Revista 7faces 19

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Estado Líquido Vives numa casa alta e imponente de uma qualquer avenida que dá à luz um rio ao longe Acordas e sabes que és tu mesmo Abres os olhos que o whisky ajudou a fechar na noite anterior e o dia que viu a manhã despedir-se já não é teu por inteiro Bebes café sentado para disfarçar a felicidade de te conseguires manter em pé Não tens saliva na boca Curioso vais à varanda e cheiras o sol mesmo não querendo O dia para ti mal começou e já és o homem mais pequeno que conheces Cada porta de casa abre uma janela de memória a casa tem dezasseis assoalhadas. Sais à rua ainda de roupão e chinelo de dedo Cada pessoa parece saber um segredo teu mas sabem lá eles Voltas a casa com mais uma garrafa e um ramo de flores abertas depois da luta contra a inclinação da avenida O sofá acolhe-te sem segundas intenções e os pés pálidos esfregam-se de conforto Arrepias porque o primeiro trago é sempre o mais teu Adormeces Acordas embrulhado em ti horas depois e o sol já se pôs de novo De repente percebes que afinal és tão alto quanto a tua casa É aí que te recordas: ontem beijei-a

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