Revista Festival

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Editorial

Por definições de dicionários, a palavra festival significa, em resumo, uma grande festa, uma celebração ou mesmo uma competição ar tística de deter minada espécie. Em 2011, Ouro Preto e Mariana sediaram um evento especializado em reunir todas estas características, mas ainda capaz de se reinventar. Não foi apenas um e sim vários festivais simultâneos, tendo como referência a consagrada marca Festival de Inverno/Fórum das Artes, desta vez com estrutura e conceitos recuperados e renovados. Ao mesmo tempo em que manteve suas raízes, por meio do tema escolhido - o tricentenário das três primeiras vilas de Minas -, o evento superou a proteção e o conforto das montanhas gerais e foi lançado também em São Paulo, com receptividade e resultados surpreendentes. Da mesma forma que recuperou o Fórum das Artes, em seus objetivos originais, fortalecendo espaços de imersão, de debates e de ações efetivas nas áreas de arte, cultura, educação e patrimônio, fortaleceu, por meio de projetos como o Festival com a Escola, o

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papel de parceria da Universidade com a comunidade. O Circuito Festival, que reuniu de trilhas ambientais à gastronomia, passando por exposições e abertura de ateliês, foi um desses tantos festivais do Festival. O mesmo acontecendo com os encontros musicais ‘‘Tirando o Mofo’’ e ‘‘Fora do Eixo’’, e com a ‘‘Caravana nos Distritos’’. O que dizer então da reunião de peças teatrais estreantes ou premiadas, das mostras de cinema e de fotografia e da programação de oficinas? Não foi por acaso que as cidades receberam mais de 250 mil turistas em 17 dias. Por tudo isto, o Festival lançou, este ano, sua própria revista, que passa a ser a memória do evento e da integração entre artistas, educadores, alunos, turistas, instituições e empresas que ajudam a construir a história do evento e a contar a própria evolução da arte. Como diz o compositor Renato Teixeira em uma de suas obras-primas, “lembre-se sempre que, mesmo modesta, minha casa será sempre sua, amigo.” Seja bem-vindo.

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Vilas

de arte e cultura

Apresentação

Ao comemorar 300 anos das Vilas do Ouro, o Festival propôs um diálogo fértil e intenso com o legado setecentista das Minas Gerais, componente da identidade brasileira. Por Patrícia Lapertosa 1711 – 2011. Trezentos anos de arte e cultura. Esta foi a homenagem que o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2011, promovido pela UFOP, prestou às cidades coloniais mineiras, ao adotar como tema a criação das primeiras vilas de Minas, que formaram o eldorado brasileiro no alvorecer do século XVIII. Descoberto o ouro, embora a região tenha crescido rapidamente, com o afluxo de gente vinda de várias partes, o processo de urbanização da região, mais tarde conhecida como Minas Gerais, foi lento, precário e conturbado, marcado por conflitos contra a administração portuguesa, especialmente nas duas primeiras décadas do século XVIII. E mesmo quando a Coroa se mobiliza, com a criação das chamadas Vilas do Ouro, em 1711, resultantes dos primeiros arraiais mineradores nascidos no entorno do Ribeirão do Carmo e das serras do Ouro Preto e do Sabarabuçu, formando, respectivamente, a Vila de Nossa Senhora do Carmo (Mariana), a Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar (Ouro Preto) e a Vila de Nossa Senhora da Conceição (Sabará), estes núcleos mineradores vão se transformar em povoações com forte sentimento de pertencimento, que se traduzirá em ideologia política, culminando na Inconfidência Mineira. Vista como tentativa de organização administrativa pelo governo português, a criação das Vilas parece ter contribuído para o fortalecimento do sentimento patriótico, que moldará uma sociedade singular, com maneiras próprias de pensar, agir e se informar, capaz de forjar uma consciência de si mesma, a despeito do controle e da exploração

comercial, quase sempre espoliativa, mantidos por Portugal. Apesar de nascer e sub-existir da transplantação de códigos e valores lusitanos, esta sociedade faz af lorar uma cultura de base humanística, com feições próprias e alcance amplo – da esfera política à social e notadamente pela artística –, curiosamente, a partir de 1750, quando se verifica a exaustão das jazidas de ouro.

Aleijadinho, e seu contemporâneo, o

Da opressão à criação Possivelmente em consequência da política coercitiva praticada pela Coroa Portuguesa, que, além da cobrança do Quinto do Ouro, lançava mão da Derrama, as Vilas de Minas experimentam surto de genialidade artística e intelectual, imprimindo as bases de uma autêntica cultura brasileira. Bem formada e dotada de gosto refinado, a sociedade mineradora vai se expressar pela criatividade, seja na música, na literatura, na arquitetura ou na arte r eligiosa bar r oca. Trazido da metrópole para a Bahia e principais povoações do litoral, o barroco europeu alcança autonomia criativa em Minas, embora persista até finais do século XVIII e início do XIX. Com características peculiares, a sociedade que se forma pela primeira vez nos rincões interior es da possessão portuguesa surpreen-de. Mostra um conjunto de homens abastados, cultos e sintonizados com seu tempo (sobretudo com as ideias iluministas que circulavam na Europa) e uma classe média de feições urbanas, formada por artistas e artesãos, unidos pelo sentimento de emancipação e apreço à arte. Basta citar dois dos melhores artistas da época. Antônio Francisco Lisboa, o

dominam a temática nacionalista e o

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pintor Manoel da Costa Ataíde que trabalharam na construção da igreja São Francisco de Assis, de Ouro Preto, considerada obra-prima do rococó mineiro. Despontam também os letrados inconfidentes Manoel Inácio da Silva Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, cujas obras canto exaltador à terra natal. Esse período de efervescência

Povoações com forte sentimento de pertencimento, que se traduzirá em ideologia política, culminando na Inconfidência Mineira.

cultural, vislumbrado por meio do patrimônio cultural formado por obras plásticas e arquitetônicas de vinculação Barroco-Rococó e por ideário liber tador, r epr esenta componente fundamental da identidade brasileira. E, como manifestação artística genuína, traduz-se em espaço propício a novos modos de se pensar e fazer arte. Passados 300 anos, mais que a celebração de uma data redonda, o Festival de Inverno propôs diálogo fértil e intenso com o legado artístico e cultural das Minas Gerais.

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Artes Cênicas

Reflexão e fru

Das lágrimas às gargalhadas, peças premiadas em tod

A Curadoria de Artes Cênicas convidou para o Festival deste ano grupos nac programação com a peça Stravaganza. A partir daí, foram duas semanas de espetác O Círculo do Ouro, do Grupo Ponto de Partida, em h Por Gustavo Moreira Alves Iza Campos

Stravanganza

Tão loucos que a dúvida quanto à sanidade dos atores pairou no ar. Este foi o grupo italiano Academia della Follia, que se apresentou em português com o espetáculo Stravaganza. Bem humorados, mostraram os conflitos que surgiram quando uma lei os obrigou a deixar o hospital psiquiátrico de Trieste. Um dos “loucos”, a certa altura, enlouqueceu os espectadores de agonia ao desenvolver um monólogo enquanto costurava um pedaço de pele que puxou da própria barriga. Naty Tôrres

Fausto(s!)

Quem só imaginava o Centro Acadêmico da Escola de Minas (CAEM) como espaço para shows e baladas ficou surpreso com a Cia Preqaria, e o espetáculo Fausto(s!). A peça começou na rua, por alguns segundos parando o trânsito da Praça Tiradentes. Foram diversas mudanças de cenário num itinerário labiríntico dentro do CAEM. A cada cenário, uma surpresa. Os atores saíam do texto tenso para as piadas intermitentes, levando o público da tensão às gargalhadas e vice-versa. Cesar Tropia

Prometeus Nostos

Prometeus Nostos, sobre Prometeu, titã que roubou o fogo e deu aos homens, impressionou na releitura das obras da antiguidade com longas falas em grego arcaico, conciliadas ao texto em português. A peça, da Cia de Teatro Balagan, de São Paulo, arrepiou os espectadores com, por exemplo, a originalidade da tradução da Caixa de Pandora. O palco se dividia em quatro e exibia ao público, também dividido, encenações simultâneas. Tudo intercalado. A sonoridade da peça foi outro ponto forte da apresentação: pedra e pau manipulados pelos próprios atores. Naty Tôrres

Tio Vânia

O Grupo Galpão levou o público às lágrimas com a paisagem de frustração e tédio do texto de Tio Vânia, de Tchekhov, do século XIX. Com cuidado especial no cenário e performance de cair o queixo no momento de trocá-lo, o espetáculo ainda entrou numa questão cara ao Festival deste ano: a necessidade de cuidado com o patrimônio natural. Naty Tôrres

Por Elise

“Meu coração parece um cavalo novo com fogo nas patas, correndo em direção ao mar”. A vencedora dos prêmios APCA e Shell de melhor dramaturgia em 2005, Por Elise, do grupo belo-horizontino Espanca!, utilizou-se de uma metáfora engraçada para alertar para o cuidado que se deve ter com o que se semeia. A cada fruto que caía do abacateiro, causando medo na personagem que o plantou, o público era levado às gargalhadas. No final, quem assistia aplaudiu de forma nada convencional.

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uição estética

do o Brasil fizeram do teatro o ponto alto do Festival.

cionais e do exterior. A companhia italiana Academia della Follia inaugurou a culos que levaram à reflexão e à fruição estética, culminando com a apresentação de homenagem ao tricentenário das três vilas mineiras. Cesar Tropia

Andarilho dos Sonhos

Andarilho dos Sonhos levou ao público a história de Agapito, um camponês sem terra, pastor de ovelha sem ovelhas. Com a simplicidade de um peão – “roda peão, bambeia peão” – Agapito se envolveu numa fantástica aventura, em busca do amor de sua Panchita – “você gosta de mim, ô maninha, eu também de você” – e da prosperidade de seu povo. Do Grupo Virundanga, a peça é vencedora do Prêmio FUNARTE 2009 Artes Cênicas na Rua. Cesar Tropia

Mais alto que a lua

Mais alto que a lua é a sétima montagem do Cine Horto Pé na Rua, projeto de criação de espetáculos do Centro Cultural Galpão Cine Horto. Na Praça Tiradentes viu-se o resultado da pesquisa sobre a relação do homem com o ambiente urbano, inspirada na obra “Marcovaldo ou as estações na cidade”, de Ítalo Calvino. Uma reflexão sobre a relação entre o homem, a cidade e a natureza comprometida com a vida artificial, feita pelo olhar de um trabalhador ingênuo e sua família numerosa. Naty Tôrres

Bartolomeu o que será que nele deu?

O teatro Hip Hop Bartolomeu: o que será que nele deu? trata da trajetória de um funcionário de escritório de advocacia que, de repente, confina-se dentro de si mesmo, recusando a participar do mundo e de tudo o que implica no convívio social. O Núcleo Bartolomeu inspirou-se no romance ‘‘Barterbly: o escrituário, de Herman Melville’’. O objetivo é mostrar a rotina do típico assalariado que trabalha em escritório. Alheio à realidade, repete mecanicamente: “prefiro não fazer.” Naty Tôrres

O Reino do Mar Sem Fim

Concebido a partir do romance de cordel, O Reino do Mar Sem Fim narra a história de amor entre Adriano e Elisabete. O espetáculo do Grupo Pedras destaca a estreita relação entre narradores e narrativas com o personagem Severino da Cocada, replicado em quatro pelos atores. As questões julgadas do domínio pessoal como fenômeno psíquico intransferível são reconhecidas e compartilhadas por meio da linguagem poética, inventividade que devemos à tradição oral. Lucas de Godoy

O Círculo do Ouro

Mais dentro do tema do Festival impossível: O Círculo do Ouro, do Grupo Ponto de Partida, de Barbacena, contou parte da história dos 300 anos das vilas mineiras. O espetáculo colocou no palco um dos momentos mais fortes para a história de Minas Gerais e do País, quando as minas são descobertas e o ouro atrai para o sertão o maior contingente de habitantes jamais visto no Brasil-Colônia. A apresentação ainda fez menção às igrejas e casarões e a personalidades como Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Maria Dorotéia, a Marília de Dirceu. REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

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Artes Cênicas - Mostra DEART Iza Campos

Espetáculos “em processo” recebem aplausos de pé

Naty Torres

Por Gustavo Moreira Alves

O Departamento de Artes Cênicas (DEART) promoveu no Festival 2011 a Mostra DEART, com espetáculos que são objeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e ainda estão “em processo” pelos estudantes. E estar “em processo” não significa que não tenham sido aplaudidos de pé. Se o Festival fosse uma peça do Juliano Mendes, dramaturgo que escreveu Édipo em 4 Estações, pediria para ser reescrito. Não que acabe mal, porque acaba muito bem, mas acaba, e todo esse espetáculo pede para viver de novo, reviver sempre. É uma tragédia quando acaba. Ainda bem que ano que vem ganha novos traçados.

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Édipo em 4 estações

Na peça Édipo em 4 Estações, livre adaptação de Édipo Rei, de Sófocles, as estações do ano conduziram à tragédia grega que inspirou Freud. Na história do dramaturgo grego, Édipo mata o pai e desposa-se da própria mãe, o que depois iluminou o pai da psicanálise para a ideia do Complexo de Édipo. Na Mostra, o protagonista tampouco foge de seu destino trágico. Entretanto, a trama começa a ser contada a partir de seu nascimento, com uma referência ao Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci. Depois, a presença da esfinge diverte a plateia, e a narradora com sua bicicleta, de visual inspirado na atriz Audrey Hepburn, encanta o público. As músicas são um show à parte. ♪Não terás escolha, não terás saída, se a mentira é verdade, se a verdade é mentira, azar é sorte e a morte é vida ♪

O Minto das Labdácias Antígona

Unindo o trágico ao cômico, como numa típica tragédia grega, o espetáculo O Minto das Labdácias – Antígona colocou no palco os anseios que atingem todos os âmbitos do mundo contemporâneo, com influência de elementos do circo, incluindo um coro de seres humanos monstruosos. Aqui, numa nova leitura da terceira parte da trilogia tebana, as Labdácias Antígona e sua irmã Ismênia não contrariam Tirésias para enterrar os dois irmãos, mas para desenterrá-los. Quem pegou bolinha no começo da peça pôde se divertir com uma interação pra lá de inusitada.

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Cesar Tropia

Lucas de Godoy

Naty Torres

Lucas de Godoy

O Cavaleiro Inexistente

Aquitecência de Alice

Inspirada nos livros Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll, Aquitecência de Alice explora a adolescência da personagem-título. Em cena, há duas Alices, a do presente e a do passado, aquela relembrando o que esta reviveu. Além disso, cada personagem contém em sua representação uma virtude e um pecado. O espetáculo ainda puxa o público para o mesmo buraco onde caiu Alice, deixando-o livre para transitar no palco e interagir com os atores.

Limiar

Limiar contou a história de três vampiros que se encontram de tempos em tempos para tentarem descobrir como suportarão a imortalidade. A peça teve origem durante uma pesquisa de linguagem que buscou estudar a arte gótica e aconteceu em cima de um tablado circular com o desenho do labirinto da Catedral de Chartres, na França.

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A Praça Tiradentes contou com o espetáculo de rua O Cavaleiro Inexistente, transcriação cênico-musical da obra homônima de Ítalo Calvino. O romance, imaginativo e fantástico, g a n h a b e l e z a a c é u a b e r t o, principalmente porque conta com ares de realidade. A apropriação do espaço fez com que se substituísse o andaime das outras apresentações. Os atores se misturaram com os espectadores, dando a eles sensação de igualdade, fazendo-os se sentirem representados. O espetáculo é mais um fruto do Grupo Mambembe – Música e Teatro, projeto de extensão dos cursos de Artes Cênicas e Música da UFOP.

