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PAREDES, CIDADE CRIATIVA PARA O DESIGN DE MOBILIÁRIO o design como âncora da competitividade CREATIVE CITY FOR FURNITURE DESIGN Design as an anchor of competitiveness

estudo de caso case study

Susana Marques, Setepés, coordena@paredesdesignmobiliario.com com a colaboração de Paulo Alves, consultor, paujoral@gmail.com


Paredes, Cidade Criativa para o Design de Mobiliário/ o design como âncora da competitividade Susana Marques

PAREDES, CIDADE CRIATIVA PARA O DESIGN DE MOBILIÁRIO o design como âncora da competitividade

Susana Marques, Setepés, coordena@paredesdesignmobiliario.com com a colaboração de Paulo Alves, consultor, paujoral@gmail.com

Abstract O projeto de Cidade Criativa desenvolvido no âmbito do programa PRU (ON2) e promovido pelo Município de Paredes tem como desafio principal consolidar no território de Paredes um polo internacional do Design de mobiliário, potenciando os recursos existentes na cidade e no território e criando outros capazes de o tornar mais dinâmico, competitivo a atrativo. Com um programa que coloca o design como âncora para a competitividade do território o projeto implementou um conjunto de infra-estruturas e atividades que pela sua natureza incrementam a atratividade da cidade, proporcionando novas oportunidades de negócio e de crescimento económico. A cidade criativa é o centro nevrálgico do Pólo do Design de Mobiliário, e um dos eixos que estrutura a oferta ancorada num grande evento internacional de design e criatividade contemporânea (Art on Chairs) e na Fábrica do Design (Lordelo), espaço de excelência de inovação e ligação do design à indústria local. Promovido em parceria com entidades locais públicas e privadas o projeto agora em conclusão desenvolveu intervenções físicas ao nível da consolidação da regeneração urbana do centro de cidade de Paredes (cerca 9ha) associando a esta intervenção a criação de um Circuito Aberto de Arte Pública de grande qualidade artística e formal e um Centro de Interpretação de Arte Pública que funcionará como espaço de acolhimento de visitantes e turistas através da associação com o Posto de Turismo Local e em articulação programática com a Casa da Cultura, equipamento já existente e renovado também no âmbito do PRU.

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O Município enquanto promotor das intervenções físicas e da dinamização e gestão da parceria assegurou o investimento de cerca de 50% do montante global do PRU Cidade Criativa (3780k€), ficando o restante a cargo dos outros parceiros. O programa concentra ao nível das intervenções imateriais um projeto de sensibilização para comportamentos ecológicos (AIMP), e um projeto de internacionalização da cidade criativa assegurado pela AEParedes. A outra das intervenções físicas fundamentais é a criação pela Cooperativa Agrícola de Paredes de um quarteirão dedicado à cultura, criatividade e agricultura- ALDEIA AGRÍCOLA, representando um investimento privado de cerca de 3500 k€. A combinação de diferentes fundos estruturais (QREN /ON2) na consolidação do conceito de Pólo do Design de Mobiliário e da Cidade Criativa tem sido uma das chaves do sucesso. Aproveitando a agenda regional das indústrias criativas o projeto associou ao PRU um conjunto de outras fontes de financiamento QREN que têm contribuído para a concretização dos objetivos delineados no Programa de Ação do PRU. Em fase de conclusão de implementação de PRU, de lançamento de novas ofertas e de reedição do grande evento internacional importa refletir e elencar os desafios que um projeto desta natureza deixa no território e que instrumentos de ação são necessários para dar continuidade ao consolidado.

Palavras-chave: Design, criatividade, regeneração, indústria do mobiliário

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PAREDES, CREATIVE CITY FOR FURNITURE DESIGN Design as an anchor of competitiveness Susana Marques, Setepés, coordena@paredesdesignmobiliario.com com a colaboração de Paulo Alves, consultor, paujoral@gmail.com

Abstract The main challenge of the Creative City project, developed as part of the PRU(ON2) programme and promoted by Paredes City Council, is to consolidate an international furniture design nucleus in the Paredes region, promoting the resources already available in the city and surrounding area and creating others that can make it more dynamic, competitive and attractive. With a programme that makes design the anchor for the region’s competitiveness, the project has implemented a series of infrastructures and activities which naturally boost the city’s appeal, providing new opportunities for business and economic growth. The creative city is the nerve centre of the Furniture Design Nucleus, and one of the key components of what the city has to offer. It is anchored in a great international design and contemporary creativity event (Art on Chairs) and in the Design Factory (Lordelo), a benchmark for innovation that connects design to local industry. Promoted in partnership with local stakeholders, the project that is now coming to an end involved physical intervention in the urban regeneration of Paredes city centre (around 9ha). It also linked this intervention to the creation of an artistically valuable Open Circuit of Public Art and a Public Art Interpretation Centre which will function as a space for attracting visitors and tourists through its association with the Local Tourist Office and a programme organised in conjunction with the House of Culture, an existing facility that was also updated as part of the PRU programme. In its role of promoting physical interventions and managing partnerships, the City Council has committed itself to investing around 50% of the overall amount of the PRU

