O senhor dos Paradigmas

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BIOGRAFIA

Ninguém sabe classificar o Sílvio muito bem. Parece incansável e jamais deixou de buscar respostas. Quando alguém escreve um livro, o que se espera é que ele venda seu conhecimento, dentro das limitações do repertório do seu saber. Por outro lado, quando alguém vende sua falta de conhecimento, seu desejo de aprender sobre algum assunto, de criar, explorar e navegar por águas desconhecidas, quando alguém vende sua curiosidade, está vendendo um balde sem fundo, está vendendo um repertório ilimitado.

A maioria das pessoas não têm muitas coisas interessantes em suas vidas, por isso, em lugar de acumular interesses e conhecimento, acumulam dinheiro, mansões, poder. Esquecem o refrigério psicológico. Ignoram o vácuo e o vazio da alma. As perguntas são a substância do interesse. Viver é perguntar, perguntar é interessar-se. O conhecimento especializado de Sílvio, justamente é sua falta de conhecimento, associado ao prazer de fazer perguntas.

SINOPSE

Este livro desenvolve matéria antiga sob perspectiva moderna. Avanços científicos têm transformado a base do conhecimento e entendimento humano. Sob


essa ótica, é preciso questionar se Deus existe. Olhe ao seu redor. Raciocine sobre as formulações matemáticas das leis da física, e como elas organizam os átomos para formar tudo o que conhecemos, desde galáxias, planetas ao café com leite. Qual a fonte dessa criatividade cósmica? Seria possível o cosmos surgir do nada - do que não existe - por mero acaso? Supondo que fosse possível, poderia o nada estar grávido de um universo tão rico e abundante? À medida que a ciência avança, sobra menos espaço para a Matriz Ateísta manejar.


O SENHOR DOS PARADIGMAS O MISTÉRIO DA ORIGEM DE TUDO Sílvio Kniess Mates


Revisão textual João Batista Leonel Ghizoni Capa Autores diversos 1a edição: Junho/2016 Florianópolis – SC SADNEV.ED.OSSECUS.MU.ÀRES.ARBO.ASSE - L.R.D- 201.6.06.22.15-22

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Mates, Sílvio Kniess O Senhor dos Paradigmas: O Mistério da Origem de Tudo / Sílvio Kniess Mates. — Florianópolis, SC : 2016 ISBN: 978-85-80459-12-8 1. Metafísica 2. Ciência 3. Espiritualismo. I. Título. Índice para catálogo sistemático: 1. Metafísica: texto dialogado 2. Ciência: origem do universo 3. Espiritualismo: Força cósmica 14-01025 CDD-212.1

Clube de Autores Publicações S/A CNPJ: 16.779.786/0001-27 Rua Otto Boehm, 48 Sala 08 América – Joinville/SC, CEP 88201-700


Copyright Š 2016 Sílvio Kniess Mates silviomates@gmail.com


Dedicado Ă minha mui amada esposa, meus pais e famĂ­lia.


ESTA OBRA É UMA RESPOSTA A RICHARD DAWKINS Antes de cumprirmos os primeiros estágios da jornada que nos aguarda, lancemos luz sobre um ponto importante: nas páginas vindouras, o leitor não encontrará veneração à fina mão religiosa, apologia a concepções de berço dogmático ou deferimento ao criacionismo. As pessoas têm todo tipo de crença. A forma como cada um chega a elas varia de argumentos racionais à fé cega. Algumas crenças são baseadas na experiência pessoal, outras na educação, e outras ainda no doutrinamento. Certas crenças, acreditamos que podemos justificar, outras, sentimos que estão lá dentro de nós e pronto. Dentre as crenças de matriz ateísta, há aquela cujos adeptos propugnam pela ideia de que o universo existe a partir do NADA. É nisto que consiste a crença de Richard Dawkins. Mas haveria delírio mais alucinado do que acreditar que o NADA pudesse estar grávido de um universo carregado de matéria em abundância, tempo-espaço e rigorosas leis perfeitamente balanceadas para criar estrelas, planetas, café com leite e vida inteligente? Insulto à lógica? Menosprezo à razão? Para Parmênides, nada vem do NADA. Posto de outra forma, nem um bilhão de causas poderiam fazer o universo existir a partir do que não existe!


Para Dawkins, por outro lado, O MISTÉRIO DA ORIGEM DE TUDO

encontra fácil explicação: “O que a maioria dos ateus

acredita — ele reconhece que se trata de uma crença — é que, embora só haja um tipo de matéria no universo, e é a matéria física, dessa matéria nascem a mente, a beleza, as emoções, os valores morais — em suma, a gama completa de fenômenos que enriquecem a vida humana”1. Sim, ele está certo, parcialmente certo. O embaraço cartesiano começa, todavia, quando Dawkins não permite que o raciocínio especulativo prospere. Ele ignora que, assim como existe um universo, PODERIA NÃO EXISTIR UNIVERSO ALGUM. E supondo que existam infinitos universos paralelos — e podem existir — a questão permanece e se amplia: por que universos paralelos? E mais: por que

EXISTEM

infinitos

SÃO INFINITOS UNIVERSOS

PARALELOS e não infinitas jabuticabas ou livros paralelos?

A hipótese da boa causa — e nesse caso o objeto é a busca pela verdade — produz no indivíduo uma espécie de entusiasmo protetor. Mas é preciso que se destaque: ELIMINAR FALSAS RESPOSTAS É MAIS FÁCIL DO QUE ENFRENTAR AS VERDADEIRAS QUESTÕES.

A obstinação e a convicção exageradas, dizia Michel de Montaigne, são a prova mais evidente da estupidez. Dawkins, similarmente, não compreende que a aposta no IMPONDERÁVEL pode não ser um lance exclusivamente religioso,

mas também a fonte secreta e inigualável das apostas das quais dependem não só as maiores realizações criativas da

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Deus, um delírio, Richard Dawkins, ISBN: 9788535910704: 37


humanidade como a

ESPERANÇA SELVAGEM E INEXPLICÁVEL

que nos

alimenta, impulsiona e dá sustentação às nossas vidas. *** Ao longo desta obra, discutiremos essencialmente o inventário dos avanços científicos que conduzem à concepção do TODO INFINITO E INCRIADO,

adversário da teoria do NADA,

patrocinada por Richard Dawkins. Estamos falando de Deus? É excepcionalmente mais complexo do que isso. Palavras elevam-se das incertezas da etimologia. O verbete Deus encontrou guarida no latim clássico, talvez por substituição de Z do deus do Olimpo chegamos ao D do zeus cristão. Os primeiros tradutores eram gregos e não foram complacentes com Jeová, zeus único de Israel. Teria assim nascido a palavra DEUS? Os nórdicos tinham em Odin e Thor — deuses de Asgard, céu dos vikings — o equivalente a Zeus, Deus. Talvez uma forma mais neutra de expressão do conceito seja por meio da palavra FORÇA. Outrossim, Tupã, Isis, Afrodite, Thor, Allah, God, 神, ou simplesmente Deus ou Deusa, não deixam de graficalizar — independente dos tons de feminilidade ou masculinidade divina — um tipo de força. Como verá o leitor, a Força pode ser de difícil interpretação, definição ou nomeação, cada povo com suas expressões e formas de olhar para O MISTÉRIO DA ORIGEM DE TUDO. E isto pode ser algo assaz sagrado à

mitologia e às deslumbrantes histórias que enriquecem longas trajetórias culturais de tribos, povos e nações. O que pensar do valor imanente do cinema, teatro, música e expressões artísticas antigas e modernas, em geral? Certas expressões da criatividade humana deveriam ser exiladas,


enquanto outras exaltadas? Autoelevado por sua arrogância à condição de senhorio da verdade, Richard Dawkins busca censurar e depreciar tão brilhantes tesouros gerados pela caudalosa expressividade humana. *** O fruto do trabalho que sustenta a obra que o leitor traz em mãos é resultado de pesquisa independente em centenas de obras escritas essencialmente por doutores (Ph.D.) em física, matemática, astrofísica e outras disciplinas. Deste acervo, foram selecionadas pouco mais de duzentas obras. A maioria encontrase referenciada em notas de rodapé. Se alguma foi esquecida, queira o gentil leitor informar ao autor, a fim de que se possa retificar em futura edição. Divirta-se! Este é o principal propósito do livro. Só mais uma coisinha: Dawkins acredita que os átomos — a matéria — são capazes de criar valores morais. Então, não se pode furtar à reflexão: Os valores morais seriam gerados pelos elétrons, prótons ou nêutrons? A razão fria – como propõe Dawkins - é cruel! O Autor Florianópolis, junho de 2016.


Este livro representa uma nova forma de lanรงar um olhar para o imponderรกvel e o significado da vida.



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PRIMEIRA PARTE CAPÍTULO 1 O Mistério da Origem de Tudo Sempre tive muito respeito pelos poderes de análise de Sherlock Holmes 2 . Suas habilidades vão além de minha compreensão. Quando olhei para Holmes, seus olhos haviam adquirido uma expressão erma, vazia. Pareciam revelar profunda abstração mental. Estava na poltrona com sua displicência costumeira. — Em que você está pensando, Holmes? — Perguntei cauteloso. — Não tenho tempo para perder com futilidades — respondeu. Em seguida, sorrindo arrependido: — Perdoe-me a indelicadeza, Watson, mas você interrompeu o fio de minha meditação e... — E sobre o que meditava? 2

No Brasil e no Reino Unido, o prazo para uma obra entrar em domínio público é de 70 anos após a morte do autor, ocorrida em 7 de julho de 1930, Crowborough, Reino Unido. Os personagens Sherlock Holmes e Dr. John H. Watson, criados no ano de 1887 por Arthur Ignatius Conan Doyle, não mais se encontram sob guarda de direitos autorais britânicos e brasileiros. Escritores e diretores cinematográficos estão livres para criarem novas histórias sobre Sherlock Holmes e suas peripécias investigativas. (N.A.)


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— Você sabe que minha mente odeia a ociosidade, meu caro Watson, e como não temos nenhum problema para solucionar há mais de uma semana, estou refletindo sobre a Existência. — Sério? Você! Filosofando? — E o que se faz quando buscamos a solução de um caso, Watson? Não é o uso do raciocínio lógico? Além disso, Arthur Conan Doyle, meu criador, não está mais por aqui. Então estou livre para divagar sobre outros temas de meu interesse. Devo minha fama a Arthur, mas ele me mantinha enclausurado, num círculo muito restrito para uma mente como a minha. Holmes não perdia a petulância. Mas eu já estava acostumado. — Trocando em miúdos, você decidiu ampliar, por conta própria, o círculo a que você se julgava cativo e sair em busca de problemas mais complexos do que a delinquência desta cidade. — De fato, Watson, são apenas uma pequena folha nessa gigantesca floresta chamada existência. — A Existência... Então quer saber porque veio ao mundo? — É mais complexo do que isso, Watson. Acho que você sabe disso. — E o que seria mais complexo do que você vindo ao mundo, Holmes? — Brinquei. — O mundo, caramba! O universo! O cosmos! — Formidável! E o que conseguiu? — Puxei uma cadeira e me sentei, olhando-o com sincero interesse. Já familiarizado com suas reações bruscas e ásperas.


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— Imagine que você esteja sobre uma ponte — sugeriu Holmes. — O que havia antes de a ponte estar ali, Watson? — Antes da ponte? Vejamos... — Antes da ponte, o que havia?— Incentivou Holmes, impaciente. — Seja objetivo! — Nada. — Respondi, por fim. Haveria ar, mas o ar não deveria ser relevante nessa questão de Holmes, imagino. Nem me deu tempo para respirar e atacou novamente. Ergueu as mãos como se quisesse abarcar tudo a sua volta e anunciou: — Você está no universo. O que havia antes de o universo existir? — Nada. Não havia matéria, não havia energia, não havia nada. — E como explicar que um universo tão rico e abundante poderia saltar do nada para a existência, meu caro Watson? Digame se for capaz! Agora imagine que o universo — continuou ele — seja como a cena de um crime, isto é, o objeto de nossas observações e investigações. Vamos examinar as pistas e tentar identificar o que pode ter causado a fisicalidade, ou o que chamamos de universo. Lá estava Holmes! Suas palavras continham poder e certo ar de desafio. Surpreendi-me diante do olhar penetrante de Holmes. Ele se debatia com o maior dilema da humanidade, em todas as eras. Um problema com o qual pelejam os maiores filósofos e cientistas de todos os tempos. O estranho é que eu nunca tinha considerado a questão pelo ângulo que Sherlock Holmes acabara de expor. Eu cheguei realmente a visualizar a


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ponte e o nada antes dela. O universo e o nada antes dele. É quase assustador. O que havia antes do mundo? Nada, o infinito ou uma Força? — Enquanto o universo era considerado eterno — continuou Holmes, — sua existência não intrigava tanto os pensadores. Com a descoberta do big bang, tudo mudou. O que poderia ter causado essa primeira grande explosão? E o que a precedeu ou a motivou? Essas perguntas sem dúvida soam científicas, Watson, porém, qualquer tentativa de respondê-las cientificamente se depara com uma barreira intransponível, que os cientistas simplificaram chamando-a de singularidade. Tratase de um limite do espaço-tempo, um ponto para o qual convergem todas as linhas causais, a causa primária de tudo. Se de fato existe uma causa primária para esse acontecimento, deve transcender o espaço-tempo e, portanto, fugir ao alcance do pensamento científico. O colapso conceitual da ciência no big bang foi perturbador para os cientistas e pensadores de matriz ateísta.3 — Ateus, você quer dizer... Ele continuou como se não tivesse me ouvido. — Como a ciência poderia explicar o triunfo do universo sobre o nada? Como algo tão grandioso poderia surgir a partir do nada, Watson? Como explicar isso? Permaneci em silêncio absoluto. Eu queria aprender, não sabia as respostas. — Sem dúvida, o nada é algo difícil de imaginar — disse Holmes com um brilho intenso no olhar —, mas será assim tão 3

Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 152


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difícil de entender? Pelo jeito, com o tanto de gente que pretende tirar universos de um “nada que não tem partículas, mas já tem leis”, a Filosofia faz muita falta.4 — E a possibilidade de o mundo existir sem nenhuma razão o deixa perturbado, Holmes? — perguntei casualmente. Um brilho típico de sua sagacidade perpassou seus olhos. — E você já ouviu falar de um crime sem criminoso, Watson? — Onde estão seus miolos? O que comeu hoje? Não precisamos de minha superioridade intelectual para deduzir que tudo que tem começo precisa de uma causa. — Sim, isto é, não! — Tive que reconhecer que minhas observações haviam sido irrefletidas. Posso ser inoportuno às vezes. Pelo menos no âmbito intelectual.5 — Acho difícil de acreditar — disse eu — até na explicação científica padrão sobre a maneira como o universo surgiu inesperada e rapidamente de quase nada. — É a isso que eu queria chegar, Watson. Pense bem. A ideia de que este planeta, o Sol e todas as estrelas que vemos, a ideia de que tudo isso esteve em algum momento do passado amarrado em um ponto do tamanho de um pingo de caneta não faz nenhum sentido, Watson! Fico me perguntando como isso poderia ser possível.6 — Sim. Se precisamos acreditar que o universo um dia esteve confinado ao tamanho de um pingo de caneta, podemos acreditar em qualquer coisa. Até mesmo em uma Força, um deus. 4 5 6

http://www.gazetadopovo.com.br. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 224. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 265.


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— Na verdade — continuou ele, — fico com a impressão de assombro em torno do fato de que as condições em nosso universo sejam tão adequadas para a vida e a consciência. Além disso, Watson, estamos diante do mistério de como as leis da natureza fabricaram um sol capaz de dar calor e luz por dez bilhões de anos; um planeta capaz de produzir um aglomerado de trilhões e trilhões de átomos altamente organizados, tão organizados, falo do meu cérebro, Watson, não do seu, que são capazes de produzir algo que chamamos de pensamento. E um pensamento torna-se tão real, tão verdadeiro, quanto uma rocha. Veja quantos crimes eu desvendei apenas usando meus átomos cerebrais. Se um átomo não pode pensar, como o meu cérebro, um aglomerado de trilhões de átomos pode pensar? Como, Watson. Explique-me! — Mas não seria a matéria orgânica de nosso cérebro o elemento responsável pelo processamento do pensamento? — E a matéria orgânica do cérebro não é essencialmente formada de átomos, Watson? Fiquei sem resposta. Tudo no universo é formado integralmente de átomos, seja matéria orgânica, seja inorgânica. Até mesmo a luz é resultado da força eletromagnética do interior dos átomos. Entendi que o peso de tudo aquilo sobre Sherlock Holmes parecia ser esmagador. Ele fez uma mesura quase imperceptível, sem perder a petulância. — Agora suponhamos que o universo exista desde sempre, que seja infinito e eterno e que tenha sido governado pelas mesmas leis desde sempre. O primeiro ponto importante,


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Watson, é que existe um universo e que poderia não haver universo algum. Entende? O segundo ponto é que as leis que governam o universo existem há tanto tempo quanto o próprio universo, e são imutáveis. E para originarem os seres humanos, essas leis precisam ser muito especiais. Poderíamos pensar que, dispondo de um tempo infinito, de alguma forma a matéria encontraria uma maneira de se organizar para produzir seres conscientes. Mas não, Watson, não acontece assim! A matéria não consegue assumir todas as configurações possíveis, mesmo em um tempo infinito. Imagine que você disponha de um tempo infinito e um quilograma de matéria. Seria racional você aguardar que a matéria em questão pudesse em algum tempo infinito assumir a configuração de um relógio ou uma bola de bilhar de número oito7? — Certamente que não, não existem leis para isso! — respondi. Sherlock Holmes tomou um gole de seu chá e deixou a bebida assentar em sua boca antes de engolir. E, incapaz de sofrear o desejo de investigar, questionou: — Então como acreditar que o universo, que é tremendamente mais complexo que uma bola de bilhar ou um relógio, possa ter surgido depois de um tempo infinito, acompanhado de leis capazes de criar seres pensantes a partir de átomos, Watson? Diga-me!

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Filósofo Richard Swinburne.


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— Sherlock, você acha que isso seria uma prova racional ou pelo menos algum tipo de evidência para a existência de um agente criador, um arquiteto, um superser, um deus, uma Força? — A pergunta mais importante, Watson, não é se Deus existe, mas por que o universo é do jeito que é. Porque existem leis? Onde estão escritas? Se eu conseguir explicar por que o universo é do jeito que é, vamos saber se existe uma Força. Por outro lado, é melhor termos uma Força para explicar a existência do mundo do que não termos explicação alguma ou atribuir a causa primária do universo ao nada. Você não acha, Watson? — E quanto ao público crescente ligado à ciência que acredita no acaso matemático, aquela que diz que pode muito bem ser um milagre do acaso matemático nós estarmos aqui? Você pôs a Força em primeiro plano. Não haveria outras opções? — “Milagre do acaso matemático”? Foi isso que entendi, Watson? — Sim. — O conceito "milagre" — destacou Holmes — é uma expressão religiosa que indica que as leis da natureza podem ser rompidas por algum tipo de intervenção sobrenatural. No entanto, sabemos que nada pode romper as leis da natureza, Watson. Estamos de acordo? — Milagre é só força de expressão, Holmes. — Segundo, a ciência é determinista. O determinismo é um princípio segundo o qual todos os fenômenos da natureza estão ligados entre si por rigorosas relações de causalidade e leis universais que excluem o acaso e a indeterminação, de tal forma que uma inteligência capaz de conhecer o estado presente do


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universo necessariamente estaria apta também a prever o futuro e reconstituir o passado. Ele voltou a tomar um gole de seu chá, que a esta hora já estaria morno, e continuou: — Terceiro, a matemática é um conceito abstrato e, de acordo com o que já sabemos sobre ela, é inerte e, por conseguinte, não pode ser sujeito ou agente de nada, apenas objeto de uma mente pensante. — Sou levado a concordar com você, Holmes. A matemática é abstrata e inerte. E, de fato, o universo existe, mas poderia nunca ter existido. Isso é real. Eis o mistério: Qual a origem? Se o universo existe, é preciso uma causa. E parece haver poucos candidatos, já que a matemática não pode ser um dos candidatos a criador do universo. — Os candidatos à causa do universo são o nada, o infinito e um agente criador — completou Holmes, pondo cada item em um dedo esticado. — Sim, três candidatos para ocupar o papel de pai do universo... Mas você fala no “universo ser do jeito que é”. Você acha que o universo poderia ser diferente? — E não poderia, Watson? Se a gravidade ou o eletromagnetismo fossem diferentes em mero 0,1%, você e eu não estaríamos tendo esta conversa. O universo seria completamente diferente, provavelmente apenas poeira ou radiação cósmica. É preciso que a configuração das Leis da Física sejam precisamente essas que conhecemos para que haja estrelas, planetas e vida.


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— Entendi. Inclusive poderia nem haver gravidade, por exemplo. Houve alguns segundos de silêncio enquanto Sherlock Holmes refletia sobre como formular seu próximo raciocínio. — O natural seria que não existisse universo nenhum, meu caro. Assim como um crime não acontece sem o criminoso, assim como uma ponte não pode surgir do nada, é de se esperar que um universo também não possa simplesmente existir sem explicação. — Na verdade, Holmes, esperar que um único grão de areia possa surgir do nada seria insano. — Exato, Watson! Pela primeira vez você está certo. Olhei para Sherlock Holmes para ver se pilheriava comigo. Mas seu olhar era sério. Os dedos de sua mão direita se fecharam e voltaram a se abrir. Ele se recostou na poltrona e voltou a assumir um olhar vago, mas pouco sereno. — Mas, Holmes, se explicarmos o universo por meio de uma Força, não cairemos em outro buraco sem fundo, outro problema sem resposta? — Ele não reagiu. Continuei. — Qual seria a explicação para a existência da Força? Qualquer que seja o caso, a existência do universo tanto quanto a existência de uma Força será uma vitória sobre o nada. Um dos dois venceu a batalha sobre o nada. De alguma forma, a resposta parece que tem de estar no infinito. Porque, veja só, como poderia algo que existe por toda a eternidade ter uma causa?8 Como poderia algo anteceder o infinito? Como poderia a Força anteceder o infinito, Sherlock? 8

David Hume.


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— Watson, meu caro, de uma coisa podemos ter absoluta certeza, sem medo de errar — num tom de voz assimétrico ele enfatizou “ter absoluta certeza”: se o universo existe, então o universo ou a Força terá que ter vencido a luta contra o nada. Se o universo existe, por que a Força não poderia existir? — Concordei inteiramente. — Na verdade, o estado de coisas mais natural é o nada. Antes da ponte não existia nada. Antes da Terra não existia nada. Antes do universo não existia nada, Watson. — Sim, Holmes — balancei a cabeça três ou quatro vezes sem perceber, repetindo mentalmente suas palavras “o estado de coisas mais natural é o nada”. — Por que existe um universo e por que o universo é do jeito que é? — Holmes fez uma pausa. — O fato é que a existência do universo, do jeito que é, abre portas para a existência de um agente criador, um Arquiteto. A coisa é tão complexa que quando encontramos respostas para uma determinada camada da realidade, descobrimos que há um nível seguinte e outro e mais outro. Não acaba nunca. — Se Deus, ou a Força, existisse mesmo, você acha que haveria fome no mundo, Holmes? — Resolvi colocar areia no raciocínio dele. — Um filósofo americano, Jim Holt, disse que o universo foi criado por um ser 100% malévolo, mas apenas 80% eficiente. E Schopenhauer dizia, no século 19, que a realidade é um teatro de sofrimento avassalador, e a não existência é melhor que a existência.9 9

Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 229.


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— Essa afirmação de Jim Holt é pura baboseira! — disse Holmes impulsivamente. —E se esse Ser permitisse que o mal aconteça por ser logicamente necessário — ele enfatizou “logicamente necessário” — para que certos bens sejam possíveis? Falo dos bens decorrentes do fato de dispormos de livre-arbítrio. Se a Força existir, será onipotente. Poderia fazer qualquer coisa possível do ponto de vista lógico. Mas não seria válido que ele nos dotasse de livre-arbítrio e ainda assim se certificasse de que sempre o usamos de maneira certa. Sabemos que um bom pai permite que os filhos sofram, às vezes pelo seu próprio bem, às vezes pelo bem de outros filhos.10 Seus olhos brilhavam intensamente enquanto as palavras surgiam com vivacidade. — Para se ter um mundo ordeiro que funcione de acordo com as leis da natureza — o que vem a ser um mundo elegante e interessante, — não pode haver arroz com feijão aparecendo de repente, como por encanto, para matar a fome de alguém. Além disso, Watson, o fato de alguém não ter um prato de arroz com feijão pode muito bem decorrer do mal uso da liberdade humana, e não podemos ter a bondade de um mundo no qual os agentes têm liberdade de tomar decisões se não tivermos também a possibilidade de que tais agentes tomem más decisões11. — É que o argumento do dano — disse eu, — esse que afirma que se existisse um deus, pondera que não poderia haver

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Swinburne, citado em Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 9780871404091: 112 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 217 (citação de Swinburne).

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mal no mundo. Esse é um dos argumentos mais poderosos dos ateus. — Mas é um argumento falacioso, a meu ver — respondeu ele dando de ombros. — Sim, se levarmos em conta o argumento do livrearbítrio, concordo. E sobre a questão dos infinitos universos paralelos? Você não acha que nosso universo pode, de alguma forma, ser filho de um universo paralelo pai, digamos? — Sim. É possível, mas veja que a questão central continua existindo sem explicação. — E qual a questão central, Holmes? — O universo! — Explique. — Por que em vez de infinitos universos paralelos não são infinitas jabuticabas paralelas? — Não entendi. — Sabemos que o big bang deu à luz um universo. Certo? — Sim. Isso está claro. — E por que não deu à luz uma jabuticaba, por exemplo? — Mas o universo, digo as estrelas, galáxias e planetas, e mesmo a vida, só surgiu muito tempo depois. — Uma grande explosão guiada pelas leis da natureza acabou por criar estrelas e planetas... — Ainda não entendi. — Bem, a questão central é: porque o big bang deu à luz um universo e não uma jabuticaba. A teoria dos infinitos universos paralelos não explica por que são infinitos universos paralelos e não infinitas jabuticabas paralelas. Essa questão de


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infinitos universos paralelos é uma grande paranoia coletiva criada pelos cientistas de matriz ateísta para salvar seus paradigmas de iminente naufrágio. Percebe, meu caro Watson? — Não, não percebo. Esse argumento tenta ser interessante, Holmes, mas pode ser ingênuo para quem sabe um pouco sobre a ciência do cosmos. Veja que tudo dependeu de um processo de bilhões e bilhões de anos. Quando você diz que o big bang criou o universo, parece que tudo estava pronto, mas não é assim. Eram elementos primitivos: gás e partículas que, um dia, combinados num processo imensurável, vieram a gerar a Terra e os seres humanos. Tudo precisou de uma plataforma específica para existir, mas isso não é bom ou mau; é apenas como é, e talvez o que se possa destacar é que o resultado biológico se deu por elementos que estavam no universo, como a água dos cometas. O que estou dizendo é que essa argumentação pode ser ingênua e superficial; poderia repensá-la. Sherlock Holmes descansou os olhos muito lúcidos sobre mim e exclamou, depois de longa pausa: — Watson, a ciência já não aceita o argumento de que “algo apenas é como é”. O principal papel da ciência é buscar explicação para as coisas existentes. Fez nova pausa. — Por que o big bang deu à luz um universo? — disse ele com cara de perplexidade. — Por que do big bang não surgiu uma jabuticaba, um grão de areia, uma rocha? Entendeu agora, Watson? Sente-se — disse ele. — Faremos uma viagem imaginária ao nosso big bang. Sentei-me.


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— Estamos a 13,7 bilhões de anos no passado, e à nossa frente vemos uma enorme explosão. Olhe para ela, Watson! O que você vê? — O caos total. — Ilusão, Watson. Essas partículas em movimento que você chama de caos estão sendo guiadas. — Guiadas? — Guiadas pelas leis da natureza, que se encarregarão de criar estrelas, planetas, mares, vegetação, animais e, finalmente, depois de 13,7 bilhões de anos, vai criar o homem. — Entendi o que você quer dizer, Homes. Hoje, ao olharmos para trás, parece natural que estejamos aqui, mas se pudéssemos

imaginar

a

grande

explosão

e

saber

antecipadamente que ela será guiada necessariamente a criar vida inteligente, pareceria realmente um grande mistério ou milagre que tudo isso viesse a acontecer. Ele fez que sim. — Você não acredita em universos paralelos? — perguntei, querendo parecer casual. — Acredito, claro! Da mesma forma que existe um universo, por que não poderia haver dois, três ou bilhões deles? Até, quem sabe, infinitos universos paralelos. Mas isso não explica porque eles existem. Na verdade, se já é difícil explicar como um único universo venceu a batalha contra o nada, fica infinitamente mais complexo explicar como surgiram infinitos universos em vez de infinitas jabuticabas. — É verdade! Você tem razão.


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Eu esperei que ele dissesse “eu sempre tenho razão, Watson”. Mas acho que ele leu isso em minha fisionomia. Seus olhos pediam desculpas, mas um sorriso conflituoso quase imperceptível brotava no canto de sua boca. — E a consciência? O que acha que ela é, Holmes? — Outro grande mistério, Watson. Por sua própria natureza, a consciência não possui forma, substância, cor ou massa. Não pode ser cientificamente quantificável.12 Portanto, a consciência não pode ser um objeto de estudo científico. — A consciência não pode ser objeto de estudo das ciências cartesianas, você quer dizer. — Sim. — Insólito, você não acha? Sabemos que a consciência existe, tendo em vista que cada um de nós é uma consciência, mas não pode ser objeto de estudo das ciências cartesianas. Trocando em miúdos, sob uma perspectiva material e reducionista, a consciência não existiria. — Exatamente, Watson. A consciência não existe para a ciência cartesiana. E precisamos perguntar em que momento nasce a consciência. Se em uma escala de 0 a 100 um adulto fosse representado por 100 de consciência, quanto teria uma criança de 5 anos? Um bebê de 1 ano? Um feto em gestação? Um chimpanzé teria 70? Um cachorro e um gato teriam 50? Uma mosca 0,1? Ou haveria uma fronteira de desenvolvimento na qual a consciência de repente desabrocha como um combustível

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The Monk and the Philosopher, Jean-François e Matthieu Ricard, ISBN: 0805211039: 44.


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que acende a certa temperatura? Mas se assim for, por que não identificamos esse momento?13 Como observar uma consciência se ela não tem massa nem dimensões? Se for um tipo de energia, qual a fonte que produz a energia que forma a consciência? Eu posso experimentar a minha consciência, mas não posso experimentar a consciência alheia. Que proprietário de cão estaria preparado para negar que seu animal possui uma mente consciente? Se lanço uma pedra em direção a um lago, sei que vai afundar na água, mas se lanço um pássaro, para onde vai a ave? A pedra não é dotada de livre-arbítrio; a vida sim. Sabemos que o pássaro tem certo grau de consciência, uma vez que ele não se deixará cair na água. A singularidade do big bang e a consciência representam, hoje, os limites da ciência. — E sobre vida após a morte, Holmes? Você acha que exist... — Amor, acorda. O despertador está tocando faz um tempão! — O quê? O que foi? — O despertador do seu celular! É hora de você levantar. — Nossa, eu estava engolfado em um sonho tão real! — Devia estar mesmo. Você não acordava. Chamei você várias vezes. Bati em suas costas. Antes que eu esqueça, seu pai queria falar com você ontem à noite, mas como você estava cansado e dormindo. Ele disse que viria hoje cedo. E se eu o conheço bem, já deve estar aguardando por você.

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God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 75.


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— Certo. Preciso tomar um banho rápido, tenho pouco tempo. Minutos depois. — Bom-dia, papai! Chegou cedo. Raquel disse que você queria falar comigo.


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O Neto (Um dia antes) Há anos em que o verão tem sido de temperaturas escaldantes na cidade. Em sua violenta batalha contra a chegada do outono, o verão ataca com tempestades vigorosas e ventos trovejantes, reivindicando algum direito de continuar sendo o mestre flamejante das estações, indesejoso de abandonar sem luta o domínio conquistado. No auge do verão, quando as nuvens intervêm abrindo o chuveiro do céu, quase se pode ouvir um suspiro de alívio das pessoas a erguer-se em uníssono. Este ano, no entanto, o esforço do verão foi em vão. Ele simplesmente se retirou como um guerreiro derrotado, partindo cabisbaixo, feito um andarilho esfarrapado, sem expressão de reclamação ou promessa de retorno. Não era possível perceber a mudança de estação em progresso. O dia era agradável e nasceu radiante. A manhã estava límpida, ar fresco e agradável. Algumas nuvens começaram a se formar no horizonte, ainda não ameaçadoras, mas um prenúncio de que algo estava por vir. — Vovô, se toda fogueira se apaga, por que o Sol não se apaga? Jesus, que assunto! — pensou vovô enquanto acariciava o cabelo do curioso netinho.


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— Você não teria outra pergunta, Pedrinho? — Tenho, vovô. — E qual seria? — Se a gente precisa de fósforo para acender uma fogueira, quem deu início ao fogo do Sol, vovô? — Oh! Que má sorte! — Quem, vovô? — Nada, não. O vovô só está falando sozinho. Não deixou o vô respirar e lançou outra: — E Deus, vovô? A mãe do meu amigo disse que Deus é invisível. Se ninguém nunca viu Deus, como saber se ele existe de verdade? — Jesus! Você não para de surpreender. É uma maquininha de curiosidade.


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O Filho (Hoje) — Bom dia, filho! Sabe que adoro ver o Sol, seu brilho da manhã. — O que aconteceu, papai? Pedrinho está te dando muito trabalho? — Para que servem os avós, não é mesmo? Vovô fez uma pausa, desejando observar a reação do filho. Apesar de ter quase quarenta anos, Maximiliano Antônio Rohden, o Max, parecia ser anos mais moço. Os cabelos pretos e ondulados não tinham nem indícios de fios grisalhos. Não havia rugas em seu rosto. — Seu filho, meu neto — disse Vovô com um leve sorriso. — Meu filho? O que tem ele, papai? Aconteceu alguma coisa com Pedrinho ontem? — Acho que sim. — Não me assuste, papai. Do que se trata. Fale logo! — Essas crianças de hoje em dia fazem cada pergunta. — Ah! É isso! Vejo que você caiu nas redes do Pedrinho de novo.


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— Pedrinho é uma pessoinha radiante. Passei uma vida inteira… hoje estou velho e nunca me ocorreu pensar por que o Sol não se apaga. E seu filho de seis anos vem com essas perguntas, se toda fogueira se apaga, por que o Sol não se apaga? Os dois riram. — O que você respondeu, papai? — Sou otimista, filho. — E funcionou? — Como a maioria das coisas que são feitas para durar, a confiança é um processo. Você deve estar sempre preparado para defender seu ponto de vista. Max sorriu abertamente. — Não enrola, papai. O que você respondeu ao Pedrinho? — E o que você acha que eu poderia responder? — Sua voz soou rouca e embargada. — Pa-pa-i?! — Tinha a sensação de estar desenvolvendo uma consciência nova, algo que não sabia bem o que era ainda. A situação havia atiçado a curiosidade de Max, que questionou, agora mais pausadamente e meio sorrindo, pela terceira vez: — Papai, o que você respondeu? — Sinto muito — disse em um sussurro quase inaudível. Seus olhos pediam desculpas e, relutando em revelar maiores detalhes, continuou: — Tive que embromar o Pedrinho. Eu não quis entrar na conversa. Me senti como um tolo. Depois acabei ficando


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envergonhado. — À medida que falava, o pai de Max sentiu-se libertar das amarras que o prendiam ao embaraço. Apesar de Max estar um pouco transtornado, meio que se divertia com a questão, mas percebendo que seu pai lutava para superar as emoções, decidiu ajudá-lo. Sabia quão surpreendentes poderiam ser as perguntas de Pedrinho. — Papai, você é uma pessoa que acende suas próprias tochas — disse Max, finalmente, para animar seu velho pai. Essas palavras fizeram um raio de luz atravessar pelos olhos do ancião, que sorriu. Este é um daqueles momentos raros e preciosos — pensou Max… — que nos pegam de surpresa e quase tiram nosso fôlego. Max e seu pai sorriram juntos. — E o que faremos agora, papai? — Você me explica por que o Sol não se apaga, que eu trato de corrigir minhas próprias bobagens. Risos. Os olhos de Max marejaram. Seu filho crescia em tamanho e sabedoria, e seu pai, apesar da idade, continuava querendo aprender. — Entendo. Vamos lá! Eis a explicação de por que o Sol não se apaga: No exato momento em que dois prótons e dois nêutrons se combinaram no interior do Sol para formar o núcleo do hélio, eles queimam 0,7% de sua massa no processo de fusão nuclear, transformando a fusão em energia. A massa do núcleo do hélio, portanto, corresponde a 99,3% da massa combinada dos dois prótons e dois nêutrons. É esse processo que faz com que o Sol e todas as estrelas brilhem por muitas eras.


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O pai de Max ergueu as mãos como se pedisse uma trégua. Seus modos eram suaves como uma pluma. Ele inclinouse um pouco para a frente, na direção de Max, como se quisesse compartilhar um segredo, antes de continuar. — Certo. Agora traduza para um idioma que eu conheça, filho. Se você quiser, pode escolher português; por mim está tudo bem. Risos. — O Sol utiliza energia nuclear, papai. A mesma utilizada para construir bombas atômicas. — Agora foi simples entender. Max sorri, balançando a cabeça com bondade. — Eu imaginei que o Sol pudesse ser feito de carvão — comentou o pai. — Não. Se o Sol fosse composto de carvão, já teria desaparecido. — E quanto tempo duraria um Sol de carvão? — Segundo um cálculo, me parece do século 19, se o Sol fosse composto de carvão, duraria cerca de 5 mil anos. — Que diz! — exclamou com insofreável espanto. — Tão pouco tempo? E quanto tempo tem o sol? — Cinco bilhões de anos, papai. — Cinco bilhões… é muito tempo! E quem botou fogo no Sol, Max? — pergunta seu pai. — E não me olhe com essa cara, Max. Essa é outra das perguntas de seu filho!


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— Ninguém especificamente, papai. Trata-se de um processo natural. Se você arrastar uma barra de ferro sobre o asfalto, o que acontece? — Vemos faíscas. — Exato! O processo no Sol é o mesmo. Os átomos de hidrogênio estão em choque contínuo no Sol. Esse processo começou e mantém a “fogueira” do Sol acessa. — Max, eu ouvi dizer que a energia nuclear é a mais eficiente do universo. É verdade? — Sim. O que podemos chamar de eficiência no processo é 0,7% de queima de energia, uma cifra muito baixa. E graças a essa eficiência, as estrelas podem brilhar por muito e muito tempo. Caso o grau de eficiência fosse menor, que precisasse queimar 0,69% em vez dos 0,70%, a força de união dos prótons seria maior e se uniriam sozinhos sem os nêutrons. Nesse caso, todo o hidrogênio teria sido transformado em hélio no primeiro segundo de existência do cosmos. Entender toda a implicação desse fenômeno é um pouco complicado, mas o Sol provavelmente não teria surgido, ou se surgisse, queimaria mais rápido e não haveria tempo para a Terra produzir seres complexos. Não haveria tempo para produzir pessoas, seres como nós. — E por que o cosmos escolheu a energia mais eficiente do universo para alimentar as estrelas? — Parece que você está aprendendo com o Pedrinho, hein, papai. Há muitas perguntas que mesmo os cientistas mais proeminentes não saberiam responder. Como surgiu o primeiro


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ser vivo? Como a consciência aflorou? Qual a origem das leis da natureza? A lista é longa. — Então ninguém sabe o motivo pelo qual a energia das estrelas é nuclear e não carvão, por exemplo? — Mais ou menos isso. É meio complicado. As leis poderiam ser diferentes, mas se fossem, nós não existiríamos. — Certo, acho que entendi o suficiente para explicar isso para meu neto. Se eu não conseguir, você me ajuda depois. Ah, mas há outra pergunta. Ele quer saber o seguinte: se Deus é invisível, como saber se ele existe realmente? — Nós já falamos sobre isso em outro momento, papai. As leis da natureza são invisíveis, mas sabemos que existem. A consciência não é visível nem palpável, não tem massa, peso, dimensão. As ondas de rádio são invisíveis, o ar é invisível. A lista é longa. — Eu sei, filho, mas não consegui entender muito bem. Perdoe este velho gagá. — Certo, vamos rever rapidamente uma das teorias sobre a existência de um Agente Criador, um Arquiteto do Universo. Vou explicar por que acredito que o conjunto de raciocínios válidos defendidos pela matriz teísta é mais convincente que aqueles defendidos pelo paradigma da matriz ateísta. — Poderia me esclarecer mais uma vez sobre esses raciocínios válidos? — Os argumentos lógicos se formam a partir da relação de causa e efeito. — Até aí eu entendo. Continue.


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— Primeiro argumento lógico: o universo surgiu de uma explosão aparentemente caótica. No entanto, o processo foi guiado por misteriosas leis que organizaram os átomos de forma que se produzisse o cérebro humano, capaz de pensar e questionar suas próprias origens. — Não entendi essa última parte, filho. — Nosso cérebro é formado de átomos, que formam moléculas, que formam o tecido do cérebro, certo? — Sim. Continue. — Se nosso cérebro é formado de átomos e nos questionamos sobre a origem dos átomos... — Ah, entendi. Os átomos se questionam sobre sua própria origem, uma vez que nosso cérebro é feito de átomos. — Sim — responde Max. — Continue, filho. — Por que existem leis da natureza, papai? — Boa pergunta. — Qual a fonte das leis? — Seria redundante se eu dissesse que também é uma boa pergunta, filho. — Se leis governam o universo, quem ou o que as governa? Por que as leis estão maravilhosamente balanceadas para produzir vida inteligente? Agora considere em que poderá se transformar a mente humana daqui a milhões de anos, no futuro. Em que poderá transformar-se? — Não dá nem para imaginar, filho.


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— Segundo argumento lógico: Se nenhum elemento físico pode surgir de si mesmo, então o universo não pode ter surgido de si mesmo. Terceiro argumento lógico: assim como existem leis, poderia não haver Lei alguma, e o caos reinaria. A vida não existiria. Quarto argumento lógico: em nosso universo, as leis estão balanceadas para a vida. — Estou entendendo. Continue, filho. — Quinto argumento lógico: o infinito é um conceito matemático; não pode manifestar-se fisicamente. Logo, o universo, que é físico, não pode ser de natureza infinita. Em outros termos, o multiverso, ou conjunto de universos possíveis, se o multiverso existir, não pode ser infinito. — Isso do infinito me dá um nó na cabeça. — Certo. Imagine um trem infinito. — Imaginei. — Impossível imaginá-lo. Pois qualquer trem precisa de uma locomotiva para puxá-lo. E se há uma primeira locomotiva, há um começo. Se há começo, então, o trem não pode ser infinito. — Bom exemplo. Tem outro? — Muitos. — Só mais um. — Imagine uma engrenagem infinita. — Certo, continue. — Uma engrenagem não pode mover-se se não houver uma primeira roda dentada. Se há uma primeira roda dentada, há começo. Logo, não há engrenagem infinita.


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— E onde entra o multiverso na história? — Os olhos do velho pai se tornaram de um aspecto tão curioso que motivava Max a querer ficar ali por horas. — Para que um único universo surja, é preciso que haja um primeiro universo. Se há um primeiro universo, há um começo. Se há um começo, o multiverso não pode ser infinito. — Creio que entendi. — Mas há um raciocínio lógico que quero destacar. Se nada físico pode dar origem a si mesmo, a origem do universo precisa estar em um plano extrafísico, onde tem que haver algo que possa dar origem a si mesmo e ao universo. Descartando o impossível, o que sobra sendo, ou não improvável deve ser a verdade:14 Vamos ver se fui claro o bastante, pode resumir o que eu disse, papai? — Certo. Vou tentar. O universo surgiu de uma explosão caótica, mas que no final acabou produzindo seres inteligentes, nós. O universo, sendo físico, e tendo que obedecer a leis físicas, não pode ter surgido de si mesmo. Assim como existem leis, poderia não existir Lei alguma. As leis estão balanceadas para criar a vida. O infinito não é um conceito físico, logo o universo não pode ser infinito. E como nada físico pode dar origem a si mesmo, a origem do universo precisa estar no extrafísico, mesmo que pareça improvável… Eu não entendi bem essa parte.

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Sherlock Holmes, citado em The Sign of the Four, Arthur Conan Doyle, ISBN: 9781492334897: 36.


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— Mesmo que pareça impossível, o que sobra, mesmo sendo improvável, deve ser a verdade. Uma realidade além da compreensão de nossa física. — Não é aquele personagem de Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes, quem dizia isso? Essa relação entre o impossível e o provável? — Sim. E muito bem, papai. Esses argumentos sustentam a tese para a existência de um Agente Criador. Logo, Deus ou algo equivalente deve existir. — E qual a origem de Deus, meu filho? — Não sei, papai. Mas não preciso conhecer a origem de um perfume para saber que ele existe. Basta senti-lo. Não sabemos qual a fonte das leis da natureza, mas sabemos que as leis existem. Sentimos isso quando deixamos cair um copo. Papai, o maior problema do pensamento de matriz ateísta é conseguir explicar como o mundo surgiu do nada e por que as coisas são como são, ou seja, por que as leis parecem estar finamente balanceadas para a vida. Nesse jogo, ninguém tem todas as respostas, mas é preciso escolher um lado, e eu escolhi o lado dos melhores argumentos, papai. Esses argumentos a que me refiro não explicam tudo, mas são mais completos e possuem menos rejeição lógica. Agora tenho que ir! — Espera! Como eu explico isso, sobre Deus, ao Pedrinho? Max sorri e dá de ombros. — Isso o senhor que tem que resolver. Me parece preparado para enfrentar o pequeno curioso. Vá em frente!


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A Amiga Isaura — Max, se Deus existisse, seria possível explicá-lo cientificamente? — pergunta Isaura. — Em parte, talvez. Recentemente a ciência tem realizado importantes descobertas que estão alterando dramaticamente a perspectiva que os cientistas mais inovadores têm do universo. A física, a astronomia, a biologia e a matemática têm demonstrado que seria impossível uma explosão aparentemente caótica, o big bang, evoluir a ponto de formar seres humanos, sem que haja explicação racional. — Continue — diz Isaura. — Antes de Einstein, os cientistas de matriz ateísta acreditavam que o universo seria eterno, então, haveria uma quantidade infinita de ”tentativas cósmicas” que produziria qualquer grau profundo de complexidade, desde estrelas até o cérebro humano. A ideia é que no contexto do infinito tudo seja possível. — Mas como o universo não é eterno… — completou Isaura.