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Música

Pra ver a banda passar Orquestras revivem bailes de gala nas ladeiras e distritos Por Jéssica Michellin “É como voltar no tempo; aos anos 80, em que freqüentávamos os bailes e dançávamos até o sol nascer”, declara o casal ouropretano Maria Benícia e S e b a s t i ã o Fe r n a n d e s, a s s í d u o espectador das apresentações das orquestras e bandas dos eventos do Festival. Embalados pelos acordes de orquestras e retretas, crianças se d i ve r t i r a m , i d o s o s r e v i v e r a m momentos guardados com carinho em algum cantinho da memória e centenas de casais puderam dançar nas ladeiras e nos distritos desta terra de desbravadores. Por algum tempo, a vida docemente parou. Na edição de 2011, a curadoria de Música resolveu dar atenção especial à difusão das composições tanto clássicas como populares, promovendo interessante diálogo entre elas e a t r a i n d o, a s s i m , a i n d a m a i s espectadores. De acordo com o regente da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo Toffolo, outro fator que contribuiu para esse sucesso foram as apresentações em todos os distritos ouropretanos. “Ao levar a música de concerto aos inúmeros distritos, no nosso caso, com as composições dos Beatles, a Orquestra contribui para a formação de um novo público e, consequentemente,

Iza C

desmistifica a ideia de que a música de concerto é de difícil compreensão”, explica. Levando a MPB para os entusiastas do Festival, a Orquestra Cabaré, formada por 22 artistas mineiros, também contagiou e aqueceu. O frio de 13 graus não desanimou as cerca de 1500 pessoas na Praça Tiradentes, em apresentação única. Formada em 2010, em comemoração aos 25 anos da criação do Cabaré Mineiro, a banda apresentou canções brasileiras do lado B dos anos 70, em arranjos inéditos. A orquestra busca resgatar parte da rica produção artística nacional e unir clássicos à composições de novos artistas. Para as amigas de Ponte Nova, Débora Sanches, 28 anos e Juliana Machado, 22, as canções animadas espantam qualquer energia negativa. “É um alento para a alma”, afirmou Débora. Os bailes a céu aberto ainda contaram com o Circuito Pé de Valsa, que aconteceu com a apresentação da Orquestra Anos Dourados, no Largo Marília de Dirceu. O circuito, idealizado pela Prefeitura de Ouro Preto, conta com um público formado, em sua maioria, por pessoas da terceira idade. Segundo André Simões, diretor de

eventos da Secretaria de Cultura e Turismo da cidade, é a terceira vez que o projeto acontece no município. “O objetivo é levar os bailes nas noites de lua cheia para os espaços públicos, como as praças. Essa iniciativa começou em maio e foi até setembro do ano passado. Agora, ela voltou para o Festival”, explica. Ao som de Somewhere Over The Rainbow (Em algum lugar além do arco-íris), a orquestra começou o seu repertório e, entre uma dança e outra, lá estava o mesmo casal encontrado em outros bailes: Dona Maria Benícia e Seu Sebastião Salgado, dançando e trocando carícias. “Faltam eventos como estes. Ainda bem que o Festival se encarrega de preencher esse espaço”, analisou Sebastião, em mais uma noite na cidade enfeitada.

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MarceloTholedo

Mistura Cultural

Projetos Especiais levaram o ar do Festival para o trem e para as ruas por Lorena Silva

Ouro Preto e Mariana inspiram e expiram arte durante o mês de julho; como um sistema respiratório, tendo a arte como fonte essencial para o funcionamento de tudo o que ocorre nesta época, em ambas as cidades. Esse cenário infunde artistas que vão para as ruas, teatros, palcos e praças para levar a milhares de pessoas o “ar” do Festival. O espaço pode variar, mas o propósito é sempre o mesmo: preencher cada artéria com as mais diferentes formas da cultura. Nesta edição, alguns eventos ganharam destaque, não só por sua proposta, mas também por conseguirem atingir o público com extrema facilidade. Afinal, por que não uma intervenção artística durante uma viagem de Ouro Preto a Mariana, no trem turístico da Vale? Poesia nos Trilhos, da Cia. Trem que Pula, formada por alunos da UFOP, surpreendeu os passageiros da locomotiva com poesia e música popular brasileira. “Uma apresentação em um local como esse é bem diferente, mais intimista, já que você está muito próximo das pessoas. Mas o retorno foi muito bom.”, destaca a integrante do grupo,

Daniela Fontana. A rua também pode servir de palco para muitas outras manifestações. Por seu caráter democrático, possibilita contato direto com o público, que se aproxima, interage e, por vezes, até participa da intervenção. Durante o Festival, a arte pôde ser distribuída em sua extensão, transformando este espaço em um verdadeiro Corredor Cultural, que reuniu espetáculos, peças de teatro, exposições e dança.

Época, o Festival possibilitou o contato do público com a dança e a prática da leitura. Em um dos saraus, poesias de Cecília Meireles, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, que contemplam parte da história de Ouro Preto, foram interpretadas, valorizando o patrimônio cultural da região. Segundo a coordenadora do evento, Marilene Marinho, o sarau integra o plano de incentivo à leitura das bibliotecas infanto-juvenis das estações ferroviárias de Ouro Preto e Mariana. “O objetivo é criar um espaço de cultura, lazer, apreciação musical e incentivo à leitura”, diz. O que respiramos durante o mês de julho em cada pedaço de Ouro Preto e Mariana é o que engrandece a história das antigas Vila Rica e Vila do Carmo. É o que faz a região se tornar um dos principais roteiros culturais do Brasil nessa época. E o mais importante, o que une pessoas dos mais diferentes lugares e estilos numa intensa troca de conhecimento e experiências, no ar puro de um inverno acolhedor e democrático.

Uma apresentação em um local como esse é bem diferente, mais intimista, já que você está muito próximo das pessoas. O retorno foi muito bom. Daniela Fontana

Baile a céu aberto e declamações de poesia também marcaram esta edição. Com o Circuito Pé de Valsa e o Sarau de

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Naty Torres

Cesar Tropia

Cesar Tropia

Marcelo Tholedo

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Música

CAEM SAGARANA

Naty Tôrres

por João Felipe Lolli

Os centros acadêmicos são, por definição, entidades que representam, normalmente, os estudantes de um curso de nível superior. Já um café-teatro é um espaço para debates, discussões e apontamentos no campo intelectual. Mas, no Festival, estes locais foram aproveitados para incluir em sua programação os mais diversos eventos. Isso aconteceu com o Centro Acadêmico da Escola de Minas (CAEM), em Ouro Preto, e com o Sagarana Café-Teatro, em Mariana. O projeto Conexão Festival CAEM-Sagarana brindou as duas

cidades com grandes atrações. Esses locais receberam, nos três finais de semana do evento, seis shows cada um. Além disso, a Conexão abriu os palcos para a música independente e bandas menos conhecidas no cenário nacional. “É um trabalho desenvolvido para trazer novas referências musicais de outras cidades e estados e, principalmente, fomentar a cena local, oferecendo oportunidade para as bandas da nossa região”, explica PC Belchior, produtor musical e coordenador do Conexão Festival. As bandas Quadrado Fino, de

Mariana, e Sarravulho, de Campo Grande (MS), foram algumas das atrações da música independente. Do forró ao rock, passando pelo samba e pelos covers de bandas internacionais, participaram do Conexão, em Ouro Preto, bandas como Tianastácia, Demônios da Garoa, Hocus Pocus (cover do Beatles) e Hanoi Hanoi. “Nosso objetivo era transformar esses espaços em ambientes de qualidade musical. Lugares que geralmente são frequentados por estudantes tiveram, com o Conexão, a presença de famílias, pessoas de mais idade e muitos turistas”, analisa PC.

s e t n e d n e p e d in

Viver da música não é tarefa fácil. Mais complicado quando ela é autoral. A maioria das bandas não consegue fazer seu som chegar ao público. Na tentativa de valorizar este trabalho, foram incorporados à programação o Circuito Fora do Eixo e o Encontro Tirando o Mofo. Com o incentivo, o Festival buscou fortalecer o trabalho autoral e a identidade musical destas bandas. Fora do Eixo e Tirando o Mofo reuniram formações de todo o país. O Tirando o Mofo, que teve sua segunda edição em Ouro Preto, reuniu grupos de rock alternativo. Levou para os palcos “bandas de

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doBrasil

pequeno

Naty Tôrres

retrato das bandas por Isabela Azzi

garagens”, formadas, em geral, nos tempos do colégio, para mostrarem suas boas novidades. O evento contou com as mineiras Selvagens e Seu Juvenal, de Ouro Preto, Rotten Hell, de Uberlândia, O Melda, de Belo Horizonte e 4 instrumental, de Sabará. Além delas, John no Arms, de Brasília (DF), e Elma, de São Paulo (SP). Já o Fora do Eixo levou para Mariana sete grupos. A cidade pôde conhecer o trabalho das bandas Sarravulho, de Campo Grande (MS), Tereza, de Niterói (RJ), Os Barcos, de Vitória da Conquista (BA), 4 Instrumental, de Sabará (MG), K2,

de Poços de Caldas (MG), Madame Saatan, de Belém (PA) e Apolônio, de São Paulo (SP). João Volpi, baixista da banda Tereza, enfatizou a importância do evento. “É bom nos apresentarmos numa estrutura física como a do Festival, além de tudo, pela sua projeção”. Já Pedro Cézar Moraes, vocalista da K2, lembrou que a música está tomando r umos diferentes, onde cada banda é responsável pela sua própria divulgação, e precisa de eventos como estes. “Temos o mesmo intuito, que é mostrar o som, divulgar e fortalecer a circulação.”

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Culinária e Arte - Premiados

MELHOR PRATO EM MARIANA

MELHOR SOBREMESA EM MARIANA

1º - LUA CHEIA BAR E RESTAURANTE

1º LUA CHEIA BAR E RESTAURANTE

Endereço: Rua Dom Viçoso, 58 Centro Contato: (31) 3557-3232 Prato Canjiquinha Lua Cheia da Vila: canjiquinha com costelinha defumada, ora-pro-nobilis e arroz.

Endereço: Rua Dom Viçoso, 58 Centro Contato: (31) 3557-3232 Sobremesa Mineirinho Lua Cheia: sorvete de queijo caseiro com calda de goiaba quente.

MELHOR PRATO EM OURO PRETO

MELHOR SOBREMESA EM OURO PRETO

1º - O PASSO PIZZA JAZZ

3º RESTAURANTE SABOR DAS GERAES

Endereço: Rua São José 56, Centro. Contato: (31) 35525089 Prato Bacalhau da Vila: posta de bacalhau do porto confinado no azeite extra virgem com batatas ao murro, lingüiça picante, azeitonas azapa, passas, alho, cebola e salsinha acompanhados de arroz branco.

Endereço: Rua João Batista Fortes, 09, Pilar. Contato: (31) 3551-1074 Sobremesa Amor em Pedaços: doce assado feito com coco, margarina, açúcar, farinha de trigo.

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Culinária e Arte

O resgate da tradicio

Circuito Culinária e Arte reuniu 31 restaurantes que aceitaram o desafio de criar pr Por Douglas Couto Ora-pro-nobis com costelinha de porco, feijão tropeiro, vaca atolada, angu com quiabo e torresmo crocante. Os fãs de comida mineira certamente conhecem o significado dessas palavras. O que nem todo mundo sabe é que a origem desses pratos, geralmente preparados com ingredientes da roça, confunde-se com a própria história de Minas Gerais, como uma clássica herança da época colonial e com o aroma do fogão à lenha. Além de oficinas e do rico e variado roteiro artístico-cultural, uma das atrações de 2011 foi o cardápio de sabores. O Circuito Culinária e Arte, uma das cinco atrações do Circuito Festival, ofereceu ao público um roteiro gastronômico com a cara do Festival de Inverno. Trinta e um restaurantes (18 em Mariana e 13 em Ouro Preto) aceitaram o desafio e elaboraram

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receitas e cardápios com o tema do evento: os 300 anos das Vilas de Minas. Foi justamente no século XVIII que a cozinha tradicional ou “típica” mineira foi forjada em dois momentos distintos: o de escassez, no auge da mineração do ouro, e o de fartura, com a ruralização da economia regional. Atravessando séculos, chegaram até nós alguns dos mais saborosos pratos da culinária regional mineira, como o feijão tropeiro e o angu de milho, ou de fubá, com frango. Para o Festival, os estilos diferentes foram adotados na maioria dos restaurantes que criaram novas delícias utilizando ingredientes das raízes da culinária regional. Os pratos mais famosos da cozinha mineira originaram-se no nosso passado. Muitos são feitos à base de milho, utilizando principalmente o fubá e o feijão nas receitas.

Sabores temperados com séculos de história Nessa linha, o “Feijão das Vilas do Ouro”, criação do chef Zezinho, foi a atração servida no restaurante e choperia Casarão, em Mariana. Em homenagem ao tricentenário, o chef elaborou o prato à base de feijão vermelho. A receita é uma combinação de sabores temperados com séculos de história. Ingredientes simples, saborosos e ricos. Mostarda, carne de porco, costelinha de porco, linguiça e toucinho de barriga defumados, arroz e cuscuz de torresmo deram origem ao prato, servido em tigelas de barro, que passou a fazer parte do cardápio do restaurante. A “Matula de Tropeiros” foi outra delícia revelada pelo Festival. A criação do Bonserá Café Mineiro é à base de carne de frango assada com molho de jabuticaba servido com arroz branco e

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onal culinária mineira

ratos utilizando ingredientes típicos da história secular da cozinha de Minas Gerais

farinha de milho. Assim como antigamente, o prato é servido na cuia e no coité, à moda das negras de tabuleiro na Vila Rica setecentista. O aperitivo fica por conta do “Crambambuli”, bebida servida em canequinhas de bambu. De sobremesa, pedaços de rapadurinha. Para se ter ideia da riqueza do Culinária e Arte, o restaurante A Vila preparou o “Sabores da Vila”, prato à base de lombo empanado na farinha de torresmo pururuca, acompanhado de cuscuz mineiro (uma variação do cuscuz paulista com farinha de mandioca) e couve, inspirado nas

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comidas secas (à base de farinha) dos antigos tropeiros. Pôde-se apreciar ainda o inusitado “Pudim Real Brasileiro”, o tradicional pudim de leite misturado a folhas de ora-pro-nobis e servido com calda de maracujá. Segundo o chef Adriano Martins, “o efeito visual é uma manifestação singular de patriotismo, já que reúne ingredientes típicos e o verde e o amarelo da bandeira do Brasil”. Chefs buscaram informações histórico-culturais Para a coordenadora do Circuito Festival, Eliane Sandi, o fato de os chefs e

donos de restaurantes terem buscado informações histórico-culturais para a escolha dos ingredientes dos pratos concorrentes deu um charme especial ao circuito. Além do público, um corpo de jurados convidado pela coordenação do Festival teve a tarefa de julgar tecnicamente os pratos. O júri foi composto por professores do curso de gastronomia a ser implantado pelo Instituto Federal de Minas Gerais, em Ouro Preto, por representantes da UFOP, das secretarias municipais de Turismo e de Cultura e pelas associações comerciais das duas cidades.