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Creative City (3 780k €), with the other partners responsible for the rest. At the nonmaterial level, the programme involves an awareness-raising project for ecological behaviours (AIMP) and an internationalisation project for the creative city, supported by AEParedes. The other key physical intervention is the Farming Cooperative of Paredes’ creation of a block dedicated to culture, creativity and agriculture – Farmville representing a private investment of around 3500k€. The combination of different structural funds (QREN /ON2) in consolidating the idea of the Furniture Design Nucleus and the Creative City has been one of the keys to its success. Making the most of the regional agenda of creative industries, the project associated some other QREN financing sources with the PRU, which have helped to meet the objectives outlined in the PRU Action Plan. In the conclusion phase of implementing the PRU, launching new ideas and setting up another great international event, it is important to reflect upon and list the challenges that a project of this nature leaves for the region and what instruments of action will be necessary to continue what has already been achieved.

Key words:

Design, creativity, regeneration, furniture industry

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1.

Paredes no contexto das cidades criativas

Paulo Alves, paujoral@gmail.com

O projeto "Paredes Pólo do Design de Mobiliário" enquadra-se na crescente dinâmica internacional em torno das Cidades Criativas, a qual tem expressão na cada vez maior aposta das cidades no talento e na criatividade enquanto motor de desenvolvimento e de crescimento sustentável. Paredes procura, desta forma, assumir-se como Cidade Criativa, com o setor do mobiliário como principal alicerce e terreno fértil para novas dinâmicas, sinergias e valores, e o design como dimensão estratégica do seu desenvolvimento. (CM Paredes, 2012). A estratégia e as ações que se encontram atualmente em curso no âmbito do Pólo do Design de Mobiliário, visam então transformar Paredes num lugar capaz de atrair pessoas, talento e negócios criativos, de dinamizar a sua base produtiva, bem como de gerar valor e qualidade de vida, através de um conjunto integrado de iniciativas diversificadas. Caraterizar e analisar o projeto que tem vindo a ser implementado em Paredes requer, então, que se comece por fazer uma breve contextualização da literatura mais recente no que concerne ao tema das cidades criativas. Neste sentido, destacam-se seguidamente algumas das principais ideias que estruturam o debate em torno desta temática, as quais servem de enquadramento, de referência e de reflexão à análise a efetuar ao projeto em curso. Considerando os objetivos deste trabalho, bem como a necessidade de sintetizar os aspetos mais importantes relativos à vasta literatura que vem sendo produzida neste domínio, optou-se por centrar a abordagem realizada em torno das dimensões que a seguinte figura apresenta.

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Figura nº1 - Dimensões Críticas na abordagem à literatura sobre as Cidades Criativas.

Segundo diversos autores (Landry, 2000; Comunian, Chapain, Clifton, 2010; Rivas, 2011), estas são dimensões inter-relacionadas que determinam o potencial de certos locais para apoiarem e sustentarem o seu desenvolvimento enquanto territórios criativos. Com base neste enquadramento, importa começar por destacar a emergência da criatividade como domínio central dos novos paradigmas de afirmação das cidades, o que, de acordo com Mateus (2010), coloca o acento tónico na busca de novos modelos de planeamento e ordenamento do território, introduzindo, para além do dinamismo de mercado, mecanismos políticos de governo das cidades na construção de novos fatores de competitividade e atratividade, que funcionam como elemento catalisador da identidade de uma comunidade urbana dinâmica, assim como de motivações, iniciativas e relações económicas geradoras de riqueza e emprego. Como refere Comunian (2011), importa também salientar que a criatividade, considerada num sentido lato, deve ser entendida como o modo como as cidades respondem de forma inventiva e inovadora aos problemas com que se debatem no seu dia-a-dia. Neste sentido, "na cidade criativa não são só os artistas e aqueles que estão

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envolvidos na economia criativa que são criativos. A criatividade pode vir de qualquer fonte ... seja um assistente social, um homem de negócios, um cientista ou um funcionário público" (Fundação de Serralves, 2008). Ou seja, ganha relevância nestes processos aquilo que se pode designar de "capital territorial", ou seja, as relações entre territórios, agentes e ambientes criativos (Mateus, 2010). É também neste sentido que Rivas (2011) destaca a importância dos ecossistemas criativos locais, estruturados em torno de três domínios: as Pessoas (a classe criativa, mas não limitada às artes, música, cultura e entretenimento, abrangendo também a ciência, engenharia, arquitetura, design, etc); a Economia (indústrias criativas e empreendedores, incluindo atividades que vão para além dos domínios artísticos e culturais); e os Espaços (envolvendo equipamentos, oferta residencial, espaços urbanos, vida social, agenda cultural, redes e relacionamentos, etc). As cidades criativas necessitam, portanto, de perceber, ativar e integrar novas ferramentas de competitividade urbana. Esta nova dimensão de competitividade e de espaço concorrencial entre cidades tem-se centrado nas políticas e estratégias que estas devem pôr em prática de forma a tornarem-se criativas, as quais são muitas vezes replicadas e transpostas na integra, sem que se tenham em consideração os aspetos distintivos e as diferentes circunstâncias que marcam cada cidade. As diversas experiências desenvolvidas e estudadas mostram, de facto, que a adoção e implementação de abordagens padronizadas (do tipo one size fits all) e de políticas "de cima para baixo" não são geralmente bem sucedidas, sendo necessárias políticas e estratégias ajustadas aos diferentes contextos territoriais, mais centradas nas especificidades, nos agentes e na interação local (Comunian, 2011). No que respeita aos modelos que predominam na literatura académica e nas abordagens de política relativamente ao desenvolvimento de cidades criativas, as seguintes são, de acordo com Trip e Romein (2010), as que prevalecem como mais relevantes: •

