SG MAG 10 | Março 2020

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SUMÁRIO SG MAG Edição nº 10 Março 2020

EDITORIAL ....................................................................................................... CRÓNICA: A explosão – por Maurício Cavalheiro ........................................... CONTO: Inácio – por Manuel Amaro Mendonça .............................................. CONTO: Festa de desenlace – por Maria Angélica Rocha Fernandes .............. LANÇAMENTO: Brisas de Outono .............................................................. APRESENTAÇÃO: Brisas de Outono – por Isidro Sousa ............................. LIVRO «BRISAS DE OUTONO»: 65 autores (biografias) ........................ CRÓNICA: A cada etapa, a sua emoção – por Dias Campos ......................... OPINIÃO: O que é e para que serve a literatura? – por Lucinda Maria ...... CONTO: O calcanhar do Aquiles – por Maria de Fátima Soares ................... CRÓNICA: Na penumbra – por Luiz Roberto Judice ....................................... CRÓNICA: Sou escritora?! – por Lucinda Maria ............................................. CRÓNICA: Medo – por Lira Vargas ................................................................ APRESENTAÇÃO: Ninguém Leva a Mal – por Isidro Sousa ....................... LIVRO «NINGUÉM LEVA A MAL»: 30 autores (biografias) .................. BREVES ESTÓRIAS: Quadro escarlate – por Rita Queiroz ......................... CADERNO DE POESIA: Tema “Carnaval” – Poemas de vários autores ..... CONTO: O Pierrot – por Mary Rosas ............................................................... CONTO: As cinzas não se apagam – por Rita Queiroz .................................. CRÓNICA: Atualidades machadianas: o Carnaval! – por Dias Campos ....... POESIA: E por consequência surge a demência – por Jorge Pincoruja ......... POESIA: Dias de Carnaval – por Rita Queiroz ................................................ POESIA: Carnaval – por Mary Rosas ................................................................ POESIA: Aparições – por Mikael Mansur Martinelli ........................................ POESIA: Voltar a voar – por Isabel Martins ..................................................... POESIA: Banho de chuva – por Cristina Sequeira ........................................... POESIA: Amor sofrido – por David Sousa ...................................................... POESIA: Soneto Lua em flor – por Joyce Lima ............................................... POESIA: Sou mulher – por Sandra Boveto ........................................................ POESIA: Bagagem – por Luiz Roberto Judice .................................................... POESIA: Palavras desassossegadas – por Macvildo Bonde .............................. POESIA: Livro da poesia – por Lucinda Maria ............................................... POESIA: O abraço – por Ana Martins ............................................................. POESIA: Gélida nortada – por Paula Homem .................................................. POESIA: Decifrando o vento – por Rogério Dias Dezidério ............................ POESIA: Dúvidas de existencialista – por Tiago Sousa .................................. BREVES ESTÓRIAS: Primeiro dia de escola – por Rosa Marques .............. CONTO: Regresso – por Natália Vale ............................................................. CRÓNICA: Essas abençoadas vírgulas – por Jorge Pincoruja ......................... ENSAIO: Ensaio sobre amor – por Marisa Luciana Alves ............................. APRESENTAÇÃO: «Antologia Breve» – por Marisa Luciana Alves ............ CRÓNICA: Souji – Um hábito salutar – por Dias Campos ............................ CONTO: O monstro da névoa – por Oceano Albuquerque ............................. ENSAIO: Narrativa dos cacos em Bolor – por Erick Bernardes ..................... CRÓNICA: Quem sabe – por Clau Mendes ...................................................... CONTO: Rotina – por Rozemar Messias ............................................................ CRÓNICA: A peleja do poeta – por Ronaldo Magalhães ................................. CRÓNICA: Críticas – por Lucinda Maria ......................................................... LIVROS: Ninguém Leva a Mal, Sinfonia de Amor, Bendita Manjedoura! LIVROS: Luz de Natal, Brisas de Outono, Sol de Inverno ......................... 3

005 007 009 019 026 028 032 052 056 061 064 168 071 073 087 100 102 115 119 122 124 126 127 128 130 132 133 134 135 136 138 141 142 144 146 149 153 155 158 160 164 174 179 188 193 197 202 206 209 215



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Isidro Sousa

Editor da SG MAG

sg.magazin@gmail.com https://issuu.com/sg.mag

EDITORIAL Apresentamos o 10º número deste Magazine Literário, uma publicação Sui Generis que se encontra ao dispor da Lusofonia. A presente edição dá especial atenção, como sugere a capa, à temática do Carnaval, que se festejou durante o primeiro trimestre deste ano. A imagem da capa poderia sugerir uma sátira à Pandemia que acabou de afectar o Mundo inteiro, obrigando as pessoas a usar máscaras, mas não, não é... a imagem da capa apresenta mesmo uma máscara de Carnaval e a edição é, de facto, dedicada ao tema do Carnaval. E o longo espaço ocorrido entre a data dos festejos da festa carnavalesca e a apresentação desta edição, deve-se, em parte, ao período de quarentena, ou confinamento obrigatório, que levou à interrupção / paragem forçada de todas as actividades. Sobre o tema da edição, apresentamos um texto detalhado sobre a história do Carnaval ao longo dos tempos, nas páginas 73-84, que já servira de prefácio ao livro Ninguém Leva a Mal, em foco nesta edição. Incluímos igualmente um caderno de poesia carnavalesca e algumas estórias com o mesmo tema. Destacamos ainda a nova antologia da Colecção Sui Generis, Brisas de Outono, com o merecido destaque dos 65 autores que a integram noutras partes da revista. Sem olvidar os textos, de temas variados, espalhados ao longo da edição: contos, minicontos, cartas, crónicas, opinião e poemas. Agradecemos todas as contribuições que tornaram possível esta edição e marcamos encontro na próxima. Até lá... boas leituras! 

SG MAG – Magazine Literário Ano 3 – Edição Nº 10 – Março 2020 Editor e Director: Isidro Sousa Revisão e Paginação: Ricardo Solano Periodicidade: Trimestral ISSN: 2183-9573 Redacção e Publicidade: sg.magazin@gmail.com Endereço na Internet: https://issuu.com/sg.mag Colaboração nesta Edição: Alexandra Patrocínio, Ana Martins, Antônio C. S. Santos, Armindo Gonçalves, Clau Mendes, Cristina Sequeira, David Sousa, Dias Campos, Domingos Bala, Erick Bernardes, Isabel Martins, Isidro Sousa, Janice Reis Morais, Joyce Lima, Jorge Pincoruja, Julizar Dantas, Lira Vargas, Leandro Sousa, Lucinda Maria, Luiz Roberto Judice, Macvildo Bonde, Manuel Amaro Mendonça, Maria Angélica Rocha Fernandes, Maria de Fátima Soares, Marisa Luciana Alves, Mary Rosas, Maurício Cavalheiro, Mikael Mansur Martinelli, Natália Vale, Oceano Albuquerque, Paula Homem, Ricardo Solano, Rita Queiroz, Rogério Dias Dezidério, Ronaldo Magalhães, Rosa Marques, Roselena de Fátima Nunes Fagundes, Rozemar Messias, Sandra Boveto, Tiago Sousa, Tauã Lima Verdan, Thiago Guimarães Corrêa.

5 são da exclusiva responsabilidade dos autores que os assinam; Os textos publicados os conceitos emitidos pelos autores não traduzem necessariamente a opinião da revista.



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CRÓNICA

A EXPLOSÃO POR MAURÍCIO CAVALHEIRO Titular da cadeira nº 30 da Academia Pindamonhangabense de Letras

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– Agendou holálio? Ri, ri, ri, ri, ri! – Não, senhor. – Nom plecisava mesmo. Ri, ri, ri, ri, ri. Abriu a porta e a convidou para entrar. Levoua ao cubículo onde havia maca. Ordenou que tirasse roupa, objetos de metal, e se deitasse. – Volto já, já. Ri, ri, ri, ri, ri. Quando a mulher se deitou, pelo menos duas arrobas despencaram de cada lado, para fora da maca. Ao vê-lo retornar com agulhas, observou: – Doutor, o senhor não perguntou qual o meu problema. – Nom plecisa. Aqui o tlatamento é completo. Ri, ri, ri, ri, ri. Inaugurou as espetadas antes que ela pudesse objetar. Entre uma agulhada e outra, os risos se sucediam. – O senhor está rindo da minha cara, doutor? – Craro que nom. Craro que nom. Ri, ri, ri, ri, ri. E continuou espetando cabeça, tronco e membros, reservando um espaço significativo na barriga abaloada. – Agola, a agulha ninja. A glandona. Na baliguinha. Ri, ri, ri, ri, ri. Ao introduzir o fio de aço no continente adiposo, ouviu-se uma grande explosão. – Pooooow! As paredes tremeram. A mulher soltou um grito de pavor e desfaleceu. O homem saiu correndo do estabelecimento e foi até o carro. Sua suspeita se confirmara: a calibragem fora demasiada para o pneu careca. 

emanalmente, a rechonchuda entrava na farmácia com rol quilométrico nas mãos trêmulas, empurrando carrinho de supermercado. Farmacêutico que se aventurasse em atendê-la precisava ter paciência de Jó, pois, entre um pedido e outro, pormenorizava sintomas, chorava, gemia, sentia falta de ar. – Me segura que vou ter um troço! Certa vez, quase foi presa por atentado ao pudor quando levantou o vestido para mostrar a manchinha que aparecera na região glútea. Suspeitaram da falta de asseio: banho de gato, ou da falta dele. A morrinha justificava a desconfiança. Num desses tours farmacêuticos, encontrou um cartãozinho sobre o balcão: ACUPUNTURA Armando Agulhão (Novo endereço: atrás do cemitério) Indicações: Furúnculos, hemorróidas, verrugas, ansiedade, hipertensão, feiura, dores em geral No dia seguinte, lá estava ela atrás do cemitério. Por ser muito cedo, o estabelecimento estava fechado. Decidiu esperar engolindo alguns ansiolíticos. Meia hora depois, após estacionar o carro jogue-me-no-lixo-por-favor, o senhor de longa idade se dirigiu a ela. Havia fita adesiva no canto dos olhos dele, puxando as pálpebras para trás, na vã tentativa de se parecer nipônico. Arrematava frases com risinhos irritantes. 7



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CONTO

INÁCIO MANUEL AMARO MENDONÇA Nasceu em 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, onde vive. É licenciado em Engenharia de Sistemas Multimédia pelo ISLA de Gaia e autor de três livros editados e distribuídos pela Amazon: «Terras de Xisto e Outras Histórias» (2015), «Lágrimas no Rio» (2016) e «Daqueles Além Marão» (2017). Ganhou prémios em três concursos de escrita e tem contos seleccionados em quase duas dezenas de obras colectivas, de diversas editoras. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Saloios & Caipiras» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Crimes Sem Rosto» (2017), «Sol de Inverno» (2019) e «Bendita Manjedoura! (2019). Blogue do Autor: http://manuelamaro.wixsite.com/autor Perfil no Facebook: www.facebook.com/manuel.amarome ndonca

“O mortiço sol de inverno parecia apostado em ferir-lhe os olhos, através das lentes coloridas, enquanto se arrastava pela calçada, em direção ao emprego, de que estava farto. Não tomara banho, nem desfizera a barba... não conseguira convencer-se a entrar no chuveiro, mesmo sabendo que se iria sentir melhor. Parou no pequeno quiosque da esquina e não precisou de pedir o maço de tabaco, pois este foi de imediato colocado em cima do balcão, pela mulher rechonchuda, de ar maternal.”

POR MANUEL AMARO MENDONÇA

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– Bom dia, Inácio. – Sorriu-lhe de trás do balcão. Oscilante, procurou nos bolsos o dinheiro para o tabaco, que contou na mão direita. Sem responder, mas esboçando um sorriso que mais parecia um esgar, pousou as moedas em cima do balcão enquanto grasnava: – Dê-me uma raspadinha de um euro. Quem sabe se a minha sorte não mudou de ontem para hoje. Com um ar de reprovação, a mulher pousou o impresso sobre o maço de cigarros. Recolheu as moedas, sem contar, mesmo sabendo que não eram suficientes, enquanto perguntava: – Foste para as cartas ontem, outra vez, não foste? A raspar o impresso, ele deitou-lhe um olhar de soslaio enquanto respondia: – Que quer, mãe? Já sabe como eu sou... – Perdeste muito? – Ela tinha lágrimas nos olhos. – O costume... demasiado.

nácio olhou para o espelho. Havia um rosto cansado e macilento, com olheiras profundas e barba por cortar. Sentia-se a mais miserável das criaturas, quando atirou a água fria para a cara, numa vã tentativa de expulsar os vapores do álcool do dia anterior. Abandonou a toalha descuidadamente em cima do lavatório e tropeçou para fora da casa de banho. O mortiço sol de inverno parecia apostado em ferir-lhe os olhos, através das lentes coloridas, enquanto se arrastava pela calçada, em direção ao emprego, de que estava farto. Não tomara banho, nem desfizera a barba... não conseguira convencer-se a entrar no chuveiro, mesmo sabendo que se iria sentir melhor. Parou no pequeno quiosque da esquina e não precisou de pedir o maço de tabaco, pois este foi de imediato colocado em cima do balcão, pela mulher rechonchuda, de ar maternal. 11


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– Meu filho... não ganhas juízo, valha-te Deus. Que queres fazer da tua vida? Ele atirou raivosamente com a raspadinha inútil para o chão, mesmo ao lado do cesto dos papéis. – Recebi o ordenado anteontem e já f** tudo. – Lamentou-se. – Parecia estar a correr tão bem. Tinha duplicado o dinheiro, mas, de repente, foi como me fizessem um mau-olhado e não ganhei mais... foi-se o relógio também... Não vou conseguir pagar a prestação da casa outra vez. – A Alice já sabe? – Não... estava a dormir quando cheguei, e quando acordei já tinha saído para o trabalho... – Ele atirou-lhe com aquele olhar de criança perdida, que lhe recordava as tropelias que ela não conseguira castigar. – Meu filho, amo-te muito, mas não vou emprestar mais dinheiro. O rosto de Inácio transfigurou-se numa máscara de desdém. – Quem pediu dinheiro? – Vociferou. – Ias acabar por pedir. – A mãe tinha os olhos com lágrimas.

– Não te ponhas com choraminguices! – Gritou-lhe virando as costas enquanto tirava um cigarro do maço e o acendia, com as mãos trementes. – É por causa disso que até vou comprar o tabaco a outro lado! – Não, meu filho. – A mulher assoou-se ruidosamente. – Vens aqui quando não tens dinheiro que chegue. – Fez-se um silêncio pesado entre ambos, enquanto ela retorcia a revista que tinha sobre o balcão e tentava espreitar-lhe o rosto. – Como vais fazer então?

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– Não sei. – Inácio soltou uma baforada, sem se voltar, o olhar perdido na avenida que se estendia à sua frente. – Pedi um adiantamento no emprego, no mês passado. Não posso pedir outra vez. – Já te emprestei mais de mil euros, meu filho. Que pensas fazer da tua vida? Eu não sou rica! – Vais-me atirar com isso à cara, agora? – Inácio voltou-se de repente, erguendo os braços em impotência. – Que queres que faça? A sorte não me ajuda! Olha que já ganhei muito dinheiro às cartas... – Nunca vi nenhum! – Respondeu a mãe amargamente, enquanto abria a máquina registadora. – Quanto precisas para a renda da casa? Ele atirou-se sobre o balcão e deu-lhe dois sonoros beijos no rosto, mas quando tentou chegar à caixa, foi uma palmada decidida que lhe estalou na mão. – São trezentos e oitenta “paus” do mês passa-

do e outro tanto deste mês. – Sorriu divertido, fingindo-se envergonhado, enquanto esfregava a manápula. – Tens aqui quatrocentos, vai pagar o do mês passado, antes que te tirem a casa. – Ela pousou

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– Deixa-te disso! Nunca gostaste dela! – Nunca gostei do aspeto dela, é verdade, de saia curta e sempre pintada, se tem marido em casa não precisa de se arranjar como se andasse “à caça”. – A mulher apontou o dedo acusador ao filho. – Mas ela e o emprego mal pago que tem é o que vos tem valido para corrigir os teus constantes desatinos! Se te ajudo, não é por ti, nem por ela, é para o meu netinho, que vai passar necessidades se vocês não tiverem dinheiro. – Oh, pá, pronto, vai começar a ladainha. Vou-me embora, que vou chegar atrasado ao trabalho. – Não te dou mais dinheiro, ouviste? – A matriarca gritou-lhe enquanto ele se afastava. – Sim, sim, ouvi! Até pode ser que hoje já não precise dele! – Ele parou junto da passadeira. – Posso ter sorte! – Ah, bandalho, que dás cabo de mim! – Gritou a mãe. – Só levas o da renda deste mês quando vier cá a Alice dizer-me que está pago o atrasado, ouviste? – A Alice, não sei onde para. – Inácio respondeu, com uma expressão revoltada, antes de se afastar em passos largos. – Foi-se embora na semana passada e não voltou mais. 

as notas em cima do balcão, sentindo-se imensamente velha. – A culpa de seres como és, é principalmente minha. Sempre tentei esconder as tuas velhacarias do teu pai, pobre coitado, que se matou a trabalhar. – Deixa lá estar o velhote sossegado. – O homem fez uma careta. – Podia ser muito trabalhador, mas as mãos não eram para fazer carícias, mas para me moerem o lombo. – Nunca tas deu que as não merecesses! – Ela defendeu o marido com ardor. – E não levaste mais porque escondi eu muita coisa e tirei dinheiro de casa para pagar os teus estragos. Nunca fizeste por melhorar, tentavas corrigir uma patifaria com outra ainda maior. Agora que deixaste os bandidos dos teus amigos, gastas o que tens e o que não tens, em cerveja, tabaco e jogo! – Ora, mãe, deixa-me! Pareces a porra da Alice, sempre a moer-me o juízo! – Ele contou as notas de vinte euros e meteu-as ao bolso, com um sorriso de satisfação. – Essa pobre criança também tem sofrido bastante nas tuas mãos... – Por uns instantes, o aspeto maternal tornou ao rosto dela.

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Cristina Sequeira é coautora de Torrente de Paixões (2017), A Primavera dos Sorrisos (2017), Sinfonia de Amor (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).


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CONTO

FESTA DE DESENLACE MARIA ANGÉLICA ROCHA FERNANDES Natural de Caculé, Bahia, Brasil, nascida em 1972, é Doutoranda em Educação – UFRJ, Professora de Literatura da UNEB, Brumado, BA, e em Caculé, BA, e Mestre e Especialista em Literaturas. Publicou dois livros, artigos, capítulos em periódicos, contos e poesias em obras colectivas. É membro da Confraria Poética Feminina e participa no grupo de pesquisa CINEAD/LECAV com a Professora Dra. Adriana Fresquet. Participações em antologias Sui Generis: «Luz de Natal» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/mariaange lica.fernandes.5

“Resolveram as três mulheres festejar os desenlaces. A bebida? Champanhe. Para brindar a liberdade tardia, mas ainda em tempo de gozo. Clube da Capadócia, 20h, 07 de abril de 2009. As três mulheres, Maria Antonieta esfaqueada no ventre, com lágrimas ainda úmidas, Cleofina decepado o pescoço com marcas de luta nas mãos, Cleópatra com um tiro no peito. O padre chegou a tempo de fazer a extremaunção dos cadáveres.”

POR MARIA ANGÉLICA ROCHA FERNANDES

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M

aria Antonieta, Cleofina e Cleópatra organizaram a cena festejante dos desenlaces. Sem importâncias políticas, mas relevantes para a matriz social da tradição do pequeno lugar. Cleofina casou-se com toda pompa inerente à classe que advinha, ela e Leonardo Pompeu se amavam, ou pelo menos queria acreditar. Tão linda moça, loira, magra, educada – a inspiração barbiana com o tosco e rude Pompeu, que lhe atentava docemente entre “tapas e beijos” sem contrariar a gene preponderante da indocilidade. Tiveram uma menina, quem sabe esse rebento acalmaria o desconcerto de uma farsa anunciada e profética – não acalmou! A violência alardeava nos becos e nas esquinas. O sofrimento da moça bela, rica, educada não era discreto, mas ela lavava, cozinhava, amava e ficava tristemente mais bela. Resolveu então, ou resolveram por ela, separar-se. Ele? Já dormia com outras desclassificadas

como tantas outras que teve, como tantas outras putas tristes. Não era um cavalo na porteira, cavalos desenvolvem afetos. Cleópatra era morena, alta, quase puta, quase alcoólatra, quase bonita, já mãe, casou-se com Adamastor, também quase bonito, quase pai, quase homem (dizem as más línguas). Viveram infelizes alguns anos, entre boatos de adultério dela, homossexualidade dele, engravidaram de um varão. Ambos bebiam álcool abundantemente, os vizinhos e empregados escutavam as obscenidades dos conflitos, mas ela pedia à mãe para cantar ladainhas, porém ela caminhava de camisola nas ruas quando, na sua voracidade animal oculta, o esposo prometia-lhe matar a facadas, surrar, difamar ainda mais. Separaram-se! Quem, não se sabe, mas de repente, não mais que de repente, ele já dançava com outra meigamente os forrós. Ele tornou-se um santo, homem de bem, “bom homem”, bom amigo, bom padrasto, bom todo. Po20


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rém esqueceu-se de no dia dos pais comemorar com seu filho. Estava “feliz” demais para essa banalidade. Ela sofreu um pouco (ou não), mas foi tratar de ser feliz sem a embriaguez costumeira, arranjou um namorado mais ou menos, ou menos. Maria Antonieta coitada, nem feia, nem bonita, nem burra, nem inteligente, mas acreditavam-na intelectual, no auge do horário do amor e da fertilidade casou-se com Emógenes – mal criado, mal visto, mentiroso competente – tanto que fê-la crer em um adestramento possível. Vestiu o marido com novas roupas, até terno e gravata ele soube vestir, mas não lhe cabiam, arrumoulhe uma casa, mas nunca conseguiu arrumar-lhe o desejado lar. Emprenhou-se, quase sozinha, nunca

esse marido desgraçado acompanhou-lhe em seus doces sonhos, nunca foi-lhe companheiro, questionou-lhe a paternidade da inquestionável barriga, ela era besta demais para isso. Nasceu-lhes a menina, e a mulher desassossegava dia e noite, ele roçava indecentemente nas cozinheiras, ia atrás das putas mais sujas e feias da cidade, que ainda zombavam da esposa, as fétidas vadias “regalavam” com o marido dela. Humilhou-a nessa imundície fedorenta, a mulher que dizia amar em raros momentos de interesses sórdidos. Era um saruê, um rato. Ele deixou a casa, teve a iniciativa da separação, quis voltar. Ela enfeiou, engordou um tanto, mas ria e dançava como há muito não podia. Resolveram as três mulheres festejar os desenlaces. A bebida? Champanhe. Para brindar a liberdade tardia, mas ainda em tempo de gozo. Clube da Capadócia, 20h, 07 de abril de 2009. As três mulheres, Maria Antonieta esfaqueada no ventre, com lágrimas ainda úmidas, Cleofina decepado o pescoço com marcas de luta nas mãos, Cleópatra com um tiro no peito. O padre chegou a tempo de fazer a extrema-unção dos cadáveres. Leonardo Pompeu teve a amante de álibi, Adamastor fugiu com sua fogosa e devassa esposa e Emógenes teve seu corpo molestado e jogado na lagoa, no epílogo propício para seus feitos! 

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LANÇAMENTO

BRISAS DE

OUTONO Antologia literária reúne contos, crónicas, cartas e poesias de 65 autores lusófonos. Organizada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis.

Brisas de Outono é uma obra colectiva organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada com a chancela Euedito. Reúne, ao longo de 230 páginas, contos, crónicas, cartas e poesias de 65 autores lusófonos – de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde – dedicados ao Outono, e é a terceira de um conjunto de quatro antologias da Colecção Sui Generis que se dedicam a cada uma das estações do ano, sendo esta consagrada ao Outono, estação que surge logo depois do Verão e antecede o Inverno, preparando a vinda da estação mais fria. Eis os nomes dos 65 autores que a integram, por ordem alfabética: Adelina Santos, Adriano Lisboa, Amélia M. Henriques, Ana Campos, Ana Isabel Herédia, Ana Maria Dias, Anderson F. D. Souza, Anna Civolani, Auriza Vieira Monteiro, Caio Sena, Cleusa Piovesan, Cristina Sequeira, Daio Alberto Marques, David Sousa, Diamantino Bártolo, Edson Almeida Coimbra, Fátima d’Oliveira, Gina Maria, Guadalupe Navarro, Helô Silva, Isabel Martins, Isidro Sousa, Ivanildo Sales, Janice Reis Morais, José Duarte, José Teixeira, Julia de Sousa Dias, Julizar

Dantas, Kopyfield, Leila Alves, Lin Quintino, Lira Vargas, Lucinda Maria, Lurdes Bernardo, Magda Brazinha, Marcos Marinho, Maria Angélica Rocha Fernandes, Maria de Fátima Soares, Maria dos Santos, Maria Eloina Avila, Maria Esmeriz-Thomas, Maria João Abreu, Marisa Luciana Alves, Mary Rosas, Melania Ludwig, Mitro Vorga, Mônica Gomes, Mwele Y’Osapi, Neusa Canabarro, Olímpia Gravouil, Paula Homem, Rodrigo Mendes, Rosa Carvalho, Rosa Lídia Santos, Rosa Marques, Rossana Jansen, Rozz Messias, Ruthy Neves, Sara Timóteo, Selva Alves, Simone Fontarigo, Tauã Lima Verdan Rangel, Teresa Faria, Tiago Sousa, Ziney Santos Moreira. Esta obra literária está à venda na livraria Euedito e pode ser adquirida à Sui Generis, pelo email abaixo indicado e pelo Messenger, através das páginas na rede Facebook. Pode também ser encontrada na Libros.cc, na Amazon, na Casa del Livro, na loja online do El Corte Inglés e em algumas outras plataformas de distribuição digital.  Brisas de Outono – Antologia Lusófona. Vários Autores. Organização e Coordenação Isidro Sousa. Colecção Sui Generis, Euedito. ISBN 978-989-8983-21-3. 1ª Edição: Outubro 2019. Depósito Legal: 462961/19. Pedidos pelo email: letras.suigeneris@gmail.com

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APRESENTAÇÃO

BRISAS DE OUTONO “O Outono é caracterizado pelo declínio gradual nas temperaturas e pelo amarelar e início da queda das folhas das árvores, ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou três livros de contos e novelas: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios».

indicando a passagem de estações, excepto nas regiões equatoriais, ou seja, nas áreas contíguas ao Equador, a linha imaginária ao redor do Planeta, ou cintura da Terra, que está a meio caminho entre o Pólo Norte e o Pólo Sul, a zero graus de latitude. É precisamente esse Equador que divide o (nosso) globo terrestre em Hemisfério Norte e Hemisfério Sul, o que faz irromper, em cada um deles, as estações anuais em tempos diferentes.

Páginas no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.1 www.facebook.com/isidro.sousa.2 Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.com

Desse modo, em Portugal, o nosso país, situado no Hemisfério Norte, o Outono inicia em Setembro e termina em Dezembro e é designado de Outono Boreal, enquanto nos países do Hemisfério Sul ocorre entre os meses de Março e Junho e é chamado de Outono Austral.” POR ISIDRO SOUSA 28


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presentamos a terceira de um conjunto de rísticas são a queda das folhas das árvores, as suas quatro antologias da Colecção Sui Generis nuances amarelas, castanhas e vermelhas, o tom que se dedicam a cada cinza do céu, modificações reuma das estações do ano, senpentinas do clima (com período esta consagrada ao Outodos de chuva e névoas em alIndependentemente do Heno, estação que surge logo deguns locais) e frutos amadurepois do Verão e antecede o Incidos que, deste modo, pesam misfério em que desponte, verno, preparando a vinda da nos galhos e caem sobre a tero Outono é a estação que estação mais fria. O Outono é ra. A propósito, convém não mais se associa à melancocaracterizado pelo declínio olvidar que o Outono é a épogradual nas temperaturas e ca propícia para as colheitas lia, à nostalgia, ao declínio pelo amarelar e início da quepois detém propriedades tanda existência, já que alguda das folhas das árvores, into do Verão quanto do Invermas das suas principais dicando a passagem de estano, por realizar entre ambos ções, excepto nas regiões uma ponte transitória, trazencaracterísticas são a queda equatoriais, ou seja, nas áreas do novas formas e sabores. das folhas das árvores, contíguas ao Equador, a linha Além dos frutos maduros (noas suas nuances amarelas, imaginária ao redor do Planezes, castanhas, avelãs, entre ta, ou cintura da Terra, que outros) que caem das árvores castanhas e vermelhas, o está a meio caminho entre o para o solo, surgem também, tom cinza do céu, modificaPólo Norte e o Pólo Sul, a zero por exemplo, cogumelos de ções repentinas do clima graus de latitude. É precisavárias formas, tamanhos e comente esse Equador que divires por entre as folhas que as (com períodos de chuva de o (nosso) globo terrestre árvores já deixaram cair... e névoas em alguns locais) em Hemisfério Norte e HemisPoeticamente, o Outono e frutos amadurecidos que, fério Sul, o que faz irromper, marca as etapas de transforem cada um deles, as estações mação da vida, a reciclagem deste modo, pesam nos anuais em tempos diferentes. dos elementos da Natureza e galhos e caem sobre a Desse modo, em Portugal, o também das emoções humaterra. A propósito, convém nosso país, situado no Hemisnas. Nesta estação de transifério Norte, o Outono inicia ção entre o calor e o frio, que não olvidar que o Outono em Setembro e termina em se completa no Inverno (quané a época propícia para as Dezembro e é designado de do se sente a falta de hibercolheitas pois detém proOutono Boreal, enquanto nos nar), as pessoas vão-se torpaíses do Hemisfério Sul ocornando mais introspectivas e priedades tanto do Verão re entre os meses de Março e desejosas de se abrigar nos quanto do Inverno, por reaJunho e é chamado de Outono seus refúgios, inclinando-se a lizar entre ambos uma ponAustral. buscar a meditação. As noites Independentemente do retornam mais cedo e são húte transitória, trazendo noHemisfério em que desponte, midas, frescas ou mesmo frivas formas e sabores. o Outono é a estação que as, requerendo outros hábimais se associa à melancolia, à tos, como a procura de alinostalgia, ao declínio da exismentos quentes, ambientes tência, já que algumas das suas principais caractecalorosos e banhos mais aquecidos e longos. E

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dormir transforma-se num ritual, pois as pessoas envolvem-se em agasalhos, mantas e cobertores abundantes...