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Circuito Trilheiros

Sete trilhas para a conscientização ambiental

Desvendando a biodiversidade e a história preservada em povoados e parques ecológicos

Arquivo pessoal

por Jéssica Michellin

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Incluído pela primeira vez no Festival, o Circuito Trilheiros buscou valorizar as belas paisagens de Mata Atlântica e de Cerrado por meio de passeios aos parques ecológicos da região, entre eles o Parque Horto dos Contos, o Parque Arqueológico do Gogo e o Parque Estadual do Itacolomi. De acordo com os organizadores, todas as 215 vagas oferecidas esgotaram e, em alguns casos, foram abertas mais vagas, devido à alta procura. O objetivo foi conscientizar turistas e a comunidade local da importância histórica e ambiental desses espaços a partir de passeios ciclísticos, expedições e até mesmo oficinas, além de fortalecer o envolvimento da população ouropretana e marianense com o Festival. Ao todo, o Circuito contou com sete trilhas, montadas por especialistas em ecoturismo. A Trilha Mariana-Ouro Preto, com início no Parque Arqueológico do Gogo, em Mariana, e chegada no Parque Natural das Andorinhas, passando antes pelo sítio arqueológico do Morro da Queimada, ambos em Ouro Preto, promoveu a integração com a história antiga de Minas. O percurso é considerado marco inicial da colonização das duas cidades. Três outras trilhas – duas caminhadas e um passeio ciclístico – levaram os participantes a distritos de Ouro Preto e Mariana. Bento Rodrigues-Camargos prestigiou um dos mais antigos distritos marianenses: Camargos, endereço da antiga fazenda Tesoureiro, onde, no século XVIII, se recolhia o Quinto do Ouro. Já os

participantes que optaram pelo caminho Ouro Preto-São Bartolomeu percorreram o cume da Serra de Ouro Preto, que divide a Bacia do Rio das Velhas e do Rio Doce. A trilha passou pela estrada imperial, chegando a uma das primeiras regiões habitadas na exploração do ouro, o distrito de São Bartolomeu. O percurso Ouro Preto-Lavras Novas, passou pelo Parque Estadual do Itacolomi, por trechos da Estrada Real e pela Bacia do Custódio, até chegar em Lavras Novas, povoado ouropretano que teria sido reduto de escravos no século XIX. Já na antiga Vila Rica, a Trilha Parque Horto dos Contos, a mais amena de todas, explorou a riqueza das espécies nativas, enfocando a preservação e a integração ambiental à área urbana. O roteiro ecológico é plantado no centro histórico, ligando a Igreja São Francisco de Paula à Matriz

de Nossa Senhora do Pilar. O Circuito contou ainda com a expedição ao Pico do Itacolomi e a Oficina Plantas: Objeto de Curiosidade e Estudo em 300 Anos das Vilas do Ouro, que buscou despertar o interesse pela biodiversidade da flora da região. “A comunidade elogiou bastante a iniciativa”, afirma Eliane Sandi, coordenadora do Circuito Festival. Para o aluno de Jornalismo da UFOP, Flávio Ulhôa, as atividades conscientizaram os participantes para questões como o desperdício de materiais e a utilização dos combustíveis fósseis. “As pessoas devem pensar duas vezes antes de jogar uma lata fora ou desperdiçar algum tipo de material”, comenta.

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Arquivo pessoal

Seis horas de expedição

ao Parque do Itacolomi

Aventura, superação e o privilégio de uma vista extasiante

Estagiária de Jornalismo acompanha circuito e conta sua experiência A névoa encobria os horizontes e não se podia enxergar o Pico do Itacolomi da Praça Tiradentes, ponto de encontro do Circuito Trilheiros. Nem a sensação térmica de 15 graus, nem o horário de saída da expedição, marcada para às 8h, desanimaram os 50 participantes da expedição ao Parque Estadual do Itacolomi, incluindo eu, uma aspirante a jornalista, não praticante de esportes comuns e muito menos de esportes radicais. Atraindo turistas do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o grupo começou o seu percurso com o aval do guia do parque, João Paulo Carvalho Ribeiro. Os monitores entregaram o mini kit de “sobrevivência” para as seis horas seguintes, composto por uma barrinha de cereais e uma garrafa d’água. Tudo bem, pode ter sido exagero o adjetivo “sobrevivência”, mas a questão é que muitos ali – e eu me enquadro nesse grupo – não estavam preparados fisicamente para os 22 quilômetros de caminhada e uma cansativa subida em direção ao Pico. A atividade era um teste para os nossos limites. De cara, uma moça desistiu. Mas o

resto do grupo estava obstinado a ter o privilégio da vista de Ouro Preto e das redondezas sob a ótica de um dos pontos mais altos da região, o Itacolomi – na língua tupi, “filhote da montanha”, “pedra menina” ou “pedra mãe” – em seus altivos 1.772 metros de altitude. O frio e a umidade eram meros coadjuvantes, já que o foco de nossas atenções era a paisagem exuberante da Mata Atlântica, na qual se destacam as quaresmeiras e as candeias, árvores típicas dessa região, ambas de um tom verde bem forte. Trazendo colorações mais quentes e vibrantes à paisagem, as “sempre vivas”, plantas raras de tons vermelho, laranja e violeta, ofuscaram o ve r d e d o c e n á r i o, a t é e n t ã o predominante. Essas plantas têm esse nome, porque suas flores demoram para murchar, conservando sua aparência por muito tempo. Conforme subíamos, o terreno ia ficando mais íngreme e os campos de afloramentos rochosos tornavam nosso caminho mais tortuoso e a expedição mais cansativa. Quando pensava em desistir, era só olhar para o lado e observar a matriarca de uma

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família, no auge dos seus 50 anos: “Não desiste, não, minha filha!”. Dava até vergonha de encostar numa pedra para descansar. Firmes e fortes, uns mais cansados, outros menos, chegamos ao Pico do Itacolomi. Depois de duas horas e meia, tive a oportunidade de avistar a minha cidade atual sob um “ângulo plongê” (fazendo jus às aulas de fotojornalismo) e conseguir imagens incríveis. Mais do que patrimônio natural, a área do parque foi importante na história da ocupação da região e no descobrimento do ouro, já que o pico foi referência para os desbravadores, no século XVIII. Lá de cima, com muito frio, intensificado pela chuva fina e gelada, refleti sobre os fatores positivos dessa cobertura: o contato com a natureza e com a história da região, além da superação dos meus próprios limites físicos. Ponto para o Festival, que conseguiu incluir, em um evento de arte e cultura, aventura ecológica aliada à reverência a um símbolo, testemunha de tantas expedições de heróis, vilões, cobiça e encantamento: pedra mãe, pedra menina, filhote da montanha.

Em seus altivos 1.772 metros de altitude, o Pico do Itacolomi – na língua tupi, “filhote da montanha”, “ – foi referência para os desbravadores da região dos Inconfidentes. Lucas de Godoy

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Artes Visuais

Museus e ateliês celebraram a arte das vilas, ontem e hoje Exposições em museus e ateliês de artistas locais homenagearam a produção intelectual das três primeiras Vilas de Minas por Edwaldo Cordeiro

O Circuito foi o lugar em que o Festival pôde dialogar ainda mais com a comunidade. Para isso, chamamos os artistas locais para abrirem seus ateliês e mostrarem seus trabalhos. Eliane Sandi

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O Circuito Expositivo, que compreendeu ações das curadorias de Artes Plásticas, Visuais e de Patrimônio, teve o intuito de apresentar uma programação de exposições artísticas ligadas ao tema dos 300 anos das Vilas de Minas. Entre fotografias, pinturas, poesias e esculturas, distribuídas em 18 espaços nas cidades de Ouro Preto e Mariana, o público pôde conhecer a produção intelectual dos artistas locais ao longo dos últimos três séculos. Entre os temas estavam homenagens às Nossas Senhoras padroeiras das três vilas tricentenárias, aos artistas locais e às próprias vilas. Ao todo, foram 11 atividades, que iam desde mostras e exposições até inter venções urbanas, como a ocupação da área externa da Casa da Baronesa, revestida com textos da narrativa oral de moradores da região. O Circuito Museus, por sua vez, envolveu 16 instituições museológicas de Ouro Preto e Mariana. Em Ouro Preto, foi organizada a exposição coletiva e itinerante “Ouro Preto – Cidade dos Museus”, reunindo 13 espaços a partir de um texto-roteiro escrito pelo jornalista e prefeito da

cidade, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, que mapeou um passeio à história cultural da região. Já o Circuito Ateliês Abertos contou com a participação de aproximadamente 70 artistas plásticos, de Ouro Preto e de Mariana. Eles abriram as portas dos 55 ateliês para a comunidade conhecer o manuseio das matérias-primas que compõem as obras de arte. Segundo a produtora do Circuito Festival Eliane Sandi, a ideia foi criar um diálogo ainda maior com as pessoas das duas cidades: “O Circuito foi o lugar em que o Festival pôde dialogar ainda mais com a comunidade. Para isso, chamamos os artistas locais para abrirem os ateliês e mostrarem seus trabalhos”, ressaltou. Em Mariana, no Museu da Música, a exposição “Três Vilas, Três Senhoras e Três Museus” reuniu imagens das Nossas Senhoras padroeiras das antigas vilas: Nossa Senhora do Pilar, de Vila Rica do Pilar (Ouro Preto), Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora da Conceição, das vilas de mesmos nomes, hoje Mariana e Sabará, respectivamente. As imagens foram cedidas pelo Museu Arquidiocesano de

Arte Sacra de Mariana. Além das imagens, o público pôde conhecer partituras e gravações de importantes compositores do período colonial, como João de Deus de Castro Lobo e José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, além da obra poética “Setenário das Dores de Nossa Senhora”, que reúne sete sonetos dedicados à Nossa Senhora, publicado pelo poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens, no fim do século XIX, e pertencente ao Museu Casa de Alphonsus de Guimaraens.

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Festa em 17 distritos de Ouro Preto e Mariana Distritos

Naty Torres

Caravana com exposições, espetáculos, concertos e filmes mudaram rotina até mesmo dos moradores mais distantes por Douglas Couto

Além de transformar Ouro Preto e Mariana nas capitais culturais de Minas, o Festival conquistou bairros e distritos das duas cidades. O evento conseguiu harmonizar sua proposta de integração com a forte tradição cultural da região, envolvendo, assim, toda a comunidade. Ao longo de 17 dias, a Caravana Festival levou a 17 distritos uma série de atrações, entre exposições artísticas, espetáculos teatrais, concertos e filmes. A Caravana faz parte da parceria do Festival com o Instituto Candonguêro, criado em 2008 para difundir, pesquisar e legitimar a genuína cultura artística brasileira, em especial a arte de Ouro Preto e região. Projetos como o Carro Biblioteca e o Ponto Volante de Cultura refletem essa proposta. Da mesma forma, a Orquestra Ouro Preto se destacou na edição 2011, com visitas a todos os distritos. No repertório da Orquestra, composições dos Beatles ajudaram a promover um diálogo entre música erudita e popular, levando os moradores a um passeio sonoro diferenciado. Atrações também não faltaram nos

bairros. Os momentos de lazer das crianças das escolas municipais Juventina Drumond e Monsenhor João Castilho Barbosa, em Ouro Preto, foram diferentes durante o Festival. Com o projeto Recreio Cultural, as escolas receberam inter venções artísticas. “A ideia foi muito boa porque proporciona o envolvimento do público infantil no Festival”, observa a aluna Luana Leel. A iniciativa foi aprovada pela diretora Maria de Lourdes Pereira. Para ela, o Recreio Cultural levou mais alegria e agitação para os intervalos das aulas. “Foi muito interessante essa interação que eles tiveram com a musicalidade. Dá também oportunidade para os alunos ingressarem nesse meio de cultura.” Festa da Panela de Pedra prestigiada em Cachoeira do Brumado Em Mariana, não faltaram atrações para todas as idades. O distrito de Cachoeira do Brumado, que fica a 27 quilômetros do Centro Histórico, foi o

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local escolhido, na cidade, para a abertura oficial do Festival. Com música, atrações artísticas e o melhor da gastronomia mineira, o inverno cultural começou paralelo à tradicional Festa da Panela de Pedra. “Temos é que agradecer o apoio da Universidade, que agregou a nossa festa e trouxe mais divulgação para o nosso distrito”, disse a líder comunitária Mara Lúcia. “A cada ano que passa é uma parceria que se consolida para o bem da comunidade”, complementou o prefeito em exercício (no dia da abertura), Geraldo Sales de Souza, o “Bambu”. O coordenador geral do Festival, Armando Wood, lembra que essa parceria com os moradores ocorre há três anos e traz benefícios para todos. Esta integração é reafirmada também pelo reitor da UFOP, João Luiz Martins, que ressalta a necessidade de consolidar ainda mais a presença do evento nos distritos nos próximos anos. “O distrito de Cachoeira do Brumado é para nós uma referência para a abertura do Festival em Mariana”, diz.

Iza Campos

Em Ouro Preto, o Festival levou atrações aos distritos de Amarantina, Antônio Pereira, Cachoeira do Campo, Chapada, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Rodrigo Silva, Santa Rita e Santo Antônio do Salto. Na vizinha Mariana, a Caravana percorreu Cachoeira do Brumado, Padre Viegas, Furquim,Santa Rita Durão, Monsenhor Horta e Passagem de Mariana. Marcelo Tholedo

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Por Gustavo Moreira Alves

Naty T么rres


Artes Plásticas

Sem limites históricos

Exposições de artes plásticas apresentaram 264 obras em cinco galerias, em compilação de peças do século XVIII até os dias de hoje Por Edwaldo Cordeiro

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“Definir um conceito para o que é a arte é ir em direção à decepção, devido às divergências e contradições existentes no campo. No entanto, superficialmente, pode-se inferir que a arte surja das manifestações da atividade humana, sobre as quais nosso sentimento é exaltado.” Assim escreveu o historiador Jorge Coli na clássica publicação de 1982, intitulada “O que é a arte”. A exaltação ressaltada por Coli certamente pôde ser sentida pelo público nas galerias de arte do Festival, ao se depararem com as belas telas, esculturas, xilogravuras, instalações, grafites, entre outras expressões artísticas, em um total de 264 obras, distribuídas em cinco exposições dirigidas ao tricentenário de Ouro Preto, de Mariana e de Sabará. Sob o efeito da exaltação mencionado pelo historiador da arte, o professor universitário Rafael Milheira, de Pelotas

(RS), ficou curioso com a criatividade do artista plástico local Chiquitão, diante da instalação “Arqueologia do Barro”, de 2011, na qual pontas de cachimbos, cacos e tijolos inteiros, telhas e vasos formavam uma espécie de gravura, uma tela pintada bem no término da escada que dá acesso ao segundo piso do Centro Cultural e Turístico da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em Ouro Preto. “Gostei muito da obra desse artista por causa da distribuição das peças no chão. Elas formam um quadro”, observou. Barroco e contemporaneidade Exaltaram os olhos do público também, na mostra da Fiemg, telas como o “Retrato de Aleijadinho”, pintada com óleo sobre pergaminho, do século XVIII, de Euclásio Pena Ventura. A obra impressiona pela riqueza dos detalhes, ao apresentar um

rosto sóbrio, mas, ao mesmo tempo, inquietante, do mestre do barroco mineiro. Fazia par à obra de Ventura uma escultura do artista plástico Advânio Lessa, intitulada “Nascimento 5”, de 2009. Lessa, morador de Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, utilizou madeira, cipó e pigmentos naturais que, segundo ele, são retirados da terra. “Essa obra é a de número cinco das 100 que estou montando. Vou juntar todas as esculturas e formar, ao final, um nascimento”, descreveu o artista. Segundo Lessa, o que marcou as exposições foi o fato de elas não se prenderam ao passado barroco das Vilas: “Pegaram obras contemporâneas e misturaram com as do passado, em uma total união, isso foi muito interessante.” Guinard, com a obra em óleo sobre tela intitulada “Menina”, de 1957; Gabriele Rangel, com o “Lírio e Flor de Cedro”, em grafite, vinílica e bordado,