as abordagens orientadas para a produção e para o negócio (production milieu), focadas no papel das indústrias criativas como geradoras de inovação na economia urbana, na teoria dos clusters e nos processos de desenvolvimento

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económico. Estas são também designadas como abordagens das indústrias criativas (creative industries approach) (Tomaz, Selada, Cunha, 2011); •

as abordagens orientadas para o consumo (consumption milieu), que conferem preponderância ao papel da qualidade de vida das cidades na atração e retenção de talento criativo, e ao papel deste na criação de novas ideias, novas tecnologias e novos conteúdos, gerando desta forma mais inovação e desenvolvimento económico. São por isso também referidas como abordagens da classe criativa (creative class approach) (Tomaz, Selada e Cunha, 2011).

Estes dois modelos e perspetivas, mais do que mutuamente exclusivos, são complementares. De facto, os contextos produtivo e de consumo dificilmente podem ser considerados separadamente, já que a cidade criativa integra contextos de trabalho, de vida e de lazer que estão intimamente relacionados. Ainda no que respeita ao domínio das abordagens de política, convém assinalar a existência de alguma discussão em torno do enviesamento de análise quanto ao desenvolvimento de pequenas e médias cidades com base na criatividade. Assim, conforme referem Tomaz, Selada e Cunha (2011), quer no que respeita às abordagens baseadas na produção, quer especialmente nas baseadas no consumo, elas dizem fundamentalmente respeito às grandes cidades e áreas metropolitanas, já que é aí que existem economias de aglomeração relevantes, redes alargadas, mercados de emprego significativos, ofertas culturais diversificadas e outras caraterísticas urbanas, que funcionam como fatores de dinamização da economia criativa, bem como de atração de pessoas criativas e de capital humano qualificado. No caso das cidades pequenas e médias, a aplicação tout court das referidas abordagens pode induzir uma deturpação na avaliação e dinamização do seu potencial criativo, uma vez que elas não consideram as caraterísticas específicas destes locais, como sejam o seu capital territorial, as amenidades naturais e culturais, os estilos de vida alternativos ou a qualidade de vida que oferecem. Neste sentido, deve-se ter presente que as políticas públicas devem ser especificas para cada contexto, e devem ser formatadas de acordo com as realidades e ativos de cada

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território, uma vez que as precondições para a dinamização da economia criativa são bastante diferenciadas nas pequenas e nas grandes cidades. Isto reflete-se, por exemplo, nas políticas de atração e retenção de talento, no envolvimento das comunidades ou na aposta em indústrias criativas de nicho. Finalmente, para encerrar o enfoque no domínio das políticas, deve destacar-se que a literatura mais recente, sobretudo a baseada na investigação realizada a casos concretos de desenvolvimento de cidades criativas, destaca de forma muito clara que não existem soluções imediatas no desenvolvimento destes processos, não bastando para tal implementar projetos icónicos como a construção de equipamentos culturais, ou projetos de regeneração urbana baseados na cultura, ou ainda a realização de grandes eventos, sendo necessário o enraizamento e relacionamento da comunidade local e dos respetivos sistemas produtivos neste processo, o que tem de ser construído diariamente, de forma persistente. Para tal mostra-se então necessário combinar a adoção de uma visão de longo prazo com a concretização de políticas de curto prazo, que interajam a diferentes níveis e que tenham em conta o contexto, os agentes e as especificidades locais. Como refere Landry (2009), independentemente do modelo ou da perspetiva privilegiada, as políticas a adotar deverão incluir as seguintes caraterísticas: correrem riscos (controlados); assentarem numa liderança revigorada e abrangente; expressarem uma visão relativa ao futuro desejado; serem determinadas mas não determinísticas; terem capacidade para ir além dos ciclos políticos; e crucialmente, possuírem orientação estratégica e flexibilidade tática. Isto conduz a outro domínio relevante na abordagem às cidades criativas, que diz respeito aos processos que têm lugar na implementação de estratégias desta natureza. De facto, mais do que um plano, a cidade criativa é um processo; é dinâmica e não estática. Como destacam Trip e Romein (2010), as políticas relativas à cidade criativa não podem ser exclusivamente da responsabilidade dos agentes públicos. Em vez disso, o desenvolvimento da cidade criativa requer uma ação coletiva, envolvendo a

