SG MAG 05 | Agosto 2018

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SG MAG #05

agricultura de miséria... Porque só de contar estas peripécias já fiquei cansado – adiante!

CAPÍTULO 5 Se ainda não tiverem uma ideia do porquê, que não gosto da minha aldeia, jamais hão-de ter. Tentei fugir... fugi e tive sucesso. Contudo não menosprezo esses anos vividos na aldeia, ainda que pouco agradáveis, foram o alicerce no qual a minha personalidade hoje assenta. É imperativo ter algo que sirva de alicerce à nossa personalidade... valores, responsabilidades e senso de sacrifício. Mas voltando à meada... empreguei-me numa empresa de distribuição de frangos, e ia de Norte a Sul no meu camião frigorífico fazer entregas aos maiores supermercados nacionais (o povo sempre comeu muito frango). – Deixei o microcosmos de minha aldeia para conhecer o microcosmo do meu país...

mos sempre molhados de pés gelados e dedos engatinhados e cheios de frieiras. Íamos ceifar a erva para os animais... andávamos sempre vergados, de nariz no chão e desembaraço na foice. Abril e Maio eram os meses do calendário para lavrar a terra. Sempre com a ajuda das vacas, pobres bichos resignados à sua sorte – lembro-me delas, de pêlo castanho-claro e de longas pestanas que cobriam olhos de um negrume meigo de mãe. Semeava-se o milho, sachava-se o milho, cortava-se-lhe a bandeira e estendia-se na beira dos caminhos para secar. Apanhava-se depois de seca para alimentar as vacas dóceis... e não vou continuar com mais descrições dos afazeres de uma

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