Coluna: Gonçalo Riscado

Por Gonçalo Riscado (Diretor e programador da MIL – Music Convention de Lisboa)

As estatísticas dizem que um em cada cinco imigrantes em Portugal é brasileiro. A rota transatlântica é comum desde os anos 1980, mas até então nunca se tinham registrado números tão altos como os de 2016 para cá, representando a maior comunidade de estrangeiros a viver neste país. A análise de dados prossegue: os músicos representam uma parte significativa da vaga de imigração brasileira atual.

Conclusão óbvia, mas não por isso irrelevante: Portugal nunca conheceu tanta música brasileira como conhece hoje. Desde os anos 1980, Lisboa tem um importante circuito de divulgação de música brasileira no Bairro Alto. A cidade assiste hoje à multiplicação de espaços e eventos culturais dedicados à divulgação de artistas do Brasil, como a Casa do Brasil em Lisboa e a VALSA.

O fortalecimento desta comunidade em Portugal permitiu que vários artistas brasileiros atravessassem o Atlântico pela primeira vez para tocar para casas lotadas e dar a conhecer a sua música junto do público nacional.

A presença cada vez mais assídua dos músicos brasileiros nos circuitos de música do país faz-se também sentir nas programações de salas como o Musicbox, Maus Hábitos ou Capitólio. Esses espaços abrem as portas aos artistas que definem o som da música no Brasil atual, tais como O Terno, Duda Beat, francisco, el hombre, Letrux, Johnny Hooker e muitos outros. Apenas uma das casas, o Musicbox, em 2019 recebeu 41 artistas brasileiros.

Não restam dúvidas de que a produção musical brasileira ganhou um lugar importante no contexto da cena de música portuguesa atual, tornando-se cada vez mais visível neste cenário que tanto influencia e pelo qual se deixa influenciar. No MIL (Lisbon International Music Network), reconhecemos o enorme potencial desta conexão, sendo uma das nossas principais missões fazer de Lisboa a ponte de contacto privilegiada entre a Europa e a criatividade de língua portuguesa espalhada pelo mundo.