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administração (local, regional, central), os empreendedores e empresários, as instituições de ensino e formação e a sociedade civil. A cooperação, no quadro desta quadruple helix, baseada no entendimento e na confiança mútua, é uma pré-condição determinante para o sucesso das estratégias assentes na criatividade. É então importante desenvolver uma governança avançada, que envolva ativamente todos os stakeholders e que atue a vários níveis. Assim, deverá ser dada especial atenção às micro dinâmicas que se estabelecem entre as atividades criativas e os outros agentes a nível local, sendo fundamental o papel dos intermediários na facilitação da interação entre os criativos, e entre estes e os restantes agentes institucionais, empresariais e sociais; é igualmente importante atuar ao nível das dinâmicas de rede bem como na criação de consensos entre todos os agentes envolvidos. A um nível meso (desenvolvimento urbano e dinâmicas culturais), é necessário articular estratégias e intervenções, por exemplo no que respeita aos projetos de regeneração urbana; ao equilíbrio entre a atração de talento externo e ao desenvolvimento e retenção de talento local; na articulação de fileiras produtivas com o setor criativo; na organização dos agentes que são responsáveis pelas diferentes componentes da oferta de qualidade de vida da cidade, etc. Por fim, no que respeita ao nível macro, o foco dos processos de governança deverá dar especial atenção às dinâmicas de mercado, quer as relativas à economia criativa da cidade, quer às referentes aos seus níveis de competitividade territorial quer ainda à sua imagem e branding. A participação da comunidade assume, ao nível dos Processos, uma especial relevância no quadro das estratégias baseadas na criatividade. As questões relativas à identidade local e aos sentimentos de pertença e de orgulho deverão ser trabalhadas, e a comunidade deverá ser implicada e capacitada para se envolver no processo de criação e desenvolvimento da cidade criativa. Para além de outros fatores, cabe-lhe um papel importante na promoção de uma atmosfera criativa amigável e na geração de energia urbana positiva e diferenciadora, sendo decisiva no reforço da capacidade de gerar ideias; na transformação das ideias em realidade; na promoção de redes e de circulação de ideias; no estabelecimento de plataformas de entrega; e na criação de públicos e de mercados (Fundação de Serralves, 2008).

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A participação da comunidade revela-se ainda uma condição decisiva para se evitarem fenómenos de elitização e de "guetização", que muitas vezes ocorrem no quadro destes processos. Por fim, é ainda de referir a importância dos processos de aprendizagem que resultam da participação, os quais devem ser incentivados e facilitados, através da promoção de uma cultura de abertura, de co-criação e de maximização das interações ocasionais entre os agentes envolvidos, o que contribui para aumentar o metabolismo da cidade criativa e para gerar processos mais inovadores (Glaeser, 2011). A experimentação, a serendipidade e a invenção constituem condições relevantes para acelerar estes processos, necessitando de condições adequadas para acontecerem na cidade criativa (Helgesen, 2010). A densidade de processos a considerar no desenvolvimento das cidades criativas, que acabaram de ser referenciados e detalhados (governança, participação e aprendizagem), acontecem num determinado contexto local que integra diferentes tipologias de espaços, os quais constituem, pela sua relevância e especificidade, uma outra dimensão crítica na abordagem às cidades criativas. Assim, a literatura destaca três tipos de espaços urbanos que devem ser distinguidos, concretamente: •

o espaço social, envolvendo a rede de relacionamentos funcionais e de interações sociais existentes num local;

o espaço simbólico, relativo às perceções específicas construídas pelos utilizadores de cada espaço urbano;

o espaço físico, que inclui quer a morfologia quer o padrão de localização das funções urbanas existentes.

Cada uma destas tipologias inclui um conjunto de fatores bastante alargado, que devem ser considerados no âmbito das políticas de desenvolvimento dos contextos de produção e de consumo nas cidades criativas.

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Desta forma, e sem se pretender fazer uma elencagem exaustiva e detalhada de todos esses fatores, destacam-se desde logo os mais relevantes em cada tipologia: ao nível do espaço social, destacam-se as redes de relacionamentos, os locais de encontro entre criativos, a diversidade cultural e social, e a animação dos espaços públicos; no que concerne ao espaço simbólico, essencialmente o património e a herança cultural, o ADN da cidade, a sua imagem e os vetores a ela associados e, claro, a autenticidade que a mesma possui e deixa perceber; por fim, relativamente ao espaço físico, a oferta de habitação e de espaços de trabalho, as infra-estruturas produtivas e culturais, os clusters criativos, o património construído, a arquitetura, as amenidades sociais e as acessibilidades. Estes domínios constituem o quadro analítico de intervenção, quer ao nível de políticas quer ao nível da dinamização de processos, que deverão ser considerados no desenvolvimento das cidades criativas (Trip e Romein, 2010). O último aspeto a destacar, no quadro da abordagem da literatura às cidades criativas, centra-se na dimensão do Branding e do capital simbólico a elas associadas. Julier (2005) refere-se a esta dimensão como urban designscapes, procurando desta forma expressar a rede de atividades e artefactos que produzem e contribuem para afirmar a identidade de uma cidade criativa. E a crescente concorrência territorial a que atualmente se assiste, torna o espaço de posicionamento como cidade criativa cada vez mais desejado e qualificador, já que ao mesmo são associados valores relevantes para a atratividade urbana: talento, empreendedorismo, criatividade, qualidade de vida e bem-estar, emprego qualificado, valor cultural, etc. De que forma é que as cidades criativas têm vindo a atuar ao nível desta dimensão? A literatura destaca fundamentalmente duas, que se explicitam de seguida: •

as abordagens denominadas de hard-branding, baseadas em fortes investimentos na infra-estrutura de hardware, monumentos e no edificado;

as abordagens de soft-branding, mais focadas no software criativo e intelectual das cidades, e em particular no seu capital simbólico. Talvez a melhor forma de

