SG MAG 01 | Janeiro 2017

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SUMÁRIO SG MAG Edição nº 1 Janeiro 2017

EDITORIAL ............................................................................................. REACÇÕES: Lançamento da SG Mag ................................................ APRESENTAÇÃO: Almas Feridas – por Isidro Sousa ........................ REPORTAGEM: Lançamento do livro “Almas Feridas” ................ ENTREVISTA: Suzete Fraga – por Ricardo Solano .............................. CONTO: O anjo Gabriel – por Everton Medeiros .................................. CRÓNICA: Gosto de ler – por Isabel Martins ....................................... APRESENTAÇÃO: O Pranto do Cisne – por Marcella Reis .............. FICÇÃO: Os amantes – por Isidro Sousa ............................................... CONTO: Os anjos têm olhos azuis – por Manuel Amaro Mendonça . POESIA: Dois poemas de Jonnata Henrique ..................................... POESIA: Três poemas de Rosa Marques ............................................ ENTREVISTA: Carlos Arinto – por Isidro Sousa ................................. APRESENTAÇÃO: Graças a Deus! – por Isidro Sousa ...................... REPORTAGEM: Lançamentos Sui Generis no Vlada Lounge ...... CONTO: Janela de viagens – por Teresa Morais ................................... OPINIÃO: Filosofia e Direitos Humanos – por Diamantino Bártolo . PARCERIAS: Revistas literárias editadas no Brasil ............................ LIVROS: Graças a Deus! ....................................................................... LIVROS: Almas Feridas ......................................................................... LIVROS: O Pranto do Cisne .................................................................. LIVROS: Mar em Mim ........................................................................... LIVROS: Decifra-me... ou Devoro-te! ................................................. LIVROS: Amargo Amargar ................................................................... LIVROS: Lágrimas no Rio ..................................................................... LIVROS: O Mundo Exclamante ........................................................... LIVROS: Moçambique, Norte Sangrento ........................................... LIVROS: Lágrima Artificial ................................................................... ANTOLOGIAS SUI GENERIS: Próximos lançamentos ................ APRESENTAÇÃO: Lágrimas no Rio – por Isidro Sousa .................... REACÇÕES: Almas Feridas – por Lucinda Maria e Sandra Boveto .... LANÇAMENTO: Mar em Mim, de Rosa Marques ........................... SÁTIRA: A estátua de sal – por Guadalupe Navarro ............................. BIOGRAFIA: António Pereira da Costa – por Neca Machado .......... REGULAMENTO: Fúria de Viver ...................................................... REDES SOCIAIS: Comentários & Reacções .....................................

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Participe nesta Antologia Sui Generis de Contos Policiais Regulamento disponĂ­vel em http://letras-suigeneris.blogspot.pt


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Isidro Sousa Editor da SG Mag

sg.magazin@gmail.com https://issuu.com/sg.mag

EDITORIAL Iniciamos o ano 2017 com o lançamento desta (nova) revista literária: SG MAG. Embora seja um órgão oficial da Sui Generis, algo que se torna necessário, está ao dispor de toda a lusofonia. Esta primeira edição dá especial atenção às obras e autores Sui Generis, destacando-se as entrevistas de Suzete Fraga e Carlos Arinto e vários livros recentemente editados. Desde já agradecemos todas as contribuições que tornaram possível a presente edição e contamos com a vossa colaboração na divulgação deste Magazine Literário. A SG MAG é composta por entrevistas, crónicas, reportagens, artigos de opinião, biografias, crítica literária, poesia, contos ou outros textos de ficção, excertos e divulgação de livros já editados, ou em fase de lançamento, e também disponibiliza espaço para outras artes: portfólios de fotografia, pintura, desenho, etc. Se deseja colaborar com a SG MAG ou anunciar o seu livro (ou algum evento, espaço ou serviço), contacte-nos por email. Desejamos Boas Leituras, e até à próxima edição!

SG MAG – Magazine Literário Ano 1 – Edição Nº 1 – Janeiro/Março 2017 Editor e Director: Isidro Sousa Periodicidade: Trimestral Redacção e Publicidade: sg.magazin@gmail.com Endereço na Internet: https://issuu.com/sg.mag Colaboração nesta Edição: Carlos Arinto, Diamantino Bártolo, Everton Medeiros, Guadalupe Navarro, Isabel Martins, Jonnata Henrique, Lucinda Maria, Manuel Amaro Mendonça, Marcella Reis, Neca Machado, Ricardo Solano, Rosa Marques, Sandra Boveto, Suzete Fraga, Teresa Morais. Os textos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores que os assinam; os conceitos emitidos pelos autores não traduzem necessariamente a opinião da revista.

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REACÇÕES

LANÇAMENTO DA SG MAG Shirley Cavalcante é Editora e Directora da Divulga Escritor – Revista Literária da Lusofonia. www.divulgaescritor.com http://portalliterario.com facebook.com/shirley.cavalcante.5

“Meu amigo, desejo toda a sorte do mundo. Sabemos que estamos no caminho certo, não quando criamos um projeto, mas quando ele se torna tão bom que outras pessoas sentem o desejo de participar, então quando encontramos profissionais com desejo de ter um projecto semelhante, é fantástico. Muito feliz mesmo. Estamos indo para a nossa 25ª edição desde que criamos a Divulga Escritor: Revista Literária da Lusofonia, em 2013, temos o mesmo formato, ela é sinónimo de muito orgulho para nós. Divulga Escritor é pioneira em Revista Literária com este formato, e pauta exclusivamente literária profissional. Estou segura que a SG Magazine vem para somar. Quantos mais divulgadores tivermos mais leitores teremos, e mais forte fica o mercado literário. Seja bem-vindo! Muitos aplausos pela iniciativa. Você tem experiência e é muito organizado, estou segura que vem uma excelente revista literária, ansiosa pela leitura. Sei que não é um caminho fácil a ser trilhado, sabemos do desafio que temos não em criar, mas principalmente em manter um projeto literário. Força, sucesso!” SHIRLEY CAVALCANTE

Comentário de Shirley Cavalcante ao post de Isidro Sousa sobre o lançamento da SG MAG, publicado em 30/12/2016 no grupo «Isidro Sousa e Autores», no Facebook.

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APRESENTAÇÃO

ALMAS FERIDAS “A autora de Almas Feridas é uma alma igualmente ferida, num (pequeno) universo editorial que se deseja verdadeiro. Mais honesto. E solidário. Não absorveu influências nefastas nem se permitiu corromper por poderes (menos transparentes) instituídos, tão-pouco se deslumbrou com presentes envenenados ou se deixou beliscar por situações que raiam o absurdo. A sua integridade, mesmo perante falsidades e enxurradas de ácido contra si disparadas, permaneceu inviolável; as convicções inabaláveis. Mantendo-se autêntica, igual a si mesma e fiel aos seus valores, prefere rejeitar um troféu literário conquistado a duras penas para conservar a dignidade. Abdicar do prémio que ganhara em 2015 revelou-se um acto de coragem. Mas também um grito de revolta. Um grito de liberdade!” POR ISIDRO SOUSA 9


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ma discreta abordagem através das redes sociais, felicitando-me pela narrativa que eu havia publicado numa obra colectiva de outra editora, na Primavera de 2015, desencadeou uma cumplicidade literária que se consolidaria nos meses subsequentes. A interlocutora interessava-se pela minha obra e eu vislumbrei, rapidamente, que ela não era uma simples leitora assaz curiosa: alimentava, de igual modo, sonhos literários. Encontrámo-nos, meses volvidos, enquanto autores participantes, no mesmo concurso literário e o texto de sua autoria atraiu-me. Desde aí, os meus olhos não mais se desviaram do árduo percurso literário que, ela própria, viria a trilhar. Essa mulher é a autora deste Almas Feridas que se acha nas vossas mãos: Suzete Fraga. No entanto, a luta para singrar no reino das letras por espinhos se modelou. Embora já tivesse vencido o concurso promovido pela Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares da Póvoa de Lanhoso no ano lectivo 2011/2012, em que lhe foi atribuído o Prémio do Escalão Público em Geral para maiores de 16 anos, o texto Tortura Silenciosa, que Suzete Fraga apresentou no certame de 2015, deu nas vistas; surpreendeu-me pela positiva e, em simultâneo, pela negativa. Narrava uma estória arrepiante, espantosa, bem ritmada, de uma profundidade incomensurável, que se lia de um fôlego, sem parar. O enredo envolvente transportava para vários cenários, fazendo-nos vibrar e sofrer com a personagem que protagonizava um drama bem real, terrivelmente actual: a violência doméstica e o sentimento de posse. Um tema corrente, pungente, chocante, com um desenlace inesperado, cuja estória relatada, agora compilada neste livro, alenta, infelizmente, para o ânimo daqueles que dizem que o amor é um passaporte para a loucura, tornando praticamente psicopatas aqueles que

amam – ou acham que amam. Contudo, dela se extrai uma lição de vida: temos de cercear impiedosamente os tentáculos destruidores do amor, entre eles todas as formas de violência justificadas em nome ou por causa desse tão nobre sentimento. Embora o conto se apresentasse bem estruturado, bem trabalhado pela capacidade narrativa da autora, com tramas bem encadeadas, cujas peripécias se sucediam até ao clímax, o texto achava-se, na minha perspectiva, um tanto maltratado. Um desleixo que apontei em conversa privada e a própria autora reconheceria uma certa dificuldade nalguns pontos da escrita. Não obstante esse pormenor que poderia ser ultrapassado, mais cedo ou mais tarde, senti-me perante um diamante literário (quase em bruto)... uma autora a ter em conta. A pedra preciosa só precisava ser lapidada. Deixei, nos comentários ao texto, estas palavras: «Os primeiros passos em direcção ao sonho começam bem. Continue a escrever! Continue a aperfeiçoar o que escreveu! Nunca se aborreça de reler os seus textos quantas vezes forem necessárias! Escrever para ser lido requer muito trabalho e você tem capacidade para voar longe.» Críticas negativas, todavia construtivas, que lhe dirigia despertaram-na para a necessidade de adoptar cuidados específicos. E ela logo me pediria para rever textos destinados a outros projectos. Eu revia e continuava a criticar e a sugerir e a alertar. E ela sempre atenta... ansiando tornar o próximo texto menos imperfeito. Nunca questionou a revisão num texto. Ela própria comparava o trabalho que me enviara com o ficheiro (revisto) que lhe era devolvido, buscando identificar pontos de melhoria. Esse profundo interesse surpreendia-me mais ainda, desconcertava-me de um modo positivo; não é comum um autor analisar o 10


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trabalho do revisor – geralmente, perguntam o que o revisor fez, como fez, onde fez. Mas ela não. Ela pesquisava por iniciativa própria, estudava minuciosamente o texto revisto, procurando compreender o que deveria melhorar. Um esforço verdadeiramente louvável. Em Agosto de 2015, tornara-se já a minha confidente num universo literário bastante agreste em que todos se conhecem virtualmente mas, na realidade, quase ninguém sabe quem é quem. Foi a primeira pessoa a ter conhecimento da minha intenção em organizar uma obra colectiva. Quando tornei público o regulamento de A Bíblia dos Pecadores, antologia inaugural da Colecção Sui Generis, ela já era conhecedora da essência desse projecto, no qual participaria com um drama marcante, inspirado no relacionamento dos bíblicos Caim e Abel: Sombras do Passado; assim como enviaria, logo após, Tentação de Natal, um texto mais descontraído adentrando (um pouco) no campo da sensualidade, para a minha segunda obra colectiva. Se Tortura Silenciosa, em que mui-

tas mulheres se revêem na ilusão associada à bondade e ao amor que modificou a vida da protagonista, denuncia o flagelo da violência doméstica, os temas predominantes nestas duas últimas narrativas – igualmente reunidas neste livro – envolvem, respectivamente, relações fraternas assaz perigosas (entre irmãos conflituosos) e o drama do desemprego. À medida que estas (e outras) estórias – todas elas vivas, intensas, reais, plenas de humanidade – chegavam às minhas mãos, verificava que eram contos coesos, estruturados, com personagens planas e modeladas, bem caracterizadas, entrando-se facilmente nas narrativas e nos temas escolhidos, visionando-se cada cena, cada emoção, como se de filmes se tratassem. Apresentando sempre uma escrita (cada vez mais) escorreita e fluida, as tramas narrativas entremeadas de excelentes momentos descritivos destilam uma pluralidade de emoções, de esperanças e, em maior número, de frustrações (caso de Tortura Silenciosa), como resultado de uma violência doméstica

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execrável e devoradora de seres e de vontades, por opção, porque desagradar-me-ia vê-la adorcujos desenlaces nem sempre são os esperados; mecer à sombra da bananeira – sim, receava que mas que prendem o leitor até à última linha. tal sucedesse. Num curto espaço de tempo, evoluSe eu notava progressos de texto para texto, a íra a um ritmo alucinante e as suas asas poderiam autora jamais me questionou sobre a qualidade voar ainda mais longe. Como, de facto, voaram! dos mesmos. Após enviá-los, limitava-se a aguarEu sentia que conseguiria mais; muito mais. E dar uma opinião. Um simples elogio, por mínimo conseguiu! que fosse. Embora a evolução fosse notória, nunNão atingiu a perfeição – nem mentes brilhanca elogiei (até aí) qualquer texto. Receava que ela tes galardoadas com o Prémio Nobel conseguem se acomodasse ao patamar que já atingira – e a ser perfeitas. Não obstante, chegou ao ponto de caminhada tinha de prosseguir nesse bom ritmo. vencer, em Novembro de 2015, um (novo) conJustamente por isso, ao invés de lhe transmitir curso literário; quiçá mais ambicioso e mais conelogios, espicaçava-a, apontancorrido, em relação ao anterior; do imperfeições a corrigir, aresdesta vez, com uma narrativa tas a limar, novas dicas a explobem amadurecida, sagrando-se rar e outros pormenores de vencedora, por mérito próprio. É um facto: Suzete suma importância que passam Antes de a entidade promotora Fraga possui uma imensas vezes despercebidos e divulgar os resultados, eu tinha requerem atenção redobrada. a convicção de que Até à Última capacidade imensa Como, por exemplo, a questão Gota... se não vencesse, ficaria, de expressar emoções dos tempos verbais. E ela assino mínimo, entre os principais através da escrita, milou rapidamente que: não classificados. Classificou-se em deve haver oscilações na mesprimeiro lugar. Uma vitória de expor assuntos ma frase, ou parágrafo; mistujusta. Merecidíssima! De uma perigosos de uma rar presente e passado requer autora humilde e dedicada, que um domínio absoluto na escrita; tanto penou para atingir esse forma assaz deliciosa, não pode deixar pontas soltas feito. Só aí me pronunciei – de trabalhar qualquer numa narrativa bem desenvolfinalmente! – sobre o talento vida e todos os factos têm de inquestionável de Suzete Fraga. tema com a beleza ficar explicados, por mais susE ela compreendeu o meu silêndas suas palavras. pense que se possa empregar. cio durante toda a sua trajectóMostrava-se atenta às sugesria, a ausência de elogios enCada estória é como tões, aos pormenores mais ínquanto progredia e que estes um filho e todas elas fimos, ansiosa por continuar a nem sempre se revelam favoráenriquecer a bagagem do coveis aos melhoramentos. Por são dignas de serem nhecimento. E a mesma ansievezes, uma crítica negativa, lidas, quer pelo estilo dade sempre presente... uma desde que construtiva, é mais único e cativante, quer ansiedade muda, esperando benéfica, contribuindo de modo somente um pequenino elogio. positivo para a nossa felicidade. pelos conflitos nos Mas a minha opinião, embora O conto Até à Última Gota, enredos, com temas de um modo subtil, era favoráincluído igualmente neste livro, vel e a crítica, ainda que nalgué outro drama fascinante, devepara temer a vida! mas vezes negativa, deveras ras viciante, que afecta inúmeconstrutiva. Recusava elogiá-la ras famílias e faz verter uma lá12


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grima rebelde durante a leitura; arrebata da primeira à última linha e devora-se, num misto de raiva e encantamento, de um fôlego. Descreve outra situação recorrente que podia ser banal, porque envolvendo os malefícios do álcool, tanto na ficção como na realidade, há imensas estórias comuns. No entanto, graças ao estilo realista da autora, que enfatiza o aspecto humano e sofredor da protagonista, com nuances de revolta e coragem, usando o diário dentro da narrativa, o texto enriqueceu sobremaneira, relembrando que a escrita é muito mais do que escrever – pode ser também uma viagem ao mais profundo de cada um de nós, uma descoberta pessoal – e resultando numa ficção com muitas verdades lá incluídas, com uma clareza e fluência de ideias que sensibiliza o comum dos mortais.

Após triunfar no concurso de 2015, as narrativas sucedem-se. Cada vez mais estimulantes, ousadas, vibrantes. A própria autora, confrontada com o peso da responsabilidade, manteve a preocupação por uma evolução contínua, cujo trabalho tornou a ser reconhecido, noutro certame regional, no início deste ano. E todos os seus textos, reunidos neste volume, passaram-me pelas mãos. Conheço-os como se fossem meus. Revejome na maioria deles. Kayla: Sede de Vingança, só para citar um exemplo, concebido para a antologia O Beijo do Vampiro, tem um sabor especial: poderia ter sido escrito por mim. Narra a odisseia de uma vampira sedenta de vingança, escravizada antes de ter sido transformada, com mais de duzentos anos de idade, fazendo que o enredo viaje pelos séculos; a minuciosa pesquisa histórica (es13


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cravatura, por exemplo) enriquece a trama, conremando contra ventos e marés, enfrentando fere-lhe maior credibilidade. Este texto poderia raios e trovões, fazendo das tripas coração, a auter sido escrito por mim, todavia, não é o caso. tora jamais desistiria do seu sonho. Quando resolRedigiu-o uma alma sensível e maravilhosa em veu concretizá-lo recorrendo aos próprios meios, quem muito me revejo que, independentemente eu assumi, com um especial prazer, o apoio indo meio geográfico (bastante condicional à realização deste limitado) em que se encontra sonho há muito sonhado cuja inserida e das adversidades gestação foi verdadeiramente (não poucas) que têm vandalisofrida. zado (de modo assaz feroz) a A edição de Almas Feridas Todas as narrativas são sua trajectória literária, muito tornou-se para mim, enquantem pugnado pela concretizato editor e amigo solidário, criativas e as abordagens ção do sonho. uma questão de honra. Porgeniais, dotadas de veraÀ semelhança das suas que a luta é igualmente minha personagens, a autora de Ale considero o livro, embora cidade, um realismo que mas Feridas é uma alma não me pertença, outro dos arrepia. Encantam, prenigualmente ferida, num (pemeus filhos. E ei-lo agora nas queno) universo editorial que vossas mãos! Almas Feridas. O dem, deslumbram, emose deseja verdadeiro. Mais primeiro parto literário de cionam. Envolvem o leitor honesto. E solidário. Não abuma autora resiliente cuja sorveu influências nefastas vida sempre viveu em meios em aprazíveis e elegantes nem se permitiu corromper menos privilegiados, onde teias de aranha das quais por poderes (menos transpaimpera a escassez de oportusó se liberta após ter direntes) instituídos, tão-pouco nidades. Sendo, também, uma se deslumbrou com presentes das primeiras obras individugerido as derradeiras paenvenenados ou se deixou ais da Sui Generis, criada no lavras. Tramas marcanbeliscar por situações que meio de uma forte tempestaraiam o absurdo. A sua intede, bem turbulenta, que Suzetes, profundas, diversifigridade, mesmo perante falsite Fraga ajudou a enfrentar. cadas, que confirmam o dades e enxurradas de ácido Almas Feridas é editado na contra si disparadas, permamesma fornada de Amargo real talento e versatilidaneceu inviolável; as convicAmargar, obra que marca, de de de quem as concebeu ções inabaláveis. Mantendomodo similar, a realização de se autêntica, igual a si mesma outro sonho: da pessoa que – um talento enorme, e fiel aos seus valores, prefere redige estas linhas. Dois perabundante! rejeitar um troféu literário cursos paralelos, duas lutas conquistado a duras penas sangrentas, duas quimeras para conservar a dignidade. realidade tornadas. De mãos Abdicar do prémio que ganhadadas. Em simultâneo! Isso ra em 2015 (edição gratuita de um livro) reveloudemonstra que, havendo força de vontade, tudo se um acto de coragem. Mas também um grito de se consegue. Basta querer! Haja luta e perseverevolta. Um grito de liberdade. rança! Nunca se desista do objectivo, por mais No entanto, o sonho não esmoreceu. Pelo consombrio que se apresente o horizonte. Há que trário! As adversidades reforçam desejos. Mesmo transformar sonhos em realidade! Porque a espe14


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marcantes, profundas, diversificadas, que confirmam o real talento e versatilidade de quem as concebeu – um talento enorme, abundante! «São temas cuja fonte é inesgotável, infelizmente», diz a autora. «Não requer pesquisas. Na família, na casa ao lado, na rua mais abaixo, na televisão... basta piscar um olho para surgir uma história. E, claro, nas minhas histórias, posso fazer justiça ou dar o final feliz que raramente acontece na vida real. Por outro lado, tenho uma leve esperança de poder ser uma influência positiva para quem passa por estes dramas.» É um facto: Suzete Fraga possui uma capacidade imensa de expressar emoções através da escrita, de expor assuntos perigosos de uma forma assaz deliciosa, de trabalhar qualquer tema com a beleza das suas palavras. Cada estória é como um filho e todas elas são dignas de serem lidas, quer pelo estilo único e cativante, quer pelos conflitos nos enredos, com temas para temer a vida! Poderia analisar outras narrativas além das que citei, cuja principal característica é sempre a dramaticidade – porque todas as pessoas sofrem; todas as almas são feridas. O Chamamento do Cipreste (texto recheado de superstições envolvendo o sobrenatural) ou Têxteis: A Normalidade da Anormalidade (aventura frenética no local de trabalho, de enlouquecer qualquer ser humano), por exemplo. Privilegiei dar relevo ao percurso nada facilitado da autora, para conseguir furar (também) a muralha de humildade que lhe bafeja o espelho, cujo êxito agradece inclusive às pedras do seu caminho («Por cada calhau que me aparece à frente, surgem sempre dois ou três anjos para o remover»), reservando as emoções ofertadas por cada “devaneio literário” às vossas leituras. Que serão, seguramente, prazenteiras. 

rança é a última que morre – e parar é sinónimo de morrer. Este livro, cujo título reflecte magistralmente os conteúdos, reúne dezenas de textos que a autora escreveu, em duas partes: na primeira, contos destinados a concursos literários e obras colectivas de várias editoras; na segunda, pequenas estórias, autênticos exercícios de literatura, redigidas para campeonatos de escrita criativa em que a autora participou. Todas as narrativas são criativas e as abordagens geniais, dotadas de veracidade, um realismo que arrepia. Encantam, prendem, deslumbram, emocionam. Envolvem o leitor em aprazíveis e elegantes teias de aranha das quais só se liberta após ter digerido as derradeiras palavras. Tramas

Prefácio de Isidro Sousa incluído em Almas Feridas.

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REPORTAGEM

LANÇAMENTO DO LIVRO “ALMAS FERIDAS” Foi lançado, no passado dia 11 de Dezembro,

Ali, através do grande número de amigos,

nos Quartéis da Confraria de Nossa Senhora

família e, claro, admiradores, tivemos a

de Porto d’Ave, em Póvoa do Lanhoso, «Almas

possibilidade de comprovar o quanto a nossa

Feridas», o primeiro livro de Suzete Fraga e uma

Suzete é querida por todos.

das primeiras obras individuais com o selo Sui

Tratou-se de um evento planeado ao pormenor,

Generis. Tratou-se de um evento cultural

onde as capacidades de organização de Vítor

grandioso, como comprovam as fotografias

Macedo e o apoio da Câmara Municipal,

que ilustram as próximas páginas, que marcou

da Junta de Freguesia, do Grupo de Catequese

a bem-sucedida estreia literária de Suzete Fraga.

e do professor Rafael e de Adelino Abreu foram

Além da foto-reportagem, realizada por diversas

inexcedíveis. Todos compareceram em peso.

pessoas durante o evento, transcrevemos as

A sessão foi brilhantemente apresentada por

palavras do autor Manuel Amaro Mendonça,

Daniel Mogas e teve a participação musical

que esteve presente – e fez uma belíssima

de vários jovens prometedores, Ricardo e

intervenção – na sessão de lançamento:

Margarida Soares, Joana Magalhães e Gabriel Sousa.»

«A apresentação decorreu num cenário de sonho, cheio de história, o Santuário de Nossa

Parabéns, Suzete Fraga! Muitas felicidades

Senhora de Porto D’Ave, na Póvoa de Lanhoso,

na sua trajectória literária, que mal acaba

e teve honras de casa cheia.

de principiar. Já esperamos pelo próximo...

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ENTREVISTA

SUZETE FRAGA A geada de Janeiro tatuou-lhe o espírito do guerreiro afonsino na alma. Porém, quis o destino que se instalasse na outra margem do Ave, à sombra de tílias perfumadas. Sem dotes vocais para cantar, nem habilidade para filigranar, é no escorrer da tinta da caneta que encontra uma satisfação insana. Transformou recentemente o sonho numa realidade há muito desejada. E «Almas Feridas», o seu primeiro livro, revelou-se um estrondoso êxito literário. Directamente de Póvoa de Lanhoso, apresento-vos a autora Suzete Fraga! POR RICARDO SOLANO

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SG MAG – Quem é a Suzete Fraga e em que momento surgiram as letras na sua vida? Como despontou o gosto pela escrita? SUZETE FRAGA – A Suzete é uma sonhadora incurável. Oriunda de uma família humilde, respondeu ao professor de Moral que queria pilotar aviões. Ainda que não lhe desse troco, viu no rosto dele aquela expressão “Como ousas sonhar tão alto?”. Naquele instante, mentalmente, decidiu: “Eu ouso o que eu quiser!” Sem recursos para continuar os estudos, seguiu o único caminho possível: os têxteis. Aí, foi-se esmerando até à exaustão. Precisou de quase vinte anos para perceber que, independentemente do esforço ou dedicação que empregasse, para aquele cargo (embaladora), a remuneração não passaria do salário mínimo. Ora, com isso, sobrevive-se. O sonho mais insignificante não passa de uma alucinação ou pura demência. Sentiu que estava na hora de mudar algo por mais pequeno que fosse; caso contrário, os resultados continuariam a ser os mesmos. Enfrentou muitos obstáculos? Como os contornou?

Até à (recente) publicação do seu primeiro livro, que percurso desbravou? Que caminhos trilhados?

Obstáculos? Ser pobre conta como obstáculo? Ter de trabalhar como uma moira para pôr comida na mesa, cuidar de uma casa, de dois filhos e dum marido que não vê com bons olhos as redes sociais, que não tem ambição e nem apoia nada que possa levar a mulherzinha a uma exposição um pouco mais mediática, isso são obstáculos? Não. Ausência de determinação, inércia, falta de talento, inspiração, tempo... Isso são obstáculos! Felizmente, vivi sempre rodeada de pessoas inspiradoras e, ao fazer a reflexão necessária para a equivalência do ensino secundário, percebi que as respostas estiveram sempre ali, o tempo todo. Só me faltava arregaçar as mangas, apenas isso.

Perceber as regras laborais foi fulcral para um ponto de viragem. Afinal, o empenho não servia para nada porque, segundo a nossa Constituição, para trabalho igual, salário igual. Por mais que mo dissessem, só acreditei quando vi com os meus próprios olhos, aquando da realização de um trabalho para o RVCC, através das Novas Oportunidades. Foi nessa mesma altura que os formadores me alertaram para a aptidão da escrita. Há muito que me tinha esquecido dessa aptidão e de como me fazia feliz o simples acto de escrever. Sugeriram-me cursos de escrita criativa. Estando eu num beco sem saída, vi ali uma pontinha de esperança, uma luz ao fundo do túnel. Descoberta uma nova direcção, ficou mais fácil caminhar em direcção ao sonho. Fui escrevendo para colectâneas, concursos, campeonatos até sentir que estava na hora de ousar concretizar o sonho.

De que modo é que a sua participação em diversas obras colectivas, campeonatos de escrita criativa e concursos literários viria a influir para a concretização de um sonho literário?