É justamente na terceira das quatro estações que se inspiram (ou ambientam) os variadíssimos textos, em prosa e poesia, incluídos ao longo das 30


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230 páginas deste livro intitulado Brisas de Outono, redigidos por 65 autores lusófonos contemporâneos, de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde e Moçambique. E deixo nas vossas mãos uma belíssima obra literária sobre o Outono que surge na sequência de outras duas obras já publicadas, dedicadas a outras duas estações, A Primavera dos Sorrisos (2017) e Sol de Inverno (2019), e que, tal como as anteriores, proporcionará leituras agradáveis e prazenteiras. 

Pode adquirir o livro Brisas de Outono na livraria online Euedito ou, se preferir, pode solicitá-lo directamente à Sui Generis (temos exemplares disponíveis para envio imediato, com desconto de 10% no PVP e oferta dos portes de envio para moradas portuguesas). Encomendas à Sui Generis devem ser feitas através do Messenger, na rede social Facebook, ou pelo email: letras.suigeneris@gmail.com Este livro pode também ser encontrado na Amazon, na Libros.cc, na Casa del Livro, na loja online El Corte Inglés e noutras plataformas de distribuição digital.

Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Brisas de Outono (Sui Generis, 2019).

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ANTOLOGIA «BRISAS DE OUTONO»

65 AUTORES

LUSÓFONOS BREVE NOTA BIOGRÁFICA DE TODOS OS AUTORES

ADELINA SANTOS – Natural de Jovim, Gondomar, onde reside e trabalha. Cedo se apaixonou pelas letras e pela música, mas a poesia é uma grande paixão, a par da História e das tradições dos seus antepassados; neste sentido escreveu o seu primeiro livro dedicado ao tempo dos seus avós. Pu-

blicou dois livros: «Bocados de Mim» (Lugar da Palavra, 2015) e «A Nudez das Palavras» (Mimos e Livros, 2019). Tem participado em diversas antologias poéticas do Grupo Poesia da Beira Rio, Solar de Poetas, Vieira da Silva, Chiado Editores, Mimos e Livros, entre outras. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). ADRIANO LISBOA – Nasceu em 1964 em Lisboa, onde reside. Frequentou Línguas e Literaturas Modernas na FL/UL com o objectivo principal de saber o que ler e pensa que resultou. Profissionalmente, dedica-se, entre outros, à pesquisa e escrita biográfica. Também colaborou com a coluna «Memórias da Cidade», no jornal Meia Hora. Voltou à sua escrita porque gosta de se ler e de pensar que outros partilham este gosto pelo seu trabalho. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). 32


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AMÉLIA M. HENRIQUES – Nasceu em 1963, em Espinho, onde reside. Os seus gostos e hobbies são, na maioria, de inclinação artística. Artista plástica, participa em várias exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro. É também artesã e faz parte do projecto-loja comunitária Artyspinho, destacando-se como ceramista e em joalharia com peças únicas. Formada em Línguas, fala quatro idiomas. Gosta de viajar, pratica natação e é fã de jazz. Publicou um livro de poesia: «Manta de Retalhos» (Artelogy, 2015). Participações em antologias Sui Generis: «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). ANA CAMPOS [foto em cima à direita] – Natural de Portalegre, nascida em 1962. Pintora, decoradora, radialista. Residente em Massamá, Sintra. Participações em antologias Sui Generis: «Fúria de Viver» (2017), «Crimes Sem Rosto» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017) e «Brisas de Outono» (2019).

de ensino, no Algarve e em Lisboa. Reside agora no Vimeiro, Lourinhã. Tem vindo a participar em antologias nacionais e lusófonas. Tem vários livros publicados, de contos infanto-juvenis e outros, crítica literária, ensaios, poesia e prosa poética. Participações em obras Sui Generis: «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Fúria de Viver» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018) e «Brisas de Outono» (2019).

ANA ISABEL HERÉDIA – Nasceu a 12 de Março de 1959, em Goa, e vive na Parede. Licenciada em História, colaborou em exposições, foi professora do 2º Ciclo e tem os cursos de Oficina do Conto, Escrever um Livro Infantil e Escrita Criativa. Colaborou em colectâneas de poesia lusófona e lusobrasileira e tem um conto infantil, «Guiomar e a Estrelinha», editado pela Artelogy. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

ANDERSON F. D. SOUZA – Brasileiro, nasceu no Verão do Hemisfério Sul no ano de 1987, em Maringá, PR, a “Cidade Canção”, onde reside até hoje. É graduado em Artes Visuais e estudante de Pedagogia. Tem como paixões desenhar, fotogra-

ANA MARIA DIAS – Nasceu em 1952, em Moçambique. É professora do 3º Ciclo e Secundário, aposentada. Leccionou em vários estabelecimentos

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far, cinema, compor músicas, tocar guitarra, ler e escrever. Co-autor da colectânea de horror «Contos Macabros – Demônios Internos, Mortes Demoníacas» da editora PenDragon, mantém um blogue, onde publica um pouco da sua arte, e tem uma página de humor e crítica no Facebook, com personagens de sua autoria. Diz que não domina a arte, é a arte que o domina, pois está sempre a imaginar e a criar coisas. Participações em obras Sui Generis (inicialmente com o nome Anderson Furtado): «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019).

Palmarejo, Cabo Verde. Com licenciatura em Sociologia e mestrado em Gestão de Recursos Humanos, é Auxiliar Administrativa. Em 2015 começou a escrever no wattpad, mas o seu interesse pela escrita é mais antigo. Apesar de não ter uma obra publicada fisicamente, considera-se escritora e pretende desenvolver melhor essa sua habilidade pela escrita, já que tem a mente bem fértil. Gosta de ver filmes e séries, ler e escrever. É muito caseira; prefere o cantinho da sua casa em vez de passear com os amigos. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

ANNA CIVOLANI [foto em cima] – Nasceu em Brasília (Brasil) e reside em Brescia (Itália). É a criadora do site «Antologias Abertas», que divulga selecções literárias, e actua profissionalmente como copidesque e tradutora, para manuscritos académicos e de ficção, em português e inglês. Publicou contos e poemas em antologias brasileiras e está encantada com a maternidade. Participações em antologias Sui Generis: «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas de Outono» (2019).

CAIO SENA – Nascido na cidade de Caucaia do estado do Ceará, Brasil, em 2002 – tem 17 anos de idade. Gosta de escrever poesias de amor, mas é versátil. O seu maior sonho é publicar uma obra de sua autoria; tem uma colectânea de poemas quase pronta. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). CLEUSA PIOVESAN [foto na página seguinte, à esquerda, em cima] – Nasceu em São João, PR, em 1967, reside em Capanema, PR, Brasil. Licenciada em Letras, Português/Inglês, e Pedagogia, Espe-

AURIZA VIEIRA MONTEIRO [foto em cima à direita] – Nascida em 1989, reside na Cidade da Praia,

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DAIO ALBERTO MARQUES – Nascido em 1993, é natural da província de Zambézia, distrito de Gurúè, Moçambique. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). DAVID SOUSA – Nasceu na Vila de Fânzeres, concelho de Gondomar (Porto), em 1929. Com o curso superior de Humanidades Clássicas e Filosofia, foi professor do então ensino liceal no Liceu Diogo Cão em Sá da Bandeira, Angola, e na Escola Profissional Artur de Paiva. Tem publicações de poesia e de prosa como e-book na Buboc, lançou o livro «O Canto do Cisne» (papel) na Sinapsis e tem uma coluna no Facebook intitulada Coisas do Caraças. Participações em antologias Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono»

cialista em Língua e Literatura, é autora dos livros «Não Diga Que a Poesia Está Perdida», «Fragmentos», «O Causo é Bão? Aí, Varria, Né!», «Haicaindo n’Alma»; e organizadora de dois livros com alunos: «Nossa Mágica Fábrica de Sonhos» e «Tipologias e Gêneros Textuais (Sob o Olhar do Aluno)». Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). CRISTINA SEQUEIRA [foto ao lado, à direita, em baixo] – Natural de Cinfães (distrito de Viseu), onde reside, nascida em 1972, é co-autora de várias obras colectivas da Sui Generis, Pastelaria Studios e Edições Colibri. Participações em antologias Sui Generis: «Torrente de Paixões» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). 35


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(2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). DIAMANTINO BÁRTOLO – Nascido em 1948, residente em Venade (Caminha), doutorado em Filosofia Social e Política. Obra literária: 13 antologias próprias e 42 antologias em co-edição em Portugal e no Brasil; mais de 900 artigos publicados em vários jornais, sites e blogues, portugueses, brasileiros, belgas e franceses. Prémios: vencedor do III Concurso Internacional de Prosa, Prémio Machado de Assis 2015, Divinópolis, Brasil; Prémio Fernando Pessoa de Honra e Mérito, Literarte. Cargos: presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal. Participações em antologias Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Saloios & Caipiras» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

Campos Gerais no Brasil, integrando a colectânea anual da academia. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). FÁTIMA D’OLIVEIRA [foto em baixo, nesta página] – Nasceu em 1970, na freguesia do Vale de Santarém (Portugal), onde reside. Sempre gostou muito de escrever e possui uma página no Facebook onde vai partilhando a sua actividade literária. Tem três livros editados: «Se Tu Visses o Que Eu Vi» (MG Editores, 2000), «Quando Um Burro Fala, o Outro Baixa as Orelhas» (Chiado Editora, 2010) e «‘Tás Com a Mosca ou Cheira-te a Palha?» (Chiado Editora, 2017). Participações em antologias Sui Generis: «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). GINA MARIA – Nasceu em 1968 na cidade de Lourenço Marques (Maputo), Moçambique, onde viveu até 1974, altura que veio para Portugal. Nos últimos anos encontra-se a residir nos arredores da cidade do Porto. É enfermeira de profissão, mas a paixão pela escrita nunca a abandonou desde os seus tempos de estudante. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

EDSON ALMEIDA COIMBRA – Nascido em 1963, reside na cidade de Santos, São Paulo, Brasil. Participa em concursos literários e antologias desde 1980, com diversos trabalhos publicados. Recentemente foi premiado pela Academia de Letras de

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«Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). ISABEL MARTINS [foto em baixo] – Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Reside em Palmela. Participações em antologias Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas

GUADALUPE NAVARRO [foto em cima] – Nascida em Lima, Peru, vive no Rio de Janeiro, Brasil. É bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com pós-graduação em Filosofia Contemporânea. Em 2014, publicou os seus primeiros poemas; em 2015, estreou-se na prosa com a sátira A Estátua de Sal, na antologia inaugural da Colecção Sui Generis. Publicou três livros: «Poemas da Alma» (Pastelaria Studios, 2015), «Decifra-me... ou Devoro-te!» (Sui Generis, 2017) e «Dolce Paola» (Dowslley Editora, 2019). Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Brisas de Outono» (2019), «Sol de Inverno» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

de Outono (2019). ISIDRO SOUSA – Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo (Moimenta da Beira), viveu em Lisboa durante 19 anos e regressou, em 2017, ao Porto, onde já residira entre 1994-1998. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em 2001, trabalhou para três editoras, participou em variadíssimas obras colectivas (em Portugal e Brasil), foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que instituiu em Dezembro de 2015. Presentemente, dirige a revista SG MAG, fundada em Janeiro de 2017. Tem duas dezenas de antologias organizadas e três livros publicados: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios».

HELÔ SILVA – Tem 55 anos, é natural de São Paulo, Brasil, onde reside. Amante da literatura e de todas as artes, escreve desde criança. Por um tempo abandonou esse amor, mas agora segue fazendo o que gosta, participando em algumas antologias sempre que possível. Escreve o que a sua alma dita! Participações em obras Sui Generis: 37



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IVANILDO SALES [foto na página anterior] – Nasceu em Caruaru, PE, Brasil, no ano de 1982. É amante das artes. Adora ler livros sobre Filosofia, Relacionamentos Humanos e Teatro. Aluno de teatro no SESC-Caruaru e na Cia Olhares. Escreve as suas poesias sempre que possível, nas suas redes sociais. A sua inspiração para escrever vem do seu dia-a-dia e do seu poder de observação ao comportamento das pessoas e às belezas da Natureza que o cercam. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). JOSÉ TEIXEIRA [foto em baixo] – Nasceu na GuinéBissau, em 1950. Licenciou-se em Relações Internacionais Culturais e Políticas, pela Universidade do Minho, em Braga, cidade onde reside presentemente. Livros publicados: «O Espantalho Simão» (Chiado Editora, 2015), «A Fada Dentinho» (Sítio do Livro, 2015), «A Sereia Luana» (Euedito, 2016) e «Moçambique, Norte Sangrento» (Euedito, 2016). Nome completo: José Augusto Patrício Teixeira. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «SextaFeira 13» (2017) e «Brisas de Outono» (2019).

JANICE REIS MORAIS – Mineira de Conselheiro Lafaiete (Minas Gerais, Brasil), nascida em 1966, é sócio-fundadora da AMAR (Ponto de Cultura AMAR). Desde 2015, participa na «Antologia Lafaiete em Prosa e Verso». Homenageou as Violas de Queluz (Património Imaterial da sua cidade) na revista Contos e Letras – Especial Bienal 2018, colaborou com as revistas literárias SG MAG #08 e Evidenciarte #04 e #05 e participa em diversas obras colectivas no Brasil e em Portugal. Participações em antologias Sui Generis: «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). JOSÉ DUARTE – Nascido em 1975, em Lisboa, reside actualmente em São Domingos de Rana, Cascais. Em 1997 adopta o pseudónimo António Santiago para participar num concurso de quadras populares (Festas de São João) organizado pela Câmara Municipal de Almada. Mas é no ano de 2015 que se estreia verdadeiramente no campo literário – na antologia inaugural da Colecção Sui Generis. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Vendaval de Emoções» (2016), «Luz de Natal» (2018), «Sol

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JULIA DE SOUSA DIAS [foto em baixo] – Nasceu em 1998, no estado do Rio de Janeiro, Brasil. Reside actualmente no estado de São Paulo com a sua família, sendo também cidadã portuguesa. Estudante de Psicologia, tem como hobby principal a leitura e como inspiração os grandes clássicos do horror, terror e ficção científica. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). JULIZAR DANTAS [foto em cima, à direita] – Nasceu na Fazenda Estrela do Sul em Nova Módica, MG, Brasil, 1953. À procura de um Belo Horizonte, estudou Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais. Diz-nos que “aqui vive um cardiologis-

ta, a navegar esta vida oceânica e confiar que, em terra fértil e semente boa, as nossas mãos, corpos e espíritos são só poesia, são poesia só”. Aprendeu com Pablo Neruda que “escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias”. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). KOPYFIELD – Pseudónimo de Artur de Jesus Campos Mendes, 62 anos, nado e criado em Penafiel, escritor/ poeta, co-autor de várias antologias poéticas, autor do livro de poesia «Eco» e prémio anual 2018 da editora Hórus. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). LEILA ALVES – Brasileira, nasceu em 1961, sendo natural de Paudalho, PE, e residente em Recife. Poeta e contista, publicou um livro solo de poesias em 1981: «Lado Selvagem». Participou em várias antologias poéticas. Actualmente, é membro efectivo das academias virtuais ACILBRAS e ALB e membro da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas. Participações em antologias Sui 40


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Generis: «Brisas de Outono» (2019).

(2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018), «Luz de Natal» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019).

LIN QUINTINO – Poeta, escritora, professora e psicóloga, nasceu em 1952, é natural de Bom Despacho, MG, mora em BH/MG, Brasil. Participa em academias de letras e escreve em diversos sites e blogues de poesia. Participou em várias colectâneas nacionais e internacionais. É autora de nove livros de poemas. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). LIRA VARGAS – Brasileira. Tem 16 obras publicadas e participações em movimentos literários no Brasil e Miami e em Feiras de Livros, televisões e rádios. Com certificados. Classificações em festivais de poesias e contos. Dois títulos na Biblioteca de Dambory NY e dois em Miami FL. Participações em antologias Sui Generis: «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas de Outono» (2019).

LURDES BERNARDO – Nasceu em 1962 numa aldeia transmontana, Fornelos, concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, onde passou a sua infância. Aos 11 anos foi para Vila Real, onde concluiu apenas o 9º ano de escolaridade. Contudo, não se lamenta da vida. Foi para Lisboa com 19 anos, casou em 1983 e mora em Sacavém, onde constituiu família e trabalha numa pequena empresa familiar. Lançou um livro de poesia, «Trevo da Alma» (2019), e participou em algumas obras colectivas. Participações em antologias Sui Generis: «Luz de Natal» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). MAGDA BRAZINHA – Natural de Sesimbra, nasceu em 1951 e frequentou a escola até ao antigo 5º ano (actual 9º ano). Foi mãe aos 16 anos; deixou, portanto, de estudar e começou a trabalhar: primeiro num talho como caixa, depois no Hotel do Mar em Sesimbra, mais tarde em Lisboa, na Cruz Vermelha Portuguesa, como Auxiliar de Saúde. Reformou-se aos 56 anos e começou a escrever. Sempre escreveu, mas sem ter noção de que não escrevia mal. Foi convidada para várias páginas de poesia e assim começou o seu curto percurso nesta saga que adora: escrever e perceber que gostam do que escreve. Neste momento toma conta do seu netinho de 11 anos, vai ao ginásio, à praia e dando uns passeios por aí, para tirar fotos, outro dos seus prazeres. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

LUCINDA MARIA [foto em cima] – Nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» 41


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sa e outras. Concedeu algumas entrevistas em rádios nacionais e a revistas do Brasil, onde é membro honorário de várias Academias de Letras. Escreveu nalgumas colunas brasileiras e colaborou semanalmente com jornais nacionais. Recebeu vários prémios de poesia ao longo do seu trajecto literário. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). MARCOS MARINHO [foto em cima] – Nascido em 1979 na cidade de Manaus, capital do Amazonas, Brasil, é oficial da Polícia Militar do Amazonas e autor da obra «Vida em Coturno: Cotidiano Policial Militar e Outras Coisas em Poesia». Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

MARIA DOS SANTOS – Natural de São Pedro da Cova, Gondomar, nascida em 1950, reside na Maia e é licenciada pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dedica-se à escrita desde 1976, à fotografia, e à pintura numa fase mais tardia. Tem oito títulos publicados, sendo três (de poesia) em regime de co-autoria. De sua autoria: «Reflexos» (1975), «Despertar» (1976), «Trinta Anos de Silêncio» (2015), «Vesti as Palavras»

MARIA ANGÉLICA ROCHA FERNANDES – Natural de Caculé (Bahia, Brasil), nascida em 1972, é Doutoranda em Educação – UFRJ, Professora de Literatura da UNEB, Brumado, BA, e em Caculé, BA, e Mestre e Especialista em Literaturas. Publicou dois livros, artigos, capítulos em periódicos, contos e poesias em colectâneas. É membro da Confraria Poética Feminina e participa no grupo de pesquisa CINEAD/LECAV, com a Professora Dra. Adriana Fresquet. Participações em obras Sui Generis: «Luz de Natal» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). MARIA DE FÁTIMA SOARES [foto em baixo, à direita] – Nasceu em Lisboa, em 1956. Publicou, até hoje, 14 livros (poesia, infantil/juvenil, ficção e romance), tendo o grato privilégio de ver aprovados os seus projectos por várias editoras, sendo a sua apresentação feita em locais de culto, como a Biblioteca Camões, Livraria Bertrand, Bulho42


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(2016), «Um Braçado de Estrofes» (2018), «Os Meus Sobrinhos e Eu» (2018), «Qualquer Vida Poderá Dar Um Filme» (a sair) e «Insónias Produtivas» (em elaboração). Em co-autoria: «Seis Ruas de Inspiração» (2016), «Dois Sentires» (2016) e «Entre Murmúrios» (2017). Desde 2014, participa em colectâneas e/ou antologias: colaborou em 37 obras colectivas. Participações em antologias Sui Generis (nalgumas com o pseudónimo Maria Lascasas): «Tempo de Magia» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas de Outono» (2019).

linda terra prometida, um sonho de vida, e rumou a Portugal, com a sua família, onde viveram 23 anos no Barreiro, e desde então em Setúbal, cidade de encantos tamanhos, onde reside actualmente. «O que me abona são palavras de alma, que a melodia do silêncio toca, em sons que meu coração ocupa.» Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). MARISA LUCIANA ALVES [foto em baixo] – Nascida em 1976, em Vinhais, reside em Bragança. É professora de Português-Inglês e Mestre em Literatura Portuguesa. Publicou cinco livros: «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015), «O Sono da Primavera» (2014), «De Suplicar Por Mais...» (2013), «Contando Memórias...» (2011). Vencedora do 3º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora (2014). É coautora em 27 obras colectivas. Participações em antologias Sui Generis: «Sinfonia de Amor» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

MARIA ELOINA AVILA – Vive em Pelotas, RS, Brasil. É co-autora de antologias de poetas lusófonos contemporâneos do Grupo Múltiplas Histórias. Participações em obras Sui Generis: «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019).

MARIA ESMERIZ-THOMAS [foto em baixo] – Nasceu em Vila Nova de Cerveira em 1946 e reside na Figueira da Foz. Tradutora juramentada, tendo-se também dedicado ao ensino de Inglês (preparação para exames Cambridge). Publicou contos, poesia, reportagem. Primeiro prémio em «Cartas de Amor» (Crónica Feminina). Artista plástica activa em diversas colaborações e com extenso número de exposições colectivas e individuais no País e estrangeiro. A preparar exposição de pintura/poesia pintada baseada nas obras de Florbela Espanca. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

MARY ROSAS [foto na página seguinte, em cima] – Natural da Venezuela, com origens em Portugal,

MARIA JOÃO ABREU – Nasceu em 1970 em Angola, Luanda, cidade de intensa beleza, banhada pelas águas do Atlântico e de poetas que a versam em lindos cânticos. Em 1975 deixou para trás esta

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MITRO VORGA – Pseudónimo de António Silva, nascido em 1961, residente em Anadia. Com obras publicadas como «O Vento e a Rocha», «Ressurreição», «Porquê» e «O Ovo de Rá», e uma primeira incursão na poesia com a publicação de «O Voo da Abelha», vai tornando conhecido o seu longo labor nas letras. Participou em várias colectâneas tanto de prosa como de poesia. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). MÔNICA GOMES [foto em baixo] – Mônica Gomes da Silva nasceu em Goiânia, Goiás, Brasil, em

África e América do Sul, Mary Cruz Penélope Plácido Rosas veio para Portugal em 1967, com um ano e meio de idade. Parte da sua família está na Venezuela e a outra em Portugal. Tem 54 anos e desde a escola que gosta muito de poesia, inspirada pelas professoras Marília Rosas e Clementina Rosas, suas familiares. Sempre gostou de escrever, mas só em 2014 se decidiu a escrever poesia com mais regularidade e frequenta, desde esse ano, as sessões Poesia em Folhas de Chá. É coautora das colectâneas «Poem’Art» e «Delírios de Verão». Participações em obras Sui Generis: «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

1967. Escreve desde a adolescência, sobre temas variados, narrando o que ouve, vê e sente. Mas, principalmente, criando histórias acerca do universo imaginário. É advogada, professora de idiomas e dedica-se, também, ao esporte, à música e à pintura. Publicou um livro de prosa e poesia: «Meus Versos» (2017). Participações em obras Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016) e «Brisas de Outono» (2019).

MELANIA LUDWIG – Nascida em 1951, reside em São José do Rio Preto, SP, Brasil. Formada em Pedagogia e Orientação Educacional na Universidade Estadual de Londrina, trabalhou na área de Educação por 12 anos. Casada, aposentada. Nas horas vagas escreve contos, poesias, crónicas e trovas. Possui alguns trabalhos publicados em antologias e jornais da sua cidade. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

MWELE Y’OSAPI – Criptónimo literário de Francisco Muessati Ngunga, nascido em 1989, natural e residente no município da Kahala, província do Huambo, Angola. É membro da Brigada Jovem de 44


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OLÍMPIA GRAVOUIL – Nasceu em 1947, no Porto. Emigrante em França desde 1967, exerceu Educação Especializada em Paris, durante mais de 30 anos. De regresso a Portugal após a sua reforma, em 2012, escolheu viver na Póvoa de Lanhoso, pela sua qualidade de vida. Tem agora todo o tempo para se dedicar à sua paixão: ler e escrever. Participações em antologias Sui Generis: «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). PAULA HOMEM [foto em baixo] – Nascida em 1959, tem uma licenciatura na área do turismo e um mestrado na área da comunicação. Incitada desde muito jovem a escrever e, mais importante, a ler, escreve por paixão; tem na prosa a sua casa, mas a poesia é o refúgio, a paz que sossega e acalma, o seu mais precioso esconderijo. Está

Literatura de Angola, Huambo, e do Movimento LevʼArte – Angola, Núcleo do Huambo. Participou na maior antologia poética de Angola: «A Gente Que Eu Conheço» (Ginga Editora, 2019). Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). NEUSA CANABARRO [foto em cima] – Poeta, n. 1982, reside em Silveira Martins, RS, Brasil. Autora do livro «Quitutes para a Alma». Tem participações em três colectâneas, é Académica da ALPAS 21, cadeira 24, e uma pessoa especial, carregada de histórias e movida por desafios. Eterniza os seus dias em poesia. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

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Rosa Ramalho Martins Carvalho. Participações em obras Sui Generis: «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). ROSA LÍDIA SANTOS – Nascida em 1969, reside em Gafanha da Nazaré. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019). ROSA MARQUES – Nascida na Madeira, em 1959, reside na ilha de Porto Santo. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à arte e à cultura. Adora poesia e, de vez em quando, aventura-se a escrever o que lhe vai na alma... sobre recordações de infância e sobre a Natureza, a quem declara um amor incondicional; alguns textos em prosa também. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros pela Sui Generis: «Mar em Mim» (2016, 2ª edição 2018) e «Prisioneiros do Progresso» (2017). Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

presente em obras colectivas de ambos os géneros: «Memórias Esquecidas do Tempo», «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu», «Sonho em Poesia», «Cadernos de Poesia» e «Cascata de Emoções» (poesia); «Quando o Amor é Cego» e «Amar (S)Em Desespero» (prosa). Publicou um livro de poesia em co-autoria com o fotógrafo Alexandre Carvalho: «Shadows of Life» (2019). Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). RODRIGO MENDES [foto em cima] – Nascido em 1986, tem 33 anos e reside em Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba, Paraná, Brasil. É músico, clarinetista. Cursou duas faculdades, Gestão da Produção e Filosofia, ambas não concluídas. Tem vários textos (poesias e contos) em antologias publicadas por diferentes editoras. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

ROSSANA JANSEN – Nascida em São Luís do Maranhão, Brasil, na década de setenta. É graduada em Direito (UFMA), com Mestrados em Direitos Humanos (UC3M) e em Estudos Anticorrupção (IACA), com Especialização em Transparência e Acesso à Informação (UNICHILE). Poeta, participou nas colectâneas «IV Conexões Atlânticas Brasil Portugal» e «Antologia Comemorativa Dia Internacional da Mulher – Poesia». Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

ROSA CARVALHO – Nasceu em 1958 na vila de Coruche, distrito de Santarém, onde reside. Tem o ensino secundário, é empresária, gere o Café Snack Bar O Coruchense. Em 2017 criou a página Moça Vintage e em 2018 o blogue com o mesmo nome, onde escreve contos e partilha livros de escritores que lê e segue. Nome completo: Maria

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dadora da Academia Internacional da União Cultural, Cadeira 79. Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). SARA TIMÓTEO – Publicou os livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» (2011), «Chama Fria ou Lucidez» (2011), «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014), «Os Quatro Ventos da Alma» (2014), «O Telejornal» (2015), «O Corolário das Palavras» (2016), «Refracções Zero» (2016), «Compassos» (2017), «Diário Alimentar» (2017) e «Manual dos Ofícios» (2018). Tem em preparação novos projectos. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Crimes Sem Rosto» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Bendita Manjedoura!» (2019) e «Brisas de Outono» (2019).

ROZZ MESSIAS – Nasceu em 1974, reside em Colombo, PR, Brasil. Professora e pedagoga, participou na escrita dos Planos de Aula da Revista Nova Escola e foi premiada no I Concurso Colombo Contando Histórias. Participou nas antologias «Atmosfera Fantasma», «Doçaria Cristal», «Trilhas, Totens e Talismãs», «Versos Inversos», «Poesias Sem Fronteiras», «Jardim», «Féericas», entre outras. É autora dos livros «Poetize-se» e «Filha da Tempestade», disponíveis na Amazon, e trabalha na produção do romance «Ao Seu Encontro» e da fantasia «Entrelaçados». Participações em antologias Sui Generis: «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019).

SELVA ALVES – Publicou contos eróticos na Internet, em diversas páginas, tais como Contos Quentes, Portugal Erótico e Casa dos Contos. Participações em antologias Sui Generis: «Devassos no Paraíso» (2017) e «Brisas de Outono» (2019). SIMONE FONTARIGO – Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1967. Apaixonada por livros desde a adolescência, é formada em Jornalismo e trabalha há mais de 15 anos como Assessora de Imprensa. Publicou a sua primeira poesia na antologia «Versos Noturnos», organizada pela Sociedade dos Poetas Cariocas (SPOC) em 1995. Mora no Rio de Janeiro, é casada e tem um filho. Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

RUTHY NEVES [foto em cima] – Paulista, torcedora do Santos FC, mora em São José dos Campos, SP, Brasil. Educadora Física aposentada, gosta de ler, ouvir músicas, dançar. É ecléctica em tudo. Tenta traduzir sentimentos escrevendo, desde os seus oito anos, e para isso conversa muito com o seu coração. Recebeu alguns prémios literários e tem participações em antologias. Académica Fun-

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dança, nos encontros regulares de poesia, no quotidiano da sua profissão docente, em algumas viagens, em fotos que aprecia. Participou em várias acções de formação contínua, destacando-se uma formação dinamizada pela Secretaria Regional de Educação, denominada PEGA – Paixão de Ensinar Gosto de Aprender, da qual foi posteriormente coordenadora no seu estabelecimento de ensino durante dois anos lectivos. Participações em antologias Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017) e «Brisas de Outono» (2019).

TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL [foto em cima] – Nasceu em 1988 e é natural de Mimoso do Sul, ES, Brasil, onde reside. Mestre e Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Autor dos seguintes livros: «Fome: Segurança Alimentar & Nutricional em Pauta» (2018), «Segurança Alimentar & Nutricional na Região Sudeste» (2019), «Versos, Inversos & Outros Escritos» (2019), «Indrisos em Versos» (2019) e «Efemeridade em Versos» (2019). Participações em antologias Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

TIAGO SOUSA – [foto na página seguinte, em cima, à esquerda] O destino fez de Tiago Sousa um estudante universitário de 20 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror, mas ainda nenhuma prosa sua foi publicada em Portugal. Alguma da sua poesia, que por entre as sombras da ilusão se revela tanto em métrica regular como em verso livre, teve recentemente estreia com o livro «Prelúdios de uma Inexistência», pela

TERESA FARIA [foto em cima, à direita] – Natural da freguesia de Santo António, Funchal, nascida em 1963. Ligada ao ensino, licenciada pela Universidade da Madeira em 1º Ciclo. Faz da escrita e leitura uma prática quase diária, tal como as caminhadas a pé, que lhe dão prazer. Tem participado em algumas antologias e já tem dois livros de poesia publicados. Apesar de adorar a poesia, também investe na escrita em prosa. Inspira-se na Natureza, nas paisagens, nas sessões semanais de 48


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editora Poesia Fã Clube. Uma arte que sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participações em antologias Sui Generis: «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas de Outono» (2019). ZINEY SANTOS MOREIRA – Nasceu em Jaboticabal (SP) em 1965 e reside em Ribeirão Preto (SP), no Brasil. Poeta, escritor e desenhista. Participa em várias entidades culturais e está presente em diversas antologias. Autor dos livros: «Emoções» e «Desejos» (poesias/desenhos); «Flashes» e «Flagrantes» (desenhos de humor); «Aparências» (contos), «Luz» (poesias), «Dia de Festa» (fábula) e «Momentos» (poesias/pensamentos). Participações em obras Sui Generis: «Brisas de Outono» (2019).

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DIAS CAMPOS Ganhador do Troféu Destaque na 7ª Edição do Sarau Musical Cultural (2019); Menção Honrosa no Prêmio Nacional de Literatura dos Clubes (2019); “Embajador de la Palabra”, título concedido pela Asociación de Amigos del Museo de la Palabra (2014); 3º colocado no I Concurso de Crônicas da Academia Bragantina de Letras (2014); ganhador do Prêmio Latino-Americano de Excelência (2013); Medalha de Ouro no I Concurso Oliveira Caruso (2011); vencedor do Concurso Mundial de Cuento y Poesía Pacifista (2010); 3º colocado no II Prêmio Araucária de Literatura (2010) e membro da Asociación de Amigos del Museo de la Palabra, da Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos, do Movimento Poetas del Mundo e da Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências. Autor dos romances «A Promessa e a Fantasia» (Amazon, 2015) e «As Vidas do Chanceler de Ferro (Chiado Editora, 2009) e de diversos textos literários, e co-autor de livros e artigos jurídicos. Perfil no Facebook: Dias Campos (Embajador de la Palabra)

A CADA ETAPA, A SUA EMOÇÃO Imagina um adolescente que vivia fora da capital, cursava uma escola de bairro, e sempre foi um aluno mediano, que ora tirava boas notas, ora não tão boas. De repente, vê-se obrigado a mudar de escola, pois terminava a oitava série. Naquela época – Oh! Estigmatizada locução! –, tive que prestar um vestibulinho para poder ingressar no colégio. E conforme fosse minha classificação, iria ou não para a classe dos mais gabaritados.

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a semana passada fui tomado de grande emoção. Mas antes de dizer qual a sua razão, quero contar algumas recordações que a ela se ligam. Lembro-me quão impactante foi o meu ingresso no primeiro ano do Colégio Bandeirantes, localizado aqui em Sampa. – Ai de mim, que isso foi no século passado! Imagina um adolescente que vivia fora da capital, cursava uma escola de bairro, e sempre foi um aluno mediano, que ora tirava boas notas, ora não tão boas. De repente, vê-se obrigado a mudar de escola, pois terminava a oitava série. Naquela época – Oh! estigmatizada locução! – tive que prestar um vestibulinho para poder ingressar no colégio. E conforme fosse minha classificação, iria ou não para a classe dos mais gabaritados. Não se precisaria dizer que saí da prova cheio de mim.

Eis, porém, que publicaram o resultado. E lá fui eu estudar na última classe. Fosse como fosse, o ano letivo começava, as muitas matérias avolumavam-se em meus cadernos, e o meu ritmo de estudo infelizmente permanecia preso ao ginasial. Sendo assim, como viessem as primeiras provas bimestrais, também acho despiciendo dizer que as notas azuis rarearam. A realidade, então, achatou minha “sapiência”, tal como aquelas tremendas rochas que reiteradamente esmagam a cabeça do coiote, o eterno perseguidor do papa-léguas. – Vai dizer que nunca assistiu a esse desenho?! Pois bem, quando o ano terminou, ficava de quatro recuperações. E com esse placar, o aluno era gentilmente convidado – leia-se: obrigado – a deixar a escola. Mas como sempre fui um aluno proveitável – palavras de Maria Aparecida, então, minha professora de português –, os mestres se reuni53


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esse período – as trazíamos para dentro da classe. Agora, imagina oitenta marmitas abertas, fumegantes e cheirosas, todas reunidas no interior de uma única sala, cuja porta permanecia fechada por causa do ar condicionado. Quando a aula que se seguia ao almoço começava, o professor que entrava só fazia reclamar dos mil odores que ali permaneciam combinados! No entanto, nós tamram em conselho e “convenceram” um deles a bém reclamávamos (a baixa voz) dele, pois, me dar um ponto a mais na prova, o que me quando o mestre entrava na sala, todos sentíprivou da expulsão. amos o fortíssimo perfume com que “tomava Daí que estudei muito, mas muito mesmo! E banho”, o que nos deixava bastante enjoados. consegui ser aprovado para o ano seguinte. E essa guerra aromática perdurou por todo o Ufa! ano letivo!... Ora, não precisei sonhar com nenhum gato Outro episódio bem interessante por que escaldado para mudar em cento e oitenta graus passei foi a rápida visita que dois estudantes esminha dedicação aos estudos. trangeiros fizeram ao BandeiE por força dessa mudança rantes. radical, passei direto nos seSalvo engano – pois a megundo e terceiro anos. mória já falha –, ambos ficaImagina oitenta marmitas Foi um período de muito ram não mais que três dias, esforço. Mas também de muiabertas, fumegantes e assistindo às aulas, trocando ta alegria e companheirismo. experiências com os alunos, e cheirosas, todas reunidas Afinal, éramos uns oitenta rasendo ciceroneados pela direpazes que conviviam de seno interior de uma única toria. gunda a sexta, e, via de regra, Um era francês. E o outro sala, cuja porta permanecia das sete da manhã até às seis norte-americano. Aquele frehoras da tarde. – E ainda agoquentou a primeira classe; esfechada por causa do ar ra ouço mães a reclamarem te, a nossa... condicionado. Quando da “muita” carga horária dos O francês era formal, basseus filhinhos!... tante presente, e fumava feito a aula que se seguia A propósito, isso me fez homem grande. O gringo era ao almoço começava, lembrar de certo hábito que descolado, nada interessado quase todos cultivávamos no nas aulas, e se portava um iso professor que entrava terceiro colegial (hoje, ensino queiro, com certeza não era só fazia reclamar dos mil médio). Como ficávamos o dia para acender cigarros. Na reainteiro na escola, trazíamos lidade, o motivo por que se odores que ali permanecimarmitas para o almoço. E cotornou “celebridade” foi a utimo o tempo era todo discipliam combinados! lidade que dava àquele acennado, no intervalo as deixávadedor... mos nos marmiteiros, e no reEle arrancava uma folha de creio – era como chamávamos papel de um caderno, enrola54


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va-a na forma de um cone, espetava na ponta um chiclete mascado, e o aquecia com o fogo. Depois, lançava o projétil para cima. O chiclete grudava no teto, e o cone ficava pendurado. E qual não foi a minha surpresa, quando, ao entrar no banheiro, olhei para cima e vi que o teto estava completamente tomado por aquela manufatura de vândalo! – Sim, ele fizera seguidores. Ah! se fosse contar todas as peripécias por que passei, todos os fatos interessantes que presenciei naqueles longínquos três anos!... Decerto escreveria um interessantíssimo livro de memórias. E mesmo que às vezes me lembre, e com certa aflição, das incontáveis horas gastas com os estudos, das noites, finais de semana ou feriados sacrificados ante a proximidade das provas, e do vestibular, o fato é que todo esse esforço valeu a pena, pois o conhecimento que adquiri, mormente quanto à Flor do Lácio, abriu-me bem mais de uma porta, e me permite ir cada vez mais longe.

Mas se me emociono cada vez que me recordo dessa etapa da vida, sobretudo quando revejo os álbuns de fotos com que nos presenteavam no final de cada ano, muito maior foi a emoção que se apoderou do meu espírito ao retornar ao Band na semana passada. Foi preciso, contudo, o início de um novo ciclo... Amigo leitor, você não pode imaginar o que sente um ex-aluno ao levar o seu filho para conhecer o colégio em que estudou, e do qual fará parte no próximo ano! 

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LUCINDA MARIA Nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria e não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito

O QUE É E PARA QUE SERVE A LITERATURA? A literatura ajuda-nos. Preenche vazios que existem na nossa vida. Freud dizia que, em todas as vivências, há sempre um certo mal-estar. Raramente conseguimos concretizar todos os nossos sonhos, somos surpreendidos por reveses, doenças, angústias... que nos amarfanham, que nos provocam sensações de caos, de impotência, de nada... Então, a literatura ajuda a preencher tudo o que é oco em nós, como que nos completa... faz-nos esquecer as limitações que sentimos, transportando-nos para outros mundos, ajudando-nos a viver as vidas que não temos, mas que desejamos, leva-nos para fora de nós, nem que seja por momentos. Não é um mero entretenimento; civiliza-nos... humaniza-nos... faz-nos compreender... 56


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palavra literatura deriva do latim “litteris”, que quer dizer “letras” e, possivelmente, teve origem no grego “grammatikee”. É, indubitavelmente, uma arte, que consiste em bem trabalhar as palavras... correctamente escritas... de uma forma criativa, coerente, apelativa... Embora possamos escrever textos, atendendo a determinadas premissas, como a gramática, a pontuação, o fio condutor, a lógica... nem tudo pode considerar-se literatura. A verdadeira, quer seja em prosa ou em poesia, tem de ser uma construção artística, que nos leve a apreciá-la, como se faz com uma pintura, uma escultura ou outra qualquer forma de arte. Portanto, um texto será literário quando possui essa característica estética, que consegue provocar, em quem lê, um sentimento de admiração, de êxtase, de catarse emocional. Um texto será literário quando provoca o desejo de quase pertencer à trama, fazer parte de-

la... quando nos transporta a um mundo diferente do nosso, quando nos faz alhear do que nos rodeia... Há vários tipos de textos e, evidentemente, nem todos podem considerar-se literatura. Háos meramente informativos, científicos, jornalísticos... Pretendem transmitir conhecimentos, saberes... O texto literário, embora também possa instruir, pretende, sobretudo, emocionar o leitor... levá-lo não só a ler, mas a sentir o que lê, de modo íntimo e próprio. O escritor utiliza as palavras com beleza, de forma metafórica, com rendilhados e de modo a cativar o leitor, a interessá-lo, quase a hipnotizá-lo, digamos assim. Daqui se pode também concluir que nem todas as pessoas que escrevem são escritores, ou pelo menos literatos. Resumindo, a literatura é uma arte e, como tal, quem escreve tem de ser um artista, alguém que cria beleza e sente intensamente o

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que faz, de tal modo que quase se esquece de si próprio. Um escritor sente a sua obra como um fim e não como um meio. Um pintor usa tintas, pinceis, telas... Um escritor usa as palavras, sentindo-as, e um livro é uma obra de arte. Depois, há vários tipos de literatura: prosa, poesia, teatro... e, dentro destes, ainda formas diferentes. A literatura é um mundo quase inesgotável. Para que serve a literatura? Como quase todas as artes, a literatura ajuda-nos. Preenche vazios que existem na nossa vida. Freud dizia que, em todas as vivências, há sempre um certo mal-estar. Raramente conseguimos concretizar todos os nossos sonhos, somos surpreendidos por reveses, doenças, angústias... que nos amarfanham, que nos provocam sensações de caos, de impotência, de nada... Então, a literatura ajuda a preencher tudo o que é oco em

nós, como que nos completa... faz-nos esquecer as limitações que sentimos, transportando-nos para outros mundos, ajudando-nos a viver as vidas que não temos, mas que desejamos, levanos para fora de nós, nem que seja por momentos. Não é um mero entretenimento; civilizanos... humaniza-nos... faz-nos compreender... Jean Paul Sartre disse que «as palavras são actos e que uma peça literária pode mudar o curso da História» – fim de citação. A literatura pode ser a melhor maneira de nos aliviar da nossa condição de seres mortais, de transformar o impossível em possível, pelo menos enquanto lemos e nos imbuímos do que estamos a ler. Concluindo, a literatura não serve só para entreter-nos... é um veículo que nos pode conduzir, através de mundos inimagináveis, estimulando até a nossa vida e maneira de ser. 

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CONTO

O CALCANHAR DO AQUILES “Judite era feliz com o seu cartão de crédito Gold. Fazia normalmente compras no El Corte MARIA DE FÁTIMA SOARES Nasceu em Lisboa, em 1956. Publicou, até hoje, 14 livros (poesia, infantil/juvenil, ficção e romance), tendo o grato privilégio de ver aprovados os seus projectos por várias editoras, sendo a sua apresentação feita em locais de culto, como a Biblioteca Camões, Livraria Bertrand, Bulhosa e outras. Concedeu algumas entrevistas em rádios nacionais e a revistas do Brasil, onde é membro honorário de várias Academias de Letras. Escreveu nalgumas colunas brasileiras e colaborou semanalmente com jornais nacionais. Recebeu vários prémios de poesia ao longo do seu trajecto literário. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura» (2019). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/SoaresMa riadeFatima

Inglés. Ginástica no Holmes Place e férias... por esse mundo fora! Vestia-se bem. Andava na linha e massajava o seu Aquiles, todas as manhãs, que também gostava de andar nu pela casa. O que Judite Auxiliadora ignorava era que o calcanhar do seu Aquiles estava relacionado com os longos serões no computador e as histórias mirabolantes de um casamento infernal que estava prestes a terminar em divórcio. Conversa fiada que dava às “amigas”, chegando-lhes a jurar que ia sair de casa, nessa mesma noite, e não tinha onde dormir. Nem que a sua predileção era, com “jeitinho”, pedir às mulheres para escreverem contos porcos... o mais porco possível.” POR MARIA DE FÁTIMA SOARES

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A

quiles Manso de Oliveira Sossegado era um homem honrado. Marido fiel. Pai extremoso. Pessoa de fé! Sua mãe, já falecida, de seu nome Ambrósia Manso. Moçoila bonita na sua juventude, natural de Casal do Grelo, Figueira da Foz, conhecera o seu pai, Cornélio Oliveira Sossegado, natural de Lavacolhos (Fundão), na apanha do melão, em Almeirim. Cornélio e Ambrósia, ainda em início de vida, aceitariam viver na casa de Pacífico de Oliveira Sossegado, irmão do pai de Aquiles, em Vila Nova do Coito, Santarém, onde ele viria a frequentar a escola nos primeiros anos, mudando-se, já rapaz feito, para a Quinta do Himalaia (Barreiro), onde concluiria os seus estudos. Vindo a arranjar posteriormente um emprego na Banca. A vida de Aquiles seria diferente, suponho, se o seu tio não acabasse por enganar o seu pai. Este não o matasse à paulada, sendo condenado a prisão perpétua. E, vergada pelo desgosto e a vergonha, a sua mãe não pusesse também termo à vida. Tudo isto, traumatiza! Aquiles ver-se-ia de repente sozinho na vida. Sem casa. Com um canudo na mão e as ruas para andar. Não admira que a Judite Auxiliadora, natural de Pés Escaldados, Arganil, recepcionista do Banco, se tornasse na mulher da sua vida, logo no dia da entrevista.

O tempo foi passando. Judite parira, entretanto, dois moços e morava com Aquiles numa bela vivenda de dois blocos, com a sua mãe, a sobrinha e o irmão (que vieram também para Lisboa estudar). Aquiles, cheio de astúcia, era agora Chefe de Secção com boas perspectivas de nova promoção. Agradecido, por todo o azar que acabara por ser a sorte da sua vida, Aquiles ia à missa. Jejuava. Tomava o Senhor e... como bom católico, ia a pé a Fátima. Trabalhava incansavelmente durante o dia. Tendo como única diversão (para descongestionar do trabalho) plantar umas couves no quintal e... como era moda, criara um blogue. Ligara-se às redes. Judite era feliz com o seu cartão de crédito Gold. Fazia normalmente compras no El Corte Inglés. Ginástica no Holmes Place e férias... por esse mundo fora! Vestia-se bem. Andava na linha e massajava o seu Aquiles, todas as manhãs, que também gostava de andar nu pela casa. O que Judite Auxiliadora ignorava era que o calcanhar do seu Aquiles estava relacionado com os longos serões no computador e as histórias mirabolantes de um casamento infernal que estava prestes a terminar em divórcio. Conversa fiada que dava às “amigas”, chegando-lhes a jurar que ia sair de casa, nessa mesma noite, e não tinha onde dormir.

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Nem que a sua predileção era, com “jeitinho”, pedir às mulheres para escreverem contos porcos... o mais porco possível, confessando-lhes a seguir que se masturbara no WC, com o entusiasmo. Já vos tinha dito que o Aquiles Manso de Oliveira Sossegado era uma pessoa exemplar? Homem honrado. Marido fiel. Pai extremoso. Pessoa de fé! 

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LUIZ ROBERTO JUDICE Natural de Poços de Caldas (MG), Brasil, é formado em Administração de Empresas pela Universidade São Marcos e em Direito e Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica – PUC. Publicou o seu primeiro livro aos 21 anos de idade e, desde então, dedicou-se à literatura cultivando vários géneros literários: romance, poesia, conto, crónica, etc. É também autor musical, com mais de 60 músicas gravadas. Foi colaborador dos jornais Gazeta do Ipiranga (São Paulo) e Jornal da Cidade (Poços de Caldas) escrevendo crónicas e poesias. É membro de várias agremiações literárias no Brasil e em Portugal. Obras publicadas: «Flores Murchas» (1968), «Lira de Quatro Cordas» (1994), «Pérolas de Fogo» (1995), «Ramalhete de Sonetos» (1995), «Saciedade dos Poetas Vivos» (1997), «Sinhazinha, A Dama do Charco» (2002), «A Morte Silenciosa – A Gripe Espanhola em Poços de Caldas – 1918 (2006), «No Tempo das Salgabundas (2009), «Uma Estrela Fulgurante – A Saga da Estrela Caldense em Prol do Progresso de Poços de Caldas» (2010, em parceria com Hélio Antônio Scalvi), «Cururus & Juritis (2013), «Ânfora Etrusca» (2014), «A Morte em Jequitibá» (2015) e «Lira Camoniana» (2017). Perfil no Facebook: www.facebook.com/luizroberto.judice

NA PENUMBRA

Na meia-luz, envolvida por um halo de mistérios, pairando sobre nuvens de absurda ausência de realidade, evaporando-se na própria delicadeza que se casava perfeitamente com seu corpo de fumaça, ela sorvia sua bebida, mergulhando, vez por outra, os longos dedos no copo com vermute, brincando com a cereja que nunca chegava à sua boca. Foi quando me acometeu a sórdida ousadia de atirar contra os seus olhos claros os meus olhares furtivos e pidonhos. Vagarosamente, absurdamente resoluto, dela me aproximei como um bandido. Sem disfarce, sem máscara, sem atitudes bruscas.

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ansado da rotina, da neurastenia dos dias tão iguais, dos caminhos que não levam a parte alguma, foi bom que, quase por acaso, eu fosse entrar naquele barzinho noturno, naquele pequenino oásis escondido num beco sem saída de uma rua qualquer. Entre as luzes coloridas dos holofotes que se projetavam sobre a pista de dança, alguns casais dançavam estupidamente românticos. Minhas pernas cansadas levaram-me para junto do balcão. De costas para ele, com os cotovelos apoiados sobre a tábua respingada de bebidas deitei o olhar em volta. Nas mesas espalhadas no salão apertado as pessoas bebiam e fumavam. Às vezes diziam alguma coisa. Poucas palavras... Na meia-luz, envolvida por um halo de mistérios, pairando sobre nuvens de absurda ausência de realidade, evaporando-se na própria delicadeza que se casava perfeitamente com seu corpo de fumaça, ela sorvia sua bebida, mergulhando, vez por outra, os longos dedos no copo com vermute, brincando com a cereja

que nunca chegava à sua boca. Foi quando me acometeu a sórdida ousadia de atirar contra os seus olhos claros os meus olhares furtivos e pidonhos. Vagarosamente, absurdamente resoluto, dela me aproximei como um bandido. Sem disfarce, sem máscara, sem atitudes bruscas. Foi como se a vida soprasse em minhas narinas o perfume mais sutil que a brisa leve despojou das flores ao passar. Flores! E outra flor ali estava. E outra flor ali reinava. Como um sol irradiando no horizonte, meus olhos cobriram-na de luz. E molhei suas pétalas com o orvalho de minhas palavras e de meus gestos. Dançamos. Levamos nossos corpos em todas as extensões da pequena pista iluminada. A música dormia em nós e nela nós sonhávamos. Arrancados da gravidade dançamos no espaço. Na delicadeza de seus passos, as métricas de alguns versos. Em suas mãos macias hemistíquios de ilusões. E em tudo que nos cercava um eterno poema de amor. Evitei fitar-lhe os olhos. Eram como duas crianças sonhadoras expostas à mendicância de dois vagabundos famintos. Dei-lhe o silêncio. Ela respondeu-me. E à sombra do silêncio

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o punhal do sicário, perfurando nossos corpos pudesse macular de sangue nossas almas transportadas às esferas superiores, onde a morte não triunfava e o amor era única razão da existência humana. Onde os atavios e as riquezas fossem coisas supérfluas e a vertigem da paixão nos conduzisse pelos espaços siderais onde nos perderíamos em galáxias de beijos. Esmagada pelas correntes do tempo a fantasia estremeceu-se diante dos olhares da realidade nua e crua. A flor que me embriagou com o perfume de sua corola agora me fitava interrogativa. Arrancado dos braços da fantasia voltei ao salão. A penumbra envolveu nossos corpos e vozes espalhadas machucaram

Havia o desespero. A dor do desespero. O desespero do acordar... A realidade que, como o punhal do sicário, perfurando nossos corpos pensamos, sentimos, sonhamos e idealizamos. Um ideal de amor. Repudiamos o diálogo, a conversa. As palavras trariam decepções... Era melhor calar. Calar convictos e conscientes... E calar tanto, que apenas nossos corações, que sentíamos bater um contra o outro, falassem por nós. Na fantasia que inebriava meus pensamentos, o desejo louco de que a humanidade se extinguisse; de que as portas do paraíso se escancarassem para nós, para que penetrássemos em um mundo de irretocável fantasia. Havia o desespero. A dor do desespero. O desespero do acordar... A realidade que, como

pudesse macular de sangue nossas almas transportadas às esferas superiores, onde a morte não triunfava e o amor era única razão da existência humana. Onde os atavios e

as riquezas fossem coisas supérfluas e a vertigem da paixão nos conduzisse pelos espaços siderais onde nos 66

perderíamos em galáxias de beijos.


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nossos ouvidos. No ocaso do sonho o princípio do fim. O adeus! Minha sensibilidade odiou os ruídos dos meus sapatos quando, solitário e cabisbaixo, caminhei pela calçada. Folhas secas rolavam pelo chão. Como as minhas ilusões... Apenas a noite fria, como uma negra amortalhada, insistia em dizer-me que a felicidade é como um perfume que acalenta nossos sentidos até que se evapora... 

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LUCINDA MARIA Nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria e não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito

SOU ESCRITORA?!

N

ão é por falsa modéstia, mas não me considero escritora. Gosto de chamar “os bois pelos nomes” ou, se preferirem, e recordando a parábola de Jesus Cristo: “Dai a César o que é de César...”. Vejo no Facebook páginas de pessoas que se intitulam escritores(as), mas, para ser sincera, acho um pouco petulante por parte dessas pessoas. Tenho amigos com obra feita, vários livros publicados, e não se dão esse título! Humildade de quem tem realmente valor! Eu escrevo. Eu gosto de escrever. Até nem escrevo mal. Não dou erros ortográficos, como vejo proliferarem pelo Facebook... Já publiquei livros... Será que deveria dar-me esse epíteto? Quem escreve é escritor, é verdade, mas eu penso que é um pouco mais do que isso. Assim como nem tudo o que se escreve é literatura, nem toda a gente que escreve é escritor(a). Estarei errada? Quem escreve e publica livros é um(a) autor(a). No entanto, até para sê-lo, são necessárias condições. É preciso escrever bem, saber inventar ou contar histórias de forma inteligível e que mantenham o leitor interessado, desde o princípio até ao fim. Porém, é também necessário rigor, sob vários pontos de vista, 68


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tendo em conta os costumes, os trajes, a gastronomia, o contexto, até mesmo a linguagem da época em que se desenvolve a trama. Concluindo, embora se seja autor(a), pode escrever-se bem ou mal, fazer-se um bom ou um mau livro. Pode vender-se excepcionalmente e nem por isso ser bom. Talvez dependa mais da editora e da divulgação que ela fizer. Infelizmente, isso acontece em Portugal. Por exemplo, a poesia não vende tão bem como a prosa, o romance. No entanto, vejo considerar poemas, textos que, para mim, são prosa poética, embora disposta sob a forma de versos. Não seguem minimamente as regras da poesia e não estou a dizer isto por não rimarem, embora eu continue sempre a preferir a rima, até porque se torna mais difícil e, portanto, mais rica.

nar-se nos acontecimentos, pensar... Aliando a tudo isso o estudo, o rigor, o bem trabalhar a Língua Materna, poderá considerar-se não apenas um(a) autor(a), mas um(a) verdadeiro(a) escritor(a). Para quem quiser ser escritor(a), abaixo estão quatro das mais importantes sugestões que o José Jorge Letria dá: – “Ser escritor é um trabalho rigoroso e exigente. E que ninguém se convença que só por ter jeito ou habilidade consegue tornar-se escritor.” – “Raro é o dia em que eu não escreva. Com disciplina, com dedicação e com exigência. Só assim um autor pode conquistar o seu lugar e assumir-se também como um profissional daquilo que faz.” – “Escritor, como um músico, um pintor, como um coreógrafo, precisa de ter uma enorme dedicação, uma grande capacidade de entrega àquilo que escolheu para ser o seu trabalho.” – “Se quiserem ser escritores, escolham esse caminho sem hesitação, mas sempre com a convicção de que é preciso trabalhar muito para se merecer esse título.”

Continuando, então o que é ser escritor(a)? Tem de ser, acima de tudo, um(a) pensador(a). Tem de acreditar que as suas ideias e a maneira como as traduz em palavras são capazes de enriquecer a vida de quem lê. Tem de ser capaz de fazer do seu mundo imaginado, das suas personagens, do enredo... algo apelativo, algo que consiga dar esperança e coragem às pessoas que lêem o que escreve. E mais do que isto: é ter uma atitude perante a vida, saber posicio-

Revêem-se nestes quatro itens? Parabéns, então são escritores(as)! Eu vou acabar como comecei: Não me considero escritora!  69



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LIRA VARGAS Nascida em 1952, reside em Niterói, RJ, Brasil. Formada em Letras, publicou 16 livros. Tem diversas participações em Feiras de Livros, TVs e Rádios, em obras colectivas e em movimentos literários no Brasil e em Miami, EUA, e classificações em vários festivais de literatura. Participações em antologias Sui Generis: «Luz de Natal» (2018) e «Sinfonia de Amor» (2018). Perfil no Facebook: www.facebook.com/clira.lira.7

MEDO Não sei a diferença do medo e a precaução. São elementos que não podem se desprender, se paralelos evitam a perda, a tragédia, o arrependimento, o tudo de ruim. Dos perigos que classifico serem importantes ligar a precaução é a PERDA, perda para a vida, perda de uma amizade. Outros perigos que também ligo a precaução é a perda da saúde. Mas de todos o que mais temo é a perda de querer viver. Amo a vida, em todos os sentidos, amo conhecer pessoas, o nascimento de uma amizade, um papo informal, um encontro casual e um reencontro de alguém que estava longe, ou que há tempo não vejo. Essa sensação é indescritível, essa alegria é de uma vital importância que sinto gosto de algo que não sei explicar, doce, salgado, perfumado. O medo é um elemento que está sempre ao meu lado ou na minha consciência, por isso não sei diferenciar se é precaução. Algumas vezes chamaram-me de medrosa, numa vã tentativa de ofender-me, mas até sorri, devo ao medo e a precaução ter livrado-me de labirintos e confusões ameaçadores e perigosas. Ao medo agradeço por manter viva minha fé, ter evitado acidentes e perdas. Ao medo agradeço vitórias alcançadas e a precaução agradeço não ter arrependimentos e ter o sono dos justos. Quando sou surpreendida por alguma lembrança que corri perigo, penso: fui precavida. Ah! Então ao perigo e a precaução devo a minha vida. Vivo perigosamente precavida, VIDA. rsrsrsr  71



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APRESENTAÇÃO

NINGUÉM LEVA A MAL “Os homens, transfigurados em silenos e sátiros, não tardaram a aderir às procissões ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside em Lisboa. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em duas dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou dois livros: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne». Página no Facebook e Blogue: www.facebook.com/isidro.sousa.2 http://isidelirios.blogspot.pt

femininas e ao “frenesim dionisíaco” e a festança, que durava três dias, encerrava com uma bebedeira colectiva no meio de um “vale-tudo” pan-sexualista. As autoridades (as cortes, os sacerdotes e os ricos) não gostaram desses festejos malucos porque, entre outras razões, eram as vítimas favoritas das sátiras; tentaram reprimi-los. Além de serem uma teatralização colectiva da inversão de tudo, os festejos serviam como um acerto de contas do povo com os seus governantes, ainda que metafórico e psicológico. Neles, o miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobretão, o libertino aparecia como guia religioso, a rameira posava como a mais pura donzela, machos vestiam-se como fêmeas e assim por diante.” POR ISIDRO SOUSA 73