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expressar esta abordagem seja a seguinte frase: "You need more than a logo to regenerate a place - it's the people who do that" (Julier, 2008). À semelhança do que foi atrás referido no que concerne às outras dimensões críticas no desenvolvimento de cidades criativas, também ao nível do Branding se sinalizam algumas situações a evitar. De acordo com o estudo de casos já postos em prática, Julier (2005) destaca, por um lado, a excessiva focalização e aposta em estratégias de hardbranding, através da implementação de grandes projetos tais como novos museus, complexos artísticos, grandes teatros, etc; por outro lado, refere os riscos associados à "fácil" adoção e replicação de estratégias baseadas na reprodução de projetos arquitetónicos de autor; e, por último, salienta que a mobilização do capital simbólico das cidades não se pode restringir a programas de criação e comunicação da identidade visual e de marca. Para concluir, o branding das cidades criativas deve ser construído e trabalhado a partir da combinação de abordagens de hard-branding e soft-branding, tendo sempre presente que será a densidade e a intensidade do relacionamento destas componentes, e sobretudo das pessoas, que produzirá e sustentará o efeito de cidade criativa.

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2.

Do conceito e desenho da candidatura à implementação do programa PRU

Desenvolvido pela Inteli para o Município de Paredes o Programa de Acção “Paredes: Cidade Criativa para o Design (Design Hub)”, apresentado ao Programa Operacional Regional do Norte, Eixo IV – Qualificação do Sistema Urbano, tinha como objetivo principal afirmar o território de Paredes como um polo criativo do design de mobiliário posicionando regional, nacional e internacionalmente como uma nova centralidade territorial. O projeto de transformar Paredes numa Cidade Criativa para o Design acentou numa estratégia que aliava a revitalização económica do município com a regeneração urbana da cidade, conjungando atratividade empresarial com criatividade urbana. Assim, o plano de ação que se consubstanciou numa Parceria para a Regeneração Urbana (PRU/ QREN) pretendia inserir o design como fator de competitividade da indústria local e promover intervenções de design nos lugares públicos e no edificado. Foi escolhido um espaço geográfico no interior da cidade de Paredes com o propósito de transformar esse local num “laboratório vivo”- espaço de experimentação e teste de novos produtos, serviços e aplicações, ou seja, o Design Hub. Potenciando assim os recursos endógenos e criando condições locais de atração e fixação de designers e arquitetos para o desenvolvimento de negócios criativos. Espaço experimental, espaço demonstrador, mas também espaço emblema capaz de ancorar a estratégia de marca do município (Rota dos Móveis). (Inteli, 2008) A abordagem conceptual do Programa de Ação propunha para Modelo Territorial a criação de quatro zonas no perímetro geográfico definido no plano de ação- “Entrada do Design Hub”, Centro Cívico”, “Espaço Cultural e de Lazer” e “Corredor do Design”; propondo ainda a criação de um “espaço charneira”, espaço esse onde se deveriam intersectar as quatro zonas, sendo considerado um espaço chave no tecido urbano da área de intervenção. Este espaço teria por missão “coser” os diferentes tecidos

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urbanos das respectivas zonas identificadas de modo articulá-los de forma fluida e criativa. (Inteli, 2008)

Figura nº2 – Modelo Territorial, in Programa de Ação Parcerias para a Regeneração Urbana, Inteli, 2008

Zonas

Elemento âncora

Espaço charneira

Entrada da Cidade de Paredes - Rua 1º Entrada do Design Hub

Centro Cívico

de Dezembro Parque José Guilherme Largo da Feira e Alameda Dr. José

Espaço Cultural e de Lazer Cabral

Corredor do Design

Espaço crucial de articulação das quatro zonas

Avenida da República

Figura nº3 – Modelo Territorial zonas e elementos âncora, in Programa de Ação Parcerias para a Regeneração Urbana, Inteli, 2008

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Este modelo territorial produziu 11 operações/projetos consolidando um total de investimento no valor de 9 100k€ Zonas

Entrada do Design Hub

Projectos Projecto 3 - Regeneração Urbana do Centro da Cidade de Paredes Projecto 5 - Porta do Design Hub Projecto 6 - Projecto de Arte Urbana Projecto 3 - Regeneração Urbana do Centro da Cidade de Paredes Projecto 6 - Projecto de Arte Urbana

Centro Cívico Projecto 10 - Sensibilização para Comportamentos Ecológicos Projecto 11 - Posto de Participação Pública Georeferenciado Projecto 3 - Regeneração Urbana do Centro da Cidade de Paredes Projecto 4 - Rede wireless em espaços públicos Espaço Cultural e de Lazer

