De: Gisele Para: Lídia
Mulher nascida em 01 de junho de 1943, na cidade de Itapuí. Mulher linda, dona de um par de olhos verdes da cor do mar. Filha nº 2 de um total de cinco irmãos. Mulher arteira.
Mulher vaidosa, dona de belos vestidos cinturados e cabelos impecáveis para os grandes bailes do Clube da cidade. Mulher carismática e muito admirada. Sempre pronta a ajudar e aconselhar.
Mulher sempre lembrada. Basta um sorriso, olhar ou, até mesmo, uma gargalhada para que a pergunta surja espontaneamente: “Você é filha da Lídia, né? Você tem o mesmo jeito dela”. E assim surgir os relatos engraçados, aventuras e marcas deixadas por esta incrível Mulher.
Mulher dona de uma fé inabalável e de um amor imensurável pelos netos e pela
família. Mulher mil e uma utilidades e que nunca fugiu da luta.
Mulher que dirigia caminhões, trocava óleo, abastecia os veículos no posto de gasolina que era de seu pai e que nunca aceitou que as pessoas dissessem que isso era serviço de homem.
Mulher que sempre gostou de aprender de tudo e deu conta de criar 6 filhas e de ensinar que lugar de mulher é o lugar que ela queira estar.
E hoje, olhando para os 77 anos de vida desta Mulher, minha mãe, tenho a certeza de que: Ter uma fé inabalável, estender a mão sempre para quem precisar, fazer tudo com os olhos do coração e de que ser Mulher é apenas um detalhe.
Estarei no caminho certo, sempre.
ANTONELLI
GISELE
De: Lucia
Para: Gercina
Analfabeta e determinada, Gercina Morais (in memória) nasceu em 22 de maio de 1940, em Pernambuco. Era umas das onze filhas de minha avó, Quitéria, que a criou levando ao trabalho na roça.
Mesmo vivendo uma realidade simples e muito difícil, alimentava o sonho de vir para cidade grande e conquistar seus sonhos, formar sua família. Por isso, sua determinação e coragem foram infinitamente maiores que a sua falta de estudos.
Quando chegou a cidade grande, São Paulo, se agarrou a todas as oportunidades que lhes fora apresentada. Por muitas delas, acabou pagando um preço bem alto. Relacionamentos malsucedidos que lhe deram como resultado os filhos, que, com certeza eram a força que a empurrava para frente, já que, naquela época, voltar para Pernambuco como mãe solteira e morar na casa dos
pais não era tão simples como os dias atuais.
Gercina prosseguiu firme e sua determinação não parava. O fato de ser analfabeta dificultou a conquista do emprego com carteira assinada, que, aliado a seu gênio forte, não aceitava ser mandada por ninguém. Não aceitou ser mandada pelos pais dos seus filhos e nem pelos próprios pais, pois desde muito cedo sempre quis sua independência, e, assim, jamais aceitou ser mandada por patrão ou patroa.
A alternativa encontrada para se viabilizar economicamente na cidade grande foi trabalhar como vendedora ambulante, também conhecida como camelô. Assim, ela desbravou São Paulo e sendo analfabeta, conhecia os ônibus e metrôs por meio dos números de identificação, ali ela sabia o bairro e destino.
Se fosse para definir a história dessa mulher em uma única palavra seria superação, porque a cada obstáculo que surgia, ela o transformava em combustível para prosseguir.
A vida se tornou mais tranquila, porém, não mais fácil.Quando encontrou o parceiro José Bispo, com quem ela teve 2 filhos e a segurança de compartilhar a vida um com o outro, juntos construíram uma casa e com muito sacrifício criaram os filhos. Um se tornou pastor e trouxe um desafio para vida dela, pois conforme ele mudava de cidade para fazer o ministério, ela ia visita-lo. Para isso, precisava viajar de avião de um estado para outro, mais um grande desafio para quem é analfabeta.
A outra filha, vendo essa trajetória de sacrifício, decidiu estudar e fazer faculdade. Queria seguir o exemplo de determinação e vencer o preconceito, vergonha por ser analfabeta como sua mãe, que mesmo envergonhada, nunca se escondeu ou deixou de enfrentar os obstáculos para sua casa conquistar.
O exemplo deixado para os cinco filhos se resume em determinação, superação e fé. Uma fé conquistada quando teve uma experiência com Deus, o qual conheceu intimamente quando foi buscar a cura da filha. Deus ouviu sua súplica, e além da cura, inspirou seus filhos que, por meio dela, se tornaram servos de Deus.