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Carnaval é um período de festas profanas que ocorre entre os Reis e a Quaresma, com o seu auge nos três dias anteriores à Quarta-feira de Cinzas, especialmente na terça-feira que antecede o primeiro dia da Quaresma. De todas as celebrações cíclicas anuais, esta é a mais grandiosa e uma das poucas manifestações que consegue envolver todo o público, apresentando maior riqueza de aspectos, grande variedade de elementos e uma característica complexidade de significações. A sua história começa na Antiguidade, com as festas de culto à deusa Ísis, no Antigo Egipto, e eventos relacionados com acontecimentos religiosos e agrários, embora também haja indícios de que tenha origem em festas pagãs e rituais orgíacos. Os romanos, os gregos e os egípcios davam as boas-vindas à Primavera com cultos de fertilidade, rituais de abundância para a agricultura e celebrações fartas, consagradas aos respectivos deuses. Alguns advogam o culto de Ísis, outros as festas em honra do deus Dionísio e outros as bacanais, lupercais e saturnais, festejos romanos de grande licenciosidade em que havia uso de máscaras. Na Grécia clássica, as primeiras seguidoras de Dionísio eram mulheres que escapavam, nos dias que lhe eram dedicados, da vigilância dos maridos, pais e irmãos, para caírem na folia com “danças furiosas e gritos de júbilo”. Nesses dias, saíam

aos bandos, com os rostos cobertos de pó e vestes transformadas ou rasgadas, cantando e gritando pelas montanhas. Os homens, transfigurados em silenos e sátiros, não tardaram a aderir às procissões femininas e ao “frenesim dionisíaco” e a festança, que durava três dias, encerrava com uma bebedeira colectiva no meio de um “valetudo” pan-sexualista. As autoridades (as cortes, os sacerdotes e os ricos) não gostaram desses festejos malucos porque, entre outras razões, eram as vítimas favoritas das sátiras; tentaram reprimi-los. Além de serem uma teatralização colectiva da inversão de tudo, os festejos serviam como um acerto de contas do povo com os seus governantes, ainda que metafórico e psicológico. Neles, o miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobretão, o libertino aparecia como guia religioso, a rameira posava como a mais pura donzela, machos vestiam-se como fêmeas e assim por diante. Dionísio, irreverente e debochado, estimulava que virassem o mundo de cabeça para baixo. A tentativa de repressão fracassou e Pisístrato oficializou as homenagens a Dionísio na Grécia, sendo nesta altura (século VI a.C.) que se instaurou o chamado Carnaval Pagão. Outra hipótese difundida entre pesquisadores é a de que o Carnaval tenha iniciado em Itália, com o nome de Saturnálias – em homenagem a Saturno, a Baco (o Dionísio romano) e a Momo. 74


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Saturno, deus da agricultura dos romanos, identificado como Cronos pelos gregos, pregava a igualdade entre os homens e ensinou a arte da agricultura. As comemorações, que se prolongavam por sete dias e incluíam bacanais, realizavamse nas ruas, praças e casas da Antiga Roma e havia uma aparente quebra de hierarquia social quando todos se misturavam na praça pública. A separação da sociedade em classes fazia que houvesse a necessidade de válvulas de escape, através de sexo e bebida. Os festejos revestiam-se de tal importância que todas as actividades e negócios eram suspensos nesse período: tribunais e escolas fechavam as portas durante o evento, os escravos ganhavam liberdade temporária e as restrições morais eram relaxadas. As pessoas dançavam e trocavam presentes, um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua de Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar na folia. Corridas de cavalo, desfiles de carros alegóricos, brigas de papelinhos, lançamentos de ovos e outros divertimentos generalizavam a euforia. Na abertura dessas festas ao deus Saturno, carros com aparência de navios surgiam na “avenida”, com homens e mulheres nus – estes eram chamados os carrum navalis, para muitos a origem da expressão carnevale. Embora haja muitas teorias sobre a origem do Carnaval, numa ideia todas elas convergem: a transgressão, o corpo, o prazer, a carne, a festa, a dança, a música, a arte, a celebração, a inversão de papéis, as cores e a alegria fazem parte da ma-

triz genética de uma das manifestações populares mais belas do Mundo, que foi frequentemente alvo da repressão de quem não tolerava a subversão de um mundo virado do avesso. A opinião de historiadores sobre o Carnaval não é unânime, tanto em relação à data do seu surgimento como à origem da própria palavra “Carnaval”. Há efectivamente duas correntes distintas nesta abordagem, que se baseiam em duas oposições presentes nas actuais celebrações do Carnaval. A primeira é a oposição entre a ordem e a desordem, entre o mundo visível e quotidiano e as pulsões inconscientes, entre a representação e a vontade, entre o mundo que vemos e o mundo visto de cabeça para baixo. Nesta linha, a palavra “Carnaval” teria origem no vocábulo latino carrum

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navalis, os carros navais que faziam a abertura das Saturnálias e das Dionísias Gregas nos séculos VII e VI a.C. e onde a euforia e a inversão de valores se estendiam pelas ruas das cidades. A segunda oposição, com origem nitidamente cristã, é entre o Carnaval e a Quaresma, ou entre a Terça-feira de Carnaval e a Quarta-feira de Cinzas, que marca a entrada na Quaresma. A palavra terá surgido quando o início da Quaresma foi transferido para a quarta-feira (sendo a terça-feira legitimamente a noite do Carnaval) antes do sexto domingo que precede a Páscoa. Ao domingo anterior deu-se o título de dominica ad carne levandas, expressão que se abreviou sucessivamente para carne le-

vandas, carne levale, carne levamen, carnevale e carnaval, todas variantes de dialectos italianos e que significam acção de tirar, isto é, “tirar a carne” ou “adeus à carne”. Com o advento da era cristã, a Igreja Católica começou por tentar conter os excessos do povo nestas festas pagãs e uma solução foi incluí-las no calendário religioso. Então, o Carnaval Cristão passa a existir quando a Igreja (em 590 d.C.) oficializa a festa. Antes, a instituição condenava os festejos pelo seu carácter “pecaminoso”. A civilização judaico-cristã fundamenta-se na abstinência, na culpa, no pecado, no castigo, na penitência e na redenção, renegando e condenando o Carnaval. Não obstante, as autoridades eclesiásticas da época viram-se num beco sem saída dada a força e espontaneidade das celebrações. Foi aí que houve a imposição de cerimónias oficiais “sérias” para conter a “libertinagem”. No entanto, é só em 1545, no Concílio de Trento, que o Carnaval é reconhecido como uma manifestação popular de rua. A Igreja Católica, que considerava tais festejos mundanos, decidiu adoptar essas festas de origem pagã e obscena, transformando-as em libertárias na tentativa de domesticá-las. E determinou que fossem promovidas na véspera do início da Quaresma, como uma espécie de compensação para o período de jejum e abstinência que antecede a Páscoa, momento em que os cristãos comemoram a ressurreição de Cristo, a vitória da vida sobre a morte. Assim, o Carnaval ficou sendo uma festa que termina em penitência na Quarta-feira de Cinzas. Os cristãos iniciavam as suas comemorações no fim de Dezembro, compreendendo os festejos do Natal, do Ano Novo e dos Reis, onde predominavam os jogos e os disfarces. Mas estas acentuavam-se no pe76


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Como a Igreja proibira as manifestações sexuais no festejo, novos divertimentos adquiriram forma: corridas, desfiles, fantasias, deboche e morbidez. Estava o Carnaval reduzido à celebração ordeira, de carácter artístico, com bailes e desfiles alegóricos. No Renascimento, as festas carnavalescas passam a incorporar os bailes com as suas ricas fantasias, os carros alegóricos e os corsos – o baile de máscaras é introduzido no século XV, mas ganha força e tradição no século seguinte, por causa do sucesso da Commedia dell’Arte. O Pierrô, a Colombina e o Arlequim datam dessa época, tendo origem na Comédia Italiana, companhia de actores que se instalou na França para difundir a Commedia dell’Arte. As mais famosas máscaras confeccionam-se em Veneza e Florença, muito utilizadas pelas damas da nobreza a partir do século XVII como símbolo máximo da sedução, verdadeiras peças de arte indis-

ríodo que antecedia a Terça-feira Gorda, o último dia que se comia carne antes do jejum da Quaresma, durante o qual também havia, tradicionalmente, a abstinência de sexo e até mesmo das diversões, como circo, teatro ou festas. Desse modo, a origem da palavra “Carnaval” estará, igualmente, relacionada com a ideia de “festa do adeus à carne” e marcada pela junção de duas palavras latinas como carnis (carne) e valles (prazeres) ou carnis (carne) e levale (retirar). Após o Concílio de Trento, a Igreja considerava o Carnaval pecaminoso somente em círculos restritos, como a Corte Francesa anterior à revolução, onde os bailes de máscaras se transformavam em bacanais. Não entre o comum do povo entregue a ingénuos bailados e banhos de cheiros, revelando o vigoroso e sadio espírito de festa, a culminar nos cortejos expressando não só o pitoresco, mas frequentemente a crítica aos costumes e aos poderosos. 77


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val europeu sobrevive ainda hoje; aliás, o Carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XX e a cidade de Paris foi o principal modelo exportador desta festa para o Mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro inspiraram-se no Carnaval parisiense para implantar as suas novas festas carnavalescas. Já o Rio de Janeiro criou e exportou o estilo de fazer Carnaval com desfiles de escolas de samba para outras cidades do Mundo, como São Paulo, Tóquio e Helsínquia. Um dos principais rituais de Carnaval na Europa que se deve salientar é o Entrudo. Esta palavra vem do latim, significa introdução à Quaresma e existe desde que o Carnaval Cristão foi oficializado. O povo comemorava, comendo e bebendo, para compensar o jejum, mas o ritual tornou-se, aos poucos, bruto e grosseiro, atingindo o máximo de violência e falta de respeito em Portugal, no século XVI, quando um homem do povo atirou uma “laranjada” a um nobre. Nessa época, atiravam água suja e ovos das janelas e dos balcões, nas ruas havia guerra de laranjas podres e restos de comida e cometia-se todo o tipo de abusos e atrocidades.

pensáveis à libertinagem dos burgueses. Os excessos continuam associados aos festejos; não obstante, a Igreja Católica absolve-os de pecado e autoriza os fiéis a disfrutarem dos prazeres da carne, pois tudo será perdoado a seguir – desde que cumpram com rigor os quarenta dias de jejum da Quaresma, a purificação do corpo e da alma estão garantidos. E assim se manteve o Carnaval até ao século XIX, quando adquiriu outro vigor. Perdia em festa “bufa” e de rua, ganhava em elegância, alegoria, ordem e requinte artístico, além de tocar agora as classes mais abastadas, antes arredadas dos festejos populares. Na Europa Ocidental, bailes e desfiles organizados tomavam o lugar das turbas de gente etilizada e aos gritos. Este novo Carna78


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Foi assim que a festa de Carnaval chegou a Portugal, recebendo o nome de Entrudo, através de uma brincadeira agressiva. O evento tinha uma característica essencialmente gastronómica e era marcado por um divertimento violento, cujas partidas incluíam brigas e vassouradas, baldes de água (e de outras coisas) despejados das janelas, lixo arremessado, cal esfregada nas roupas e nos cabelos, escadas ensaboadas à espera do trambolhão; faziam-se esferas de cera com o interior cheio de água-de-cheiro que eram atiradas aos transeuntes e os mais ousados começaram a injectar, no interior das “laranjinhas” ou “limõesde-cheiro”, substâncias malcheirosas e impróprias, o que fez que a festa fosse perdendo a sua alegria. No entanto, estas práticas foram proibidas e o Carnaval entrou na ordem dos cortejos, nas batalhas das flores e nos salões de baile. Em finais do século XIX, nas aldeias portuguesas, o Entrudo era um momento de transgressão calendarizada e aceite por todos: uma catarse de pulsões, a purga necessária ao regresso à ordem, um momento de igualdade e de liberdade para todos, aceite pelos poderosos. Nas cidades, o Carnaval transformou-se numa forma de “luta

de classes”, com uma insolência e irreverência (e montras de lojas partidas) que assustavam os burgueses. Todavia, os exageros do Carnaval urbano foram regulamentados e domesticaram-se os festejos, com a criação dos desfiles. Dentre as comemorações características de cada região, um especial destaque para as máscaras dos Caretos e os próprios Caretos. São máscaras

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assustadoras, misteriosas e fascinantes, que andam à solta no Inverno transmontano, uma tradição que tem raízes milenares e transforma pacatos rapazes em diabos, chocalheiros, zangarrões e caretos, que afugentam e animam aldeias inteiras e os forasteiros que lá vão só para as ver. Os preparativos para os dias de festa começam antes do Inverno chegar ao Nordeste português. Os artesãos trabalham a madeira, o cabedal, o latão, a lã. Aos poucos aparecem as caras e os fatos que vão esconder a identidade dos rapazes. Assim, temíveis e divertidos, os mascarados quebram a rotina do quotidiano rural. O disfarce é a chave destes rituais que anunciam um novo ciclo: na Natureza e na vida dos homens. Os mascarados transmontanos simbolizam a vida que se renova na Primavera, a entrada num tempo fecundo e próspero, a passagem da puberdade à idade adulta. A comunidade revitaliza-se e reforça laços nestas festas organizadas pelos rapazes. De chocalhos à cintura e vara na mão, eles têm o diabo no corpo – correm, saltam, dançam, perseguem as raparigas solteiras, intimidam os visitantes. A brincar a brincar, este Carnaval recicla tradições e enche de orgulho o povo aldeão, cujas festas de Domingo Gordo e do dia de Carnaval são da inteira responsabilidade dos Caretos, seres mágicos que vivem nas máscaras e nos trajes exuberantes, que invadem as ruas da aldeia para expurgar os males e purificar. E, claro es80


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tá, para dar umas “chocalhadas” nas raparigas casadoiras. Esta forma de celebrar o Carnaval, que é hoje uma atracção turística, vem do tempo dos romanos, embora alguns autores reportem as festividades ao período do Neolítico. Além dos Caretos, outros foliões como Cabeçudos e Matrafonas continuam de pedra e cal no Carnaval lusitano. Mesmo em tempo de crise, o espírito de festa mantém-se vivo, as tradições carnavalescas são cumpridas à risca, razão pela qual a expressão “a vida são dois dias e o Carnaval três” soma e segue ao mesmo ritmo com que se preparam os festejos em várias regiões do País. Sempre com a alegria e o simbolismo próprio desta época. De Norte a Sul, são diversos os cortejos, as máscaras e os bonecos que respeitam a tradição, enchendo as ruas de cor e fantasia. Organizam-se os corsos, enfeitam-se bonecos e importa-se o samba do Rio de Janeiro, mas nem por isso perdemos a nossa identidade cultural. O Carnaval de Torres Vedras, por exemplo, é considerado “o Carnaval mais português de Portugal” e não tem espaço para introduzir hábitos ou costumes oriundos do estrangeiro. Tudo leva a crer que as suas facécias tenham emergido no rescaldo da luta dos Republicanos contra a dinastia dos Braganças, no início do século XX. A imponência das vestes reais, que integram elementos de ridículo como o ceptro régio transmudado em corno ou o leque de Sua Sereníssima Alteza, a Rainha, alterado para abano de fogareiro plebeu, parecem credibilizar esta génese. A festa mantém-se fiel às tradições que a popularizaram na rua, desde 1923, altura em que se fez a recepção ao Rei e ao qual se juntou, um ano depois, a figura da Rainha. O modelo dos Reis do Carnaval ainda hoje persiste, mas fazendo jus às sátiras sociais e políticas, à base de caricaturas de personalidades públicas, é composto por duas figuras masculinas, uma delas trajada de Rainha. O centro da cidade serve de

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palco a brincadeiras, aos corsos nos quais participam os carros alegóricos, de grandes dimensões, Matrafonas (homens vestidos com roupas de mulher), Cabeçudos (bonecos gigantes), grupos de desfile e os Zés Pereiras, terminando com o enterro do Entrudo – condenação do Rei – e fogo-deartifício. O Carnaval brasileiro, por sua vez, tem origem no Entrudo português e surgiu com as primeiras caravelas da colonização. Mais precisamente: o Entrudo desembarcou no Brasil no século XVI, com a chegada de portugueses das ilhas da Ma-

deira, Açores e Cabo Verde, e a principal diversão dos foliões era atirar água uns aos outros. Tal como em Portugal, era uma festa cheia de inconveniências, na qual participavam tanto os escravos quanto as famílias brancas. Após insistentes intervenções e advertências da Igreja Católica, substituíram os banhos de água suja por limões de cheiro, esferas de cera com água perfumada ou água de rosas e bisnagas cheias de vinho, vinagre ou groselha. Esses frascos deram lugar ao lançaperfume, bisnaga ou vidro de éter perfumado de origem francesa. No final do século XVIII, o Entrudo era já praticado em todo o território de Vera Cruz. Embora muitos da elite na Corte Imperial o considerassem uma festa suja e violenta, a maioria dos senhores libertava os escravos para a folia, cujas brincadeiras e folguedos variavam conforme os locais e os grupos sociais envolvidos. Com a mudança da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro, surgiram as primeiras tentativas de civilizar a festa carnavalesca no Brasil, através da importação dos bailes e dos passeios mascarados parisienses, colocando o 82


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Entrudo popular sob forte controlo policial. A partir de 1830, sucede-se uma série de proibições na tentativa, sempre infrutífera, de acabar com a festa grosseira. O evento brasileiro recebeu também muitas influências das fantasias e máscaras italianas, que começaram a ser difundidas no século XIX, e só no século XX é que recebeu elementos africanos, considerados fundamentais para o seu desenvolvimento. Com essa mistura de costumes e tradições tão diferentes, o Carnaval do Brasil é, presentemente, um dos mais famosos do Mundo e atrai imensos turistas dos cinco continentes. Os primeiros grandes clubes carnavalescos no Rio de Janeiro surgiram em 1855. Outro importante movimento foi o dos cordões, nascido em 1885, que originou os blocos e, mais tarde, as escolas de samba – é a primeira manifestação de Carnaval influenciada pela cultura e religião africana, formada por negros, mulatos e pessoas humildes, que

saíam às ruas animando o povo ao som de instrumentos de percussão e músicas compostas especialmente para os desfiles comandados pelo apito do mestre que estava sempre à frente dos músicos. No início do século XX, já diversos cordões e blocos desfilavam nas cidades. A primeira escola de samba foi fundada em 1928, no Rio de Janeiro; a Praça Onze, nesta cidade, tornou-se no local mítico de concentração das escolas nos dias de Carnaval, incentivando, 83


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de ano para ano, o aparecimento de novas escolas, que foram surgindo até chegarem à grande festa que se vê hoje e faz do Carnaval uma das maiores manifestações populares do Brasil. Actualmente, existem outras formas de Carnaval por todo o País, como o da Bahia, de tradição africana e com sonoridades e ambientes diferentes do do Rio de Janeiro (vejase o cortejo dos Afoxés), ou os de Olinda e Recife, igualmente animadíssimos e marcados pelas músicas de ritmo frenético e contagiante, em batidas sincopadas a par de instrumentos de sopro. E o frevo, uma “combinação de canto, toque e dança”, classificado como património imaterial da cultura brasileira, domina ainda o Carnaval de alguns estados do Nordeste, como Pernambuco e Paraíba. Quanto às escolas de samba, são hoje autênticas empresas de espectáculos e há regras próprias dentro delas, quer de admissão, quer de permanência, quer de actuação dentro de um desfile de Carnaval. Porém, são elas que mais animam o evento carnavalesco, atraindo uma miríade de colaboradores ao longo do ano e um frenesim inusitado na época do Carnaval.

Posta esta explanação, para que possamos ter algumas noções sobre a história do Carnaval ao longo dos tempos, e pegando numa das imensas expressões populares – É Carnaval, ninguém leva a mal – organizámos esta obra colectiva [Ninguém Leva a Mal], para a qual se seleccionaram três dezenas de estórias de trinta autores lusófonos, ambientadas ou inspiradas no Carnaval, e estão presentes, entre elas, dois textos que ocorrem no Halloween, já que este é considerado um “Carnaval fora de época” em algumas comunidades. Ordenadas alfabeticamente a partir dos nomes dos autores, são estórias totalmente distintas entre si, cujos registos variam do drama à comédia, da aventura ao romance, passando pela fantasia, sobrenatural e biografia, ou seja, incluem um pouco de tudo, independentemente das sensibilidades, culturas, experiências de vida e estilos dos seus autores. Alguns foram já distinguidos em concursos literários e certames similares, conquistaram prémios e menções honrosas e têm livros individuais editados, e outros continuam a fazer a estreia literária numa edição Sui Generis; as suas biografias (resumidas) estão incluídas no apêndice desta antologia. Boas leituras!  Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Ninguém Leva a Mal – Antologia de Estórias Carnavalescas

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ANTOLOGIA «NINGUÉM LEVA A MAL»

30 AUTORES

LUSÓFONOS BREVE NOTA BIOGRÁFICA DE TODOS OS AUTORES

ADEILTON LIMA – Actor e professor de teatro, cinema e literatura, com mestrado em Teoria Literária. De Brasília, DF, Brasil. Participações em obras Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017). ANA PAULA BARBOSA – Nasceu em Lisboa, nos finais dos anos 60, onde vive. Publicou textos no DN Jovem. Escrever é o melhor processo de crescimento e autoconhecimento que encontrou. Outros hobbies: cinema, fotografia, teatro, blogger. Trabalha em Marketing, numa multinacional belga. Com participações (além de Campeonatos de Escrita Criativa) em diversas obras colectivas: «O Poder do Vício», «Caprichos & Virtudes», «Apenas Saudade», «Um Dia de Loucos», «Labirintos da Mente» e «A Década Em Que Nasci» (Papel D’Arroz); «Boas Festas», «Erosário 2016», «Amar Sem Lei» e «Luxúrias» (Silkskin Editora); «Um Litro de Lágrimas» e «Perdidamente» (Pastelaria Studios); «Ecos de Apolo» (Edições Vieira da Silva); «Sensualidades» (Editora Hórus); «Jardim de Palavras» (Orquídea Edições). Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Vendaval de Emoções» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017).

ANDRÉ VARELA [foto em cima] – Algarvio de gema, quis o destino que nascesse alfacinha por acaso, em 1979, aquando de uma estadia breve de seus pais na Capital. Cresceu entre o mar e a serra, rodeado de fortes referências algarvias, entre o sotavento e o barlavento, pescadores e agricultores. Filho de uma professora de Português e de um programador informático, desde cedo demonstrou forte apetência pelas artes, considerando-se até hoje um diletante, já que se espraia entre a música, as artes gráficas e a escrita. Muito 87


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novo, ganhou um concurso literário denominado “Jogos Florais”, alcançando o primeiro lugar na categoria de prosa e dois primeiros lugares na categoria de desenho. A partir daí, continuou a escrever sempre num registo muito próprio, mas dando primazia à música, sendo membro de várias bandas, e como multi-instrumentista ocupando vários cargos e funções. Hoje em dia, pretende dedicarse às letras de forma mais permanente e almeja apenas evoluir e seguir a espuma dos dias. «Ninguém Leva a Mal» é a primeira obra literária em que participa. Participações em antologias Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017).

mar (S)Em Desespero», «Apenas Saudade», «Palavras de Veludo», «Caprichos & Virtudes», «O Poder do Vício», «Um Litro de Lágrimas», «Boas Festas», entre outras. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «SextaFeira 13» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Os Vigaristas» (2018). APOLO – Reside em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, Açores. Nos anos 90 do século passado, publicou contos e poemas nas revistas Gaie France e Korpus. Participações em antologias Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017). AUGUSTA SILVA – Nascida em 1964, mãe de uma menina com 29 anos, reside em Sobrado, Valongo. É florista. Mas escrever sempre foi um sonho, assim como ler é uma paixão. Tem por hobbies (além de escrever e ler), pintar, fazer longas caminhadas e cinema. Em 2016, participou, pela primeira vez, em duas obras literárias, ambas da Sui Generis. Participações em antologias Sui Generis: «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017). CARLOS ARINTO – Português, sem rédea. Contemplador da paisagem que – para além do olhar – existe. Artesão das palavras e dos sentimentos. Peregrino. Por vezes autor. Outras criador. Diznos: «Venho de nenhures e vou para sempre. Não queiram saber de mim. Leiam-me... é suficiente. É tudo!» Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «Crimes Sem Rosto» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018).

ANGELINA VIOLANTE [foto em cima] – Nascida em 1977, Angelina Rosa Nogueira Santos Violante é doméstica e mãe de um menino. Escrever sempre foi um sonho e tem por hobbies (além de ler e escrever) bordar, montar puzzles e pintar; também é fã de passatempos (palavras cruzadas, sopas de letras, sudoku, etc). Tem vários trabalhos publicados em obras colectivas: «O Futuro Está Já Ali», «Receitas Secretas», «Adivinha Quem Vem Jantar?», «Patas, Pêlos e Penas», «A Mulher do Próximo», «Quatro Poetas», «Poemário 2015», «Poemário 2016», «Quando o Amor é Cego», «A88


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em 2015 com o livro «O Melhor Amigo». Participações em obras Sui Generis: «Sexta-Feira 13» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018).

DENISE BERTO – Brasileira, actua há mais de 30 anos no meio jornalístico como repórter de jornais da grande imprensa, editora, subeditora e redactora de conceituadas revistas; executiva de contas de importantes assessorias de imprensa, acumulou experiência e uma bagagem profissional que são de grande valia para qualquer empresa do ramo de comunicações. Recentemente, aceitou novos desafios: lançar uma revista de negócios voltada para o mercado de animais domésticos; outra para a Região da Granja Viana ou ainda escrever sobre os grandes nomes da Filosofia e Psicanálise como Jean Piaget, Aristóteles, Karl Marx, etc. Em 2015, terminou de escrever o livro «Souvenir Macabro!». Participações em antologias Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017).

GUADALUPE NAVARRO [foto em cima] – Nascida em Lima, Peru, vive no Rio de Janeiro, Brasil. É bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com pós-graduação em Filosofia Contemporânea. Em 2014, publicou os seus primeiros poemas; em 2016, estreou-se na prosa com a sátira A Estátua de Sal, na antologia «A Bíblia dos Pecadores». Publicou dois livros: «Poemas da Alma» (Pastelaria Studios, 2015) e «Decifra-me... ou Devoro-te!» (Sui Generis, 2017). Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Sexta-Feira» 13» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019).

FLORIZANDRA PORTO [foto em cima, à esquerda] – Nascida na cidade de Mindelo, República de Cabo Verde, em 1983, formou-se em Educação de Infância no Instituto Pedagógico da Praia. É professora do ensino primário. Participou em concursos literários e integrou o fanzine “Banda Poética” de Julho de 2012. Estreou-se no mundo da escrita 89


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ISIDRO SOUSA [foto em cima] – Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, trabalhou para três editoras, participou em duas dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Presentemente, dirige a revista SG MAG, fundada em Janeiro de 2017. Tem 20 antologias organizadas (algumas editadas, outras a decorrer) e três livros publicados: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios».

contista, novelista e romancista, publicou sete livros. Participações em antologias Sui Generis: «O Beijo do Vampiro» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017). JOÃO SANTOS – Jovem português de vinte anos, residente em Lisboa. Publica os seus textos poéticos pela primeira vez numa obra colectiva. Participações em antologias Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017). JONNATA HENRIQUE [foto na página seguinte] – Brasileiro, natural da cidade de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Jonnata Henrique mostrava, enquanto criança, certa intimidade com a leitura e a escrita; escreveu textos, redacções e peças escolares na escola, adentrando no mundo das letras, onde permanece até hoje. Autor de cerca de 60 títulos em cordel, publica poesias em décimas, sextilhas, septilhas, sonetos e outros estilos poéticos. Escreve também crónicas, contos e romances. Participa em antologias brasileiras e portuguesas.

IVAN DE OLIVEIRA MELO – Nascido em 1953, Recife, Pernambuco, Brasil. Formado em Letras pela Funeso, Olinda, PE, actuou durante mais de trinta anos no magistério, estando hoje aposentado. Escreve desde a adolescência. Poeta, cronista, 90


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Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018).

1966, na cidade de Itabuna, Bahia, Brasil. Pedagogo com especialidade em Educação Afectiva e Sexual, tem poemas publicados em vários jornais da região e algumas aventuras pelo teatro amador. Publicou um livro de poesia, «Lágrimas», em 1986, e desde então escreve para a gaveta. Participações em antologias Sui Generis: «Ninguém Leva a Mal» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017).

JOSÉ ANTÓNIO LOYOLA FOGUEIRA [foto na página seguinte, em cima à esquerda] – Nasceu em

JOSÉ TEIXEIRA – José Augusto Patrício Teixeira

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JÚLIO GOMES – Pseudónimo de Fábio Gomes Borges. Carioca de gema, reside no Rio de Janeiro, Brasil. Formado em História, lecciona nas redes públicas municipal e estadual. É casado, tem 36 anos, prefere ler Ficção Científica, Suspense, Terror e Fantasia. Iniciou a carreira de escritor em 2015; desde então, participou em antologias de várias editoras: «Nanquim» (Editora Andross), «Deitado em Berço Esplêndido» (AGA Edições), «Mais do que Palavras» (Editora Scortecci), entre outras. Publicou um livro: «A Íris Azul de Cleópatra» (Amazon, 2016, ebook). Participações em antologias Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017). MARCELLA REIS – Nascida em 1984, em Goiânia (Goiás), Brasil, reside na zona de Sintra, Portugal. Obras editadas: «Era Uma Vez a Poesia...» (Chiado Editora, 2012), «O Dia Em Que Pari Minha Mãe» (Edições Vieira da Silva, 2013) e «Lágrima Artificial» (Alma Lusa, 2016). Classificada em 3º Lugar no Concurso Internacional de Contos de Araçatuba, venceu o concurso Peças de Um Minuto com a peça «Beijo de Línguas», obteve Menções Honrosas noutros certames e participou em várias obras colectivas. Presença regular nos projectos Sui Generis, coordenou, a convite de Isidro Sousa, a sua primeira antologia: «Saloios & Caipiras». Em 2016, venceu o 1º Concurso Literário da Silkskin Editora; o prémio consiste na edição de uma novela erótica: «Amantes Lepidópteras». Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018).

nasceu na Guiné Bissau, em 1950. Estudou na cidade de Bissau e em Lourenço Marques, ex-colónias portuguesas. Fez o Serviço Militar obrigatório em Moçambique, de 1970 a 1973. Foi bancário em Moçambique e em Portugal. Licenciou-se em Relações Internacionais Culturais e Políticas, pela Universidade do Minho, em Braga. Encontra-se presentemente na situação de Reformado. Participou em dois volumes de «Entre o Sono e o Sonho» (Chiado Editora, 2014 e 2015), nas colectâneas «Um Grito Contra a Pobreza» e «Poetas d’Hoje» Vol. II, ambas do Grupo Poesia da Beira Ria (Aveiro) e na antologia «Boas Festas» (2016), organizada por Isidro Sousa para a Silkskin Editora. Livros publicados: «O Espantalho Simão» (Chiado Editora, 2015), «A Fada Dentinho» (Sítio do Livro, 2015), «A Sereia Luana» (Editora Euedito, 2016) e «Moçambique, Norte Sangrento» (Editora Euedito, 2016). Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Brisas de Outono» (2019).

MARIA ISABEL GÓIS – Nasceu em 1962, na freguesia de Campanário, Ribeira Brava, e reside em São Vicente, Ilha da Madeira. Educadora de infância, sempre gostou de escrever e escreve... e deixa ficar na caixinha das recordações. Desde que 92


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aprendeu a ler, descobriu um mundo que nunca mais deixou de amar. Lema: ler e escrever! Participou em «Um Litro de Lágrimas» (Pastelaria Studios) e em várias obras Sui Generis. Participações em antologias Sui Generis: «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018).