Projecto 6 - Projecto de Arte Urbana Projecto 8 - Investigação para o Mobiliário e Saúde Projecto 9 - Incubadora para o Design de Mobiliário e Artes Decorativas e Oficinas Criativas (live work houses) Projecto 3 - Regeneração Urbana do Centro da Cidade de Paredes Projecto 4 - Rede wireless em espaços públicos

Corredor do Design Projecto 6 - Projecto de Arte Urbana Projecto 7 - Casa da Cultura de Paredes Figura nº4– Localização dos Projectos segundo o Modelo Territorial. in Programa de Ação Parcerias para a Regeneração Urbana, Inteli, 2008

Implementado entre 2009 e 2013 a Cidade Criativa para o Design consolidou um conjunto de parceiros/promotores locais responsáveis pelo co-financiamento e execução das diferentes operações do PRU. São eles: Município de Paredes, a AMIP- Agência Municipal de Investimento de Parede, a AEParedes-Associação Empresarial e a Cooperativa Agrícola de Paredes. Alvo de reformulações físicas, financeiras e temporais e de uma equipa de gestão e implementação distinta da equipa de conceptualização, o PRU do Município de Paredes concretizou-se com um investimento final de 7 337,5 k€, distribuídos em cinco eixos: ecologia, acessibilidade, criatividade, empreendedorismo e internacionalização -

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transcrito em sete operações (6+1): “Sensibilização para os comportamentos ecológicos”, “Regeneração Urbana do centro da cidade de Paredes”, “Projeto Arte Urbana”, “Casa da Cultura de Paredes”, “Incubadora para o Design de Mobiliário (live-work houses)” e “Internacionalização do programa de acção Paredes Cidade Criativa”. A sétima operação é referente à Gestão, Comunicação e Animação da Parceria Local.

Ecologia Operação Sensibilização para os comportamentos ecológicos, promotor AIMParedes

Nesta dimensão foi desenvolvido, em parceria /encomenda à Eco-choice, um protótipo de Eco-Edifício com o objetivo de se tornar um exemplo de construção sustentável tendo na base da sua conceção um conjunto de temáticas da sustentabilidade associadas à construção; desde a introdução de princípios de bioclimática, de utilização racional de recursos, à integração na paisagem, mobilidade e flexibilidade dos espaços. No desenvolvimento e construção do eco-edifício foram adotadas estratégias de sustentabilidade que puderam ser observadas pelos visitantes no Parque José Guilherme no período de Janeiro a Maio de 2012. Associadas a estas temáticas decorreu no mesmo período um ciclo de seis conferências destinadas a um plateia de técnicos de várias áreas, com os temas: construção sustentável, materiais e resíduos, eficiência energética, água para o futuro, eco-design e sustentabilidade nas escolas. Cumprindo o objetivo de circulação o eco-edifício itinerou para outra freguesia do concelho, contribuindo para o Centro de Interpretação Ambiental de Vila Cova de Carros.

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Acessibilidade Operação Regeneração Urbana do centro da Cidade de Paredes, promotor Município de Paredes

Desenvolvida com uma dupla valência: por um lado física, consubstanciada através de uma intervenção urbana realizada pela equipa do Arqtº Belém Lima cujo programa se expressa na designação “Um chão amável:” “A heterogeneidade morfológica do centro de Paredes é já substancialmente coesa pela recente obra de REGENERAÇÃO no espaço público. Continua-se agora este chão amável, que é também pegada para o Circuito de Arte. Fazem-se pavimentações, alargam-se zonas pedonais e disciplina-se o estacionamento automóvel. Cresce assim a cultura de mobilidade a pé e de bicicleta, potenciando uma cidade de encontro e fala, convergindo com a tradição contagiante da feira tradicional.” Belém Lima, Arquiteto in catálogo do Circuito Aberto de Arte Pública

mas também amigável, aberta, que convocou cidadãos e visitantes para o usufruto e partilha do espaço público ocupado também pelo Circuito Aberto de Arte Pública de Paredes. O Circuito de Arte Pública (CAAPP) composto por 18 obras de arte: 12 selecionadas através de convite e de concurso internacional e 6 obras de natureza efémera cuja proposta as consolidou enquanto permanentes, desenvolveu-se e instalouse no período de cerca de 24 meses, tendo convidado para a sua concepção e instalação um conjunto de parceiros especialistas que constituíram um conselho curadorial, responsável pelo convite e seleção de obras, e também um laboratório de arte pública (LAPP), instrumento de trabalho no envolvimento da população local que iniciou atividade em 2011 tendo realizado um programa de atividades para públicos diversificados: conversas com cidadãos, projetos com escolas e comerciantes locais (“Montras com arte”) e conferências.

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Figura nº5–Mapa das zonas de intervenção da Operação Regeneração Urbana de Paredes.