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As participações nos mais diversos projectos literários foram de uma importância avassaladora. Permitiramme conhecer minimamente o funcionamento das coisas no meio literário, proporcionaram-me novos amigos, amigos extraordinários. Aprendi imenso, fui dando a conhecer o meu nome, cresci enquanto pessoa, visitei lugares que nunca teria visitado se não fosse a pretexto literário. Em suma, foram a catapulta para o sonho se concretizar.

Que importância atribui às obras colectivas?

As obras

reconhecimento? Vencer a primeira edição do Concurso Literário António Celestino foi o impulso que precisava, a confirmação de que os meus formadores estavam correctos acerca do meu talento. Uma coisa é dizeremte que tens jeito, outra coisa é veres o teu talento reconhecido. Claro que uma boa dose de confiança não é tudo. Há que continuar a trabalhar, a fazer mais e melhor. Quanto mais alto o patamar, maior a responsabilidade. colectivas são

imprescindíveis. Não se A meu ver, as obras colectivas são imprescindíveis. Não se pode escalar uma montanha começando pelo topo, a menos que se tenha bons “padrinhos”. E, nesse caso, não há qualquer defesa para quedas e desmoronamentos, nem as conquistas têm o mesmo sabor. Como não tenho “padrinhos”, não venho de famílias abastadas, nem sequer tenho um nome chique ou diplomas para mostrar, esta é a única arma ao meu dispor. Até agora tem resultado comigo e com tantos outros.

pode escalar uma montanha começando pelo topo, a

menos que se tenha bons “padrinhos”. E, nesse caso, não há qualquer defesa para quedas e desmoronamentos, nem as conquistas têm o mesmo sabor. Como

Em Novembro de 2015, triunfou noutro concurso literário. Muitos autores sonham vencer um certame desta natureza, não só pelo reconhecimento mas também pelo troféu. No entanto, a Suzete Fraga renunciou ao prémio que conquistou. Porquê esta decisão tão radical?

É verdade, ganhei o direito à edição de um livro a custo zero. não tenho “padrinhos”, Era o meu sonho e o sonho não venho de famílias de qualquer autor. Estou certa de que há por aí muitos talentos abastadas, nem sequer aprisionados numa gaveta devido tenho um nome chique às dificuldades económicas. ou diplomas para mostrar, E estou ciente do preço que essa As antologias Sui Generis, nas renúncia me custou, mas não esta é a única arma quais participa regularmente, poderia ser de outra forma. ao meu dispor. privilegiam a lusofonia. Que Não estou à venda. A minha importância atribui a este integridade e os valores em que intercâmbio cultural? acredito estão acima de qualquer recompensa. O meu É como disse um dia Bob Marley: descontentamento com a editora “Unidos venceremos, divididos cairemos”. começou quando ela teve a distinta lata de enviar Se há espaço para todos, porque não partilhar um e-mail a todos os autores, pretendendo com isso o melhor de nós e aprender uns com os outros? roubar o suor alheio. O projecto não lhe pertencia, logo ninguém cedeu. Não precisei que mo fizesse a mim, bastou que o tentasse fazer aos outros. Venceu um concurso literário de âmbito regional, A somar a esse comportamento grave, presenciei em Póvoa de Lanhoso, no ano lectivo 2011/2012. uma falta de humildade descomunal. A editora achou Em que medida foi importante este primeiro que uma capa infantil era o ideal para retratar

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uma obra erótica/sensual. Incapaz de reconhecer o erro, para não falar da falta de bom gosto, argumentou com adjectivos fofinhos tipo: imbecil, armada em intelectual, preguiçosa, invejosa... Chegando mesmo a ameaçar com uma boa conversa ou um par de estalos, sempre indirectamente, claro. Eu sou do Norte, carago! E fui lá, dei a cara, mas nem houve conversa nem estalos. Optou por reter o regulamento do prémio, durante quatro meses, até as minhas participações cessarem. Aí, encheu a boca de água benta e pediu desculpas pelo lapso, para decorrido um mês reclamar o manuscrito. Por essa altura, já eu tinha conhecimento de inúmeras queixas de outros autores e pude verificar com os meus próprios olhos a veracidade das mesmas: obras estupidamente caras, sem qualquer revisão – que nem o corrector ortográfico viam, para ser mais correta –, papel do mais foleiro que há, a cheirar a ETAR, numa dessas obras o número de páginas era umas dezenas abaixo do que fora informado e havia autores que nunca chegaram a ver as obras por que pagaram. A mim, ficou-me a dever a colectânea das Décadas, cujo recibo reenviei umas três vezes para o Grupo Múltiplas Histórias, Papel d’Arroz ou seja lá o nome que estava a usar no momento.

a pureza dos textos, o cuidado que lhes dedicava, a obsessão pelo perfeccionismo... mas constatar esse primor nas obras colectivas, mesmo sabendo que, por vezes, o trabalho despendido mal dava para comprar sal, pesou muito na minha escolha. Ver alguém com esse empenho, com essa determinação, é raro. Pela experiência que tenho, as editoras (a grande maioria) estão neste meio para facturar e não para editar livros que cumpram os parâmetros mínimos de qualidade. Por isso, para além do sentido de lealdade que me movia, tinha a certeza de que o meu livro estava em boas mãos. Sei bem como o primeiro é determinante para o sucesso de futuras obras. Jamais correria o risco de matar quaisquer hipóteses de sucesso, logo no primeiro livro. A escolha foi reforçada ainda pela grandeza de humildade, pelo fácil trato e constante disponibilidade para tudo o que era solicitado.

Preferiu lançar o seu livro com o selo Sui Generis. Que razões pesaram nessa decisão? E porque escolheu a Sui Generis para editar a sua primeira obra? Para mim, os livros são sagrados. Servem para aprender. Não podem conter lixo ortográfico, isso é ponto assente. Tendo já uma relação de amizade com o Isidro Sousa, em jeito de solidariedade, fui participando nos seus projectos. Já lhe conhecia

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«Almas Feridas» abrange um vasto acervo de contos e pequenas estórias. O que a fez optar por um livro de diversas estórias para marcar a sua estreia literária? Tinha uma certa urgência na concretização deste sonho. Nunca sabemos se o amanhã vai chegar e, como tinha prometido dedicar o meu primeiro livro aos formadores de RVCC, cada dia gasto era um dia a menos para cumprir a promessa. Só tinha as participações das obras colectivas, começar algo de raiz levaria imenso tempo, portanto, e seguindo o conselho do Isidro, reuni os trabalhos todos para o meu pontapé de saída. Para além da promessa, havia a questão dos amigos; queriam ler o que eu escrevia, mas era impensável adquirirem todas as obras em que participava. Acabei por juntar o útil ao agradável.

Em que se baseiam essas estórias? Poderemos considerá-las reflexos da vida da autora ou serão meras ficções? Em que se inspiram?

Nunca fui adepta de autobiografias, consideroas demasiado íntimas para serem divulgadas. Quase tudo foi imaginado em função das regras a que estava sujeita

e da disposição em que me encontrava na hora de escrever. Tenho tendência a descarregar as minhas frustrações no papel quando algo não me corre

Têm alguns reflexos da minha vida, claro que sim, mas só quem priva comigo muito intimamente poderá identificar quais, embora sejam raros. Nunca fui adepta de autobiografias, considero-as demasiado íntimas para serem divulgadas. Quase tudo foi imaginado em função das regras a que estava sujeita e da disposição em que me encontrava na hora de escrever. Tenho tendência a descarregar as minhas frustrações no papel quando algo não me corre de feição e nem é preciso muito, basta dormir pouco, é o suficiente para ficar do avesso. Quando estou feliz da vida abuso nas lamechices, o que não me agrada muito, pois fico sempre com a sensação de que o texto não está credível.

de feição e nem é preciso O livro contém vários temas bastante realistas nos quais predomina o drama. O que a fascina ao escrever estes textos? E porquê o género dramático? A minha vida não foi fácil; directa ou indirectamente, convivi desde sempre com os dramas da Violência doméstica, do álcool, da pobreza... Torna-se mais fácil transmitir emoções quando estamos por dentro do assunto. Penso que sou mais credível no género dramático do que em qualquer outro por ter esse conhecimento.

muito, basta dormir pouco, é o suficiente para ficar do avesso. Quando estou feliz da vida abuso nas lamechices, o que não me

Os cenários das suas estórias variam bastante, fornecendo sempre informações precisas para que o leitor se situe nas tramas. Como se prepara?

É um processo quase automático. Depois de ter o tema e as regras, imagino o início da estória. sempre com a sensação A partir daí é uma aventura: de que o texto não está a construção e o enriquecimento do enredo. Pode ser uma notícia credível. na televisão, uma revista, um panfleto publicitário, uma frase proferida pela vizinha ou pesquisas mais aprofundadas, se achar oportuno. Sou muito indisciplinada, incapaz de me manter fiel a um “esqueleto” previamente definido.

agrada muito, pois fico

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Quais os critérios de organização dos contos no livro? Existe um fio condutor, algo que os interligue entre si, ou são um conjunto de episódios independentes?

e por outros. Ter a versatilidade deste, a capacidade das reviravoltas daquele, a inteligência da que diz muito com pouco... são todos como eu, pouco conhecidos, embora talento não lhes falte. Não vou mencionar nomes, creio que eles sabem quem são, corro o risco de esquecer algum temporariamente e não quero que isso aconteça.

Os textos foram dispostos em duas partes. Na primeira parte colocaram-se os textos mais elaborados, consoante o gosto pessoal; na segunda, os textos resultantes dos campeonatos, uma vez que se tratavam de textos mais pequenos e de desafios mais rígidos; por exemplo: um texto em que todas as frases começassem pela palavra “Não”, ou que não usassem determinada letra, etc. O que têm em comum foi casual, não foi premeditado.

O lançamento de «Almas Feridas» ocorreu no passado dia 11 de Dezembro, em Póvoa de Lanhoso, e o livro esgotou rapidamente, sendo necessárias duas reimpressões em menos de um mês. A que atribui este êxito?

E porquê «Almas Feridas»?

Êxito... Saberei se foi um êxito no próximo livro que lançar. O lançamento correu muito bem e as vendas superaram as minhas expectativas, mas apenas isso. Foi um evento raro por diversos motivos: faço parte de uma comunidade com um coração de ouro. O local onde decorreu o lançamento é mágico, carregado de História e simbolismo, é o único lugar no mundo onde ficamos mais perto do céu sem tirar os pés do chão. Tem bons acessos e boas condições de estacionamento. Foi o primeiro acontecimento do género cá na terra, que eu saiba, e até o São Pedro me brindou com um céu azul celestial. Tive uma equipa de amigos extraordinários, foram incansáveis na divulgação, na decoração da sala com as pinturas da artista e amiga Camila da Silva, os talentos musicais marcaram presença apenas em nome da amizade,

“Almas Feridas” foi uma sugestão do Isidro. O que eu tinha em mente, ou não retratava todos os conteúdos, ou era mais indicado para obras poéticas. Num jogo de palavras, foi ele quem acertou na combinação perfeita.

Existem muitas influências na sua escrita ou nem por isso? Quais são os autores que mais a seduzem? Não sinto que a minha escrita seja influenciada por alguém em concreto. Invejo autores que privilegiam o sarcasmo. Conheço apenas dois que o fazem de forma soberba: a Amélie Nothomb e o meu amigo Carlos Arinto. É um dom raro. Se me influenciam... não sei, acho que ainda não tive tempo para tal. Mas gostava de ser influenciada por estes

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a generosidade e o voluntariado do grupo de catequese, apresentadores fabulosos, um irmão das letras armado até aos dentes com um discurso maravilhoso, quase que me fazia chorar, amigos que fotografaram e gravaram o momento a custo zero... inacreditável!

O trabalho da Sui Generis excedeu as minhas expectativas; não que duvidasse, mas... Foi o apoio constante, o aconselhamento na tomada das decisões, a resolução dos problemas quando surgiram, a divulgação sem tréguas, um prefácio encantador, tudo! Podia entregar a obra e recebê-la de olhos fechados, que a perfeição estava garantida. O único senão prende-se com a morosidade, fruto dessa obsessão perfeccionista.

Algum dia imaginou que o seu primeiro livro fosse o sucesso que se tem revelado? Sente-se realizada?

Após «Almas Feridas», Não, nem em sonhos! Tinha que planos tem para breve? uma meta a atingir, mas nada Já está a pensar numa Desde que haja uma boa me garantia que ia ser superada, nova obra? maquia para gastar temos muito menos a duplicar. Sintome mais do que realizada. Tenho planos, claro que tenho, livros e escritores feitos às Achava que era afortunada, mas não diria para breve. três pancadas. Não importa não sabia que era absurdamente Para já, quero dedicar-me se é lixo, de tal forma que milionária. Foi um ano de loucos, à divulgação do “Almas Feridas”. porém, com a compreensão Vou continuar a aprender o máo representante da editora da entidade patronal e com ximo que puder. Este mês, nem se dá ao trabalho de a ajuda dos colegas, consegui por exemplo, vou frequentar conciliar a profissão com um workshop de escrita criativa. memorizar o nome do autor, o sonho. A forma como as mais Tenho um desafio sobre as Invada obra e muito menos do diversas entidades se prestaram sões Napoleónicas para terminar, a colaborar no que fosse um posfácio para redigir para conteúdo, não importa necessário, a presença de velhas uma amiga muito especial que o autor caia no ridículo, amizades dos tempos de escola, e alguns trabalhos para o sacrifício que muitos fizeram antologias ainda por começar. que não venda, nada disso para estar lá para mim, A segunda obra já está pensada, interessa... desde que nem o jogo do Benfica mal termine os trabalhos penconseguiu beliscar o momento, dentes... pague. E, com isto, como a forma como disponibilizaram ficam os que valem os seus estabelecimentos para criar mais postos de venda... Em que consistirá o próximo a pena ser lidos? Fico arrepiada só de relembrar livro de Suzete Fraga? E para tantas manifestações de carinho quando? e apreço! Mais importante do que as vendas foi sentir-me O próximo livro vai andar à volta realmente amada. E as surpresas não ficam por aqui! do tema: vícios. É uma questão de honra escrevê-lo. Têm surgido leitores que, sem me conhecerem... Esse teria sido o tema do prémio, já pode imaginar esperaram e desesperaram pela terceira remessa o que representa para mim. Falhar não é opção! de livros. E recomendam-me aos amigos! É bom demais. Não dá para descrever tanta felicidade. O que é para si a literatura? Que lhe apraz dizer sobre o trabalho e acompanhamento por parte da Sui Generis? Alguma desilusão?

Essa pergunta é muito difícil! Nunca tinha pensado nisso. Assim de repente, vêm-me à cabeça grandes

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obras que ficaram para a História, grandes talentos que permanecem desconhecidos por falta de apoios. Mas acima de tudo, literatura é tudo o que tem qualidade para ser lido. E entenda-se que qualidade nem sempre tem a ver com os parâmetros defendidos por um comité pomposo ou uma academia não sei das quantas. A partir do momento em que o dinheiro dita a qualidade deixa de haver literatura, passa a negócio.

Estaria a abusar se recomendasse as obras Sui Generis? Não são as únicas com qualidade a circular no mercado, mas... Agora sem puxar a brasa à minha sardinha, espero que a minha história sirva de inspiração. Ousem ser o que quiserem, que ninguém vos diga até onde podem chegar. Isso cabe a cada um decidir. Eu ousei e consegui.

E como vê o panorama literário português?

Deseja acrescentar algo que não tenha abordado?

Quanto mais vejo, mais horrorizada fico. Virou o negócio da China, não importa como, desde que haja uma boa maquia para gastar temos livros e escritores feitos às três pancadas. Não importa se é lixo, de tal forma que o representante da editora nem se dá ao trabalho de memorizar o nome do autor, da obra e muito menos do conteúdo, não importa que o autor caia no ridículo, que não venda, nada disso interessa... desde que pague. E, com isto, como ficam os que valem a pena ser lidos? Onde vai parar a nossa Língua Materna?

Sim, gostaria de clarificar a escolha da capa. Foi mais difícil do que imaginava. Tinha planeado usar o desenho de um amigo, porém, não reunia as condições necessárias. Tive de escolher outra imagem. Escolhi uma pantera. Todos temos, a dada altura, necessidade de recorrer a instintos selvagens, para sobreviver, para dar a volta por cima, para contornar obstáculos. A escolha da pantera não só retrata essa necessidade, como é o exemplo perfeito de um predador exímio. O sucesso das suas caçadas deve-se ao silêncio com que se move, à destreza e determinação. Conheci um ser humano com essas capacidades. Foi sobretudo nele que me inspirei. Foi com ele que aprendi muito do que sei hoje e, graças a ele, cheguei até aqui. Por isso, quis fazer-lhe esta homenagem, ainda que singela.

Que mensagem gostaria de transmitir aos leitores em geral e autores em particular?

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CONTO

O ANJO GABRIEL “No dia do seu aniversário, o garotinho foi levado para um antigo orfanato da grande cidade onde moravam, passando a viver uma vida de poucos prazeres entre dezenas de outras crianças órfãs. Logo que chegou ao orfanato, o garoto começou a receber mais atenção e cuidados do que algum dia recebera de seus pais. Apesar da pouca idade, Nathan percebia o carinho com o qual era tratado, e aquilo parecia um grande contrassenso na cabecinha do pequeno Nathan. Quando seus pais eram vivos, o menino tinha uma vida de muito conforto. No entanto, sentia-se sozinho e, de certa forma, abandonado dentro de sua própria casa.”

POR EVERTON MEDEIROS

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– Não foi dessa vez, Nathan. – disse Helen, tentando disfarçar o profundo pesar em sua voz. – Nunca é a minha vez! – replicou Nathan em tom de desapontamento. – Você é um menino maravilhoso. Vamos ter fé! – redarguiu Helen, segurando seu choro. – Por que ninguém quer saber de mim, Helen? – Não diga isso, Nathan! Um dia seu pai e sua mãe entrarão por aquela porta! – Meu pai e a minha mãe morreram. Você sabe disso! – Fique feliz pelo seu amiguinho. Um dia um amigo seu ficará feliz por você. – Até o Caio, que chegou depois de mim, ganhou uma família. – E um dia você ganhará a sua. – Eles nem conversam comigo... Por que eles me olham com essa cara, eu sou muito grande para ser adotado? – Não seja bobo, Nathan! Ninguém tem nada contra você. Ninguém acha que você é muito velho para ser adotado! Você é um menino querido!

– Só você acha isso... Por que você não é a minha mãe? – questionou com voz de choro e de cabeça baixa. A pergunta retórica de Nathan partiu o coração de Helen. Aquela mulher não sabia o que dizer ao inconsolável menino. De todas as mulheres daquele orfanato, Helen era a que mais atenção dava a Nathan, e por quem o menino tinha um profundo carinho. Helen, então, abraçou o garoto e o beijou na testa com o carinho de mãe para filho que sempre externou. Bastante emocionada, ela falou: – Tenha fé, Nathan! Tenha fé! Nathan era um menino de oito anos, quase completando seu nono ano de vida, belo e inteligente. Ele havia perdido seus pais, dois dias antes de completar cinco anos. Naquela trágica ocasião, um dia antes da véspera de Natal, seus pais haviam saído para jantar enquanto Nathan ficou em casa com a babá. Na saída do restaurante que de costume frequentavam, logo que entraram no carro, os pais de Nathan foram alvejados por dezenas de disparos de arma de fogo de pesado calibre. Os disparos vieram dos dois lados do veículo e o pai de Nathan sequer teve tempo de sacar a pistola que sempre carregava consigo. Para a polícia, aquilo foi, sem nenhuma dúvida, uma sumária execução. Dois dias após o assassinato dos pais, exatamente no dia do seu aniversário, o garotinho foi levado para um antigo orfanato da grande cidade onde moravam, passando a viver uma vida de poucos prazeres entre dezenas de outras crianças órfãs. Logo que chegou ao orfanato, o garoto começou a receber mais atenção e cuidados do que algum dia recebera de seus pais. Apesar da pouca idade, Nathan percebia o carinho com o qual era tratado, e aquilo parecia um grande contrassenso na cabecinha do pequeno Nathan. Quando seus pais eram vivos, o menino tinha uma vida de muito conforto. No entanto, sentia-se sozinho e, de certa forma, abandonado dentro de sua própria casa. Tanto seu pai como sua mãe não eram afetuosos com o menino e lhe davam pouca atenção.

Helen era uma das assistentes sociais que trabalhavam naquele orfanato muito antes da chegada de Nathan. Foi ela quem recebeu o garotinho nos dias seguintes ao assassinato dos pais. Ela sabia toda a história da vida do menino e certos fatos mantinha em total segredo para poupá-lo de mais sofrimento.

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O garoto ficava mais com a babá do que com os próprios pais. Quatro anos se passaram. Não obstante o grande sofrimento pela trágica perda dos pais e pela mudança radical em sua vida, Nathan ainda mantinha a doçura, a simpatia e o belo sorriso que sempre esteve presente em seu rosto. Ele adorava fazer novas amizades, sobretudo quando outras crianças chegavam ao orfanato, momento em que careciam de muito suporte emocional. Nathan sabia o nome de todas as crianças daquele lugar e conhecia várias com muita profundidade. Ele também conhecia todos os homens e mulheres que lá trabalhavam. Pelo forte sentimento protetor que possuía, o adorável menino sentia-se feliz em poder cuidar dos amiguinhos mais novos, como os inseparáveis Caio e Davi, sempre que lhe fosse permitido. Mesmo vivendo num orfanato, os amendoados olhos verde-acinzentados de Nathan sempre estavam a sorrir. Aquele garoto levava uma vida até certo ponto feliz. Ele cultivava muitas amizades com outras crianças internas e também com alguns empregados do orfanato. Mas havia algo que lhe faltava e, por vezes, vinha à tona em sua mente: uma família. Os empregados do orfanato tinham um carinho especial com todas as crianças que lá viviam, mas Nathan era uma das preferidas, devido à sua personalidade dócil e amável. Helen era uma das assistentes sociais que trabalhavam naquele orfanato muito antes da chegada de Nathan. Foi ela quem recebeu o garotinho nos dias seguintes ao assassinato dos pais. Ela sabia toda a história da vida do menino e certos fatos mantinha em total segredo para poupá-lo de mais sofrimento. Nos dias seguintes à adoção de Caio, seu amigo Davi e outros dois amiguinhos também foram adotados. Se por um lado Nathan sentia-se feliz pela adoção dos amigos, por outro convencia-se ainda mais de que ninguém queria adotá-lo. Seus amigos vinham, iam, e ele continuava lá, à espera de uma família. O Dia de Natal, que coincidia com o aniversário

de Nathan, aproximava-se e não havia nenhuma perspectiva de que aquele ano terminasse de forma diferente dos anteriores. Nathan não era a criança mais velha daquele orfanato. Havia também meninos de dez, onze e doze anos. Um desses pré-adolescentes de doze anos, apelidado de Bufão, não gostava de Nathan, pois sentia inveja da maneira com que o garoto era bajulado pelos empregados do orfanato. Certo dia, Bufão encontrou-se com Nathan no pátio do orfanato e contou ao garoto que seu pai não era nada daquilo que Nathan imaginava ser. Disse ainda que seus pais eram bandidos. – Por isso que ninguém quer te adotar. – disse Bufão. – Isso é mentira!!! – replicou Nathan com voz de choro. – Pergunta pra Helen, seu bobão! Nathan começou a chorar alto e saiu correndo do pátio à procura de Helen, para confirmar a 35


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história de Bufão. Ele correu por todo o orfanato até, finalmente, encontrar Helen. – O Bufão me contou tudo. – chorando e com a respiração ofegante. – O que ele falou? – em tom de preocupação. – Que meus pais eram bandidos... É verdade, Helen? – Nathan, não acredite nele! – Por que ele disse isso? – Ele só quer te magoar. – Ninguém quer me adotar porque meus pais eram maus? – Claro que não, Nathan!!! – As pessoas acham que eu sou mau! – Ainda que seus pais não fossem pessoas bo-

as, você é outra pessoa... Você é um menino bom. Eu sei, e todos sabem disso. Acredite em mim! – Eu nunca mais terei uma família! – Nathan, esqueça isso! Agora eu quero que você fique feliz, sabe por quê? – Por quê? – enxugando suas lágrimas. – Eu tenho uma ótima notícia pra te dar. – O que é? – Amanhã pela manhã um casal vem aqui ver você. – E daí? – Como, e daí? Talvez sejam seus pais. – Você acha que eles irão me adotar? – Eu estou torcendo muito por isso! Com a boa notícia que Helen lhe contara, Nathan, ainda enxugando as lágrimas com suas mãozinhas, começou a esboçar um sorriso em seu belo rostinho. Helen sentiu-se muito feliz por dar aquela notícia ao doce menino. Na manhã seguinte, pouco depois das 10h, Nathan já estava vestido com sua melhor roupinha, aguardando ansiosamente a chegada do casal de quem Helen lhe falara no dia anterior. O garoto brincava com outras crianças numa pequena sala de espera, que ficava no final de um longo corredor. Em dado momento, Nathan viu um casal com um menino vindo pelo corredor, em sua direção. Helen acompanhava aquela família. Bastante ansioso por aquele encontro, o garotinho de oito anos parou de brincar e ficou olhando para a família que se aproximava, sem desviar seu olhar um segundo sequer. Nathan pode perceber uma assustadora semelhança entre ele e o menino que acompanhava o casal. Ao se aproximarem ainda mais, o menino conseguiu ver Nathan em meio às outras crianças que brincavam naquela sala de espera. Ele ficou igualmente espantado com a semelhança entre eles. Quando a mulher, afinal, viu Nathan, ela parou de andar, pôs a mão em seu rosto e começou a chorar. O homem também emocionou-se ao ver aquele menino. A mulher, então, correu em direção ao garoto. Ao encontrálo, ajoelhou-se e o abraçou com muita força. Sem

Nathan viu um casal com um menino vindo pelo cor-

redor, em sua direção. Helen acompanhava aquela família. Bastante ansioso por aquele encontro, o garotinho de oito anos parou de brincar e ficou olhando para a família que se apro-

ximava, sem desviar seu olhar um segundo sequer. Nathan pode perceber uma assustadora semelhança entre ele e o menino que acompanhava o casal.

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conseguir conter seu intenso choro de felicidade, ela falou: – Você nunca mais vai ficar longe de mim! O homem veio logo atrás. Ele se ajoelhou e abraçou sua esposa e Nathan ao mesmo tempo. Chorando como criança, ele disse: – Você é nosso filho! Nosso filho! O outro menino aproximou-se e também abraçou seu pai, sua mãe e Nathan. Helen não parava de chorar ao presenciar tamanha emoção. Após compreender que aquele casal era, de fato, seu pai e sua mãe, e que aquele menino era seu irmão gêmeo, Nathan começou a chorar. Aquele momento foi mágico para ele. Não só havia ganho um pai e uma mãe, mas também um irmão. E não se tratava de pais adotivos, mas dos seus verdadeiros pais. O destino trouxe para Nathan uma surpresa que ele jamais poderia imaginar. No dia seguinte, Nathan deixou para sempre aquele orfanato, para viver com sua verdadeira família. Sua mãe, Ashley, contou-lhe que ele havia sido raptado ainda na maternidade e que, posteriormente, foi vendido ao casal de quem imaginava ser filho. Seu irmão gêmeo, Nathan, foi deixado na maternidade e apenas ele, cujo nome real era Gabriel, foi levado. Ashley disse, ainda, que a pessoa que o raptou viu o nome do irmão gêmeo afixado no berço ao lado, vazio naquele momento, e decidiu chamar o bebê Gabriel de Nathan. A cada informação que Gabriel recebia de sua família, novas dúvidas surgiam em sua cabecinha. O garoto pedia aos pais que lhe contassem tudo a seu respeito, pois não queria perder um único detalhe da sua verdadeira identidade.

*** Na noite de Natal daquele ano, Gabriel ganhou uma bela festa de aniversário, com a presença de inúmeros parentes e amigos da família. Seu pai vestiu-se de Papai Noel para animar a ocasião, mas o garoto não mais acreditava nessa figura lendária. Ainda assim, de modo a não frustrá-lo, Gabriel brincou com o bom velhinho e deixou seu pai acreditar na sua inocência. Afinal, nunca havia brincado com um Papai Noel em sua vida. Quando todos os convidados já haviam ido embora, ao final daquela noite de Natal, o garoto chamou seu pai e sua mãe, abraçou os dois com muita ternura, e lhes disse: – Vocês são o melhor presente que eu poderia receber. 