Mal» (2017), «Torrente de Paixões» (2017), «Sexta-Feira 13 (2017), Fúria de Viver» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018). ROSA MARQUES – Nascida na Madeira, em 1959, reside em Porto Santo. Participou em diversas obras colectivas e publicou dois livros de poesia pela Sui Generis: «Mar em Mim» (1ª edição 2016, 2ª edição 2018) e «Prisioneiros do Progresso» (2017). Gosta de ler e de tudo o que está ligado à arte e à cultura. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), Fúria de Viver» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019), «Bendita Manjedoura!» (2019).

SAKURA SHOUNEN – Nome de código deste nerd trintão, residente na Grande Lisboa, apaixonado por banda desenhada japonesa, videojogos e fantasia em geral. Começou a escrever cedo, na escola, onde reparou que as redacções lhe saíam com facilidade e muitas vezes compensava a falta de conhecimentos com a imaginação e capacidade de improviso. Escreve sobre coisas que o fascinam e entusiasmam de alguma forma, sempre e só por prazer – porque escrever por encomenda nunca será o seu modo de vida. Romance e fantasia são alguns dos seus géneros favoritos, mas ambiciona escrever um grande romance de mistério policial algum dia. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017).

MARIZETH MARIA PEREIRA [foto em cima] – Nascida em Brotas de Macaúbas (BA), Brasil, em 1968, reside há mais de trinta anos na cidade de Osasco (SP), onde participa em vários eventos culturais, e foi nomeada directora cultural pelo partido PROS MULHER. Publicou um livro de poesia: «Segredos de Uma Vida» (2015). Participações em antologias Sui Generis: «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Ninguém Leva a 93


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SARA TIMÓTEO – Publicou os livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» (2011) e «Chama Fria ou Lucidez» (2011); «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014), «Os Quatro Ventos da Alma» (2014), «O Telejornal» (2015); «O Corolário das Palavras» (2016); «Refracções Zero» (2016), «Compassos» (2017), «Diário Alimentar» (2017) e «Manual dos Ofícios» (2018). Tem em preparação novos projectos. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «SextaFeira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Crimes Sem Rosto» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019), «Bendita Manjedoura!» (2019).

sional na área de informática, com um pequeno devaneio: escrever. Nasceu em Olhão, em 1963; reside em Évora e Lisboa. Em Julho de 2015, venceu o 5º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora e abdicou, mais tarde, do prémio que lhe foi atribuído. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017).

SÉRGIO SOLA [foto em baixo] – Formador profis-

SERTORIUS [foto em cima] – Luís Chagas nasceu da safra de 70 em Lisboa e reside na margem certa do Tejo: Margem Sul. Frequentou o Curso de Línguas e Literaturas Modernas (variante de Estudos Portugueses) na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo muitos anos antes desenvolvido um gosto pela leitura e pela escrita. Escreve no seu blogue (ho mensavoltadeumcopo.blogspot.pt) quando pode ou quando lhe apetece. Em 2014, fez um workshop de Escrita Criativa que acabou por lhe reacender o desejo de escrever. Assina com o pseudónimo Sertorius. Participações em antologias Sui Generis: «O Beijo do Vampiro» (2016), «SextaFeira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Os Vigaristas» (2018). SIDNEY ROCHA – José Sidney Rocha é brasileiro, formado em Comunicação Social, Jornalismo, pós-

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graduado em Marketing. Actua como assessor de imprensa na capital do Brasil, numa entidade sem fins lucrativos. Nascido em Unaí, estado de Minas Gerais, em 1985, mudou-se para o Distrito Federal aos 19 anos e, após trabalhar numa livraria, encantou-se pelas letras. Desde então, nunca mais parou. Estrou-se como autor em antologias e com o romance «O Transviado», pela editora Giostri, de São Paulo. Além de escrever, é actor, com 12 anos de carreira no teatro. Participações em antologias Sui Generis: «Vendaval de Emoções» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017).

Papel D’Arroz Editora. Publicou um livro de contos: «Almas Feridas» (Sui Generis, 2016). Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Crimes Sem Rosto» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «Devassos no Paraíso» (2017), «Os Vigaristas» (2018).

TERESA FARIA [foto em cima] – Teresa Maria Silva Faria nasceu na freguesia de Santo António, Funchal, em 1963. Frequentou a antiga Escola de Magistério Primário do Funchal e, posteriormente, a Universidade da Madeira, onde fez a Licenciatura no 1º Ciclo do Ensino Básico. Exerce a profissão docente desde 1983. Gosta de ler, escrever e de fazer caminhadas a pé. Também adora viajar. Reside no Funchal. Participações em antologias Sui Generis: «Torrente de Paixões» (2017), «SextaFeira 13» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Brisas de Outono» (2019).

SUZETE FRAGA [foto em cima] – Nasceu em Azurém, Guimarães, em 1978, e ingressou no mercado laboral aos 17 anos, no sector têxtil, onde permanece até hoje. Após ter concluído o ensino secundário através das Novas Oportunidades, fez uma formação de escrita criativa (com Pedro Chagas Freitas) e participou em várias obras colectivas, campeonatos de escrita criativa e concursos literários; distinguida em três concursos, abdicou do prémio atribuído, em Novembro de 2015, pela

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TITO LÍVIO [foto em cima] – Crítico de cinema e de teatro no Diário Popular, República, A Capital, vencedor de dois prémios no Diário de Lisboa Juvenil. Colaborador de jornais como Notícias da Amadora, Jornal do Fundão, Jornal de Letras, Diário do Algarve, O Setubalense e revistas Seara Nova e Manifesto. Membro do Conselho Editorial da revista Korpus, editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Entre 1995/2005, docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco

da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (19611965)». Autor de «Sobreviventes» (peça de teatro). Participações em obras Sui Generis: «O Beijo do Vampiro» (2016), «Vendaval de Emoções» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Ninguém Leva a Mal» (2017), «Saloios & Caipiras» (2017), «Os Vigaristas» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018). VÂNIA DE OLIVEIRA – Nascida em Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil), em 1968, formada em Letras, pós-graduada em Língua Inglesa e actualmente faz o curso de Música. Tem uma página: «Pingos de Poesia». Participações em antologias Sui Generis: «Vendaval de Emoções» (2016), «Ninguém Leva a Mal» (2017). 96





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RITA QUEIROZ Natural de Salvador, Bahia, Brasil. Professora universitária, filóloga (pesquisadora do manuscrito), poeta. Autora dos livros «Confissões de Afrodite», «O Canto da Borboleta», «Canibalismos» (Penalux, 2019, 2018, 2017), «Ciranda, Cirandinha: Vamos Brincar com Poesia?» (infantil) e «Colheitas» (Darda, 2019, 2018). Organizadora de colectâneas, colunista na revista cultural Evidenciarte. Com publicações em diversas antologias, no Brasil e no exterior, bem como em revistas literárias. Integrante dos coletivos “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “Coletivo de Autoras de Literatura Infantil e Infanto-juvenil da Bahia-CALIIB”. Co-autora da antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.

Perfil no Facebook: www.facebook.com/rita.queiroz.334

QUADRO ESCARLATE

E

le adorava fotografá-la, em todas as situações. Ela, às vezes, não gostava, porque achava que não estava bem. Ele sempre dizia que ela acordava linda. Imagina!? Quem acorda lindo ou linda? Para ele, ela estava linda todas as horas do dia. Laura era estudante do curso de Artes Plásticas, daí ser aficcionada pelas formas perfeitas, esteticamente plásticas. Era assim consigo, buscava sempre estabelecer uma relação de sintonia com seu corpo. Malhava todos os dias, exercitando os músculos para defini-los bem. Marcos era bancário. Formado em Economia. Pragmático, seu sonho era Laura. Todos os mimos, os olhares, as projeções eram para ela. A idolatrava! Naquela manhã, os lençóis amanheceram vermelhos. Laura havia partido. Marcos seguia preso em seu labirinto. Os jornais apenas noticiaram mais um caso de feminicídio.  

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SONETO PARA O DELÍRIO CARNAVALESCO [ Tauã Lima Verdan ]

As músicas e marchas carnavalescas a tocar Uma sensação instigante no corpo a tomar A vontade indecorosa de festejar em felicidade Livre de toda amarra com soberba sagacidade A festa da carne desperta a delirante inspiração Do festejo indomado, pulsa desejoso o coração O suor corre pelo corpo em profusão colossal Num mover sem fim, cenário intenso e surreal Máscaras ocultam a verdadeira face perdida Pierrôs e colombinas danças em desmedida O arlequim enfeitiça mais uma vítima desejante No bloco do delírio carnavalesco não há razão Há apenas o instinto desejoso, pura emoção Ao toque de um querer, uma fantasia exultante

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CANÇÃO IMORTAL [ Maria de Fátima Soares ]

Mascarada a rigor vou judiar do Amor pelas ruas da Cidade. Quero dançar toda a noite. Cortejando a Alegria Celebrando a Felicidade. O mundo será o tema. da minha canção imortal Da minha autoria o poema... neste belo Carnaval

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SONETO PARA O CARNAVAL [ Tauã Lima Verdan ]

Serpentinas, purpurina e um desejo de alegria O espírito está livre para festejar sem agonia O corpo suado é convidativo ao toque desejoso Há um sussurro de prazer a falar assombroso Os olhares trocados clamam por uma paixão Ainda que tórrida e efêmera, uma sensação Da liberdade de querer na carne em festividade Grita o corpo ardente em alucinante vontade As mãos correm por corpos desnudos e suados Beijos inquietos se movem descompassados Em um frenesi que grita pela insana emoção A volúpia libertina explicitada em um querer Um gemido intenso conduzido em puro prazer De um toque mais forte explicitado pela mão 106


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CARNA-VAL [ Alexandra Patrocínio ]

A fantasia efêmera chega ao fim? – Um grande vazio existencial! Há quem diga: – É essencial à vida do homem. – Ela o destrói. Há quem nada diz... Muitos desejam uma fantasia eterna brincando de esconde-esconde disfarçam marcas impressas no rosto e as cicatrizes do coração. No circuito da vida, os blocos do esquecimento e do vazio desfilam todos os dias. A fantasia eterna impede o desnudamento.

SEM CONDENAÇÃO [ Antônio C. S. Santos ]

Vou me esconder Para me mostrar Tão nu como nunca me vi, Ao toque dos tambores, vou sambar, Ninguém me reconhecerá aqui, Num canto, vou me arriscar, Até vou namorar quem não escolhi, Pelo cheiro sensual, engolir o ar, Tem clima, vou querer cheirar, Vou desejar dar Tudo o que escondi, Para o meu carnaval, Meu estranho normal, Atrevo botar pra fora, Começou e não tem hora, Vou permitir, vou dançar,

Pro meu libido mascarado, Nem certo, nem errado, Em vão é condenar, Se o corpo fala, o requebrado insinua, A corte é o desejo que vem primeiro, O gozo queima, e é forasteiro, Ninguém estranha minha pele nua. Não quero as cinzas, nem o fogo dos descontentes, Quero o tição vivo em minhas brasas, Quero o carnaval reverberando em minhas asas, Essa fênix, dos meus dias diferentes.

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CARNAVAL [ Armindo Gonçalves ]

“Cor luz e alegria, Carnaval é de folia” Carnaval é de folia, E também de foliões, Festa de muita alegria, Tem beleza e magia E tem grandes multidões. As sátiras que vão passando Dão vida, cor aos cortejos, Todos ficam murmurando, Quem passa vai acenando E atirando alguns beijos.

VÊNUS CALIPÍGIA

Os disfarces bem diferentes De gigantes e anões, No corso vão tão contentes, A dizer que estão presentes, São gente, são foliões.

[ Julizar Dantas ]

Nasceu sob a magia de Vênus em noite de ventania de paixão e fantasia em pleno Carnaval a preferência nacional Sustentada pelas coxas bem atrás do umbigo duas pérolas uma ostra mais parece um par de figos ou dois belos montes gêmeos sulcados em vale profundo lá vai ela preciosa a coisa mais bela do mundo lá vai a rainha uma Vênus calipígia rebolando majestosa linda maravilhosa lá vai a bunda.

Com a cara bem tapada, Para não reconhecer, Ou então cara pintada, Mesmo que muito molhada, Segue em frente com prazer. Mas hoje vão acabar, Os três dias de folia, A Quaresma a começar, Ser católico é preparar A Páscoa da aleluia.

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O CARNAVAL NO TACHO DE DENDÊ [ Maria Angélica Rocha Fernandes ]

Se Colombina viesse para a Bahia não só Arlequim e Pierrô enlouqueceriam, atrás do trio elétrico, ela iria, com Dona Flor e Vadinho, numa só alegria.

Se Baco ou Dionísio viessem para cá, até o vinho deles iria se acabar, no circuito de Dodô e Osmar, Itália, Roma e Grécia, com os baianos a se misturar...

Carnaval na Bahia não tem máscaras, só fantasia beija-se um, dois, três, quantos quiser, ninguém chora pelo amor da Colombina, ou de uma Maria, no meio da multidão, é riso, suor e axé.

Carnaval na Bahia é uma mistura no tacho de dendê, pobre, rico, mulato, hétero, gay, homem e mulher ninguém quer nada além de se divertir e beber, tudo certo para o der e vier.

O salão é a rua, o teto é a lua, e a roupa pode ser quase nua, dentro da gente dá o que nem devia, sentimentos soltos, à revelia.

Vem para o Carnaval da Bahia, Vem viver essa democracia! 109


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ANTIGOS CARNAVAIS

UM DIA SEM CARNAVAL

[ Roselena de Fátima Nunes Fagundes ]

[ Antônio C. S. Santos ]

A criançada esperava com euforia o dia de Carnaval para brincar na matinê de domingo da alegria, no grande salão da vila para pular!

Naquele dia, O esvaziado de alegria Enchia de fúnebre ar as avenidas, Sem o calor do samba enredo, O silêncio dava medo, E alejava os foliões, Que não saíram de seus barracões, Sem o motivo de suas vidas. Naquele dia, Avenidas, ruas, becos, vias... Cidades, estados, o país, a nação, Parece que tudo ficou choco, Havia nas pessoas um oco, Um olhar vazio, uma tristeza na lida, Alguma coisa estava errada com a vida, No descompasso de seu coração. Tudo porque não havia carnaval naquele dia, Os lugares nus, sem fantasia, Mostravam a tristeza, que aquela festa mascarava, Os sofrimentos que por ela eram suportados, Os mundos que nela eram nivelados, Mostravam agora sua desidentidade, Numa fria sensação de falta de liberdade, E do motivo que a vida encantava. Seria o fim da pobre ilusão? Para onde iria A euforia que ocuparia as ruas naquele dia? As Baianas, as mulatas, as alegorias? Os confetes, as serpentinas, o divertimento? Quem poderia explicar, naquele momento, Onde foi parar o carnaval? Quem judiaria daquele povo, afinal? A ponto de lhes tirar a maior de suas alegrias?

Eram as crianças mais felizes, fantasiadas ou enfeitadas, todas riam e eram capazes de diversões muito animadas! A criançada brincava na inocência, pulando e dançando as marchinhas! A tarde domingueira era harmonia numa época de felizes criancinhas!

CARNAVAL [ Leandro Sousa ]

Tempo de muita folia No território nacional As escolas de samba Mostram seu potencial Tudo pronto na avenida Vai começar o carnaval No meu querido Nordeste A festa tem boa repercussão Vários cantores se apresentam Pelos estados da região Trazendo energia positiva Para cada um folião 110


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SAMBA DE PAZ SOU CARNAVAL

[ Janice Reis Morais ]

[ Domingos Bala ]

Ô abre alas! Está chegando a hora Com que roupa que eu vou Ei, você aí Me dá um dinheiro aí Acorda, Maria bonita Chegou o pirata da perna de pau Apareceu a Margarida Mais de mil palhaços no salão Chegou a turma do funil Passa a mão no saca, saca rolha As águas vão rolar Cachaça não é água não Mamãe eu queroooo... Carnaval pra gente sambar... Não deixa o samba morrer... Não deixe o samba acabar Eu quero botar meu bloco na rua Bandeira branca, eu peço paz

x Sou o arco íris... dele pinto sorrisos Povos, tribos e línguas e a transformo em uma só nação Sou a magia que agita a sua rua Sou o batuque, com quitarra faço o sol dançar e as estrelas aplaudem Sou calor das máscaras Que aquece Inverno, e no Verão Espalho amor no mundo todo Sou a melodia dos pássaros e o olhar inocente das crianças Carrego a sua dor, e em troca dou alegria ao pôr do sol Sou grito do apito que toca Seu coração, e você pula de alegria Porque eu cheguei...

QUINTA CARNAVALESCA

Sou o semba... Sou a samba... Sou o carnaval...

[ Thiago Guimarães Corrêa ]

baile mascarados procuram par dançando marchinhas numa folia ímpar

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QUANDO O CARNAVAL PASSAR...

de modo que ninguém por perto vá conseguir... Me aturar. Sei que ainda falta muito tempo para outro Carnaval voltar. Por isso vou ser contida, em tudo na minha vida. E dosear a tristeza com as risadas que restam... Das que acabei de guardar.

[ Maria de Fátima Soares ]

Quando o Carnaval passar, O sorriso vou guardar, numa gaveta arrumado, passado a ferro e dobrado, para a traça nele não entrar. Cuidarei também da tristeza para que ela não me invada e deixe cinzenta e amarga 112




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CONTO

O PIERROT MARY ROSAS Natural da Venezuela, com origens em Portugal, África e América do Sul, veio para Portugal em 1967, com um ano e meio de idade. Parte da sua família está na Venezuela e a outra em Portugal. Desde a escola que gosta muito de poesia, inspirada pelas professoras Marília Rosas e Clementina Rosas, suas familiares. Sempre gostou de escrever, mas só em 2014 se decidiu a escrever poesia com mais regularidade e frequenta, desde esse ano, as sessões Poesia em Folhas de Chá. É co-autora em várias colectâneas. Participações em antologias Sui Generis: «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). Perfil no Facebook: www.facebook.com/mary.rosas.984

“No conjunto de todos os disfarces, houve um que lhe chamou a atenção. Aquela presença estava constantemente a rodeá-la, mas sem falar com ela. À saída, alguém lhe entregou um papel com um número de telemóvel, e desapareceu. Era um Pierrot... Ficou sem reacção. Olhou para todos os lados e não o viu em mais lado nenhum. Quando chegou a casa, estava pensativa e intrigada. Quem seria aquele rapaz? Deitou-se a pensar nisso, mas depressa adormeceu vencida pelo cansaço. Guardou o bilhete na gaveta, e apesar de ter sondado os seus amigos não obteve resultados. Acabou por se esquecer e continuou a sua vida normal.” POR MARY ROSAS

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A

quele ano de 2010 mudou a vida de Sara. Era uma jovem divertida e centrada nos seus estudos. Como qualquer jovem, “brincava” ao Carnaval com os seus amigos, colegas, familiares, etc. Tinha, então, 18 anos. No entanto, nesse ano, algo de especial lhe aconteceu, que ficaria na sua memória para sempre, e que nunca iria esquecer. O seu coração bateu fortemente por alguém de maneira inesperada. Numa tarde de Domingo, após ter terminado de estudar, recebeu um telefonema da sua amiga Luísa, que a convidou para uma festa de Carnaval, que iria acontecer daí a duas semanas. A princípio, não gostou muito da ideia. Mas com tanta insistência de Luísa e do resto dos seus amigos, lá acabou por aderir a ir à festa. No fimde-semana anterior, juntaram-se e foram comprar os disfarces.

Luísa estava de freira, Sara de pirata, Luís de frade, e por aí adiante. Na véspera de Carnaval, à hora combinada, juntaram-se todos no Bar das Cinco para se divertirem. A noite foi animada e todos dançaram muito e beberam uns “copitos” a mais. No conjunto de todos os disfarces, houve um que lhe chamou a atenção. Aquela presença estava constantemente a rodeá-la, mas sem falar com ela. À saída, alguém lhe entregou um papel com um número de telemóvel, e desapareceu. Era um Pierrot... Ficou sem reacção. Olhou para todos os lados e não o viu em mais lado nenhum. Quando chegou a casa, estava pensativa e intrigada. Quem seria aquele rapaz? Deitou-se a pensar nisso, mas depressa adormeceu vencida pelo cansaço. Guardou o bilhete na gaveta, e ape116


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sar de ter sondado os seus amigos não obteve resultados. Acabou por se esquecer e continuou a sua vida normal. Chegando ao final do ano lectivo, e com a aproximação da possibilidade de entrada na faculdade, estudou intensamente para este objectivo. Tanto esforço obteve sucesso e entrou em Psicologia, a sua primeira opção. Feliz por este facto, propôs-se a divertir-se nas férias e a encarar o novo desafio futuro. Em meados de Junho, toca o seu telemóvel. Curiosa, atende, mas não reconhece a voz. Tentou descobrir quem estava do outro lado da linha. Foi então que Daniel, o disfarçado misterioso, se identificou. Explicou que, por ser tímido, não foi capaz de lhe dirigir a palavra no Carnaval. Por isso, lhe deu o seu número de telefone daquela forma. Referiu que era um amigo de Luísa, e tinha estado fora do país, em Erasmos, por meio ano. Daí, não a ter contactado. Combinaram então um encontro à beira-mar, para se conhecerem melhor e tomarem café. A partir daí, viveram uma intensa história de amor de Verão com muito calor, sol, mar e paixão, natural nesta fase da nossa vida. Entretanto, o Verão acabou e Sara retomou os seus estudos e Daniel começou a trabalhar. O encanto desse amor começou a desaparecer lentamente e a paixão virou amizade. Sara concluiu o seu curso e foi colocada no Porto, onde estudou e acabou por conhecer o seu marido. Daniel, ora solteiro, ora com relacionamentos, seguiu o seu caminho, tornandose um escritor de renome. Quanto a Sara, depois de se divorciar, sem filhos, enveredou pela poesia, chegando a escrever uns quantos livros e a participar em diversas sessões de poesia. Mantiveram sempre a amizade que os unia profundamente.

Curioso pensar que uma situação de Carnaval, um Pierrot, poderia unir duas pessoas com uma bela amizade cimentada pelos anos. Os bons amigos estão lá sempre, mesmo não estando fisicamente. Ainda hoje se encontram com regularidade e cada um seguiu o seu caminho, estando sempre presentes na vida um do outro. Um grande amor também pode ser amizade. 

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CONTO

RITA QUEIROZ Natural de Salvador, Bahia, Brasil. Professora universitária, filóloga (pesquisadora do manuscrito), poeta. Autora dos livros «Confissões de Afrodite», «O Canto da Borboleta», «Canibalismos» (Penalux, 2019, 2018, 2017), «Ciranda, Cirandinha: Vamos Brincar com Poesia?» (infantil) e «Colheitas» (Darda, 2019, 2018). Organizadora de colectâneas, colunista na revista cultural Evidenciarte. Com publicações em diversas antologias, no Brasil e no exterior, bem como em revistas literárias. Integrante dos colectivos “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “Coletivo de Autoras de Literatura Infantil e Infanto-juvenil da Bahia-CALIIB”. Co-autora da antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/rita.queiroz.334

AS CINZAS NÃO SE APAGAM “A cidade toda estava em festa. O maior rebuliço! Quinta-feira, dia da abertura dos festejos momescos, das loucuras que ficariam nas cinzas da quarta-feira. As cinzas dos apaixonados! Logo cedo Fernando procurou Marília, que estava na escola, pois ainda tinha aulas naquela manhã. Com os colegas, combinava de irem à noite ver a entrega da chave da cidade ao Rei Momo. Ela adora carnaval e não queria perder nenhum dia de folia.”

POR RITA QUEIROZ

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á era carnaval! A cidade toda estava em festa. Queria ir com ele, mas havia os colegas da escola. O maior rebuliço! Quinta-feira, dia da abertuDisse isso a Fernando, que concordou de irem tora dos festejos momesdos juntos. cos, das loucuras que ficariMesmo em plena folia, na am nas cinzas da quarta-feiBahia, Fernando foi pontuara. As cinzas dos apaixonalíssimo! Às 20h00 saíram. Ela Foram caminhando em direcção dos! morava no Politeama, um à Praça Castro Alves, a do povo, Logo cedo Fernando probairro do Centro de Salvaonde o poeta estende a mão e curou Marília, que estava na dor. Foram caminhando em abençoa a todos. Esta seria escola, pois ainda tinha aulas direção à Praça Castro Alves, naquela manhã. Com os coa do povo, onde o poeta esa primeira noite do primeiro legas, combinava de irem à tende a mão e abençoa a tocarnaval na cidade que duraria noite ver a entrega da chave dos. Esta seria a primeira cinco dias. Obra daquele que da cidade ao Rei Momo. Ela noite do primeiro carnaval foi amado e odiado (talvez na adora carnaval e não queria na cidade que duraria cinco mesma proporção), chamado perder nenhum dia de folia. dias. Obra daquele que foi Quando chegou em casa, amado e odiado (talvez na de Toinho Malvadeza, mas que, Marília soube da visita. Fermesma proporção), chamaem se tratando de festa, todos nando voltou à tarde e a do de Toinho Malvadeza, esqueciam e caíam na folia! convidou para irem juntos mas que, em se tratando de para o carnaval. E agora? festa, todos esqueciam e caí120


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am na folia! ACM, que não era bobo, fazia o povo esquecer dos problemas, ofertando pão e circo. Bem assim! Pelo menos durante esses dias. Marília, Fernando e os amigos desceram pela Av. Sete, passando pelo famoso Relógio de São Pedro, ponto de encontro conhecido nos dias de Momo. Iam ao som de alguns grupos que tocavam instrumentos de sopro e percussão. Pararam no Edifício Sulacap, bifurcação entre a Praça Castro Alves e as avenidas Sete de Setembro e Carlos Gomes. Ali ficaram esperando o show de abertura do carnaval. Ali aconteceu o primeiro beijo entre Marília e Fernando. Ali começou o carnaval apaixonado para eles. Ela tinha 17 anos, ele 22. Ela estudante do ensino médio, ele já formado em Economia. Não se separaram mais. Assim foi todo o carnaval. Durante os cinco dias de festa, Fernando vinha buscar Marília e os dois seguiam para a avenida, a pularem atrás dos blocos Camaleão, Beijo,

Internacionais, Corujas, dentre tantos outros. Foram também ao som de uma banda que ficaria famosa e que nessa ocasião puxava o bloco “Traz os Montes”. Era a banda Scorpius, que no ano seguinte já se eternizava como “Chiclete com Banana”. Fernando era todo carinhos! Marília, toda encantamento! De mãos dadas, olhos nos olhos, corpo a corpo! Era o amor transbordando! Era o sonho de viver um amor nos dias de Momo! Marília levitava, Fernando a conduzia! Seria o melhor carnaval de suas vidas? Naquele momento, sim, embalados pelo tema do carnaval daquele ano: “Deixe o coração mandar”. E eles deixaram. O coração mandou para além dos cinco dias de carnaval! Marília e Fernando engataram o namoro, que logo esquentou. Em um ano estavam noivos. Em dois, casaram-se. E em quatro... Ele não tinha perfil de ser fiel. Marília, por sua vez, não desejava uma vidinha de casada apenas. Queria muito mais do que isso, queria o mundo! Ainda viveram outros carnavais juntos, não iguais àquele, cujas cinzas nunca se apagaram.  121


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DIAS CAMPOS Ganhador do Troféu Destaque na 7ª Edição do Sarau Musical Cultural (2019); Menção Honrosa no Prêmio Nacional de Literatura dos Clubes (2019); “Embajador de la Palabra”, título concedido pela Asociación de Amigos del Museo de la Palabra (2014); 3º colocado no I Concurso de Crônicas da Academia Bragantina de Letras (2014); ganhador do Prêmio Latino-Americano de Excelência (2013); Medalha de Ouro no I Concurso Oliveira Caruso (2011); vencedor do Concurso Mundial de Cuento y Poesía Pacifista (2010); 3º colocado no II Prêmio Araucária de Literatura (2010) e membro da Asociación de Amigos del Museo de la Palabra, da Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos, do Movimento Poetas del Mundo e da Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências. Autor dos romances «A Promessa e a Fantasia» (Amazon, 2015) e «As Vidas do Chanceler de Ferro (Chiado Editora, 2009) e de diversos textos literários, e co-autor de livros e artigos jurídicos. Perfil no Facebook: Dias Campos (Embajador de la Palabra)

ATUALIDADES MACHADIANAS: O CARNAVAL!

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h! O Carnaval!... É impressão minha ou já se pode ouvi-lo chegando à nossa porta? Com essa pergunta, não me referia somente à expectativa que ronda este fevereiro de 2020, nem à que se verifica desde o final do ano passado, se pensarmos na amada Bahia. Na realidade, referia-me à que cutucava os ouvidos do Bruxo do Cosme Velho... Com efeito, em crônica de 1889, Machado de Assis já escrevia: «Carnaval à porta. Já lhe ouço os guizos e tambores. Aí vêm os carros das idéias. Felizes idéias, que durante três dias andais de carro! No resto do ano ides a pé, ao sol e à chuva, ou ficais no tinteiro, que é ainda o melhor dos abrigos. Mas lá chegam os três dias, quero dizer os dois, porque o de meio não conta; lá vêm, e agora é a vez de alugar a berlinda, sair e passear.» (Obras Completas de Machado de Assis – Bons dias! & Notas Semanais, São Paulo: Globo, 1997, p. 53). Se esta expectativa é de hoje e de antanho, será que a falta de verbas só agora incomoda? Com a palavra, o mestre: «Mas a falta de dinheiro (prosa, em língua púnica) não me permite pôr esta idéia na rua. Sem dinheiro, sem ânimo de o pedir a alguém, e, com certeza, sem ânimo de o pagar, estou reduzido ao papel de espectador. Vou para a turbamulta das ruas e das janelas; perco-me no mar dos incógnitos.» (idem, mesma página). É incrível a atualidade de Machado, pois não? 

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Cinthia Gonçalez Ê co-autora de Sinfonia de Amor (2018). (Nesta foto com Jeferson Sabran, co-autor da mesma obra.)


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POESIA

JORGE PINCORUJA JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja

E POR CONSEQUÊNCIA SEGUE A DEMÊNCIA E na sequência... por acrescento Faltava falar da ciência... Que com toda a sapiência Pode enfeitar de sorrisos um lamento. Um grito ou um girar de asa De uma gaivota no barlavento Um lar é sempre uma casa Mas uma casa nem sempre é um lar E na sequência por distração Deixa-se a história muda, por não a saber contar Deixa-se o ponto de interrogação E o poeta pode então falar Do sonho que o traz preso à vida Nos sonhos que faltam sonhar É que a poesia nasce por conta, peso e medida. E que se alegrem os foliões Que se extravasem as paixões E o riso seja coisa da sequência Não será preciso tanta ciência

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Nem esquemas elaborados Porque com toda a sapiência É por amor que se amam os namorados Depois algures lá no fim do mundo Às portas da madrugada A gente sente-se moribundo E morre sem dar por nada Abençoado o destino De quem assim vive ao calha De ser sempre vespertino No alto de uma muralha Abrem-se os braços ao vento Que o vento abre os desejos Voa livre o meu pensamento No gosto doce de outros beijos E tudo na sequência, da falta que se faz sentir Neste mundo de demência Saber ser não custa nada, e nada custa fingir É pretender que se entende, esta grande baralhada Ou se chora em alto pranto ou se ri à gargalhada E em tudo o que nos querem impingir Hoje é bom, amanha é ruim Que o ruim ontem era bom Muda-se a cor só assim Hoje o santo é pecador E o pecador é de bom tom Que me entenda quem aprove Que nesta prova dos nove A maldade tem novo fedor!