Em novembro de 2010, Gercina foi embora, a última viagem de
uma mulher agitada, determinada e analfabeta, porém lutadora, foi leve, suave e simples, como um passarinho - relata o esposo José.
Para muitos, apenas mais um ser que passou por esse mundo, mas, para mim, um exemplo de determinação.
Ter a história de uma mulher analfabeta registrada em livro é um privilégio que Deus me concedeu para fazer essa homenagem para minha Mãe.
Gercina Quitéria de Morais. Saudades eternas, mãe.
LUCIA PRADO
De: Para:RaquelMaria
Sabe aquelas frases típicas de mãe? “Pega um casaco que vai esfriar.” “Não durmo antes de você voltar.” “Leva um guarda-chuva?” Essas e tantas outras que as mães delicadas e amorosas usam... Bem, a minha não as usou.
Maria Margarida Maraia Ferraroni, 72 anos, de Fernandópolis, morando atualmente em Marília. Está sempre linda, de pele morena, cabelos pretos, rosto expressivo e altivolembra atrizes italianas - mesmo sem qualquer dinheiro para um creme ou uma roupa estilosa.
Apenas alfabetizada, parou de ir à escola aos 8 anos para ajudar na roça. Ficou órfã de pai aos 16 anos, quando precisou morar de favor com os irmãos e aprendeu a ganhar o próprio sustento para não ser mais um peso para a família, que acolhia ela e minha avó.
Aos 20 anos, se casou com um militar em início de carreira, e na bagagem, levou sua mãe. Cerca de dois meses após o casamento, engravidou de mim e, aos 25 anos, teve a segunda filha. Minha avó, moradora permanente da casa de meus pais, encabeçava os trabalhos físicos com nossa criação, enquanto minha mãe procurava formas de ajudar no sustento da casa, pois o salário de soldado do meu pai não era suficiente.
Extremamente habilidosa, ela aprendeu a tirar sobrancelhas, enrolar cabelos (naquela época estava na moda) e fazer as unhas. Por isso, a casa começou a ficar cheia. Claro que o marido policial não gostou, especialmente quando isso acontecia após às 18h00 ou aos finais de semana. E lá foi ela resgatar outra habilidade.
Ela já sabia costurar, habilidade desenvolvida ainda de solteira,
quando precisou trabalhar numa loja de estofados, costurando sofás. Mas, agora começou com pequenos consertos para a família, os vizinhos, a comunidade e, por fim, foi trabalhar em uma loja como costureira de vestidos de noiva, o que fez por 18 anos.
Para duas jovens adolescentes, como eu e minha irmã, era um deleite visitá-la no trabalho e ver tantos tecidos finos e delicados, vestidos montados, véus e rendas. Me lembro claramente do dia em que eu dormi em uma enorme caixa de retalhos.
Eu poderia ter aprendido a levar o casaco, a não voltar tarde, a levar o guarda-chuva, mas, principalmente, e agradeço por isso, aprendi a ser íntegra, a ser esforçada, a não me deixar abater, mesmo quando a tristeza ronda o coração. Aprendi, principalmente, que uma mulher tem criatividade, que tem força e resiliência (mesmo que ela nunca tenha ouvido falar essa palavra).
Admiro imensamente sua tenacidade financeira para olhar os negócios, para imaginar o futuro, para enfrentar as incertezas. Isso sem nunca ter lido sobre economia, aprendido uma porcentagem ou ter uma conta no banco só dela. Toda lembrança da minha mãe é dela trabalhando, correndo atrás do que queria, mesmo quando isso custava os olhares cortantes do meu pai, que queria a esposa em casa, na condução disciplinada do lar.
ela. A aproveitar bem o tempo, aprendi com ela. A ser uma mãe menos sufocante com os filhos, aprendi com ela. A ser prática e pouco emotiva, aprendi com ela. A entender que a vida não espera você lamber as feridas para seguir em frente, aprendi com ela. Uma fortaleza por fora, delicada por dentro... Naturalmente uma influenciadora da minha força, que me deu a oportunidade se ser quem eu sou!
RAQUEL SANCHES
O valor do trabalho, aprendi com
De: Roseli Para: Marilene
Já parou para pensar na potência de seu nome em sua vida? Na forma como ele é pronunciado e se combina com o diminutivo “inha” ou “inho”? Pois é, eu já.