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de 2000; a “Santa Ceia”, em óleo sobre tela, pintura de Francisco Xavier Carneiro, do século XVIII; foram alguns dos trabalhos encontrados na mostra da Fiemg. Ao todo, 69 peças deram nome à exposição “Arte nas Vilas: 300 anos de ousadia”. As obras fizeram um recorte da produção realizada em três séculos de história das Vilas do Ouro, reunindo olhares e fazeres inaugurais, que marcaram os períodos históricos do Estado e ajudaram a reinaugurar os dias de hoje. De acordo com Gabriela Rangel, da coordenação da curadoria de Artes Plásticas da Fundação de Artes de Ouro Preto (FAOP) e organizadora das e x p o s i ç õ e s d o Fe s t i va l , e s s a apresentação dos artistas locais trabalhou o diálogo entre as diferentes épocas. “O público pôde encontrar obras como as de Jorge Fonseca em um trabalho recente como ‘A Máquina de Voar’, além de pinturas do século XVIII”, ressaltou. Artistas locais Outras exposições com a temática dirigida aos 300 anos das Vilas valorizaram a produção dos artistas que viveram e vivem em Ouro Preto e em Mariana. Um exemplo é a exposição que foi montada no Centro de Artes e Convenções da UFOP, chamada “Vilas na arte: paisagens visíveis e invisíveis”, reunindo 79 obras acerca da visão desses artistas sobre as cidades, as paisagens vistas e as não vistas, os exteriores e os interiores. Por amor às vilas, a arte produzida na região nasceu do imaginário e das mãos dos escultores e dos pintores locais como Carlos Bracher, que apresentou, nessa galeria, um de seus quadros mais importantes, chamado “Mariana”, em óleo sobre tela. Uma mistura de tintas e cores dá indicações do formato das igrejas e casarões da antiga Vila do Carmo — atual cidade de Mariana. Para Bracher, “as exposições do

Festival sintetizaram uma leitura abissal das cidades a partir de um roteiro artístico bem elaborado”. O artista, que se considera um pintor mais conser vador, ressalta como característica das suas composições a temática da paisagem, tal qual foi mostrada no quadro exposto no Centro de Artes e Convenções. Já para Fani Bracher, artista plástica e esposa de Carlos, a pintura ou escultura precisa ter uma digital, uma marca. É possível notar essa característica em seu quadro de 2011 “Serra da Santa”, exposto na galeria da Fiemg, em óleo sobre lona, materiais que a artista parece gostar de trabalhar, já que possui um quadro com aspectos parecidos na sala de estar de sua casa. Gênios Exposições com a Tratando-se de marca e de digital do temática dos 300 anos artista, a mostra “José das Vilas de MG Assunção e Zizi valorizaram a produção Sapateiro: gênios da pintura popular” dos artistas de Ouro apresentou obras de Preto e Mariana. grande vitalidade, emocionando os visitantes em 34 peças expostas. O primeiro artista pintou as Vilas de Minas e o desenvolvimento delas em quadros recheados de casas, prédios históricos, de paisagens naturais, de pessoas, tudo muito colorido, vivo. Não é à toa que Assunção é denominado um grande colorista. Já os quadros de Sapateiro retratavam o apocalipse, o fim dos tempos, o juízo final, todos também com bastante cor. Os quatro cavaleiros do apocalipse — a guerra, a fome, a morte e a conquista — pareciam saltar de um quadro para o outro, em uma espécie de limpeza dos pecados da terra. Uma batalha entre o céu e o inferno. Embora as obras de Assunção e Sapateiro trabalhem temáticas distintas nessa exposição, elas retratam bem a

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Festival com a Escola derrubou muros, ampliou horizontes e chegou à Comunidade por Isabela Azzi Levar à população de Ouro Preto e Mariana a oportunidade de conviver e conhecer a cultura local é um dos objetivos nobres do Festival. Este ano, o evento inovou. O projeto de extensão “UFOP com a Escola”, desenvolvido com sucesso pela Universidade Federal de Ouro Preto, foi transformado, nesta edição, em Festival com a Escola. A programação do Festival foi estendida aos alunos da rede pública de ensino. Por meio de intervenções artísticas, como peças de teatro, gincanas, espetáculos de dança, além de oficinas de audiovisual, iniciação teatral e musical, circo e patrimônio, o Festival levou cultura e conhecimento aos pequenos ouropretanos e marianenses. Foram escolhidas duas escolas pólos em cada cidade para a realização das atividades. As escolas municipais Professora Juventina Drummond e Monsenhor José Castilho Barbosa funcionaram como pólos em Ouro Preto. Em Mariana, a Escola Estadual Professora Santa Godoy e a Escola Municipal Monsenhor José Cotta foram as escolhidas. Além das atividades do evento, o Festival buscou consolidar o quadro de ações do “UFOP com a Escola”, como

o uso do Carro Biblioteca e as atividades do Recreio Cultural. Buscando aproximar livros e crianças, o Carro Biblioteca levou até as escolas um grande acervo de livros, fazendo com que elas conhecessem mais a história de Vila Rica e Mariana, contada em versos e romances no modo mais tradicional, a literatura. Já o Recreio Cultural contou com shows musicais, gincanas e outras brincadeiras. “O objetivo do Festival com a Escola é fazer com que crianças e adolescentes entendam o sentido real do Festival de Inverno. Desta forma, as intervenções cênicas, oficinas e gincanas aproximam a UFOP da população. Além deste contato maior com a Universidade, os pequenos têm a oportunidade de explorar e conhecer melhor o tema do Festival, neste ano, as Vilas de Minas”, explica o responsável pela curadoria de Infanto-Juvenil, Emerson de Paula. Integração com a Comunidade As crianças não foram as únicas beneficiadas. O Festival com a Escola também teve atividades para os professores e a comunidade em geral. Segundo Emerson, a intenção foi fazer

com que todos se envolvessem e se sensibilizassem pela e para a arte. “O Festival tentou atender a um grande número de pessoas, até aqueles que moram na comunidade sem ter nenhum vinculo com a Escola”, diz. “A meta era quebrar barreiras, construir pontes entre a comunidade e a UFOP, entrar em cada vila e trazer quem estava ali para dentro da universidade.” A programação direcionada aos professores contou com o 2º Encontro de Arte/Educação de Ouro Preto, que teve como tema “Ver, Fazer, Fruir Arte” e com a oficina A Arteterapia e a Educação, além de outras oficinas direcionadas ao conhecimento e à valorização do patrimônio e da diversidade cultural. Com foco na inserção da comunidade, o Festival com a Escola contou com nove oficinas direcionadas ao público infantojuvenil, atendendo à faixa etária de 2 a 18 anos, além de espetáculos de classificação livre, sempre buscando incentivar as crianças à leitura, à música e ao teatro. Entre as oficinas, Brincando de faz de conta: jogos dramáticos e corporais para crianças, para faixa etária de 2 a 5 anos, buscou desenvolver nos alunos

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maneiras diferentes de pensar, trabalhar e experimentar o mundo. “A participação de crianças tão pequenas no festival faz com que elas cresçam se sentindo parte dele. O festival ajuda a criar este laço com a cultura e com a arte”, observa Mariana Bernardes, responsável pela oficina. A cultura orgânica que vem de cada um Mamour Ba, que ministrou a Oficina de percussão, diz que a música deve ser levada para a escola, pois ela não ensina apenas ritmo, mas também valores, além de aproximar as pessoas. Ele acrescenta ainda que o Festival proporciona aos jovens uma forma de acolhimento e aconchego, seja ele através da música, do teatro, da leitura ou do cinema. “As pessoas precisam conhecer a cultura orgânica, aquela gerada de cada um de nós”, diz. Entre os espetáculos direcionados ao público infantil, o curador Emerson de Paula destaca o Fuzuê do Pererê, que levou o público a mergulhar no rico e inteligente universo da observação, conhecendo os animais e os fenômenos naturais buscando, a qualquer custo, encontrar uma explicação para o que não pode ser explicado. O musical integra um cenário virtual, com desenhos animados, levando às

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crianças um mundo de fantasia e imaginação pouco conhecido nos dias atuais. Das páginas dos livros do Carro Biblioteca ao palco do Fuzuê do Pererê, passando pela percussão das oficinas, pelas gincanas e jogos, o Festival com a Escola cumpriu o papel de derrubar muros e fazer uma grande ciranda onde mãos universitárias se juntaram às mãos da comunidade, onde professores e alunos, adultos e crianças, por bons momentos, não foram diferentes, ensinaram e aprenderam, compartilhando a doce alegria de pequenas descobertas, de intensa solidariedade.


Patrimônio

2º Encontro Nacional d

“Carta de Ouro Pre para formulação de Por Patrícia Lapertosa

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etc) atribuídos ao bem – material ou imaterial – pela comunidade na qual está inserido. A programação contou com três mesas redondas, cujos temas e relatos serviram como inspiração para as discussões levadas a cabo por quatro grupos de trabalho, escolhidos previamente pelos inscritos: “GT1 – Educação Patrimonial: Marcos Legais, Gestão e Avaliação”, sob a coordenação de José Geraldo Lopes (Unisinos/RS); “GT2 – Educação Patrimonial: Espaços Educativos e Cooperação”, coordenado por Lane Aires (Prefeitura Municipal de João Pessoa/PB); “GT3 – Educação Patrimonial: Sustentabilidade e Participação Social”, sob coordenação de José Oswaldo Soares de Oliveira (Univap/SP); e “GT4 – Perspectivas Teóricas em Educação, Patrimônio Cultural e Memória”, coordenado por Marcelle Pereira (Instituto Brasileiro de Museus/DF). Contou, ainda, com atividades culturais como o show musical “Turista Aprendiz” e a palestra “O Artístico em Mário de Andrade: Diálogos Estéticos e Reflexões Éticas”, realizados pelo grupo paulistano A Barca, que propõe um diálogo com a obra do escritor modernista, a partir do mapeamento de gêneros musicais

Marcelo Tholedo

Marcelo Tholedo

Cesar Tropia

C

om vistas a traçar diretrizes para uma política nacional, o 2º Encontro Nacional de Educação Patrimonial contou com cerca de 200 participantes de todo o país, reunindo em Ouro Preto técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e das recémcriadas Casas do Patrimônio, profissionais de instituições afins e cidadãos comprometidos com o tema da preservação patrimonial. Segundo a coordenadora executiva do evento, S i m o n e S i l v e s t r e Fe r n a n d e s, responsável pelo programa Sentidos Urbanos, da Casa do Patrimônio de Ouro Preto/Iphan, o Encontro se tornou possível a partir de uma parceria estabelecida com a UFOP, por meio da Pró-Reitoria de Extensão, e da atuação na curadoria de Patrimônio Cultural do Festival. A abertura dos trabalhos contou com a solenidade para assinatura de atos e termos de cooperação entre instituições federais, estaduais e municipais, seguida da conferência “Patrimônio, Educação e Cidadania: Desafios e Perspectivas”, proferida pela consultora do Conselho Nacional do Patrimônio, Maria Cecília Londres Fonseca. Ela ressaltou que, desde a sua criação, a instituição preocupa-se com a questão educacional, no sentido de buscar o envolvimento da sociedade na prática da preservação. E, ao discorrer sobre Educação Patrimonial, resgatou o significado etimológico da palavra educação, em latim, “ex-ducere”, que significa “trazer, conduzir de dentro para fora”, afirmando que o educando deve ser o protagonista das ações de educação patrimonial e o professor, o indutor ou estimulador, considerando os valores (cognitivos, afetivos, éticos,

Aqui vive a mineiridade. Nas casas, pousadas e restaurantes. Nas pessoas. A arte de receber é de quem tem a capacidade de ir além da simplicidade do povo mineiro. A mineiridade é identidade, é lei popular nas gerais. A lenha no fogão é a senha, o convite para a boa comida e a longa prosa. Chama porém à reflexão. Afinal, somos de coração mineiros e, de fato, precisamos agir. Não podemos perder esse documento de autenticidade chamado Vilas de Minas. É a nossa atitude pela conservação. O que você tem feito para preservar este patrimônio de nome mineiridade? REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO


de Educação Patrimonial

eto” traça diretrizes e políticas públicas Cesar Tropia

populares, feito em viagem do sudeste ao norte do país, em 1998. Segundo a professora Vanessa Louise Batista, da Universidade Federal do Ceará (UFC), uma das organizadoras do Encontro, a ideia foi “promover o sentir e o vivenciar de parte da cultura popular brasileira (patrimônio imaterial afeito à preservação), visando despertar uma reflexão embasada nas vivências do grupo”. Na primeira mesa redonda do evento, a fala da representante do Departamento de Articulação e Fomento do DAF/Iphan/DF, Márcia Rollemberg, “Educação Patrimonial e as Políticas Públicas para o Patrimônio Cultural”, foi especialmente significativa. Ela afirmou que “o Iphan assume a educação como componente estratégico para elaboração das políticas de preservação nacional, tendo como bases teóricas o pensamento do educador brasileiro Paulo Freire e do psicólogo russo Levy Vigostky.” Políticas estas pautadas no respeito ao saber comunitário, a partir da interlocução do conhecimento entre a instituição e a coletividade, feita de maneira a promover o acesso à infor mação e a participação REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

comunitária em bases democráticas. Experiências positivas Também se destacou a apresentação da professora Simone Scifoni, da Universidade de São Paulo (USP), na segunda mesa “Educação Patrimonial: Desenvolvimento e Cidadania”. A partir do trabalho junto ao Centro de Preservação Cultural Casa de Iaiá em São Paulo, ela destacou três questões críticas para o desenvolvimento da EP (Educação patrimonial): a carência de bases teóricas para se avançar nas práticas de EP, o papel refratário da Cultura no desenvolvimento das cidades, sobretudo, com a vertiginosa especulação imobiliária nos grandes centros urbanos e, ainda, a necessidade de se reconhecer a EP como parte de uma educação libertadora, capaz de promover o crescimento intelectual e a emancipação política das camadas populares, relegadas. Os depoimentos da terceira mesa, “Casa do Patrimônio: Informação, Educação e Comunicação”, causaram boa impressão. Os ouvintes puderam constatar o êxito de ações de EP realizadas no nordeste (Chapada do Araripe/CE), centro-oeste (Goiás Velho/GO), sudeste (Vale do

Ribeira/SP) e sul (Laguna/SC) e, ainda, o atraente programa “Trem da Vale”, desenvolvido junto às comunidades dos municípios de Ouro Preto e Mariana, desde 2006, pela empresa Vale. Depois de conhecer de perto as ações “Vale Conhecer”, “Vale Promover” e “Vale Resgatar”, os participantes vivenciaram uma das ações mais concorridas do programa: a viagem de trem que liga as duas cidades vizinhas. A reunião plenária apresentous relatórios dos grupos de trabalho e da validação do documento final – a “Carta de Ouro Preto” – que agora deve passar por reformulações textuais, consulta pública e reformulações jurídicas. A íntegra do documento deve ser publicada na Internet, pelo endereço: educacaopatrimonial.wordpress.com. Antes dos trabalhos, a mesa, presidida por Márcia Rollemberg (DAF/Iphan/DF) e coordenada por Maria Cristina Rocha Simião (IFMG campus Ouro Preto), recebeu o próreitor de extensão da UFOP, Armando Wood, que manifestou satisfação em participar da realização do evento, além de apoio e disposição para novos encontros vinculados à programação.