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— Sim. A cosmologia do big bang demoliu a teoria de interpretação ateísta: o universo não é eterno e, portanto, não haveria tentativas infinitas, e a vida humana não surgiria. — O que fazer? — quis saber Isaura. — O paradigma ateísta precisaria de um novo fôlego, já que a solução não era singular: universo infinito. Eventualmente, poderia estar no plural: universos infinitos. A solução estaria em um simples jogo de palavras e nuances: de universo infinito para infinitos universos. Foi desse cenário que brotou a teoria dos muitos mundos, ou múltiplos universos paralelos, o multiverso. Percebe? — Sim, é incrível — concordou Isaura. — A solução era simples, uma vez que o infinito não exige explicação. No entanto, havia um problema: O infinito não poderia transcender o domínio eficaz das equações matemáticas. O infinito, ao pular do mundo abstrato da matemática para um mundo físico de matéria sólida, produziria um grande curtocircuito. — Como assim? — perguntou Isaura. Sua expressão era de uma confusão divertida. — Vejamos alguns exemplos. Quanto é infinito menos 1? Isaura demorou um momento para responder: — Infinito. — Infinito menos um milhão, um bilhão? — Infinito — disse ela serenamente. — Infinito dividido por infinito? — Infinito.


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— Qualquer que seja a operação algébrica envolvendo infinito — continuou Max, — haverá curto-circuito lógico. E mais: as pessoas têm intuitivamente a ideia de que o infinito é número inimaginavelmente grande ou pequeno. Errado. Vejamos o caso do pi, por exemplo: jamais será menor que 3,14 ou maior que 3,15. Outro exemplo: Supondo que pudesse haver uma engrenagem infinita, seria preciso que houvesse uma primeira roda dentada para pôr as outras engrenagens em funcionamento. Portanto é impossível uma engrenagem infinita. Um trem infinito precisaria de uma primeira locomotiva que pusesse os vagões em movimento. — E o mesmo se aplicaria ao multiverso — reconhece Isaura. — Sem um primeiro universo, não poderia haver um multiverso. Logo, o multiverso precisa ter começo, o que exige uma causa que não pode ficar sem explicação. Só que parece haver um problema aí. — E qual seria? — tornou Max. — O pi não é infinito; apenas possui um número infinito de casas — respondeu Isaura. — Precisamente — voltou Max. — É isso que eu quero dizer. Mesmo tendo uma propriedade infinita, o número de casas, o pi propriamente dito, não é infinito. Ter uma propriedade infinita é diferente de ter infinitas propriedades. Por outro lado, pi tem início. Percebe? — Sim. Começa no 3. Silêncio.


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— Deixe-me ver se entendi bem — diz Isaura. — Você apresentou razões para justificar que a concepção do multiverso infinito é falsa. Primeiro, o infinito é um conceito puramente matemático. Segundo, você demonstra pelos exemplos da engrenagem e do trem supostamente infinitos que eles precisariam de um primeiro elemento que ponha a coisa toda em funcionamento, e que o mesmo ocorre com o multiverso. Logo, o multiverso não poderia ser infinito. Precisaria de um começo. É isso? — Precisamente! — concordou Max. — Ou seja, uma entidade matemática, como uma linha infinita, é uma entidade possível, uma vez que se trata de entidade abstrata. Já uma engrenagem ou um trem infinitos criariam um curto-circuito lógico, uma vez que o movimento exige um elemento que coloque o sistema todo em funcionamento. É isso? — pergunta Isaura. — Isso mesmo. Você pegou bem a questão. O mundo físico possui uma propriedade física chamada movimento. Já o mundo abstrato da matemática não possui propriedades físicas. E o infinito é um conceito abstrato, sendo nada mais que uma sucessão contínua de conceitos numéricos positivos ou negativos. Nada mais. Só diz respeito a números e conceitos, não a coisas físicas. — Entendo — disse Isaura. — Mas e quanto a uma entidade supostamente divina, Deus. Se o universo não pode ter surgido do nada, nem o multiverso pode ser infinito, Deus pode ter vindo do nada ou ser infinito? Ou seja, a mesma restrição não se aplicaria a Deus?


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— Vou falar sobre isso — respondeu Max, — mas antes vamos voltar à questão do infinito de outro ângulo. Apenas por um minuto, imagine que o paradigma ateísta esteja certo, que não exista nenhum curto-circuito no infinito físico e que tudo seja possível no contexto do infinito. — Sim, continue — pediu Isaura. — Agora veja o problema: o infinito não pode ser, ao mesmo tempo, uma coisa e seu contrário. Se o pano de fundo do infinito é jogar o jogo do acaso e permitir que tudo seja possível, não pode, ao mesmo tempo, afirmar que tudo é possível e no momento seguinte proibir a existência de Deus. Percebe? Se tudo é possível, Deus teria que ser possível. — Não sei se entendi bem. — Isaura passou uma das mãos pelo cabelo e completou: — Vejamos. O multiverso infinito não é possível, mas se fosse, já que tudo é possível no contexto do infinito, teria que acolher a existência de Deus como sendo possível. Se não o fizer, estaria se contradizendo. — Sim, Deus, como tudo, teria que participar do jogo cósmico. Agora voltemos à questão da origem, do pai e da mãe de Deus. Se o universo ou multiverso é tudo que existe... — Tá, mas você não acabou de dizer que o multiverso não existe? — interrompeu Isaura. — Eu falei que o multiverso "infinito” não existe. Mas assim como existem trilhões de estrelas, pode muito bem haver trilhões de universos. — Certo — disse Isaura, os olhos vivamente brilhantes.


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— O multiverso, sendo físico, não pode ser causa de si mesmo, causa sui. Em linguagem filosófica, diríamos que a causa do multiverso é metafísica, tem que estar fora do multiverso. — E você vai dizer que a única coisa que pode estar fora do universo é Deus — contesta Isaura. — Exato. E é aqui que entra a causa ou origem de Deus. — Ficou interessante — diz Isaura com um sorriso. — Acontece que a ”causa” é uma propriedade do tempo. Se não houver tempo, não haverá causa. — Explique isso melhor. Pode dar um exemplo? — pede Isaura. Max franziu o cenho e pensou por um momento. — Claro. Se você construir uma máquina do tempo e voltar ao ano 180015, você estará vivendo em uma época em que seus pais ainda não nasceram, mas você existe. Se a viagem no tempo for possível, como os físicos afirmam, então Deus não precisaria ter pais ou origem. Percebe? — Já o universo precisa de uma causa, pois está conectado ao tempo. — Precisamente — concordou Max. — É, a lógica fala por si mesma — assentiu Isaura. — E vida depois da morte, existe? — Vida após a morte é uma questão ponderada por filósofos, cientistas, intelectuais e devotos desde a aurora dos tempos. Enquanto os religiosos argumentam que a vida na Terra é um mero aquecimento para a vida no além, e muitos cientistas

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dissipariam o conceito por falta de provas, um cientista clama ter evidências definitivas para confirmar de uma vez por todas que existe vida após a morte. Trata-se do Dr. Robert Paul Lanza, M.D., renomado médico e cientista, o criador da teoria do biocentrismo, que surpreendeu ao propor que a morte não existe. De acordo com sua tese, todos os conhecimentos que a humanidade adquiriu formam uma nova teoria do universo. Nessa perspectiva, ele acredita que a morte é uma ilusão, pois a vida cria o universo e não o contrário. — Continue — incentiva Isaura. —

Se

verdadeiro,

o

biocentrismo

será

uma

revolucionária nova visão do universo. O Dr. Lanza diz que o biocentrismo explica que o universo só existe por causa da consciência – essencialmente vida e biologia são fundamentais para a realidade, que, por sua vez, criam o universo; o universo em si não criaria vida. O mesmo se aplica aos conceitos de espaço e tempo, que o Dr. Lanza descreve como "meros instrumentos da mente". — Parece muito complicado — objeta Isaura. — A vida cria o universo? Defina isso melhor. — O que parece muito complicado é resumido de forma simples por ele: a morte, de acordo com a interpretação do biocentrismo, é apenas uma ilusão de nossa consciência. De acordo com o Dr. Lanza, é nossa consciência quem dá vida ao corpo biológico. As evidências para a teoria — embora controversa — estariam em experimentos de física quântica realizados pelo Dr. Lanza e sua equipe.


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— E o que existe, isto é, o que são esses experimentos? — Nos

experimentos

quânticos

em

questão,

é

demonstrado que a matéria e a energia se revelam com características de partículas ou ondas na percepção ou consciência de uma pessoa. Por conta disso, Lanza crê que a morte não tem nenhum sentido real. — E existem cientistas importantes que apoiam as ideias dele? — Há um experimento mental, antigo, de 1935, chamado Gato de Schrödinger, que produziu algumas interpretações, e uma delas pode conduzir a resultados parecidos com o biocentrismo do Dr. Lanza. Isaura ficou sem entender muito bem. Mas percebeu que as informações que havia recebido já seriam suficientes para um bom tempo de reflexão. — A explosão dessas ideias — disse Max — que se entrechocam e se autoanulam é um sinal positivo. Sugere que a única explicação capaz de parar de pé, sem provocar contradições

nem

ferir

a

lógica

mais

elementar,

é

desconcertantemente simples: existe um Arquiteto, uma Consciência Cósmica, um Deus metafísico e incausado. E, como diria Sherlock Holmes, uma vez eliminado o impossível, aquilo que permanece, ainda que improvável, deve ser a verdade.


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O Amigo Guilherme Um dos melhores amigos do professor Maximiliano sentava-se à sua frente, completamente entregue a uma antiga e aprazível poltrona de braços que Max recebeu de presente de seu pai, que herdara do pai dele. Já fazia uma hora que ambos conversavam, indo de assunto em assunto. Embora fossem muito diferentes, Max sentia grande prazer em conversar com Guilherme, dada a natureza racional e pouco preconceituosa de seu amigo. A conversa deles finalmente chegou à muralha colossal que impede a ciência de explorar a origem do universo e do mundo, a um possível agente criador, à singularidade e à questão do infinito. — Max, e a questão dos infinitos universos paralelos, que chamam de multiverso? Existem mesmo milhares de outros mundos? Que loucura é essa? Outro dia ouvi um cientista em um programa na TV, chamado Brian Greene, afirmando que certamente há uma cópia de mim em um universo paralelo. O que você diz sobre isso? Mais parece ficção científica, não? — Boa pergunta. Se você está questionando se acredito em universos paralelos, minha resposta é sim. Seria difícil poder explicar racionalmente que nosso big bang tenha surgido com


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uma etiqueta: “sou único”. Mas não acredito que o multiverso seja infinito. Sobre achar que é ficção científica, ou seja, um exagero da imaginação, pense que se alguém no século 19 afirmasse que um dia chegaríamos à Lua, pareceria mera ficção científica para todo cidadão comum daquela época. — Mas então me explique... — Antes preciso explicar como surgiu essa ideia do multiverso. — Certo. — Recentemente, a ciência tem realizado descobertas impressionantes que revelam precisão e complexidade no universo. Tente imaginar a grande explosão que chamamos de big bang. — Sim, tenho isso em mente. — Agora considere como uma grande explosão aparentemente caótica evoluiu de forma absolutamente organizada, formando átomos de hidrogênio e hélio, que formaram estrelas e galáxias, que formaram planetas, e um deles, a Terra, formou mares e montanhas, árvores animais e vida inteligente. Pense nisso. Como uma explosão caótica se transforma em vida? A chance de essa cadeia de eventos ter ocorrido por via do acaso é extremamente remota. A questão é, como pode um único evento primordial criar bilhões de galáxias, buracos negros, estrelas e planetas? Como os átomos se transformaram – aqui na Terra e talvez em outros lugares do cosmos – em seres viventes avançados o suficiente para questionar sua própria origem e objetivos?


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— Nossa, é mesmo! Sabe que nunca havia pensado desse ângulo. — Numerosas evidências indicam que o universo precisa ser exatamente como é, se não sua existência e, especialmente a vida que nele se encontra, não seriam possíveis. Veja o seguinte, a quantidade de átomos existente no universo é da ordem de 1080 átomos. Roger Penrose, matemático e

físico

da

Universidade

de

Oxford

combinou

as

improbabilidades do universo, fez as contas e descobriu que a precisão necessária para que o universo seja amigável à vida é da ordem de 1 contra 1010(123). Essa é uma probabilidade extremamente diminuta. Se tentássemos, por exemplo, escrever esse número marcando um zero em cada átomo existente no universo, 1080, faltariam átomos logo ao iniciarmos o processo. — Nossa, Max, esse número é tão extraordinário que não dá nem para imaginar. — Mas para nos ajudar a imaginar, o astrônomo Hugh Ross dá um exemplo para enfatizar como a situação é extraordinária, comparando-a a um avião Boeing 747 sendo totalmente montado em consequência de um furacão que atingisse um depósito de ferro velho. — Inacreditável! Parece mesmo que as leis da natureza estão balanceadas para fabricar a vida. — Exato! Veja outro exemplo. A massa do elétron é de 0,000000000000000000000000000000911kg. Você já deve imaginar o que aconteceria se a massa fosse …910 ou 912. — Seria uma catástrofe para o universo. — Precisamente!


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Outro exemplo: se não houvesse algo como a gravidade, que atrai e reúne a matéria, nunca teríamos estrelas, não teríamos planetas onde os organismos complexos pudessem se desenvolver. Não haveria oxigênio na Terra, que se perderia pelo espaço. Se não houvesse a força de interação nuclear forte, não haveria nada que mantivesse unidos os prótons e nêutrons no núcleo. Assim, não haveria átomos, não haveria química, não haveria vida. Se não houvesse a força eletromagnética, não haveria os enlaces químicos entre os elementos, não haveria fóton, não haveria a luz. E a lista segue. Necessitamos que todos esses princípios fundamentais não apenas existam, mas estejam estritamente balanceados para que produzam vida. Elimine um desses princípios, elimine uma dessas leis e não haverá vida no universo. Talvez não haja sequer universo. A vida também depende de forças precisas e valores relativos de muitas constantes físicas diferentes e balanceadas entre si. Um exemplo de balanceamento é a força da gravidade, que mencionamos há pouco. Imagine uma linha imaginária dividida em incrementos de um centímetro e estendendo-se através de todo o Universo. Uma distância de muitos bilhões de anos luz. A linha-régua representa as possíveis variações da gravidade. Em outras palavras, a posição para a força da gravidade poderia estar em qualquer ponto da régua, mas não está em um lugar qualquer; está situada justamente no lugar exato para que a vida possa ser possível. Mas se pudéssemos mudar a força da gravidade, alterando sua posição em apenas um centímetro, o efeito para a vida seria devastador.


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Outro exemplo é a constante cosmológica universal. Ela descreve a velocidade de expansão do espaço no universo. Se o espaço se expande muito rapidamente, então o universo se expande tão rápido que os objetos materiais não poderiam se formar. Assim, não poderia haver estrelas, galáxias e planetas e os tipos de coisas que damos por assentadas em nosso universo. Essa precisão foi comparada a uma viagem de centenas de quilômetros no espaço, de lá lançar um dardo para a Terra e acertar o centro de um alvo de dardos. Esse alto grau de equilíbrio também está presente ao nível atômico. A interação nuclear forte mantém os átomos unidos. Se a intensidade dessa força diminuísse em uma parte de quatrilhões, o único elemento que existiria em todo o universo seria o hidrogênio. A vida física não seria possível. A conversa se aprofundava, e Guilherme comenta: — Pois é, sempre me pareceu peculiar que o elétron seja muito menor do que o próton e eles ainda assim tenham igual carga, embora oposta. — Exatamente. O equilíbrio das leis e forças físicas é tão preciso, que mesmo os teóricos mais esclarecidos não se sentem à vontade para invocar o acaso como explicação. Se juntássemos, por exemplo, vários quilogramas de macarrão de letras e jogássemos para cima, qual a chance de, ao caírem no chão, produzissem a obra de José de Alencar, O Guarani? — Dificilmente produziria um único parágrafo — responde Guilherme. — Da mesma forma, seria delírio acreditar que o universo possa ter surgido por acaso — completou Max.


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— Poderíamos pensar que o universo é algo que sempre existiu. Assim, não precisaríamos sair em busca da resposta — objetou Guilherme. — Exato! É aí que entra a história do multiverso, que você me perguntou anteriormente. O nosso universo não poderia vir do nada. Deus não poderia vir do nada. A sugestão do multiverso é uma tentativa de explicação, pelos cientistas de matriz ateísta, de como o universo foi bem balanceado e ajustado para a vida. — Explique. — Antes de Einstein, acreditava-se que o universo existia desde sempre, dentro de um espaço infinito e contendo quantidade infinita de matéria inter-relacionando-se. Dessa forma, haveria uma quantidade infinita de tentativas cósmicas que produziria qualquer grau profundo de complexidade e ordem. — Como o cérebro humano. — Exato! Mas a cosmologia do big bang transformou inteiramente esses paradigmas científicos e reduziu o número de tentativas a um número relativamente pequeno quando comparado, por exemplo, ao número de Pen Rose (1010(123)). — Acho que estou começando a entender — concluiu Guilherme imperturbável. — Se houvesse somente um universo, então a conclusão do motivo por que o universo existe e parece bem equilibrado para sustentar a vida seria óbvia: Deus. Mas se nosso universo for apenas um de um conjunto infinito de universos, então haverá mais recursos para o multiverso jogar o


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jogo do acaso. Dessa forma, o multiverso confere um novo sopro de vida à teoria sugerida pelo paradigma de matriz ateísta. — Exato! O multiverso, ou teoria dos muitos mundos, propõe que nosso mundo não seja o único. Pelo contrário, seria parte integrante de um vasto e infinito aglomerado de universos, e cada um com um conjunto diferente de leis da física. — Agora entendi o porquê de alguns cientistas defenderem o multiverso com tanta determinação, embora não haja a mínima evidência. Ele, o multiverso, é uma válvula de escape e a única salvação da teoria ateia. — Sim. Para os cientistas – e são todos – está absolutamente claro que se a teoria do infinito estiver errada, restará apenas uma alternativa para explicar a origem do universo, e a explicação seria a existência de um Grande Arquiteto, uma Mente Infinita, um Superser. — Sim. — Mas há um problema: para ser uma alternativa viável, o multiverso do paradigma ateísta não pode conter apenas trilhões de universos. O multiverso precisa ser infinito. — Mas se o universo não pode vir do nada ou ser de alguma forma resultado do infinito, Deus poderia? — Essa é outra questão, que tem a ver com a metafísica, que podemos ver depois. Antes, no entanto, eu preciso demonstrar que o infinito físico é impossível, pois entra em curto-circuito lógico. — Mas antes de você entrar nessa questão, convém destacar que há cientistas, como Steven Hawking, que defendem que o universo pode simplesmente ter vindo do nada.


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— O problema com a tese do nada é que em termos científicos, diríamos que se não for adicionada energia a um sistema de zero energia, o sistema deve se manter em estado de energia zero. Portanto, não seria científico acreditar que o nada, ou um estado de zero energia, pudesse produzir algo. — Sei. Mas por que você escolheu o lado teísta? — Minha opinião tem a ver com a impossibilidade do infinito físico. Então resta apenas uma hipótese, a hipótese que defende a existência de um Arquiteto. — Certo. Mas por que você não acredita na teoria do infinito físico? — Não se trata de acreditar. Há um complicante: a teoria é inconsistente matematicamente. O multiverso infinito não poderia existir sob a ótica matemática. — E que complicante seria esse? — Um matemático alemão chamado David Hilbert — exclamou Max com suave ar de triunfo. — E desde quando um matemático pode ser uma complicação para a causa infinita do universo? Max sorri. — A barreira não é a pessoa do matemático, mas uma proibição natural destacada por ele. — E que proibição natural seria essa? — quis saber Guilherme. — Trata-se de uma proibição lógica. Veja só: Quanto é infinito menos um bilhão? — Infinito — responde Guilherme. — Infinito mais um trilhão?


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— Infinito. — Infinito multiplicado por um quintilhão? — Infinito. — Infinito mais infinito? — Infinito. — Nesse caso, — perguntou Max respeitoso — o que acontece quando você soma dois multiversos infinitos? — Passamos a ter apenas um único multiverso infinito — respondeu Guilherme em tom firme. — O que não faz sentido. — É verdade — concordou o amigo de Max. — David Hilbert dá outros exemplos. Imagine que exista um hotel com infinitos quartos lotado por infinitos hóspedes. O que acontece quando chega um novo hóspede? — O hóspede precisa procurar um hotel que não esteja lotado? — Se o hotel tem infinitos quartos, teoricamente, jamais lotaria — completa Max. — Certo. Entendi o complicante. O infinito é apenas um conceito matemático indefinido. — Exato. O infinito existe nas fórmulas matemáticas, mas quando transferido para o mundo físico, entra em curto-circuito. E como nada pode existir em curto-circuito, o infinito está proibido de manifestar-se no mundo físico. E esse fenômeno, o curto-circuito matemático, é conhecido como “proibição de Hilbert”.


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— Mas, então, por que existem cientistas proeminentes, como Steven Hawking e Brian Greene, que defendem a ideia do infinito? Eles não ouviram falar nesse curto-circuito? — Eles persistem em defender a ideia porque suas matrizes de pensamento são ateístas, e essa é a única válvula de escape para a matriz de pensamento ateísta. — Ou seja, eles viraram as costas para a proibição de Hilbert, para o curto-circuito matemático do multiverso. — Precisamente. No passado, antes de Einstein, quando os cientistas acreditavam que nosso universo era infinito, essa era a explicação clássica da matriz ateísta para a existência do mundo. Agora, como sabemos que nosso universo é finito, engendrou-se uma nova explicação de propriedades infinitas, o multiverso. — O multiverso salva a interpretação ateísta de mundo. Mas isso não é algo embaraçoso para explicar cientificamente, Max? Se não há a mínima evidência, é ficção científica! Então, por que acreditar em um multiverso infinito? Einstein, o que diria sobre isso? — Sobre o quê? — Sobre a questão do infinito. — Ah, sim. Na época de Einstein, os cientistas acreditavam que o “nosso” universo seria infinito. E estavam todos errados, pois hoje sabemos que o big bang representa o início de tudo que conhecemos. O que eles fizeram, então, os pensadores de matriz ateísta, foi mudar o foco. De universo infinito para infinitos universos. Percebeu o jogo de palavras? Apenas se mudou a qualificação do infinito.


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— Certo. Mas você não respondeu o que Einstein diria sobre a questão do infinito. — A princípio, Einstein não acreditava no big bang. Também achava que o universo seria infinito. E quando ele morreu, a teoria do multiverso ainda não havia tomado corpo. — Mas não há a mínima chance de esses caras estarem certos? Digo, é que não faz sentido pessoas inteligentes como Steven Hawking, por exemplo, Brian Greene e Max Tegmark, persistirem nisso conhecendo a existência desse curto-circuito matemático a que você se refere. Talvez eles saibam de algo que você não saiba ou tenham alguma evidência desse multiverso. Você não estaria sendo um tanto presunçoso? — Se eles souberem de algo importante, está mais que na hora de revelarem essa tal evidência. A verdade é que eles persistem com a ideia de que o universo é produto do infinito. E também é preciso questionar: será essa uma solução científica, já que não pode ser observada e tratada pelo método científico? — Ou seja, você vê o multiverso infinito como sendo um salto de fé tão grande quanto acreditar em Deus. E quanto à ideia de que o universo surgiu do vácuo quântico, defendida pelo físico Lawrence Krauss? — Trata-se da mais ingênua das ideias. — Por quê? Explique. — Seria profundamente complicado para a matriz ateísta conseguir justificar que o vácuo quântico esteve grávido do universo. — E não poderia?


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— Assim como poderia estar grávido de uma jabuticaba. Mas não, o vácuo quântico estava grávido, segundo Krauss, de um universo com leis balanceadas, matéria, energia, espaço e tempo. Precisamente tudo o que precisamos para tocarmos nossas vidas de humanos. — Certo! Suponhamos que exista realmente um Deus, ou um Arquiteto, como você prefere. Nesse caso, ainda existe um problema: qual seria a origem de Deus? Risos. — Não tenho como te responder a essa pergunta de forma integral, mas há uma resposta parcial para a questão. Vejamos: Imagine que você construa uma máquina do tempo e viaje ao ano 1800. Seus pais, no entanto, ainda não nasceram. Percebe que, ao viajar no tempo, você acaba de romper a cadeia causa-efeito e o problema da origem? A causalidade, a origem, é uma propriedade do mundo físico, e o tempo é um elemento físico. Veja o seguinte caso. O número quatro existe, é real? — Sim. Não se pode negar que o número quatro existe. Trata-se de uma entidade matemática, portanto, real, existente. — Exato. Os entes matemáticos existem e são reais. Mas não podemos aplicar a eles conceitos físicos, como origem, tempo ou massa. Não cabe perguntar qual a origem do número quatro, onde está o quatro, ou quanto pesa. No entanto, ainda assim, sabemos que tal entidade matemática existe. O que eu quero dizer é que a realidade é complexa e se estende além dos elementos físicos. Podemos compará-la a uma cebola. A realidade possui várias camadas.


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— Entendi. Mas você não estaria forçando um pouco a explicação? — Se não temos uma explicação, estamos livres para conjecturar. E é isso que estamos fazendo. Conjecturas. — Mas, Max, o que alimenta o fato de você pensar que possa existir algo além do mundo físico, como um Deus? — Há o argumento da fisicalidade, que sugere que a origem do universo não pode ser física. — Explique — disse Guilherme com voz firme, porém suave. — Certo. Se o universo representa tudo o que existe fisicamente... Uma causa física requer uma explicação física. No entanto, uma causa física seria parte do próprio universo a ser explicado. Dessa forma, uma causa física ou natural estaria condenada à circularidade. — Ou seja, uma causa física também entra em curtocircuito. Se o multiverso físico é tudo o que existe, como ele poderia dar origem a si mesmo? — Guilherme se debatia com o dilema. Max demorou um momento para replicar: — Exato. Se o universo é físico, obedece a um conjunto de leis físicas, e uma Lei fundamental da Física assevera que nada físico pode dar origem a si mesmo. Então, a origem do universo não pode ser física ou natural para o conceito todo não entrar em curto-circuito! A origem do universo precisa buscar sua causa além do mundo físico. Mesmo uma partícula quântica do vácuo seria algo natural, pertencente ao multiverso, e não é o Nada. Se a causa do multiverso não pode ser algo natural, nem o nada,


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nem o infinito físico, então a causa do universo é algo metafísico ou sobrenatural. O que poderia ser mais sobrenatural do que um Arquiteto? Logo, a razão demonstra que é perfeitamente racional a hipótese do Arquiteto sobrenatural, o que popularmente chamamos de Deus. — É verdade — concordou Guilherme. — Se a causa, a explicação para o universo existir, não pode ser física, pois a fisicalidade é parte do universo a ser explicado, então a explicação é metafísica, ou sobrenatural. Teria que ser Deus. É a única forma de sair do curto-circuito. — Precisamente! O que quer que tenha criado o universo não é físico. Trocando em miúdos, não pode ser alcançado pela ciência. Se o universo representa ou encerra tudo o que existe fisicamente; uma explicação científica deveria contemplar um tipo de causa física. No entanto, uma causa física é parte do universo a ser explicado. Desse modo, qualquer explicação científica sobre a existência do universo será paradoxal; estará destinada à circularidade. Mesmo que tenha começado com alguma coisa muito pequena, do tamanho da cabeça de um alfinete, ou uma partícula do vácuo, ainda assim, estaria começando com algo físico. A ciência pode conseguir chegar ao big bang, mas aí se depara com um obstáculo intransponível, o que quer que tenha criado o universo ou o multiverso não pode ser físico, mas metafísico, sobrenatural. — Dá o que pensar. A natureza nos mostra apenas a cauda do leão, a ponta do iceberg.


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— Mas tenho certeza que o leão pertence à cauda, mesmo que ele não possa se revelar por causa do seu tamanho gigantesco. — Você me convenceu. — Convenci você de quê? — Parece que existem boas razões para pensar racionalmente que existe um agente criador do universo. — Até as pessoas de matriz ateísta estão de acordo que existe um agente, e para eles o agente chama-se gerador de infinitos universos paralelos. Quem quer que vá discutir racionalmente a existência do universo precisa encarar a hipótese de um Agente, seja ele inteligente, seja ele obtuso. Se o universo não pode existir sem uma causa, e a causa não pode ser física, precisamos concluir que uma vez eliminado o impossível, o que quer que reste, por mais improvável que seja, deve ser a verdade. — Sherlock Holmes diria isso! — Sim. Ou seja, para que o universo exista, é preciso que algo fora dele o tenha criado, e podemos chamar esse algo de Agente, Arquiteto, ou Deus, como preferir. — Até de Gerador… De fato, mesmo a teoria ateísta precisa de um agente criador. No caso, seria um gerador não inteligente de infinitos universos. — Sabe que você invocou uma ideia sobre a qual eu nunca havia pensado, Guilherme! — E qual seria? — As teorias de matriz ateísta e teísta podem ser muito semelhantes; ambas postulam um agente criador. É apenas uma


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questão de semântica. Enquanto a matriz ateísta invoca um gerador de infinitos universos paralelos ativo mas não inteligente, os teístas invocam um criador inteligente. Mas ambos têm um ponto em comum: precisam ser incausados no final. — Sim — completa Guilherme. — Parece encaixar-se perfeitamente com evidências racionais. O raciocínio parece não ter defeito. De fato, a interpretação teísta é uma alternativa poderosa à interpretação naturalista, de matriz ateísta. Agora vou perguntar objetivamente: “você tem certeza de que Deus existe?” — Isso é mais do que estou em condições de dizer. Mas se existe a mente humana, o que impediria a existência de uma mente metafísica? E essa mente metafísica seguiria, digamos, leis da metafísica, e nesse caso não sofreria as restrições da fisicalidade. Sem restrições, talvez seja capaz de criar universos, como o nosso. — Max, o papo está bom, mas preciso ir. Antes, no entanto, acabo de vislumbrar algo interessante em relação à ideia do infinito. Suponhamos, por um minuto, que a matriz ateísta esteja correta, que de alguma forma o infinito seja responsável por tudo que exista, e que no contexto do infinito tudo seja possível. — Prossiga — aduziu Max. — Se no contexto do infinito tudo é possível, então, sob pena de se contradizerem, os ateus não poderiam jamais alegar que Deus não é possível. Pois não faria nenhum sentido lógico, sustentar que tudo seja possível, exceto Deus.


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— O que você quer dizer é que se a matriz ateísta, em um momento, sustenta que tudo é possível, não pode, no momento seguinte voltar atrás e dizer que há uma única exceção, Deus. Sim, o infinito não pode ser ao mesmo tempo, uma coisa e seu contrário. Já pensei sobre isso também. — Exatamente. Se o todo é 100%, ou seja, tudo é possível, e você retira algo, Deus, então nem tudo é possível. Em outras palavras, até mesmo o paradigma ateísta conduz à existência de Deus. No contexto do infinito, Deus teria que existir. — Teoria interessante! — O papo está bom, mas tenho um compromisso, Max. Preciso ir!


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CAPÍTULO 2 Enigmas (Meses antes) — Boa-noite, turma! — Cumprimenta Maximiliano Antônio Rohden. — Boa-noite, professor! — Olha aí, gente, eu confesso que estou surpreso com tanto interesse pela disciplina de Matriz Teísta. Eu teria feito a cadeira ateísta se fosse vocês. Risos. — Tá brincando! Com aquele velho rabugento do professor Vila? — Isso é por sua conta — responde Max ao aluno. — Tá legal — replica o moço. O professor Max escreve no quadro: De onde veio o Mundo? — Alguém tem alguma ideia? Silêncio.


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— Vamos lá gente, mostrem que vocês sabem pensar. Devem ter alguma ideia sobre isso! — Eu espero que não tenha pressão — diz um aluno. Risos. — Quais são as alternativas, gente? Vamos lá! — Há muitas ideias por aí, professor. — E quais são? — Alguns dizem que o universo veio do nada, outros que a origem está no infinito. E também, claro, a ideia de Deus por trás de tudo. Acho que é isso professor. — É isso aí — comenta uma moça. — A ideia de que o universo seria eterno foi superada. — Superada pelo quê? — quer saber o professor. — Sei lá, professor, acho que pelas descobertas e avanços científicos que conduzem ao big bang. — Acho que tem a ver com Einstein, professor. — É, talvez. — Lucas, o que você acha? — Luta de boxe nas Ilhas Cayman. Os alunos riram como crianças felizes. — Essa foi horrível, — diz o professor — mas valeu a tentativa. — Laura, não me decepcione. — Buraco negro, talvez? — É, isso faz parte. Karen levanta a mão. — Eu acho que o universo pode ter surgido do vácuo quântico.


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— Pois é. O fato é que o universo certamente tem causa. E por que sabemos disso? Porque começou a existir. E tudo que começa a existir tem causa. Conceitualmente, só o que é infinito não tem causa — diz Max. — Droga, professor! Babaquice. Por que é importante sabermos sobre a origem do universo? — Foi você quem escolheu estar aqui, Luís — replica Max. — Eu sei. Mas se soubesse que íamos falar sobre a origem do universo, eu teria escolhido não estar aqui. — Ainda há tempo. Pode sair se quiser. — Cale a boca, Luís! Ouça o que o professor tem a dizer. Ou faça de conta que não está aqui. Isso já ajuda — intervém uma moça. — A gente não pode falar de outra coisa? — sugere Luís. — Tipo o quê? — interroga uma moça. — Que tal sobre a origem das estrelas ou dos átomos… das galáxias, sei lá. — Nós falaremos sobre isso, Luís. Falaremos sobre a origem do universo, das estrelas e da própria vida. É para isso que estamos aqui. — Isso tá ficando interessante, professor — alude Jaqueline em tom firme. Max levanta a mão direita pedindo silêncio. — Algumas jornadas nos transformam à medida que avançamos. Hoje vamos dar início a uma viagem eletrizante. Não será uma odisseia a terras estrangeiras ou lugares exóticos, mas um passeio revelador. Viajaremos através da história de uma


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questão que busca entender a natureza em seus estados mais profundos. Ao longo da caminhada, para melhor entendermos nossa aventura, beberemos água de vários afluentes. Nossos guias, os protagonistas da história, serão os filósofos e cientistas que têm trabalhado duro para ampliar nosso conhecimento sobre o mundo e as leis básicas da física16. Ao longo de nossa marcha, vamos explorar as alternativas à interpretação naturalista de mundo, também conhecida como naturalismo, paradigma ateísta, Matriz Ateísta, ou simplesmente ateísmo, ou ainda materialismo. — Naturalismo não é aquele lugar onde fica todo mundo pelado, professor? — Isso é naturismo! Risos. — Todo evento — continua Max — depende de outro evento para sua existência. O rio é produzido pela chuva. A ponte é criada pelo homem. Olhe ao seu redor. Veja a estrutura e a organização elaborada do Universo. Raciocine sobre as formulações da natureza. O universo emergiu naturalmente como resultado de leis físicas matematicamente perfeitas. Fique perplexo ante os arranjos da matéria, desde as galáxias rodopiantes até a atividade sincrônica do átomo. Há uma espécie de harmonia universal que parece estar presente em cada centímetro do Universo. Pergunte a si mesmo por que essas coisas são do jeito que são. Por que esse conjunto de leis e não outro? Por que esse arranjo da matéria e da energia? Se 16

The Trouble with Physics, Lee Smolin, PhD, ISBN: 9750618551057: viii.


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voltarmos ao passado através de uma sucessão de causas, chegaremos a um momento em que não havia tempo nem espaço, não havia matéria nem energia. De repente surge o big bang, uma enorme onda de energia vinda do Nada, regida por leis matematicamente perfeitas, que criam estrelas, galáxias, planetas, luas, montanhas, oceanos, calor, flores, borboletas, pessoas... Como isso é possível? Se o Nada nada pode criar, por que existe um universo em vez de nada? Segue-se ligeira pausa. — O fluxo de calor e luz do Sol gera a ordem altamente complexa da biosfera da Terra. Olhe para ele e tente responder por que aquela enorme bola de fogo celeste se mantém acesa por tantas eras, seguindo leis criadas no início do Universo?17 Olhou firme nos olhos dos alunos e prosseguiu narrando. — Ateísmo e teísmo são dois pontos de vistas opostos sobre a natureza do cosmos. Enquanto, por um lado, há um terreno comum entre os dois – ambos concordam com a existência de um mundo físico estável, com leis da natureza e tudo mais, – eles diferem profundamente em questões fundamentais. Assim, naturalistas ou ateístas tendem a sustentar que não há nada mais do que o mundo físico. Alguns deles pensam que o mundo físico é tudo o que é divulgado em uma ciência física ideal, e isso exclui a existência de pessoas conscientes com vontade livre e vida moral.18 Afinal, o livrearbítrio e a moral não existem para este último grupo. Max faz longo hiato e continua.

17 18

Paul Davies, físico, PhD. http://infidels.org/library/modern/stewart_goetz/dualism.html


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— Marco, o que você acha? Pode existir algo além da natureza física que nos cerca? — Não sei, professor. Você tá falando de fantasmas? Risos. — Deus existe? Há algum significado ou propósito para a vida humana? De onde veio o mundo?19 O universo precisou de um criador? Vocês já viram algo surgir do Nada? Certamente que não! Mas, então, por que existe um universo em vez de nada? De onde, como, por que ele surgiu? Nossos pensamentos mais profundos lutam com essas questões enquanto buscamos por respostas sobre nossa origem, nosso propósito de ser, nosso destino. Poucos são capazes de ignorar esses enigmas à medida que contemplam o mistério do nosso ser e o universo onde vivemos. Silêncio, e depois: — Para as pessoas que realmente pensam, o mundo continua a ser surpreendentemente um lugar repleto de enigmas e mistérios. Filósofos e crianças têm esse ponto em comum. Pode-se muito bem dizer que nesse aspecto um filósofo se comporta como uma criança durante toda a sua vida. 20 Um filósofo poderia fazer perguntas simples como “Por que o Sol não se apaga?”, mas a tarefa de respondê-la caberia ao cientista. Atualmente, uma das melhores ferramentas de que dispomos para investigar a matriz da realidade é a ciência. Recentemente, os físicos começaram a se perguntar como seria o universo se as leis naturais fossem diferentes. Hoje sabemos que 19 20

O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 19. O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 30.


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basta mudar as regras do universo um pouquinho e acabam-se as condições para nossa existência21. Pausa. Ele deixou que as palavras pairassem no ar como uma neblina matinal. — Jeferson, devemos acreditar que tudo isso ocorreu por simples acaso? — É bem difícil aceitar que o cosmos tenha sido produto de uma grande coincidência, professor. Encarando os alunos, e após curta pausa, falou, resoluto: — A questão sobre a existência ou não de um agente criador, um Deus, é uma daquelas questões que simplesmente não vão embora.22 Essa pode ser a questão mais importante da vida, a pergunta mais valiosa de todas. Isso muda a forma como olhamos para o mundo e nossa perspectiva de vida. E por quê? O professor calou-se por um segundo, sorriu noutra expressão fisionômica e, observando atento o olhar dos alunos, falou: — Talvez porque seja fazendo perguntas assim que sentimos que estamos vivos, professor. Max sorriu. O aluno estava certo. — Nossa espécie — continuou ele — é a única criatura consciente que conhecemos em todo o universo que se questiona sobre sua natureza e a origem das coisas. É o único ser capaz de adquirir experiências e relacionar o conhecimento recémadquirido com outro mais antigo.

21 22

O Grande Projeto, Stephen Hawking , PhD, e Leonard Mlodinow, PhD, ISBN: 9788520926574: 117. Science Discovers God, Ariel A. Roth, PhD, ISBN: 9780812704488.


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Quando o homem se dá conta de que existe e um dia vai morrer e, sobretudo, quando não vê nenhum apoio onde possa se firmar, então emerge nele a angústia, e ele se sente alienado em um mundo sem significado. O sentimento humano de alienação no mundo dá origem a uma sensação de ansiedade e uma ponta de tristeza. Quando nos esforçamos para encontrar respostas para as grandes questões, ao mesmo tempo, podemos chegar a respostas claras e definitivas para as pequenas questões — continuava ele esclarecendo. Essas são questões individuais, mas marcam e definem o escopo do nosso ser. Agora, respondam-me: quando não temos dados científicos para sustentar um ponto de vista — dizia serenamente, — e ainda assim insistimos em sustentá-lo, o que significa isso? — Cegueira, professor? Risos. — Tá, e o que mais? — Opinião. — Convicção. — Burrice. — Toda convicção tem uma figura central, e qual é? — É a fé, professor. — Precisamente. A fé cobre uma lacuna do saber. E quem não tem lacunas em seu saber? A fé é um ingrediente indispensável para a vida em sociedade. Quando estou no aeroporto, olho para o avião, fico imaginando como aquilo – com centenas de toneladas – pode realmente sobrevoar montanhas e


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mares, atravessar continentes. No entanto, nunca pedi a habilitação dos engenheiros que o construíram ou do capitão que o pilota.23 Agora imaginem um cirurgião que está para operar uma criança com apenas 10% de chances de vida. Ele se dirige à mãe para dizer “seu filho provavelmente vai morrer hoje, já que suas chances de sobrevivência são de 9 contra 1.” — Já teriam tirado o escalpo do médico, professor! Pois é. A fé tem a ver com a maneira como encaramos os mistérios da vida. Quem diria que subir em um avião sem pedir a habilitação do piloto tem a ver com fé, não é? — Pior, professor, às vezes, a gente nem vê o piloto. — Eu sempre pensei que fé teria a ver somente com religião, professor — disse outro aluno. — Pois é, parece que a religião adotou a fé como estilo de vida, mas ela precisa estar presente em todos os momentos de nossa vida. Max faz breve pausa e continua: — O que é a síndrome do pânico? — É o temor de que a filha feia da vizinha vá dar em cima da gente. Um acesso de risos tomou conta da classe.. — Medo se sair na rua e ser assaltado? — questiona uma moça. — É o medo da própria sombra — afirma um jovem de cabelos claros.

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Prof. Clovis de Barros Filho, em entrevista para a TV.


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— Desse ponto de vista, professor, síndrome do pânico é a falta de fé na vida como um todo. É ter medo de tudo e acreditar que tudo vai dar errado. O professor sorriu e completou serenamente: — Precisamente. Acreditar na vida é um tipo de fé! É fé na gente, na família, na sociedade humana! Fé, portanto, é um ingrediente indispensável para conduzirmos nossas vidas ao longo das incertezas. — Até mesmo os ateus precisam de fé, professor. Risos. E depois de longa pausa, prosseguiu gravemente: — De onde veio o mundo? O que é a matéria que compõe o cosmos? Todos temos ciência de que a Terra é apenas um pequeno planeta flutuando na imensidão do Universo. Mas de onde vem o mundo e de onde vem o próprio Universo? — tornou ele, enfático. — Poderíamos pensar que o universo é algo que sempre existiu, e assim não precisaríamos sair em busca da resposta,24 mas o que a teoria do big bang sustenta é que tudo o que vemos é o resultado de uma explosão, ocorrida bilhões de anos atrás. Mas se o universo surgiu do big bang, da Grande Explosão, de onde vem o próprio big bang? Se Deus existe, ele criou a si mesmo a partir do nada? Como ele poderia criar a si mesmo antes de ele mesmo existir? O professor Max produziu uma tempestade intelectual dentro da sala. Nada parecia fazer sentido. O universo não poderia ter vindo do nada. Seria preciso Deus para criar o 24

O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 19.


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Universo. Mas de onde teria vindo o próprio Deus? Ele, igualmente, não poderia ter surgido do nada. Então, de onde veio Deus? Os alunos estavam perplexos. De alguma forma, já haviam pensado sobre isso, mas nunca por um ângulo tão contundente. — O universo não poderia vir do nada. Deus não poderia vir do nada — resume o professor Maximiliano Antônio Rohden. — A razão estanca quando pensamos sobre a origem do Universo.25 Ele caminha lentamente pelo corredor entre as carteiras, olhando para o chão. A frase repercute na mente dos alunos, “a razão estanca quando pensamos sobre a origem do Universo”. Nova pausa. A aula tornara-se sumamente interessante. Os alunos estavam atentos ao curso das ideias. Grande alarido se forma na sala. — Silêncio! Turma, não é muito estranho o simples fato de o próprio mundo existir?26 Insistia ele. Silêncio novamente. Max deteve-se. Ele regressa pelo corredor a passos muito lentos. A indagação ainda ecoa no ar. Não é muito estranho o simples fato de o mundo existir? Ele podia ouvir as engrenagens girando na mente dos alunos. Pincel em mãos, reforça na face da lousa: Não é muito estranho o simples fato de o mundo existir?

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O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 282, 356. O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 32.


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— Nossa, professor! É mesmo! Não faz sentido que o próprio universo exista. O mestre nada fala por alguns segundos. Sua pergunta continua reverberando na mente de cada aluno. Raios e trovões intelectuais. “Não é muito estranho o simples fato de o mundo existir? Nada faz sentido”— pensam os alunos. “Uma pergunta tão simples... por que nunca pensei sobre isso antes?” — O que é um ser humano? Silêncio. — O que é o “ser humano”? — Somos o único ser pensante da Terra, professor. — O que é importante para o ser humano? — Um carro novo, professor! Risos. — Poder, dinheiro, glória, sexo, família, sei lá, essas coisas… — completa um moço. — É, já é um começo. Objetivamente falando, somos tufos de átomos em um universo com mais galáxias do que pessoas. Mas seres humanos são necessários para que a própria questão O QUE É UM SER HUMANO possa existir. Sem seres humanos não existem perguntas, não haverá respostas. Dúvidas suplicam por perguntas. Perguntas requerem mentes, e mentes trazem significado às coisas e ao mundo. Por que podemos fazer perguntas muito além de nossa capacidade de resposta? — Porque sempre tem uma vizinha fofoqueira, professor. Risos. — Você chegou perto. Mas será que temos o direito de esperar por respostas? Qual nosso destino e nosso lugar no


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universo? Há coisas que a razão não pode conceber, mas se podemos perguntar, talvez possamos, um dia, encontrar as respostas. O que há de importante com as perguntas? O que pode fazer uma pergunta? — O que há de importante eu não sei, professor, mas elas podem encher o saco de quem não sabe responder. Risos. — Professor, você é um ponto de interrogação ambulante. Risos abundantes ecoam pela sala. — Uma boa pergunta pode construir uma série de camadas de respostas, pode inspirar muitas décadas de busca pela solução, pode gerar províncias completamente novas de especulações.27 Nós, seres humanos, possuímos um desejo profundo de encontrar a verdade. Mesmo que esse desejo esteja encoberto pelos detalhes da vida mundana. Portanto, não apenas eu sou um ponto de interrogação ambulante. Todo ser humano adora fazer perguntas. Acontece que muitos de nós perdem essa capacidade inata de questionar, só para substituí-la por habilidade menos importante. Pausa. — Vou perguntar novamente. O que é o “ser humano”? O que nos distingue dos outros seres que conhecemos? — Agora ficou fácil, professor. — E o que é? 27

Ignorance: How It Drives Science, Stuart Firestein, PhD, ISBN: 9780199828074: 10.