Nasci em 25 de julho de 1966, filha de um italiano com uma espanhola que tinham por hábito marcar os filhos com dois nomes. Sou a segunda filha de cinco que eles tiveram e meu nome “não é fraco não”; me chamo Roseli Cristina, observo que nenhum deles combina com o tal diminutivo que traduz carinho, delicadeza, fofura e etc. Meus irmãos não conseguiam pronunciá-lo e , então, me apelidaram de “DEY”.
Quando eu tinha dois anos de idade, fui abusada por um primo. Cresci amedrontada, entristecida e morando no sitio, não enxergava nenhuma alegria no viver, exceto caçar vagalume a noite - isso divertia toda a criançada - mas
nada mudava, éramos crianças que ajudavam os pais no sustento da casa e estudávamos meio período na cidade.
Ah! Quando ela chegava... Quantas alegrias trazia... Vinha com suas histórias e contos de fadas que nos transportavam para um mundo de magia, onde sofrimento não existia. Eu olhava para ela e dizia: “quero ser assim quando crescer!”.
Minha prima querida, Marilene de Paula, carinhosamente chamada por todos de “Marlene”, apelido que ela detestava, mas não reclamava porque era de uma bondade ímpar. Nascida em 26 de junho de 1952, morava em São Paulo, trabalhava em uma multinacional, sofria suas dificuldades e lutava com unhas e dentes por um lugar ao sol.
Sinônimo de mulher sábia, que queria conquistar o mundo. E eu me inspirei em sua força de vontade,
sua perseverança e honradez para superar meus próprios conflitos.
Lembro-me de uma passagem da vida dela que me marcou muito, ela conta assim: “Quando eu morava em São Paulo, em um apartamento minúsculo, com minha irmã, numa certa ocasião, chegamos exaustas do trabalho, com muita fome, e notamos que a única coisa em casa para comer era um pouquinho de fubá em um saquinho quase vazio. Fizemos uma polenta rala somente com água e sal, aquilo ficou muito ralinho... Com todo cuidado, coloquei a panela sobre uma mesinha manca de centro e chamei minha irmã para comer, quando íamos nos sentar, a mesa tombou, a panela virou e lá se foi nosso jantar; com olhos lacrimejando e arregalados de fome e espanto, olhamos uma para a outra e ficamos mudas, vendo aquele liquido escorrer pelo carpete. Enquanto limpávamos o chão, a campainha tocou e nos deparamos com Tadeu, nosso querido vizinho e amiguinho de 4 anos, que olhou para a panela e nossas caras de tristeza e foi embora. Passado um tempo, volta Tadeu com sua mãe e um prato cheio de comida para nós. Grande emoção. Deus existe! Desse ato tiramos a linda lição do compartilhamento.”
Ela podia ter desisto de seus sonhos nessa época, mas não o fez. Se tornou uma grande empresária na Cidade de São Sebastião, onde reside até hoje, completando 30 anos de profissão. Realizou um outro grande sonho, coisa que na época era raríssimo, brilhou com o título de pescadora.
Então, se ela não desistia, porque eu o faria?
Estudei muito, me tornei professora, bancária, datilógrafa, nutricionista, administradora, empresária, artesã e a mais importante de todas as profissões: mãe. Sou, ainda, líder do Comitê Mulher e 1ª Suplente de coordenador de Núcleo da agência de Pederneiras da Sicredi Centro Oeste Paulista.
Penso que uma parte de nossa força vem do fato de que nunca nos chamaram de “Roselizinha” ou Marilenezinha”, mulheres com nomes fortes, destemidas, persistentes, sempre em busca de crescimento emocional e intelectual, que já sofreram muito na vida e, hoje, conseguiram transformar tudo de negativo em aprendizado, que usaram no compartilhar, ensinar, solidarizar, inspirar... enfim, viver!
Aprendi com meu pai, Orlando Magnani, a amar a Deus e me inspirei em você, Marilene, a ser uma mulher sábia! Crescemos em idade cronológicas diferentes, porém, temos a mesma idade espiritual, onde uma foi capaz de alimentar a outra com muita energia positiva, vinda de nossas conversas andando pela praia, trocando experiências e buscando o melhor da humanidade.
Gratidão, prima-irmã-amiga-mãe!
