cultura da interface

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dominante irá fatalmente escolher espaços-informação deliberadamente confusos, ambientes feitos mais para desconcertar do que para aclimatar. Assim como subculturas musicais confundem nossas expectativas melódicas com dissonâncias e esquemas de harmonização inusitados, as novas interfaces vão perseguir a desorientação — se não isso, então pelo menos novos meios de orientar, tão novos que confundirão no primeiro encontro. Pensemos nos contorcidos espaços construídos pós-modernos de Rem Koolhaas e Frank Gehry, prédios que parecem ter sido virados pelo avesso, como o projeto de Richard Rogers para o Centre Pompidou. É da natureza de toda vanguarda contrariar nossas expectativas, manter-nos adivinhando, e em geral nos sentimos confortáveis — até blasés — com esse ciclo interminável de exploração da forma. Nenhuma cultura na história assimilou tão rapidamente seus movimentos de vanguarda — basta ver a relação de Disney com a arquitetura mais arrojada, ou a usurpação das técnicas underground de edição de vídeo pela MTV. Tudo isso sugere um esboço razoável do futuro do design de interface: a subcultura produz as inovações e a cultura dominante apropria as formas que considera vendáveis para um público de massa. Mas é provável que a transição não seja tão suave, ainda que apenas porque o campo do design de interface foi governado por tanto tempo pela regra cardeal da facilidade de uso. Um espaço-informação que desorienta deliberadamente seus ocupantes está fadado a ser rejeitado por seu design deficiente, assim como os críticos do tempo de Stravinsky fulminaram o ruído sem forma de A sagração da primavera. Como produto de engenharia, o design de interface trabalha necessariamente no interesse da clareza e da coerência, mas, uma vez que seus praticantes comecem a se conceber como artistas, esses valores lhes parecerão cada vez mais restritivos. A primeira geração de designers de interface a romper drasticamente com o princípio máximo da navegabilidade será certamente crucificada pelo establishment digital, mas vai também abrir todo um novo espaço de possibilidades para os designers que os seguirem. Os esnobes do DOS que torceram o nariz para a metáfora do desktop do Mac fizeram-no porque o olhe-e-sinta da Apple parecia tão fácil, mais parecido com uma bicicleta com rodinhas de apoio do que com um legítimo avanço em matéria de software. As subculturas da interface do futuro vão ofender os tradicionalistas por serem difíceis demais. "Hostilidade ao usuário" pode parecer uma meta estranha para o design de interface, mas a verdade é que o campo faria bem em temperar o amor com um pouquinho de agressividade. Nenhum meio conseguiu alcançar a condição de arte genuína sem ofender parte de seu público parte do tempo. Mesmo sob os ditames da acessibilidade


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