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Artes Visuais

Do lixo à vertigem Tom especial às artes visuais, com exibição de curtas e longas e presença de diretores

Divulgação

Naty Tôrres

por Douglas Couto

e x t r a o r d i n á r i o l i xo brasileiro à vertigem provocada pelo talento de Hitchcock, passaram pela tela do Cine Vila Rica o clássico e o contemporâneo da sétima arte. Além da simples reprodução dos filmes, o público ainda pôde estar em contato e acompanhar ricos debates entre diretores e críticos renomados de cinema. O saldo do 1º Encontro de Artes Visuais, realizado em Ouro Preto, não poderia ter sido melhor. Sessões concorridas e reflexão diante da grande tela. A presença de Jaime Jardim, diretor do documentário Lixo Extraordinário, que levou o Brasil pela primeira vez a

concorrer ao Oscar nesta categoria, foi atração de luxo no evento. Mais de 400 espectadores assistiram à exibição do filme. Para a enfermeira Deborah Zarove, de Macaé (RJ), “além da dignificação dos catadores como seres humanos, o documentário denuncia a nossa própria postura em relação ao problema do tratamento do lixo”. Reações como esta apontam que o principal objetivo do diretor Jaime Jardim foi alcançado. “Era uma coisa meio pessoal minha fazer com que o público tomasse consciência sobre a questão. É como se você estivesse vendo o filme e falasse: - aqui tem o meu lixo, eu estou dentro disso também”, explica o diretor. Com o subtítulo Do etéreo imaginado à concretização de paradigmas no cinema contemporâneo, o Encontro integrou o Cinema em Debate. Após a exibição de cada filme, os especialistas comentavam a respeito da obra e do autor. Responsável pela coluna dominical Ponto de Fuga, do jornal Folha de S.Paulo, o historiador e crítico de artes Jorge Coli, que é

ILUSTRAÇÃO: Lucas Lameira

pós-doutor em Filosofia, ganhador do prêmio Gonzaga Duque de crítica de arte e autor de vários livros, entre os quais o básico e clássico “O que é arte”, leitura obrigatória para alunos da área de ciências humanas, proferiu a palestra “A Vertigem e Hitchcock”, sobre o filme Um Corpo que Cai. Já o tema “A Fama dos Duendes e os Famosos da Criação”, sobre Os Famosos e os Duendes da Morte, foi comentado pelo cineasta Esmir Filho, pelo escritor Ismael Caneppele e pelo ator Henrique Larré. O Encontro ainda compreendeu o workshop “Buster Keaton: Máquina de Rir”, ministrado pelo escritor e professor de cinema Fernando Fioresi, e também a estreia nacional de filmes regionais no Produções da Casa: a iniciática, tendo o documentário Um Seminário nas Terras de Minas, de Virgínia Buarque, a animação 2004, de Edgard Paiva, e Qual Será?, filme de ficção, de Juan Carlos Thimótheo e Talles Bellini.

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Naty Tôrres

Mais de 50 filmes e um mundo mágico para as crianças A curadoria de Artes Visuais ofereceu duas mostras - “Recortes Urbanos ou a Ausência de Civilidades” e “Passadouros Anônimos de Fotogramas do Brasil” - com mais de 50 filmes, entre curtas, médias e longas metragens, produções nacionais e internacionais, exibidos em Ouro Preto e em Mariana. “A julgar pela qualidade dos trabalhos, essas mostras farão muito sucesso”, profetizava logo no início a professora Isabella Lacerda, complementando que “o cinema é uma importante ferramenta de divulgação do país e de expressão do nosso povo”. A inclusão das mostras atraiu as crianças para o mundo mágico do cinema,

como uma turma de Glaura, distrito de Ouro Preto, em que meninos e meninas que raramente têm a oportunidade de ir a uma sessão, puderam participar do evento. Sentadas na cadeira do cinema, as crianças esperavam alegres. Os pés nem alcançavam o chão, mas a imaginação chegava às nuvens. Quando as luzes se apagavam, olhos atentos, expressões atônitas. O projeto Festival com a Escola levou cerca de 170 adolescentes das redes públicas e dos distritos ao cinema. “A propos t a

Cesar Tropia

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principal foi dar oportunidade, criar outro tipo de inserção cultural para eles saberem que isto existe e que eles podem participar, despertando interesse pela arte, cultura, música e dança”, ressalta a coordenadora do p r o j e t o, Te r e z a G a b a r r a . “A importância de se trazer os alunos para o cinema é trabalhar um objeto pedagógico que contribui na construção humana, para formar cidadãos”, completa a professora Maíra Goreth, da Escola Municipal de Glaura.

Luzes do Cinematógrafo, fotografia e poesia Aparelhos per tencentes aos colecionadores Bruno e Carlos Scalla, que mantêm um museu em Muriaé (MG), também puderam ser vistos pelo público do Cine Vila Rica. A exposição Luzes do Cinematógrafo mostrou a evolução do cinema – do antigo cinematógrafo às mídias contemporâneas. Já os visitantes da Casa dos Contos, na Rua Direita, puderam se encantar com a sensibilidade e o olhar diferenciado do grupo Coletivo Olho de Vidro, formado pelos fotógrafos Alexandre

Martins, Antônio Laia, Eduardo Tropia e Heber Bezerra e pelo poeta Guilherme Mansur. Na exposição Vilas de Minas & Outrassolidões – Fotografia e Poesia, eles interpretaram, cada um a seu modo, as Vilas do Ouro. Basta citar uma das peças para descrever o talento do grupo: uma foto panorâmica da aglomeração urbana no centro histórico de Ouro Preto, colocada propositalmente de cabeça para baixo e que, ao primeiro olhar, parecia uma foto absolutamente normal.


Entrevista

João Jardim:

“Ainda acham que não somos muito desenvolvidos intelectualmente”

por Jéssica Michellin

O documentário Lixo Extraordinário, filmado no maior aterro sanitário do mundo, o Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), levou o Brasil a concorrer pela primeira vez ao Oscar neste gênero. Um dos diretores, João Jardim foi convidado especial na abertura do Encontro de Artes Visuais, em Ouro Preto. À Revista Festival, falou sobre a premiada produção. Você diz que houve quebra de expectativa ao gravar no aterro. Por que? Esperávamos encontrar pessoas tristes, sem vontade de viver. A expectativa era de que seria chato, mas, ainda no processo de pesquisa, foi o oposto. Essas pessoas são carismáticas, interessantes e tem boas coisas pra dizer. Isso torna o filme surpreendente. O filme aborda diversas questões, entre elas, a ambiental. Era esse o objetivo? O filme aborda três questões pertinentes: a ambiental, a conscientização das pessoas sobre os lixos que produzem todos os dias. A social, que seria a transformação social que uma ação pode provocar na vida desses catadores. E, por último, a discussão, pelo cinema, sobre o que é arte e o que não é.

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Esperávamos encontrar pessoas tristes, sem vontade de viver e no entanto, vimos o contrário. Essas pessoas são carismáticas, interessantes e tem boas coisas para dizer. João Jardim

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O Oscar de Melhor Documentário foi para “Trabalho Interno”, de Charles Ferguson, que busca explicar os motivos da crise econômica de 2008. Ou seja, como o dinheiro virou lixo. O seu mostra justamente o contrário. A ideia é essa. Mostrar como as pessoas estão mexendo o tempo todo com este material, visto como inutilizável, mas que pode virar arte. É ainda mais interessante que essa arte seja reconhecida internacionalmente e vendida por um alto valor, gerando renda para o grupo que a produz. Extrair arte do lixo é inusitado e inesperado. O público entendeu a mensagem? Acho que sim. Uma das coisas mais interessantes que o filme

conseguiu foi ter mudado a visão da sociedade em relação aos catadores e mostrar que a função deles é imprescindível no cotidiano de todos nós. Você foi à premiação do Oscar acompanhado de Tião, um dos catadores mostrados no documentário. Como foi essa experiência? Foi super legal. Nunca imaginei que estaria lá. Mas temos que entender que o Oscar é uma festa muito norte-americanizada. No sentindo de que nós, ali, somos coadjuvantes mesmo. Os Estados Unidos priorizam o que é deles. Já imaginava que não ganharíamos. Você diz que a ideia era mostrar uma visão mista, estrangeira e brasileira, sobre a realidade do Brasil. Na sua opinião, como somos vistos lá fora? Para ser bem sincero, eles não têm muita noção do que realmente somos. Ainda acham que não somos muito desenvolvidos intelectualmente. Ainda têm aquela visão de que somos agricultores, subdesenvolvidos, quando, na verdade, estamos progredindo, tanto econômica, como social e culturalmente. Seu novo filme (Amor?) trata do ciúme nas relações humanas. Pode falar mais? O filme fala das situações amorosas que envolvem algum tipo de violência. Mostra como uma relação que começa repleta de amor acaba evoluindo para uma coisa ruim, desagradável para elas. E aborda como a violência psicológica e verbal se transforma em violência física. REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO


Música

‘‘Diálogos Musicais’’ discutiu a obrigatoriedade da música nos ensinos fundamental e médio por Gustavo Moreira Alves Lucas de Godoy

Os Diálogos Musicais contaram com duas mesas de debates compostas por músicos renomados no Brasil e no mundo. A primeira com Oscar Bolão e Silvia Sobreira, e a segunda com Paulo Bellinati e João Omar. O percussionista Oscar Bolão, da Escola Portátil de Música, no Rio de Janeiro, trabalhou com artistas como Elizeth Cardoso, Elton Medeiros, Ney Matogroso, Paulo Moura, Guinga e Joel Nascimento. A professora de canto Silvia Sobreira, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), é autora do livro Desafinação Vocal e desenvolve pesquisas para eliminar o problema. O violinista, guitarrista, compositor e arranjador Paulo Bellinati, de São Paulo, lançou discos com o grupo Pau Brasil e fez arranjos para Leila Pinheiro, Gal Costa, entre outros. E o maestro João Omar, da Casa dos Carneiros, da Bahia, é filho do compositor Elomar e desenvolve peças para violão solo, quarteto de cordas, orquestra e coro. Os quatro convidados discutiram, durante os dois dias, a obrigatoriedade da música nas escolas públicas e particulares de ensinos fundamental e médio. A Lei Federal 11.169, de 18 agosto de 2008, determina a

implementação do conteúdo musical no currículo escolar. Para Silvia Sobreira, que ofereceu no Festival a oficina Desafinação Vocal, tudo o que é obrigatório é ruim, e a obrigatoriedade da música nas escolas pode torná-la chata como a física e a química aos olhos das crianças e adolescentes. “Nós somos músicos porque fomos mordidos. Os meninos da escola não foram todos mordidos. Pode ser que a gente tenha uma geração inteira que odeie música só por causa da obrigatoriedade. A lei pode ser um tiro pela culatra”, defendeu. Ainda de acordo com Silvia, a obrigatoriedade foi resultado da luta de uma classe que quer emprego, a classe dos professores de música, o que levou a outra discussão: como serão selecionados esses professores? “Não basta ser músico para ensinar música, é preciso entender de educação. Eu não quero que se abra a porta para qualquer aventureiro. Tem muito músico que não está preparado para dar aula”, disse Oscar Bolão. Entretanto, ele defendeu outras formas de avaliação desse professor que estejam para além do diploma. “O músico que aprendeu com seus ancestrais, inclusive a ensinar, e

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não possui diploma de licenciatura não deve ser discriminado.” Outra questão presente nas duas mesas foi a rivalidade entre erudito e popular. João Omar contou que já existem universidades com cursos direcionados para a música popular. “É um grande avanço, apesar de ser tão óbvio. A universidade apenas ouviu seu público em potencial”, disse, lembrando que “a academia não pode deixar de entender as convergências entre erudito e popular”. Oscar Bolão também criticou a tendência que divide os dois segmentos. “O cara que faz erudita tem que fazer popular também. Todo mundo é farinha do mesmo saco”, defendeu. No entanto, ao falar de popular, o percussionista estava longe de incluir, por exemplo, o funk, pois há, segundo ele, diferença entre cultura popular e cultura de massa. Para Silvia Sobreira, pedagogicamente, o funk é inviável. “Proibidão faz apologia ao crime”, alertou ela. Paulo Bellinati acrescentou à discussão a importância da preservação da Música Popular Brasileira. “Valorizar e estudar a música popular leva à preservação, à preocupação de se ter um banco de dados”, avaliou.

A obrigatoriedade da música nas escolas pode torná-la chata como a física e a química. Pode ser que a gente tenha uma geração inteira que odeie música só por causa da obrigatoriedade. Sílvia Sobreira

Não basta ser músico para ensinar música. É preciso entender de educação. Eu não quero que se abra a porta para qualquer aventureiro. Oscar Bolão

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Encontros Literários

Debates regados a vinho tinto Encontros, lançamentos de livros e cantigas de domínio público movimentaram a programação de Literatura por Gustavo Moreira Alves

Os Encontros Literários começaram regados a vinho tinto com a mesa Cidade antiga e outras cidades, composta pelos professores Jacynthio Lins Brandão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Norberto Luiz Guarinello, da Universidade de São Paulo (USP) e Alexandre Agnolon, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A conversa foi mediada pelo professor Fábio Faversani, membro do Grupo de Pesquisas do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano da UFOP. No dia seguinte, foi a vez da mesa Poesia brasileira hoje, com os poetas Marcelo Tápia e Rodrigo Petrônio. A mediação ficou por conta do professor da UFOP Emílio Maciel. Entre as discussões, destacou-se a centralidade do Modernismo como marco para os poetas contemporâneos. “Nós somos pós-utópicos”, comentou Emílio. Eles tomaram como referência uma figura que representa essa crise da meta-

Naty Tôrres

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narrativa, uma escritora até recentemente pouco estudada: Hilda Hilst. Discutiu-se ainda como está hoje o objetivo que Mário de Andrade atribuía à sua geração, de dar uma alma ao Brasil, além da importância da figura do tradutor. Os Encontros Literários ainda contaram com o jornalista e escritor Lucas Figueiredo. Ele ministrou a palestra 300 anos de história: O triunfo do sertão mineiro, além de fazer a sessão de autógrafos do livro Boa Ventura - A Corrida do Ouro no Brasil (1697-1810). A obra trata do impacto que o ouro das três vilas mineiras (Mariana, Ouro Preto e Sabará) produziu no mundo, explicitando exatamente onde essa riqueza foi parar. O autor passou anos pesquisando para produzir o livro, percorrendo inclusive a rota do ouro do Brasil até a Europa. Lucas Figueiredo já ganhou os prêmios Esso (2004, 2005 e 2007), Jabuti (2010), Vladimir Herzog (2005 e 2009),

Imprensa Embratel (2005), Folha (1997), entre outros, além de ter sido agraciado pelo site “Jornalistas & Cia”, com o mérito Grandes Jornalistas (2010) por estar entre os 15 repórteres brasileiros mais premiados no período 1995-2010. Outro autor que lançou livro no Festival foi o professor de História do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Alex Bohrer. Um Novo Olhar, com ilustrações de Adenilson José, faz homenagem à cidade tricentenária. O autor, ouropretano e cachoeirense (como gosta de afirmar), é conhecido pelos estudos que desenvolve sobre história de Minas Gerais e arte colonial. A Curadoria de Literatura, coordenada pelos professores da UFOP, Marta Maia e Emílio Maciel, ainda contou com a show Cantigas Regionais de Domínio Público, com os músicos Gustavo Finkler e Renata Mattar, uma coletânia que Renata recolheu em seus 15 anos de andanças pelo Brasil.