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— É nossa capacidade de fazer perguntas. — Dê um exemplo. O aluno reflete, buscando um exemplo na tela mental. — Os gatos jamais conseguiriam pensar sobre de onde veio o mundo. Isso não é importante para eles. Nenhum animal conseguiria. — Sim, o que nos torna humanos é nossa capacidade de fazer perguntas. Nesse sentido, a ciência se fundamenta na suposição de que o universo é absolutamente racional e lógico – em todos os níveis. Então, precisamos especular, ou seja, perguntar. Perguntar sobre o sentido do que vemos ao nosso redor: Como explicar a origem comum da matéria, espaço e leis da natureza? Como explicar que o universo produziu todas as condições necessárias para converter elétrons, prótons e nêutrons em árvores, animais e seres humanos, sem nenhuma deliberação? Não faria sentido se surgisse só o espaço, por exemplo, sem matéria e sem energia. E se não houvesse leis da natureza, seria o caos. — Nossa, professor, se o big bang produzisse apenas espaço vazio, sem matéria, não haveria universo! — Exato! O que acontece se perguntamos “qual o sentido da vida”? Silêncio. — Vamos lá gente. Pensem um pouco. É importante sabermos qual o sentido da vida, ou de onde veio o mundo? — É uma forma de pensar sobre o mundo, professor.


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— Exato! Desse cenário emerge uma nova forma de refletir sobre o mundo em que vivemos. E que forma é essa? — Forma de fôrma. — Horrível. — A melhor forma de refletir sobre o mundo é fazer muitas e muitas perguntas, professor. — Muito bem! Qual o objetivo das perguntas? — Nos transformar em um ponto de interrogação ambulante. — Parabéns! Então, vou ajudá-los com algumas perguntas e vejamos no que vai dar. “Foi um Arquiteto que criou o mundo ou o universo surgiu do Nada?” Chegou o momento em que os mais notáveis pensadores de nosso tempo precisam reexaminar seus paradigmas, paixões e valores. Eles estão sendo chamados a abrir-se à oportunidade de rever e avançar. E nós também! — Eu acho, professor, que o universo surgiu do infinito. — Certo, pode ser — responde Max. Por que o universo está organizado, cheio de padrões ordeiros, obedecendo a leis causais? Como essas leis obrigam o mundo a funcionar desta forma? Como foram forjadas e escritas? Se a natureza não pode criar a si mesma, qual a origem do tempo, do espaço, da matéria e das leis da natureza? Qual a origem do big bang? Se o mundo teve início, existia um antes? Por que o mundo existe e por que é como é28? Por um lado, podemos pensar que o universo seja algo que sempre existiu, então não seria necessário achar uma resposta para essa questão. A eternidade e o infinito poderiam 28

Uma Breve História do Tempo, Steven Hawking, PhD, 1988, Ed. Rocco.


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resolver qualquer dilema, mas não é assim. Por outro lado, mesmo que a ciência consiga resolver a questão de como o universo veio a existir, poderá responder à questão de “por que” o universo deu-se ao trabalho de existir. Será que assim como existe um mundo, poderia não existir nada? Qual nosso lugar e papel no mundo?29 — Ufa, professor, agora cansou! — É, professor, essas perguntas dão o que pensar. — Vocês percebem que ao fazermos essas perguntas parece que de alguma forma podemos observar – sutilmente – algum sentido no universo? E as perguntas não param por aí: Se há significado para a existência do universo, então há significado para a vida? — Nossa, quanto mistério! — exclama uma moça. Nesse instante, ele fez uma pausa, para continuar com voz grave: — Se um átomo não pode pensar, então como um sextilhão de átomos poderia se organizar na forma do cérebro humano e adquirir a habilidade de pensar? Se um átomo não pensa, como um sextilhão pode pensar? Como e em que momento a consciência se formou ao longo do processo darwiniano? Não seria simples demais acreditarmos que prótons, nêutrons e elétrons possam constituir a consciência? E se existir uma “substância” da consciência, ainda não detectada pela ciência? Se for assim, ela poderia sobreviver à morte? Temos alma?

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O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892.


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As palavras do professor reverberam na mente dos alunos. — Se o universo for constituído apenas de átomos, e tendo em conta que a ciência já conhece muito sobre as partículas fundamentais da matéria, por que tantas perguntas sem respostas? Se podemos fazer essas perguntas, significa que podemos encontrar as respostas? — Professor, há um cara nos Estados Unidos, um tal de Krau, acho que Lourenço ou algo assim— Crau no universo — caçoa alguém. Risos. — Lawrence Krauss — corrige o professor Max. — Isso, Lawrence Krauss. Ele diz que o universo foi gerado pelo vácuo quântico. O que você tem a dizer sobre isso, professor? — Sim, conheço a teoria do vácuo quântico. Mas o que Krauss não explica é como o vácuo quântico engravidou e deu à luz um filho chamado universo…30 Os alunos se entreolham chocados com a simplicidade estonteante daquelas palavras. Não havendo mais perguntas, Max continua: — A maior de todas as questões para a humanidade, o problema que está por trás de todos os outros e é mais interessante do que qualquer um deles, é a determinação do lugar do ser humano na natureza e sua relação com o mundo.31 Como pode o cérebro – formado de átomos – construir algo tão

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Amit Gotswami Thomas Huxley, citado em Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 320.


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sutil quanto as perguntas que fazemos? Como pode ser possível um pensamento ser algo tão real quanto uma rocha? Por que a alma humana está mergulhada em mistérios tão profundos? Especulações sobre vida alienígena remontam aos antigos gregos. Giordano Bruno foi queimado na fogueira por especular sobre alienígenas. Quantas civilizações avançadas existem em nossa galáxia? A Via Láctea tem cerca de 200 bilhões de estrelas. Cada estrela sendo meio parecida com nosso sol, maior ou menor. Talvez a vida se forme facilmente. Foi por acaso que a vida teve início aqui na Terra ou o fato de podermos detectar compostos de carbono por todo o universo, saber que podem se reunir e formar compostos orgânicos significa que podem facilmente se reunir para produzir vida? Isso significa que a vida está em toda parte? Seríamos nós a única forma de vida inteligente que surgiu, ou uma entre muitas?32 Até mesmo as pessoas menos educadas e de mente mais estreita são capazes de, em momentos de lucidez, perceber a implicação dessas perguntas. Nossos pensamentos mais íntimos lutam com essas questões enquanto buscamos por respostas sobre nossa origem, nosso propósito de ser e nosso destino. Este trabalho pretende proporcionar uma oportunidade para reflexão e conduzir a um olhar mais profundo para os mistérios e enigmas da vida humana.33 Um assunto que sempre foi considerado questão de religião ou da metafísica agora se torna uma questão da física e da ciência.34 Se você nunca pensou sobre isso, prepare-se para

32 33 34

Star Trek, Segredos do Universo, History Channel. The Language of God, Francis Collins, PhD, ISBN: 9781416542742: 7. Why The Universe Is de Way It Is, Hugh Ross, PhD, ISBN: 9780465016778: 25.


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pensar agora. Essa nova maneira de refletir poderá levar sua vida a um novo patamar. — Calma, professor. Mais devagar um pouco, deixe a gente respirar. — O vídeo desta aula, como vocês sabem, será publicado em minha página web. Qualquer dúvida poderá ser revisada pelo vídeo — disse o professor, imperturbável, que respira longamente para logo voltar ao fio da lição. — Das implicações advindas da combinação entre o big bang e as leis naturais que guiaram o processo de criação ou geração, surge um novo cenário. E esse panorama tem levado cientistas e filósofos sérios a avaliar profundamente a possibilidade da existência de Deus. O caso mais surpreendente é o de Antony Flew, que deixou eminentes intelectuais de todo o mundo impressionados! E, num gesto diferente, o instrutor continuou: — Em 9 de dezembro de 2004, a agência Associated Press divulgou a notícia de que o ilustre filósofo britânico Antony Flew, porta-voz do ateísmo, líder da causa por mais de meio século, havia mudado de opinião e decidido que Deus existe. 35 A estonteante notícia espalhou-se rapidamente por toda a imprensa mundial. A mudança de Flew se dava exatamente no sentido oposto à corrente dominante, promulgada pela maioria dos círculos científicos.36 A impressionante reviravolta de Flew, ocorrida cerca de um ano antes, em 2003, não foi uma conversão a alguma religião convencional. Ele passou a crer em um Deus que tinha de ser a Causa Primária de tudo, e não um Deus que tenha produzido uma revelação sobrenatural de si mesmo, por meio da Bíblia. O Deus que Flew defendia não era um Deus de temperamento 35 36

http://repositorio.bce.unb.br/handle/10482/12286 (Universidade de Brasília). http://noticias.unisda.com.br/iasd/213-a-ciencia-descobre-que-deus-existe.


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religioso, era o Deus de Aristóteles: onipotente, onisciente e onipresente.37 Por que razão esse famoso e proeminente intelectual revisaria seus conceitos, declarando que “Deus existe”? A resposta é simples. Por causa dos dados providos pelos recentes avanços científicos. Flew declarou que os argumentos mais impressionantes para a existência de Deus são aqueles sustentados pelas recentes descobertas científicas. “Não consigo” — disse ele — “entender como o Universo, tão afinado, balanceado, para a concepção dos materiais necessários para organismos vivos, poderia ter acontecido naturalmente. É muito provável que tenha sido projetado por pelo menos algum tipo de inteligência.”38 Refletiu por um segundo, e retomou o fio da lição: — Antony Flew afirma que de especial importância para ele é o modelo big bang da origem do Universo, e o necessário equilíbrio e precisão das quatro forças físicas para que a matéria possa existir. 39 Um conceito que está sendo chamado de “balanceamento” ou “ajuste fino”.40 Flew é uma figura ilustre.41 Por muitos anos, ele reinou indiscutivelmente como o defensor mais capaz do ateísmo no mundo. Na verdade, o subtítulo de seu último livro descreveu-o como "o ateu mais conhecido do mundo".42 A tese monumental de Flew, Teologia e Falsificação, que ele apresentou pela primeira vez em uma reunião em 1950 no Clube Socrático da Universidade de Oxford, presidido por C.S. Lewis, tornou-se a There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 92. Gary Habermas e A. Flew. My Pilgrimage from Atheism to Theism: A Discussion Between Antony Flew and Gary Habermas; Philosophia Christi 6 (2004) 2:197-211. 39 http://www.arn.org/docs/williams/pw_antonyflew.htm 40 http://www.reasonablefaith.org/portuguese/sobre-o-argumento-a-favor-do-projeto-a-partir-do-ajuste-fino. 41 http://www.nytimes.com/2007/11/04/magazine/04Flew-t.html?pagewanted=all&_r=0 42 There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303. 37 38


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publicação filosófica mais amplamente reproduzida do século passado pelos ateus. Ele escreveu mais de 30 livros,43 incluindo sua famosa Presunção do Ateísmo.44 O insigne filósofo também se impressionou com avanços e descobertas no mundo bioquímico. A vida biológica é profundamente complexa, e ele se refere especialmente ao “poder reprodutivo” dos seres vivos, para o qual os biólogos não conseguiram explicação. Ele comenta ainda: “Parece-me hoje que as descobertas de mais de 50 anos de pesquisas sobre o DNA proporcionaram material para um novo paradigma e um argumento extremamente poderoso em favor do Desígnio e contra o Acaso. Por “argumento em favor do desígnio” Flew entende as evidências em prol de uma Consciência Universal, Deus, a causa não causada. Ele gostaria de lançar por terra a dominante, mas restritiva, filosofia da ciência naturalista e mecanicista que exclui Deus da atividade científica, permitindo que os dados da natureza falem por si mesmos. Esses dados apontam para a necessidade de Deus existir. Em suas próprias palavras, ele alega que “teve de se dirigir para onde as evidências conduzem”.45 Todo o debate sobre a existência do mundo pressupõe que ele teve origem. Ao longo de milênios, uma profusão de mitos surgiu como resposta a essas questões. Babilônios, japoneses e judeus tinham cada um suas próprias respostas. E com isso, os povos antigos acabaram criando deuses à sua semelhança e imagem. Os seres humanos sempre sentiram necessidade de encontrar respostas para os processos naturais. Talvez jamais

43 44 45

http://www.amazon.com/Antony-Flew/e/B000APTB7I/ref=sr_ntt_srch_lnk_1?qid=1365464817&sr=1-1 ISBN: 9780301750163. There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 89.


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pudessem ter vivido sem tais explicações. Por isso criaram todos aqueles mitos, em uma época que ainda não existia ciência.46 Outras culturas antigas inclinavam-se a acreditar que o mundo era eterno, não havia origem. Os filósofos gregos enxergavam-no de maneira cíclica. No entanto, hoje sabemos que o universo teve origem no tempo. Não é infinito, não é eterno, teve início. A descoberta de que o universo teve início, no que chamamos de big bang, gerou a necessidade de especular sobre o mecanismo que teria trazido o universo à existência. 47 Um fenômeno fundamental é aquele que está na base de todos os outros fenômenos, e o mais fundamental de todos os fenômenos é certamente a origem do mundo. É quando o mundo começa que os outros fenômenos passam a acontecer.48 Foi Einstein e suas equações que demonstraram que o universo teve início. Mas se o universo surgiu a partir de alguma coisa, essa coisa também precisaria surgir a partir de outra coisa anterior, e essa, de outra. No final das contas, algo teria que ter surgido necessariamente a partir do Nada. Mas isso faz sentido? É possível imaginar que o Nada tenha tamanho poder? As religiões dizem que Deus criou o mundo, mas e quanto à origem do próprio Deus? Ele teria o poder de criar a si mesmo? De novo, parece não fazer sentido, pois Ele não teria apenas que criar a si mesmo, mas fazê-lo a partir do Nada. Por mais que pensemos, parece que o Nada é nossa barreira final.49 O mundo parece mesmo um grande mistério. Após cinco segundos de pausa, prosseguiu, questionando:

O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 32, 35, 40. The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 0671797182: 32. The Fabric of Reality, David Deutsch, PhD, ISBN: 9780140275414: 168. 49 O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 19. 46 47 48


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— Se antes do universo não havia nada, vocês não acham estranho o simples fato de o próprio mundo existir?50 — repetiu ele. Fez pequeno intervalo para que os alunos pudessem refletir. Calou-se, contemplou os alunos com profundo sentimento de simpatia. A seguir, voltou com as seguintes palavras: — Agora, digam-me: o que são átomos? — São as menores partes da matéria, professor — respondeu um moço de cabelo curto, como o corte dos militares. — São os blocos fundamentais da matéria, professor — disse uma moça, de olhos vívidos e brilhantes. E, notando o interesse justo dos alunos, continuou: — Demócrito, o primeiro pensador a falar sobre o assunto, dizia que tudo o que existe pode ser dividido em partículas. Se quebrássemos uma rocha, teríamos terra. E se continuássemos a romper os grãos de terra, teríamos pó. Agora, se pudéssemos reduzir o pó a partículas ainda menores, chegaríamos aos átomos, que compõem tudo o que existe no universo físico. Se apreciarmos a praia de longe, parecerá que estamos olhando para um tapete sólido. Mas se a inspecionarmos mais de perto, veremos que está formada por zilhões de grãos de areia. Se pensássemos nos grãos de areia como se fossem átomos, podemos adicionar um pouco de água e moldarmos a forma que desejarmos, podendo construir castelos na areia. Demócrito dizia que era dessa forma que a natureza criava todas as coisas que existem no mundo. O sistema “lego” é um brinquedo cujo conceito se baseia em partes que se encaixam permitindo inúmeras combinações. Demócrito estava certo. Hoje sabemos que os átomos são como as peças de um lego, que criam 50

O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 32.


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tudo que existe no universo, de estrelas a borboletas e seres humanos. Mas e os próprios átomos, do que são feitos? Um dos elementos constituintes do átomo é o elétron, e é daí que vem a palavra eletricidade, que é produzida no interior do átomo. O elétron emite uma partícula, que chamamos de fóton, que produz a luz. Daí a origem da palavra fotografia. Agora você já sabe que a eletricidade e a luz se formam no interior do átomo. Nosso cérebro é feito de átomos. Como explicar o fato de que os átomos são capazes de se estruturar complexamente e aprender a pensar? 51 Se um átomo não pensa, como um aglomerado de zilhões deles – nosso cérebro – pode pensar? Qual a origem desses aspectos mentais e subjetivos da matéria? Como pode um universo de matéria desprovida de sentido produzir seres com fins intrínsecos, buscadores de sentido, como nós? 52 Como surgiu a primeira célula autorreplicável? 53 A existência do DNA é um mistério. Ele não fornece nenhuma pista para a finalidade pela qual o código existe. A biologia nada sabe sobre a origem de um sistema assim54. Como o surgimento da primeira célula pode ter sido guiado intrinsecamente pelo propósito de criar a vida?55 Apesar de décadas de especulação, nada sabemos sobre como a vida e a reprodução sexual começaram56, e sob quais circunstâncias 57 . Não existem leis naturais que instruem a

Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669. Filósofo Richard Cameron, citado emThere is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 124. 53 Filósofo John Haldane, citadoemThere is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 125. 54 Microbiologista Carl Woese, em There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 127. 55 There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 129. 56 Filósofo Richard Cameron, em There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 124. 57 Andy Knoll, professor de biologiaem Harvard e autor de Life on Young Planet: The First Three Billion Years of Life, citadoemThere is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 130. 51 52


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matéria a produzir entidades autorreplicantes, guiadas por um sentido58. Como vimos há pouco, para o filósofo britânico e ex-portavoz do movimento ateísta, convertido à matriz teísta, Antony Flew, a explicação mais satisfatória para a origem de vida, autorreplicante e dirigida a um fim, como vemos na Terra, poderia bem ser uma mente infinitamente inteligente59.

58

John Maddox, diretor emérito da Revista Nature (nature.com), citado em There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 130. There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 131.

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SEGUNDA PARTE CAPÍTULO 3 Avanços Científicos — Recentemente a ciência tem realizado importantes descobertas que estão alterando dramaticamente a perspectiva que os cientistas mais inovadores têm do universo. Um novo paradigma está se formando. Acredito que podemos e devemos tentar compreender o universo. — Professor, esse mesmo texto você já nos passou outro dia. Acho que você está se repetindo — objetou um aluno. — É intencional. Estamos lidando com um assunto profundamente complexo. À medida que vou introduzindo novos temas, vou recapitulando temas anteriores. Isso ajuda na absorção das informações mais recentes. — Professor, pode reexplicar o conceito de paradigma? Não ficou muito claro para mim. Max voltou-se para o aluno, refletiu por dois segundos, e tornou com firmeza: — Há uma lenda em que os sábios cegos encontram um elefante: o primeiro se choca com o lado amplo e forte do animal,


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e começa a gritar “valha-me Deus, mas o elefante é uma parede”. O segundo pegou na presa do bicho e disse “é uma lança, obviamente”. O terceiro pegou as trombas e disse “o elefante é muito parecido com uma cobra”. O quarto apalpou as pernas e o joelho e disse “está muito fácil para mim; o elefante é como uma árvore”. O quinto pegou nas orelhas do elefante e disse: “até um cego saberia que o tal do elefante se parece com um leque”. O sexto pegou na cauda e assim falou: “não tenho dúvidas de que o elefante se parece com uma corda”. Qual o teor da lição? Uma moça deixa cair um livro. Todos os olhares para ela. Max plantou os dois pés firme no chão e continuou impassível: — Qual o teor da história? — repete. — Cada pessoa vê o mundo de forma diferente? — arrisca Jeferson. — Embora os sábios cegos estivessem em parte certos — redarguiu Max, — estavam todos errados60. O paradigma é como a água para os peixes, tão natural que permanece sem ser questionado.61 É a matriz com a qual as pessoas constroem suas realidades. — Ou seja, professor, o paradigma é a matriz da realidade de cada um de nós? São nossas crenças e nossa visão de mundo? — Deixa-me ver se entendi corretamente, professor — intervém uma moça. — Se ao menos um dos cegos tivesse continuado a investigar, acabaria por descobrir que se tratava de um elefante, mas todos se anteciparam, tirando conclusões

60 61

Safári de Estratégias, Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand, Joseph Pampel, PhD, ISBN: 9788577807215: 18. A Cabana, William P. Young, ISBN: 9788599296363.


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precipitadas, confundindo suas crenças com o verdadeiro conhecimento. — Isso mesmo, precisamente! Paradigmas são crenças inquestionadas. São lacunas no conhecimento. E quem não tem lacunas em seu conhecimento? — Confundir crença com conhecimento é muito fácil, professor. — Então o fundamento dos preconceitos são os paradigmas? — questiona outro jovem, no fundo da sala. — Precisamente. Para tudo existe uma razão, e o motivo do preconceito são os paradigmas, as crenças inquestionadas que cada um de nós alimenta sobre a visão das coisas e do mundo. Segue-se um silêncio abafado. — Ao mesmo tempo que os paradigmas são necessários, eles nos impedem de seguir questionando. Paradigma é aquilo que a mente seleciona para construir uma estrutura de referência, são modelos mentais, são formas de ver as coisas e o mundo que nos cerca, são pontos de vista, crenças, cosmovisão. Os paradigmas ajudam a preencher as lacunas da matriz do pensamento humano. Os paradigmas podem ser bons ou ruins. Por isso, é importante sempre questionar qual a origem de nossas crenças e entender quais nossos paradigmas pessoais e coletivos. — Professor, uma ocasião eu ouvi alguma coisa sobre o Princípio da Complementaridade, que teria algo relacionado com os paradigmas. Eu não entendi muito bem. Você saberia dizer algo a respeito?


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— Nós somos educados a ver o mundo de forma dual. Noite e dia, alto e baixo, grande e pequeno, mal e bom. Homem e mulher, criança e adulto. Rápido e lento. Sim e não. O princípio da complementaridade propõe que busquemos ver o mundo de um ponto de visto mais amplo. Por exemplo, entre o dia e a noite há o amanhecer e o anoitecer. Nem tudo é completamente mal ou completamente bom. Entre o zero e o um há 0,1; 0,01; 0,11; 0,99. Ou seja, um fenômeno ou evento deve ser observado a partir de um ponto de vista diferente, não excludente. Você não deve excluir nenhuma alternativa até ter certeza. — Então esse princípio aí é a antítese do paradigma? — pergunta uma moça. — Poderíamos dizer que sim. Enquanto os paradigmas nos

impedem

de

pensar

diferente,

o

princípio

da

complementaridade nos instiga a olhar para o mundo em busca de outro ângulo ou ponto de vista. Se um dos cegos tivesse lançado mão do princípio da complementaridade, teria perguntado: “tem algo mais para ver?”. Houve alguns segundos de silêncio. Ele esperou os alunos digerirem tudo aquilo e prosseguiu: — Acredito que podemos e devemos tentar compreender o universo. Pela primeira vez, temos o poder de decidir muito sobre o destino de nosso planeta e de nós mesmos. Nossa espécie é jovem e demonstra muito potencial. Nos últimos milênios, fizemos muitas descobertas sobre o cosmos, sobre nós mesmos e nosso lugar no universo. Nosso futuro depende muito de entendermos bem nosso papel como seres conscientes sobre este planeta flutuando como um grão de poeira no céu matinal. Já


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fizemos progressos notáveis na compreensão do cosmos, particularmente nas últimas décadas. Ainda não dispomos de um quadro completo, mas ele talvez não esteja distante. Pode ser uma tarefa além de nossa capacidade, mas deveríamos ao menos tentar62. Os antigos filósofos gregos ficavam impressionados com a ordem encontrada em todo o cosmos. As estrelas e os planetas em sua constante evolução pelo céu noturno era algo que os impressionava de forma especial. Para Platão, a investigação dos astros despertaria o homem para o sentido do divino. Hoje sabemos que o universo está precisamente balanceado para a existência de vida inteligente com uma complexidade e uma delicadeza que desafiam a compreensão humana.63 A pergunta mais importante não é se Deus existe, mas por que o universo é do jeito que é. Se conseguirmos explicar por que o universo é do jeito que é, vamos ler a mente de Deus.64 Por que o universo é do jeito que é? O Mundo está cheio de padrões ordeiros. Por que o universo obedece leis causais? Por que leis de tamanha simplicidade e não muito mais complexas? Por que as leis da natureza são como são?

62 63 64

O Universo numa Casca de Noz, Stephen Hawking, PhD, ISBN: 8535402314: 69 e 79. Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091.


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Se a ordem não for imposta, não deveria ser esperada. São muito mais abundantes os motivos para que o mundo seja uma total bagunça, e não impecável, ordeiro e PERFEITO como o vemos. Por que as partículas elementares fazem suas piruetas matematicamente

elegantes?

Por

que

as

constantes

fundamentais da natureza são primordiais à vida inteligente65? Por que o universo consiste de certas coisas e não de outras? Como o universo encontrou esse nível de organização? Olhe ao seu redor. Veja a estrutura complexa e a organização elaborada do universo. Raciocine sobre as formulações matemáticas das leis da física. Admire a forma como os átomos se organizam para formar tudo que conhecemos, desde as galáxias até o café com leite. Por que tudo parece simples e ao mesmo tempo complexo?66 Parece que o universo foi fabricado sob certas especificações67. Como pode o universo ser capaz de criar coisas completamente novas simplesmente orientado pelas leis da natureza? Posto de outra forma: qual a fonte da criatividade do universo?68 Enquanto o universo era considerado eterno, sua existência não intrigava tanto os pensadores. Não obstante, com a descoberta do big bang, tudo mudou. O que poderia ter causado essa explosão primeva? E o que a precedeu? Essas perguntas sem dúvida soam científicas, porém qualquer tentativa de respondê-las por parte da ciência se depara com Why Does the World Exist?, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091. God & The New Phisics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 46. Why The Universe Is de Way It Is, Hugh Ross, PhD, ISBN: 9780465016778: 28. 68 Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669. 65 66 67


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uma muralha colossal, que os cientistas apelidaram de singularidade. Trata-se de um limite do espaço-tempo, um ponto para o qual convergem todas as linhas causais. Se de fato existe uma causa para esse acontecimento, deve transcender o espaçotempo e, portanto, fugir ao alcance da ciência. O colapso conceitual da ciência no big bang foi perturbador para os cosmologistas de matriz ateísta.69 Nesse momento, o professor Max fez uma ligeira pausa, que é interrompida por uma aluna: — Espere um pouco, professor — disse abruptamente uma moça de etnia oriental. — O que significa “o colapso conceitual da ciência do big bang foi perturbador para os cosmologistas de matriz ateísta”? Eu não entendi bem essa frase. — Significa que, “se o mundo teve início no big bang, então é preciso pensar sobre o que havia antes”. — Certo — assente a moça. — São três os grandes mistérios do universo — retoma o professor: — o que havia antes do big bang, como a vida surgiu, e como e quando a consciência desabrochou70. A pergunta “por que existe um mundo em vez de nada” às vezes pode parecer meio vazia, outras vezes vai parecer muitíssimo profunda. De qualquer forma, é impossível não admitir que a existência do mundo é mesmo um grande milagre. Um enigma suficientemente grande para suscitar um tipo de fé.71

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Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 152. The 5th Miracle, The Search for the Origin and Meaning of Life, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091.


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Está havendo uma profunda transformação na forma como os cientistas examinam o mundo.72 Um número cada vez maior deles está começando a reconhecer as limitações da visão reducionista e materialista em relação à natureza. Estão a reconhecer que o paradigma que afirma que o universo é simplesmente um conjunto de partículas em interação está com seus dias contados. Não temos dúvida de que a revolução que temos o imenso privilégio e a fortuna de testemunhar em primeira mão vai alterar a visão que a humanidade tem do universo.73 — Professor, você falou em “visão reducionista”. O que é isso? — Reducionista, em termos mais amplos, é o indivíduo que acredita que a explicação para os fenômenos que ocorrem no universo, desde o comportamento dos fótons até a explosão de supernovas, pode ser “reduzida” ao micromundo das partículas subatômicas. — Seriam as pessoas que acreditam que tudo se explica por meio dos átomos? — Exato. O paradigma dessas pessoas, em última instância, se resume aos átomos. Percebendo que o aluno se dava por satisfeito, continuou: — Os astrônomos reconhecem que todos os elementos que compõem o universo, tanto a matéria quanto a energia, precisam estar presentes em um valor específico, ou a vida não poderia existir.

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The Matter Myth, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780743290913: Preface 7. The Matter Myth, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780743290913: Preface 9.


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De um lado, o Nada, do outro, um universo altamente complexo, com vida e consciência, sem explicação para existir. Como algo assim pode sair do Nada e entrar para a existência? Se no começo do universo, durante e após o big bang, víamos insignificância, hoje encontramos estrelas, planetas, montanhas, rios, plantas, animais e a própria consciência. Como uma Grande Explosão se transformou em tudo isso? A explicação pode ser complexa.74 Nenhum princípio orientador seria mais poderoso do que aquele que pudesse fornecer ao universo uma forma de começar a existir.75 Dentro de uma atmosfera de espanto, os alunos guardavam rigoroso silêncio, famintos de instruções novas. — Estaria surgindo uma nova ciência? Acho que é muito maior que isso. É como se fosse um ramo de conhecimento completamente novo, que não fará nenhuma oposição à ciência clássica. Ambos viverão em paz e se completando. Enquanto a ciência segue sua jornada em direção à microestrutura, ao arcabouço mais básico e simples da matéria, à estrutura fundamental do átomo, esse novo ramo do saber seguirá em direção aos aspectos mais cooperativos e holísticos da natureza e do cosmos. Esse, em minha opinião, será o tema central da busca pelo conhecimento nas próximas décadas.76 Ainda hoje ansiamos por querer saber por que estamos aqui e de onde viemos77.

Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669. John Wheeler, citadoemGod & The New Phisics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 40. Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669. 77 Uma Breve História do Tempo, Steven Hawking, PhD, 1988, Ed. Rocco: 34. 74 75 76


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Newton, Darwin e Einstein nos libertaram do misticismo do passado.78 Por causa disso, o mundo mudou mais nos últimos 300 anos do que em todo o resto do passado da humanidade. Não por doutrinas políticas ou econômicas, mas por causa do imenso progresso do saber.79 Não há dúvida de que a visão newtoniana de mundo, com sua doutrina materialista, tem contribuído imensamente para o avanço da ciência, fornecendo um quadro bastante intuitivo por meio do qual se possa estudar uma ampla variedade de fenômenos. Mas também não há dúvidas de que o paradigma newtoniano tem contribuído em grande parte para alienar o ser humano do universo que habita.80 “Estou fortemente convencido de que agora podemos saber o bastante. Não o suficiente para concluir nossos questionamentos, mas o bastante para fazer com que nossas vidas tenham sentido”81, disse Hugh Ross, PhD em astrofísica pela Universidade de Toronto.

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 322. O Universo numa Casca de Noz, Stephen Hawking, PhD, ISBN: 8535402314: 26. The Matter Myth, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780743290913: 13. 81 Why The Universe Is de Way It Is, Hugh Ross, PhD, ISBN: 9780465016778: 26. 78 79 80


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Auto-organização — Um crescente número de cientistas — principiou o mestre com ênfase — está percebendo que a habilidade do mundo físico se organizar constitui um dos mistérios mais profundos do universo. O fato de a natureza possuir poderes criativos e ser capaz de produzir uma riqueza de variedades cada vez mais acentuada de formas e estruturas complexas, desafia a própria fundação da ciência contemporânea. Nosso organismo, por exemplo, recebe esse nome porque tem a extraordinária habilidade de se organizar. O filósofo Karl Popper disse que o maior enigma da cosmologia pode bem ser o fato de que “o Universo, em algum sentido, seja criativo”. O astrofísico australiano Erich Jantsch expôs seu ponto de vista no livro The Self-organizing Universe82 dizendo que o universo possui uma espécie de “livre-arbítrio”, ou vontade própria, e, dessa forma, seria capaz de produzir novidades. A explosão do conhecimento científico no mundo ocidental começou efetivamente no século 17 e, diferentemente

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The Self-Organizing Universe: Scientific and Human Implications of the Emerging Paradigm of Evolution, E. Jantsch, ISBN: 9780080243115.


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do que já acreditaram alguns, não parece que o processo vá desacelerar. Após três séculos de progresso espetacular, a fronteira científica pode ser didaticamente definida em três grandes categorias: a fronteira do ‘muito grande’, do ‘muito pequeno’ e do ‘muito complexo’. A primeira categoria diz respeito à cosmologia, à estrutura geral e à evolução do universo. A segunda se ocupa das leis físicas das partículas subatômicas e a busca pelos blocos fundamentais da matéria. Com a percepção das implicações advindas do big bang, recentemente essas duas disciplinas iniciaram um processo de fusão, uma vez que a física subatômica colabora na elaboração da forma global do universo. Reciprocamente, a maneira como o universo surgiu e se desenvolveu tem contribuído para determinar um número de propriedades fundamentais da matéria produzida pelo big bang. — E, sorrindo, arrematou: — Dessa forma, o macro e o micro se determinam reciprocamente.83 Fixando os alunos com olhar muito lúcido, continuou: — Em contraste, a terceira grande fronteira científica, a ”muito complexa”, permanece ainda por ser explorada. Pouco ou nada se sabe sobre ela. A complexidade, por sua própria natureza, é complicada e difícil de ser entendida. Mas o que está ficando claro para alguns cientistas é que a complexidade nem sempre conduz à confusão e à complicação idiossincrática. O que se está descobrindo é que existe um grupo de leis naturais distintas da complexidade que complementam, mas não violam, as já conhecidas leis da física.

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Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669: ix.


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Era um suave dia primaveril. Ar fresco, revigorante, entrava pela janela. — Da mesma forma que as ciências do micro e do macro estão se fundindo, o estudo do muito complexo está se sobrepondo ao do micromundo. Os desenvolvimentos mais fascinantes estão despontando nos campos de interação da biologia, da química e dos sistemas computacionais. Mas o fato mais surpreendente que emerge desse novo horizonte, talvez um novo paradigma, é que o universo nunca deixou de criar e produzir. De prótons, nêutrons e elétrons o universo fabricou o ser humano. E isso nos leva a questionar: qual o limite? Onde fica a próxima fronteira? — Ou seja, professor, parece não haver limites para o tecido da realidade — intervém uma aluna, de olhos negros e profundos. — Cada vez que a ciência avança em direção ao que pensa ser o limite, percebe que a margem, na verdade, parece ficar ainda mais fora do alcance. — Exato — concordou o orientador. E acrescentou: — Hoje os cientistas sabem que toda a complexidade que vemos emanou de um estado inicial insignificante do big bang. Sabemos que qualquer sistema abandonado se desorganiza, mas não é o que constatamos no universo, que parece seguir um propósito. — Não entendi bem, professor. — Vou dar um exemplo: se você abandona uma casa por um ano, quando volta, verá um enorme desalinho: sujeira, mato e pó.


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Se em um estado inicial, durante e após o big bang, víamos anarquia e caos no universo, hoje encontramos estrelas, planetas, montanhas e rios, plantas, animais e a própria consciência – nós, seres humanos. O orientador tomou um gole de água, fez um gesto singular com as mãos e falou: — Como uma Grande Explosão se transformou em tudo isso? — Ou seja, professor, como uma enorme bagunça, resultado de uma explosão se organiza sozinha? — Isso! — Assentiu o mentor. Pausa. O professor calou-se, contemplou os alunos com profundo sentimento e simpatia. A seguir, voltou com estas palavras: — Qual a fonte desse surpreendente poder criativo? E, imprimindo grave inflexão às palavras, considerou: — Podem os processos físicos explicar a criatividade contínua da natureza? Somente há pouquíssimo tempo os cientistas começaram a tomar consciência da organização e da complexidade que emerge da inexpressividade do estado inicial do Universo. Pesquisas em diversas áreas estão revelando a propensão extraordinária que os sistemas físicos possuem para gerar novos estados de ordem espontaneamente. — Ou seja, professor, se voltamos a uma casa abandonada há um ano e a vemos organizada e limpinha, temos que concluir que há algum fenômeno responsável pela ordem. Ele consente, gesticulando com a cabeça.


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— Está ficando cada vez mais claro que existe autoorganização em cada um dos ramos da ciência. Nesse contexto, uma questão apresenta a si mesma: São as aparentemente intermináveis variedades de formas naturais e estruturas que vão surgindo à medida que o universo se desdobra, simplesmente o produto acidental de forças aleatórias? — questionou ele. — A origem da vida, por exemplo, é vista por alguns cientistas como um evento extremamente raro e antiprobabilístico. — E falou, resoluto: — Se a riqueza da natureza está construída dentro de suas leis, isso implica que “o presente estado do universo está de alguma forma predestinado”? Para usar uma metáfora, existiria um “planejamento cósmico”?84 E com um brilho no olhar, acentuou depois de longo hiato: — Essas questões evidentemente não são novas. No entanto, recentemente a ciência tem realizado importantes avanços que estão alterando dramaticamente a perspectiva que os cientistas mais inovadores têm do Universo. Uma nova cosmovisão, um novo paradigma está se formando. Por 300 anos a ciência tem sido dominada pelo paradigma newtonianomecanicista-reducionista-materialista, que apresenta o universo como uma máquina estéril em estado de degeneração e decaimento. Após uma pausa, ele acrescentou:

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— Mas está despontando um novo paradigma, que reconhece o caráter inovativo e progressivo dos processos físicos no universo, nos quais as coisas se auto-organizam. Esse paradigma enfatiza os aspectos coletivos, cooperativos e organizacionais da natureza. Suas perspectivas são sintéticas e holísticas em vez de analíticas e reducionistas. Calou-se. Suspirou profundamente e tornou: — Talvez possamos, um dia, dar-nos conta de que a autoorganização do universo quiçá não seja resultado de uma seleção cega, mas o potencial de uma autodeterminação.85 Como pode o universo ser capaz de criar coisas completamente novas simplesmente orientado pelas leis da natureza? Posto de outra forma: Qual a fonte da criatividade do universo? Max faz pausa para beber um gole de água. Em seguida, toma uma caneta-pincel e começa a escrever lentamente sobre a lousa branca, dizendo pausada e enfaticamente: Um milésimo de milésimo de segundo após o big bang, os léptons unem-se para formar elétrons. Quarks esculpem prótons e nêutrons. Mais tarde, estes modelam o átomo de hidrogênio, que por meio da fusão nuclear no interior das estrelas, fabrica os demais elementos químicos da tabela periódica, que formam planetas e luas. A Terra, logo que esfria, produz um ser unicelular. As células se organizam em colônias. Surgem os seres pluricelulares e logo os vegetais. Aparecem os animais inferiores, 85

Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669.


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os animais superiores, os primatas, e eis que finalmente emergem os humanos. Seres cujos cérebros, formados de átomos, conseguem refletir sobre sua própria natureza e origem. Voltou-se para os alunos e declarou: — Como sustentar que esse processo criativo, entre o big bang e o surgimento dos humanos, na Terra, simplesmente aconteceu e pronto, sem explicação? E a lousa recebia traços da mão de Max: Um processo criativo gerou seres humanos. — Não há nada que me desagrade mais que um ponto final prematuro no campo intelectual.86 E sabem o que mais me impressiona no universo? Não é o fato de que ele surgiu há 13,7 bilhões de anos! O que mais impressiona é o fato de o universo ainda estar surgindo. Estamos habituados a tratar o universo como se ele estivesse no passado. Mas o universo é uma ‘coisa’ que ainda está acontecendo. A ciência reconhece claramente que o universo primitivo se encontrava em um estado de simplicidade máxima, mas que hoje está se desenvolvendo em estruturas cada vez mais complexas. Atualmente, temos exemplos de estruturas complexas abundando em todas as escalas de tamanho, de vírus a galáxias. Se no passado tudo era muito mais simples, no futuro será bastante mais complexo. Então, temos que presumir que deve necessariamente haver um conjunto de leis governando o processo sistemático da 86

Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 87


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complexidade crescente. Mas as leis a que me refiro vão na direção contrária à das leis da física, tão nossas conhecidas, que tratam do muito pequeno. O expediente de romper os sistemas físicos em seus componentes mais fundamentais e buscar uma explicação para seu comportamento no nível mais profundo da matéria é chamado de reducionismo, que tem exercido poderosa influência sobre o pensamento científico ao longo dos últimos 300 anos, depois de Newton87. Mas o que estamos vendo agora é algo holístico, que precisa ser considerado em sua totalidade. Como explicar o fato de que os átomos são capazes de se estruturar complexamente e aprender a pensar e criar sem tratar o problema de forma holística? A física consegue explicar, por meio de suas equações, por que uma rocha se mantém em repouso na Terra e como os asteroides se mantêm em movimento contínuo pelo espaço. 88 No entanto, ela não tem explicações para o movimento de corpos mais complexos. — Não entendi bem, professor. Pode dar um exemplo? O professor caminha até o final do corredor sem nada dizer. Dez segundos. — Suponhamos que eu tenha um pássaro vivo na mão direita e um pássaro morto na mão esquerda — elucidou o professor. — Antecipadamente sabemos que, baseado nas leis naturais, a matéria morta, no caso, o pássaro morto, vai cair a poucos metros à minha frente. E podemos até calcular com precisão matemática, com a ajuda da algumas fórmulas, baseado

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Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669. Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669.


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na força e massa, onde a matéria morta vai cair. No entanto, a física não consegue prever onde a matéria viva vai cair, se sobre uma árvore ou um fio, ou se alçará voo para rincões distantes. Vou repetir: a física pode prever com precisão milimétrica o movimento da matéria morta, mas nada pode antecipar ou calcular a respeito da matéria viva. Ele faz uma pausa reflexiva. — E o que isso significa, professor? — Significa que a matéria viva tem autonomia para fazer o que quiser, dentro de seus limites. — Professor, deixe-me ver se entendi bem. A física consegue prever tudo o que acontece no universo em relação à matéria sem vida, como uma rocha ou um pássaro morto, ou até mesmo o movimento dos cometas, mas não consegue visualizar nenhuma lei no universo que possa explicar o movimento dos seres vivos, mesmo de uma minúscula bactéria. Seria isso? Ele anuiu. As explicações do professor abriram novos campos de meditação e entendimento. O esclarecido educador, contudo, não dera por finda a lição e, depois de curta pausa, continuou: — Exato. Mesmo uma simples bactéria tem desejos, se assim podemos dizer. Elas reagem às ameaças. Isso implicaria que a vida desafiaria as leis da natureza? Ou existiriam novas leis, incapazes de ser percebidas por nossa ciência? Se não, de onde emanam os objetivos da vida em um mundo aparentemente cego e desprovido de propósito?89 89

The 5th Miracle, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092: 33.


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Para a física, a autonomia, ou livre-arbítrio, é uma das propriedades mais enigmáticas do universo. Ela distingue claramente a matéria animada da matéria sem vida. Mas está difícil conhecer sua origem. A ciência definitivamente nada sabe sobre a autonomia, que popularmente chamamos de vida. Por que eu sou dotado da faculdade da vontade, sinto desejos, e uma rocha não? Possivelmente as leis que criaram os seres vivos seguem um grupo diferente das que são estudadas pela ciência clássica. O que eu quero dizer é que deve existir um grupo de leis da auto-organização por aí, complementando as leis da física, estudadas pela ciência clássica. O que é a vida? De onde vem? Quais são as leis que a governam? Esse será o tema pela busca do conhecimento ao longo das próximas décadas.90 — E como a ciência explica esse aspecto da vida, professor? Isto é, de se poder calcular com precisão o movimento dos corpos sem vida, e ser impossível determinar o movimento dos seres vivos? — Numa palavrinha muito simples chamada “livrearbítrio”. — Hum, eu nunca tinha entendido bem o que era livrearbítrio — comenta o aluno. — Agora ficou claro. — Professor, outra pergunta, você acha que isso poderá explicar a dualidade mente-cérebro? — Acho que quando os cientistas descobrirem esse novo conjunto de leis a que me referi, ou esse aspecto oculto do 90

The 5th Miracle, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092.


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universo, muita coisa será explicada. Por exemplo, o surgimento da consciência, que até o presente momento não existe para a física. Além disso, a medicina já conseguiu identificar, por meio dos trabalhos de estudiosos como Dr. Raymond Moody, Dr. Jeffrey Long, Dr. Sam Parnia, Dr. Pim van Lommel, Dra. Elizabeth Kubler-Ross, Dr. Ian Stevenson e tantos outros, que nós sobrevivemos à morte. Mas, por outro lado, se a física não consegue perceber as leis subjacentes ao processo da vida após a vida, não pode admiti-lo como verdadeiro. Em contraste, não há mais como negar que a consciência sobrevive à morte. É obvio que esse processo precisa seguir leis naturais, mas também é evidente que as leis que orientam a existência da consciência são as leis que governam o muito complexo. E o que existiria de mais complexo no universo que a consciência? E se a física não pode observar a consciência do homem, como esperar que pudesse ver a consciência de Deus, se Ele existir?


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Espantosa Precisão — O universo existe dentro de uma banda muito precisa de probabilidades e está bem balanceado para permitir que a vida tenha podido se desenvolver. Nosso lindo planeta azul tem sido relativamente estável durante centenas de milhões de anos. Mas um mundo estável por centenas de milhões de anos é extraordinariamente difícil de construir.91 Como isso aconteceu? Comece com o modo como são feitos os átomos, com o fato de que um próton pesa ligeiramente menos do que um nêutron. Isso significa que nêutrons acabam decaindo em prótons, que ocupam um estado de energia mais baixo. Se o próton fosse apenas 1% mais pesado, ele decairia em um nêutron e todos os núcleos se tornariam instáveis e se desintegrariam. Os átomos explodiriam, tornando a vida impossível.92 Outro acidente cósmico que torna a vida possível é que o próton é estável e não decai num antielétron. Experimentos demonstram que o tempo de vida de um próton é realmente

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Carl Sagan. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 235.


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astronômico, mais longo que o próprio universo. Para criar DNA, os prótons precisam ser estáveis por bilhões de anos.93 Se a força nuclear forte fosse só um pouco mais fraca, núcleos como o deutério explodiriam, e nenhum dos elementos do universo poderia ter-se acumulado sucessivamente no interior das estrelas por meio da nucleossíntese. Se a força nuclear fosse um pouquinho mais forte, as estrelas queimariam seu combustível rápido demais, e a vida não evoluiria. Se a intensidade da força fraca fosse diferente, a vida, mais uma vez, seria impossível. Neutrinos que agem via força nuclear fraca são cruciais para transportar a energia para fora de uma supernova que explode. Essa energia, por sua vez, é responsável pela criação dos elementos mais pesados, além do ferro. Se a força fraca fosse um pouquinho mais forte, os neutrinos não poderiam escapar adequadamente do núcleo de uma estrela, mais uma vez impedindo a criação dos elementos mais pesados que compõem nosso corpo e também nosso mundo. Os cientistas mostraram longas listas com inúmeros desses “felizes acidentes cósmicos”. Diante dessa lista imponente, é chocante descobrir quantas das constantes familiares do universo estão dentro de uma banda muito estreita, que torna a vida possível. Se apenas um desses acidentes fosse alterado, as estrelas jamais se formariam, o universo se desintegraria, o DNA não existiria, a vida seria

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Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 235.