“Transformar a cidade de Paredes num museu aberto de arte contemporânea, acessível a todos e em estreita relação com a comunidade local e o seu património edificado, é um dos firmes propósitos do Circuito Aberto de Arte Pública de Paredes (CAAPP). Este circuito apresenta-se como a mais complexa e desafiante das intervenções previstas para a zona urbana da sede do concelho. A sua implementação marcará em definitivo o modo como queremos valorizar, potenciar e qualificar a cidade, inscrevendo a prática artística contemporânea no quotidiano social, cultural e económico desta zona urbana.” Celso Ferreira, Presidente da Câmara in catálogo do Circuito Aberto de Arte Pública , no prelo

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Figura nº6–Mapa do Circuito de Arte Pública de Paredes.

É ainda parte integrante deste programa de regeneração um Centro de Interpretação do CAAPP com valência de Posto de Turismo local e estrategicamente localizado numa das entradas da cidade, a entrada que se faz através da linha de comboio e da respectiva estação da CP.

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Criatividade e empreendedorismo Operação Incubadora para o Design de Mobiliário (live-work houses), promotor Cooperativa Agrícola de Paredes Operação Casa da Cultura de Paredes, promotor Município de Paredes

Proposta que se consubstancia na dinamização de um circuito urbano distintivo, marcado pela criatividade e inovação e que promove o empreendedorismo local através da construção e renovação de infra-estruturas que estimulam o aparecimento de negócios criativos associados ao design de mobiliário e à arquitetura. É neste contexto que surge a infra-estrutura ALDEIA AGRÍCOLA, parceria entre a Cooperativa Agrícola de Paredes e o Município de Paredes projetado pelo atelier de arquitetura And-Ré , e que agrega quatro componentes principais: - Liveworkhouses e Incubadora- integram diversas funções na mesma construção, que interagem e beneficiam de um conjunto de sinergias, para além de promoverem uma maior dinâmica urbana. A incubadora pretende mobilizar criativos nacionais e estrangeiros, assim como jovens em início de carreira, com vista à criação de uma plataforma de interação entre design, arquitetura e indústria do mobiliário, estabelecendo pontes com as infra-estruturas existentes no concelho, nomeadamente com a Fábrica do Design. As 10 residências para criativos permitirão o acolhimento de designers e arquitetos que pretendam desenvolver atividade e projetos em estreita ligação com a indústria de mobiliário do concelho, oferecendo facilidades de alojamento nos apartamentos e trabalho na incubadora (em regime de residência limitada, co-working e hot desk). O programa da incubadora também estimulará a incubação no sentido mais tradicional e o acolhimento de negócios associados ao design e arquitetura. - Espaços destinados aos armazéns, pontos de venda e serviços administrativos da Cooperativa; - Espaços destinados a promover novas formas de abordar a agricultura, que incluirão um Mercado da Terra com bancas para venda de produtos dos agricultores associados, um centro de negócios e de apoio técnico, privilegiando novos produtos com maior valor acrescentado e ainda uma Loja da Terra, destinada a comercializar produtos

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alimentares de todas as regiões do país, com origem direta na produção agro-alimentar portuguesa; - Espaços destinados assegurar a sustentabilidade do investimento, que incluirão um parque subterrâneo de estacionamento, áreas para arrendamento onde de está a avaliar as condições para instalar um balcão do cidadão e a implantação de um restaurante e bar de apoio a toda a infra-estrutura. . A localização da Aldeia Agrícola e da Casa da Cultura configuram um quarteirão associado à cultura e criatividade, pontilhado por algumas obras das obras mais emblemáticas do Circuito de Arte Pública, obras de Alberto Carneiro, Fernanda Fragateiro e Ângela Ferreira. A Casa da Cultura de Paredes foi também alvo de intervenção ao nível da consolidação das acessibilidades.

Figura nº7– Aldeia Agrícola, imagem em render, And-Ré, 2010.

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Internacionalização Operação Internacionalização, promotor Associação Empresarial de Paredes

O projeto da internacionalização da Cidade Criativa para Design desenvolveu no período de 2011 e 2012 duas ações centrais: o lançamento de uma “Rede Europeia de Cidades Criativas para o Design”; e a inserção de Paredes em redes europeias e internacionais de referência na área do design. Redes como a DME (design managment europe), a BEDA (bureau of european design associations) e o EIDD ( design for all europe) são plataformas onde o projeto desenvolverá atividades de networking. A atividade de internacionalização teve ainda apresentações públicas do projeto global em diversos fóruns dedicados ao tema das indústrias e atividades criativas-seminário europeu "OPEN DAYS" com o tema "The role of creative economy on the internationalization of the cities" em Barcelona; “I Jornadas Internacionais de Investigação Arte e Cidade” em Madrid; “Face 2 Face- in dialogue we trust” em Ludwigsburg e “SEE Workshop 2: Design Support for SMEs & Public Sector em Bruxelas. De destacar na atividade de internacionalização o benchmarking realizado a três cidades europeias: Saint-Ettiéne, La Cité du Design; Kortrijk, Designregio e Bilbao, Creativity Zentrum.