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POESIA

RITA QUEIROZ RITA QUEIROZ Natural de Salvador, Bahia, Brasil. Professora universitária, filóloga (pesquisadora do manuscrito), poeta. Autora dos livros «Confissões de Afrodite», «O Canto da Borboleta», «Canibalismos» (Penalux, 2019, 2018, 2017), «Ciranda, Cirandinha: Vamos Brincar com Poesia?» (infantil) e «Colheitas» (Darda, 2019, 2018). Organizadora de colectâneas, colunista na revista cultural Evidenciarte. Com publicações em diversas antologias, no Brasil e no exterior, bem como em revistas literárias. Integrante dos coletivos “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “Coletivo de Autoras de Literatura Infantil e Infanto-juvenil da Bahia-CALIIB”. Co-autora da antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.

Perfil no Facebook: www.facebook.com/rita.queiroz.334

DIAS DE CARNAVAL As máscaras anunciam a festa Rostos pintados Multidões nas ruas Olhos vazios... Os palhaços convidam para o banquete Todos a bailarem Sol e chuva a inundarem a alma de alegrias A cidade fervilha Fantasias, músicas, tonterias Trios elétricos a vibrarem A mão do poeta se estende sobre o povo As cinzas batem à porta Hora de limpar os rostos Despir as máscaras Voltar a sonhar de novo!

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POESIA

MARY ROSAS MARY ROSAS Natural da Venezuela, com origens em Portugal, África e América do Sul, veio para Portugal em 1967, com um ano e meio de idade. Parte da sua família está na Venezuela e a outra em Portugal. Desde a escola que gosta muito de poesia, inspirada pelas professoras Marília Rosas e Clementina Rosas, suas familiares. Sempre gostou de escrever, mas só em 2014 se decidiu a escrever poesia com mais regularidade e frequenta, desde esse ano, as sessões Poesia em Folhas de Chá. É co-autora em várias colectâneas. Participações em antologias Sui Generis: «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). Perfil no Facebook: www.facebook.com/mary.rosas.984

CARNAVAL Carnaval é tempo de folia Animação e alegria Muitos disfarces, cabeleiras E muitas brincadeiras Cortejos, mascarados Risos por todos os lados Três dias de animação Um reinado de curta duração Trazendo a boa disposição. Regressa a Quarta-Feira de Cinzas Dando lugar à introspecção Acaba-se a festa E passa-se à reflexão. Espera-se que regresse, no próximo ano, novamente Apesar de nem toda a gente gostar, Aguarda-se com ansiedade Para deixar a maioria das pessoas contente. Carnaval, tempo de folia e diversão...

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POESIA

MIKAEL MANSUR MARTINELLI MIKAEL MANSUR MARTINELLI Capixaba, biólogo, professor e táxidermista. Publica as suas pesquisas em revistas científicas do Brasil e do exterior. Organizou a antologia «Letras e Vida» com outros detentos no período em que passou preso. «O Pé de Jambo e a Fábrica de Refrigerante» é o seu primeiro livro e já escreve os próximos, «Entre Cacos e Ciscos» e «Famigerada Culpa», também de poesias. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/mikael.ma nsurmartinelli Contacto: mansurmartinelli@gmail.com

APARIÇÕES A natureza não me assusta Com suas aves, Como aparições sombrias, Por entre galhos e folhas. Não me assusta tanto quanto Esse abismo de pedra moldada, Que suas gentes São aparições sombrias.

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Mary Rosas ĂŠ co-autora de Tempo de Magia (2017), Luz de Natal (2018), Sinfonia de Amor (2018), Brisas de Outono (2019), Bendita Manjedoura! (2019) e Sol de Inverno (2019).


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POESIA

ISABEL MARTINS ISABEL MARTINS Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Participou em várias antologias organizadas pela Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas de Outono» (2019). Reside em Palmela. Perfil no Facebook: facebook.com/isabel.martins.395669

VOLTAR A VOAR Pudesse eu voltar a ter-te, Como sempre que te tive... Sem amarras, ou correntes, Sem marcar sítio, nem hora. Quisesse eu, quisesses tu Deixar tudo, sem demora... Saíres de ti, sem lamentos... A gritares aos quatro ventos Que és livre e que tens asas E que, comigo, queres voltar A voar, sem limites pelo céu, Percorrendo todo um mundo. Então, eu seria tua, e tu meu!...

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Fátima d’Oliveira é coautora de Luz de Natal (2018), Sinfonia de Amor (2018), Sol de Inverno (2019), Brisas de Outono (2019) e Bendita Manjedoura! (2019).


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POESIA

CRISTINA SEQUEIRA CRISTINA SEQUEIRA Natural de Cinfães do Douro (onde reside), distrito de Viseu, nascida em 1972. É co-autora de várias obras colectivas da Colecção Sui Generis, Pastelaria Studios e Edições Colibri. Tem como hobby a sua página «Cristina Sequeira – Pedaços de Mim» no Facebook, na qual publica a sua poesia. Participações em antologias Sui Generis: «Torrente de Paixões» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/cristina.se queira.54390

BANHO DE CHUVA Oh, chuva que me adentras Num absoluto poder Onde o medo fica de lado Lavando com clamor meu ser... Eu me rendo ao teu amor Mil sorrisos declarando Num sentir molhado O gostar te amando... São gotas abençoadas Oferecidas ao Universo Num cair tão suave Que o coração enaltece!

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POESIA

DAVID SOUSA DAVID SOUSA Nasceu em Fânzeres, Gondomar, em 1929. Com o curso superior de Humanidades Clássicas e Filosofia, foi professor do então ensino liceal no Liceu Diogo Cão em Sá da Bandeira, Angola, e na Escola Profissional Artur de Paiva. Tem publicações de poesia e de prosa como e-book na Buboc, lançou o livro «O Canto do Cisne» (papel) na Sinapsis e tem uma coluna no Facebook intitulada Coisas do Caraças. Participações em antologias Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/david.mart insdesousa.353

AMOR SOFRIDO Hoje ao despertar chamei-te. Não ouviste. Por isto mesmo minha alma ficou em amargura. Meu coração bateu, bateu e ficou triste. Porque recusas momentos de ternura? Sei bem que tens de seguir a tua estrada. É diferente da minha que ruma ao sol-posto. Já falámos disto. Mas tu deste-me a mão. E quando não me ouves eu fico com desgosto. Quantas vezes desejei matar esses momentos Pelas poucas vezes me ouviste! E muitas vezes ao dar-te o meu carinho. Agora, espero chegar ao fim em sofrimento. Mas peço-te que não me deixes andar triste. Vamos com sorrisos beber o nosso vinho.

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POESIA

JOYCE LIMA JOYCE LIMA Baiana, Doutora em Educação, Professora, é autora de livros académicos e de poesias e organizadora de antologias poéticas. Actua em projectos de consultoria de textos, na Editora Becalete. Participou numa antologia Sui Generis: «Luz de Natal». Perfil no Facebook: facebook.com/joyce.lima.1069020

SONETO LUA EM FLOR Se tu és flor Eu sou amor Semeias fraternidade Vais colher amizade. Se tu és flor Tens amizade Tens amor de verdade Carregas em ti a humildade. Se tu és flor Germinas por onde for E colherás o verdadeiro amor. Se tu és flor Tens a luz do Criador És botão de lua em flor.

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POESIA

SANDRA BOVETO SANDRA BOVETO Nascida em 1969, reside na cidade de Maringá, PR, Brasil. Possui graduações académicas em Letras e Direito. É autora do livro «O Mundo Exclamante», uma obra infanto-juvenil publicada em Agosto de 2016, tem participações (poemas e contos) em várias obras colectivas, no Brasil e em Portugal, e trabalhos publicados na plataforma Wattpad. Participações em antologias Sui Generis: «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Sexta-Feira 13» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «Tempo de Magia» (2017) e «Os Vigaristas» (2018). Perfil no Facebook: www.facebook.com/bovetosandra

SOU MULHER Sou fêmea de uma espécie singular Não, não sou do lar, sou multilugar Sou do mar, do luar, talvez um Avatar Às vezes pairo no ar Invento horas, amo e odeio o tempo estico-me aos mil espaços que invento Gosto de ciência, maquiagem e filosofia neurociência, dança do ventre e astronomia literatura, adrenalina e carros qualquer shot, livros e sapatos tinto seco, beijo na boca e pimenta Galileu, Vogue, mas tititi não me entra Sou vaidosa, feminina e corro de salto As minhas unhas eu mesma esmalto Amo ouvir e ler gente inteligente Homens sábios seduzem-me facilmente Preconceitos e fofocas me dão aflição Não gosto de falar palavrão, porque não Não cresci pensando em casar e ter filhos Estudei, batalhei e ainda encaro empecilhos Sou independente e carente só de conhecimento Gosto de flores plantadas e jantares à luz do vento Sou a parceira e não a mulher de alguém Sou mãe apaixonada e, do amor, dócil refém

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POESIA

LUIZ ROBERTO JUDICE LUIZ ROBERTO JUDICE Natural de Poços de Caldas (MG), Brasil, é formado em Administração de Empresas pela Universidade São Marcos e em Direito e Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica – PUC. Publicou o seu primeiro livro aos 21 anos de idade e, desde então, dedicou-se à literatura cultivando vários géneros literários: romance, poesia, conto, crónica, etc. É também autor musical, com mais de 60 músicas gravadas. Foi colaborador dos jornais Gazeta do Ipiranga (São Paulo) e Jornal da Cidade (Poços de Caldas) escrevendo crónicas e poesias. É membro de várias agremiações literárias no Brasil e em Portugal. Obras publicadas: «Flores Murchas» (1968), «Lira de Quatro Cordas» (1994), «Pérolas de Fogo» (1995), «Ramalhete de Sonetos» (1995), «Saciedade dos Poetas Vivos» (1997), «Sinhazinha, A Dama do Charco» (2002), «A Morte Silenciosa – A Gripe Espanhola em Poços de Caldas – 1918 (2006), «No Tempo das Salgabundas (2009), «Uma Estrela Fulgurante – A Saga da Estrela Caldense em Prol do Progresso de Poços de Caldas» (2010, em parceria com Hélio Antônio Scalvi), «Cururus & Juritis (2013), «Ânfora Etrusca» (2014), «A Morte em Jequitibá» (2015) e «Lira Camoniana» (2017). Perfil no Facebook: www.facebook.com/luizroberto.judice

BAGAGEM Quando a primeira estrela pisca diante de minha janela e nos galhos desfolhados de um carvalho

a última ave recolhe-se ao seu ninho; se garimpo nas velhas páginas de um livro um poema de Pablo Neruda, todas essas coisas parecem uma estação de ferro cujo trem leva-me para as alturas de teus lagos e montanhas. Como se não soubesses, minha bagagem de poemas está sempre ao alcance de minha mão. Em minhas malas levo a ternura, o carinho, o arroubo... Levo também a saudade, que mais parece um romeiro triste à espera de algum milagre. Se te constrange o burburinho da multidão de meus sentimentos, esconde-te entre os passantes e toma um rumo diverso do meu. Recolherei meus sonhos e o trem da desilusão levar-me-á para lugares distantes onde acumularei pegadas vestidas de descaminhos. 136


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Mas se, todavia, minha lembrança agarrar-se nos teus cabelos, e se sentires meus beijos no sopro cálido dos ventos, e se te falarem de mim os gerânios debruçados nas janelas, e se teus lábios se abrirem para pronunciar meu nome, então, minha amada, minha amiga, acena-me com teu sorriso que apanharei minhas malas e correrei para a estação onde estará à minha espera o trem da felicidade expelindo fumaças de vida e soando apitos de alegria...

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POESIA

MACVILDO BONDE MACVILDO BONDE M. P. Bonde nasceu em Maputo, Moçambique. Entre 2003 e 2004, foi membro do movimento Jovens e Amigos da Cultura (JoAC) e do grupo Arrabenta Xithokozelo, que anima as noites de poesia e música no Modaskavulu do Teatro Avenida. Tem dois livros publicados: «Ensaios Poéticos» (Cavalo do Mar, 2017) e «A Descrição das Sombras» (Fundação Fernando Leite Couto, 2017). Obteve o segundo lugar do Prémio Escriba Piracicaba, município de Piracicaba, São Paulo, Brasil, 2018. Tem também textos publicados em revistas electrónicas. É membro da AEMO. Perfil no Facebook: www.facebook.com/M.P.Bonde

PALAVRAS DESASSOSSEGADAS as horas caem declive abaixo, Virgínia nutre na textura do lírio o fim da alvorada; sobressalto angélico, um rio perfura o silêncio; o tédio embacia as vozes na língua, sangra com melancolia o pêndulo no pulso do pássaro sem cores o cimo dos calhaus; Woolf atravessa o rio, esconde hortênsias no jardim do isolamento; estica os braços ao vento; há papéis estendidos no chão, procura sons atados na silhueta apátrida; na aurora inventa um pássaro, uma luz rasteja nas ondulações destas águas; embaciados olhos em martírio; tudo é negro, busca nas folhagens a alma escondida do lírio; é brava a sinfonia desta orquestra, José Mucavele prostrado ao olvido da amnésia desmancha com ternura a pulsação; rompe a cosmogonia presa no umbigo, como um abutre fareja a ossatura no deserto; 138


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amaina o eco dos gritos dentro de si, a melodia altera o compasso; de que rio se alimenta a alma na escuridão abrupta; entre as margens, cruzam olhares, recolhem clamores interiores; que verdade desata a liga das cores nesta floresta pintada no vácuo; áspera é a fragrância do adeus na crosta infecunda; como revisitar na esponja a hora negra; quem salvará as pedras deste baú ardido no sossego deste litoral, sem a túnica límpida do exílio; trémulos, a porção da angústia rejubila na boca; numa mão carregam a infância, fios de lã espraiando o licor das flores, noutra, apertam o labirinto destas palavras desassossegadas.

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Diamantino Bártolo é co-autor de Graças a Deus! (2016), Saloios & Caipiras (2017), Fúria de Viver (2017), A Primavera dos Sorrisos (2017), Tempo de Magia (2017), Devassos no Paraíso (2017), Os Vigaristas (2018), Luz de Natal (2018), Sinfonia de Amor (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).


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POESIA

LUCINDA MARIA LUCINDA MARIA Nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria e não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Participações em obras Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Vendaval de Emoções» (2016), «Graças a Deus!» (2016), «Torrente de Paixões» (2017), «Fúria de Viver» (2017), «A Primavera dos Sorrisos» (2017), «Tempo de Magia» (2017), «Luz de Natal» (2018), «Sinfonia de Amor» (2018), «Sol de Inverno» (2019) e «Brisas de Outono» (2019). Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito

LIVRO DA POESIA Com dedos feitos de linho alvo/puro Bordo de ternura o livro da poesia, Lido no entardecer da minha vida... Essência da alma que não descuro, De onde emana toda esta nostalgia, No ocaso duma viagem tão sentida! Folha a folha encontro as emoções, Páginas amarelecidas pelo decorrer Do tempo passando inexoravelmente... E esgota-se/morre e tu nunca supões Que fazes parte intrínseca do meu ser, E ocupas com doçura a minha mente. No folhear deste livro simples/singelo, Vou encontrando as pétalas tombadas, Pelo desfolhar incansável do desamor... Mesmo assim, olho tudo, acho tudo belo: Recordo sempre amantes madrugadas, Em que tu e eu nos abraçámos de amor!

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ANA MARTINS ANA MARTINS Ana Roso nasceu na Guarda. É formada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Vive actualmente em Lisboa. Assina os seus escritos como Ana Martins.

O ABRAÇO Era mais uma noite fria de Janeiro. Fria como tantas outras, de céu limpo e estrelado, com neve a espreitar no horizonte. Mas o sol − juro-te – o sol raiou naquele instante. Pelo menos ali. Pelo menos para nós. Eram três da manhã, bem sei, mas o sol raiou, acredita em mim. Na noite em que mergulhei nos teus braços e conheci o teu abraço, o mundo parou, no preciso instante em que os meus braços conheceram os teus. Parou só para ver o nosso abraço. Contudo, sabes qual é a minha maior tristeza?

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É que esse abraço, esse tal abraço, único e perfeito, que não pediste e que eu não te cheguei a dar, nunca chegou a existir. Mas desenhei-o, quando te vi, perfeito, naquela noite fria de Janeiro!

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POESIA

PAULA HOMEM PAULA HOMEM Nascida em 1959, tem uma licenciada na área do turismo e um mestrado na área da comunicação. Incitada desde muito jovem a escrever e, mais importante, a ler, escreve por paixão e é através da escrita que «eu... me torno mais EU. Vogando pela poesia, desaguando na prosa, “brinco” com as letras.» Está presente em obras colectivas de ambos os géneros (prosa e poesia) de várias editoras. Publicou um livro de poesia, «Shadows of Life» (Alma Lusa, 2019), em co-autoria com o fotógrafo Alexandre Carvalho. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores» (2015), «Graças a Deus!» (2016), «Sexta-Feira 13» (2017), «Sinfonia de Amor» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). Perfil no Facebook: www.facebook.com/paula.homem.3

GÉLIDA NORTADA Quando nos rasgam a alma em mil estilhas, e ficamos ancorados nessa dor do vazio. Quando a pele, o coração e a vida se vestem de frio, quando nos mascaram a rota, desviando-nos milhas, milhas e milhas, do porto, que achávamos, seguro e bom. E tudo em nós é uma barca de mágoa e desilusão, quando tudo nos grita por dentro, mordendo o coração. O chão nos falha, o caminho se esconde, a música perde o tom. O encanto se veste de dura realidade, e crua verdade. Quando saímos de um “sonho” e olhamos o Sol escaldante, e sentimos a verruma da humana condição dominante; a alma dói! O coração retrai-se na crueldade. Mas a vida é um segundo, um suspiro de neblina, um esvoaçar de asas breves, um rumor de águas, um sorriso, uma lágrima, um beijo feito de mágoas. A vida ainda é um caminho, farrapos de alma peregrina. E a cada queda, um novo erguer, a cada golpe, um sangrar e endurecer. Apenas seguir em frente, partir e... esquecer.

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CecĂ­lia Pestana ĂŠ coautora de Bendita Manjedoura! (2019).


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POESIA

ROGÉRIO DIAS DEZIDÉRIO ROGÉRIO DIAS DEZIDÉRIO Nascido em 1966, é natural da cidade de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/rogerio.di asdeziderio

DECIFRANDO O VENTO Vento que me traz: Refrigério, amor e paz. Suavizando-me a vida Com sua energia natural!... Fenômeno que sopra a dor, Afastando para longe o dissabor, Soprando as feridas doloridas, Cicatrizando num suave soprar!... Redemoinhos de vento, Elevando as folhas secas, Que desprendem das árvores, Erguendo-as como borboletas a voar!... Vento forte, que sopra do Norte, Massageie meu corpo forte, Alise meus cabelos e os penteie, Removendo todas as impurezas exteriores!... 146


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Fenômeno que move nosso barco, O faz navegar tranquilamente, Até atracarmos em um porto seguro, Onde ancoramos nossos sonhos e desejos!... O ar em movimento, Movendo nuvens carregadas, Formando tempestades, Com raios, trovões e chuvarada!... Vento que sopra no oceano, Nas ilhas, planícies e montanhas, Levando desejos e sonhos, Divulgando poesias sobre a Terra!...

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RAADomingos ĂŠ co-autora de Luz de Natal (2018), Sol de Inverno (2019) e Bendita Manjedoura! (2019).


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POESIA

TIAGO SOUSA TIAGO SOUSA O destino fez de Tiago Sousa, um estudante universitário de 20 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror, inspirados pela escrita de autores como Poe e Lovecraft, mas ainda nenhuma prosa sua foi publicada em Portugal. Alguma da sua poesia, que por entre as sombras da ilusão se revela tanto em métrica regular como em verso livre, teve recentemente estreia com o livro «Prelúdios de uma Inexistência», pela editora Poesia Fã Clube. A sua arte sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participações em antologias Sui Generis: «Sinfonia de Amor» (2018) e «Brisas de Outono» (2019). Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/tiago.sous a.10comoseomundonaofosseloucoosu ficiente

DÚVIDAS DE EXISTENCIALISTA Lá fora, está frio. Mas é um frio que se sente melhor quando se está cá dentro, perdido na própria alma. Aqui, o sol não brilha, e há muito tempo que as estrelas se cansaram de, brilhando e cintilando, mostrar aos viajantes, como faróis, onde raio ficam as suas casas. Hoje, todos caminham perdidos. Aqui, Cristo não foi encontrado. Aqui ninguém recebeu prendas e o feto, por falta de dinheiro dos pais, acabou por ser vítima de um legalizado aborto. Aqui não há Natal, só temos uma fria e eterna necessidade de Páscoa. 149


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Fria. Tal como lá fora está frio. Aqui dentro, aquecemo-nos com mantas doadas por outros pobres, mendigos de outros sítios. E a comida que comemos é sempre emprestada por boas almas que connosco vagueiam. Não há prédios e muito menos luzes. Nem artificiais nem as outras que outrora ali brilhavam aquecendo a noite. Hoje, aqui, a noite é fria. A noite é fria e ainda está por começar o seu legado. Muitos cegos, não vendo, acreditaram estar a ver porque, vendo ou não vendo, o mundo parecia igual. Os que viam, esses, acharam-se cegos. Mais cegos do que é costume. E as luzes dos carros: desapareceram. E os candeeiros: foram-se. Os verdadeiros faróis: extintos na penumbra da alvorada. Na constante névoa, vivemos sós, nós Homens. E sonhamos com essa luz. Vemo-nos nela, afagando de palmas abertas esse calor diurno. Mas a noite é imortal, constante, e está fria. Admiramos essa idealização feliz de um núcleo quente para toda a nossa felicidade... 150


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Mas a verdade é que nunca vimos essa luz. Os filhos dos atuais que vivem, pelo menos, nunca a conheceram. Por isso imaginam-na pela boca dos pais. Sentem as suas palavras e tentam dar voz aos seus ensinamentos e dar corpo às suas maiores aspirações. Sonham com uma luz, uma fonte de várias cores, um animal indomável, uma besta sem trela ou um cavalo de sete faces. Outros imaginam cordeiros. Outros elefantes. E outros veneram vacas julgando estas por messias, como se a sua luz tivesse face de vaca. 151


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E assim rezam. Sonham o deus que nunca viram, mas que julgam. Sonham e regem mortais por leis faladas por essa luz que nunca teve boca, mas foi imaginada como tendo. Pronunciam termos nunca antes proferidos pela luminosidade, mas a ela dão créditos por esses falsos versículos. Escrevem-lhe salmos, cantam-lhe cantigas e sacrificam-lhe filhos. Por uma luz que nunca viram. E sonham o seu regresso. Não sabendo se já existiu. Não sabendo se voltará. Sonham. Por essa luz que nunca viram e que nunca mais verão, nem no fim, no longínquo fundo do maldito túnel.

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ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Rosa Marques

PRIMEIRO DIA DE ESCOLA Rompeu finalmente o dia tão ansiado por Raquel, que nas últimas duas semanas não pensara em outra coisa. Acordou cedo. Na cozinha a mãe preparava já o pequeno-almoço e um lanche para ela levar para a escola. Um misto de alegria e receio invadia todo o seu pequeno ser. Tudo era mistério, novidade para ela; a professora, os colegas, a sala de aulas, as veredas que teria de percorrer quase sempre sozinha até chegar à escola, o trânsito na estrada que lhe parecia tão longa e a deixava apreensiva... Encantou-a o cheiro do livro novo, as imagens coloridas, a textura da pasta comprada pelo seu pai, na cidade. Foi a primeira vez que Raquel viu tanta criança junta, meninos e meninas, pois nesse ano entrava em vigor, no País, um novo sistema: as escolas que até à data eram masculinas ou femininas passavam a ser mistas... rapazes e raparigas na mesma sala de aula, sentados lado a lado, escutando a mesma lição. A empatia e o entusiasmo com a arte de aprender foi grande... e nos dias que se seguiram a menina corria satisfeita para a escola... corria porque temia chegar atrasada. No regresso a casa, uma vez por outra, entretinha-se a contemplar as flores amarelas que cresciam abundantes junto à ribeira, e a colher algumas... O desejo de aprender acompanhou-a pela vida fora e nos doze anos seguintes, fizesse sol ou chuva, frio ou calor, Raquel manteve o mesmo gosto pela escola e pelos livros, a mesma assiduidade e empenho...  153



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CONTO

REGRESSO NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39

“A mensagem, um tanto ou quanto estranha, que recebera, propunha-lhe um encontro ali, exatamente no lugar que tanto a marcara. Recordações, que desejava esquecer, mas que permaneciam, ainda, profundamente almagradas por mágoas, saudades, dores, mas, simultaneamente, repletas de amor. Percorreu, lentamente, o pequeno carreiro empedrado, coberto, porém, de ervas enormes e espinhosas (prova do abandono a que fora votado), e que levava à entrada da casa onde a porta principal, dantes sumptuosa, mostrava agora as manchas corroídas e, indelevelmente, ocasionadas pelo tempo, as mesmas que sentia em si própria.”

POR NATÁLIA VALE

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ra uma porta enferrujada. E ela entrou. Deparou-se com o jardim abandonado daquela casa, outrora imponente e bela, símbolo do poder pujante de que a sua família tinha sido detentora e que representara sempre um ícone naquela terra, que ficava bem atrás dos montes verdejantes que se perdiam de vista numa paisagem sempre deslumbrante, mesmo nos dias mais invernosos. Tinha passado de geração em geração, e todas elas tentaram preservar o seu carácter histórico e tradicional. Naquele momento, ao olhá-la, percorreu-a um calafrio. A mensagem, um tanto ou quanto estranha, que recebera, propunha-lhe um encontro ali, exatamente no lugar que tanto a marcara. Recordações, que desejava esquecer, mas que permaneciam, ainda, profundamente almagradas por mágoas, saudades, dores, mas, simultaneamente, repletas de amor. Percorreu, lentamente, o pequeno carreiro empedrado, coberto, porém, de ervas enormes e espinhosas (prova do abandono a que fora votado), e que levava à entrada da casa onde a porta principal, dantes sumptuosa, mostrava agora as manchas corroídas e, indelevelmente, ocasionadas pelo tempo, as mesmas que sentia em si própria. Empurrou-a suavemente. Quase como se tivesse um piloto automático, abriu-se muito lenta-

mente. Demasiado lentamente para superar a ânsia de que ela estava possuída. Por mais que não quisesse, por mais que pretendesse fugir, os passos conduziam-na para além do previsível. Continuava ciosa do seu toque, do beijo que a alimentava, do seu corpo que a aque156


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cia e, simultaneamente, a enlouquecia. Tentou não demonstrar os seus sentimentos, os seus desejos, o prazer de poder amá-lo de novo. Olhou-o. O mesmo charuto no canto dos lábios, os mesmos olhos azuis (acutilantes), o mesmo porte altivo de sempre. Ela prosseguiu, em busca do amor que a fazia sentir mulher. Momentos fortes. Estremeceram. Viveram como se fosse o último segundo das suas vidas. Era uma porta enferrujada. E ela saiu.  

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JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja

ESSAS ABENÇOADAS VÍRGULAS

Q

uando olhares para trás certifica-te que colocaste as vírgulas nos lugares certos, para que não haja mal entendidos... Verifica se as reticências se dissolvem como aspirinas nos parágrafos. É que as reticências têm a perversa mania de querer dizer sempre muito mais... Se não se lhes puseres um travão, falam o que foi, o que deixou de ser e o que poderia ter sido. Autênticas tagarelas do soalheiro. Quando chegares ao lugar onde possas vislumbrar um pouco do teu horizonte, joga o ponto final aí... mas devagarinho, como se fosse uma bomba nazi da Segunda Guerra Mundial que não explodiu e ficou sossegada estes anos todos... Como se fosse um resquício de nitroglicerina... um bater de asas de borboleta e... cabum!!! Tudo terminado numa explosão sem cautela. Depois agarra a tua mochila e inicia a tua caminhada com um C maiúsculo. É horrível iniciar qualquer coisa com letra minúscula... O Valter Hugo Mãe acha muita piada ao assunto... eu sinceramente não! 158


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Quando menos se esperar, todos os pontos de interrogação estarão dançando com as reticências e nos olhos dos teus leitores haverá pontos de exclamação e surpresa.

Por esta altura já se terá percorrido um parágrafo, um dos primeiros desses primeiros que têm o privilégio de serem lidos... raramente se lê o segundo ou o terceiro. Há uma preguiça intelectual que deveria ser tratada à paulada, a intervalos regulares. De todas as formas, verás que quando tiveres iniciado o voo do primeiro capítulo já a viagem tem cheiro de livro novo. Quando menos se esperar, todos os pontos de interrogação estarão dançando com as reticências e nos olhos dos teus leitores haverá pontos de exclamação e surpresa. Mas agora alado pássaro, milhafre ou cegonha das planícies Alentejanas, só os céus são teus tetos, e em todas as vírgulas e pontos finais fica a história que só tu sabes contar...! 

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MARISA LUCIANA ALVES Nasceu em Vinhais, uma linda terra transmontana, no ano de 1976. É professora de profissão e escritora por vocação. Foi a vencedora do 3º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora (2014). É autora de cinco livros e co-autora de 29 antologias/ colectâneas, algumas das quais da Colecção Sui Generis. Publicou os livros: «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (Edições Toth, 2018), «A Tua Receita, Meu Amor!» (Papel D’Arroz Editora, 2015), «O Sono da Primavera» (Edições Vieira da Silva, 2014), «De Suplicar Por Mais...» (Edição da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, 2013) e «Contando Memórias...» (Edição da Universidade Sénior de Borba, 2011). Participações em antologias Sui Generis: «Sinfonia de Amor» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019). Perfil no Facebook: www.facebook.com/marisa.luciana.31

ENSAIO SOBRE AMOR

A

credito no Amor! Acredito na cura pelo Amor. Mas não gosto do Dia dos Namorados.

Gosto da saudade, do desejo, do toque, do beijo.

Acredito no Amor! Gosto do Amor que se lembra, que recorda sensações, que repete ações, do que liga só para dizer “olá”, do que perdoa e que sempre está lá, daquele que diz “amo-te” só de olhar, sem falar.

Acredito no Amor! Não no Amor comercializável, que organiza jantares e viagens e compra presentes. Gosto do Amor que está em cada dor, em cada riso, em cada abraço.