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impossível, a Terra viraria de cabeça para baixo ou congelaria e assim por diante.94 A quantidade relativa de hidrogênio que se converteu em hélio via fusão, no big bang, chamada de Épsilon, é de 0,007. Se Épsilon fosse 0,006, isso enfraqueceria a força nuclear, e prótons e nêutrons não se ligariam uns aos outros. O deutério, com um próton e um nêutron, não poderia se constituir; dessa maneira, os elementos mais pesados não poderiam se formar no interior das estrelas, os átomos dos nossos corpos não poderiam ter se formado e o universo inteiro teria se dissolvido em hidrogênio. Até uma pequena redução na força nuclear criaria instabilidade na tabela periódica dos elementos e haveria menos elementos estáveis com os quais a vida se formaria. Por outro lado, se Épsilon fosse 0,008, a fusão teria sido tão rápida que nenhum hidrogênio teria sobrevivido ao big bang, e não haveria estrelas hoje para fornecer energia aos planetas. Ou talvez dois prótons tivessem se ligado, tornando a fusão nas estrelas impossível. Martin Rees aponta para o fato de o astrônomo britânico Fred Hoyle ter descoberto que mesmo uma mudança tão pequena como 4% na força nuclear teria impossibilitado a formação de carbono nas estrelas, tornando os elementos mais pesados e, portanto, a vida seria impossível. Fred Hoyle descobriu que mudando ligeiramente a força nuclear, o berílio seria tão instável que jamais poderia ser uma “ponte” para formar átomos de carbono.95

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 235. Just Six Numbers: The Deep Forces That Shape The Universe, Martin Rees, PhD, ISBN: 9780465036738. Citado em Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 238.

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“N” representa a intensidade da força elétrica, que, dividida pela gravitação, é 1036. A gravidade é a mais fraca de todas as quatro forças da natureza. No entanto, se fosse só um pouquinho mais fraca, as estrelas não poderiam se condensar e criar as enormes temperaturas necessárias para a fusão e criação dos elementos mais pesados da tabela periódica. Por conseguinte, as estrelas não brilhariam e os planetas mergulhariam em uma escuridão congelante. Por outro lado, se N fosse maior, isso faria com que as estrelas se aquecessem depressa demais e queimassem seu combustível tão rápido que não haveria tempo à vida para se formar. Além disso, as galáxias se formariam mais cedo e seriam muito pequenas. As estrelas seriam mais densamente apinhadas, causando desastrosas colisões entre várias estrelas e planetas.96 Ômega representa a densidade relativa do universo. Se Ômega fosse menor, o universo teria se expandido e esfriado muito rapidamente. Mas se Ômega fosse maior, o universo teria entrado em colapso antes que a vida pudesse começar. Martin Rees escreveu que um segundo depois do bigbang, Ômega não pode ter se diferenciado da unidade em mais de uma parte em um milhão de bilhões, um em 1015, para que o universo, agora, depois de 13,7 bilhões de anos, esteja ainda se expandindo e com valor de Ômega ainda próximo da unidade.97 A constante cosmológica é representada por Lambda, que determina a aceleração do universo. Se fosse apenas um 96

Just Six Numbers: The Deep Forces That Shape The Universe, Martin Rees, PhD, ISBN: 9780465036738. Citado em Mundos Paralelos, MichioKaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 239. Just Six Numbers: The Deep Forces That Shape The Universe, Martin Rees, PhD, ISBN: 9780465036738. Citado em Mundos Paralelos, MichioKaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 239.

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pouquinho maior, a antigravidade criada faria o universo explodir, enviando-o para o congelamento logo após o big bang. Mas se Lambda fosse negativo, o universo teria se contraído violentamente em uma grande implosão. Em outros termos, Lambda também precisa seguir por uma banda muito estreita para que haja universo.98 A amplitude das irregularidades no fundo de microondas cósmico é representado por Q, e é igual a 10-5. Se esse número fosse só um pouquinho menor, o universo seria escuro, uma massa de gases e poeira extremamente uniforme, sem galáxias, sem estrelas, sem planetas e sem vida. Se Q fosse maior, a matéria teria se condensado mais cedo na história do universo, em imensas estruturas supergaláticas, e logo se formariam enormes buracos negros. Seriam mais pesados que as galáxias de hoje. Os sistemas planetários seriam impossíveis, pois as estrelas estariam comprimidas e interferindo nas órbitas umas das outras.99 O universo físico é formado de matéria. A matéria é formada

de

átomos.

A

massa

dos

átomos

está

predominantemente concentrada no núcleo, que é constituído de prótons e nêutrons. A quantidade de prótons e nêutrons no núcleo é que determina o peso atômico de um átomo. Os metais são os elementos mais pesados porque carregam mais prótons e nêutrons em seu núcleo. Os prótons carregam carga elétrica positiva; os nêutrons, como o nome sugere, são eletricamente

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Just Six Numbers: The Deep Forces That Shape The Universe, Martin Rees, PhD, ISBN: 9780465036738. Citado em Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 239. Just Six Numbers: The Deep Forces That Shape The Universe, Martin Rees, PhD, ISBN: 9780465036738. Citado em Mundos Paralelos, MichioKaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 239.

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neutros. O campo elétrico positivo gerado pelos prótons atrai os elétrons, dotados de carga negativa. Eles se encaixam em uma série de camadas que cercam os núcleos. Cada órbita permite uma capacidade máxima de elétrons, então, adicionar elétrons às comadas é meio parecido com preencher uma caixinha de ovos. A capacidade da órbita mais interna é de dois elétrons, a próxima órbita precisará de 8 elétrons, a seguinte de 18, 32, 32, 18 e novamente 2, na ultima camada. A partir dessa arquitetura diminuta ergue-se a maior parte da estrutura em larga escala do nosso mundo. A tabela periódica e a química assentam-se nesses princípios fundamentais. A ordem em que os elementos químicos aparecem na tabela periódica é expressa por sua massa atômica. A facilidade com que os átomos se associam com outros elementos é determinada pelos elétrons da camada externa. Essa é a base da periodicidade. Eis a raiz da tabela periódica: Um átomo com a casa vaga na última camada está pronto para se acoplar à outro igualmente desprovido de elétrons. O hidrogênio simples é um átomo assim, pois ele tem somente um elétron, e sua única camada tem lugar para dois. Por esse motivo, o hidrogênio é um elemento quimicamente instável. Ele pode, por exemplo, se combinar com o oxigênio, produzindo o que os químicos chamam de oxidação rápida, e o restante de nós chama de fogo. O hélio, por outro lado, é quimicamente inerte, pois carrega dois elétrons em sua camada.100

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The Whole Shebang, Timoty Ferris, PhD, ISBN: 0684810204: 104.


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Se a gravidade fosse só um pouquinho mais forte, já teria queimado todo o combustível do Sol. Se o elétron, a partícula que produz eletricidade, fosse mais pesado, não haveria átomo, não haveria oxigênio, não haveria água. Não haveria pessoas. Não haveria Sol. Um mistério excepcional da física de partículas é: porque as várias partículas subatômicas têm a massa que têm? O elétron, por exemplo, tem massa 1836 vezes menor que o próton. Por que precisamente esse número? As cargas elétricas do próton e do elétron são iguais, porém inversas, e = 1,6 .10-19 C. Por que são assim e não de outra forma101? Por que a gravidade é precisamente 1039 vezes mais fraca que o eletromagnetismo? A massa do elétron é 9,11x10-31kg. Simulações em computador asseguram que o parâmetro não pode oscilar o mínimo que seja, ou não haveria estrelas e planetas. O próprio universo não poderia existir. Mas o fato mais surpreendente que emerge dos avanços científicos é sabermos que o universo nunca deixou de criar e produzir. De uma grande explosão, o big bang, surgiram prótons, nêutrons e elétrons que produziram estrelas e planetas, onde surgiram montanhas e mares, o berço da vida. A vida amadureceu e produziu a consciência... Como acreditar que tudo isso aconteceu por uma mera conjunção de fatores aleatórios? A limitação mais óbvia da teoria materialista é que ela não fornece mecanismos plausíveis para explicar o aparecimento 101

The Matter Myth, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780743290913: 21.


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do universo e o desenvolvimento da consciência a partir das atividades das células cerebrais. A gravidade é a mais fraca de todas as quatro forças da natureza, No entanto, se fosse só um pouquinho mais fraca, as estrelas não seriam como são. O Sol seria maior, e a vida como a conhecemos não seria possível. Se a força nuclear fosse um pouquinho mais forte, as estrelas queimariam seu combustível rápido demais… o Sol já teria se apagado. Se a gravidade fosse só um pouquinho mais forte, já teria queimado todo o combustível do Sol. Se a massa do elétron não fosse 9,11x10-31kg, o Sol já teria se apagado… ou, mais provavelmente, nem teria existido. Os cientistas nunca conseguiram entender porque a gravidade é tão fraca. Um minúsculo imã pode levantar um clipe contra toda a gravidade da Terra. Os imãs possuem uma força diferente, a força eletromagnética, a mesma força por trás da luz e da eletricidade. Acontece que o eletromagnetismo é muitíssimo mais poderoso que a gravidade… zilhões de vezes mais poderoso. Para ser mais exato 1039 vezes. Mas se essa relação fosse de 1038 ou 1040, o Sol não estaria brilhando. Os valores numéricos que a natureza atribuiu às constantes fundamentais, tais como a carga elétrica e a massa do elétron, do próton e do nêutron, a constante gravitacional de Newton, podem ser um mistério, mas têm relevância crucial para a estrutura do universo que percebemos. Quanto mais os sistemas físicos, como núcleos atômicos e galáxias, são compreendidos, os cientistas começam a se dar


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conta que muitas das características desse sistema são notavelmente sensíveis aos valores precisos das constantes fundamentais. Se a natureza tivesse optado por um conjunto diferente de parâmetros, o mundo seria um lugar bem diferente. Mais intrigante ainda é que certas estruturas cruciais, como estrelas tipo o sol, dependem para suas características de acidentes numéricos altamente improváveis que combinam constantes fundamentais de ramos distintos da física. Recentes descobertas sobre o estado inicial do universo primitivo nos obrigam a aceitar o fato de que o universo em expansão foi ajustado com precisão espantosa. Essa e uma centena de outras coincidências cósmicas nos dão a impressão de que o universo foi delicadamente balanceado de inúmeras formas distintas.102 O inglês Sir Roger Penrose, PhD, é um físico, matemático e filósofo da ciência, professor emérito da Cátedra Rouse Ball de Matemática da Universidade de Oxford. Ele calculou que as chances do estado inicial de baixa entropia do universo deveria ser, aproximadamente, da ordem de 10120 contra 1.Agora compare esse número à quantidade de átomos do universo: 1080! Mas não é só isso. Roger Penrose, juntamente com Owen Gingerich, Fred Hoyle, Walter Brasley, Brandon Carter, Paul Davies e outros físicos e matemáticos reuniram uma imensa massa de dados para calcular quais as chances de nosso universo ser exatamente do jeito que é. Foram analisados o estado inicial do universo, o desdobramento gradual e as condições para um universo amigável à vida consciente. 102

Accidental Universe, Paul Davies, PhD, Cambridge University Press, 1982: Preface.


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O número foi publicado... — Só um pouquinho, professor — um rapaz levanta a mão. — Não entendi bem o que eles calcularam. — Essencialmente, eles calcularam quais as chances de o universo ser como é. Qual o grau de precisão que o universo necessitou para atingir o estado bioamigável. O aluno faz que entendeu. — O número foi publicado por Roger Penrose. E ele assim se expressou: Para produzir um universo semelhante a este em que estamos, o Criador precisou levar em conta um número absurdamente pequeno, da ordem de 1 contra 1010(123).103 Silêncio abafado. O mestre ficou quieto. Os alunos estavam afônicos. O astrônomo Hugh Ross, para enfatizar como essa situação é extraordinária, comparou-a a um avião Boeing 747 sendo totalmente montado em consequência de um tornado que atingisse um depósito de ferro velho.104 O que podemos deduzir dessas coincidências? Será que nosso universo e suas leis podem seguir um projeto feito sob medida e que, se for para realmente existirmos, deixa pouca margem para alteração?105 Não fosse por uma série de coincidências espantosas e detalhes precisos das leis físicas, parece que nós, humanos e formas de vida semelhantes, jamais teríamos aparecido.106 103

The Emperor's New Mind: Concerning Computers, Minds, and the Laws of Physics, Roger Penrose, ISBN: 9780192861986: 344. The Creator and the Cosmos: How the Latest Scientific Discoveries of the Century Reveal God, Hugh Ross, PhD, ISBN: 9781576832882: 145. 105 O Grande Projeto, Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, PhD, ISBN: 9788520926574: 119. 106 O Grande Projeto, Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, PhD, ISBN: 9788520926574: 118. 104


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Leis da Natureza — O físico Paul Davies — inicia o professor Max — atenta para o fato de que ninguém pergunta onde estão escritas as leis da física e o que lhes confere poder para comandar tudo. Mas até mesmo o cientista de matriz ateísta mais radical aceita, como um ato de fé, a existência de ordem no universo, graças à existência de leis, cuja essência, ao menos em parte, é compreensível ao ser humano. As leis da física de fato existem, e o trabalho dos cientistas é descobri-las e não inventá-las. O físico destaca que não podemos observar as leis diretamente, mas extraí-las de forma experimental e por meio de teorias matemáticas. As leis estão escritas em um código cósmico que os cientistas devem fragmentar a fim de revelar a mensagem nelas escritas. Paul Davies coloca a questão da seguinte forma: De onde as leis provêm? Por que as leis foram escritas dessa forma e não de outra? Como, a partir de uma grande explosão, essas leis


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construíram estrelas, planetas, vegetais, animais e seres inteligentes?107 E a outra questão que ele deixa no ar é a seguinte: Há somente um único conjunto de leis possível?108 Por exemplo, os cientistas não têm a mínima ideia sobre como o universo construiu seres pensantes. Nós somos o exemplo do suprassumo da organização dos átomos. Como os átomos podem ter-se organizado para formar um cérebro? Estariam as leis da natureza sobrepairando o mundo como a mente de Deus, ordenando existir? Se pela lógica as leis da natureza são anteriores ao mundo, onde exatamente estão escritas? 109 As leis deveriam estar “ali” mesmo antes de próprio universo existir. Isso significa que as leis não são meras descrições da realidade, podendo ter existência independente? Na ausência de espaço, tempo e matéria, em que tábuas haveriam de ser escritas? As leis se expressam em forma de equações matemáticas. Mas o veículo da matemática é a mente, e isso quer dizer que a mente deve anteceder o universo? e de quem seria essa mente? Os cientistas se calam.110 Muitos nem querem pensar sobre isso. Seria possível assim demonstrar que as leis que explicam como as coisas funcionam dentro do mundo também explicam por que deveria haver um mundo?

There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 107. O Grande Projeto, Stephen Hawking, PhD, e Leonard Mlodinow, PhD, ISBN: 9788520926574: 23. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 158 110 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 174. 107 108 109


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— Professor, parece que as leis da natureza estão para o universo assim como um software sistema operacional está para o computador. — Sim, sua analogia é bem oportuna. — E voltando ao fio da lição: — Podemos agora desenhar todas as linhas de nossa investigação para construir um cenário cósmico que revele o surpreendente alcance da nova física para explicar o mundo físico. E isso ilustra o tipo de ideias que a física moderna tem revelado – e a ideia científica da possibilidade da existência de Deus não pode ser ignorada. Por que as leis da natureza são como são? Por que o universo consiste de certas coisas e não de outras? Como essas coisas surgiram? Como o universo encontrou esse nível de organização? Quem ou o que escreveu as leis da natureza? Talvez o argumento mais popular e intuitivo para a existência de Deus seja o argumento do Desígnio. De acordo com esse argumento, o desígnio, que é aparente na natureza, sugere a existência de um “designer cósmico”. O filósofo inglês Antony Flew tem salientado que esse, na verdade, é um argumento para o desígnio a partir da ordem, uma vez que os argumentos procedem da percepção de ordem na natureza para apresentar evidências para o desígnio, e assim, um designer. Segundo ele – um ex-ateu – esse argumento constitui um caso persuasivo para a existência de Deus. O avanço em duas áreas conduzem a essa conclusão. A primeira diz respeito à questão da origem das leis da natureza. A segunda é a origem da vida e a reprodução.


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O que Flew quer dizer com leis da natureza? Por lei, ele se refere à regularidade e à simetria na natureza. O ponto importante não é simplesmente o fato de que existe regularidade na natureza, mas que a regularidade é matematicamente precisa, universal e entrelaçada. Einstein se referiu a esse fenômeno como a “razão encarnada”. A pergunta que deveríamos fazer é “como” a natureza veio acondicionada nessa embalagem. Essa é a pergunta que cientistas de Newton a Einstein, a Heisenberg têm feito – e a resposta de alguns deles é a mente de Deus. E essa postura não é encontrada apenas em cientistas de matriz teísta, como Isaac Newton ou James Maxwell. Até mesmo cientistas que adotam a visão ateísta não encontram outra resposta e ficam tentados a usar Deus como solução. Mesmo que de maneira figurativa. Vejamos um exemplo de Steven Hawking111: Se descobrirmos uma teoria completa, que pudesse ser compreendida por todas as pessoas, não somente por um punhado de cientistas. Então deveríamos todos, filósofos, cientistas e leigos, ser parte na discussão de porque o universo e nós existimos. Se descobrirmos a resposta para isso, será o maior triunfo da razão humana – e então conheceríamos a mente de Deus. Suas palavras ecoaram em tímpanos receptivos. Continuou com voz mais firme, porém suave. — Mesmo que seja possível haver uma teoria unificada, será somente um conjunto de regras e equações. O que é — 111

There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 95.


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pergunta Steven Hawking — que sopra fogo nessas equações e produz um universo para que elas possam descrevê-lo? E Hawking continua: a impressão dominante diz respeito à “ordem”. Quanto mais avançamos no entendimento do universo, mais descobrimos que ele é governado por leis racionais. E ainda fica a questão, por que o universo se deu ao luxo de existir? Se você preferir, pode dizer que Deus é a resposta por trás dessa questão.112 Antes de Hawking, Einstein usou linguagem figurada semelhante: “Eu quero saber como Deus criou este mundo… quero conhecer Seus pensamentos… o resto são detalhes”113. As leis da natureza apontam para um significado subjacente mais profundo para a existência do mundo. Conceitos como significado e sentido captam de forma muito imperfeita o que o universo realmente significa.114 Uma interpretação dos fatos pelo senso comum sugere que um superintelecto brincou com a física, bem como com a química e com a biologia e que não há forças cegas na natureza. Os números que auferimos com os cálculos por via dos fatos me parecem tão absurdamente esmagadores quase a ponto de elevar à conclusão além do questionamento.115 — Professor, não existe nenhuma teoria que ao menos tente explicar qual a origem das leis da natureza? — Sua pergunta, meu jovem, é uma das questões mais valiosas e inestimáveis da nova física. Mesmo cientistas There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 97. There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 98. There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 108. 115 New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836. 112 113 114


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brilhantes como Steven Hawking e Leonard Mlodinow se dobram ao fato de que parece não haver razão para explicar o porquê das leis da física.116 — Ou seja, professor, — aduziu uma jovem que se mantinha em atitude expectante — as leis da Física representam o maior de todos os mistérios. — As leis propriamente ditas estão sendo reveladas aos poucos, mas a origem delas é, sem dúvida, um grande mistério. — Se a ciência não conseguir explicá-la, a Matriz Teísta vai adquirir cada vez mais força, não é? — sugere outra moça. — No início do século 20, acreditava-se que a ciência teria enterrado o conceito da existência de Deus. Cem anos depois, o que vemos é exatamente o contrário. A ciência tem ajudado a descortinar mistérios aparentemente insolúveis que conduzem às pegadas de um criador. — As leis da natureza seriam o grande milagre! — completa a aluna. — E esse milagre, supostamente, não tem explicação. Ao menos até agora. — Você acredita em milagres, professor? — quis saber um moço de cabelos negros, soltos e livres, de rosto radiante. — Os supostos milagres seriam rompimento das leis da natureza. E até o presente estágio das ciências, tem-se demonstrado que as leis não podem ser transgredidas de forma alguma.

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http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/nao-precisamos-de-deus-para-explicar-o-universo-afirma-fisico-e-autorleonard-mlodinow, consultado em maio de 2015.


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— Então você não acredita em milagres? — insiste o moço. — Se existem leis, elas precisam ser cumpridas. É nisso que acredito. — A Bíblia diz que Jesus transformou água em vinho. Você não acredita nisso, professor? — Nós não estamos aqui para avaliar paradigmas bíblicos. Para sermos imparciais, precisaríamos estudar também o Alcorão, o Baghavad Guita e todos os livros sagrados da Terra. No entanto, este não é o objetivo de nossas aulas. O que estamos estudando são os paradigmas das matrizes teísta e ateísta de uma perspectiva filocientífica. E é a isso que vamos nos ater. — O que é “filocientífico”, professor? — É a fusão dos conceitos filosóficos e científicos em oposição aos conceitos teológicos. — Antes de nosso curso, eu sempre pensei que se poderia estudar Deus somente pela perspectiva teológica, professor. — Na verdade, a filosofia também vem tratando dessa temática desde a Antiga Grécia. Mas nas últimas décadas, a ciência começou a ensaiar algumas contribuições, como essas que estamos revisando ao longo do curso. — E como você vê Jesus, Maomé, Buda e outros supostos emissários de Deus? — Esse é um tema muito pessoal, sobre o qual não poderemos tratar dentro da temática deste curso. Nós tratamos aqui de filociência no contexto do mistério da origem do universo e das leis da natureza.


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Ordem Cósmica — O filósofo inglês de Oxford John Foster garante que a regularidade na natureza, não importa como você a descreva, pode ser mais bem explicada como sendo produto de uma mente divina. “Se você aceita que existem leis, e acho que ninguém nega isso, então é preciso aceitar também que existe algo que impõe a regularidade determinada pelas leis da natureza. E qual agente imporia essa regularidade? Aceitar a existência de Deus é a única opção séria que podemos conjeturar”, diz ele. Mesmo que alguém venha a negar a existência das leis, ainda assim precisaria explicar a ordem existente.117 O argumento do desígnio acabou sendo associado ao conceito de teologia, à ideia de que o universo foi programado para evoluir em direção a um objetivo final. Em seu sentido mais amplo, o argumento teológico compreende tanto a ordem da simplicidade quanto a ordem da complexidade. Trata-se de um conceito antigo. Embora Tomás de Aquino nada soubesse sobre a simplicidade matemática das leis da natureza, ele dizia que se pode observar uma ação ordenada 117

There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 109.


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para um fim em todos os corpos obedecendo a leis naturais, o que deixa evidente que todos os corpos tendem a um objetivo, e não existem apenas por um acidente da natureza. Richard Swinburne, professor emérito de filosofia da Universidade de Oxford, diz que a existência de ordem no universo aumenta significativamente a probabilidade de que existe um Deus.118 O universo é tão complicado e paradoxalmente simples, suas estruturas e processos tão diversificados e arrebatadores, que parece não haver razão que permita ao ser humano algum dia vir a compreendê-lo. No confuso caleidoscópio dos fenômenos que confrontam nossos exames, encontra-se uma ordem matemática oculta.119 A professora de física Vera Kistiakowsky, emérita do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, acha que a primorosa ordem exibida por nossa compreensão científica do mundo físico requer o divino.120 O universo não é apenas um mundo velho qualquer — garante John Polkinghorne, matemático e físico teórico de Cambridge que se tornou sacerdote anglicano — mas é especial e perfeitamente sintonizado para a vida porque um Criador deseja que assim seja.121 Isaac Newton acreditava que a elegância das leis da natureza apontavam para a existência de Deus.122 God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 165. Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669: Preface. 120 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 236. 121 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 236. 122 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 237. 118 119


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Os cientistas aceitam, como um ato de fé, que existe uma ordem matemática oculta e subjacente por trás do tecido do universo.123 É difícil de resistir à impressão de que a presente ordem e estrutura do universo, aparentemente tão sensíveis a pequenas

alterações

em

números,

não

tenham

sido

cuidadosamente planejadas.124 É preciso haver um terreno racional e sólido no qual a natureza ordenada e lógica do universo se apoie.125 Antes de Einstein, acreditava-se – e fazendo jus às leis descobertas por Newton – que o universo existia desde sempre, dentro de um espaço infinito e contendo quantidade infinita de matéria inter-relacionando-se. Dessa forma, haveria uma quantidade infinita de “tentativas cósmicas” que produziria qualquer grau profundo de complexidade e ordem. A cosmologia do big bang transformou inteiramente esses paradigmas científicos e reduziu o número de tentativas a um número relativamente pequeno quando comparado ao infinito: 13,7 bilhões de anos x 365 dias x 24 horas x 60 minutos x 60 segundos x 1043 (Unidade de Planck) x 1053kg (massa do universo) x 108(redução à mínima unidade de massa), o que nos dá 10120 de possibilidade total para a interação de massa-energia expressos em unidades mínimas de massa e tempo. Trata-se de um número bem grande, mas pequeno quando comparado às chances contra o universo ser da forma, que é 10-10(123) contra 1, o número de Penrose. 126 Esse número revela o extremo e Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669: ix. New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836: 50. Paul Davies, PhD 126 The Emperor's New Mind: Concerning Computers, Minds, and the Laws of Physics, Roger Penrose, ISBN: 9780192861986: 344. 123 124 125


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improvável grau de ordem e complexidade despontando no universo por fatores arbitrários a partir do big bang.127 No final do século 16, Kepler estava convencido de que Deus criou o universo de acordo com algum princípio matemático perfeito.128 — Quem poderia imaginar que o grau de ordem cósmica é tão profundo, professor? Isso eliminaria por completo a possibilidade do acaso agindo no universo? — A ciência é determinística. — E o que exatamente significa isso, professor? — Significa que tudo tem um motivo de ser. Tudo teria uma causa. Para a ciência não existe acaso.

127 128

New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836: 49. O Grande Projeto, Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, PhD, ISBN: 9788520926574: 121.


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Improbabilidades — Suponhamos que o universo exista desde sempre e que tenha sido governado pelas mesmas leis desde o princípio. O primeiro ponto importante é que existe um universo e que poderia não haver. O segundo ponto é que as leis que governam o universo existem há tanto tempo quanto o próprio universo e são imutáveis. E para originarem os seres humanos, essas leis precisam ser muito especiais. Poderíamos pensar que, dispondo de um tempo infinito, de alguma forma a matéria encontraria uma maneira de se organizar para produzir seres conscientes. Mas não acontece assim! A matéria não consegue assumir todas as configurações possíveis, mesmo em um tempo infinito. Imagine que você disponha de um tempo infinito e um quilo de matéria. Seria racional você aguardar que a matéria em questão pudesse em algum tempo infinito assumir a configuração de um relógio?129 Quanto mais os cientistas examinam o universo e estudam os detalhes de sua arquitetura, mais evidências surgem de que o universo, em algum sentido, deve ter sabido que estávamos chegando.130 129 130

Filósofo Richard Swinburne. Disturbing The Universe, Freeman Dyson, PhD, ISBN: 9780465016778.


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Ele projeta o número no multimídia: 10-10(123)

De novo uma pausa, e depois: — Como isso é possível? Um. Você está entrando em um quarto de hotel com uma bolsa em cada mão. O aparelho de som sobre o criado mudo está tocando uma música que você adora. Há uma cópia impressa, na colcha da cama, do seu quadro favorito. O quarto está perfumado com sua fragrância preferida. Você balança sua cabeça assombrado e deixa as bolsas caírem das mãos. Você fica em alerta total. Vai até o minibar, abre a porta, e fica boquiaberto com o que há lá dentro. Seus doces prediletos e até as marcas são as de sua preferência. Sua marca favorita de refrigerante também está lá. Você não saiu do espanto quando vê sobre a mesa o último livro de seu autor preferido, que você ainda não leu. Você dá uma olhada no banheiro, a toalha com as iniciais de seu nome, os objetos especialmente ordenados a seu gosto. Até uma escova de dentes com o grau de maciez que você costuma comprar. Você liga a TV e, bem, claro, é seu canal favorito que está sintonizado. Você estaria inclinado a acreditar que tudo foi mera coincidência, simples acaso, certo? Não?


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Como o pessoal do hotel conseguiu obter informações tão detalhadas a seu respeito? Como conseguiram preparar tudo tão meticulosamente, do seu jeito? Parece que alguém sabia que você estava chegando.131 Pausa. O professor lia nos olhos dos alunos a mais viva admiração. — O universo é tudo o que precisamos que ele seja para que possamos existir. Se a gravidade fosse só um pouquinho mais forte, já teria queimado todo o combustível do Sol. Se o elétron, a partícula que produz eletricidade, fosse mais pesado, não haveria átomo, não haveria oxigênio, não haveria água, não haveria Sol. Não haveria pessoas. O universo sabia que estávamos vindo? Dois. Vamos imaginar que eu estivesse caminhando por uma

campina

e

de

repente

chutasse

uma

pedra

involuntariamente, e alguém me perguntasse como aquela pedra foi parar lá. Se eu dissesse que a pedra sempre esteve ali, certamente a resposta não seria absurda. Mas vamos admitir que eu tivesse chutado um relógio. Será que a minha resposta poderia ser a mesma? E por que a resposta que serve para a pedra não serve para o relógio?132 A organização intrincada e delicada do relógio e seus componentes articulando precisão e ordem são evidência esmagadora em favor de um projeto. Uma pessoa que jamais

131 132

There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 113. Teologia Natural, William Paley, ISBN: 9781936830282: 1.


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tivesse visto um relógio certamente concluiria que o mecanismo é produto de um projeto para algum fim específico. William Paley argumentou que o universo pode ser comparado a um relógio, dado seu nível de organização e complexidade, embora em uma escala muito maior. É preciso que haja um Grande Arquiteto que tenha ordenado o universo dessa maneira para um propósito? Os recursos da natureza ultrapassam os recursos da arte no que tange à complexidade, à sutileza e à preciosidade do mecanismo.133 Os pensadores de matriz ateísta sustentam que se o acaso for associado a tempo, espaço e massa infinitos, qualquer coisa seria possível. Mas será que podemos confiar nessa tese? Três. A esfera é um objeto geométrico muito especial. Ela possui propriedades matemáticas que a tornam altamente regular. Quais as chances de, ao dinamitar uma rocha, retirarmos dos destroços uma esfera perfeita? Mesmo que façamos isso por 10, 100, 1.000 anos, nenhuma explosão poderia produzir uma esfera perfeita. A ciência pode dizer alguma coisa sobre a existência de Deus? A Teoria das Cordas nos permite ver as partículas subatômicas como notas musicais numa corda vibrando; as leis da química correspondem às melodias que se podem tocar nessas cordas; as leis da física correspondem às leis da harmonia que governam essas cordas; e a mente de Deus pode ser vista 133

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 164.


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como música cósmica vibrando no hiperespaço. Se essa analogia for válida, deve-se fazer a seguinte pergunta: existe um Compositor? Alguém projetou a teoria para permitir a riqueza de universos possíveis que vemos na teoria das cordas? Se o universo é como um relógio afinado, existe um Relojoeiro?134 — O que é a Teoria das Cordas, professor? Nesse momento, Max fez longa pausa, pensou um pouco e falou: — Investigando os aspectos mais profundos da matéria e da energia, mergulhando além dos elétrons, prótons e nêutrons, além mesmo dos quarks e léptons, os cientistas estão teorizando que a menor parte da matéria não é um elemento puntiforme físico, mas um elemento energético na forma de um filamento, um fio que, por analogia, está sendo chamado de corda. E a Teoria das Cordas tem sido uma das teorias mais intrincadas da nova física. Ela traz implicações que estão virando nossa maneira científica de olhar para o mundo de cabeça para baixo. Por exemplo, segundo essa teoria, existem universos paralelos por aí. É mesmo de tirar o fôlego. — Deixe-me ver se entendi, professor. As menores partes da matéria não seriam bolinhas, mas cordas, tipo cordas de um violão? O professor sorri ao ouvir bolinhas como sinônimo de puntiforme. Mas a ideia é essa mesma. — Isso — concorda Max.

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Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 331.


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— Eu já tinha ouvido falar em universos paralelos, mas não sabia que provinham dessa teoria — acrescenta uma moça de olhos castanhos expressivos e lábios vivos. — Sim, a ideia dos universos paralelos provém dessa teoria. — Mas o que tem a ver os universos paralelos com essa teoria? O orientador tomou um gole de água e falou: — Parece que as partículas têm a possibilidade de, em certo sentido, estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Mas como isso pode ser possível? O professor deteve-se por uns segundos, sorriu e continuou: — Por anos, foi objeto de fé que as partículas fundamentais teriam forma de partículas puntiformes, ou bolinhas, como já se chamou aqui. Mas agora, de repente, os físicos de partículas descobriram que estavam errados, que as menores partículas emanariam das cordas como se fossem música. — Só um pouquinho, professor — interrompe um moço de cabelos negros e umedecidos por gel. — O que significa “a matéria emana das cordas como se fossem música”? — Vocês podem pensar nelas como as cordas de um violino ou uma guitarra — respondeu o mestre solícito. — Se vocês a tocarem de certa maneira, vocês obtêm certa frequência, mas se tocarem de outra maneira, podem obter mais frequências nessas cordas. E de fato parece que a natureza é constituída


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dessas pequenas notas, as notas musicais, que são tocadas nesses minúsculos fios de energia vibrante chamados de cordas. A teoria começa com uma premissa simples, de que tudo no universo, o Sol, a Terra, as montanhas, o café da manhã, a gravidade, a eletricidade, tudo seria feito de pequenas e vibrantes fibras de energias, as cordas. E essas cordas nos mostrariam que o universo é mais estranho do que imaginamos. É daí que surge a ideia das dimensões paralelas, um lugar misterioso além do familiar espaço tridimensional que conhecemos. — Professor, mas os místicos têm clamado que esses lugares existem. Eles dizem que estão cheios de fantasmas e espíritos. — Sim, mas essa é a última coisa que a ciência quer ver associada à teoria. A ideia dos mundos paralelos surgiu do seguinte: os físicos vêm tentando entender uma descoberta desconcertante. Quando eles tentaram marcar a localização exata de partículas atômicas, como elétrons, eles descobriram que isso era, em última instância, impossível. Eles não têm uma localização exata.135E isso conduz à conclusão que mencionei anteriormente, “as partículas tem a propriedade de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo”. E entenda-se “lugar” como “dimensão”. — Ou seja, professor, uma partícula pode estar presente em nosso universo e em outro universo também? Um universo paralelo?

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The Hidden Reality: Parallel Universes, Brian Greene, PhD, ISBN: 9780307278128: 188.


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— Exato. Se essas ideias estiverem certas, existem outros mundos ao nosso lado. E poderiam mesmo ser muito parecidos com o nosso. Parecidos em se tratando das leis da física, com átomos de hidrogênio e todos os outros elementos da tabela periódica. Poderiam ter estrelas e planetas e quem sabe seres inteligentes de algum tipo.136 — Tá, professor, ok. Mas como as cordas de violão… ééé… as cordas vibrantes, teriam relação com um outro mundo paralelo. É isso que não entendi bem. — As cordas vibram. Vibração é frequência, como as ondas de uma emissora de rádio. Se você sintonizar uma frequência, ouvirá uma emissora, se sintonizar outra, ouvirá rádio diferente. O nosso mundo vibraria numa frequência, digamos, 80 de uma unidade qualquer. Um universo paralelo poderia vibrar em frequência 90, digamos, e existir aqui mesmo, ao nosso lado, mas não saberíamos que ele existe. E por quê? Porque nosso universo só pode sintonizar a 80, e tudo aquilo que está em frequência diferente não existe para nós. — É como se eu tivesse um rádio que não pudesse mudar a frequência, professor, e assim eu não saberia que existem outras emissoras? — Isso! — O professor meio que vibra com o entendimento do jovem aluno. — Um século atrás, alguns cientistas pensavam que tinham sido descobertas todas as leis básicas do universo. Mas veio Einstein e mudou radicalmente nossa visão de espaço, 136

O Universo Numa Casca de Noz, Steven Hawking, PhD, ISBN: 8535402314: 178.


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tempo e gravidade. E a mecânica quântica revelou as operações internas de átomos e moléculas, revelando um mundo bizarro e incerto. Então, longe de confirmarmos que descobrimos tudo, o século 20 mostrou que cada vez que olhamos mais de perto para o universo, descobrimos uma nova camada inesperada de realidade. Enquanto embarcamos no século 21, estamos vendo uma fração do que poderá ser a próxima camada: universos paralelos e dimensões extras. É uma visão de tirar o fôlego. Em poucos anos, experiências podem começar a dizer se essas ideias estão certas. — Ele respira profundamente e arremata: — Independentemente do resultado, sabemos que os cientistas vão continuar porque, bem, é o que eles fazem de melhor, seguir adiante.137 Mas agora vem a melhor parte. Se no final a teoria das cordas vier a ser confirmada experimentalmente como a Teoria de Tudo, então devemos perguntar “de onde vieram as equações da teoria das cordas?”. Os físicos que acreditam em Deus, acham que o universo é tão belo e simples que suas leis básicas não poderiam ter sido casuais.138 O universo poderia ter sido totalmente aleatório ou composto de elétrons e neutrinos inertes, incapazes de criar a vida, muito menos vida inteligente.139 O físico nipo-americano Michio Kaku assim se expressou: Se, como eu e alguns outros cientistas acreditamos, as leis básicas da realidade são descritas por uma fórmula com talvez

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Documentário, série da TV americana Nova. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 332. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 332.


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não mais do que dois centímetros de comprimento, então a pergunta é: de onde veio esta equação140? Depois de pequena pausa, prosseguiu com gentileza. — Quatro. Um chimpanzé está ao piano batendo aleatoriamente. Depois de muito tempo você tem a impressão de ter ouvido três ou quatro notas que lhe parecem familiares. Para ouvir, digamos seis notas, a espera será imensamente maior. A improbabilidade fica mais evidente quanto maior o grau de ordem envolvido. Vejamos outro exemplo. Cinco. Um jogo de cartas bem embaralhado pode resultar em que quatro jogadores recebam um ás de cada. Menos provável será quatro jogadores receberem três cartas sendo uma carta ás, uma carta dois e uma carta três do mesmo naipe. As chances de cada jogador receber cartas de ás a nove, recebendo cada jogador cartas de um naipe diferente, são tremendamente improváveis. Se você joga cartas, dificilmente viu isso acontecer. Pequenas coincidências são relativamente mais prováveis do que as grandes coincidências. Da mesma forma, o universo apresenta propriedades altamente adequadas ao desenvolvimento da vida humana. Tecnicamente seria impossível de acontecer. Mas aconteceu, pois estamos bem aqui. Somos resultado de um universo profundamente ordenado, estruturado e completo. As chances de o universo ser do jeito que é são pequenas, para não dizer zero. Então como isso aconteceu? 140

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 333.


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Fez longo hiato e continuou: — Seis. Considere um alvo na lua e você com um arco, e flecha dotada de impulso contínuo. Você está a olhos nus. Quais as chances de você acertar o alvo? — Impossível — diz uma moça. — E se sua vida dependesse de você acertar o alvo? Você pensaria que não haveria a mínima chance, não é mesmo? Mas suas chances, com certeza, seriam maiores do que termos um universo amigável à vida.141 — Nossa, professor! Só agora entendi o número de Penrose, 10-10(123), e a comparação no exemplo do Boeing 747 sendo montado por um furacão em um ferro velho. — Sim — assentiu. — Essa possibilidade é tão remota quanto um Boeing sendo montado por ocasião de uma tempestade em um ferro-velho. Esse número possui dimensões tão absurdas que, se fôssemos escrevê-lo por extenso, ocuparia mais espaço que o próprio universo. — Bah! — Ouve-se alguém murmurar. — Na falta de uma explicação natural para esse acontecimento altamente improvável, muitos físicos estão chegando à conclusão de que nosso universo pode ter sido gerado por um Grande Arquiteto. — Esse termo, Grande Arquiteto, é um termo dos maçons, não é, professor? — As culturas humanas criaram muitos termos, como Jeová, Elohim, Zeus, Thor, God, Allah, Zambi, Tupã, Shiva e até mesmo a palavra Deus, de origem latina. Então a maçonaria 141

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799


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optou por um termo neutro e o chama de “o Grande Arquiteto do Universo”. — A palavra Zambi eu nunca ouvi, professor. — Os ingleses dizem God quando se referem a Deus. As culturas afro-brasileiras dizem Zambi, da língua iorubá. — Umbanda e Candomblé, professor? — Sim — apenas assentiu. — Eu ouvi falar — diz uma moça de óculos — que a palavra Deus, latina, teria vindo da palavra Zeus, em grego, uma vez que Deus e Zeus são muito parecidas. É verdade? — É possível, já que o Evangelho e todo o Novo Testamento foram originalmente escritos em grego, e as primeiras cópias foram reproduzidas por gregos cristãos. Mas não há provas disso. — Professor, por que cada povo tem um deus diferente? O professor sorri. — Na verdade, isso pode ser interpretado de outra forma. Visto por outro ângulo. Allah, God, Zambi, Tupã, Deus, Thor, Amon-Rá, Shiva são expressões de um mesmo sentimento. Só isso. — E que sentimento seria esse, professor? — O mundo não pode vir do Nada — respondeu ele radiante, e completou: — Entendam o seguinte: a palavra “Deus” só é usada no Brasil, em Portugal e nos demais países de língua portuguesa. As outras culturas, o que é natural, têm palavras próprias. — Ou seja, professor, não é que cada povo tenha um deus diferente, mas uma palavra diferente para o mesmo Deus.


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— Precisamente. Você não poderia explicar isso melhor. — Então a expressão “Grande Arquiteto do Universo” se propõe a ser um termo neutro — interpreta outro aluno. — Sim. Essa é a ideia. O ar fresco e revigorante continuava a entrar pela janela. As explicações do professor abriram novos campos de meditação e entendimento. O esclarecido educador, contudo, não dera por finda a lição e, depois de longa pausa, aduziu: — Outros cientistas, no entanto, acham essa abordagem metafísica – a ideia de Deus – difícil e desconfortável, então acabam buscando abordagens “naturalistas” muito além dos limites de nosso universo e de métodos empíricos de verificação. Essas explicações, supostamente naturalistas, postulam números infinitos e condições desconhecidas. Elas costumam violar o cânon da parcimônia, conhecido como navalha de Ockham. Além de serem cientificamente questionáveis, para não dizer dúbias. Se essas alternativas naturalistas duvidosas não conseguirem encontrar a solução, o que parece improvável, terão que enfrentar a dura realidade de um Grande Arquiteto através do fantasma do número de Penrose. E como vimos, o próprio Penrose, em 1989, chamou a inteligência por trás do número de “Criador”.142 Mas é na província das constantes universais que encontramos os mais surpreendentes argumentos em favor do desígnio. Por constantes universais... 142

New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836: 56.


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— Professor, o que é navalha de Ockham? Max, nesse momento, fez uma pausa longa, suspirou profundamente e respondeu: — É o princípio segundo o qual uma explicação simples é melhor do que um explicação complexa. Nesse nosso caso, de acordo com o princípio de Ockham, a menos intrigante das possibilidades cósmicas é a de que existe zero mundo. Trata-se da realidade mais simples possível e é também a única que não exige explicação. No

entanto,

a

possibilidade

de

zero

mundo,

evidentemente, não é a forma que a realidade optou por assumir. De uma forma ou de outra, um universo – o nosso – deu um jeito e conseguiu pular para a existência. Nesse contexto uma questão revela a si mesma: “Qual seria a menos intrigante possibilidade cósmica coerente com o fato de nosso universo existir?143” — Deus! — vozeia um aluno. — Infinitos Universos! — protesta outro aluno. — E os infinitos universos vieram de onde? — pergunta o primeiro aluno. — E Deus veio de onde? — pergunta o segundo aluno. — Eis os maiores paradigmas do cosmos — intervém o professor. E, desejoso de consubstanciar a síntese da lição, continuou do ponto onde havia parado: — Por constantes universais, os físicos se referem a certas quantidades que desempenham um papel determinado na 143

The Mystery of Existence, John Leslie and R. L. Kuhn, PhD, ISBN: 9780470673553: 7.


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física e que apresentam os mesmos valores numéricos em todos os rincões do cosmos em qualquer tempo passado, presente ou futuro. Alguns exemplos serão suficientes para ilustrar a ideia. Um átomo de hidrogênio tem as mesmas propriedades quer esteja aqui na Terram, quer esteja no extremo do universo. Tem o mesmo tamanho, a mesma massa e a mesma carga elétrica. Mas os valores dessas quantidades são um mistério completo para nossa ciência.144 Um mistério excepcional da física de partículas é que as várias partículas subatômicas têm a massa que têm. O elétron, por exemplo, tem massa 1.836 vezes menor que o próton. Por que precisamente esse número? As cargas elétricas do próton e do elétron são iguais, porém inversas, e = 1,6 .10-19C. Por que são assim e não de outra forma?145 Todas as forças da natureza contêm números como esse, que determinam seu vigor e alcance. O fato é que as constantes são de crucial importância para a estrutura do mundo físico.146 Esses números estão precisamente balanceados para que exista vida. Se um único dígito de apenas um deles fosse alterado em uma unidade somente, o universo não seria da forma como o conhecemos. Não haveria estrelas, lagos e montanhas. Max pressiona o controle remoto do projetor147:

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 187. The Matter Myth, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780743290913: 21. God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 187. 147 Tabela representativa de algumas constantes físicas universais. 144 145 146


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A extrema improbabilidade de um universo tão rico e abundante capaz de produzir consciência clama por uma explicação além da mera arbitrariedade e do simples “acaso”. Como acreditar que as leis da natureza não foram balanceadas para a vida? Que tipo de raciocínio seria esse que acredita que isso simplesmente aconteceu e pronto? É provável que o cérebro humano seja a coisa mais complexa que a natureza criou no sistema solar.148 Inúmeros mundos existem no espaço profundo, privados de vida, e mais ainda, de inteligência. Isso nos deveria fazer avaliar como a vida é delicada, e o milagre que significa ela florescer aqui na Terra e como são raras a vida e a consciência.

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Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 324.


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Estado Inicial do Universo — Parece não haver limites para o tecido da realidade. Cada vez que a ciência avança em direção ao que pensa ser o limite, percebe que a margem, na verdade, parece ficar ainda mais fora do alcance. Hoje os cientistas sabem que toda a complexidade que vemos emanou de um estado inicial insignificante do big bang. Sabemos que qualquer sistema abandonado se desorganiza, mas não é o que constatamos no universo, que parece seguir um propósito.149 Qual a fonte desse surpreendente poder criativo? Podem os processos físicos explicar a criatividade contínua da natureza? Somente há pouquíssimo tempo os cientistas estão tomando consciência da organização e complexidade que emerge da inexpressividade do estado inicial do universo. Pesquisas em diversas áreas estão revelando a propensão extraordinária que os sistemas físicos possuem para gerar novos estados de ordem espontaneamente.150

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Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669. Cosmic Blueprint, Paul Davies, PhD, ISBN: 1932031669.