Everton Medeiros da Silveira nasceu na cidade de Porto Alegre/RS, Brasil. Reside atualmente na cidade de Maringá/PR, Brasil. É engenheiro químico e Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, desde 2006. Casado com uma escritora, amante de longa data da literatura, foi muito incentivado a ingressar nesse fantástico universo literário, do qual não pretende sair. Em 2000, já havia iniciado na arte da escrita com a produção de roteiro cinematográfico, voltado ao mercado norte-americano. Participou em diversos concursos desse gênero nos Estados Unidos, mas acabou interrompendo esse projeto. O primeiro roteiro de longa-metragem foi registrado no Brasil e nos Estados Unidos em 2001. Participa em antologias de prosa e poesia no Brasil e em Portugal, além de concursos literários espalhados Brasil afora.

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CRÓNICA

GOSTO DE LER “Fui convidada a estar presente no evento de uma Editora. E fui como uma intrusa, pois apenas estavam presentes os autores da Antologia que iria ser apresentada. No final da mesma, trocaram-se algumas impressões e reparei em alguém, um jovem que, de olhar vivo e atento, observava, sem se manifestar. Dirigi-me a ele. Falámos. Houve empatia. Despedimo-nos. No evento seguinte, voltei a estar presente e, de repente, notei alguma agitação. Faltava alguém e, sem esse alguém, o evento não poderia começar. Mas quem seria? Perguntava-me.”

POR ISABEL MARTINS

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ão tenho o dom da palavra, nem falada, nem escrita. Gosto de ler. Interessei-me, desde muito jovem, a partir do momento em que aprendi a ler. Comecei pela leitura dos “Cinco”. Daí, pulei para escritores portugueses, Eça, Júlio Dinis, etc. De repente, tinha nas mãos livros de poesia, José Régio, Mário de Sá Carneiro, Florbela Espanca, Fernando Pessoa e tantos outros. As minhas leituras passaram depois por autores estrangeiros, Camus, Kafka, Jean Paul Sartre, Paul Éluard, Marguerite Duras e autores ingleses, também. As férias eram dedicadas à leitura. Fui crescendo, mas o aspecto profissional levou-me para outras leituras e um tipo de escrita puramente comercial, não sem de vez em quando me ver em tertúlias e convívios literários, bem como a fazer-me acompanhar por um livro, já com outros autores, para uma ida ao café, à beira-mar, até hoje. E porque vos digo tudo isto? Porque, por mero acaso e através de uma amiga, fui convidada a estar presente no evento de uma Editora. E fui como uma intrusa, pois apenas estavam presentes os autores da Antologia que iria ser apresentada. No final da mesma, trocaram-se algumas impressões e reparei em alguém, um jovem que, de olhar vivo e atento, observava, sem se manifestar. Dirigi-me a ele. Falámos. Houve empatia. Despedimo-nos. No evento seguinte, voltei a estar presente e, de repente, notei alguma agitação. Faltava alguém e, sem esse alguém, o evento não poderia começar. Mas quem seria? Perguntava-me. Porém, o mesmo começou sem a tão desejada presença. Eis senão quando o espectável surge, já o evento ia a meio. Percebi, então, o motivo pelo qual devia estar presente aquela pessoa, que, afinal, era o

jovem com quem já tinha dialogado. Tinha que estar forçosamente, era um dos premiados. O segundo prémio! Nem mais nem menos que o meu e nosso amigo Isidro Sousa. Li-o, com imenso prazer. As palavras saem-lhe sem esforço e de tal forma que visualizamos o que transmite, e sem nos apercebermos leva-nos, deixamo-nos ir, fazemos parte do que escreve, logo desde o início. Frases perfeitas, sem erros. Por falar em erros, como é possível assassinar a língua portuguesa? Como é possível certas Editoras publicarem textos com erros? Ou não sabem também, ou não os revêem. Dá trabalho e perdese tempo. Perdoem o meu aparte. Ora, voltando ao Isidro. Após tê-lo lido e conhecendo um pouco do seu trajecto, e outros pormenores que não vêm agora ao caso, pensei: «Não vai ficar muito tempo publicando numa Editora de outrem. Tem pernas para andar sozinho. Já tem outras experiências.» E teve. Foi com entusiasmo que mo transmitiu. Que alegria! E, contra tudo, surgiu o seu primeiro evento, num sábado invernoso, dia 13 de Fevereiro de 2016, no restaurante Taska Real Portuguesa, em Lisboa. E eis-me presente! A Antologia “A Bíblia dos Pecadores” de excelente apresentação. Dei uma olhada nos textos. Sem erros. O evento? Uma delícia. Senti-me numa sala de convívio. Felicitaram-se os presentes, bem como os ausentes, por força da distância. Houve diálogo, houve partilha e convívio. Uma família. Fiquei a fazer parte dela. Não falto a um. Bem-haja, Isidro.  Texto publicado na revista Divulga Escritor Nº 23, em Outubro de 2016, gentilmente cedido pela mesma.

Isabel Martins é uma leitora atenta, que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas, que divulga na sua página do Facebook. Participou (pela primeira vez) numa obra colectiva organizada pela Sui Generis: a antologia “Graças a Deus!”. Reside em Palmela (Portugal). Página da autora no Facebook: www.facebook.com/isabel.martins.395669

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Esta obra literária revela-se uma Bíblia de pecadores porque as narrativas que a compõem foram inspiradas em passagens ou episódios da Sagrada Escritura e a autoria dos textos é da responsabilidade de 44 humildes pecadores, o que faz desta antologia «A Bíblia dos Pecadores». Os 44 textos que apresenta foram redigidos em diversos géneros literários; da crónica ao conto policial, do drama à comédia, da prosa poética à biografia romanceada, da sátira à ficção científica, da fábula à peça teatral, da tragédia à aventura romântica... Os próprios autores, portugueses e brasileiros, escolheram os temas que desejaram desenvolver, independentemente das suas raças, crenças, orientações sexuais e filosofias de vida. Cada texto inclui uma citação da Bíblia, do episódio em que é inspirado, e o critério de apresentação dos mesmos baseia-se na ordenação bíblica, a partir das citações designadas. Do Génesis ao Apocalipse. Desse modo, surgem, nas primeiras páginas, as narrações inspiradas no Génesis, e nas derradeiras as tramas apocalípticas. Organização: Isidro Sousa. Autores: Akira Sam, Ana Paula Barbosa, Angelina Violante, Antônio Guedes Alcoforado, Bárbara Baptista, Camilo de Lélis, Carlos Arinto, Daniel Vicente, Edson Amaro de Souza, Eduardo C. Duque, Eduardo Ferreira, Estêvão de Sousa, Fernando Morgado, Guadalupe Navarro, Isa Patrício, Isidro Sousa, Jeracina Gonçalves, Joaquim Bispo, Jonnata Henrique, Jorge Manuel Ramos, Jorge Pincoruja, José Duarte Mateus Beatriz, José Teixeira, Lírio de Xangai, Lia Molina, Lucinda Maria, Manuel Amaro Mendonça, Marcella Reis, Mari Marques, Maria Côrrea, Maria de Fátima Soares, Paula Homem, Paulo Rodrigues, Pedro Miguel Ferreira, Ricardo de Lohem, Robert Mar, Sakura Shounen, Sara Timóteo, Sérgio Sola, Suzete Fraga, Tânia Tonelli, Teresa Morais, Ton Botticelli, Yolanda Silva.

Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com | www.euedito.com/suigeneris


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APRESENTAÇÃO

O PRANTO DO CISNE “Os textos desta obra são contos muito realistas e sem o menor pudor de o ser. São fictícios, mas roçam a realidade de uma forma tão pavorosa, provocadora, lasciva e frenética, tal qual como o sexo de Valero, personagem principal do livro, roçou o seu sexo e o seu coração desesperado e quente nos mais variados encontros e desencontros casuais e descasuais que tivera na sua vida e numa trama narrada arduamente por Isidro Sousa com maestria e absoluta licença de dizer na íntegra, e sem proibição, o que se quer e tem para se dizer através de palavras recheadas de ricos cenários, cheiros, sons, temperamentos, cores e espaços específicos magnetizados por uma energia sugadora.”

POR MARCELLA REIS

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A

ntes de começar a prefaciar esta obra, absoluta licença de dizer na íntegra, e sem proibitenho de dizer que fiquei muito surpresa ção, o que se quer e tem para se dizer através de ao receber este convite do colega das palavras recheadas de ricos cenários, cheiros, letras e amigo Isidro Sousa. Tudo porque o acho sons, temperamentos, cores e espaços específicos fantástico como ser humano, como autor, como magnetizados por uma energia sugadora. coordenador e organizador de Antologias e ProSim! É uma obra em que nalgumas partes são jectos e como divulgador de toda a Lusofonia (e retratadas as vidas atípicas e comezinhas invulgaisso tem demonstrado com louvor, através da res da sociedade portuguesa, escondidas em sarcolecção que criou, a Sui Generis, onde em parcejetas e emergidas em aparências falsificadas e ria com a Chancela EuEdito publicou, publica e relapsas da “real society”, das chamadas tias de publicará diversas Antologias com temáticas variCascais, do escândalo enrustido na promíscua adas: desde textos e poesias cordialidade do mundo futesobrenaturais, religiosas e bolístico, jornalístico, da fotocampesinas à prosa e poesia grafia, da moda e do meio erótica). artístico em geral. Das apaHá uma riqueza na desFalámos ao telefone. Ele rências nefastas estampadas crição que não faz cansar explicou-me a história e o seu nas revistas cor-de-rosa quano leitor. Sente-se o clima enredo no geral para que a do a podridão é escondida por pudesse ler e depois prefaciar. debaixo do tapete persa e da do vapor e da água tépida Compreendi mais ou menos, riqueza sublimada pela bajua cair no balneário, do mas de pronto fiquei excitada lação à qual a personagem de frenesim que é o mundo e entusiasmada para ler a Valero não se rende em neobra intitulada por “O PRANnhum momento. Valero se do futebol, este mesmo TO DO CISNE”, um nome poérende pura e simplesmente mundo no qual o fotógrafo tico, significativo e enigmático apenas à sua busca incondiciValero cresceu e tem em que poderia ser uma história onal de prazer sexual com os romântica, clássica e dramátihomens que o vão atraindo torno de si, das festas das ca. Não, mas não é apenas como um modo de esquecer a celebridades e todas as isso! E paradoxalmente é tudo tragédia familiar que envolve suas futilidades. isso também, só que não é o assassinato de seu pai conem um contozinho erótico metido pela sua própria mãe: de fadas com o qual a sociea fútil e vingativa Natália que dade e alguma parte da “malValero acaba por descobrir ser tinha” da escrita e leitura erótica actual estão casada com o jogador Tádzio Madjer, amante do acostumados a escrever ou a ler. Os textos desta seu pai, Vanderlão, com o qual também pai e filho obra são contos muito realistas e sem o menor acabam por protagonizar um bizarro triângulo pudor de o ser. São fictícios, mas roçam a realidaamoroso. de de uma forma tão pavorosa, provocadora, Mas o que Isidro Sousa traz com as suas palalasciva e frenética, tal qual como o sexo de Valero, vras nuas, desvestidas de corpetes apertados a personagem principal do livro, roçou o seu sexo e fingir uma falsa cintura... O que o autor traz com o seu coração desesperado e quente nos mais as palavras ora nada asseadinhas e nada higienivariados encontros e desencontros casuais e deszadas com sabão neutro ora perfumadas de amacasuais que tivera na sua vida e numa trama narciador azul-neón estendidas no varal prontas para rada arduamente por Isidro Sousa com maestria e serem apanhadas e passadas a ferro por uma boa 42


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Amélia do lar... O que o autor traz com as suas palavras fortes e incontidas, “mundanas” e levianas, é uma verdade absoluta, e não obsoleta, de que essas mesmas palavras que dizem por aí serem feias e sujas, e que para muitos moralistas incondicionais não podem ser escritas e reveladas num livro como este, por exemplo, que tem como finalidade contar fidedignamente o que existe nesse mundão de Deus... é de que elas são faladas e vivenciadas todos os dias e por muitas pessoas no quotidiano. Isidro Sousa não lava as palavras e, quando o faz, ele lava a roupa suja com as mãos, sem máquina de lavar... e deixa as roupas quararem ao Sol e dobra-as sem as passar para que as pessoas, nós os leitores, as vistamos do mesmo jeito em que foram apanhadas e para que as usemos da maneira que bem entendermos. Os contos de “O PRANTO DO CISNE” não são tons de cinza e nem de sombras. São cores vivas de um amor que ficou na lembrança da maior desilusão de Valero: a de ter que conviver e so-

breviver para sempre sem este amor e paixão avassaladora que ele sente pelo seu progenitor. Na obra encontrei palavras como Vernissages... Palavras como esta que não estão mais na moda, das quais quase não se ouve falar por aí, que nos levam a viajar pelo espelho do retrovisor de um carro antigo. Além do mais, o vocabulário do autor é deveras criativo para descrever uma simples transa de uma só noite ou de um só momento. São palavras encrustadas em situações e encaixadas de uma forma que se pode sentir e ver como num filme todo o acto sexual que está a acontecer no momento. «Creio que mantinham relações sexuais com bastante frequência sem tomarem precauções porque a gravidez apanhou-os de chofre, levandoos ao casamento.» Um aperitivo para a tesão que é ler todo o livro. O livro começa no mínimo com uma frase destas já na primeira página. Há o complexo de Édipo totalmente exposto na obra. A admiração pelo pai e o rancor guarda-

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do pela mãe que abandonara o lar e traíra o ser fo Valero cresceu e tem em torno de si, das festas que ele mais amava, seu pai. das celebridades e todas as suas futilidades. O nome diferente das (duas) personagens Uma mulher que leia este livro pode ter a conVanderlero demonstra a criatividade do autor. No creta certeza de como é ter um pénis entre as início um nome estranho e a partir do momento pernas e de como é usá-lo de todas as formas. em que vamos nos familiarizando com a história e Eroticidade narrada com verdade e que mergulha com os “Vanderleros” o nome invulgar passa a ser no realismo sujo da literatura com toda a cabeça comum e a soar mais normal. sem deixar o corpo e a alma de fora. As alcunhas parecem caracterizar e represenIsidro Sousa criou personagens muito reais e tar a personalidade das personagens propositalhumanas. Elas acreditam piamente no autor que é mente ou por intuitividade. Vanderlão: o pai e sua o Deus delas. E este próprio autor surpreende-se virilidade. Vanderlito: o filho, “orfão” e carente de com as suas criaturas e com o desenrolar dos amor, até chegar ao poético e erótico nome que o acontecimentos, porque – como todo o excelente próprio herói da trama se deu: Valero. Como se autor – lhes dá o livre arbítrio. É nesse âmbito que ele próprio se batizasse. Nome que soa como um nunca, em circunstância alguma, dever-se-á culpiano aos ouvidos. pabilizar o Isidro pela depravação explícita e porA “lendária” estória do apanhar o sabonete e a nografia executada pelas personagens da trama. velha conversa de café entre os amigos machões E nunca se culpa, também, um autor por amar que troçam dos banhos em conjunto entre hoas personagens que criou e por as ter criado. mens afinal sempre existiu e está na “noveMesmo que estas sejam assasla” de Isidro Sousa. Sim. Posinas sanguinárias, mesmo que der-se-á chamar este trabalho cometam um incesto ou Cá não há eufemismos! O de uma novela de Walcyr Caramem o seu filho ou pai como rasco não passada na TV abercônjuges. Mesmo que estas único eufemismo que se ta ou uma minissérie de Nelpersonagens sejam invejosas encontra na obra está no son Rodrigues, e até uma pelífarsantes ou racistas... Mesmo título. Valero não é um ciscula ao bom e velho estilo que elas façam o diabo a quaAlmodovariano. tro e deixem o Diabo ficar de ne. É o patinho feio abanApesar de o calão decorar quatro! Pois que... culpabilizar donado pela mãe, apesar de quase todos os diálogos entre o autor que as criou pelo erro muito badalado e de belo as personagens, a história é que a criatura comete, seria narrada com palavras... desde como culpar Deus por ter nos por fora. E o pranto desse científicas até às mais emprocriado e mesmo assim nos Cisne é um Tsunami que adas, sem deixar de dar realiamar com todas as nossas não é vertido em lágrimas. dade e inteligibilidade aos escolhas erradas e falhanços. cinco contos que constroem No momento em que Ele nos Ele as derrama simbolicatoda a obra. cria, já não tem mais controle mente através dos seus goHá uma riqueza na descrisobre nós e sobre as nossas zos, do prazer ao qual ele ção que não faz cansar o leividas e decisões tomadas. tor. Sente-se o clima do vapor Assim é a escrita de Isidro se rende e deixa os outros e da água tépida a cair no Sousa, que se deixa levar pela renderem-se como forma de balneário, do frenesim que é o trama e pelas consequências vingança para livrar-se da mundo do futebol, este mescausadas pelos intérpretes e mo mundo no qual o fotógrapor isso cada conto tem, de própria dor que espezinha a

sua alma de menino e o seu 44homem. corpo de


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facto, algo que nos prende e que nos é verdadeiramente sui generis, erótico e realista, nos presenteando com o cheiro da pele humana no seu mais intrínseco suor, odor e asperidade. Desse modo, devo dizer que apesar de o autor Isidro Sousa ter me preparado e precavido de que estas “AVENTURAS DE UM FOTÓGRAFO DESINIBIDO” têm um teor erótico pesado, com “calões” e cenas de sexo totalmente explícitas, a obra apanhou-me de surpresa. As cenas contadas com veracidade deixaram-me duas noites de olhos arregalados. Assustaramme a alma, empurrando-a para fora de mim, dando espaço ao meu corpo para que esse pudesse se emprestar a sensações do misterioso e cheio de mister Valero. Posto isto, “O PRANTO DO CISNE” é uma obra que os leitores que a lerem no comboio, no banco de uma praça ou ao ar livre perto de uma multidão, podem correr o risco de se sentirem com receio ou vergonha e vão olhar para os lados para terem a certeza de que não estão a ser observados e apanhados no delito que cometem ao espiar as quatro paredes de um rapaz devasso que, ao fim e ao cabo, só quer amar e ser amado e a Odisseia de prazer em que ele acaba fulgurando é apenas a busca pela Epopeia de amor que almeja e que quer climaxizar em sua vida. Cá não há eufemismos! O único eufemismo que se encontra na obra está no título. Valero não é um cisne. É o patinho feio abandonado pela mãe, apesar de muito badalado e de belo por fora. E o pranto desse Cisne é um Tsunami que não é vertido em lágrimas. Ele as derrama simbo-

licamente através dos seus gozos, do prazer ao qual ele se rende e deixa os outros renderem-se como forma de vingança para livrar-se da própria dor que espezinha a sua alma de menino e o seu corpo de homem. Valero capta através da lente dos seus olhos os homens interessantes que vão aparecendo em sua vida como flashs, homens que foram fortemente marcados por um relacionamento ou estão num relacionamento no presente, voltando assim à posição inicial da reconstrução de um triângulo amoroso tal qual tivera e vivera ao lado de seu pai no passado. Por isso tudo, restame dizer-vos, caros leitores, de que este não foi um prefácio. Muito pelo contrário: foi um “predifício” tanto pela consideração que tenho pelo trabalho metódico e cuidado que é genuíno do escrevente, quanto pela pessoa a quem pertence a obra e por esta ser brilhante e fantástica na matéria do erotismo e no campo das letras. Bem-vindos à leitura de uma viagem sexual sem moral nenhuma, mas que nos deixa uma moral escondida no psicológico do apaixonante Valero, que é tocante e de suma importância: não importa o quanto você sofre. Ninguém nunca se importará com a sua dor e o seu sofrimento, a não ser que você transforme a sua dor em prazer e lhes ofereça este prazer em troca.  Prefácio de Marcella Reis incluído em O Pranto do Cisne.

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FICÇÃO

OS AMANTES POR ISIDRO SOUSA dois adolescentes quando se casaram, escassos meses antes de eu ter nascido. Ele acabara de completar dezasseis anos de idade; a minha mãe tinha dezassete. Ele dava ainda os primeiros passos no mundo do futebol; ela não passava de uma menina rica, mimada pelos papás, que fazia dele o seu capricho favorito. Não se amavam; sentiam apenas atracção física. Aos olhos do meu pai, ela era uma boazona sedutora com quem se divertia sexualmente. Exibia-a aos amigos, acompanhava-a às festas do Jet Set, pavoneava-se com ela nas colunas sociais. Era, acima de tudo, alguém com quem se poderia afirmar publicamente, já que a família dela fazia parte do tão badalado Jet Set nacional. Não obstante a atenção que a imprensa especializada lhe começava a dedicar, a ela tudo isso agradava porque deixava de ser fotografada unica-

O MEU PAI havia sido um craque do futebol num dos maiores clubes nacionais. O seu maior sonho era ser estrela do Real Madrid. Porém, um grave acidente de viação anos atrás, quando se encontrava no apogeu da sua carreira, impediu-o de voltar a jogar. Destroçado, afastou-se do meio futebolístico. Abriu um ginásio na sua cidade natal, mas as novas actividades que exercia não o satisfaziam. Decorrido algum tempo, aceitou um convite para ser treinador num clube da segunda divisão, numa localidade próxima de Lisboa. E eu... há dois anos que o acompanhava sempre que ele treinava os jogadores nos relvados. *** Os meus pais não passavam de 46


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mente ao lado dos pais para agora ostentar com vaidade o namorado como se ele fosse um troféu; por sinal um belo rapaz, elegante, gracioso, aparentemente mais velho do que ela e, ainda por cima, um craque da bola de quem se vislumbrava uma carreira fulgurante. Creio que mantinham relações sexuais com bastante frequência sem tomarem precauções porque a gravidez apanhouos de chofre, levando-os ao casamento. Nunca foram felizes juntos. A minha mãe vivia preocupada com futilidades banais, passava o tempo todo com as amigas nos cabeleireiros, a fazer compras nos centros comerciais mais sumptuosos da cidade ou a tomar chazinhos com as tias de Cascais. Marcava sempre presença nas estreias de espectáculos, ia a todas as vernissages, nunca perdia os lançamentos de colecções dos costureiros e ficava fula da vida quando alguém se esquecia de a convidar para qualquer evento social. Raramente parava em casa. Eu sentiame abandonado por ela; era como se fosse uma pedra no seu sapato. Ignorava-me, deixando-me aos cuidados de uma ama. Já o meu pai dedicou-me sempre mais atenção: preocupava-se comigo, davame o amor de que um filho necessita. Entre os meus dez e onze anos de idade, comecei a desconfiar de que a minha mãe traía o meu pai. Várias vezes atendi chamadas de um desconhecido à sua procura e, quando ela falava com ele, notava demasiada intimidade no seu tom de voz. Passava tempos infinitos grudada ao telefone: cavaqueavam como se fossem velhos amigos. As minhas suspeitas de ela ter um amante não tardaram a confirmar-se quando, alguns meses após o meu pai ter sofrido o fatídico acidente que o impossibilitou de voltar a jogar, ela fugiu com outro homem. Deduzi que fosse o mesmo

que lhe telefonava. Passaram-se mais de seis anos e eu jamais tornei a vê-la. O meu relacionamento com ela nunca fora sadio, ao contrário daquele que eu mantinha com o meu pai. Ele era o meu ídolo. Desde que me lembro, levava-me regularmente ao futebol, aos treinos, ao cinema, à praia e a acampar. Sentia-me muito bem com ele e, apesar de magoado, não estranhei quando a minha mãe nos abandonou, deixando-nos sozinhos. Tanto eu como o meu pai chamamo-nos Vanderlero. A partir da adolescência passei a ficar mais parecido com ele, ao ponto de algumas pessoas nos confundirem. A ele chamavam-no Vanderlão; a mim, Vanderlito. Todavia, eu adoptei um diminutivo que achava mais engraçado: Valero. O meu pai gerou-me aos dezasseis anos de idade; assim sendo, quando atingi a maioridade ele só tinha trinta e quatro. Era ainda um bom pedaço de homem, atraente, sedutor, no esplendor da sua jovialidade! Completei o ensino secundário aos dezasseis anos e larguei logo a escola. Foi aí que passei a viajar com o meu pai sempre que o clube ia jogar a outras cidades ou mesmo ao estrangeiro. No princípio, ele não queria. Insistia que eu deveria frequentar um curso superior. Mas ao ver a minha determinação desistiu de me pressionar e aceitou a minha companhia. Nessa altura, eu já havia descoberto a minha paixão pela fotografia. Enquanto ainda estudava, fiz um curso de iniciação à fotografia. Mais tarde, após o meu pai ter-me oferecido uma máquina fotográfica semiprofissional como presente de aniversário, frequentei outro curso mais intensivo. Em paralelo, ia aperfeiçoando os conhecimentos e a técnica fotográfica nos estádios, quando assistia

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aos treinos dos jogadores. Fiz a minha primeira exposição aos dezassete anos, subordinada ao tema do futebol. O presidente do clube, ao vê-la, extasiou-se com a beleza das imagens. Sabendo que eu desistira dos estudos, convidou-me para ser o fotógrafo oficial do clube. Deslumbrado com a ideia de não ter de arranjar mais subterfúgios para acompanhar o meu pai aos relvados, nem hesitei. Aceitei de imediato o convite. Algum tempo transcorrido, fui contratado por um jornal desportivo para colaborar como repórter fotográfico.

da de futebol. Fascinavam-me a fotografia, os estádios, as viagens, os ginásios, os hotéis, os balneários, tudo o que estivesse ligado ao meio futebolístico. Eu já me masturbava há imenso tempo e curtia muito o meu corpo. O meu pénis respondia ao menor toque, enchumaçando-me os calções, e eu batia as minhas solitárias punhetas com tremenda frequência. Adorava vê-lo crescer e endurecer à medida que o tesão aumentava, e como os testículos subiam e se colavam à face interna das coxas. E gostava de ejacular abundantemente contra o espelho, o meu fetiche favorito. Enquanto isso, surpreendia-me constantemente a pensar nos futebolistas e, algumas vezes, até no meu próprio pai. Nas minhas fantasias, dificilmente fodia com raparigas.

*** A minha relação com o meu pai não era de pai e filho. Nós éramos o melhor amigo um do outro: confidentes, irmãos. Às vezes, ele falava-me sobre as mais variadas coisas da vida, sobretudo de mulheres. Mas eu nunca me interessava por esses assuntos. Preferia a emoção dos relvados, desde um simples treino dos jogadores a uma boa parti-

*** Durante uma tarde sombria, quase a anoitecer, tomava um banho num pequeno estádio de uma

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– E aí, Vanderlão, como está esse meu velho cavalo? Não respondi porque não sabia ao que se referia. Todavia, um pensamento trespassou-me logo: Ele está a confundir-me com o meu pai! O Tádzio aparentava uns vinte e nove, trinta anos de idade. Não lhe daria mais. E tinha o corpo atlético dos deuses olímpicos, cabelos negros e olhos castanhos. O seu rosto era másculo. Parecia um daqueles garanhões algarvios que andam permanentemente com as garras afiadas para saltarem à pinha das belas estrangeiras solitárias e endinheiradas, que buscavam sempre uma qualquer patuscada amorosa nos areais escaldantes do Sul lusitano. Continuou a despir-se, tagarelando sempre comigo. Eu evitava falar-lhe, respondendo somente com monossílabos. No entanto, através do seu palavreado, deduzi que conhecia o meu pai há muito tempo e que se dirigia a ele com demasiada intimidade. Porque é que o meu pai me enganou acerca deste sujeito?, interrogava-me, bastante cismado. Quando ficou completamente nu, enfiou-se debaixo do chuveiro ao lado do meu. Percebi que observava intensamente o meu corpo, detendo o olhar, de um modo bem explícito, no meu sexo. Atrapalhei-me todo e deixei o sabonete escorregar-me das mãos. – Deixa lá – murmurou. – Eu apanho-o. 

cidade do Interior. Apesar de colectivos, os balneários eram minúsculos e, nesse dia, havia pouquíssima luz, pois a lâmpada queimara. Tomava o meu duche na penumbra. Ensaboava o corpo quando a porta se abriu. Entrou um jogador moreno, que imediatamente reconheci. Nunca tínhamos falado e ele não fazia parte do círculo de amizades do meu pai. Contudo, alguns minutos antes, enquanto me dirigia para os balneários, avistei-o a falar com o meu pai. Conversavam animadamente. Parecia haver entre eles uma estranha intimidade que me intrigou. Porém, ao verem que eu me aproximava, interromperam bruscamente a conversa. O gajo retirou-se e eu, achando o seu procedimento estranho, perguntei ao meu pai quem era ele e sobre o que falavam. O rapaz chamava-se Tádzio Madjer, viera do Leste europeu em busca de melhores condições de vida e ingressara no clube daquela cidade, contra o qual o nosso jogara nessa tarde. Entretanto, o meu pai esquivou-se, dizendo que apenas discutiam o jogo que acabara de se realizar. Agora, esse fulano apresentava-se dentro do balneário, mesmo à minha frente, já em tronco nu. Dizia-me:

(continua) Excerto do (primeiro) conto Os Amantes, incluído no livro O Pranto do Cisne – Aventuras de Um Fotógrafo Desinibido, de Isidro Sousa, publicado recentemente pela Sui Generis.