Na fase final da sua implementação, Setembro de 2012, a Cidade Criativa tornou-se palco de apresentação de um grande evento internacional de design e criatividade urbana- Art on Chairs- proporcionando cruzamentos a vários níveis, desde a utilização de espaços regenerados para a apresentação de exposições, como foi o caso da Casa da Cultura de Paredes, às atividades de networking proporcionada pela internacionalização. A sinergias estabelecidas e a continuidade das mesmas são um dos desafios colocados à gestão deste programa, embora concluído fisicamente tem como legado o desenvolvimento e a nutrição de um projeto cuja instalação descrita foi a fase 0. Os próximos anos serão determinantes

para o sucesso do investimento realizado e a

continuidade do projeto passa forçosamente pela dinamização das infra-estruturas

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criadas -Aldeia Agrícola, Circuito de Arte pública, Centro de Interpretação e Posto de Turismo - através do desenvolvimento de projetos e atividades que atraiam criativos nacionais e internacionais a instalarem-se em Paredes para desenvolverem os seus negócios com a indústria local, bem como a atração de turistas que utilizam o Porto como porta de entrada para a região e transitam no eixo Porto-Douro, visitam a Rota do Românico ou circulam pelos Circuitos Internacionais de Arte Pública.

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3.

Conclusões e desafios

Entre o desenho do projeto (ano de 2008) e a sua concretização no terreno (2009-2013) há a registar um conjunto de adaptações às circunstâncias reais do território e dos parceiros. Tais alterações não feriram a essência do projeto no território, mantendo a aposta no talento e na criatividade enquanto motor de crescimento e desenvolvimento territorial; contudo, formataram e redesenharam-se as operações tendo em conta as circunstâncias, desafios e necessidades da sua execução e implementação. É possível em fase de conclusão de implementação do projeto tirar conclusões sobre algumas das dimensões críticas da abordagem à literatura sobre as cidade criativas, mais especificamente sobre as abordagens de política, de processos, de espaços de intervenção e de branding. Sendo a Cidade Criativa de Paredes um processo contínuo, possui pré-condições muito particulares para a dinamização da economia criativa estando a política pública ao nível das indústrias criativas centrada no sub-setor do SCC design e arquitetura em profunda articulação com a fileira produtiva local, levando-nos a concluir que há um posicionamento para uma abordagem orientada para a produção e para o negócio mais do que para o consumo. Embora se reconheça que as duas abordagens devem ser complementares a verdade é que o desafio colocado à retenção do talento no território é enorme; isto porque a chave do sucesso da dinamização das infra-estruturas criadas e da atratividade do território reside na capacidade de gerar negócios e criar valor para designers/arquitetos e indústria, e, por conseguinte no modelo de atividades que o espaço da incubadora e das liveworkhouses vierem a desenvolver; bem como no programa de comunicação e atração de visitantes e turistas de nicho que o programa do Circuito de Arte Pública vier a dinamizar. Outro dos fatores chave para o sucesso é a continuidade na cidade da realização do evento internacional Art on Chairs, cuja próxima edição está prevista para 2014 conferindo um formato de bienal,

com um

programa que abrange outras cidades nacionais e internacionais.

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Ao longo dos anos de implementação foi possível constatar que a liderança política é reconhecida pelos parceiros e stakeholders envolvidos e, que expressa uma visão clara para o futuro do território e muito especificamente para o cruzamento das indústrias criativas com as tradicionais, o que confere ao projeto de Cidade Criativa e do próprio Polo do Design de Mobiliário consistência e futuro. Contudo, este tipo de projetos necessitam de investimentos continuados em componente imaterial, de inovação e risco, que, dificilmente um Município poderá assegurar sozinho. Mais do que sobreviver a ciclos políticos é necessário que após a fase de instalação estas infra-estruturas sobrevivam na existência, necessitando para isso de condições particulares de apoio à sua continuidade, condições essas que terão forçosamente que passar pelos fundos estruturais (e outros), fundos com capacidade de alavancar os financiamentos privados e municipais instalados no terreno. Com um modelo de governança avançado, cuja continuidade é fundamental para o desenvolvimento do processo dinâmico de construção de cidade, importa, na fase seguinte, aproximar a população ao conceito e às atividades, gerar sentimento de pertença e orgulho naquela realidade. Embora a criatividade seja um nicho muito especifico o cruzamento desta com as diferentes realidades locais (indústria de mobiliário e agricultores) será um fator que contribuirá para o impedimento da guetização deste tipo de temáticas. Ao analisarmos o quadruple helix do projeto (administração, empreendedores, instituições de ensino e sociedade civil) é possível concluir que a aposta futura do modelo de governança passa pelo reforço da componente sociedade civil e envolvimento da comunidade local. Sendo os espaços de intervenção na componente física o foco central deste projeto de intervenção conclui-se que, ao nível do espaço social e simbólico, a rede de relacionamentos baseada no modelo de governança está implementada e tem capacidade para se desenvolver e alargar, contribuindo para o desenvolvimento do ecossistema de cidade criativa. Outro contributo importante para o reforço do espaço simbólico é o branding territorial construído no desenho do projeto e implementado através do desenvolvimento das atividades da Cidade Criativa e do Art on Chairs, e que combinam uma abordagem hard-branding com soft-branding.

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