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Os cientistas demonstraram que o universo surgiu de um fenômeno conhecido como big bang, ocorrido 13,7 bilhões de anos no passado. O nascimento explosivo foi acompanhado por um tremendo flash de calor. Durante o primeiro segundo, emergiram as quatro forças fundamentais, a matéria o espaço e o tempo. Um segundo depois, todo o material que constitui o cosmos atualmente já estava formado. O espaço estava, por toda parte, preenchido com uma sopa de elementos subatômicos – prótons, nêutrons e elétrons – e banhado pelo calor de dez bilhões de graus de temperatura.151 Pelos padrões atuais, o universo daquele momento era um lugar inexpressivo. O material cósmico se distribuía pelo espaço com uma perfeição quase uniforme. A temperatura era a mesma em toda parte. O poder da imensa temperatura condicionava a matéria aos seus componentes básicos, em estado de extrema simplicidade. Um observador hipotético não estaria inclinado a acreditar no incrível potencial criativo originado dessa megaexplosão. Nenhuma pista poderia revelar que bilhões de anos mais tarde, trilhões de estrelas ardentes se organizariam em bilhões de galáxias, que planetas e cristais, nuvens e oceanos, montanhas e glaciares surgiriam, que bactérias e árvores, peixes e elefantes habitariam um desses planetas, e que esse mundo vibraria ao som da gargalhada humana. Nenhuma dessas coisas poderia ser prevista.152 — Espera, prôfi. — Todos riram pela expressão informal do aluno, que até aquele momento se mantivera retraído. — No

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The 5th Miracle, The Search for the Origin and Meaning of Life, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092: 13. The 5th Miracle, The Search for the Origin and Meaning of Life, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092: 13.


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início dos tempos, no primeiro segundo, tinha só prótons, nêutrons e elétrons, o espaço, o tempo e as quatro forças da natureza… e a combinação dessas coisas aí, durante bilhões de anos, produziu a Terra, o Sol, as montanhas e nós? Com um sorriso nos lábios, todos ouviram atentos e em silêncio. — Mais ou menos isso. — Parece mágica, prôfi! — arremata o jovem estudante. Os colegas anuíam, em consentimento. — À medida que o universo se expandia — retomou o mestre — a partir de seu estado inicial primitivo, ele começou a esfriar. E em temperaturas mais frias emergiram mais possibilidades. A matéria foi capaz de se agregar em combinações e formas abundantes; eram as sementes das galáxias que vemos hoje. E os átomos mais pesados começaram a se formar no interior das estrelas, pavimentando o caminho para a química e objetos sólidos.153 Uma vastíssima cifra de fenômenos emergiu no universo desde o marco zero: buracos negros monstruosos com massa equivalente a bilhões de estrelas como o nosso Sol que devoram estrelas e cospem jatos de gás. Estrelas de nêutrons rodando a milhares de rotações por segundo, seus materiais esmagados a centenas de toneladas por centímetro cúbico; subpartículas tão esquivas que poderiam penetrar anos-luz de material sólido. Ainda assim, por mais surpreendente que essas coisas possam ser, o fenômeno da vida é mais notável do que todos esses 153

The 5th Miracle, The Search for the Origin and Meaning of Life, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092: 13.


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fenômenos juntos. Depois que a vida se iniciou, por mais gradual que seja o processo, o universo jamais seria o mesmo novamente. Lenta mas de forma segura, o planeta Terra foi emergindo. E ofereceu uma rota para a consciência, inteligência e tecnologia. E parece que os humanos têm o potencial para transformar todo o universo.154 Nesse momento o professor fez uma pausa. E logo acrescentou: — O universo emanou de um estado inicial insignificante, desenvolveu-se, e 13,7 bilhões de anos mais tarde produz seres capazes de pensar. Pausou novamente, para um gole de água. — Resta, contudo, a pergunta: como ou por que foram escolhidas as leis e o estado inicial do universo155? — Nossa! É incrível mesmo! Só de imaginar que uma explosão, o big bang, produziu o Sol, a Terra e a Lua, árvores, peixes, pássaros e nós. Se pensássemos racionalmente, diríamos que isso seria impossível e que os cientistas estão doidos. Parece que não dá para aceitar isso racionalmente.

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The 5th Miracle, The Search for the Origin and Meaning of Life, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780684863092: 13. Uma Nova História do Tempo, Steven Hawking e L. Mlodinow, PhD, ISBN: 8500018577: 143.


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Limites da Racionalidade — Atualmente, todos os físicos acreditam na existência do elétron, embora não possam vê-lo.156 As pessoas têm todo tipo de crença. A forma como cada pessoa chega a elas varia de argumentos racionais à fé cega. Algumas crenças são baseadas na experiência pessoal, outras na educação, e outras ainda no doutrinamento. Algumas crenças, acreditamos que podemos justificar, outras simplesmente sentimos que estão lá dentro de nós e pronto. Algumas de nossas crenças são verdadeiras. Mas também é certo que outras estão erradas, ou porque são incoerentes ou porque entram em conflito com aquelas de nossas crenças congruentes com os fatos.157 Há cerca de 2.500 anos, na Antiga Grécia, criou-se o primeiro sistema que pretendia estabelecer alguma base para a crença. Os pensadores gregos desenvolveram um meio de formalizar a razão humana fornecendo regras inatacáveis da lógica de dedução. Ao aderir a procedimentos acordados de argumentação racional, esses filósofos esperavam remover a

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O Grande Projeto, Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, PhD, ISBN: 9788520926574: 36. The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 0671797182: 19.


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confusão, mal-entendidos e disputa que caracterizam as relações humanas. O principal objetivo do esquema era chegar a um conjunto de suposições, ou axiomas, que qualquer pessoa racional aceitaria e que poderia solucionar qualquer tipo de conflito. Evidentemente que esse objetivo jamais foi alcançado. Nos dias de hoje subsistem mais crenças do que sempre houve, algumas delas excêntricas e outras perigosas, e argumentos racionais são vistos pelas pessoas de menos instrução como sofisma inútil. Os ideais dos filósofos foram mantidos somente na filosofia, na matemática e nas ciências em geral. Pode a racionalidade nos ajudar a resolver os grande mistérios? E o que é a racionalidade, afinal158 Muito se tem dito que o que nos distingue dos animais é nossa capacidade de raciocinar. No entanto, muitos animais parecem estar conscientes do mundo que os cerca, de uma maneira mais ou menos profunda, e de responder ao meio ambiente. Mas os seres humanos clamam mais do que mera consciência. Nós também possuímos algum tipo de compreensão do mundo. Somos capazes de prever acontecimentos e de manipular recursos naturais para nosso próprio benefício. E embora façamos parte do mundo, nós nos vemos como que de alguma forma acima do mundo físico.159 Há coisas que nossa razão não pode conceber, mas é preciso acreditar, como o caso da explicação científica padrão sobre a maneira como o universo surgiu rapidamente de quase

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The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 0671797182: 19. The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 0671797182: 19.


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nada. Pense bem. A ideia, como bem colocou a colega de vocês há pouco, de que este planeta, o Sol e todas as estrelas que vemos, tudo isso esteve em algum momento amarrado em um ponto do tamanho de um pingo de caneta… a ideia parece absurda. Temos que ficar nos perguntando como isso seria possível.160

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Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 265.


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Antropismo A cosmologia do big bang colocou um fim na crença científica de que o universo era eterno e infinito. Agora sabemos que o universo tem 13,7 bilhões de anos e massa visível de 1053kg. O universo subitamente passou a ser finito, e isso implicava que as equações de probabilidade precisariam, pela primeira vez, ser levadas a sério. Mas com novos avanços científicos, novas constantes foram descobertas e um enorme conjunto de improbabilidades foi adicionado à equação. O acaso não fazia mais sentido. Essa apreciação conduziu a um raciocínio simples: essencialmente, o universo não deveria poder sustentar vida de nenhum tipo. Isso porque a amplitude dos valores das constantes universais necessários para sustentar a vida é imensamente diminuta se comparada com um universo que não precisa produzir vida. Na verdade, os dados vieram a significar que a ocorrência aleatória dos valores e parâmetros das constantes da natureza seriam virtualmente impossíveis. Como resultado, muitos cientistas que atuam nos campos da ciência avançada passaram a advogar o cenário no qual a existência de um Arquiteto deveria ser considerada a bem da própria racionalidade. Até mesmo aqueles de matriz ateísta mais


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contumazes, como o físico britânico Fred Hoyle, tiveram de se curvar, declarando abertamente sua crença na hipótese recémventilada de um Superintelecto. Assim, a cosmologia do big bang exumou das trevas do desconhecido um incrível e altamente improvável conjunto de constantes cósmicas favoráveis à vida, a que alguns cientistas estão chamando de princípio antrópico.161 Universo antrópico é aquele em que as formas de vida inteligente podem se desenvolver, se sustentar e se manter. Um universo não antrópico é o tipo de mundo onde a vida não encontra condições favoráveis para se desenvolver. As chances de haver universos antrópicos são improváveis. Universos não antrópicos poderiam incluir mundos onde não houvesse elétrons, leis da gravidade, ou onde a força eletromagnética fosse maior ou menor, um universo com menor ou maior capacidade de interação energética entre seus elementos químicos, um universo que não fosse capaz de formar carbono e outros elementos da cadeia de estrutura periódica. Os valores quantitativos que determinam a estrutura do universo são chamados de constantes universais, e são constantes porque são fixos e são universais porque são encontrados em cada milímetro do universo, obedecendo aos mesmos parâmetros.162 — Prôfi, esse negócio é incrível mesmo. Eu estava aqui pensando... Se apenas não existisse fóton, a partícula que produz a luz... Só esse detalhe a menos e o universo todo estaria mergulhado em plena escuridão. A vida seria impossível.

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New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836: introduction. New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836: 52.


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Os demais alunos se postam surpresos e perplexos ante a observação do colega.


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A Origem do Suprafísico — Como a vida, o pensamento e a consciência surgiram? Embora a matriz ateísta tenha falhado em explicar a natureza da fonte da vida, do pensamento, da consciência, e do Eu, a resposta para a origem da questão do suprafísico só pode ser uma: O suprafísico origina-se de uma fonte suprafísica. A vida, a consciência, a mente e o Eu podem originar-se somente de uma fonte que vive, pensa e tem consciência. Se nós somos o centro do pensamento e da consciência, que é capaz de aprender, de conhecer, de amar, de desejar e executar, não posso imaginar como esses centros poderiam originar-se da matéria que é incapaz de exercer essas atividades. Embora processos físicos simples possam criar fenômenos físicos complexos, não é disso que estamos falando aqui. É simplesmente inconcebível que qualquer matriz material ou campo de força possa gerar agentes que pensam e agem. A matéria não pode produzir conceitos e percepções. Um campo de força não planeja nem pensa. Então, ao nível da razão e das experiências cotidianas, ficamos totalmente conscientes de que o mundo da vida, do pensamento,


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da consciĂŞncia, precisam originar-se de uma Fonte Viva, de uma Mente.163

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There is a God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303: 1824.


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Antes de Algo, Não Existe Nada — Seria possível responder apenas com a lógica à pergunta Por que existe um mundo em vez de nada164? Suponhamos que você esteja em excursão científica pela Antártida com um colega pesquisador. Em um dia de peregrinação científica você encontra um cálice de ouro. Sua reação natural seria querer saber como aquilo foi parar ali. Se seu colega dissesse que o cálice “simplesmente estava ali, sem explicação” você certamente não acharia a resposta convincente. Tudo que começou a existir precisa de explicação para existir, e um cálice de ouro não pode surgir do nada. Se o mundo é tudo o que existe, antes do mundo nada existia. Se nosso intelecto nos permite fazer a pergunta, “De onde veio o mundo?” então, deve haver alguma chance de podermos entender a resposta. Um pinguim não saberia perguntar sobre a origem do cálice, menos ainda, explicar a existência dele. O pinguim não está dotado de aptidão intelectual para empreender tarefas de

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Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 296.


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raciocínio complexo. 165 Se ele não faz a pergunta, então a resposta não cabe em sua mente de pinguim. Mas será que se podemos fazer a pergunta, é porque então a resposta encontra eco em nosso intelecto?166 E se o cálice fosse do tamanho de um edifício? Então a explicação seria exponencialmente mais complexa. Como um cálice do tamanho de um edifício poderia estar na Antártida? E se o cálice fosse do tamanho do universo? Então a explicação exigiria um nível de complexidade acima do intelecto humano. E se o universo for mais complexo que a forma e a estrutura do cálice de ouro? Então que tipo de explicação exigiria essa complexidade? 167 Parece que realmente estamos lidando com algo profundamente complexo. O princípio fundamental de qualquer estrutura lógica é o que afirma que “nada pode vir do nada”. A ciência, que por definição lida com o plano físico, será capaz de explicar as coisas em termos de outras coisas anteriores e assim por diante, mas a fisicalidade, a totalidade das coisas físicas, demandam uma explicação de fora do plano físico.168 Todas as coisas e os eventos no universo físico dependem de algo de fora para sua explicação. Um ovo não pode explicar-se por si mesmo. Quando alguma coisa é explicada, a explicação precisa basear-se em coisa anterior. Mas se essa coisa a ser explicada é um universo inteiro e por definição não há nada Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799 Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799 Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799 168 God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 47. 165 166 167


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físico fora do universo, então a explicação precisa ser em termos de algo extrafísico, precisa extrapolar a natureza física conhecida.169 Nada vem do nada, Ex nihilo nihil fit. Essa máxima, aparentemente atribuiria ao Nada um poder incrível: o de existir sem precisar de explicação. O de ser como Deus, causa sui. Leibniz, um dos inventores do Cálculo e uma das mentes mais brilhares da Europa do século 18, dizia que o Nada era mais simples e mais fácil de entender do que algo. Foi a suposta simplicidade do Nada que levou Leibniz a se questionar: Por que existe algo em vez de nada?170 Os cientistas são capazes de explicar a organização do universo físico. Podem identificar de que maneira as coisas dentro dele interagem casualmente. Podem lançar alguma luz sobre a maneira como o universo como um todo evoluiu, ao longo de sua história, de um estado para outro. Mas em relação à origem primeira da realidade, nada tem a dizer. Trata-se de um enigma que a ciência não pode resolver. A partir do momento em que perguntamos por que existe algo e não apenas o nada, fomos além da ciência, pois ela tem sido impotente diante do mistério da existência.171 A pergunta por que existe algo em vez de nada? tem muitas camadas. Mesmo que fosse possível responder em determinado nível, ainda teríamos que nos preocupar com o

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God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 47. Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 151


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nível seguinte. 172 William James considerava essa a pergunta mais sombria de toda a filosofia. O astrofísico britânico Sir Bernard Lovell observou que deter-se nela pode “estraçalhar a mente de uma pessoa”. Arthur Lovejoy, fundador do campo acadêmico conhecido como “História das Ideias”, observou que a tentativa de resposta “constitui um dos empreendimentos mais grandiosos do intelecto humano”. Mas não podemos deixar a pergunta de lado. Depois que topamos com ela, ficamos imbuídos de uma força oculta. Schopenhauer dizia que ignorar a pergunta é sinônimo de deficiência mental173. Karl Barth dizia que o Nada é aquilo que Deus não quer.174 Nenhum mito na história humana pressupõe que o mundo possa ter vindo do Nada.175 Parmênides, antigo pensador aleata, afirmava que é impossível falar sobre o que não é.176 Para Parmênides, “nada vem do Nada”. A ideia do Nada é incoerente, por mais que se possa eliminar “tudo” com o pensamento, não dá para eliminar o espaço. E o espaço é algo.177 Por que se tornou impossível que o Nada Absoluto perdesse a guerra para a existência? Não é um absurdo que algo possa surgir do Nada? Em termos científicos, diríamos que, se não for adicionada energia a um sistema de Zero Energia, o sistema deve manter-se em estado de energia zero. Certamente será muito difícil imaginar uma teoria científica que proponha Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 141 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 26 174 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 50 175 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 26 176 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 49 177 Bede Rundle, citado em Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 9780871404091: 57 172 173


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que o universo surgiu do nada absoluto, de um estado de energia zero. Se tudo o que começou a existir tem uma causa para existir, então qual a causa para o universo existir? Se todas as coisas estiveram ausentes antes de o mundo existir, como o mundo foi construído pela não existência?178 Nem um bilhão de causas poderiam fazer o universo existir a partir do que não existe. Se algo veio a existir a partir do nada, então se torna inexplicável179, pois como explicar que o nada pode produzir alguma coisa?180 Alan Sandage, o pai da astronomia moderna, costumava dizer que a ciência não tem como responder às perguntas mais profundas. A partir do momento em que perguntamos por que existe algo e não apenas o Nada, fomos além da ciência.181Até mesmo as pessoas menos educadas e de mente mais estreita, em momentos de lucidez, são capazes de perceber que, assim como existe um mundo, poderia não existir nada.182 Mesmo que a ciência consiga resolver a questão de como o universo veio a existir, não poderá responder à questão de “por que” o universo se deu o trabalho de existir. Parece haver um mistério irredutível: em vez de um mundo poderia simplesmente existir nada, nem mesmo espaço vazio, mas absolutamente nada.183

The Mystery of Existence, John Leslie, PhD, and R. L. Kuhn, PhD, ISBN: 9780470673553. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 296. 180 Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 84. 181 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 151. 182 The Mystery of Existence, John Leslie, PhD, and R. L. Kuhn, PhD, ISBN: 9780470673553: 14. 183 John Leslie, citado em The Mystery of Existence, John Leslie, PhD, and R. L. Kuhn, PhD, ISBN: 9780470673553: 15. 178 179


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O mentor fez ligeiro intervalo na conversação, dando a entender que expusera os mais nobres esclarecimentos, e conclui: — Se tudo que existe está no mundo, se antes do mundo não havia nada, se o mundo não pode vir do nada, então vocês não acham estranho o simples fato de o mundo existir?184 Quanto mais simples uma teoria, de menos explicações ela precisa. Se o mundo é profundamente complexo, então a explicação para a existência do mundo é profundamente complexa; portanto, a causa do mundo precisa ser profundamente complexa. E o que pode ser mais complexo do que Deus? Há duas teorias para a origem do universo, para desempenhar o papel de causa primeira de todas as coisas: Deus ou o Nada. Para os cientistas está claro que se a teoria do Nada estiver equivocada, restará apenas uma alternativa: o fato de que Deus existe.185

184 185

O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder, ISBN: 9788535921892: 32. New Proofs for the Existence of God, Robert J. Spitzer, PhD, ISBN: 9780802863836: Introduction.


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CAPÍTULO 4 A Luz da Dourada Ignorância — Qual é o estado de nossa ignorância? A maioria das pessoas imagina que a ciência seja formada por uma irmandade unida por sua regra de ouro, o MÉTODO CIENTÍFICO, um conjunto imutável de preceitos para a elaboração de experimentos que produzem fatos em larga escala, e esses fatos sólidos formariam o edifício da ciência, um registro ininterrupto de avanço e conhecimento incorporados em nosso ponto de vista moderno e padrão de vida sem precedentes. Ciência com ‘C’ maiúsculo.186 Ledo engano! O presente estado da ciência é formado por um grande e misterioso quebra-cabeça cujas peças muitas vezes não se encaixam, e aquelas que se encaixam são geralmente combinadas depois de muito trabalho e suor. Existe uma grande contradição entre a impressão que os leigos têm da ciência e a forma como as coisas realmente acontecem no mundo científico. Quando os cientistas sentam juntos para um café ou uma cerveja, eles não conversam sobre os fatos, não discutem o que se sabe. Eles conversam sobre aquilo 186

Ignorance: How It Drives Science, Stuart Firestein PhD, ISBN: 9780199828074: 1.


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que gostariam de saber, sobre aquilo que precisa ser descoberto, sobre os enigmas a serem desvendados. Esse, na verdade, é o motor da ciência, a alegria pela busca do desconhecido. Ignorância, eis a parte mais nevrálgica da operação científica. O que não sabemos, o que ainda precisamos descobrir, o que ainda é um grande mistério, o que ainda precisa ser feito. Ignorância é um aspecto importante da ciência. O que você gostaria de saber? O que você acha que é importante saber? O que poderia acontecer se você descobrir isto ou aquilo? O que poderá acontecer se ninguém descobrir mais nada? O que ainda pode ser descoberto? O que é impossível de ser descoberto? Enfim, qual é o estado de nossa ignorância? A maioria dos cientistas sabe que o que mais possuem em abundância é a ignorância. Eis o guia mais ilustre da ciência.187 A palavra “ignorância” carrega consigo um tom algo provocativo. Mas vamos tomar um minuto e definir outro tipo de ignorância, porque a palavra ignorância tem outra conotação. Um tipo de ignorância é a estupidez intencional; mais danosa que a estupidez ingênua, expressa pela indiferença pueril aos fatos e à lógica. Ela apresenta-se com uma devoção teimosa às opiniões desinformadas, ignorando as ideias, fechando os olhos para opiniões e dados contrários a seu paradigma. O ignorante está insciente, cego e desinformado, mas de forma surpreendente consegue galgar, frequentemente, posição de destaque. Max, nesse momento, fez uma pausa mais longa, suspirou profundamente e prosseguiu: 187

Ignorance: How It Drives Science, Stuart Firestein, PhD, ISBN: 9780199828074: 4.


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— Todos podemos concordar que esse tipo de ignorância não é bom. Mas há outro tipo de ignorância ingênua que descreve uma condição particular do conhecimento: a falta de fatos, de evidências, de entendimento, de introspecção, ou de clareza sobre o tema em questão. Não é uma falta individual de informação, mas uma lacuna no conhecimento. É um caso no qual os dados existentes não fazem o mínimo sentido para o ignorante, não somam para uma explicação coerente, não podem ser usados para uma previsão ou uma afirmação sobre um fato ou um evento. É a ignorância dos fatos, das evidências, do entendimento e da introspecção. Ela impede o indivíduo de formar perguntas melhores, o primeiro passo para obter melhores respostas. E o que é pior: geralmente cria uma barreira para que ele possa seguir adiante. James Clerk Maxwell, um físico incrível, adverte que “é a ignorância consciente o prelúdio para todo real avanço nas ciências”.188 Não a ignorância ingênua! Em outros termos, o elemento mais importante para um bom pensador é a admissão consciente de sua própria ignorância. O conhecimento é um objeto amplo, mas a ignorância é profunda e bem mais interessante. Talvez isso possa soar um pouco estranho, uma vez que todos nós buscamos o conhecimento e esperamos evitar a ignorância. Queremos saber como fazer isso, como conseguir aquilo e como ser bem-sucedido naquele outro. Estudamos por muitos anos para logo descobrir que, “quanto mais sei, mais sei 188

Ignorance: How It Drives Science, Stuart Firestein, PhD, ISBN: 9780199828074: 7.


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que nada sei”.189 Sócrates dizia que a filosofia começa com a admissão sincera da ignorância; mais tarde ele esclareceria isso, afirmando dramaticamente que qualquer que seja a sabedoria que alguém possa ter, originou-se de seu conhecimento de que nada sabe.190 Depois do conhecimento vem a ignorância.191

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Ignorance: How It Drives Science, Stuart Firestein, PhD, ISBN: 9780199828074: 10. Apologia, Platão. Socrates, A Life Examined, Luis E. Navia, PhD, ISBN: 9781591025016.


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CAPÍTULO 5 Consciência — Considere uma fotografia facial apresentada em um jornal composta de milhões de pixels. Nenhum exame individual dos pontos vai revelar a face. Será somente observando a coleção de pontos como um todo, em uma escala maior, que a imagem emergirá do papel e da tinta. A face não é uma propriedade dos pontos propriamente ditos, mas de toda a coleção de pontos – ela poderá ser encontrada no padrão, mas não nos elementos que a constituem. Da mesma forma, o segredo da vida não será encontrado nos átomos propriamente ditos, mas no padrão de sua associação, na forma como se encontram agrupados, na informação codificada na estrutura molecular. A distinção realizada aqui pode ser vista sob a ótica do holismo versus reducionismo. O principal impulso da ciência nos últimos 300 anos foi produzido pela doutrina reducionista. Na verdade, o uso da palavra “análise”, em sentido amplo, ilustra bem o costume dos cientistas quase de forma inquestionável e paradigmática de dividir os problemas em partes menores para buscarem a solução. Mas alguns problemas, como um quebracabeça, por exemplo, só podem ser resolvidos quando temos uma visão do todo – são naturalmente sintéticos ou holísticos. A


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imagem em um quebra-cabeça, como a imagem facial do jornal, poderá ser percebida somente em um nível mais elevado de estrutura, não sendo possível vê-lo em baixo nível estrutural. O todo é maior que a soma das partes.192 Do ponto de vista científico, o mundo não é nada mais que uma coleção de átomos dispostos no tempo e no espaço. No entanto, nosso senso comum nos diz que há muito mais que isso. Uma pessoa certamente é uma coleção de átomos, mas há outros níveis contextuais que seriam perdidos pela concepção atômica que são essenciais para a descrição da palavra “pessoa”, e até mesmo dos animais e dos vegetais. É preciso encontrar uma forma de descrever o ser humano em níveis mais elevados. Ninguém, em sã consciência, pode assumir a posição de que os átomos são capazes de pensar. É preciso encontrar uma forma mais sutil e holística de explicar o ser humano que um simples aglomerado de oxigênio, hidrogênio, carbono etc. O processo de pensar subentende uma visão holística. 193 Ninguém vai negar que um organismo é uma coleção de átomos. O engano é acreditar que um organismo é apenas uma coleção de átomos.194 E fixando os alunos com olhar muito lúcido, perguntou: — O que é a mente? Fez longo hiato e acionou o projetor multimídia: Penso, logo existo. [René Descartes]

192 193 194

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065. The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 9788532522764. The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 0671797182.


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Há duas hipóteses para a origem da consciência. A primeira sugere que surgiu do nada em algum momento de desenvolvimento do universo; já a segunda preconiza ter surgido com o próprio universo. O cérebro humano contém cem bilhões de neurônios, no entanto, quase não gera calor. Se fosse possível construir um computador capaz de computar quatrilhões de bytes por segundo, como o cérebro pode fazer, aparentemente sem muito esforço, seria uma máquina bem grande e talvez precisasse de água para refrigerá-la. No entanto, podemos ter os mais sublimes e complexos pensamentos sem transpirar nem um pouco. Nosso cérebro é uma rede neutral eficientíssima, com padrões de memória e pensamento distribuídos pelo cérebro sem estarem concentrados em uma unidade central de processamento. Podem executar processamentos paralelos e aprender novas tarefas em velocidades realmente grandes.195 Façamos um traçado claro entre o que distingue o mundo físico do mundo mental. O mundo físico é estanciado por objetos físicos que ocupam lugar no espaço e possuem propriedades como extensão, massa, carga elétrica e assim por diante. Esses objetos não são inertes; eles se movem e mudam de acordo com as leis da física, o que levou à criação de um ramo da ciência com o nome de Física. O mundo físico é, em sentido amplo, um mundo público, acessível a todas as pessoas por meio da observação. O som é transmitido por meio de três ossos ligados à cóclea, sobre a qual uma membrana recebe a vibração e a 195

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 298.


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transmite a um fluido dentro do ouvido. O fluido perturba alguns filamentos sensíveis, que geram impulsos elétricos. Os impulsos viajam através do nervo auditivo ao cérebro, onde o sinal elétrico encontra uma rede eletroquímica complexa, e a sensação do som é registrada. Mas como? Como uma cadeia simples de interações físicas subitamente promove um evento mental? Como um evento físico se transforma em um evento mental? O que é esse padrão eletroquímico no cérebro que faz com que você ouça alguma coisa e em seguida produza uma sequência de pensamentos? E a resposta é ainda mais paradoxal. Você decide investigar o som. Suas pernas de movem. Como? Células do cérebro disparam uma mensagem aos músculos da perna e você se move.196 Do ponto de vista da física e das leis de causa e efeito, que preveem um efeito específico para cada causa existente, deveria ser possível prever o que você faria quando ouve um som – a física é determinística. Mas não é assim! Só é possível prever até o momento em que o cérebro decodifica a mensagem. Desse ponto em diante, entra em jogo um elemento desconhecido e inexistente para a física determinística, conhecido entre os filósofos como livre-arbítrio, a capacidade dos animais de tomar decisões. Os movimentos da perna não são governados por leis da física conhecidas, mas por algo que chamamos de consciência. Onde há lugar dentro do conjunto de leis determinísticas e previsíveis dos circuitos elétricos para o livre-arbítrio?197 A física se cala.

196 197

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 73. God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 74.


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Após ligeiro intervalo, continuou, sempre grave. — O que é a mente? Uma resposta poderia ser considerar a mente como uma espécie de operador que controla uma máquina complexa. Como o operador de uma estação elétrica pode pressionar vários botões e iluminar uma cidade, assim a mente poderia acionar algumas células cerebrais, os neurônios, para ativar o corpo de acordo com suas decisões. Mas como uma decisão da consciência de investigar um som causa reação nos neurônios? Qual das leis dos circuitos elétricos deveria determinar um sinal de resposta? De que forma a mente alcança o mundo físico de elétrons e átomos, células e nervos, e cria um sinal elétrico? Haveria duas causas para o movimento no mundo material? Uma devida aos processos físicos regulares e outra graças aos processos mentais?198 Pausa. — O que é a consciência e como ela surge? Serão os chimpanzés conscientes? cachorros? ratos? aranhas? minhocas? bactérias? Seria um feto humano consciente aos 8 meses de gestação? Um mês? Cinco anos? Fez curta pausa e tornou: — Poucas pessoas responderiam sim a todas essas questões. Será que a consciência se desenvolve gradualmente? Seria ela uma qualidade que poderia ser classificada mais ou menos dentro de uma escala na qual 100 representa um ser humano adulto e poderíamos, por exemplo, dizer que um 198

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 75.


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chimpanzé teria 90, um cão 50, um rato 5, um bebê de cinco meses de gestão 2 e 0,1 para uma aranha e assim por diante? Ou haveria uma “fronteira de desenvolvimento” na qual a consciência de repente desabrocha como um combustível que acende a certa temperatura?199 Como podemos reconhecer uma consciência quando vemos uma? Cada um de nós pode experimentar sua própria consciência, mas ser identificado e localizado em um universo imaterial e privado de nossos pensamentos e sensações pode não ser possível para qualquer outra pessoa. Por outro lado, pode-se somente inferir consciência em outros por meio de seu comportamento e comunicação através do universo físico. Se falamos com alguém em português, percebemos que existe um fluxo consciencial entre nós e a outra pessoa. Se tentamos nos comunicar com um estrangeiro, ainda assim podemos perceber consciência em suas reações, naquela cara de “Hã? Não entendi!” Já com um cão ficamos em um terreno mais frágil. A comunicação humana-animal é mínima e pode ser ambígua. E grande parte do comportamento canino parece instintivo. No entanto, provavelmente poucos proprietários de cães e gatos estariam preparados para afirmar que seus animaizinhos são inconscientes e desprovidos de mente. Mas quando se trata de criaturas inferiores, como aranhas, seria difícil sustentar que elas possuem consciência. Elas possuem comportamento, mas podese alegar que são frutos de uma programação automática e instintiva. Mas qual a origem dessa programação automática e o que é o instinto? Não seria uma protoconsciência? 199

God & The New Phisics, Paul Davies, ISBN: 9780671528065: 75.


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Em uma progressão descendente pode-se observar um esgotamento dos aspectos ativos da mente. Enquanto o ser humano é capaz de observar, planejar, decidir e esperar para reagir, um chimpanzé talvez seja capaz apenas de observar, decidir e reagir, já uma aranha talvez possa apenas reagir.200 A teoria do pampsiquismo, defendida pelo filósofo australiano David Chalmers, notabilizado por suas investigações em Filosofia da mente, diz que a consciência não surgiu misteriosamente no universo quando certas partículas da matéria por acaso entraram na combinação certa; na verdade, ela está por aí, desde o início dos tempos, pois essas mesmas partículas são pedacinhos de consciência.201 Experiência é informação vinda de dentro; física é informação vinda de fora. O que atrai nessa teoria é a promessa de resolver dois problemas metafísicos de uma só vez: o problema da substância

202

da mente e o problema da

consciência. Assim, o entrelaçamento quântico representa pelo menos uma pista para o problema da combinação, da substância da mente.203 Se as partículas físicas podem perder sua identidade individual e fundir-se num todo único, é no mínimo concebível que o mesmo possa ocorrer com entidades protomentais, que viriam a se aglomerar formando uma mente mais elevada.204 God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 75. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 209. 202 O termo adotado pelos filósofos para designar os elementos fundamentais da realidade é “substância”. Descartes acreditava em dois tipos de substância: matéria e consciência… coisas físicas e estados mentais subjetivos, como alegria, felicidade, sofrimento, dor… 203 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 210. 204 Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 210. 200 201


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Como é possível que muitas microconsciências sejam ao mesmo tempo uma macroconsciência? O que será, então, que faz com que todas essas micromentes convirjam em nossa macromente?205 Depois de breve pausa, prosseguiu com cortesia. — Existem alguns pensadores intrépidos que afirmam dispor de alguma pista. E talvez, surpreendentemente, ela seja fornecida pela teoria quântica. Uma das notáveis novidades da mecânica quântica é o conceito de entrelaçamento. Quando duas partículas distintas entram em estado de entrelaçamento quântico, perdem sua identidade individual e passam a agir como um sistema unificado. Qualquer mudança em uma delas será sentida pela outra de imediato, ainda que estejam a anos luz de distância. Não existe nada equivalente a isso na física clássica. Quando ocorre o entrelaçamento quântico, o todo torna-se mais que a soma das partes. Esse fenômeno vai de encontro à nossa maneira habitual de encarar o mundo de tal modo que o próprio Einstein o considerou fantasmagórico.206 Antes de prosseguir, Max folga alguns segundos. — Entretanto, embora a teoria quântica costume ser aplicada a uma ontologia física que consiste em partículas e campos, não há qualquer motivo evidente para não aplicá-la também a uma ontologia que consista em substância mental.207 Descartes dizia que a mente é uma coisa. Ele falava em uma clara distinção, um dualismo mente-corpo. E esse princípio foi amplamente incorporado pelo pensamento cristão. E também 205 206 207

Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 209. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 210. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 210.


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se aproxima bastante do pensamento do homem comum. Na verdade, está profundamente incorporado à cultura humana, uma vez que a palavra alma encontra-se presente em praticamente todos os idiomas E quais seriam os princípios da doutrina do dualismo? O ser humano seria constituído de duas partes distintas, duas coisas separadas: o corpo e a alma, ou a mente. O corpo agiria como uma espécie de hóspede ou vaso da alma, ou talvez uma espécie de prisão até que o espírito seja liberado pela chegada da morte. A mente estaria ligada ao corpo por meio do cérebro, que ela usa, através dos sentidos, para adquirir experiências sobre o mundo físico. Ela também usaria o cérebro como um meio de exercitar a volição208, agindo e reagindo no mundo físico Gilbert Ryle assim resume o pensamento de Descartes: “Embora o corpo humano seja um motor, algumas de suas funções são governadas por outro motor, de um tipo muito especial. É invisível, inaudível, não tem tamanho nem peso. Não pode ser dividido em partes, e as leis a que esse motor obedece não parecem ser as mesmas a que o motor físico se rende.” E de fato parece necessário que a mente seja imaterial, de outra forma, como poderia haver livre-arbítrio se a matéria física precisa obedecer às previsíveis leis da física? O indeterminismo, ou livre-arbítrio, é incompatível no contexto do mundo físico, portanto, a mente, aparentemente, precisa ser imaterial. Outros problemas surgem quando exploramos a alma. Como a mente pode estar ligada ao cérebro e não ocupar lugar 208

Ato pelo qual a vontade se determina a alguma coisa. (Dic. Aurélio)


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no espaço? Poderá a mecânica quântica, num futuro próximo, com seus novos e estranhos conceitos de dimensões superiores fornecer alguma explicação para a existência da mente, da alma ou do espírito?209 — Poderia a alma residir em outra dimensão? De qualquer forma, o espaço-tempo pode ser visto como estando envolvido por dimensões superiores, assim como uma folha de papel, bidimensional, pode existir dentro de um mundo de três dimensões como o nosso, pode haver uma quarta dimensão que envolva a nossa terceira, uma quinta que envolva a quarta e assim sucessivamente. Poderia, dessa forma, a alma habitar a quarta dimensão do espaço-tempo e prender-se ao corpo tridimensional, não sendo parte dele, na terceira dimensão, mas envolvendo-o a partir da quarta? Assim como nós, seres tridimensionais, podemos agir sobre uma folha de papel bidirecional, sem sermos parte da folha210? Afirmar que a alma ocupa lugar no espaço e tem peso, significa dizer que ela existe em algum lugar da terceira dimensão, e isso implica ter tamanho, forma, orientação e movimento, todos conceitos inapropriados para a mente humana. Mas, curiosamente, a mecânica quântica tem produzido algumas abstrações que têm levado alguns físicos a pensar que o espaço-tempo não seja um conceito primitivo, mas derivado. Eles acreditam que o espaço-tempo possa não necessariamente ser constituído de lugares e momentos, mas de subunidades

209 210

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 78. God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 78.


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abstratas de entidades com propriedades quânticas. Em outras palavras, isso pode significar que o que chamamos de universo físico possa se estender para além do espaço-tempo. No contexto da mecânica quântica, isso significaria que o mundo teria outras partes. Assim como um pão pode ter várias fatias, o universo poderia ter divisões, expandindo-se para dimensões superiores de existência. Poderia uma dessas dimensões ser habitada pela alma? Se assim for, a alma não ocuparia um lugar no espaço e não teria extensão. Na verdade, conceitos topográficos como dentro, fora, entre, conectado e desconectado poderiam não fazer nenhum sentido. A questão dá o que pensar! Se a alma existe em outra dimensão, isso significa que sobrevivemos à morte e passamos a existir somente na quarta dimensão?211 Carl Gustav Jung disse certa vez: “eu simplesmente acredito que alguma parte do ‘eu’ ou da “alma” humana não está sujeita às leis da física”. De qualquer forma, precisaremos encontrar um estilo diferente de abordagem para resolver problemas como a consciência. Não creio que vamos encontrar tecnologia para produzir inteligência artificial sem antes podermos entender precisamente o que seja a consciência.212 Procurando materializar o pensamento, prosseguiu: — Felizmente, as coisas não estão tão ruins. Hoje existe uma crescente consciência de que estamos conscientes. Ninguém pode negar isso sem autocontradição. O problema torna-se 211 212

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 78. David Deutsch.


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insolúvel quando nos damos conta da natureza dos neurônios. Primeiro, não conseguimos encontrar a ligação entre eles e nossa vida consciente. Segundo, e mais importante, suas propriedades físicas não nos dão nenhuma pista de como podem produzir consciência. A consciência é relacionada com algumas regiões do cérebro. Mas quando os mesmos sistemas de neurônios estão presentes no tronco cerebral, não existe "produção" de consciência. O físico Gerald Schroeder destaca que não há nenhuma

diferença

essencial

nos

constituintes

físicos

fundamentais de um monte de areia e o cérebro de um Einstein. São os mesmos átomos. Somente a fé cega na matéria pode reivindicar que certos bits de matéria podem, de repente, criar consciência. Os funcionalistas alegam que os computadores também são capazes de pensar. No entanto, é preciso levar em conta que todos os processos mentais são acompanhados de estados de consciência, estados que nos tornam conscientes do que estamos fazendo. E não poderíamos sugerir que os computadores sabem que estão desenvolvendo uma atividade. O desempenho de um computador ocorre em resposta a dados e instruções, produto da interação de pulsos elétricos e circuitos. Ao contrário de seres vivos, que fazem o que fazem intencionalmente, as ações de um computador não implicam compreensão, significado ou intenção. O produto do desempenho de um computador tem significado para nós, como a previsão do tempo, uma fotografia, um cálculo, mas para o computador são somente 0 e 1. Afirmar que um computador poderia compreender o que está fazendo é o mesmo


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que afirmar que uma rocha que rola a colina possui livrearbĂ­trio.213

213

Abraham Varghese, em There is a God, Antony Flew, PhD, ISBN: 9780061335303: 173.


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Eu-Sou — “Eu penso; logo, existo.” O que é o Eu? Onde está o Eu? Como o Eu começou a existir? O seu Eu não é somente algo físico, como também não é algo suprafísico. Mas o Eu está envolvido pelo corpo, embora não esteja em uma célula cerebral nem em um lugar particular do corpo. Se estudarmos as células cerebrais, veremos que nenhuma tem a propriedade de ser um Eu. É evidente que o corpo está integrado a quem somos, mas o corpo também precisa do Eu para poder existir. Para ser um ser humano, precisamos de um corpo e uma consciência, e parece que o Eu é a soma, ou a estrutura holística, de tudo o que nos constitui.214 É impossível negar o Eu. — Como eu sei que existo, professor? — Questiona uma moça de cabelos negros que caíam soltos e livres, estabelecendo um contraste com seu rosto radiante. — Quem está perguntando? — Eu, — responde a moça. — Se o Eu é capaz de perguntar, não pode negar a si mesmo. A realidade mais fundamental da qual estamos

214

Abraham Varghese, emThere is a God, Antony Flew, PhD, ISBN: 9780061335303: 180.


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conscientes é a da existência do Eu. E o entendimento do Eu inevitavelmente nos conduz a um senso de realidade como um todo. Tomamos consciência de que o Eu não pode ser descrito, não pode ser explicado com clareza, não tem data de nascimento, pois um bebê não pode ser descrito como um Eu no sentido mais amplo; o Eu é obscuro, mas lança luz ao seu redor. De repente tomamos consciência de que a história do universo não faria sentido se não houvesse a consciência para perceber o sentido.215 Ser um Eu é ter consciência e desfrutar da capacidade de consciência reflexiva.216 O que quer que o meu Eu de fato seja, realmente parece estar no centro do mundo. O mundo é meu mundo. O Eu está no centro do mundo.217 Ainda que eu esteja no centro do meu mundo, acredito que exista outro mundo independente de mim, uma vasta extensão de espaço e tempo da qual conheço apenas uma parte relativamente minúscula. Ao mesmo tempo que estou no centro de meu mundo, tenho imensa dificuldade em imaginar minha pura e simples não existência. Por que é tão difícil imaginar um mundo sem mim, um mundo onde nunca cheguei a aparecer? Não posso deixar de pensar no mundo como sendo meu mundo. Embora eu é que faça parte da realidade, parece que a realidade faz parte de mim. Imaginar que eu nunca existi é o 215 216 217

Abraham Varghese, em There is a God, Antony Flew, PhD, ISBN: 9780061335303: 180. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 278. Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 279.


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mesmo que imaginar que o mundo nunca existiu. Seria imaginar que nada havia enquanto eu não existia.218 Quando lidamos com outras pessoas, nós normalmente os identificamos com seus corpos e, num sentido mais restrito, com sua personalidade. No entanto, olhamos para nós mesmos de forma muito diferente. Quando uma pessoa se refere a seu corpo, isso tem uma relação de posse, assim como com o ‘meu carro’. Em contrapartida, se me refiro a ‘minha mente’, isso tem outra conotação, pois não nos parece um bem móvel, pois a ‘minha-mente’ ‘sou eu’. A mente é o possuidor das experiências e dos sentimentos, é o centro dos pensamentos. Meus pensamentos e minhas experiências me pertencem. O que quer que seja o Eu, trata-se de algo que pensa, toma decisões, age, é feliz e sofre. Eu não sou pensamentos, não sou decisões, não sou ação, não sou sentimentos. Uma das propriedades mais fundamentais do Eu é a percepção de si mesmo, sua indivisibilidade e unidade. Eu sou Um indivíduo e diferente de Você. Mesmo os gêmeos se veem como dois indivíduos diferentes. Não é muito difícil saber o que eu não sou. Então, “O que sou eu?” Não se trata de uma pergunta fácil de responder. E fica mais complicado ainda se vislumbro a possibilidade de vida após a morte. Se eu sobreviver à morte, o que eu devo esperar que vai sobreviver?219

218 219

Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 280. God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 88.


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O que forma nosso senso de unidade, de que sou uma pessoa única, sem outro igual em todo o universo? Nossa concepção do “eu sou” está fortemente estruturada sobre as memórias de experiências passadas. Não está claro que na ausência de memórias o ser seria capaz de apreender qualquer sentido. Alguém que sofra de amnésia talvez ainda queira saber “quem sou eu?” E nesse caso, no fim das contas, ele ou ela perceberá que o seu Eu encontra-se ausente. Se uma pessoa perder a habilidade de registrar suas experiências, mesmo que ainda saiba se comunicar em seu idioma materno e saiba o nome de objetos, perderia completamente o senso de identidade. Não conseguiria mais agir de forma coerente, pois teria perdido suas referências pessoais, de lugar e de tempo. Os eventos não fariam sentido, o mundo seria caótico. É sobre os fundamentos da memória que construímos a estrutura do nosso Eu, e nos reconhecemos como o mesmo indivíduo em diferentes épocas. Grande parte das células que formavam o corpo de ontem já não existem mais. Um homem idoso pode reconhecer seu Eu na fotografia de uma criança. Mas como um ancião pode ser uma criança? Nossa personalidade também pode mudar muito com o tempo. Se o idoso não tivesse memória, como ele saberia que aquela criança é o seu Eu de outra época? Se um homem proclamasse ter sido D. Pedro II em sua reencarnação anterior, que critério você utilizaria para aferir a veracidade da história? Você não faria perguntas do tipo ‘Qual era seu prato favorito?’, ‘O que você gostava de fazer em seus momentos de lazer?’. Você


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esperaria que ele lhe desse muitos e precisos detalhes da vida de D. Pedro II antes de levá-lo a sério. Mas suponha que o homem alegue ter perdido todas as memórias daquela encarnação e que apenas reteve o nome de D. Pedro II. O que você pensaria do sujeito? Agora pensemos de outra forma: um amigo que você não vê há uns dez anos fez uma cirurgia que o deixou irreconhecível em aspectos visuais e vocais. Esse amigo é capaz de descrever inúmeras experiências que vocês viveram juntos no passado quando jovens, até aquela vez que ficaram espiando a filha da vizinha tomar banho. Ele parece ser seu amigo?220 O paradoxo do Eu. Se o Eu é o sujeito da minha consciência, as diferentes experiências que eu tenho, o gosto do morango ou a beleza da música, pensar em meu sonho, fazem parte de mim e de minha consciência e sei que sou eu, então sou o sujeito. Se eu penso em algumas maçãs, então as maçãs são o objeto de minha ação de pensar. Se eu penso em meus pensamentos, então são os meus pensamentos os objetos de meus pensamentos. Como poderia alguma coisa ser sujeito e objeto ao mesmo tempo? Essa parece ser a mais monstruosa contradição filosófica jamais imaginada, ser sujeito e objeto ao mesmo tempo.221

God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 88. Schopenhauer, Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 258.

220 221


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CAPÍTULO 6 Mundos Paralelos e Dimensões Superiores — Em matemática, o conceito de dimensões superiores, além das três que nos são familiares, comprimento, largura e altura, é algo que está bem estabelecido. Contar três dimensões é fácil e a tendência é seguirmos adiante. Se há três, porque não poderia haver mais? Em matemática, extrapolar para a quarta dimensão não é muito difícil.222 Pitágoras desvendou as propriedades mais fundamentais do triângulo, e o mais famoso teorema leva seu nome: o Teorema de Pitágoras. — E como o Teorema de Pitágoras se encaixa na questão das dimensões superiores, professor? — É que seu teorema esconde um dos mais profundos enigmas do universo. Ele estabelece a relação entre os comprimentos dos três lados do triângulo retângulo. O teorema afirma que a soma dos quadrados das menores partes é a mesma do quadrado da parte maior. Se a e b representam os

222

In Search of the Multiverse, John Gribbin, PhD, ISBN: 9780470613528: 98.