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CONTO

OS ANJOS TÊM OLHOS AZUIS “Uma das sombras escuras pareceu imobilizar-se à distância e observá-lo, por entre as ondulantes fitas verdes. Depois, nadou decididamente na sua direção enquanto se metamorfoseava numa mulher, de cabelos escuros e esvoaçantes. O corpo coberto por um diáfano vestido branco ocultava-lhe os pés, que agora caminhavam. Toda ela era em tons de cinzento, sobressaindo da tonalidade azulada das águas e do verde das fitas entre eles.”

POR MANUEL AMARO MENDONÇA

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N

o princípio tudo estava escuro. Pequenos «Isabel?» O pensamento pareceu ganhar forpontos de luz, quase como estrelas, vima e solidez e, como as sombras escuras, nadou am-se ao longe. Estaria a ver o céu? Estapara longe. Mas o que quer que fosse que o fez ria deitado num prado relvado numa noite estrepensar naquele nome não se fora embora e o lada de verão? Algumas “estrelas” moviam-se rosto dela acudiu-lhe à memória, dolorosamente. lentamente e outras com mais velocidade... mas Uma das sombras escuras pareceu imobilizarmoviam-se sem dúvida. Estrelas cadentes? Tanse à distância e observá-lo, por entre as ondulantas? O universo estava definitivamente vivo! tes fitas verdes. Depois, nadou decididamente na O negrume intimidador pasua direção enquanto se merecia até convidativo, sentia tamorfoseava numa mulher, vontade de se juntar àquela de cabelos escuros e esvoadança de estrelas, de ser uma çantes. O corpo coberto por «A beleza é a dos teus delas a vogar na imensidão. um diáfano vestido branco olhos. Aqui somos todos Sentia isso, mas não percebia ocultava-lhe os pés, que agora o que sentia mais, havia uma caminhavam. Toda ela era em iguais: simples sombras leveza, uma ausência de altons de cinzento, sobressaingo... O seu corpo; percebia do da tonalidade azulada das acinzentadas, vagueando que mandava comandos aos águas e do verde das fitas numa tristeza morna. Lidedos e depois aos braços e às entre eles. pernas, mas não sabia se eram «Luís.» A voz quente ecobertos da prisão do corexecutados. Na escuridão ou-lhe na privacidade dos po, mas presos numa deabsoluta, mexia os braços e as seus pensamentos. «Vieste!» pernas e não tocava em nada. «Como poderia não vir?» cisão precipitada. São os Não, não estava deitado no Ele achava que tinha lágrimas teus olhos que me veem prado verdejante, antes flutunos olhos, se eles existissem. ava naquela matéria escura, «Não devias!» A voz que o com amor e constroem longe das estrelas. Flutuava? acariciava repreendia-o. «FizCaía! Uma sensação de terror te muito mal, deixei-te...» aquilo que não se vê... percorreu o corpo que não «Disse-te que o meu amor como podiam os olhos sentia e arrepiou os pelos do estava para além de tudo. Não pescoço que não sabia se espodia deixar de vir.» serem azuis num mundo tavam lá. Ela “flutuou” em volta dele onde o cinzento reina?» Agora estava... no fundo fazendo-o rodar sobre si pródo mar? A sua visão ondulava prio e reluzir fracamente, cocomo que debaixo de água e mo um holograma. Encostou o havia pequenas fitas verdes, nariz ao dele, focando os exque partiam do chão coberto de seixos e areia pressivos e brilhantes olhos azuis, a única parte dourada, agitavam-se, tentando libertar-se e fugir que parecia manter-se colorida nela. para a superfície. Vendo-as de perto, parecia dis«Os teus olhos... tão azuis!» Ele suspirou mentinguir rostos que apareciam e desapareciam em talmente. expressões de angústia ou simplesmente desespe«Já eram azuis, assim continuam.» Ela afirmou ro. Por entre as fitas, passavam por vezes corpos pragmática. escuros, como golfinhos luzidios e sorridentes, «Todos os anjos têm olhos azuis?» Era mais um flutuando, nadando? pensamento do que propriamente uma pergunta. 52


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«Porque achas que sou um anjo?» Havia divertimento na interrogação. «És bela como um anjo, flutuas... tens olhos azuis.» «A beleza é a dos teus olhos. Aqui somos todos iguais: simples sombras acinzentadas, vagueando numa tristeza morna. Libertos da prisão do corpo, mas presos numa decisão precipitada. São os teus olhos que me veem com amor e constroem aquilo que não se vê... como podiam os olhos serem azuis num mundo onde o cinzento reina?» «Mas há os teus olhos, azuis, as fitas verdes que se querem libertar do chão de areias douradas. A própria água é um azulado cristalino!» Ele contrapôs. O rosto dela mascarou-se de uma tristeza momentânea, antes de brilhar novamente com esperança. Ergueu lentamente uma mão que usou para acariciar com suavidade o rosto de Luís, que se tornou sólido para receber o afago. E ele sentiu aquele toque suave e meigo, embora sem calor, mas igual a tantos outros, há tantos milhares de anos. «És um anjo sim!» Concluiu ele, de olhos fechados, com um sorriso beatífico. «Agora estou feliz.» «Também estou feliz por te ver.» Os lábios finos dela arredondavam-se num sorriso subtil, mas os olhos tremiam numa tristeza profunda. «Fiz-te muito mal e gostava de te poder compensar... não

sei se alguma vez conseguirei... Fiquei feliz por te ver, mas não pode ser assim!» «Que dizes?» Todo o corpo dele começava a adquirir uma solidez igual à dela e os dois seres, cinzentos, flutuavam um em frente ao outro, de mãos dadas. «Não pode ser assim.» Ela repetiu, afastando o azul dos olhos para se perderem no horizonte. «Ainda não é hora! Não podemos ficar juntos.» «Porquê? O que se passa?» Havia alarme nos pensamentos fazendo tremeluzir as águas, pressentindo o desequilíbrio. «Não é hora, simplesmente.» Ela soltou as mãos dele e afastou-se uns centímetros. «Tens de ir!» «Não quero!» Ele insistiu, o corpo cintilando entre desvanecer-se e agrupar-se num corpo quase sólido. O rosto dela endureceu por uns segundos mas rapidamente voltou a máscara do amor e os seus lábios estreitaram-se num beijo. No segundo seguinte, empurrou-o com violência e imprimiu forte o pensamento: «Vai!» Foi de um salto só que ele caiu da banheira, de joelhos sobre o tapete da casa de banho, completamente encharcado e nu. Chorando de dor e saudade, vomitou golfadas de água e comprimidos mal digeridos. 

Manuel Amaro Mendonça nasceu em Portugal, em São Mamede de Infesta, e é licenciado em Engenharia de Sistemas Multimédia pelo ISLA de Gaia. Tem dois livros publicados: «Terras de Xisto e Outras Histórias» (2015) e «Lágrimas no Rio» (2016), ambos publicados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon. Mas tem participações com contos de sua autoria em mais de uma dezena de obras colectivas de várias editoras como a Papel D’Arroz, Sui Generis, Silkskin e Lua de Marfim. Publicará o terceiro livro, «Daqueles Para Além Marão», nos primeiros meses de 2017. Foi distinguido com o 3º Prémio no 6º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora e com o 1º Prémio no 7º Concurso Literário da mesma editora. Mantém o blogue http://manuelamaro.wixsite.com/autor, onde se apresenta publicamente e publica alguns dos seus trabalhos.

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É sobre o tema das emoções que versam os 192 textos poéticos, de 57 autores lusófonos, incluídos neste livro. A emoção é uma experiência subjectiva associada ao temperamento, à personalidade e à motivação, podendo ocorrer em segundos (surpresa) como durar anos (amor). Existe uma distinção entre a emoção e os resultados da emoção, principalmente os comportamentos gerados e as expressões emocionais. As pessoas comportam-se frequentemente de certo modo como um resultado directo dos seus estados emocionais (chorar, lutar, fugir); raiva e desgosto podem ser combinados com desprezo e um homem irritável sente irritação mais facilmente do que outros. Estados afectivos podem também incluir fenómenos relacionados, como o prazer e a dor, estados motivacionais (fome, curiosidade), temperamentos, disposições e particularidades do indivíduo. Cada texto do livro contém uma emoção; alguns abordam várias emoções. Mas podemos considerar: cada poema, uma emoção. O que faz desta antologia um verdadeiro «Vendaval de Emoções». Organização: Isidro Sousa. Autores: Alexandre Garrett, Amélia M. Henriques, Ana Maria Dias, Ana Paula Barbosa, Anderson Furtado, Andreia Vieira, Ângela Caboz, Angelina Violante, Augusta Silva, Carlos Arinto, Daniel Vicente, Egídio Piteira Santos, Everton Hardt, Fábio De Bari, Fernanda Helena, Fernanda Kruz, Guadalupe Navarro, Helena Lilith, Helena Pinto, Hélio Sena, Hugo Miguel Amaral, Inês Correia de Sá, Isidro Sousa, João Almeida, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Jorge Manuel Ramos, Jorge Pincoruja, José Duarte Mateus Beatriz, Leonor Matos, Lia Molina, Lucinda Maria, Manuel Duran Clemente, Manuel Timóteo de Matos, Marcella Reis, Maria Alcina Adriano, Maria do Pilar Santos, Maria Isabel Góis, Marizeth Maria Pereira, Mônica Gomes, Nicol Peceli, Pedras Nuas, Pedro Fernandes, Rafa Goudard, Roberto Barreiro, Rosa Maria, Rosa Marques, Ross Freitas, Sandra Rodrigues, Sara Timóteo, Scarleth Menezes, Sidney Rocha, Suzete Fraga, Tiago Gonçalves, Tito Lívio, Tó de Porto d’Ave, Vânia de Oliveira.

Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com | www.euedito.com/suigeneris


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POESIA

JONNATA HENRIQUE A MAÇÃ Insistes em devorar-me assim... Será que sacio-te? Suculenta fruta cravas lábios, Sorvendo-lhe casca e polpa! Fazes de mim fruto e desejo, Tratas-me tal mero alimento, Repito: “não sou pseudofruto” Então porque descartas sobras? Sabendo que doei-as com amor! Reconheço o fim e entrego AH, decomposição! NADA RESTOU

IN(CONCRETO) Afogado nesta mesmice tento respirar Desenterrar meu eu ali solidificado Entre metais tijolos do caos urbano Sinto-me desconectado deste todo Uma fração condenada ser cálculo Nunca matemática apenas números Apoiando em resquícios de coesão Moldo o abstrato tornando-o físico Por mais que repita tal processo Humano sou um ser in(concreto).

O AUTOR – Poeta, escritor, pernambucano, amante das letras, publica nas páginas Gloryland e Angola-Brasil Poesias seus trabalhos, além de ter participado em diversas antologias brasileiras e portuguesas, ama o que faz, é feliz. Página: www.facebook.com/Gloryland.com.br 55


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POESIA

ROSA MARQUES Três poemas do livro “Mar em Mim” que a autora publicou recentemente

NA CLARIDADE DIFUSA DA MANHÃ

Há na claridade difusa da manhã que se avizinha... A permanência intacta de uma angústia, uma ausência. Há um fio de voz. E é quanto basta! Há uma luz que desliza devagar e pouco a pouco atravessa o lugar. E tudo se transforma em despertar... Em plenitude, em transparência!

MAR EM MIM Rosa Marques Edições Sui Generis

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MAR EM MIM

Mar meu eterno caminho minha estrada meu elo de ligação! Mar partida! Mar chegada! Mar, minha paixão! Mas dias há em que és ausência tristeza, e também solidão! Mar meu mar muitas vezes foste... Ainda és prisão!

CRIANÇAS À BEIRA-MAR É Verão! Há sol, há cor e alegria! À beira-mar é grande a azáfama, a euforia... Das crianças que brincam falam alto, riem e gritam... As ondas inquietas vão e vêm com elas também brincam! É um desassossego, umas e outras ali à volta tudo agitam... Ondas travessas estendem-se pela areia molhando as toalhas... Anunciando a maré cheia! E levam baldes e levam pás, tudo à mistura com os castelos e rabiscos que as crianças fizeram na areia Acorrem os pais a um balde, a uma bola apanhar... Mas perdeu-se a estrela e mais a pá Que já vão longe nas águas do mar em balancé a balouçar... 57


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ENTREVISTA

CARLOS ARINTO Carlos Arinto é o pseudónimo literário de Carlos Arinto, pessoa, cidadão e humano, do sexo masculino. Arinto é uma casta de uvas, que serve para vinho, tendo a sua região demarcada em Bucelas e a maturidade do engarrafamento na Mealhada (em Portugal). Também existe como espumante. O autor que, além de ser um “rapaz” porreiro já é velhote, tem a ousadia de escrever fazendo-o com o descaramento das coisas que alegram a vida. Vejam bem a insolência, até se permite blasfemar contra a morte e tal sorte. Claro que procura a fonte da juventude deixando para a posteridade o seu testemunho, para além da herança genética e dos herdeiros (estes, sim, reais) das suas dívidas. E dúvidas! POR ISIDRO SOUSA 59


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ideias e criar imagens cristalizadas em palavras. Ah, ah. Lamento desiludi-lo, Isidro, mas os tempos não correm. Quem corre somos nós. A literatura que se produz é boa. A outra, a que não presta, não pode ser apelidada de literatura, é rascunho e grunho. Berro e fantasia. Compadrio. Existem muitos bons autores portugueses que a História não esquecerá. Andam é perdidos pela moda de não estar na moda.

Tendo em conta a sua visão (bastante) crítica e analítica sobre a literatura actual, o que considera estar a ser menos bem feito? Quer pelos autores, quer pelas editoras e livreiros. E que sugestões de melhoramento? Todo o processo de execução é bem feito, os resultados é que podem não ser os melhores. Livreiros? Editores? Onde? Editoras que instituem prémios e concursos e promovem livros assanhados – bem escritos, sem dúvida, bem escritos – mas que não passam de fogachos inconsequentes. Autores? Pois que comecem a escrever coisas interessantes, sem quererem reescrever os Lusíadas ou recriar a Odisseia policial, procurando o tempo perdido. A Bíblia também já foi redigida, revista e aumentada. (Estão agora a sair novos episódios, incluindo os do Richard Zimmer e do tradutor Frederico Lourenço. A aplaudir! A aplaudir!)

SG MAG – Carlos Arinto, é um grato prazer entrevistálo para a SG MAG. A sua experiência na escrita é rica e o seu olhar em relação à literatura que se produz hoje em dia é um tanto ácido. O que é para si a arte de escrever? E como define a literatura que se produz nos tempos que correm? CARLOS ARINTO – Isidro! Como é que você me descobriu aqui, no meio da selva? Sim, estou fazendo uma banda desenhada, com o Tarzan e a selva Amazónica. Depois vamos para o Quénia filmar. Claro que eu só faço os textos dentro daquelas bolinhas, tipo nuvem, que aparecem na cabeça dos desenhos. Suspiros, sussurros e pensamentos, para além de vozes. Escrever? É assim “a modos que” ir teclando deixando o espírito correr. Colocar em palavras cirúrgicas vagas

Lançou dois livros e escreveu uma peça de teatro antes da Revolução dos Cravos, o célebre 25 de Abril de 1974 que trouxe a Liberdade a Portugal, acabando com a censura em tudo o que se fazia. Hoje mostra-se avesso à publicação de um novo livro (ou, pelo menos, não divulga essa intenção). Por alguma razão especial?

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Não tenho nada para dizer. Já tudo foi dito. Por isso, limito-me a ruminar e – por vezes – lá repito um ou outro conceito estafado com a graça de pretensas novas e engomadas roupagens acabadas de cozinhar, mas que, afinal, são cópia da cópia. (e que muitos outros já escreveram muito melhor do que eu.) Quando eu morrer, eu quero ir de burro, como dizia o Mário de Sá-Carneiro, mas desconfio que nem latas, nem saltos nem pinotes façam estalar os chicotes.

dúvida, uma forma de olhar o mundo. Todos nós somos influenciados e influenciamos. Os psicólogos chamam interacção. Eu manifesto-me assim, porque sim. Afinal, como dizia O Outro, eu sou aquele que sou.

As notas biográficas que acompanham os seus textos são, no mínimo, sui generis; primam pela originalidade. Têm a ver com o gosto pessoal do autor ou são mais uma forma de sacudir a feira das vaidades que se vê no meio literário e não só?

Se tivesse a oportunidade de publicar novamente um livro, qual seria o tema predilecto que o faria vibrar? E que tipo de enredo criaria?

Também, embora sacudir não seja o termo certo, pois não chove há muito tempo e já estou farto de andar com o capote. (Um stand-up comedy amador explicaria que os capotes se sacodem, quando molhados, e que a chuva e a água não chegam dentro, cumprindo a função do capote.) A minha biografia interessa a alguém? Posso contar

Não sei. Não pensei nisso. Estou numa fase muito difícil, pensar é uma coisa terrível. Então uso o seguinte método: limpo o cérebro e a mente e sento-me ao computador. Escrevo uma frase qualquer, e depois parto à desfilada. Na revisão – dois ou três dias depois – acrescento umas graçolas e umas referências eruditas, que ficam sempre bem e dão pedigree. Elimino os erros, corrijo as desgraças, troco as vírgulas e elimino aquilo que nem eu entendo. No final, regresso ao princípio e apago a frase inicial.

Um autor é um subversivo que se dedica a esmiuçar e

Os seus textos são uma presença constante em variadas obras colectivas que se organizam, aquém e além-fronteiras. Participar nessas obras é uma necessidade ou terá algum objectivo concreto? E que importância lhes atribui?

a dissecar os cadáveres da alma. Muitas vezes, repor a

verdade, apresentar um ponto de vista, interpretar a

As obras colectivas são importantes porque permitem editar, sem se escrever muito (normalmente disparates). O conto é um género que tem os seus adeptos. Participar em colectâneas é uma experiência e um gesto de preguiça.

realidade, defender uma orientação. Mostrar. Tudo sem pretensões, com a clarividência do seu

Textos assinados por Carlos Arinto, todos eles, inclusive nas redes sociais, além de uma visão crítica, são impregnados de uma ironia refinada, por vezes um humor um tanto corrosivo. Esse sarcasmo sempre presente no que escreve é um dom ou influência? O que leva a manifestar-se através da ironia?

discernimento, na fatia da opinião que cristaliza o seu tempo.

Um dom. Um “Dom Corleone” que, como se sabe, era um grande mafioso. Influência também, sem

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um segredo? Sou descendente dos Ofis, que foram um povo, muito antigo, anterior aos lusitanos na Península Ibérica. Isto fica aqui, entre nós, que ninguém nos lê. (Perdeu-se o hábito da leitura, agora só existem escritores, todo o bicho – e nem precisa de ser careta – escreve.)

social, por exemplo, com Margarida Marante ou Fernando Dacosta. Convivências essas que seguramente terão contribuído para engrossar a sua bagagem de conhecimentos. Até que ponto terão influído no seu posicionamento actual face ao mundo que o rodeia em geral e ao meio literário em particular?

O Carlos Arinto participa regularmente nas (diversas e variadas) obras colectivas organizadas pela Sui Generis. Sendo um autor atento e exigente, o que o levou a abraçar estes projectos? Que lhe apraz dizer sobre as Edições Sui Generis?

É fantástico ter convivido com autores únicos e deslumbrantes, não só no plano literário como no plano pessoal. O Artur Portela, filho, um excelente professor. O Bernardo Santareno um amigo. O Carlos Alberto Moniz um compagon de route; Silvestre Fonseca e António Vitorino de Almeida, na música clássica... o Canto e Castro no teatro... Aprende-se muito com as pessoas cultas e com a humildade de se darem a conhecer aos outros. Ler, ler muito é outra forma de aprendizagem. Se calhar, a mais importante. Depois, e se não for pedir muito, pensar um bocadinho e ir exercitando. Mexer o pulso e pensar maduro.

Trata-se de uma editora que vem mostrar que o mercado existe e não está saturado. Os temas, as capas e o conceito de edição são atrativos. Também se nota que a apresentação dos textos foi cuidada e não aparecem aquelas barbaridades que outros praticam: (mudança de títulos, corte de frases, grafismo interior descuidado, finais abruptos porque desapareceu a conclusão para poupar espaço... nada disto acontece nas edições Sui Generis). Quero também referir que ao nível da forma como chegam ao autor e ao público são edições muito activas e honestas do ponto de vista financeiro. Poderá e deverá melhorar e não tenho dúvidas de que o irá conseguir a breve prazo.

O Carlos Arinto está a organizar uma obra colectiva de âmbito regional cuja publicação se prevê para finais de 2017. Pode descrever em que consiste esse projecto, quais os objectivos e quem poderá participar?

Enquanto autor, jornalista e colunista, teve um contacto muito próximo com vultos sonantes das artes lusitanas. Nas letras: Natália Correia, Ary dos Santos ou Cesariny, só para citar alguns; e na comunicação

Âmbito regional pela localização: Beira-Serra! Que é uma zona geográfica que corresponde aos concelhos

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de Arganil, Gois, Tábua e Oliveira do Hospital. Pretendo reunir contos e lendas e tradições da região – que é muito rica em histórias contadas e em arqueologia – em duas vertentes: pelos naturais da zona, contando o que sabem e do que se lembram; por autores convidados a escreverem uma história, um conto, uma poesia, sobre a zona ou tendo a zona por cenário. Vamos ver se resulta em algo substancial. Mas, já agora, revelo-lhe em sigilo absoluto – que lhe peço que divulgue o mais que puder – que existe a possibilidade de colaborar com a associação de amizade Portugal-Arménia para poder escrever sobre Portugal a divulgar na Arménia. Trata-se de um regionalismo de âmbito um pouco mais alargado. Também está em fase de conclusão uma obra colectiva, com autores que já participaram nas edições Sui Generis – Ana Paula Barbosa, Suzete Fraga, Manuel Amaro Mendonça e Jorge Santos – sobre a segunda invasão napoleónica, de 1809. Neste particular, o desafio é que cada autor escreva sobre um mesmo assunto, que do ponto de vista histórico e arqueológico é incontestado. Sobre esta mesma e igual realidade, Vamos fazer literatura.

O que podemos esperar de um autor? Que crie, que esteja calado e faça. Na literatura, que escreva.

Para finalizar a entrevista: o que é que podemos esperar de um autor?

De igual modo, pergunto: o que podemos esperar de um editor?

Nada. Como a sua ferramenta é a palavra... apenas que o leiam. A história e o enredo são secundários, justificativo para chamar até si os olhos do leitor. Um autor é um subversivo que se dedica a esmiuçar e a dissecar os cadáveres da alma. Muitas vezes, repor a verdade, apresentar um ponto de vista, interpretar a realidade, defender uma orientação. Mostrar. Tudo sem pretensões, com a clarividência do seu discernimento, na fatia da opinião que cristaliza o seu tempo. O gosto e a crítica chegam depois. Que venham. São a auréola da sagração e do apedrejamento, próprio dos que perturbam. O autor cria, dá forma, conteúdo e personalidade a uma ideia, deixando um rasto de opinião, de prazer e de arte, no espaço circundante à sua volta (como a ondulação concêntrica da pedra atirada ao lago). Se possível, atinge o belo e a perfeição no sombreado da sua escrita, que o leitor corporiza, idealizando e multiplicando em formatos e formas infinitas.

Que acorde, que se levante, que seja motor e não funcionário. Que tenha meios para divulgar, promover, comercializar. Sim, que um escritor precisa de ser lido, criticado, apreciado ou detestado; para isso, tem de existir, estar no sítio certo. As livrarias deixaram de ter livros. Possuem produtos de consumo, para uso imediato, de acordo com a moda ou o marketing. É muito difícil comprar um livro: só existe em armazém ou na editora. Ora, se eu não sei que o livro existe, se não tenho nenhuma referência, como é que o posso comprar e ler? Depois há os livros e os autores “esgotados” que não conhecem reedição. Os órgãos de comunicação centram-se nos prémios e nos autores conhecidos ou que possuem visibilidade pública por força de outras actividades. Para os eventos em que se discute literatura e letras, criatividade, tendências ou formas de estar na vida das artes e da construção do presente, são convidados os

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“do costume” em espiral, que vinte ou trinta entusiastas e seguidores acompanham e emolduram nas salas que depois recheiam as fotografias do sucesso.

maturidade, após um ano bissexto que eliminou muita coisa do passado, que com saudade recordamos e sempre será referência de orientação, mas que terminou. 5 – Concretizar algumas experiências na área do conto e da poesia. O conto ao tamanho de uma página versus o conto ao tamanho de 100 páginas. A poesia clássica versus a poesia grafada em moldes estéticos diversos, com cruzamento de textos, citações, lengalengas, etc. Multifacetar as experiências e as versões. 6 – Não irei editar, em termos individuais, porque tenho preferência por estar junto de um leque alargado de autores, ou na construção de textos de maior fôlego e complexidade.

Sendo o Carlos Arinto um crítico bastante interventivo, qual é a questão que nunca deveria ter faltado nesta entrevista? O que gostaria de acrescentar que não tenha sido abordado? A literatura é uma arma. Não é um impulso, uma coisa bonitinha que se faz porque se gosta muito. A literatura tem um objectivo: mexer com as consciências, com as pessoas, propor soluções, desmontar factos tidos como invioláveis. Provocar inquietação. A forma como se escreve é importante porque... ou chega ou não chega às pessoas. Se é muito rebuscada e intelectualizada, não passa, ou existe apenas no pequeno circuito dos admiradores, dos zeladores. Os admiradores, os seguidores e os apóstolos são a maior praga, mas se comprarem o produto e o consumirem já justificam a sua impertinência. A escrita tem de ter uma opinião sobre a realidade, passada, presente ou futura. Não pode ser inócua, nem asséptica. Também não deve ser militante, embora quando o seja que se apresente como tal.

Alguma mensagem específica para autores e editores em particular e leitores em geral? Sempre. Agradeço o facto de não me ter chamado “escritor” porque não sou. Nem poeta. Gostaria que as editoras fossem verdadeiras editoras, que pagassem aos autores e que divulgassem e vendessem os seus livros: o que não fazem. Para os leitores, que sejam exigentes e que não se contentem com menos do que o abominável absoluto. Os autores que utilizem e usem temas e linguagens que sejam razão suficiente para que os leiam.

E quais são as suas perspectivas e projectos para o ano 2017?

Posfácio: São quinze perguntas do arco-da-velha a que se respondeu com sinceridade e testemunho, joelho dobrado no chão, em genuflexão. Quando leio bons autores, apetece-me desistir, ir fazer agricultura ou limpar as pratas da família. Cumprimentos, caro entrevistador. Felicidades, deseja-lhe o Feiticeiro de Oz. Nós por cá ficamos... bem! Adeus, até à próxima. Foi um gosto conhecê-lo! Tenho escrito uns postais que envio pelo correio com pequenos contos oníricos de efabulação. Qualquer dia mando-lhe um!