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Acredito no Amor! Gosto dos 364 dias de Amor que não são nomeados, daqueles que ninguém vê, dos dias em que se festeja o Amor pela vontade a dois e não porque há uma data para o fazer.

Acredito no Amor! No das cartas anónimas de antigamente. No das flores roubadas no jardim da mãe. No dos discos pedidos na rádio. Não acredito no de hoje, tão virtual, tão fictício, tão “politicamente correto”.

Acredito no Amor! No que tapa a pessoa amada do frio, do que prepara um pitéu-surpresa, do que escreve papelinhos no frigorífico.

Acredito no Amor! Porque só assim ele pode existir...

Acredito no nosso Amor! Não sei o que me deste que diante de ti sou marioneta.

Quando decidi começar uma vida contigo, pensei que te amava. Mas, afinal, não... só estava apaixonada. Estava encantada contigo, com o que me fazias sentir, a forma como me olhavas e me desejavas. O deslumbre, a paixão, o desejo fizeram desse início de vida em comum uma vivência perfeita! Mas estava apenas apaixonada. Depois veio o AMOR...

O AMOR é o que ficou depois de a paixão, aquela loucura jovem, ter partido.

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O AMOR é o prato da balança que fica com o positivo, depois de eliminados os desgostos, as desilusões e os feitios (o teu e o meu). O AMOR é a nata da paixão, a melhor parte. Hoje por ti sinto AMOR. O corpo já não ajuda, mas as cicatrizes estão saradas. Valorizamos o estar de mãos dadas e basta-nos saber que estamos presentes na vida um do outro. Hoje há AMOR. A idade pesa e a paixão ficou apenas no sorriso e no toque da mão na face. É aí, na força do teu sorriso, no calor do teu abraço que eu quero repousar. E após estes 40 anos de convivência, em que construímos a nossa linda família, posso dizer que te amo mais do que nunca. Antes eras paixão para mim... Hoje és AMOR.  162


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APRESENTAÇÃO

MARISA LUCIANA ALVES Nasceu em Vinhais, em 1976. Professora do Ensino Básico e Secundário, Licenciada em Português-Inglês e Mestre em Literatura Portuguesa. É associada da Academia de Letras de Trás-osMontes. Autora de cinco livros e coautora de 29 colectâneas, vê a escrita como uma libertação. Vencedora do 3º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora (2014). Livros publicados: «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (Edições Toth, 2018), «A Tua Receita, Meu Amor!» (Papel D’Arroz Editora, 2015), «O Sono da Primavera» (Edições Vieira da Silva, 2014), «De Suplicar Por Mais...» (Edição da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, 2013) e «Contando Memórias...» (Edição da Universidade Sénior de Borba, 2011). Tem participações nas revistas: SG MAG, Athena, Hórus Cultuliterarte e UNEARTA. Participações em antologias Sui Generis: «Sinfonia de Amor» (2018), «Brisas de Outono» (2019) e «Bendita Manjedoura!» (2019).

Perfil no Facebook: www.facebook.com/marisa.luciana.31

«ANTOLOGIA BREVE», DE CÉSAR AFONSO “«Antologia Breve» é um conjunto de poemas que César escreveu com simplicidade e argúcia, magistralmente organizado, com um fio cronológico condutor, como o que deve ter uma antologia. Mas nesta antologia não estão apenas incluídos os poemas, estão invisivelmente presentes horas a fio de vazios, de palavras soltas que vagueavam na sua mente e que a dada altura urgiram sair de si para o papel.”

POR MARISA LUCIANA ALVES

Discurso de Apresentação do livro «Antologia Breve – Poesia», de César Afonso, no Centro Cultural dos Condes de Vinhais.

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Breve» e poder estar hoje aqui a apresentá-lo. Para mim foi um tremendo privilégio lê-lo antes dos demais, porque me deleitei com os poemas nele contidos. Sei que apresentar um livro é, por si só, uma tarefa arriscada; apresentar um livro de poesia é dupla dificuldade. A meu ver, ter sido convidada pelo Autor desta Antologia para prefaciar e apresentar a mesma envaidece-me por desempenhar tão honrosa tarefa, mas, ao mesmo tempo, incumbe-me de uma enorme responsabilidade, quer pelo género literário pelo qual a mesma é composta, quer pela subjetividade que pode ter uma análise feita à mesma. Antes de entrar na apresentação própriamente dita, gostaria de fazer um breve apontamento da vida e obra do autor. César Alexandre Afonso nasceu em Nuzedo de Cima (Vinhais) e tem 56 anos de idade. É Inspetor-chefe na Unidade de Cibercrime da Polícia Judiciária; Psicólogo, Pós-graduado em Comportamento Desviante e Doutorando em Ciências Forenses. Quanto à vida literária, César Afonso é autor de 12 livros publicados, romance e conto; autor de livros de Poesia, em publicação individual e coletiva; sócio da Academia de Letras de Cascais; sócio-fundador da Academia de Letras de Trás-osMontes; associado da Sociedade Portuguesa de Autores; sócio da Associação Portuguesa de Poetas e membro da Academia de Letras e Artes de Portugal. Para mim, falar sobre poesia é um fascínio, quer como leitora quer mesmo como professora de literatura e escritora. Fazê-lo sobre o livro de um poeta que conheço é mais ainda. Mas, afinal, o que é a poesia? A poesia pode ser considerada, em primeiro lugar, um meio de comunicação, pois, através da sua forma declamada e escrita, desde que a mensagem seja descodificada, o poeta comunica com o seu interlocutor. A poesia é arte com palavras e

Discurso de Apresentação do livro «Antologia Breve – Poesia», de César Afonso, no Centro Cultural dos Condes de Vinhais.

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brigada a todos por terem vindo. É com grande satisfação que estou aqui hoje, na minha terra Natal, para apresentar o livro de um amigo e conterrâneo. Antes de mais, gostaria de agradecer ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Vinhais, Dr. Luís Fernandes, não só pela sua presença nesta mesa, mas também pela cedência deste espaço único que convida a desfrutar da cultura desta terra lindíssima. De seguida, as minhas palavras são, como não podia deixar de ser, de sincero agradecimento ao autor e amigo, César Afonso, pelo convite que me endereçou para prefaciar o seu livro «Antologia

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nela a palavra alcança distintas aceções. É emoção, pois tem de ser sentida por quem a escreve e por quem a lê. Através dela, muitas vezes, o ser humano transmite as sensações, as emoções, os silêncios, os vazios da Vida, o que, de outro modo, não lhe seria tão fácil. A poesia é também manifestação da beleza, pois pode estar nos gestos, nas atitudes, na arte. É como o professor que instrui; é como o psicólogo que ouve, que apoia e insiste na abertura da Alma do poeta; é como o filósofo que põe a pensar quem lê os seus textos, a meditar sobre o que lê. Começa por ser do poeta para passar a ser dos leitores. Eugénio de Andrade dizia que “O ato poético é o empenho total do ser para a sua revelação” (in «Poesia e Prosa») e, se repararmos, é claramente uma porta aberta para a transformação do ser humano, pois, através da poesia, o poeta liberta-se e liberta o leitor, solta amarras, derruba barreiras

invisíveis… Para o poeta, cada poema escrito, cada livro publicado é como um filho, que se produz com amor, que se recebe de braços abertos e do qual se sente orgulho. Mas, a meu ver, a poesia não deve ser forçada. Por outras palavras, a criação poética deve surgir da inspiração e não da obrigação de escrever ou, como disse John Keats, poeta inglês, do século XVIII, “Se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo.” A de César Afonso surgiu, como as folhas de uma árvore, como as pétalas de uma flor, como o canto de um pássaro... surgiu, na envolvência da natureza que ele tanto descreve e estima. A poesia presente em «Antologia Breve», de César Afonso, é a poesia que flui, a poesia da Alma, do Ser. Este é um livro em que o poeta se mostra aos seus leitores; um livro em que, apesar

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de tudo, esse mesmo poeta continua muitas vezes só, porque o processo de escrita é individual e, como o próprio César Afonso registou no poema «Barco ancorado II»:

Já o adjetivo “breve” é um pouco contraditório se pensarmos que são poemas que foram escritos entre 1977 e 2017, ou seja, um período de 40 anos. Logo, de breve não tem nada. «Antologia Breve» é um conjunto de poemas que César escreveu com simplicidade e argúcia, magistralmente organizado, com um fio cronológico condutor, como o que deve ter uma antologia. Mas nesta antologia não estão apenas incluídos os poemas, estão invisivelmente presentes horas a fio de vazios, de palavras soltas que vagueavam na sua mente e que a dada altura urgiram sair de si para o papel. No que respeita ao tipo de composição poética, César Afonso não tem tendência para um em particular, apesar de predominarem ao longo da obra os tercetos e as quadras. Quanto ao conteúdo dos poemas, percebe-se uma mescla temática que constitui os poemas, o

Sei que o melhor é estar só a remar sem ver o mar. Quem vai caminhando só encontra sem procurar!... Fazendo uma leitura atenta da obra, comecei logo pelo título escolhido, «Antologia Breve», que me fez considerar a semântica das palavras presentes. O termo “antologia” deriva etimologicamente do grego e significa “coleção de flores”. Só a partir do século XVIII é que a palavra começou a ter a aceção de “seleta”. Na verdade, este livro é uma coleção de flores, as melhores flores/poemas do jardim do poeta. 167


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que me permite caracterizar a escrita de César Alexandre Afonso como eclética, já que perpassam nela mais do que um tema poético. Por um lado, aparecem temas como o mar, a paisagem, a praia e a noite, retratando uma inequívoca ligação à Natureza, quer pela vivência do poeta em terras transmontanas, quer pela sua vida junto ao mar, por terras da capital. É dessa terra, a de ontem e a de hoje, que sai a sensibilidade que lhe permite escrever ao jeito telúrico, o que demarca a grandiosidade da sua escrita. Por outro lado, alguns poemas baseiam-se em tópicos como a esperança, o perdão, o silêncio, o sonho, a família, o amor, os amigos, que nada mais são do que testemunhos das vivências, observações e interioridades da vida do poeta e até sobre a própria poesia, como no poema intitulado

«Poema só»: Este poema feito de sombra que tento iluminar com a luz do teu olhar Saiu-me na penumbra daquele dia em que havia luar e o sol dormia para me enganar! Perdeu-se na sombra dos teus lábios na tua boca fechada que mudou de lugar.

Os poemas de César Afonso são muitas vezes constituídos por uma diversidade de medida métrica, que, juntamente com a expressividade da pontuação, em que abundam reticências e exclamações, nos apresenta uma inquietude de Alma, que prova que a poesia é um notável modo de expressar os sentimentos. A poesia emanada do poeta, de uma forma translúcida, através de um estilo métrico irregular, permite-lhe revelar a mensagem de um “Eu” que tem como única preocupação aprofundar os seus estados de alma, que escreve de Si para Si, mais do que para os outros. 168


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Estou certa de que os leitores vão achar aprazível a leitura desta Antologia, que causará as mais variadas reações e que serão envolvidos a cada verso lido, a cada página virada. Atrevo-me a deixar um conselho, agora que estão na posse deste livro: abram-no aleatoriamente, leiam-no lentamente, saboreiem cada palavra e devorem cada poema nele contido. Para terminar, espero sinceramente que as minhas palavras nesta apresentação, mais do que esclarecedoras do conteúdo de «Antologia Breve», sejam promotoras de curiosidade para a sua leitura e que façam o leitor vivenciar momentos agradáveis no folhear do livro. 

ANTOLOGIA BREVE – POESIA Autor: C. A. Afonso Editora: ‘nstante Capa: (acrílico) Gabriela Casinhas 1ª edição: 2018 Depósito Legal: 448818/18 ISBN: 978-989-20-7496-2

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Rosa Carvalho ĂŠ co-autora de Sol de Inverno (2019), Brisas de Outono (2019) e Bendita Manjedoura! (2019).


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DIAS CAMPOS Ganhador do Troféu Destaque na 7ª Edição do Sarau Musical Cultural (2019); Menção Honrosa no Prêmio Nacional de Literatura dos Clubes (2019); “Embajador de la Palabra”, título concedido pela Asociación de Amigos del Museo de la Palabra (2014); 3º colocado no I Concurso de Crônicas da Academia Bragantina de Letras (2014); ganhador do Prêmio Latino-Americano de Excelência (2013); Medalha de Ouro no I Concurso Oliveira Caruso (2011); vencedor do Concurso Mundial de Cuento y Poesía Pacifista (2010); 3º colocado no II Prêmio Araucária de Literatura (2010) e membro da Asociación de Amigos del Museo de la Palabra, da Associação Internacional de Escritores e Acadêmicos, do Movimento Poetas del Mundo e da Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências. Autor dos romances «A Promessa e a Fantasia» (Amazon, 2015) e «As Vidas do Chanceler de Ferro (Chiado Editora, 2009) e de diversos textos literários, e co-autor de livros e artigos jurídicos. Perfil no Facebook: Dias Campos (Embajador de la Palabra)

SOUJI – UM HÁBITO SALUTAR Eram os torcedores japoneses recolhendo o próprio lixo depois de assistirem à sua seleção jogar futebol. Recolhiam-no, tivessem ou não ganho o jogo. O recolher o próprio lixo tem um nome, souji, que pode ser traduzido por limpeza, varrição. Esse hábito é aprendido, inclusive, nas escolas japonesas, onde as crianças realizam tarefas como a de limpar banheiros, varrer o chão e lavar a louça, em um sistema de rodízio coordenado por seus professores. E isso acontece sem a menor resistência porque essa prática vem sendo ensinada de geração em geração. 174


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uem não sente repugnância, e, sobretudo, vergonha, dos inúmeros metros cúbicos de lixo que invariavelmente se acumulam no chão depois que passam os blocos de Carnaval, que acabam os shows de música ao ar livre, ou que terminam os protestos políticos? – Com certeza, aqueles que os jogaram não os têm. É uma triste realidade que poderá entupir mais de um bueiro – nossos lixeiros são verdadeiros heróis – e que viraliza pelos meios de comunicação; em especial, pelas redes sociais. Em contrapartida, lembra o que vimos pela TV na Copa da Rússia? Não? Ora, eram os torcedores japoneses recolhendo o próprio lixo depois de assistirem à sua seleção jogar futebol. Recolhiam-no, tivessem ou não ganho o jogo. O recolher o próprio lixo tem um nome, souji, que pode ser traduzido por limpeza, varrição. Esse hábito é aprendido, inclusive, nas escolas japonesas, onde as crianças realizam tarefas como a de limpar banheiros, varrer o chão e lavar a louça, em um sistema de rodízio coordenado por seus professores. E isso acontece sem a menor resistência porque essa prática vem sendo ensinada de geração em geração. E aqui, uma dúvida que talvez pairasse: Será que essa prática vem sendo, mesmo, ensinada de geração em geração? Em outras palavras, quão remoto ela seria que justificasse pensarmos em posteridade, descendência, hábito? Pois qual não foi a minha (agradabilíssima) surpresa quando li, da minha querida amiga Eliane Machado, a primorosa obra Um olhar na história – 110 anos da imigração japonesa no Brasil, em que foi transcrita uma notícia veiculada pelo jornal Correio Paulistano, de 25/06/ 1908, sobre a primeira leva de imigrantes japoneses vinda à bordo do Kasato-Maru, e que, se

não responde totalmente àquelas questões, por certo indica que se trata, sim, de uma prática muito, mas muito antiga! Eis a matéria, na grafia original: «Vieram para S. Paulo no dia 19, desembarcando nesse mesmo dia do vapor que os trouxe. As suas camaras e mais accommodações apresentavam uma limpeza inexcedível. É preciso notar que se trata de gente de humilde camada social do Japão. Pois houve em Santos quem affirmasse que o navio japonez apresentava na sua 3.a classe mais asseio e limpeza que qualquer transatlantico europeu na 1.a classe. [...] “Ao desembarcarem há Hospedaria de Immigrantes sahiram todos dos vagões na maior ordem e, depois de deixarem estes, não se viu 175


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no pavimento um só cuspo, uma casca de fructa, em summa, uma cousa qualquer que denotasse falta de asseio por parte de quem nelles veiu. Sahiram na maior ordem, depois de quatro horas de viagem em trem especial de Santos a S. Paulo.» (Pp.36-40). Fala a verdade, amigo leitor, essa matéria nos faz pensar o quanto ainda teremos que correr atrás do prejuízo, pois não? Seja como for, esta outra notícia, assinada por Fernando Duarte, do Serviço Mundial da BBC em São Petersburgo, em 26/06/2018, acaba nos reconfortando e nos enchendo de esperança: «Torcedores do Senegal e do Brasil também foram filmados recolhendo o próprio lixo. ‘Para nós, é uma honra que outros países também estejam fazendo souji. Nós esperamos que outros torcedores se inspirem a fazer o mesmo’, diz Chikako.»

E como nunca é tarde para incorporarmos o que é bom, miremo-nos nesses torcedores e sigamos adiante, praticando o souji e ensinando-o aos nossos filhos. O Brasil e as futuras gerações agradecem. 

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CONTO

O MONSTRO DA NÉVOA “Uma das muitas pessoas que conquistara OCEANO ALBUQUERQUE Nasceu em Recife, Pernambuco, Brasil, em Novembro de 1997. Foi sempre muito ligado à escrita e já teve contos seus publicados nas antologias «31 Contos Assombrados» e «Por Baixo D’Água», da editora Rouxinol, e na colectânea «Cicatrizes na Alma», de publicação independente. Actualmente, prepara-se para lançar o seu primeiro livro solo, e publica o seu projecto de contos gratuitos «Oceano Xeque Mate».

o privilégio de beijar os lábios de Daniel es-

Página no Facebook: www.facebook.com/OceanoAlbuquer que

portância muito maior do que o esperado

tava ao seu lado, exercendo de sua vantagem naquele momento. Seu nome era Sabrina Williams, e ela era uma caloura no colégio de ensino médio da cidade, que achava que, após Daniel demonstrar súbito interesse em levá-la para sair, alcançaria um grau de im-

para uma caloura. A pobre menina não imaginava nem um pouco que o plano de Daniel era, em poucos minutos, tirar sua virgindade dentro daquele carro, plano ao qual ele já dera início, passando suas mãos por dentro da saia de Sabrina no meio do demorado beijo.”

POR OCEANO ALBUQUERQUE

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m uma cidade pacata no interior do Winsconsin, Estados Unidos, um casal de jovens curtia o começo da madrugada aproveitando a vista do lago na parte leste da cidade e se beijava. Ele era Daniel Smith, o astro em potencial daquele lugar. No último ano do colegial, tirava sempre excelentes notas na escola, e jogava em várias equipes esportivas da cidade. Todos queriam ser Daniel, e a grande maioria também queria estar ao seu lado, seja romanticamente ou não. Uma das muitas pessoas que conquistara o privilégio de beijar os lábios de Daniel estava ao seu lado, exercendo de sua vantagem naquele momento. Seu nome era Sabrina Williams, e ela era uma caloura no colégio de ensino médio da cidade, que achava que, após Daniel demonstrar súbito interesse em levá-la para sair, alcançaria um

grau de importância muito maior do que o esperado para uma caloura. A pobre menina não imaginava nem um pouco que o plano de Daniel era, em poucos minutos, tirar sua virgindade dentro daquele carro, plano ao qual ele já dera início, passando suas mãos por dentro da saia de Sabrina no meio do demorado beijo. Depois que eles transassem, Daniel diria para ela que havia sido uma delícia, e como uma ótima pessoa levaria ela de carro até à porta de sua casa, onde eles iriam dar um último beijo de boa noite e ele iria para a sua própria casa. Então ligaria para os seus dois melhores amigos, co-estrelas do time de futebol do lugar, e contaria tudo para eles. Como ele sabia, seu amigo Lucas tinha uma enorme paixão por Georgina, ex-namorada de Daniel que ainda nutria sentimentos por ele, e assim 180


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que desligasse o telefone iria correndo ligar para Georgina e contar o que acontecera, quem era a menina, onde e como acontecera o ato. Logo após, toda a escola já saberia o que acontecera, como não fora diferente com as outras dezenas de garotas. Ele, Daniel, também ficara com alguns garotos, embora nunca contasse a ninguém sobre eles. Eram seu maior segredo, porque em sua percepção ninguém iria idolatrá-lo como idolatravam se ele fosse gay. O que ele não era, é claro. Se fosse gay, ele não teria transado com Georgina, ou não estaria tran-

sando agora com Sabrina, nem com nenhuma das outras garotas com quem já ficara. Ele só gostava de curtir alguma coisa diferente às vezes. Daniel finalmente tocou na intimidade da garota, que mordeu seu lábio e depois levou com intensidade a cabeça para trás, rebolando no colo do rapaz enquanto pensava: «Sim, sim, sim!». Rapidamente ela tirou a blusa, e ele logo também tirou a sua. Em seguida, com muitos beijos entre os dois atos, levou as mãos até às costas da menina e tirou seu soutien preto. Os seios de Sabrina eram consideravelmente médios e duros, porém bastante arrebitados. Ele levou com calma

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primeiramente o seio esquerdo até à boca, e lambeu com a ponta da língua o seu mamilo durante uns bons cinco minutos. Depois fez a mesma coisa com o seio direito, e só parou quando a garota mordeu com certa força o seu pescoço, o que doeu no garoto de uma forma excitante. Ele nunca havia sido marcado antes. Provavelmente Georgina iria ficar louca de ciúmes. Tirou então a saia curta que Sabrina usava, e deitando a garota no banco do passageiro ao seu lado, ele tirou também sua calça e deitou-se por cima dela. Ficaram os dois seminus esfregando o corpo um no outro, até que o rapaz tirou sua cueca e segurando seu membro falou para Sabrina: – Chupa. Meia hora depois, estavam os dois nus e deitados no banco. Ofegavam, exaustos após o ato. Foi só então que Sabrina olhou para fora do carro e, franzindo a testa, indagou a Daniel: – O que é isso?

Ele olhou, e o que viu foi que, ao redor do carro, estava flutuando em grande quantidade uma espessa névoa branca. Ele levantou o banco, assim como ela, e olhou ao redor. – Eu não sei. Parece névoa, mas eu nunca vi algo do tipo por aqui. E mesmo onde eu vi, nunca foi tão densa! Depois que ele falou isso, eles começaram a ouvir vozes na névoa. Gritos, lamentos, sussurros, conversas rotineiras, de tudo um pouco. Elas vinham de todas as direções, fazendo com que nem o atleta nem a aspirante social conseguissem identificar de onde realmente elas haviam saído. E quem diabos iria sair de casa para ficar conversando tão alto assim em uma hora daquelas, quase duas da madrugada? O casal colocou suas roupas íntimas, assustados demais para ficarem tão vulneráveis quanto estavam, e dando dois tapinhas nervosos no ombro de Daniel, Sabrina pediu: – Vai logo! Vamos sair daqui! 182


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Ela já estava ficando nervosa, e ele ligou o carro e olhou para trás querendo dar ré. – Eu não posso. Não estou vendo nada lá atrás, e se eu atropelar alguém? Ele olhou para os lados. – Eu vou ter que sair do carro e ir olhar lá atrás se a barra está limpa. Disse então, levando sua mão esquerda para a maçaneta. A moça segurou seu pulso com força. – Não vai, não quero ficar sozinha! Ela pediu, suplicando com verdadeiro medo. Ele riu. – Relaxa, não vai acontecer nada. Vou até deixar a porta aberta, para que você possa me ver o tempo todo! Ela então soltou seu braço, ainda vacilando, e ele abriu a porta e saiu do automóvel. Daniel então deu três passos para fora do veículo e perguntou: – Olá? Tem alguém aí? Após o completo silêncio, ele andou mais para

perto da traseira do veículo, sentindo os pelos de seu corpo arrepiarem-se com o frio. Deveria ter terminado de se vestir antes de sair do carro. A cueca box de cor cinza não era muita proteção contra o frio. Pouco depois de ele passar da porta traseira do carro, foi engolido pela névoa, ficando fora da vista de Sabrina. – Dan? Perguntou ela, com a voz tremendo. Segundos depois de ela perguntar, ouviu um grito alto com a voz de Daniel. – Dan! O que aconteceu? Perguntou ela, se encostando na sua porta e ficando nervosa. O longo silêncio foi a resposta para a menina, que sentiu sua respiração ficar difícil e seu coração acelerar. Ela olhou pela porta aberta à sua frente para a névoa imóvel que rodeava todo o lugar. E, após cinco segundos olhando fixamente, ela viu algo se mexer. Um rosto formou-se na névoa, e a menina começou a gritar. O rosto a-

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lar dele não está recebendo as chamadas. Alguém tem alguma ideia de por onde ele pode ter andado? Todos ficaram surpresos, e só uma menina loira e pequena levantou timidamente a mão. – Sim, Susanna? Perguntou o xerife, que conhecia todos os alunos desde criança, como era normal em qualquer cidade pequena. – A minha amiga também não voltou para casa. O nome dela é Sabrina Williams, e ela me disse ontem que ia sair com o Daniel. Quando ela falou isso, as pessoas na sala começaram a sussurrar, fofocando baixinho. Quando o xerife não conseguiu mais nenhuma informação, saiu agradecendo e pedindo para quem soubesse de alguma coisa o procurasse. A intervenção do xerife despertou o interesse de Marco Salt, um jovem aluno que era apaixonado pela desaparecida Sabrina. Os dois costumavam ser melhores amigos na infância, mas quando entraram no ensino médio, ela passou a ignorá-lo, buscando a ascensão social. Marco ainda se sentia próximo a Sabrina, e desde sempre tivera seu interesse amoroso. Ele decidiu que iria encontrá-la, mesmo se ela não quisesse nada com ele depois. Ele arquitetou o plano a tarde inteira, sabendo que tinha a sorte de morar a duas ruas do lugar onde os dois jovens haviam desaparecido. Quando chegou em sua casa, à noite, jantou e deu um tempo para a sua mãe dormir. Logo após, arrumou uma mochila com algumas coisas e foi em direção ao lago. Uma tímida névoa tomava conta do lugar, e enquanto Marco olhava para a água, e nos seus arredores, ela começou a subir. Cobria até o carro de Daniel e sua faixa amarela tradicional da polícia. Marco resolveu que deveria chegar mais perto do veículo. – O que você está fazendo aqui?

proximou-se dela com uma expressão de raiva, e gritando a menina tentou abrir sua porta, mas quando Daniel desceu do carro, ele abriu apenas a porta do motorista e deixou as outras trancadas para tranquilizá-la, e agora ela estava presa ali dentro. Ainda gritando, Sabrina virou-se para a frente e a última coisa que viu foi a boca daquele rosto abrindo-se cada vez mais, até que os gritos da garota cessaram e a cidade novamente ficou mergulhada no silêncio. No outro dia, ninguém sabia o que havia acontecido quando, na sexta aula do dia naquela escola, o xerife da delegacia da cidade interrompeu o professor, entrando onde estavam os alunos do primeiro ano do colegial. – Bom dia, jovens. Desculpem estar interrompendo sua aula, mas o carro de Daniel Smith, que todos vocês devem conhecer, foi encontrado abandonado na beira do lago ao leste da cidade, e a mãe dele falou que não viu o filho voltar pra casa desde ontem, e os amigos disseram que o celu184


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Perguntou uma voz feminina atrás dele, que o fez pular assustado. – Quem é você? Ele olhou para a garota, uma moça baixinha e de cabelos curtos e cor de rosa. Ela parecia excêntrica, porém desconhecida. A julgar pelas suas roupas em estilo punk, ela não passaria despercebida se fosse uma estudante. – Meu nome é Beth. E você, quem é? Ela cruzou os braços, esperando resposta. – Eu sou Marco. Ontem uma amiga minha estava aqui e desapareceu, quero ver se encontro o motivo. E você? Ela balançou a cabeça. – Eu moro aqui. E sei o que aconteceu com a sua amiga. Ela responde, e ele passa a prestar atenção dobrada nela. – O que aconteceu? Ele perguntou, nervoso. Descobriria ali o motivo do desaparecimento? – Aqui nessa névoa mora um monstro terrível, pavoroso! Ele espera calmamente alguém entrar aqui e depois devora a pessoa em uma bocada só, não deixa nem rastro! Tanto que ninguém nunca viu o rosto dele e sobreviveu para contar como é, ele devora a todos antes que possam sair daqui! Ela falou. O jovem não acreditou, não acreditava em monstros. Mas isso não o impediu de dar uma olhada ao redor e ficar arrepiado. – Monstro, é? Beth assentiu. – Sim. O monstro também é conhecido como

Beth, que sou eu. Ela disse, e exatamente na frente de Marco ela abriu a boca de uma forma que seria impossível para uma pessoa comum, engolindo de uma só vez o assustado e surpreso Marco. Ninguém vê o rosto do monstro da névoa e vive para contar a história. 

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ERICK BERNARDES Formado em Letras, com Especialização e Mestrado em Estudos Literários pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ, Erick Bernardes preocupa-se em recuperar a História dos bairros do município de São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro, por meio da ficção. Criado no Engenho Pequeno, reside actualmente no Lindo Parque. Publicou dois livros: «Panapaná: Contos Sombrios» (Autografia, 2018) e «Cambada: Crônicas de Papa-Goiabas» (Apologia Brasil, 2019). É prefaciador de livros, crítico e consultor literário, publica frequentemente folhetos de cordel sobre o município de São Gonçalo, colabora com o Jornal Diário da Poesia e é cronista e editor do “Painel Cultural” do Jornal Daki.