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comprimentos dos lados menores e c for o comprimento do lado maior, então teremos a2+b2=c2.223 — Eu perguntei porque meu pai, que é arquiteto, é apaixonado por essa fórmula, professor, pelo Teorema de Pitágoras. — Mas acontece que o teorema pode ser generalizado para elementos de três dimensões. A soma dos quadrados dos três lados adjacentes de um cubo é igual ao quadrado da diagonal. Assim, se a, b e c representam os lados de um cubo e d for sua diagonal, então a2+b2+c2=d2. Agora é simples generalizar nosso caso para n dimensões. Imagine um cubo n-dimensional. Se a, b, c… são os comprimentos dos lados de um hipercubo (um objeto da quarta dimensão) e z é o comprimento da diagonal, então a2+b2+c2+d2…= z2. Embora nosso cérebro não possa visualizar tal objeto, curiosamente, do ponto de visita da matemática, tais objetos existem.224 Em nossos dias, muitos cientistas já creem que nosso mundo esteja envolto por outras dimensões e que, de alguma forma, haja outras formas de deslocamento. Descobrir essas dimensões ocultas é o prêmio máximo da física, e mudaria para sempre a forma como vemos o universo. A sensação de que outras dimensões possam estar ocultas estimula as investigações mais determinantes do mundo.225

223 224 225

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 178. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: cap. 2. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: cap. 2.


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Imagine, por um momento, que uma raça de seres míticos possa habitar o mundo bidirecional de uma folha de papel, que chamaremos de Terra Plana. Eles conduzem seus negócios, vivem sua vida sem perceber que um universo inteiro, a terceira dimensão, cerca-os. Se um cientista da Terra Plana pudesse realizar um experimento que lhe permitisse pairar alguns centímetros acima da folha, ele se tornaria invisível aos demais, porque a luz passaria por baixo dele como se ele não existisse. Flutuando acima da Terra Plana, ele poderia ver acontecimentos desenvolvendo-se sobre a folha de papel. Pairar no hiperespaço tem vantagens inegáveis, pois alguém que olhasse para baixo, teria os poderes de um deus.226 Não só a luz passaria por baixo dele, tornando-o invisível, como ele também poderia passar por cima de objetos. Em outras palavras, ele poderia desaparecer à vontade e atravessar paredes. Saltando simplesmente para a terceira dimensão e desapareceria do universo da Terra Plana. E se pulasse de volta para a folha de papel, ele de repente voltaria a se materializar do nada. Seria impossível guardar segredos de um hiperser. Cirurgias seriam possíveis sem corte na pele. Planos superiores de existência podem pairar logo acima do nosso. Nós acreditamos que o mundo é tudo o que podemos ver, sem perceber que pode haver um universo inteiro logo acima de nosso nariz. Embora outro universo talvez esteja pairando alguns centímetros sobre nós, ele seria invisível. H. G. 226

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 178.


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Wells levantou uma questão chave que hoje é objeto de grandes especulações e pesquisas científicas: Como seriam as leis da física nessas dimensões superiores? Ele fez ligeira pausa e prosseguiu: — Vários experimentos estão agora sendo realizados para detectar a presença de universos paralelos que poderiam estar pairando logo acima de nós.227 E as ações nesse sentido estão sendo dirigidas na busca pelo aprofundamento no entendimento da Teoria M, ou a Teoria de Tudo, como alguns cientistas preferem chamar. — O que é isso, professor, Teoria M? — É a teoria que sugere a existência das cordas, que já vimos antes. E suas equações também sugerem, assim como o Teorema de Pitágoras, que existem de fato dimensões superiores. — Como assim, superior, professor? Max fez uma pausa mais longa, desejando observar o efeito de suas palavras, e aduziu: — Hoje, as dimensões superiores estão no centro de uma profunda revolução na física, porque os físicos são obrigados a enfrentar o maior problema da física atualmente: o cisma entre a relatividade e a física quântica. Essas duas teorias compreendem a soma total de todo o conhecimento da física sobre o universo ao nível fundamental. No presente, apenas a Teoria M poderia, em tese, unificar essas duas grandes teorias do universo, aparentemente contraditórias, num todo coerente e criar a teoria de tudo. Somente em hiperespaços com dez ou onze dimensões 227

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 179.


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temos “espaço suficiente” para unificar todas a forças da natureza numa única teoria elegante. E muitos físicos estão convencidos de que encontrarão a resposta por meio dessa teoria.228 No passado, admitir um universo com dez dimensões, significaria que a teoria beirava a ficção científica. Os teóricos das cordas se tornaram motivo de chacota. O físico teórico americano John Henry Schwartz, PhD, lembra-se de estar no elevador com Richard Feyman, que, brincando, lhe disse: “Então, John, em quantas dimensões você vive hoje?229” Mas isso é passado. Hoje a ideia de universos paralelos, uma vez considerada estranha demais para ser verdade, agora está no centro do palco da comunidade da física, com centenas de conferências e literalmente dezenas de milhares de artigos dedicados ao assunto.230 À medida que a teoria das cordas é entendida, ela postula que o mundo é completamente diferente do mundo que conhecemos com nossos sentidos. Se a teoria das cordas estiver certa, talvez a mente de Deus represente música cósmica ressoando através do hiperespaço com dez dimensões.231 É intrigante imaginar a vida em universos paralelos. Mas se as leis físicas e condições em outros universos forem similares

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 179. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 187. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 190. 231 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 192. 228 229 230


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ao nosso, esses outros universos poderiam potencialmente albergar uma miríade de mundos habitados.232 — Se as dimensões superiores realmente existirem na natureza, professor, e não apenas nas equações matemáticas, onde estão essas dimensões superiores233? Nesse instante fez uma pausa significativa. Sua fisionomia traduzia meditação. Mas logo tornou: — Kaluza, antes um matemático desconhecido, escreveu uma carta para Einstein propondo formular suas equações em cinco dimensões, quatro de espaço e uma de tempo. Matematicamente, não seria problema, visto que também as equações de Einstein podem ser escritas em qualquer dimensão. Mas a carta continha uma observação surpreendente: se alguém separasse à mão a parte quadridimensional contida nas equações pentadimensionais, automaticamente encontraria, quase que por um passe de mágica, a teoria da luz de Maxwell. Em outras palavras, a teoria da força eletromagnética salta das equações de Einstein para a gravitação se simplesmente acrescentarmos uma quarta dimensão de espaço. O que isso significa? Que embora não possamos ver a quarta dimensão, talvez a luz possa se formar nelas.234 — Desculpa, professor, não ficou claro. — Vou dar um exemplo — diz ele coçando o queixo. — Imagine peixes nadando em um lago pouco profundo, bem debaixo das folhas de igarapé. Os peixes acham que o universo deles é apenas bidimensional. O nosso mundo tridimensional 232 233 234

In Search of the Multiverse, John Gribbin, PhD, ISBN: 9780470613528: 170. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 193. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 193.


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talvez esteja além da compressão do mais esperto peixecientista. Mas existe um modo pelo qual eles podem detectar a terceira dimensão. Pausa. — Basta chover. Atento à atitude dos alunos, concluiu: — Do mesmo modo, não podemos ver a quarta dimensão diretamente, mas podemos deduzir sua existência por meios indiretos.235 — E que meios indiretos seriem esses, professor? — O teorema de Pitágoras, as equações de Einstein, a teoria da luz de Maxwell, entre outros. — Mas, professor, eu estava me referindo a “onde estão as dimensões superiores” do ponto de vista geográfico. — Vamos ver se… vou tentar explicar de outra maneira. Uma linha unidimensional pode estar em uma folha de papel bidimensional. A folha de papel faz parte de um mundo tridimensional, o universo em que habitamos. Nosso mundo estaria dentro de um mundo quadridimensional. — Ou seja, professor, se houver um habitante da quarta dimensão aqui nesta sala, ele seria invisível para nós. Seria isso? — Sim, exato. E se houver um mundo quadridimensional, este estará contido em outro pentadimensional. E assim sucessivamente. — Acho que entendi, professor.

235

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 193.


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Universo Holográfico — Como pode o cérebro — indagou ele —formado de matéria tangível, ser capaz de construir uma imagem do mundo através de propriedades profundamente sutis como o pensamento? Como um pensamento pode ser algo tão real quanto uma montanha?236 No mundo quântico, estranhas coisas acontecem. 237 Existe uma previsão bastante curiosa na teoria M que ainda não foi inteiramente compreendida, mas que pode ter profundas consequências físicas e filosóficas. Alguns cientistas conjecturam que o universo possa ser um imenso holograma.238 Os principais arquitetos dessa ideia surpreendente são dois eminentes pensadores: o físico quântico David Bohm, que era amigo de Einstein, da universidade de Londres, e o neurofisiologista da Universidade de Stanford, Karl Pribram, autor de um livro clássico chamado Languages of the Brain.239 Curiosamente, Bohm e Pribram chegaram à mesma conclusão de forma independente e trabalhando em diferentes áreas. Bohm convenceu-se da natureza holográfica do universo a partir da física quântica, e Pribram, em virtude de a teoria padrão falhar The Holographic Universe, Michael Talbot, PhD, ISBN: 9780062014108: 55. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 225. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 221. 239 Languages of the Brain, Karl Pribram, ISBN: 9780913412220. 236 237 238


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em explicar vários enigmas neurofisiológicos. Ambos defendem o modelo holográfico basicamente pelo mesmo motivo: em função de o modelo sugerir solução a várias questões que não podem ser respondidas pelos paradigmas do modelo padrão. Já em 1972, os pesquisadores de Harvard, Daniel e Michael Tractemberg, propuseram que a teoria do cérebro holográfico poderia explicar o fenômeno da “memória fotográfica”. As primeiras evidências nesse sentido foram apresentadas pelo pesquisador e biólogo da Universidade de Indiana Paul Pietsch depois de estudar o cérebro de salamandras.240 Anos mais tarde, na década de 80, assomaram-se a eles outros cientistas, como o psicólogo Dr. Kenneth Ring, da Universidade de Connecticut, o Dr. Stanislav Grof, chefe do Centro de Pesquisas Psiquiátricas de Maryland, e o físico quântico Dr. Fred Alan Wolf, o físico Dr. David Peat, da Queen’s University, do Canadá.241 A teoria de Pribram e Bohn permaneceu profundamente controversa até 1993, quando os físicos Dr. Gerard ’t Hooft e Dr. Leonard Susskind também identificaram padrões holográficos a partir de uma teoria de Steven Hawking sobre a radiação dos buracos negros.242De fato, os mais recentes avanços em diversas áreas da ciência indicam que o universo parece ser um holograma gigante.243 Pausa. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 27. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 1. Edge of the Universe: A Voyage to the Cosmic Horizon and Beyond, Paul Halpern, PhD, ISBN: 9780470636244: 83. 243 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108. 240 241 242


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— Um exemplo de holograma é fornecido pelo filme Guerra nas Estrelas, quando R2D2 transmite uma mensagem da princesa Leia.244 Em 1997, o físico teórico argentino Juan Martín Maldacena, PhD, do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, causou sensação ao reiterar por meio de uma série de equações matemáticas que a teoria das cordas leva a esse novo tipo de universo, um universo holográfico. E, curiosamente, qualquer ser que viva nesse espaço de quatro245 dimensões seria matematicamente equivalente aos seres que vivem no nosso espaço tridimensional. Não haveria como distinguir um do outro.246 É possível que nós realmente existamos como holograma.247 O físico teórico John Wheeler, PhD, acreditava que toda a realidade física possa ser reduzida a informação pura. O físico teórico Jacob Bekenstein, PhD, leva a ideia da informação de um buraco negro um passo ainda mais adiante em mares nunca navegados ao perguntar: “o universo inteiro é como um programa de computador?”248 Talvez a informação seja a verdadeira linguagem da física.249 Ele

avalia que todo o universo visível provavelmente

contém 10100 bits. Esse número colossal, 1 seguido de 100 zeros é chamado de google.250

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: xv. O original considera cinco dimensões, incluindo o tempo. Neste caso, considero apenas as dimensões físicas. 246 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 222. 247 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 224. 248 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 224. 249 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 225. 250 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 226. 244 245


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Se a Teoria M tiver êxito, se for mesmo a teoria de tudo, será o fim da física que conhecemos? A resposta é não. Significa apenas que existe uma rica variedade de soluções.251 As partículas atômicas são capazes de se manter conectadas independentemente do tempo e do espaço. Parece que o espaço é ilusão. Bohm foi um dos primeiros defensores da ideia de que a realidade objetiva e consistente é uma ilusão.252 A interpretação dele fragmentou a fundação da própria física: a matéria não poderia mais ser considerada separada e individual, mas precisaria ser vista como estando interconectada.253 O entrelaçamento quântico demonstra que a matéria em seu nível mais fundamental está interconectada. Vivemos em um universo que está apenas começando a ser revelado.254 Se considerarmos que David Bohm surgiu com a ideia nos anos 60 e 70, e hoje o conceito não apenas permanece vivo, mas cada vez mais significativo, então talvez o universo seja mesmo um holograma gigante. O assombroso é que o modelo holográfico também pode explicar a “não localidade”255, pois, de acordo com esse conceito, a aparência de localidade se desmorona. Em outros termos, significa que cada parte da superfície plana holográfica contém a informação compreendida pelo todo. Em outros termos, a informação é distribuída de maneira não local. Dessa forma, se o

Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 227. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: xv. 253 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: xiv. 254 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 7. 255 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 47. 251 252


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universo estiver organizado holograficamente, espera-se que ele também apresente propriedades holográficas.256 Einstein surpreendeu a comunidade científica quando propôs, por meio da teoria da relatividade, que espaço e tempo são uma única e graciosa entidade que ele chamou de “espaçotempo”. E Bohm leva essa ideia mais longe e afirma que tudo é parte de algo que ele chama de continuum.257 Para Bohm, a tendência científica de fragmentar o mundo em partes cada vez menores, ignorando-se o todo, pode ser responsável por grandes questões não respondidas da ciência clássica. Uma delas seria a forma como a consciência pode agir sobre a matéria no mundo subatômico. Nesse contexto, a prática de dividir o mundo em coisas vivas e não vivas talvez não faça muito sentido. Para ele, a vida pode estar potencialmente presente em todo o universo, até mesmo nas rochas. Ele não quer dizer que o processo de divisão não seja importante no sentido de simplificar o trabalho de pesquisa, mas não se deve deixar a visão do todo fora de perspectiva.258Uma das afirmações mais surpreendentes de Bohm é que a realidade tangível de nossas vidas cotidianas é realmente um tipo de ilusão. O universo pode, no fundo, ser um tipo de imagem holográfica. 259 É claro que o conceito de holograma é a abordagem mais próxima que podemos desenvolver para descrever o modelo. Com o tempo, o conceito deve se aproximar

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 47. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 48. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 49. 259 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 46. 256 257 258


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de características mais definidas e talvez até mudar de nome, segundo novos avanços técnicos e científicos. Se o universo é uma pálida sombra de uma ordem mais profunda, o que mais se esconde, envolvido na urdidura e trama de nossa realidade?260De acordo com o modelo holográfico, cada centímetro cúbico do universo contém tanta energia quanto o total de matéria do universo conhecido. E evidências científicas estão corroborando a teoria. Para Bohm, a matéria não poderia existir separada do vácuo, do espaço vazio, pois o vácuo é parte do espaço e o espaço parte do tempo e o tempo parte do Todo. De acordo com esse ponto de vista, o Nada e o Todo não podem existir separadamente. Eles seriam parte de uma realidade mais profunda. Se o vácuo é parte do todo, não pode estar vazio e, de fato, parece que é o que as evidências estão apontando. É como se a matéria precisasse do Nada para poder existir. À medida que a ciência avança, encontra a ordem estabelecida em níveis cada vez mais profundos da realidade. Bohm acredita que a consciência humana possa vir a ser explicada pelos aspectos duais da matéria, que apresenta diferentes comportamentos em nível macro e micro. No nível macro ela é tangível e local; no entanto, os aspectos quânticos a apresentam de forma fantasmagórica e não local. Como uma mesma “coisa” pode ter aspectos tão controversos? Se as partículas subatômicas são também ondas, então tudo no universo é ao mesmo tempo energia e matéria, tangível e intangível em algum nível. 260

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 51.


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Para o físico Paul Davies, todas as partículas do universo estão ao mesmo tempo separadas e interagindo, e essa é uma propriedade geral da natureza.261 O aspecto mais importante da realidade não parece ser um mundo concreto, mas o inter-relacionamento das coisas.262 Um fio invisível parece conectar as partículas quânticas através do espaço.263 Pensadores de expressão, entre físicos, neurologistas e profissionais de diversas áreas, apoiam e acreditam que o modelo holográfico possa ser a imagem mais precisa da realidade que temos até o momento.264 Karl Pribram, neurologista que passou a acreditar que a nossa percepção do mundo ocorre como resultado de uma leitura complexa de transformação de informação a um nível diferente de realidade, acreditava que o cérebro usa ondas quânticas, como em um holograma, para armazenar grande quantidade de informação.265 Outra peça de evidência do princípio holográfico vem da acupuntura chinesa. Em um estudo, 40 pacientes foram examinados para determinar as áreas de seus corpos onde sentiam dor crônica. Após cada um dos exames médicos, um acupunturista, sem conhecimento dos resultados médicos, examinava somente a orelha do paciente. Quando os resultados foram computados, descobriu-se que o exame auricular

261

Paul Davies, Superforte, Simon & Suster, New York, 1984: 48, citado em The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 53. 262 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: xvi. 263 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: xiv. 264 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 3. 265 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: xv.


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concordava em 75,2% com o diagnóstico médico.

266

Considerando que a medicina também não é uma ciência exata, o nível de concordância nos resultados foi bastante elevado. Pausa. — Muitos físicos — falou resoluto — já abandonaram há algum tempo a abordagem puramente reducionista dos processos físicos. Isso é especialmente verdade no que diz respeito à física quântica, na qual uma visão holística da mensuração é fundamental para o significado da interpretação da teoria. No entanto, foi somente nos anos mais recentes que a filosofia holística começou a gerar algum impacto mais geral nas ciências físicas. Essa tendência também tem sido seguida pelas ciências médicas, com ênfase no tratamento do “paciente como um todo” e entre psicólogos e sociólogos. A ciência holística está se desenvolvendo rapidamente, quase como moda, em parte talvez porque esteja sintonizada com a filosofia oriental e com o espiritualismo ocidental. É uma mudança de humor que começou a ser captada por Fritjov Capra em O Tao da Física e Gary Zukav em A Dança dos Mestres Wu Li. Eles exploram o paralelo entre a física moderna e os conceitos holísticos orientais como a “unicidade” do espírito e o destino universal.267 Uma visão ligeiramente diferente de uma realidade desprovida de substância é considerar que ela consiste não em matemática, mas em informação. Essa visão é resumida em um termo cunhado pelo físico John Archibald Wheeler: It from bit. 266 267

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 115. God &The New Physics, Paul Davies, PhD, ISBN: 9780671528065: 64.


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Wheeler colaborou com Albert Einstein e foi professor de Richard Feynman.268 Desse ponto de vista, a informação é suficiente para a existência. Em outras palavras, o universo físico não passa de um conceito. Um conceito na mente de Deus? O princípio holográfico prevê que tudo o que experimentamos pode ser total e completamente descrito como as idas e vindas que ocorrem em um lugar plano e distante. A jornada a essa possibilidade espetacular combina profundos avanços e insights da relatividade geral de Einstein, pesquisas com buracos negros, da termodinâmica, da mecânica quântica e, mais recentemente, da teoria das cordas.269 — Como assim, professor? — Einstein tentou descrever a matéria em termos puramente geométricos, tentou modelar o elétron e outras partículas elementares como um tipo de perturbação da geometria do espaço-tempo. Essa ideia pode ser ressuscitada em um nível mais elevado na teoria M.270 Uma forma de ver a lógica dessa abordagem é olhar para a física com uma perspectiva histórica.271 No passado, sempre que os físicos eram confrontados com um espectro de objetos, percebíamos que havia algo mais fundamental na raiz. No início, conhecíamos apenas as substâncias, e no momento seguinte descobrimos as moléculas, depois os átomos, no momento Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story, Jim Holt, PhD, ISBN: 978-0871404091: 203. The Hidden Reality: Parallel Universes, Brian Green, PhD, ISBN: 9780307278128: 272. Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 228. 271 Mundos Paralelos, Michio Kaku, PhD, ISBN: 9788532522764: 229. 268 269 270


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seguinte se revelou que os átomos são na verdade formados de elétrons, prótons e nêutrons, mais tarde descobrimos que os elétrons são formados de léptons, e os prótons e nêutrons seriam os quarks. Agora, acreditamos que estes últimos sejam filamentos vibrantes. Os paradigmas mudam à medida que o tempo transcorre. — Professor, e qual o grau de segurança que se tem em relação a essa questão de o universo ser um holograma? — Nenhum. No entanto, quanto mais a ciência avança em termos de descobertas, parece se aproximar mais e mais dessa ideia. — O mestre esboçou um tom de ênfase e concluiu: — Bohm não acredita que uma teoria possa necessariamente estar certa, incluindo a dele mesmo. Mas elas podem no máximo ser aproximações da verdade, analogamente a um mapa, que, mesmo avançado, registra os contornos geográficos de forma imperfeita.272

272

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 53.


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Armazenamento Holográfico — Wilder Graves Penfield era um neurocirurgião pioneiro — disse ele severo, — e foi apelidado de “o maior canadense vivo". Expandiu métodos e técnicas, incluindo o mapeamento das funções de várias regiões do cérebro. Penfield dedicou muito do seu trabalho aos processos mentais, refletindo se havia alguma base científica para a existência da alma humana, até sua morte 273 . Seu livro O Mistério da Mente 274 , publicado em 1975, é uma obra clássica. Em suas pesquisas, Penfield concluiu que tudo que tenhamos experimentado é registrado no cérebro, desde faces estranhas na multidão até as teias de aranha que arrebentamos quando crianças.275 A holografia pode explicar como nosso cérebro pode armazenar tanta informação em tão pouco espaço. O brilhante físico e matemático húngaro John von Neumann certa vez calculou que, ao longo da vida, em média, um cérebro humano é capaz de armazenar o equivalente a cerca 2,8 x 1020 bits de informação, ou o equivalente a 280 milhões de unidades de HDs

273 274 275

http://www.pbs.org/wgbh/aso/databank/entries/bhpenf.html, visitado em 15/5/2014. ISBN: 8574540226. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 12.


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de um terabyte. Uma capacidade impressionante de armazenar informação para o que os pesquisadores não têm explicação.276 Michael Talbot diz que, curiosamente, os hologramas também detêm uma capacidade fantástica para armazenar informação. Será coincidência?

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The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 21.


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Paranormalidade e Holografia — Uma peça importante de evidência em favor do modelo holográfico seria capaz de explicar os fenômenos insólitos da paranormalidade. E essa não é uma tese que possa ser ignorada, pois a paranormalidade não pode ser explicada pelos modelos científicos padrão. Dessa forma, acaba sendo ignorada pela ciência. Apenas para dar um exemplo, em 1987, o engenheiro físico Dr. Robert G. Jahn e uma psicóloga clínica e pesquisadora, ambos de Princeton277, anunciaram que após uma década de pesquisas rigorosas no Princeton Engineering Anomalies Research Laboratory, tinham acumulado um corpo de evidências inequívocas de que a mente pode interagir com a realidade física. Eles descobriam que apenas através da concentração mental seres humanos são capazes de afetar a maneira como certas máquinas operam. Trata-se de uma assombrosa descoberta que não pode ser explicada pelos padrões de compreensão da ciência clássica.278Em outros termos, o princípio holográfico está criando 277

http://www.princeton.edu/~pear/staff.html, 15/05/2014 combinado com The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 5. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 5.

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os contornos do que poderá ser um novo paradigma científico nas próximas décadas. O fato de os fenômenos paranormais, apesar de estarem presentes em todas as culturas e em todas as épocas, não poderem ser explicados pela ciência, clamam por uma nova maneira de olharmos para o universo. Os fenômenos paranormais são controversos justamente por isto: embora muitos desses fenômenos tragam todos os sintomas de serem reais, não podem ser explicados pela ciência. Outro problema é que os fenômenos psíquicos são extremamente difíceis de ser estudados em laboratório, e isso tem levado muitos cientistas sérios e respeitáveis a concluir que os fenômenos paranormais não existem.


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Física Quântica e Holografia — Talvez o mais surpreendente de tudo é que há provas convincentes de que os elementos quânticos, como prótons, nêutrons e elétrons, só se manifestam como partículas quando estão sendo observados; do contrário, surgem como ondas de energia. Isso mais parece mágica do que o tipo de coisas que estamos acostumados a ver na natureza.279

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The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 35.


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Não-localidade e Holografia — Outra característica surpreendente do potencial quântico são suas implicações quanto à natureza da localidade. Em nível de nossas experiências cotidianas, as coisas possuem localizações específicas, mas a interpretação de Bohm da física quântica indica que, a esse nível, o conceito de localidade não existe. Todos os pontos no espaço são iguais a qualquer outro ponto no espaço; falar de algo separado de outro algo não faz sentido. Os físicos teóricos estão chamando essa propriedade de “não-localidade”. O aspecto não-local do potencial quântico possibilitou a Bohm explicar a conexão entre duas partículas, que hoje está sendo chamado de entrelaçamento quântico, sem violar a proibição da Relatividade Especial de Einstein de deslocamentos acima da velocidade da luz.280

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The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 41.


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Psicologia e Holografia — Outra sugestão do princípio holográfico — tornou ele — apresenta-se em um dos conceitos do psiquiatra suíço Carl Jung. Ele afirmava que os sonhos, a arte, as fantasias e alucinações de muitos de seus pacientes com frequência continham símbolos e ideias que não podiam ser explicados como produtos de sua história pessoal. Ao contrário, os símbolos e imagens estariam mais ligados aos temas das grandes religiões e mitologias do mundo. Jung concluiu que os mitos, os sonhos, as alucinações e as visões religiosas procedem de uma mesma fonte, um inconsciente coletivo compartilhado por todos os povos de todos os tempos.281 Embora o conceito de inconsciente coletivo de Jung, de que

todas

as

consciências

estão

de

alguma

forma

interconectadas, tenha sido abraçado por psicólogos e psiquiatras de todo o mundo, é preciso lembrar que a ciência clássica não possui mecanismos para explicá-lo. No entanto, o princípio holográfico pode contemplá-lo.282 Outro pesquisador que apoia o modelo holográfico é Stanislav Grof, do Centro de Pesquisas Psiquiátricas de Maryland 281 282

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 59. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 60.


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e professor na Universidade e Escola de Medicina Johns Hopkins. Após mais de 30 anos estudando os estados não ordinários de consciência, Grof concluiu que as avenidas de exploração disponível para a psique humana através do modelo holográfico é virtualmente sem fim.283

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The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 66.


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Pegadas de Vida Após a Morte — Por que a ciência tem sido tão resistente à paranormalidade? O Dr. Bernie S. Siegel, cirurgião pela Yale, autor do livro Amor, Medicina e Milagres284, um best-selling, diz que as pessoas são viciadas em suas crenças. O Dr. Siegel diz que quando você tenta mudar as crenças de alguém, eles agem como se fossem viciados.285Talvez seja por isso que os maiores insights e avanços da civilização são sempre negados de forma profunda e passional.286 Giordano Bruno, queimado vivo por defender a ideia de outros planetas no cosmos, e Galileu, condenado à prisão domiciliar, por tirar a Terra do centro do mundo, são apenas dois de uma centena de exemplos notórios. Somos viciados em nossas crenças e de fato agimos como viciados quando alguém nos tenta arrancar o ópio poderoso de nossos dogmas. E como a ciência tem devotado vários séculos no combate à paranormalidade, ela não vai se render a seu vício alegremente. Mas o mais importante é que vivemos em um universo que está apenas começando a ser revelado.287 ISBN: 9788571231085. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 6. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 6. 287 The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 7. 284 285 286


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Mas o mais surpreendente foi anunciado em 2001 pelo professor de psicologia, medicina, neurologia e psiquiatria, diretor do laboratório de Sistemas e Energia Humana da Universidade do Arizona, Dr. Gary E. Schwartz, no livro The Afterlife Experiments. 288 O Dr. Schwartz afirma que a vida continua após a vida, e que é possível se comunicar com as pessoas que partiram para outra dimensão. Em contrapartida, algo impensado está sendo revelado pela medicina nas experiências de quase morte. O Que Acontece Quando Morremos289 é obra recente do Dr. Sam Parnia, M.D.

288 289

Experimentos sobre a Vida Após a Morte, ISBN: 9780743436588. ISBN: 9788576353607.


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Imortalidade — Sem a imortalidade a vida não tem significado, e não faz qualquer diferença o que efetivamente acontece no mundo, pois um dia vai desaparecer mesmo. Sem imortalidade não há responsabilidade moral, e suas opções morais se tornam inconsequentes. Sem Deus, os valores morais não passam de ilusões incutidas em nós pela evolução ou pelo condicionamento social. Sem Deus, não há um propósito pelo qual você veio a este mundo. Se escolhemos a matriz ateísta e vivemos felizes, é somente por afirmarmos, de forma inconsistente com o próprio ateísmo, que há sentido, valor e propósito para a vida, a despeito da falta de uma base para isso. Se vivermos de forma consistente com o paradigma ateísta, seremos profundamente infelizes e viveremos até mesmo em desespero, pois teremos consciência de que nossa vida não tem sentido, valor ou propósito. As duas condições necessárias para encontrar sentido na vida são Deus e a imortalidade.


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A única estrutura que nos permite viver realmente felizes é aquela em que sabemos que somos imortais.290

290

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799.


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EQM – Experiência de Quase Morte — Todos já ouviram falar em Experiências de Quase Morte, ou EQM, — declarou ele com ênfase. — São incidentes nos quais indivíduos declarados clinicamente mortos são trazidos à vida e, posteriormente, narram experiências nas quais deixam seus corpos físicos e visitam reinos da vida após a morte. Na cultura ocidental, as experiências de quase morte vieram a público pela primeira vez pela obra do Dr. Raymond Moody, com PhD em psiquiatria e filosofia, com o livro que é sucesso de vendas Vida Após a Morte.291 Logo em seguida à publicação do Dr. Moody, a Dra. Elisabeth Kubbler-Ross revelou que havia, simultaneamente, conduzido pesquisas similares que corroboravam os resultados do Dr. Raymond Moody. Na verdade, à medida que mais e mais pesquisadores documentavam o fenômeno, foi ficando cada vez mais claro que a EQM não era apenas um fenômeno muito difundido – uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup americano revelou que cerca de 8 milhões de americanos, ou cinco por cento da população, já haviam tido experiências de EQM ou experiências fora do corpo. 291

Life After Life, Dr. Raymond Moody, ISBN 9780062517395, citadoem The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 240.


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A EQM é um fenômeno universal. É descrita no Livro Tibetano dos Mortos, escrito há 1.200 anos, no Livro Egípcio dos Mortos, de mais de 2.200 anos. No Livro 10, de A República, Platão fornece uma história detalhada de um soldado grego que viveu a experiência. O Venerável Bede, ou São Bede, narra uma história similar em seu livro A História da Igreja Inglesa e Seu Povo. Mais recentemente, Carol Zaleski, com PhD em Estudo da Religião, por Harvard, onde também lecionou, diz que a literatura medieval está recheada de contos e histórias de EQM. As EQMs não têm características únicas. Podem ocorrer em todas as idades, raças, gênero sexual, cultura, estado civil, religião, condição social ou nível educacional. E, naturalmente, acontecem até com quem não acreditava.292 A EQM é um dos fenômenos que mais fornecem evidências de vida após a morte. Como resultado de uma enquete realizada em 1981, o próprio George Gallup Jr., presidente do Instituto Gallup, concorda: “Um crescente número de pesquisadores tem reunido e avaliado as narrativas daqueles que tiveram um encontro com as experiências de quase morte. E os resultados preliminares têm sido altamente sugestivos de algum tipo de encontro com um reino extradimensional da realidade. Nossa extensa enquete é uma das mais recentes nesse sentido e também está cobrindo

292

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 240.


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alguma tendência que aponta em direção a um mundo paralelo de algum tipo.293 Há afirmações surpreendentes. Mas o que é ainda mais surpreendente é que a comunidade científica tem ignorado tanto as conclusões dos pesquisadores quanto o corpo de evidências reunido pelos pesquisadores que os obriga a fazerem afirmações em defesa das evidências. As razões para isso são complexas e variadas. Uma delas é que virou moda no meio científico não considerar com a seriedade devida qualquer fenômeno que pareça apoiar a ideia de uma realidade espiritual. Sem mencionar o preconceito generalizado entre os cientistas de que as únicas ideias válidas são aquelas que podem ser provadas em um sentido estritamente científico. Mas há ainda a incapacidade do ‘atual entendimento científico da realidade’ em mesmo começar a explicar se a EQM é real ou não. E esse último pode não ser o problema que parece. Muitos pesquisadores de EQM têm sugerido que o modelo holográfico oferece uma alternativa ao entendimento dessas experiências.294Um desses pesquisadores é o Dr. Kenneth Ring, professor de psicologia da Universidade de Connecticut e um dos primeiros pesquisadores a realizar análise estatística e técnica de entrevista padrão para estudar o fenômeno. Em seu livro publicado em 1980, Life at Death295, o Dr. Ring gasta tempo considerável argumentando em favor de uma explicação holográfica para a EQM. Trocando em miúdos, ele acredita que as

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Adventures In Immortality, George Gallup Jr., ISBN: 9780070227545: 31, citado em The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 244. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 244. 295 Life after Death, Dr. Kenneth Ring, PhD, ISBN: 9780698110328. 294


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EQMs são visitas a reinos da realidade que vibram em outras frequências.296

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The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 244.


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CAPÍTULO 7 Implicações do Paradigma de Matriz Ateísta — O astrofísico e matemático canadense Hugh Ross, em seu livro O Criador e o Cosmos, diz algo que poderia ser transcrito nestes termos: se o universo surgiu como uma forma de acidente, então a vida vai perdendo o sentido à medida que envelhecemos, e no final de tudo, de todas as nossas lutas, o que nos aguarda é um túmulo frio e úmido. Por outro lado, se o universo for obra de um Criador, uma Mente Cósmica, um futuro maravilhoso pode estar nos aguardando, então vale a pena saber a verdade sobre “de onde veio o mundo”. Lembro-me claramente da primeira vez que meu pai me explicou que um dia eu morreria. De algum modo aquele pensamento nunca havia passado por minha pequena mente infantil. Quando ele me disse isso, fui assaltado por um grande temor e profunda tristeza. E embora ele ficasse dizendo que isso ainda demoraria para acontecer, aquilo não parecia importar para mim. Cedo ou tarde, era fato inegável que eu morreria, e esse pensamento passou a me oprimir.297 Com o passar do tempo, como acontece com todos nós, eu passei simplesmente a aceitar o fato. Todos nós, de uma forma 297

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799.


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ou de outra aprendemos a conviver com o inevitável. Mas aquela percepção de minha infância continuava a me assombrar. Como disse Sartre, uma vez perdida a eternidade, não faz muita diferença se isso vai demorar muitas horas ou muitos anos.298 Não é apenas a vida humana que está destinada a desaparecer. A civilização e tudo o que o homem construiu, e inclusive o universo, estão destinado a desaparecer. Tudo algum dia serão destroços e ruínas. E qual é a consequência? Já sentiu alguma vez as trevas do desespero tomando conta de você? A sensação de que a vida não tem sentido? Isso significa que a própria vida se torna algo absurdo. Significa que a vida que temos não tem sentido, não tem valor, não tem propósito. Se toda pessoa deixa de existir quando morre, então que sentido último há em viver? Será que faz alguma diferença no final, ter ou não existido? Com certeza a vida de uma pessoa pode ser importante em relação a certos acontecimentos. Se tudo está destinado a acabar com a morte, que sentido faz se você ajudou alguém a ser mais feliz, se você teve uma vida digna e honesta? Isso não teria nenhum valor no túmulo. Não tem a menor importância o que você fez ou deixou de fazer na vida. Nada tem mais sentido, perdemos o gosto pelas coisas e não temos forças para vencer os obstáculos maiores, afinal para quê, se tudo terminará no túmulo? Todas as contribuições da ciência, todo o esforço pela paz mundial, todos os sacrifícios feitos por pessoas de bem — tudo 298

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 33.


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isso resultará em nada. E esse é o maior horror do homem moderno, uma angústia, um medo indefinido, uma vaga sensação de vazio. Mas viver eternamente não basta. Um astronauta perdido em um pedaço de rocha flutuante tinha dois frascos, um com elixir da vida eterna e o outro era um líquido venenoso. O astronauta não pensou muito; tomou o líquido venenoso e jogou o outro fora. Mas logo descobriu que tomou do frasco errado. Ele tinha tomado o elixir da imortalidade. Pobre homem, isso significava que estava condenado para sempre a viver uma vida sem sentido.299 A ciência se fundamenta na suposição de que o universo é absolutamente racional e lógico em todos os níveis.300 Se não há nada no universo que não seja lógico e racional, isso tem que significar alguma coisa. O que quero dizer é, como algo poderia ser absolutamente racional e não ter significado? Se é lógico, precisamos supor que há algum significado. Quais seriam as implicações em sabermos sobre a existência de Deus?301 Se Deus existe, criou o universo e as leis que o governam, e se Ele dotou os seres humanos de habilidades intelectuais para entender Seu trabalho, então será que Ele quereria que ignorássemos essa habilidade? Seria Ele diminuído pelo que estamos descobrindo sobre a Sua criação?302 Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 36. Paul Davies, PhD Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 31. 302 The Language of God, Francis Collins, PhD, ISBN: 9781416542742: 153. 299 300 301


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Eu já senti a ausência de significado na vida. Sei o que significa isso. O que será do heroísmo, da bondade, do sentimento ou das conquistas se o materialismo for tudo o que existe? O sistema solar e o universo deixarão de existir um dia. De que terá valido a pena todo o esforço humano? Por que o trabalho de existirmos se haverá possibilidades de sermos infelizes em um ou outro momento da vida, com a perda de algo importante para nós, de alguém muito querido, de um filho que se perde nas drogas? Por que todo o sofrimento se no final tudo acaba no túmulo? Duas pessoas levam vidas decentes. Uma delas acredita em Deus e algum tipo de vida após a morte. Já a outra pessoa crê que tudo se resume ao mundo material. Considerando que ambas as pessoas possuem aspectos de personalidades semelhantes, qual delas sofrerá menos pressão da vida, à medida que a idade avança? Num mundo sem Deus não pode haver certo ou errado, mas apenas juízos pessoais, relativos e subjetivos. Não se poderia louvar o bem, a generosidade, o autossacrifício e o amor. Num universo sem Deus não há bem nem mal. Há apenas a realidade nua e crua. Nem ninguém para orientar seu julgamento. Se a morte nos espera de braços abertos no fim da jornada, qual a razão de viver?


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Se Deus não existir, a vida torna-se um palco sombrio, gostemos ou não. Não há esperança, nem sentido, nem propósito. Só um futuro triste e obscuro.303 Calou-se, fez uma pausa de 5 segundos, com um insondável brilho no olhar, suspirou profundamente e prosseguiu. — A questão sobre a origem do mundo e a existência de Deus — asseverou — é a pergunta mais importante que alguém pode fazer. Ninguém que conhece a fundo as questões da matriz de pensamento ateísta ousará dizer que tanto faz se Deus existe ou não.304 A explicação não podia ser mais clara. — Se Deus não existir, o universo e o ser humano estão destinados a desaparecer. O homem, como todos os demais organismos biológicos, deve morrer um dia. Sem a esperança da imortalidade, a vida humana caminha apenas para a cova. A vida humana não passa apenas de uma faísca na escuridão infinita. Uma faísca que aparece, emite uma luz trêmula e se extingue para sempre. Portanto, todo o mundo deve ficar face a face com aquilo que o teólogo alemão Paul Oskar Tillich chamou de ameaça do não-ser. Pois embora eu saiba que existo, que estou vivo, também sei que um dia não mais existirei, deixarei de existir e morrerei. Essa ideia é angustiante e aterradora. Pensar que “eu” deixarei de existir. Coisas que gostaríamos de saber, de ver, de conhecer, nada mais será possível.305 303 304 305

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 41. Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 32. Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 33.


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Os torturadores comunistas costumavam dizer: Não há Deus, não há outra vida, não há punição para o mal. Podemos fazer o que bem quisermos. Devido ao caráter definitivo da morte, realmente não importa como se vive. O historiador de matriz ateísta Stewart C. Easton resume bem essa questão quando escreve: “Não há nenhuma razão subjetiva para que o homem tenha moral, a menos que a moralidade traga alguma recompensa para sua vida em sociedade ou o faça sentir-se bem, não há nenhuma razão objetiva para que o homem faça qualquer coisa, a menos que isso lhe traga algum prazer.”306 Somos máquinas para a propagação do DNA.307 O filósofo de matriz ateísta Nietzsche previu que um dia o homem moderno se daria conta das implicações do ateísmo e essa percepção o lançaria na era do niilismo — da destruição de todo o sentido e valor da vida. A maioria das pessoas ainda não reflete sobre as consequências da adoção do paradigma de base ateísta, e assim como num rebanho de ovelhas, segue seu caminho. Mas quando nos damos conta das consequências do ateísmo, então sentimos na carne a tremenda urgência da pergunta: como vamos nos consolar? Para as pessoas de matriz ateísta, o único cenário que o paradigma oferece é que encaremos o absurdo da vida e vivamos com bravura. Para o filósofo ateísta Bertrand Russel, a única Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 37. O Rio que Saía do Eden, Richard Dawkins, Editora Rocco. Citado em Em Guarda, William Lane Craig, ISBN: 9788527504799: 38.

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opção era construir a vida sobre a firme fundação do mais obstinado e inflexível desespero. O problema com esse paradigma é que ele não ajuda a construir opções para ser mais feliz, alegre e animado. Para Francis Schaefer, o homem moderno vive em um edifício de dois andares. No andar de baixo está o mundo finito sem Deus, onde a vida é absurda e sem sentido. No andar de cima do universo existe sentido, valor e propósito. O homem moderno vive no andar de baixo, pois acha que Deus não existe. No entanto, não se pode ser feliz em um mundo como esse, então ele fica dando saltos de fé para chegar ao andar de cima, em busca de sentido, valor e propósito, ainda que não tenha direito a nada disso, uma vez que não acredita em Deus. Quando alguém adota o paradigma de matriz ateísta, infelizmente fica preso no andar de baixo do universo. Tentar criar um sentido para a vida, artificialmente, é tentar dar um salto para o andar de cima. É um exercício para enganar a si mesmo. O universo não passa a ter sentido pelo fato de eu lhe atribuir um sentido. O que as pessoas de orientação ateísta fazem é simular sentido para a vida, mas precisam gastar muita energia nisso, pois isso não passa de enganar a si mesmo. Com o tempo, isso pode se transformar em depressão.308 De um ponto de vista objetivo, se Deus não existe, não há certo ou errado. Tudo é permitido. Mas não dá para viver dessa forma. Então o indivíduo busca criar um sentido próprio para a vida. E o sentido geralmente é a busca do preenchimento das 308

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 45.


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coisas do ego, na concorrência e superação dos mais próximos, ser o melhor, superior. Mas engana-se quem pensa que a felicidade está no dinheiro, no poder e na superação do próximo. Esses valores individuais são falhos.309 A questão é esta: se Deus não existe, então a vida não tem sentido objetivo — depois de curta pausa continuou gravemente: — No entanto, não dá para viver feliz, de forma consistente numa vida sem sentido.310 Sem Deus, não dá para falar em amor, fraternidade, irmandade e valor ao próximo. A visão de que não existem valores é logicamente incompatível com a afirmação dos valores do amor e do respeito ao próximo.311 Se a matriz ateísta for verdadeira, então o universo não tem sentido para existir. Se o universo não tem sentido para existir, então a vida não tem sentido de ser. Se a vida não tem sentido — e procurando materializar o pensamento para facilitar-lhes a compreensão, acentuou — então não se pode encontrar a verdadeira felicidade.312

Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799 Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 45. Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799: 45. 312 Em Guarda, William Lane Craig, PhD, ISBN: 9788527504799 309 310 311


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Vida Além da Vida — Alguns de vocês não acreditam em vida após a morte, mas minha fé está na ciência, e a ciência provou que nada desaparece sem rastro. A natureza não conhece o desaparecimento, mas a transformação. Somos feitos dos mesmos átomos que formaram as estrelas. Em essência, qualquer que seja o caso, vivemos para sempre. A morte é apenas outro caminho que todos temos que tomar e aí vemos os campos verdes longínquos sob um belo amanhecer. O que chamamos de morte é uma separação, sem dúvida. Mas como devemos imaginá-la? Embora a morte seja um mal monstruoso, os seres humanos passaram a imaginá-la como algo muito mais poderoso do que realmente é. Será que eu e você fomos feitos para a morte ou a morte foi feita para nós? Será que saímos da não-vida ao nascermos para logo a morte se erguer como um predador algumas décadas mais tarde? Qual nossa estrutura de referências a respeito da morte? Será que no coração de toda existência não há uma dança de amor altruísta e fraterno?313

313

A Travessia, William P. Young, ISBN: 9788580411089: 61 a 65.


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Uma das motivações mais fortes da humanidade é buscar resposta para as questões mais profundas, e precisamos de todo o poder das perspectivas científicas e filosóficas para revelar o que pode estar oculto.314 Nascer e morrer. Um começo e um fim. Uma ordem natural dos acontecimentos que intriga profundamente o homem desde que este desenvolveu a consciência de que, cedo ou tarde, sua hora fatal chegará. Religiões, cada uma a sua maneira, explicam a morte e dão a ela um significado especial – o caminho para uma nova existência em outro plano, ou o retorno ao mundo por meio da reencarnação. Deixar a vida é uma regra inviolável. Não há o que ser feito. No entanto, aonde o corpo humano é capaz de ir até realmente cruzar essa fronteira? Fez-se uma breve pausa. — Parece que carregamos um desejo profundo de encontrar a verdade, mas dificilmente refletimos sobre a morte até que ela nos leve um ente querido. Seguiu-se novo silêncio, quase desconfortável de tão longo. — Se o questionamento é mais significativo do que a contestação, se a pergunta é superior à resposta, então uma boa pergunta pode conduzir a uma série de camadas de respostas. Pode, até mesmo, inspirar longas décadas de buscas pela solução, pode gerar campos completamente novos de especulações. O olhar de Max era intenso.

314

The Language of God, Francis Collins, PhD, ISBN: 9781416542742: 6.