1 – Selecionar as antologias em que vou participar, deixando algumas que não provaram ser idóneas. 2 – Participar em Portugal nalgumas iniciativas municipais e no estrangeiro em edições no Brasil, na Argentina e em Espanha, onde possuo tradutor para as minhas obras. 3 – Tenho um contacto editorial na Roménia em fase de consulta... vamos ver no que isso pode dar. 4 – Perspectivas para o décimo sétimo ano do segundo milénio são fortes, pois será um ano bom, de grande

EMAIL DE CARLOS ARINTO: deskritor@gmail.com NOTA DA REDACÇÃO: Entrevista publicada, originalmente, na revista Divulga Escritor Nº 23, em Outubro de 2016, e gentilmente cedida pela mesma. Com actualização e reformulação de algumas partes para esta edição.

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As diversas narrativas que compõem este livro abordam, de um modo ora intenso, excêntrico ou fantasioso, ora superficial ou mesmo subtil, o tema dos vampiros. O repto para organizar esta antologia foi lançado em finais de 2015, sob o lema Terror e Sensualidade, ao qual ninguém mostrou indiferença nas duas margens do Atlântico. Seleccionaram-se 37 textos em diversos géneros; da aventura ao romance, do drama à comédia, do policial à ficção científica, um pouco de tudo! São trechos variadíssimos, escritos por 37 autores portugueses e brasileiros distintos entre si, com diferentes sensibilidades, culturas, idades, experiências de vida e estilos. «Imortalidade, sedução, mistério, sexualidade, terror e suspense fazem deles [vampiros] personagens fascinantes que amedrontam, atraem, seduzem. O vampiro, morto todavia vivo, moldado nas sombras da sociedade, obcecado por sangue, incorpora o lado mais escuro, porém, não menos real da existência humana; por outras palavras, o vampiro literário imediatamente justapõe na sua figura tanto as luzes quanto as sombras que alicerçam a vida humana» (Do Prefácio). Organização: Isidro Sousa. Autores: Akira Sam, Amélia M. Henriques, Ana Paula Barbosa, Anderson Furtado, Andrea Reis, Angelina Violante, Antônio Guedes Alcoforado, Augusta Silva, Carlos Arinto, Daniel Damien, Estêvão de Sousa, Eugen Weiss, Fábio De Bari, Fernanda Kruz, Flávia Mendes, Guadalupe Navarro, Isidro Sousa, Ivan de Oliveira Melo, João Almeida, Jonnata Henrique, Jorge Manuel Ramos, José Teixeira, Leonor Matos, Leopoldo Pontes, Maicon Ferreira Vale, Marcella Reis, Maria Côrrea, Patheres de Sá Dias, Patrícia Alves, Pedras Nuas, Ricardo de Lohem, Sara Timóteo, Sérgio Sola, Sertorius, Suzete Fraga, Tito Lívio, Wagner S. G. Azevedo.

Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com | www.euedito.com/suigeneris


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APRESENTAÇÃO

GRAÇAS A DEUS! “Temos de dar Graças a Deus pelas coisas boas e menos boas que acontecem nas nossas vidas: um sucesso literário, um êxito profissional, a concretização de um sonho, uma situação favorável relacionada com saúde, uma decisão menos facilitada, um obstáculo contornado, uma fase menos agradável que contribuirá seguramente para nos fortalecer, um amor feliz, enfim, tantas coisas. Inclusive os menos crédulos, ateus ou agnósticos, digam o que disserem, têm sempre algo a dizer ao Senhor... mesmo que de um modo inconsciente, ou inesperado, sem a intenção de o fazerem. O melhor agradecimento, no que concerne ao caso literário, é dedicar este livro ao Senhor!”

POR ISIDRO SOUSA

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ariadíssimas razões, tanto de ordem pessoal como profissional, levaram-me a organizar esta Acção de Graças através da literatura. Para que melhor entendam essas nobres motivações, tenho de recuar ao passado. Esbocei as (minhas) primeiras narrativas durante a adolescência e fui escrevendo ao longo dos anos, porém, não havendo perspectivas de editar um livro, forcei-me a esperar... Esperei um quarto de século para concretizar sonhos literários. Durante esses anos, escrevi, desmotivei, rasguei, reanimei, reescrevi ou concebi novos textos, tornava a desanimar e a destruir, mas voltava sempre a escrever, ou a reescrever, enfim... um ciclo que se revelava vicioso; embora publicasse, pontualmente, pequenas estórias nalguns jornais e revistas, a maioria destinava-se à gaveta. Ou ao arquivo. Sim, desanimei inúmeras vezes, todavia, Deus nunca permitiu que perdesse a esperança. A esperança de dar vida a esses sonhos. Quando vislumbrei aquela luzinha na escuridão, uma oportunidade minúscula de poder, finalmente, vir a fazer alguma coisa, agarrei-a com unhas e dentes. Era ainda uma possibilidade remota, o chão a percorrer mostrava-se longo e calcetado de espinhos; não obstante, fiz-me ao caminho sem qualquer hesitação. Fui mergulhando, de modo crescente, num universo literário que se desvendou muitíssimo mais agreste do que era suposto, dedicando o corpo e a alma à escrita, participando em concursos e obras colectivas de várias editoras, evoluindo sempre e cada vez mais. Até chegar ao ponto de ousar desenvolver projectos ainda mais arrojados e ambiciosos. Obras colectivas, é certo, porém, idealizadas, organizadas e coordenadas por mim, enquanto buscava, em simultâneo, dar vida a obras individuais. As perspectivas já se mostravam luminosas. Se por um lado os frutos começavam a surgir,

prevendo-se um futuro literário mais animador, por outro lado as forças do mal não tardariam a erguer-se, procurando bloquear-me. Mas o meu (nosso) bom Deus, mantendo-Se sempre presente, transmitia-me energia para prosseguir a jornada. A minha fé, por mais adverso que se apresentasse o panorama, continuava inabalável. Deus nunca me faltara! No final de 2015, quando decidi lançar a Sui Generis, enfrentava uma tempestade bem turbulenta; a ferocidade era tal que faria desanimar almas mais sensíveis. Não vacilei. Embora me sentisse vulnerável, jamais perdi a fé em Deus. Senti-O sempre presente nas mais variadas situações quotidianas da minha vida. Senti sempre a influência da mão divina em tudo o que eu fazia. Inclusive em momentos profundamente dramáticos, que despoletaram resoluções que muito contribuíram para o meu amadurecimento enquanto ser humano. Contra ventos e marés, enfrentei tudo e todos porque sabia que chegara o momento – o momento de dar o passo. Aquele passo que conduziria ao sonho. A fé remove montanhas e nem sequer o diabo me intimidaria! Sim, a fé fortalecia-me. Nunca duvidei da existência e assistência de Deus! Nunca acreditei que Ele me ignorasse, inclusive nas épocas menos boas (bastantes) em que atingi o fundo do poço. O Senhor mantinha-se sempre lá, ao meu lado, não me deixando esmorecer, tão-pouco desistir... transmitindo energias positivas, apontando novas luzes na escuridão... fazendo-me recuperar forças para poder reerguer-me com ainda mais perseverança e esperança. Foi desse modo, conservando a crença sempre inabalável, convicto de que Deus jamais abandona um filho, que fui desbravando caminho, levando a Sui Generis a bom porto. Com muita luta e sacrifício pessoal, imensas preocupações e noites mal dormidas, porém, alimentando sempre a fidelidade aos valores, preservando a 70


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firmeza, a integridade, a lealdade aos princípios éticos e morais, cativando cada vez mais pessoas, realizando sonhos, quer pessoais, quer de outros autores. Transcorrido um ano exacto, após ter desencadeado o início desta bela jornada literária, visando a concretização dos diversos projectos que me propus realizar, o balanço revela-se positivo: doze antologias organizadas, sendo Graças a Deus! a décima segunda, para a Colecção Sui Generis. Doze! Um número recheado de muito simbolismo: doze meses do ano, doze signos do Zodíaco, doze apóstolos, doze tribos de Israel, dia e mês do meu nascimento (12 de Dezembro), etc. Doze projectos literários organizados (embora nem todos estejam finalizados – alguns já foram editados, outros ainda decorrem), as primeiras obras individuais publicadas (cinco) e perspectivas positivas no horizonte. Não acredito em coincidências e nada acontece por acaso. Por tudo isto e não só, particularmente no que se refere ao bem-sucedido percurso no reino da

literatura, tenho de dar Graças a Deus! Dou muitas Graças ao Senhor! Não canso de dizer, escrever, repetir e tornar a repetir: Graças a Deus! Por tudo o que ocorre na minha vida. Quer a nível pessoal, quer profissional. Tenho muita fé em Deus e jamais cansarei de Lhe agradecer. Sem Ele, em quem busco forças para viver e batalhar, nada conseguiria. Consequentemente, a vida não faria sentido. Todos nós (autores, leitores e demais pessoas) temos de dar Graças a Deus pelas coisas boas e menos boas que acontecem nas nossas vidas: um sucesso literário, um êxito profissional, a concretização de um sonho, uma situação favorável relacionada com saúde, uma decisão menos facilitada, um obstáculo contornado, uma fase menos agradável que contribuirá seguramente para nos fortalecer, um amor feliz, enfim, tantas coisas. Inclusive os menos crédulos, ateus ou agnósticos, digam o que disserem, têm sempre algo a dizer ao Senhor... mesmo que de um modo inconsciente, ou inesperado, sem a intenção de o fazerem.

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O melhor agradecimento, no que concerne ao caso literário, é dedicar este livro ao Senhor! Organizar uma Acção de Graças na quadra natalícia, pela via literária, com a participação de todos aqueles e aquelas que contribuíram, de algum modo, para o êxito da Sui Generis ao longo dos últimos doze meses, é, sem sombra de dúvida, o melhor agradecimento. Apesar de ser um pequeno agradecimento, é um agradecimento! E mais uma vez: Graças a Deus por termos conseguido, todos juntos, realizar esta belíssima Acção de Graças. Graças a Deus, e a todos nós! O livro Graças a Deus! reúne largas dezenas de textos, em diversos géneros literários, de 51 autores lusófonos (portugueses, brasileiros e angolanos): contos, crónicas, cartas, poesia, prosa poética, reflexões, desabafos, etc. Embora esta antologia fosse concebida para o Natal, muitos textos que inclui não se focam no evento natalino; apresentam vários temas (ocorrendo, ou não, na época natalícia), todavia, reflectem sempre a fé no Senhor, ou mesmo gratidão – sejam sentimentos pessoais ou através de personagens criadas. São estórias e poemas cuja variedade de estilos e graus culturais é sublime, recheados das mais diversas sensibilidades, que, não obedecendo a

um tema específico, privilegiam, de algum modo, a crença em Deus. O leque de textos é soberbo! De textos que abordam uma emoção, uma tristeza, um amor, um desejo, uma mágoa, um reconhecimento, uma lembrança, uma revolta, uma felicidade, uma nostalgia, uma esperança... Todos os autores expressam, cada um com a sua particularidade, o que lhes vai na alma. Cada um transmite, de alguma maneira, o que Deus significa para si – mesmo os que são agnósticos desvendam, de igual modo, a sua percepção. Ou os seus sentimentos. Sentimentos que se eternizam nas 214 páginas desta antologia, cujos textos se encontram ilustrados com belíssimas declarações de Sua Santidade, o Papa Francisco, e Cânticos e Salmos da Bíblia Sagrada. Uma obra que proporciona boas leituras numa época tão especial. Verdadeira Acção de Graças que todos nós oferecemos ao Senhor nesta quadra natalícia. E que converteremos, certamente, em maravilhosas prendas de Natal. Prendas inesquecíveis! Que trarão leituras emocionantes ao longo do próximo ano. Porque este livro deve ser lido em qualquer altura do ano. Feliz Natal e um próspero Ano Novo!  Prefácio de Isidro Sousa incluído em Graças a Deus!

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REPORTAGEM

LANÇAMENTOS SUI GENERIS NO VLADA LOUNGE Foram lançados, no passado dia 21 de Dezembro,

concretizar, momentos altos e baixos ao longo de 2016,

a antologia natalina «Graças a Deus!», que reúne 51

as obras colectivas a serem lançadas no início de 2017,

autores lusófonos, e o livro «O Pranto do Cisne», de

às razões que levaram à organização da Acção de

Isidro Sousa, no sofisticado e acolhedor Vlada Lounge,

Graças que é a antologia «Graças a Deus!». Marcella

na cidade de Lisboa. Na mesma sessão, apresentaram-se

Reis apresentou «O Pranto do Cisne» e Isidro Sousa deu

outros livros editados recentemente pela Sui Generis:

a conhecer os primeiros livros individuais Sui Generis:

«Almas Feridas» de Suzete Fraga, que já fora lançado

«Almas Feridas» e «Mar em Mim», cujas autoras, por

no dia 11 de Dezembro na Póvoa de Lanhoso, e «Mar

razões geográficas, não puderam deslocar-se a Lisboa.

em Mim» de Rosa Marques, cujo lançamento oficial

Momento sublime, já no final da sessão, em que os

está agendado para 27 de Janeiro, em Porto Santo.

autores (ainda) presentes pegaram no livro «Mar em

Tratou-se de um evento simples e descontraído que

Mim» e leram o poema que lhes surgiu na página aberta

primou pelo convívio, partilha e boa disposição.

ao acaso. Paulo Galheto Miguel deu-nos a conhecer

Vários autores residentes na Grande Lisboa viram-se

a sua poesia e o livro que lançou em Outubro; Sara

impossibilitados de comparecer devido ao agendamento

Timóteo e Marcella Reis trouxeram os seus livros

tardio e à proximidade do Natal, já que muitos se

recentemente editados («Refracções Zero»

ausentam nesta época. No entanto, embora fisicamente

e «Lágrima Artificial», respectivamente) e Isabel

ausentes, estiveram todos “presentes”; muitos foram os

Martins, uma bela surpresa no reino das letras, partilhou

nomes de que se falaram. Especialmente daqueles que

as peripécias que envolveram a sua estreia literária

residem no Brasil, que não podem deslocar-se a

numa obra colectiva organizada pela Sui Generis.

Portugal para marcar presença num evento literário,

Uma sessão de lançamento sui generis verdadeiramente

graças ao grande obstáculo que é o Oceano Atlântico.

sui generis em que todos os presentes falaram,

Nesta sessão bastante “familiar” falou-se de tudo: desde

partilharam, confraternizaram, como atestam as

a criação da Sui Generis, projectos realizados e outros a

fotografias na foto-reportagem... Com a graça de Deus!

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Em cima: Paula Homem, Sara Timóteo, Marcella Reis, Paulo Galheto Miguel, Candy Rosa, Isabel Martins e Isidro Sousa. Em baixo: Isabel Martins e Isidro Sousa exibindo os quatro livros; lá atrás, à esquerda: Marcella Reis e Paula Homem.

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CONTO

JANELA DE VIAGENS “Ofegante, a arrastar a pesada mala, correu para o balcão de check-in, deserto e encerrado. Chegara tarde de mais! Ainda semi-incrédulo, viu, através das vidraças, o grande pássaro levantar voo, o seu Pégaso, indiferente a dramas humanos. Nada mais havia a fazer que adiar o sonho. Como um autómato, procedeu às formalidades inerentes a uma nova reserva, no voo da noite, umas dez horas mais tarde. Mas não iria sair daquele aeroporto, receoso de novo azar.”

POR TERESA MORAIS

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celerou a fundo, ao longo da avenida, que ainda mal saía das trevas da noite invernosa, quase em vésperas de Natal. Os faróis do Mercedes iluminavam o asfalto molhado e escorregadio, ainda impregnado da forte chuva que se fizera sentir desde a noite anterior, após uma seca que se arrastara por vários meses. Ignorou a luz vermelha do semáforo, a proibir a passagem de veículos. Não podia, não queria perder aquele voo! Artur programara ao milímetro a viagem, para que tudo fosse perfeito. Sabia que ela estaria à sua espera, impaciente por cada minuto de atraso do voo intercontinental. Antevia a sua imagem, a destacar-se do grupo de pessoas que aguardavam os passageiros na gare do aeroporto – a jovem de vestido leve e fluido, a iludir o calor tropical, de rosto perfeito, aberto naquele sorriso luminoso que o encantava, de olhar doce a transbordar de afecto e saudade. Reviu, mentalmente, os passos que dera, para compor o reencontro: a limousine a aguardá-los à saída do aeroporto, a viagem romântica até Angra dos Reis, a suite que reservara no pequeno hotel – com pétalas de rosas vermelhas espalhadas no leito; sobre uma pequena mesa, a garrafa de Moët & Chandon, inclinada dentro do frappé e ladeada por uma taça com morangos, a fruta que ela preferia. Conduzia velozmente, negando a frustração de um adiar que não queria, temendo a decepção que ela iria sentir, sobretudo porque lhe dissera, naquele modo enigmático que cultivava: – Voo até ti num enorme Pégaso alado. No meu bolso, brilha o sol, precioso e solitário. Referia-se, obviamente para si, ao solitário de

diamante que lhe comprara para celebrar o noivado. E não se perdoava por o ter esquecido em casa, tendo sido obrigado a fazer o caminho de regresso, quando já avistava as luzes do aeroporto, arriscando-se a perder o voo. Relanceava os olhos pelo relógio, os ponteiros a avançarem velozmente, enquanto tecia conjecturas favoráveis: o relógio estava adiantado, arranjaria facilmente estacionamento no local que combinara com o irmão (que recolheria o veículo no fim da manhã), haveria atraso na partida do voo intercontinental... Sempre se considerara azarado, mas ia convivendo, mais ou menos pacificamente, com o facto, o que não o impedia de usar, discretamente, um cristal de zircónio, talismã para afastar todo o tipo de energias negativas que pudessem interferir directamente na sua vida. Ofegante, a arrastar a pesada mala, correu para o balcão de check-in, deserto e encerrado. Chegara tarde de mais! Ainda semi-incrédulo, viu, através das vidraças, o grande pássaro levantar voo, o seu Pégaso, indiferente a dramas humanos. Nada mais havia a fazer que adiar o sonho. Como um autómato, procedeu às formalidades inerentes a uma nova reserva, no voo da noite, umas dez horas mais tarde. Mas não iria sair daquele aeroporto, receoso de novo azar. Foi iludindo as horas – a ler o jornal, a deambular pelas free shops, a tomar uma refeição ligeira, a ouvir o diminuto coral que entoava canções de Natal, para distracção dos passageiros. Só horas mais tarde, teve coragem para lhe ligar. Pressentiu-lhe o pânico na voz chorosa, entrecortada por soluços. A muito custo, conseguiu perceber: 82


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– Artur! És mesmo tu? Artur!!! O teu avião despenhou-se! Não há sobreviventes! Afinal, os milagres existem! Graças a Deus! A chamada caiu, e Artur deu por si a pensar que talvez existisse aquilo a que chamam destino e que Alguém superior decide qual o de cada um. Inconscientemente, levou a mão trémula ao cristal de zircónio, apertando-o com força...

barcação deslizar ao sabor da brisa suave de fins de Dezembro. – Esta noite, senti-te tão agitado! Voltaste a ter pesadelos, Artur? Ao fim de todos estes anos... – Sim, voltei a sonhar com o acidente aéreo. E eu estava naquele avião, transformado em terríveis destroços. Sem sobreviventes. Bem sabes que a minha cabeça não voltou a ser a mesma. – Talvez esteja na altura de exorcizares os teus fantasmas. Podíamos ir a Portugal, visitar a tua família... Artur desceu a vela grande e sentiu o veleiro ganhar velocidade. Não queria voltar a viajar de avião. Afinal, toda a felicidade estava ali: ela, a vida calma e simples, e aquele mar, janela de doces e infindáveis viagens. De nada mais sentia falta. Graças a Deus! 

***

O casal de meia-idade desceu o relvado, que se estendia desde o elegante chalé, em Angra dos Reis, até ao embarcadouro privativo. Em silêncio, aparelharam o pequeno veleiro, ancorado junto à plataforma, numa conjugação perfeita de movimentos, aperfeiçoados ao longo dos anos. Recolheram as defensas de borracha e sentiram a em-

 Texto incluído na antologia Graças a Deus!

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Doze enredos absurdamente irreais, doze narrativas escandalosamente verosímeis. Doze tramas pelas quais desfilam diversos tipos de personagens que vivenciam todas as matizes de sentimentos. Textos escritos com uma sofisticada simplicidade... estórias que divertem, emocionam, surpreendem. E, ao serem decifradas, deleitam mentes devorando corações. Um livro de Guadalupe Navarro.

Encomendas: grn3006@gmail.com | www.euedito.com/suigeneris


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OPINIÃO

FILOSOFIA E DIREITOS HUMANOS “Todos os dias, nos meios de comunicação social, muita gente fala dos Direitos Humanos, no entanto, ninguém desconhece como eles são ignorados, quando não espezinhados, violados e deturpados, em alguns países do mundo, todavia, ainda assim, vale a pena lembrar o que tem sido, ao longo dos séculos XX e XXI, a luta pelos direitos, pelas liberdades e garantias fundamentais da pessoa humana. Esta luta não é só do nosso tempo, ela mergulha as suas raízes na mais remota antiguidade, mesmo quando os costumes, a mentalidade e a organização política de então aceitavam com fatalidade histórica a tirania, a escravidão, a morte.”

POR DIAMANTINO BÁRTOLO 87


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«1. Toda a pessoa tem direito à educação. (...); 2. A educação deve visar a plena expansão da personalidade humana e o esforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos...» (ONU,1948: DUDH-Artº 26º)

ouvidos, e muito menos seguidos por parte de diversos países. A dicotomia que, na verdade, parece existir em muitos países e que leva a que: uns, deem importância aos direitos civis e políticos; outros, aos direitos económicos, sociais e culturais, conduz, afinal, a duas conceções políticas diferenciadas, que bipolarizam as nações no mundo e que se conectam com a própria definição de democracia odos os dias, nos meios de comunicação e, sem bebermos na etimologia grega, diríamos social, muita gente fala dos Direitos Humaque as democracias ocidentais, felizmente, envolnos, no entanto, ninguém vem o pluralismo político, a desconhece como eles são ignoliberdade de expressão, o direirados, quando não espezinhato de associação e de reunião, a dos, violados e deturpados, em ausência de polícia política, a A razão do presente traalguns países do mundo, todagarantia de liberdades individubalho é, portanto, a apovia, ainda assim, vale a pena ais constantes nas constituições, logia de uma Pedagogia lembrar o que tem sido, ao lonlivremente votadas pelos cidago dos séculos XX e XXI, a luta dãos. de Paz, que resumiria pelos direitos, pelas liberdades e Não foi inocente a escolha num conjunto de enuncigarantias fundamentais da pesdeste tema porque, na dupla ados, ou regras, dirigisoa humana. qualidade de Cidadão PortuEsta luta não é só do nosso guês, Professor-Formador e dos à educação dos inditempo, ela mergulha as suas agora também Escritor, não víduos, para que atuem raízes na mais remota antiguipoderia ficar indiferente, no de modo a criar a base dade, mesmo quando os costuinício de milénio, no âmbito das mes, a mentalidade e a organiinvestigações que venho fazende um espírito mais huzação política de então aceitado sobre estes temas, bem comanista, inspirado no vam com fatalidade histórica a mo dos valores protegidos pelas respeito e exercício dos tirania, a escravidão, a morte. diversas Declarações de Direitos Muitas são as instituiHumanos, quando se sabe que Direitos Humanos ções/associações que ao longo situações de: a) Conflitos – Que dos tempos lutam contra a vioconduzem a que uma oposição lação dos Direitos Humanos: Comissão dos Direiconsciente entre sujeitos ou nações, perseguindo tos Humanos das Nações Unidas, Comissão Euroobjetivos incompatíveis, originam, muitas vezes, peia e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, agressividade, que leva a confrontos sangrentos, Liga Francesa para a Defesa dos Direitos do Hode consequências irreparáveis; b) Violência – De mem e do Cidadão, Liga Portuguesa dos Direitos entre outras definições, poder-se-ia escolher, do Homem, Amnistia Internacional, etc. genericamente, como sendo: «a causa da diferenEstas instituições devem a sua credibilidade à ça entre o potencial e o efectivo», pois ela está sua força moral, à circunstância de não pouparem «presente quando os seres humanos são influenqualquer país onde periguem os Direitos Humaciados de tal maneira que as suas realizações, nos, porém, os apelos, as investigações e as suanseios e esperanças afectivas, somáticas e mengestões que tais associações divulgam pouco são tais estão abaixo das suas realizações potenciais.»

T

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(GALTUNG, 1985:30). A razão do presente trabalho é, portanto, a apologia de uma Pedagogia de Paz, que resumiria num conjunto de enunciados, ou regras, dirigidos à educação dos indivíduos, para que atuem de modo a criar a base de um espírito mais humanista, inspirado no respeito e exercício dos Direitos Humanos, no trabalho em prol da proteção do meio ambiente, nas práticas sociais para o fortalecimento da convivência e da solução pacífica dos conflitos e da violência, quaisquer que sejam: físicos, materiais, psicológicos ou outros. Uma educação para a paz, modernamente, deve apresentar as seguintes características, entre muitas outras, possíveis e, quiçá, melhores: «a) Aceitar e implementar um processo de socialização, por valores que aumentem o processo social e pessoal; b) Questionar o acto educativo, desligando-se do ensino meramente transmissivo, em que o aluno é um mero receptor, isto é, o acto educativo como processo activo-criativo, em que os alunos são agentes vivos de transformação (cf. Educação Cívica de António Sérgio); c) Enfatizar, tanto na violência directa como na estrutural, facilitando o aparecimento de estruturas pouco autoritárias, não autistas, que possibilitem o espírito crítico, a desobediência, o auto-desenvolvimento e a harmonia pessoal dos participantes; d) Procurar coincidir fins e meios, a fim de chegar a conteúdos distintos através de meios distintos, fazendo do conflito e da aprendizagem da sua resolução nãoviolenta o ponto central da sua actuação; e) Combinar certos conhecimentos substantivos com a criação de uma nova sensibilidade, de um sentimento empático que favoreça a aceitação e compreensão do outro.» (APDME-CIP 1990:20).

É, naturalmente, com este espírito que parto para o trabalho que me propus elaborar, o qual abordará algum aspeto da visão geral da Filosofia em Portugal no Século XIX, uma análise à posição de António Sérgio, com a necessária incursão à sua obra “Educação Cívica”, uma rápida reflexão sobre a educação cívica em Portugal no ensino básico e, certamente, concluirei com uma opinião muito pessoal, seguramente discutível, porque não se tratará de uma verdade dogmática. Seria impossível e pretensioso emitir a receita miraculosa para a observância dos Direitos Humanos, quando 68 anos depois da adoção da D.U.D.H a indiferença e o desrespeito pelos Direitos Humanos continua a ser uma realidade em alguns espaços: a) Provavelmente, talvez metade dos países do mundo continua a deter pessoas pelas suas convicções políticas, ou ideológicas, origem étnica, sexo ou religião; b) Cerca de um terço dos Governos mundiais tortura os seus cidadãos; c) O número de refugiados em busca de proteção contra as violações dos Direitos Humanos elevou-se, na primeira década deste século, para mais de quinze milhões; d) O número de refugiados à procura de segurança, alimentação, saúde, educação e trabalho é dramaticamente assustador; e) A pena de morte é aplicada em mais de meia centena de países.  BIBLIOGRAFIA APDME – CIP, (1990). Seminário de Educação para la Paz, Educar para la Paz. Una Propuesta Posible. Madrid: GALTUNG, Johan, (1985). Sobre la Paz. Barcelona: Fontamara. GALTUNG, Johan, (1994). Direitos Humanos – Uma Nova Perspectiva. Tradução: Margarida Fernandes. Lisboa: Instituto Piaget. ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (1948). Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa: Amnistia Internacional, Secção Portuguesa, 1998.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo, casado, natural de Venade (Caminha, Portugal). Obra Literária: 7 Antologias próprias; 9 Antologias em coedição em Portugal e no Brasil; mais de 800 artigos publicados em vários jornais, sites e blogs, portugueses e brasileiros. Vencedor do III Concurso Internacional de Prosa: “Prémio Machado de Assis 2015”, promovido pela Confraria Cultural Brasil-Portugal (Divinópolis, Minas Gerais, Brasil). Acadêmico CorrespondenteInternacional, Cadeira XXI, Academia Lavrense de Letras. Membro Efetivo do Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa. Membro da Associação Portuguesa de Escritores. Telefone: 00351 936 400 689 | Email: bartolo.profuniv@mail.pt Blogue: http://diamantinobartolo.blogspot.com | Facebook: www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

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PARCERIAS

REVISTAS LITERÁRIAS Editadas no Brasil

A «Divulga Escritor» e a «Conexão Literatura» são duas publicações periódicas, a primeira com periodicidade bimestral e a segunda mensal, com as quais temos desenvolvido excelentes parcerias. Durante 2016, ambas deram, várias vezes, atenção aos projectos Sui Generis, quer entrevistando o responsável pelos mesmos, quer publicando outros textos nas suas páginas. Em Outubro, a «Divulga Escritor» deu um grande destaque a Portugal, com o lançamento da edição Especial Portugal 2016, tendo reunido cerca de quarenta autores, maioritariamente portugueses, que se expressaram em entrevistas, artigos de opinião e crónicas. Essa edição teve o apoio da Sui Generis e fez a capa da mesma com uma fotografia do editor Isidro Sousa. Ambas as revistas são electrónicas e gratuitas e estão disponíveis na internet, nos endereços abaixo indicados: Divulga Escritor Conexão Literatura

– www.divulgaescritor.com | http://portalliterario.com – www.revistaconexaoliteratura.com.br 90



Mulheres que amam. Mulheres que sofrem. Mulheres que amargam amargamente o cรกlice do sofrimento. Um livro de Isidro Sousa.

Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com | www.euedito.com/suigeneris


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LIVROS

GRAÇAS A DEUS! Antologia de Natal – Uma Acção de Graças

GRAÇAS A DEUS! Antologia de Natal Uma Acção de Graças Organização: Isidro Sousa Autores: 51 Autores Edições Sui Generis Editora EuEdito ISBN: 978-989-8856-04-3 Depósito Legal: 417952/16 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.pt

O livro Graças a Deus! reúne textos em diversos géneros literários de 51 autores lusófonos: contos, crónicas, cartas, reflexões, desabafos, poesia, etc. Embora fosse concebida para o Natal, muitos textos que esta antologia inclui não se focam no evento natalino; apresentam outros enredos, todavia, reflectindo sempre a fé no Senhor, ou mesmo gratidão – sejam sentimentos pessoais ou através de personagens fictícias. São estórias e poemas cuja variedade de estilos e graus culturais é sublime, recheados das mais variadas sensibilidades, que, não obedecendo a um tema específico, privilegiam, de algum modo, a crença em Deus. O leque de textos é soberbo! Textos que abordam uma emoção, uma tristeza, um amor, um desejo, uma mágoa, um reconhecimento, uma lembrança, uma felicidade, uma revolta, uma nostalgia, uma esperança... Todos os autores expressam, cada um com a sua particularidade, o que lhes vai na alma. Cada um transmite o que Deus significa para si. Mesmo aqueles que são agnósticos desvendam, de igual modo, a sua percepção. Ou os seus sentimentos. Sentimentos que se eternizam nas 214 páginas desta obra colectiva, cujos conteúdos se encontram ilustrados com belíssimas declarações de Sua Santidade, o Papa Francisco, e Cânticos e Salmos da Bíblia Sagrada. Uma verdadeira Acção de Graças que todos os autores oferecem ao Senhor na quadra natalícia de 2016. E que trará leituras emocionantes ao longo do próximo ano. Porque este livro deve ser lido em qualquer altura do ano. Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Álvaro Moreyra, Amélia M. Henriques, Ana Maria Dias, Angelina Violante, Antônio de Pádua, Cadu Lima Santos, Carlos Arinto, Carlos Pompeu, Carmen Jara, Cauline Sousa, David Sousa, Diamantino Bártolo, Eduardo Ferreira, Elicio Santos, Everton Medeiros, Fernanda Kruz, Guadalupe Navarro, Isa Patrício, Isaac Soares de Souza, Isabel Martins, Isidro Sousa, Jeracina Gonçalves, João Pedro Baptista, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Júlio Gomes, Lia Molina, Lucinda Maria, Madalena Cordeiro, Marcella Reis, Maria Alcina Adriano, Maria Isabel Góis, Marizeth Maria Pereira, Mônica Gomes, Natália Vale, Neca Machado, Nicol Peceli, Paula Homem, Paulo Galheto Miguel, Ricardo Solano, Rogério Dias Dezidério, Rosa Maria, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Scarleth Menezes, Sérgio Sola, Sténio Cláudio, Suzete Fraga, Tânia Tonelli, Teresa Morais.

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LIVROS

ALMAS FERIDAS Almas Feridas é a soma dos mais diversos sentimentos que acabam, inevitavelmente, por nos ferir a alma; moldados pela imaginação, os contos apresentados neste livro caminham de mãos dadas com as nossas fragilidades enquanto seres humanos.

ALMAS FERIDAS Autora: Suzete Fraga Edições Sui Generis Editora EuEdito ISBN: 978-989-8856-03-6 Depósito Legal: 417596/16 Encomendas: suzetefraga@hotmail.com www.euedito.com/suigeneris Telefone: (+351) 966326916 Página da autora: facebook.com/suzete.fraga

Esta obra mergulha a sangue-frio na sede de vingança e nas relações entre irmãos (bem ao estilo de Caim e Abel), passando pelo dilema da fidelidade no matrimónio. Permite-nos ainda viajar para cenários campestres, recuar no tempo até aos anos 80 do século passado, pregar partidas carnavalescas, espreitar vidas desfeitas pelo álcool e pela violência doméstica, desvendar traições, amores desmedidos, reencontros no Além e narcisismos que levam à loucura, encarar a vida com os olhos de quem não vê, herdar veredictos cruéis, testemunhar actos verdadeiramente altruístas, ler cartas de amor, desfolhar sonhos, sentir a emoção da despedida, conviver com sogras encantadoras, descobrir o dom da humildade ou conhecer videntes muito peculiares. Suzete Fraga nasceu no ano de 1978 em Azurém, Guimarães, e reside em Póvoa de Lanhoso. Experimentou o árduo calejar da lavoura ainda na infância, aprendendo a usar, desde cedo, a escrita e os sonhos como um escape ou até mesmo como um meio de subsistência existencial. Tem textos espalhados em colectâneas e antologias de várias editoras e foi distinguida em três concursos literários. Almas Feridas é o seu primeiro livro.

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LIVROS

O PRANTO DO CISNE Aventuras de um Fotógrafo Desinibido

O PRANTO DO CISNE Aventuras de um Fotógrafo Desinibido Autor: Isidro Sousa Edições Sui Generis Editora EuEdito ISBN: 978-989-99670-6-9 Depósito Legal: 415447/16 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris Blogue do autor: http://isidelirios.blogspot.pt

O futebolista Tádzio Madjer confunde, num balneário penumbroso após um jogo de futebol, o fotógrafo Valero com o pai deste, um treinador de futebol (ainda) no esplendor da juventude. Cedendo à anónima e inusitada investida, Valero descobre o prazer que é a intimidade entre machos e a verdadeira natureza sexual do pai, o seu ídolo. Não tardará a firmar-se um escaldante triângulo amoroso ente eles, cujo desfecho trágico fará verter lágrimas amargas ao jovem fotógrafo. Com a morte do seu amado pai, assassinado pela “puta que o pariu” e o abandonou durante a infância, a alma de Valero enterra-se, em pranto, num luto prolongado. Até ao dia em que o excêntrico estilista Gonçalo Verdades o faz redespertar para a vida. Então, o belo cisne mergulha numa ânsia devoradora de sexo, somando aventuras atrás de aventuras, como que a recuperar o tempo perdido... Incesto, sexo explícito e futebol... eis uma combinação explosiva capaz de abalar alicerces e estruturas de qualquer sociedade! O autor não recomenda este livro a almas sensíveis. E é proibidíssimo a menores de 18 anos de idade. Isidro Sousa nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, e vive em Lisboa. Jornalista desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, colaborou com diversas editoras, participou em duas dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e organiza todos os projectos da Colecção Sui Generis, que criou em finais de 2015. O Pranto do Cisne é o seu segundo livro.

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MAR EM MIM Mar em Mim resulta de um conjunto de emoções sentidas perante a beleza de duas ilhas, Madeira e Porto Santo, e o fascínio que o mar e a Natureza exercem na autora. Emoções apreendidas desde a mais tenra idade... quando as brincadeiras ao ar livre eram interrompidas para contemplar o pôr-do-sol, o deslumbramento das árvores recortadas no horizonte em ouro.

MAR EM MIM Autora: Rosa Marques Edições Sui Generis Editora EuEdito ISBN: 978-989-8856-02-9 Depósito Legal: 417594/16 Encomendas: rccorreiamarques@gmail.com www.euedito.com/suigeneris Telefone: (+351) 968237834

A diversidade das flores, os pinheiros altos, os plátanos, as acácias e as giestas em flor alegraram, igualmente, a sua infância. E o canto dos pássaros, a Lua formosa e altiva, as mudanças operadas na paisagem em cada estação, e o mar sempre presente... O mar como elo fundamental para quem vive nas ilhas, sendo necessário transpô-lo para vencer as encostas íngremes da solidão. O mar amigo que fascina e atrai, mas também o mar adverso, condicionando e interpondo-se com toda a sua imponência, que é preciso respeitar. Rosa Marques nasceu em 1959, na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos de idade. Após o seu casamento mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha. Da beleza das ilhas e da necessidade de registar recordações da infância, surgem os poemas reunidos neste volume. Tem participações literárias em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil. Mar em Mim é o seu primeiro livro.

Página da autora: Facebook: Maria Correia

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DECIFRA-ME… OU DEVORO-TE! Decifra-me... ou Devoro-te! apresenta doze estórias de personagens bastante peculiares. Como, por exemplo, a bela Micaela, uma jovem um tanto maluca que, em primeira instância, pode mostrar-se confusa ou mesmo desequilibrada. Como o belo e bem-sucedido Afonso, cujo segredo, quando revelado, surpreende e choca, e a enigmática e esquiva Rosana, que revela não ser o que aparenta ser. E também Branca, a editora pouco ortodoxa que, depois de aplicar tantas falcatruas, recebe o golpe de misericórdia de quem menos espera. Ou António, cujo inusitado encontro com uma mulher misteriosa o fará embarcar numa viagem surreal. A obra apresenta ainda a tartaruga Totó que, recordando como foi parar ao jardim zoológico, revela as complexas relações de uma família.

DECIFRA-ME... OU DEVORO-TE! Autora: Guadalupe Navarro Edições Sui Generis Editora EuEdito ISBN: 978-989-8856-07-4 Depósito Legal: 419840/16 Encomendas: grn3006@gmail.com www.euedito.com/suigeneris

Doze enredos absurdamente irreais, doze narrativas escandalosamente verosímeis. Doze tramas pelas quais desfilam diversos tipos de personagens que vivenciam todas as matizes de sentimentos. São textos escritos com uma sofisticada simplicidade... estórias que divertem, emocionam, surpreendem. E, ao serem decifradas, deleitam mentes devorando corações. Guadalupe Navarro nasceu em Lima, Peru. Durante a infância, mudou-se, com os pais e os irmãos, para Londres, Inglaterra. E, numa fase posterior, para o Rio de Janeiro, Brasil. Bacharel em Filosofia, editou o seu primeiro livro, Poemas da Alma, em 2015. Decifra-me... ou Devoro-te! reúne todos os textos de sua autoria publicados em diversas antologias, em Portugal e no Brasil.

Página da autora: facebook.com/rubionav

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AMARGO AMARGAR As protagonistas deste livro entregam o corpo e a alma ao amor. Porque amar não é pecar. Mas pode ter um sabor a fel... A aristocrata Manuela Valente adoece consumida pelo remorso, após atentar contra a vida da rival. A sofrida Beatriz torna a entregar-se ao amor quando conhece um homem bondoso, porém, misterioso. A camponesa Celina julga-se abandonada pelo namorado rico pouco antes de descobrir que alberga no ventre a semente desse amor. A estudante Helena Reis assume uma atitude surpreendente para restituir a saúde do seu amado. A recatada Matilde, viúva de dois homens que amara em simultâneo, desvenda a sua verdadeira natureza quando é vítima de um assalto. A solitária Eulália Belmonte torna a enviuvar no momento em que surpreende o marido numa situação assaz comprometedora com a sua própria mãe.

AMARGO AMARGAR Autor: Isidro Sousa Edições Sui Generis Editora EuEdito ISBN: 978-989-8856-08-1 Depósito Legal: 418611/16 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris

Eis a trajectória de seis mulheres... Mulheres que amam. Mulheres que sofrem. Mulheres que amargam amargamente o cálice do sofrimento. Isidro Sousa nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, e vive em Lisboa. Jornalista desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, colaborou com diversas editoras, participou em duas dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e organiza todos os projectos da Colecção Sui Generis, que criou em finais de 2015. Amargo Amargar é o seu primeiro livro.

Blogue do autor: http://isidelirios.blogspot.pt

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LÁGRIMAS NO RIO Lágrimas no Rio é uma história que se desenrola em 1830, numa aldeia transmontana chamada São Cristóvão do Covelo, algures nas margens do rio Douro. Avelino Montenegro, um jovem fidalgo, precisa enfrentar os preconceitos da sua classe, e mesmo das classes mais baixas, para poder unir-se à mulher que ama. Não sabe, porém, que esse será o menor dos seus problemas...

LÁGRIMAS NO RIO Autor: Manuel Amaro Mendonça Editora: Createspace Publishing ISBN: 978-1522839811 1ª Edição – Abril 2016 Distribuição: Amazon Encomendas: amaro.autor@gmail.com www.amazon.eu Páginas do autor: http://manuelamaro.wix.com/autor facebook.com/manuel.amaromendonca

De acordo com a síntese incluída na contracapa do livro, Avelino é filho de Honório Montenegro, o maior proprietário de São Cristóvão do Covelo. O seu pai mandou-o regressar do Ponto, onde estudava, para a segurança do isolamento nas serras, assim que lhe chegaram rumores de uma guerra iminente entre os irmãos D. Pedro e D. Miguel pelo trono de Portugal. A aldeia, porém, parece-lhe pequena e retrógrada, depois da vida numa cidade, e ele sente-se contrariado. São os olhos de Maria da Conceição que vão fazê-lo mudar de opinião... e trazer-lhe dissabores. Gradualmente, começa a acomodar-se à ideia de gerir o património ao lado do pai, enquanto vai conhecendo facetas da terra natal e da própria família de que nunca tivera conhecimento. No entanto, um segredo tenebroso será revelado de forma inesperada e violenta. O destino vai trocar-lhe as voltas e atirá-lo num “tudo ou nada” onde a sua formação moral vai ser decisiva para o levar ao sucesso... ou à desgraça. Lágrimas no Rio é o segundo livro de Manuel Amaro Mendonça, um engenheiro de sistemas multimédia que nasceu em 1965, em São Mamede de Infesta, Portugal, reside no concelho de Matosinhos, já havia publicado, no ano anterior, uma colectânea de treze contos intitulada Terras de Xisto e Outras Histórias (Createspace, 2015) e participa regularmente em obras colectivas de diversas editoras.

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O MUNDO EXCLAMANTE

O MUNDO EXCLAMANTE Autora: Sandra Boveto Ilustrações: Jota Cabral Scortecci Editora ISBN: 978-85-366-4820-0 Literatura infanto-juvenil Formato 15 x 22 cm 60 páginas 1ª edição – 2016 Encomendas: sandrabvt@hotmail.com Página da autora: www.facebook.com/ sandra.bovetodasilveira

«Felipower surpreende-se acordando em um mundo diferente de tudo o que ele já viu. Esse curioso e corajoso menino experimenta uma aventura fantástica, ao lado de companheiros muito peculiares, que o ajudam a desvendar um misterioso universo, repleto de surpresas “exclamantes”! Essa nova experiência provocará nesse garotinho uma destemida curiosidade e um aprendizado significativo para sua vida. Eis alguns pedacinhos dessa aventura: “(...) Felipower tinha um objetivo nesse passeio: reencontrar o losango com a luz no centro, aquele que fizera com que ele voltasse para seu mundo. Mas não seria tarefa fácil encontrá-lo, porque os objetos movimentavam-se constantemente e não havia nada que pudesse indicar o lugar exato do losango. Então, pediu para Feliporquê ajudá-lo a montar objetos. – A gente só precisa juntá-los, Porquê. – Mas, por quê? – Eu não preciso te falar o porquê, Porquê! Porque você verá o porquê, entende? Os meninos começaram a juntar algumas formas, montando novos objetos. Mas nada acontecia. Felipower olhou para o companheiro e levou um susto. Ele estava meio transparente. – Porquê, você está ficando difícil de enxergar! ... – O que… quem é você? – Meu nome é Felipequeno. – Você só pode estar brincando! “Será que o Porquê está no Pequeno?” – pensou Felipower com cara de análise. ... Na natação, durante um mergulho, pensou “Será que existe algum Felipeixe em algum mundo aquático?” E soltou uma gargalhada borbulhante. ... “Metreletrito” era mais uma das expressões inventadas por Felipower. Mas essa palavra formava um conceito próprio composto por três medidas diferentes: tempo, distância e sensação.» Sinopse e citações do livro infanto-juvenil «O Mundo Exclamante», que Sandra Boveto publicou recentemente, no Brasil, através da Scortecci Editora.

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MOÇAMBIQUE, NORTE SANGRENTO Memórias de um ex-combatente 1971/1973

MOÇAMBIQUE, NORTE SANGRENTO Autor: José Teixeira Editora EuEdito ISBN: 978-989-99568-1-0 Depósito Legal: 406299/16 Encomendas: teixeira.jap@gmail.com Página do autor: www.facebook.com/ jose.teixeira.5815255

Durante a Guerra Colonial, ao serviço do Exército Português, o autor deste livro, José Teixeira, combateu três anos no Norte de Moçambique. Entre 1971 e 1973, esteve em três frentes distintas, distritos considerados os mais perigosos da ex-Província de Moçambique. A sua experiência de guerra começou no Distrito do Niassa, onde o terreno pantanoso massacrava tanto quanto o inimigo. Seguidamente o Distrito de Cabo Delgado, a ferro e fogo naquela altura. As emboscadas e a minas matavam e estropiavam diariamente as tropas portuguesas. Por último, o Distrito de Tete, terreno árido, agreste, onde a actividade de guerrilha estava em franca expansão. Sofria-se com a sede e com o calor abrasador. São alguns momentos mais marcantes deste período da sua juventude, passados no isolamento do mato, dos Aquartelamentos e do arame farpado, que José Teixeira deixa como testemunho no seu livro Moçambique, Norte Sangrento, para que não se apague nem se esqueça o esforço, por vezes desumano, a que foram sujeitos todos aqueles que, sendo chamados, lutaram pela Pátria. José Augusto Patrício Teixeira nasceu na ex-colónia portuguesa da Guiné-Bissau, no ano de 1950. Estudou no Liceu Honório Barreto na cidade de Bissau e no Liceu Salazar em Lourenço Marques (Maputo). Fez o Serviço Militar obrigatório em Moçambique, de 1970 a 1973. Foi funcionário bancário em Moçambique e em Portugal. Licenciou-se em Relações Internacionais Culturais e Políticas, pela Universidade do Minho em Braga, cidade onde reside actualmente. Participa regularmente em obras colectivas de várias editoras e é autor de outros livros: «O Espantalho Simão» (Chiado Editora, 2015), «A Fada Dentinho» (Sítio do Livro, 2015) e «A Sereia Luana» (EuEdito, 2016). 101


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LÁGRIMA ARTIFICIAL

LÁGRIMA ARTIFICIAL Autora: Marcella Reis Editora Mindaffair Lda. ISBN: 978-989-8654-82-3 Encomendas: chiella_pt@yahoo.com.br www.issuu.com/almalusa.org Blogue da autora: http://eraumavezapoesiamarcell areis.blogspot.pt

A ideia de fazer o livro Lágrima Artificial partiu de um diagnóstico que um oftalmologista fez aos olhos da autora. Eis as palavras de Marcella Reis, na apresentação (página 5) desta obra poética: «Ele disse-me: “Tens os olhos secos. Não tens lágrimas suficientes, Marcella. Teus olhos precisam de lágrima artificial.” E nessa mesma hora eu pensei para comigo: “Logo eu, uma poetisa e uma pessoa tão sensível, que tenho tanta água na alma, tenho agora os espelhos dela secos? Como posso não conseguir chorar? Por que será que tenho os olhos sempre tão secos e doridos?” E partindo dessa ideia de ter muito sentimento dentro e não conseguir chorar, de existir uma sequidão na alma que carece sempre de água como se ela fosse um poço, de choro falso, verdadeiro, de vários tipos de choros, da temática lágrima também e da ligação que ela tem com os nossos olhos e todos os nossos sentimentos numa única gota como se a lágrima representasse a gota d’água para encher o copo, eu decidi escrever essa obra que está vinculada à lágrima e a visão num sentido mais profundo, que na verdade é apenas uma metáfora que demonstra através da poesia os vários tipos de sentimentos que abrigamos dentro de nós e nesse nosso lado humano que roça o nosso lado mais instintivo.» Marcella Reis é mãe e co-autora do seu maior poema: a sua filha Vallentina. Nasceu em 1984, em Goiânia (Goiás), Brasil, e reside em Portugal há 18 anos, na zona de Sintra. Autora dos livros Era Uma Vez a Poesia... (Chiado Editora, 2012) e O Dia Em Que Pari Minha Mãe (Edições Vieira da Silva, 2013), é Agente Literária, foi distinguida em vários concursos literários, participou em diversas obras colectivas e os seus textos são uma presença regular nas Antologias Sui Generis. Em 2016, fez a sua estreia na Coordenação de obras colectivas, respondendo ao desafio de Isidro Sousa para coordenar Saloios & Caipiras»; logo após, coordenou outros projectos para a Edições Vieira da Silva. 102


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ANTOLOGIAS SUI GENERIS

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

Serão editadas, durante o primeiro trimestre de 2017, novas antologias com o selo Sui Generis, as mesmas que estavam previstas ser publicadas no último trimestre de 2016: «Sexta-Feira 13», uma antologia de Contos Assombrosos recheados de mitos e superstições, «Ninguém Leva a Mal», antologia de estórias ambientadas no período carnavalesco (sob o lema «É Carnaval, ninguém leva a mal!»), «Saloios & Caipiras», uma obra colectiva luso-brasileira dedicada às ruralidades e vivências saloias e

caipiras de dois países irmãos (Portugal e Brasil) e a antologia poética «Torrente de Paixões», que reúne poemas e prosa poética dedicados às paixões. Imediatamente a seguir, serão lançadas «Os Vigaristas», dedicada aos vigaristas, que reúne crónicas, poemas e contos do vigário, e «Devassos no Paraíso», a primeira antologia Sui Generis dedicada à sedução e ao erotismo. As datas de lançamento, ainda não definidas no fecho desta edição, serão brevemente divulgadas pela Sui Generis. 104


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«Saloios & Caipiras» reúne contos, lendas, causos e poesias de três dezenas de autores luso-brasileiros, dedicados às ruralidades e vivências saloias e caipiras de dois países-irmãos: Portugal e Brasil. «Torrente de Paixões», a segunda antologia poética Sui Generis, reúne poemas e prosa poética dedicados às paixões, de quarenta autores lusófonos.

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«Os Vigaristas» reúne crónicas, poemas e contos do vigário dedicados aos vigaristas; «Devassos no Paraíso» reúne contos sensuais e eróticos; os autores participantes são lusófonos, maioritariamente portugueses e brasileiros.

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APRESENTAÇÃO

LÁGRIMAS NO RIO “Avelino perde-se de amores pela bela Conceição, que nutre por ele uma paixão desde a infância, e não tarda a andar «por aí nas bocas do povo». Não obstante, à medida que nos afundamos na leitura, vislumbramos magníficas imagens visuais deste protagonista sensível aos problemas dos varejadores, que «varejam as oliveiras carregadas de água» naqueles montes longínquos que tinham o imponente Marão no limite do horizonte, excelentes descrições da região transmontana banhada por fortes temporais, em que os pobres trabalhadores rurais se dedicam a recolher a azeitona para a produção de azeite agasalhados por intempéries torrenciais. Belas imagens de paisagens agrestes de um Portugal profundo, do ambiente aldeão e das frequentes reuniões na taberna de Covelo, onde se desenrola boa parte da acção. E a riqueza do vocabulário? Perfeitamente adaptada à época e ao povo que habita uma aldeia remota cheia de vida.” POR ISIDRO SOUSA

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onheci a escrita de Manuel Amaro Mentextos para incluir nas minhas obras colectivas. E donça durante um concurso literário, no as pequenas narrativas de Manuel Amaro Menqual ambos participámos na condição de donça que chegavam às minhas mãos surpreendiautores concorrentes. Dentre os imensos trechos am sempre pela positiva. Não só surpreenderam submetidos, o dele desperos meus olhos ávidos como tou-me a atenção... quer deslumbraram outros propela simplicidade, sensibilifissionais do ramo editorial, dade e intensidade, quer ao ponto de ele ter sido pela boa estrutura narrativa distinguido, em finais do ano As descrições pormenorizae o modo inteligente como transacto [2015], com uma das de ambientes, diálogos explorava o mote do certabrilhante classificação num e personagens, verdadeirame. Um laço de amizade concurso literário e, mais estreitava-se entre nós, na recentemente, em Fevereiro mente cinematográficas, mesma época em que ele, deste ano [2016], ter vencique mergulham o leitor arregaçando as mangas e do outro certame similar. O de corpo e alma na trama, recorrendo aos meios porque veio confirmar, sem ventura mais acessíveis que sombra de dúvida, o real transportando-o para univerencontrara disponíveis, num talento deste autor. Um sos nos quais predominam universo tantas vezes inaautor esforçado e dedicado, ruralidades e realidades cessível ou menos transpaque se preocupa em trocar rente como é o editorial, opiniões e ouvir o que oude um Portugal menos decidiu publicar o seu pritros parceiros das letras têm conhecido, mescladas meiro livro: «Terras de Xisto para lhe transmitir, recebe com imagens magnificentes e Outras Histórias». Em pacríticas com humildade e ralelo, enquanto promovia a não se acomoda à sombra de paisagens transmontanas, obra inaugural e sem se da bananeira; porque está das suas aldeias remotas deixar deslumbrar pelo seu ciente de que o caminho a e das gentes simples feito, mantinha participapercorrer é longo e a evoluções, com a humildade que ção do processo narrativo e humildes que as povoam. o caracteriza, noutros proraramente esgotará – essa Tudo isto sem olvidar jectos similares. Foi igualevolução só finaliza quando referências às invasões mente por essa altura, se atinge a perfeição, ou a aquando do lançamento de maturidade absoluta, e pernapoleónicas, um período «Terras de Xisto», que eu feitos dificilmente seremos! conturbado da História passei a organizar antologias Por todas estas razões e literárias, para as quais tive de Portugal, ocorridas mais algumas, aceitei, com o grato prazer de selecciouma satisfação ainda maior, anos atrás. nar contos assinados por redigir estas linhas à laia de este autor. prefácio, para serem incluíCongratulei-me com o das no segundo livro de privilégio de conhecer basManuel Amaro Mendonça. tante melhor as suas criações literárias. Fi-lo com um olhar muito mais atento, já que enquanto lia também avaliava, porque visava seleccionar bons 110


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Embora lesse o manuscrito de «Lágrimas no Rio» com o pensamento focado no prefácio, deliciei-me com a leitura. E não tenho dúvidas de que esta nova obra de Manuel Amaro Mendonça irá deliciar todos os leitores que apreciam uma boa narração dramática. Sim, uma narrativa dramática. Porque estamos perante um drama que atinge toda uma população rural, algures numa aldeia transmontana, durante a quadra natalícia do longínquo ano de 1830. Um facto bastante peculiar: esta novela, que apresenta um toque ligeiramente camiliano e se desenrola numa aldeia remota dos confins de um Portugal de séculos passados, situada nas margens do Rio Douro, principia e finaliza os seus capítulos com eventos funerários. No primeiro capítulo, lê-se: «O cheiro a incenso, cera e fumo bateu-lhe forte, junto com o bafo quente das braseiras e o som monocórdico de um interminável rosário. As dezenas de candelabros espalhados pela nave do templo tremeluziam com as velas amarelas escorrendo cera. Todos os bancos estavam cheios e havia muitas pessoas em pé, encostadas às paredes. Alguns olharam-nos com curiosidade. No centro, bem em frente ao altar, um caixão de madeira crua continha o corpo amortalhado de um homem com fartas barbas». Uma descrição magistral dessas mesmas ambiências iniciando a narrativa, outra singularidade que destaco nesta obra antes de prosseguir: as descrições pormenorizadas de ambientes, diálogos e personagens, verdadeiramente cinematográficas, que mergulham o leitor de corpo e alma na trama, transportando-o para universos nos quais predominam ruralidades e realidades de um Portugal menos conhecido, mescladas com imagens magnificentes de paisagens transmontanas, das suas aldeias remotas e das gentes simples e humildes que as povoam. Tudo isto sem olvidar referências às invasões napoleónicas, um período conturbado

da História de Portugal, ocorridas anos atrás («Andou pelas fraldas do Marão atrás dos franceses com as milícias do Silveira. Combateu na defesa de Amarante e dizem que matou muitos jacobinos.»), ou mesmo os linguajares daquele povo simplório, «‘Inda “hás des” ficar “arrepesa” e depois vai ser tarde», verdadeiro bálsamo que nos conduz às entranhas do Portugal profundo. Entre um e outro desses funestos eventos, uma sucessão de inusitados acontecimentos. De acordo com as palavras do autor, o protagonista, Avelino Montenegro, filho do proprietário mais abastado de São Cristóvão do Covelo, regressou do Porto, onde estudava as “ciências necessárias para gerir o património da família”, à sua aldeia natal, cumprindo ordens paternas que zelavam pela sua segurança, já que terão chegado aos ouvidos do patriarca rumores de uma iminente guerra civil, entre Dom Pedro e Dom Miguel, pelo 111


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trono de Portugal. O jovem fidalgo, habituado à agitação boémia da cidade portuense, na qual sopravam os ventos do liberalismo, mostra-se enfastiado com a vida pacata da aldeia, porém, os lindos olhos azuis de uma camponesa que trabalha como lavadeira fazem-no repensar as suas alternativas. «Ele aproveitava as visitas para trocar umas palavras com Conceição e deixarse perder pelos seus belos olhos azuis... no “escano” da cozinha, à lareira, debaixo do olhar atento da mãe», «O rapaz anda embeiçado pela Ceição do falecido Varejão», «– E agora, o menino também anda por aí nas bocas do povo. – Eu?!? – Sim, pois, essa Maria dos Anjos vive mesmo ao lado da Ana e da Conceição. E não passa um dia que as visitas do menino a casa do Varejão não sejam para aí “badaladas” por essa víbora», «Ora porque ia levar o dinheiro prometido pelo pai, ora porque ia saber se precisavam de alguma coisa, outras vezes “só porque ia a passar”, nunca um Montenegro tantas vezes calcorreara aquela parte da aldeia» e, por último, «Mantiveram-se calados olhando as botas impecavelmente engraxadas de Avelino darem passos simultâneos com as gastas e enlameadas socas de madeira da jovem». O autor, na sua divulgação, acrescenta: e trazem-lhe dissabores! Ao jovem fidalgo, pois

Mais importante do que a trama amorosa é a sucessão de estranhos incidentes que envolve não só as vidas dos protagonistas, mas de toda uma comunidade. Situações dramáticas que despoletam com o que parece ser um simples terramoto, que aparentemente apenas assusta com o tilintar de loiças e abanar de paredes, mas que se revelará mais catastrófico do que meramente assustador. E revelar-se-ão, na sua origem, causas bem mais tenebrosas do que uma simples manifestação

da força da Natureza. Já que, em determinado momento da trama, entre a preocupação de socorrer feridos e dar sepultura aos mortos, descortinar-seá um segredo nefasto com contornos diabólicos, algo sinistro que se manifesta quando vislumbra a luz do dia.