ROSELI MAGNANI
De: Sunamita
Para: Sunamita
Sou de uma família de quatro irmãos, sendo dois homens e duas mulheres, eu sou a terceira filha. Tenho 31 anos de idade e acredito que para muitas mulheres a primeira mulher inspiradora seja a mãe.
Minha mãe sempre foi uma mulher forte, guerreira e trabalhadora, porém, quando eu tinha apenas 12 anos de idade, ela foi embora com outra pessoa, para surpresa de todos. Deixou apenas uma carta (que tenho até hoje os pedacinhos) e deixando-me com todas as responsabilidades de uma casa. Não entendia muito o porquê, mas ela tinha suas razões. Porém acredito que nada justifica deixar quatro crianças pequenas para o pai para cuidar sozinho. Apesar de ela ter nos deixado, nunca deixou de nos visitar.
Hoje, acredito que eu mesma seja uma mulher inspiradora, que
não deixei tudo que aconteceu em minha vida me desanimar. Mesmo meu pai sendo cortador de cana, eu consegui meu diploma no Ensino Superior em Letras, profissão na qual não atuo no momento. Ainda durante meus estudos, tive meu filho, hoje com 11 de idade, que é minha vida e que também não me impediu de terminar a graduação.
Posteriormente o relacionamento com o pai do meu filho não deu certo, por isso, passei a cuidar dele sozinha, como acontece com muitas e muitas mulheres nesse mundo. Acredito que eu seja hoje uma mulher inspiradora pela minha força, pela garra que eu adquiri passando por muitas dificuldades, não poderia entrar em detalhes porque ficaria muito longa minha história de vida.
Hoje, sou casada há 2 anos com uma pessoa maravilhosa, que trata a mim e a meu filho com muito
carinho; só tenho que agradecer a Deus por não ter desistido de mim, por ter cuidado de tudo na minha vida, não me deixando tomar caminhos desastrosos, por conta de tanto sofrimento familiar.
SUNAMITA FERREIRA
De: Tatiane
Para: Rosália
A quem devo a vida: minha mãe, Rosália.
Ela teve uma infância difícil, na roça, interior da Bahia. Quando jovem, aos 20 anos, se casou com meu pai, Valdomiro, e se mudou para São Paulo.
Criou três filhos enquanto trabalhava fora e, muitas vezes, batalhou até nos fins de semana e estudou a noite para concluir o ensino médio. Hoje ela é formada em Letras/Espanhol e me ensinou desde pequena o que é ser uma mulher forte, responsável e o amor incondicional a família.
Logo que tive meu primeiro filho, ela me presenteou com um livro do Craig Hill, com o título “O Poder da Benção dos Pais” e me disse: esse é para você procurar acertar naquilo que fiz de errado.
Ela me inspira e a cada ciclo da
minha vida, reconheço nela outras versões de mulher que eu ainda não conhecia.
Obrigada por me inspirar todos os dias, obrigada por me dar a vida. Te amo, mãe.
TATIANE AVELINO
De: Thais
Para: Geissi
A dança que equilibra a vida de uma mulher.
No ano de 2011, eu estava iniciando na faculdade, tinha decidido que seria uma fase nova e diferente na minha vida, não tinha feito muitas amizades no ensino médio por estar muito focada em cuidar da minha carreira, passar no vestibular, trabalhar, com isso, senti que não dedicar tempo as amizades me fizeram falta emocionalmente.
Estava aberta para as amizades, mesmo assim, sempre fui muito seletiva, e foi no segundo ano de faculdade que, entre uma conversa e outra, um trabalho e outro, percebendo certos valores que se assemelhavam, começava uma amizade sincera e verdadeira, uma amiga que mudou muitas formas de eu enxergar a vida.
Geissi Ferreira, hoje empresária, na época trabalhava na área
administrativa e fiscal no supermercado de seus pais em Garça, interior de São Paulo. Ela sempre foi uma mulher muito carinhosa, dedicada, meiga, sorridente, muito conectada com a família, com as pessoas importantes na sua vida, tinha um olhar alegre para a vida.
Ela tinha um olhar feminino que faltava em mim. Eu vinha de uma família muito humilde e, para conseguir conquistar o que eu desejava, considero que negligenciei o meu feminino, não aquele que todos vem, a estética, esse eu sempre gostei muito de cuidar, sempre fui muito vaidosa, mas quero dizer aquele feminino que vem de dentro, o olhar, a intuição, a emoção, o cuidado.