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— Em 1943, o estudante de medicina George Ritchie teve pneumonia dupla e passou por uma experiência de morte clínica. Na época, os antibióticos, como a penicilina, não eram muito usados. Após um episódio de febre muito elevada e pressão extrema no peito, o jovem morreu, deixou de respirar, seu pulso parou. Foi pronunciado morto por um médico e coberto com um lençol. Mas um enfermeiro ficou tão contrariado com a morte do jovem estudante de medicina que conseguiu persuadir um médico assistente a administrar uma injeção de adrenalina no peito próximo ao coração – um procedimento nada usual naqueles dias. O estudante esteve morto por cerca de nove minutos e, para a grata surpresa de médicos e enfermeiros, o estudante de medicina recobrou a consciência.315 Mais tarde, o jovem estudante seria o Dr. George Ritchie, M.D. Ele também se graduou em psiquiatria, fez doutorado, tornou-se presidente da Richmond Academy of General Practice, diretor do Departamento de Psiquiatria do Towers Hospital, e fundador e presidente do Universal Youth Corps, Inc. por quase 20 anos316. No início, o estudante se manteve reticente em falar a respeito de sua bizarra experiência. Mas acabou por escrever um livro sobre aqueles nove minutos em que esteve clinicamente morto e compartilhou sua experiência com seus alunos e estudantes de medicina. Um deles era o jovem Raymond Moody, que ficou tão intrigado com o tema que passou a investigá-lo ao longo de toda a sua vida, como médico. Em 1975 ele escreveu um 315

Consciousness Beyond Life, The Science of Near Death Experience, Pim van Lommel, M.D., ISBN: 9780061777257: vi, Introduction. Return from Tomorrow: My Glimpse of Eternity, Dr. George Ritchie M.D., ISBN: 9780912376233: contra-capa.

316


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livro chamado Vida Depois da Vida. 317 Foi o Dr. Moody que alcunhou o termo EQM (NDE em inglês). Se perguntas são mais relevantes que respostas, então vamos especular: Existe vida depois da vida? O que acontece quando morremos? Sabemos o que acontece com o corpo, mas quanto à consciência?

318

Com tamanha massa de dados

disponível, não se pode responder “não acredito” sem deixarmos de ser ingênuos. O que acontece quando o coração para de bater? Quando o

cérebro

deixa

de

receber

oxigênio?

Quando

o

eletroencefalograma passa a apresentar uma linha plana? Morte clínica é como as ciências médicas chamam o estado registrado pelo momento em que o cérebro deixa de registrar pulsos elétricos. O paciente morreu. O prêmio Nobel Sir John Eccles, neurocientista, propôs que a consciência de fato possa existir separada do cérebro. Ele sugere que “temos que reconhecer que somos seres espirituais com uma alma habitando um mundo espiritual, assim como seres materiais com corpos e cérebro habitando um mundo material”.319 Max fez uma pausa e tornou: — Em 1969, em um hospital da Holanda, na unidade de tratamento coronário, o alarme subitamente dispara. A linha do monitor do eletrocardiograma fica plana. O paciente sofre uma parada cardíaca. Duas enfermeiras rapidamente se dirigem ao 317

Life After Life: The Investigation of a Phenomenon: Survival of Bodily Death, Dr. Raymond Moody, M.D., ISBN: 9780062517395. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 105. 319 Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 103. 318


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paciente, que não responde mais, e imediatamente puxam a cortina ao redor da cama. Uma das enfermeiras começa a ressuscitação cardiopulmonar, enquanto a outra administra oxigênio. Uma terceira enfermeira se apressa com o desfibrilador. O aparelho é carregado e as pás cobertas com gel. Um choque elétrico é aplicado no peito. Sem efeito. É realizada massagem no coração e respiração artificial e, em consulta ao médico, medicação extra é injetada. Então o paciente é desfibrilado pela segunda vez. Dessa feita, o ritmo cardíaco é restabelecido. Tudo ocorreu em um espaço de quatro a cinco minutos. Logo em seguida, para grande alegria das enfermeiras e do médico assistente, o paciente recobra a consciência.320 Após pausar por uns segundos, continuou gravemente: — O médico assistente era o holandês Dr. Pim van Lommel, que começava sua residência, e que veio, mais tarde, a tornar-se um dos mais respeitados pesquisadores de Experiência de Quase Morte no mundo. Após a bem-sucedida ressuscitação, todos estavam satisfeitos, exceto o próprio paciente, que dizia ter atravessado um túnel para um lugar colorido, uma paisagem maravilhosa, e até música ele teria ouvido. O paciente estava profundamente emocionado. É possível a manutenção da consciência enquanto se está clinicamente morto?321

320

Consciousness Beyond Life, The Science of Near Death Experience, Pim van Lommel, M.D., ISBN: 9780061777257: v, introduction. Consciousness Beyond Life, The Science of Near Death Experience, Pim van Lommel, M.D., ISBN: 9780061777257: v, introduction.

321


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Desde a implantação das modernas técnicas de ressuscitação e do estabelecimento de unidades de tratamento coronariano, o índice de mortalidade como resultado de paradas cardíacas tem caído significativamente, e hoje não é incomum um paciente sobreviver a uma parada cardíaca. — Professor, eu ouvi falar de um professor de Harvard, cético, que também teve uma dessas experiências aí. É verdade? — Sim — assentiu o professor Max. — Em 2008, um neurocirurgião, professor de Harvard, cético em relação aos fenômenos de EQM, descreve sua dramática experiência de quase morte. Trata-se do professor Dr. Eben Alexander M.D., que, então, fazia 25 anos que estudava o cérebro humano. Ele tem muito que falar e quer que o mundo o ouça. E ele é um professor em Harvard, merece crédito. Ele não acha que existe vida após a morte – ele assegura que existe – porque ele mesmo esteve uma semana por lá, onde quer que seja esse “lá”. O Dr. Eben, como todo cientista cético, sempre tinha uma explicação científica para os relatos dos pacientes que voltavam do coma, com histórias de jornadas fora do corpo em lugares desconhecidos. Até que ele próprio vivenciou uma delas, e agora ele mesmo afirma: existe vida após a morte. — Como foi essa história, professor? O professor ficou algum tempo quieto, os alunos atentos. Por fim, disse: — Era 10 de novembro de 2008. O doutor Alexander é levado às pressas para o hospital com uma forte dor de cabeça. Ao chegar lá, é imediatamente internado na UTI. Em poucas horas já estava em coma profundo. E foi durante esse período


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que o doutor Alexander afirma ter tido a experiência mais fantástica que um ser humano pode ter. Cético e defensor da teoria materialista reducionista que assevera que a origem da consciência é puramente biológica, ao nível atômico, o Dr. Eben Alexander viu sua vida virar do avesso quando passou por uma experiência que ele mesmo considerava inverossímil, que, de acordo com o conhecimento médico, é impossível a consciência processar ideias na falta de certas condições biológicas. Vítima de uma meningite bacteriana grave, ficou em coma por sete dias. Enquanto os médicos tentavam controlar a doença, algo extraordinário aconteceu. O Dr. Eben embarcou numa jornada por um mundo completamente estranho, e foi mergulhando cada vez mais fundo nessa realidade difusa, onde conheceu seres de outras dimensões e fez descobertas transformadoras sobre a existência da vida após a morte. Quando os médicos já pensavam em suspender seu tratamento, o inesperado aconteceu: seus olhos se abriram. Ele estava de volta. Mas o Dr. Alexander nunca mais seria o mesmo homem. Aquela experiência o levou a questionar tudo em que acreditava até então, pois as respostas que ele tinha pareciam incompletas e sem substância. Afinal, como neurocirurgião, ele sabia que o que vivenciou não poderia ter sido uma mera fantasia produzida por seu cérebro, que estivera “apagado” durante o coma. E como um cérebro apagado pode processar pensamentos? Analisando as evidências à luz dos conhecimentos científicos, o Dr. Eben decidiu compartilhar essa incrível história para mostrar ao mundo o que a ciência desconhece. Narrado com o fascínio de


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um paciente que visitou o outro lado e com a objetividade de um médico e cientista que tenta comprovar a veracidade de sua experiência, seu livro narra de forma emocionante sobre a vida que se esconde nas diversas dimensões do Universo.322 A jornada realizada pelo Dr. Eben Alexander o fez rever algumas de suas matrizes paradigmáticas. Antes ele se perguntava, “qual a base biológica da consciência?”; agora ele acredita que a pergunta certa a fazer é “a consciência tem mesmo base biológica?”. O professor calou-se. Contemplou os alunos com profundo sentimento e simpatia, e tornou com estas palavras: — As experiências de quase morte, ou EQM, vêm sendo estudadas há várias décadas. O médico britânico Sam Parnia,323 M.D., e o holandês Pim van Lommel,324 M.D., lideram atualmente as investigações in loco sobre EQM. Eles realizam pesquisas em mais de 30 universidades e hospitais em todo o mundo, inclusive no Brasil, na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. — Professor, e a EQM pode fornecer evidências científicas de existência de vida após a morte do corpo físico? O professor reconhecia que os alunos estavam bem dispostos. Compreendendo o interesse que suas palavras despertavam, continuou: — O que eles relatam como resultado de seus trabalhos é que a consciência não desaparece durante a “morte clínica”, período durante o qual o eletroencefalograma não registra 322 323 324

Uma Prova do Céu, Dr. Eben Alexander, M.D., ISBN: 9788575429044. Erasing Death: The Science that is Rewriting the Boundaries Between Life and Death, ISBN: 9780062080608. Consciousness Beyond Life, Pim van Lommel, M.D., ISBN: 9780061777257.


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atividade elétrica no cérebro, quando o cérebro deixa de assinalar estados mentais e, em teoria, está morto. Paradoxalmente, a consciência do paciente continua inventariando tudo o que acontece na sala de cirurgia. A comprovação científica surge do fato de se haver criado técnicas de autenticação das histórias dos pacientes. Os médicos colocavam a imagem de algo estranho, como um cachorro corde-rosa, presa próximo ao teto. Não seria possível ver a imagem sem auxílio de escadas. Adicionalmente, utilizam-se câmeras e cronômetros, que registram os movimentos na sala e assinalam o intervalo entre a morte e a ressurreição clínica. Os pacientes que tinham as experiências, descreviam em detalhes as atividades dos médicos e enfermeiros durante a morte clínica. E se as cenas registradas pelas câmeras combinassem com o intervalo registrado pelo cronômetro, a única explicação para a “visão e audição do paciente durante o estado de morte” tinha que estar fora do cérebro, numa “consciência extradimensional”. Desarmando, portanto, a tese dos céticos, de que a experiência seria resultado da falta de oxigênio no cérebro do paciente. A Dra. Elisabeth Kübler-Ross, M.D., relata que registrou o fenômeno da EQM com pessoas que estavam cegas por mais de dez anos e alegavam ter experimentado “visão” durante a experiência. Seus pacientes eram capazes de descrever em detalhes a sala de cirurgia, roupas, relógios dos assistentes, o que seria impossível, sendo fisicamente cegos.325 Após uma pausa, ele acrescentou: 325

A Morte: Um Amanhecer, Elisabeth Kübler-Ross, M.D., Ed. Pensamento, 1991: 16.


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— Nos dias atuais, devido ao célere avanço das ciências em geral, os céticos são os próprios cientistas. Sam Parnia nos diz que enquanto vários filósofos ilustres, como Platão e Descartes, haviam afirmado que a mente e o cérebro são duas entidades separadas, muitos cientistas modernos propuseram que a mente e a consciência são de alguma forma produtos da atividade cerebral e da interação dos átomos. No entanto, o paradigma do modelo padrão tem sido incapaz de propor um mecanismo biológico plausível para informar como o cérebro faz nascer a mente e a consciência. Na verdade, o problema é que ninguém sequer sabe como começar a pensar sobre isso cientificamente.326 — Professor, em um mundo conturbado por aflições da alma, essa é uma excelente notícia.327 O mestre assente levemente com a cabeça e, impassível, continua sua fala: — Em ciência, a confirmação da realidade de um conceito geralmente não vem de uma única observação ou pesquisa, mas de muitos estudos diferentes e de muitos métodos. Isso resulta em um estudo cruzado, que tem sido a fundação de descobertas científicas válidas.328 É importante destacar que as evidências de EQM foram corroboradas por dezenas ou centenas de pesquisas realizadas por pesquisadores proeminentes, muitos de grande destaque internacional. A maioria das pesquisas apresenta resultados e 326 327 328

O que Acontece Quando Morremos, Sam Parnia M.D., ISBN: 9788576353607: 138. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 3. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 3.


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conclusões parciais muito parecidas entre si, reforçando a conclusão final da pesquisa. Isso fez com que os cientistas que estudam os fenômenos chegassem a uma conclusão unânime: EXISTE VIDA DEPOIS DA VIDA.329 Os cientistas de paradigma ateísta costumam redarguir que “os médicos deveriam ser particularmente cautelosos em aceitar crenças religiosas como dados científicos”, que são contestados pelos cientistas que pesquisam a EQM com: “e vocês, céticos, também deveriam procurar não confundir crenças científicas com dados científicos.”330 Como alguém pode ter consciência enquanto está morto? A comunidade científica precisa se acostumar a uma questão profunda: O que significa ter experiências sensoriais sem o uso de sentidos físicos?331 O professor vira-se para a lousa e assim escreve: Um Evento Chocante. E como quem não tinha tempo a perder, continuou: — O caso que mais surpreendeu os pesquisadores das experiências de quase morte aconteceu fora do hospital. Enquanto do lado de dentro os médicos e enfermeiros trabalhavam para ressuscitar um corpo, o dono desse mesmo corpo assegura que saiu para dar um passeio. Foi até um parque perto do hospital, chegou a ver um amigo, que depois confirmou que estava lá naquela hora.

Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 18. Life After Life: The Investigation of a Phenomenon—Survival of Bodily Death, Raymond Moody, PhD, ISBN: 9780062517395. 331 Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 76. 329 330


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E agora o mais impressionante: na hora de voltar, o paciente diz que presenciou um acidente na rua. Um homem foi atropelado. O corpo ficou estirado no chão. Os dois, o paciente e o acidentado, chegaram a conversar fora do corpo. Até que, de repente, o paciente sentiu uma forte atração para voltar para o hospital. O homem atropelado teria desaparecido num facho de luz. “Checamos a história na delegacia”, diz Parnia, “e o atropelamento aconteceu mesmo. Só podemos acreditar numa coisa: as almas, ou seja lá o que for, se encontraram e depois tomaram rumos diferentes. A do nosso paciente voltou para o corpo. A do homem atropelado se foi.” Foi para onde? Os pesquisadores ainda não têm a resposta. Isso vai depender de mais estudos. Por enquanto, os pesquisadores holandeses e britânicos apenas cogitam. Essa energia pode ficar vagando eternamente, pode reencarnar em outro corpo, pode durar somente algum tempo e depois acabar?332 Identificando a perplexidade dos pupilos, o mestre escreve sobre a lousa: O Caso do Brasileiro Lars Grael. — Lars Grael, medalhista olímpico, vivenciou uma EQM em 1998. Max aciona o sistema multimídia e um vídeo333 desdobrase sobre a tela. “Minutos depois, quando eu estava no transporte entre o Iate Clube do Espírito Santo e o Hospital, em Vitória, eu tive uma parada cardiorrespiratória, e nessa parada houve uma sensação, 332 333

A Linha do Tempo, programa exibido pela Rede Globo de Televisão. Band News, Reportagem Especial, com Eleonora Paschoal, 27/8/2011, 9h30min.


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primeiro de impotência... de eu deixar de controlar os meus movimentos, e depois uma sensação de paz muito grande, momento em que, estranhamente, tive uma espécie de levitação, saí do próprio corpo, e me vi de fora, levantando e me afastando, até a hora em que voltei”. Âncora — Tudo aconteceu em poucos segundos, logo ele foi reanimado pela equipe médica. Grael — Eu era mais racional e achava que simplesmente era uma energia que apagava e aí você foi. Tudo o que deixa é memória. Mas, após essa sensação, passei a crer que possa existir algo após a morte. Agora, o que é? Não tenho como dizer. Âncora — Dez vezes campeão brasileiro de vela, duas medalhas de bronze em Olimpíadas. Agora mais do que isso: um novo homem. Grael — A partir dali eu passei a dar muito mais valor à vida e no hoje. Não buscar a felicidade no futuro. A felicidade é hoje, é aqui. É agora. Âncora — Quando o coração para, o sangue deixa de circular pelo corpo, o cérebro não recebe nutrientes e o oxigênio começa a apagar lentamente. Mais de 90% dos pacientes que sofrem parada cardiorrespiratória não resistem, mas entre os que sobrevivem, estima-se que 12% a 18% tenham vivido a experiência de quase morte. Os céticos negam qualquer continuidade do espírito. A resposta deles para o fenômeno é que durante a parada cardíaca o cérebro fica com pouco oxigênio e produz alucinações. No entanto, esse cenário não pode ser explicado para justificar as experiências descritas pelo Doutor Sam Parnia, que isolou o


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fenômeno da “baixa oxigenação” do cérebro do momento “zero oxigenação”. As experiências por ele consideradas válidas para a EQM são aquelas em que o corpo do paciente está clinicamente morto. O fenômeno é monitorado e registrado pelas câmeras e cronômetros do laboratório. Nesse momento, o cérebro está recebendo zero oxigênio, e o eletroencefalograma está registrando zero atividade cerebral. A questão fundamental é simples: o cérebro não realiza atividade, mas simultaneamente o paciente relata funcionamento consciencial (não cerebral). É a primeira vez que cientistas assinam esse tipo de experiência. O médico Sam Parnia entrou descrente, não acreditava na sobrevivência da vida após a morte. Agora ele diz que existe algo muito maior do que nós que nos espera depois da morte. A ciência está desvendando o que acontece com a consciência após a morte. Sabemos agora que ela sobrevive. As religiões, em todas as culturas antigas e modernas, são unânimes ao concordar com a “sobrevivência da consciência após a morte”. Terminado o vídeo, o professor encarou os alunos por instantes, sorriu noutra expressão fisionômica e acentuou: — Em entrevista à Linha do Tempo,

334

ele disse:

“Zerávamos o cronômetro assim que o paciente era posto sobre a maca. Dessa forma, analisamos casos de pessoas que ficaram de 15 segundos a 43 minutos clinicamente mortas”, conta o médico. Entrevistador: Como eles sabiam que as pessoas estiveram realmente sem vida? 334

Rede Globo de Televisão.


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Dr. Parnia: Porque tudo parou. O coração, a respiração, os impulsos do cérebro. Nada mais funcionava. Era gente que estava morta, mesmo que momentaneamente. Quando o coração não apresenta atividade, o cérebro deixa de funcionar. Não existe possibilidade de haver registro de memórias porque os circuitos não funcionam. Imediatamente eclode uma interrogação: se o cérebro não funciona, onde os pensamentos estão sendo processados? Entrevistador: E o que acontecia? Dr. Parnia: Eles enxergavam nossa luta para trazê-los de volta à vida. Era como se a mente se desligasse do corpo e ficasse flutuando ao lado da maca. Alguns chegavam a tentar nos avisar que não adiantava mais continuar dando choque, pois o corpo já estava morto. Entrevistador: Mas quem garante que nesses casos estudados existiu uma energia realmente fora do corpo? Dr. Parnia: Os fatos. De alguma forma a mente e a consciência continuaram existindo separadas do cérebro dos pacientes estudados. Eles garantem que viam tudo de cima, fora do corpo, quase do teto do hospital. E o mais interessante é que eles viram coisas que aconteceram exatamente no momento em que seu cérebro estava temporariamente morto. Os ouvidos não poderiam estar ouvindo e os olhos não poderiam estar vendo. Entrevistador: Mas a mente não pode ter criado essas imagens depois que os pacientes voltaram do coma? Dr. Parnia: Também pensamos nisso. Foi aí que descobrimos algo de arrepiar. Alguns pacientes viram coisas em outros cômodos do hospital. Um, por exemplo, vagou pelos


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corredores enquanto nós lutávamos para evitar a morte de seu corpo. Ele disse que foi até a sala ao lado e conversou com uma mulher. Deu o nome dela, a idade. Fomos investigar e descobrimos que naquela hora – tudo era cronometrado – a tal mulher também estava clinicamente morta, o que foi confirmado pelo cronômetro do outro cirurgião. Isso só nos faz acreditar que “a mente dele falou com a mente dela”. Sobre a lousa, das mãos do docente, formava-se: Reencarnação. Após um giro de 180 graus, retomou a palavra: — O Dr. Joel Whitton, professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Toronto, profissional de altas credenciais, realizou uma pesquisa utilizando a hipnose para saber o que as pessoas sabem inconscientemente sobre si mesmas. Ele buscava saber sobre o passado dos pacientes que participaram da pesquisa. Durante décadas o Dr. Whitton reuniu, silenciosamente, um impressionante corpo de evidências que sugerem a existência de reencarnação. As evidências não provam que a reencarnação existe; afinal, seria difícil imaginar o que constituiria uma prova perfeita de reencarnação. No entanto, as evidências oferecem possibilidades intrigantes que, em virtude de sua relevância, merecem ser discutidas. O principal impulso da investigação hipnótica de Whitton é baseado em um fato simples e surpreendente. Quando os indivíduos são hipnotizados, eles frequentemente lembram o que pareciam ser lembranças de vidas passadas. Noventa por


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cento dos indivíduos hipnotizados eram capazes de recuperar esse tipo de memória. O significado desse fenômeno tem sido acaloradamente debatido. Os céticos argumentam que tais memórias seriam fantasias fabricadas pelo inconsciente. No entanto, esses argumentos normalmente são carentes de fundamentação experiencial.335 O Dr. Whitton trabalhava em etapas, com grupos de cerca de 30 pessoas, de todas as classes sociais, desde motorista de caminhão até engenheiros de informática. Alguns membros do grupo aceitavam a ideia de reencarnação, outros não. Ele os hipnotizava em privado e registrava várias horas de gravação focando nas alegadas memórias de vidas anteriores. Ele ficou fascinado com o grau de consonância entre as várias histórias estudadas. Todos reportaram inúmeras vidas passadas, até ao que Whitton chamou de “existência nas cavernas”, quando ficava difícil distinguir uma vida da outra. Muitos reportaram que o gênero sexual não é uma característica da alma, e diziam que haviam tido pelo menos uma experiência reencarnatória na expressão do sexo oposto. Whitton dizia acreditar fortemente que as experiências realmente eram vidas passadas. Para ele, uma das evidências era a habilidade que as pessoas hipnotizadas tinham para fornecer detalhes históricos dos lugares e da época sobre cada uma das ‘vidas’ pesquisadas. Por exemplo, as pessoas que se lembravam de uma vida nos anos 1700 mencionavam um garfo prolongado de três dentes. No entanto, aqueles que narravam histórias após 335

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 213.


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1790, geralmente mencionavam garfos de quatro dentes, uma revelação que refletiu a evolução histórica do garfo. Algumas pessoas até mesmo chegaram a falar línguas desconhecidas. Quando um homem, um cientista de 38 anos de idade, narrava detalhes de uma suposta vida como Viking, gritou palavras que autoridades linguísticas mais tarde identificaram como sendo um dialeto nórdico antigo. Esse mesmo homem, durante uma regressão a uma suposta vida na Pérsia, no que seria um período entre os séculos segundo e quinto depois de Cristo, escreveu em um sistema gráfico estranho, que posteriormente foi identificado como sendo Sassanid Pahlavi, uma antiga e extinta língua mesopotâmica, que floresceu entre 226 e 651 d.C.336 Whitton também registrou detalhes sobre os períodos entrevidas. Ele descobriu que nesse período as pessoas pesquisadas detinham maior autoconsciência e um senso mais elevado de moral e ética. Eles percebiam claramente suas faltas e erros, e viam a si mesmos com honestidade total – para distinguir da consciência cotidiana normal, Whitton chamou esse estado de “metaconsciência”.337 Em uma conversa que Michael Talbot teve com Whitton, perguntou-lhe se ele acreditava que algum dia a reencarnação seria aceita como um fato científico, ao que ele respondeu: “Acho que já foi aceita. A minha experiência me ensinou que quando um cientista lê a literatura, ele acredita na reencarnação. A

336 337

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 215. Life Between Life, Dr. Joel Whitten, PhD, ISBN: 9780446347624.


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evidência é tão constrangedora que o assentimento intelectual é virtualmente natural”.338 Atualmente, uma das melhores ferramentas de que dispomos para explorar a realidade é a ciência. Por outro lado, “Por que não assumimos que qualquer tipo de experiências ou fenômenos que têm sido reportado através das eras e das culturas tem uma face válida que não pode ser negada?339 Sobre a lousa: Mais Evidências. — O Dr. Carl Jung, M.D., fundador da psicologia analítica e uma das faces mais visíveis da psiquiatria à sua época, teve uma EQM durante um ataque cardíaco em um hospital suíço em 1944. Ele fornece vívida descrição em sua biografia, Memories, Dreams, Refletions.340 O Dr. Jung acreditava na vida após a vida. O Dr. Jeffrey Long, M.D., conduziu uma pesquisa com mais de 1.300 casos. Ele acredita na vida após a vida.341 O Dr. Richard Blacher, M.D. da Tufts University, em Boston, conduziu um estudo com 107 casos. Ele acredita na vida após a vida.342 Entre 344 pacientes que apresentaram parada cardíaca e foram ressuscitados, 62 (18%) disseram ter vivenciado uma EQM. Esses pacientes foram imediatamente entrevistados após a experiência. O estudo foi realizado na Holanda e publicado no jornal médico The Lancelot, v. 358, #9298.343

The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 295. The Holographic Universe, Michael Talbot, ISBN: 9780062014108: 295. 340 Memories, Dreams, Reflections, Carl Jung, M.D., ISBN: 9780679723950, citado em Near Death Experiences of Doctors, John Graden, ISBN: B00EBGTMZ8: pos. 251. 341 Evidence of the After Life, Dr. Jeffrey Long, M.D. ISBN: 978006142550: Introduction 1. 342 Evidence of the After Life, Dr. Jeffrey Long, M.D., ISBN: 978006142550: Introduction 21. 343 Near Death Experiences of Doctors, John Graden, ASN: B00EBGTMZ8: pos. 30. 338 339


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De acordo com um pesquisador altamente destacado P.M.H. Atwater, PhD, há relatos de que cerca de 4% da população nos países que conduzem pesquisa nesse campo já tiveram alguma experiência de quase morte. E o número triplica entre pessoas que recebem cuidados médicos.344Atwater entrevistou mais de 3 mil adultos e 277 crianças. O Dr. Atwater acredita na vida após a morte. Entre 1975 e 2005 um total de 42 estudos cobrindo mais de 2.500 casos de pacientes com EQM foram publicados em jornais científicos e em monografias.345 Pesquisa realizada nos EUA pelo Pew Forum of Religion and Public Life revela que 74% dos americanos acreditam na vida após a vida.346 Ele fez uma pausa para beber um pouco de água. Quando voltou a falar, assumiu um tom quase de pregação. O que constatam os médicos: Um. O nível de consciência e atenção durante as experiências é normalmente maior do que as experimentadas durante os estados de vigília, embora as EQMs geralmente ocorram enquanto uma pessoa está inconsciente ou clinicamente morta. Os elementos durante a experiência, por via de regra, seguem uma ordem lógica e consistente. Dois. O que as pessoas que vivem a experiência veem e ouvem durante o estado fora do corpo é geralmente real e

Near Death Experiences of Doctors, John Graden, ISBN: B00EBGTMZ8: pos. 118. Dados da Associação Internacional de Estudos de Quase-morte: http://iands.org, citado em Consciousness Beyond Life, The Science of Near Death Experience, Pim van Lommel, ISBN: 9780061777257: 107. 346 Evidence of the Afterlife, Dr. Jeffrey Long, M.D., ISBN: 978006142550: 18. 344 345


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frequentemente constatado mais tarde pela própria pessoa ou por outros como sendo real. Três. Visões normais ou supernormais ocorrem durante EQMs entre aqueles com significativa deficiência visual ou pessoas praticamente cegas. Foram reportados inúmeros casos de EQM com cegos congênitos que foram capazes de ter experiências visuais. Quatro. As EQMs típicas ocorrem sob anestesia geral, quando, do ponto de vista médico, experiências conscientes deveriam ser impossíveis. Cinco. A retrospectiva de vida 347 durante o fenômeno inclui eventos reais, mesmo que as pessoas os tenham esquecido. Seis. Quando aqueles que têm a experiência encontram conhecidos de sua juventude, todos os conhecidos já faleceram. Sete. As EQMs de crianças pequenas são inteiramente parecidas com as EQMs de crianças mais crescidas, adultos e pessoas mais velhas. Oito. As EQMs são consistentes com outras experiências de pessoas em diferentes países, sejam hindus, na Índia, muçulmanos, no Egito, ou um cristão nos Estados Unidos, não importa se ocidentais ou orientais.348 Nove. É comum as EQMs influenciarem as pessoas pelo resto de suas vidas. Os efeitos normalmente são poderosos e duradouros, e as mudanças seguem um padrão consistente.349 A argumentação dos céticos tem falhado em explicar como o fenômeno da EQM ocorre e em justificar porque as 347 348 349

As pessoas reveem os eventos de suas vidas como em um filme, muito rapidamente. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 149. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 199.


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histórias são tão consistentes. Não há experiência na terra que possa reproduzir de forma consistente qualquer parte da experiência de quase morte.350 A combinação das evidências é tão contundente que a aceitação de vida após a morte é um ato profundamente racional. “Eu certamente aceito351 e não estou sozinho em concluir que as experiência de quase morte são evidências para a vida após a morte352,” – diz o Dr. Jeffrey Long, PhD. A existência de vida após a morte é corroborada por um grande número de estudos acadêmicos ao longo de mais de 30 anos de pesquisa científica.353 Essas pesquisas trazem profundas implicações para a ciência. As conclusões são consistentes.354 Centenas de pesquisadores, pensadores e um prêmio Nobel afirmam: “Existe vida após a morte”. A assembleia de alunos estava sob forte impressão. Ele calou-se, como que deixando o triunfo do momento assentar dentro de si. Finalmente falou: Vou repetir: Centenas de pensadores e prêmios Nobel afirmam: “Existe vida após a morte”. Eu reuni alguns nomes. Ei-los: Sir John Eccles355, neurocientista, prêmio Nobel Antony Flew356, filósofo Inglês, foi líder e porta-voz da causa ateísta. Ex-ateu, portanto. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 202. Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 200. 352 Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 201. 353 Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 201. 354 Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 201. 355 How the Self Controls Its Brain, Sir John Eccles, ISBN: 9783540562900. 350 351


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Dr. Alan D. Wolfelt357,PhD Dr. Amit Goswami358,PhD Dr. Andrew Newburg359, MD Dr. Ariel A. Roth360, PhD Dr. Bernie Siegel361, MD Dr. Brian L. Weiss362, MD Dr. Bruce Greyson363, MD Dr. Eben Alexander364, MD Dr. Erlendur Haraldsson365, PhD Dr. Francis Collins366, PhD Dr. Frank Tipler367, PhD Dr. Gary E. Schwartz368, PhD Dr. George Ritchie369, MD Dr. George Schwimmer370, PhD Dr. Glen Gabbard371 Dr. Hugh Ross372, PhD There is God, Antony Flew, ISBN: 9780061335303. Healing a Spouse's Grieving Heart: 100 Practical Ideas After Your Husband or Wife Dies, Alan D. Wolfelt, Ph.D., ISBN: 9781879651371. 358 Physics of the Soul: The Quantum Book of Living, Dying, Reincarnation, and Immortality, Amit Goswami, Ph.D., ISBN: 9781571747075. 359 Born to Believe: God, Science, and the Origin of Ordinary and Extraordinary Beliefs, Andrew Newberg, M.D., ISBN: 9780743274982 360 Science Discovers God, Ariel A. Roth, Ph.D., ISBN: 9780812704488. 361 My Life After Life: A Posthumous Memoir, Bernie Siegel, PhD (Forword), ISBN: 9780615383071. 362 Many Lives, Many Masters: The True Story of a Prominent Psychiatrist, Brian L. Weiss, M.D., ISBN: 9780671657864. 363 The Handbook of Near-Death Experiences: Thirty Years of Investigation, Janice Miner Holden, Bruce Greyson, M.D., Debbie James, Ph.D., ISBN: 9780313358647. 364 Uma Prova do Céu, Dr. Eben Alexander, M.D., ISBN: 9788575429044. 365 The Departed Among the Living: An Investigative Study of Afterlife Encounters, Erlendur Haraldsson Ph.D., ISBN: 9781908733290. 366 The Language of God, Francis Collins, PhD, ISBN: 9781416542742. 367 The Anthropic Cosmological Principle, Barrow, Tipler e Wheeler, ISBN: 9780192821478. 368 Afterlife Communication: 16 Proven Methods, 85 True Accounts, Gary E. Schwartz, PhD, ISBN: 9780980211177. 369 Return from Tomorrow, George Ritchie, M.D., ISBN: 9780800784126. 370 How to Regress Yourself to Your Past Lifes, George Schwimmer, ASIN: B00B66UF7A. 371 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2790400; http://glengabbard.com; ISBN: 9781585623853. 372 Why the Universe Is the Way It Is, Hugh Ross, ISBN: 978-0801013041. 356 357


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Dr. Huston Smith373 Dr. Ian Stevenson374, MD Dr. Jeffrey Long375, MD Dr. Jim Tucker376, MD Dr. Joe H. Slate377, PhD Dr. John Lennox378, PhD Dr. Karlis Osis379, PhD Dr. Kenneth Ring380, PhD Dr. Marianne Maynard381, PhD Dr. Mario Beauregard382, PhD Dr. Melvin Morse383, MD Dr. Michael Newton384, PhD Dr. Michel Sabom385, MD Dr. Morris Netherton386, PhD Dr. Peter Fenwick387, MD Dr. Pim van Lommel388, MD Dr. Raymond A. Moody389, Jr MD http://en.wikipedia.org/wiki/Huston_Smith Children Who Remember Previous Lives: A Question of Reincarnation, Ian Stevenson, ISBN: 9780786409136. 375 Evidence of the Afterlife: The Science of Near-Death Experiences, Jeffrey Long, ISBN: 978-0061452550. 376 Return to Life: Extraordinary Cases of Children Who Remember Past Lives, Jim Tucker, ISBN: 9781250063489. 377 Beyond Reincarnation: Experience Your Past Lives & Lives Between Lives, Joe H. Slate, ISBN: 978-0738707143. 378 God and Stephen Hawking, John Lennox, ISBN: 9780745955490. 379 At the Hour of Death: A New Look at Evidence for Life After Death, Karlis Osis, ISBN: 9780803893863. 380 Lessons from the Light: What We Can Learn from the Near-Death Experience, Kenneth Ring, M.D. ISBN: 9781930491113. 381 A Journey in Higher Conscious Awakening, Marianne Maynard, ISBN: 9781467954570. 382 The Spiritual Brain: A Neuroscientist's Case for the Existence of the Soul, Mario Beauregard, ISBN: 9780061625985. 383 Closer to the Light, Melvin Morse, M.D., ISBN: 9780449001202. 384 Journey of Souls: Case Studies of Life Between Lives, Michael Newton, ISBN: 9781567184853. 385 Recollections of Death: A Medical Investigation, Michael Sabom, M.D., ISBN: 9780060148959. 386 Past Lives Therapy: Past Life Regression Special Edition with Past Life Therapy Center, Morris Netherton, ASIN: B004NEVLSY. 387 The Truth in the Light: An Investigation of over 300 Near-death Experiences, Peter Fenwick, ISBN: 9780425156087. 388 Consciousness Beyond Life: The Science of the Near-Death Experience, Pim van Lommel, ISBN: 9780061777264. 389 Life After Life: The Investigation of a Phenomenon--Survival of Bodily Death, Raymond A. Moody, ISBN: 9780062517395. 373 374


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Dr. Raymond Lloyd Richmond390, PhD Dr. Robert J. Spitzer391, PhD Dr. Russel Noyes392 Dr. Sam Parnia393, MD Dr. Sondlo Leonard394, PhD Dr. Thomas Nagel395, PhD Dr. Walter Semkiw396, MD Dr. William Lane Craig397, PhD Dra. Elisabeth Kübler-Ross398, MD Dra. Janice Holden399, PhD Dra. Julie Beischel400,PhD Dra. Linda J. Griffth,401, MD Dra. Madonna J. Kettler402, PhD Dra. Mary C. Neal403, MD Dra. Pam Kircher404, MD Dra. Penny Sartori405, PhD 390

Psychology from the Heart: The Spiritual Depth of Clinical Psychology, Raymond Lloyd Richmond Ph.D., ISBN: 9781467907651. 391 New Proofs for the Existence of God: Contributions of Contemporary Physics and Philosophy, Robert J. Spitzer, ISBN: 9780802863836. 392 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2790400/ 393 Erasing Death: The Science That Is Rewriting the Boundaries Between Life and Death, Sam Parnia, ISBN: 9780062080615. 394 With or Without God: Life's Mysteries Continue Ruminations on God, Life, Death, Spirits, Reincarnation and the Future of Humankind, Sondlo Leonard Mhlaba, ISBN: 9781608608638. 395 Mind and Cosmos: Why the Materialist Neo-Darwinian Conception of Nature Is Almost Certainly False, Thomas Nagel, ISBN: 9780199919758. 396 Origin of the Soul and the Purpose of Reincarnation, Walter Semkiw, ISBN: 9780966298253. 397 Time and Eternity: Exploring God's Relationship to Time, William Lane Craig, ISBN:9781581342413. 398 On Death and Dying: What the Dying Have to Teach Doctors, Nurses, Clergy and Their Own Families, Elisabeth Kübler-Ross, ISBN: 9781476775548. 399 Evidence of the Afterlife, Jeffrey Long, M.D., ISBN: 9780061452550: 72. 400 Among Mediums: A Scientist's Quest for Answers, Julie Beischel, ASIN: B00B1MZMHM. 401 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2790400/ 402 Birth, Death and the Afterlife: Remembering Who You Really Are, Madonna J. Kettler, ASIN: B009LPLLA8. 403 To Heaven and Back: A Doctor's Extraordinary Account of Her Death, Heaven, Angels, and Life Again: A True Story, Mary C. Neal, ISBN: 9780307731715. 404 Love is the Link: A Hospice Doctor Shares Her Experience of Near-Death and Dying, Pamela Kircher, M.D., ISBN: 9780615818641.


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Emanuel Swedenborg406 Sir William Fletcher Barret407, MD Tom Shroder, 408 jornalista, editor do The Washington Post Magazine Pausa. — Além disso, existem inúmeros sites especializados no assunto409. Nesse momento, com um profundo brilho no olhar, fez uma pausa mais longa, suspirou profundamente e falou com firmeza: — A força das evidências indica claramente a existências de vida após a morte.

405

The Near-Death Experiences of Hospitalized Intensive Care Patients: A Five Year Clinical Study, Penny Sartori, PhD, ISBN: 9780773451032. Angelic Wisdom Concerning the Divine Love and the Divine Wisdom, Emanuel Swedenborg, ISBN: 9780554353081. 407 On the Threshold of the Unseen: An Examination of the Phenomena of Spiritualism and of the Evidence of Survival after Death, Sir William Fletcher Barret, ISBN: 9781108028509. 408 Old Souls: Compelling Evidence from Children Who Remember Past Lives, Tom Shroder, ISBN: 9780684851938. 409 http://www.iands.org, http://www.nderf.org, http://www.near-death.com, Em português: http://www.guia.heu.nom.br/eqm.htm 406


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CAPÍTULO 8 Felicidade — Professor, você teria algo a dizer sobre a felicidade? — Não muito. Mas se você me permite ser objetivo, acho que a felicidade é uma habilidade, que alguns aprendem em alto grau, outros são medianos, e outros ainda não a aprendem, tornam-se pessoas negativas e jamais mudam. — E qual das matrizes pode ajudar mais a uma pessoa a ser feliz, professor? — Acho que ambas as matrizes podem conduzir à felicidade, no entanto, quando tiverem que enfrentar momentos difíceis na vida, e todos temos, a matriz teísta encontrará mais esperanças de que as coisas melhorarão. E a esperança, ou a falta dela, pode ser um fator predominante na busca pela felicidade. A falta de esperança tende a produzir angústias profundas, e em muitos casos, pode conduzir à depressão, que, como sabemos todos, é o mal do mundo tecnológico. E por que será? Pausa. — Há somente um caminho para a felicidade: é deixar de se preocupar com as coisas que estão além de nosso controle.410

410

Epitero, filósofo grego.


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TERCEIRA PARTE CAPÍTULO 9 Camadas da Realidade411 As pessoas que disseram que existem dimensões extras foram chamadas de desajuizadas no passado. Bem, a Teoria das Cordas realmente prevê isso. (Brian Greene) — Se o entendimento do cosmos ainda fosse um total mistério — começou Max, — não valeria a pena realizarmos este curso. No entanto, muita ambiguidade persiste entre os pesquisadores e cientistas em geral. Do que é feita a realidade física? Investigando os aspectos mais profundos da matéria e da energia, mergulhando além dos elétrons, prótons e nêutrons, além mesmo dos quarks e léptons, os cientistas estão teorizando que a menor parte da matéria não é um elemento puntiforme físico, mas um elemento energético na forma de um filamento, um fio, que, por analogia aos instrumentos de corda, como o violão, está sendo chamado de corda. Trata-se de uma das mais obscuras e intrincadas teorias da nova física, a Teoria das Cordas. Segundo essa teoria, existem mais universos por aí, e não

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Documentário Série de TV americana Nova.


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são poucos. Na verdade, pode haver mais universos que estrelas. Pelos menos é o que argumentam alguns cientistas. Atento à atitude dos alunos, o professor prosseguia. — Eis o que esta aula pretende discutir: do que é feita a realidade física— disse em voz grave. — Imagine se você pudesse encontrar uma explicação para tudo no universo, desde os menores eventos possíveis até os maiores! Esse é o sonho que vem cativando os cientistas mais brilhantes desde Einstein. Atualmente, muitos acreditam ter encontrado a resposta. A teoria é de tirar o fôlego, e ela traz consigo uma conclusão extraordinária: O universo no qual vivemos não é o único.412 Espantosamente, cientistas respeitáveis em todo o mundo estão concorrendo com teorias que no passado eram vistas como imaginação rebuscada de escritores de ficção científica: a existência de mundos paralelos, o multiverso. Os místicos têm clamado que esses lugares existem. Eles estão, dizem, cheios de fantasmas e espíritos. A última coisa que a ciência quer é ser associada com essas superstições, mas desde os anos 1920, físicos vêm tentando entender uma descoberta desconcertante. Quando eles tentaram marcar a localização exata de partículas atômicas, como elétrons, eles descobriram que isso era, em última instância, impossível. Essas partículas não têm uma localização única.413 Quando se estudam as propriedades dos átomos, descobre-se que a realidade é muito mais estranha que qualquer um poderia ter inventado na forma de ficção. Partículas realmente têm a possibilidade de, em certo sentido, estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Como pode ser possível algo físico estar em mais de um lugar ao mesmo tempo? As descobertas são de tirar o fôlego. 412 413

O Universo numa Casca de Noz, Stephen Hawking, ISBN: 8535402314: 184, 188. The Hidden Reality: Parallel Universes, Brian Green, ISBN: 9780307278128: 188.


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Max deteve-se por uns segundos, sorriu e continuou. — Pensou-se desde o começo da física que a matéria era feita de partículas. Esse paradigma é coisa do passado. Agora os cientistas pensam que a matéria é feita de pequenas cordas, filamentos vibrantes. A teoria foi chamada Teoria das Cordas e diz que a matéria emana dessas pequenas cordas, como música. — Só um pouquinho, professor — interrompe um aluno abruptamente. — O que significa isso, “a matéria emana das cordas como música”? — Vocês podem pensar nelas como cordas de um violino ou de uma guitarra — respondeu o mestre solícito. — Se vocês a tocam de uma maneira, vocês obtêm certa frequência, mas se a tocam de uma maneira diferente, podem obter mais frequências nessas cordas, e de fato vocês têm notas diferentes. A natureza é feita de todas essas pequenas notas, as notas musicais, que são tocadas nessas supercordas. A Teoria das Cordas era tão provocativa e evidentemente estranha que começou imediatamente a soar como a perfeita Teoria de Tudo.414 Imprimindo grave inflexão às palavras, considerou: — Mas como demonstram os acontecimentos históricos, mutabilidade é a mãe de todas as leis. Nesses domínios, o paradigma de Newton foi suplantado por Albert Einstein e a teoria da relatividade geral, que apresenta a gravidade numa configuração diferente daquela de Newton. Enquanto a gravidade de Einstein viaja à velocidade da luz, sendo-lhe impossível ultrapassá-la, a gravidade de Newton viajava instantaneamente pelo espaço. As duas teorias não podiam estar corretas. Einstein venceu o jogo 415 — concluiu Max, imperturbável. 414 415

O Grande Projeto, Steven Hawking e Leonard Mlodinow, ISBN: 9788520926574: 65. The Elegant Universe, Brian Green, ISBN: 9780393338102: 283, 320.


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Breve silêncio. — Quase que simultaneamente — reinicia ele — a ciência conquistou dois paradigmas muito diferentes para a modelagem do universo: a relatividade geral e a mecânica quântica. Cada qual descreve uma parte de nossa realidade, no entanto, os cientistas não conseguem identificar os pontos de contato. São duas teorias desconexas entre si. Decorridos praticamente 100 anos, não vemos a conexão no horizonte. Além da gravidade, existem outras três forças descritas pelas leis da mecânica quântica: o eletromagnetismo, a força de interação forte que atua unindo prótons e nêutrons, e a força de interação fraca, que age unindo léptons e quarks. A interação forte é cem vezes mais poderosa que a força eletromagnética, cerca de 1011 maior que a força fraca, e aproximadamente 1039 superior à gravidade. Tudo que percebemos, desde nós mesmos até a calçada por onde caminhamos, é composto por partículas chamadas de átomos, que, segundo Einstein, é pura energia. A capa externa de um átomo contém elétrons com carga elétrica negativa, de maneira que quando os átomos de uma pessoa colidem com os átomos do solo em que ela caminha, as cargas elétricas da pessoa e do solo se repelem com tal força que um fragmento tão pequeno de solo é suficiente para resistir a toda a gravidade da Terra e evitar que nós mergulhemos no solo. Na verdade, a força eletromagnética é um duodecilhão de vezes superior à força da gravidade. Unificar duas forças tão diferentes seria uma árdua tarefa, mesmo para um gênio como Einstein. E depois de calar-se por um momento, aduziu: — Na década de 1920, um grupo de jovens cientistas surgiu com um modo rompante de considerar a física. Sua visão do universo era tão peculiar que fazia com que a ficção científica parecesse real. Com o físico dinamarquês Niels Bohr na


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liderança, esses cientistas estavam descobrindo um novo campo de estudos do universo. Durante muito tempo se havia pensado que os átomos eram as menores partículas da natureza. Mas descobriram que constavam de partes ainda mais diminutas: eram os agora bem conhecidos nêutrons, prótons e elétrons. As teorias de Einstein e de Maxwell 416 ficaram obsoletas para explicar a extravagância com que essas partículas de matéria se relacionavam no interior do átomo. Em 1930 a meta de Einstein de unificação caía por terra, enquanto a mecânica quântica revelava os mistérios do átomo. Os cientistas descobriram que a gravidade e o magnetismo não eram as únicas forças que regiam o universo. Ao investigar a estrutura do átomo, descobriram mais duas forças. Uma era a força de interação nuclear forte e a outra era a força de interação nuclear fraca, que já vimos antes. A gravidade ficava totalmente obscurecida pelo eletromagnetismo e por essas duas novas forças. E o que acontece com a gravidade? E com a relatividade geral de Einstein? Onde se encaixam no mundo quântico? A mecânica quântica nos mostra que todas as forças da natureza, exceto a gravidade, funcionam à escala microscópica. E ninguém podia esclarecer o efeito da gravidade no que se referia ao átomo e às partículas subatômicas. Ninguém era capaz de combinar relatividade geral e gravidade com a mecânica quântica, representada pelo eletromagnetismo, pela força forte e pela força fraca. O professor Max esquadrinhou a mente e adiantou: — A Teoria das Cordas é uma ideia da Física teórica radicalmente diferente de tudo que já foi visto antes. Em lugar de múltiplas partículas microscópicas, a Teoria das Cordas afirma 416

O trabalho de Maxwell em eletromagnetismo foi a base da relatividade restrita de Einstein.