A NARRATIVA DOS CACOS EM BOLOR, DE AUGUSTO ABELAIRA

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ste ensaio constitui uma breve análise do livro Bolor (1999), de Augusto Abelaira, uma narrativa cuja fugacidade de enredo vai na contramão dos romances que buscam “o tal” embasamento histórico e generalizante. Isto ocorre por causa de certa banalidade do cotidiano a servir de enredo, na relação entre os personagens Maria dos Remédios e Humberto, a embasar o plano ficcional, revelando um estilo arguto, que preza sobretudo a micronarrativa, mas também devido ao procedimento composicional pautado por referências das datas de calendário (estilo diário), quando aponta para o dia a dia mecanizado da sociedade de hoje, sob o atual contexto cultural referido como pós-moderno. 188


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O discurso sobre a convivência entre marido e mulher se afigura, por demasiadas vezes, mediante a sobreposição de anisocronias, ou seja, a alternância insistente dos tempos narrativos, no intuito de apresentar uma interposição de narradores, ora masculino ora feminino. Entre os personagens Maria do Remédios e Humberto surge uma terceira personagem para compor a cena discursiva, é Catarina, antigo relacionamento de Humberto, e de quem a recordação (e consequentemente o ciúme) dará o tom da complicação na trama – embora haja um certo número de personagens secundários. Entretanto, é quando mergulharmos na história do casal que seus enunciados revelam uma peculiar superimportância da-

da aos objetos, enquanto imagem de desejo de consumo. Apesar da obra em questão haver sido escrita já vai lá algum tempo, o valor expresso pela mercadoria se assemelha a uma fantasmagoria contemporânea, cujos indivíduos se parecem com os próprios bens que consomem, uma espécie de “coisificação” do sujeito. Conforme: “Há tantas mulheres iguais a ti por esse mundo, as que escolhem brincos iguais aos teus (...)” (ABELAIRA, 1999, p. 28). Como se vê, homens e mulheres, por meio dos personagens de Bolor (1999), são tão esvaziados de sentidos quanto os próprios objetos por eles obtidos. O valor da mercadoria é posto em segundo plano, em detrimento de uma relação fantasmática de reificação de si mesmo. Esse empreendimento narrativo é fragmentado e muito se assemelha ao que Walter Benjamin (1892-1942) definirá como composição alegórica: estratégia de contrapor o símbolo à alegoria. O que isso significa? Se para o filósofo alemão, em Origem do Drama Barroco Alemão (1984), o símbolo carrega o sentido completo e 189


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lacrado acerca de uma ideia, a alegoria desmontaria esse símbolo e reconstruiria uma nova percepção fluida e multidimensional, a partir dos resquícios do que outrora foi o símbolo: o passado “assombrando” o presente através dos cacos no aqui e agora. Do mesmo modo, podemos chamar de alegórica a história de amor satirizada por Augusto Abelaira, pois o que vemos na obra é um mosaico textual, sem preocupação alguma com a linearidade narrativa. Em Bolor (1999), está evidente essa alternância entre o passado e o presente, no intuito de construir a ideia daquilo que Michael Foucault referirá como “uma peça da dramaturgia do real”, embora não importe “qual seja sua exatidão, sua ênfase ou sua hipocrisia, atravessados por ela: fragmentos de discurso carregando os fragmentos de uma realidade da qual fazem parte”. (FOUCAULT, 2003, p. 207)

Sendo assim, seguindo a esteira das palavras de Benjamin (1985, p. 143), adaptadas à nossa análise do texto de Bolor, entendemos que “a alegoria é a máquina-ferramenta da Modernidade”. Consequentemente, tabus teóricos à parte, fica-nos compreendido que o livro de Abelaira se nos apresenta mais como uma narrativa artística e satírica, permeada pelo posicionamento intelectual de uma voz autorizada, via discurso ficcional, e menos um engajamento vão, de cunho retórico-político, o qual tenderia a acarretar prejuízos estéticos à obra.  Referências bibliográficas: ABELAIRA, Augusto. Bolor. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999. BENJAMIN, Walter. Origem do Drama Barroco Alemão. São Paulo: Editor Brasiliense, 1984. BENJAMIN, Walter. “A Paris do Segundo Império em Baudelaire” in KOTHE, Flávio R. Walter Benjamin. Ática, São Paulo, 1985. FOUCAULT, Michel. “A Vida dos Homens Infames” in MOTTA, Manoel Barros da. Michel Foucault: Estratégia, Poder-Saber. Ditos e escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

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CRÓNICA

QUEM SABE “Quem sabe Deus queira você como um filho que se erga diante dele, levante sua cabeça até agora curvada em respeito a Ele, que encha sua boca com audácia e coragem CLAU MENDES Nascido na cidade de Tubarão, SC, Brasil. Participa com dedicação em muitas actividades relacionada à literatura e faz parte de algumas conceituadas instituições, entre elas: Membro correspondente ALPAS21 – Academia Internacional de Letras, Artes e Ciências; Membro da AILA – Academia Imbitubense de Letras e Artes; Acadêmico na Ail, Ordem Scriptorium, Academia Independente de Letras. Colunista no portal “Recanto dos Escritores”. Suas participações em eventos literários trouxeram alguns frutos: Ganhador de seis concursos nacionais de poesias e um internacional, com poesia destaque literário. Participou em três antologias virtuais pela Argentina. Ao todo mais de quinze participações antológicas em um ano. Título Menção Honrosa em sua cidade; Título “Homem Brilhante 2019” dado pela ALBSC. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/claudio.m endes.311

e diga: Deus, sou teu filho, há anos tenho pedido pra tu interceder, pra tu ajudar, pra tu livrar, pra tu matar a fome, pra tu parar as guerras e nada fizesse! Agora como filho que não aceita mais essas atitudes, eu falo: Para! E vai agora matar a fome daqueles que precisam, dê um fim com a guerra... toma atitudes de um pai que ama seus filhos, se levanta aí do teu trono e dá um basta a esse caos que deixaste aqui na terra, ou então me lance para o inferno, mas enquanto tu não agir como um pai que ama seus filhos não me curvarei pra falar contigo, enquanto meus irmãos passarem por privações prefiro ir pro inferno do que ver tu acomodado sem fazer nada.” POR CLAU MENDES

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uem sabe Deus esteja cansado de tanto mi mi mi’s daqueles que clamam a Ele... Quem sabe Ele esteja cansado daquelas atitudes bíblicas de mais de dois mil anos atrás... Quem sabe Deus olhe pra você e diga: Quando é que vai agir como filho de verdade e não como uma criança mimada pelo que escrevi? Quem sabe Deus esteja esperando da raça humana um atrevimento de filhos e não de robôs guiados às cegas pelo que foi escrito... Quem sabe Deus espera que a raça humana faça igual a Jacó, que contrariou a Deus, contrariou o que tinha aprendido e mesmo sabendo que Ele podia o matar, lutou contra seu anjo e mesmo sendo ferido não o largou até Deus o atender e, com essa audácia de Jacó, “deu-se a salvação ao povo de Israel, gerando as doze tribos, abrindo o caminho do Salvador”... Quem sabe se Jacó não contrariasse a Deus não haveria a salvação ao povo de Israel. Quem sabe Deus queira que você não tenha medo dele ou temor de ir para o “inferno”...

Quem sabe Deus já esteja fatigado de tanto ouvir: “Deus, se for da Tua vontade... Deus tenha misericórdia... Deus ajuda aquelas pessoas... Deus livra aquele país da guerra... Deus alimente aquelas crianças que morrem da fome...” Quem sabe Deus queira você como um filho que se erga diante dele, levante sua cabeça até agora curvada em respeito a Ele, que encha sua boca com audácia e coragem e diga: Deus, sou teu filho, há anos tenho pedido pra tu interceder, pra tu ajudar, pra tu livrar, pra tu matar a fome, pra tu parar as guerras e nada fizesse! Agora como filho que não aceita mais essas atitudes, eu falo: Para! E vai agora matar a fome daqueles que precisam, dê um fim com a guerra... toma atitudes de um pai que ama seus filhos, se levanta aí do teu trono e dá um basta a esse caos que deixaste aqui na terra, ou então me lance para o inferno, mas enquanto tu não agir como um pai que ama seus filhos não me curvarei pra falar contigo, enquanto meus irmãos passarem por privações prefiro ir pro 194


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inferno do que ver tu acomodado sem fazer nada! Quem sabe Deus até agora não agiu porque aqueles que o buscam buscam o paraíso e não tá nem aí, se ele faz ou deixa de fazer! Quem sabe Deus queira que você pare de ter medo de ir para o inferno e diga realmente o que ele tem que fazer, mostrando coragem e dignidade como filhos legítimos e não fantoches nas mãos de homens... Quem sabe Deus queira ver que você é capaz de se impor ao seu pai, sem temer o castigo, para que ele aja de outra forma com a humanidade. Quem sabe Deus esteja provando a humanidade, permitindo tantas atrocidades, para ver quem tem a coragem, a audácia de contrariar seus preceitos e seus juízos... Quem sabe Deus já desacreditou da raça humana, pois eles têm feito e aceitado somente o que tá escrito, sem indagar, com medo de ir para

o inferno... Sem contrariar, com medo de Deus castigar... Sem exigir, com medo de ser repreendido... Sem dúvidas, Deus continua sendo Deus mas, como todo o pai, Ele espera que seus filhos o surpreendam, que tomem atitudes e digam: Pai você errou... Pai, eu ganhei, mas meu irmão ainda não... Pai, eu não estou com frio, mas cobre meu irmão... Pai, obrigado pelo almoço, mas meu irmão está com fome... Pai, eu estou seguro, mas meu irmão está sendo judiado... Quem sabe as coisas mudem, quando aqueles que buscam a Deus pararem tanto de querer ir pro céu, a ponto de cegá-los e aceitar tudo que Deus faz, sem ao menos o questionar, mesmo sabendo que isso fere e prejudica seu irmão. 

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CONTO

ROTINA ROZEMAR MESSIAS Casada e mãe de dois filhos, mora em Colombo, PR, Brasil. Actua como professora inovadora na Prefeitura Municipal de Curitiba. Gosta de fazer caminhadas e é amante de cães, em especial da sua pitbull Mel. Aprecia boas séries, culinária e café passado na hora. Para esta leitora apaixonada, escrever é a realização de um sonho antigo. Poetisa desde a adolescência, participou nas antologias «Trilhas, Totens e Talismãs, «Versos Inversos», «Poesias Sem Fronteiras», «Miscelânea Poética Brasileira», «Eu Jardineiro», «Jardim 2», «Cordel» e «Só Sonetos». Utilizando o pseudónimo Rozz Messias, participou nas seguintes antologias de contos: «Atmosfera Fantasma», «Prenúncio do Medo – Pânico», «Olimpo: Deuses, Heróis e Monstros», «Doçaria Cristal», «Encantados», «Os Anjos Estão Aqui», «Contos de Farsa» e «Feéricas». Actualmente, trabalha na produção do ebook «Filha da Tempestade» (romance) e dos livros «Ao Seu Encontro» (romance) e «Entrelaçados» (fantasia). Participou nas antologias «Sol de Inverno» e «Brisas de Outono» da Colecção Sui Generis.

“Anete só rezava todos os dias para que seu nome não estivesse na temida lista, como iria manter as despesas da casa sem emprego? Não estava fácil ser mãe solo, os filhos a cada dia precisavam de uma roupa ou um calçado novo, pois a atual deixava de servir. Agora com a mudança de estação, ela precisaria passar no brechó perto do trabalho, ver se encontrava jaquetas para os filhos.”

POR ROZEMAR MESSIAS

Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/rozemar.m essiascandido

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geléia para passar no pão. Quem sabe da próxima vez. Pagou e seguiu com as poucas sacolas, o ônibus passou logo, mas estava cheio e foi difícil se equilibrar. Mesmo assim era melhor fazer compras perto do trabalho, pois no bairro onde morava só havia uma mercearia pequena, com o preço pela hora da morte. Anete entrou na pequena casa nos fundos da residência da locatária, amaldiçoando o ex-marido, aquele crápula egoísta que havia desaparecido para não pagar pensão. Largou as sacolas sobre a mesa e seguiu buscar os filhos na creche. Sorriu para as mães que encontrou no caminho, beijou e abraçou o bebê, pôs a sacola no ombro e pegou o filho mais velho que estava na turma do Pré. Enquanto o ar gelado os envolvia durante a caminhada da creche até em casa, o filho tagarelava sobre as brincadeiras e traquinagens do dia e o bebê sorria batendo palmas, o que fez Anete rir e esquecer um pouco os problemas. Em casa, enquanto a comida cozinhava, ela deu banho nos dois, os alimentou e depois de deixá-los assistindo, enrolados em uma grande coberta no velho sofá, foi preparar as coisas para o dia seguinte, a marmita dela, as mochilas dos filhos, a roupa que os três usariam pela manhã. Separou as contas mais urgentes para serem pagas durante seu horário de almoço, já estava combinado com sua chefe entrar mais cedo para fazer um horário de folga mais longo. Somente depois de contar uma história e pôr os filhos para dormir é que ela sentou para comer, a cabeça doía e foi necessário tomar um comprimido. Depois do banho rápido teve vontade de ligar o velho aquecedor, mas temendo o preço da conta de luz achou melhor não o fazer. Os três dormiram juntos, abraçados, o cheirinho dos filhos aquecendo o coração dela, trazendo esperança de dias melhores, mais quentes e menos difíceis. 

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ra início do inverno, o vento balançava a copa das árvores enquanto Anete caminhava devagar, os pés endurecidos dentro da bota, o cachecol enrolado no rosto e as mãos enluvadas dentro dos bolsos, buscando se aquecer. O sol gelado descia no horizonte, trazendo a previsão de uma noite ainda mais fria do que a anterior. Os pensamentos corriam rápidos pela mente dela, itens que precisava comprar no mercado e o que fazer para o jantar. A jovem mulher apressou os passos, pensando sobre os problemas na empresa, o clima andava pesado lá, muitos cortes no quadro de funcionários, todos pisando em ovos, receosos de serem chamados e ouvirem a famosa frase: «Não necessitamos mais dos seus serviços». Anete só rezava todos os dias para que seu nome não estivesse na temida lista, como iria manter as despesas da casa sem emprego? Não estava fácil ser mãe solo, os filhos a cada dia precisavam de uma roupa ou um calçado novo, pois a atual deixava de servir. Agora com a mudança de estação, ela precisaria passar no brechó perto do trabalho, ver se encontrava jaquetas para os filhos. Já não conseguia sentir os pés quando finalmente entrou no mercado e foi colocando os itens no carrinho. Quando chegou no caixa e calculou os valores, notou que teria de deixar algumas mercadorias. Olhou com pena para o pacote de café e a massa de tomate, teve vontade de levar a

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RONALDO MAGALHÃES Brasileiro, nascido em 1976, reside em Salvador, BA. Escritor e roteirista, tem experiência na área das artes: direcção teatral, interpretação, dramaturgia e cinema. Escreve poesias, artigos, ensaios, contos e roteiros para rádio, cinema e TV. Publicou contos em duas obras colectivas: «Memórias» e «O Diferencial da Favela: Poesias e Contos de Quebrada» (org. Sarau da Onça). Participações em antologias Sui Generis: «Sol de Inverno» (2019). . Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/ronaldo.m agalhaes.129

A PELEJA DO POETA CONTRA AS DESPALAVRAS

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le sempre se encantara pelas palavras poéticas. Seguiu então seu destino, mas havia outras palavras que o expulsavam de seu caminho. Na realidade não eram bem palavras, eram despalavras. Medrosas palavras implícitas que circulavam falaciosas e astutas, essas despalavras estavam em vantagem por estarem no poder. E por estarem no poder, elas soavam escorregadias, persistiam num eco de estupidez deliberada. Eram desditas ao léu, tão avaras e negligentes. Tão irresponsáveis! E isso o levava a medir as palavras, o que gerou nele tristeza. A expressão de sua verdade, que estava em suas palavras poéticas, prendera-se em sua garganta. Precisou criar suas estratégias: murmurou suas palavras tranquilizadoras e ouviu as palavras por trás das palavras e foi moldando cada uma com coragem. Ficarão impunes estas despalavras? E as outras? Para nada servirão as palavras justas e sensatas? E as poéticas? Ao se deparar com despalavras de chacota e repletas de nonsense, ele simplesmente as transformava: como se comesse as palavras, ele mastigava surda e lentamente cada uma e seguia tranquilo a acreditar na sua arte. 202


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Medrosas palavras implícitas que circulavam falaciosas e astutas, essas despalavras estavam em vantagem por estarem no poder. E por estarem no poder, elas soavam escorregadias, persistiam num eco de estupidez deliberada. Eram desditas ao léu, tão avaras e negligentes. Tão irresponsáveis! E isso o levava a medir as palavras, o que gerou nele tristeza. A expressão de sua verdade, que estava em suas palavras poéticas, prendera-se em sua garganta. Precisou criar suas estratégias: murmurou suas palavras tranquilizadoras e ouviu as palavras por trás das palavras e foi moldando cada uma com coragem.

É preciso desarticular as despalavras, pesadas e ignorantes, limitadas a reagir feito animal e a jogar com as palavras com maestria maquiavélica. E nos atravessamentos das desditas, o poeta se fortaleceu. Sua palavra vira carne, pulsa viva entre as preciosidades advindas de sua criação mais sagrada e sincera, se perpetua e supera a sanha arrogante e desproporcional das despalavras insignificantes. 

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LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor», «Luz de Natal» e «Sol de Inverno». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito

CRÍTICAS

É óbvio que ninguém gosta de ser criticado negativamente. Ainda menos se a crítica for pública, como é o caso do facebook. Com efeito, nesta rede social, vêem-se muitos erros. Juro que é difícil conseguir ficar indiferente a eles e, sobretudo, não corrigir. Deformação profissional, talvez! Até compreendo erros de português (ortográficos ou outros) em pessoas com formação académica rudimentar, emigrantes há muito tempo... compreendo. Já não desculpo professores, jornalistas, escritores (os que são e os que se dizem)... não desculpo. Uma “amiga” que se dizia poetisa de alto gabarito zangou-se comigo e até me bloqueou. Tive a ousadia de dizer-lhe por mensagem privada que ela escrevia “concerteza” (palavra que nem existe) em vez de “com certeza”! E eu tinha a certeza! Em contrapartida, tenho uma amiga que é mesmo poetisa (na minha modesta opinião) e, como dá uns erritos, até me agradece quando a corrijo e vai emendar imediatamente. Ninguém gosta de ser criticado... eu também não. Mas penso que o facto de ser professora me leva a ter muito cuidado e verificar tudo antes de publicar. Ainda assim, estou sujeita a descui-

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dos, como qualquer outra pessoa. Há que evitar! Não conseguindo evitar, posso ser criticada. Sendo-o, o que faria eu? Penso que o melhor seria reler o texto (fosse qual fosse) e verificaria tudo muito bem. Se realmente tivesse erros (quaisquer que fossem) emendá-los-ia e faria tudo para que nada me pudesse ser apontado. De seguida, eliminaria o comentário negativo, mas com razão. Se não tivesse erros e plenamente consciente disso, daria um bom “raspanete” ao(à) criticador(a)! Afinal, é lícito haver quem discorde de nós, mas há que saber fazê-lo. Lançar pedras pelo ar sem saber como, é correr o risco de que nos caiam em cima! Penso eu de que…!  207



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LIVROS

NINGUÉM LEVA A MAL Antologia de Estórias Carnavalescas

A antologia Ninguém Leva a Mal, organizada sob o lema É Carnaval, ninguém leva a mal, reúne textos de trinta autores lusófonos, de Portugal, Brasil e Cabo Verde, que abrangem diferentes estórias carnavalescas, ou ambientadas no período do Carnaval, recheadas de aventura, suspense, humor, fantasia, acção, mistério e (muita) sensualidade. No entanto, porque o Carnaval nem sempre é sinónimo de folia ou diversão, Ninguém Leva a Mal contempla igualmente enredos dramáticos que incluem laivos de romantismo, intriga policial, biografia romanceada e outras narrações fascinantes que deambulam pela História, sem olvidar fortes emoções como a paixão arrebatadora, a obsessão destrutiva e o amor genuíno.

NINGUÉM LEVA A MAL Antologia de Estórias Carnavalescas Organização: Isidro Sousa Autores: 30 Autores Edições Sui Generis Editora EuEdito Nº de Páginas: 226 páginas 1ª Edição: Março 2017 ISBN: 978-989-8856-33-3 Depósito Legal: 423332/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.pt

Cada autor escolheu os ingredientes que desejou abordar e deixou-se ao sabor de cada um o modo como desenvolveram os seus enredos, porém, o resultado global traduz-se num conjunto de contos literários que privilegiam a ambiência festiva do Carnaval – tramas vividas ou simplesmente inspiradas na época carnavalesca, podendo ser reais ou ficcionadas. Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Adeilton Lima, Ana Paula Barbosa, André Varela, Angelina Violante, Apolo, Augusta Silva, Carlos Arinto, Denise Berto, Florizandra Porto, Guadalupe Navarro, Isidro Sousa, Ivan de Oliveira Melo, João Santos, Jonnata Henrique, José António Loyola Fogueira, José Teixeira, Júlio Gomes, Marcella Reis, Maria Isabel Góis, Marizeth Maria Pereira, Rosa Marques, Sakura Shounen, Sara Timóteo, Sérgio Sola, Sertorius, Sidney Rocha, Suzete Fraga, Teresa Faria, Tito Lívio, Vânia de Oliveira.

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LIVROS

SINFONIA DE AMOR

SINFONIA DE AMOR Contos, Crónicas, Cartas e Poesias Antologia Lusófona Autores: 75 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 300 páginas 1ª Edição: Dezembro 2018 ISBN: 978-989-8896-71-1 Depósito Legal: 450089/18 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

O amor é uma emoção ou um sentimento de carinho e demonstração de afecto que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de o demonstrar. Provoca entusiasmo por algo e interesse em fazer o bem, motiva a necessidade de protecção e manifesta-se de diferentes formas: amor materno ou paterno, amor fraterno, amor físico, amor platónico, amor à vida, amor pela Natureza, amor pelos animais, amor altruísta, amor incondicional, amor-próprio, etc. O termo deriva do latim “amore”, palavra que tinha o mesmo significado que actualmente tem: sentimento de afeição, paixão e grande desejo. Mas definir o que é o amor não é tarefa fácil, pois pode representar algo distinto para cada pessoa. Há, de facto, diversas definições e tipos de amor, que diferem de caso para caso, dependendo das pessoas e circunstâncias. O amor físico, por exemplo, representa o amor entre casais, sentimento que envolve uma forte relação afectiva e, em geral, de natureza sexual. O amor a Deus demonstra uma ligação de carácter religioso, um sentimento de devoção e adoração. Já o amor proibido acontece quando o relacionamento entre duas pessoas não é permitido. Muitas pessoas expressam os seus sentimentos mais profundos através de mensagens de amor, declarações de amor ou poemas de amor, que compartilham com pessoas especiais. E não podemos olvidar que o amor tem também um papel social, alimentando outras acções e sentimentos como a solidariedade, sendo igualmente um dos temas mais importantes de várias formas de arte. Esta obra colectiva procurou abranger todos os tipos de amor, em diferentes géneros literários. E embora o amor físico predomine na maioria dos textos, resultou numa belíssima antologia que inclui contos, cartas, crónicas e poemas sobre o amor, diversas formas de amor, uma autêntica Sinfonia de Amor construída por 66 autores lusófonos contemporâneos, cujos textos se mesclam com (outros) textos de 9 autores clássicos, tais como Florbela Espanca, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Olavo Bilac, entre outros. 211



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BENDITA MANJEDOURA!

BENDITA MANJEDOURA! Antologia de Natal Autores: 48 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 214 páginas 1ª Edição: Novembro 2019 ISBN: 978-989-8983-26-8 Depósito Legal: 464023/19 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

Naqueles tempos, naquela província romana chamada Judeia, o despótico governo de Herodes, O Grande e a crescente tirania do Império Romano tornavam as condições de vida cada vez mais insuportáveis. Isso fez que os Judeus buscassem refúgio na esperança de um Messias pessoal... ou seja, ansiavam pelo prometido Libertador da casa de David, que os livraria do jugo do odiado usurpador estrangeiro, poria fim ao ímpio domínio romano e, em seu lugar, estabeleceria o seu próprio reino de paz e justiça. Segundo a Bíblia Sagrada, o tão desejado Salvador nasceu em Belém, a cidade de David, na época do imperador César Augusto e durante o reinado de Herodes, O Grande. Só que... ao invés de provir da casta reinante e de ter nascido em berço de ouro... os Judeus esperavam que o futuro Libertador fosse um príncipe da casa sacerdotal reinante... o tão esperado Messias nasceu, de acordo com os evangelhos de Lucas e Mateus, em Belém, de uma mãe virgem... uma jovem (do povo) chamada Maria. Quando Maria estava perto de dar à luz, ela e seu esposo, o carpinteiro José, viajaram de Nazaré, onde viviam, para Belém, a terra ancestral de José, para se recensearem. Durante a viagem, Maria entrou em trabalho de parto e o casal, não achando um lugar para se hospedar na cidade de Belém, abrigou-se num estábulo. E foi aí que Maria deu à luz e fez de uma simples manjedoura o berço para deitar o seu filho recém-nascido... Foi este o repto lançado para a antologia «Bendita Manjedoura!», tendo sido abraçado por 36 autores lusófonos (contemporâneos), dando os seus textos, dedicados à Natividade, especial enfoque à Manjedoura que, acolhendo o Deus-Menino na Sua gloriosa descida à Terra, se transformaria, ainda que simbolicamente, no “Berço da Esperança”. Além dos textos enviados pelos autores, foram incluídos nas páginas desta antologia (mais alguns) textos de 12 autores consagrados, numa secção própria criada para esse efeito, o que perfaz um total de 48 autores participantes nesta belíssima obra colectiva, cujos textos, em qualquer género literário (conto, crónica, carta ou poesia), abordam sempre, de algum modo, a ambiência em que ocorreu o tão esperado (e inesperado) nascimento do Messias. 213



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LUZ DE NATAL

LUZ DE NATAL Antologia Lusófona Autores: 63 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 240 páginas 1ª Edição: Dezembro 2018 ISBN: 978-989-8896-69-8 Depósito Legal: 449783/18 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

Enquanto as melodias do Natal nos enternecem, recordamos também, ante o céu iluminado, a estrela divina que assinalou, ao Menino Jesus, o berço na palha singela. Desde o momento em que os pastores maravilhados se deslocaram para ver o recém-nascido, o Deus Menino começou a receber testemunhos de afeição dos filhos da Terra. Todavia, muito antes que O homenageassem com ouro, incenso e mirra, expressando a admiração e a reverência do Mundo, o Seu ceptro invisível dignou-se acolher, em primeiro lugar, as pequeninas dádivas de pessoas humildes. Só Jesus sabe os nomes daqueles que algo Lhe ofereceram, nos instantes da estrebaria: a primeira frase de bênção... a luz da candeia, ou da vela, que principiou a brilhar quando se apagaram as irradiações do firmamento... os panos que O livraram do frio... a manta modesta que Lhe garantiu o leito improvisado... os primeiros braços que O enlaçaram ao colo para que José e Maria repousassem... a bondade que manteve a ordem ao redor da manjedoura, preservando-a de possíveis assaltos... o feno para o animal que O devia transportar... e muito mais. Hoje, dois milénios transcorridos sobre o nascimento de Jesus, 63 autores lusófonos pedem vénia para algo Lhe ofertar... Nada possuindo de nós, trazemos as páginas despretensiosas desta antologia que Ele mesmo nos inspirou, os pensamentos de gratidão e de amor que nos saíram do coração, em forma de letras, em louvor de Sua infinita bondade! Porque Jesus é a Luz de Natal... a luz do (nosso) Natal. Recebe, Senhor! Recebe estes contos, estas crónicas, estes poemas, estas cartas, o conjunto dos textos inseridos nesta obra colectiva... Recebe-os com a benevolência com que acolheste as primeiras palavras e os primeiros gestos de carinho com que as criaturas anónimas Te afagaram na gloriosa descida à Terra!... E que nós possamos reverTe a figura sublime, nos recessos do coração.

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BRISAS DE OUTONO

BRISAS DE OUTONO Antologia Lusófona Autores: 65 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 230 páginas 1ª Edição: Outubro 2019 ISBN: 978-989-8983-21-3 Depósito Legal: 462961/19 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

Eis a terceira de um conjunto de quatro antologias da Colecção Sui Generis que se dedicam a cada uma das estações do ano, sendo esta consagrada ao Outono, estação que surge logo depois do Verão e antecede o Inverno, preparando a vinda da estação mais fria. O Outono é caracterizado pelo declínio gradual nas temperaturas e pelo amarelar e início da queda das folhas das árvores, indicando a passagem de estações, sendo a estação que mais se associa à melancolia, à nostalgia, ao declínio da existência, já que algumas das suas principais características são a queda das folhas das árvores, as suas nuances amarelas, castanhas e vermelhas, o tom cinza do céu, modificações repentinas do clima e frutos amadurecidos que, deste modo, pesam nos galhos e caem sobre a terra. Poeticamente, o Outono marca as etapas de transformação da vida, a reciclagem dos elementos da Natureza e também das emoções humanas. Nesta estação de transição entre o calor e o frio, que se completa no Inverno (quando se sente a falta de hibernar), as pessoas vão-se tornando mais introspectivas e desejosas de se abrigar nos seus refúgios, inclinando-se a buscar a meditação. As noites retornam mais cedo e são húmidas, frescas ou mesmo frias, requerendo outros hábitos, como a procura de alimentos quentes, ambientes calorosos e banhos mais aquecidos e longos. E dormir transforma-se num ritual, pois as pessoas envolvem-se em agasalhos, mantas e cobertores abundantes... É justamente na terceira das quatro estações que se inspiram (ou ambientam) os variadíssimos textos, em prosa e poesia, incluídos ao longo das 230 páginas deste livro intitulado «Brisas de Outono», redigidos por 65 autores lusófonos contemporâneos, de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde e Moçambique. Uma belíssima obra literária sobre o Outono que surge na sequência de outras duas obras já publicadas, dedicadas a outras duas estações, «A Primavera dos Sorrisos» (2017) e «Sol de Inverno» (2019), e que, tal como as anteriores, proporcionará leituras agradáveis e prazenteiras. 219



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SOL DE INVERNO Independentemente de se gostar ou não se gostar do Inverno, a mais fria das quatro estações do ano, esta afigura-se tão ou mais inspiradora na literatura quanto as demais estações. E imensos autores, que escrevem ao sabor da estação do momento, apresentam belíssimas criações literárias. Talvez por isso, quando Isidro Sousa, o mentor desta antologia, decidiu organizar uma obra colectiva sobre as várias estações, optou por criar quatro obras individuais, dedicando cada uma delas a uma estação específica. O projecto iniciou com «A Primavera dos Sorrisos» (Sui Generis, 2017) e prosseguiu com a presente antologia que agora se publica: «Sol de Inverno». Uma obra inspirada na canção com o mesmo título de Simone de Oliveira que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção de 1965, em que a cantora assume o papel de uma mulher cujo amante termina o relacionamento e ela diz-lhe como se sente... comparando a sua situação ao Sol de Inverno e cantando que ela, tal como o Sol de Inverno, não tem calor. SOL DE INVERNO Antologia Lusófona Autores: 85 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 286 páginas 1ª Edição: Setembro 2019 ISBN: 978-989-8983-03-9 Depósito Legal: 458055/19 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

E «Sol de Inverno», esta nova obra da Colecção Sui Generis, reúne textos variadíssimos, inspirados e/ou ambientados no Inverno, em prosa e poesia, de um total de 85 autores. Destes, apresentam-se largas dezenas de autores lusófonos contemporâneos, maioritariamente portugueses e brasileiros, aos quais se juntam textos (em menor quantidade) de autores clássicos... não só lusófonos – como Cesário Verde ou Raul Pompéia – mas também de algumas outras nacionalidades. Todos os textos destes autores, clássicos e contemporâneos ou emergentes, mesclados ao longo das 286 páginas do livro, compõem uma belíssima e interessante obra literária sobre o Inverno, que proporcionará, seguramente, boas leituras.

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