Eu achava, naquele momento, que eu precisava ser forte, autoconfiante, determinada. Comecei a trabalhar desde
meus 15 anos, porque eu queria muito trabalhar, e foi colocando foco nessas características que conquistei muitas coisas, mas eu não sabia que colocando 100% da minha energia nessas características eu estava negligenciando o meu lado feminino mais intrínseco e poderoso.
Quando eu via que ela conseguia dançar bem essa música, com muito mais equilíbrio do que eu, a admirava, e estar com ela me ajudava a ter um olhar diferente sobre as coisas, sobre os acontecimentos, sobre as pessoas, sobre a vida.
Foi por meio da culinária que eu vi o ápice do seu carinho e cuidado, afinal, os alimentos é o que nos nutre, nos conecta.
Ela falava ”Thais, você gosta de lasanha?” Eu falava que mais ou menos. “Ah, mas é porque você não comeu a minha lasanha, vamos lá em casa, que vou fazer um dia para você experimentar, depois você me fala”.
“Esse final de semana comi um nhoque, humm, você gosta de nhoque?” Eu falava que não era muito fã, achava que pesava muito. Então ela dizia: “Ah, é porque você não comeu o nhoque da minha mãe, ela faz com batata e pouco trigo, fica maravilhoso, você vai adorar, vamos marcar de você ir lá em casa para experimentar”. Toda segunda-feira tinha assunto de culinária especial de final de semana.
de intervalo de faculdade, eu era muito desligada com isso, às vezes até esquecia da fome ou comprava algo na faculdade mesmo. Mas ela levava lanchinho saudável para a faculdade e dividia comigo, sempre muito gostosos.
Ela sempre comentava sobre sua culinária, para ela, cozinhar era cuidar, nutrir e amar. Entre lasanhas, nhoques, panquecas, bolos e vários outros pratos, eu via o seu cuidado, o seu dançar entre esses dois universos de sutileza, cuidado e carinho, calma, dedicação, força e comprometimento com sua carreira.
A culinária foi uma das histórias que escolhi para descrever como ela transbordava carinho, cuidado e amor, mas isso era sua essência em tudo o que fazia. Foi a partir daí que começou a minha busca por cuidar cada vez mais o meu feminino, e adivinha, inconscientemente, por onde eu comecei? Sim, pela culinária.
Hoje, adoro cozinhar, é um hobby para mim, modéstia à parte , sou boa na cozinha tradicional, mas não melhor que ela!
THAIS GUIMARÃES
Ainda tinham os lanchinhos
De: Thais Para: Edite
Edite Fonseca Ramires nasceu no ano de 1941 e viveu grande parte da sua vida em São Paulo. Uma vida de grandes lutas. A primeira que travou foi na primeira infância, quando perdera sua mãe. Ainda jovem, soube bem o que era batalhar por espaço e amor.
No segundo casamento de seu pai, João Garcia da Fonseca, com Dona Carmen, uma jovem senhora doce, foi presenteada com mais 3 irmãos: Daniel, Enoch e Saulo, mas o primeiro morreu logo após o nascimento.
Edite tinha garra, perseverança e amor em abundância. Criou os filhos: Rubens, Noemi, João, Vanessa e Paulo com o suor do trabalho digno de uma enfermeira padrão. Perdeu Noemi, sua segunda filha, ainda quando estava na adolescência, e carregou a dor da perda de um filho sem nunca a esquecer.
Os poucos e sublimes
momentos que tive com minha tia foram marcados por uma voz firme, forte e justiceira, que ecoava daquele sobrado onde ela morava. Me defendeu de uma bronca que seu irmão, meu pai, Enoch, me deu sem motivo aparente. Me abraçou e disse: “Não tinha motivo pra ele falar dessa maneira, ele não sabe o que está dizendo!”.
Passei o resto do dia usando seu tamanco barulhento e um vestido estampado enorme. Acho que foi a maneira dela dizer que me amava e me acolhia.Meu tio, Saulo, diz que falo alto e tenho boca grande assim como ela, que não negava um bom palavrão a ninguém.
Tia Edite nos deixou em 2002, mas minha impressão é que estará sempre aqui, bem aqui no meu peito. Ainda vejo seus gnomos e bruxinhas na estante da sala, daquele sobrado que jamais esquecerei.
THAIS FONSECA