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que tudo no universo, todas as forças e toda matéria, é composto por um só ingrediente: minúsculos fios de energia vibrantes conhecidos como cordas. A Teoria das Cordas oferece a promessa de podermos compreender por que o universo é como é, até o nível mais fundamental. A teoria começa com uma premissa simples, de que tudo no universo, a Terra, os edifícios, até forças como a Gravidade e a Eletricidade são feitas de pequenas e vibrantes fibras de energias chamadas “cordas”, ou seja, a Teoria das Cordas nos mostra que o universo pode ser mais estranho do que imaginamos. Por exemplo, ela afirma que estamos rodeados por dimensões escondidas, lugares misteriosos além do familiar espaço tridimensional que conhecemos. As pessoas que disseram que existem dimensões extras foram chamadas de desajuizadas no passado. Bem, a Teoria das Cordas realmente prevê isso.417 O que pensamos do universo pode ser apenas uma pequena parte de algo muito maior. Podem existir mundos bem perto de nós, mas completamente invisíveis. Esses outros mundos, em um sentido muito literal, seriam universos paralelos. Essa não é uma noção particularmente exótica ou estranha. Não admira que os estudantes de física estejam fazendo filas para explorar essa teoria. A maioria dos jovens, se tivessem a chance numa proporção de 10 para 1, escolheriam estudar a Teoria das Cordas. Nove ficarão de fora.418 Deteve-se uns segundos e rematou: — Imagine uma corda de violino. Não é nada de místico. Só é muito, muito pequena. E podem existir dois tipos: fechadas, como o elástico de prender dinheiro, ou aberta, como as cordas de um instrumento musical.

417 418

The Hidden Reality: Parallel Universes, Brian Greene, ISBN: 9780307278128: Cap. 5. Brian Greene.


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Uma das grandes atrações das cordas, quando comparadas com as partículas, é sua versatilidade. Tais como as cordas de um violino, que podem vibrar em diferentes frequências formando todas as notas musicais, as pequenas cordas vibram e dançam em diferentes padrões, criando todas as partículas fundamentais da natureza. Se essa visão estiver correta, então teremos uma grande e bela sinfonia, que é o multiverso. Eu e vocês podemos nos deslocar em três dimensões espaciais: norte-sul, leste-oeste, cima-baixo. E ainda podem ser descritas como largura, altura e profundidade. Uma caixa tem três dimensões, já uma folha de papel tem apenas duas, largura e altura. Um fio de cabelo tem uma dimensão, o comprimento. A teoria M afirma que existem oito dimensões extras de espaço, chegando a um total de 11 dimensões. Têm de existir 11 dimensões para a teoria fazer sentido. Então devem existir 11 dimensões. 419 Nós vemos apenas três e mais uma de tempo. Como isso é possível? Vamos ver um exemplo que vai facilitar nossa compreensão — disse, enfático. — Nos filmes as coisas ocorrem em duas dimensões. Apesar de as personagens na tela parecerem tridimensionais, na verdade estão presas a apenas duas dimensões. Não existe profundidade na tela, que pode ser tão fina quanto uma agulha. Trata-se apenas de ilusão de ótica produzida pela imagem. Para realmente poder mover-se para a frente, a personagem teria de sair da tela. E ao sair da tela, ela desaparece do filme. Max permitiu que seus jovens ouvintes refletissem por um momento e prosseguiu:

419

O Universo numa Casca de Noz, Stephen Hawking, ISBN: 8535402314: 178.


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— Antes se pensava que as partículas ocupavam um ponto individual no espaço. Porém, — disse ele — na Teoria das cordas, as partículas são interpretadas como um modo de vibração de cordas unidimensionais. Todavia, essa teoria só pode ser consistente se o espaço-tempo possuir 11 dimensões, uma temporal e dez espaciais, e não quatro. O professor deteve-se em pequena pausa, voltando ao fio da lição: — Os físicos chamam de Multiverso o conjunto de todos esses universos paralelos. Se essas ideias estiverem certas, existem outros universos. Nosso universo pode não ser nada especial nem ser o único. Podemos ter muitos vizinhos. Alguns deles poderiam mesmo ser muito parecidos com o nosso. Alguns afirmam que podem estar exatamente ao nosso lado, a menos de um milímetro. Mas como justificar universos paralelos? Que aspectos da física teórica podem lançar luz sobre esse estranho fenômeno? — destaca Max. Depois de longo hiato, continuou: — Existe um conjunto bastante complexo de elementos, lacunas na teoria-padrão, que só são explicáveis por meio dos universos paralelos. Alguns cientistas preferem chamar cada um dos itens que forma esse conjunto de ajuste fino. Eu prefiro chamar de balanceamento, que lembra o equilíbrio da balança. Breve pausa. — A nova visão do universo que está despontando pode ser expressa analogamente desta forma: É como se entrássemos em um lugar escuro que pensávamos ser um apartamento com dois quartos e agora achamos que é um castelo. Os cientistas estão só começando a investigação. Então, que certeza temos de que o universo é da forma que a Teoria das Cordas descreve?


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Será o mundo realmente feito de cordas e membranas, universos paralelos e dimensões extras? Será tudo ciência ou ficção? Nunca aconteceu de uma teoria que tenha o tipo de apelo matemático que a Teoria das Cordas tem estar completamente errada. É difícil que tanta elegância e beleza matemática sejam um desperdício. Um século atrás, alguns cientistas pensavam que tinham sido descobertas todas as leis básicas do universo. Mas veio Einstein e mudou radicalmente nossa visão de espaço, tempo e gravidade. E a mecânica quântica revelou as operações internas de átomos e moléculas, demonstrando um mundo bizarro e incerto. Então, longe de confirmarmos que descobrimos tudo, o século 20 mostrou-nos que cada vez que olhamos mais de perto para o universo, descobrimos ainda mais uma camada inesperada de realidade. Enquanto embarcamos no século 21, estamos vendo uma fração do que poderá ser a próxima camada: universos paralelos e dimensões extras. É uma visão de tirar o fôlego. Em poucos anos, experiências podem começar a dizer se essas ideias estão certas. Independentemente do resultado, sabemos que os cientistas vão continuar, porque, bem, é o que eles fazem de melhor, seguir adiante. O ser humano segue sua curiosidade, explora o desconhecido. E daqui a mil anos a visão atual do cosmos poderá parecer muito incompleta, profundamente atrasada — respira profundamente e conclui: — Mas, inegavelmente, as ideias da Teoria das Cordas são um testemunho do poder criativo. Abriram um espectro totalmente novo de possibilidades de respostas a velhas perguntas. Com elas demos um dramático passo na busca de compreender o universo.420 420

Superstring Theory: 25th Anniversary Edition, Michael B. Green, John H. Schwarz, Edward Witten, ISBN: 9781107029118.


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CAPÍTULO 10 O Desabrochar da Vida O desafio de elucidar como os átomos se uniram para formar seres vivos embaraça o suficiente para nos fazer ponderar sobre sua origem.421 (Martin Rees) — Os organismos vivos — inicia o professor Max — representam a mais organizada forma de matéria e energia que conhecemos. Eles exemplificam todas as características: crescimento,

adaptação,

aumento

da

complexidade,

desdobramento de formas, variedade e indeterminismo. Essas propriedades se destacam de forma tão proeminente nos organismos vivos que a simples pergunta “O que é a vida?” tem conduzido a profundas controvérsias e tem produzido algumas respostas que desafiam o próprio fundamento da ciência.422 Uma das características mais marcantes dos seres vivos – sem exceção – é a de serem objetos dotados de propósito.423 O mistério fundamental da biologia é como uma variedade tão rica de organismos, cada uma delas tão bem adaptada a seu meio ambiente, veio a existir.

421

Martin Rees, citado em Just Six Numbers: The Deep Forces That Shape The Universe, Martin Rees, ISBN: 9780465036738: 19. Cosmic Blueprint, Paul Davies, ISBN: 1932031669: 96. 423 Jacques Monod, Prêmio Nobel em biologia, mencionado em Cosmic Blueprint, Paul Davies, ISBN: 1932031669: 96. 422


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A descoberta da dimensão temporal na biologia transformou drasticamente a concepção básica desse mistério. As evidências reunidas pela geologia e pela paleontologia indicam que a forma dos organismos vivos tem sofrido transformações ao longo de bilhões de anos, o que revelou o processo da evolução; a alteração gradual, a diferenciação e a adaptação de espécies biológicas ao longo de muitas eras.424 Até onde sabemos, a Terra é o único planeta do universo que alberga vida. Mas o que faz com que nosso planeta seja tão especial? Para descobrir as respostas, precisaremos regressar no tempo. Ver os primeiros homens caminharem na Terra, acompanhar o choque de continentes, confrontar dinossauros, mergulhar no oceano primitivo recheado de formas bizarras de vida. Sentir o frio impiedoso de eras glaciais globais e experimentar a fúria do ataque de misseis cósmicos. Viajando de volta no tempo podemos vislumbrar por que nós estamos aqui.425 No entanto, a grande questão permanece: como a vida começou? A Terra se formou há 4,5 bilhões de anos. Esfriou entre 4 bilhões e 3,8 bilhões de anos atrás. Os primeiros fósseis de vida foram encontrados em rochas de 3,8 bilhões de anos. Então, a vida já estava a caminho. Sabemos os segredos do átomo, a temperatura do Sol, a idade do Sistema solar. Conhecemos o entrelaçamento quântico. Então, por que o grande enigma sobre o desabrochar da vida tem sido impossível de ser respondido? O que há de tão misterioso nisso? Como, contra 424 425

Cosmic Blueprint, Paul Davies, ISBN: 1932031669: 107. Earth: Making of a Planet, National Geographic Documentary.


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todas as expectativas, a vida se iniciou na Terra? Essa é, sem dúvida, a maior questão biológica de todos os tempos.426 Fixando os alunos com olhar resplandecente, continuou. — Que forças incríveis são essas que criam a milagrosa cadeia chamada vida a partir dos átomos? Darwin não resistiu à convocação para descortinar o mistério. Ele chocou o mundo. Disse que as espécies poderiam se diversificar ao longo do tempo. Mas não apenas isso! Ele alegou que se regressássemos ao passado, veríamos que todos os seres vivos descendem de um único ancestral comum.427 — Como assim, professor, explica isso melhor. Prosseguiu o professor, sob o olhar atento dos alunos: — Darwin propôs que todos os seres vivos são descendentes de um pequeno conjunto comum de ancestrais – talvez um único ancestral. Ele argumentava que a variação dentro de uma espécie ocorreria aleatoriamente, e que a sobrevivência ou extinção de cada organismo depende de sua habilidade em adaptar-se ao ambiente em que se encontra.428 O processo que transforma os compostos orgânicos em uma célula é tão complexo que absolutamente ninguém o conhece em sua totalidade. Falta preencher uma lacuna sobre como a primeira vida realmente eclodiu. Mas a ciência já preencheu grande parte do quebra-cabeça. A energia é uma das chaves do que acontece na fábrica da vida. É ela que desencadeia as reações químicas. Se há um elemento essencial para a vida, é o fluxo de energia representado pelo Sol. Os açúcares e hidratos de carbono armazenam energia em suas ligações moleculares; se

426 427 428

Baseado em Life is Impossible, documentário da BBC, 1992-1993. http://www.iqm.unicamp.br/site/docs/Monografia1.pdf The Language of God, Francis Collins, ISBN: 9781416542742: 97, 99, 100.


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rompemos as ligações, podemos utilizar a energia. Chamamos esse processo de metabolismo.429 — Mas o que faz com que uma célula — quis saber um aluno — passe de algo sem vida para algo que reage ao ambiente, algo dinâmico, professor? Max franziu o cenho. Era uma pergunta difícil de responder. Silêncio. Compreendendo que precisaria realizar o esclarecimento, exclamou, depois de longa pausa. — Há uma linha tênue — disse Max reflexivo e pausadamente — entre o que está vivo e o que não está. E aí está o que a ciência ignora sobre a evolução química. A grande incógnita no que diz respeito à origem da vida é como exatamente se converte a matéria inanimada em matéria animada. Um ser vivo se reproduz e interage com o meio ambiente, luta contra seus inimigos, e esse salto do inanimado ao animado seja talvez o maior mistério da biologia. A questão que emerge desse conjunto de elementos biológicos é “como” é possível a vida irromper de elementos químicos? Pausa para um gole de água. — Em 1953, Stanley e Müller, da Universidade de Chicago, reproduziram a atmosfera primitiva em um laboratório e a submeteram a uma descarga elétrica durante uma semana. Posteriormente, se comprovou a formação de numerosas moléculas atribuídas aos seres vivos. O que os dois cientistas demonstraram é que compostos orgânicos podem formar-se espontaneamente. Seguindo a teoria do cientista russo Oparin, os novos compostos orgânicos podiam combinar-se para formar cadeias químicas. Com o tempo, alguns desses produtos 429

Origem da Vida, The History Channel.


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químicos em forma de cadeia se assemelhariam às proteínas atuais. Outras moléculas antigas foram versões elementares dos ácidos nucleicos. Durante milhões de anos, tais substâncias químicas se formaram sob a violenta atmosfera primordial. Mas, à medida que o tempo transcorria, algumas dessas moléculas deveriam alcançar um grau elevado de organização e conseguiram duplicar-se. Essas moléculas, que provavelmente eram ácidos nucleicos, conseguiram introduzir proteínas em sua estrutura. Dessa forma, surgiu uma associação entre os dois tipos de molécula. Com uma membrana que lhes conferiu certa autonomia, as proteínas e ácidos nucleicos formaram as primeiras unidades de vida.430 — Os primeiros seres vivos teriam surgido dessa forma, professor? — perguntou um aluno, assaz impressionado. — Os cientistas calculam que a vida iniciou há cerca de uns 3,8 bilhões de anos, praticamente no momento geológico em que a Terra pôde abrigá-la, seguindo o caminho que acabo de descrever. Em seguida, continuou no mesmo diapasão. — Não deve ter sido fácil para a vida prosperar na Terra primitiva. Eram vulcões e tempestades, o inimigo estava em toda parte. Todos os seres vivos se substanciam alimentando-se de outros seres vivos, animais ou plantas. Então temos que pensar sobre o que comiam os primeiros organismos e onde se encontravam. Acredita-se que as primeiras células se alimentavam das substâncias orgânicas existentes nos oceanos primitivos. Esse tipo de alimentação existindo por vários milhões de anos deveria ter acabado com as reservas de matéria orgânica. Por isso, milhões e milhões de anos depois do 430

Cosmos, Carl Sagan, ISBN: 9780345331359.


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surgimento da primeira célula, alguns organismos desenvolveram o processo que hoje denominamos fotossíntese. Essas células primitivas teriam aprendido a transformar alguns sais, anidrido carbônico e água em alimento a partir da energia do Sol. Nesse processo, começaram a liberar oxigênio para a atmosfera. Foi assim que surgiram os primeiros vegetais, que hoje os biólogos chamam de produtores primários. — E quando os vegetais surgiram, professor? — indagou Alyssa, curiosa. — Acredita-se que os vegetais surgiram há cerca de 2 bilhões de anos — respondeu Max, com autoridade inconfundível. — E o oxigênio que produziam, ao longo das eras, acabou por formar a capa, ou camada, de ozônio. O ozônio protege a superfície do planeta da violência da radiação solar. Assim, ao longo de milhares de anos, os organismos primitivos se transformaram nos seres vivos de hoje. Convém destacar — disse enfático — que os organismos unicelulares ocuparam 85% do tempo em que a Terra alberga a vida. Em linhas gerais, foi assim que surgiram e se desenvolveram as primeiras vidas terrícolas. — Professor, qual a diferença entre nós e os chimpanzés quando comparamos o DNA de ambas as espécies? — Segundo Francis Collins, a diferença é de meros 4%.431 — E de que forma esses genes diferentes se refletem no corpo humano, professor? — Os chimpanzés possuem 24 pares de cromossomos. Para quem não lembra, um cromossomo é uma sequência, uma parte visível do DNA pelo microscópio. Nós, humanos, possuímos 23 pares de cromossomos, já os chimpanzés possuem 24. Isso porque há milhões de anos, dois pares nossos se fundiram 431

The Language of God, Francis Collins, ISBN: 9781416542742: 137.


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formando um único par. Uma das diferenças que posso destacar, encontradas entre nossos genes e os do chimpanzé, está no par de número 7, chamado de FOXP2, associado com o desenvolvimento da fala. Acredita-se que esse gene tenha sofrido forte mutação cerca de 100 mil anos atrás, proporcionando ao ser humano o início do desenvolvimento da versátil linguagem articulada, fenômeno que orientou a socialização humana.432 O que eu quero sublinhar aqui é que o Projeto Genoma é uma prova incontestável de que a Teoria de Evolução de Darwin estava inexoravelmente correta. Implica que todos os seres vivos da Terra, incluindo os vegetais, peixes, répteis, pássaros e os extintos dinossauros são descendentes de um único ser, surgido há aproximadamente 3,8 bilhões de anos.433 — E onde fica Deus nessa história, professor? Não teria sido afastado do Grande Projeto? — Não há evidências de que Deus tenha interferido nas leis da natureza uma única vez. Se tivesse sido necessário fazê-lo, é porque as leis da natureza não seriam perfeitas. Mas sabemos que são. — E o que isso significa, professor? — Pode refazer sua pergunta? — Isso significa que as leis da natureza seriam as mãos de Deus? — Para Francis Collins, diretor do Projeto Genoma, “a evolução foi um plano elegante” que Deus escolheu para criar o ser humano. Como já vimos antes, não existe a mínima chance de o mundo ter surgido pelo mero acaso. O universo foi construído pelas leis da natureza, e nós também somos produtos dela, que, por sua vez, para fazer sentido, precisa ser o produto de uma Mente Cósmica. 432 433

The Language of God, Francis Collins, ISBN: 9781416542742: 139. The Language of God, Francis Collins, ISBN: 9781416542742.


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— E como você vê o conflito entre Evolução Darwiniana e Religião, professor? — A teoria da Evolução é fato, com ‘E’ maiúsculo. Combater a ciência é entrar em uma batalha perdida. Disso sabemos todos. E o maior inimigo do arcaísmo é a informação. As religiões que não se adaptarem ao avanço científico estão destinadas a desaparecer à medida que a luz da educação se propaga. Enterrar a cabeça na areia não vai ajudar. O que é preciso entender é que Deus criou o mundo, ou os mundos, e tudo que está nele. Qual foi o método utilizado pelo Autor? Para o Dr. Collins, PhD no campo biológico, ex-diretor do Projeto Genoma Humano, que também é cristão, a discussão entre criacionismo e evolucionismo é indesejável, pois a ciência já venceu. — E como fica a crença daqueles que acreditam na Bíblia, professor? — Eu estou proibido de entrar em temas religiosos neste curso, mas acho que posso fazer uma exceção apenas com o objetivo de ilustrar o tema. Entendam que não se trata da posição desta universidade apoiar este ou aquele ponto de vista religioso, mas eu li uma discussão interessante desenvolvida pelo Dr. Francis Collins. A opinião, portanto, é dele, que fique registrado. Ele chama a atenção para a sequência da criação do mundo, em Gênesis 1: primeiro temos a luz, o big bang bíblico no primeiro dia, água e firmamento no segundo dia, solo e vegetação no terceiro dia, o Sol, a Lua e estrelas no quarto dia, peixes e pássaros no quinto dia, finalmente no sexto dia temos os animais terrestres e o ser humano. Collins destaca a semelhança entre o texto de Gênesis 1 e as revelações científicas.


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Em Gênesis 2, curiosamente, aparece uma segunda criação do homem, e desta feita não havia ainda vegetais sobre a Terra, despontando, portanto, incompatibilidade entre os dois textos. Mas Collins chama a atenção para o fato de o termo “ser vivo”, no original hebraico, ser aplicado a todos os seres da criação, inclusive para o ser humano, 1:20, 1:24 e 2:7. Não haveria, portanto, distinção na forma como Deus teria criado a vida, seguindo toda a vida um único princípio. Será que pode ser o DNA? Os cientistas believers434 talvez pensem assim. Outro aspecto que Collins ressalta é que o autor, Moisés, não dá real atenção à cronologia, uma vez que o Sol não teria sido criado senão no terceiro dia, deixando aberta a questão de quanto tempo teria de fato 1 dia da criação. Se o objetivo era uma descrição literal, então por que o autor contou duas histórias que não encaixam uma na outra? “Afinal”, Collins pergunta em seu livro, “seria essa uma descrição poética ou mesmo alegórica, ou uma história literal?”435 Nesse sentido, também vale a pena destacar, conforme Collins, o que dizia Santo Agostinho, no quarto século depois de Cristo. Para ele, Deus está fora do tempo, o que converge com os modernos avanços científicos e desliteraliza o conceito do dia bíblico de 24 horas. E Collins completa dizendo que yôm, “dia”, em hebraico, possui significados simbólicos. Como em português, a palavra “dia” também pode fazer referência ao período claro do dia, em contraposição à noite. E, nesse caso, não significa 24 horas. Para Collins, que é cristão convicto, a ideia de que Darwin representa um inimigo a ser combatido é uma ideia doentia e insana, com dias contados. Ele lembra que Galileu também foi 434 435

Believer: palavra inglesa que, em sentido coloquial, se refere àqueles que creem em Deus. The Language of God, Francis Collins, ISBN: 9781416542742: 151.


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considerado inimigo da fé religiosa, mas que, no fim, o bomsenso prosperou. — Em outras palavras, a Evolução de Darwin e o Heliocentrismo de Galileu devem ambos ser naturalmente aceitos pela Igreja Católica e demais seitas cristãs, professor? — “A Terra está firme em seu lugar”, Salmo 93:1, encontrou lugar junto da “Terra móvel” de Galileu. Da mesma forma, a concepção da “Criação” no Gênesis precisa encontrar lugar junto da Teoria da “Evolução” de Darwin. Convém salientar que o cardeal Paul Poupard alertava para que o erro não viesse a ser repetido pela Igreja no futuro. 436 O cardeal, portanto, recomenda que a Igreja acompanhe a ciência. E o mesmo faz o cientista Francis Collins, que também é cristão. Eu gostaria de destacar e esclarecer um ponto de conflito que diz respeito à Teoria da Evolução de Darwin e sua associação com o ateísmo. Para aqueles que acreditam que o mecanicismo naturalista conduz ao ateísmo, ninguém melhor que Darwin para nos esclarecer esse ponto. Vejamos o que ele nos diz: “Renomados autores parecem plenamente satisfeitos com a teoria de que cada espécie teria sido criada de forma independente. A meu ver, o que sabemos das leis impostas à matéria pelo Criador combina melhor com a hipótese de que a produção e extinção dos habitantes antigos e atuais sejam devidas a causas secundárias [...]. Há uma verdadeira grandeza nessa forma de considerar a vida, que, juntamente com todas as suas diversas capacidades, teria sido insuflada pelo Criador em poucas formas, ou talvez em uma única.”437

436 437

The Telescope, Tamra B. Orr, ISBN: 9780531167366: 37. A Origem das Espécies, Darwin, Ed. Martin Claret, 2004: 536, 537.


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O texto encontra-se nas duas últimas páginas de sua obra magistral. Logo, Darwin não era materialista nem ateu, como querem alguns fazer crer. Continuemos com nosso plano de aula. — Uma coisa está bem clara: quanto mais regressamos no tempo, menor é a variedade de seres vivos que veremos. E se regressarmos ainda mais, acabaremos chegando ao princípio de tudo, até, quem sabe, a um só organismo.438 Formados esses organismos, a vida permaneceria sem mudanças por 2 bilhões de anos. Durante esse período, seres incrivelmente pequenos dominaram as águas da Terra. — Professor, como os biólogos conseguiram determinar em que época surgiu o primeiro organismo vivo? — indaga Patrick. — Segundo o geólogo Stephen Mojzsis,439 a vida iniciouse há cerca de 3,85 bilhões de anos.440 Ele encontrou uma alta concentração de carbono 12, que indica a presença de vida biológica, em rochas na Groenlândia. Esses organismos são simples, a maioria são criaturas marinhas. Alimentam-se por filtração, bombeando a água através das paredes do corpo e retendo as partículas de alimento em suas células. As esponjas estão entre os animais mais simples. Diferentemente dos outros animais, elas não possuem formas definidas e variam muito de acordo com seu habitat. Atualmente existem mais de 9 mil espécies de esponja. 441 Podem ser encontradas em qualquer parte do mundo, desde os mares gelados dos polos até as águas quentes dos trópicos.

438

Sparks of Life: Darwinism and the Victorian Debates over Spontaneous Generation, James Strick, ISBN: 9780674009998. http://isotope.colorado.edu/~mojzsis/ 440 The History of Life, Michael J. Benton, 9780199226320: 22. 441 Systema Porifera: A Guide to the Classification of Sponges, John Hooper e Rob Soest, ISBN: 9780306472602. 439


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— E quais seriam os primeiros seres complexos, professor? — Suspeita-se que as esponjas estejam na base da cadeia evolucionária, sendo nosso mais longínquo ancestral. Se voltássemos nosso relógio no tempo, por milhares de milhões de passos revolucionários, ficaríamos face a face com um organismo que deu início à vida complexa, e esse organismo provavelmente eram as esponjas.442 Mas o extraordinário evento que deu origem à vida ainda está por ser revelado. Como a vida na Terra se tornou tão diversificada? Como e porque os animais tomaram a forma que têm? E o que suas formas nos contam de sua história? Como seus esforços para sobreviver moldaram sua configuração? E o que podemos aprender dos sobreviventes? E como nós, seres humanos, emergimos desse mosaico de vida na Terra?443 São perguntas extraordinárias. Mas todas sem respostas ainda. — Professor, não entendi bem quando nasceu o primeiro ser multicelular — questiona Alexa. — A transição dos seres unicelulares para seres pluricelulares é meio confusa ainda, mas tem relação direta com o aparecimento do sexo no processo de desenvolvimento da vida. Sabe-se que cerca de 1,2 bilhão de anos atrás havia um organismo chamado bangiomorpha. 444 Era encontrado no que hoje é o norte do Canadá. Talvez esse tenha sido o primeiro ser pluricelular. — Nossa, professor! Quer dizer que a vida levou 2,5 bilhões de anos para se desenvolver de um ser unicelular para

442 443 444

Molecular Evolution: Towards the Origin of Metazoa, Werner Muller, ISBN: 9783642722387: 102. Molecular Evolution: Towards the Origin of Metazoa, Werner Muller, ISBN: 9783642722387. The History of Life, Michael J. Benton, 9780199226320: 46.


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um ser pluricelular? — indaga Patrick, profundamente impressionado. — Certamente levou muito tempo — e voltando ao fio da lição: — Os modelos propostos para a “origem da vida” são tentativas de recriar a história dessa evolução. E é importante destacar que não existe, na maioria das etapas desse processo, nenhum consenso entre os biocientistas. É uma situação inteiramente distinta da “evolução biológica”, na qual o modelo evolucionista Darwiniano se encontra bem estabelecido há mais de um século. Para melhor situar o problema, é indispensável, em primeiro lugar, examinar os níveis de organização inerentes à matéria viva e então discutir como os modelos propostos para a origem da vida tentam resolvê-los.445

445

Wonderful Life: The Burgess Shale and the Nature of History, Stephen Jay Gould, ISBN: 9780393307009.


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CAPÍTULO 11 A Vida em Dois Pés446

— Novo dia, nova jornada — inicia Max. — Nossa história tem prefácio. Faz 3,8 bilhões de anos que existe vida sobre nosso planeta. Durante dois e meio bilhões de anos o solo era seco e estéril; a vida desenvolvia-se no mar. Um bilhão de anos atrás, a vida decide aventurar-se pelos continentes de uma Terra deserta e primitiva.447 Houve um verdadeiro salto quando a vida passou de simples células bacterianas procariontes a células maiores e mais complexas, eucariontes. Foi essa mudança que tornou a fotossíntese e a reprodução sexuada possíveis. Os dinossauros se extinguiram há 60 milhões de anos, e logo os mamíferos se multiplicaram e povoaram toda a Terra. Entre eles, várias espécies de primatas vivem em grandes bosques africanos. Na parte oriental daquele continente, essas raças de grandes símios se encontrarão encurraladas por vigoroso fenômeno geológico local e mudanças climáticas 446 447

Televisión Española S.A. y Sagreta TV S.A., La Conquista de la Tierra. http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/vida-saiu-do-mar-ha-1-bilhao-de-anos-diz-estudo- 15042011 -6.shl


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globais. Era a progressiva queda nos níveis de dióxido de carbono atmosférico que fazia sentir seus efeitos sobre os ecossistemas africanos.448 Segue-se ligeira pausa. Max revê suas anotações. — O homo sapiens — reinicia ele — é uma espécie incomum em vários aspectos. Um desses aspectos diz respeito à história de seu intrincado povoamento, resultado de uma rápida expansão inicial combinada com uma mobilidade subsequente sem paralelos. Atualmente, graças a uma alta adaptação ecológica, combinada com a habilidade de responder tecnologicamente às demandas do meio que o circunda, o homo sapiens ocupa praticamente todas as áreas habitáveis do mundo – e em grandes quantidades. Mas algumas vezes, durante os rigorosos climas das eras glaciais, a população de nossa espécie parece ter ficado bastante reduzida e fragmentada, tendo experimentado condições exigidas por adaptações locais e inovações evolucionárias.449 O professor meditou alguns instantes e, ponderando, obtemperou: — Nossa saga nos leva a milhões de anos no passado. Um grande símio está para nascer algo diferente dos demais. Seus pais vivem nas árvores há milhões de anos. São nossos antepassados, mas também de nossos primos chimpanzés, orangotangos e gorilas. Alimentam-se de folhas e frutos. Dormem nos galhos, fora do alcance dos predadores que passeiam pelo solo. Mas ele não viverá como seus parentes. Abandonará as árvores e se colocará de pé. Guiado por seu instinto, explorará o mundo debaixo das árvores e descobrirá outra forma de viver. Ainda não se sabe exatamente quando ele 448 449

La Especie Elegida : La Larga Marcha de la Evolución Humana, Juan Luis Arsuaga, ISBN: 9788478809097: Cap. 4. The World from Beginnings to 4000 BCE (New Oxford World History), Ian Tattersall, ISBN: 9780195333152: 89.


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apareceu, mas pouco a pouco se distanciará da família dos símios para fundar a família dos hominídeos. Entre 15 milhões e 8 milhões de anos atrás, cedendo à pressão e às forças telúricas, as placas entre as penínsulas arábica e africana se separam. Erupções e movimentos sísmicos fazem montanhas brotar do solo. Cruzando a África de norte a sul, da Etiópia a Moçambique, abre-se o imenso Vale do Rift.450 As chuvas do oceano Índico que caíam sobre a África agora são bloqueadas pelas montanhas. As árvores ficam cada vez mais afastadas, e a comida mais difícil de ser encontrada. E nesse lugar os grandes símios se encontram isolados em uma área cercada por rios e montanhas. Nos dois lados do Vale a vida tomará caminhos distintos. Em um dos lados, a vida continua sem modificações: os símios se transformarão em gorilas, chimpanzés e bonobos. Mas do outro lado das cordilheiras, com a redução das chuvas, as florestas tropicais começam a desaparecer. O habitat dos grandes símios se reduz, e sua existência se vê ameaçada.451 Há 10 milhões de anos, ao desaparecerem os bosques na África tropical, grandes primatas se levantam sobre seus pés e se põem a caminhar. Como todos os seres vivos, eles precisam adaptar-se e defender-se dos perigos da Savana. Seu cérebro cresce, sua consciência se desenvolve.452 Nenhum de seus antepassados desceu das árvores para caminhar grandes distâncias. Correrá grande risco. Mede menos de um metro e meio quando de pé. E andando a quatro pés pela savana não tem como saber por onde anda. Precisa levantar-se 450

Abrangendo cerca de 5.500 quilômetros quadrados do continente Africano, da Etiópia a Moçambique, o Grande Vale do Rift é hoje o lar de uma espantosa variedade de flora e fauna, incluindo grande concentração de animais gramíneos e três dos quatro grandes macacos do mundo: o chimpanzé, o bonobo e o gorila. 451 A História da Evolução Humana, Discovery Channel. 452 Evolution: The Human Story, Dr. Alice Roberts, ISBN: 9780756686734.


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sobre suas pernas traseiras. Então ele vê, terá que avançar de pé, e o maior tempo possível. E eis que descobre uma nova forma de se mover. Há 6 milhões de anos, caminhar era uma tarefa um tanto cansativa para os primeiros hominídeos. Cansativo, mas funcionava.453 Em seguida, continuou como quem não tinha tempo a perder. — Nesse momento ele deixa de ser um macaco. A partir de agora ele é um orrorin.454 Os primeiros passos lhe trazem mais segurança e tranquilidade, talvez até certo prazer. Orrorin agora se sente maior, mais forte e pode ver seus semelhantes de maiores distâncias. Inicia-se a longa caminhada até a comida e até novos refúgios. Orrorin é o primeiro bípede conhecido do norte da África. Ao longo de milhões de anos, orrorin se desenvolve e dá lugar a novas espécies ainda mais avançadas. Enquanto ele surgia e se desenvolvia, paralelamente, em região distinta da África, outra espécie de hominídeo, congênere de orrorin, se colocava de pé e prosperava: eram os toumai, 455 ou Sahelanthropus tchadensis. Centenas de milhares de anos foram necessários para compreenderem que seus braços e mãos poderiam ficar livres para fazer mil coisas. Dessa forma, o “bipedismo” foi uma das primeiras e amplas revoluções da linhagem de nossos ancestrais. Manter o corpo erguido amplia o campo visual e reduz a superfície corporal que se expõe à radiação solar e, assim, facilita a refrigeração do corpo do animal em ambientes muito quentes. Além disso, permite transportar objetos. Após curto intervalo, retomou, determinado: 453 454 455

Origins: Human Evolution Revealed, Douglas Palmer, ISBN: 9781845334741. Origins: Human Evolution Revealed, Douglas Palmer, ISBN: 9781845334741: 50. Sahelanthropus tchadensis, Evolution: The Human Story, Dr. Alice Roberts, ISBN: 9780756686734: 64.


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Nos 2 milhões de anos seguintes, os hominídeos continuam amargando a seca do continente Africano. As savanas, que antes eram florestas úmidas e fecundas, avançam em direção à desertificação. Os hominídeos precisam adaptar-se ou vão desaparecer. A água é rara e a vegetação se reduz. O sol é avassalador. Várias espécies desaparecem. Alguns hominídeos conseguem aclimatar-se. É assim que nossa jornada nos traz aos australopithecus,456 4 milhões de anos atrás. — Professor, — indaga um aluno — e australopithecus tem algo a ver com a Austrália? — Em grego, australos — contesta o educador, — significa “sul”, e pithekos significa “macaco”. Portanto, australopithecus significa “macaco do sul”. E o mais famoso representante desse primata é Lucy. 457 Ela pesa uns 25 quilogramas e mede cerca de um metro e dez de altura. Os australopithecus mais antigos têm aproximadamente 4,2 milhões de anos. Viajemos mais 1 milhão de anos em direção ao nosso tempo. Veremos grandes transformações. Uma vez mais, uma variação climática será o motivo para as mudanças, a Era do Gelo. A Terra esfria de forma brutal nos polos, e o frio ganha os continentes Europeu e Asiático. As chuvas diminuem em toda a África. Os animais novamente precisam adaptar-se e evoluir em direção a espécies mais bem preparadas para os novos desafios climáticos. Mais de 2 milhões de anos transcorrem, — continua Max — e o mais distinto habitante da África, o homo habilis,458 é o primeiro a poder ser chamado de ser humano. Ele inventa

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The World from Beginnings to 4000 BCE (New Oxford World History), Ian Tattersall, ISBN: 9780195333152: 41 . Evolution: The Human Story, Dr. Alice Roberts, ISBN: 9780756686734: 26. The World from Beginnings to 4000 BCE (New Oxford World History), Ian Tattersall, ISBN: 9780195333152: 56.


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ferramentas, explora novos territórios, engendra ideias. Sente-se mais seguro de si mesmo graças às armas que inventa, e que sempre o acompanham nos meios hostis. De forma semelhante a seus antepassados, vive e se locomove em clãs. Ao compartilhar o conhecimento, os laços entre os membros do grupo se contraem. Nesse momento, aparecem as condições para uma linguagem articulada embora ainda muito singela. Homo habilis é um dos primeiros proto-homens a desenvolver ferramentas e armas de pedras e galhos de árvores. Ele marca o início das intervenções do homem no mundo. Logo descobre que o saber pode ser transmitido por imitação e, quando passam de mão em mão, as técnicas começam a se transformar e a se aperfeiçoar. Agora nada nem ninguém pode parar esse desenvolvimento. O fato de inventar também influi no comportamento, na mentalidade. Será um dos grandes fatores que influenciarão o espírito competitivo. Agora o ser humano está armado e mais valente, sai em busca de novos territórios. A sociedade e a organização primitiva vão pouco a pouco emergindo com seus conflitos e rivalidades. Habilis é o primeiro a construir proteção noturna sobre o solo. Eles agrupavam pedras e galhos de arvores em círculos, acomodando-os de forma a produzir rústicas cabanas. Nossa viagem agora vai conduzir-nos à era do homo ergaster.459 Um novo homem está nascendo. Suas ferramentas são mais avançadas, o que o impulsiona a novas conquistas. Ele deixa a África em busca de novos lugares para explorar. Atravessa territórios cuja existência nem imaginava. Aventura-se em mundos completamente desconhecidos. Avança sem olhar para trás. Ergaster é mais alto que seus ancestrais. Pode cobrir maiores distâncias sem ter que parar para descansar. Seu 459

Origins: Human Evolution Revealed, Douglas Palmer, ISBN: 9781845334741: 110.


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cérebro continua crescendo. Sua percepção e concepção do mundo ampliaram-se. O homem se adapta às novas condições climáticas e aos novos meios. Logo, ele cobre toda a Europa e a Ásia, regiões quentes e frias. É assim que, há 1,8 milhão de anos, Ergaster dá lugar ao homo erectus.460 Trata-se de um grande caçador. Aprende a usar suas armas para apanhar o único alimento disponível em qualquer época do ano: carne. Seu principal dispositivo de caça, além das armas físicas, é a organização. Ele encurrala a presa. Rivaliza com tigres e leões. O órgão primordial da linguagem é o cérebro, onde surgem as ideias. As modificações orgânicas para o desenvolvimento mais aprimorado da linguagem começaram a surgir com o homo erectus. Ele também descobriu e aprendeu a dominar o fogo há 1 milhão e meio de anos. No início, talvez ele pensasse que o fogo pudesse ser um animal com poderes mágicos. Logo, descobriu que o fogo podia esquentar durante as noites frias e assar a carne, que ficava com sabor mais agradável, ajudava a iluminar, defendia contra animais selvagens. No princípio, o fogo era roubado dos incêndios causados por raios e tempestades. Foram necessárias muitas gerações para entender que o fogo poderia ser aceso de maneira artificial. O professor fez gesto significativo e prosseguiu gravemente: — Seguindo nossa viagem, saltaremos 1,2 milhão de anos. Agora estamos na Europa de 300 mil anos atrás. Encontramos um continente gelado onde o frio se instalou. É o

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Evolution: The Human Story, Dr. Alice Roberts, ISBN: 9780756686734: 122.


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início da Glaciação Riss, 461 ou Era Wolstonia, que isola o continente. Nosso ancestral, o Homem de Neandertal 462 ,se encontra prisioneiro entre o gelo, ao norte, e o mar, ao sul. Precisa sobreviver em duríssimas condições. Mas ele se adapta, tornando-se muito forte. Seu corpo fica robusto, as paredes do crânio agora são mais maciças e resistentes. O nariz ampliou-se para aquecer o ar frio que respira. Os Neandertais foram os primeiros de nossos antepassados que utilizaram roupas. Utilizavam couro de animais costurado com agulhas de ossos de animais. Viverão na Europa cerca de 300 mil anos. O Neandertal concentra toda a sua energia à caça de animais grandes, pois a Europa dessa época produzia 8 meses de inverno, e só o que podiam comer era carne. Domina perfeitamente o fogo e nenhum predador o intimida. Utiliza até mesmo o fogo em forma de tocha durante suas operações de caça para afugentar e encurralar animais. O homem de Neandertal logo precisará compartilhar o continente e seus escassos recursos. Vindos da Ásia e do Oriente Médio, chegarão os Homo Sapiens.463 Um dos dois se extinguirá. Os Neandertais competirão com a nova espécie, e as duas se influenciarão mutuamente. — E Max arremata: — Uma das espécies um dia pisará a Lua e reconstituirá a história de todas as raças, conquistará a Terra e, quem sabe, o universo. Ele calou-se, como que deixando o triunfo do momento assentar sobre si mesmo. Afinal, ele pertencia a esse grupo privilegiado de seres. Ele era um homo sapiens! Finalmente falou:

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The Neanderthal's Necklace: In Search of the First Thinkers, Juan Luis Arsuaga e Andy Klatt, ISBN: 9781568583037: 55 e 118. The Neanderthal's Necklace: In Search of the First Thinkers, Juan Luis Arsuaga and Andy Klatt, ISBN: 9781568583037. 463 The World from Beginnings to 4000 BCE (New Oxford World History), Ian Tattersall, ISBN: 9780195333152. 462


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— Seus descendentes cruzam mares e montanhas, adaptando-se a qualquer tipo de clima. Em numerosas ocasiões perdem tudo, mas não se intimidam em buscar os limites de suas fronteiras. Domesticam plantas e animais. E, por fim, convertemse nas mais poderosas criaturas do reino animal. Inventam, se organizam, andam pela terra e pelos oceanos. Conquistam o mundo. E nós somos seus filhos, quer sejamos brasileiros, angolanos, chineses, poloneses, quer nossa pele seja branca, negra, morena, amarela. Todos procedemos da mesma família. Dez milhões de anos são mais de quinhentas mil gerações. Nossos antepassados transmitiram sem descanso seu saber a seus filhos para que chegasse até nós. Hoje, a parte do saber que chamamos ciência permite remontar nossa trajetória, escavar a terra para achar seus traços, para extrair nosso passado. E contar o que sabemos sobre a extraordinária origem da nossa grande família.464 E, desejoso de consubstanciar a síntese da lição, arrematou: — E, chegados a este ponto, haverá terminado a evolução humana ou continuará em direção a formas ainda mais inteligentes, ainda mais perfeitas? Foram os organismos unicelulares, os invertebrados, os anfíbios, os répteis, as aves, os mamíferos e, finalmente, nós. Nessas circunstâncias, é difícil alguém sustentar a ideia de que a evolução termine conosco.465

Televisión Española S.A. y Sagreta TV S.A., La Conquista de la Tierra. La Especie Elegida: La Marcha de la Evolución Humana, Juan Luiz Arsuaga e Ignacio Martinez, ISBN: 9788478809097: 30.

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CONCLUSÃO CAPÍTULO 12 — As pessoas têm todo tipo de crença. A forma como cada um chega a elas varia de argumentos racionais à fé cega. Algumas crenças são baseadas na experiência pessoal, outras na educação, e outras, ainda, no doutrinamento. Algumas crenças, acreditamos que podemos justificar, outras sentimos que estão lá dentro de nós e pronto466. Ao longo deste curso demonstramos que a física, a astronomia e até a matemática, fornecem copiosas evidências em favor da crença de matriz teísta. Vamos às premissas que sustentam a afirmação: 1. Lei e Ordem: O Universo existe dentro de uma banda bem precisa de probabilidades — da ordem de 10-10(123) — está bem balanceado para permitir que organismos e a vida tenham podido se desenvolver. Mesmo os teóricos mais esclarecidos não se sentem à vontade para invocar as forças do acaso. 2. O Nada: Não seria científico acreditar que um estado de zero energia — O NADA — pudesse produzir algo. Lógica e razão cairiam sob o jugo de dogma irascível se encorajadas pela crença de que um universo tão rico e abundante como o nosso, e bem balanceado, pudesse pular do NADA para a existência. 3. O infinito: Poucas coisas prescindem de explicação para existir, o infinito é uma delas. Se pudermos fazer previsões em um cenário infinito, diríamos que o infinito precisaria ser infinito em todas as direções e sentidos, contendo infinitas 466

Adaptado de The Mind of God, Paul Davies, PhD, ISBN: 0671797182: 19.


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propriedades de alcance infinito. Se dispensasse uma única propriedade, ou que uma delas não fosse infinita, já não mais seria o INFINITO. Força: Logo, só o INFINITO poderia ser causa sui 467 e representar uma FORÇA capaz de criar um universo como o nosso a partir de um zigoto cósmico — o big bang — do tamanho de um ovo, com leis precisas e balanceadas. Depois de ligeira pausa, prosseguiu: — Em lógica binária, se uma coisa for falsa, a outra, necessariamente será verdadeira. Se o universo não pode pular do NADA para a existência, então, tem que existir uma FORÇA INFINITA E INCRIADA capaz de gerá-lo. Nova pausa antes de arrematar. — Eis a tese na qual acredito: A FORÇA existe. Como chamá-la, se God, Dios, Allah, Odin, Freya, Tupã, 神, Zambi, Zeus, Deusa, Isis, Osíris, Jeová, Javé, Elohim, Júpiter, Apolo, Afrodite, Amaterasu, Senhor, Senhora ou simplesmente Deus, não importa! São apenas pobres palavras humanas tentando explicar um poderoso sentimento que o ser humano trás em seu interior. Por fim: O MUNDO SERIA MATEMATICAMENTE INCONSISTENTE SEM A EXISTÊNCIA DE UMA FORÇA INFINITAMENTE INTELIGENTE, PODEROSA E INCRIADA468.

Uma vez eliminado o impossível, o que quer que reste, por mais improvável que seja, deve ser a verdade469.

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Existe a partir de si mesmo. (N.A.). Adaptado de citação de Amit Goswami, PhD em Física Quântica, aposentado pela Universidade de Oregon. Sherlock Holmes, The Sign of the Four, Arthur Conan Doyle, ISBN: 9781492334897: 36.


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PRINCIPAIS FONTES PESQUISADAS Fontes Impressas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40.

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O Senhor dos Paradigmas: O Mistério da Origem de Tudo 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. 85.

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