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claro. De facto, estes excertos transmitem: Avelino perde-se de amores pela bela Conceição, que nutre por ele uma paixão desde a infância, e não tarda a andar «por aí nas bocas do povo». Não obstante, à medida que nos afundamos na leitura, vislumbramos magníficas imagens visuais deste protagonista sensível aos problemas dos varejadores, que «varejam as oliveiras carregadas de água» naqueles montes longínquos que tinham o imponente Marão no limite do horizonte, excelentes descrições da região transmontana banhada por fortes temporais, em que os pobres trabalhadores rurais se dedicam a recolher a azeitona para a produção de azeite agasalhados por intempéries torrenciais. Belas imagens de paisagens agrestes de um Portugal profundo, do ambiente aldeão e das frequentes reuniões na taberna de Covelo, onde se desenrola boa parte da acção. E a riqueza do vocabulário? Perfeitamente adaptada à época e ao povo que habita uma aldeia remota cheia de vida. No entanto, deixo o alerta: desengane-se o leitor que acredita encontrar neste livro uma aventura romântica, ou um daqueles dramalhões povoados de amores contrariados que fazem chorar as pedras da calçada, como acontece frequentemente nas nove-


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las camilianas. Claro que o leitor conhecerá o amor que brota nos corações sensíveis do fidalgo e da lavadeira, um sentimento genuíno que beneficia da forte oposição da orgulhosa e preconceituosa matriarca dos Montenegro. Mas adianto já o triunfo desse amor sobre quaisquer preconceitos. Não é intenção do autor destacar simplesmente uma estória de amores e desamores nesta obra. Isso seria muito redutor! Mais importante do que a trama amorosa é a sucessão de estranhos incidentes que envolve não só as vidas dos protagonistas, mas de toda uma comunidade. Situações dramáticas que despoletam com o que parece ser um simples terramoto, que aparentemente apenas assusta com o tilintar de loiças e abanar de paredes, mas que se revelará mais catastrófico do que meramente assustador. E revelar-se-ão, na sua origem, causas bem mais tenebrosas do que uma simples manifestação da força da Natureza. Já que, em determinado momento da trama, entre a preocupação de socorrer feridos e dar sepultura aos mortos, descortinar-se-á um

segredo nefasto com contornos diabólicos, algo sinistro que se manifesta quando vislumbra a luz do dia, envolvendo a família Montenegro em particular e trazendo consequências devastadoras para a população em geral. E de repente, quando o amor entre o fidalgo e a camponesa parece encaminhar-se para o enlace esperado, eis-nos perante uma luta titânica do Bem contra o Mal... Podia levantar mais o véu sobre a teia tecida e bem urdida por Manuel Amaro Mendonça neste «Lágrimas no Rio», que, de facto, faz jus ao título, todavia, prefiro reservar as surpresas e respectivo desfecho para a vossa leitura. A leitura de uma ruralidade profundamente marcada pelas agruras do tempo e da vida, presentes da primeira à última linha, cujos eventos funestos e fenómenos inusitados farão, naquela aldeia das margens do Douro, verter muitas lágrimas no rio. Uma leitura que (estou convicto disso) será deveras prazenteira!  Prefácio de Isidro Sousa incluído em Lágrimas no Rio.

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REACÇÕES

ALMAS FERIDAS Fixem este nome: Suzete Fraga. É uma mulher do Norte... uma mulher batalhadora... Não desiste... a sua resiliência é o seu poder. Escreve... e fá-lo muito bem. Penso mesmo que é um caso sério de talento e criatividade. Acabou de editar o seu primeiro livro a solo: ALMAS FERIDAS. Terminei de lê-lo ontem. Uma escrita fluída... muito correcta... escorreita... Às vezes um pouco enigmática, prende-nos do princípio ao fim da narrativa. Esta segue um fio condutor... é criativa, mas coerente e espontânea. Em tudo o que escreve, transparece a sinceridade com que o faz. Vivências aliadas a uma certa dose de ficção... uma mistura homogénea que resulta num produto literário de qualidade. Muito bem prefaciado por Isidro Sousa, que reconhece na autora a qualidade que faz os grandes: humildade. A Suzete Fraga é humilde e aceita correcções... O seu principal fito é melhorar... a mediocridade não a seduz. Ainda bem! Para ti, Suzete, minha amiga das letras e do coração, felicito-te por quem és e pelo que és. Não deixes de escrever! Apetece-me fazer-te um elogio que não faço a qualquer um: TU ÉS TÃO LIVRO! LUCINDA MARIA 15-01-2017

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“ALMAS FERIDAS” Almas feridas de dor e incerteza, Em amálgama de duras vivências, Invadindo corações... na dureza... Na tortura de sofrerem carências. Palavras magistralmente usadas Transportam sentimentos/quereres, Uma escrita fluída... frases gradas, Que nos inspiram, dão mais saberes! Tudo este livro contém... e a autora É, sem dúvida, uma mulher lutadora Que merece os louros pela qualidade! Ao ler, vesti a pele das personagens... Mesmo parada, embarquei em viagens... Nos contos contados com genuinidade! Lucinda Maria


“Da agradável série Amigos “de mentes”, eis mais uma obra especial, que atravessou o Atlântico antes de chegar às minhas mãos. A escritora portuguesa Suzete Fraga é um talento Sui Generis, em mais de um sentido. Nossa amizade se fez pelo vínculo com Isidro Sousa, responsável pelo selo de antologias Sui Generis. E Suzete é sui generis também na sua habilidade literária. Ela escreve com uma naturalidade admirável. Seus textos, além de muito bem redigidos, mostram uma escrita corajosa e vibrante. Percebem-se pinceladas do conhecimento de quem não tem preguiça de pesquisar e estudar, dedicando energia ao que faz. Você é uma escritora de alma e não apenas de vontade, minha amiga. Adoro seus textos!” Sandra Boveto


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MAR EM MIM resulta de um conjunto de emoções sentidas perante a beleza das duas ilhas – Madeira e Porto Santo – onde nasci e sempre vivi, e do fascínio que o Mar e a Natureza sempre exerceram em mim desde a mais tenra idade. De quando as brincadeiras ao ar livre eram interrompidas para contemplar o pôr-do-sol... todo aquele deslumbramento das árvores recortadas no horizonte em ouro.

O mar como elo fundamental para quem vive nas ilhas, uma vez que é necessário transpô-lo para vencer as encostas íngremes da solidão. O mar amigo que fascina e atrai, mas também o mar adverso que condiciona, interpondo-se em toda a sua força e imponência e que é preciso respeitar. Os temas do livro são variados. Apesar de o Mar e a Natureza em geral serem os focos principais, falo também sobre livros e a importância da leitura nas nossas vidas, sobre a pobreza e a situação de miséria que ainda existe no mundo, sobre as crianças que estão sempre presentes em quase tudo o que escrevo, e também sobre o amor, a amizade, a música...

Nascida e criada junto à Natureza, a beleza e a diversidade das flores, os pinheiros altos, os plátanos, as acácias e as giestas em flor fizeram parte da minha infância. O canto dos pássaros, a chuva, a Lua formosa e altiva e as mudanças operadas na paisagem em cada estação, especialmente no Outono, e o mar sempre presente, desde sempre...

Rosa Marques

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SÁTIRA

A ESTÁTUA DE SAL “A estátua de sal que está perto do Mar Morto seria a mulher de Lot que, fugindo de Sodoma, olhou para trás, contrariando as instruções dadas pelo Senhor. Mas este Senhor! Não conhece as mulheres! Somos curiosas e não aceitamos ordens!!! Também o coitado não teve mãe, nem irmãs, nem mulher... Como pode saber algo sobre nós? Mesmo assim, deveria ter um pouco mais de cuidado com o que faz. Tomara que o Senhor não me castigue e me transforme em uma estátua de sal! Que coisa horrível! Se é para passar a eternidade como estátua, prefiro ser estátua de ouro branco! Muito mais chique! Ou ao menos de chocolate, assim pode ser que algum bonitão me lamba e me leve para morar com ele. Que delícia ser lambida todos os dias!!!” POR GUADALUPE NAVARRO 119


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Tomara que o Senhor não me castigue e me transforme em uma estátua de sal! Que coisa horrível! Se é para passar a eternidade como estátua, prefiro ser estátua de ouro branco! Muito mais chique! Ou ao menos de chocolate, assim pode ser que algum bonitão me lamba e me leve para morar com ele. Que delícia ser lambida todos os dias!!! Hum... Melhor voltar à estória da coitada da mulher de Lot. Bem, continuando... O Senhor decidiu castigar Sodoma e, não satisfeito, resolveu destruir Gomorra. Ah, Senhor, porquê tanta raiva?!? Devias procurar yoga, terapia ou qualquer outra coisa para controlar e entender esta raiva, Senhor. Olha a pressão! Já não és tão jovem assim. Aliás, qual é a tua idade? Desculpe, é falta de educação perguntar a idade dos outros. Voltando ao que realmente interessa: parece que Lot ocupava um lugar importante na cidade de Sodoma. Provavelmente, era juiz, e talvez seja por isso que tinha fama de homem justo. Dois anjos chegam (Anjos... Queria ver um chegar aqui, neste meu quarto, e me ajudar a escrever este bendito poema!!!) e encontram Lot que, temendo que os homens da cidade atacassem os anjos, os

Então, o Senhor fez cair do céu sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo, enviada pelo Senhor. (Génesis 19, 24)

O

que seria dos poetas sem madrugadas insones vendo a noite morrer? É nesta espera que nascem alguns dos mais belos poemas já escritos... Cinco da manhã! Mais uma noite morreu... Que coisa triste! Bem, vou parar de gravar estas bobagens e tentar dormir. Mas, e o poema sobre a estátua de sal? Vou repassar a estória e tentar encontrar inspiração. A estátua de sal que está perto do Mar Morto seria a mulher de Lot que, fugindo de Sodoma, olhou para trás, contrariando as instruções dadas pelo Senhor. Mas este Senhor! Não conhece as mulheres! Somos curiosas e não aceitamos ordens!!! Também o coitado não teve mãe, nem irmãs, nem mulher... Como pode saber algo sobre nós? Mesmo assim, deveria ter um pouco mais de cuidado com o que faz. 120


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convida a passarem a noite em sua casa... Lhes oferece um banquete. Depois que os anjos encheram a pança, os homens da cidade (Também sem televisão, sem internet, os homens não tinham muita distração...) foram até à casa de Lot e queriam que ele lhes entregasse os anjos para fazerem uma algazarra. Ah, este povo de Sodoma poderia ter sido mais educado: bastava convidar os anjos para tomarem umas cervejas, conversar e saber se eles estavam interessados em algazarras. Como os homens insistiam que queriam os anjos, Lot quis fazer acordo com eles e entregar as filhas... Será que eu entendi bem?!? Para proteger os anjos, Lot quer entregar as filhas para os homens se divertirem com elas!!! Que coisa mais estranha!!! Talvez fosse um costume: proteger os hóspedes de qualquer incômodo... Vai ver que era a etiqueta da época. Seja como for, é muito estranho! Bem, como os homens não iam embora, os anjos lançaram um raio que os deixou temporariamente cegos e tontos. Gostei desta “arma”. Todos deveriam ter um raio

desse tipo, para se protegerem dos assaltantes! Ah, mas não consigo esquecer uma coisa: porque Lot quis entregar as filhas?!? Será que era machismo? Antigamente, nós mulheres não valíamos muita coisa, éramos consideradas propriedade de pais ou maridos. Bem, até hoje em dia, em alguns lugares, a situação não mudou muito. Ih... já estou me desviando do assunto. Ou será que as filhas de Lot queriam participar da algazarra? Até eu tenho fantasias de fazer uma “festinha” com vários homens. Ora, quem nunca teve uma fantasia deste tipo que atire a primeira pedra!!! Ih, quem disse isso foi Jesus... Muito tempo depois de Lot, estou misturando as estórias! Este Lot, suas filhas e os anjos deixam qualquer um confuso! Mas, Senhor... Onde andavas que não evitaste esta situação?!? Afinal de contas, Senhor, tu mandaste os anjos. Estavas tirando um cochilo?!? Estavas vendo algum jogo de futebol ou coisa que o valha?!? Querias ver o circo pegar fogo, não é, Senhor? Confessa! Tu gostas de uma confusão, não é? Desconfio até que és voyeur. Sim, porque te preocupas tanto com a vida sexual

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dos outros... Andas espiando o que os outros fazem na cama... Tudo bem, Senhor, não há nenhum crime nisso! Todos têm um lado voyeur, porque tu serias diferente? Mas, e a mulher de Lot?! Onde estava quando tudo aconteceu? Será que, de tanto cozinhar para os anjos, ficou exausta e desmaiou? É bem provável que ninguém lhe desse muita atenção. Coitada... com um marido que preferia salvar os anjos e entregar as filhas! Ou com umas filhas que queriam se divertir com todos os homens da cidade! Ah, seja qual tenha sido a verdade, pobre mulher... Nem nome tem! Senhor, tu és um machista da pior espécie!

De madrugada, os anjos advertem Lot que a cidade seria destruída por conta dos excessos de seus habitantes... Senhor, precisavas destruir a cidade inteira? E as mulheres, as crianças? E os cachorros?!? Bem se vê que nunca tivestes um cãozinho de estimação, Senhor! Se tivesses tido um, não poderias destruir um ser que expressa tanto amor em seu olhar. E as crianças, que culpa poderiam ter? Ah, Senhor, não te bastava Sodoma?!? Tinhas que destruir Gomorra?!? Acaso, andavas mal-humorado? Ou estavas de ressaca? Senhor, Senhor, Senhor, porquê tanta raiva?! Insisto!!! Tens que fazer yoga ou terapia para controlar esta tua raiva, elaborar teus traumas e aprender a conviver com tuas angústias sem descontar nos outros! O povo destas duas cidades pode ter exagerado... Talvez com uma conversa podias chegar a um acordo sem ter de ser tão radical, não achas, Senhor? Ih, eu falando com o Senhor?!? O que não se faz para conseguir inspiração para escrever um poema! Mas... sou teimosa e me meti neste Concurso de Poesia. Então, vamos ao que realmente interessa! Os anjos avisaram Lot que o Senhor destruiria as cidades para castigar o povo que andava exagerando em suas folias. Lot foi avisar os noivos de suas filhas que precisavam sair da cidade. Os rapazes acharam que Lot estava embriagado e, não acreditando, se recusaram a partir. Estranho seria se acreditassem na estória... Talvez tivessem sabido que Lot quis entregar suas noivas para os homens da cidade... Ou, quem sabe, não andavam desconfiados que suas noivas queriam mesmo se divertir com os homens da cidade? Mas que noivos mais chatos!!! Nem casados eram e já queriam mandar na vida das noivas!!! Ora, até parece que eles não se divertiam com outras mulheres! Bem, os noivos não foram atrás da conversa de Lot, preferindo ficar na cidade. Sem esperar o dia começar, os anjos avisaram Lot que deveriam partir... Senhor!!! Ninguém te ensinou que é falta de educação importunar os outros antes das dez da manhã?!? Por quê tanta

Os anjos avisaram Lot que o Senhor destruiria as cidades para castigar o povo que andava exagerando em suas folias. Lot foi avisar os noivos de suas filhas que precisavam sair da cidade. Os rapazes acharam que Lot estava embriagado e, não acreditando, se recusaram a partir. Estranho seria se acreditassem na estória... Talvez tivessem sabido que Lot quis entregar suas noivas para os homens da cidade... Ou, quem sabe, não andavam desconfiados que suas noivas

queriam mesmo se divertir com os homens da cidade?

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pressa? Ora, coitados! Serem destruídos sem tomar café da manhã! Isso é maldade, Senhor!!! Aliás, como seria o café da manhã daquele povo? Será que comiam ovos mexidos? Hum... Que fome!!! Bem que podias ter esperado o povo acordar, se vestir e tomar café para destruí-los, não é, Senhor? Lot, a princípio, demora em obedecer aos anjos e demora... Hummmm... Tenho certeza que quem demorou não foi Lot! Foram sua mulher e filhas que demoraram! Não há coisa mais difícil para nós, mulheres, decidir qual roupa levar em uma viagem! Imagina!!! Como uma mulher vai poder decidir o que levar, ao saber que sua cidade será destruída?! Senhor, Senhor, Senhor... O que tens contra nós, mulheres? Os anjos forçaram Lot, sua mulher e suas filhas a não levar coisa alguma! Coitados!!! Nem uns biscoitos, nem um pouco de água?!? Senhor, se gostas de fazer jejum ou sofres de anorexia, isso não é razão para fazer os outros passar fome e sede!!! Ora, que falta de consideração! És um egocentrista, Senhor! E não contente com isso, mandas os anjos proibir todos de olharem para trás!!! Que diabos de anjos mais perversos são estes?!? Parecem capetas em vez de anjos!!! Anjos devem ser bonzinhos, bonitinhos e não dois chatos como estes!!! E lá foram eles... fugindo da destruição, sem biscoitos para matar a fome, sem água para beber... Senhor, sabes o que estou começando a pensar? Tens falta do que fazer!!! Por isso, tens essas manias de voyeur, essas raivas... devias arrumar uma ocupação. Ou então, relaxar... livros de colorir ajudam a combater o stress... ou então, fundar um abrigo para cãezinhos sem lar e ajudar a procurar uma nova família para estes bichinhos. Garanto que te sentirias feliz fazendo algo de bom por alguém. No caso de ajudar cãezinhos, estarias dando alegria a uma família, além de salvar da fome e da solidão um ser que tu criaste. Ora, não é por ter quatro patas que um cachorro merece

menos atenção! E tu, Senhor, quantas patas tens? Sei não... Se fosses parecido com um urso panda, serias tão fofo! Por que não te juntas a alguma ong que luta pelos pandas? Coitados, estão se extinguindo!!! Bem que poderias ajudar a evitar este absurdo! Viste como há coisas mais importantes e agradáveis para fazer em vez de ficar destruindo cidades?! No meio do caminho, a coitada da mulher de Lot não resistiu à curiosidade e decidiu olhar para trás... Nada de mais, Senhor! Precisavas castigar a coitada transformando-a em uma estátua de sal?!? Ah, Senhor! Que estátua mais feia tu fizeste! Vi as fotos do que dizem ser a estátua! Sim, aquele espeto de pedra perto do Mar Morto. Que coisa horrorosa!!! Devias ter feito um curso de Escultura, Senhor! Que falta de respeito com a pobre criatura!!! Sei, ela desrespeitou teu conselho de não olhar para trás, mas era mulher!!! Como já te disse, somos curiosas, não gostamos de ordens... Pobre mulher!!! Passar a eternidade no meio do deserto sozinha, sem ter ninguém para conversar. Isso é maldade, Senhor! Tu deves ser bom e compreensivo!!! Confessa! Estavas malhumorado! Destróis duas cidades, transformas uma pobre mulher em uma estátua espantosa... Hum... Se fosses mulher, diria que estavas com TPM! Espero que tenhas te arrependido de tanta maldade.

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Lot e suas filhas continuaram sua fuga de SoPois é, Senhor... Por causa de tuas destruições, doma... O que será que aconteceu com os anjos? Lot e suas filhas acabaram em uma caverna. Será Devem ter voltado para o céu, ou então foram que acharam alguma que não tivesse morcegos? relaxar em algum spa... Estes anjos deviam ser uns Tomara!!! E que não fosse muito úmida e nem chatos!!! Não consigo imaginá-los relaxando, famuito fria... Coitados!!! Tomara que não tenham zendo massagens, sauna, trapegado uma pneumonia. Que tamentos para a pele em alserá que comiam?!? Será que gum spa! Devem ter ido amoas filhas de Lot sabiam coziAh, Senhor! Que estátua lar outro pobre coitado. nhar? Não acredito. Bem, vou Lot e suas filhas foram modar uma conferida no tal Gêmais feia tu fizeste! rar em uma pequena cidade nesis. Ainda bem que tem a Vi as fotos do que chamada Segor. Lá ficaram um versão online. É só procurar dizem ser a estátua! Sim, tempo e depois, sem mais no Google... Ah, Senhor! O nem menos, se mudaram para Google deveria ser canonizaaquele espeto de pedra uma caverna. Que coisa mais do! Em vez de ficar canoniperto do Mar Morto. Que doida! Porque morar em uma zando tanta gente sem “eira coisa horrorosa!!! Devias caverna?!? Senhor, será que nem beira”, devias falar com também destruíste Segor?!? Francisco para fazer do Gooter feito um curso de Pode ser, mas como consegle um santo. São Google!!! Escultura, Senhor! guiste esconder isso? Bem, Isso sim, seria algo relevante Que falta de respeito não vou ser injusta contigo, para a Humanidade! Afinal de Senhor! Vai ver que os alucontas, Senhor, nem todo com a pobre criatura!!! guéis estavam muito caros em mundo é onisciente como tu! Sei, ela desrespeitou Segor e Lot não tinha como Deixa ver o que aconteceu teu conselho de não olhar pagar um apartamento... Ou, na caverna... Mas... Será que então, ele e as filhas se meteeu estou entendendo bem?!? para trás, mas era mulher!!! ram em algum tipo de confuNão é possível! Estas filhas de Como já te disse, somos são... Sabe-se lá o que se pasLot! Senhorrrrr, coitado do curiosas, não gostamos sa na cabeça de alguém, deLot! Foi sexualmente abusado pois de ter visto a mulher e a pelas próprias filhas!!! As esde ordens... Pobre mãe virar estátua de sal! Com pertas embriagaram o velhote mulher!!! Passar certeza, devem ter ficado pere o seduziram! Será que ao a eternidade no meio do turbados. Viu, Senhor, o que menos lhe deram um bom faz nas vidas das pessoas?!? vinho?!? Ressaca de vinho deserto sozinha, sem ter Bem, tenho que tentar te enruim é terrível... Senhor, estas ninguém para conversar. tender sem te julgar... Acho garotas mereciam uma surIsso é maldade, Senhor! que precisas de ajuda. Não tira!!! Homem está difícil no veste mãe, nem pai, nem inmercado (aliás, Senhor, bem fância. Esse negócio de seres que poderias dar um jeitinho onipresente, onipotente e opara acabar com a seca de nisciente te fez mal. Não tens limites. Não te imhomem que está acontecendo, hein?), mas abusar portas com o outro. Fazes o que te dá na telha e do pai é demais. Que vinho será que deram para os outros que se danem! Senhor, procura um teele beber? Tinto, branco, rosé? Merlot, Cabernetrapeuta, vai ser bom para ti e para todo mundo. Sauvignon? Que importância tem isso?! Nem sei 124


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mais o que pensar! Parece que Lot nem se deu conta do que fez com as filhas... Alto lá! Quando se bebe (disso posso falar com conhecimento de causa) não é verdade que não se sabe o que se faz, apenas o que se faz não parece ser tão errado... Ih, mas, assim sendo, Lot sabia o que fazia! Senhorrrr, me acode que vou ter um troço!!! Ah... Tu sabias que isso aconteceria! Afinal de contas, és onisciente! Achas isso certo?!? Bem, quem sou eu para questionar tuas decisões? Mas não há muita lógica nisso. Destróis duas cidades por causa das folias de seus povos e permites que Lot e suas filhas façam suas estripulias. Ora, ainda bem que a coitada da mulher de Lot virou estátua de sal para não ver isso!!! Agora, vou tentar dormir um pouco e, depois, tentarei escrever este bendito poema sobre a estátua. Estou chateada contigo, Senhor! Mas não se preocupe, daqui a pouco passa. Quem

sabe, não podemos ficar amigos? Sinto que precisas de amigos sinceros e desinteressados. Adorarte, idolatrar-te, é fácil. Entender-te, questionar-te, é difícil! Até mais tarde, Senhor. *** Ah... Que horas serão? Duas da tarde!!! Tenho de ir para a minha aula de pilates... Senhor, devias fazer pilates. É bom para a coluna, para a postura... Em vez de ficar maquinando destruições, espiando a vida dos outros, devias te preocupar mais com tua saúde! Te dei as dicas. Cabe a ti decidir o que fazer. Sabe, acho que quero ser tua amiga, Senhor. Amiga de verdade! Sem nada de adoração, de te achar divino... Apenas um ser que precisa de respeito e amor. Aceitas? Hummm, me deu uma vontade de escrever o poema sobre a estátua... Consegui! Escrevi um 125


Ele estava revoltado com a morte que

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teve! Levou um coice da égua que

adorava. A coitada se assustou com poema antes de tomar meu café-almoço. Isso sim, é um milagre! Vai ver que tu me deste uma mãozinha, Senhor. E bem que poderias me dar uma ajudinha para ganhar o concurso! Não, há gente que precisa mais de ti. E tu, Senhor, em vez de ficares destruindo cidades, castigando e julgando os outros, devias ajudar e amar todos pois, afinal de contas, esta é a tua verdadeira obrigação. Hum... Vou reler o poema para ver se está bom.

um escorpião e saiu dando coice. Jogou o pobre garoto para bem longe. Deu azar de bater a cabeça em uma pedra. Já dizia um poeta: “No meio do caminho tinha uma pedra...” Perguntei a ele se era verdade que Carlos V queria trocar a noiva portuguesa pela viúva francesa do avô. Sabia dessa

A MULHER DE LOT

história, quer dizer... sabia que Carlos andou se divertindo com a avó postiça,

Cravada na pedra Não deixas que de ti Se esqueçam...

parece que tiveram até uma filha.

