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Música e festas para iluminar a cidade

MÚSICA E FESTAS PARA ILUMINAR A CIDADE

Por Camilo Rocha (Jornalista, DJ e pesquisador musical)

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Os tempos que correm demandam o fortalecimento de todas as comunidades e cadeias que trabalham com cultura. Dentre elas, a noite é uma das mais vulneráveis. Afinal, desde sempre eventos e espaços que tocam música depois que escurece são alvejados por autoridades e políticos em nome da moral e do sossego.

Contra a obtusidade, devemos sempre lembrar que a vida noturna alimenta uma cidade de várias maneiras. Uma cena vibrante de clubes, casas de show e bares constrói capital cultural e torna a cidade desejável para visitantes. É por isso que Tóquio está subsidiando eventos noturnos fixos e atividades relacionadas à noite.

Noite gera empregos e receita, diretos e indiretos. E, nesse aspecto, vamos muito além das baladas. Um estudo sobre a noite de Nova York, publicado em 2019, estimou que a noite por lá, incluindo áreas como alimentação e eventos esportivos, responde por quase 200 mil postos de trabalho.

A noite é também uma incubadora de talentos. É nos bares, pistas e shows que se conectam artistas plásticos, músicos, cineastas, VJs, DJs, estilistas, barmans, chefs, produtores. “Pequenos eventos independentes podem ser escolas de administração para jovens garotos criativos”, me disse uma vez Mirik Milan, prefeito da noite de Amsterdam por seis anos.

Historicamente, festas de música eletrônica promovem a inclusão. Em São Paulo, já na década de 1980, eram “praças públicas” seguras em que héteros e gays conviviam pacificamente. Hoje festas independentes na cidade proporcionam line-ups só de mulheres e realizam ações para encorajar o acesso de pessoas trans. A noite também ajuda a sociedade a avançar em direção a um lugar melhor.

Atualmente, não há política pública decente que reconheça e estimule as potências da noite país afora. Talvez as primeiras iniciativas de mapeamento que aconteceram neste ano, via DATA SIM e MovFica, contribuam para um entendimento maior dessa força. A noite das cidades brasileiras quer ser locomotiva, não nasceu para ficar no túnel.