Marcelo Tholedo

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Recursos Hídricos

No passado, o minério. No futuro, a água Patrimônio Natural discutiu utilização dos recursos hídricos na Região dos Inconfidentes por Lorena Silva O tema desta edição do Festival evocou o passado, mas também buscou uma reflexão: como se encontra hoje a região que teve seus minérios fortemente explorados durante o século XVIII? O Festival, além de privilegiar a cultura e a arte mineira, tem mostrado preocupação em discutir a valorização e preser vação do patrimônio natural de Ouro Preto e Mariana. Este ano, um dos debates envolvendo o assunto girou em torno de um recurso fundamental: a água. O “Plano de Gestão de Recursos Hídricos” foi apresentado por representantes do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM), da UFOP e da Vale. O Plano é um instrumento de gestão

de recursos hídricos, no qual a comunidade, por meio de órgãos públicos e privados atuantes na bacia, decide o futuro das águas de seus rios e define ações necessárias para atingir os objetivos. Ele foi criado para que, a partir de 2012, o controle e a qualidade da água, assim como a cobrança pelo consumo, determinados por leis federais, sejam aplicados em todos os municípios da Região dos Inconfidentes que se inserem nas Bacias do Piranga e do Rio das Velhas. A mesa propôs apresentar questões relacionadas à criação, etapas e metas do projeto. “O Plano tem diretrizes para que o resultado de sua implementação traga benefícios e qualidade para o usuário”, ressaltou uma das

representantes do IGAM, Lílian Márcia Domingues. Mas a discussão vai além, já que a implantação desse instrumento em Ouro Preto e Mariana não é simples, devido ao contexto histórico da região. As cidades não contam com a estrutura adequada para abrigar tal mudança. Uma região que nos séculos passados era tão rica de recursos naturais hoje sofre para oferecer aos seus habitantes um recurso tão importante como a água. Além disso, conforme outro representante do IGAM, Sérgio Gustavo Rezende Leal, “um assunto como esse precisa de integração e articulação da sociedade atuando junto”. Esta edição do Festival, sem dúvida, representou um passo importante para essa articulação.

2º Encontro de Arte/Educação reuniu nomes importantes do cenário cultural de MG Por Kíria Ribeiro

“Ver, fazer, fruir arte” foi o tema do 2º Encontro de Arte/Educação de Ouro Preto. O evento discutiu as práticas da arte e da educação no ensino formal e não formal, por meio de palestras, debates e exibições de documentários. Nomes importantes do cenário educativo e cultural mineiro enriqueceram o Encontro, como a presidente da Associação Mineira de Arte e Educação (Amarte), Claudia Regina, e a professora fundadora do curso de graduação em dança da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Alba Pedreira Vieira. “Este Encontro estimula a reflexão sobre o ensino da arte em nossa região e no país. Os professores apresentaram relevantes trabalhos. Penso que estimularam os estudantes a participarem de iniciativas aqui na universidade”, afir ma Frederick Magalhães, professor do Departamento de Artes Cênicas da REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

UFOP. A programação ainda ofereceu a oficina A arteterapia e a Educação, que convidou educadores e coordenadores a refletirem sobre a articulação entre a aprendizagem e os processos que ocorrem no inconsciente. Para o coordenador geral do evento, o professor Emerson de Paula, o Encontro constituiu-se como mais um lugar do fazer científico, onde pesquisadores puderam apresentar trabalhos e trocar experiências. “Penso que o Encontro se consolidou ainda mais dentro do Festival. Conseguimos ter uma programação mais ampla e completa e aumentar consideravelmente o número de participantes.” O Encontro foi organizado pelo Departamento de Artes da UFOP e pela Curadoria Infanto-Juvenil do Festival, em parceria com a Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP).

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Cultura Livre

Commons e Copyleft “Comumismo” do século 21, autoria e internet em debate no 1º Encontro de Cultura Livre

Se o que vem à sua cabeça quando escuta a expressão “Cultura Livre” é a representação de uma comunidade por meio daquilo que ela produz de forma conjunta e independente, então você já entendeu o seu significado. É por isso que o tema abrange tantas questões relacionadas à produção de conhecimento, cultura e arte na atualidade. De quem é, de fato, a propriedade sobre o produto artístico e intelectual? Onde ficam os direitos autorais? O que está sendo feito em termos de políticas públicas nesse setor? E o que a Internet tem a ver com isso tudo? Estas questões nortearam debates consistentes durante o 1º Encontro de Cultura Livre, que integrou o Fórum das Artes 2011. Antes de tudo é preciso compreender que nenhuma forma de manifestação ou criação cultural é singular. A cultura seria então um emaranhado de tudo aquilo que se vive, fruto dos relacionamentos entre as pessoas. Por essa razão, o doutor em Ciência Política, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Sérgio Amadeu, afirma que a cultura é feita pelo conjunto da coletividade, ou seja, tudo que é produzido por esse conjunto, sem bloqueio de relações de mercado. “O que você cria tem fundamento comum, a cultura é commons”, diz, evocando o termo das licenças Creative Commons. Esse terreno é delicado, uma vez que toca no bolso de muita gente. Entretanto, é possível assegurar, inclusive financeiramente, os direitos autorais dos produtos artísticos e culturais sem que para isso seja necessário o uso de licenças como o copyright. De acordo com o músico e compositor Fernando Anitelli, em entrevista à webrevista Dois Pontos,

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Naty Tôrres

por Simião Castro

utilizar uma outra forma, o copyleft, não prejudica os artistas. “A música livre não quer dizer que você está perdendo os seus direitos, muito pelo contrário. Está dizendo que você é o dono daquela música e pode licenciar através do Creative Commons, à sua maneira. Você é o autor, o direito autoral é seu, você é o dono.” Durante o debate “Cultura livre: compartilhamento de arquivos e direitos autorais”, o advogado, professor e pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), Eduardo Magrani, abordou o assunto pelo viés jurídico. “O direito autoral hoje passa por uma

crise de eficácia. A sociedade não se identifica mais com a lei de direitos autorais e ela é insuficiente para atender às demandas dessa sociedade”, explicou. A lei de direitos autorais brasileira, segundo Magrani, é redundante em si mesma. Logo na primeira linha do artigo 29 está escrito que quaisquer modalidades de uso de conteúdo autoral “depende de autorização prévia e expressa do autor.” São listados, então, quase 20 formas diferentes de uso, e o artigo fecha com a frase “quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas”.

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Propriedade “A maior parte da humanidade não vive de propriedade, vive de relacionamento”, diz Sergio Amadeu, da UFABC. A Internet vem reafirmar esta máxima. Quais são as responsáveis pela maior parte de acessos na atualidade? As redes sociais. E o que elas promovem? Relacionamento. Este é o vetor principal das produções coletivas. Na Internet, softwares

Relacionamento

inteiros são criados, desenvolvidos e atualizados todos os dias por uma imensa rede de colaboradores e o mais importante, de forma gratuita. É o caso do sistema operacional Linux e do pacote de aplicativos BR Office, hoje chamado LibreOffice, desenvolvidos através de código aberto, disponível para alterações e aprimoramentos via Internet, de forma

colaborativa e livre, tendo vínculos apenas com fundações patrocinadoras. Segundo o ex-coordenador geral da Associação Softwarelivre.org, Marcelo Branco, hoje existem 70 milhões de internautas no Brasil. “Se antes da internet os brasileiros já se relacionavam bem, já eram super extrovertidos, com a Internet então... na internet não tem ninguém melhor que os brasileiros. Temos que abrir mão desse complexo de inferioridade.” Outro exemplo é a Wikipedia, um dos mais audaciosos projetos colaborativos do mundo. Baseada na web, a enciclopédia online é apoiada pela Wikimedia Foundation, que por sua vez é financiada unicamente por doações dos próprios usuários do site. Hoje já são mais de 19 milhões de artigos, dos quais mais de 690 mil em português. Todos eles foram escritos de forma colaborativa por voluntários ao redor do mundo. Não é por acaso que existem tantas comunidades virtuais de relacionamento e coletivos de organização cultural, configurando uma rede independente de ações colaborativas e integradas. Estas comunidades procuram atuar a partir de conceitos como sustentabilidade, produção colaborativa e economia solidária. O Circuito Fora do Eixo propõe algo similar. Trata-se de uma “rede de coletivos” brasileira, concebida em 2005, por produtores das regiões centro-oeste, norte e sul,

iniciada pela parceria entre os produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR). O objetivo é estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos nesta rota, que recebeu o nome de Fora do Eixo. Hoje, a rede está presente em 25 estados, com 72 “pontos” que “experimentam, compartilham e aprimoram tecnologias livres de se produzir cultura.” O Circuito Fora do Eixo foi parceiro na organização do Encontro de Cultura Livre. O encontro contou com mesas de debates, oficinas de midialivrismo, software livre, cultura remix e painéis e com o “Debate/Sarau Letras Livres: o digital e as novas expressões da literatura”. Entre os convidados, nomes que são referências para a discussão do tema no país, como Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade Federal do ABC (UFABC-SP), Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Branco, da Associação Softwarelivre.org, Gabriel de Souza Fedel (Coletivo Ajuntaê), Eduardo Magrani, da Fundação Getúlio Vargas, Talles Lopes, da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin) e Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A coordenação ficou por conta do professor da UFOP, Ricardo Augusto Orlando.

Creative Commons - Licenças idealizadas para permitir a padronização de declarações de vontade a respeito do licenciamento e distribuição de conteúdos culturais em geral (textos, músicas, imagens, filmes e outros), de modo a facilitar seu compartilhamento e recombinação (remix), sob alicerces da filosofia copyleft. Os módulos oferecidos resultam em licenças que vão desde abdicação quase total dos direitos patrimoniais, até opções mais restritivas, que vedam a possibilidade de criação de obras derivadas ou o uso comercial dos materiais licenciados. Copyleft - Trocadilho com o termo "copyright" que, traduzido literalmente, significa "direitos de cópia". É uma forma de usar a legislação de proteção dos direitos autorais. O objetivo é retirar barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra criativa devido à aplicação clássica das normas de propriedade intelectual, exigindo que as mesmas liberdades sejam preservadas em versões modificadas. O copyleft difere, assim, do domínio público, que não apresenta tais exigências. REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

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Entrevista

“Autoria do capitalismo é uma criação pós-renascimento” Entrevista - Sergio Amadeu da Silveira - UFABC Aline Rosa Sá

por Simião Castro

O que significa autoria para você?

Autoria é uma relação que o homem tem com a sua criação. Uma identificação histórica, na verdade. Por exemplo, eu fiz o remix de um vídeo. Agora, dizer que aquilo é meu é um exagero. Aquilo é um monte de coisas dos outros que eu tomei e transformei. Isso é a típica construção cultural. Mas será que nós somos proprietários desses vários pedaços de cultura? Eu

Workshops

não me sinto bem com isso. Na ciência, isso fica muito claro. Brinco com meus alunos: vá à Wikipédia de língua inglesa, que é mais completa, pegue uma teoria de física atual e vá clicando nos links do verbete para ver o que é essencial para que aquilo se construa. Não dá para o último cara [que editou o verbete] dizer “Ah! Eu sou o máximo!” É claro que ele tem uma genialidade, uma genialidade de arranjo. Autoria para mim é a representação da verdade histórica. Nada mais. Autoria do capitalismo é uma criação pósrenascimento. Até então, nem todo mundo assinava suas obras de arte.

Por que a cultura industrial não é livre?

Porque ela precisa se basear em propriedade, criar um sistema de apropriação do que é comum. Tiro como exemplo a experiência concreta das comunidades religiosas dos

Estados Unidos, da apropriação dos instrumentos que sobraram depois da Guerra da Secessão, do remelexo que os caras fazem e criam toda aquela linha de jazz e blues. Aquilo pode dar certo, e o que o mercado faz? “Você não pode cantar desse jeito, do jeito que você canta. Esse jeito aqui é mais interessante de explorar.” Ele monta um produto e aí ele vai cobrar por esse produto, precificar, mercantilizar. Isso foi importante? Foi! Montou uma mega indústria cultural. Agora, essa indústria de vender propriedades de bens culturais tem de permanecer? Eu acho que não. E as redes permitem a gente superar. O momento permite a gente superar. Por isso que eu digo: a cultura industrial não é livre, é baseada em propriedade. A cultura da rede tem apropriações nesse sentido, mas ela é muito mais baseada no compartilhamento. Naty Tôrres

Do cano de mamona à tecnologia de som por Lorena Silva

Ela invadiu os palcos, misturou ritmos, esteve presente em praças e teatros e provou que os sons podem unir os mais variados estilos. A música teve lugar garantido no Festival, inclusive como elemento de intensa troca de experiências nos workshops. Com Som e Instrumentação, cerca de 80 pessoas tiveram a oportunidade de conhecer a aptidão musical de Her meto Pascoal, compositor, arranjador e multi-instrumentista alagoano. Quem teve o dom de, ainda criança, conseguir tirar som de um cano de mamona, pôde transmitir muito de sua experiência, além de estimular quem deseja viver da música: “Todos podem aprender a tocar instrumentos. As pessoas não podem é ficar na

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mesmice, é preciso sempre criar e inovar”, ensina Hermeto. Já o músico Edson Carmo Zaccarias Jr., mais conhecido como Zacca, defendeu a proposta de que é possível criar e gravar música de qualidade sem ao menos sair de casa. Ele ministrou o workshop Técnicas de áudio para Home Studio, que possibilitou que os participantes aprendessem conceitos básicos e conhecessem os equipamentos ideais para a montagem de estúdio de som caseiro, além, é claro, de entenderem a utilidade do home studio. “Os estúdios convencionais nunca serão substituídos, por isso o home studio serve, em sua maior parte, para a pré-produção do som. Assim, este som servirá de apoio para um

técnico, que vai traduzi-lo com maior qualidade”, explica. Ambos os workshops incentivaram a música e a sua criação. Não importa se a música é criada com objetos que passam quase sempre despercebidos por nós, como faz Hermeto, ou se a música utiliza inúmeros aparatos técnicos, como faz Zacca. A arte musical foi o ponto principal de um intercâmbio de conhecimentos e discussão. Mais uma prova de que o Festival não só expôs e divulgou manifestações artísticas e culturais, como prezou pela construção de ambiente fértil para a troca de experiências.

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Qualificação

O Festival dos estagiários Com o evento, eles ganham diferencial; sem a presença deles, não haveria sucesso

Marcelo Tholedo

por Jéssica Michellin

Correndo por todos os lados, ajudando oficineiros, divulgando informações, auxiliando espectadores e artistas. Em todos os setores, lá estavam os estagiários. Grande parte do êxito do Festival foi devida à dedicação deles, graduandos da UFOP, alguns calouros no evento, outros já “veteranos”, mas todos com a sensação da experiência única que não se aprende em sala de aula. Dezessete dias de um curso intensivo de vida e profissionalismo, que fez a maioria abrir mão das férias. Foram selecionados nada menos que 400 estudantes de áreas distintas do conhecimento, para eventos que variaram desde a apresentação de uma exposição de artes até o auxílio à expedição ao Pico do Itacolomi. A Pró-Reitoria de Extensão da UFOP levou em conta a pluralidade do caráter do conjunto de atividades e a oportunidade transdisciplinar a estagiários de diferentes graduações e áreas. É o caso de Mariana Rincon Ribeiro, estudante do 7° período de Engenharia Metalúrgica e estagiária pela terceira vez no evento. Embora tenha atuado auxiliando a produtora da base do Festival em Mariana, um

trabalho próprio da área de Ciências Humanas e Aplicadas e não da área de Exatas, ela destaca sua experiência como positiva. “Como engenheira, sou treinada para resolver diversos tipos de problemas, e, em muitas vezes, a solução deles está fora do meu campo de atuação e dos conhecimentos aprendidos na graduação. No Festival, tive contato com profissionais de outras áreas e meus conhecimentos enriqueceram para além do meu campo de formação”, diz. Para Aisha Coracy, estudante do 4° período do curso de Pedagogia, estagiar

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no projeto Festival com a Escola, lidando o tempo todo com crianças foi, além de prazeroso, essencial em sua formação humanística. “Com as aulas, passei a aplicar, na prática, o que via na teoria. Mas o conhecimento não foi uma simples comprovação empírica, aprendi a entrar em sintonia com as crianças e ganhar o respeito delas. O mais legal foi, ao final das oficinas, ganhar cartinhas dos alunos”, brinca. Flávio Ulhôa, coordenador do Circuito Trilheiros, também classifica a atuação no Festival como gratificante. “Eu me relacionava o tempo todo com pessoas de perfis diferentes para realizar as minhas funções. Como faço jornalismo, a experiência foi muito importante para a minha vida profissional”, avalia. Em pequenas atitudes, como organizar um circuito, ajudar uma produtora e até zelar pelo abastecimento de um camarim, os estagiários agregaram conhecimento diferenciado, não apenas para seu currículo profissional, mas para sua experiência de vida. Energia recíproca. O Festival oportuniza e os estagiários fazem o Festival acontecer.