Mulher Coração pulsante no Peito Sangue correndo Pelo corpo Viraste o rosto Vendo o que não Era para ser visto

Ih... Já fazem duas semanas que enviei o poema da estátua e ainda não recebi nenhuma resposta. Sei lá, essa minha mania de tentar ser visceral em tudo que escrevo às vezes me atrapalha. Já me disseram que tenho de parar com a mania de querer imitar Florbela, que não deveria ler tanto Rimbaud... Com certeza, o meu poema não foi classificado. Vou continuar escrevendo, vai ver um dia acerto a mão e escrevo um poema que passe em alguma antologia. Mas que barulho é esse? Parece que vem da sala. Tomara que seja um fantasma! Eles são tão solitários... Querem alguém para conversar. E eu adoro conversar! Uma dessas madrugadas, apareceu um meio revoltado. Queria me assustar, mas como já conheço todos os truques, desistiu. Conversámos por horas... Era um garoto que foi pajem na corte de Carlos V. Foi uma sorte ele ter aparecido por aqui! Justo agora que começou a série sobre Carlos... Ele estava revoltado com a morte que teve! Levou um coice da égua que adorava. A coitada se assustou com um escorpião e saiu dando coice. Jogou o pobre garoto para bem longe. Deu azar de bater a cabeça em uma pedra. Já dizia um poeta: “No meio do caminho tinha uma pedra...” Perguntei a ele se era verdade que

Em estátua de sal Foste transformada Tal castigo Te salvou de ver O que mulher alguma Suportaria ver: Filhas nascidas de Tuas entranhas Conceberem filhos com O próprio pai! Mulher de sal De triste sorte A eternidade É ínfima Comparada à dor Que não te Atingiu 126


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Carlos V queria trocar a noiva portuguesa pela viúva francesa do avô. Sabia dessa história, quer dizer... sabia que Carlos andou se divertindo com a avó postiça, parece que tiveram até uma filha, mas não pensei que ele quisesse acabar com o noivado! O pajem fantasma me contou que foi verdade! Carlos realmente se apaixonou por Germaine de Foix e pensou em ficar com ela. Mas como não ficaria bem se casar com a viúva do avô, casou com a bela Isabel de Portugal. Bem, o pajem fantasma agora é meu amigo. Adoro quando ele aparece e me conta tudo que se passava na corte imperial... Tem um vulto não muito grande no meio da sala. Será um fantasma anão? Um duende? Vou ligar a luz. Não acredito!!!... Nossa!!!... Que pacote mais lindo! Vermelho com uma fita branca! Vou abrir... Ah!!! Não acredito... Ele conseguiu!!! Que coisa mais linda! Vou mandar um WhatsApp para ele... Senhor, viste como deu certo?!? Era só procu-

rar um curso, mesmo online, que ias poder fazer esculturas. Adoreiiii a coruja!!!... Essa vai ter um lugar especial na minha coleção e no meu coração. Porque foi feita com carinho e esforço. És um artista nato, precisavas umas dicas e trabalhar com amor! Tenho certeza que vais conseguir fazer uma estátua da mulher de Lot muito melhor do que aquela que está no Mar Morto. E não te preocupes como vais fazer a troca das estátuas. Qualquer problema, Francisco resolve! Como vai a dieta? Já sabes, tens que te cuidar! Tua pressão melhorou depois que procuraste um professor de yoga. Agora, só falta aceitar fazer terapia. Sei que não é fácil, mas tens toda a eternidade para te convencer de que precisas de terapia! Até. Beijos    Primeiro texto do livro Decifra-me... Ou Devoro-te! Incluído também na antologia A Bíblia dos Pecadores.

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Participe nesta Antologia Sui Generis de Contos Policiais Regulamento disponĂ­vel em http://letras-suigeneris.blogspot.pt


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ANTÓNIO PEREIRA DA COSTA 1901-1983

A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E CULTURAL DE UM PORTUGUÊS NA ARQUITETURA EMPÍRICA NA AMAZÔNIA “No Estado do Amapá a importância de António Pereira da Costa é singular porque, sem conhecimento científico e com o apoio de uma equipe de trabalhadores da construção civil, ergueu a cidade em sua estrutura urbana, sendo um dos maiores arquitectos empíricos da Amazônia, e foi um dos fundadores do Conselho de Engenharia e Arquitetura dos estados do Pará e Amapá. Sendo o responsável pela construção das principais Escolas, dos Hospitais, da Sede da Justiça, antigo Fórum, de bustos de personalidades ilustres, de centenas de ornatos em obras públicas e uma das principais que pertence ao cancioneiro literário popular.” POR NECA MACHADO Uma das maiores Pesquisadoras de sua obra

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m 1 de junho de 2012, comemorou-se o centenário de uma das personalidades mais expressivas do Amapá. Janary Gentil Nunes, que nasceu em 1 de junho de 1912 na cidade de Alenquer, Estado do Pará, governou o Amapá por 13 anos; foi nomeado como o Primeiro Governador do Território Federal do Amapá através do Decreto-Lei nº 5.839 de 21 de setembro de 1943, chegou ao território em um avião da Força Aérea Brasileira no dia 20 de janeiro de 1944. O ex-território do Amapá possuía, na época, uma população de 4.192 pessoas. Janary Gentil Nunes foi um desbravador, um estadista que desenvolveu o Amapá, era um visionário, tido por alguns como déspota, mas era inegável a sua importância ao Estado. Morreu jovem, aos 70 anos de idade, no Rio de Janeiro, no dia 15.10.1982. Porém, uma das mais expressivas personalidades que colaborou com o desenvolvimento estrutural do Amapá em seu governo foi o português António Pereira da Costa. Fui amiga de seu filho Costinha, que me delegou a exclusividade de publicar sua biografia.

Joaquim Pereira da Costa e Maria Rosa Costa. Seu pai, integrando um grupo de artistas imigrantes europeus, portugueses e italianos, chega ao Rio de Janeiro na segunda década dos anos de 1900 com o objetivo de executar trabalhos em sua arte, que era escultor e estucador, naturalizandose brasileiro. Com o falecimento de sua mãe, António Pereira da Costa chega ao Brasil aos treze anos de idade, em 24 de setembro de 1914, onde passou a ajudar seu pai na execução de ornatos na cidade de Belém do Pará, em obras no Palacete Bolonha. Percebendo que precisava de aperfeiçoamento técnico na arte de ornatos, António Pereira da Costa foi para a cidade do Rio de Janeiro, onde se matriculou na Escola de Belas Artes e onde permaneceu de 1917 a 1920, quando por falta de recursos teve que abandoná-la e retornar a Belém do Pará. Antes, porém, executou trabalhos artísticos no Prédio do Rio Cassino, dentro do Passeio Público, ao lado do Palácio Monroe, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1921 viajou para a cidade de São Luiz no estado do Maranhão, com a incumbência de esculpir a imagem de Nossa Senhora da Conceição no frontal da Catedral da cidade. Ainda em 1921, juntamente com seu pai, foi à cidade de Manaus, onde os dois realizaram trabalhos de restauração na fachada do Teatro Amazonas.

ANTÓNIO PEREIRA DA COSTA Nasceu em 17 de fevereiro de 1901, em Valadares, Vila Nova de Gaia, em Portugal, filho de 130


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António Pereira da Costa casa-se em 1922 com a pernambucana Lydia Bezerra da Silva, com quem teve oito filhos: Erotylde, José, Elza, Maria Rosa, Joaquim Agostinho, Antônio Filho, Mário e Terezinha. Em 1923 foi chamado novamente à cidade de São Luiz para esculpir o busto do então governador do Maranhão, época em que nasceu a sua primeira filha Erotylde, a única maranhense. Ainda em São Luiz-MA, esculpiu também o Busto do Dr. Tarquínio Lopes Filho, proprietário e Diretor do Jornal «A Folha do Povo». Instalandose em São Luiz-MA, seu pai, Joaquim Costa, lá montou uma fábrica de artefatos de cimento, como mosaicos e marmorites, transferindo-a anos depois com todo o maquinário para Belém do PA.

AMAPÁ No Estado do Amapá a importância de António Pereira da Costa é singular porque, sem conhecimento científico e com o apoio de uma equipe de trabalhadores da construção civil, ergueu a cidade em sua estrutura urbana, sendo um dos maiores arquitetos empíricos da Amazônia, e foi um dos fundadores do Conselho de Engenharia e Arquitetura dos estados do Pará e Amapá.

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uma das principais que pertence ao cancioneiro literário popular que é a imagem de São José que repousa sobre a Pedra do Guindaste, que fica sob o leito do Rio Amazonas, o maior rio de água doce do mundo, onde encantos e mitos e lendas fazem parte de sua história. Em 2013 e com recursos próprios e pela determinação de levar ao conhecimento de sua cidade em Gaia, Portugal, sua biografia e seu acervo literário, a amapaense que foi amiga de seu filho Costinha entrega ao Solar Conde de Resende, em mãos do Dr. Joaquim Gonçalves, seu acervo, para que sua cidade e Portugal possam lhe dar o reconhecimento merecido pela sua obra. 

Sendo o responsável pela construção das principais Escolas, dos Hospitais, da Sede da Justiça, antigo Fórum, de bustos de personalidades ilustres, de centenas de ornatos em obras públicas e

Neca Machado, Ativista Cultural, altruísta que preserva os sabores e saberes da Amazônia, através dos Mitos e Lendas da Beira do Rio Amazonas, no extremo norte do Brasil, é Administradora Geral, Artista Plástica, Bacharel em Direito Ambiental, Especialista em Educação Profissional, Escritora de Mitos da Amazônia, fotógrafa com mais de 100 mil fotografias diversas, premiada em 2016 com classificação na obra brasileira «Cidades em Tons de Cinza», Concurso Urbs, classificada com publicação de um poema na obra nacional, «Sarau Brasil», Novos Poetas de 2016, Pesquisadora da Cultura Tucuju, Contista, Cronista, Poetisa, Co-Autora em 6 obras lançadas em Portugal em 2016, Licenciada Plena em Pedagogia, Gastro-Foto-Jornalista, Blogueira com 25 blogs na web, 21 no Brasil e 4 em Portugal, Quituteira e designer em crochê. Email: nmmac@live.com

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REGULAMENTO

FÚRIA DE VIVER Nova antologia Sui Generis para Celebrar a Vida! Sem taxa de participação. Nem qualquer obrigação.

Neste projecto, não existe obrigação de comprar a obra finalizada, embora o possam fazer. Sabemos das dificuldades de muitos autores em cumprirem regras de regulamentos relacionadas com aquisição de obras finalizadas. Para que não deixem de participar por essa razão, e à semelhança do que ocorreu na antologia «Graças a Deus!», que se revelou uma experiência magnífica – quer para a organização, quer para aos autores participantes – o espaço disponível será mais limitado, podendo os textos ocupar até 2 (duas) páginas A4 – embora não se desconsidere a possibilidade de um texto em Prosa ultrapassar esse limite, mediante comunicação e acordo prévio. Porque não existe obrigatoriedade de compra e o espaço disponível é menor, o envio de textos para este projecto deverá ser feito igualmente num período menor, ou seja, no prazo de um mês. Data limite: 20 de Fevereiro de 2017. Para que se possam organizar, revisar e paginar atempadamente todos os textos e imprimir o livro no início da Primavera.

«Fúria de Viver» é um projecto literário que visa seleccionar textos em Prosa e Poesia para publicálos sob a forma de um livro... uma Antologia que pretende ser um Hino à Vida no novo ano que agora inicia, integrada na Colecção Sui Generis.

Aceitam-se igualmente, para esta Antologia, outros trabalhos artísticos: desenho, ilustração, pintura, fotografia ou outro tipo de imagem (a preto e branco) para ilustrarem o miolo do livro. Desafiamos também Autores com conhecimentos de design gráfico a fazerem uma proposta de Capa para esta Antologia. Nestes casos, os interessados devem comunicar previamente, por email, com o Organizador.

O tema dos textos é livre assim como o género literário. Tanto podem ser estórias fictícias ou textos reais: conto, crónica, carta, pensamento, desabafo, poema tradicional, prosa poética ou uma simples Celebração da Vida; só existe a obrigatoriedade de se fazer, algures no texto, uma apologia à Vida – tanto na Prosa como na Poesia. Porque é isso mesmo que se pretende com esta Antologia: um Hino à Vida!

Contamos, então, com a sua participação em «Fúria de Viver». Seja com um texto (Prosa ou Poesia), seja com algum outro trabalho artístico ou – porque não? – com a capa desta Antologia idealizada e concebida por si.

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çamento simples entre linhas e parágrafos. Rejeitam-se formatos de apresentação que sejam diferentes do Word.

CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO

1. «Fúria de Viver» é um projecto literário integrado na Colecção Sui Generis, organizado e coordenado por Isidro Sousa, que visa seleccionar textos escritos na Língua Portuguesa, de Autores Lusófonos que residam em qualquer parte do Mundo, independentemente das suas raças, crenças, orientações sexuais e identidades de género, para serem publicados num livro. Só se aceitam participações que obedeçam a este Regulamento. A utilização do Acordo Ortográfico é facultativa.

3. O tema dos textos a serem apresentados é livre. O género literário fica ao critério dos Autores. No entanto, todos os textos (Prosa e Poesia) devem fazer uma apologia à vida, para que se possa Celebrar a Vida – fazendo um Hino à Vida.

4. Os textos devem ter títulos próprios (diferentes do nome da Antologia) e ser enviados para o e-mail letras.suigeneris@gmail.com, com a referência «MAG FÚRIA DE VIVER» na linha de assunto, até ao dia 20 de Fevereiro de 2017. Os Autores podem assinar os textos com Nome ou Pseudónimo, devem declarar no corpo do email que aceitam as condições do Regulamento (caso contrário, as participações serão desconsideradas) e enviar uma

2. Cada Autor pode apresentar 1 (um) texto – em Prosa ou em Poesia – com o mínimo de 1 (uma) e o máximo de 2 (duas) páginas A4. Os textos (revisados pelos Autores) devem ser digitados no Word, Times New Roman, letra tamanho 12, espa-

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nota biográfica, até 5 linhas, e contacto telefónico. O Organizador reformulará as notas biográficas que ultrapassem o limite de 5 linhas e ignorará qualquer informação pessoal que as mesmas possam conter; privilegiará somente, para efeitos de publicação, descrições, gostos ou hobbies do Autor, ano e local de nascimento, localidade onde reside e respectivas obras publicadas, individuais ou colectivas.

6. Não existe taxa de inscrição. Ao contrário do que sucede habitualmente nas obras colectivas, a participação em «Fúria de Viver» não implica qualquer obrigatoriedade de comprar a obra finalizada. Porém, os Autores que desejem adquirir esta Antologia devem manifestar essa intenção logo após a divulgação do resultado da selecção; se não fizerem a reserva atempadamente, ficam sujeitos à disponibilidade do stock existente, após a primeira impressão. Não obstante, o livro físico e o ebook estarão sempre disponíveis na Livraria on-line da EuEdito [ www.euedito.com/suigeneris ] e noutras plataformas que serão, posteriormente, indicadas.

5. A selecção dos textos, efectuada pelo Organizador, irá sendo feita à medida que os mesmos forem recebidos – com ordenação, no livro, por ordem de chegada. Cada Autor receberá uma comunicação imediata, acusando a recepção e selecção (ou exclusão, se for o caso) do seu texto, sendo o resultado global da selecção divulgado num prazo máximo de 15 dias, após a data limite para recepção dos trabalhos. Todos os passos efectuados na produção desta obra colectiva (ou eventuais alterações ao Regulamento) serão sempre comunicados aos Autores.

7. O PVP (preço de venda ao público) da Antologia será definido após a paginação do livro, tendo em conta o número de páginas da obra a ser editada. Os Autores participantes podem adquirir quantos exemplares pretenderem, sempre com desconto de 10% sobre o PVP, desde que os mesmos sejam adquiridos directamente à Sui Generis. Exemplares adquiridos na Livraria on-line da EuEdito e noutras plataformas não usufruem do desconto de 10% sobre o PVP.

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8. O envio de um texto para o email indicado no Ponto 4 implica (automaticamente) a aceitação de todas as normas deste Regulamento e a autorização dos direitos de publicação na antologia «Fúria de Viver», sem qualquer outra contrapartida além do desconto de 10% nos exemplares desta obra colectiva que os Autores, porventura, possam querer adquirir.

chancela EuEdito. As Antologias Sui Generis, representadas pelo Organizador, e a editora EuEdito não reservam a exclusividade ou os direitos dos trabalhos editados. Após o lançamento do livro, cada Autor pode utilizar livremente os seus textos noutras publicações que considere pertinentes.

10. Se porventura se verificar algum tipo de infracção na originalidade, autenticidade e autoria de um texto apresentado, será da exclusiva responsabilidade do respectivo Autor, ficando o Organizador e a Editora isentos de qualquer responsabilidade legal sobre a infracção cometida – nesse caso, o Autor em questão responderá perante a Lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado com direitos de autor.

9. «Fúria de Viver» é uma Antologia Sui Generis, integrada na Colecção Sui Generis (fundada e dirigida por Isidro Sousa), que será publicada com a

11. Recomendamos que os Autores se mantenham atentos ao grupo «Antologias SG» no Facebook; através do grupo, o Organizador estará em contacto permanente com os participantes. Para esclarecer dúvidas ou informações adicionais, devem contactar por email.

Estão todos convidados a participar nesta Antologia que pretende ser um Hino à Vida no novo ano que agora inicia. Esperamos os vossos textos... um texto por Autor... Prosa ou Poesia. Sejam bem-vindos... e bom trabalho!

FÚRIA DE VIVER Colecção Sui Generis Organização Isidro Sousa letras.suigeneris@gmail.com http://letras-suigeneris.blogspot.pt https://issuu.com/sui.generis

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“Em boa hora fui convidado pelo Isidro Sousa para participar na Antologia de Natal – Uma Acção de Graças, com o título «Graças a Deus!», que acaba de ser publicada pela Edições Sui Generis e Editora Euedito, em Lisboa – Portugal. Considero-me um privilegiado porque faço parte dos 51 autores selecionados para tão importante quanto simbólica Antologia, para além do prestígio que envolve trabalhar com aquelas instituições e, naturalmente, sob a Organização e Coordenação do Isidro, a quem manifesto, desde já, a minha gratidão por esta oportunidade que me concedeu. A Antologia «Graças a Deus!» é de uma riqueza literária de alto nível, na medida em que os mais de cinquenta autores revelam sensibilidades culturais, estilos e abordagens do melhor que há, neste tipo de literatura, a que se junta a coragem de exposição pública, sempre sujeita à crítica, positiva ou negativa, que, todavia, é sempre uma mais valia e que os autores devem ter em boa conta, com humildade e gratidão.” Diamantino Bártolo


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NAS REDES SOCIAIS

COMENTÁRIOS & REACÇÕES «Graças a Deus que há um empenho da sua parte e um gosto e prazer únicos naquilo que faz. Só assim, pese embora o facto de outras obras anteriores estarem um bocadinho em “banho-maria”, podemos ter nas mãos tantas obras e tantos bons momentos. Obrigada Isidro, por todo o seu esforço. Que venham mais obras e sucessos.» Paula Homem, sobre Graças a Deus!

«Já participei de várias antologias, mas esta é especial para mim. Sou agnóstica, escrevi um texto inspirado em uma frase de uma canção... E deu certo!» Guadalupe Navarro, sobre Graças a Deus!

«É um privilégio poder ser um autor “sui generis”. É um privilégio dar “Graças a Deus”, num tempo de infâmia e de convencimento. É uma fortuna poder contribuir, com o talento que não possuo, para um pedaço de literatura, de vida e de concerto de ideias e de ideais.» Carlos Arinto, sobre Graças a Deus!

«É lindo demais! Vendo a foto do livro, imagina com ele nas mãos, passando página por página?» Madalena Cordeiro, sobre Graças a Deus!

«Este livro é uma obra de arte. Vai valer a pena ler esta obra.» Tânia Tonelli, sobre Graças a Deus!

«É muito bom vermos o nosso nome assim impresso num livro. Mas não só... trata-se de um livro belíssimo, uma impressão impecável, um trabalho irrepreensível! Além do mais, a minha amiga Isabel Martins estreou-se a publicar... e fê-lo com mestria e sensibilidade! Que belo poema! A quem devemos tudo isso? À exímia organização de Isidro Sousa na Sui Generis! Que bem ele trata os autores! Como valoriza o nosso trabalho intelectual! Bem-haja por mais esta oportunidade!» Lucinda Maria, sobre Graças a Deus!

«Isidro, temos muitos motivos de gratidão por esse último ano, um deles é a família que você criou em torno de si! Obrigada por todas as oportunidades de expressão literária, inclusive esta [Graças a Deus!], e de amizades preciosas que se construíram, tendo a Sui Generis como origem!» Sandra Boveto 139


Jonnata Henrique é co-autor de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções e Graças a Deus!


SG MAG #01 | JAN 2017

«Quando um Autor publica um Livro, mesmo coletivo, ele quer apoio para divulgar sua obra, e o editor Isidro Sousa mostra competência em não deixar seus Colaboradores abandonados. Obrigada. Muito obrigada!» Neca Machado, sobre Graças a Deus!

«O meu muito sincero obrigado a todos os presentes, pela “partilha” do momento. Foi um grato privilégio, para mim, conhecer gente tão linda, quanto simpática!... “Graças a Deus!” não é apenas uma colectânea de autores, é também uma antologia de momentos, de experiências várias: umas vividas, outras tantas por viver!... Que cada um de nós jamais deixe, de alguma forma, “presas” ao chão; sobretudo as vividas!... Pois jamais as conseguiremos dissociar da forma, sobretudo, como cada um de nós, autores, as escrevemos!... Foi óptimo repartir ideias e sorrisos convosco!» Paulo Galheto Miguel, sobre o lançamento de Graças a Deus!

«É uma sensação muito agradável ter contos publicados. Sobretudo em obras de qualidade como as do Isidro Sousa.» Everton Medeiros

«Uma vez mais felicito todos os autores, aqueles que estiveram presentes e que proporcionaram um convívio muito agradável, porque nos eventos do Isidro todos estamos presentes, até os ausentes, e em cada, e claro, aos grandes responsáveis para que tudo se tornasse possível, Isidro Sousa, Sui Generis, EuEdito e Dado Goes! Aguardando ansiosamente o próximo, que promete!» Isabel Martins, sobre o lançamento de Graças a Deus!

«Não estou surpreendido, e sei que este livro pode fazer muito mais, pois acredito que pode fazer renascer hábitos de leitura em muitas pessoas que há muito tempo não folheavam um livro.» Tó de Porto d’Ave, sobre as duas reimpressões de Almas Feridas

«Uma capa que demonstra o devido significado da obra... Gratidão não precisa ter religião ou crença (ou a ausência dela), e um dos aspectos mais bonitos dessa obra é justamente a oportunidade que você ofereceu aos seus autores, independente de suas crenças, de demonstrar sua gratidão por esse ano tão especial.» Sandra Boveto, sobre Graças a Deus!

«Mais um lançamento da Sui Generis; mais um sucesso assinado pelo Isidro. Mais um encontro de amigos, de poetas e prosadores: mais um encontro de gargalhadas e bons momentos, de partilha e atenção. Parabéns co-autores (presentes e ausentes). Parabéns Isidro por ser o que e como é. Só assim se obtêm os sucessos e se progride. “Graças a Deus” por este ano de palavras, de suor e lágrimas, de inspiração e momentos de empenhada “trabalheira”. Bem haja pelo seu empenho e cuidado. Venham muitos mais momentos Sui Generis – sinal que estamos vivos e produtivos.» Paula Homem, sobre o lançamento de Graças a Deus!

«Isidro, você me emociona. Não sabe o quanto te sou grata por ter-me encorajado a escrever “A Estátua de Sal”. Ajudou-me a superar um momento muito difícil. E deu-me segurança para aventurar-me no mundo da prosa.» Guadalupe Navarro 141


Ricardo de Lohem ĂŠ co-autor de A BĂ­blia dos Pecadores e O Beijo do Vampiro


SG MAG #01 | JAN 2017

«Eis aqui uma dica minha: tema forte, mas tão bem escrito que não lê-lo faz com que se perda um excelente livro.» Guadalupe Navarro, sobre O Pranto do Cisne

«Realmente, um tesouro a ser guardado com muito carinho essa edição. Da capa ao conteúdo, um verdadeiro primor! Especial também por ter reunidas as entrevistas de amigos e autores talentosos e, também, do admirável elo chamado Isidro, que nos deu a oportunidade de fazer parte desse lindo trabalho! Sandra Boveto, sobre a edição Especial Portugal 2016 da revista Divulga Escritor

«Tenho a dizer-lhe... “Obrigada, Isidro Sousa.” De todas as antologias em que participei, e já participei em algumas, as duas organizadas por si são as mais cuidadas em termos de revisão de textos. São livros bonitos, que mostram bem o cuidado do seu organizador e revisor. Parabéns! Parabéns também para todos os autores participantes na antologia. Tem alguns textos muito bonitos e muito bem escritos.» Jeracina Gonçalves, sobre Graças a Deus!

Os meus mais sinceros parabéns pela excelente qualidade da Revista Divulga Escritor. Teve uma melhoria tão gigantesca de qualidade que nem sei manifestar em palavras o quão interessante é deliciar-nos com tantas e tão boas entrevistas, como as que li das minhas estimadas amigas Ângela Caboz, Suzete Fraga, Maria Fernanda Comenda, Teresa Morais e Lucinda Maria. Entrevista especial super interessante do Isidro Sousa a quem envio os meus cumprimentos pela ousadia de ter formado uma Editora e ter batido com a porta ao intragável grupo editorial Múltiplas Histórias (há que chamar os bois pelos nomes para que se denunciem atrocidades literárias) que vive de mentiras, ataques e sei lá que mais para singrar num mercado que se deseja honesto e para os escritores. Parabéns Isidro Sousa, pela entrevista e pelo feito. Beijinhos à Ironi Jaeger, Escritora Noka e a todos os que enobrecem com os seus textos uma revista exemplar, única, verdadeira, não fosse a sua Directora Shirley Cavalcante um exemplo de profissionalismo e amor à literatura e aos escritores. Uma enorme palavra de apreço a todos. Bem-hajam. João Bernardino, sobre a edição Especial Portugal 2016 da revista Divulga Escritor

«A capa está bonita e responde ao conteúdo da obra!» Joaquim Matias, sobre Graças a Deus!

«O texto da Suzete é dos mais originais que li até agora! Aliás, ela escreve muito bem e é muito criativa. Quanto à obra em si... Está um belíssimo trabalho gráfico... muito cuidado... irrepreensível. A capa não me agradou logo, isto é, talvez não a imaginasse assim, mas agora que a vi ao vivo, gosto sinceramente. O Isidro sabe como eu sou. “Nós só escrevemos”... mas isso é o mais importante... ainda que reconheça que o Isidro, como não deixa passar nada, nos valoriza como autores. Pessoalmente, sou-lhe grata por isso.» Lucinda Maria, sobre Graças a Deus!

«Isidro Sousa... amante da literatura e incentivador de talentos... sempre nos surpreende.» Marilin Manrique Molina 143


Nicol Peceli é co-autora de Graças a Deus! e Vendaval de Emoções


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Jorge Manuel Ramos é co-autor de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro e Vendaval de Emoções


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