa a Medicina naturista no século XX, fazendo-o extensivo ao século XXI, tal como a que fez em seu livro sobre a história da Medicina naturista espanhola, ou seja: sim, faz sentido praticar a Medicina naturista no século XXI. Decálogo do médico naturista Para concluir este artigo, e de forma relaxada e bem-humorada, elaboramos um decálogo

que visa orientar o médico naturista “ideal”: 1. Ter bom humor e humores. O primeiro é sinal de boa saúde e o segundo se consegue com a alimentação vegetariana (lembrando que vegetariano vem do “homo vegetus”, ou seja, homem robusto).

2. Proceder, se possível, de uma boa “origem”, ou seja, que tenha tido boas práticas higiênicas e dietéticas adequadas quando criança, ou que tenha adotado o método enquanto jovem.

3. Dar exemplo com a prática (ser consequente).

4. Poder viver da profissionalismo).

prática

médico-naturista

(é

sinal

de

bom

5. Dedicar tempo e dinheiro em pesquisa no campo da Medicina Naturista (por que não haveria um prêmio Nobel nesta área?).

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6. Ter mais moral que o C.D. Alcoyano (equipe de futebol espanhola), saber entender a vis medicatrix para obter resultados rápidos, seguros e duradouros).

7. Aparentar 15 anos menos do que tem realmente (é sinal de que é um bom

naturista).

8. Que algum filho se dedique à prática médico-naturista (imprinting familiar).

9. Ser professor universitário (e melhor professor titular ou catedrático de Medicina Naturista quando for regularizada).

10.Morrer com mais de noventa anos e só depois de terminar a consulta (sinal de lucidez até o último momento).

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