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Diversidade Musical

Um tributo ao regionalismo musical

por Patrícia Lapertosa A diversidade cultural de ritmos e gêneros musicais brasileiros foi a tônica do Festival. O músico Celso Alves e o maestro Rodrigo Toffolo, responsáveis pela programação, buscaram artistas regionais reconhecidos, tanto dentro quanto fora do país, levando em conta a carga de informação e cultura musical que oferecem ao público. É o caso de Renato Teixeira, representante genuíno da música de raiz, de temática “caipira”, que conclama para si e seus colegas o legado de bem posicioná-la, a partir dos anos 70, no contexto da Música Popular Brasileira. Se o cenário da música atual mostra-se afeito à diversidade, muito se fez para que hoje possamos usufruir da riqueza dos ritmos regionais, sobretudo, nordestinos, antes relegados às suas próprias origens. Em sua biografia, que pode ser lida em www.renatoteixeira.com.br, o cantor e compositor deixa clara a importância da música em sua vida. “Eu poderia ter sido fogueteiro, como meu avô Jango, ou professor, como meu avô materno, Theodorico. Mas a música não me deixou espaços.”. Mais que

inspiração, a música é herança, vivência e descoberta na vida desse artista paulista, que, por preservar o “caipirismo” em suas composições, é muitas vezes visto como mineiro, aquele “matuto”, que muito ouve, pouco fala e, quando fala, exclama “uai” e outras expressões como “sô” e “trem”. Além da forte herança musical, a mudança do litoral (Ubatuba) para o interior paulista (Taubaté), aos 11 anos, com os pais, abriu o mundo “de fora para dentro” do menino Renato, que, até então, conhecia apenas o mar. Vivendo a adolescência em Taubaté, terra do escritor Monteiro Lobato, que personificou a figura do caboclo brasileiro – o Jeca Tatu (como gosta de lembrar) – encontrou e se identificou fortemente com a cultura caipira, o jeito de ser e pensar do homem do interior, do mato, da roça. Quando aprendeu a compor a partir de duas ou três posições no violão, a vivência com a cultura caipira fez com que, ao se mudar para a capital paulista, na intenção de cursar arquitetura, canções trazidas em sua bagagem abrissem o mundo “de dentro para fora” do jovem Renato.

Personalíssimas, suas canções e também de outros colegas foram aplaudidas nos prestigiados festivais da canção, promovidos pela TV Record nos anos 70. “Ao participar de festivais que levavam a música popular a todo o país, intuímos que a música de temática caipira tinha que conquistar espaço”, lembra. Só pelos títulos, os primeiros discos (“Álbum de Família”, 1971; “Paisagem”, 1973; e “Romaria”, 1978) davam mostras desse amalgamento cultural, expresso em canções como a famosa “Romaria” - “Sou caipira, Pirapora, Nossa Senhora de Aparecida ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida” -, que se tornou emblemática para a música paulista e, porque não, a mineira. E, para ele, um divisor de águas na carreira: “Ela determinou o momento em que consegui encontrar um formato musical, uma linguagem brasileira baseada na cultura popular”, diz. Passadas quatro décadas, Renato Teixeira pode se orgulhar de ter conquistado um lugar ao sol para a “música caipira” – repaginada em versos poéticos e melodias harmonio-

Marcelo Tholedo

Naty Tôrres

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Marcelo Tholedo

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Pelos cantos brasileiros Elomar, Hermeto Pascoal, Diogo Nogueira, Antônio Nóbrega, Otto e a própria banda Os Paralamas do Sucesso também têm origens nas raízes da

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Naty Tôrres Naty Torres

sas – no contexto da MPB, que, naquela época, privilegiava o samba, o choro, o baião e movimentos como a Bossa Nova e o Tropicalismo. Mas, deixa claro que, embora se identifique com a cultura caipira, sua música vai além. “Sou influenciado por este gênero, mas, além da viola e do violão dos cantores sertanejos, minha música traz outros instrumentos, como a bateria e o contrabaixo”, afirma. Seu estilo é o “Folk”, conceito que vem da apropriação do folclore, do ouvir e contar histórias de um povo. E adianta: “Recolho e devolvo ao povo o que é do povo, o que é nosso.” Em “Tocando em Frente”, ele dá o tom de sua arte: “Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente // Como um velho boiadeiro levando a boiada, eu vou tocando os dias / Pela longa estrada, eu vou / Estrada eu sou”.

música brasileira. Talvez entre eles, Elomar seja o verdadeiro menestrel da música regional, especialmente a que ele inventa e reinventa a partir das histórias – reais ou imaginárias – do sertão. Com seu canto particular, focado no falar sertanejo, na música de violeiros e repentistas, e construído sob inspiração trovadoresca da Idade Média, que tanto influenciou a cultura nordestina, o cantor e compositor divide seu tempo entre o fazer musical e a lida rotineira dos plantios e da criação pastoril de cabras em duas fazendas, no interior da Bahia. Lá ele nasceu e sempre viveu, exceto quando estudou arquitetura e um pouco de música em Salvador. Desde o lançamento independente de seu primeiro disco, “Das Barrancas do Rio Gavião” (1968), Elomar mantémse fiel às suas origens e à cultura de sua região apresentando-se esporadicamente em palcos de capitais e cidades brasileiras. Um caso a parte é o do alagoano Hermeto Pascoal, cuja raiz musical, segundo afirma, é anterior à cultura do lugar onde nasceu e viveu com os pais até a juventude, o povoado Olhos

d’Água, no interior de Alagoas. Desde sempre, ele faz música a partir dos sons que estão à sua volta, no seu cotidiano. E, ao falar dessa influência perene, refere-se ao seu parto - os primeiros sons que acompanharam sua chegada a esse “mundo de meu Deus”. Em Ouro Preto, pouco antes de ministrar a oficina Som e Instrumentalização, inquietou-se com o ranger da porta do restaurante onde almoçou. “O garçom ia e vinha, da cozinha para salão, do salão para a cozinha. Pedi à Aline Morena (parceira e companheira) que gravasse.” Fazendo shows no Brasil, na Europa ou no Japão, Hermeto faz música com os sons que estão à sua volta. Sons que, sem dúvida, fazem parte de modos de vida locais, de culturas diversas, traduzindo-os em sonoridade refinada e musicalidade contemporânea. Filho do sambista João Nogueira, Diogo é um artista jovem que vem reafirmando a força do samba no cenário da música brasileira atual. Embora o pai o quisesse jogador de futebol, conquistou a admiração de sambistas veteranos, integrando rodas

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Naty Torres

de samba desde pequeno na companhia dele. Em 2005, ao participar do show em comemoração aos 40 anos de carreira de Beth Carvalho, destacou-se como sambista revelação de sua geração. A partir daí, passou a se apresentar em shows até gravar seu primeiro álbum, “O Poder da Criação”, em 2007. Nos últimos anos, Diogo vem amealhando premiações, seja por composições próprias ou reinterpretações de clássicos do samba, seja por sua sedutora presença nos palcos. Em 2010, pelo quarto ano consecutivo, teve mais um samba-de-enredo, composto em parceria, campeão na escola de samba Portela, no Rio de Janeiro. Também Antônio Nóbrega tem ganhado projeção nacional e internacional ao mostrar seu trabalho, que tem um estilo próprio, mesclando dança, música e artes cênicas, no Brasil e em países como França, Portugal e Alemanha. Ator, cantor, compositor, dançador e ainda tocador de rabeca, ele dá ênfase à tradição popular de sons e ritmos nordestinos – o frevo, o maracatu, a quadrilha, entre outros – em shows versáteis e dinâmicos, nos quais, geralmente, encarna um personagem construído a partir de influências da cultura popular. Pernambucano, nascido no Recife, Nóbrega estudou violino na infância e, nos anos 70, integrou o Quinteto

Armorial, braço musical do movimento cultural criado pelo escritor Ariano Suassuna, que buscava expressões artísticas na fronteira do erudito com o popular. Naquela época, buscou o convívio com dançarinos, cantadores e poetas do sertão nordestino como fonte para suas criações singulares, multiculturais. Outro artista pernambucano, o cantor e compositor Otto, iniciou sua carreira musical como percussionista de duas importantes bandas do movimento Mangue Beat: Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, encabeçadas na época, respectivamente, por Chico Science e Fred Zero Quatro. Em 1998, ele causou sensação no meio musical ao se lançar em carreira solo com o álbum “Samba pra Burro”, unindo o samba a ritmos nordestinos e à música eletrônica. Mostrou um trabalho intrigante e vigoroso, que vem crescendo a cada novo lançamento (“Condom Black”, 2011; “Sem Gravidade”, 2004; “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos”, 2011). Inventivo, o artista mistura ritmos, textos e histórias numa colagem cultural de influências tradicionais e atualíssimas da música mundial. E mesmo o pop rock brasileiro, que procurou se firmar de modo independente, sem filiação a vertentes da MPB, mostra influência de ritmos regionais –

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o samba e o baião –, no caso de Os Paralamas do Sucesso. Inicialmente, a banda misturava rock e reggae jamaicano às suas composições, mas, logo depois, passou a incorporar ritmos brasileiros, além de temática de cunho político-social. O último álbum, “Brasil Afora”, sugere que a identidade da banda está nas viagens, na estrada a seguir ou, dessa vez, na parada do caminhão pau-de-arara, que trouxe o “retirante” Zé Ramalho, cantor e compositor nordestino consagrado. Ao interpretarem a canção Mormaço, os roqueiros Herbert, Bi e Barone, recontam a história de um retirante paraibano, não por acaso, estado natal de Herbert e Zé Ramalho: “Está lá ao deus dará / Na costa da Paraíba / Na barcaça em Propiá / Na ferrugem nessa trilha” (...) “De onde foge, pra onde vai / Nesta vertigem de cores / O que falta e o que é demais / Quais seus mais ricos sabores...”. Caminhos e trajetórias diversas vão dando mostras de que a música regional brasileira continua sendo uma fonte abundante de riquezas que merecem ser descobertas, seja a partir de repertórios genuínos, seja por meio de novos formatos musicais propostos. O Festival 2011 apresentou um recorte atualizado desse caleidoscópio da música regional.

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Artes Visuais

Que música você toca? Renato Teixeira Elomar Hermeto Pascoal Diogo Nogueira

Minha raiz musical é brasileira, nordestina, com muito peso das manifestações populares. Acho que depois de tanto tempo adquirimos origens universais. Sou formado por todos os gêneros e suas vertentes. Sou um músico contemporâneo.

Antônio Nóbrega Otto Os Paralamas Do Sucesso*

Temos um gosto musical muito amplo. Para quem gosta de música, qualquer forma musical que atinja a alma é capaz de inspirar, explícita ou subliminarmente.

Rock, reggae, samba e baião, “que vem do fundo do barro do chão”.

A minha raiz é o samba, o choro. Meu avô era músico e tocava choro. Meu pai, influenciado por ele, se tornou um grande sambista. Desde pequeno, convivo com esses ritmos, que formam a base da música brasileira.

Qual raiz/o musi

Tudo de bom: jazz, clássico, popular, rap, rock, funk, samba. Tudo que seja bom. “Tô” ouvindo muito Nina Simoni, Chico Buarque. “Tô” bem com esses. Procuro escutar tudo o que é bom, mas sigo a música instrumental bra sileira, compositores como Villa Lobos, Nelson Freire, Dominguinhos e também alguns atuais: Spok, Laércio de Freitas e outros. Mais recentemente tenho escutado Caymmi e Nelson Cavaquinho.

Villa-Lobos e seu Trenzinho Caipira, Tom Jobim e sua Garota de Ipanema e outros clássicos da MPB, como o Menino da Porteira, Aquarela do Brasil, Águas de Março. E também autores como Guimarães Rosa. Elejo frases (“o amor tem muitas maneiras de parecer que morreu”) que servem de mote para minhas criações musicais.

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Hoje, tão somente, a música circunstante de meu lugar nas rajadas do vento, quando passa pelas cimeiras da Casa dos Carneiros, pelos beirais lá na Lagoa dos Patos, o ladrar dos cadelos, o balir das ovelhas, o tagarelo das crianças brincando no terreiro, longe, muito longe, do ruído das máquinas, do conspirar dos urbanóides. Além de minhas próprias composições.

Não me inspiro na música para fazer música, mas nos sons que ouço. Do carro de boi, dos passarinhos, do trânsito ou do restaurante onde almocei hoje, aqui, em Ouro Preto. Pedi Aline para gravar o som da porta da cozinha, enquanto o garçom vinha e voltava.

O que você ouve (e o inspira), além de suas próprias composições? Hoje e ontem.

Ouço um pouco de tudo – do samba ao rock, do reggae ao hip hop. Gosto mesmo é de música boa, independente do ritmo.

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Que música toca você? Não falo em raiz, pois a palavra me lembra chás e infusões. Falo dos primeiros sons que fizeram parte da minha vida, os de quando nasci em Olhos d'Água, um povoado de Lagoa da Canoa, em Alagoas.

O Hinarium clássico da Igreja Protestante na infância. O Cancioneiro dos rapsôdos errantes, relatos de tropeiros e histórias narradas pelos mais velhos na última infância. Da mocidade até os 30, a música seresteira brasileira, nordestina; um pouco, o tango argentino e, em seguida, a música culta europeia.

A música brasileira, em particular a nordestina, gêneros fundamentais como o baião, o caboclinho, o maracatu rural e a rítmica dos batuques, que dão o alicerce para tudo o que faço. Embora não feche meus olhos para outras influências culturais (não apenas musicais), como Villa-Lobos, Guimarães Rosa ou Drummond.

A música popular brasileira amada e tocada pelos meus pais, tios e avós – as valsas, os dobrados e os chorinhos – e a cultura caipira, que muito me influenciou, embora não seja a raiz única da minha música.

l sua origem ical? O que significa se apresentar em uma região com mais de 300 anos de história cultural?

Minas Gerais representa muito para mim. E Ouro Preto é um pouco da minha terra. Os paulistas foram os primeiros desbravadores do interior mineiro. Há alguns anos vivo na Serra da Cantareira, região que foi rota de tropeiros que mantinham o comércio entre São Paulo e, especialmente, Minas e Goiás.

Fiquei muito feliz com o convite e me sinto honrado em fazer parte da pro gramação de um evento como esse, que acontece em uma cidade tão importante para a história cultural de nosso país. Integração. Em qualquer lugar do mundo em que estou, busco me integrar. Em Ouro Preto, na Bahia ou no Recife, na Europa ou no Japão, busco semelhanças. A música é como o vento, as estrelas, as montanhas, semelhantes em qualquer parte, mas nunca iguais.

Tudo a ver com os Paralamas. Somos uma banda "da antiga", não? (risos) REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

Para mim, que vim de Recife, Olinda, a cidade e a região representam nossa história. Tenho admiração por estas jóias de cidades brasileiras. Estar presente, cantando, me faz acreditar mais na vida, na cultura, na civilização humana. Espero estar contribuindo com o Festival de Inverno e fazer um show à altura da cultura e da importância da cidade. Estou feliz.

O apresentar bem pouco se me dá. Contudo, estar nestes sítios por onde nossos valorosos antepassados estiveram, nestes lugares onde, enfrentando todas as adversidades e vicissitudes, eles não se deixaram afrontar ante a presença constante do medo, a visita da Morte, para construir e doar-nos este tesouro arquitetônico, a mim, ilustre desconhecido do futuro, é um prazer estético para meus olhos e uma alegria histórica para meu coração, posto que muita espécie me causa.

Ouro Preto foi a primeira cidade em que me apresentei fora de Pernambuco, em 1974 ou 75, quando participava do grupo Armoril, de Arianano Suassuma. Foi marcante. Não entendia como podia sentir frio, mesmo estando debaixo do sol (risos). Depois disso, apresentei duas ou três vezes meus espetáculos na Casa da Ópera. Acho bom voltar e rever as obras de Aleijadinho e outros mestres barrocos, que, desde aquela primeira vez, muito me emocionaram.

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Marcelo Tholedo

Comunicação

comunicação, interação e

novas fronteiras Resultados preliminares mostram números expressivos na área de divulgação por Verônica Soares Naty Tôrres

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Antes mesmo de serem fechados os relatórios finais de avaliação, o sucesso do Festival pôde ser verificado pelo volume de divulgação espontânea conquistado. Na contabilização preliminar, o evento esteve presente em mais de 70 notas e reportagens em rádios e TVs externas à UFOP e em mais de 100 matérias em veículos impressos. A edição 2011 foi registrada em importantes canais regionais e nacionais, como Globo Minas, Rede Minas, Record, Band, CBN, Band News FM, além dos principais jornais e revistas especializadas de Minas e São Paulo, com destaque para entradas “ao vivo” nas TVs e matérias de capa nos j o r n a i s. N a s m í d i a s s o c i a i s, o estrondoso número de 2,3 milhões de acessos na página oficial do evento no Facebook por si só explica esse retorno de mídia e público. O Festival foi apresentado para jornalistas mineiros, em Ouro Preto, um mês antes de seu início, no dia 8 de

junho, como tradicionalmente. No entanto, pela primeira vez em sua história, foi organizado o lançamento para a imprensa também em São Paulo, no dia 15 de junho. O evento, realizado na Casa do Governo de Minas, no centro nervoso da capital paulista, atraiu jornalistas influentes naquele estado e veículos de inserção nacional. A experiência, que abriu portas bastante seletivas, aponta para horizontes promissores na área da divulgação. Para Christiane Lopes, uma das coordenadoras de comunicação do Festival, o volume de informação disseminada é um grande trunfo do evento: “Produzimos dezenas de releases (informações direcionadas à imprensa), visitamos redações e atendemos veículos e jornalistas de todo o Brasil. Mesmo com resultados ainda parciais, é possível constatar que o trabalho rendeu bons frutos”, comenta.

A equipe de Comunicação atendeu a cerca de 70 demandas de imprensa, cadastrou mais de 50 jornalistas para as coberturas e auxiliou os outros setores de divulgação. Diariamente, foram produzidos boletins, com dicas sobre eventos do dia, e a newsletter “UFOP Online - Especial”, contendo a cobertura jornalística do dia anterior, com o intuito de atualizar turistas, moradores e participantes do Festival sobre toda a programação. O Núcleo de fotografia, por sua vez, produziu volume próximo a 30 mil fotos, que abasteceu os veículos do evento e a imprensa em geral. Após esta longa caminhada, ficou a certeza de que é possível produzir conteúdo jornalístico e informativo de qualidade, contextualizado, para entreter, informar, esclarecer e ensinar, cumprindo, assim, a missão cultural e educativa do Festival.

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Comunicação

Interatividade e sucesso nas

Mídias Sociais facebook.com/festinverno Blog do Festival http://migre.me/5AAzn flickr.com/festivaldeinverno @Festinverno

Uma novidade desta edição ficou por conta do Blog do Festival, que reuniu informações e histórias curiosas e divertidas sobre os bastidores da cobertura dos eventos. Também pela primeira vez, o Festival contou com uma equipe exclusiva para trabalhar o relacionamento on-line, tarefa que resultou em maior interatividade do público com o evento, otimizando o volume e a velocidade das informações transmitidas. A equipe de Mídias Sociais chegou ao final do Festival com mais de 1.400 seguidores no perfil oficial do evento no Twitter e mais de 4.600 seguidores na página do Facebook, criada na edição deste ano, obtendo impressionantes 2,3 milhões de acessos.

A rádio dos artistas e da comunidade Na Rádio UFOP Educativa, o destaque ficou por conta do Panorama Festival, programa diário que recebeu organizadores, autoridades, artistas e participantes para uma conversa franca, descontraída e informativa sobre o evento. A equipe da emissora ainda produziu boletins diários e intensa cobertura jornalística, com flashes e entrevistas surpreendentes, cumprindo o papel primordial do rádio: ser instantâneo e ao vivo. Ser vivo com

André Magalhães

locutores no ar, nas ruas, dando voz a artistas e caminhando ombro a ombro com a comunidade. Coube à UFOP Educativa ainda a distribuição de conteúdo para rádios locais, regionais e Naty Tôrres

nacionais, como MEC, Inconfidência e EBC/Nacional, o que contribuiu para aumentar o fluxo da difusão de informações para além dos limites de Minas Gerais.

A criatividade na tela A TV UFOP atingiu uma fase de amadurecimento com a produção do Plano Aberto, programa diário exibido no canal 31, sempre às 19h, e com reprise às 12h, com conteúdo infor mativo e contextualizado e entrevistas com artistas e curadores. A TV também apresentou outros programas, como o Na Sacada, que d e s a f i o u g r u p o s mu s i c a i s a s e apresentarem nas sacadas dos casarões da Rua Direita, no centro de Ouro Preto; o Por dentro do Festival, com os bastidores de palcos e câmeras; o Simulacro, que convidou oficineiros e artistas a comentarem temas

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polêmicos; e o Eu também sou patrimônio, um trabalho de resgate da memória local com base na coleta de depoimentos em entrevistas de História Oral. Em parceria com a Base Criativa e a TV Casa Grande, de Nova Olinda (CE), a TV UFOP também desenvolveu o projeto Olhares, que buscou mostrar os diferentes olhares sobre Ouro Preto, sob a lente de turistas e moradores. A equipe ainda produziu conteúdo para parceiras, como Rede Minas, PUC TV, Canal Brasil e mais de 30 emissoras em todo o país.

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Entrevista

Celmar Ataídes Júnior. Gestor Cultural do Festival

Arquivo pessoal

O trabalho da gestão cultural vai muito além da coordenação e organização de atividades em uma programação: é missão do gestor de cultura alinhar as decisões estratégicas com o potencial local e regional de desenvolvimento socioeconômico e cultural. A fim de compreender como a sua atuação influencia e define o perfil do evento, conversamos com o gestor cultural, Celmar Ataídes Júnior, que comentou os resultados da edição 2011 e as perspectivas para as próximas edições do Festival.

Em que consiste o trabalho de um gestor cultural? Uma gestão cultural eficiente está intimamente atrelada ao planejamento e desenvolvimento estratégico do evento. Inclui negociações interinstitucionais, pacto de aspectos conceituais e implantação de ações por parte da coordenação executiva, e demanda sensibilidade na identificação de elementos potenciais que tragam oportunidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural para a comunidade local. Em termos práticos, é um trabalho que considera questões territoriais, leva em conta o desenvolvimento das pessoas e das instituições da região e a necessidade de integrar as cidades envolvidas em um mesmo projeto de gestão. Quais os principais desafios da gestão cultural do Festival? Um dos maiores desafios é encontrar o ponto de equilíbrio da atuação nas duas cidades (Ouro Preto e Mariana), identificando seus diferentes aspectos e forças a serem trabalhados. O Festival é um só, mas precisa levar em consideração o que cada cidade têm de melhor como núcleos independentes. Para atingir este equilíbrio, o trabalho começou em dezembro de 2010, com a definição dos nortes de atuação e os pactos que definiram as maneiras como lidar com os recursos públicos e privados e a relação com os patrocinadores. Partiu-se do planejamento macro para uma definição conceitual. Buscouse trabalhar o Festival como introdutor de

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Por Verônica Soares

políticas públicas, gerador de renda e desenvolvedor do potencial humano da região. Assim, o Festival extrapolou os muros da UFOP e se tornou muito mais do que um projeto de extensão.

com os parceiros foi ampliado. Ainda há um grande caminho a ser percorrido, mas podemos destacar o aumento e a consolidação da programação dos distritos, com uma participação mais ativa da população local.

Como a temática das Vilas de Minas foi articulada na gestão cultural? Sabíamos que este tema histórico era familiar a diversas instituições com as quais dialogávamos, como o Iphan e as Secretarias Estaduais de Cultura e Turismo. Aproveitamos essa abertura à temática para aproximar as instituições envolvidas e articular parcerias mais consistentes. Assim, foi possível realizar o lançamento do evento em São Paulo, com o apoio do Governo Estadual, que cedeu espaço da Casa Minas Gerais, e o Encontro de Educação Patrimonial, que abriu debates necessários à atuação do Iphan na região.

Qual sua avaliação dos debates lançados ao longo dos 17 dias de evento? O resgate do Fórum das Artes retomou uma reflexão importante acerca da produção científica sobre arte e cultura. Pensar esses debates com as curadorias permitiu que fossem consolidados encontros que acontecem independentes do Festival, mas que encontraram aqui tempo e espaço propícios. É o caso da Mostra das IES de Teatro e Dança e dos Encontros de Educação Patrimonial e de Cultura Livre. O Festival é uma vitrine muito positiva para a Universidade e valoriza o currículo dos alunos. Neste processo de maturidade natural, ele já é visto como um guarda-chuva que abriga vários mini-festivais. O objetivo agora é caminhar para a sustentabilidade e sensibilizar novos públicos, como os colaboradores das empresas patrocinadoras

Quais os principais ganhos da edição 2011? Foi possível pensar o evento mais do ponto de vista do território local para dar vazão a uma demanda de inserção da comunidade. O trabalho fortaleceu o processo formativo, com projetos como o Festival com a Escola. O Circuito Festival também foi importante e serviu como provocação a novos parceiros para o desenvolvimento de diálogos de inclusão. Nesse sentido, o Festival, através da UFOP, se estabelece como um importante indutor de políticas públicas. Sua força e tradição permitem hoje a proposição de novidades e ações estratégicas que não seriam pensadas em outras épocas do ano. O foco é, através do Festival, fortalecer uma conexão de redes que venha a render outros frutos, outros projetos e eventos independentes do próprio Festival. Foram oferecidos menos eventos e oficinas neste ano. Essa redução foi estratégica? Sim. Houve um cuidado maior na confecção da programação, uma preocupação com o conceito do evento e com o objetivo de educação e debate. Reduziu-se o número de eventos buscando mais qualidade e condições na execução, e, conseqüentemente, o diálogo

Que sugestões ficam para a edição 2012? É preciso dar continuidade ao processo de abertura da gestão e incentivar a produção do evento a várias mãos. Como disse o reitor João Luiz Martins, em sua fala de abertura do Festival, o evento deve ser uma política de Estado, não de governo, para que seja menos vulnerável às mudanças políticas. É preciso aprimorar este processo e continuar avaliando potenciais de desenvolvimento. Uma experiência que deu certo foi o Circuito Trilheiros, que explorou a riqueza natural da região. A autonomia de atuação das coordenações pode ser vista como outro destaque. A partir de um alinhamento inicial, foi possível desenvolver um projeto autônomo e eficiente, acelerando a tomada de decisões. Vemos como interessante ainda a criação de uma equipe permanente de atuação no Festival, que possa acumular experiências e repassar este know-how aos novos profissionais, mantendo a qualidade em todos os setores. REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO


Recortes do Festival

O Núcleo de Estudos Aplicados e Sócio-Políticos Comparados (Neaspoc) realizou pesquisa durante a edição 2011 para avaliar alguns aspectos do Festival. O conjunto de resultados serve para nortear a organização do evento para os próximos anos. A pesquisa foi realizada nas cidades de Ouro Preto e Mariana, com 400 entrevistados, com cotas proporcionais ao todo da população, em relação a sexo, grupo de idade e setores censitários. A margem de erro é de 4 pontos percentuais. A seguir, alguns resultados relevantes:

• Daqueles que assistiram ou conheceram a programação, 79% consideraram positiva a qualidade dos shows e espetáculos e apenas 5% consideraram ruim.

• 49% sentiram-se “bem informados” a “muito bem informados” sobre shows e espetáculos. Apenas 21% não conheciam nada da programação.

• Dos que participaram ou conheceram a programação das oficinas e palestras, 86% avaliaram positivamente a qualidade oferecida.

• 30% sentiram-se “bem informados” a “muito bem informados” sobre as oficinas e palestras. Outros 32% receberam algum tipo de informação.

Iza Campos

Iza Campos

• 46% da amostra disse pretender assistir ou ter assistido shows e espetáculos. OU seja, pelo menos 25.500 moradores acima de 16 anos de Ouro Preto e Mariana estiveram

presentes ou pretenderam estar nos shows e espetáculos. • 6% participaram ou pretenderam participar de oficinas e palestras. Ou seja, pelo menos 3.300 moradores acima de 16 anos de Ouro Preto e Mariana estiveram presentes nas oficinas e palestras. • 44% da amostra visitaram o site oficial do Festival, sendo que 30% visitaram mais de uma vez. • 90% dos entrevistados concordaram que o Festival traz

Iza Campos

• 63% da amostra demonstraram saber que a UFOP é a promotora do Festival.

REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

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• Metade discordou que o Festival causa muita bagunça. E 20% nem concordaram nem discordaram. Apenas 9% concordaram totalmente com a afirmação.

• 42% ouviram informações do Festival em alguma rádio. Todas as rádios locais foram citadas e outras duas de Belo Horizonte. Mostrou-se relevante a distribuição da informação. • 41% viram notícias do Festival em TV. Foram citados dez canais. Mais uma vez, a importância da distribuição da informação.

• Metade dos entrevistados leu alguma notícia do Festival em jornais.

• Uma em cada três pessoas leu algum dos boletins diários do Festival.

• 15 jornais locais foram citados nominalmente e 6% dos

• Duas em cada três pessoas viram

Iza Campos

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Iza Campos

• Apenas 16% concordaram com a afirmação de que o Festival só ajuda artistas de fora.

algum cartaz do Festival. • Uma em cada quatro pessoas recebeu algum material com programação de oficinas, 38% receberam algum material com programação de eventos e 43% recebeu algum panfleto sobre o Festival. • Para 36% dos entrevistados, o Festival deste ano foi melhor que dos anos anteriores. Para outros 26%, manteve a qualidade. • 68% dos entrevistados preferem o Festival unificado, reunindo Ouro Preto e Mariana. • 69% avaliaram positivamente o Festival de Inverno 2011.

Cesar Tropia

• 87% dos entrevistados disseram que o Festival é bom para a economia da região.

entrevistados citaram apenas “jornais locais”, o que mostra equilíbrio na distribuição da informação.

Marcelo Tholedo

Cesar Tropia

muitas alternativas boas de arte e cultura.

Recortes do Festival








Realização:

Parceiros executores:

Apoio: Organização Pró-Reitoria de Extensão da UFOP

Câmara Municipal de Ouro Preto

Patrocínio:

A Melhor Energia do Brasil.

LEI DE INCENTIVO À CULTURA

MINISTÉRIO DA CULTURA



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